BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO...

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BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIO ficha Aqui se aficha notícia da exposição de desenhos de Mário Dionísio, aquela que ele nem sonhou. Nem nós. Mas há mais: é só folhear.

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B O L E T I M   D A   C A S A   D A   A C H A DA - C E N T R O   M Á R I O   D I O N Í S I O

ficha

Aqui se aficha notíciada exposição

de desenhos de MárioDionísio, aquela queele nem sonhou. Nemnós. Mas há mais: é só

folhear.

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1. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO

A correspondência literária e pessoal deMário Dionísio e de Maria Letícia (cerca de4000 cartas, cartões, postais, telegramas) con-tinua a ser tratada. Uma parte significativa jáse encontra inserida numa base de dados, deforma a ser mais facilmente consultada. Também estão digitalizados e acessíveis porcomputador a quase totalidade dos Recortesde imprensa – do Autor e sobre o Autor (Ri--DA e Ri-SA) .Em breve, os originais de Mário Dionísiocomeçarão a ser digitalizados. A biblioteca MD-ML e o arquivo têm sidoregularmente utilizados por uma mestrandade História de Arte da UNL que se encontraa preparar um trabalho sobre o pensamentoteórico de Mário Dionísio.Também Paula Ribeiro Lobo, curadora da ex-posição «Sonhar com as mãos – o desenhona obra de Mário Dionísio», usou o arquivo ea biblioteca durante vários meses.No sentido de divulgar junto das Universi-dades o que pode ser encontrado no Centrode Documentação e a forma como se en-contra organizado, convocámos um encontrono dia 18 de Maio, tendo convidado a estarpresentes cerca de 100 docentes das áreasda Literatura, da Arte, do Comparatismo, daPedagogia e dos estudos feministas. Dasvárias Universidades e institutos de todo opaís. infelizmente só sete (da literatura e dapedagogia) compareceram – Lisboa e Se-túbal. Lembramos que a catalogação desta biblio-teca pode ser consultada através da nossapágina. É só procurar.

2. ESPóLIO ARTÍSTICO

Foram emoldurados mais quadros de MárioDionísio com vista a figurarem em futuras ex-posições. Técnicas do Departamento de Conservaçãoe Restauro da Faculdade de Ciências e Tec-nologia da Universidade Nova de Lisboa(Sílvia Sequeira, Laura Moura, ajudadas porAna Catarina Gonçalves) começaram a trataros desenhos de Mário Dionísio. Todos os blo-cos de desenho (incluindo o dos desenhosinfantis), além de muitos desenhos e estudossoltos de várias dimensões (incluindo as ma-quetas do mural para o café «La Gare») já seencontram acondicionados em capilhas deforma a poderem ser consultados e figu-rarem, parte deles, na exposição «Sonharcom as mãos – o desenho na obra de MárioDionísio», patente na Casa da Achada-Cen-tro Mário Dionísio entre 29 de Setembro de2011 e 20 de Abril de 2012, com curadoriade Paula Ribeiro Lobo da Universidade Novade Lisboa.

Estes trabalhos realizaram-se graças ao tra-balho voluntário da curadora da exposição,o apoio da FCT da UNL, e também do AHU,onde o trabalho de conservação está a serrealizado. É porém de salientar um impor-tante donativo da Fundação Montepio.A DGArtes não atribuiu o apoio que lhetinha sido pedido para o mesmo fim. Os próximos passos serão o restauro eemolduramento de quadros a óleo de MárioDionísio – nomeadamente os anteriores a1947, que em parte se encontram desen-gradados e alguns muito deteriorados – e aconservação (e, em poucos casos, restauro)de obras de pintura e desenho de outrosartistas que lhe foram oferecidas pelos au-tores.

3. EXPOSIÇÕES

A exposição MÁRIO DIONÍSIO – VIDAE OBRA, composta por painéis cronológi-cos, fotografias, documentos, livros, dese-nhos, pinturas (patentes em 10 vitrinas, 8 dasquais cedidas pela Fundação Gulbenkian) es-teve patente entre 25 de Abril e 25 de Se-tembro. Na altura da inauguração, muito concorrida,foi lançado o livro MÁRIO DIONÍSIO –  VIDAE OBRA (col. Mário Dionísio n.º 4), que fun-cionou como Catálogo. Esta edição contacom textos originais de António Pedro Pita,Cristina Almeida Ribeiro, João Madeira, JorgeSilva Melo, Luis Trindade, Maria Alzira Seixo,Manuel Gusmão, Nuno Júdice, Regina Gui-marães, Rocha de Sousa, Rui Canário e Sa-guenail.Feitas as contas, as visitas à exposição foramcerca de 500. Mas teve muitos mais visi-tantes, se contarmos os que se deslocaramà Casa da Achada para assistir ou participarem sessões (cinema, palestras, oficinas, etc.)e na Feira…Eduarda Dionísio guiou 4 visitas, algumasdelas com inúmeros visitantes. Em Outubro, os painéis, acompanhados poralguns documentos digitalizados, começarãoa circular por escolas, associções, institui-ções que os requisitem. A Escola Secundáriade Camões – ex-Liceu Camões onde MárioDionísio foi professor durante 20 anos –será o primeiro local. Há mais alguns pedi-dos. Quem estiver interessado, poderá con-tactar a Casa da Achada.

No dia em que é publicada esta FiCHA 3,inaugura-se a exposição SONHAR COMAS  MÃOS  –  o  desenho  na  obra  deMário Dionísio. São 90 desenhos de MárioDionísio (e 3 retratos dele desenhados poroutros pintores), seleccionados entre o acervo conservado na Casa da Achada erestaurados para a exposição. A primeira visita guiada será assegurada porPaula Ribeiro Lobo no dia 1 de Outubro às16h.

Outras pequenas exposições-relâmpagotiveram lugar em ocasiões particulares. Nodia da sessão ITINERÁRIOS 8 E 9 com Gian-

LUVAS DE RENDA PARA A ACHADA

A localização da nossa sede leva-nos a daruma particular atenção ao larguinho da Acha-da, com seus becos e ruas confluentes – e aoplano ou planos que diversas entidades têmgizado para a «reabilitação» da zona. As as-pas aqui colocadas indiciam desde logo umadúvida e um susto, temores que bem gosta-remos de ver desvanecidos.Até por via dos nossos estatutos, cremos teruma palavrinha a dizer sobre o assunto.No essencial, somos pela preservação datipologia do lugar, que mantém característi-cas medievais bem patentes em alguns dosedifícios bordejantes. Tal preservação obrigaà manutenção do acentuado declive em an-fiteatro que rodeia, em escadinhas, o chafarize, tanto quanto possível, também ao aprovei-tamento do empedrado, aceitando-se em-bora as necessárias correcções de nivela-mento. No demais e logo à cabeça é impe-rioso vedar-se o largo ao parqueamento deautomóveis, assim o devolvendo ao uso queas pessoas dele queiram fazer – uso que nós,nesta Casa, já temos feito: feiras, espectácu-los de fantoches e sessões de canto pelonosso Coro.Haverá que cuidar igualmente da escolha adequada do arvoredo (porque não o loureiroque deu e dá nome ao chão próximo?),procurando salvar, se for caso disso, a únicaárvore de porte ali existente. E pouco maishaverá a dizer de momento, a não ser o se-guinte: há que respeitar integralmente o cha-mado «espírito do lugar». Manipulá-lo, sómesmo com luvas de renda. Cultura semsensibilidade não é coisa nenhuma.

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Igreja de S. Cristóvão, óleo de Carlos Botelho, 1937

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franco Azzali e Giuseppe Morandi ( Jun.)mostrámos, em pequeno formato, ao longodo terraço experior QUEM TRABALHA A

TERRA NA BAIXA PADANA – fotografias deGiuseppe Morandi. No dia da sessão AMIGOSDE MÁRIO DIONÍSIO 3: MARIA KEIL (Jun.),parte da exposição ROUPA A SECAR NO

BAIRRO ALTO – fotografias e desenhos deMaria Keil. No dia da sessão ITINERÁRIOS 10,com Henrique Espírito Santo (Ago.), materi-ais do Cineclube imagem. Durante a sessãoAMIGOS DE MÁRIO DIONÍSIO 4:  ALVES RE-DOL (Set.), livros e documentos vários exis-tentes no Centro de Documentação rela-cionados com o romancista. Também estiveram em exposição os resulta-dos de algumas oficinas: fotografia pinhole,gravura, fantoches.

4. EDIÇÕES

A Colecção Mário Dionísio prosseguiu coma publicação do 5.º volume. Trata-se de umálbum de desenhos de Mário Dionísio (quasetodos desconhecidos), com um texto deanálise introdutório de Paula Ribeiro Lobo,alguns textos inéditos de Mário Dionísio, ex-traídos dos seus diários, sobre desenho e pin-tura (e suas relações), uma pequena cronologiae uma bibliografia (livros e textos de MárioDionísio sobre artes plásticas). Este livro, queacompanha a exposição, tem o mesmo títuloda exposição. Como nos restantes volumesda colecção, a capa é de Cristina Reis, umadas fundadoras da Casa da Achada.Estão em preparação mais dois volumes: umque reunirá os textos de Mário Dionísiosobre ensino e outro os seus prefácios alivros de poesia e prosa de outros escritores(Alves Redol, Manuel da Fonseca, José GomesFerreira, Carlos de Oliveira, José CardosoPires) e prefácios de catálogos de exposiçõesde pintores seus amigos (José Júlio, Júlio, JúlioResende, Sá-Nogueira, Manuel Felipe, JoãoAbel Manta, Portinari). Foram editados mais alguns postais, estescom desenhos.

5. CORO DA ACHADA 

Continuaram os ensaios à quarta-feira à noitedo Coro da Achada, formado em Junho de2009, dois meses antes da abertura ao pú-blico da Casa da Achada e composto pormais de 50 pessoas de todas as idades. Depois da publicação da FiCHA 2 (25 de Abril2011), o Coro da Achada teve as seguintesactuações públicas: na Casa da Achada, du-rante a inauguração da exposição «MárioDionísio – Vida e Obra» (25 de Abril); na Es-cola Secundária de Camões (28 de Abril),sessão em que também cantou o Coro deprofessores e alunos da escola; na Lourinhã(Associação Musical e Artística Lourinha-nense, 21 de Maio), no Festival «Cantar a di-versidade» (e no mesmo dia cantou o GrupoEtnográfico da Ucrânia – OBERiG); no Largoda Achada (16 de Julho) durante a iii Feira daAchada; no Festival de Teatro de Almada (17de Julho); em Canas de Senhorim, na Casa

O que têm em comum uma bibliotecá-ria, um lavadeiro, um taberneiro, umguarda-nocturno, um merceeiro, umactor, um professor, um poeta, uma pei-xeira e um músico desempregado? Apa-rentemente nada. Tirando o facto dequase todos serem figuras bem típicas davida portuguesa. E de se cruzarem todoscomo clientes de uma mercearia. E,claro, acabarem todos à pancada. Confu-sos? Simples: trata-se apenas de um es-pectáculo apresentado ao público porum bem engraçado bando de fantochesconstruídos e carinhosamente tratadospor um grupo de pessoas da Casa daAchada. E apresentado mais do que umavez. E com sucesso. Imagine-se a garradeste grupinho de bonecos de cores gar-ridas e personalidades bem distintas,conforme as distintas personalidades dosseus pequenos e graúdos criadores. Nas-ceram numas tardes de domingo do mêsde Novembro de 2010, das mãos e cabe-ças carinhosas de uns tantos participan-tes na Oficina de fantoches orientadapela Irena van Es. Com assistência daClara Boléo e Lena Bragança Gil e dofantástico texto de Jacques Prévert, cha-mado Guignol, onde temos um homemdo saco, gatos, ratos, cães, canários, polí-cias entre outros personagens, um pri-meiro espectáculo foi construído eapresentado ao público que passou peloFim-de-Semana diferente na Casa daAchada em Dezembro do ano passado.Sucesso sem precedentes como se deveimaginar. Há que dizer sem poupar pala-vras: a fama estava ali mesmo ao virar daesquina. Os nossos fantoches foram ra-pidamente catapultados para as luzes da

FANTOCHES DA (E NA) ACHADA:DO FABRICO À GARGALHADA 

ribalta, pelo menos no bairro onde nas-ceram.Então, enlevados por este sucesso, osfantoches pediram, exigiram mesmo,que outra oficina fosse feita e se mon-tasse uma peça de raiz, feita à medida,talento, ambição e reconhecimento,merecido diga-se de passagem, destesbonecos manipulados mas manipula-dores nas suas exigências completa-mente agradecidas e de fácil compreen-são. Face a estes acontecimentos, a direcçãodo Centro Mário Dionísio ponderou,debateu, pensou e reconheceu a neces-sidade sem precedentes de se dar luzverde à tal outra oficina. Os fantochesiam ter a sua «cena» construída de raiz,especialmente para eles. Ficou agendada para Março de 2011sob os olhares, e não só, carinhosos emuito cúmplices de Diana Dionísio,Marta Caldas e Lena Bragança Gil.

Com o título «Montar uma Cena» du-rante quatro domingos escolheram-sepersonagens, profissões, nomes, ac-ções, idiossincrasias e manias para vá-rios personagens: eram dez ao todo.Juntaram-se todos estes ingredientesnum texto com pés e cabeça (enfim, acondizer com aqueles clientes tão exi-gentes quanto afamados) mais uns pósde música original do Pedro Rodriguese cenários construídos de propósito (eoutra coisa não se esperava) para aapresentação da nova peça da trupefantocheira da Achada.Resultado: outro sucesso!!!! Ai comoeles ficaram felizes. Ai como eles u

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dos Viscondes (24 de Julho); no Largo doCarmo, na Festa da Catalunha (11 de Setem-bro). E já tem programa para Outubro... Gravou entretanto um CD com algumas dasmúsicas do seu repertório, que tem ido au-mentando, com músicas novas e velhas, eque pode ser consultado em http://letras-coroachada. blogspot.com.

6. BIBLIOTECA PÚBLICA

Estão à disposição de quem quiser, às horasde abertura da Casa da Achada, mais de 4000livros em várias línguas, arrumados por sec-ções, e exemplares de cerca de 200 publi-cações periódicas. Tudo ofertas à Casa daAchada. As principais secções: Literatura, Ar-te, Ciência, História, Filosofia, 25 de Abril. A catalogação tem continuado, com ajuda devários voluntários.Graças ao Programa BiP-ZiP da vereação dahabitação da CML, a que a Junta de Fregue-sia de São Cristóvão e São Lourenço con-correu, tendo obtido financiamento paraactividades de duas associações do bairro(Grupo Gente Nova e Casa da Achada), foipossível contratar um funcionário por 6meses, para finalizar a catalogação dos livrosexistentes e proceder à organização doserviço de empréstimos e à divulgação e di-namização da biblioteca, com orientação deNatércia Coimbra. Contamos que em breve esteja a funcionar oempréstimo domiciliário.

Todos os textos e ilustrações são mandadosde um para outros lugares, traduzidos e, senecessário, traduzidos para francês ou por-tuguês. No domingo sai em França um su-plemento num diário. Em Portugal, fazem-sebrochuras que são distribuídas na sessão deDomingo. A Leitura Furiosa 2011 de Lisboa, na Casa daAchada, contou com participantes vindos doCentro de Apoio Social dos Anjos (CASA),Centro de Dia do Socorro, Centro Social daSé, Centro de Acolhimento do ConselhoPortuguês para os Refugiados, Escola do 1.ºciclo do Castelo e Escola Secundária Gil Vi-cente.Com eles reuniram Filomena Marona Beja,Jacinto Lucas Pires, Jaime Rocha, José MárioSilva, Margarida Vale de Gato, Nuno Milagre,que a partir do encontro fizeram textos queforam ilustrados por Bárbara Assis Pacheco,José Smith Vargas, Nadine Rodrigues, NunoSaraiva, Pierre Pratt, Zé d’Almeida, lidos porAntonino Solmer, Diogo Dória, ElisabetePiecho, F. Pedro Oliveira, inês Nogueira, JoanaCraveiro, Maria Gil, Simon Frankel e TâniaGuerreiro e alguns deles musicados e canta-dos por Pedro e Diana. Na sequência desta Leitura Furiosa, iniciaramou reiniciaram grupos de leitura no CentroSocial da Sé (com Jacinto Lucas Pires e Bár-bara Assis Pacheco), no Centro de S. Cris-tóvão (com Filomena Marona Beja e PierrePratt), no Recolhimento de S. Cristóvão (comMiguel Castro Caldas e José Smith Vargas). Eestão a começar ou a recomeçar outros: naEscola do Castelo e Centro de Apoio Socialdos Anjos. Em breve, teremos edição dos pequenos tex-tos que daqui resultarem e um encontro en-tre todos os participantes na Casa da Achada.

8. III FEIRA DA ACHADA

Pela terceira vez houve a feira anual no Largoe na Rua da Achada. Este ano, no dia 16 deJulho, durante todo o dia, com comes e bebes,jogos e fotografias «à la minuta». Venderam-selivros, discos, obras de arte, objectos commarca de época, para angariação de fundos.Nesse mesmo dia, realizou-se uma das visitasguiadas à exposição «Mário Dionísio – Vida eobra», houve TEATRO DE FANTOCHES (apre-sentação pública nas Escadinha da Achada dapeça A CHAMA ETERNA NA MERCEARiA, escrita,montada e ensaiada durante as últimas ofici-nas, com fantoches feitos na primeira), e maisuma sessão de DIREIS QUE NÃO é POESIA

com Diana Dionísio, Marta Caldas, Pedro Ro-drigues e Pedro Soares. Cantou, ao fim do dia,pelas ruas e no Largo, o CORO DAACHADA.

u falavam e comentavam e contavamtudo uns aos outros na calada da noite,quando toda a animação e habitantes daCasa da Achada dormiam. Em cima daestante onde estavam em exposição,uma prateleira acima dos livros e de-baixo dos quadros daquele que dá onome a esta casa, eles queriam mais,muito mais. Adoravam aquele som ma-ravilhoso das palmas e risos das criançase adultos que iam ver as suas tropelias eaventuras em ambiente de festa. Que pú-blico! Que exaltação! Que divertimentoatrás do pano entre todos os que mani-pulavam aqueles fantoches lindos!Não se podia de jeito nenhum dormir àsombra daquele imenso sucesso. Haviaque fazer mais coisas. Ir ter com maispúblico. Chegar onde nunca antes umfantoche tinha chegado. Ser arrojado eaventureiro. Ir mais além: que tal apre-sentar um espectáculo na rua, mais pre-cisamente no Largo da Achada, berço dasua existência?E assim foi: 16 de Julho 2011, III Feirada Achada. 15 horas. Um calor abrasa-dor principalmente atrás do pano con-cebido e construído por Marta Caldas eCarla Mota, com Inês Nogueira, PedroSoares, Irene van Es, Marta Raposo,Emanuel Faustino, Youri Paiva, RossanaSilva, Rubina Oliveira e Lena BragançaGil, parceiros conspirantes na vida demais uma apresentação daqueles fanto-ches, determinados a fazer carreira nestanossa difícil cena artística que é, comose sabe, a cena portuguesa. Sem medosnem dúvidas, eles ali estavam, acompa-nhados ao vivo pelo Pedro Rodrigues. Foi giro. Foi bonito e divertimo-nos ex-traordinariamente. Tudo leva a crer queo público também se divertiu.À luz de tais factos aqui sucintamenteexpostos, perguntam os endiabrados Ro-bertos:Para quando a próxima apresentação?????!!!???? Eu concordo. Devia haver mais coisasassim na vida.

LBG

FANTOCHES

7. LEITURA FURIOSA

No dias 6, 7 e 8 de Maio realizou-se a 8.ªedição da Leitura Furiosa em Lisboa, uma ini-ciativa anual que a Casa da Achada-CentroMário Dionísio organiza pela 3.ª vez e queaconteceu este ano simultaneamente em Amiens (França) – na Associação Cardan queo imaginou e coordena –, e no Porto (Ser-ralves). infelizmente este ano não se realizouem Kinshasa que participou em anos anteri-ores. Nem em Beja, na Biblioteca Municipal,que pela primeira vez iria entrar no projecto. Trata-se de encontros anuais de escritorescom «zangados com a leitura» (frequenta-dores de Centros Sociais e de Dia, e de ou-tros lugares, alunos de escolas públicas),numa sexta-feira, que dão origem a textosque os escritores escrevem imediatamenteapós o encontro, que lêem no sábado aogrupo, que são ilustrados à vista de todospor desenhadores, e lidos, no domingo, emvoz alta por actores, alguns musicados e can-tados, numa sessão pública, de entrada livre.

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da Casa da Achada); Regina Guimarães,UMA

NOITE NA óPERA; Jorge Silva Melo, UM DIA

EM NOVA IORQUE; Filomena Marona Beja,CASA DE CHÁ NO LUAR DE AGOSTO; Edu-arda Dionísio, jONAS QUETERÁ 25 ANOS NOANO 2000; João Pedro Bénard, A REGRA DO

jOGO; João Rodrigues, BULLITT; Miguel Cas-tro Caldas, GENTE AO DOMINGO; ManuelMozos, O HOMEM SEM PASSADO. AntónioLoja Neves escolheu OUTRO PAÍS que Tré-faut apresentou. O clima não ajudou, mas es-teve sempre muito público: no espaço doterreno e pela rua fora.

11. OFICINAS AOS DOMINGOS

Aos domingos à tarde, quando não há ATLs,houve sempre oficinas, para pequenos egrandes, famílias ou não famílias: Em Abril,Sónia Gabriel e Pedro Oliveira puseram aspessoas a jUNTAR FOLHAS CHEIAS COM FIO

E COLA – uma oficina de encadernação fácil,que não teve o êxito da primeira (encader-nação a sério). Carla Mota pôs crianças eadultos a GRAVAR MAIO – uma oficina degravura e impressão cujos resultados ficaramexpostos. Em Junho, foi uma oficina deBARRO com Zé d’Almeida (girafas, tijelas). EmJulho, a pensar na Feira e na apresentaçãopública duma peça já escrita, regressámos aosfantoches: MONTAR CENAS COM FANTO-CHES, com os muitos que participaram nasanteriores oficinas de fantoches. Em Agosto,

9. CICLO A PALETA E O MUNDO II

Continuou às segundas-feiras, a leitura sema-nal de A PALETA E O MUNDO com pro-jecção dos quadros referidos e comentários,que teve início em Outubro de 2009 eacabou em Setembro de 2011.Terminada a 5.ª parte do livro, iniciou-se emMaio a leitura da 1.ª parte (actualmente es-gotada e republicada em 1963 com o títulode INTRODUÇÃO à PINTURA, edição tam-bém esgotada) que tinha sido objecto desessões mensais em 2009 e 2010.Em Outubro, começa a leitura de O ELOGiO

DA MãO e A ViDA DAS FORMAS de Henri Focil-lon, textos abundantemente referidos porMário Dionísio na sua obra. Trata-se agora doCiclo A Paleta e o Mundo III – leiturascom projecções de imagens sugeridas por APALETA E O MUNDO.

E enquanto vamos lendo e falando, pensamossempre numa nova reedição da obra.

10. CICLOS DE CINEMA

Em Abril, Maio e Junho, foi realizado, comosempre às segundas à noite, o CICLO RE-VOLTAS E REVOLUÇÕES.Em Maio: CENAS DA LUTA DE CLASSES deRobert Kramer, GESTOS E FRAGMENTOS deAlberto Seixas Santos, OS MALUCOS DE

MAIO de Louis Malle, A NOVA BABILóNIAde Grigori Kozintsev e Leonid Trauberg, AREVOLTA NA BOUNTy de Frank Lloyd (emsubstituição de HISTóRIAS DA REVOLUÇÃOde Tomas Gutierrez Alea, que não con-seguimos obter). Em Junho: OS CAMISARDOS

de René Allio, S. MIGUEL TINHA UM GALO

dos irmãos Taviani, OS INCONFIDENTES deJoaquim Pedro Andrade, jUAREz de WilliamDieterle. Apresentados por António LojaNeves, Alberto Seixas Santos, AmaranteAbramovici, Tiago Afono, João Rodrigues, Eduarda Dionísio, Gabriel Bonito, AntónioRodrigues, João Pedro Bénard.

Começou em Julho e durou três meses,como no ano passado, o CICLO DE CI-NEMA   AO AR LIVRE, no terreno emfrente da Casa da Achada. Treze pessoas – fundadores e colaboradores da Casa daAchada – escolheram e apresentaram umfilme da sua vida. Por isso o ciclo se chamouFILMES DAS NOSSAS VIDAS: SebastiãoLima Rego escolheu e apresentou CASA-BLANCA; Vítor Silva Tavares, ORFEU NEGRO;Pedro Rodrigues, QUEM TRAMOU ROGERRABBIT; Luz Moita, MIKISTHEODORAKIS (a2.ª parte foi projectada ao livre e a 1.ª, no diado aniversário de Theodorakis, no interior

mês que dizem ser de férias, foram variandoos fabricos: ilustrar (partir do texto para a ima-gem), com Eduarda Dionísio, não se realizoupor falta de participantes, mas as seguintesaconteceram, e com gente cheia de vontade etalento: FAzER COISAS COM PAPEL comEmanuel Faustino, MONOTIPIA com CarlaMota, PINTAR EM TECIDOS com irene van Es.E, já em Setembro, COM jORNAIS FAzER PA-PAGAIOS,  com Zé d’Almeida, sessão que ter-minou com uma corrida de jornais-papagaios,lançados do último andar do ex-mercado doChão do Loureiro. Seguiram-se três oficinasde ARTE POSTAL (desenhos, pinturas, cola-gens para mandar pelo correio) com JoséSmith Vargas, Diana Dionísio, Marta Caldas.

EDIÇÕES: LIVROS

SERIGRAFIAS

CD do CORO DA ACHADA

RUI-MÁRIO GONÇALVES – MÁRIO DIONÍSIO PINTORÁlbum. 64 pp. Texto de Rui-Mário Gonçalves ilustrado, 30 reproduções dequadros de Mário Dionísio de tamanho de página, cronologiailustrada. Col. Mário Dionísio 2 PVP - 14 € Aqui - 10 €

MÁRIO DIONÍSIO – ENTRE PALAVRAS E CORES – algunsdispersos (1937- 1990)54 textos de Mário Dionísio. 372 pp.Selecção e organização: Clara Boléo, Cristina Almeida Ri-beiro, Eugénia Leal, Jorge Silva Melo, Maria das Graças Mo-reira de Sá, Pedro Rodrigues, Regina Guimarães. Coordenação: Cristina Almeida Ribeiro.Col. Mário Dionísio 1Edição em parceria com Livros CotoviaApoio: Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas

PVP - 18 € Aqui - 14 €

MÁRIO DIONÍSIO – VIDA E OBRALivro-catálogo da exposição. 112 pp.Com textos de: Isabel da Nóbrega, Jorge Silva Melo, João Ma-deira, Luís Trindade, António Pedro Pita, Rui Canário, MariaAlzira Seixo, Rocha de Sousa, Regina Guimarães, Cristina Al-meida Ribeiro, Nuno Júdice, Saguenail, Manuel Gusmão, Eu-génia Leal.Col. Mário Dionísio 4

PVP - 20 € Amigos da Casa da Achada - 15 €

SONHAR COM AS MÃOS – O DESENHO NA OBRA DE MÁRIODIONÍSIOLivro-catálogo da exposição. 84 pp.Com texto introdutório de Paula Ribeiro Lobo.Col. Mário Dionísio n.º 5

PVP - 18 € Amigos da Casa da Achada - 13 €

MÁRIO DIONÍSIO – ENTREVISTAS (1945-1991)Entrevistas a Mário Dionísio e de Mário Dionísio. 350 pp.Selecção e organização: Clara Boléo, Cristina Almeida Ri-beiro, Eugénia Leal, Pedro Rodrigues, Regina Guimarães.Coordenação: Cristina Almeida Ribeiro.Col. Mário Dionísio 3

PVP - 18 € Aqui - 16 € Amigos da Casa da Achada - 14 €

FRANCISCO CASTRO RODRIGUES – UM CESTO DE CEREJAS – conversas, memórias, uma vidaOrganização, introdução e notas de Eduarda Dionísio.Volume cartonado. 200 imagens. 480 pp.Apoio: Ass. Promotora do Museu do Neo-Realismo

PVP - 22 € Aqui - 18 €

5 serigrafias a partir de desenhos de M. D. numa tiragem de 80exemplares, em co-edição com a Gesto-Cooperativa Cultural.

Preço de cada: 50€; Preço do conjunto: 200€

JÁ PUBLICADOS:

Os 100 primeiros exemplares doprimeiro CD do Coro da Achada:algumas canções do repertório,algumas letras, alguns textos,com capa especial, de fabrico ca-seiro.

Preço: 5€

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Dionísio pelos arquitectos Francisco Castro Rodrigues, José Huer-tas Lobo e João Simões, autores do projecto do café, que não che-garia a ser pintado porque a obra foi entregue a outros arquitectos.A maquete colorida (e inacabada) desse desenho, alusivo à relaçãoda actividade ferroviária com a cidade e pontuado por figuras pito-rescas de Lisboa numa composição dinâmica de formas – que ocrítico de arte Rui-Mário Gonçalves considerou de uma «concep-ção inédita em Portugal» –, daria origem cinquenta anos depois aduas reconstituições do mural no bairro da Mouraria.

Com o mesmo intuito de comunicar com todos os públicos con-cebeu Mário Dionísio os cartões para a tapeçaria Ribeira do Tejo,apresentados em 1953 na secção de artes decorativas da VII EGAP.Uma obra de figuras estilizadas e experimentadas em desenhos an-teriores (executada em 1950-52 por Maria José Taxinha), que revelanão só a influência do muralismo mexicano e brasileiro mas tam-bém de Jean Lurçat, «o mago das lãs», que anos antes entrevistouem Paris. Assim participou Mário Dionísio do «movimento para atapeçaria» que recuperou velhas tradições manuais em pleno sé-culo XX, tendência internacional que considerava historicamentejustificada e que constituía, como afirmou, «um aspecto desse vol-ver de pincéis e de ânsia de comunicabilidade para as grandes pa-redes».

mim, um papel importante na situação política portuguesa.Não inventada, mas observada e pessoalmente vivida.»

É com este sentido que os seus desenhos vão procurar traduzircontextos sociais distintos, ora representando operários, campo-neses e pescadores, ora burgueses, membros do clero, militares ouos seus próprios familiares e amigos.

Entre as representações de mulheres e homens humildes que en-contramos nas primeiras obras a carvão, datadas de 1941, surgemos retratos de Maria Letícia e um auto-retrato de Mário Dionísio,de mão no rosto, o mais antigo de vários que se preservam no seuespólio.

Esse interesse pela figura humana, aqui ainda tacteada através damancha densa e do contorno de risco intenso em poses de estáticasugestão academizante, manter-se-á ao longo do processo de aper-feiçoamento do gesto. «Só os sonhos não erguem monumentos. Sãoprecisas as mãos. Mas mãos que sintam e pensem, mãos humanas.»

SONHAR COM AS MÃOSo desenho na obra de Mário dionísio

A divulgação desta FichA 3 coincide com a abertura ao público da exposição

de desenhos de Mário Dionísio com o título acima indicado. Pela mesma altura

– 20 de Setembro – será igualmente lançado o volume que lhe servirá de catá-

logo, volume esse que contará, como peça principal, com um texto da cura-

dora da exposição Paula Ribeiro Lobo. Desse texto, de seu título «A necessi-

dade de ver claro», respigamos alguns excertos para aguçar o apetite.

Autodidacta, Mário Dionísio reteve das leituras de André Lhote um«conselho» que influenciaria toda a sua produção pictórica e grá-fica: «desenhar é preparar de antemão o lugar para a cor». Destaconcepção do desenho como meio para alcançar a pintura nuncaconseguiu libertar-se. Mesmo na fase abstracta, a mão fugia para otraço colorido e contrariava a vontade de partir para as telas comgrandes manchas de tinta: «O desenho prende-me e grande partedo esforço posterior será o de alterá-lo, disfarçá-lo, destruí-lo, esque-cer-me dele o mais depressa possível», escreveria num diário de 1983.

O processo de descoberta da pintura desenvolve-se, por conse-guinte, em estreita relação com o desenho. Do mesmo modo queaprendeu a preparar telas de serapilheira ou a fabricar tintas, tam-bém Mário Dionísio testou na sua obra gráfica vários tipos de ma-

Neo-realista «desde a hora antes do amanhecer», o seu posicio-namento não era novo. Já em 1945, numa entrevista concedida aojornal O Primeiro de Janeiro, dissera que «as novas linguagens sópodem criar-se através do lento aproveitamento, em síntese, daslinguagens existentes», e que «o neo-realismo não “se debruça”sobre o povo, mistura-se com ele a ponto de as suas obras nãoserem mais que uma das muitas vozes dele». Pelo que ao nível darepresentação plástica não deveria haver distinção entre retratar«um operário, uma criada de servir, um pescador» ou «um indus-trial, uma filha de família ou um banqueiro».

Em Autobiografia, esclareceu melhor o conceito:

«Não havia só camponeses e operários. Havia a sociedadeinteira: tudo dependia do “ponto de vista” [...] Havia, nomea-damente, a pequena-burguesia a que todos pertencíamos,que conhecíamos de dentro e que tinha (teria), quanto a

Mas «não havia só camponeses e operários». E nos desenhos deMário Dionísio, apesar de consideravelmente em menor número,estão igualmente retratos e cenas do quotidiano burguês.

Idênticas referências picassianas, reveladoras de um maior controloda mão nas linhas orgânicas, destacam-se ainda em três desenhosde figuras femininas: uma mulher com um cesto de fruta ao colo(sem data e feito a caneta sobre cartolina), uma maternidade sen-tada de 1948 (também sobre cartolina mas desenhada a carvão), euma mulher à janela em grafite sobre papel vegetal, do mesmo ano,que possivelmente se destinaria a transposição noutro suporte.

Era esse o objectivo do decalque em papel vegetal, de cerca de1949, feito para um mural no Café La Gare (actual Cervejaria BeiraGare, frente à estação lisboeta do Rossio), encomendado a Mário

O pensamento é coerente com os seus princípios. A dinâmica neo--realista nas artes plásticas chegara ao fim um ano antes, com a XEGAP – de que Mário Dionísio se tinha desvinculado já em 1953.Mantinha-se a grande admiração pela obra de Pomar e de Resende.Mas Bissière e Vieira da Silva eram por esta altura as grandes refe-rências estéticas.

Mário Dionísio prosseguia o seu próprio caminho. Como escreveuJosé-Augusto França, «teve uma consciência histórica, no profundosentido da coisa», pois «sentiu a história passar e foi suficiente-mente capaz de entender porquê e como», colocando «as questõesnecessárias no momento de charneira que a cultura nacional atra-vessava; e nisso terá sido um agente solitário, com a devida calmae humildade».

Toda a obra gráfica de Mário Dionísio (que traz com ela a sua pin-tura) não se articula, como vimos, em saltos ou em inesperadas in-flexões. Radica-se, sim, e organicamente, num exercício constantedo olhar, na experimentação continuada e no uso muitas vezes si-

«o espíritofaz a mão, a mão faz o espírito»

Henri Focillon

teriais, de papéis e de técnicas. Tal como se iniciou na figuração poraproximações às estéticas da pintura mexicana e brasileira, do cu-bismo e do expressionismo, passando à abstracção pela via líricada Escola de Paris, também no desenho foi adestrando a mão a de-finir contornos, a esbater sombras, a procurar tanto a pormenori-zação de traço curto como a livre sugestão das formas.

Do carvão, grafite e tinta-da-china à aguarela ou lápis de cor, dopapel de desenho e cartolinas aos simples blocos de apontamentos,o que ressalta destes trabalhos de Mário Dionísio é não só o gostopela experimentação mas a permanente indagação dos seus pró-prios limites no mais imediato dos meios de expressão artística: oque conduz a mão ao contacto com a superfície da folha em brancopara nela inscrever um gesto revelador.

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Em novas experimentações que remetem para outras influênciasde estilo, desenhou o interior de uma Leitaria treinando as poten-cialidades da perspectiva, numa composição triangulada pelas duasmulheres sentadas em mesas diagonalmente opostas e o comer-ciante que lê ao balcão. Atente-se nos cabelos de ondulações le-gerianas dessas mulheres de feições sintetizadas, que se repetiránoutros desenhos – incluindo num esboço rápido intitulado Com-

boio do Estoril, onde se destaca um homem de chapéu a fumar cha-ruto que sugere afinidades com o expressionismo caricaturalalemão praticado por Grosz nos anos 20.

Bem diferente será o registo formal escolhido para os estudos des-tinados à ilustração da capa de um livro de psiquiatria, publicadoem 1944. Trabalhada a partir da linha oblíqua em torno da qual se

organizam dois planos distintos, essa cabeça de onde saem rodasdentadas e estruturas da iconografia industrial está enraizada nosolo, ligada a uma árvore e envolta em estrelas.

Com manifestas influências das vanguardas russas, estes desenhosnão só traduzem a procurada relação entre a mão e o sonho comoconstituem, porventura, a melhor síntese na sua obra gráfica daquiloque Mário Dionísio pensava sobre o marxismo, a indissociabilidadeda forma e do conteúdo, e a arte enquanto modo de comunicaçãosimultaneamente transformante e transformador.

multâneo de expressões e técnicas diversas, na necessidade dever mais claro o mundo numa folha de papel. E a interrogação,tão presente nos seus textos, também aqui surge como motoractivado pelo carácter operatório do traço. Ao questionar, o ar-tista questionava-se. Numa permanente procura de expressãoque abrisse passagem aos ecos da história.

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12. MÁRIO DIONÍSIO, UM ESCRITOR

Nestas sessões mensais, à excepção de AU-TOBIOGRAFIA tratada por Rui Canário emJunho, foi a poesia de Mário Dionísio que foisendo lida ou falada, entre Abril e Setembro,dentro da exposição MÁRIO DIONÍSIO – VI-DA E OBRA: Manuel Cintra leu poemas deMário Dionísio, escolhidos por si, com acom-panhamento musical de Bruno Broa (Abril)e poemas de LE FEU QUi DORT com Mariad’Aires que leu poemas do mesmo livrotraduzidos para português por Regina Gui-marães (Julho), António Carlos Cortez falouda poesia de Mário Dionísio, reunida em POE-SiA iNCOMPLETA (Maio). E, a partir de Setembro, gente mais novacomeçou a pegar em cada livro de poesia.Houve a leitura a várias vozes de poemas dolivro POEMAS, 1.º livro de poesia de MárioDionísio, editado em 1941. Foi João Caldasque escolheu os 7 leitores dos poemas,todos do Coro, e musicou quatro, que inter-petou ao piano e Mariana Nunes cantou. A série Mário Dionísio, um escritor ter-minará em Dezembro. A partir de Janeiro de2012, haverá uma sessão mensal sobre MárioDionísio – escritor, mas também artista plás-tico, professor, ensaísta, cidadão.

13. LIVROS DAS NOSSAS VIDAS

Sempre partindo do depoimento de MárioDionísio «Os livros da minha vida», fomospercorrendo autores e livros: MANIFESTO

DO PARTIDO COMUNISTA de Marx e Engelspor quem o leu ou releu há menos de umano (Maio); ESCORPIÃO E FéLIX, conto de ju-ventude de Karl Marx, que Mário Tomé re-velou e interpretou (Junho); HÚMUS de RaulBrandão de que falou Eduarda Dionísio (Ju-lho), PATRÍCIA HIGHSMITH de que falou VítorSilva Tavares (Agosto), textos de RAUL BRAN-DÃO e HERMAN HESSE lidos por AntoninoSolmer, leitura acompanhada ao violoncelopor Pedro Rodrigues (Setembro).

14. ITINERÁRIOS 

De dois em dois meses, uma conversa compessoas que têm itinerários pouco vulgares eque aceitam contar a sua história a quemaparece. Aprende-se o que não se podeaprender de outra maneira.Em Junho, dois numa mesma sessão: Gian-franco Azzali e Giuseppe Morandi, vin-dos expressamente de Piadena (itália), ambosfundadoras da Lega di Cultura di Padena, as-sociação cultural com mais de 40 anos quetem sede numa pequena localidade do nortede itália. Falou-se do que foi passar dos tra-balhos no campo, nas fábricas e nas secre-tarias das autarquias aos trabalhos culturais epolíticos: a fotografia, o cinema, a música, arecolha oral, as edições. E da participaçãodesta gente no movimento de 68 que emitália foi mais em 69. E do crescimento dafesta anual da Lega di Cultura que agorareúne mais de 2000 pessoas num domingode Março e cujo tema deste ano foi Para

ALVES REDOL &Os amigos

Dos vários textos de análise que em diversas ocasiões Mário Dionísiodedicou aos seus camaradas de letras Alves Redol e Manuel da Fon-seca, pareceu-nos curial respigar estes excertos que permitem umaproximidade – esta manifestamente eivada de ternura – com os es-critores cujo centenário de nascimento se comemora este ano.

(...)

E de repente, outro momento que ines-peradamente se ilumina, ridículo e co-movente: uma espécie de acareaçãoperante um amigo da ilegalidade, queambos aceitámos ou quisemos mesmo,sobre uma incrível tempestade em copode água. Les Lettres Françaises(1) pu-blicara um artigo sobre Redol da autoriade André Parreaux (aliás, tradutor depoesias minhas, do Eugénio de Andradee do Muralha, que apareceriam nas mes-mas Les Lettres Françaises e na Eu-rope)(2) Redol «pescador» e «ceifeiro»!Satisfez-me tanto o artigo como me de-sagradou a invenção biográfica perfeita-mente inútil, muito ao sabor da moda dotempo; todo o grande escritor, para o ser,havia de ter passado por misteres do gé-nero – estivador, motorista de camion,boxeur... O comentário (não contra ele,contra Parreaux) chegara-Ihe aos ouvi-dos, devidamente deturpado, e surgiu a«tempestade». Que viria a acabar numjantarzinho a sós, nas Escadinhas doDuque, ou por ali, que ele por força quispagar: «Quem paga sou eu. Eu é que tivea culpa. A alegria é minha.» Como se ti-vesse tido qualquer culpa e a alegria nãofosse a mesma para os dois! E outro jantar ainda, tão diferente, umjantar de família em casa dos pais dele,em Vila Franca (pai Redol à cabeceira),uma noite em que fui falar no Grémio Ar-tístico Vilafranquense já não sei sobrequê, numa sessão integrada na grandeactividade dos jovens da terra e de queele era certamente o eixo: «Todas as sex-tas-feiras, mal soava a hora do fim da gri-lheta diária, largava-me da Duque deLoulé para S. Pedro de Alcântara e aí mefornecia de quase três dezenas de exem-plares de O Diabo, que vendia em VilaFranca aos que não juntavam dinheiropara assinatura, ou, insofridos como eu,não aguentavam a expectativa de maisumas horas de ausência. A companhiadesse jornal tornara-se guloseima para anossa fome de cultura.» Pouco depois,portanto, do tal rápido encontro nas es-cadas do Portugal e quando ao corpo deredactores desse jornal «pertenciam»,como recordou com emoção e as elipsesconvenientes, «o Mário(3) e o Jorge Do-mingues, o Álvaro(4) e o Fernando(5), entreoutros»(6). Mas só jantares? Era o quemenos havia... Lembro agora o seu nomeentre os cinquenta e cinco signatários

(amigos de sempre e para sempre, ou-tros que deixavam de o ser, além dosdesconhecidos) das cartas à Seara, pro-testando, sem que eu soubesse de nada,contra a não publicação da minha Ficha14(7).

(...)

Há amigos que não são camaradas. Hácamaradas que não são amigos. Há-os,enfim, que, sem destrinça, são amigos ecamaradas. Redol foi destes. Sempre ofoi para mim, apesar de alguns hiatos queo nosso íntimo convívio conheceu. Batia--me então à porta, como que de braçosabertos, nos olhos uma visível necessi-dade de desabafar, de regressar, de pôrtudo a limpo duma vez, e falava, falava. Eera bom verificar que, entretanto, tínha-mos continuado sempre os mesmos.

(...)

Evoco o homem, não analiso a obra. Masnão deixarei, à margem, de observar(onde acaba o homem?, onde começa aobra?) que, se Alves Redol foi o autor doprimeiro romance neo-realista português– não confundir com «o criador» do neo--realismo, que o não houve –, o foi tam-bém de uma Obra – goste-se mais oumenos dela – rigorosamente indissociá-vel de todo o movimento: pela intençãobásica e constante, pelas contradiçõesinternas que revela e a decisão de su-

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que serve o canto popular. E em que oCoro da Casa da Achada participou, criandorelações com cantores dos quatro cantos domundo. Projectaram-se documentários – anti-gos e recentes – de Giuseppe Morandi. Viu-seuma pequena exposição da sua fotografia.Em Agosto, conversa com Henrique Espí-rito Santo (às vezes em diálogo com VítorSilva Tavares) que, antes de ser produtor decinema, fez outras coisas. Histórias, histórias,histórias… que os historiadores deveriamconhecer para falar da nossa terra. Pelo meio da conversa foram projectadasquatro curtas pouco conhecidas em que Hen-rique Espírito Santo participou – e não só naprodução (até actor foi!...): Deambulaçõesdo mensageiro alado (realizada por Gon-çalves Preto, com Carlos Paulo aos 13 anoscomo actor principal, e também HerbertoHelder…), Paragem (realizada por Costa eSilva), Paredes Pintadas (realizada por An-tónio Campos) e o supreendente Drácula(feito durante a Festa do Avante, em 1977, pe-la célula dos cineastas do PCP). Foi ficando em cima da mesma durante astrês horas da conversa uma caixa de sapa-tos – reconstituição da máquina construídapelo Henrique Espírito Santo em criança, on-de com duas pequenas manivelas ia visionandofilmes, como se estivesse no cinema…

15. AMIGOS DE MÁRIO DIONÍSIO

Realizaram-se mais duas sessões de uma sérietrimestral que vai apresentando Amigos deMário Dionísio, alguns indevidamente esque-cidos. Continuarão em Dezembro, com Ma-nuel da Fonseca, através do testemunho bemvivido do seu irmão, Artur da Fonseca, cantosalentejanos e outras coisas mais.

A 3.ª Sessão, inicialmente prevista para Maio,teve lugar em Junho. Sobre MARIA KEIL, a res-ponsável pelo desenho gráfico de A PALETA E O

MUNDO. Sessão orientada pelo filho, PitumKeil do Amaral, um dos fundadores destaCasa, e que contou com a presença de MariaKeil, talvez a única «Amiga» viva. Fez-se umaseparata porque as poucas páginas da FICHA3 não chegavam para albergar o que de muitoimportante se disse e se viu. (Ver separata.)

Foi em Setembro a 4.ª sessão: ALVES RE-DOL, escritor sobre o qual Mário Dionísioescreveu artigos, prefácios, fez conferências, eque nasceu há 100 anos. Daí as comemora-ções do seu centenário, onde esta sessão (dealgum modo) se inscreveu: Maria AlziraSeixo, professora de literatura, crítica lite-rária e uma das fundadoras da CA-CMD fezuma análise da evolução da escrita de AlvesRedol, a partir de duas edições de Avieiros;António Mota Redol, filho de Alves Redole também fundador da CA-CMD, falou do pai.Foi projectado um vídeo. E, como Constanti-no, personagem do livro CONSTANTINO,GUARDADOR DE VACAS E DE SONHOS, nãoesteve afinal presente, as crianças, ex-alunasda professora Ariana Furtado, da Escola doCastelo, que tinham lido o livro, com a pro-fessora, durante vários dias, no jardim da Casada Achada para conversarem com ele, leram

MANUEL DA FONSECA& as ocasiões

perá-las, pela expansão invulgar queteve, pelas reacções que provocou, pelainfluência que exerceu. Pelos livros e,além deles, em palestras, iniciativas di-versas, tomadas de posição.

Mário Dionísio, «Para o perfil de um ca-marada», in Alves Redol, Testemunhosdos seus contemporâneos, org. MariaJosé Marinho e António Mota Redol, Ca-minho, 2001.

(1) André Parreaux, «Un pionnier du réalisme portu-gais: Alves Redol». Les Lettres Françaises. Ano VI.N.s 139. Paris, 20/12/1946.(2) Les Lettres Françaises. Ano VI. N.º 140. Paris,27/12/1946 e Europe, Ano XXVIII. N.º 18. Paris,Junho de 1947. (3) Mário Dionísio. (4) Álvaro Cunhal.(5) Fernando Piteira Santos.(6) Alves Redol, «Breve memória para os que têmmenos de 40 anos ou para quantos já esqueceram oque aconteceu em 1939». Gaibéus, 6.ª edição. (7) Mário Dionísio, Ficha 14. «Apêndice». Lisboa,1944.

(...)

E foi aí, nessa residência instável, creioque numa tarde de grandes projectos, nodesaparecido café Madrid – sonhava eu

então, com mais alguém, com um I Cer-tame de Arte Moderna (pinturas e poe-mas pelas paredes, conferências, recitais,con certos) que nunca se realizou por faltade local apropriado –, foi aí, nesse arsenalde esperanças e ousadias que ousada-mente identificávamos com as esperan-ças do século, que Manuel da Fonsecanos apareceu, tão irritado com as «torresde marfim» (vocabulário obrigatório naépoca) e tão dis posto a tudo reformarcomo qualquer de nós. Nos apareceu, nãose sabia de onde, com a sua gabardinaquase branca, um monóculo insólito, oseu sorriso malicioso de quem sabe sem-pre que há ainda outra coisa e esse mundode trans figuração que por força irrompiade cada cena que contava, crescia, poucoa pouco nos envol via numa realidade ir-real mas mais verdadeira do que a ime-

diata (por isso e para isso éramos nós rea-listas), cuja fecundidade literária, dentrode poucos anos, os contos de Aldeia Novareve laram.Eu pasmava, ao ouvi-lo contar à roda dosamigos qualquer acontecimento trivial aque ambos tínhamos assistido. Com aminha lamen tável, incorrigível tendênciapara tentar reduzir as coisas ao que elasefectivamente são, esforçava-me por tra-zê-lo à sensatez: «Mas não foi nadadisso!» Ele, porém, não interrompia a suahistória senão para dizer, com o mais de-liciado dos sorrisos, os olhos quase fe-chados: «Foi tal, foi tal. É que nãoreparaste bem.» E continuava. E conti-nuávamos todos a ouvir a sua história,que não era nunca a história, mas se ani-mava de pormenores, de iluminaçõesburlescas, de si tuações irresistíveis. Foiassim que primeiro conheci essas terras egentes que haviam de encher os seus poe-mas e os seus contos, sob nomes inven-tados – Aldeia Nova, Cerromaior, Valmo-rado, Albarrã... –, e de que Fonseca fa-lava como dum mundo fabuloso que atra-vessara há muitos anos, de antemãosabedor que teria o dever de contá-lo umdia a toda a gente. E foi decerto aindaesse poder de continuamente tudo recriar,essa atitude permanente de narrador – cri-ador nato, essa força espontânea de tor-nar fascinante a realidade mais come-zinha («Olhai o vagabundo que nada tem/ e leva o sol na algibeira») que tão de-pressa transformou o desconhecido dumdia, que nos aparecia com os bolsoscheios de poemas (o sol na algibeira), emfugas furtivas a um quotidiano intolerá-vel (abandonada a Es cola de Belas-Artes,trabalhava numa drogaria; era este o seudrama imediato), no amigo defini tivo.

Mário Dionísio, Prefácio de PoemasCompletos de Manuel da Fonseca, Portu-gália, 1963.

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na sessão uma carta que lhe escreveram eperguntas que lhe queriam fazer. Houve ainda uma pequena exposição de li-vros e documentos relacionados com AlvesRedol existentes no nosso Centro de Docu-mentação.

Beco do jasmim, no lavadouro do Largoda  Rosa, no Largo  dos Trigueiros, emfrente do mural de Mário Dionísio que, pin-tado há mais de dois anos, note-se, continuamaravilhosamente intacto, apesar de actual-mente rodeado de numerosos tags e grafitis.E dizeres que chamam a atenção para o pro-blema da habitação: gente sem casa, casas semgente.

18. CEDÊNCIA DAS INSTALAÇÕES

Foram cedidas as instalações para a projec-ção do filme EL MAR de Agustí Villaronga, or-ganizada pela Associação Catalunyapresenta(27 de Abril) e para o lançamento, organizadopela Autora, do livro de poemas, O GADO DO

SENHOR de Maria Alice Branco, que MariaAlzira Seixo apresentou (21 Jun.). Também a UNiPOP organizou na Casa daAchada uma mesa-redonda «Rebeldes con-tra o futuro? 200 anos depois do Ludismo»(20 Mai.). E o grupo O Beco/Exit, os debates:«A teoria de Marx, a crise e a abolição docapitalismo» (30 Abr.) e «A inocência perdidada produtividade». (4 Jun.)

19. AMIGOS DA CASA DA  ACHADA

Foram criados em Janeiro de 2010 os «Ami-gos da Casa da Achada», que contribuem comuma pequena quota simbólica e usufruem dedescontos nas edições da Casa da Achada eem vários espaços culturais de Lisboa.infelizmente não são ainda mais de 165 (semcontar com os sócios fundadores da Asso-ciação CA-CMD).Pagando 2€ por mês, 10€ por semestre ou20€, contribuem para o funcionamento daCasa e para a gratuitidade de tudo o que nelase passa.E já agora lembramos que, além de usufruí-rem de descontos significativos nas ediçõesda Casa da Achada, têm preços reduzidos nasentradas em teatros (Teatro o Bando, TeatroMunicipal Maria Matos, Teatro Municipal SãoLuiz, Teatro da Trindade), museus (MuseuArpad Szenes – Vieira da Silva, Museu doFado, Museu da Marioneta) e monumentos(Castelo de São Jorge, Padrão dos Descobri-mentos), graças ao interesse de algumas ins-tituições culturais que contactámos. E não contamos ficar por aqui.

20. COLABORAÇÕES E PARCERIAS

Como noticíamos na FiCHA anterior, foramfeitos protocolos de colaboração com váriasassociações:Associação Cardan (Amiens-França) com quem fazemos a Leitura Furiosa,Associação Alagamares (Sintra), CentroNacional de Cultura, e continuam as rela-ções com a CACAV (Círculo de AnimaçãoCultural de Alhos Vedros) e a AjA-Norte,com quem colaborámos na iniciativa «Ocu-par Abril e Tomar de Assalto Maio». Para descontos aos Amigos da CA nas entra-das em espaços culturais por ela gerida,existe um Protocolo com a EGEAC.Colaborámos com a Lega di Cultura di

o QUE AÍ VEMOutubro está à porta e aproxima-se o Invernodo nosso contentamento descontente.Então vai ser assim:n todas as segundas pelas 18h30 haverá ou-tras leituras com projecções de imagens apartir de A PAlEtA E O MuNDO. O ciclocomeça com O ElOGIO DA MãO e A VIDA DASFOrMAS de Henri Focillon. n A 15 de Outubro, pelas 16h, FilomenaMarona Beja irá falar connosco de permeiocom a leitura de alguns textos seus, preen-chendo assim o Itinerário de quem escolheubiologia e ser depois documentalista para,com mais de 50 anos de idade, começar apublicar contos e romances e participar hámais de 10 anos na leitura Furiosa. n Sexta-feira 21, pelas 18h, Diana Dionísioapresenta poemas por si escolhidos do livroAS SOlICItAçõES E EMBOSCADOS, 16.ª sessãode uma série de periodicidade mensal sobrelivros e textos de Mário Dionísio.n uma semana depois, a 28, igualmentepelas 18h, Manuela torres falará deGuErrA E PAz, sessão integrada no ciclo«livros das Nossas Vidas».

16. DIREIS QUE NÃO é POESIA O título destas sessões, de periodicidade nãoregular, que vão acontecendo quando a al-guém apetece, é um verso de Mário Dionísio.E através dele chega-se a outras artes. Durante a Feira da Achada (16 de Julho),Diana Dionísio, Marta Caldas, Pedro Ro-drigues e Pedro Soares fizeram uma sessãoao ar livre, com textos vários e canções.Numa caixa de cartão, Susana Baeta recebiapropostas (pagas) do público. Forma de aju-dar a Casa da Achada a existir, quando osapoios oficiais tardam. Se se paga uma cerveja,um pastel, porque não pagar um texto que sequer ouvir – e que outros trabalharam?

17. LEITURAS DE POEMAS PELASRUAS

Aproveitando a estadia em Lisboa de Mar-garida Guia, actriz luso-francesa, uma gran-de amiga, que participou na semana deabertura da Casa da Achada há dois anos,houve leitura de poemas de Mário Dionísio ede muitos outros – portugueses e franceses –pelas ruas do Bairro.Era tal o calor nesse dia (25 de Junho) que,aproveitando as sombras, reduzimos o per-curso e só estivemos parados no Largo daAchada (princípio e fim do itinerário), no

n Ainda em Outubro, mas prolongando-sepor Novembro e Dezembro, teremos umnovo Ciclo de Cinema (ao todo 13 filmes,com outros tantos apresentadores), desta vezsob o brilho das EstrElAs DE HollywooD.

Vai ser um fartote de grandes «Stars» - deGloria Swanson (que surgirá no primeirofilme a ser apresentado no dia 3, CrEPúS-CulO DOS DEuSES) a Marylin Monroe, e derita Hayworth a Bogart e Brando. n As oficinas serão como segue: já no pró-ximo dia 2, das 15h30 às 17h30, MiguelHorta CAçA tExturAS NA ACHADA. E noresto do mês, será FAzEr uM lIVrO, PAGINAr,ENCADErNAr. A 9 é a vez do Vítor silvatavares participar, a 16 é o Pedro serpa, a23 a Marta Caldas e a 30 a sónia Gabriel.Aos Domingos, das 15h30 às 17h30.n E Outubro não terminará sem que antes, a29, procedamos a uma exposição-venda dedesenhos de Ângelo de sousa (organizadapela Cooperativa Gesto, do Porto) e bemassim à projecção do filme ÂNGElO DE SOu-SA tuDO O quE SOu CAPAz de Jorge silvaMelo, que nos falará do filme e do pintor.

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Mais leitores. Mais leituras.lembro-me de o meu pai contar que lera Júlio Verne em voz alta, ao serão.levantava-se a mesa do jantar. traziam-lhe o melhor candeeiro, enquanto eleia buscar o livro. sentava-se e lia. teria, então, catorze ou quinze anos.Entretanto, as minhas tias puxavam fieiras e faziam bainhas abertas nos len-çóis em que se haveriam de casar.o meu avô sorria. tanto que ele se orgulhava daquele filho!E a minha avó... Ai! A minha avó era senhora de uma imaginação que ultra-passava a de Júlio Verne. sentenciava que se o Capitão Nemo fizera 20 000léguas submarinas, bem poderia ter dado a volta completa ao fundo do mar.

Passou-se isto no Alto ribatejo, talvez em 1919. ou 1920. E terá sido a pri-meira notícia que me chegou de um «Clube de leitura».

Alguém que lê, ou que sugere um livro, sem guardar para si o que nele en-controu. ou vai encontrando. Que ajuda a somar ideias e a tornar mais ní-tidas as propostas da escrita.Eis um «Clube de leitura». ou uma «Comunidade de leitores», se assimlhe quiserem chamar.sê-lo-á, mesmo que o eco só venha de um dos participantes. Mesmo que apa-rentemente não os haja, ou estejam distantes.lembram-se de Isabel da Nóbrega, na televisão, pelos anos oitenta?

E os muitos que se zangam com a leitura, mas não resistem a conversar comum escritor?Ao ambiente de partilha que então se constrói não se poderá chamar«Clube»? «Comunidade»?É-o. De verdade.Foi assim que luiz rosas construiu, e espalhou pelas pequenas bibliotecas dovale do Nièvre, os grupos dos que lá vão ler. sem, no entanto, decifraremuma única linha. Ainda que se lhes abram os livros. E quase todos se sintamparte do que está escrito.Assim, lê-se. E escreve-se.«leitura Furiosa». Começou em Amiens. Chegou aqui, a lisboa. Ao Porto.Kinschasa.sabemos lá onde!

Por vezes, são os livros mais esquecidos os mais lembrados pelos que se in-tegram nestes grupos.Aqui, na Casa da Achada, quiseram saber de Mário Dionísio. Depois, Fer-nando Namora, José Gomes Ferreira, Eça e Cesário. Hector Malot, lá, na Pi-cardia.Mas onde os encontrar? são autores e livros que já não os há pelas montras!ou são raros. Vai-se à biblioteca. lá hão-de estar!o mundo das bibliotecas! Vamos, mesmo havendo escadas a subir! talvezcuste, à primeira. Mas há-de nos ficar o jeito.

Claro que isto das «Comunidades» e dos «Clubes» pode ser negócio para oseditores. Para alguns livreiros.Que livros acabados de sair? Quais a requerer promoção?Anuncia-se um Clube. Chamam-se alguns autores «que vendam bem».Fazem-se descontos aos preços de capa. oferece-se mais qualquer coisa, emarca-se a primeira sessão.Na oportunidade, surgem as perguntas a quem aparece. sexo? (são as mu-lheres quem mais compra!) Idade? (interessa entre os 35 e os 50) Instrução?(ai, ai!) Marketing! Marketing!Mas até disso a leitura se pode ir aproveitando.

Filomena Marona Beja

Piadena (itália) que tem neste momentouma proposta de fundação duma associaçãoeuropeia centrada no Canto Popular.Este ano o Coro da Achada decidiu não par-ticipar no Festival «Todos» da CML que serealizou em Setembro. Participámos na 2.ª reunião de parceiros doQREN-Mouraria, nos Paços do Concelho(12 Set.) e também numa reunião do grupoPDCM (Plano de Desenvolvimento Comu-nitário da Mouraria), no C.E.M. (15 Set.). To-mámos conhecimento deste Plano numareunião convocada por A Barbuda (Largo daSevera), sobre os processos de moderniza-ção das cidades. Posteriormente, foi-nos ex-plicado por João Menezes, coordenador doGABiP, em que consistia o Plano.Pertencem a este grupo (agora alargado), di-versas entidades, de cariz muito diferente,cujas actividades se desenvolvem entre o in-tendente e o Largo do Caldas. Neste momento há problemas de dinheiropara este projecto, que se articula com oQREN-Mouraria e que inicialmente contavacom 1 milhão de euros.

Recebemos uma proposta de participaçãono projecto identidades Híbridas, de Bilbao:«Trata-se de um projecto de vídeo-partici-pativo, com a implicação dos moradores dobairro da Mouraria, onde eles são os prota-gonistas e realizadores dos vídeos [...]. É umprojecto-piloto, com uma acção paralela emBilbao, com umas características similares aobairro da Mouraria.»

21. APOIOS E PEDIDOS DE APOIO

Terminou em Julho o apoio da Direcção Re-gional de Lisboa e Vale do Tejo do Ministérioda Cultura, entretanto desaparecido. Foi assinado em Agosto o protocolo com aCML relativo ao apoio de 2011. Antes, emJulho, tinhams concorridos ao de 2012. Co-meçámos a receber do QREN-Mouraria ocorrespondente a gastos elegfíveis de 2009. A candidatura ao programa BiP-ZiP (Maio aDezembro) da vereação da habitação daCML apresentada pela Junta de Freguesia deS. Cristóvão e S. Lourenço, de que somosparceiros, foi contemplada. O que incidarásobretudo, no nosso caso, no funcionamentoda Biblioteca Pública, a única deste bairro.

Page 11: BOLETIM DA CASA DA ACHADA-CENTRO MÁRIO DIONÍSIOnoticias.centromariodionisio.org/wp-content/uploads/Ficha-3.pdf · franco Azzali e Giuseppe Morandi ( Jun.) mostrámos,em pequeno

APOIOS: C.M.L., PROGRAMA BIP-zIP DA C.M.L., FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENkIAN, FUNDAÇÃO MONTEPIO. PARCERIAS COM qREN-MOURARIA E ASSOCIAÇÃO CARDAN.

fichaFabrico caseiro. 29 Setembro 2011

Rua da Achada 11, 1100-004 Lisboa. Tel. 218877090. [email protected]

Isabel da Nóbrega: uma história com muralRecente incursão de alguns de nós por bandas de S. Bartolomeu de Messines (maisconcretamente, em Monte do Boi, a 2 quilómetros) permitiu-nos verificar que continuaa existir – e ao que tudo indica em bom estado de conservação – um mural pintado porMário Dionísio em1951 na parede de uma casa de campo, então pertencente a fami-liares de Maria Letícia, onde passou umas férias. A história desta pintura foi contadapor Isabel da Nóbrega numa crónica publicada no Diário de Notícias, em 11 de Outubrode 1987, de que reproduzimos os excertos mais elucidativos.

Um exemplar da secção de Diários, eEntrevistas, lido há muitos anos, caiu--me sorrateiramente aos pés. Eram asConversas com Picasso, anotadaspelo fotógrafo Brassai ao longo de dé-cadas, no intervalo de lhe fotografar asesculturas, os quadros, os ateliers, epor onde incessantemente passam osnomes, os rostos, as figuras e históriasde muitos outros artistas.O volume, ao tombar da pilha, abriu-senas páginas de um diálogo em que Pi-casso fala de muros, de paredes. Dizque a superfície de uma parede é qual-quer coisa de maravilhoso. Que sem-pre prestou atenção ao que aí, nascidades, se inscreve. E quantas vezesnão fora ele próprio tentado a nelasfazer rabiscos, de passagem. O quede certo modo o retinha era... «Nãopoder depois levar o desenho consigo,não?» – pergunta Brassai. Picasso ri econcorda. Mas ainda terá deixado al-guma coisa pelas paredes dos bairrosde Paris. Uma vez esperava, na bicha,para ser atendido num banco. O bancoestava em obras. Então, entre doisandaimes, um bocado de parede con-denada a desaparecer atraiu-o, e fez-lhe uns graffiti. Terminadas as obras, o

desenho desvanecera-se. Alguns anosdepois houve por ali novos restauros emodificações, e o desenho gravado tor-nou a aparecer. Acharam-no interessantee veio a saber-se que era de... Picasso.

[…]

E esta história lembra-me outra, ocorridaentre nós, com um artista nosso – esse,poeta, contista, ensaísta, crítico, ro-mancista – e pintor, Mário Dionísio sechama. Contou-me ele que, há uns trintae tal anos, passara férias estivais numapequena povoação perdida em terrasquase desabitadas, do Algarve, numacasa herdada de parentes. Nem água,nem luz, nem qualquer providencial ten-dinha por perto. Mas havia um poço, umpedaço de terreno, os ares eram bons, eo sossego propício ao labor intelectual.Um dia... sentiu «a chamada» (ele nãome disse assim), a parede de uma das di-visões chamava-o. Lisa, clara, quente,oferecia-se-lhe.Mandou vir um pedreiro, que lha pre-parou com cimento. Depois, foi à aldeiamais próxima escolher tintas. E da es-consa mercearia trouxe pozinhos detodas as cores, daqueles pós que oscamponeses algarvios e alentejanos

preparam para pintar as barras amare-las ou azuis das suas casas.Riscou, desenhou, pintou de cima abaixo, como num mural.Mais tarde a casa foi vendida a pes-soas que melhor, e durante mais tem-po, a podiam usufruir.E este Verão, Mário Dionísio e a mu-lher voltaram aos Algarves. Na viagemde regresso, consciente ou incons-cientemente, o condutor subiu do lito-ral em direcção a esse lugarejo –quase tão deserto como antes. A velhacasa fora ampliada, sofrera obras, masele teve curiosidade em visitá-la, e,secretamente, verificar se haveria ves-tígios da sua pintura daqueles diasantigos. Bateu, pediu para entrar. –Pois ali estava. Nem o tempo a apa-gara, nem essa outra acção tão corro-siva como pode ser a indiferença, aignorância, a tinha feito desaparecer.Ali estava, só um pouco mais esbatida.Calculamos o sentimento do pintor, osilêncio em que terá rodado algunsquilómetros num misto de humildade,conforto, e emoção, calculamos.

__O mural, de 1,50 x 1,95 m, pintado a têm-pera sobre cimento e intitulado «Pei-xeiros», encontra-se, pois, devidamenteconservado nessa casa que hoje per-tence a uma senhora alemã e que foialvo de intervenção subsidiada, dado oseu interesse patrimonial, que inclui,como se torna óbvio, o trabalho de MárioDionísio. É o mural da história.