Bocage

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COLÉGIO GIORDANO BRUNO______________ Assunto: Matéria: Literatura Professor: Sinei Sales Trimestre: 1º Data: Ano/Série: 2ºEM Nome: Lá, quando em mim perder a humanidade Mais um daqueles que não fazem falta, Verbi-gratia o teólogo, o peralta, Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade; Não quero funeral comunidade, Que engrole sub-venites em voz alta; Pingados gatarrões, gente de malta, Eu também vos dispenso a caridade; Mas quando ferrugenta enxada idosa Sepulcro me cavar em ermo outeiro, Lavre-me este epitáfio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”. (Bocage) ***************************** Tu, Goa, in illo tempore cidade, Sempre tens habitantes de bom lote! Não receiam que a cor se lhes desbote, Privilégio da mista qualidade: Nenhuma há, que não conte, e sem vaidade, Que seu primeiro avô, brutal Quixote, Dera no padre Adão com um chicote Por lhe haver disputado a antiguidade: Diz-nos esta república de loucos Que o cofre de Marata é ninharia, Que do grão-Turco os réditos são poucos: Mas em casando as filhas, quem diria Que o dote consistisse em quatro cocos, Um cafre, dez bajus, e a senhoria! (Elmano Sadino) ********************** Já Bocage não sou!... À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura: Conheço agora já quão vã figura Em prosa e verso fez meu louco intento; Musa!... Tivera algum merecimento Se um raio da razão seguisse pura!

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Poemas do pota árcade

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Page 1: Bocage

COLÉGIO GIORDANO BRUNO______________

Assunto:

Matéria: Literatura Professor: Sinei Sales

Trimestre: 1º Data: Ano/Série: 2ºEM

Nome:

Lá, quando em mim perder a humanidadeMais um daqueles que não fazem falta,Verbi-gratia o teólogo, o peralta,Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade;

Não quero funeral comunidade,Que engrole sub-venites em voz alta;Pingados gatarrões, gente de malta,Eu também vos dispenso a caridade;

Mas quando ferrugenta enxada idosaSepulcro me cavar em ermo outeiro,Lavre-me este epitáfio mão piedosa:

“Aqui dorme Bocage, o putanheiro;Passou vida folgada e milagrosa;Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.

(Bocage)

*****************************

Tu, Goa, in illo tempore cidade,Sempre tens habitantes de bom lote!Não receiam que a cor se lhes desbote,Privilégio da mista qualidade:

Nenhuma há, que não conte, e sem vaidade,Que seu primeiro avô, brutal Quixote,

Dera no padre Adão com um chicotePor lhe haver disputado a antiguidade:

Diz-nos esta república de loucosQue o cofre de Marata é ninharia,Que do grão-Turco os réditos são poucos:

Mas em casando as filhas, quem diriaQue o dote consistisse em quatro cocos,Um cafre, dez bajus, e a senhoria!

(Elmano Sadino)

**********************

Já Bocage não sou!... À cova escuraMeu estro vai parar desfeito em vento...Eu aos Céus ultrajei! O meu tormentoLeve me torne sempre a terra dura:

Conheço agora já quão vã figuraEm prosa e verso fez meu louco intento;Musa!... Tivera algum merecimentoSe um raio da razão seguisse pura!

Eu me arrependo; a língua quase friaBrade em alto pregão à mocidade,Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidadeManchei!... Oh! Se me creste, gente impia,Rasga meus versos, crê na eternidade! 

(Bocage)

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Meu ser evaporei na lida insanaDo tropel das paixões, que me arrastava;Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhavaEm mim quase imortal a essência humana: 

De que inúmeros sóis a mente ufanaExistência falaz me não dourava!Mas eis sucumbe Natureza escravaAo mal, que a vida em sua orgia dana. 

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!Esta alma, que sedenta em si não coube,No abismo vos sumiu dos desenganos: 

Deus, oh Deus!... Quando a morte à luz me roubeGanhe um momento o que perderam anos,Saiba morrer o que viver não soube. 

Page 2: Bocage

COLÉGIO GIORDANO BRUNO______________

Arreitada donzela em fofo leito,

Deixando erguer a virginal camisa,

Sobre as roliças coxas se divisa

Entre sombras sutis pachacho estreito:

De louro pêlo um círculo imperfeito

Os papudos beicinhos lhe matiza;

E a branca crica, nacarada e lisa,

Em pingos verte alvo licor desfeito:

A voraz porra as guelras encrespando

Arruma a focinheira, e entre gemidos

A moça treme, os olhos requebrados:

Como é inda boçal, perde os sentidos;

Porém vai com tal ânsia trabalhando,

Que os homens é que vêm a ser fodidos.

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É pau, é rei dos paus, não marmeleiro,

Bem que duas gamboas lhe lobrigo;

Dá leite, sem ser árvore de figo,

Da glande o fruto tem, sem se sobreiro:

Verga, e não quebra, como zambujeiro;

Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;

Branco às vezes, qual vime, está consigo;

Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja;

Todo o resto do tronco é calvo e nu;

Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um V;

Adivinhem agora que pau seja,

E quem adivinhar meta-o no cu.