Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – SEED/MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO JOSÉ ANTONIO KLAES ROIG BLOG (DIÁRIO VIRTUAL) COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM EM REDE: DO TECNOLÓGICO AO EDUCACIONAL RIO GRANDE, 2010

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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – SEED/MECUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃOCURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO

JOSÉ ANTONIO KLAES ROIG

BLOG (DIÁRIO VIRTUAL) COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM EM REDE:

DO TECNOLÓGICO AO EDUCACIONAL

RIO GRANDE, 2010

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JOSÉ ANTONIO KLAES ROIG

BLOG (DIÁRIO VIRTUAL) COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM EM REDE:

DO TECNOLÓGICO AO EDUCACIONAL

Monografia apresentada ao Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação, da Universidade Federal do Rio Grande, como requisito para a obtenção do Título de Especialista em Mídias na Educação.Orientadora: Profª.Msc. Margareth Cozzensa da Silva

RIO GRANDE, 2010

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JOSÉ ANTONIO KLAES ROIG

BLOG (DIÁRIO VIRTUAL) COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM EM REDE:

DO TECNOLÓGICO AO EDUCACIONAL

Monografia apresentada ao Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação, da Universidade Federal do Rio Grande, como requisito para a obtenção do Título de Especialista em Mídias na Educação.Orientadora: Profª. Msc. Margareth Cozzensa da Silva

Rio Grande, RS _____/_____/2010. Nota: ________

Profª. Msc. MARGARETH COZZENSA Orientadora

Coordenação da Pós-Graduação

Rio Grande, 2010

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AGRADECIMENTOS

À família, que me incentivou a fazer esta pós-

graduação.

À orientadora, Profª. Msc. Margareth

Cozzensa da Silva, que guiou esta pesquisa e

todo o trabalho.

Aos nossos professores e tutores, pelos

subsídios e dedicação, e aos colegas pela

caminhada e aprendizagem solidária e

compartilhada.

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EPÍGRAFE

(...) Criamos a época da velocidade, mas nos

sentimos enclausurados dentro dela. A

máquina, que produz abundância, tem-nos

deixado em penúria. Nossos conhecimentos

fizeram-nos céticos; nossa inteligência,

empedernidos e cruéis. Pensamos em

demasia e sentimos muito pouco. Mais do que

máquinas, precisamos de humanidade. Mais

do que inteligência, precisamos de afeição e

doçura. Sem essas virtudes, a vida será de

violência, e tudo será perdido.

CHARLES CHAPLIN, fragmento de O

Último Discurso, no filme O Grande Ditador

(EUA, 1940).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo comprovar as possibilidades de uso de weblogs (blogs) na educação, dentro de ambientes virtuais de aprendizagem em rede, bem como do espaço convencional, a partir das observações feitas durante Projeto de Aprendizagem com alunos da 4ª série do ensino fundamental. Além disso, pretende-se analisar a postura de parte do aluno durante o processo inclusivo, seja educacional, tecnológico e social. A experiência, sustentada pelo referencial teórico construtivista, da Aprendizagem Significativa e da Flexibilidade Cognitiva, proporcionou a participação efetiva dos alunos, levando em conta o conhecimento prévio de cada um, que através do uso paralelo dos multimeios e do ambiente convencional, interagiram colaborativamente, mediados pelo cursista e pela professora parceira. Ao ser diversificado o ambiente educativo (em quatro locais distintos: laboratório, sala de aula, biblioteca e saída de campo), foi possível obter, ao final do processo inclusivo, a aprendizagem significativa, tanto para os educandos como para os educadores, como também demonstrar para outros educadores, que as mídias, em geral, e o blog, em especial, podem ser mais uma ferramenta de inclusão tecnológica, pedagógica e social, além de um pequeno espaço de interação, que simula um ambiente de EaD.

Palavras-chave: Blog. Inclusão. Tecnologia. Educação. Educação a distância. Educação Especial. Aprendizagem.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................................082. OBJETIVOS .................................................................................................................102.1. Objetivo Geral ............................................................................................................. 102.2. Objetivos Específicos .................................................................................................. 103. JUSTIFICATIVA DO TRABALHO.............................................................................. 114. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 145. METODOLOGIA: DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA .......................... 216. RESULTADO E DISCUSSÃO ................................................................................... 266.1 O sentido das TICs na Educação e o significado destas no espaço escolar ................. 266.1.1 Como aliar tecnologia e educação ...................................................................... 306.2. Blog (diário virtual) na educação: da reprodução à produção de conteúdo próprio (Educomunicação) ............................................................................................................ 366.3 Blog (diário virtual) como ambiente de aprendizagem em rede ................................. 407. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 468. REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 53APÊNDICES E ANEXOS ................................................................................................ 56Lista de blogs educacionais .............................................................................................. 57Relato da professora parceria ........................................................................................... 58Imagens do uso de blogs como ambiente de aprendizagem em rede ............................... 60

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1. INTRODUÇÃO

Esta monografia é constituída por uma pesquisa sobre o uso da informática na educação,

via construção e manutenção de blogs (diários virtuais), como ferramentas de inclusão digital,

social e, acima de tudo, educacional, centrada nas atividades de um projeto de aprendizagem

(PA) com alunos regulares e portadores de necessidades educativas especiais (PNEE's) da área de

deficiência mental (DM).

A pesquisa, que resultou neste trabalho, foi motivada pela necessidade, dentro do curso de

Pós-Graduação Latu Sensu Especialização em Mídias na Educação (IFRS/FURG - 2009/2010),

de estabelecer uma prática pedagógica a partir das disciplinas teóricas abordadas no ano de 2009;

bem como estabelecer um aplicativo teórico à prática escolar que incidiu dessa atividade, que

poderá servir como paradigma para futuros projetos nessa área, aliada à tecnologia ao ensino

regular e à educação especial.

No segundo semestre de 2009 foi elaborado, com base nas disciplinas do curso, um

projeto de aprendizagem com alunos da turma de 4ª série do ensino regular da rede pública

estadual (turmas 41 e 42, em dois turnos), com o acompanhamento da professora responsável.

Foi sugerido aos alunos, com idade entre 10 e 15 anos (mais uma aluna DM de 23 anos),

divididos em dois grupos, turmas 41 (turno da tarde) e 42 (turno manhã), que pesquisassem sobre

a História do Rio Grande do Sul, cujo conteúdo pertence à disciplina de História, e para melhor

desenvolvimento desse tema, foram utilizados espaços diferenciados de aprendizagem (sala de

aula, laboratório de informática, biblioteca escolar e saídas de campo), com a publicação de parte

desse material em um blog, diário virtual.

Com esta monografia busco meios e propostas para comprovar que a informática pode ser

uma aliada no processo de ensino-aprendizagem, como instrumento de inclusão educacional,

digital e social, e que o blog, em específico, pode ser um ambiente de aprendizagem em rede,

dentro da escola e fora dela, pelas possibilidades de interação que o mesmo permite, além do

espaço tradicional de ensino-aprendizagem.

Portanto, espera-se, ao final deste trabalho, propor uma visão peculiar sobre a

aprendizagem em ambientes diferenciados, quando utilizados os multimeios e o trabalho

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compartilhado, detalhando como ocorre a passagem da informação para o conhecimento,

efetivando a flexibilidade cognitiva e a aprendizagem significativa.

A metodologia utilizada reuniu as propostas de autores, como D. P. Ausubel, Carl Rogers,

artigos, textos e livros disponibilizados pelos professores orientadores; livros, textos e revistas

pesquisadas pelo cursista, que tratam da educação, da tecnologia e da educação especial.

Nesse estudo e em sua prática, buscou-se utilizar alguns conceitos do Construtivismo,

como a Flexibilidade Cognitiva (FC) e a Aprendizagem Significativa (AS). Desse modo, o

trabalho está organizado em três capítulos:

No primeiro, de maneira expositiva, será mostrado o desenvolvimento da pesquisa no que

tange a aspectos em que foram planejadas as atividades, com o enfoque educacional.

No segundo, será exposta a análise dos aspectos onde evidentemente ocorreu a inclusão

digital, através da prática compartilhada, através dos conceitos construtivistas.

No terceiro, será demonstrado, de forma propositiva, como promover a inclusão social de

alunos regulares e PNEE’s, a partir do uso da tecnologia no ambiente escolar: os desafios de

execução, assim como a diferenciação entre prática pedagógica em sala regular e a efetuada no

laboratório de informática.

Por fim, encontram-se as considerações finais, com base na pesquisa efetuada e prática

desenvolvida durante esse processo de aprendizagem compartilhada, e os anexos, compostos

pelas anotações feitas durante esta prática, indicações alguns blogs educacionais, depoimento da

professora parceira e breve tutorial do uso do blog como ambiente de aprendizagem em rede, a

partir da configuração e permissão de autoria e leitura do mesmo, entre professores e alunos .

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Comprovar a possibilidade de o weblog (blog) tornar-se um instrumento de aprendizagem

em rede, que simule um ambiente de educação a distância, a partir dos mecanismos de permissão

de autoria e leitura do diário virtual.

2.2 Objetivos Específicos

- Mostrar as possibilidades tecnológicas do blog;

- Pesquisar blogs educacionais e seus conteúdos disponibilizados na rede;

- Demonstrar, com duas turmas do ensino fundamental, as possibilidades de tornar o blog

em um ambiente de EaD, a partir do uso das permissões de autoria e de leitura, entre professores

e alunos;

- Divulgar blogs educacionais que compartilham a informação em rede;

- Refletir sobre a prática convencional em sala de aula e o fazer pedagógico em

laboratório de informática.

- Analisar a postura do aluno durante o processo inclusivo.

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3. JUSTIFICATIVA DO TRABALHO

Este trabalho é decorrente do PA desenvolvido em 2009 com duas turmas (41 e 42) de 4ª

série do ensino fundamental de escola estadual do Município do Rio Grande, no Estado do Rio

Grande do Sul, contando com o apoio da professora parceira e regente da referida turma, que já

desenvolve desde 2007 parceria com este cursista em outros projetos e atividades, junto ao

Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), sob a esfera estadual.

A escolha, por parte deste cursista, da professora parceira decorre desta experiência

anterior, que envolve parceria em projeto de informática com outras turmas de 4ª série, como o

uso de Histórias em Quadrinhos, etc., entre a escola estadual, onde a referida professora está

lotada e o NTE, onde o cursista desenvolve as atividades de técnico em informática e

multiplicador de informática educativa, núcleo, implantado em escola estadual, que tem entre as

atribuições principais a capacitação de professores da rede pública estadual com o uso dos

multimeios aliados à educação, mantendo paralelamente projeto de inclusão digital e social com

alunos da Educação Especial da instituição.

Diante da necessidade de pôr em prática a teoria utilizada na Especialização em Mídias

na Educação (IFRS/FURG-2009/2010), foi elaborado o PA com alunos regulares e portadores de

necessidades educativas especiais incluídos na mesma, entre eles cegos, cadeirantes e deficientes

mentais educáveis, doravante denominados de PNEE’s.

A escolha desta turma específica deveu-se justamente a sua especificidade, e pelo fato do

cursista e da professora parceira, desenvolverem há três anos projetos colaborativos, envolvendo

tecnologia, educação e educação especial, que tem obtidos resultados acima dos esperados,

quando utilizada a proposta de PA, como desenvolvido nesta especialização, com sólido amparo

teórico. Houve também a possibilidade da utilização de novas ferramentas de interação, como

blog, câmera digital, telefone celular, Orkut e msn para trocas.

Durante o desenvolvimento desta experiência, diversas ideias foram se aglutinando e

dando fundamentação à atividade, sendo coletadas e reunidas no blog, para posterior análise e

discussão neste trabalho monográfico. Utilizando o construtivismo, deixamos o projeto em

aberto, flexibilizando sua estrutura e também sua execução, pois surgiam imprevistos como

tempo chuvoso, falta dos alunos, atividades diversas... que alteravam o planejamento prévio.

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Mesmo assim, foi possível buscar unidade na diversidade, ou seja, respeitar as limitações e

especificidades não apenas da turma, mas de cada aluno, por ser um grupo heterogêneo, alguns

com conhecimento e acesso à informática em geral e outros totalmente leigos, mas que

interagiram em grupos, onde o acompanhamento pelo método clínico piagetiano, antes das

atividades propriamente ditas, permitiu aos educadores adequar atividades ao interesse dos

alunos. Mas é de se louvar a disposição da turma em querer aprender e participar coletivamente,

o que contribuiu significativamente para essa atividade, que ao final, obteve significado não

somente para os alunos, mas para os educadores participantes desta experiência.

Assim sendo, além da prática escolar, a experiência em questão proporcionou a discussão

pelo cursista, com apoio da professora parceria, sobre a inclusão em sentido amplo, e os desafios

e paradoxos da tecnologia e da educação num mundo globalizado não apenas política e

economicamente, mas principalmente do ponto de vista tecnológico. Das anotações surgiram

indagações, e destas, em pesquisa posterior para a elaboração deste trabalho monográfico, foi

possível aliar o suporte teórico às constatações da prática escolar. Dentre elas: a inclusão deve

atuar nas esferas educacional, tecnológica e social, mas de que forma? Como motivar o aluno,

motivando primeiramente ao educador? É possível utilizar tecnologia aliada à educação sem

banalizar o uso do computador? O blog pode mesmo tornar-se um pequeno ambiente de educação

a distância? De que forma? Enfim, ideias, indagações que foram encontrando respostas no

transcorrer da metodologia da pesquisa, e que se evidenciaram no transcorrer da escrita deste

texto.

A presente pesquisa, portanto, justifica-se pela necessidade de divulgar aos educadores as

possibilidades da tecnologia em geral, e das TICs, em especial, serem incorporadas ao ambiente

escolar, via Mídias na Educação, de forma pedagógica (pesquisa, produção de conteúdo e de

conhecimento) e não apenas lúdica, como passatempo e diversão.

A relevância da pesquisa decorre da observação de que certos blogs educacionais já atuam

de forma direta ou indireta como ambientes de EAD, e que tal recurso é pouco utilizado pelos

educadores para refletir sobre sua prática escolar, bem como ambiente virtual de aprendizagem

presencial, na escola, e de EAD, por professores e alunos, via internet.

Tal trabalho é fundamental para estabelecer as novas conexões tecnológicas (do ponto de

vista do uso eficiente e significante das mídias na educação) e pedagógicas (mudando os

paradigmas do ensino tradicional para a aprendizagem colaborativa).

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Cabe ao educador do futuro tornar-se o mediador da informação que gera conhecimento a

ambos, pois o jovem domina os recursos tecnológicos antes mesmo de adentrar aos bancos

escolares, mas tem uma visão meramente lúdica de seu uso, enquanto que o professor vê na

máquina um provável concorrente.

As máquinas precisam de usuários, ainda não funcionam sozinhas, e cabe ao professor dar

um uso significante pelo aluno. Mais do que robotizar as pessoas, precisamos humanizar as

máquinas e mostrar as possibilidades de uso compartilhado e colaborativo entre professores e

alunos é um dos caminhos para tal.

As TICs e as Mídias são meios de atingir um objetivo e não finalidade da educação em si.

Até pelo fato de que se pode educar se o uso da tecnologia, mais comumente associada aos meios

eletrônicos – embora giz e quadro negro sejam também formas tecnológicas. Mas é improvável,

pelo menos ainda, de que uma máquina venha a educar um ser humano.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

CONSTRUTIVISMO: A FLEXIBILIDADE COGNITIVA E A APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA EM AMBIENTE ESCOLAR INCLUSIVO

Foram utilizados como referenciais teóricos deste trabalho, alguns conceitos do

Construtivismo, como a Flexibilidade Cognitiva e a Aprendizagem Significativa, a partir de

teóricos como D. P. Ausubel 1, Carl Rogers 2, , Paulo Freire e Piaget, entre outros, para amparar a

prática escolar desenvolvida através de PA com as turmas de 4ª. série do ensino fundamental,

possuindo alunos PNEEs, alguns com múltiplas necessidades. Como pesquisado por este cursista,

quanto ao trabalho desenvolvido por Carl Rogers (1998): “O rogerianismo na educação, aparece

como um movimento complexo que implica uma filosofia da educação, uma teoria da

aprendizagem, uma prática baseada em pesquisas, uma tecnologia educacional e uma ação

política”. Todos esses itens foram essenciais para a execução da prática escolar, proporcionando

de fato a flexibilidade cognitiva e a aprendizagem significativa - conceitos estes que serão

abordados adiante -, a partir da percepção de que o aluno interage num laboratório de informática

de forma diversa que em uma sala de aula convencional, em função dos multimeios e das

imagens, símbolos e signos que a informática proporciona, evidentemente, se utilizada pelo

1 David Paul Ausubel, grande psicólogo da educação nasceu nos Estados Unidos, na cidade de Nova York, em 1918, filho de família judia, imigrantes da Europa Central, crescendo insatisfeito com a educação que recebera. Após formação acadêmica em território canadense, resolveu dedicar-se à educação no intuito de buscar melhorias ao verdadeiro aprendizado. Totalmente contra a aprendizagem puramente mecânica, torna-se um representante do cognitivismo, e propõe uma aprendizagem que tenha uma estrutura cognitivista, de modo a intensificar a aprendizagem como processo de armazenamento de informações, ao agrupar-se no âmbito mental do indivíduo, seja manipulada e utilizada adequadamente no futuro, através da organização e integração dos conteúdos apreendidos significativamente. Segundo Ausubel, a aprendizagem significativa no processo de ensino necessita fazer algum sentido para o aluno e, nesse processo, a informação deverá interagir e ancorar-se nos conceitos relevantes já existentes na estrutura do aluno.2 Carl Ranson Rogers, nasceu em oito de janeiro de 1902, em Ilinois, Estados Unidos. Aos doze anos, foi morar com sua família em uma fazenda e, desde então, passou a interessar-se pelas ciências naturais e pela agricultura.Graduou-se na Universidade de Wisconsin em Ciências Físicas e Biológicas; formou-se em História e Psicologia e, ainda, estudou em um seminário protestante. Em 1928, concluiu seu mestrado e, em 1931, obteve o título de doutor na área de Psicologia. Rogers foi professor em diversas universidades: Ohio, Chicago e Wisconsin, liderando grupos no estudo e no tratamento da esquizofrenia.É conhecido mundialmente como o pai da 'Terapia Centrada na Pessoa'. Esta forma de terapia também é chamada de 'terceira força': é contra o behaviorismo e tem forte base humanista. Roger afirma que o homem apela à vida por meio de auto-realização, ou seja, o organismo tem como motivo básico a sua auto-motivação. Uma de suas obras mais importantes é o livro 'Tornar-se pessoa'. Ele reúne os mais significativos estudos rogerianos.

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professor com um sentido educacional, acima do meramente lúdico. Há que se ter sensibilização

e motivação do aluno, a partir do conhecimento de causa e auto-avaliação do educador. Percebe-

se que não raras vezes o discurso educacional e suas teorias têm avançado muito, embora a

prática escolar ainda se repita ad nauseaum, ora pelo desconhecimento, ora pelo

descomprometimento de alguns educadores com a qualidade do processo ensino-aprendizagem;

ora pela falta de tempo ou recursos financeiros para capacitação continuada, ora pelo desinteresse

de se qualificar, alegando estar em final de carreira ou, por falta da auto-avaliação, julgando-se

auto-suficiente, sem a necessidade de qualificação adicional. Seja em educação como em

tecnologia a atualização é necessária, deve ser permanente e continuada.

Percebe-se que os objetivos são atingidos quando a informática integrada ao projeto de

aprendizagem é utilizada como meio (ferramenta) em que a educação é o fim (a finalidade

principal). Entende-se por filosofia da educação dotar o aluno de espírito crítico e emancipador,

libertário, e não vincular um currículo escolar a cursos e conteúdos que visem apenas à

capacitação do aluno para o mercado de trabalho. Como diz o cientista político Emir Sader

(2006): “No Brasil existem projetos de governo, mas não de Nação”. 3 As ações políticas, quando

direcionadas à educação nem sempre visam à emancipação do alunado, e sim a sua dependência

de programas de governo, que a cada governo mudam a sigla e/ou objetivo.

Com base nestas indagações e constatações, o trabalho de pesquisa deste TCC ocorreu em

função da questão norteadora e título deste: “Blog como ambiente de EaD”. O que é um blog?

Como um blog pode ser utilizado na educação? De que forma um weblog pode comparar-se,

dadas as devidas proporções, a um ambiente de EaD?

Cabe, antes de mais nada, definir os referenciais teóricos adotados, inicialmente, tratando

da aprendizagem significativa, que é um meio de possibilitar um processo educacional inclusivo,

utilizando-se as palavra do próprio Carl Rogers (1998):

Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do que uma acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação futura que escolhe ou nas suas atitudes e personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos, mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua existência.

Durante o PA, observou-se que, com o uso desta teoria, ocorreu a mudança na postura dos

alunos, sejam eles regulares ou PNEEs; que, em sala de aula, apesar da estimulação do professor, 3 Palestra proferida por Emir Sader, Seminário Internacional de Gestão Democrática da Educação e Pedagogias Participativas, promovido pelo MEC, Brasília, 2006.

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são mais dispersos, e que no laboratório de informática mudam o comportamento, interagindo

tanto com a máquina, como com os colegas e educadores, o que será melhor evidenciado mais

adiante.

Ainda, segundo Rogers (1998), a Aprendizagem Significativa possui diversas implicações

no domínio da educação, dentre elas: “(...) que a aprendizagem seja significativa pela percepção

da problemática e da busca pelos meios prover um ensino compartilhado; da autenticidade do

professor frente aos desafios promovendo a interação mútua professor-aluno e o grupo entre si;

que o educador precisa aceitar e compreender seu alunado, para assim poder mediar o

conhecimento”.

Se o professor deve ser o facilitador desta aprendizagem, deve também mediar o

conhecimento, utilizando uma metodologia adequada. Primeiramente, os educadores envolvidos

no PA utilizam o método clínico de Piaget, que significa uma sondagem preliminar do

conhecimento prévio do aluno e de suas áreas de interesse, atuando como um suporte para

aplicação dos referenciais teóricos a seguir. A aprendizagem significativa possui sua metodologia

própria, calcada em situações que estimulem o aluno à interação, sem ser um estudo dirigido,

tampouco um método estruturante, em que o professor interfere de forma indireta, tanto no

campo afetivo como cognitivo do educando. Ou seja, conforme Zacharias 4 (2007), Rogers

pressupõe que “o professor dirija o estudante às suas próprias experiências, para que, a partir

delas, o aluno se autodirija, propõe a sensibilização, a afetividade e a motivação como fatores

atuantes na construção do conhecimento”.

De outra forma, pode-se dizer que seja unir o conhecimento formal à cultura popular que

o aluno já traz para a escola, fruto das influências do meio em que vive, cada vez mais

influenciado pelos meios de comunicação de massa – dentre eles, o principal que é a televisão –

que adentram à vida do estudante antes mesmo de seu ingresso na escola. Fechar os olhos para

esta realidade é virar às costas para um cotidiano já consolidado, onde cabe ao professor

desmistificar fatos, provocar o espírito crítico do alunado e promover a cidadania, através de uma

proposta educacional que seja ao mesmo tempo participativa e emancipadora. É um grande

desafio ao educador, que pressupõe em certo domínio tanto da teoria como da prática. Apesar das

críticas a teoria rogeriana 5, cabe dizer que somente com certa dose de idealismo e voluntarismo 4 ZACHARIAS, Vera Lúcia Câmara. Carl Rogers. Centro de Referência Educacional: Consultoria e Assessoria em Educação. Disponível em: <http://www.centrorefeducacional.com.br/carl.html>. Acesso em: 23 jul. 20075 A grande crítica à teoria de Rogers é feita pela utopia que ela implica, sua teoria é idealista, da corrente também denominada de romântica, irrealizável para seus críticos. Porém, na obra rogeriana são notáveis os seguintes

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é possível superar essa lógica excludente, tanto do ponto de vista educacional como social.

Embora público e notório, cada vez mais nas escolas e nos educadores depositam competências

além das educacionais. Problemática gerada no seio familiar, não cabe ao sistema educacional

resolver. Afinal, usando as palavras de Carl Rogers: “A escola evita a promoção de atividades

significantes”. Paradoxalmente, ora preocupada mais com aspectos formais do que estruturais,

ora preocupada em disciplinar do que conciliar. Contraditoriamente, a própria avaliação escolar,

quando feita sem critérios de significância, poderá ser um grande fator de exclusão escolar.

Assim sendo, há a necessidade de que a escola revise seus conteúdos e práticas, fazendo

sua auto-avaliação. Quando uma turma inteira reprova, normalmente culpa-se aquele grupo de

alunos, sem cogitar que os critérios de ensino e avaliação do professor podem estar equivocados.

Todo excesso e rigor pode ter um significado disciplinador para o professor, mas que para aquela

turma será um fator desmotivador. Algumas vezes o professor em sala de aula julga que é a turma

deve se adaptar a sua forma de ensinar, e não o contrário. Nesse caso específico o ensino perde

sua significação que é de aprendizagem, e passa a ser apenas a memorização do que o educador

diz ser certo ou errado, falso ou verdadeiro. Se nem a física quântica pode ainda precisar os

enigmas do universo, como pode um professor, por mais capaz que seja, determinar regras tão

rígidas para seu pequeno universo que é a sala de aula? O que é então aprendizagem

significativa? O que é buscar significado para a própria educação?

Como diz Rogers (1998): “A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o

novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado

para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio”. D’outra forma, torna-se um processo

repetitivo e mecânico.

Falar em conhecimento mecânico e repetitivo também é paradoxal, em pleno século XXI,

diante da revolução que a informática (informação automática) proporciona a cada dia. Para

grande parte dos professores que pararam no tempo - que não se atualizam nem sentem

necessidade de voltar a aprender -, o aluno ideal é aquele robotizado, que não pergunta, não

contesta, não exige um diálogo significante. O professor é o centro daquele pequeno sistema

solar/escolar, onde não existem planetas e sim apenas satélites, orbitando ao seu redor. Aquele

aluno indagador, não raras vezes, é tido pelo educador como alguém que está a testar seus

aspectos: o desejo de mudança, a intenção de realização de algo concreto e a preparação da opinião pública para as mudanças possíveis.

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conhecimentos, e uma “influência negativa” ao restante da turma. Nesse contexto, a

aprendizagem significativa jamais ocorrerá.

Foi o psicólogo D. P. Ausubel, nos anos 1960, o primeiro a pensar sobre a aprendizagem

escolar em um contexto fora da escola.

Nesse contexto, outras condições são destacadas por D. P. Ausubel para que ocorra a AS:

“a disposição do aluno em aprender e o conteúdo escolar significativo”. 6 Nos dois pólos em

questão, cabe ao professor estimular o interesse do alunado a partir da elaboração de um

conteúdo que seja atrativo, aliando a informática e os multimeios como ferramentas deste

processo.

Analisadas as condições, há que se examinar os tipos de aprendizagem, definidas por

Ausubel, que ocorrem no processo educacional, referindo-se às aprendizagens significativa e

memorística. A primeira, como o próprio nome indica, causa significado em forma de associação

de ideias ao conhecimento prévio do aluno; e a outra, apenas retém dados na memória do mesmo,

por causa da repetição continuada.

Situações práticas demonstram que a estimulação e a motivação do aluno pelo professor é

o diferencial entre um ensino significante - em que educador media o processo de aprendizagem -

e um processo mecanicista, em que o professor detém o conhecimento e espera que o aluno atinja

os objetivos que este, em sua avaliação, julga necessários serem atingidos, como um estudo

dirigido, sem que ocorra de fato um diálogo entre o educador e o educando, entre a informação e

o conhecimento que esta gera, quando se utiliza a proposta de projeto de aprendizagem, em que

este conhecimento é construído entre ambos.

Paradoxalmente, na educação, por mais que seja libertário o discurso, a prática evidencia

certo conservadorismo, uma mecânica repetitiva, que pouco avança dentro da sala de aula, desde

a disposição dos alunos em fila defronte ao professor, como a utilização linear do livro didático, o

uso da biblioteca escolar como depósito de livros ou local de castigo para alunos ditos

“indisciplinados”, e, por final, o laboratório de informática, onde o mecanicismo de atividades

sem conteúdo pedagógico e apenas lúdico, em nada acrescenta a prática pedagógica significante

para o alunado.

A reaprendizagem deveria ser a palavra-chave no processo de ensino-aprendizagem entre

todos os agentes e sujeitos, avaliando e reavaliando posturas, conteúdos, projetos e competências.

6Teoria de Ausubel. Disponível em: <http://www.xr.pro.br/Monografias/AUSUBEL.html>. Acesso em: 23 jul. 2007, p.3.

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Aliado ao conceito da Aprendizagem Significativa, dentro da proposta Construtivista

deste PA, utilizou-se também o conceito da Flexibilidade Cognitiva, como um complemento as

atividades teóricas e práticas do mesmo. Assim sendo, cabe discorrer sobre esse outro conceito,

que igualmente, como o anterior, foi concebido por pesquisadores, fora do ambiente escolar, e

posteriormente utilizado como suporte educacional. E que, por experiência empírica e prática,

deste cursista, quando utilizada no referido projeto, a partir de observações de outros PAs,

inclusive com turmas da Educação Especial, da mesma escola, encontrou amplo reflexo e

eficiência, diante de uma atividade que envolveu certa complexidade.

Dentro de um PA, há a necessidade de se administrar o tempo, os recursos humanos

envolvidos, e a disposição dos alunos em participar de atividade fora de seu contexto educativo

tradicional. Mas, nesse caso específico, com o advento da informática como um meio, uma

ferramenta de inclusão educacional e digital, com alunos em boa parte sem ter outro contato com

os multimeios, que não em atividades desse porte, faz-se necessário promover também a inclusão

social. E, consequentemente, a utilização de uma proposta diversa da tradicional. E nesse

contexto, o modelo de FC propõe, entre outras coisas, que “(...) para que os estudantes

desenvolvam esta flexibilidade cognitiva é preciso que os ambientes de aprendizagem repliquem

esta complexidade e permitam a abordagem multidimensional a estudos de casos realistas”; 7 o

que pode-se dizer: “promover a interdisciplinariedade e a intertextualidade de práticas, visto que

(...) o computador, devido à sua flexibilidade de representações é adequado à construção de tais

ambientes de aprendizagem”. 8

De fato, diante da complexidade da educação atual, e da educação especial, em específico

- em um processo inclusivo que necessita de força legal impositiva e não apenas anseio social de

plena realização -, a informática e o computador, se bem utilizados, podem propor essa

flexibilidade na transformação do próprio processo de ensino; que, feito através de projetos de

aprendizagem, num laboratório de informática, poderão replicar esses procedimentos, tanto em

classe regular como especial, afinal, a máquina deve ser encarada como ferramenta de apoio ao

educador.

7 Teoria de Ausubel. Disponível em: <http://www.xr.pro.br/Monografias/AUSUBEL.html>. Acesso em: 23 jul. 2007, p.58 Idem. p.5.

11

Page 20: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Portanto, a construção do conhecimento ocorre de forma mais ampla, quando o aluno

além de sujeito passa a ser encarado também como agente do próprio processo de ensino-

aprendizagem, em que o educador atua mais como mediador do que detentor do conhecimento.

Para os construtivistas, o conhecimento não é transmissível de um professor para um aluno, mas construído por este a partir de suas próprias experiências e conhecimentos prévios. Na origem epistemológica do construtivismo está a síntese kantiana do conhecimento. De acordo com Kant, nem o empirismo primário de Locke e nem o nacionalismo puro de Descartes traduzem a relação sujeito-objeto, mas uma síntese destas duas formas de conhecer. Se nem a subjetividade e nem a objetividade isoladamente dão conta do fenômeno do conhecimento, o pós-kantismo propõe a intersubjetividade, verdades consensuais negociadas entre sujeitos sobre o que é o real. Esta percepção deve muito à noção de “jogos de linguagem” de Wittgenstein. 9

Se a educação é baseada a partir da teoria à prática, com base na linguagem - e o uso

dessa linguagem poderá ser libertário ou conservador -, a comparação que Wittegenstein faz com

o xadrez é mais do que apropriada para a própria educação, em vista de que todos os atores

envolvidos no processo educacional representam um papel, e seus movimentos desencadeiam

repercussões pró ou contra alguém ou contra si mesmos. A aprendizagem, sob este ponto de vista

é um jogo, que de lúdico deverá também tornar-se pedagógico e significante para todos os

envolvidos neste xadrez paradoxal que tornou-se a própria educação, em busca de uma

significação.

Assim sendo, o referencial teórico que moveu este PA, cujo tema é o “Blog como

ambiente de EaD”, traz o enfoque construtivista, amparado nos conceitos acima destacados, que

deram suporte ao desenvolvimento da experiência, em quatro tipos diferenciados de ambiente

escolar (sala de aula da turma, laboratório de informática, biblioteca escolar e saídas de campo

com alunos). Das observações feitas, o tema inclusão foi o mote que conecta vários ângulos de

abordagem, não apenas focado no aluno, mas também no professor, no gestor e na comunidade

escolar, sob os aspectos educacionais, tecnológico e social, respectivamente, como será analisado

adiante.

5. METODOLOGIA: O DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA

9 Ibidem. p.2-3.

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Page 21: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

O PA, com a 4ª série de Escola Estadual de Ensino Fundamental, no município do Rio

Grande - RS, teve uma professora parceria, já com experiência no uso da informática com alunos

do ensino regular e turmas inclusivas; parceria deste cursistas, via NTE - Núcleo de Tecnologia

Educacional - Rio Grande, da 18ª CRE - Coordenadoria Regional de Educação. O NTE está

vinculado ao CATE - Central de Apoio Tecnológico ao Educando, que pertence ao Setor

Pedagógico da Secretaria Estadual da Educação do Estado do Rio Grande do Sul.

Como metodologia, utilizamos a PA que previu um encontro presencial de três (03) horas

a cada semana, nos meses de agosto a outubro de 2009, totalizando 36 horas, e atividades a

distância, de pesquisa e produção de conteúdos, em que os educadores atuaram como mediadores

(tutores). Foram duas turmas de 4ª série, primeiramente em encontros presenciais em turno

inverso ao que estudavam na escola. Posteriormente, optou-se por fazer os encontros no próprio

turno de estudo, pela dificuldade dos alunos se deslocarem de casa para a escola, fora do horário

normal de estudo, por conta de falta de tempo e recursos financeiros, entre outras questões.

A divisão em dois grupos deveu-se, primeiro ao fato de que eram turmas em turnos

diversos. Portanto, 28 alunos da turma 42, estudando pela manhã e 26 alunos da turma 41,

estudando à tarde, que participaram das atividades propostas pela regente de classe e o cursista

em quatro ambientes diferenciados: a própria sala de aula, o laboratório de informática da escola

e do NTE, a biblioteca escolar e as saídas de campo para verem in loco aspectos históricos

abordados nos demais ambientes de aprendizagem, seja de forma digital ou impressa.

O recorte espacial e cronológico do presente trabalho monográfico restringe-se ao período

que antecedeu a criação e finalização dos blogs (diários virtuais das referidas turmas) de

agosto/2009 a novembro/2009, durante doze (12) encontros presenciais, totalizando trinta e seis

(36) horas/aula, realizadas nos quatro ambientes distintos, acima citados. No laboratório da escola

foram utilizadas 10 máquinas, com sistema operacional Linux Educacional 3.0 e internet ADSL.

No NTE, foram utilizados 15 (quinze) computadores, com sistema operacional Linux e Windows,

com conexão de internet ADSL.

Na fase final do projeto, todo o material pesquisado pelos alunos, seja em sala de aula, na

biblioteca escolar, na internet e no passeio, com o uso de máquina fotográfica, desenhos, dentre

outros, foi colocado em pastas das duas turmas, para posterior classificação e criação de ambiente

virtual chamado blog para que cada turma interagisse uma com a outra, sob orientação do cursista

e da professora parceira. O nome dos blogs foi escolha, via enquete virtual, nos citados blogs,

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Page 22: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

feita pelos próprios alunos, e as imagens também que servem de banner, fotografias capturadas a

partir das saídas de campo.

A turma 41, turno da tarde, escolheu o nome do blog de Do Barão Para o Mundo

(http://dobaraoparaomundo.blogspot.com/ ) e a turma 42, turno da manhã, escolheu o título de

Chimarrão no Barão (http://chimarraonobarao.blogspot.com).

Diante desse contexto informatizado, desenvolveu-se a presente experiência, com o apoio

da professora responsável pela 4ª série, bem como da direção da escola e a coordenação do NTE.

No que tange aos aspectos em que foram planejadas as atividades do PA, cabe a seguir

detalhar a experiência e os desafios do uso de blogs na educação e como possível e aparente

ambiente virtual de educação a distância, a partir da própria escola. Analisar o fazer pedagógico

na sala de aula e no laboratório de informática; e nos demais ambientes utilizados.

Cabe assim, analisar a aprendizagem em diferenciados espaços:

Atividades em sala: Durante o segundo semestre/2009, a professora parceira desenvolveu

o conteúdo da disciplina de História, cujo tema foi a História do Rio Grande do Sul, aspectos

históricos, políticos e culturais. Na sala de aula, foi elaborado a cada conteúdo abordado, um

cartaz com a Linha do Tempo, produzido em colaboração entre a professora e seus alunos. Foram

também utilizados alguns livros didáticos, com textos e ilustrações, como História Ilustrada do

Rio Grande do Sul e Os Farrapos, dentre outros. 10

Atividades no laboratório de informática: Foram utilizados os laboratórios da escola e do

NTE. No primeiro encontro (NTE), mostrado o objetivo do PA e solicitada a colaboração dos

alunos. O aluno F. (turma 41), que possui deficiência visual, por exemplo, definiu o que para ele

era educação a distancia: “é a educação fora do ambiente ou do lugar onde estamos.” 11 Nesses

encontros presenciais, os educadores utilizando-se do referencial teórico da Aprendizagem

significativa e da Flexibilidade cognitiva, estabeleceram essa parceria também com os alunos, em

que aqueles que já conheciam as ferramentas (microcomputador e internet) auxiliassem aos

colegas que não tinham tal conhecimento. As trocas foram ocorrendo ao natural. Pesquisando em

duplas, e muitas vezes em trios, já que aquele que descobria algo, socializava com os colegas ao

lado, e até na fileira detrás. A flexibilidade não foi apenas cognitiva mas espacial, pois não havia

limitação quanto ao lugar que deveria ficar, poderiam transitar livremente do local, interagindo

10 Vide: http://dobaraoparaomundo.blogspot.com/2009/11/livros-utilizados-em-sala-de-aula.html11 Vide: http://dobaraoparaomundo.blogspot.com/2009/11/video-sobre-objetivo-do-blog-turma-41.html

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Page 23: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

uns com os outros. Na turma 42, havia o aluno V., cadeirante, que também interagiu com os

demais.

Atividades na biblioteca escolar: A professora e o cursista, por algumas vezes, aliado à

pesquisa feita em sites de busca, como Google, também trouxeram os alunos das duas turmas,

cada um em seu turno, para a biblioteca escolar, para que os educandos pudessem também fazer

pesquisas em livros didáticos, de literatura revistas, jornais e até histórias em quadrinhos. Os

educadores frisaram a necessidade de sempre referenciar a pesquisa, divulgando no trabalho a

fonte e a autoria da mesma, para não incorrer em plágio. Frisaram também que os alunos usassem

o Control+C e Control+V, quando na internet, mas que, abaixo disso, colocassem com as suas

palavras o que achavam de tal assunto e também informando ao leitor de quem era as imagens e

outros textos copiados. Afinal, como pós-graduandos, todos também, de certa forma, usando ou

não as TICs, o copiar e colar de citações é feito, desde que referenciado. O problema em si não é

o copiar, mas o apenas copiar, não mencionar origem e nada contribuir além da cópia.

Atividades de saídas de campo: Durante o PA, diversas saídas de campo com as turmas,

ora juntas, ora em turnos inversos, ou até mesmo no próprio turno, foram efetuadas, com a

participação da professora regente e do cursista. Foram momentos enriquecedores,

principalmente para o cursista, que como especialista em História do Rio Grande do Sul:

sociedade, política e cultura (FURG-2006), pode também, além de pesquisador e executor de um

PA, ser um educador em sentido amplo, podendo dar verdadeiras aulas ao ar livre, nos mais

variados espaços. Na Bibliotheca Rio-Grandense 12, em Rio Grande-RS, os alunos puderam

visitar os seis andares, transitar pelas diversas salas de exposição e conhecer o acervo de uma das

maiores bibliotecas do estado, e uma das mais antigas. Tiveram acesso a livros raros, puderam

fazer anotações, tirar fotos, entrevistar os funcionários. Os alunos mais agitados no espaço

convencional foram os mais atentos naquele ambiente diferenciado, enquanto os mais

concentrados no ambiente regular, continuaram como tal e em alguns casos, até dispersos. Na

visitação a Charqueada São João 13, em Pelotas, as duas turmas em questão, foram também

acompanhados por turmas da Educação Especial, de turmas de 7ª e 8ª série, além de outros

professores e até pais de alunos. Lá, os professores puderam dar aulas ao ar livre, e ainda receber

aulas do guia do local, que contou aspectos históricos e curiosos da charqueada, onde se curtia ao

12 Vide: http://dobaraoparaomundo.blogspot.com/2009/11/momentos-de-interacao-estudo-e-inclusao.html13 Vide: http://dobaraoparaomundo.blogspot.com/2009/11/contando-do-meu-passeio-ao-museu-e.html (depoimento de aluna, com ilustração).

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Page 24: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

sol a carne salgada para tornar-se o charque, uma das riquezas do Rio Grande do Sul, e um dos

motivos da Revolução Farroupilha, quando de sua maior taxação e incentivos a importação do

charque uruguaio. Na visita ao Jornal Agora 14, os alunos e educadores, recepcionados pelo

próprio proprietário, puderam conhecer todo o processo de criação e elaboração de uma edição de

jornal, desde a redação até a área de impressão do mesmo. Como o blog é um diário ou jornal

virtual, os alunos se interessaram em saber o que faz o repórter, o fotógrafo, o editor, o redator, o

revisor, etc, entrevistando os funcionários do jornal. Na visita ao Memorial Militar Silva Paes 15, Museu do 6º GAC (Exército Brasileiro), foi possível ver a réplica do Forte Jesus Maria José,

erguido pelo Brigadeiro José da Silva Paes, fundador do Município do Rio Grande, em 1737.

Viram também trajes militares de época, armamentos e cenas de uma linha do tempo, da

fundação até os dias atuais. Por fim, ocorreu em 28/11/2009, a 2ª Mostra Cultural da Escola

Barão 16, onde os alunos, em sua sala de aula, puderam mostrar aos visitantes (pais, outros alunos

e a comunidade em geral), um pouco de seu trabalho sobre a História do Rio Grande do Sul.

Atividades no blog: Através dos encontros presenciais no laboratório de informática da

escola, e também do NTE, os alunos foram convidados a postar material no ambiente virtual de

aprendizagem criado para cada turma (blog); entretanto, diante da idade dos mesmos, os

educadores perceberam que esses alunos não teriam a devida maturidade para coordenar

atividades complexas de produção de material. Foi então que, em comum acordo, professora e

cursista resolveram que os alunos atuassem de forma clássica, como tutores, publicando material

e mediando a visitação dos blogs, mediante acesso restrito aos integrantes das duas turmas, mas

posteriormente, como isso também era complexo para aqueles que não dominam os multimeios,

nem tinham acesso aos mesmos, optou-se por disponibilizar-se o acesso livre a todos, inclusive

pais e comunidade em geral. Foi, então, proposto aos alunos algumas atividades que poderiam ser

feitas em dias diversos, nos laboratórios da escola e NTE, ou no computador de casa, de amigos

e vizinhos ou de lan houses, dentre elas: que eles comentassem uma postagem no próprio blog,

depois no blog da outra turma; que participassem da enquete para escolha da imagem para

ilustrar os blogs, frutos das saídas de campo (e, curiosamente, sem conhecimento uma da outra,

ambas as turmas escolheram a mesma imagem, todos reunidos em torno do Monumento a Silva

Paes, fundador da cidade). Na atividade 4, em tese, a distância, propôs-se que os alunos

14 Vide: http://chimarraonobarao.blogspot.com/2009/11/visita-ao-jornal-agora-de-rio-grande-rs.html15 Vide: http://chimarraonobarao.blogspot.com/2009/11/fotos-da-visita-ao-memorial-militar.html16 Vide: http://dobaraoparaomundo.blogspot.com/2009/11/2-mostra-cultural-da-escola-e-mostra.html

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Page 25: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

visitassem alguns blogs sugeridos e outros por eles mesmo pesquisados, cuja temática fosse a

história e a cultura gaúchas. Foram assim, quatro atividades sem um grau de complexidade maior,

para fomentar o interesse na busca e incentivo à opinião. Os resultados foram satisfatórios,

podendo-se perceber através de depoimentos dos próprios alunos, publicados no blog. 17

Dessa forma, o processo de organização do PA aconteceu através de reuniões deste

cursista e professora regente e parceria, em dias que antecediam as atividades propostas. Tanto no

ambiente tradicional, como no ambiente virtual, foi incentivada a participação coletiva dos

alunos, e toda a produção e contribuição dos mesmos encontram-se registradas nos blogs acima

citados, respeitando a especificidade das turmas de 4ª série com alunos PNEEs incluídos e a

relativa complexidade para eles da construção de uma minipágina chamada blog. Em anexo,

encontra-se depoimento da professora parceria sobre o PA, e que também serviram de base para

este TCC.

Esse estudo está, portanto, organizado em três capítulos: primeiramente, mostrando o

desenvolvimento da pesquisa, com o enfoque educacional. No segundo capítulo, encontra-se a

análise dos aspectos onde ocorreu a inclusão digital. E, no terceiro, fica demonstrado como

promover a inclusão social de PNEE’s, a partir do uso da tecnologia no ambiente escolar, como a

diferenciação entre prática pedagógica em sala regular e a efetuada no laboratório de informática.

Nas considerações finais, apontam-se propostas de inclusão educacional, tecnológica e social, a

partir das reflexões do PA.

6. RESULTADO E DISCUSSÃO:

6.1 O SENTIDO DAS MÍDIAS NA EDUCAÇÃO E O SIGNIFICADO DESTAS NO

ESPAÇO ESCOLAR INCLUSIVO

17 Vide: http://chimarraonobarao.blogspot.com/2009/11/alguns-trechos-de-depoimentos-dos.html (depoimentos de alguns dos alunos).

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A criança hoje fica confusa ao entrar num ambiente que remonta ao século 19 que caracteriza a estrutura educacional onde a informação é escassa, porém ordeiramente enfileirada em seus fragmentos, com os assuntos classificados em padrões e agendas. (Marshall McLuhan, 1967).

Diante do que foi apurado, durante o desenvolvimento desta experiência, através de PA,

cabe refletir e pensar as mídias no ambiente de ensino-aprendizagem e repensar a própria

arquitetura escolar; enquanto espaço físico e espaço virtual, e como neles acontece a

aprendizagem.

Mas, antes disso, é preciso, primeiramente, definir que o que se entende por TICs são

todos os multimeios que compõem as Tecnologias da Comunicação e da Informação, que

comumente são associados aos meios eletrônicos (computador, celular, TV, internet, etc). Porém,

por TICs também podemos considerar coisas mais prosaicas como giz e quadro negro, livro,

rádio, jornal, revista e todo tipo de tecnologia que informa e comunica algo a alguém. Diante dos

meios eletrônicos, principalmente a internet, ou a rede mundial de computadores, que aproxima

pessoas, mundo afora, nunca se falou e se enviou tantos e-mails (mensagens de correio

eletrônico), mas paradoxalmente, nunca se falou tão pouco, à medida que as mensagens às vezes

são repassadas numa corrente infinita – produção de terceiros - sem sequer um encaminhamento,

uma mensagem simples, como um “Olá, como vai?” Há uma certa impessoalidade nessas

remessas de dados, sem uma maior afetividade entre o remetente e seu destinatário.

Também faz-se necessário conceituar o termo “mídia” e “mídias na educação”. O

primeiro, indica os meios de informação e de comunicação, promovendo a integração entre um

emissor e um receptor, como a TV, o rádio, o videocassete etc. No segundo caso, é a utilização

desses recursos com um enfoque educacional, não somente como caráter reprodutor de material

já pronto, mas que permite também a adaptação, criação e recriação de material próprio, a partir

da intervenção do educador em seu meio: a escola, a turma, o aluno e a própria comunidade.

Dessa situação surge um novo desafio ao educador:

A primeira questão crucial pode ser assim formulada: como poderá a escola contribuir para que todas as nossas crianças se tornem utilizadoras (usuárias) criativas e críticas destas novas ferramentas e não meras consumidoras de representações novas de velhos clichês?

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A esta questão acrescenta-se outra ainda mais crucial e urgente: como pode a escola pública assegurar a inclusão de todos na sociedade do conhecimento e não contribuir para a exclusão de futuros 'ciberanalfabetos'? (BELLONI, 2005, p.8)

Nesse contexto, cabe ao educador mediar essa informação dispersa e proporcionar ao

alunado uma forma de gerar conhecimento, e que esse conhecimento através de atividades

integradoras de maquinários e usuários, possam gerar conhecimento e significação mútuo a todos

os envolvidos em determinada comunidade aprendente. O que torna mais atual o pensamento

freireano, analisado hoje sob o enfoque tecnológico e não apenas educacional, quando escreveu

no livro Pedagogia do Oprimido (1987), que “(…) ninguém educa ninguém, como tampouco

ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.

Em um contexto tecnológico educacional, cabe ao educador assumir para si essa responsabilidade

de mediatizar e mediar o mundo escolar, dando sentido ao maquinário pelo jovem usuário, o

aluno. Entretanto, mais que o equipamento, o espaço também deve ser mediatizado, pois espaços

diferenciados de educação requerem formas diferenciadas de educar.

Diante da cada vez maior inserção da tecnologia no cotidiano social e da necessidade da

educação e dos educadores se incluírem nesse processo, considera-se que as Mídias possuem um

papel fundamental nesse intercâmbio entre professores e alunos, em vista de que o jovem domina

melhor os multimeios que o adulto, mas não tem a devida compreensão de como tais

equipamentos e recursos tecnológicos podem servir ao ensino e à aprendizagem.

Cabe ao educador, conectado com o seu tempo, mediar esse fusão entre o tecnológico e o

pedagógico, dando significação as TICs e as mídias no ambiente escolar. Afinal, para Paulo

Freire, em Pedagogia da Autonomia (1987): “Educar é ter a consciência do inacabamento” e que

“a leitura de mundo antecede a da palavra”. Em um mundo dominado pela imagem antes da

palavra, nada como promover a convergência entre tecnologia e educação em um espaço virtual

e colaborativo, espaço esse que, conforme Ausubel, deve “replicar o mundo do jovem”.

Para o uso adequado de espaços diferenciados de interação com o aluno (sala de aula,

laboratório de informática, biblioteca escolar e saídas de campo), faz-se necessário planejamento

prévio, uma orientação às atividades propostas, e certa flexibilização de posturas e práticas

educacionais, com base no construtivismo, em que o aluno é estimulado a buscar soluções para as

próprias indagações, quando amparadas em conteúdos curriculares e a mediação do educador.

Neste contexto, há que se buscar na complexidade a unidade sem confundir diversidade

com adversidade, comumente associadas por aqueles que temem o que desconhecem. As mídias

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Page 28: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

no ambiente escolar provocam certos receios nos educadores sem formação para lidar com essa

nova realidade. Àqueles que já se incluíram neste processo e integraram as tecnologias e os

multimeios em geral à sua prática pedagógica, já não temem tais ferramentas, que antes eram

vistas como recursos tecnológicos e agora mostram possibilidades educacionais.

De fato, ao iniciar o referido PA, tivemos que lidar com múltiplas realidades sociais e

educacionais nas duas turmas em questão, lidando também com alunos regulares e incluídos,

PNEE's.

A inclusão proporciona também que os professores abandonem os métodos tradicionais de educação. Necessita-se de um engajamento entre todos os setores da escola, para que juntos solucionem as maiores dificuldades enfrentadas, através de debates, avaliação continuada e proposição de idéias a serem implantadas conforme a receptividade, ouvindo-se as partes envolvidas. Dentre essas proposições poderiam sugerir a possibilidade de quem fossem disponibilizados a todos os setores da escola e aos interessados da comunidade, informações sobre o processo inclusivo e a forma de participação, pois este não deve ficar restrito à equipe diretiva e ao professor em sala de aula. (BRASIL ROIG e FREITAS, 2005, p.20).

O cursista e a professora parceira precisaram adaptar a ideia inicial de tornar o blog em

ambiente de Educação a distância, para um ambiente de aprendizagem em rede, em função da

realidade social e educacional do alunado. Além do fato de serem alunos muito jovens, que

careciam de maturidade adequada para a produção de conteúdo, e sim a mediação do mesmo,

pelo cursista e a professoras parceira, atuando como tutores.

Foi preciso trabalhar com uma proposta não tão ampla, mas mais restrita à realidade em

questão, pois alguns alunos possuíam computador e internet em casa, outros, sequer tinham

mexido num mouse e teclado. Mas ambos os grupos, durante o desenvolvimento do projeto,

acabaram interagindo. Para que uma inclusão seja eficiente é necessária a superação de algumas

dificuldades enfrentadas, como:

(...) as escolas não recebem auxílio financeiro para se garantir o mínimo necessário para a manutenção de uma educação de qualidade. Não há investimentos satisfatórios na qualificação de professores. Algumas escolas não possuem infra-estrutura adequada; o transporte escolar em muitos lugares é precário (...) Muitas vezes a própria avaliação curricular é uma forma indireta de exclusão, quando remete o aluno à reprovação e a conseguinte evasão escolar (BRASIL ROIG e FREITAS, 2005, p.31-32).

Dentro de uma perspectiva integradora, pode-se concordar plenamente com os autores a

respeito de que

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(...) A escola não está preparada para aceitar o diverso, tanto do ponto de vista do aluno, como da diversidade de opinião de professores, funcionários e pais. A maioria prefere trabalhar com o chamado aluno-modelo, aquele que não dá nem traz problemas. O aluno-problema, como é rotulado, em raras oportunidades têm investigada as causas da rebeldia e indisciplina, muitas vezes de ordem econômica, social e/ou familiar. (BRASIL ROIG e FREITAS, 2005, p. 32)

Assim sendo, a inclusão, seja de alunos regulares e/ou PNEE’s em espaços informatizados

é plenamente realizável se o educador conhecer as limitações de seus alunos e reconhecer às

próprias, estabelecendo de antemão parcerias com a comunidade escolar, através de planejamento

que envolva todos os segmentos representativos da escola, como apoiadores e conhecedores deste

projeto e processo. A prática nesta experiência, mais que um PA é um processo contínuo de

aprendizagem sobre a própria inclusão, em sentido amplo, que pressupõe não ter respostas

prontas e sim perguntas a serem respondidas durante o planejamento, a execução e sua análise. É

um processo paradoxal e necessário, pois a informática e a educação precisam reavaliar o papel

de cada uma em um ambiente escolar que se propõe emancipador.

Da mesma forma, o espaço de aprendizagem diferenciado requer também uma postura

diferenciada do educador. Em sala de aula, o método expositivo, com alunos enfileirados, cada

um na sua carteira e cadeira não é o modelo ideal de atuação num laboratório de informática,

onde os alunos precisam interagir com a máquina e o grupo. Num laboratório de informática

percebe-se que essa interação, se flexibilizada essa postura expositiva, por uma mediadora,

permitindo que os alunos levantem e sentem um do lado de outro, muitas vezes dois ou três por

máquina, favorece a própria aprendizagem em rede, no sentido de rede lógica (informática),

como rede social tanto no mundo virtual como no real), pois aproxima aqueles que conhecem os

multimeios daqueles que estão aprendendo a sua manipulação. Nesse convívio amplo, a

aprendizagem ocorre de forma também ampla, pois as descobertas são de ambos.

Já a atuação do educador, dentro de uma biblioteca escolar, deve ser a de estimular a

pesquisa de outras fontes de informação, que não apenas a virtual, favorecendo que o alunado

folheie os livros, veja as figuras, anote dados e autoria dos mesmos, dando vida a um espaço

comumente associado a mero depósito de livros, por alguns.

Por fim, no espaço mais amplo de interação, que é a saída de campo, cabe ao educador dar

sentido a essa atividade, para que não se configure mero passeio ou atividade lúdica, mas que seja

um espaço a mais para proporcionar uma interação entre o social e o educacional, ainda mais que

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a atual geração é muito visual, vinculada a imagens, e um conteúdo já visto em sala de aula e

visitado in loco poderá favorecer ainda mais a aprendizagem. As saídas de campo (ao jornal

Agora, à Bibliotheca Rio-Grandense, ao Museu Militar e a Charqueada São João), durante o

projeto, proporcionaram aos alunos o que a aula expositiva, a pesquisa virtual e o manuseio do

livros fundamentaram. Espaços diferenciados requerem formas diferenciadas de interação.

6.1.1 COMO ALIAR TECNOLOGIA, MÍDIAS E EDUCAÇÃO

A informação, o conhecimento e a aprendizagem são formas, se integradas e divulgadas

adequadamente, via escola, uma boa ferramenta de convergência social, através da socialização

dos meios digitais e educacionais, e o blog, por ser uma mídia de fácil acesso, criação e

utilização, pode ser um desses meios de divulgação da prática escolar.

De acordo com Bordoni (2002),

(...) Sabemos que em todas as instâncias nas quais educadores reúnem-se para discutir sobre educação, parece haver um consenso de que a educação básica deveria visar fundamentalmente a preparação para o exercício da cidadania, cabendo a escola formar o aluno em conhecimentos, habilidades, valores, atitudes, formas de pensar e atuar na sociedade através de uma aprendizagem significativa. Isto implica em uma análise dos instrumentos e processos presentes nas instituições educacionais.

O que encontra reflexo em Dowbor (2006): “(...) quando não se entende a nossa realidade,

como se faz planejamento? Sobre qual realidade planejar?” E, na sua opinião: “A compreensão

dos problemas locais inseridos na análise curricular, reconstruindo-o”. O que significa a

sociedade constituída, através de seus conselhos municipais, tutelares, escolares e outros,

assumir, de fato, para si, uma responsabilidade consultiva, deliberativa e fiscalizadora. E não

meramente referendadora dos gestores escolares e/ou públicos. “Aprender a aprender” seu papel

social, sem delegar a terceiros o que é de sua competência.

A meu ver, discutir avaliação e aprendizagem, envolve muito mais de que discutir “formas de avaliação” ou “metodologias”. Envolve questões fundamentais de ordem

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ética; Por que sou professor/ supervisor/ diretor? Qual o sentido, para mim mesmo, daquilo que ensino? Qual a utilidade para a sociedade? Que tipo de aluno/cidadão quero ajudar a formar? Será que toda boa avaliação não deve começar por uma auto-avaliação do educador? O que estamos avaliando, afinal? O nosso aluno ou o nosso trabalho (que é também do aluno)? (BORDONI, 2002).

Dessa forma, o educador, seja em sala de aula regular, inclusiva ou em projeto de

aprendizagem, deve considerar a avaliação do alunado paralela à sua própria auto-avaliação,

comparando se as propostas iniciais do planejamento escolar em suas mais variadas atividades

fora alcançado no transcorrer do processo de ensino-aprendizagem, se houve interação da turma e

apreensão do conhecimento, se houve interesse dos alunos em ampliar seu horizonte, interagindo

com o colega, enfim, uma série de itens observados interna e externamente pelo professor. O

educador deve avaliar o seu entorno, mas também o seu interior, como se a atividade foi

prazerosa para ambos os lados ou ainda se o aprendiz contribuiu para descobertas mútuas, ainda

mais quando de trata do uso da tecnologia na educação.

Com a utilização da aprendizagem significativa e da flexibilidade cognitiva, dois pilares

do construtivismo, nota-se que o aluno atua motivado por uma prática diversa da tradicional, pois

é convidado a ser agente e não apenas sujeito do processo de aprendizagem. A escola foi

constituída em seus primórdios como estabelecimento instrucional calcado na disciplina, ainda

que autoritária para os padrões modernos, e não raras vezes, ainda não se desvencilhou dessa

trágica herança. O chamado aluno-problema é indesejado por muitas escolas e professores, que

preferem, paradoxalmente, o aluno “robotizado”, muito antes do advento da informática

educativa. E com a escola atua diante desse tipo de aluno?

A resposta que a escola dá a isso é, por vezes, acentuar procedimentos repressivos, impor recursos disciplinares ou atribuir os problemas a fatores externos tais como desequilíbrio familiar, imaturidade do aluno, ou os incontáveis problemas de aprendizagem. Isto ocorre muitas vezes por falta de conhecimento pedagógico dos diretores das instituições escolares que estão mais preocupados com a empresa do que com o processo, ou pela falta de atualização dos profissionais da escola (professores acomodados no saber específico e fragmentado, supervisores ritualistas, voltados para procedimentos, falta de equipe) e também porque sendo muito dinâmico, o ambiente escolar acaba sendo levado pelo urgente, esquecendo o importante (apagar o incêndio em vez de descobrir o foco do fogo). A teoria é conhecida por muitos, colocá-la em prática é o mais difícil. (BORDONI, 2002).

Diante da frase final da citação acima, pensando em educação, como não se recordar dos

versos do cantor e compositor mineiro Beto Guedes: “(...) a lição sabemos de cor, só nos resta

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Page 32: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

aprender (...)”? 18 Mas, aprender de que jeito, quando envolve não apenas questões disciplinares,

mas de desconhecimento ou receio de tratar da educação inclusiva?

(...) Uma aprendizagem significativa está relacionada a possibilidade dos alunos aprenderem por múltiplos caminhos e formas de inteligência, permitindo aos estudantes usar diversos meios e modos de expressão. De fato, se analisarmos os princípios da aprendizagem significativa já não parece ter lugar a concepção dominante de inteligência única, que possa ser quantificada e que sirva como padrão de comparação entre pessoas diferentes, para apontar suas desigualdades. (BORDONI, 2002).

A escola que se propõe moderna, precisa não só ser flexível, maleável quanto as suas

normas e condutas, seja com o professor, pais, funcionários e/ou alunos. Mais que isso, deve ser

centrada na figura do aluno, pois é em função deste que são constituídos imóveis, móveis,

utensílios, recursos humanos, financeiros e tudo mais que compõe o ambiente escolar.

Entrementes, não raras vezes, do currículo ao horário escolar, do projeto político-pedagógico ou

regimento escolar a figura central passa a ser o professor. Aparente inversão do caráter social da

educação. Para o professor a escola é profissão, ainda que possa também ser vocação, mesmo que

não seja tal postura obrigatória. Porém, para o aluno a escola é ou deveria ser um local de

formação, instrução, conhecimento e aprendizagem coletiva, solidária, colaborativa,

emancipadora e libertária.

A educação moderna não pode ser pensada como ato de induzimento ao acerto, no estilo

questionário de perguntas prévias para respostas fixas. Educar é incentivar o diálogo, e não

apenas um monólogo expositivo de um professor diante de um alunado enfileirado. Não há uma

verdade absoluta. Cada qual, seja professor ou aluno, traz em si verdades e informações que

podem, na troca de experiências, convergirem para o senso comum e o bom senso. Nesse

contexto a interdisciplinaridade pode ser um grande aliado de ambos, pois, como evidenciado

neste PA, a aprendizagem pode ser tão eficiente numa biblioteca, na sala de aula ou em um

passeio ao redor da escola, mostrando elementos teóricos através da visão prática, como também

em um laboratório de informática. A máquina é ferramenta que prescinde de usuários, que

podem ser o professor e sua turma, que aprenderão em conjunto, ora amparado o primeiro em

suporte teórico, ora feita a descoberta pelos segundos de forma empírica.

Educar é um ato social e socializante. De acordo com Rezende & Cola (2004), algumas

teorias, hoje, adotadas por educadores tiveram sua origem fora da escola, sem que seu objetivo

18 Versos da canção Sol de Primavera (1980).

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Page 33: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

principal fosse a adoção das mesmas em ambientes escolares, como a Teoria da Flexibilidade

Cognitiva (TFC).

É necessário reafirmar que diante da complexidade que é a inclusão de PNEE’s e da

tecnologia educacional, seja em ambientes educacionais inclusivos ou não, pode-se usar a

flexibilidade cognitiva para a obtenção de uma aprendizagem significativa, ainda mais quando

ocorre baixo rendimento, seja em decorrência da distração ou desinteresse do aluno pelo método

tradicional de ensinar ou não.

Não apenas o computador pode promover a FC e a AS. Conforme reiterado no transcorrer

deste texto, outros ambientes convencionais dentro de uma escola, se flexibilizado o seu uso pela

criatividade e habilidade do educador podem atingir os mesmos objetivos que o artefato

tecnológico de última geração. A internet, conectada ao computador tem socializado de forma

mais abrangente a informação e o conhecimento do que qualquer outro meio de comunicação,

ainda que proporcionalmente a outros meios (rádio, TV e jornal), seu acesso ainda esteja restrito.

Contudo, algumas escolas públicas, principalmente em cidades do interior do país já contam com

telecentros, abertos não apenas aos alunos e professores, mas a comunidade escolar e a população

em geral, atuando como locais de inclusão digital e social. Nesse convívio a linguagem linear vai

cedendo cada vez mais espaço para a hipertextualidade, que é uma linguagem derivada da

informática e da internet, que conduz a um labirinto de possibilidades de leitura e compreensão

de um texto. Troca-se a postura da verdade absoluta dos fatos pela verdade de cada região.

Integrar os conteúdos curriculares pela interdisciplinaridade requer sintonia fina entre

corpo docente e equipe diretiva, em sentido amplo, e entre professores parceiros quando fundem

conteúdos e competências nem um mesmo projeto de aprendizagem, como foi o caso deste PA,

em que amparou-se na trajetória profissional da professora, parceira em outros projetos de

aprendizagem, aliada a experiência deste cursista com a tecnologia educacional. Ambos

dependeram um do outro para desenvolver plenamente o projeto comum, que aliava as séries

inicias do ensino fundamental, como alunos PNEEs incluídos, à tecnologia educacional, área

comum a um e outro, respectivamente. Além do construtivismo, optou-se por uma abordagem

interdisciplinar no transcorrer do PA, como forma de explorar conteúdos e dinamizar

competências.

A interdisciplinaridade é considerada por Santomé (1998) como uma proposta acima de tudo progressista e desafiadora já que o avanço do conhecimento sempre teve estreita relação com novos questionamentos e reformulação de antigos conceitos em novas

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Page 34: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

perspectivas. Além disso, o estudo interdisciplinar pode levar especialistas de uma determinada área do conhecimento a se sensibilizarem por questões nunca levantadas nos seus domínios e a se sentirem desafiados a rever seus conceitos sobre antigas questões à luz de novos conhecimentos adquiridos no intercâmbio com outras disciplinas. (REZENDE e COLA, 2004, p.5).

Ainda, segundo Rezende & Cola (2004), pode-se perceber, atualmente, que “(...) a

demanda pelo interdisciplinar não é meramente acadêmica ou um privilégio científico, mas,

acima de tudo, uma demanda social”. Há professores que optam pela simplificação das práticas

escolares, utilizando o livro didático como bengala, como disse Monlevade (2006), assessor

parlamentar do Senado para a área da educação. O próprio computador pode ser a bengala da

nova geração se optarem por atividades mais lúdicas e simples, do que pedagógicas e mais

complexas.

O educador moderno deve buscar a complexidade para suas ações e de seus alunos, já que

de simples a vida, dentro e fora da escola, nada tem. Para o professor, complexo é utilizar as

novas tecnologias, coisa simples para o jovem, que considera complexas certas disciplinas, que

para o adulto já não o é. Desse diálogo complexo entre a teoria e a prática, pode ocorrer a

simplificação para o choque de gerações e o paradoxo motivado pela a inclusão das tecnologias

no dia-a-dia da sociedade antecipando a capacitação do professor, se o educador abandonar esta

postura de Magister Dixt – o mestre disse!

Se o professor desconhece a realidade de sua turma de ensino regular, desconhecerá ainda

mais a necessidade do aluno PNEE integrado em turma inclusiva. Se o professor desconhece a

realidade social de seu alunado, e credita atos de indisciplina apenas a um caráter agressivo deste,

sem avaliar outros aspectos, não apenas sócio-econômicos, afetivos, familiares, poderá virar as

costas para a sua própria prática escolar equivocada, sem a devida auto-avaliação. Em algumas

escolas proibi-se o boné (quase a segunda pele do aluno do sexo masculino), considerando

desrespeito, noutras é proibido o uso de celular, e em algumas universidades, até o acesso ao blog

não é permitido. Diante de tal complexidade,

Contextualizar, segundo Morin (2004) implica situar todo acontecimento, informação ou conhecimento em relação de inseparabilidade com seu meio ambiente – cultural, social, econômico, político e natural, além de incitar a percepção de como este o modifica ou explica de outra maneira. Este tipo de pensamento, torna-se um pensamento do complexo pois procura as relações e inter-retro-ações entre cada fenômeno e seu contexto, as relações de reciprocidade todo/partes: como uma modificação local repercute sobre o todo e como uma modificação de todo repercute sobre as partes. (REZENDE e COLA)

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Page 35: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Conhecer a complexidade de seu alunado, eis o grande desafio do educador, que só

poderá conseguir amparo às suas atividades se ampará-las num suporte teórico consistente, que

no caso em questão obteve êxito com as propostas construtivistas, já amplamente destacadas.

Se o professor não conhece de fato a própria turma, se não busca alternativas ou não são

oferecidas a ele, não há como se falar em processo de aprendizagem, se o próprio agente deste

processo também não é aprendiz, não no sentido de subordinação a alguém superior – o Magister

Dixt -, mas ao sentido emancipador. Só se superam desafios que se busca aprender e apreender

soluções efetivas e executáveis para tratar temas que envolvam certa complexidade. Não há

manual, por melhor escrito que esteja, capaz por si só de resolver todas as questões crucias que

envolvem a educação, se o professor não se integrar ao processo de socialização do

conhecimento, participando como mediador e também, quanto a questão tecnológica, como

aprendiz, já que o alunado pode contribuir como aluno-monitor, como antes citado, nessa

inclusão em sentido amplo, em que todos de uma forma ou de outra acabam sendo agentes e

sujeitos sociais. Parafraseando Paulo Freire: “Ninguém aprende sozinho, todos aprendem em

comunhão”. Por mais paradoxal que seja a realidade das escolas brasileiras relativas tanto à

educação como a integração da tecnologia na prática escolar, há diversas e desconhecidas

propostas inovadoras de professores unindo a simplicidade e eficiência à praticidade. Saber

divulgar tais experiências como propostas da escola e dos gestores e não apenas de professores

isolados, é o grande desafio tecnológico, educacional e social.

Dessa forma, o blog como um ambiente de aprendizagem em rede, que tanto pode ser

aberto e sem restrições de acesso, ou restrito apenas ao professor e seus alunos, mediante convite

enviado para uma conta de e-mail de cada um para leitura e co-autoria, pode ser um espaço

virtual que simula, replica essa complexidade de um ambiente de EaD, onde é possível professor

e alunos interagirem dentro de uma proposta de flexibilixar o próprio espaço escolar, além do

convencional.

Neste PA, o que se colocou em prática foi tornar o blog em um espaço de aprendizagem

em rede, em sentido amplo, disponível o acesso aos alunos, para visitação e comentário, tanto no

laboratório de informática da escola como noutro local (lan house, casa, etc), como ampliar esse

sentido de rede, para o termo rede social, incorporando outras formas de interação, como MSN,

orkut, sms, além das postagens nos blogs, complementando o que fora tratado nos espaços

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Page 36: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

físicos, como sala de aula, biblioteca, laboratório de informática e saídas de campo, com a sua

divulgação no ambiente virtual, tanto aos próprios alunos envolvidos, como a comunidade

escolar (demais alunos e professores da escola, além de pais e visitantes diversos).

O próprio título dos blogs evidenciou esse sentido dado pelos alunos, de levar adiante o

que queriam mostrar. “Do Barão para o Mundo” e “Chimarrão no Barão”, demonstram esse

interesse das duas turmas de tratar do particular, mostrando ao universal. Além do sentido

tecnológico e educacional, um sentido social, de mostrar ao mundo o que eles pesquisaram.

6.2 BLOG (DIÁRIO VIRTUAL) NA EDUCAÇÃO: DA REPRODUÇÃO À PRODUÇÃO

DE CONTEÚDO PRÓPRIO (EDUCOMUNICAÇÃO)

De acordo com a Wikipedia, a enciclopédia livre e colaborativa, a partir da contribuição

de milhares de pessoas mundo afora:

O termo "weblog" foi criado por Jorn Barger[2] em 17 de dezembro de 1997. A abreviação "blog", por sua vez, foi criada por Peter Merholz, que, de brincadeira, desmembrou a palavra weblog para formar a frase we blog ("nós blogamos") na barra lateral de seu blog Peterme.com, em abril ou maio de 1999. Pouco depois, Evan Williams do Pyra Labs usou "blog" tanto como substantivo quanto verbo ("to blog" ou "blogar", significando "editar ou postar em um weblog"), aplicando a palavra "blogger" em conjunção com o serviço Blogger, da Pyra Labs, o que levou à popularização dos termos. 19

Inicialmente, o blog foi utilizado por adolescentes, como diário virtual, para reflexões

amorosas, escrever poemas, ilustrados por imagens, etc. Posteriormente, a ferramenta foi sendo

usada por jornalistas, criando suas páginas virtuais, até que os educadores se apropriaram do

recursos como forma de divulgação de ideias, atividades e projetos educacionais próprios ou de

escolas.

O blog é um grande recurso de mídia, apesar de ser uma pequena página, de fácil criação

e manuseio, que permite que seu autor o utilize informalmente para publicar desde textos e

imagens, até vídeos e outros recursos, e está organizado de forma cronológica inversa (as

19 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Blog. Acesso em 22 jun. 2010.

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Page 37: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

primeiras postagens ficam abaixo, e as mais recentes, em destaque, no alto da página). Um blog

pode ser individual ou coletivo (colaborativo), através do uso das permissões de leitura ampla ou

restrita a um grupo, ou de co-autoria, também através de convite enviado pelo seu criador e

administrador principal. Existem diversas ferramentas de criação de blogs, dentre elas o Blogger

(https://www.blogger.com) e o Wordpress (http://wordpress.org).

Manter um blog é tão simples como enviar uma mensagem de correio eletrônico, com a

diferença que tal mensagem é destinada a alguém específico e a postagem em um blog é enviada

para o mundo virtual.

Um blog educacional é aquele, portanto, que é utilizado por um educador, de forma

individual ou colaborativa, para divulgar suas atividades no ambiente escolar, suas reflexões e

estabelecer um portal de trocas de experiências com outros educadores. Alguns blogueiros

educacionais são mais conhecidos além de sua aldeia, graças ao blog, e inclusive reconhecidos e

premiados por esse trabalho online. Dessa forma, o blog, de mero diário ou jornal virtual, passou

a ser também um ambiente de aprendizagem em rede, podendo ser inclusive, conforme a ser

demonstrado no tópico a seguir, em um ambiente de EaD, por poder simular de forma mais

limitada um portal educacional de formação continuada.

Todos reconhecem o poder da comunicação na sociedade moderna, que influencia

comportamentos, corações e mentes. O blog, nesse contexto, é um filão ainda a ser melhor

explorado pela educação, principalmente por ser enquadrar perfeitamente no conceito de

educomunicação, que permite ampliar a rede de aprendizagem, além do espaço físico e

convencional da sala de aula e da própria escola.

O conceito de Educomunicação indica “a junção da educação e da comunicação e firma-

se como um novo campo de intervenção, em que se busca ressignificar os movimentos

comunicativos no âmbito da educação”. Na década de 1970, Francisco Gutierrez, “adepto as

concepções de Paulo Freire, afirmava que era preciso preparar a pessoa para a vida, com a sua

afetividade, percepções, sentidos, crítica e criatividade” (pessoa inteira). O estudioso apontava a

necessidade de aproveitar os meios comunicacionais para auto-expressão dos indivíduos. Assim,

para Gutierrez (1978, p. 39),

A educação será, portanto, um reagir (responder) criativamente do educando. Em outras palavras, é desenvolver uma capacidade de reagir frente aos outros e ao mundo que nos rodeia. É conseguir que o homem seja capaz, durante toda a sua vida, de interrogar-se e encontrar respostas adequadas para transformar a realidade. Em resumo, que não sejam homens expectadores, mas sim recriadores do mundo.

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Page 38: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Dentro desse conceito de educomunicação, amplia-se a questão do professor como

mediador do conhecimento, ou como Pier Cesare Rivoltela (2007) 20 , denomina de “mídia

educação”: “a troca da abordagem tradicional - baseada na fala do professor à frente da sala de

aula - pelo uso de mídias que favoreçam o trabalho em grupo mais ativo, dinâmico e criativo em

todas as disciplinas"; pois, para ele, "Os professores não são formados para lidar com elas

(mídias)"; e, muitas vezes, "As experiências, geralmente, são voltadas para o conhecimento

técnico dos meios de comunicação, não o crítico". 21

Para o pensador e educador italiano, os jovens se relacionam com as tecnologias de uma

forma bem diversa da que a utilizada pelo adulto, e nisso há uma nítida a questão de distribuição

espacial, no mundo virtual:

"Uma das maiores características desse público é o que chamamos de uma disposição multitarefa. Ele responde às mensagens do celular, ouve música no iPod, vê TV e fala com os amigos no Messenger - tudo ao mesmo tempo. (...) Fazer tudo isso simultaneamente é uma característica típica das novas gerações. Por um lado, isso lhes confere uma elaboração cognitiva muito rápida. Por outro, acaba deixando-os na superficialidade, pois não dá tempo de se aprofundar nos assuntos". (RIVOLTELLA, 2007) 22

A tecnologia por si só não faz sua prática melhor nem pior, se a metodologia não replicar

as transformações da sociedade, do mundo ao redor.

E como a escola se relaciona com esse aluno multifuncional e multifocal? - na opinião de

Rivoltella (2007):

A melhor forma de levar o tema mídia para a sala de aula é como um tema transversal. Alguns pesquisadores defendem a criação de uma disciplina específica, mas já está provado que isso não funciona. Se apenas um professor responde pelo conhecimento da tecnologia e da mídia (como ocorre em muitas escolas que têm salas de informática), os outros tendem a se desinteressar pelo assunto. E, para ser eficaz, esse trabalho precisa ser realizado em equipe.

20 Filósofo e especialista italiano em Mídia e Educação da Universidade Católica de Milão, diz que a tecnologia e seu conteúdo devem fazer parte do dia-a-dia escolar. Rivoltella, visita com freqüência o Brasil, orientando pesquisas sobre a relação entre jovens e internet do Grupo de Pesquisa Educação e Mídia da PUC-RJ, onde também dá aulas sobre Mídia e Educação, e acompanha pesquisas de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina.

21 Entrevista à Revista Nova Escola (www.novaescola.org.br), edição nº 200, março/2007, páginas 15 a 18.

22 Entrevista à Revista Nova Escola (www.novaescola.org.br), edição nº 200, março/2007, páginas 15 a 18.

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Page 39: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Diante disso, algumas considerações de Rivoltella, promovem profunda reflexão sobre as

TICs no ambiente escolar, principalmente ao referir-se ao universal com seus reflexos no

particular. Segundo ele:

pesquisa de 2006 revelou que 18% dos professores italianos só usam a internet para fazer pesquisas. Eles também não debatem com os alunos os problemas culturais ligados às novas tecnologias - ou porque não entendem que isso interessa a eles, ou porque não se consideram preparados para isso. Na escola, a tecnologia ainda é vista como um perigo, não como uma aliada.

Apesar disso, "(...) Os computadores e os celulares deixaram de ser apenas ferramentas

de recepção. Hoje, são também de produção. Uma criança pode tirar fotos ou fazer vídeos com

um celular e publicá-los na internet. Qualquer um pode editar e produzir conteúdo (...)."

Sendo assim, eis o perfil do educador do século XXI, a partir das indagações e

constatações do próprio Rivoltella: "O mídia-educador é o profissional que tem competências

pedagógicas para preservar os valores e a ética necessários na produção audiovisual

direcionada ao público infanto-juvenil. (...)"

E perguntado sobre como atuar numa escola sem TV, DVD, computador, disse: "É

possível desenvolver bons trabalhos usando meios como a escrita e a fotografia. Até as rádios

comunitárias, que são muito comuns no Brasil, podem ser bem aproveitadas em sala de aula".

Com base nisso, o professor ao apropriar-se de ferramentas como o blog, passa

invariavelmente a ser um mídia-educador, por utilizar o mesmo em sua prática escolar e ao

compartilhar esse conteúdo produzido, via ciberespaço, também proporcionar uma aprendizagem

em rede, não somente com seu alunado, mas com os demais colegas e a comunidade escolar e

além disso, podendo, com sua prática, influenciar outros formadores, mundo afora, que terão um

referencial extra para reproduzir, adaptar ou influenciar na própria produção de conteúdo

educacional. Diversos educadores têm influenciado e sido influenciados por essa nova forma de

reproduzir e produzir conteúdo educacional, via blog (vide lista de alguns blogueiros

educacionais no anexo). Uma nova perspectiva de interação entre professores e alunos se mostra

com o uso dessa ferramenta virtual.

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Page 40: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

6.3 BLOG (DIÁRIO VIRTUAL) COMO AMBIENTE DE APRENDIZAGEM EM REDE

Hoje, falar em modernidade, tanto em tecnologia como em educação, é discorrer sobre a

importância de um laboratório de informática na escola, mesmo que de fato as práticas escolares

sejam as mesmas, pois convive-se com o paradoxo de o aluno dominar os meios tecnológicos

melhor do que o professor. O jovem utiliza as mídias, informalmente, sem um compromisso

educacional. O professor, quando usa as mídias, às vezes, é no sentido recreativo, nem sempre

pedagógico.

Desse choque de gerações há também um conflito de práticas escolares, ora tradicionais,

ora travestidas de modernas, quando utilizado o microcomputador e as mídias, mas de forma

mais lúdica do que pedagógica. Mas há inúmeras possibilidades da tecnologia e das mídias serem

usadas no ambiente escolar. Infelizmente, nem todas são de conhecimento de gestores e

educadores, em sentido amplo, salvo casos pontuais. Então convive-se com o paradoxo tecno-

educacional; ou seja, o jovem se alfabetiza em tecnologia e no uso das mídias, em geral, antes

mesmo de ingressar na escola, enquanto o professor conservador recusa-se a incluir essas

ferramentas em suas práticas, mesmo quando oferecidos cursos de capacitação pelo gestor

público. Carece de uma desmistificação da máquina, que jamais irá substituir o professor, até

pelo fato que, até que a inteligência artificial abandone de vez a literatura e a cinematografia de

ficção científica, máquinas sempre precisarão de seres humanos para sua manipulação e

programação. Mas então, o que é informática usada com sentido educacional?

A informática educativa trouxe consigo a possibilidade de utilização prática de ideias em situações inimagináveis poucas décadas atrás. Trinta anos atrás o primeiro contato de estudantes de ciência, regra geral, se dava através de aulas expositivas onde o professor discorria sobre determinado tema e utilizava apenas recursos estáticos, seja o giz e quadro-negro ou retro-projetor. Se o assunto considerado exigisse uma análise da evolução temporal de parâmetros observáveis de um sistema, ou se todo o sistema evoluísse com o tempo, cada um dos alunos necessariamente deveria ter a capacidade de construir um modelo mental capaz de criar essa evolução temporal. (TAVARES, 2006, p.1-2)

Apesar do computador, da informática e das mídias terem mudado algumas formas de

prática escolar, falta ainda ser incorporada à informática educativa não como uma disciplina

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Page 41: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

estanque em si mesma, e sim encarada com uma atividade inter e multidisciplinar nos currículos

escolares.

Mesmo com certas mudanças comportamentais, a informática tem possibilitado na

maioria das vezes a utilização e a banalização de apresentações de slides, tanto em palestras sobre

educação, como em atividades escolares, sem que sejam buscadas formas efetivas de aliar

informação, conhecimento e aprendizagem. Não raras vezes o que vê-se é uma sucessão de boas

intenções e discursos com efeitos visuais, sem que a prática em sala de aula seja mudada

proporcional às inúmeras possibilidades que as mídias e um laboratório de informática podem

dispor. Pelo contrário, muitas vezes são espaços ociosos por falta de um “responsável” pelo

laboratório, quando deve-se pensar que cada professor é o responsável por este, quando levar a

sua turma para tal ambiente virtual. Evidentemente que o responsável pelo laboratório deve ser

mais na questão técnica do que pedagógica. Tampouco esse espaço diferenciado deve ser

pensado como um local para atividades lúdicas apenas; pois se assim o for, será apenas uma

biblioteca informatizada, no sentido de que os alunos são encaminhados para pesquisas para uns,

castigo para outros, sem o devido acompanhamento, algumas vezes tendo tal espaço um servidor

aguardando aposentadoria, que além de não ter formação bibliotecária nem sempre gosta de

livros, o que é o mais paradoxal de tudo numa escola. Sendo assim, tanto laboratório como

biblioteca passam a ser encarados como lan house 23 ou depósito de livros, respectivamente, nada

acrescentando ao fazer pedagógico nem ao processo de ensino-aprendizagem. As mídias também

se inserem nessa discussão, pois muitas vezes são usadas (TV, rádio, etc, como passatempo e não

como meios de promover o ensino e a aprendizagem, de forma não-convencional).

Para que se mude essa paradoxal lógica da rede lógica (o brincar acima do aprender,

motivando o aprender brincando), deve-se utilizar um referencial teórico compatível com um

trabalho integrado entre o educador, que possui a formação acadêmica e a experiência de vida,

aliado ao alunado, que domina os multimeios, fazendo uma intersecção entre o saber e o lúdico.

Nesse panorama, buscam-se propostas práticas conectadas ao suporte teórico que propõem tal

junção. Nesse caso,

A aprendizagem significativa envolve a aquisição de novos significados, e na concepção de Ausubel para que ela aconteça em relação a um determinado conteúdo são

23 Por lan house, entendemos lojas com computadores interligados em rede para que jovens disputem jogos simultaneamente, às vezes, por horas a fio.

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Page 42: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

necessárias três condições: o material instrucional com conteúdo estruturado de maneira lógica; a existência na estrutura cognitiva do aprendiz de conhecimento organizado e relacionável com o novo conteúdo; a vontade e disposição desse aprendiz de relacionar o novo conhecimento com aquele já existente (TAVARES, 2006, p.3).

As crianças praticamente se alfabetizam digitalmente diante do televisor, videogame e até

mesmo do computador, nas mídias em geral, antes mesmo de estarem em idade para ingresso no

sistema de ensino. Entrementes, boa parte do magistério ainda tem receio de incluir-se nesse

processo de uso das TICs e das mídias, ora por receio da máquina, ora por desconhecimento de

suas possibilidades pedagógicas de ambas.

Professores podem encorajar a aprendizagem significativa usando tarefas que irão engajar o estudante na busca de conexões entre o seu conhecimento prévio e o novo conhecimento, usando estratégias de avaliação que premiam a aprendizagem significativa. Não é possível ao estudante alcançar altos níveis de aprendizagem significativa até que uma estrutura de conhecimentos relevantes seja construída. Neste estágio a aprendizagem passa a ser um processo interativo ao longo do tempo até se atingir a proficiência na área deste conhecimento (NOVAK apud TAVARES, 2006, p.3).

Proficiência do aluno e também do professor, que necessita de uma outra didática para

encaminhar um projeto de aprendizagem. Há que se buscar uma nova forma de comunicação

professor-aluno, tanto numa sala regular como num laboratório informatizado.

Educar é um ato de se comunicar, e como tal deve ser pensado e atuado, seja com quadro

negro, giz o e apagador, seja com mouse, teclado, microcomputador. Da revolução da informática

à construção efetiva do conhecimento faz-se necessário incluir primeiro o professor e sua prática

escolar para depois integrar o aluno PNEE ou não, buscando a significação do processo como um

todo.

Como fazer isso? Pela mediação e motivação do aluno, seja em laboratório, sala de aula,

biblioteca, pátio ou entorno escolar. Afinal, como diz Tavares (2006, p.5):

Um aprendiz que tenha conhecimentos prévios sobre as características de mamíferos terrestres, usará esses atributos quando se deparar com novas informações sobre mamíferos aquáticos. E (...) Na medida que possibilita a percepção visual de variações temporais de grandezas físicas (abstratas ou não), as animações interativas conduzem a um nível de abstração da realidade que sem ela seria alcançada apenas por poucos aprendizes.

Durante o projeto de aprendizagem foi possível notar a assimilação de conceitos por parte

dos alunos, ainda que não de forma mais elaborada, mas dada a especificidade da turma, de uma

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Page 43: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

forma ampla, que no transcorrer de outras atividades com a professora parceria em seus

conteúdos programáticos, puderam ser abordadas de um modo mais gradual, como numa

construção em que a cada aula é colocado um tijolo sobre o outro, para dar sustentação a um

conhecimento, que vai aos poucos, gerando uma aprendizagem. Não é por acaso que o

construtivismo tem esse nome. Quando feita num laboratório de informática essa aprendizagem

recebe estímulos diversos da sala de aula tradicional, o que repercute no modo de ver, ouvir,

sentir o mundo de forma integrada.

No processo de aprendizagem deve haver múltiplas formas de aprender a aprender,

parafraseando Paulo Freire. Nesse contexto até mesmo a noção de aprendiz é relativizada, pois o

professor aprende com o aluno, e vice-versa.

Percebe-se também que aqueles alunos que mais são extrovertidos, são os mais

dispersivos nas atividades práticas, enquanto os mais introvertidos interagem através da máquina

de uma forma criativa, mostrando que perceberam o que fora dito e buscaram expressar ao seu

modo. O educador deve estar atento a esses procedimentos individuais do grupo, mediando

aqueles que necessitam de maior interação, e motivando aos que já têm certa independência e

iniciativa para ajudarem os demais.

Agindo assim, o professor poderá perceber a satisfação que o grupo tem em colaborar uns

com os outros, de forma solidária, sem competitividade exagerada. Nos dois blogs criados pelas

turmas 41 e 42, ambos interagiram através do ciberespaço, visitando e comentando uns no blog

dos outros, contribuindo tais atividades coletivamente para a troca de saberes, o que evidenciou-

se claramente quando nas saídas de campo, pelas associações feitas entre o que fora visto nos

outros ambientes, com o que estava sendo visto no local. Na ocasião, cursista e professora

parceira puderam explanar novamente in loco sobre aspectos históricos e culturais do Rio Grande

do Sul.

Atuar em ambientes diferenciados, e não somente na sala de aula ou no laboratório de

informática, promovem a associação do conhecimento formal com o prévio, que o aluno já

possui, promovendo a aprendizagem significativa. Nesse contexto, Tavares (2006, p.2)

compreende que: “(...) Programas governamentais do tipo ‘pacotes tecnológicos educacionais’

têm encontrado professores e gestores escolares despreparados para fazerem uso pleno de

sistemas de vídeo, transmissões via satélite ou laboratórios de informática”.

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Page 44: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Diante de tal dilema o que fazer? Para se atingir objetivos grandiosos, pode-se buscar a

simplicidade, tanto faz se usando as mídias como aliadas ou uma biblioteca escolar. O que

diferencia um projeto executável de um mirabolante é justamente a simplicidade, a objetividade,

o amparo teórico e o comprometimento dos agentes e sujeitos do processo educacional. Aliás,

sem esse último item, de nada adiantará toda uma parafernália tecnológica, pois, segundo Tavares

(2006, p.3): “(...) pelo Método Construtivista: a tecnologia funciona como catalisadora e suporte

para perguntas da sala, é aberta e desorganizada (messy), envolvendo debate, opiniões e

múltiplos materiais”; e nele os estudantes trabalham de forma colaborativa (e competitiva) em

times, ajudando uns aos outros a aprender e compartilhar dados na forma como profissionais o

fazem; e assim agindo, “o uso da tecnologia põe em xeque o modo dominante de instrução

norteado por textos lineares, tornando-o mais baseado em perguntas, colaboração e o uso variado

de recursos”.

Dentro de uma concepção inclusiva, o construtivismo apresenta-se como um referencial

teórico aliado à prática inclusiva pelas possibilidades de atuação na dupla complexidade de um

tema que envolve alunos regulares e PNEE’s incluídos, mais a tecnologia no ambiente escolar.

Para que o aluno dê sentido à prática escolar há a necessidade de que, tanto o educador

como a escola, estejam conectados a um projeto inclusivo, não apenas de PNEE’s nem

maquinário, mas também de alunos regulares, utilizando uma proposta motivadora para ambos,

sem beneficiar um grupo em prejuízo de outro. Inclusão não é assunção de um pelo outro, mas

intersecção de ambos. Como diz Dowbor (2006): “Educação não se resolve de dentro da

educação”. 24 Ou seja, o professor, por mais bem intencionado, é incapaz de resolver problemas

estruturais da escola que repercutem na sala de aula. Se a prática de uma escola é autoritária, o

professor libertário estará deslocado e isolado, como a personagem do filme Sociedade dos

Poetas Mortos, película ambientada nos anos 1950, nos EUA, mas ainda com muita similaridade

em certos ambientes escolares nacionais, que paradoxalmente mantém um discurso progressista

na fachada da escola. Há que se buscar a sintonia entre o discurso e a prática sempre.

Para Dowbor (2006):

falta em muitas escolas brasileiras o “Aurélio” - o popular dicionário. A Educação é luxo para um segmento da população; (...) não há inserção da massa de jovens no mercado, muitos deles partindo para a verdadeira tragédia nas áreas como segurança, saúde e

24 Palestra proferida por Ladislau Dowbor (PUC-SP), Seminário Internacional de Gestão Democrática da Educação e Pedagogias Participativas, promovido pelo MEC, Brasília, 2006.

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educação; (...) a Educação tem papel de informador, emancipador; (...) o analfabetismo é hoje medido pela capacidade de ler frases simples, e não o nível de conhecimento que a pessoa precisa ter para não se sentir excluído. 25

A exclusão digital, em um meio cada vez mais informatizado, é forma indireta de impedir

a cidadania e a integração social, que sem elas inviabiliza-se a luta consistente pela defesa,

manutenção ou ampliação de uma educação de qualidade a todos, independente de suas

especificidades. Como pensar tecnologia é pensar o futuro da sociedade, o grande paradoxo é não

envolver o professor antes de seu aluno no mundo digital.

Diante de tais dados, apresenta-se o blog como uma mídia, uma ferramenta ágil, de fácil

manuseio e nenhum custo, que possibilita que o educador que saiba pelo menos mandar uma

mensagem de correio eletrônico, possa ser o editor do próprio conteúdo educacional,

disponibilizando-o à sua turma, escola ou a toda comunidade escolar, via internet.

A proposta inicial de tornar um blog em um ambiente de EaD, na prática, evidenciou-se

não adequada para alunos de 4ª série, por causa da falta de maturidade e acesso de toda a turma

ao mundo virtual, mas, quem sabe, melhor utilizada, num sentido mais amplo, com alunos das

séries finais do ensino fundamental e, principalmente, com alunos de ensino médio, poderá

possibilitar uma interação maior, além do espaço físico da escola, contribuindo para uma

aprendizagem e ensino a distância.

Nas turmas em questão, optou-se por tanto cursista como professora apoiadora postarem o

conteúdo, solicitando dos alunos a interação através do espaço reservado aos comentários,

mesmo assim, fotos, vídeos, desenhos, textos dos alunos foram lá publicados, evidenciando sua

produção durante o período do projeto.

Vislumbrando as inúmeras possibilidades de uso na educação das mídias e , em especial,

o weblog, não apenas de forma restrita, como mero reprodutor de conteúdo de terceiros, mas de

forma mais ampla e universal, na produção de conteúdo próprio de professores e alunos das

séries finais do ensino fundamental e alunos do ensino médio, este cursista propôs o

desenvolvimento da referida pesquisa, que resultou posteriormente neste trabalho de conclusão

de curso, que investigou as possibilidades de um blog tornar-se um ambiente de aprendizagem

em rede, mostrando inclusive essas possibilidades mais amplas, através de imagens em anexo,

que permitem convidar outros professores e seus alunos, através de e-mail para co-autoria ou

apenas leitura do que é publicado neste ambiente virtual.25 Idem. DOWBOR, 2006.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Durante o PA, foram utilizados meios de mediação do conhecimento, em diferentes

ambientes: sala de aula, laboratório de informática, biblioteca escolar e saída de campo. Além de

diversas mídias, como câmera digital, celular com câmera, softwares educacionais, blog, internet,

msn, Orkut etc.

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Os alunos das turmas 41 e 42, da 4ª série do ensino fundamental construíram em

colaboração com o cursista e a professora parceria um blog para cada turma, escolhendo o título

para cada um e a imagem para ilustrar o banner dos mesmos.

A tecnologia, em geral, e as mídias, em especial, não podem ser pensadas como um meio

que veio para substituir os métodos tradicionais, pelo contrário, veio para unir-se a eles, como

uma opção a mais. Não é apenas a educação que deve se propor como inclusiva, a aprendizagem

também deve ser inclusiva. E para que se tenha um processo inclusivo, de fato e não apenas

impositivo por força de lei, não há necessidade que pensemos em turmas integradas apenas.

Diante dos resultados obtidos, através do PA, que abrangeu quatro ambientes distintos, pode-se

avaliar as possibilidades de que alunos integrados em sua turma e com outras, atuem em um

espaço inclusivo e colaborativo, em que blog pode ser tal ambiente de aprendizagem em rede,

dentro e fora da escola, a partir da produção, reprodução e divulgação do conteúdo tratado.

Diante dos fatos e fundamentos teóricos discorridos anteriormente, sobre a inclusão, tanto

de alunos e maquinário no ambiente escolar, cabe levar em conta o que propõe Pelizzari, Kriegl,

Baron, Finck & Dorocinski (2001-2002, p.40) a respeito da construção humana através da

aprendizagem significativa, em que dizem: “A reforma do ensino supõe também a reforma do

currículo e, por conseqüência, dos propósitos e condições para que a educação seja eficaz. Em

outras palavras, para que a mudança da funcionalidade do sistema educativo seja verdadeira, é

necessária uma profunda reforma de conteúdos e métodos”.

Um ponto pacífico na discussão sobre a melhoria da qualidade do ensino é justamente a

reformulação, ou melhor, a adequação destes conteúdos e métodos às necessidades educativas de

alunos regulares como PNEE’s, respeitando as especificidades de ambos, e buscando uma

integração sem prejuízo a nenhum dos pólos, seja aluno ou educador. E essa adequação deve

preceder a uma ampla discussão com todos os setores da comunidade escolar. Se a educação,

como Dowbor (2006) bem se refere, não pode ser resolvida de dentro da educação, então deve

buscar apoio na sociedade civil, conscientizando esta de que não basta depositar anseios, sonhos

e frustrações suas sobre os ombros dos mesmos agentes de uma realidade fossilizada.

Assim sendo, para Pelizzari et alii (2001-2002, p.40): “(...) A soma de sua competência

cognitiva e de seus conhecimentos prévios marcará o nível de desenvolvimento dos alunos”. A

junção da cultura popular, trazida de casa, com o conhecimento acadêmico do professor criará

um terceiro caminho hipertextual, não linear, onde será possível evidenciar uma aprendizagem

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significativa através da flexibilidade cognitiva em que este conhecimento tornar-se-á, de fato,

aprendizagem.

Em um processo educacional dessa natureza, o sujeito também se torna agente da

aprendizagem coletiva e compartilhada, entre seus colegas e com o professor, através de sua

visão de mundo. Compartilhar isso com a comunidade escolar, também é uma forma de

aprendizagem em rede, e de inclusão tecnológica, educativa e social.

Há que se aproximar alguns professores relutantes quanto ao uso das novas tecnologias e

suas possibilidades de interação no ambiente escolar contemporâneo, distanciando-os da ideia

ultrapassada de que aluno deve ser apenas receptor e não também produtor do próprio conteúdo,

mediado pelo educador. Para mudar esse panorama e dar um novo sentido à própria escola, o que

fazer? Nesse contexto, sugere-se que os alunos “realizem aprendizagens significativas por si

próprios”, o que é o mesmo que aprendam ao aprender. Assim, para Pelizzari et alii (2001-2002,

p.40) “garante-se a compreensão e a facilitação de novas aprendizagens ao ter-se um suporte

básico na estrutura cognitiva prévia construída pelo sujeito”. E, por fim, sugerem que “faz-se

necessário modificar os esquemas do sujeito, como resultado do aprender significativamente”.

Os alunos que nunca manipularam um micromputador nem acessaram à internet,

interagiram em conjunto, uns ajudando aos outros, às vezes dois, três por máquina.

Dessa forma, os ensinamentos de Ausubel parecem refletir o mesmo idealismo de Carl

Rogers, como visto quando da análise do referencial teórico dessa experiência educacional. Em

um mundo socialmente desprivilegiado, só é possível a reversão deste quadro caótico com a ação

e interação da própria sociedade civil organizada, dentro e fora da escola. A escola sozinha não

poderá mudar nada, pois a escola é apenas o reflexo da sociedade. Ela é o espelho onde o reflexo

não se reconhece, pois carece de profunda auto-avaliação de ambos: escola e sociedade. E se as

práticas não mudam, somente os discursos, teremos mais e mais belos livros escritos em um país

de poucos leitores. “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros

só mudam as pessoas". 26 Parafraseando-a: A escola não muda o mundo. As pessoas mudam o

mundo. A escola só muda as pessoas: as que desejam ser mudadas e as que desejam ser agentes

dessa transformação.

E, para que essa transformação ocorra, a tecnologia e as mídias poderão ser aliadas, mas

não a panacéia para todos os males sociais que contornam e invadem a escola pública e até

26 Frase atribuída ao político romano Caio Graco.

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mesmo as escolas privadas: drogas, violência, evasão, reprovação, desinteresse do aluno e outros.

Em face disso, há que se desmistificar o processo de inclusão da informática no ambiente escolar.

Afinal, a máquina, por si só, não resolverá problemas estruturais da educação e da prática escolar

conservadora, que se repetirá noutro veículo apenas.

O uso sistemático da informática e das mídias, se desplugada de uma prática com amparo

teórico - com ênfase do fator pedagógico acima do lúdico, que não pode ser descartado, mas

jamais privilegiado -, pode ser mais um “Cavalo de Tróia” do que um referenciador. 27 A máquina

não funciona por si só, mas, se desconectada de um projeto que busque significados e valorização

da própria prática educacional, pode levar à inteligência artificial, no sentido pejorativo; ou seja,

alunos que simulam aprender, quando mais estão interessados em jogar, namorar, conversar no

ciberespaço. Não que tais programas, se utilizados com critérios, não possam até ser motivadores

de práticas escolares.

Ao gestor público como ao escolar são delegadas atribuições, não apenas gerenciais da

coisa pública, mas também da melhoria das condições do serviço público prestado. Então,

segundo Gatti apud Cox (2003): “(...) é preciso que a diretores e professores seja dada a

oportunidade de conhecer, compreender e, portanto, escolher as formas de uso da Informática a

serviço do ensino (...)”. E, para que isso de fato aconteça, Cox (2003, p.34) lembra que “(...) é

preciso que o professor saiba avaliar esses programas a fim de poder selecioná-los para uso em

aula, adequando-os à sua programação e metodologia”. Desta forma, para que essa transição

ocorra de forma adequada, o professor deverá agir como o mediador deste processo, até pelo fato

de que o aluno, no quesito informática, geralmente, detém maior conhecimento que seu educador.

Quando o computador é utilizado conectado à rede lógica de informática, ocorrem dois

momentos distintos de aprendizagem: intranet e internet. No primeiro, há o compartilhamento de

experiência pelo grupo, através das máquinas do laboratório se comunicando entre si. No

segundo caso, há um leque maior de possibilidades, não apenas de aprender com as experiências

alheias, como divulgar as suas, através de diários virtuais (blog), páginas em ambientes virtuais

(wiki), como feito neste PA, ampliando os horizontes, além da sala de aula tradicional.

Como escrevera Clarice Lispector: “Mude, mas mude devagar. O importante não é a

velocidade, é saber a direção”. 28 Atualmente, a maioria das escolas e dos pais acreditam que a 27 Por sinal, Cavalo de Tróia é o nome de um dos vírus mais devastadores surgido no mundo virtual.28 Fragmento de texto da escritora Clarice Lispector. Disponível em: <http://www.mp.rn.gov.br/sicorde/mostraManchete.asp?idCont=211&cat=Not%C3%ADcias>. Acesso em: 14 set. 2007.

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informática será solução para a melhoria do ensino. Algumas recebem laboratórios de

informática, de órgãos governamentais, doações de instituições privadas ou organizações não-

governamentais, e é aí que começa o dilema e a pressa. Muitas, sem recursos financeiros para

adequação do espaço físico para receber tais maquinários, o que compreende piso, tubulação,

rede lógica e elétrica, ar condicionado, cortinas, acabam ficando com tais equipamentos

encaixotados, nem sempre em locais aconselháveis, acumulando umidade. Quando são sanadas

estas questões financeiras, surge o segundo dilema: quem será o responsável pelo laboratório?

Nem sempre há no quadro de professores alguém com qualificação. Educadores em final de

carreira sentem receio da tecnologia e recusam direta ou indiretamente a se apropriar deste

recurso em sua prática escolar. Receiam demonstrar ao alunado que desconhecem algo que para a

juventude já é corriqueiro e trivial, já que nascem dentro de um processo de informatização da

vida em geral: bancos, supermercados, lojas, equipamentos eletro-eletrônicos sofisticados são

incorporados ao cotidiano de uma geração que desconhece uma, hoje, prosaica máquina

datilográfica. Diante deste panorama, cabe dizer que a responsabilidade pela manutenção e

conservação do maquinário dentro de um laboratório de informática deveria ser delegada a um

grupo, mas que o uso destas máquinas devesse ser socializado e incentivado a todo o corpo

docente da instituição escolar. É o regente de classe que deve atuar com a sua turma, adaptando

seu conteúdo a um espaço informatizado, como suporte e não substituto do ensino regular. O

laboratório pode ser considerado como uma sala de recursos, que o professor e sua turma podem

usar em algumas atividades de maior complexidade ou flexibilidade, e se este mesmo educador

tiver criatividade, poderá fazer o mesmo trabalho noutro ambiente escolar, com a biblioteca, o

laboratório de ciências (se houver), a sala de vídeo ou outro local. Parafraseando Lispector, o que

importa é o conteúdo e a forma de ser apresentado, e não o local em que a prática deva ser

executada.

Falta neste processo inclusivo das TICs e mídias no ambiente escolar, um fator que

deveria ser integrador, o que Cox (2003) denomina apropriadamente de CUMPLICIDADE COM

O EDUCANDO.

Estamos habituados a ter no professor “a fonte” da informação, mas esse quadro, hoje, tende a se modificar enormemente, isso não significa que o professor perdeu o seu lugar, ao contrário, ele está deixando de ser o “detentor” do conhecimento para ser o mediador de um conhecimento culturalmente construído e compartilhado. É ele quem orienta as investigações dos alunos, incentiva o prazer pelo saber, observa e aproveita o modo como cada aluno constrói seu próprio conhecimento. O conhecimento não está mais

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centrado exclusivamente em sua figura, e pode ser acessado de diversas maneiras: através de revistas, jornais, livros, software, vídeo. Mas, sem dúvida, é o professor quem tem condições de criar situações de aprendizagem nas quais esse conhecimento assume forma e sentido. (FREIRE apud COX, 2003, p.114).

Ao pensar-se a escola inclusiva, do discurso à prática, deve-se incluir no debate todos seus

sujeitos e agentes, toda comunidade escolar, pois afinal, a escola é erguida em função do alunado

e este também deve participar do debate. Haja vista que, de todos os segmentos envolvidos em

uma comunidade escolar (equipe diretiva, conselhos escolar, círculo de pais e mestres, grêmio

estudantil, amigos da escola, corpo docente, funcionários, alunos e pais ou responsáveis), o

alunado é o que, em tese, menos experiência de vida e mais assessoramento necessita, e sobre o

qual, também em tese, é construído um espaço físico de ensino e aprendizagem. Mas, na prática

usual, algumas vezes e em algumas escolas, percebe-se que o trabalho é centrado na visão do

professor e não do alunado; daí decorrente o paradoxo e o choque de gerações, de visões de

mundo diversas.

Todavia, se o corpo docente, através de avaliação e auto-avaliação, discutir

permanentemente com a equipe diretiva e demais segmentos escolares o que melhor se adapta à

realidade daquela comunidade, provavelmente angariem colaboradores, dentro e fora da escola.

O que afasta a participação popular não é a tomada de decisões e, sim, decisões não colocadas em

prática ou praticadas de forma diversa do que decidido em reunião. Então, se isso for feito, a

médio e longo prazo, como diz Cox (2003, p.115):

De veículo transmissor de informações, o professor passará também a fomentador de iniciativas e propiciador de situações, desafios e questionamentos que possibilitem a formação de sujeitos históricos e capazes, através de práticas educacionais escolares.

Mas, para que isso ocorra a contendo, como preconiza Cox (2003), é necessário que a

escola como um todo proporcione ao alunado a CAPACIDADE DE SOCIALIZAR “SABERES”

E “FAZERES”, incluindo no processo inclusivo, como aquele que detém a teoria e delega e se

integra a prática. Evidentemente que é um processo longo, complexo, que necessita

aprimoramento e avaliação constante. Embora pareça horizonte distante, é possível atingi-lo, com

a divisão de responsabilidades a todos, e não a acumulação destas em poucos.

Conforme Perriault apud Belloni (2005, p.6): “É urgente atualizar a tecnologia

educacional porque uma nova ‘autodidaxia’ importante está se desenvolvendo há vários anos nos

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jovens por meio das mídias”. Como já dito antes, o jovem se incorpora e é incorporado ao mundo

digital de uma forma veloz, por já nascer dentro de um processo de informatização alucinante. O

educador que não se atualiza, e que repete-se constantemente numa prática ultrapassada, jamais

se integrará num processo de inclusão em sentido amplo, use ou não as mídias em sua prática

escolar. Poderá estar de corpo presente, mas não acrescentará muito ao processo de forma

qualitativa, apenas quantitativa. O educador recusa-se a ter a mesma ‘autodidaxia’, pois tem

receio de, ao apertar uma tecla, estragar a máquina, coisa que a criança não se importa, mexe e

descobre por sua própria conta e risco – sem que seja preciso “pedir ajuda às placas” ou “aos

universitários”, parafraseando o jargão de um popular jogo televisivo, no estilo pergunta e

respostas, que por sinal, se propunha a distribuir microcomputadores e outros prêmios aos

participantes.

O processo educativo e, dentro deste, o inclusivo, ao utilizar-se da informática educativa,

não deve ser comparado a (ou pensado como) um jogo de fases, em que podem ser ultrapassadas

sem maiores estudos, desde que se tenha a senha (password), com base em experiências bem

sucedidas em outros estabelecimentos de ensino. A realidade de uma escola de periferia é

totalmente diversa de uma do centro de uma cidade, assim como a visão de mundo de uma escola

urbana difere da rural, a escola pública da instituição privada, pois são microcosmos diversos.

Mesmo assim, os multimeios em geral, e o microcomputador e o software educacional,

em particular, se incorporados ao cotidiano escolar e utilizados com o sentido pedagógico, de

passar conteúdos e competências, através do lúdico e do significante, podem sim, se bem

trabalhados pelo professor, serem aquele apoio para dirimir a complexidade de certos conteúdos

curriculares, sejam nas disciplinas de física, química, biologia e matemática, sejam nas de

história, geografia e português. Diversos jogos educacionais estimulam o raciocínio lógico, a

lateralidade, a proporcionalidade e a coordenação motora de alunos, tanto PNEE’s, como alunos

regulares. Os maiores equívocos e resistências surgem do próprio professor, leigo em

informática, que acredita precisar tornar-se um técnico ou um programador para poder se valer

dos multimeios - e a informática, em especial - como ferramentas pedagógicas.

O aluno pode e deve ser encarado como o aliado nesse desafio, que sempre precisará da

mediação do professor. Mas sem que o educador volte a ser aluno, no que tange à informática,

estudando, se atualizando, e, acima de tudo, trocando experiências com colegas com maior

experiência, tudo será mais complexo do que parece.

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Por outro lado, se o educador, que deverá ser também um aprendiz digital, não interagir

com o alunado - que domina a tecnologia, mas que não é gênio - nem flexibilizar sua postura

centralizadora, propondo-se a mediador do conhecimento, que o aluno, por mais expert que seja

no mundo digital, dependerá de quem o ensine a aprender o que fazer com tanta informação,

transformando-a em conhecimento; sem essa integração não será possível estimular a

aprendizagem colaborativa, a aprendizagem em rede, usando espaços tradicionais e diferenciados

de atuação, como o blog pode ser um desses, se usado dentro de uma proposta de aprendizagem

significativa para ambos os pólos educacionais: o professor e o aluno, aprendendo a aprender, a

interagir de forma presencial e a distância.

8. REFERÊNCIAS:

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Page 57: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

APÊNDICES E ANEXOS:

LISTA DE ALGUNS BLOGS EDUCACIONAIS

http://www.anabeatrizgomes.pro.br

http://www.abckids.com.br/

http://baudeideiasdaivanise.blogspot.com

http://blogosferamarli.blogspot.com

http://blogstoriaessenciais.blogspot.com

http://caminhosparachegar.blogspot.com

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Page 58: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

http://educa-tube.blogspot.com

http://educopedia2010.blogspot.com/

http://flaviasampaiosilva.blogspot.com/

http://guterres.su.pro.br

http://jarbas.wordpress.com/

http://www.historiadigital.org

http://nteitaperuna.blogspot.com

http://sobreeducacao.blogspot.com

RELATO DA PROFA. PARCERIA SOBRE O PROJETO DE APRENDIZAGEM:

No ano letivo de 2009 trabalhei com duas turmas de 4° série, ambas com inclusão de

alunos com necessidades educativas especiais, sendo um cego e outro com paralisia cerebral, este

com grande dificuldade motora e na fala.

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Page 59: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Mesmo os alunos estando em turnos diferentes, mas sendo eu a professora regente das

duas turmas fiz um trabalho semelhante visando a integração de todos os educandos nas diversas

atividades propostas ao longo do ano.

O aluno com paralisia cerebral usava um computador na sala de aula, que foi enviado pelo

MEC, com a finalidade de auxiliá-lo a manter uma integração nas atividades escolares; o aluno

cego usava a máquina Braille, o sorobã e necessitava que um colega ditasse o conteúdo do quadro

para ele.

Os colegas entendiam que precisavam colaborar e, espontaneamente, estabeleceram um

rodízio onde, a cada dia, um ditava as tarefas, ou auxiliava o outro colega a se locomover na

cadeira de rodas e a usar o computador.

A presença diária tanto do computador como da máquina Braille despertou o interesse dos

outros alunos para usar outros recursos disponíveis. Então, com o surgimento desta necessidade e

com o convite do Professor José Roig, montamos um projeto onde os conteúdos pertinentes a

série em questão seriam aliados ao uso das tecnologias como o laboratório de informática, onde

cada turma criou um blog, utilizaram máquinas fotográficas digitais para o registro das visitas e

atividades realizadas, assistiram a documentários na sala de vídeo da escola. O tema do projeto

foi a cultura gaúcha e, dentro deste assunto, proporcionamos aos alunos visitas orientadas a locais

como: Biblioteca Rio-grandense, Museu do Exército, Charqueada São João (Pelotas), Museu da

Baronesa (Pelotas), Jornal Agora, Festa do Mar. Todos estes lugares foram visitados junto com os

alunos incluídos; depois das visitas as turmas faziam relatórios das suas impressões, desenhos,

selecionavam as fotografias para, junto com o professor José e eu, atualizarmos os blogs.

Abordar os aspectos da cultura gaúcha, da história e da política do nosso Estado através

do projeto foi uma forma de motivar os alunos, e trouxe resultados que surpreenderam a todos.

Os alunos passaram a ter mais cuidado com a escrita, percebendo erros ortográficos que antes não

eram notados, tinham interesse em escrever, pois a cada saída de campo precisavam fazer um

relatório contando sobre suas impressões e aprendizagens. Houve integração entre as turmas, já

que os passeios e outras atividades como a linha do tempo foram feitos em conjunto. Os pais

também participaram, postaram comentários no blog, faziam questão que os filhos fossem aos

passeios, perceberam que não era “apenas passeio de escola”, mas momentos de muita cultura e

aprendizagem.

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Page 60: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Nossos encontros não ficavam restritos aos muros da escola, mesmo quando estavam em

casa os diálogos continuavam através de sites de relacionamento, como MSN e ORKUT.

Valorizamos não só a tecnologia digital, fizemos questão que tivessem acesso aos livros, na

biblioteca pública, na biblioteca da escola, com livros diversos na sala de aula e em visita ao

Jornal Agora, onde conversaram com os jornalistas, viram o processo de impressão e deram

entrevista, o que os encheu de orgulho!

O principal deste trabalho foi respeitar o aluno e valorizar o que eles nos traziam. Cada

fotografia tirada, cada desenho, cada palavra escrita foi valorizada e respeitada. Geralmente eu

apresentava o conteúdo em aula, o que ajudava nas visitas, por que eles conseguiam relacionar o

conteúdo com os objetos concretos e faziam perguntas aos guias demonstrando que realmente

estavam se apropriando do conhecimento. Talvez por isso, o material apresentado por eles fosse

tão rico de detalhes, eles já tinham um conhecimento prévio sobre os lugares visitados e sua

importância.

Momento de grande euforia e satisfação de todos os alunos era quando viam o contador

de visitas do blog e constatava visitantes de outros países, o que deu a eles a percepção do grande

alcance da internet e do trabalho feito por eles.

Este foi um projeto iniciado pela necessidade real dos alunos portadores de necessidades

educativas especiais e da curiosidade e vontade de aprender de todos os envolvidos inclusive dos

educadores citados. Não é um projeto finalizado, os blogs continuam ativos e serão atualizados

pela turma deste ano, que também tem alunos incluídos.

Profª. SIMONE EINSFELD ZOGBI

4ª. série do ensino fundamental

EEEF Barão de Cêrro Largo

IMAGENS DO USO DE BLOGS NA EDUCAÇÃO COMO AMBIENTE DE

APRENDIZAGEM EM REDE:

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Page 61: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Imagem 1: Blog Chimarrão no Barão, da turma 42, da 4ª série da EEEF Barão de Cêrro Largo,

Rio Grande – RS. Endereço eletrônico do blog, abaixo:

http://chimarraonobarao.blogspot.com

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Page 62: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Imagem 2: Blog Do Barão Para o Mundo, da turma 41, da 4ª série da EEEF Barão de Cêrro

Largo, Rio Grande – RS. Endereço eletrônico do blog, abaixo:

http://dobaraoparaomundo.blogspot.com

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Page 63: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Imagem 3: Área interna do blog, guia Configurações (com a elipse em vermelho), do Menu, onde

é possível escolher as funções de leitura e de co-autoria para os participantes do ambiente virtual.

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Page 64: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Imagem 4: Dentro da guia Configurações, do menu do blog, através da opção Permissões

(circulada em vermelho), é possível escolher as opções de leitura e co-autoria dos participantes

e/ou visitantes de um blog.

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Page 65: Blog como ambiente de aprendizagem em rede ~ josé antonio klaes roig

Imagem 5: Por fim, já com a opção Permissões aberta, é possível adicionar autores (nº 1), abrindo

caixa de texto para escrever os endereços de e-mail dos co-autores (que podem ser professores e

seus alunos). Na opção mais abaixo, quanto a Leitura do blog, é possível deixá-lo aberto a

qualquer um, ou fazer como na imagem (nº 2), somente permitindo pessoas que o administrador

(criador) do blog escolher; ou, como na imagem nº 3, somente os autores do blog podem também

ler, o que restringi o acesso de terceiros, e o torna um espaço de interação fechado, simulando um

ambiente de EaD.

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