BLOG EM SALA DE AULA - Operação de migração para o ... · que o ensino de Língua Portuguesa...

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BLOG EM SALA DE AULA

Bernadete Terezinha Dolinski Heimoviski1

Liliam Maria Bresciani Heinen²

Resumo

As reflexões presentes neste artigo foram desenvolvidas a partir da aplicação de práticas de leitura e produção de Blog, mediante reflexão discursiva, para que se fundamentasse a inclusão no gênero e suas especificidades. Para tanto, foram estudados além das DCEBs de Língua Portuguesa do Estado do Paraná, toda a fundamentação teórica enfocada no trabalho pedagógico com gêneros, seguindo a corrente bakhtiniana e aprofundando o gênero midiático: Blog. A partir desses estudos foram planejadas estratégias de ação utilizando uma unidade baseada na sequência didática de Schnewly & Dolz com atividades estratégicas e orientações acerca do gênero eleito: o BLOG. Tendo em vista que o ensino de Língua Portuguesa deve ser pautado nas práticas da oralidade,leitura e escrita, essas devem estar interligadas entre si por meio do discurso e vistas como práticas sociais. Hoje, o ensino deve basear-se na infinidade de gêneros discursivos que circulam em diferentes esferas sociais. assim, os gêneros devem ser analisados, conhecidos e produzidos para a efetivação do conhecimento. Dentre os diversos gêneros estão aqueles produzidos por meio do uso da informática. Se no passado a escrita influenciava mudanças no processo comunicativo, hoje, essas tecnologias propiciam avanços nos discursos produzidos na esfera midiática. Dentre esses, destaca-se o gênero Blog, que com suas características próprias e que ainda propicia uma relação inter gêneros o que nos leva a práticas constantes de leitura e produção textual. Assim, a metodologia apresentada buscou desenvolver essas práticas e por meio das atividades realizadas que o aluno reconhecesse as características do gênero principal o Blog, bem como a esfera social a que o gênero pertence, adquirisse capacidade de linguagem relacionada ao processo de criação e interpretação desse gênero e sua relação com outros gêneros. Desse modo, é importante relatar os avanços dessas práticas, tendo em vista a constante busca do aprimoramento da leitura e escrita enquanto elementos vitais, para que haja uma ligação entre o discurso construído nas esferas de circulação do aluno com os discursos novos que lhe foram apresentados.

Palavras-chave: Blog, leitura, escrita.

1 INTRODUÇÃO

1 Professora formada em Letras, Especialista em Língua Portuguesa e Literatura pela FAFIUV, professora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e professora do Colégio Estadual Neusa Domit.² Professora Pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Língua Materna pela Universidade Estadual de Maringá –UEM. Professora de Língua Portuguesa e Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória –PR –FAFIUV.

Ao tratar este tema toma-se por base minha experiência como

professora. A prática de oralidade, leitura e escrita sempre fez parte das

atividades cotidianas em sala de aula. Considerando assim as mudanças em

todos os segmentos nas últimas décadas, observamos que a cada dia surgem

novas criações que certamente influenciarão nossa vida de alguma forma, pois

sabemos que somos frutos do meio em que vivemos. Também na área

educacional mudanças ocorreram. E hoje, o nosso sujeito da educação é

resultado do momento histórico em que vive e possui características próprias e

diferenciadas. Neste caso, devemos respeitá-lo pelas suas diferenças, sejam

econômicas, físicas, intelectuais, entre outras. Segundo as DCEBs- DIRETRIZES

CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA (2008, p.15) do Estado do Paraná:

devemos dar incentivos a novas metodologias, a diferentes concepções de

ensino que permitam “promover a aprendizagem dos conhecimentos que cabe à

escola ensinar, para todos.”(grifo meu)

No ensino da Língua Portuguesa é nossa função propiciar que nosso

aluno seja inserido na sociedade também por meio do conhecimento adquirido.

Enquanto professores da língua materna, devemos desenvolver as práticas da

oralidade, leitura e escrita, e que estas devem estar interligadas entre si através

do discurso e vistas como práticas sociais. Devemos estar atentos as suas

adequações em conformidade com o gênero a ser trabalhado. Se antes o ensino

da língua mãe baseava-se no ensino da tipologia textual, hoje nos deparamos

com outra realidade: uma infinidade de gêneros discursivos variados que

circulam em diferentes esferas sociais, exigindo dos apreendentes a sua

aquisição para que possam utilizá-los como instrumento, a fim de fazer uso

desse conhecimento na sua prática social. Assim, devem ser analisados,

conhecidos e produzidos para a efetivação do conhecimento.

Dentre os diversos gêneros estão os produzidos na esfera de circulação

midiática. Se no passado a escrita influenciava mudanças no processo

comunicativo, hoje, essas tecnologias também propiciam avanços dentre os

discursos produzidos nessa esfera de circulação. Visando desenvolver através

do letramento digital, consciência com relação ao seu uso, adequação linguística

e tendo o computador como ferramenta significativa para a prática da leitura e

escrita, foi dada atenção especial ao Blog. Um gênero que vem ganhando

crescente popularidade devido a sua facilidade de publicação e também o fato de

que nem todos os alunos possuem proficiência necessária para o seu uso ou

compreensão.

Este artigo relata o processo de aplicação de um conjunto de atividades

de leitura e produção de blog com alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio

Estadual Neusa Domit – Ensino Fundamental e Médio, de União da Vitória,

Estado do Paraná. O trabalho relatado consiste na implementação de atividades

elencadas na unidade didática “Blog em sala de aula”. Tais atividades foram

desenvolvidas com vistas a oportunizar um trabalho de oralidade, leitura e

produção textual em que o aluno converta o conhecimento linguístico inerente

em reflexões para a construção do seu aprimoramento, bem como, que tais

práticas sejam relevantes para que assumam posturas críticas, através de

atividades geradas e sustentadas em seu próprio contexto de aplicação.

Pois, segundo Marcuschi (2005 apud KARWOSKI, GAYDECZKA E

BRITO, 2005, p.19) “quando ensinamos a operar com um gênero, ensinamos um

modo de atuação sócio-discursiva numa cultura e não um simples modo de

produção textual.” Portanto, esse trabalho direcionou-se no sentido de que os

alunos possam utilizá-lo de um modo eficiente.

As DCES (2008) são claras quanto à necessidade da prática de leitura e

escrita baseadas nos gêneros textuais. E um dos grandes desafios da Educação

Básica é reverter o quadro de dificuldade e desinteresse de alguns alunos frente

a gêneros diversos. Constam ainda nas DCEs de Língua Portuguesa um elenco

de gêneros discursivos de diferentes esferas sociais que devem ser trabalhados

em sala de aula, dentre estes estão inclusos os gêneros midiáticos.

É sabido que os midiáticos ocupam a cada dia, um espaço social maior,

porém aparenta ter-se certo receio quanto ao seu uso em sala de aula, muitas

vezes por considerarem estes gêneros um risco frente ao processo educacional

e ao uso da língua formal. E assim, os alunos não podem nem ter contato com o

gênero, nem aprimorar o que já sabem. As DCEBs do Estado do Paraná

apresentam que esses gêneros sejam trabalhados observando que “O

aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior

propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade,

o caráter dinâmico dos gêneros discursivos”. PARANÁ (2008, p.53).

Para dar prosseguimento deparamo-nos com o problema: Como realizar

as práticas de oralidade, leitura e escrita envolvendo o gênero Blog? Tendo em vista

que os gêneros midiáticos têm ocupado cada vez mais um grande espaço na vida

de todos: como incorporá-los ao processo educacional de forma que as práticas

sejam realizadas e que haja o real aprimoramento da competência linguística? Com

o problema delineado após muita reflexão, chegou-se ao objetivo: aplicar por meio

de oficinas de leitura e produção textual além do gênero Blog, outros gêneros que

normalmente realizam uma interrelação com o mesmo.

Desse modo, visando desenvolver por meio do letramento digital,

consciência com relação ao seu uso, adequação linguística e tendo o

computador como ferramenta significativa, foram realizadas atividades em que foi

dada a atenção maior ao gênero Blog. Tais atividades seriam aplicadas com a

finalidade de promover atividades de leitura e escrita para que o aluno adquira o

conhecimento e aplique essa aquisição em sua vida social. Para tanto foi

produzida uma unidade com atividades estratégicas e orientações acerca do

gênero eleito, oportunizando o entrecruzamento de gêneros. Vindo ao encontro

do proposto pela DCEBS- Língua Portuguesa (2008) que afirma ser necessário

desenvolver práticas de leitura e escrita interligadas através do discurso partindo

de um gênero textual, bem como garantir ao aluno o saber linguístico para que

seja capaz de exercer a cidadania. Afirma Honório em seu artigo ‘Ensino de

língua(s) e identidade entre o real e o imaginário’ ( 2009 apud CORREA, SALEH,

2009. p.92): “É necessário que a língua a ser considerada no ensino seja a

língua concreta, aquela que faz sentido para o sujeito em suas práticas sociais.”

Levando, assim, o aluno a reconhecer as características do gênero, suas

aplicações e também levá-lo a refletir seu discurso intrínseco. Tudo isso, a partir

de atividades direcionadas buscando desenvolver a leitura crítica, que os alunos

reconheçam a intertextualidade existente nos enunciados bem como as relações

de poder existentes nos textos, tornando-os aptos a realizar suas próprias

produções com clareza e adequação. Segundo Roman (2009) encontrado em

Correa e Saleh ( 2009, p.42-43)

As novas tecnologias ampliaram consideravelmente o acesso a informações. A dificuldade não é tanto a falta , mas o excesso de informações.(...) Nós somos hoje incapazes de distinguir, pelo menos à primeira vista, entre uma fonte fidedigna e uma mentirosa. Nós precisamos de uma forma nova de competência crítica, uma arte desconhecida de seleção e decodificação da informação. Em resumo, uma sabedoria nova. Nós precisamos de um tipo novo de treinamento educacional.

Ao reconhecer as necessidades do sujeito no mundo, buscamos uma ação

pedagógica comprometida com a evolução do aluno, integrando as mídias com o

ensino tradicional. Em situações autênticas deve-se levar ao reconhecimento dos

diversos contextos de comunicação, provocando situações reais que oportunizem o

ato concreto de ler e escrever, sendo ofertado ao educando instrumentos para que

evolua nesse processo.

2 EMBASAMENTO TEÓRICO:

2.1GÊNEROS TEXTUAIS

Ao revisar a história da linguística observa-se que a língua, no princípio, era

estudada apenas a partir de sua estrutura. Na evolução dos estudos linguísticos,

segundo Marcuschi (2008), vê-se que para Saussure sua unidade de análise vai até

o item lexical ou sintagma e Chomsky analisa até a frase. No entanto, considera-se

que apesar de não terem como objeto específico de seus estudos a língua pelo seu

lado social e histórico, eles não lhe negam essa faceta.

Aos funcionalistas, nesse processo histórico, deve-se a noção de contexto

da situação. Já a gramática sistêmico funcional relaciona o contexto social e forma

linguística com base nas funções da linguagem. Enquanto o Relativismo Linguístico

demonstra a relação entre a linguagem e o pensamento na perspectiva das relações

sociais.

A partir dos anos 50 e 60 surge uma visão sócio cognitiva da língua onde

despontam algumas tendências interdisciplinares:

• Linguística de texto

• Análise do discurso

• Análise da conversação

• Sociolinguística

• Psico-linguística

• Etnografia-da-comunicação

• Etno-metodologia

Esses estudos geraram o questionamento se a perspectiva de análise

formal da língua daria conta ou não da aprendizagem da língua, já que apesar

de ser um sistema simbólico o seu uso caracteriza-se muito mais pelo seu

entendimento do que pela explicação de como a está utilizando. Com isso,

chega-se ao século XX tendo a linguística como uma ciência com muitas

facetas.

Ao analisar o aspecto sociointerativista da língua, observa-se que as

formas só fazem sentido quando situadas em contextos sociais relevantes,

pois a língua se manifesta no cotidiano em textos triviais, em eventos

discursivos. Sendo a língua um reflexo do contexto social, todo texto, por

estar impregnado de discurso não é um ato isolado. Assim, não se pode

separar o texto de seu contexto discursivo. Fazendo-se valer de Gêneros, que

segundo Coutinho (2004 apud MARCUSCHI, 2008, p. 84) : “ são modelos

correspondentes a formas sociais reconhecíveis nas situações de

comunicação em que ocorrem. Sua estabilidade é relativa ao momento

histórico-social em que surge e circula.”.

Não é atual o estudo dos gêneros, o que hoje se tem é uma nova visão

sobre o tema. O estudo dos gêneros textuais iniciou-se por meio da

observação sistemática de Platão. Aristóteles, em Marcuschi (2008), teoriza

mais profundamente sobre os gêneros dizendo que há três elementos

compondo o discurso:

• Aquele que fala;

• Aquilo sobre o que se fala;

• Aquele a quem se fala.

Nesse discurso, segundo Aristóteles, operam três tipos de ouvintes:

• Aquele que vê o presente: o espectador;

• Aquele que faz julgamentos a partir do passado: o juiz;

• Aquele que vê o futuro: a assembléia;

Cita, baseado nesses ouvintes, três gêneros do discurso teórico:

• O deliberativo

• O judiciário

• O epidítico

A princípio o gênero era ligado à literatura, hoje é visto, como cita Swales

( 1990 apud MARCUSCHI, 2008, p. 147) : “ uma categoria distinta do

discurso, seja oral ou escrito, sem estar necessariamente ligado à literatura.”

Atualmente o estudo dos gêneros envolve a análise do discurso, descrição da

língua, visão da sociedade que o utiliza, tendo constante relação com o

cotidiano.

No Brasil, segundo Marcuschi (2008) temos as seguintes perspectivas

para os estudos dos gêneros:

1. linha Bakhtiniana: sob a perspectiva vygotskyana socioconstrutiva da

Escola de Genebra com base nos estudos de Schnewly/Dolz e com o

interacionismo sócio-discursivo de Bronckart.

2. “swalesiana”: linha de pesquisa norte americana mais formal e

influenciada por John Swales nos anos 90.

3. sistêmico-funcional: escola australiana , sustentada pela teoria de

Halliday baseada na análise linguística dos gêneros.

4. perspectiva mais geral: influenciada por Bakhtin e Adam.

Numa perspectiva Bakhtiniana a comunicação verbal só é possível pelo uso

de algum gênero textual. Assim define Bakhtin (2010, p. 261):

O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas acima de tudo por sua construção composicional.

Confirmando Bronckart (1999 apud MARCUSCHI, 2008, p.154) : “ a

apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção

prática nas atividades comunicativas humanas.”.

Segundo Marcuschi (2008), na prática escolar, deve-se observar a diferença

entre tipo textual e gênero textual:

• Tipo Textual: designa uma espécie de sistema de conexões, sendo

multimodal e interativo, composto por elementos multifuncionais. Em geral, os

tipos textuais são classificados em: narração, argumentação, exposição,

descrição e injunção. Sendo desta forma, modos textuais que estão presentes

nos gêneros.

• Gênero textual: é um texto relacionado com determinada situação

comunicativa. Possui padrões comunicativos definidos. Sendo entidades

empíricas, escritas ou orais, bastante estáveis em sua forma e histórico e

socialmente estáveis. Gêneros são entidades comunicativas, sendo

dinâmicos, históricos, sociais, comunicativos situados a determinadas ações

sociais e históricas, com determinada função, ligados a comunidades

discursivas. Sendo recorrentes, fixos em formatos mais ou menos padrões na

sociedade.

O gênero textual está atrelado ao domínio discursivo. Citando Marcuschi (2008,

p.194): “ esfera da vida social ou institucional na qual se dão práticas que organizam

forma de comunicação e respectivas estratégias de compreensão.” Essa é uma

prática discursiva onde no seu contexto podemos reconhecer gêneros textuais em

relação ao seu uso.

Levando as considerações de vários autores sobre a definição de Gênero

Textual, Bonini ( 2004 apud CRISTOVÃO e NASCIMENTO, 2004, p.13) reflete:

Gênero, penso, pode ser visto como um conteúdo representacional dinâmico que corresponde a uma forma característica de um texto, entendido como enunciado pleno ( texto-simples que um enunciado/locutor único ou texto-complexo com um enunciador/locutor principal) e como enunciado recorte (conjunto de textos de enunciadores/locutores individuais, integrados na forma de texto-ritual), se caracterizando pelas marcas estruturais texto-linguísticas, de suporte, de circunstancias enunciativas, funcionais em relação ao meio social (conteúdo, propósitos,etc.), funcionais em relação o hipergênero ( de abertura, de feedback, de encerramento,etc.).

Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa do

Estado do Paraná (2008) tem sido recorrente por diversos educadores e

especialistas o tema de reflexões sobre as práticas de ensino e aprendizagem.

Propõem uma reorientação para que as práticas de linguagem permitam ao aluno ter

o aprimoramento necessário, a fim de interagir nas mais diversas instâncias sociais,

ocupando dessa forma o seu lugar na sociedade.

Nas escolas do Brasil, depara-se com uma diversidade de situações que, por

muitas vezes, afligem os pensamentos dos profissionais da área. Assim é apontado

que:

Mesmo vivendo numa época denominada “era da informação”, a qual possibilita acesso rápido à leitura de uma gama imensurável de informações, convivemos com um índice crescente de analfabetismo funcional, e os resultados das avaliações educacionais revelam baixo desempenho do aluno em relação à compreensão dos textos que lê. (DCEBs-LP,2008,p.48)

É nesse sentido que as DCBE-LP buscam focar o ensino da língua materna

numa concepção de linguagem que privilegie o aprimoramento da língua para o

sujeito que dela faz uso, buscando uma concepção aberta a todo o processo em que

está inserido, considerando os aspectos sociais e históricos, bem como as diversas

vozes sociais com as quais nos deparamos a todo instante. Percebe-se, aqui, a

importância do estudo dos gêneros textuais.

A referência a gêneros remete diretamente a textos, sejam orais ou escritos,

efetivados em eventos comunicativos, não sendo sedimentados numa estrutura

rígida, mas com reflexo da esfera social a que pertencem. Aponta Marcuschi (2005

apud KARWOSKI, GAYDECZKA e BRITO, 2005, p.18): “Pois, assim como a língua

varia, também os gêneros variam, adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se.”.

Ao direcionar o ensino por meio de gêneros, deve-se observar o caráter

dinâmico, social, interativo de cada um. Pois, quando se ensina determinado gênero

espera-se que o apreendente reconheça não só um modelo de produção textual,

mas que também seja capaz de interagir num determinado contexto, respeitando o

grau de formalidade e natureza de cada um.

Marcuschi (2008) define que não existe gênero ideal para o ensino da língua.

Para definir o gênero como instrumento deve-se observar três dimensões

essenciais: os conteúdos de cada gênero, a estrutura comunicativa particular de

cada gênero e as configurações específicas de unidades linguísticas de cada

estrutura. Dessa maneira, os gêneros se tornam um ponto de referência concreto

para os alunos. “Os gêneros formais públicos, no entanto, têm formas precodificadas

e rígidas que não se determinam na situação concreta. Precisam de estímulo e

aprendizagem especial (...)”(2008, p.213).

Esta direção do ensino mostra uma fértil área para as mais variadas

atividades culturais e sociais em que o aluno possa estar inserido. Estará, nesse

caso, envolto pela linguagem, não considerando o ensino da língua como algo vazio,

mas sim pautado em algo real e com determinado fim. O professor norteará o ensino

de modo que o aluno desenvolva sua autonomia frente aos mais diversos gêneros

praticados nas atividades de leitura e produção textual. É nesse sentido que Lopes-

Rossi (2005 apud KARWOSKI, GAYDECZKA e BRITO 2005, p. 80-81) reflete:

“Cabe ao professor, portanto, criar condições para que os alunos possam apropriar-

se de características discursivas e lingüísticas de gêneros diversos, em situações de

comunicação real.”.

Tendo o discurso como prática social, é importante ressaltar que o trabalho

didático-pedagógico norteador deve ser a prática dos gêneros discursivos, onde o

professor é capaz de reconhecer as fragilidades de seus alunos e remetê-los a uma

nova oportunidade de aprendizado. Promoverá, dessa forma, o amadurecimento do

domínio discursivo.

Dentro dessa visão, observa-se a prática da leitura e escrita em conjunto, uma

colaborando com a outra através de uma sequência didática. Sequência esta

baseada nas idéias de Dolz , Schneuly e Noverraz conforme os autores citados

definem em (2004 apud MARCUSCHI, 2008, p.213) : “ um conjunto de atividades

escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral

ou escrito.” Partindo-se da leitura para o reconhecimento do gênero, intenção,

aspectos formais, entre outros, seguida da escrita como produção, como resultado

de sua intenção linguística, proporcionando ao educando , assim, um processo para

que ele conheça todas as características de um gênero.

Através da leitura, o aluno familiariza-se com diversos textos sejam verbais ou

não-verbais, sendo o professor mediador nesse processo. Esse mediador deve

propiciar ao seu sujeito oportunidades de reflexão perante as diversas vozes que

cada gênero possui.

Conforme cita Lopes Rossi (2005 in KARWOSKI, GAYDECZKA e BRITO,

2005, p.82) “ um projeto pedagógico para produção escrita deve sempre ser iniciado

por um módulo didático de leitura para que os alunos se apropriem das

características típicas do gênero a ser produzido.” Este módulo de leitura deve levar

o aluno a reflexão, discussão sobre as condições de produção e de domínio

discursivo do gênero escolhido, partindo de vários exemplos.

E é no exercício da escrita que o aluno favorece sua forma de agir no mundo,

sendo capaz de expressar suas ideias com segurança e fluência. Conforme Lopes-

Rossi (ibidem), quando os alunos estão motivados por um objetivo mostram-se mais

atentos às formalidades da escrita. Sendo já portadores das características do

gênero em uso buscam apropriá-lo ao seu suporte e uso. Para isso, faz-se

necessário que a partir das práticas propostas aprimore sua competência linguística,

adquirindo autonomia para a produção textual.

2.2 GÊNERO TEXTUAL BLOG

A internet é tão interativa a ponto de promover novas atitudes e questões

conceituais. O computador, hoje, atende a sociedade como ferramenta cognitiva.

Bolter (1991) reflete dizendo que :” a introdução da escrita conduziu a uma cultura

letrada nos ambientes em que a escrita floresceu”( MARCUSCHI e XAVIER, 2010,

p.17). Compartilhando com essa ideia MARCUSCHI (2010) complementa que de

igual modo a introdução da escrita eletrônica o faz em relação à sociedade em que

vivemos. Assim, deve-se reconhecer que o espaço midiático propicia a efetivação de

vários gêneros e, neste caso, práticas de leitura e produção textual que já não

podem ser desconsideradas.

Os gêneros emergentes no contexto da tecnologia digital em ambientes

virtuais são extremamente versáteis e agrupam múltiplas formas de expressão, seja

texto verbal ou não-verbal. Fazendo uso de uma linguagem flexível, rápida,

adequando-se assim a esse meio social. Efetiva-se, dessa maneira, a Comunicação

Mediada por Computador (CMC) ou comunicação eletrônica desenvolvendo o que

MARCUSCHI (2010) nomeia como Discurso Eletrônico.

Ao enveredar por essa área, torna-se essencial abordar a questão da

linguagem. Linguagem essa que segundo Galli ( 2010 apud MARCUSCHI e

XAVIER, 2010) tende a uma generalização buscando uma necessidade mais social

ou técnica. A tecnologia permitiu a ampliação e a padronização do léxico para

atender a novas necessidades sociais e históricas. Desse modo, a internet tornou-se

também um dos meios de propagação e globalização da língua.

GALLI (ibidem) afirma ainda:

Nesse sentido, o desenvolvimento e a utilização da internet acabaram produzindo, entre os usuários, uma linguagem própria, repleta de termos típicos, ou seja, todo usuário, de uma maneira ou de outra, acaba compreendendo o conjunto de rede e os termos que determinam seu conteúdo e funcionamento (...) O aparecimento de uma linguagem universal, no seu sentido amplo, é um dos aspectos mais importantes da globalização.

Além da questão da linguagem, há o que Marcuschi explica como uma

mudança da noção de texto com o hipertexto. Essa nova relação gera um

surpreendente grau de intertextualidade. Isso acaba demonstrando que a escrita nos

gêneros virtuais apresenta uma adequação com a fala, manifestando o que chamam

de hibridismo e nem sempre compreendido.

Segundo Marcuschi ( 2010 apud MARCUSCHI e XAVIER, 2010) apesar disso

causar uma certa aflição no meio linguístico não deve causar muito espanto, pois

não está aí uma nova utilização de textos. Essa nova relação apenas se utiliza de

uma forma criativa e magnífica dos meios tecnológicos existentes.

Assim é relevante estudar esses gêneros emergentes (1) devido ao seu

constante uso e suas generalizações. (2) por suas características imanentes. (3) por

promover um repensar frente a relação entre a oralidade e a escrita.

Marcuschi (2010) cita o livro Linguagem e Internet de Crystal ( 2001,p.8) onde

esta cita três aspectos que merecem ser frisados com relação à linguagem utilizada

na internet: (1) observando o uso da linguagem depara-se com uma pontuação

minimalista, ortografia diferente da padrão, uso constante de siglas, abreviaturas e

frases não rígidas e escrita semialfabética.(2) com relação ao enunciado, usa-se

mais semioses que o de costume, surge o que chama de hiperpessoalidade. (3)

quanto aos gêneros, há uma transmutação complexa onde surgem novos e há

hibridismo entre outros.

Nesse sentido, reafirma MARCUSCHI (ibidem): “ os gêneros textuais são

frutos de complexas relações entre um meio, um uso e a linguagem.” A ascensão da

Internet trouxe consigo uma imensa rede social, mesmo que virtual, que liga os mais

diversos indivíduos a uma velocidade espantosa. Surge então uma nova noção de

interação entre a sociedade.

Erikson (2000, in MARCUSCHI, 2010) diz que se deve observar os seguintes

favores quanto ao discurso usado na Internet (1) propósito do discurso; (2) natureza

de quem a usar; (3) regularidades da comunicação tanto com relação a forma e ao

conteúdo, bem como as convenções e expectativas próprias; (4) situações sociais

em que o gênero ocorre dando regularidade ao discurso.

Mas, o que diferencia os gêneros em ambientes virtuais dos demais?

Marcuschi (ibidem) diz que esses gêneros são altamente interativos, inovadores em

relação à fala-escrita. Alguns possuem características sincrônicas. Há a permissão

para inserir elementos virtuais e auditivos. Há uma integração entre as semioses.

Sua linguagem é descontraída, informal e volátil. Adequam-se à formalidade

necessária em cada caso.

Esses gêneros têm características próprias e devem ser analisados em particular. Nem sempre tem uma contraparte muito clara e não se pode esperar uma especularidade na projeção de domínios tão diversos como são o virtual e o real-tradicional. Esses gêneros são mediados pela tecnologia computacional que oferece um programa de base (uma ferramenta conceitural) (...) são diversificados em seus formatos e possibilidades e dependem do software utilizado para sua produção. (MARCUSCHI, 2010, p.37)

O autor supra citado afirma ainda que surgem a partir disso novos momentos

para o que chama de “letramento cultural”.Observa ainda que essa nova realidade e

essas inovações não podem ser marginalizadas pela escola, pois deve-se ter um

olhar para o que denomina de “nova relação com os processos da escrita”,”novo

letramento.”

Tendo em vista esses pareceres, torna-se norteador realizar práticas de

leitura e escrita incluindo esses gêneros emergentes. Mesmo que, como afirma

Komesu (2010 in MARCUSCHI e XAVIER, 2010, p.135): “ Há certamente, ainda

muito a ser investigado em termos da linguagem da constituição do sujeito sob as

condições das tecnologias digitais.”

Um desses gêneros que merece atenção em sala de aula é o BLOG ou

WEBLOG. Segundo estudos realizados por Komesu (ibidem) a palavra WEBLOG

significa “arquivo na rede”. E surgiu em agosto de 1999, criado por Evan Williams.

Marcuschi (2010) afirma que os primeiros blogs foram usados apenas como

registros de leitura pela rede mundial e como indicador de links e sites.

Schittine (2004) diz que o blog propicia um sistema de disponibilização de

textos e fotos na Web. Seu nome deve-se a contração de WEBLOG: WEB (página

na internet) e LOG (diário de bordo). Considera-o, então, um diário eletrônico criado

na NET, que devido ao espaço ocupado na sociedade adquiriu o “status” de gênero.

Ao compararem-se os primeiros diários íntimos com o Blog, observa-se que

ambos possuem algumas características semelhantes onde angústias, sensações e

questões pessoais são relatadas. O que Schittine (2004) denomina “escritas do eu”.

Porém, a questão da intimidade é quebrada no Blog, onde questões de foro íntimo

são veiculadas através da rede por um autor e os leitores opinam diretamente no

texto publicado. Ainda, segundo Schittine (2004, p. 86): “Esse exercício de

aproximação entre o autor e o leitor funciona como um estímulo para a leitura diária,

característica que só é possível graças à alimentação freqüente por meio de posts

(comentários curtos)”.

O Blog tornou-se popular segundo Komesu ( 2010) devido a vários fatores

dentre eles: o usuário não precisar demandar conhecimentos avançados de

informática; sua hospedagem ser gratuita no site; pode ser atualizado rapidamente e

a manutenção dos escritos em rede serem de fácil acesso; é interativo. Assim, o

escritor faz uso da expressão dos seus pensamentos e sentimentos através da

escrita ou outras semioses, pode alterá-los quando achar adequado e esse ser

comum passa a ser alvo das atenções por parte de quem o visita.

Atualmente as relações do blog com diários escritos estão distanciadas. Pois,

suas características são diferentes das escritas tradicionais: pertencem a esferas

diferenciadas, sua aproximação deve-se ao fato de projetar uma figura estereotipada

do produtor de escritos pessoais. Às vezes, porém, entrecruzam-se traços do gênero

diário de bordo ou de outro gênero em sua formação. Possibilita, assim, por seu

caráter dinâmico a hibridização. Marcuschi (2005, p.25) define hibridização como “

confluência de dois gêneros e este é o fato mais corriqueiro no dia a dia em que

passamos de um gênero a outro ou até mesmo inserimos um no outro seja pela fala

ou na escrita.”.

Marcuschi (2010) diz ainda que os blogs são datados, podem possuir imagens

e sons ou fazer uso de outros materiais como os links. São interativos e

participativos e levam a uma escrita idiossincrática e icônica.

Em seu artigo “Blogs e as práticas de escrita sobre si na Internet” Komesu

(apud MARCUSCHI e XAVIER, 2010) analisa o Blog a partir de três eixos: tempo,

espaço e interatividade. Apresenta que no Blog o tempo é marcado e indica o desejo

do blogger (escritor) de historicizar seu tempo. Esse se diferencia do diário normal,

pois nesse não há representação de tempo de produção em horas, minutos e

segundos como acontece com o Blog. Possui uma relação síncrona : ao mesmo

tempo em que é registrado (eternizado) através da escrita e internet, é fugaz porque

pode ser apagado. O espaço de produção nem sempre é divulgado, não sendo

comum a denominação do local em que foi escrito, ficando muitas vezes citado nos

escritos, mas sendo irrelevante. Isto se deve a uma questão de sigilo e por ser um

espaço virtual.

Através da interatividade observa-se a relação entre o usuário e a máquina

e/ou o usuário e outros usuários. Essa interação propicia novas práticas de leitura e

escrita dessas páginas hipertextuais. São redigidas não para ficarem guardadas

(como segredos), ao contrário, para serem compartilhadas.

Conclui Schittine (2004, p. 186):

Dividido entre vários estilos, ele se aproxima de uns, se afasta de outros,mas acaba tendo um pouco de cada um deles. E o que faz com que o diário virtual tenha seu caráter heterogêneo é a própria formação (...) Um escrito íntimo exposto, sem as defesas e reservas típicas de um diário íntimo, mas que acabou desenvolvendo outras tantas novas.

Nesse sentido, o confrontamento com esse gênero oportuniza a ampliação

dos conhecimentos, bem como cede lugar uma nova produção de sentido. O

conhecimento adquirido diminui o abismo entre os informados e os não-informados,

tendo em vista que se deve estar preparado para essa sociedade da era da

informação.

3 METODOLOGIA

O trabalho com gêneros precisa sempre considerar o principal interessado no

processo que é o aluno. Roman ( 2009 apud CORREA e SALEH, 2009, p.49) afirma:

“Quanto mais se abrir para o aluno a possibilidade de acesso a essas linguagens

mais o seu universo cultural se ampliará.”

Este trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual Neusa Domit, localizado

no bairro São Braz, distrito de São Cristovão, município de União da Vitória – PR.

Foi aplicado na 3ª. Série B do Ensino Médio do período noturno, contendo 12

alunos.

Como forma de intervenção pedagógica, foi produzido e implementado o

material didático (unidade didática para o aluno). As atividades realizadas e aqui

explicitadas exploram não só o gênero Blog , incluindo os gêneros: relato pessoal,

poesia e contos, provocando o entrecruzamento de gêneros possíveis com a

utilização do Blog. Consta a seguir o relato da implementação realizada:

Oficina 1: Conhecendo o Gênero Blog.

Número de aulas: 03

O primeiro encaminhamento foi conversar com a turma apresentando o

gênero escolhido, bem como a proposta de trabalho. Neste momento foi aplicada

uma pesquisa inicial com a finalidade de observar qual a relação do aluno com o

computador , a Internet e o gênero Blog .Por meio disso , observou-se que a maioria

possui no mínimo um computador em casa. Os alunos gastam uma média de 3 a 5

horas semanais conectados na Internet e seus acessos são normalmente em casa,

na escola, no trabalho, em lan houses ou pelo celular. Metade da classe afirmou

conhecer o Blog, definindo-o como: “Um lugar onde colocamos o que quisermos”;

“um lugar que fala sobre assuntos variados e sobre jogos.”;”Blog de música”; “ Blog

é onde você coloca seus pensamentos, o que você gosta, imagens,etc...”; “já ouvi

falar mas não me lembro”; e um aluno não definiu. Os outros cinquenta por cento

não possuem nenhuma ideia do que seja.

Por meio disso, ficou confirmada a ideia de que o Blog não fazia parte dos

gêneros que a maioria elencava como reconhecido.

A seguir os alunos foram encaminhados ao laboratório de informática e foi

solicitado que acessassem o Blog “ A escrita floresceu”. Foi pedido a eles que

observassem qual a esfera social em que ele ocorria e que assim reconhecessem

seus elementos comunicativos: onde está publicado, autor, informações sobre o

autor, possíveis leitores e finalidades. Após, foram feitas reflexões sobre as

questões e foi aproveitada a oportunidade para contar a origem do Blog, suas

características e estruturas.

Dando continuidade a esse primeiro momento, os alunos puderam assistir um

trecho do filme: ‘As melhores coisas do mundo’.Um filme que oportuniza um debate

quanto ao uso indevido de Blogs, cyberbullying e o Blog como diário

virtual.Contrapondo ao vídeo foi apresentado outro vídeo com o tema Cyberbullying

e outro com o título ‘Dicas: etiqueta na mídia digital’. Após foi realizado um debate

onde os alunos relataram os prós e os contras a respeito do uso da Internet.

Após essas reflexões os alunos foram convidados a construir coletivamente o

Blog da sala, incluindo seu nome, layout, entre outros. Assim os alunos decidiram

que o nome seria ‘Terceira pensando’.

OFICINA 2: Título: Malas e histórias.

Número de aulas: 05

Nesta oficina foram realizadas atividades com a finalidade de apresentar o

gênero “relato pessoal”. Para tanto, os alunos leram um trecho do livro “Cem Dias

entre Céu e Mar”, de Amyr Klynk .

Após a leitura em voz alta e tirar as dúvidas eventuais de vocabulário, foi

promovida uma reflexão sobre o texto em que os alunos puderam reconhecer as

características e as intenções do gênero em destaque. Após esse momento

oportuno de domínio discursivo, aproveitou-se a oportunidade para que os alunos se

recordassem de alguma lembrança de um lugar que tenham visitado. Assim foi feita

uma roda de lembranças em que os alunos puderam contá-las. Com as produções

em mãos, realizou-se a refacção textual necessária em cada texto. Após as revisões

necessárias os alunos foram até o laboratório de informática e postaram os seus

textos. Finalizando a etapa das postagens os alunos puderam ler os textos dos

colegas e postar comentários.

OFICINA 3: TÍTULO: Onde há poesia?

Número de aulas: 04

Neste momento foi apresentado o livro ‘Diário de Classe’ de Bartolomeu

Campos de Queirós . Eles puderam observar a técnica utilizada para a produção dos

poemas. O autor produz poemas a partir de palavras que surgem da desconstrução

de um nome próprio. Após a compreensão da metodologia apresentada, os alunos

produziram poemas a partir do seu nome,criando assim um poema singular. Após as

devidas adequações foram ao laboratório de informática, mas não foi possível fazer

as postagens devido a problemas nos computadores do laboratório. Retornamos à

sala de aula e prosseguimos com o trabalho deixando as postagens para serem

feitas com a próxima produção.

Dando continuidade, foi apresentado à classe o livro ‘Antologia do Vale do

Iguaçu II’, organizado por Bernadete Ryba, Caio Ricardo Bona Moreira, Fahena

Porto Horbatiuk, Josoel Kovalski, com o intuito de valorizar a literatura local e o estilo

poético de alguns autores locais. Aproveitou-se a oportunidade para verificar quem

tinha o hábito de produzir poemas, mostrar o valor que cada um possui,

incentivando, desse modo, a necessidade de serem feitos registros para a

posteridade.

Após esse momento, foram apresentados os títulos de poemas de Helena

Klotz e Irene Rucinski. As biografias dessas autoras foram apresentadas à classe e

foi feita uma reflexão sobre a sugestão que cada título representava para cada um..

A seguir foram entregues aos alunos cópias com os poemas, onde puderam

observar suas estilísticas, suas temáticas, deduzir sentidos de palavras ou

expressões no sentido conotativo. Essa reflexão, a partir da revisão feita, foi

oportuna, pois eles puderam relembrar características próprias do gênero poema,

tais como: verso, estrofe, figuras de linguagem presentes, estilo, temática, rimas,

ritmo.

Após tão significativa atividade, foram instigados a produzirem um poema de

temática livre. Após as devidas produções e reescritas necessárias ao processo,

foram feitas os devidos registros no Blog.

OFICINA 4 – Título: Abraços e contos.

Número de aulas: 04

Para contextualizar os contos de Eduardo Galeano, foram apresentados aos

alunos dois vídeos referentes ao autor e sua obra. A seguir foi feita uma roda de

leitura em que os alunos leram as seleções de contos de Galeano, entregues aos

mesmos em forma de cópias. Essa leitura gerou uma reflexão sobre a temática de

Galeano, as características linguísticas e estruturais usadas.

Considerou-se oportuno o momento para assimilar as informações sobre o

gênero conto. Desse modo, pesquisaram e buscaram definições. Com isso, foi

possível reunir informações acerca do gênero elencado e as especificidades do

mesmo.

Num outro momento, foi apresentado à turma o vídeo com o conto ‘Dois

Corpos que Caem’ de autoria de João Silvério Trevisan. Leram em grupos ‘A

Cartomante’ de Machado de Assis e a seguir o conto adaptado para vídeo. Após, foi

realizada a reflexão sobre a temática e características de cada texto.

Foi proporcionada, a seguir, atividade em grupo em que cada um pudesse

indicar temáticas possíveis a uma produção textual. Após esse momento, os alunos

foram orientados a escolher um tema e produzir um conto curto, uma vez que seriam

postados no Blog. Após várias reescritas, verificações necessárias, com o conto nas

mãos dirigiram-se ao laboratório de informática para fazer a última postagem e

demais comentários.

Os textos produzidos ao longo do projeto, além de serem divulgados no Blog

também foram expostos em forma de murais e ao final do processo foi feita

avaliação do projeto com os alunos. Na totalidade. os alunos declararam ter gostado

muito das atividades e que o projeto foi enriquecedor para eles.

4.DISCUSSÃO E RESULTADOS

Freire (1996, p.47) nos diz que: “saber ensinar não é transferir conhecimento,

mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Tais

palavras só tendem a demonstrar quão necessário é o planejamento para que a

efetivação do saber seja real.

O trabalho realizado proporcionou aos alunos o desenvolvimento das práticas

de leitura e escrita a partir do gênero Blog. Segundo Marcuschi (2008) todo texto

tem aspectos linguísticos, sociais e cognitivos. E deste modo, autor e leitor não

estão isolados seja na produção ou na recepção. Marcuschi (ibidem, p.90) diz que: “

Operar com textos é uma forma de se inserir em uma cultura e dominar uma língua.”

Durante a implementação ocorreram várias discussões em grupo, bem como

debates que promoveram a reflexão sobre o conteúdo a ser apreendido e

enriqueceram o processo com a troca de experiência.

Ao final do trabalho aqui relatado, observou-se que os alunos evoluíram num

processo contínuo. E que a partir de um único gênero (o Blog) foi possível

entrecruzar informações e criar um real entrelaçamento de saberes. Pois a partir

dele foi criada uma rede de gêneros resultando no mesmo fim.

É claro que algumas dificuldades surgiram ao longo do processo. Algumas

próprias do processo de aprendizagem (faltas de alunos, atrasos, entre outros);

outras alheias a vontade de qualquer um ( como o defeito nos computadores do

laboratório), porém toda dificuldade remeteu a busca da resolução dos problemas e

a continuação do projeto.

Para sistematizar os conhecimentos adquiridos pelos alunos e professor

PDE, foi produzida a unidade didática composta de textos de embasamento teórico

relativos ao tema e assuntos desenvolvidos, a qual será disponibilizada para

possível utilização de alunos e professores da rede estadual de ensino, no portal

’Dia a Dia Educação’ pertencente ao governo do Estado do Paraná e a quem tenha

interesse, como forma de contribuir para a melhoria das aulas de Língua

Portuguesa, se assim o julgarem.

Para o desenvolvimento das atividades pedagógicas, foram utilizados os

seguintes recursos metodológicos: Estudos e debates a partir dos gêneros já

apresentados, TV multimídia e pendrive com vídeos, dinâmicas de grupos,

atividades individuais sempre buscando a participação e o envolvimento de todos

por meio da contextualização dos assuntos.

Finalizadas as ações do projeto, fez-se uma reunião para agradecer a todos

os envolvidos na implementação do projeto PDE no colégio, desde o início,

considerando-se que os objetivos propostos foram alcançados.

O presente trabalho traduz uma discussão extremamente relevante e

oportuna no contexto escolar: o ensino de Gêneros, proporcionando o aprendizado a

partir do gênero Blog: um texto que está em constante evolução. Proporcionamos

assim o que Marcuschi ( 2008, p. 202) cita como “novas situações de letramento

cultural”.

Identificou-se, nesta pesquisa, contribuições significativas para o

desenvolvimento da aprendizagem tendo o texto como evento comunicativo.

Segundo Honório em seu texto ‘Ensino de língua(s) e identidade : entre o real e o

imaginário ( 2009 apud CORREA e SALEH, 2009, p.92): “É necessário que a língua a

ser considerada no ensino seja a língua concreta, aquela que faz sentido para o

sujeito em suas práticas sociais”.

Para os alunos, foi um momento de grande valia, pois proporcionou a

aquisição de conhecimentos e valores importantes para a sua vida. No instante em

que os alunos participavam das atividades e ações propostas neste trabalho,

vivenciaram a troca de experiências entre os colegas de turma e o professor PDE,

na busca de informações que foram transformadas em conhecimento,

proporcionando inúmeras reflexões .

Tal projeto mostrou a viabilidade de o professor trabalhar os gêneros

midiáticos em sala de aula. O que Roman ( 2009 apud CORREA E SALEH, 2009, p.

42) diz: “ as novas formas de se relacionar implicam novas formas de socialização,

que nos conduzem a estabelecer novos tipos de relações com os habitantes da

aldeia global.”

O projeto foi desenvolvido sem pretensões maiores, porém foi possível ver

uma lacuna a ser preenchida e tal trabalho vem ao encontro com essa necessidade.

Marcuschi (2009) se manifesta salientando que se trata de um novo modo de

trabalhar com a língua relacionando o trabalho pedagógico com usos existentes na

atualidade.

Concluímos, desse modo, que quando os alunos estão motivados na busca

por um objetivo eles se mostram mais atentos às formalidades da escrita, sendo já

portadores das características do gênero em uso buscam apropriá-lo ao seu suporte

e uso.

REFERÊNCIAS

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2010.

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MARCUSCHI, L.A. Gêneros textuais: configuração , dinamicidade e circulação. IN:

KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K.S. (org) Gêneros Textuais:

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MARCUSCHI, L.A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São

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MARCUSCHI, L.A.; XAVIER A.C. Hipertexto e gêneros digitais novas formas de

construção de sentido. (org) São Paulo : Cortez, 2010.

ROMAN, A.E. Os desafios para o professor na era digital. IN: CORREA, D.A.;

SALEH, P.B.O. (org.) Estudos da linguagem e currículo: diálogos (im) possíveis,

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SCHITTINE, D. Blog: comunicação e escrita íntima na internet. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2004.

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação

Básica. Língua Portuguesa. Paraná : Jam3 comunicação, 2008.