Boletim do Kaos - Nº6

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLARSÃO PAULO - CAPITALRegião CentralDGT Filmes Rua 13 de Maio, 70Ação Educativa Rua General Jardim, 660Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42Liberdade - (11) 3105-8217Restaurante Santa MadalenaRua Sta Madalena, 27 - Bela VistaConduta Galeria 24 de MaioPorte Ilegal - Galeria 24 de MaioEspaço MatilhaRua Rêgo Freitas, 542

Zona LesteLoja Suburbano ConvictoRua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta(11) 2569-9151Locadora New HolidayRua Nogueira Vioti (11) 2572-2000Casa de Cultura do Itaim PaulistaPça Lions Clube, s/nº - Itaim Pta.Sebo MutanteRua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Paulista

Zona SulItaú Cultural (Na Biblioteca/Midiateca)Av. Paulista, 149 - 2º MezaninoBar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dosSantos, 797 - Chácara SantanaLoja 1 da Sul Rua Comendador Santana,138 - Capão RedondoLoja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384Loja 31 - Galeria Borba GatoEstudio 1 da SulRua Grissom, 80-a - Metrô CapãoSarau da Cooperifa (Toda quarta as 20h30)Rua Bartolomeu dos Santos, 797Chácara SantanaSarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr., 60Campo Limpo (11) 5844-6521Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65Cidade Ademar (11) 5622-4410

Zona OesteBar do Santista/Sarau Elo da CorrenteRua Jurubim, 788-a Pirituba

Zona NorteCCJ - Vila Nova CachoeirinhaAv Dep. Emílio Carlos, 3641Banca de JornalAlt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr.Sarau da Brasa - Bar da CarlitaRua Prof.Viveiros Raposo, 234

SuzanoCentro Cultural de SuzanoRua Benjamin Constant, 682 - Centro

SantosDULIXO no Marapé[email protected]

www.boletimdokaos.blogspot.comPeça pelo email:[email protected]

Já se passaram seis meses desde quecomeçamos a circular com um jornal deliteratura. A princípio demorou um poucopara as pessoas entenderem que o veículoera de literatura, com espaço para música ecinema. Muitos pensavam que se tratava deum jornal de hip hop, talvez porque nós, oseditores, trabalhamos diretamente com acultura. Alexandre De Maio é editor derevista de hip hop e eu organizo eventoscomo o Favela Toma Conta.

Aos poucos foi caindo a ficha e a literaturamostrou que é interessante para um veículopensado para a periferia. Isso mesmo,periferia e literatura tem muito a ver. Osmanos e as minas estão cada vez maispróximos da leitura, apesar da TV ainda fazermuitas vítimas.

O livro é importantíssimo na vida dequalquer pessoa. Quem lê enxerga melhor,como diria Sérgio Vaz, capa dessa edição.

Eu mesmo achei na literatura uma saída parauma fase difícil da minha vida. Foi nos livrosque retomei o controle e me preparei paraseguir em frente. Primeiro voltei a ler e,depois, passei a escrever.

De 2000 em diante, quando passei a publicarminhas obras, tive uma mudança de vidapara a melhor em todos os sentidos. Passeia ser um marido melhor, um pai melhor, umcidadão mais consciente dos meus deverese direitos.

A literatura me dá chão para pisar, me dá luze inspiração de criar. Leio muito.

Em um de meus blogs sobre literatura(www.literaturaperiferica.blogger.com.br),publico comentários sobre cada livro queleio. Só em 2008, foram 36 títulos. Uma médiade 3 livros por mês. E de cada livro tiro umalição, como o “Meu Nome Não É Jhonny” (338páginas), de Guilherme Fiúza.Confira a lista das obras, aposto que algumadelas vai te interessar:

(01) - Cadernos Negros - Vol. 30 - Vários autores (264 páginas)(02) - A Menina Que Roubava Livros, de Markus Zusak (480 páginas)(03) - Saudades do Meu Sertão, de João do Nascimento Santos (cordel - 8 páginas)(04) - Meu Querido VLADO - A História de Vladimir Herzog e do sonho de umageração, de Paulo Markun (200 páginas)(05) - O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini (368 páginas)(06) - POSTESIA - Poesia nos postes, do Binho (86 páginas)(07) - O Cão da Meia Noite, de Marcos Rey (176 páginas)(08) - A Cidade de Sol, de Khaled Hosseini (368 páginas)(09) - Trajetória de Um Guerreiro, do DJ Raffa ( 506 páginas)(10) - Narcotráfico, de José Arbex Jr. (88 páginas)(11) - MANDELA - A Luta é a Minha Vida (344 páginas)(12) - Falcão - Mulheres e o Tráfico, do MV Bill e Celso Athayde (272 páginas)(13) - O Imaginário Cotidiano, de Moacir Scliar (184 páginas)(14) - Estou Viva - Não Uso mais Drogas, de Bell Marcondes (368 paginas)(15) - O Invasor, de Marçal Aquino (240 páginas)(16) - PCC - A Facção, de Fátima Souza (Record - 308 páginas)(17) - Lamarca (Coleção História Não Oficial - 98 páginas)(18) - Sarau Elo da Corrente - Prosa e Poesia Periférica (Coletânea) - Elo daCorrente Edições (140 páginas)(19) - Te Pego Lá Fora, de Rodrigo Ciriaco (Edições Toró - 108 páginas)(20) - A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery (Companhia das Letras - 352 páginas)(21) - RASIF - Mar que Arrebenta, de Marcelino Freire (Record - 136 páginas)(22) - CONDE - (Edições Toró - 72 páginas de textos e gravuras)(23) - MORADA - Textos: Allan da Rosa, fotos Guma. (Edições Toró - 72 páginasde textos e fotos)(24) - Cooperifa - Antropofagia Periférica, do Sérgio Vaz (Aeroplano Editora - 284 páginas)(25) - Crianças Feridas - Uma mina, uma vida amputada, de Reine-Marguer-ite Bayle. (Ed. SM - 80 páginas)(26) – Predadores, de Pepetela (Ed. Lingua Geral - 562 páginas)(27) - A incrível história de Naldinho, de Fernando Bonassi (Geração Editorial- 24 páginas)(28) - Lambões de Caçarola (Trabalhadores do Brasil!), de João Antonio (L&PM- 42 páginas)(29) - Dois Contos, de Machado de Assis (Editora Unesp - 56 páginas)(30) - Favela Toma Conta, de Alessandro Buzo (Aeroplano Editora - 284 páginas)(31) - Pelas Periferias do Brasil - VOL II (Coletânea - 120 páginas)(32) - Clara dos Anjos, de Lima Barreto (Ed.Brasiliense - 128 páginas)(33) - Meninos do Brasil, de Márcio Batista (Independente - 88 páginas)(34) - Cultura é a Nossa Arma - Afroreggae nas favelas do Rio, de Damian Platte Patrick Neate (Civ.Bras. - 240 páginas)(35) - Aqui Dentro - Páginas de uma memória: CARANDIRU - Org. MaureenBisilliat, documentação: Sophia Bisilliat, André Caramante e JoãoWainer.(Imprensa Oficial - 260 páginas)(36) - Um Segredo no Céu da Boca - pra nossa mulecada - Coletânea (120 páginas)

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Não estou tentando entrar emnenhum livro de recordes, só leio porprazer. Tem gente que gasta seutempo vendo BBB, A Fazenda, novelase tantas outras coisas. Eu gasto boaparte do meu, lendo.

Foi assim que esse ano já li 18 livros.Cada um deles traz o seu própriouniverso. Espero que tirem dessa listaalgumas dicas de leitura:

(01) - Um Fio de Prosa, coletânea decontos com: Mario Quintana, CoraCoralina, Manuel Bandeira, Ignácio deLoyola Brandão, Cecília Meireles,Lygia Fagundes Telles, CarlosDrummond de Andrade, MarinaColasanti, Rachel de Queiroz, Luís daCâmara Cascudo e Daniel Munduruku- (Global Editora - 96 páginas)(02) - Cela Forte Mulher, de AntonioCarlos Prado (Labortexto - 216páginas)(03) - Jornalismo é ... (ABI - 112 páginas),Coord. Nemércio Nogueira, textos de:Boris Casoy, Célia Pardi, Claudia deSouza, Diléa Frate, Jânio de Freitas,José Nêumanne Pinto, Juca Kfouri,Lillian Witte Fibe, Luiz Nassif, MarioSérgio Conti, Ricardo Noblat, RicardoSetti, Salomão Esper, Sandro Vaia,Sonia Racy e Zuenir Ventura.(04) - O Olho da Rua, de Eliane Brum.(Editora Globo – 420 páginas)(05) - Livro “Cadernos Negros – VOL31” (Quilombhoje – 160 páginas)19 autores, são eles: Sacolinha,Claudia Walleska, CUTI, Dirce Pereirade Prado, Edson Robson, Elio Ferreira,Esmeralda Ribeiro, Fausto Antônio,Jamu Minka, Luís Carlos de Oliveira,Márcio Barbosa, Mel Adún, MiriamAlves, Mooslim, Rubens Augusto,Ruimar Batista, Sergio Ballouk, Sidneyde Paula Oliveira e Tico de Souza..(06) - Memórias de minha putastristes, de Gabriel García Márquez(Prêmio Nobel de Literatura) comtradução de Eric Nepomuceno(Record – 130 páginas).(07) - Amanhecer Esmeralda, doFerréz (Editora Objetiva - 48 páginas)(08) - Sociedade do Código de Barras - OMundo dos Mesmos, de Preto Ghóez -(Editora Estação Hip Hop - 300 páginas).

(09) - Psicopata - Os Olhos que Espiama Próxima Vítima, de José LuizTavares (Geração Editorial - 144páginas)(10) - Ainda no Invisível, de Ana Paulados Santos Risos - (Independente - 10páginas)(11) - Para Gostar de Ler - VOL 9 -Contos (Autores: Clarice Lispector,João Antônio, Lygia Fagundes Telles,Machado de Assis, Moacyr Scliar,Murilo Rubião e Wander Piroli). (EditoraÁtica - 96 páginas)(12) - Prosas de Buteco, de ClaudioSantista e Paulinho Bispo. (Elo daCorrente Edições - 48 páginas)(13) - EX-157 - A história que a midiadesconhece, de Cristian de SouzaAugusto, o rapper Afro X. (192 páginas)(14) – Pivetim, de Délcio Teobaldo.(Editora SM - 176 páginas)(15) – Abutre, de Gil Scott-Heron(Conrad Editora - 232 páginas)(16) - De Passagem (roteiro do filme),

de Cláudio Yosida e Ricardo Elias(Imprensa Oficial - 168 páginas)(17) - Eu sou o Livreiro de Cabul, de ShahMuhammad Rais (Editora Bertrand Brasil- 98 páginas)(18) - CRACK, de Cláudio Portella -(Independente - 48 páginas)

Olha só de quantos livros acabo defalar, quantos autores. Claro que dos55 livros que li, gostei mais de uns doque de outros, mas vou deixar essadescoberta para você. Indico aquicada um deles, são 55 dicas de livrossó no editorial.

Agora vire as páginas que tem muitomais. Afinal, o melhor amigo do homemé o livro.

Por Alessandro Buzo

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Conheço Sérgio Vaz há quase dez anos, vi suapersonalidade forte unir muita gente e ummovimento literário inteiro se solidificar em voltada Cooperifa. Sérgião, como é chamado pelosamigos, provou que além da sua família, cuidamuito bem da sua quebrada e faz a literaturabrilhar nos guetos mais conflitantes do Brasil.Nessa entrevista, ele fala de literatura, poesiana Febem e da recente turnê poética daCooperifa pelo sul do país.

O que te inspira a escrever? Qual foi a suaprimeira poesia?SV: As ruas, as pessoas simples. Gosto muitodesta coisa do cotidiano do meu bairro e deoutras quebradas. As histórias das pessoas sãoótimas fontes de inspiração. Minha primeirapoesia eu não lembro muito bem, mas foi escritaem papel de pão, literalmente. Pois trabalhavano bar e empório do meu pai, nos anos 70.

O que te levou a querer organizar um sarau?SV: Sempre gostei de ver gente reunida em tornode alguma coisa, um ideal. Antes do sarau eu iafazer recital nas escolas da periferia, e aí comeceia levar uns poetas comigo para se apresentarem,trocar ideias com os alunos e coisa e tal. Aospoucos, instintivamente, isso foi se trans-formando em mim, o coletivo. A falta de espaçopara as práticas culturais também contribuiumuito, todo o mundo sabe que na periferia nãotem biblioteca, teatro, cinema, museus, etc; sóbar. A gente se reunia num bar, antes do sarau,para beber e falar poesia era "A quinta maldita", elá eu conheci o Pezão, que falou de um bar, OGarajão, em Taboão da Serra. Nós fomos lá ver e

começamos o Sarau da Cooperifa, emoutubro de 2001. A Cooperifa veio antesdo sarau, em fevereiro de 2001.

Quando a gente se encontrava noscamarins dos shows de rap, via vocêesperando sua vez para declamar umapoesia. O que se passava pela suacabeça nessa época?SV: Eu pensava que tinha encontrado aminha turma. Porque quando eu comecei afazer poesia, eu fazia poesia de protesto(até hoje faço), mas com o fim da ditadura, oBrasil entrou na gozolândia. Minha poesiaficou fora de moda, ninguém queria sabermais de racismo e pobreza e foi nos anos80, ouvindo rap, que pensei: demorou parachegar. Então fui conhecer o rap a fundo.No começo, eu pedia para falar uma poesia,depois em alguns lugares já diziam: “otiozinho da poesia está aí, chama ele parafazer uma”. Distribuía cartões postais nasfilas dos shows e valeu a pena. O hip hopsalvou a minha literatura. Devo muito a ele.

Fale sobre essa sua última viagem aoSul com a Cooperifa. Por onde vocêsandaram, como foi a experiência?SV: Em maio fizemos uma apresentação noSesc Florianópolis (SC) e causamos umgrande impacto nas pessoas. Então, fomosconvidados para fazer uma turnê poéticapor 15 cidades de Santa Catarina, numprojeto chamado Viapoesia. Tivemos aoportunidade de conhecer o estado e suaspessoas. Passamos por teatros, quilombos,

quebradas e bairros recitandopoesia. Foi da hora. Uma experiênciaincrível, vinha gente de outrascidades só para nos ver, foi muitobom e enriquecedor.

Como está sendo dar aula depoesia na Fundação Casa?SV: No começo foi muito difícil,porque eu perguntava se alguémgostava de poesia e ninguém diziaque sim. Mas, através das oficinas,fui desmistificando a literatura eagora eles descobriram que gosta-vam de poesia, só que não sabiam.Esses dias fizemos o Sarau daCooperifa lá na Fundação Casa –Abaeté e vários internos participa-ram recitando poesias. Isso é dahora, né? Na Cooperifa também foiassim, muitos não gostavam de lere, hoje, são leitores vorazes.

Como você lida com a poucaintimidade que a maioria temcom a leitura?SV: Neste país, independente daclasse social, ninguém lê. Mesmo orico e a classe média que têm di-nheiro não leem. Por isso o Sarau daCooperifa não é um movimento paracriar novos escritores, e sim novosleitores. É um movimento de incen-tivo à literatura e à criação poética.

Você faz saraus nas escolas. Sevocê fosse o ministro da Educa-ção, o que faria?SV: Educação acima de tudo, iria serum projeto de estado, não degoverno. O filho do rico ia ter queestudar na mesma escola que o filhodo pobre, ou seja, haveria escolapública de qualidade. Tanto para oprofessor quanto para os alunos.Aliás, o professor e o aluno iriam sertratados como patrimônio dahumanidade. E ai de quem fossecontra.

O pior poeta é...SV: Aquele que se acha mais espe-cial que as outras pessoas sóporque escreve. O poeta queviolenta o papel com falsasideologias.

O melhor poeta é...SV: Aquele que é poesia.

Você imaginou que a Cooperifa setornaria esse fenômeno cultural?SV: Não. Mas sabia que a Cooperifaacordaria movimentos adormecidosna periferia.

NÃO CONFUNDA BRIGACOM LUTA. BRIGA TEMHORA PARA ACABAR, ELUTA É PARA UMA VIDAINTEIRA

ESCREVAPOEMAS,MAS SE TEINSULTAREM,RECITEPALAVRÕES

QUEM LÊENXERGAMELHOR

NÃO TENHODÓ DE QUEMSOFRE, MASRAIVA DEQUEM FAZSOFRER.

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Qual o melhor momento da Coope-rifa nesses últimos anos?SV: Tudo que a gente fez e faz éimportante. O Cinema na laje, a Chuvade livros, o Prêmio Cooperifa, a MostraCultural, Poesia no Ar, o Sarau todaquarta-feira durante oito anos sem parar,o Sarau nas escolas, lançamentos delivros, CDs de poesia... mas o maisimportante sempre é a próxima atitude.

Você atingiu as suas expectativascom o Sarau?SV: Ainda não. Queria que mais pessoasda comunidade se interessassem porarte, cultura e literatura.

O que você gostaria de alcançar?SV: Independência, pois a maioria dascoisas que fazemos é com dinheiro donosso bolso.

O que poderia melhorar na suaopinião?SV: Todo dia a gente aprende um pouco.

Como você divide seu tempo? Qualé a sua rotina?SV: Eu tenho insônia, gosto de escreverde madrugada ou pela manhã. Tiro unsdias para ler, outros para escrever egosto muito de cinema e futebol.

Entre saraus, blogs, projetos, novostextos e família?SV: Cooperifa e família são tudo para mim,não me vejo sem eles.

Como foi sua infância, o que tetornou um poeta?SV: Como garoto da minha época, euqueria ser jogador de futebol e, apesarde [ter tido] uma infância simples, foi muitobacana. Não precisava de muito para serfeliz, as ruas eram o nosso brinquedo.Acho que me tornei poeta porque nãosabia ser bom em nada. Acho que a gentevira poeta porque não sabe fazer maisnada.

Como você pensa a Cooperifa daquia dez anos?SV: Estamos pensando em alugar umgalpão para as nossas oficinas, bibli-otecas, cursos, um lugar para fazer agente pensar.

Foi difícil fazer as pessoas acredi-tarem na Cooperifa?SV: Acho que o mais difícil foi a genteacreditar. Hoje tem muita gente que nãogosta, mas a Coopeifa já é uma realidade.

A Cooperifa pode existir sem oSérgio Vaz?SV: Não sei, eu é que não posso viversem a Cooperifa.

Quais os principais projetos para asegunda metade desse ano?SV: A nossa segunda Mostra Cultural, queacontece de 19 a 26 de outubro.

A ARTE QUE LIBERTA NÃOVEM DA MÃO QUE ESCRAVIZA

Trecho do Manifesto da Antro-pofagia periférica:

A Periferia nos une pelo amor, pelador e pela cor.

Dos becos e vielas há de vir a vozque grita contra o silêncio que nospune. Eis que surge das ladeiras umpovo lindo e inteligente galopandocontra o passado. A favor de um fu-turo limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clamapor arte e cultura, e universidadepara a diversidade.

Agogôs e tamborins acompanhadosde violinos, só depois da aula.

Contra a arte patrocinada pelos quecorrompem a liberdade de opção.Contra a arte fabricada para destruiro senso crítico, a emoção e asensibilidade que nasce da múltiplaescolha.

A Arte que liberta não pode vir damão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha quenasce na cozinha e sinhá não quer.Da poesia periférica que brota naporta do bar.

Do teatro que não vem do “ter ounão ter...”. Do cinema real quetransmite ilusão.

Das Artes Plásticas, que, de con-creto, quer substituir os barracos demadeiras.

Da Dança que desafoga no lago doscisnes.Da Música que não embalaos adormecidos.

Da Literatura das ruas despertandonas calçadas.

Livros:Colecionador de pedras - 20 anos de poesia(global editora),Cooperifa, antropofagiaperiférica (editora Aeroplano).www.colecionadordepedras.blogspot.comTwitter: www.twitter.com/poetasergiovaz

Lula – poderia ser melhor, mas é omelhor presidente que já tivemos.Cooperifa – O sangue do meu corpo.Favela – Um lugar ruim para viver.Gosto só das pessoas que moram lá.Gog – Espadachim das palavras.

Como anda sua incursão pelo mundo doscontos, qual foi sua última poesia?SV: Estou escrevendo um livro de crônicas.Quer dizer, estou aprendendo. Mas escreviuma poesia "Novos dias" de que gosto muito.

Você acredita em uma transformaçãoradical da periferia?SV: A gente precisa transformar primeiro aspessoas e é muito importante tirarmos a letraR da palavra revolução.

Para quem quer começar a organizar umsarau, qual é a sua dica?SV: Tem que gostar de poesia, da comunidadee acreditar na literatura. Tem vários sarausacontecendo em São Paulo, mas são poucosque valem a pena. Sarau não pode virarsinônimo de festa. Muita gente não gosta dagente porque nós somos ortodoxos, mas temdado certo. São quase 8 anos, quase 400saraus, toda quarta-feira, não é fácil. Quemestá chegando é bem-vindo. Quanto mais,melhor. Mas é preciso saber respeitar.

Brasil –Ainda vai ser descoberto.Litera-Rua – Porta voz da literaturaperiférica.Poesia - Olhos da alma.Sérgio Vaz - Um vira-lata da literaturaque vive fuçando o lixo das ruas.

Não sei, eu é que não possoviver sem a Cooperifa.

Quando perguntado sobre se a Cooperifa pode existir sem ele.

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Entrevista exclusiva com um dos maiores roteiristas do Brasil.Fomos até a casa do autor para esse bate-papo. Ali Bonassi mora, ficacom as filhas e trabalha num escritório com estantes de livros e outrasrelíquias. Lá, escreve seus textos, roteiros e livros. Parceiro de escritorescomo Marçal Aquino, foi roteirista de vários filmes, entre eles Carandirue hoje, na TV, escreve o roteiro para Força Tarefa, da rede Globo.

Um cara super humilde e simples, que recebeu o Boletim doKaos com muita atenção e respeito ao nosso trabalho.

Você é autor de diversos livros. Quando foi o primeiro e quantosjá lançou?Bonassi: Publiquei meu primeiro livro em 1987, o Fibra Ótica, pelaMassao Ohno Editor. Foi um livro de poesia pago por mim e dois amigosmeus, o Nereu Velecico e o Marcelo Arbex, que também têm partesnele. O nome é uma homenagem ao Murilo Mendes, que escreveu umlivro chamado Transistor, que nós amávamos. De lá para cá, foram maisvinte e poucos títulos, entre contos e romances. Poesia não cometimais. Eram muito ruins meus poemas.

Comente dois deles. Subúrbio e 100 Histórias colhidas na Rua.Bonassi: Subúrbio, lançado em 1994 pela Ed Scritta e relançado pelaObjetiva no ano 2000, conta uma história de amor entre um homem desetenta anos e uma menina de sete, na periferia leste da cidade de SãoPaulo. O livro, de certa maneira, registra uma São Paulo que não existemais, com bairros que surgem sobre os escombros de outros e seusoperários sendo progressivamente substituídos pelas máquinas. O 100Histórias colhidas na Rua traz contos curtos, instantâneos da cidade,que eu saía para buscar por aí com minha caderneta em punho.

Como você define a importância da literatura?Bonassi: Literatura é civilização, refinamento, alegria, pacificação,prazer... Eu me lembro do dia em que me tornei escritor: apaixonado poruma garota aos 12 anos, e com vergonha de falar com ela, resolviescrever-lhe um bilhete. Acontece que, enquanto eu escrevia, iapercebendo que a minha angústia se aliviava. O próprio ato de pôr empalavras os meus sentimentos já tinha me tornado mais são. Não mandeio bilhete, esqueci da garota e decidi que queria fazer aquilo para sempre.Se eu não fizesse o que faço, aliás, seria uma pessoa péssima, de máíndole, violenta e injusta. Eu me conheço, a literatura me doma.

Indique um ou alguns livros.Bonassi: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Trópico de Câncer, do HenryMiller e O Estrangeiro, de Albert Camus

Um autor.Bonassi: Juan Rulfo.

Como você vê a literatura produzida hoje nas periferias?Bonassi: A literatura produzida nas periferias das grandes cidadesbrasileiras cresce a cada dia em termos de títulos, diversidade e dequalidade. É natural que assim seja, já que essa região, injustamenteexcluída até então, nunca fez parte da paisagem cultural brasileira eagora encontra seu lugar de direito. Claro que há também bobagemsendo escrita no meio disso. Também é natural. Cara que confundeatitude com violência e violência com liberdade. Trabalhei no Carandiru,sei que nada de bom frutifica na porrada. De todo modo, há os biscoitosfinos de Mano Brown, Ferréz, Pavilhão 9... A entrada da periferia naCultura é um dos grandes acontecimentos sociais de nossa experiênciademocrática recente, sem dúvida.

Você é corroteirista de filmes como Os Matadores (Beto Brant),Através da Janela (Tata Amaral), Castelo Rá-Tim-Bum (Cao Ham-burger), Carandiru (Hector Babenco), entre outros. O que maiste dá prazer, a literatura ou o cinema?Bonassi: São dois prazeres diferentes. Roteiro de cinema você está otempo todo debatendo com o diretor, o produtor e os outros membros

da equipe. É um texto coletivo, que não existe sem a presença deuma série de artistas no processo de realização. Às vezes enche osaco porque você tem que mudar o que criou em função da locação,da grana que falta, do ator que não pode fazer isto ou aquilo ecoisas que tais. É um grande aprendizado, agiliza a sua mente e

inibe aquela frescura de “eu sou autor”. Em cinema, não existeum autor, mas vários. A literatura é sempre solitária, mas é

maravilhosa por isso mesmo. Nos meus textos literáriosponho quantos figurantes e imagino as paisagens quequiser, pois não vai ter nenhum produtor para me encher o

DE TODO MODO, HÁ OS BISCOITOS FINOSDE MANO BROWN, FERRÉZ, PAVILHÃO 9...A ENTRADA DA PERIFERIA NA CULTURA ÉUM DOS GRANDES ACONTECIMENTOSSOCIAIS DE NOSSA EXPERIÊNCIADEMOCRÁTICA RECENTE,SEM DÚVIDA.

FORÇA TAREFA, SE FOR BOM, TERÁVALORIZADO O PROFISSIONAL DEPOLÍCIA PREOCUPADO COM AINVESTIGAÇÃO, A LEI E A DEMOCRACIA.

NUNCATIVEMOS UMCONGRESSO

TÃO CANALHA.GOSTARIA

MUITO DE VERO EXEMPLO

DESSA GENTEPRESA, MAS

ACHO DIFÍCIL

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saco. Mas insisto, não gostaria de ser sóescritor. Sou do debate. Tenho tesãonuma boa discussão. Mais de uma vezquase saí no braço com meus parceirosou contratantes. Normal. Quando a coisaé boa, a energia é essa mesmo. Aprendi eaprendo muito com as pessoas com quetrabalho.

Como é trabalhar com tantos dire-tores consagrados?Bonassi: As pessoas, em geral, fazem umaideia equivocada desses artistas consa-grados. É tudo gente como a gente,angustiada para fazer um bom trabalho,querendo ser amada como qualquer umde nós. De todo modo, caras como BetoBrant, Jean Claude Bernardet, HectorBabenco, Yu Likwai e a Sandra Werneckme impuseram desafios profissionais queme tornaram não apenas melhor roteirista,mas pessoa menos ruim.

Um filme nacional.Bonassi: Os Fuzis, de Ruy Guerra.

Um filme estrangeiro.Bonassi: Hiroshima Meu Amor, de AlainResnais.

Cazuza ganhou o Prêmio TAM de Cin-ema Brasileiro em 2004 pelo roteiroadaptado, prêmio que você haviaganhado um ano antes com Carandiru.Comente essas premiações.Bonassi: Premiações representam apenaso gosto daquele júri que está lá naquelemomento. É bom ganhar, é gostoso, vocêse sente reconhecido, coisa e tal; mas eute diria que há mais quem merece e nãoganha do que vencedores.

Atualmente fez o roteiro de LULA –Filho do Brasil, de Fábio Barreto. Vocêvotou no Lula? Como vê o governodele?Bonassi: Votei no Lula sim. É um governoque, em tese, tem os mesmos compro-missos que eu. Agora, os aliados para obterisso são desoladores. Eu preferia que opresidente viesse a público e repetisseaquela história de picaretas no Congres-so, que repetisse e assumisse, quecriticasse, que se colocasse fora dasujeira dos ladrões de galinha no Legis-lativo. Nunca tivemos um Congresso tãocanalha. Gostaria muito de ver o exemplodessa gente presa, mas acho difícil. Ogoverno ficou comprometido pelasalianças. Esse papo de que precisamosdessa putaria para administrar o país é umamentira deslavada.

E o Teatro, comente as principaismontagens.Bonassi: Teatro é o lugar da liberdadecoletiva, um grupo de gente maluca quese tranca numa sala para criar cenas,comover e incomodar. Trabalhei comgente comprometida, estudamos muito oque queríamos dizer e brincávamos paraencontrar a melhor forma no palco. Euanotava o que os atores faziam eroteirizava. Teatro é vivo, se inventa tododia. Destaco o aprendizado que tive como Teatro da Vertigem, no espetáculoApocalipse 1,11 e Arena Conta Danton,com a Cia Livre, de Cinele Forjaz.

Em 2006, estreou na direçãocom a peça Centro Nervoso. Pre-tende se tornar diretor tambémno cinema?Bonassi: Cinema é um troço quedemora muito para reunir os recursose criar. Não tenho saco de esperar.Não pretendo dirigir cinema, não.Todos os diretores que eu conheçotêm ou tiveram câncer, perdem asmulheres, ficam carecas e rancoro-sos. É um trabalho terrível e compouco tempo de gozo. StanleyKubrick comparava essa atividadecom a organização de uma batalha!

Cite quais obras suas foramadaptadas para o cinema.Bonassi: Um Céu de Estrelas, filmede Tata Amaral com roteiro de JeanClaude Bernardet e Roberto Moreira;e Latitude Zero, de Toni Venturi, comroteiro de Di Moretti. Dei sorte, sãodois filmes que eu admiro muito.

Quais outros prêmios ganhoucomo roteirista?Bonassi: Ganhei alguma coisa emRecife, Gramado, Cuiabá, além dosprêmios TAM. Nenhum dessesprêmios colocou comida no meuprato. Levanto todo dia às oito etrabalho até às sete da noite.

Por que deixou a Folha de S.Pauloem 2007, onde esteve por dezanos? E nos diga: pretende es-crever em outro veículo?Bonassi: Deixei a Folha porque fuideixado, porque não queriam maismeus textos lá. Acho isso normal emqualquer relação de trabalho: umahora querem, outra não. Escrevo paraquem me encomenda, mantendo aminha dignidade. Logo, nunca deixode escrever para outros veículos,agora como free lancer.

Agora você é roteirista do seria-do Força Tarefa. Antes de falar-mos dele, o que achou do filmeTropa de Elite?Bonassi: Força Tarefa foi enco-mendado a mim e ao Marçal Aquino,pois a Globo, há muito tempo, queriafazer um seriado policial. Fomoschamados pelo José Alvarenga Jr. etivemos toda a liberdade para criare contar as nossas histórias. É umavitrine muito boa, o salário tambéme ninguém nos enche o saco, muitopelo contrário, os autores são muitobem tratados lá. Nunca tive tantadeferência em torno de mim.Enquanto for assim, continuaremostrabalhando com a dedicação destesúltimos meses. Quanto ao Tropa deElite, o filme tem a importância dejogar uma luz nova sobre a questãoda violência, observando o lado dapolícia. Poucos filmes nacionais têmo mérito de colocar em evidênciaum assunto tão crucial para a gente,além da realização impecável que ofilme tem. O filme, entretanto, meincomodou um pouco, pois saí docinema com vontade de matarmalandro. Não gosto de trabalhar

este assunto neste registro melodramáticonum país tão pobre e tão burro como o nosso.Pode inspirar os maus instintos.

Você viu o *filme feito para vangloriar aR.O.T.A. (Rondas Ostensivas ThobiasAguiar)? O que acha disso?Bonassi: Não vi este filme. E se foi feito comessa intenção, não preciso ver. Tomei umastrês gerais da ROTA nos anos setenta e nãogostei do tratamento que me foi dado, nem doque fui obrigado a ouvir na ocasião.

Agora sim, comente Força Tarefa?Bonassi: Força Tarefa, se for bom, terávalorizado o profissional de polícia preo-cupadocom a investigação, a lei e a democracia.

Suas considerações finais?Bonassi: Agradeço a honra que vocês me dãode estar aqui, expondo as minhas ideias edivulgando o meu trabalho, mas não gosto defazer isso não. O melhor de mim está nos livros,nas peças e nos filmes. Quem fala demaisacaba não escrevendo. Uma coisa vaza aoutra... Aliás, é melhor parar.

*O filme Rota Comando, de Elias Junior, quebancou a obra, não conseguiu captarpatrocínio e investiu do bolso cerca de R$500 mil. Uma das respostas que recebeu(segundo matéria da Folha de S. Paulo,publicada em 19/7), do grupo Pão de Açúcar,foi: “Nosso slogan é 'lugar de gente feliz', enão 'de gente morta'.”

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Sua obra Crime e Castigo, publicadaem 1866, é considerada por muitoscomo uma das mais famosas daliteratura mundial. E seu último ro-mance, Os Irmãos Karamazov, foiconsiderado, por Sigmund Freud,como o melhor romance já escrito.

Sua literatura russa é marcada peloanticapitalismo, tema que se iden-tifica com periferias brasileiras,apesar das grandes diferençasculturais.

Sobre ele se falava muita coisa. Foiconsiderado gênio do mal, segundoMáximo Górki e perigoso, segundoStálin. É por isso que, até 1953, ocurrículo soviético para estudosuniversitários sobre o escritor oclassificava como "expressão daideologia reacionária burguesaindividualista".

Ele foi considerado um inovador etido como o fundador do existenci-alismo. Seus livros e contos descre-viam autodestruição, relatavam ahumilhação e o assassinato. Uma dassuas características literárias era aanálise de estados patológicos quelevam ao suicídio, à loucura e aohomicídio. Suas publicações foramchamadas de romances de ideias emuitas escolas de teologia epsicologia foram influenciadas porsuas ideias.

A vida que formou esse incrívelescritor foi conturbada. Dostoiévski,aos 17 anos, teve uma grande crisede epilepsia após saber que seu paihavia sido assassinado pelospróprios colonos que o julgavamautoritário.

Deixou o exército cinco anosdepois para dedicar-se integral-mente à atividade literária. Sua mãemorreu quando ele era muito joveme foi em São Petersburgo que estu-dou engenharia numa escola militare se entregou à leitura dos grandesescritores de sua época. Sua primeiraprodução literária, aos 23 anos, foiuma tradução da novela EugénieGrandet, de Balzac. Seu primeiro ro-mance foi Pobre Gente. Mas, em1849, foi preso por participar dereuniões subversivas na casa de umrevolucionário e condenado àmorte.

No entanto, diante do pelotão defuzilamento, teve sua penaconvertida em trabalhos sociais porNicolau 1º e passou nove anos naSibéria, quatro no presídio de Omske mais cinco como soldado raso.

SOU MULHER NEGRA E RESISTO!

Contra tudo que um diaMe julgou incapazContra o que um dia alegouQue minha capacidadeEstava na cozinhaQue falou que minha sinaEra ser submissa

Sou mulher negra e resisto!Contra a mídiaQue tenta me prostituirContra o embranquecimentoSobre a minha negritude, tenha respeito!

Sou negra e resisto!E graças à minha ancestralidadeDe mulheres guerreirasTenho em quem me apegar...

Pois Carolina Maria de JesusResistiu, mesmo passando fomeNão se rendeu ao dinheiro fácilE com sofrimentoEm meio ao papel que catavaEncontrou um caderno e uma canetaE fez disso uma armaPara denunciar toda misériaSofrida na favela...

Resistente como Luiza MahinQue era princesa africanaLutou bravamente na revolta dos MalêsVendendo seus quitutesAjudava os irmãos comOs recados que passavaResisto como a preta AnastáciaQue usou mordaça de ferroPor ter rejeitado um “senhor branco”Era bela, chamada de princesaNunca negou sua nobreza

Resistente como mãe Menininha dos GantoáPois sofreu repressão por praticar o candombléFoi presa, perseguida...Mas não deixou de executar a religiãoEra certa que o candombléEra o último meio de resistênciaE dignidade negra

E como muitas outras mulheres negrasResisto e resistirei!Somos fortes, somos mais que guerreiras,Somos deusas...Somos verdade, beleza, sutileza, fortaleza,Somos história, e não lenda

Por toda mulher negraQue lutou e resistiuHoje eu bato no peito e gritoCom verdade e pensamento convictoEU SOU MULHER NEGRA E RESISTO!

Por: Raquel Almeidawww.elo-da-corrente.blogspot.com

DICA DE SITEA iniciativa do site O

Literático

Se você for escritor(a) ou não, eletambém é seu, pois foi feito para oLiterático, que é a pessoa interes-sada em fazer, promover ou atémesmo somente conhecer a litera-tura e os assuntos que a entorname a compõem. É com esse texto deabertura que o site traz contéudoe matérias sobre poesia e literatura.

A ideia é reunir informações e dicasimportantes para auxiliar umescritor ou escritora, desde seuprocesso de criação até o pontofinal: mostrar sua obra a umaeditora.

Também tem algumas curiosidadessobre os assuntos básicos queenvolvem os livros: os DireitosAutorais, o Processo de fabricaçãodo livro-objeto, as novas formas depublicação, as várias discussõese correntes literárias atuais.

No espaço ainda tem agenda comeventos, concursos e prêmiosligados à literatura.

Acesse:oliteratico.webnode.com

Descreveu a terrível experiêncianos livros Recordações da Casa dosMortos e em Memórias do Subsolo.

Suas crises de epilepsia ele atribuíaa "uma experiência com Deus", etiveram papel fundamental em suascrenças. Foi inspirado pelo cristia-nismo evangélico e passou a pregara solidariedade como principal valorda cultura eslava. Em 1857, casou-se com Maria Dmitrievna Issaiev, masPolina Suslova, que conheceu doisanos antes, seria seu romance maisprofundo. Em 1864, viúvo de Maria,terminou seu caso com Polina e em1867 casou-se com Anna Snitkina.

Seu principais livros são: Crime eCastigo; O Idiota; O Jogador; OsDemônios; O Eterno Marido e OsIrmãos Karamazov. Publicou tambémcontos e novelas. Criou duas revistasliterárias e ainda colaborou nosprincipais órgãos da imprensa russa.Seu reconhecimento só veio porvolta de 1860, com a publicação dosgrandes romances: O Idiota e Crimee Castigo. Seu biógrafo, NicholasBerdiaiev, certa vez descreveu suaimportância: “A literatura deDostoiévski é de tal modograndiosa, que o simples fatodele ter nascido justifica aexistência do povo russo nomundo. Ele testemunhará afavor dos seus conterrâneosno juízo final das nações."

Morreu às oito horas e trinta minutosda noite de 28 de janeiro de 1881 eseu funeral foi grandioso para umsimples escritor. Um decreto conferiua pensão de 5.000 rublos à sua viúvae ordenou que os seus quatro filhosfossem educados à custa do tesouronacional.

Algumas de suas frases famosasConhecemos um homem peloseu riso; se na primeira vezque o encontramos ele ri demaneira agradável, o íntimoé excelente.

Nem homem nem naçãopodem existir sem uma ideiasublime.

A vida é um paraíso, mas oshomens não o sabem e não sepreocupam em sabê-lo.

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IDEIAS CRUZADAS Agradecimentos aCrônica e Nina Fidelis

NOME/Jairo PeriafricaniaTIME/CorinthiansFAMÍLIA/Só os verdadeiros(as)LITERATURA/Fundamental, me faz conhecere viajar pelo desconhecidoUM LIVRO/Negras Raízes (A saga de umafamília) de Alex HaleyUM ESCRITOR/Paulo LinsUM POETA/Mario QuintanaUM FILME/Cidade de DeusUM ATOR/Al PacinoUMA ATRIZ/Fernanda Monte NegroO QUE TE DÁ PRAZER/ Viver o que vivo eestar com as pessoas que realmente amoO QUE VOCÊ NÃO SUPORTA/O descaso dosgovernantes, a prepotência de uns e outrose aqueles que se julgam imortais

TRÊS LUGARES QUEFREQUENTA/Periferias ondeposso ir e a CooperifaUM SONHO/Lançar um CD e fazer comque as pessoas ouçamUMA PERSONALIDADE/Mano BrownUM ARTISTA/Renato Russo

www.periafricaniarap.blogspot.com

1 – Autor de 85 letras e um disparo2 – Organizador do hip hop a lápis3 – Clássico Um Homem na Estrada

4 – Um dos livros de Alessandro Buzo5 – Posse da zona leste

6 – 8° Anjo7 – Festival anual de hip hop

8 – Líder de Palmares9 – Fundador da Blackitude – Nelson?

10 – Rap é compromisso

1-Sacolinha2-Toni C

3-Racionais4-Guerreira

5-DRR6-Dexter7-Hutúz8-Zumbi9-Maca

10-Sabotage

Page 10: Boletim do Kaos - Nº6

www.marildafoto.blogger.com.br

Maiores informações e muitomais opções acesse nossosparceiros e informe-se no siteda Ação Educativa que temuma agenda sobre os várioseventos no mêswww.acaoeducativa.org.br/agendadaperiferia

No site Catraca Livre você temuma agenda que tem eventos,cursos, cinema, teatro,exposições, palestras eencontroswww.catracalivre.com.br

Quem quiser divulgar seuevento na próxima ediçãoentre em contato pelo [email protected]

Fomos até o Sarau da Brasa para lançar aedição nº4 do Boletim do Kaos. Devíamosuma visita aos parceiros que já conhecíamosnos roles da Cooperifa.

Presenciamos uma noite de sábado na zonanoroeste de São Paulo, um sarau com muitamúsica, atitude, poesia e descontração.

No sarau funciona uma bibliotecae o bar se transforma em centrocultural, quem quiser pode, semnenhuma burocracia, levar um livroe trazer no próximo encontro.

Com um pouco mais de um ano de sarau, arapaziada tem muita disposição e leva apoesia por onde passa. Para se ter uma ideia,só em um fim de semana a turma alto astralvisitou mais de 7 lugares diferentes.Recentemente, o coletivo teve um projetoaprovado pelo VAI e lançou a sua antologia eoutros livros.

A região em que está situado o sarau foi umlugar de refúgio dos negros no séculopassado e toda essa energia, força eancestralidade você sente na pele.

Às 20h30 - Bar do CarlitaRua Professor Viveiros Raposo, 234(em frente à escola E.E. João Solimeo).Brasilândia, zona norte. Entrada franca.Telefone: (11) 3922- 8593.

Quer acompanhar o dia-a-dia e as atividadesdesse coletivo? Acesse.

brasasarau.blogspot.com

Ferréz sempre foi ativo e participou de vários projetose iniciativas sociais. Mas foi no seu bairro, o JardimComercial, no Capão Redondo, que fundou o projetoInterferência. A casa leva o mesmo nome do seuquadro na televisão, mas agora sua interferência éna vida das crianças da região, levando cultura eliteratura. “Foi a vontade de fazer a coisa domeu jeito. Vi em várias entidades muita coisalegal, mas sempre achei a literatura mal traba-lhada. Tendo esse amor pela palavra, acho queposso passar isso mais diretamente numprojeto mais meu; fora que a quebrada mereciater um espaço assim, e eu perdi muito tempoacreditando em artista, tentando ajudar car-reira dos outros. Na verdade, todo o mundo sóquer palco, muito discurso. Agora, pelo menos,meu tempo é mais bem utilizado”, falou o escritorao BK.

No espaço, as aulas são baseadas no método arco-íris.A parte pedagógica fica com a Tia Dag (Casa doZezinho), a arte-educadora Evanice dá aulas depinturas, desenhos e jogos educativos. Ferréz éreponsável pela leitura e Léo ensina ioga. A casa aindaconta com uma sala para assistir a sessões de cinema.

Quando questionado se sua interferência no bairro éuma ação que alimenta também sua literatura dealguma forma, Ferréz respondeu “Não, pois o novoromance que estou fazendo há tantos anos, nãotem nada sobre periferia; o que me dá é umprazer enorme como morador daqui, poder veras crianças em contato com a arte. Isso é maiorque tudo. Eu sempre me dei bem com crianças,não é à toa que coleciono bonecos e tudo mais.Elas são sinceras, mais fácil de lidar do quequalquer adulto.”

Dia 6Workshop com o rapper espanholJota Mayuscula, um dos maioresnomes da produção europeia.Cadastre-se na loja 1 Dasul, égratuito e as vagas limitadas.Rua Grissom, 80 A Parque VeraCruz. a 50 metros do metrô Capão,São Paulo.

Dia 9Aniversário Sarau da Ademar, às20h - Espetáculo Teatral -Anfiteatro da Escola EstadualMartins Pena (Rua Prof. PauloMangabeiraAlberanaz, 150 –Americanópolis, São Paulo)Telefone: (11) 5565-3371).www.saraudademar.blogspot.com

Dia 10às 20h30 - Cine Buteco - NakasaBar - Rua Públio Pimentel, 65 (alt. donº 3.800 da Av. Cupecê) CidadeAdemar. Eentrada Franca. Telefone:(11) 5622-4410.

Dia 11Sarau da Ademar na EscolaEstadual Martins Pena.

Dia 12Grande show com diversosgrupos de rap do DistritoFederal. Gog, Cirurgia Moral, DjJamaika, Voz Sem Medo,Guind’Art 121 e Provérbio Xentre outros. Green Express,centro de São Paulo.Música no Pé de Manga (RuaProf. Felício Cintra Do Prado (alt.do nº 153) – Cidade Ademar.

Dia 13às 14h - Maracatu, voz e violãocom a Banda T e, às 18h, Sarauda Ademar - Nakasa Bar.

Dia 15Exposição Gabriel 470: StreetArt. Mostra coletiva organizadapela QAZ. Al. Gabriel Monteiro daSilva, 470 - São Paulo.

ESPAÇO MATILHA CULTURALPROMOVE SETEMBRO VERDE NOCENTRO DE SÃO PAULO

Evento conta com a estreia do filme francês Home,Ecosystem, documentários, palestras e debatessobre meio ambiente

A pré-estreia do filme Home, dia 1 de setembro, será na salade cinema da Matilha Cultural, que terá um agenda deexibição pelo mês inteiro. O filme foi dirigido pelo francêsYann Arthus-Bertrand e produzido por Luc Besson. Naprimeira semana, os temas das palestras serão Amazônia,Mudanças Climáticas, Oceanos e Mobilização em Rede.Serão realizados workshops com músicos participantes dofestival de música Eletrônica Ecosystem.“Poder exibir o filme Home, apoiar festivais musicaise promover estes debates e palestras parademocratizar o conhecimento sobre a questãoambiental, além de servir como ponto de encontropara entidades e pessoas de todos os tipos e partesda cidade, são os nossos objetivos com o SetembroVerde”, disse Ricardo Costa, idealizador da Matilha Cultural.

Para a programação completa acessewww.matilhacultural.com.br

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Olá, camarada, tudo certo? As ediçõesdo Kaos chegaram por aqui e achei bemmassa o formato do jornal, a divulgaçãoda literatura tradicional e, principal-mente, dessa feita nos subterrâneos,bem à parte das grandes editoras, que,assim como as rádios, funcionam à basedo jabá.Sem querer me alongar muito, faço pré-vestibular comunitário numa comunida-de aqui do Rio (chamada Nova Holanda)e a minha ideia é deixar o Boletim nabiblioteca deste espaço.Queria saber se tem algum ponto dedistribuição por aqui? Valeu mesmo pelaconsideração de ter me respondido eenviado o jornal.Manoela

Salve, salve Buzo e toda a equipe!E aí rapaziada, os jornais chegaram.Vieram na mão como o prometido e nóssó temos de agradecer a vocês! É muitolouco, porque tem um conteúdo não sódo hip hop, mas também das paradasculturais, dos livros dos manos e dosautores que escrevem o que a gentevive. Acho que é por aí, tá ligado? Acultura se completa através doconhecimento.

Aí Buzo, no que você, o Alexandre etodos vocês precisarem, estamos aquipara fortalecer! Grande abraço egostaríamos de continuar recebendoo Boletim, se for possível! Agradecidode coração!Hip Hop Atitude

Salve, Salve.Primeiramente, gostaria de parabenizá-los pelo excelente trabalho do Boletimdo Kaos. Tenho conseguindo ler algu-mas edições pela Internet e, cada vezmais, me apaixono por tudo que vemsendo escrito no jornal. Parabénsmesmo, do coração. Agora, depois derasgar seda, eu queria saber se épossível receber o Boletim do Kaosaqui em Salvador-Bahia.Como moro fora de São Paulo, fica su-per complicado para eu conseguir teracesso ao BK. Mas, se vocês puderemmandar para a minha casa, isso seriauma coisa maravilhosa, pois eu adoromuito literatura e, como, infelizmente,eu não posso estar aí perto de vocês,receber o BK seria uma maneira dealiviar essa distância. De qualquermaneira, independente da resposta,

Filhas de pai iemenita e mãe inglesa, Zana eNadia, com 15 e 14 anos, vivem na Inglaterracom mais três irmãos. Os outros dois irmãosque vivem no Iêmen com os avós sãosegredo entre a família, pois seu pai osdeixou lá contra a vontade da mãe.

Elas são adolescentes que têm o privi-légio de viver essa fase com intensidade,gostam de ouvir música, dançar, estudar,usar saias curtas, fumar cigarro escondido,fugir para se encontrar com os paqueras.Nem se dão conta de que milhares demulheres em outros países nunca tiveramesses pequenos prazeres.

Zana tem um namorado negro, ai se o paisabe! Ele vive as ameaçando, dizendo queainda vão aprender a viver como mulheresdecentes. E acaba cumprindo essapromessa, vendendo as duas filhas. Zanapensa que está viajando de férias paraconhecer o país de seu pai acompanhadapor um amigo da família, que mais tardedescobre ser o seu sogro.

Ele a comprou para se casar com seu filhode 13 anos e assim ter direito a umdocumento europeu. Quando ela se dáconta de que foi vendida, que é umaescrava, violada todas as noites por seumarido sob a ameaça do sogro (caso nãodurma com seu marido será castigada)quer evitar o inevitável: que sua irmã maisnova, Nadia, que também foi vendida,venha para o Iêmen.“A aldeia onde Zana

agora se encontra, nas montanhas doIêmen, não está localizada em nenhummapa. Para ela que cresceu com aliberdade da Inglaterra dos anos 80,conhecer a realidade de um país ondeas mulheres não podem ter vontades,direitos, escolhas - ou seja, não podemter vida - é um choque, um absurdo,uma morte lenta. Apesar de seu sogroconhecer a modernidade, já que viveuem Inglaterra, submete a família ao queninguém se atreve a discutir: astradições, nas quias o homem é osenhor que decide por tudo e portodos. E para quem se atreve a afrontá-lo a resposta é óbvia: a violência, men-tal e física.

Sua irmã também chega, acompanhadapelo sogro e conhece o seu marido,como também a escravidão, violênciae a resignação.“Zana não aceita, seuespírito não se conforma com o queestá vivendo. Trabalha todo o dia comouma escrava num local onde a falta deinformação, ausência de qualquer tipode desejo, de ser ela, de ser mulher,de ser feliz é algo normal e as mulheresaceitam como a única opção.“ Ela lutapor sua liberdade, seja ouvindo suascassetes de músicas ou relendo oslivros ingleses que levou para nãoesquecer seus gostos, para se lembrarque é livre para amar; revendo asfotografias para saber que tem uma mãee não acredita que ela tenha consen-

tido com tal crueldade contra as pró-prias filhas.

Por muitas vezes sente que está vi-vendo num século passado e issodevido as péssimas condições de vidae a mentalidade das pessoas queconvivem.

Ela descobre que o seu pai tramou tudoescondido, quando, quatro anos depois,grávida de seu primeiro filho e quandosua irmã Nadia já espera o segundo,conseguem finalmente contatar a mãe,que entra em choque quando vê asfilhas, de véu, escravas, casadas, mãese infelizes. Autênticas mulheres árabes,como queria o pai. São obrigadas a engo-lir uma cultura que a alma delas nãoaceita. E Zana luta para que ela, a irmã eos filhos voltem a ter uma vida, sejamlivres e não sejam tratados comoanimais, domados pelos homens.

Depois de muita luta e dor, precisaramos meios de comunicação fazerembarulho e lidarem com a negligência dosgovernos britânico e iemenita. É difícilnegociar o direito de uma mulher numpaís onde o homem é quem decide oseu destino. Sete anos depois Zana seviu livre de sua prisão, conseguiu odivórcio e pôde sair do país. Mas eladeixou o filho, a irmã e os sobrinhos.Nadia se recusou a deixar os filhos.Zana fez uma promessa para a irmã: fazer

o possível e o impossível para libertá-la e osfilhos. Mas sua luta estava apenas começando.

Para conhecer o desfecho da história,acompanhe a segunda parte no livro, damesma autora, Um presente para Nádia.

estou enviando o meu endereçodaqui, de Salvador, para ver se rolade eu conseguir receber o Boletim.No mais, desejo que o Boletim doKaos cresça ainda mais. Fiquem napaz.Bruno Araújo Oliveira

Resposta Boletim do Kaos:Agradecemos a todos que, juntocom a gente, fazem desse sonhouma realidade. Para receber ojornal na sua cidade, basta man-dar um [email protected]

Comunique-se

Para trocar ideias, mandare-mail e falar com aredação mande pra

[email protected]

Page 12: Boletim do Kaos - Nº6

MATILHA CULTURAL, UMESPAÇO PARA ARTES NOCENTRO DE SÃO PAULO

Um novo lugar para a arte surge em um edifíciotransformado em centro cultural próximo ao Largodo Arouche. Fruto do ideal de um coletivo formadopor profissionais de diferentes áreas, a casa daMatilha está sendo preparada para apoiar e divulgarproduções culturais e iniciativas socioambientaisdo Brasil e do mundo. Contando com uma sala decinema (digital e 35 mm) com 68 lugares, arenapara eventos, galeria de exposições e café; oespaço será palco de festivais e mostras de filmese documentários, lançamentos de livros,exposições de arte, grafitti e fotografia e eventoscomo seminários e workshops, entre outros.

A filosofia do coletivo é provocar debatespolíticos com foco em questões ambientais e dedireitos humanos, além de apoiar movimen-tosartísticos independentes.

“Nosso espaço é um centro cultural etambém um centro de convergência deideias. Queremos mostrar que é possívelexistir e trabalhar sincronizados com oplaneta e de forma não-comercial”, disseRicardo Costa, idealizador da Matilha Cultural.“Levando informação e cultura, pretende-mos contribuir para que atitudes políticasfaçam parte do dia-a-dia das pessoas,construindo uma sociedade mais livre e maisconsciente”, continuou Ricardo.

Atualmente, está no espaço a exposiçãoREBOARD, de Alexandre “Sesper” Cruz e FábioAhmad, personagens históricos do skate, queexpõe obras pintadas em shapes.

Em setembro, uma programação especial chamadaSetembro Verde traz uma série de encontros, de-bates, filmes e vídeos para pensar sobre a relaçãohomem/meio ambiente.

ESPAÇO MATILHA CULTURALR. Rego Freitas 542 - São PauloTelefone: (11) [email protected]://matilhacultural.com.br/

Periferia de São Paulo, extremo dazona leste. Mário é um malandro. Nãodiria um marginal, mas um cara que levaa vida em cima da linha que separa ocerto do errado.Tempos atrás, ele trabalhou na Bolsade Valores de São Paulo, era contínuo,boy interno, pau para toda obra. Andavanumas roupas sociais, parecia bacana.Nesta época conheceu Rita e, cheiode 171, conquistou a moça. Moçadireita, diga-se de passagem. Mário,que de bobo não tem nada, casou-secom ela e a chama de minha flor.Ela trabalha de enfermeira num hospi-tal e Mário, digamos assim, é umdesempregado convicto desde que,há 10 anos atrás, saiu da Bolsa.Os panos sociais se foram com o tempo.Mesmo tempo que emprego, empregomesmo, ele deixou de procurar.Adotou a frase: “Não tem empregopara quem tem pouco estudo, blá,blá, blá...”Rita briga, ameaça ir embora, mas... fica.Basta ele pegá-la por trás quando estádistraída lavando a louça e sussurrarem seu ouvido: minha flor. Toda a raivapassa e a cama pega fogo. Mário levaRita no bico.Não que ele não faça nada e sejasustentado pela mulher. Mário faz todoe qualquer bico que aparece, serventede pedreiro (não teme serviço pesado,só evita); às quartas-feiras ele ajuda nafeira da rua de sua casa, só não faz asoutras feiras da semana com o Tião dasbananas porque precisa acordar muitocedo e ele já tentou, mas não conse-guiu. Trampa às quartas porque ospróprios feirantes acordam ele. Obarulho começa cedo, ele passa umcafé, bola um baseado e sai para ajudaro Seu Tião a montar a banca, oferececafé a todos, faz festa.“Vai fumar esse baguio fedidopara lá, Mário. Depois vocêvolta”, reclama Tião.Ele sai rindo e dizendo: “Fede, mas é bão”.Quando a situação aperta, ele faz umbico mais perigoso. Compra 50, 100gramas de maconha e, por alguns dias(até levantar uma grana), vendetrouxinhas de R$ 5 e R$ 10.Não, Mário não chega a ser umtraficante. Vende dois, três dias pormês, geralmente quando a Rita estábraba com água, luz e telefoneatrasados, as três contas que écombinado de ele pagar.Bandido mesmo ele não é. Ajuda ummonte de vizinho, até carpiu o terrenoda Dona Betinha, uma velhinha quemora sozinha. O mato toma conta doquintal dela. Mário não cobrou nada porisso, fez por amizade.

Joga bola no time da quebrada, o SemMiséria. A sede é no Bar do Seu Antenor,que não vende fiado, nem atura bêbadoque encosta no balcão e passa a tardecom uma pinga.Mário leva a vida. Diz sempre que um diavolta para a Bolsa, um dia vai reassumir oseu posto. Enquanto isso, como diria oZeca Pagodinho: “Deixa a vida melevar, vida leva eu...”Mas o que esta sexta-feira iria ter de es-pecial, de diferente? Tudo começou tãoigual, Rita o chamou às 5h30, como tododia. Levantou, levou ela até o ponto, aesperou embarcar no “Buzão” Term. PQDom Pedro e voltou, bolou um baseado efumou deitado, vendo TV. Voltou a dormir.Antes, passou o café, às vezes Rita fazia,mas nesse dia ela não fez. Enquanto aágua fervia, ele bolou um, vendo o solque tentava dar o ar da graça.Depois do baseado e do café, dormiu.Por volta das 9h da manhã foi acordadoinesperadamente, o barulho de umhelicóptero muito próximo à sua casa,rasante próximo ao solo.“Helicóptero de merda. Só pode serda polícia ou da imprensa marrom”,comentou.Abriu a porta e praticamente olhou noolho do PM dependurado na porta daaeronave, eles vasculhavam o córregono fundo da favela onde Mário mora.Ele voltou para dentro de casa, xingandoa polícia por tê-lo acordado tão cedo.Aproveitando que acordou, foi ver umbico. Escovou os dentes, meteu a camisado Palmeiras que no dia anterior ganhoue saiu. O helicóptero lá, sobrevoando suacasa, como dormir assim?!Subia a viela, tudo igual, viu uma viaturapassando a milhão na avenida ao longe.Um dia comum, tirando a polícia e ohelicóptero, o bar abrindo as portas: “Fala Mário, tá moiado a quebrada”,disse Neco, dono do bar.“Não devo nada para esses coxi-nhas”, respondeu ele.Seguiu. Lá na frente, cruzaria a avenida,mas antes viu a Dona Rosa varrendo acalçada.“Bom dia, D. Rosa.”“Fala Mário, caiu da cama?”“Poxa, Dona Rosa, tem um helicóp-tero da PM ali, fazendo o maiorbarulho.”“Ouvi dizer que estão atrás de unsladrão que roubaram uma firma alina frente, logo que ela abriu, leva-ram o dinheiro do pagamento dosfuncionários.” D. Rosa já tinha toda aficha da ocorrência.“E eu que pago D. Rosa, sou obrigado aacordar.”Assim ele seguiu, ligeiro. Com os covardedeu um tapa numa ponta de um baseado.Viu uns moleques na praça que cabu-laram a aula.

Assim que virou na esquina daavenida, do nada apareceu de novoo helicóptero, rente aos fios, baru-lho, gritos, três caras apareceramcorrendo de arma na mão. Virou umaRota cantando pneu, mais umas trêsviaturas, tiros, tiros e mais tiros.Não era um dia comum, as coisas quepareciam igual a qualquer dia, agorafugiu do cotidiano. Ele viu os carasjogarem bala para cima da PM e amesma revidar. Ele, no lugar errado,na hora errada, como um vídeoclipe, ou um filme. Mário ainda viudois ladrões jogarem as armas eerguerem as mãos para o alto, viuisso num flash de segundos enquan-to ele e um dos ladrões tombavam.Agora, ali, um cara morto do seu ladoe ele aguardando resgate. Um tirono peito.“Parece que esse não tinha nadaa ver”, disse um PM.“Deu azar”, disse o outro.D. Rosa chegou correndo e disse atodos: “Ele acabou de bater pa-po comigo ali”.Um PM olhou para outro e disse:“Inocente” .Mário lutava pela vida, Máriolembrava dele de social na Bolsa deValores, lembrava de Rita, como eleamava essa mulher, lembrava do jogode ontem, seria o último que viu seuverdão?Mário viu o resgate chegar, prime-iros socorros ali mesmo no chão.Gente curiosa rodeou o cordão deisolamento. Mário lutava, por maisque a vida não fosse um mar derosas, ele gostava de viver.O médico do resgate disse: “Forçarapaz. Tá me ouvindo?”“Se eu morrer - sussurrou Mário -diz para minha flor que eu aamo. . . ”Mário foi colocado no helicóptero elevado às pressas ao hospital.Não imaginava que seu dia seria tãoagitado, nem muito menos queandaria num helicóptero. Afinal, nafavela não tem heliporto.

Page 13: Boletim do Kaos - Nº6

ELETROCOOPERATIVA

Uma saída socioeconômicano mundo digital

O Portal Eletrocooperativa é a concretização de um sonhocoletivo de transformação social, cultural, econômica etecnológica. Uma rede social de criação de renda eeducação para o desenvolvimento sustentável eprodução cultural.

O coletivo, que começou em Salvador, hoje tem presençaforte no mundo digital com iniciativas inovadores como acriação de renda a partir da produção cultural, que eleschamam de “Economia Criativa”.

Completando seis anos, o Instituto Eletrocooperativatem criado oportunidades para o acesso aos meios de

JOGANDO COM ELEGÂNCIA PARA DRIBLAR O TIME DA IGNORÂNCIA

Wesley Noóg, conhecido pelas aberturas do Sarau da Cooperifa, pegouseu violão e, com a equipe da produtora Muda Cultural, foi para a Françano mês passado levando suas letras sofisticadas e seu samba-soul.

O convite nasceu quando Raíssa, filha do jogador Raí, levou o CDMameluco Afro-Brasileiro para a casa noturna Favela Chic, em Paris. Osresponsáveis gostaram do que ouviram e convidaram Wesley para fazera abertura do mês da música brasileira.

Depois de se apresentarem na badalada casa, foram para Saraaba, umgueto africano de Paris. Em seguida, partiram para outras quebradas daCidade Luz, além de tocar nas ruas. “Informalmente, cantei no metrô,à beira do Rio Sena, pois achei importante está interferêncianatural na realidade social de Paris. Ao encerrar esta etapa,parti para o sul da França, próximo ao Mar Mediterrâneo, ondecantei em três cidades: Ain Ex Provance, na festa de 14 de julhoque comemora a Revolução Francesa; em Sam Remy, no festivalde teatro que acontece anualmente, e Avinon, onde acontece afeira anual de artes”, diz Noóg.

Sabemos que a música brasileira é muito bem recebida na Europa, aindamais um artista com toda essa bagagem. “Fiquei impressionado coma recepção, tamanha é a catarse que nossa música provoca.Chega ao nível das pessoas subirem nas mesas e gritaremalucinadamente ou, até mesmo, uma espécie de paralisação queprendia a atenção, deixando as pessoas imóveis por um certotempo”, relembra o trovador e menestrel.

Wesley, acostumado com as periferias paulistas, viu várias realidadesna França: “No Favela Chic, especificamente, foi algo mais pecu-liar, por ser um espaço frequentado por gente do mundo inteiro.Franceses, africanos, brasileiros, italianos, entre outros, dandoum tom muito cosmopolita, o que me deu a percepção clara denosso cosmopolitismo musical”, continua o artista.

Num país com nível literário tão forte, logo suas letras e poesiaschamaram a atenção de uma professora francesa que o convidou paralançar um livro de poemas na França. Realmente, a viagem lheproporcionou momentos únicos. “Após o show do Favela Chic umapequena multidão nos seguiu e nos conduziu às margens do RioSena. Lá, já estava uma outra pequena multidão. Eles nosimpulsionaram a continuar com a música. Obviamente continueicantando. Quando comecei a cantar 'Jogar com elegância paravencer o time da ignorância', a multidão entrou em catarse comgritos, dança, etc. Até que fomos interrompidos pela polícia econvidados ao distrito policial, pois havíamos quebrado a leido silêncio. Daí não resultou em dano algum pelo fato de sermosbrasileiros e convidados para tocar no mês de música brasileirana França. Mas o susto foi grande...”, comenta o cantor.

Uma viagem que o cantor confessou ter inspirado novas produções.“Estou trabalhando nelas, logo elas serão cantadas...”, concluiWesley Noóg.

produção, computadores e softwares que facilitam agravação, produção e difusão de conteúdo. A partirdessa experiência de formação, os jovens aprenderama produzir não apenas de forma técnica, mas buscandoo algo mais da realização artística, humana e econômica,processo esse que já resultou em diversos CDs, showse vídeos.

Com a proposta principal de valorizar economicamentetal processo, essa rede social ajuda a mostrar o trabalhode artistas potencializando a cultura brasileira.

Na prática, o projeto “Chamadas Criativas” colocano ar temas e vários adeptos dessa rede socialparticipam e as criações coletivas premiam o maiornúmero possível de artistas, premiando iniciativas comaté R$ 500. Dentro da lógica da abundância, 80% dacontribuição oferecida pelo apoiador é distribuída en-tre os usuários e 20% se destina à manutenção daplataforma. Os critérios utilizados na seleção dasproduções não priorizam as questões técnicas evalorizam aqueles que fizeram o melhor com o quetinham ao seu alcance, privilegiando as regiões menoscentrais do Brasil.Como participar?

Basta fazer um perfil no portal, escolher uma chamadae postar suas criações.

www.eletrocooperativa.org.br

Cartaz do Show na França

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O filme Profissão MC reúne grandes talentos do cinema,música e literatura

O filme Profissão MC, que estreia nestemês, traz a história de um mano daperiferia que, vivendo as dificuldadesda falta de emprego e da gravidez nãoplanejada, opta pelo caminho do crimee acaba preso. Mas, nesse momento, ofilme volta à metade, quando o perso-nagem é convidado a entrar para a vidabandida. Na nova versão da história eleé levado por um amigo a um estúdio demúsica e sua carreira deslancha. Eleacaba tornando-se um rapper dereferência nacional.

A produção, que se destaca por não ternenhum apoio financeiro, reuniu artistasde varias áreas. O diretor, Toni Noguei-ra, dono da produtora DGT, já filmoumuita coisa interessante pelo mundo eaté escola de samba em Nova Iorqueele já teve.

Sua paixão por fotografia nasceu aos15 anos, viajando para a Patagônia,quando ganhou uma câmera do pai. Nosanos 70 foi, como autoexilado, paraEuropa, onde conheceu Guará Rodri-gues, grande figura do cinema Udigrudicom quem fez vários filmes comofotógrafo de cena. Neste período, faziadois longas por semana nos quaisNeville D'Almeida filmava uma históriapela manhã e o Julio Bressane outra pelatarde. “Esta escola foi a minha gran-de colaboração para o ProfissãoMC”, relembra Toni.

Mas não pense que Toni teve dificul-dades para filmar no Itaim Paulista.“Como diz o Sérgio Vaz, eu tenhoImunidade Periférica Vitalícia e noItaim Paulista, especialmente, quefrequento há mais de cinco anos,me senti totalmente à vontade”,conta o diretor.

O filme foi feito de forma indepen-dentee literalmente sem dinheiro, mostrandoque é possível fazer filme e produzir

cultura sem altas verbas. “O propó-sito não foi esse, se bem que oresu-ltado mostra esta possibili-

dade e aponta para um futuro pos-sível na produção cultural. Eu soutotalmente a favor de fazer artecom pouca verba, sem desperdício,usando a criatividade como formade expressão. Aprendi no convíviocom os artistas e poetas perifé-ricos que a arte vem da neces-sidade, e não de verbas astronô-micas”, diz o diretor.

Toni, com grande experiência, fala daspeculiaridades do filme. “Uma jornalistavirou agitadora social, um fotógrafode jornal virou policial e um drogadono farol virou um drogado do filme.Essa magia, para mim, foi a granderevelação do filme”, orgulha-se Toni.

Ele confessa que sua área é mais a docu-mental. “Arrancar estórias do fundoda terra é o que me move. Ontem,vi um curta genial dentro do proje-to Crônicas Paulistanas da Secreta-ria Municipal de Cultura, o SAMPAR+-COUR, que é um curta de cincominutos de um cara voando pelacidade. Magnífico. Som, fotografia,edição e trilha impecáveis. Cadavez gosto mais de filmes curtos”,revela o diretor sobre o que viu de novona produção cultural.

Outro ingrediente do filme foi o roteiroe codireção do escritor AlessandroBuzo. “O áudio visual é o futuro.Imagem com som é tudo. Trabalhona TV e é o que vou fazer no fu-turo: livros, TV e filmes”, comenta.

Para protagonizar a obra, foi escolhidoo rapper Criolo Doido, conhecido peloseu carisma e pela sua festa Rinha dosMCs. “Meu personagem é um jovemde talento, morador de um extremoda cidade. O personagem descreveo sonho, a luta, a correria e asarmadilhas que muitos de nossosjovens travam todos os dias. Heróisanônimos que são engolidos pelametrópole”, fala Criolo, que já viveumuitas das situações represen-tadas no

filme. “Já usei roupa de doa-ção, comida do fundo socialda solidariedade. Já me cha-maram para ser o lobo entreos cordeiros, essa é a minhahistória, é um grito de todosnós”, continua o rapper.

Criolo pretende lançar seupróximo disco ainda esse ano eestá com DVD no forno. Recente-mente, participou do filme Ban-dido da luz vermelha e dodocumentário Versificando. So-bre essa nova cena literária, re-

lata: “Vejo hoje nossarais de poesias, nasquebradas, o mesmoempenho do hip hopque conheci há 20anos atrás. Parabénsa todos os poetas”,finaliza Criolo, frequentador daCooperifa.

Texto: Alexandre De MaioFotos: Marilda Borges

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Tempos diferentes,estilos diferentes,

o mesmo vicío: a l iteratura.

Por Alexandre De Maio

O primeiro a escrever para negros e, por isso,pagou um alto preço

Solano Trindade era poeta, pintor, teatrólogo,ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de1908, no bairro de São José, em Recife, capitalde Pernambuco. Era filho de Manuel Abílio,mestiço, sapateiro, e da quituteira Merença(Emerenciana). Estudou até completar um anode desenho no Liceu de Artes e Ofício. A partirde então, passa a escrever.

Começa a compor em 1930 e, quatro anosdepois, participa do I e II Congresso Afro-Brasileiro, em Recife e Salvador. Em 1936,fundou a Frente Negra Pernambucana e oCentro de Cultura Afro-brasileiro, que tinhamo objetivo de divulgar os intelectuais e artistasnegros.

Passados quatro anos, transfere-se para BeloHorizonte. Depois chega ao Rio Grande do Sul,fixando-se por um tempo em Pelotas, ondefunda com o poeta Balduíno de Oliveira umgrupo de arte popular que não se concretizoudevido à enchente. Então, voltou para Recife,indo depois para o Café Vermelhinho, no Riode Janeiro, onde reúne-se com jovens poetase intelectuais. Já em 1944, edita o livro Poemasde uma vida simples, no qual se encontra oseu famoso texto: Trem sujo da Leopoldina.No ano seguinte, funda o Comitê DemocráticoAfro-brasileiro. Após nove anos cria, na cidadede Embu, um polo de cultura e tradições afro-americanas. Em São Paulo também funda o

Teatro Popular Brasileiro – TPB e viaja para a Europa.Em 1958, edita Seis tempos de poesia e, em 1961,Cantares ao meu povo.

Carlos Drumond de Andrade disse o seguinte sobrealguns de seus poemas: "Há nesses versos uma forçanatural e uma voz individual rica e ardente que seconfunde com a voz coletiva". Um de seus trabalhosmais famosos, intitulado Tem gente com fome, foimusicado e gravado por Nei Matogrosso. RaquelTrindade, que hoje continua o trabalho do pai noEmbu, o descreve: "Existem artistas que aparen-tam ser uma coisa e, no fundo, são outra. Papaimostrava-se como era. E era um pai fantástico".

Morreu no Rio, em 1974. Mas, já em 1976, voltou aosbraços do povo, na avenida. Foi tema da escola desamba Vai-Vai.

TEM GENTE COM FOME

Trem sujo da Leopoldinacorrendo correndoparece dizertem gente com fometem gente com fometem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxiasde novo a dizerde novo a correr

tem gente com fometem gente com fometem gente com fome

Vigário GeralLucasCordovilBrás de PinaPenha CircularEstação da PenhaOlariaRamosBom SucessoCarlos Chagas

Triagem, Mauátrem sujo da Leopoldinacorrendo correndoparece dziertem gente com fometem gente com fometem gente com fome

Tantas caras tristesquerendo chegarem algum destinoem algum lugar

Trem sujo da

Leopoldinacorrendo correndoparece dizertem gente com fometem gente com fometem gente com fome

Só nas estaçõesquando vai parandolentamente começa a dizerse tem gente com fomedá de comerse tem gente com fomedá de comer

se tem gente com fomedá de comer

Mas o freio de artodo autoritáriomanda o trem calarPsiuuuuuuuuuuu

O potencial da família Trindade não poderiater sido extinto nas gerações futuras.Registrado como Ayrton Félix Olinto deSouza, usa o pseudônimo de Zinho e nomovimento hip hop é conhecido como MCTrindade. Para aqueles que desconhecema história dessa musicalidade, Trindadeherdou a tradição familiar na pesquisa edivulgação da cultura popular afro-brasileira. Bisneto de Solano Trindade,poeta popular, neto de Raquel Trindade quese mantém à frente do Teatro que leva onome de seu pai em Embu das Artes – SP efilho de Vitor Trindade, percussionista,Zinho Trindade vivencia cotidianamente asraízes culturais brasileiras. Com essasgrandes influências populares, seu estilocomo MC Free Style se diferencia naimprovisação.

No momento, está em fase de produção doseu disco solo, Resgatando as Raízes e dodocumentário Hip Hop Embu.

No mês de agosto Zinho se apresentou coma Capulas Cia de Arte Negra com oespetáculo “Solano Trindade e sua negraspoesias”. A peça percorreu vários palcoslevando essa família incrível. Uma peça queretrata a força da mulher negra através daspoesias de Solano Trindade, Elizandra Souzae Capulanas.

O espetáculo buscoua ancestralidade dasmanifestações popula-res de matrizes afro-brasileiras e, por meiodo elemento MC, dia-loga com a cultura hiphop. As intérpretescriadoras contribuemainda com suas vivên-cias narrativas tradu-zindo-as de formapoética.

zinhotrindade.blogspot.com

(*1908 +1974)

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O programa de televisão Jovem Guarda, apresentadoentre 1965 e 1969 por Roberto Carlos, Erasmo Carlose Wanderléa na TV Record, de São Paulo, é o pontode partida e de aglutinação do movimento musicalque representa a consolidação do rock no cenárioartístico brasileiro.

Entre 1965 e 1970, são realizados diversos filmesque ampliam o público da Jovem Guarda e um destaqueda época é o filme de Roberto Carlos em Ritmo deAventura (1968), de Roberto Farias – presente namostra Em Ritmo de Aventura – o Cinema da JovemGuarda, esse e outros filmes realizados nesses seisanos expressam o comportamento daquela geração.

Na Onda do Iê-Iê-Iê (1965), de Aurélio Teixeira, porexemplo, trata de um cantor que procura o estrelatovia televisão. A maioria dos filmes privilegia ascanções em detrimento da trama. Esse modo de vidaassociado à jovem guarda também é abordado namostra. A comédia O Puritano da Rua Augusta (1966),de Amacio Mazzaropi, do choque entre gerações. Jáo documentário A Opinião Pública (1966), de ArnaldoJabor, vê o movimento como sintoma da falta deenvolvimento político das chamadas classes médiascom as questões de seu presente.

A ideia da mostra é, acima de tudo, o resgate de nossopassado audiovisual.

Eduardo Morettincurador

Sala itaú cultural 247 lugaresAcesse www.itaucultural.org.br

Eduardo Morettin é profes-sor de história do audiovi-sual na Universidade deSão Paulo (USP) e co-organizador do livroHistória e Cinema –Dimensões Históricas doAudiovisual (AlamedaEditorial, 2007).Conselheiro da CinematecaBrasileira, do Museu de ArteContemporânea (MAC/USP)e da Sociedade Brasileirade Estudos de Cinema eAudiovisual (Socine), évice-diretor do CinuspPaulo Emílio e um doscoordenadores do Grupode Pesquisa CNPq História eAudiovisual –Circularidades e Formas deComunicação.

ProgramaçãoQuarta 9 - 20hDebate com Eduardo Morettin, MarcosNapolitano e Zuleika Bueno e coquetelde abertura.Marcos Napolitano é professor dehistória do Brasil independente na USP.Lançou, entre outros, os livros ASíncope das Ideias – a Questão daTradição na Música Popular Brasileira(Fundação Perseu Abramo, 2007),História e Música – História Cultural daMúsica Popular (Autêntica, 2002) eSeguindo a Canção – EngajamentoPolítico e Indústria Cultural na MPB(1959-1969) (Annablume/Fapesp, 2001).Zuleika Bueno é professora doDepartamento de Ciências Sociais daUniversidade Estadual de Maringá(DCS/UEM). Em 2005, defendeu tese dedoutorado pela Universidade Estadualde Campinas (Unicamp), com o títuloLeia o Livro, Veja o Filme, Compre oDisco – a Produção CinematográficaJuvenil Brasileira na Década de 1980.Atualmente, estuda práticas deentretenimento e participa dos gruposde pesquisa Comunicação e Multimeios(UEM) e Formas e Imagens naComunicação Contemporânea(Universidade Anhembi Morumbi – UAM).

Quinta 10 – 20hRoberto Carlos em Ritmo de Aventura[Roberto Farias, 1968, 98 min],com apresentação do curador.

Sexta 11 - 20hEsta Rua Tão Augusta [CarlosReichenbach, 1966-1968, 11 min] eA Opinião Pública[Arnaldo Jabor, 1966, 78 min],com apresentação do curador.

Sábado 1216h Na Onda do Iê-Iê-Iê[Aurélio Teixeira, 1965, 111 min]18h Juventude e Ternura[Aurélio Teixeira, 1968, 85 min]20h Jerry – a Grande Parada[Carlos Alberto Barros, 1967, 80 min]

Domingo 1316h O Puritano da Rua Augusta[Amácio Mazzaropi, 1966, 94 min]18h Esta Rua Tão Augusta[Carlos Reichenbach, 1966-1968, 11 min]e A Opinião Pública[Arnaldo Jabor, 1966, 78 min]20h Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa [Roberto Farias, 1970, 97 min]

Itaú CulturalAvenida Paulista, 149[ao lado da estação Brigadeiro](11) [email protected]: de terça à sexta,das 12 às 20h; sábado das 10 às 19h