Boas Práticas Ambientais Na Utilização de Fluídos de Corte

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BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS NA UTILIZAÇÃO DE FLUIDOS DE CORTE NOS PROCESSOS DE USINAGEM Penha Suely de Castro Gonçalves Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia da UNESP – Campus de Bauru, para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. BAURU – SP Agosto 2008 unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ENGENHARIA CAMPUS DE BAURU

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Usinagem.

Transcript of Boas Práticas Ambientais Na Utilização de Fluídos de Corte

  • BOAS PRTICAS AMBIENTAIS NA UTILIZAO DE FLUIDOS DE CORTENOS PROCESSOS DE USINAGEM

    Penha Suely de Castro Gonalves

    Dissertao apresentada Faculdadede Engenharia da UNESP Campusde Bauru, para a obteno do ttulo deMestre em Engenharia Mecnica.

    BAURU SP

    Agosto 2008

    unespUNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    FACULDADE DE ENGENHARIACAMPUS DE BAURU

  • II

    BOAS PRTICAS AMBIENTAIS NA UTILIZAO DE FLUIDOS DE CORTENOS PROCESSOS DE USINAGEM

    Penha Suely de Castro Gonalves

    Orientador: Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianchi

    Dissertao apresentada Faculdadede Engenharia da UNESP Campusde Bauru, para a obteno do ttulo deMestre em Engenharia Mecnica.

    BAURU SP

    Agosto 2008

    unespUNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    FACULDADE DE ENGENHARIACAMPUS DE BAURU

  • III

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho aos meus amados filhos Carlos Augusto e Ulysses, pela

    pacincia e compreenso nas horas de ausncia dedicada a este estudo; ao meu

    marido Carlos Antnio, amor da minha vida, pelo incentivo para eu poder trilhar o

    rduo caminho da realizao de um sonho e, especialmente, minha querida e

    sbia mezinha Djanira, que desconhecendo o significado das letras, desde cedo

    me fez ver o valor do conhecimento adquirido por meio dos estudos. A todos eles,

    por todo amor e carinho que sempre me dedicaram.

  • IV

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a DEUS pela vida, pela espiritualidade que me fortalece em todos

    os momentos e por me dar foras para realizar este trabalho.

    Agradeo ao meu orientador Prof. Dr. Eduardo Carlos Bianchi que me

    ofereceu a oportunidade para a realizao deste trabalho. Graas sua permanente

    confiana, orientao e amizade foram possveis os passos que me levaram a

    encontrar o meu caminho de pesquisa e concluir esta dissertao de mestrado.

    Agradeo Co-orientador Prof. Dr. Paulo Roberto de Aguiar pela clareza de

    suas aulas e percepo do valor do aluno diante de suas dificuldades.

    Agradeo Prof. Dr. Joo Cndido que por meio de suas aulas esclarecedoras

    me ajudou a dar os primeiros passos para trilhar a difcil arte de pesquisar.

    Agradeo Prof. Dr. Yukio pela dedicao e maestria nas aulas ministradas e

    pelas palavras de incentivo ao longo do curso.

    Agradeo aos Mestres do Curso de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica

    que compartilharam suas experincias e conhecimentos e contriburam para a minha

    aprendizagem e crescimento profissional e pessoal.

    Agradeo aos professores e funcionrios do Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia Mecnica.

    Agradeo aos colegas de classe, pelo bom humor, companheirismo e

    cordialidade ao longo do curso.

    Agradeo, especialmente, s funcionrias da Biblioteca da UNESP pela

    ateno e cordialidade no atendimento e orientao para utilizao do Banco de

    Dados, atitudes fundamentais para a realizao deste trabalho.

    Agradeo Universidade Estadual Paulista UNESP, em especial ao

    programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica da Faculdade de Engenharia

    de Bauru, pela oportunidade de ingressar como aluna especial e ser aceita para

    cursar este Mestrado.

    Agradeo aos lderes da Empresa SPAIPA S/A Indstria Brasileira de

    Bebidas, por incentivarem seus colaboradores a buscar desenvolvimento profissional

    e pessoal.

  • VAgradeo, especialmente e sempre, minha famlia pelo amor incondicional,

    pela pacincia nas horas de ausncia dedicada a este estudo, por me compreender

    e motivar na busca de minhas realizaes e por ser a razo de meus atos, de meus

    desejos, de minha vida.

    A todas as demais pessoas que de alguma forma contriburam para a

    concretizao deste trabalho.

  • VI

    EPGRAFE

    "A cada dia, a natureza produz o suficiente para suprir nossas carncias. Se

    cada um tomasse a poro que lhe fosse necessria, no haveria pobreza, guerras,

    e no mundo todo ningum mais morreria de inanio.

    Gandhi

  • VII

    SUMRIO

    DEDICATRIA ..........................................................................................................III

    AGRADECIMENTOS................................................................................................ IV

    EPGRAFE................................................................................................................ VI

    LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. X

    LISTA DE TABELAS ................................................................................................ XI

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS ............................................................ XII

    RESUMO................................................................................................................. XIII

    ABSTRACT.............................................................................................................XIV

    1. INTRODUO.....................................................................................................11.1 Objetivo..............................................................................................................31.2 Estrutura do trabalho .........................................................................................4

    2. OS FLUIDOS DE CORTE.......................................................................................52.1 Definies dos fluidos de corte ..........................................................................52.2 Principais funes dos fluidos de corte..............................................................62.3 Tipos de fluidos de corte, suas caractersticas e propriedades .........................82.3.1 Fluidos de corte puros ou integrais ...............................................................122.3.1.1 leo mineral puro ......................................................................................132.3.1.2 leo graxo .................................................................................................142.3.1.3 Misturas de leo mineral e leo graxo .......................................................152.3.2 Fluidos solveis em gua .............................................................................182.3.2.1 leos Emulsificveis ou Emulses ............................................................202.3.2.2 Fluidos qumicos ou sintticos ...................................................................222.3.2.3 Fluidos semi-sintticos...............................................................................252.3.3 Gases como fludos de corte ........................................................................262.3.4 Pasta e lubrificantes slidos .........................................................................272.3.5 Fluidos de corte biodegradveis ...................................................................282.4 Aspectos que influenciam a vida til dos fluidos de corte ................................292.4.1 Aspectos tecnolgicos na utilizao dos fluidos de corte .............................292.4.2 Mtodos de manuseio e perdas no processo ...............................................312.4.3 Influncia da qualidade da gua ...................................................................312.4.5 Influncia da concentrao da soluo e da variao do pH........................332.4.6 Influncia da degradao microbiolgica......................................................342.4.7 Contaminantes inerentes ao processo e de origem externa.........................36

  • VIII

    3. A LEGISLAO AMBIENTAL, OS FLUIDOS DE CORTE E SUASINTEIRAES COM O MEIO AMBIENTE. ..............................................................38

    3.1 A crise ambiental e os fluidos de corte ............................................................383.2 Os resduos e a poluio ambiental.................................................................413.3 O Processo de conscientizao ambiental ......................................................433.3.1 Principais Conferncias Internacionais sobre o Meio Ambiente ...................433.3.2 A Conveno sobre Controle de Movimentos Transfronterios de ResduosPerigosos A Conveno da Basilia 1989 ........................................................443.3.3 A Agenda 21, os conceitos de tecnologias limpas e a poltica dos 3 Rs ......453.4 O meio ambiente e a Constituio Brasileira ...................................................493.5 A legislao ambiental e a definio de meio ambiente ..................................503.6 A legislao ambiental federal .........................................................................513.7 A legislao ambiental no Estado de So Paulo .............................................533.8 A legislao ambiental no Municpio de Bauru ................................................553.9 Obrigaes e sanes legais no manuseio de resduos perigosos .................57

    4. ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NA UTILIZAO DOS FLUIDOS DECORTE......................................................................................................................61

    4.1 Aspectos e impactos ambientais na utilizao dos fluidos de corte.................614.1.1 Aspectos toxicolgicos..................................................................................654.1.2 Resduos Perigosos......................................................................................674.1.3 Emisses atmosfricas .................................................................................684.2 Principais impactos ambientais na utilizao de fluidos de corte.....................704.2.1 Efeitos adversos sade e segurana do trabalhador ..............................714.2.2 Efeitos adversos no transporte dos fluidos de corte .....................................734.2.3 Efeitos adversos no descarte........................................................................734.2.4. Medidas de preveno poluio por fluidos de corte ................................74

    5. BOAS PRTICAS AMBIENTAIS NA UTILIZAO DOS FLUIDOS DE CORTE 765.1 Gesto ambiental.............................................................................................765.2 Normas da gesto ambiental ...........................................................................775.3 Metodologias de gesto ambiental ..................................................................795.4 Produo mais Limpa (P+L) ............................................................................805.5 Boas prticas ambientais, indicadores de desempenho e benchmarkingambiental. ..............................................................................................................835.6 Boas prticas ambientais no gerenciamento dos fluidos de corte ...................845.6.1 Selecionar com viso ambiental ...................................................................865.6.2 Reduzir na fonte o consumo dos fluidos de corte .........................................885.6.2.1 Monitoramento, manuteno e prolongamento da vida til. ......................895.6.2.1.1 Estocagem..............................................................................................895.6.2.1.2 Preparao do fluido de corte .................................................................895.6.2.1.3 Concentrao do fluido de corte .............................................................905.6.2.1.4 Controle do pH, acidez e alcalinidade.....................................................905.6.2.1.5 Controle Microbiolgico e a utilizao de biocidas..................................915.6.3 Reusar os fluidos de corte (Reciclagem interna) ..........................................925.6.3.1 Sedimentao............................................................................................945.6.3.2 Flotao .....................................................................................................955.6.3.3 Filtrao .....................................................................................................955.6.3.4 Centrifugao ............................................................................................975.6.3.5 Separao magntica ................................................................................99

  • IX

    5.6.4 Reciclar os fluidos de corte (Reciclagem externa) ......................................1025.6.5 Tratamento do resduo e disposio final dos fluidos de corte ...................1045.6.5.1 Tipos de Resduo.....................................................................................1055.6.5.1.1 Resduo de leos de corte integrais......................................................1055.6.5.1.2 Resduo de emulses e solues de corte ...........................................1055.6.5.1.3 Composio e descarte dos resduos slidos.......................................1065.6.5.2 Mtodos de tratamento de emulses e solues de corte.......................1065.6.5.2.1 Mtodos mecnicos ..............................................................................1075.6.5.2.2 Mtodos qumicos e fsico-qumicos .....................................................1085.6.5.2.3 Mtodos trmicos..................................................................................1095.6.5.2.4 Mtodos biolgicos ...............................................................................109

    6. REDUZIR, REUSAR, RECICLAR - O PRINCPIO DOS 3RS NA UTILIZAO DEFLUDOS DE CORTE NOS PROCESSOS DE USINAGEM...................................110

    6.1 Hierarquia no gerenciamento de resduos .....................................................1106.2 O princpio dos 3Rs na utilizao dos fluidos de corte...................................1116.2.1 Primeiro R - REDUZIR................................................................................1116.2.1.1 Reduo na fonte mediante modificao no produto fluido de corte .......1126.2.1.2 Reduo na fonte mediante substituio de matrias-primas que entram noprocesso ..............................................................................................................1136.2.1.3 Reduo na fonte mediante modificao de tecnologia novas tecnologiaspara aplicao dos fluidos de corte .....................................................................1146.2.2 Segundo R REUSAR Reciclagem interna ............................................1176.2.3 Terceiro R RECICLAR - reciclagem externa ou reciclagem fora doprocesso ..............................................................................................................1186.3 O princpio dos 3Rs e a P+L na utilizao dos fludos de corte.....................1206.4 P+L CASO DE SUCESSO: Reuso de leos e emulses na indstria mecnica.............................................................................................................................1206.5 Identificando os 3Rs como base para a P+L na utilizao dos fluidos de corteem processos de usinagem.................................................................................122

    7 CONCLUSES ....................................................................................................124

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................................126

  • XLISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Classificao dos fluidos solveis em gua (EL BARADIE, 1996;adaptada). ..........................................................................................................19

    Figura 2 Biofilmes formados em uma indstria de usinagem de metais(CAPELLETTI, 2006) .........................................................................................35

    Figura. 3 - Fatores integrantes de um moderno sistema produtivo; adaptada(TEIXEIRA, 1997). .............................................................................................40

    Figura 4 O Planeta Terra e os 3Rs (VICENTE, 2000). ...........................................47Figura 5 - Mudando o paradigma (USEPA, 2002 apud GASI, 2002). .......................48Figura 6 - Processos de fabricao poluindo o meio ambiente (SOKOVIC E

    MIJANOVIC, 2001). ...........................................................................................62Figura 7 - Diagrama de caracterizao das entradas e sadas dos processos de

    retificao (INET, 2000; adaptada). ...................................................................63Figura 8 Efeitos adversos dos fluidos de corte sobre o meio ambiente (IGNCIO,

    1998). .................................................................................................................64Figura 9 - Responsabilidade do bero cova. Fabricantes conservam a

    responsabilidade pelo resduo desde a gerao at o descarte (HOWES, 1991;adaptada). ..........................................................................................................68

    Figura 10 Emisses de resduos de fluidos de corte (ALVES, 2006). .......................69Figura 11 Gerao e emisso de resduos em uma indstria metal-mecnica

    (OLIVEIRA E ALVES, 2007). .............................................................................71Figura 12: Evoluo das empresas rumo Produo mais Limpa (CNTL, 2006).....81Figura 13 Identificao de oportunidades de PmaisL. (CNTL, 2003) .....................82Figura 14 Cadeia produtiva dos fludos de corte, desde a sua elaborao at o seu

    descarte, e sua interao com o meio ambiente. (Runge e Duarte,1990). ........85Figura 15 Processos e Equipamentos utilizados para remover partculas dos

    fluidos de corte (HOWES, TNSHOFF E HEUER, 1991; adaptada).................94Figura 16 - Filtro a gravidade com reservatrio e painel eltrico (KABELSCHLEPP

    DO BRASIL).......................................................................................................96Figura 17 Filtros a vcuo (KABELSCHLEPP DO BRASIL). ......................................97Figura 18 - Princpios de uma separadora centrfuga (Browarzik e Krebs, 1990 apud

    Queiroz, 2001). ..................................................................................................98Figura 19 Separador magntico Kabelschkepp contra acmulos de impurezas em

    lquidos (KABELSCHLEPP DO BRASIL). ........................................................100Figura 20 Separador Magntico (TARTEC Indstria e Comrcio Ltda). ..............100Figura 21 - Filtro a gravidade com separador magntico, reservatrio e painel eltrico

    (KABELSCHLEPP DO BRASIL). .....................................................................101Figura 22 - Caamba basculante para coleta de cavacos de mquinas operatrizes

    (KABELSCHLEPP DO BRASIL). .....................................................................101Figura 23 Filtro a tambor tipo ecolgico (TARTEC Indstria e Comrcio Ltda).....102Figura 24 - A hierarquia no gerenciamento de poluentes (CETESB, 2002) ............110Figura 25 Fatores influentes na usinagem a seco (Klocke et al., 1996) ..................115Figura 26 - Fresamento a seco (SUPERTEC Usinagem Tcnica Industrial apud

    CNTL, 2006).....................................................................................................115Figura 27 " Identificao de oportunidades de PmaisL.- adaptada (CNTL, 2003).122

  • XI

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Correlao entre os principais tipos de fluidos de corte e suas principaispropriedades e composies (Runge e Duarte, 1990, El Baradie, 1996, Igncio,1998, adaptada).........................................................................................................10Tabela 2 Correlao entre as propriedades dos fluidos de corte e a ao desejada(Runge e Duarte, 1990, adaptada).............................................................................11Tabela 3 Identificao do leo de corte como resduo perigoso (ResoluoCONAMA, n 23, de 12 de dezembro de 1996. Anexo 1 B Resduos Perigosos -Classe I De Fontes No Especficas (Anexo A Da Nbr-10.004/87, Adaptada)..........60

  • XII

    LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

    BAT Best Available Techniques (Melhores Tcnicas Ambientais)

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CEBDS Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentvel

    CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental SP

    CFC Clorofluorcarbono

    CNI. Confederao Nacional da Indstria

    CNTL Centro Nacional de Tecnologias Limpas

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CONSEMA... Conselho Estadual do Meio Ambiente

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    EMS .Environmental Management System

    EPA Environmental Protection Agency (Agncia de Proteo Ambiental)

    IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IPCC Intergovernamental Panel on Climate Changes

    IPPC Comisso Europia de Controle Integrado e Preveno da Poluio

    ISO International Standardization Organization

    MQL Mnima Quantidade de Lubrificao

    ONGs Organizaes No Governamental

    PNUMA (ou UNEP) Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente

    P+L Produo Mais Limpa

    PP Preveno Poluio

    RCRA Resource Conservation And Recovery Act

    3Rs Reduzir Reusar - Reciclar

    SEBRAE Servio de Apoio Pequena e Mdia Empresa

    SEMA Secretaria Estadual do Meio Ambiente

    SGA Sistema de Gesto Ambiental

    WBCSD World Business Council for Sustainable Development

    CDS Comisso de Desenvolvimento Sustentvel

    WHO (World Health Organization) Organizao Mundial de Sade

  • XIII

    RESUMOA questo ambiental uma das principais agendas de discusso nas

    estratgias empresariais que visam atender mercados cada vez mais exigentes e

    interessados em empresas que protegem o meio ambiente. Na indstria mecnica,

    os fluidos de corte aparecem como uns dos principais agentes poluidores nos

    processos de usinagem, o que requer cuidados especiais para o seu gerenciamento

    ambiental. Inicialmente as pesquisas para aperfeioamento de fluidos de corte e

    mtodos de aplicao mais eficazes visavam satisfazer aspectos tecnolgicos e

    econmicos. Entretanto, nos ltimos anos, os pesquisadores e fabricantes esto

    concentrados no desenvolvimento de fluidos de corte ambientalmente amigveis e

    de novas tecnologias objetivando a reduo ou at mesmo a eliminao deste

    insumo, visando o atendimento de rigorosas leis ambientais, de sade e de

    segurana no trabalho, assim como a adequao dos processos de usinagem a um

    sistema integrado de gesto da qualidade, da segurana ocupacional e do meio

    ambiente. O objetivo deste trabalho identificar evidncias e contribuir na busca de

    solues viveis para minimizar os impactos ambientais causados pela utilizao e

    descarte dos fluidos de corte correlacionando-os s boas prticas ambientais e ao

    princpio dos 3Rs. Para a elaborao deste trabalho foi realizada uma reviso

    bibliogrfica com foco na identificao de estudos que evidenciam a preocupao

    ambiental do setor metal-mecnico na busca de oportunidades de adoo de boas

    prticas ambientais no gerenciamento deste importante insumo. Pode-se verificar

    que mesmo com o desenvolvimento de fluidos de corte ambientalmente menos

    agressivos e de mtodos de aplicao em quantidades cada vez menores, ainda

    assim, este insumo bsico requer gerenciamento com foco ambiental para a sua

    correta utilizao. Como decorrncia, pode-se constatar a necessidade de

    conscientizao a respeito dos impactos ambientais que podem ser gerados pelo

    seu uso indevido e de estabelecimento de uma gesto ambiental sustentvel que

    tenha como referncia o princpio dos 3Rs (Reduzir, Reusar e Reciclar).

    Palavras-chave: Fluidos de corte; Usinagem; Meio ambiente; Boas prticas

    ambientais; 3Rs;

  • XIV

    ABSTRACT

    Environmental issues have become a priority in business strategies aimed at

    supplying markets that are increasingly demanding and interested in companies that

    seek to protect the environment. Cutting fluids are one of the main pollutants in the

    machining processes of the metalworking industry, thus requiring special care in their

    environmental management. Early researches aimed at improving cutting fluids and

    devising more effective application methods focused on enhancing technological and

    economic aspects. However, in recent years, the efforts of researchers and

    manufacturers have concentrated on the development of environmentally friendly

    cutting fluids and new technologies aimed at the reduction or even the elimination of

    cutting fluids in order to satisfy increasingly strict environmental, public health and

    work safety regulations, as well as to align machining processes to an integrated

    system of quality, occupational safety and environmental management. The objective

    of this work is to find examples and contribute toward the search for viable solutions

    to minimize the environmental impacts caused by the use and disposal of cutting

    fluids, correlating these solutions to good environmental practices and to the 3Rs

    principle. This work involved a comprehensive bibliographic review focusing on the

    identification of studies that show the environmental concern of the metalworking

    industry in the search for opportunities to adopt good environmental practices in the

    management of cutting fluids. It was found that, despite the development of less

    environmentally harmful cutting fluids and of methods for the application of

    increasingly small quantities, this basic product still requires environmentally-based

    management for its correct use. Therefore, there is a need for awareness-raising

    about the environmental impacts that can be caused by the incorrect use of cutting

    fluids and for the establishment of sustainable environmental management

    underpinned by the principle of 3Rs (Reduce, Reuse and Recycle).

    Keywords: cutting fluids; machining; environment; good environmental

    practices; 3Rs.

  • 11. INTRODUO

    A preocupao com os problemas ambientais que se originaram nos

    processos de crescimento e desenvolvimento ocorreu de forma lenta e diferenciada,

    como numa evoluo de eventos, entre os vrios indivduos, governos, organizaes

    internacionais, entidades da sociedade civil (BARBIERE, 2005).

    Segundo Lavorato (2004), o maior desafio das empresas, que o de manter e

    aumentar a competitividade e ao mesmo tempo atender as presses dos pblicos de

    interesse, ficou bem mais complexo com a incluso da varivel ambiental.

    Neste contexto de preocupao ambiental, de acordo com Choi et al. (1996),

    ser consciente a respeito do meio ambiente uma tendncia mundial e uma nova

    oportunidade de negcio e a chamada produo limpa e produtos verdes tornaram-

    se tpicos importantes para todos os fabricantes e produtos, aplicando-se a qualquer

    processo.

    Para Tan et al. (2002), depois que as normas ISO 9000 para os sistemas de

    gerenciamento da qualidade, ISO 14000 para o sistema de gerenciamento ambiental

    e as OHSAS 18001 Sade e Segurana Ocupacional foram publicadas, aplicar nas

    empresas as trs sries em um nico sistema de gerenciamento integrado

    transformou-se em uma das grandes mudanas estratgicas, no somente sob a

    perspectiva da engenharia, mas tambm sob a perspectiva de marketing e negcios.

    Assim, em um cenrio de preocupao mundial com o meio ambiente, a

    indstria mecnica necessita adequar seus processos visando minimizao de

    seus rejeitos, dentre eles os resduos gerados ao final da vida til dos fluidos de

    corte.

    De acordo com Gunter e Sutherland (1999), os fluidos de corte so

    amplamente utilizados pela indstria metal mecnica em operaes de usinagem

    tais como: fresamento, retificao, furao e torneamento, sendo, usualmente,

    aplicados na zona de corte em jatos direcionados por um bocal ou por inundao da

    ferramenta de corte e da pea com o fluido sendo aplicado por vrios bocais.

    Os fluidos de corte so composies complexas, contendo agentes qumicos

    que variam de acordo com o tipo de operao a ser executada e os metais a serem

    trabalhados. So partes integrantes dos processos de fabricao de peas cujas

    funes so: refrigerar, lubrificar, remover os cavacos da rea de corte, proteger

  • 2contra a corroso o sistema constitudo pela mquina / ferramenta / pea em

    produo e os cavacos. Atualmente, h uma grande variedade de tipos e fabricantes

    de fluidos de corte disponveis e tambm de alternativas de mtodos de aplicao, o

    que requer uma seleo adequada e racional, que nem sempre uma tarefa fcil. A

    seleo e o correto uso do fluido de corte influem diretamente sobre a qualidade de

    acabamento das peas, a produtividade, o custo operacional, a sade do

    trabalhador e meio ambiente (RUNGE e DUARTE, 1990).

    Para Alves (2006), diversos problemas so identificados no uso dos fluidos de

    corte, tais como, os perigos sade e ao meio ambiente e cita que, os mais

    recentes esforos da indstria metal-mecnica tm se focado no desenvolvimento de

    bons processos de reciclagem e na substituio de produtos qumicos utilizados nos

    processos de fabricao, tornando-os processos limpos.

    Segundo Attanasio (2005), industriais e pesquisadores buscam reduzir o uso

    de fluidos de corte para obter benefcios de segurana no trabalho, ambientais e

    econmicos, citando a mnima quantidade de lubrificante (MQL) como uma das

    tcnicas estudadas.

    Este trabalho foi elaborado a partir de material j publicado, constitudo de

    livros, artigos de peridicos, revistas, jornais, teses e dissertaes, e, tambm, de

    material disponibilizado na Internet, reunindo, assim, informaes importantes para a

    formao de uma conscincia ambiental positiva no meio industrial da usinagem de

    metais.

    Diversos aspectos dos problemas ambientais associados aos fluidos de corte

    podem ser evitados ou minimizados, por meio de investimentos em pesquisas para

    desenvolvimento de novos tipos de fluidos, de mtodos de aplicao menos

    agressivos e de treinamentos voltados para a formao de uma nova cultura na

    indstria metal-mecnica. Uma nova cultura que possibilite o perfeito entendimento

    dos impactos ambientais causados pelo uso indisciplinado dos fluidos de corte e a

    conseqente conscientizao dos empresrios e trabalhadores em relao tomada

    de atitudes voltadas s boas prticas ambientais.

  • 31.1 Objetivo

    O objetivo deste trabalho identificar evidncias na literatura, de que a

    adoo pela indstria mecnica de um gerenciamento voltado para as boas prticas

    ambientais e fundamentado na aplicao do princpio dos 3Rs, capaz de diminuir

    os impactos negativos que podem ser provocados pelo descaso e/ou pela utilizao

    pouco eficiente dos fluidos de corte e contribuir na busca de solues viveis para

    minimizar os impactos ambientais causados pela utilizao e descarte dos fluidos de

    corte em processos de usinagem.

  • 41.2 Estrutura do trabalho

    Para facilitar a localizao do assunto desejado, o trabalho foi dividido em

    captulos referentes a cada aspecto.

    No captulo 1 so apresentados a introduo, o objetivo e a estrutura do

    trabalho.

    No captulo 2 so apresentados conceitos sobre os fluidos de corte, tendo

    como enfoque principal os tipos, classificao, composio e os aspectos que

    influenciam a sua vida til, buscando um melhor conhecimento dos fluidos de corte

    que possa permitir o aproveitamento mximo de suas caractersticas e prevenir as

    inteiraes indesejveis com o meio ambiente.

    No captulo 3 apresentada a Legislao Ambiental aplicvel aos fluidos de

    corte, visando um entendimento da legislao que possa permitir a utilizao de

    fluidos de corte prevenindo as conseqncias legais decorrentes de sua utilizao

    inadequada.

    No captulo 4 so estudados aspectos e impactos ambientais na utilizao

    dos fluidos de corte, apresentando os seus principais aspectos geradores de efeitos

    adversos e mostrando os impactos ambientais conseqentes do processo de

    utilizao de fluidos de corte e as possveis medidas de preveno poluio.

    No captulo 5 so apresentadas as boas prticas ambientais na utilizao de

    fluidos de corte em operaes de usinagem, identificadas neste estudo.

    No captulo 6 realizada uma correlao entre os estudos relacionados s

    boas prticas ambientais e prtica dos 3Rs na utilizao de fluidos de corte em

    operaes de usinagem.

    O captulo 7 apresenta sugestes para trabalhos futuros e a concluso do

    estudo realizado.

    O captulo 8 apresenta as referncias bibliogrficas utilizadas para a

    realizao deste estudo.

  • 52. OS FLUIDOS DE CORTE

    Neste captulo so apresentados conceitos sobre os fluidos de corte, tendo

    como enfoque principal os tipos, classificao e composio, assim como, os

    aspectos que influenciam o tempo de vida til, buscando um melhor conhecimento

    dos fluidos de corte que possa permitir o aproveitamento mximo de suas

    caractersticas.

    2.1 Definies dos fluidos de corte

    Na literatura, a nomenclatura para os diferentes fluidos de corte varia de um

    autor para outro.

    Segundo Silliman (1992), usual encontrar diferentes nomes para um mesmo

    tipo de fluido de corte, o que, apesar de no ser incorreto, causa expressiva

    confuso e, portanto, requer uma nomenclatura para facilitar a compreenso das

    diferentes caractersticas de cada tipo.

    De acordo com Motta e Machado (1995), cada tipo de fluido de corte

    apresenta caractersticas particulares, assim como, vantagens e limitaes diversas;

    entretanto, as caractersticas que distinguem as diferentes classes nem sempre so

    facilmente percebidas, o que dificulta a classificao.

    Neste estudo so utilizados os seguintes conceitos:

    Fluido de corte: qualquer fluido utilizado para o corte ou usinagem de metais

    ou outros materiais (RUNGE e DUARTE, 1990).

    leo de corte: um fluido de corte cuja origem pode ser mineral (petrleo),

    animal ou vegetal, puro ou em combinaes (SILLIMAN, 1992) e usado conforme

    fornecido, isto , no misturado gua, sendo tambm chamado de puro (EL

    BARADIE, 1996) ou integral (RUNGE e DUARTE, 1990).

    leo emulsificvel: o fluido de corte base de leo mineral misturado com

    agentes emulsificadores (SILLIMAN, 1992;), utilizado misturado gua em forma de

    emulso, seja qual for o teor do leo empregado (RUNGE e DUARTE, 1990).

    comumente chamado de leo solvel em gua ou fluido de corte emulsificvel (EL

    BARADIE, 1996; SILLIMAN, 1992).

    Fluido sinttico: tambm chamado de fluido qumico, o fluido de corte que

    consiste de soluo qumica composta de materiais inorgnicos e/ou outros

    materiais dissolvidos na gua e que no contm leo mineral (EL BARADIE, 1996).

  • 6Fluido semi-sinttico: tambm chamado de fluido semi-qumico, o fluido de

    corte que contm pequena quantidade de leo mineral e usado misturado em

    gua, na qual forma emulso fina, parecida com as solues (RUNGE e DUARTE,

    1990). Essencialmente uma combinao do fluido sinttico com uma quantidade

    muito pequena de leo emulsificvel que contm alto teor de emulsificante (EL

    BARADIE, 1996; SILLIMAN, 1992).

    Em sntese, atualmente, os fluidos de corte so composies complexas

    contendo agentes qumicos que variam de acordo com o tipo de operao a ser

    executada e os metais a serem trabalhados (SILVA ET AL., 2005) podendo ser

    perigosos para a sade do trabalhador (LINNAINMAA ET AL., 2003) e ao meio

    ambiente (BARTZ, 2001).

    2.2 Principais funes dos fluidos de corte

    As duas principais funes dos fluidos de corte so: a lubrificao nas

    velocidades de corte relativamente baixas e a refrigerao nas velocidades de corte

    relativamente altas (SHAW, 1984).

    De acordo com Sokovic e Mijanovic (2001), os fluidos de corte foram

    introduzidos nos processos de corte com o propsito de melhorar as caractersticas

    dos processos tribolgicos, os quais esto sempre presentes nas superfcies de

    contato entre a ferramenta e a pea em usinagem.

    Conforme Pawlak et al. (2005), os fluidos tem duas importantes funes

    relacionadas aos severos fenmenos tribolgicos que ocorrem onde h processos

    fsico-qumico-mecnicos envolvidos, que so promover a lubrificao entre a pea

    trabalhada e a ferramenta e tambm remover o calor gerado durante os processos

    de corte.

    Para Attanasio (2005), os fluidos de corte exercem um importante papel nas

    operaes de corte, uma vez que devem, essencialmente, garantir a lubrificao e

    refrigerao e, secundariamente, proteger a pea em fabricao e a ferramenta

    contra a corroso, alm de promover a remoo dos cavacos.

    Segundo Stanford, Lister e Kibble (2007), tradicionalmente, os fluidos de corte

    tm sido visto mais propriamente como uma soluo do que como um problema,

    uma vez que eles tm provado ser um significativo benefcio para o processo de

    corte de metal e exercerem um importante papel na melhoria e manuteno do

    acabamento final da pea, na remoo dos cavacos, na reduo das foras de corte,

  • 7na supresso das limalhas e na resistncia corroso da pea e da mquina-

    ferramenta.

    De acordo com Trent e Wright (2000), o fluido de corte no deve apenas

    melhorar o processo de corte conforme especificado, mas, deve, tambm, satisfazer

    a uma srie de outros requerimentos, tais como: no ser txico e no oferecer riscos

    ao operador, no ser inflamvel, no ser prejudicial para o sistema de lubrificao da

    mquina-ferramenta, no provocar corroso ou manchar a pea usinada, alm disso,

    deve oferecer proteo superfcie usinada e evidentemente, ter o menor custo

    possvel.

    Assim, as funes dos fluidos de corte podem ser resumidas, conforme

    Runge e Duarte (1990), em:

    Refrigerar:

    Lubrificar

    Melhorar o acabamento da pea

    Reduzir o desgaste das ferramentas

    Remover os cavacos da rea de corte

    Proteger contra a corroso (a mquina, a ferramenta, a pea e os

    cavacos).

    Segundo El Baradie (1996), fundamental remover o calor gerado durante a

    formao do cavaco e pela frico entre a pea em usinagem e a ferramenta de

    corte, e de acordo com Runge e Duarte (1990), esta remoo visa evitar distores

    trmicas nas peas usinadas, assim como, a rpida destempera, o desgaste

    prematuro e as trocas freqentes das ferramentas de corte.

    Attanasio (2005) acrescenta que no fcil alcanar a superfcie de corte em

    decorrncia da alta presso existente na rea de contato e ao pequeno espao entre

    o cavaco e a ferramenta que dificultam o acesso do fluido refrigerante na zona de

    corte, o que requer dos fluidos de corte tambm uma funo lubrificante. Segundo El

    Baradie (1996), a introduo de constituintes com propriedades lubrificantes e de

    certos aditivos permitem ao fluido de corte fluir na rea de contato e possibilitar o

    melhor deslizamento da ferramenta e dos cavacos e a reduo da tenso de

    cisalhamento.

    Porm, a preponderncia dos mecanismos de refrigerao ou lubrificao

    depende das aplicaes, sendo que, operaes de baixa velocidade e de pequenos

  • 8avanos, requerem maior grau de lubrificao, enquanto que operaes de alta

    velocidade e elevado avano requerem mais refrigerao (RUNGE e DUARTE,

    1990).

    Segundo Stanford, Lister e Kibble (2007), o caminho pelo qual o fluido de

    corte atua e auxilia o processo de corte complexo e assunto de longos estudos e

    pesquisas e, em muitas ocasies, o uso e a adoo de um determinado fluido de

    corte fruto de uma escolha automtica baseada na presuno de que eles so

    essenciais e confiveis para o processo de usinagem. Entretanto, as severas

    legislaes ambientais aumentando o custo de disposio do fluido usado e a

    publicao de dados associados com os riscos sade ocupacional teve como

    conseqncia o crescimento da busca por alternativas viveis de meios de corte

    ambientalmente amigveis.

    2.3 Tipos de fluidos de corte, suas caractersticas e propriedades

    De acordo com Silliman (1992), em 1868 W. H. Northcott publicou que a

    produtividade do torno mecnico poderia ser aumentada por meio da utilizao de

    um fluido de corte e F. W. Taylor demonstrou, em 1883, que jorrando grandes

    quantidades de gua sobre a superfcie de contato, entre a pea, o cavaco e a

    ferramenta aumentariam a velocidade de corte de 30 a 40%. Segundo Igncio

    (1998), a idia da gua surgiu com a finalidade de diminuir o indesejvel efeito da

    alta temperatura, mas apresentou desvantagens tais como a oxidao do conjunto

    mquina-ferramenta-pea e ausncia do poder de lubrificao, o que, segundo

    Silliman (1992), levou ao desenvolvimento e utilizao de leos graxos para todos os

    tipos de corte de metal.

    Segundo El Baradie (1996), um bom lquido refrigerante deve ter alta

    condutividade trmica e alto calor especfico, sendo que, a gua preenche estes

    requisitos, alm de ser de baixo custo, porm apresenta um reduzido potencial

    lubrificante e, portanto, no eficaz no que tange a reduo do atrito entre o cavaco

    e a face da ferramenta e, alm disso, provoca corroso nos metais usinados e nas

    mquinas-ferramenta.

    Queiroz (2001) acrescenta que a adio de gua ao processo de corte, com o

    tempo de uso, favorece a proliferao de microorganismos, aumentando a lista de

    fatores que inviabilizam o uso de gua pura como fluido de corte. Esses problemas

    incentivaram a pesquisa e desenvolvimento de novas composies e aditivos

  • 9visando o desenvolvimento de fluidos de corte que evitassem a corroso e o

    crescimento de microorganismos, alm de buscar incrementar outras caractersticas

    que permitissem obter melhor desempenho.

    De acordo com Rossmoore e Rossmoore (1996), desde que a gua se tornou

    um componente essencial na formulao dos fluidos de usinagem de metal, os

    microorganismos apresentam-se como um problema que requer controle, sendo que

    muitas estratgias, tais como: fluidos bioresistentes, agentes biocidas e boas

    prticas de fabricao; so oferecidas para prevenir a deteriorao microbiolgica e

    contribuir para a longevidade do fluido.

    Alm disso, segundo Silliman (1992), o aumento da demanda, impulsionado

    pela expanso industrial, estimulou esforos para aumentar a velocidade de corte, o

    que exigiu o desenvolvimento de materiais para ferramentas de corte mais

    resistentes e conseqentemente trouxe a necessidade de aperfeioamento dos

    fluidos de corte.

    Segundo El Baradie (1996), uma alternativa interessante em termos de custo

    x benefcio so os leos minerais, por que eles tm caractersticas

    preponderantemente lubrificantes que so requeridas para o movimento relativo

    entre a interface da ferramenta de corte e o cavaco, e, alm disso, as propriedades

    refrigerantes so reforadas com a incorporao de determinados aditivos que

    atuam na reduo do atrito, fazendo com que as microsoldagens, provocadas pela

    frico entre a ferramenta de corte e o cavaco, sejam reduzidas, permitindo que o

    cavaco deslize mais facilmente, diminuindo o calor gerado pelo processo de

    usinagem; sendo que, para as operaes mais severas, onde existe dificuldade de

    lubrificao e penetrao, so empregados aditivos de extrema presso (EP) e de

    ao rpida.

    Segundo Silliman (1992), atualmente, os fluidos de corte podem ser leos

    integrais ou uma mistura de leos, podem conter um ou uma combinao de aditivos

    tais como: enxofre, cloro, fsforo ou outros compostos qumicos; podem ser

    miscveis com gua, utilizando pouqussimo leo ou at nenhum, podem conter ou

    no agentes surfactantes, isto , existem fluidos para atender as propriedades

    necessrias para aplicao em uma ampla variedade de operaes de usinagem.

    Nos ltimos tempos, segundo Sokovic e Mijanovic (2001), os novos fluidos de

    corte, alm dos requerimentos tribolgicos usuais, devem satisfazer aos requisitos

    de proteo ambiental impostos por rigorosas legislaes ambientais e/ou por

  • 10

    normas internacionais, tais como a ISO 14000. Alm disso, segundo Villena (1994),

    devem ser formulados visando diminuir os riscos sade e segurana dos

    trabalhadores.

    Igncio (1998) correlaciona certas propriedades dos fluidos de corte s suas

    composies, conforme apresentado na tabela 1:

    Tabela 1 Correlao entre os principais tipos de fluidos de corte e suas principais

    propriedades e composies (Runge e Duarte, 1990, El Baradie, 1996, Igncio, 1998, adaptada).

    No caso do Mtodo de Mnima Quantidade de Fluido (MQF), que est entre a

    usinagem com refrigerao e a sem refrigerao e que apenas uma gota de fluido

    lanada na rea de corte para produzir um filme de lubrificante protetivo, quase a

    seco, uma quantidade mnima de fluido dirigida por um jato de ar ao ponto onde

    est sendo executada a usinagem, sendo que o volume de fluido pode variar em

    funo do volume de cavacos e do processo de usinagem e os fluidos lubrificantes

    devem ter altssima taxa de remoo de calor, alm disso, a mnima quantidade de

    fluido deve ser suficiente para reduzir o atrito da ferramenta e evitar a aderncia dos

    materiais (CNTL, 2008).

    De acordo com Runge e Duarte (1990), em adio s propriedades de

    refrigerar e lubrificar o fluido de corte deve ter outras propriedades relacionadas na

    tabela 2:

    A tabela 2 correlaciona as propriedades que os fluidos de corte devem

    possuir, tais como: antiatrito; viscosidade adequada, isto , baixa o suficiente para

    que o fluido chegue na zona a ser lubrificada e alta o bastante para permitir boa

    aderncia; alto calor especfico e condutividade trmica; anticorrosiva;

    Emulsesleos emulsificveis

    gua gua,leos minerais leo Mineral Sais Inorgnicos,leos graxos Emulsificadores Cloro,Cloro Cloro Enxofre,Enxofre Enxofre BiocidasFsforo Glicol Agentes Umectantes

    Biocidas

    Refrigerao RefrigeraoLubrificao, Extrema-Presso Extrema-Presso Refrigerao Anti-oxidaoExtrema-Presso Anti-oxidao Anti-oxidao Extrema-Presso Usinagem secoAnticorroso Anticorroso Anticorroso Anti-oxidao

    Lubrificao Lubrificao AnticorrosoLavagem

    ClassificaoSolveis em gua

    ArArgnioHlioNitrognioGs Carbnico

    Agualeo Mineral ElementosOrgnicos e InorgnicosCloro EnxofreBiocidas

    PrincipaisPropriedades

    FLUIDOS DE CORTE

    GasesSemi-Sintticos SintticosIntegrais

    PrincipaisComposies

  • 11

    antiespumante; compatibilidade com a maioria das pinturas e vedaes;

    compatibilidade com metais ferrosos e no ferrosos; baixa tendncia para originar

    precipitados slidos; no causar incrustaes nas tubulaes de filtrao do fluido

    em uso entre outras, e a ao esperada sobre a operao de usinagem, sendo que

    a maioria dessas propriedades conferida aos fluidos de corte pelos aditivos

    utilizados.

    Tabela 2 Correlao entre as propriedades dos fluidos de corte e a ao desejada (Runge e

    Duarte, 1990, adaptada).

    Propriedades dos fluidos de corte Ao esperada

    Anticorrosivas Proteger a pea, a ferramenta e os componentes da mquina contra acorroso.

    Antioxidantes Evitar a oxidao prematura do fluido devido a ao das elevadastemperaturas e da forte aerao s quais submetido.

    Antidesgaste Reforar as propriedades lubrificantes do leo mineral e so proporcionadaspela matria graxa e aditivos do tipo ZDTP (ditiofosfato dezinco).

    AntiespumantesEvitar a formao de espuma que possa impedir a viso da operao ouinfluir negativamente sobre o efeito de refrigerao mediante bolhas de ar narea de corte ou fraca transferncia de calor noreservatrio.

    Anti-solda ou EP (Extrema Presso)Resistir s elevadas presses de corte quando o poder lubrificante e osaditivos antidesgaste no so suficientes. Exemplo: aditivos EP base deenxofre, cloro e outros.

    Alta capacidade de umectaoFazer com que a superfcie da pea, a ferramenta e os cavacos sejamrapidamente molhados pelo fluido influindo diretamente sobre a capacidadede refrigerao.

    Ausncia de odores Assegurar que o meio ambiente onde a operao executada esteja livre deodores fortes e/ou desagradveisAusncia de precipitados slidos oude qualquer outra natureza

    Garantir a livre circulao do fluido pelo sistema e assegurar o livre e precisomovimento dos elementos da mquina.

    Alta capacidade de absoro de calor -a refrigerao influenciada pela(o):

    ViscosidadeCalor especfico,Condutibilidade trmica,Vapor latente de vaporizao (fluidosaquosos)Lavabilidade, propriedade influenciadapela:Viscosidade,Tenso superficial,

    Facilidade de decantao dos cavacos

    Ser suficientemente baixa para assegurar fcil circulao pela mquina,manter um jato de fluxo contnuo na rea de corte e permitir rpidadecantao dos cavacos e outros resduos;Ser suficientemente elevada em alguns casos em que se deseja maior graude lubrificao.

    Estabilidade Assegurar que o produto seja homogneo ao chegar rea decorte.

    Transparncia Permitir a observao da rea de corte.Compatibilidade com a sade humana.Compatibilidade com os componentes damquina.Compatibilidade com o metal que est sendousinado.Ter alta tratabilidade para descarte e ser de fcil eliminao, evitando danosao meio ambiente.

    Compatibilidade com o meio ambiente

    Remover cavacos e poeira produzidos durante o corte para evitar quebra daferramenta e danos pea.

    Remover o calor gerado durante a operao de corte, para prolongar a vidatil das ferramentas e garantir a preciso dimensional das peas por meio dareduo de distores trmicas.

    Viscosidade adequada

  • 12

    2.3.1 Fluidos de corte puros ou integrais

    Segundo El Baradie (1996), o termo leos de corte puros refere-se queles

    fluidos de corte cuja base predominante leo mineral e que so utilizados

    conforme fornecidos, isto , sem a adio de gua; podendo ser integralmente de

    leo mineral ou aditivados. Runge e Duarte (1990) empregam a expresso leo

    integral.

    Segundo Silliman (1992), podem ser base de leo mineral de petrleo, de

    leo animal, de leo vegetal ou, ainda, de combinaes entre esses leos, com o

    objetivo de aumentar as caractersticas umectantes e lubrificantes dos leos

    minerais, particularmente em altas temperaturas. Os fluidos de corte integrais so

    caracteristicamente de cor escura ou em tons marrons devido a sua viscosidade e

    aos seus aditivos, entretanto, o desenvolvimento dos leos-base e dos aditivos tem

    propiciado o surgimento de leos levemente coloridos e com alta eficincia de corte.

    Alm disso, por apresentar maior transparncia permite ao operador a visualizao

    da zona de trabalho atravs do fluido de corte, fato particularmente til durante o

    ajustamento da operao e no ajuste fino de operaes mais delicadas.

    De acordo com El Baradie (1996), os principais grupos que abrangem as

    classificaes dos fluidos de corte so:

    2.3.1.1 leo mineral puro

    2.3.1.2 leo graxo

    2.3.1.3 Misturas de leo mineral e leo graxo

    2.3.1.4 Aditivos de Extrema Presso (EP)

    2.3.1.5 Misturas de leo mineral e leo graxo sulfurizado

    2.3.1.6 Misturas de leo mineral e leo graxo sulfurizado e enxofre ativo

    2.3.1.7 Misturas de leo mineral e leo mineral sulfurizado

    2.3.1.8 Misturas de leo mineral, leo mineral sulfurizado e leo graxo

    sulfurizado.

    2.3.1.9 Misturas de leo mineral e parafinas cloradas

    2.3.1.10 Misturas de leo mineral com parafinas cloradas e leo graxo

    sulfurizado

    2.3.1.11 Misturas de leo mineral e leo graxo clorado

    2.3.1.12 Misturas de leo mineral, leo graxo clorado e leo graxo sulfurizado.

    2.3.1.13 Misturas de leo mineral e leo graxo sulfoclorado

  • 13

    2.3.1.1 leo mineral puro

    Conforme Silliman (1992), os leos minerais no compostos, ou puros, so

    aqueles usados in natura, isto , sem aditivos, podendo ter origem de base

    naftnica1 (cadeias de carbono saturadas cclicas) ou parafnica (cadeias de carbono

    retas ou ramificadas), e, de acordo com Tolbert et al. (1992) so refinados a partir do

    leo natural cru, sendo que, os leos parafnicos oferecem melhor estabilidade

    quanto oxidao e tendem a ser menos reativos, enquanto que, os leos

    naftnicos proporcionam uma mistura mais homognea.

    De acordo com Runge e Duarte (1990), os leos minerais parafnicos

    produzem leos de corte de boa qualidade, apresentando-se em maior

    disponibilidade e menor custo, com elevado ndice de Viscosidade (IV), maior

    resistncia natural oxidao.

    Os leos minerais puros so usualmente leos minerais fornecidos em uma

    faixa de viscosidade apropriada para diferentes aplicaes, sendo que, as suas

    propriedades lubrificantes podem ser melhoradas pela adio de leos graxos, cloro

    e enxofre (TRENT e WRIGHT, 2000).

    El Baradie (1996) acrescenta que os leos minerais no apresentam

    propriedades lubrificantes to boas quanto aos leos minerais compostos ou

    aditivados, mas, so no-corrosivos e estveis e, se conservados limpos, podem ser

    aproveitados quase indefinidamente, alm disso, apresentam um custo menor e

    geralmente se destinam lubrificao em operaes leves, tais como aquelas que

    ocorrem com alumnio, magnsio, lato e aos compostos com enxofre ou chumbo.

    Entretanto, necessitam ser aditivados por que em algumas operaes de usinagem

    as propriedades de transportar cargas so inadequadas para as severas condies

    experimentadas na zona de corte.

    1 Segundo Runge e Duarte (1990), no passado predominavam o uso de leos naftnicos por seremmais facilmente emulgados e por permitirem a dissoluo de maiores quantidades de enxofre,entretanto, atualmente este tipo est em desuso devido escassez, elevado custo e maior potencialde causar problemas de sade. De acordo com Webster (1995) apud Silva (2006) se os compostosaromticos policclicos no forem destrudos durante o processo de formao do leo, mediante fortehidrogenao, podero causar cncer ou dermatites.

  • 14

    2.3.1.2 leo graxo

    De acordo com Silliman (1992), os fluidos com leos graxos, materiais graxos

    ou gorduras so utilizados como aditivos polares e podem ter origem, tanto animal,

    derivados de tecidos gordurosos de animais bovinos, ovinos, sunos ou ainda de

    animais marinhos tais como peixes e baleias2 (leo espermacete), quanto vegetal.

    Conforme El Baradie (1996), os leos graxos so muito polares, apresentam

    alta oleosidade e so bons lubrificantes para situaes limite e podem contribuir para

    a reduo do calor de frico nas operaes de corte ou retificao. Entretanto,

    apresentam desvantagens tais como rpida rancificao provocada por oxidao e

    crescimento de bactrias e conseqentemente, desenvolvendo odores

    desagradveis (RUNGE e DUARTE, 1990).

    Segundo Silliman (1992), os fluidos com leos graxos de origem vegetal so

    obtidos pela triturao e lacerao de gros, sementes e at frutas inteiras de

    plantas especficas, sendo que, os leos resultantes so lquidos e contm certa

    percentagem de gordura insaturada e so divididos em duas categorias: secantes,

    que apresentam alta percentagem de cidos graxos insaturados e no secantes

    aqueles que contm menor quantidade de gorduras insaturadas, sendo que, o

    primeiro tipo forma um filme elstico resistente quando exposto atmosfera, devido

    ao contato com o oxignio, enquanto o tipo no secante no apresenta esta

    caracterstica, sendo que, os leos vegetais do tipo no secante, tais como leo de

    palma, leo de coco e leo de mamona, devido ao seu baixo grau de insaturao,

    no necessitam de processamento adicional e so usados extensamente na

    produo de fluidos de corte.

    Segundo Sheng et al.1997, embora sejam mais caros do que os leos a base

    de petrleo, os leos vegetais so mais adequados para o atendimento dos rgidos

    requisitos ambientais devido a sua biodegrabilidade, entretanto, esta mesma

    caracterstica confere aos leos vegetais maior propenso a degradao

    microbiolgica do que os leos derivados de petrleo.

    2 Devido legislao de proteo s baleias, o leo de espermacete vem sendo substitudo cada vezmais por matrias graxas vegetais ou sintticas sulfurizadas ou no (RUNGE E DUARTE, 1990)

  • 15

    2.3.1.3 Misturas de leo mineral e leo graxo

    Segundo Teixeira Filho (2006), aos componentes bsicos do leo mineral

    vrios tipos de aditivos podem ser adicionados, principalmente aqueles de

    caractersticas polares, uma vez que formam um filme orgnico para ligar-se

    quimicamente superfcie da ferramenta e da pea, sendo que, este filme promove

    uma unio ao metal mais forte do que aquela formada pela barreira fsica das

    molculas de leo sozinhas. Este fenmeno aumenta a capacidade umectante do

    fluido e diminui os desgastes da ferramenta devido abraso.

    Segundo El Baradie (1996), as misturas de leo mineral e de leo graxo so

    utilizadas principalmente para a melhoria do acabamento na usinagem de tipos

    duros de lato, cobre e ao doce, onde o leo mineral no produz o acabamento

    ideal e a utilizao de grandes quantidades de aditivos poderia causar mancha, alm

    disso, pequenas adies de leos graxos tm o efeito de melhorar as caractersticas

    antiatrito sob condies limites de lubrificao, quando o atrito entre as faces dificulta

    o acesso do fluido lubrificante.

    2.3.1.4 Misturas de leo mineral e aditivo de extrema presso (EP)

    Segundo El Baradie (1996), os aditivos de extrema presso so utilizados nas

    operaes de usinagem onde as foras de corte so particularmente altas ou com

    avanos pesados e fornecem uma forma mais estvel de lubrificar a interface

    ferramenta-cavaco.

    De acordo com Silliman (1992), os aditivos qumicos ou aditivos de extrema

    presso incluem o enxofre3, cloro4 ou compostos de fsforo, que reagem sob altas

    temperaturas nas zonas de corte para formar sulfetos metlicos, cloretos e fosfetos,

    que alm de fornecerem uma lubrificao em presses extremas, tambm fornecem

    um filme na superfcie da ferramenta de corte que elimina as micro-soldagens entre

    a ferramenta e o cavaco, reduzindo a formao do gume postio, reduzindo as

    3 O enxofre um agente de extrema presso que proporciona proteo contra o desgaste doferramental. Convenciona-se chamar leo sulfurado aos fluidos de corte base de leo mineral comenxofre livre diretamente dissolvido no leo (enxofre ativo) e leo sulfurizado aos fluidos de corte comenxofre combinado com matria graxa (enxofre inativo), sendo que, neste caso no atacam o cobre esuas ligas (RUNGE E DUARTE, 1990).4 O cloro, em forma de parafina clorada, tambm uma substncia eficiente para reduzir o desgaste,porm, o uso do cloro encontra restries ambientais em virtude dos danos ao meio ambiente que oscompostos clorados podem provocar (RUNGE E DUARTE, 1990).

  • 16

    foras na zona de cisalhamento, melhorando o acabamento e ajudando no controle

    da vida til da ferramenta.

    2.3.1.5 Misturas de leo mineral e leo graxo sulfurizado

    Segundo El Baradie (1996), as gorduras sulfurizadas so aditivos usados

    para produzir aditivos EP inativos, isto , que no causam manchas em metais tais

    como o cobre e suas ligas, alm do que, de acordo com Runge e Duarte (1990)

    apresentam excelente poder lubrificante ou propriedade antiatrito, o que proporciona

    maior tempo de vida til para a ferramenta de corte, assim como, melhor

    acabamento da pea.

    2.3.1.6 Misturas de leo mineral e leo graxo sulfurizado e enxofre ativo

    Segundo Runge e Duarte (1990), h combinaes de matria graxa e enxofre

    que so ativas, sendo a combinao de enxofre ativo e no-ativo, freqentemente,

    encontrada em leos de corte integrais.

    De acordo El Baradie (1996), a adio de enxofre elementar em um leo

    graxo sulfurizado devolve ao leo sua atividade, sendo que, os leos sulfurizados

    ativos possuem melhores propriedades EP do que os inativos e so particularmente

    adequados para a usinagem pesada de ligas ferrosas.

    2.3.1.7 Misturas de leo mineral e leo mineral sulfurizado

    De acordo com Silliman (1992), mais energia requerida para sulfurizar uma

    gordura do que dissolver o enxofre em um leo mineral e como resultado o enxofre

    combinado no leo mineral sulfurizado fica mais livre o que o torna mais ativo do que

    o leo graxo sulfurizado. Para El Baradie (1996), esse tipo de leo apresenta boas

    propriedades EP, menor custo para ser produzido e por ser ativo provoca mancha

    nos metais amarelos.

    2.3.1.8 Misturas de leo mineral, leo mineral sulfurizado e leo graxo

    sulfurizado

    Essa mistura combina a oleosidade dos leos graxos sulfurizados com as

    propriedades EP dos leos minerais sulfurizados sendo muito efetivos para a

    lubrificao em operaes com usinagens pesadas de metais ferrosos (EL

    BARADIE, 1996).

  • 17

    2.3.1.9 Misturas de leo mineral e parafinas cloradas

    Segundo El Baradie (1996), o leo de corte produzido com parafina clorada

    apresenta menores caractersticas EP do que os leos contendo enxofre na mesma

    proporo, embora garantam melhor ao contra o atrito. A baixa eficcia do efeito

    EP compensada pela ao dos compostos de cloro que esto dispersos na

    soluo. De acordo com Runge e Duarte (1990), as altas temperaturas

    desenvolvidas na regio de corte desencadeiam reaes qumicas entre o cloro e a

    superfcie metlica, formando cloretos metlicos, facilmente cisalhveis em funo

    de sua estrutura laminar. Os fluidos clorados so utilizados nas mquinas-

    ferramentas automticas e em usinagem de ligas de nquel, particularmente nas

    operaes de brochamento.

    Com relao ao meio ambiente no apenas os solventes clorados, mas

    tambm as parafinas cloradas esto sujeitas rigorosa legislao ambiental em

    pases tais como a Alemanha, que estabelece medidas restritivas para o descarte

    encarecendo o processo como um todo (RUNGE E DUARTE, 1990).

    Segundo Bartz (2001), em 1986 uma lei na Alemanha dividiu a disposio de

    leos usados em trs categorias, o que obriga a coleta separada dos leos

    residuais, sendo que, a regulamentao estabeleceu limites residuais, tais como:

    0,2% para halognio total e 4 ppm de bifenis policlorados, para que leos contendo

    substncias halognicas pudessem ser reciclados. Assim os leos contendo

    quantidade maior de substncias halognicas, especialmente as cloradas, requerem

    tratamento especial causando custos extremamente altos de disposio.

    2.3.1.10 Misturas de leo mineral com parafinas cloradas e leo graxo

    sulfurizado

    Segundo El Baradie (1996), este tipo de leo de corte combina as melhores

    propriedades das parafinas cloradas com as dos leos graxos sulfurizados, sendo

    que pode ser utilizado para uma larga variedade de materiais e operaes. Alm

    disso, as combinaes das propriedades redutoras de atrito dos dois leos propiciam

    melhor acabamento e aumentam a vida til da ferramenta de corte, o que facilitado

    pelas propriedades anti-solda do enxofre.

    A combinao de enxofre e cloro produz um efeito sinrgico que resulta em

    um fluido de corte com maiores propriedades EP por reao com o substrato

  • 18

    metlico, do que seria esperado do mais eficiente dos dois, isto , o enxofre

    (RUNGE E DUARTE, 1990).

    2.3.1.11 Misturas de leo mineral e leo graxo clorado

    De acordo com El Baradie (1996), leos graxos clorados produzidos pela

    combinao com ster graxo sinttico, so apropriados para usinagem de diversos

    tipos de materiais e no mancham metais ferrosos e no-ferrosos.

    2.3.1.12 Misturas de leo mineral, leo graxo clorado e leo graxo sulfurizado.

    Segundo El Baradie (1996), esses fluidos tm boas propriedades antiatrito e

    anti-solda, sendo adequados a uma larga gama de operaes e materiais, no

    mancham os metais, tanto os ferrosos quanto os no-ferrosos, alm disso, uma vez

    que o enxofre e o cloro esto contidos em aditivos separados, podem ser formulados

    para atender s necessidades especficas de cada aplicao.

    2.3.1.13 Misturas de leo mineral e leo graxo sulfoclorado

    Nos leos graxos sulfuroclorados ambos os elementos enxofre e cloro esto

    combinados na mesma molcula e so particularmente adequados usinagem de

    metais resistentes como o ao inoxidvel e as ligas resistentes ao calor (EL

    BARADIE, 1996).

    2.3.2 Fluidos solveis em gua

    De acordo com John et al (2004), leos e gorduras so substncias insolveis

    em gua, derivadas de recursos animais e vegetais, que atravs dos anos tm sido

    usadas e at os dias de hoje conservam sua importncia como lubrificantes na

    usinagem de metais. Entretanto, devido complexidade e requisitos especiais da

    nova gerao de fluidos de usinagem, tais como EP e resistncia corroso, esses

    leos e gorduras necessitam ser modificados ou compostos.

    Os leos solveis no se dissolvem de fato, na verdade, eles so,

    fundamentalmente, misturas de leos minerais com emulsificantes, sendo que,

    quando a mistura adicionada e misturada com a gua ocorre uma disperso de

    gotculas oleosas na fase aquosa, produzindo uma emulso leo em gua (EL

    BARADIE, 1996).

  • 19

    Segundo Runge e Duarte (1990), os fluidos de corte solveis, em geral, so

    compostos de emulgadores, acopladores, materiais anticorrosivos, biocidas, aromas

    e corantes, antiespumantes, enxofre como agente de extrema presso, fsforo como

    aditivo antidesgaste, clcio, matrias graxas, combinaes de aditivos antidesgaste

    e extrema presso e classificam-se quanto ao tipo e aparncia.

    Segundo El Baradie (1996), devido ao seu alto calor especfico, sua alta

    condutividade trmica e seu alto calor de vaporizao, a gua um dos mais

    efetivos meios refrigerantes conhecidos. Sendo assim, misturados com a gua, os

    fluidos solveis em gua suprem a combinao de refrigerao e lubrificao

    moderada requerida pelas operaes para remoo de metal que so conduzidas a

    altas velocidades e baixas presses de corte e acompanhadas por considerada

    gerao de calor.

    De acordo com El Baradie (1996), os fluidos solveis em gua podem ser

    classificados, conforme mostra a Figura 1, em leos emulsificveis (leos solveis),

    fluidos qumicos (sintticos) e fluidos semi-qumicos (semi-sintticos).

    A figura 1 demonstra esquematicamente a classificao principal dos fluidos

    solveis em gua e os tipos derivados de cada classe, os quais sero tratados nos

    prximos itens.

    Figura 1 - Classificao dos fluidos solveis em gua (EL BARADIE, 1996; adaptada).

    FLUIDOS SOLVEIS

    LEOSEMULSIFICVEIS

    FLUIDOS SEMI-QUMICOS(SEMI-SINTTICOS)

    FLUIDOS QUMICOS(SINTTICOS)

    leo solveldo tipo claro

    leo solvel geral

    leo graxo

    leo solvel EP

    Soluesverdadeiras

    Soluestensoativas

  • 20

    2.3.2.1 leos Emulsificveis ou Emulses

    Uma emulso uma suspenso de gotculas de leo em gua produzidas por

    uma mistura de leo com agentes emulsificantes e outros materiais (EL BARADIE,

    1996; SILLIMAN, 1992).

    Segundo Runge e Duarte (1990), as emulses so suspenses formadas por

    gotas de leo mineral em gua, sendo que esta mistura facilitada pela ao dos

    agentes emulgadores5, e acopladores6.

    Segundo El Baradie (1996), esses emulsificantes quebram o leo em

    minsculas partculas e as mantm dispersas na gua por longos perodos.

    Conforme Runge e Duarte (1990), os emulgadores so necessrios por que a

    estabilizao das emulses de leo solvel depende de materiais tensoativos, que

    fornecem superfcie de cada gotcula de leo uma carga negativa para a sua

    disperso na gua, sendo que, as cargas eltricas iguais em todas as gotculas so

    responsveis pela repulso entre as mesmas e pela estabilidade da emulso,

    evitando a coalescncia, isto , evitando a unio das gotculas de leo e separao

    da fase oleosa da aquosa. .

    Qualquer fenmeno que influa sobre essas cargas eltricas resultar em

    instabilidade das emulses (RUNGE E DUARTE, 1990), sendo que, segundo

    Bataller et al (2004), a separao em duas fases, mesmo que por um pequeno

    tempo, restringir o uso da emulso como fluido de corte por que ter sua

    capacidade de lubrificao reduzida.

    Segundo Bataller et al (2004), o fluido de corte concentrado comercial,

    geralmente, contm uma mistura de surfactantes7 aninicos e no-inicos, sendo

    que, as misturas surfactantes aumentam a capacidade de solubilizao dos

    surfactantes e em alguns casos pode facilitar a formao espontnea de uma

    emulso quando o sistema colocado em contato com a gua, uma vez que a

    presena de um surfactante aninico em uma mistura surfactante fornece carga

    negativa para as gotculas de leo da emulso.

    5 Emulgadores so tensoativos polares que agem como dispersantes, uma vez que reduzem a tensosuperficial e formam uma pelcula monocelular relativamente estvel na interface leo / gua, sendoos sabes de cidos graxos, as gorduras sulfatadas, os sulfonatos de petrleo e os emulgadores no-inicos os principais tipos utilizados (RUNGE E DUARTE, 1990).6 Acopladores so solventes mtuos, que agem acoplando o leo mineral ao emulgador e tambmcompatibilizando o leo acabado com a gua, sendo exemplos de acopladores modernos os lcooissintticos e em desuso os fenlicos, por que so nocivos sade (RUNGE E DUARTE, 1990).

  • 21

    De acordo com Silliman (1992), a adio de leos graxos (animal ou vegetal)

    ou outros steres, produzem emulses supergordurosas de enorme valor lubrificante

    e a adio de enxofre, cloro ou fsforo produz fluido com valor lubrificante maior

    ainda, os quais so chamados de emulses de extrema presso.

    Segundo El Baradie (1996), as emulses combinam as propriedades

    lubrificantes e no corrosivas do leo com as excelentes propriedades refrigerantes

    da gua, sendo que, a corroso e a contaminao que ocorrem devido presena

    da gua so controladas pela ao dos aditivos anticorrosivos e bactericidas

    respectivamente.

    Quanto utilizao de biocidas, conforme Rossmoore e Rossmoore (1996),

    observa-se, inicialmente nos Estados Unidos, a partir dos anos 70, que severas

    restries foram impostas a uma grande quantidade de compostos orgnicos e

    inorgnicos, potencialmente txicos, incluindo os compostos base de fenol e seus

    derivados, limitando-os a um residual de 50 ppb no descarte final, o que requer

    ateno especial na seleo dos bactericidas.

    Segundo Bartz (2001), os fluidos de corte miscveis em gua apresentavam,

    at pouco tempo atrs, em sua formulao, componentes tais como: Nitrosaminas

    (N-nitrodietanolaminas), formaldedos, substncias orgnicas contendo parafinas

    cloradas e bifenis policlorados, substncias orgnicas contendo fsforo,

    hidrocarbonetos aromticos policclicos (benzo(a)pireno), substncias contendo boro

    e chumbo etc., os quais foram categorizados como substncias problemticas para a

    sade e o meio ambiente, sendo ento removidas e /ou substitudas ao longo do

    tempo.

    Importante ressaltar que, segundo Bartz (2001), todas essas remoes e

    substituies devem ser realizadas com vistas meta de no afetar adversamente a

    desempenho dos fluidos de usinagem.

    Conforme Bataller et al (2004), as emulses, usualmente, so obtidas pela

    diluio de um fluido de corte concentrado em gua, nas concentraes adequadas

    para cada tipo de operao de usinagem, sendo que, para facilitar o uso, esse

    concentrado deve ser estvel, no viscoso e apresentar uma aparncia monofsica.

    7 Surfactantes so substncias com propriedades tensoativas, isto , que possuem o poder de seconcentrar na superfcie de um lquido ou na interface de dois lquidos imiscveis (...,).

  • 22

    Os fabricantes de fluidos de corte fornecem leos emulsionveis para o

    usurio misturar com a gua. Esta mistura pode variar de 1:100 at 1:5 partes de

    leo para gua.

    Conforme apresentado na figura 1, segundo El Baradie (1996), os quatros

    (04) tipos principais de leos emulsionveis so:

    Tipo geral: so fluidos leitosos com gotculas de 0,005 mm a 0,2 mm de

    dimetro, sendo comumente utilizados em diluies de 1:10 a 1:40, sendo

    empregados em processos de usinagem geral.

    Tipo claro ou translcido: contm menos leo, com maiores propores de

    inibidores de corroso e consideravelmente maiores quantidades de emulsificantes

    do que as emulses leitosas. Consistem de uma disperso de leo com minsculas

    gotculas de leo as quais so mais amplamente distribudas e uma vez que h

    menos disperso da luz transmitida, o fluido menos opaco e o resultado um

    lquido translcido. Esses leos geralmente so empregados em operaes de

    retificao ou em servios leves de usinagem.

    leos graxos emulsificveis (solveis): so compostos por leos graxos de

    origem animal ou vegetal ou outros steres adicionados aos leos minerais para

    fornecer um tipo de fluido com propriedades lubrificantes intensificadas.

    leos emulsificveis com EP (Efeitos de Extrema Presso): esses leos

    contm enxofre, cloro ou fsforo para melhorar a eficincia da lubrificao. Esses

    fluidos so comumente indicados para as operaes mais pesadas, onde a

    capacidade de lubrificao dos leos emulsificveis e as propriedades de

    refrigerao dos leos de corte so inadequadas.

    De acordo com El Baradie (1996), as emulses com propriedades

    lubrificantes so mais eficientemente empregadas em operaes de corte com alta

    velocidade e baixa presso acompanhada por considervel gerao de calor. Elas

    podem ser utilizadas para praticamente todas as operaes de corte leves e

    moderadas, assim como, na maioria das operaes pesadas, exceto aquelas que

    envolvem materiais extremamente difceis para usinar.

    2.3.2.2 Fluidos qumicos ou sintticos

    De acordo com Rios (2002), os fluidos qumicos ou fluidos sintticos, que

    tambm so chamados de solues verdadeiras, so totalmente isentas de leo de

  • 23

    qualquer natureza, seja animal, mineral ou vegetal, sendo que, este tipo de fluido de

    corte miscvel com a gua, ou seja, uma vez misturados impossvel separ-los.

    Os fluidos qumicos ou sintticos so solues qumicas constitudas de

    substncias, inorgnicas e/ou outros materiais, dissolvidas em gua e que no

    contm leo mineral, sendo que, todos so refrigerantes e alguns so tambm

    lubrificantes (EL BARADIE, 1996).

    RUNGE e DUARTE (1990), posicionam estes fluidos na categoria solues

    dentro do tipo fluidos de cortes solveis em gua.

    Segundo Silliman (1992), El Baradie (1996), esses fluidos podem conter

    materiais inorgnicos tais como: boratos, molibdatos e fosfatos, para fins de inibio

    da corroso e reduo da dureza da gua e substncias orgnicas tais como:

    aminas e amidas, para proteo suplementar anticorroso, sabes e agentes

    umectantes, com a finalidade melhorar a lubrificao e reduzir a tenso superficial.

    Acrescentam ainda que lcoois complexos so comumente utilizados como agentes

    umectantes, assim como, compostos de cloro, fsforo e compostos de enxofre para

    lubrificao qumica e os germicidas, para controlar o crescimento de bactrias.

    Segundo El Baradie (1996), o uso de fluidos contendo nitritos podem

    representar um perigo e estavam sob reviso nos Estados Unidos da Amrica pelo

    Instituto Nacional de Sade e Segurana Ocupacional (NIOSH, sigla em ingls) e de

    acordo com Runge e Duarte (1990), foi provada a presena, em fluidos de corte

    solveis contendo nitritos e alcanolaminas, a presena de n-nitrosodietanolamina,

    material sob suspeita de ser cancergeno.

    SILLIMANN (1992), EL BARADIE (1996) e MOBIL OIL (1983 apud QUEIROZ,

    2001), classificam os fluidos qumicos em dois (02) grupos gerais, quais sejam: tipo

    soluo verdadeira (sem agente umectante) e tipo soluo tensoativa (com agente

    umectante).

    2.3.2.2.1 Tipo solues verdadeiras

    As solues verdadeiras, isto , sem agentes umectantes, tambm so

    chamadas de solues qumicas ou fluidos qumicos para retificao, sendo

    constitudas de inibidores de corroso, agentes sequestrantes, aminas, fosfatos,

    boratos, glicis ou xidos de etileno ou de propileno condensados. Alguns destes

    fluidos contm inibidores de corroso altamente desenvolvidos, tais como, nitrito de

    sdio para ferro fundido, trietanolamina para ferro fundido e ao e o

  • 24

    mercaptobenzothiazole de sdio para reduo da corroso no lato, zinco e alumnio

    (EL BARADIE, 1996).

    Segundo Silliman (1992), o grupo de fluidos qumicos sem agentes

    umectantes, usualmente, no apresentam boa capacidade lubrificante e muitas

    deixam depsitos cristalinos produzidos pela evaporao da gua, o que,

    eventualmente, interfere no funcionamento da mquina. Entretanto, segundo Runge

    e Duarte (1990), oferecem boa proteo anticorrosiva e boa refrigerao, sendo,

    geralmente, usados como fluidos para retificao de desbaste.

    As solues verdadeiras so usadas com diluies de at 1:50, quando se

    busca que entre suas funes predomine a preveno da corroso, ou, at 1:100

    nas operaes de usinagem onde se deseja que predomine uma alta refrigerao e

    uma ao preventiva moderada contra a corroso (QUEIROZ, 2001).

    As solues verdadeiras tm aparncia clara, mas, freqentemente, so

    oferecidas coloridas para indicar sua presena na gua (EL BARADIE, 1996).

    2.3.2.2.2 Tipo solues tensoativas (com agente umectante)

    Segundo Silliman (1992), as solues tensoativas com agentes umectante e

    lubrificante apresentam baixa tenso superficial e boas propriedades anticorrosivas.

    De acordo com el Baradie (1996), os fluidos qumicos do tipo tensoativos so

    solues coloidais compostas de substncias orgnicas e inorgnicas dissolvidas na

    gua com agentes umectantes, isto , com aditivos tensoativos, sendo que, estes

    agentes umectantes melhoram a ao umectante da gua e promovem maior

    uniformidade tanto da dissipao do calor quanto da ao anticorrosiva.

    Os agentes umectantes permitem que o fluido se espalhe mais eficientemente

    sobre as superfcies metlicas, aumentando as suas propriedades de refrigerao e

    mesmo no contendo leo, a lubrificao qumica proporcionada pelos agentes

    umectantes proporciona suficiente poder lubrificante para operaes de severidade

    moderada de corte. (RUNGE E DUARTE, 1990).

    O aumento da quantidade e a melhora na distribuio dos concentrados

    produzem solues que variam de cores claras a transparentes, at totalmente

    opacas. O percentual de diluio pode ser de uma parte de concentrado para 10 a

    40 partes de gua.

    Segundo El Baradie (1996), as solues tensoativas EP possuem

    caractersticas similares s solues tensoativas com agentes umectantes, porm,

  • 25

    contm aditivos que conferem propriedades de extrema presso, tais como, enxofre,

    cloro e fsforo melhorando as propriedades lubrificantes.

    Segundo Queiroz (2001), as solues tensoativas possuem excelente

    capacidade de refrigerao, boas umectao, boa proteo anticorrosiva e sofrem

    menos a ao de microorganismos, mantendo um pH mais estvel, sendo,

    normalmente utilizadas em operaes de retificao, mas, tambm, podem ser

    empregadas em outras operaes de alta velocidade de corte e foras de corte

    reduzidas.

    Apesar de seu grande uso, hoje, na indstria, sabe-se que as mesmas

    possuem uma srie de inconvenientes: so mais caras do que as emulses

    convencionais; sua alta estabilidade cria problemas de descarte e de determinao

    de sua concentrao; tendem a concentrar-se com o uso; sua forte ao detergente

    tende a desengraxar ou eliminar o leo lubrificante de vrias partes das mquinas

    (QUEIROZ, 2001).

    Segundo Rios (2002), os fluidos sintticos so facilmente removveis das

    peas, no exigindo nenhum tipo de sistema desengraxante mais complexo.

    2.3.2.3 Fluidos semi-sintticos

    Segundo El Baradie (1996), os fluidos semi-qumicos ou semi-sintticos so

    essencialmente, uma combinao de fluidos qumicos e leos solveis em gua,

    sendo que, esses fluidos, atualmente, so emulses qumicas que contm somente

    uma pequena quantidade de leo mineral emulsificvel, cerca de 5 a 30% de fluido

    bsico, o qual adicionado para formar uma soluo translcida estvel. Desde que

    os usuais aditivos EP possam ser incorporados, o desempenho da lubrificao pode

    ser variado para permitir o uso desses fluidos tanto para servios de usinagem

    moderados quanto pesados e aplicaes de retificao. Os fluidos semi-qumicos

    combinam as melhores qualidades dos fluidos qumicos e dos leos emulsificveis.

    As vantagens e limitaes so similares quelas descritas para os fluidos qumicos,

    exceto que, os fluidos semi-qumicos apresentam melhores propriedades

    lubrificantes do que os fluidos qumicos. A aparncia desses fluidos clara e

    apresentam melhor controle da corroso e rancidificao do que os leos

    emulsificveis.

    Segundo Runge e Duarte (1990), os fluidos semi-sintticos apresentam um

    teor de leo mineral menor que os leos solveis (menos de 50% no fluido

  • 26

    concentrado). Possuem alto teor de emulgadores, e, conseqentemente, formam

    glbulos de leo menores, o que resulta em emulses translcidas ou transparentes

    o que faz com que, freqentemente, sejam confundidas com as solues. Este tipo

    de fluido apresenta boas propriedades de umectao e de lubrificao e baixo

    potencial de corroso e de ataque bacteriano. Geralmente possuem suficiente poder

    lubrificante para aplicaes moderadas a pesadas. Com melhores propriedades de

    umectao que os leos solveis convencionais, permitem mais altas velocidades e

    avanos. Possuem usualmente propriedades de decantao e de limpeza (devido ao

    mais alto teor de detergentes) do que os leos solveis convencionais, contribuindo

    assim, para mais longa vida til nos sistemas de refrigerao. Devido ao baixo teor

    de leo no fumaceiam e acarreta menor formao de nvoas.

    Segundo Queiroz (2001), os fluidos semi-sintticos so concebidos para

    atender s exigncias tanto de uma boa refrigerao como de uma razovel

    lubrificao. Basicamente, resultam da combinao dos fluidos sintticos e das

    emulses, com o acrscimo das seguintes caractersticas: Menor teor de leo

    mineral (p. ex: 10 a 45%) do que quando comparado s emulses. Menor teor de

    emulsificadores ou substncias tensoativas. So durveis e resistentes aos

    microorganismos com a vantagem de no possurem o inconveniente potencial

    corrosivo dos fluidos sintticos ou os problemas de estabilidade das emulses.

    2.3.3 Gases como fludos de corte

    Segundo El Baradie (1996), os lubrificantes gasosos parecem muito atrativos

    quando a penetrao do fluido de corte um problema a ser considerado e o ar tem

    sido utilizado na usinagem a seco, assim como, gases tais como o Argnio, Helio e o

    Nitrognio so algumas vezes utilizados para prevenir a oxidao da pea e dos

    cavacos, mas os altos custos, geralmente, inviabilizam economicamente sua

    aplicao em produo.

    Pahlitzsch (1951 apud Shaw, 1984) detectou sensveis melhoras na vida da

    ferramenta de corte testando o dixido de carbono e o nitrognio e concluiu que esta

    melhoria seria devida ao efeito da excluso do oxignio. Simon (1992), por sua vez,

    relatou que o uso desses fluidos pode ser econmico na reduo do desgaste de

    ferramentas de carbono na usinagem de ligas de titnio e outros materiais.

    Segundo Silva, Bianchi e Oliveira (2005), gases como o CO2, os quais

    possuem ponto de ebulio abaixo da temperatura ambiente, podem ser

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    comprimidos e injetados na regio de corte promovendo sua refrigerao, entretanto,

    grandes gradientes trmicos devem ser evitados, visando impedir distores nas

    peas, surgimento de tenses residuais etc.

    De acordo com Alves (2005), a vantagem da utilizao de gases inertes para

    fins de refrigerao reside no fato destes possibilitarem um aumento do poder

    refrigerante na regio de corte, ausncia de contaminao da pea e dos cavacos,

    alm de permitirem uma visualizao mais clara da regio de corte.

    Considerando que as operaes de corte so foco de ateno para a

    proteo do meio ambiente, Liu et al. (2004), apresentaram um experimento cujos

    resultados demonstraram que utilizando vapor dgua como refrigerante e

    lubrificante, comparativamente com o corte a seco, ar comprimido e fluido de corte

    emulsificvel, consegue-se, entre outras, melhorias tais como: a reduo das foras

    de corte, do coeficiente de frico, do coeficiente de deformao do cavaco, da

    temperatura de corte, alm de ter as vantagens de ser barato, livre de poluio e

    no necessitar de descarte ou reciclagem, o que demonstra ser uma tcnica de corte

    verde, isto , trata-se de uma boa prtica ambiental.

    Segundo Stanford, Lister e Kibble (2007), estudos e pesquisas esto sendo

    empreendidos com o objetivo de reduzir ou at mesmo eliminar totalmente a

    dependncia dos fluidos de corte, sendo que, um ambiente de corte rico em

    nitrognio demonstrou oferecer uma significativa melhoria para a vida de ferramenta

    e pode, agora, ser considerado como uma alternativa limpa para os fluidos de corte

    convencionais.

    2.3.4 Pasta e lubrificantes slidos

    Segundo Silva, Bianchi e Oliveira (2005), dentre as pastas e lubrificantes

    slidos, existem aqueles que so aplicados manualmente sobre a pea e na

    ferramenta em operaes de mandrilhamento e, em alguns casos, rebolos so

    impregnados com lubrificantes slidos, durante o processo de fabricao, sendo

    que, os lubrificantes slidos mais utilizados para operaes de elevada severidade

    so a grafite, o bissulfeto de molibdnio, alguns tipos de pastas, sabes e ceras.

    Considerando que o fluido de corte a principal fonte poluio em processos

    de usinagem, Reddy e Rao (2005), investigaram o papel do lubrificante slido como

    uma tecnologia ambientalmente limpa para alcanar o desejvel controle da

    temperatura durante o corte. Em sua experincia utilizaram grafite e bissulfeto de

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    molibdnio para a usinagem com ao AISI 1045, utilizando ferramentas de diferentes

    geometrias, sendo que, os resultados indicaram que h uma considervel melhoria

    no desempenho do processo quando comparado com a aplicao do fluido de corte

    convencional. A utilizao dos lubrificantes slidos demonstrou ser bem sucedida na

    reduo das foras de corte e da energia especfica, no acabamento da superfcie e

    no tamanho dos cavacos, sendo que, a experincia revelou tambm que a frico

    entre a pea e a ferramenta reduziu significativamente ao se utilizar o bissulfeto de

    molibdnio quando comparado com a grafite e o fluido convencional. Entretanto,

    apesar do sucesso obtido na lubrificao, recomendam ateno e maiores estudos

    quanto aos quesitos relaci