Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

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MANEJO INTEGRADO DE NEMATÓIDES EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO Roberto G. Torres (1) , Neucimara R. Ribeiro (2) , Carlos Adriano Boer (3) , Odnei Fernandes (4) , André G. Figueiredo (5) , Antonio Ferreira Neto (6) , Introdução Em países com clima tropical e subtropical os nematóides encontram condições como umidade e temperaturas ideais para reprodução e alimentação. Tais fatores são agravantes no controle destes patógenos, os quais após terem se estabelecido em uma área, são de erradicação muito difícil. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis. Obrigatoriamente, o controle de nematóides em culturas extensivas, que possibilitem a redução populacional para tornar viável o cultivo de determinadas culturas, deve ser planejado e sistematizado de modo a integrar vários métodos e apresentar baixo custo. De um modo geral, são considerados os princípios fitopatológicos da: - Exclusão (evitar a infestação de áreas indenes por espécies ou novas raças, na propriedade ou numa região geográfica maior, ou seja, evitar a introdução e a disseminação); - Erradicação (rotação de culturas com espécies de verão e de inverno não hospedeiras e/ou antagonistas, objetivando a redução da densidade populacional do nematóide); - Regulação (modificação do ambiente e nutrição das plantas); - Imunização (utilização de cultivares resistentes a determinadas espécies ou raças). Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e/ou antagonistas, têm sido efetivos como prática de manejo de nematóides (Santos e Ruano, 1987; Costa e Ferraz, 1990). Alguns trabalhos também mostram que o cultivo de plantas não hospedeiras apenas na entressafra (maio a agosto) não apresentou ser uma boa opção para redução da população de nematóides e que apenas a semeadura de cultivares resistentes não devem ser a única opção de controle de nematóides. Contudo, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas e além da rotação de culturas deve-se trabalhar também com a rotação de culturas de cobertura (Fotos 1,2,3 e 4) em sistema de plantio direto (SPD = Sistema em Equilíbrio = M.O elevada + inimigos naturais). Com isso, o controle de nematóides não se dá apenas por meio de uma única ação, mas através de um conjunto de boas práticas agronômicas que irá manter as populações dos nematóides abaixo do limiar de dano econômico, elevando a produtividade da cultura sem oferecer riscos ao meio ambiente, promovendo no campo uma relação de convivência com estes patógenos. Já que sua eliminação em áreas infestadas é muito difícil e existem as particularidades de cada gênero de nematóides a serem respeitadas e tratadas diferencialmente para o seu manejo, sendo assim deve-se conhecer melhor sua ocorrência, biologia, formas de dispersão, sobrevivência, hospedeiros e manejo de cada uma delas e assim melhorar a relação de convivência.

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MANEJO INTEGRADO DE NEMATÓIDES EM SISTEMA DE

PLANTIO DIRETO NO CERRADO

Roberto G. Torres(1)

, Neucimara R. Ribeiro(2)

, Carlos Adriano Boer(3)

, Odnei

Fernandes(4)

, André G. Figueiredo(5)

, Antonio Ferreira Neto(6)

,

Introdução

Em países com clima tropical e subtropical os nematóides encontram condições como

umidade e temperaturas ideais para reprodução e alimentação. Tais fatores são agravantes no

controle destes patógenos, os quais após terem se estabelecido em uma área, são de

erradicação muito difícil. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes

culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne

incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis.

Obrigatoriamente, o controle de nematóides em culturas extensivas, que possibilitem a

redução populacional para tornar viável o cultivo de determinadas culturas, deve ser planejado

e sistematizado de modo a integrar vários métodos e apresentar baixo custo. De um modo

geral, são considerados os princípios fitopatológicos da:

- Exclusão (evitar a infestação de áreas indenes por espécies ou novas raças, na propriedade

ou numa região geográfica maior, ou seja, evitar a introdução e a disseminação);

- Erradicação (rotação de culturas com espécies de verão e de inverno não hospedeiras e/ou

antagonistas, objetivando a redução da densidade populacional do nematóide);

- Regulação (modificação do ambiente e nutrição das plantas);

- Imunização (utilização de cultivares resistentes a determinadas espécies ou raças).

Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeiras

e/ou antagonistas, têm sido efetivos como prática de manejo de nematóides (Santos e Ruano,

1987; Costa e Ferraz, 1990). Alguns trabalhos também mostram que o cultivo de plantas não

hospedeiras apenas na entressafra (maio a agosto) não apresentou ser uma boa opção para

redução da população de nematóides e que apenas a semeadura de cultivares resistentes não

devem ser a única opção de controle de nematóides. Contudo, a rotação de culturas não deve

ser substituída pela sucessão de culturas e além da rotação de culturas deve-se trabalhar

também com a rotação de culturas de cobertura (Fotos 1,2,3 e 4) em sistema de plantio direto

(SPD = Sistema em Equilíbrio = M.O elevada + inimigos naturais). Com isso, o controle de

nematóides não se dá apenas por meio de uma única ação, mas através de um conjunto de

boas práticas agronômicas que irá manter as populações dos nematóides abaixo do limiar de

dano econômico, elevando a produtividade da cultura sem oferecer riscos ao meio ambiente,

promovendo no campo uma relação de convivência com estes patógenos. Já que sua

eliminação em áreas infestadas é muito difícil e existem as particularidades de cada gênero de

nematóides a serem respeitadas e tratadas diferencialmente para o seu manejo, sendo assim

deve-se conhecer melhor sua ocorrência, biologia, formas de dispersão, sobrevivência,

hospedeiros e manejo de cada uma delas e assim melhorar a relação de convivência.

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- Alternativas de culturas de coberturas para o cerrado brasileiro.

Foto 1: B. ruziziensis Foto 2: Mulch de B. ruziziensis

Foto 3: Crotalária spectabilis Foto 4: Cober Crop (Híbrido de sorgo)

1) Nematóide de Cisto da Soja (Heterodera glycines)

Ciclo Biológico: Heterodera

J2

infestando o

hospedeiro

J2

iniciando a alimentação J2

J3

J4

abandonando a

cutícula do

estágio anterior

J4

Adultos

começando a produzir

ovos

abandonando a raizFêmea alimentando-se

na raiz e realizando

postura fêmea morta

cheia de

ovos

formação dos

juvenis (J1) na

fêmea morta

eclosão e saída

dos juvenis

J2

livres para

futuras

infestações

Desenho: Patrícia Milano

Ciclo Biológico: Heterodera

J2

infestando o

hospedeiro

J2

iniciando a alimentação J2

J3

J4

abandonando a

cutícula do

estágio anterior

J4

Adultos

começando a produzir

ovos

abandonando a raizFêmea alimentando-se

na raiz e realizando

postura fêmea morta

cheia de

ovos

formação dos

juvenis (J1) na

fêmea morta

eclosão e saída

dos juvenis

J2

livres para

futuras

infestações

Desenho: Patrícia Milano

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Cistos de H. glycines Ovos de H. glycines

- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide H. glycines.

1. Ovo: Depositado pela fêmea no estado unicelular. Desenvolvimento embrionário (J1)

2. J1: Sofre primeira ecdise no interior do ovo (J2)

3. J2: Eclode livremente e assume forma infectiva, passando por mais duas ecdises (J3 e

J4)

4. J3 e J4: (forma salsichóide) passa para a quarta ecdises (adulto).

- Macho: Retorna a forma vermiforme, sai da raiz e fecunda a fêmea

- Fêmea: aumenta de tamanho, endoparasito sedentário, corpo exteriorizado para que haja

fecundação.

Seu CICLO pode ter duração de aproximadamente 3 semanas, produzindo de 5 a 6 gerações

do nematóide/ciclo da soja. Sua REPRODUÇÃO se dá por reprodução cruzada (Anfimixia

obrigatória) Quando a fêmea é fecundada, apenas 20-30% dos ovos ficam na matriz

gelatinosa o restante é retido no interior do corpo. Logo após a produção dos ovos torna-se

coreáceo e morre. Cada Cisto poderá conter em média 300 ovos. Os Ovos entram em diapausa

natural, ou seja, não eclodem bem nos meses de março a agosto (em locais onde as

temperaturas são baixas no inverno). Alguns fatores podem interferir no seu ciclo de vida, tais

como, temperaturas abaixo de 10ºC e baixa umidade do solo (< 40% da capacidade de

campo). Tendo PREFERÊNCIA por solos arenosos, temperaturas em torno de 20 a 30ºC e

umidade do solo entre 40 e 60% da capacidade de campo. O pH do solo não deve ser elevado,

pois nessa condição a população do NCS sempre permanece mais alta e os danos são maiores

(Garcia et al., 1999).

Há uma elevada DIVERSIDADE GENÉTICA para este nematóide o que ocorre sob pressão

de seleção, favorecendo a ocorrência de novas raças através da reprodução anfimixia e

diferenciadas pelos cultivares do hospedeiro que ela infecta. No Brasil já foram encontradas

11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). Com o objetivo de identificar as raças,

utiliza-se para soja hospedeiras diferenciadoras sendo: Peking, Pickett, PI88788, PI90763,

Lee = suscetível a todas, Hartwig* = resistente a todas (* 4+ e 14+ quebraram a resistência de

Hartwig)

A OCORRÊNCIA do nematóide de cisto da soja (NCS) foi detectado pela primeira

vez no Brasil na safra 1991/92. Atualmente, está presente em 10 estados brasileiros (MG, MT,

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MS, GO, SP, PR, RS, BA, TO e MA), cobrindo mais de 2.500.000 ha (Dias et al., 2007). Em

solos arenosos, esse nematóide causa perdas de 10% a 30% quando em baixas infestações,

podendo chegar a 70% ou mais quando em alta incidência (Inomoto – ESALQ).

Em áreas onde o NCS já foi identificado, o produtor deve conviver com o mesmo,

uma vez que sua erradicação é difícil e economicamente inviável. Algumas medidas ajudam a

minimizar as perdas, destacando-se a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e o uso

de cultivares resistentes.

O planejamento da rotação de culturas e de coberturas para controle do NCS é

relativamente simples, em função da sua limitada gama de hospedeiros. (Tabelas 1 e 2).

Entretanto, a adoção dessa prática é muitas vezes, limitada pela viabilidade econômica

das culturas em determinadas regiões, porém extremamente necessária. Avaliações sobre o

impacto do cultivo de espécies botânicas de verão, não hospedeiras de H. glycines, (milho,

sorgo, arroz, algodão, mamona e girassol) na população do nematóide, mostraram que a

substituição da soja por uma delas, em uma safra, geralmente reduz a população a nível que

permite o retorno da soja na safra seguinte. Com um único cultivo de soja suscetível, a

população do NCS volta a crescer, havendo a necessidade de, na safra seguinte, retornar à

rotação com a espécie não hospedeira ou semear uma cultivar de soja resistente. Por sua vez,

com dois ou três anos seguidos de milho, pode-se, na maioria das vezes, voltar com a soja

suscetível por dois anos seguidos, sem riscos de perda. O cultivo de plantas não hospedeiras

na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser boa opção para redução da população do

nematóide. Assim, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas.

Por outro lado, a presença de soja voluntária (“tiguera”) ou de espécies hospedeiras na área,

durante a entressafra, contribui para aumentar o inóculo para a safra de verão seguinte (Garcia

et al., 1999).

Além da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e da utilização de cultivares

resistentes, recomenda-se ainda, nas áreas infestadas com o NCS, a adoção da semeadura

direta. Esse modo de cultivo potencializa a ação de inimigos naturais do nematóide e dificulta

a dispersão dos cistos, em função da redução da movimentação de máquinas e,

principalmente, de solo. A utilização dessa prática também reduz o risco de disseminação pelo

vento, sobretudo nas regiões dos chapadões, onde grandes quantidades de solo são carregadas

na época do preparo convencional do solo.

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> 2000 espécies > 2000 espécies Soja Abacaxizeiro Abacaxizeiro

Arroz Algodão Feijoeiro comum Algodão Algodoeiro

Aveia Acerola Caupi Amendoim Bananeira

Batata Algodoeiro Feijão de Fava Batata Cafeeiro

Beldroega Batata Ervilha Brachiaria spp. Feijão

Cana-de-açucar Beterraba Tremoço Cafeeiro Mamoneira

Caruru Cafeeiro Cana-de-açucar Maracujazeiro

Corda-de-viola Cana-de -açucar Ervas daninhas Soja

Feijão Cenoura Feijão Tomateiro

Frutíferas Cravo Labe-labe

Fumo Feijão Milheto

Gerânio Figueira Milho

Guanxuma Fumo Mucuna Preta

Hortaliças Mamoeiro Mucunas

Joá-bravo Melão Pessego

Mentrasto Pepino Quiabeiro

Soja Pessegueiro Soja

Tomate Quiabo

Trigo Soja

Tomate

Videira

Rotylenchulus

reiniformes

Tabela 1. Plantas hospedeiras dos principais gêneros de nematóides

M. javanica (Galha) M. incognita (Galha) H. glycines (Cisto) Pratylenchus (Lesões)

Algodão Amendoim Algodão Crotalária juncea Amendoim

Amendoim Brachiaria spp. Amendoim Crotalária spectabilis Brachiaria spp.

Brachiaria spp. Crotalária juncea Arroz Girassol Milheto

Crotalária juncea Crotalária spectabilis Aveia B. decumbens Milho

Crotalária spectabilis Crotalárias spp. Brachiarias Guandu Sorgo

Crotalárias spp. Milheto Cana-de açucar Girassol Arroz

Mamona Milho Cevada Aveia Preta Forrageiros

Milho Mucuna Preta Crotalária Pé-de-Galinha

Mucuna Preta Nabo Forrageiro Girassol

Nabo Forrageiro Sorgo Mamona

Sorgo Mandioca

Milheto

Milho

Mucuna

Sorgo

Trigo

Tabela 2. Plantas não e má hospedeiras dos principais generos de nematóides (Rotação/Suscessão)

M. javanica (Galha) M. incognita (Galha) H. glycines (Cisto) Pratylenchus (Lesões)Rotylenchulus

reiniformes

Quanto à SINTOMATOLOGIA observar-se sintomas diretos e sintomas reflexos. No

direto o sistema radicular fica muito pobre ou deficiente, já os reflexos são: o Nanismo

Amarelo da Soja (o mais comum), plantas de tamanho reduzido e cloróticas, geralmente

ocorre em reboleiras, deficiência nutricional (nitrogênio), redução na nodulação por

bradirhyzobium e redução na produção. Normalmente pode estar assossiado a outros

organismos como Fusarium solani f.sp. Glycines e apresntar a Sindrome da morte súbita,

causado por Fusarium oxysporum e Macrophomina faseolina.

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Fotos: Jaime Maia dos Santos - UNESP

A DISSEMINAÇÃO do Heterodera glicynes pode ser ativa (ineficiente) ou passiva

(dispersão dos cistos), através do vento, água, maquinários, movimentação do solo, sementes,

sapatos, sacaria, aves migradoras.

Como MEDIDAS de CONTROLE pode-se optar pelo método da exclusão, adotando

medidas quarentenárias e através da utilização de variedades resistentes. O controle químico

tem apresentado alto custo e resultados insatisfatórios, além de promover contaminação do

solo e lençol freático e intoxicação de homens e animais, por se tratarem de produtos que

apresentam em sua composição os ingredientes ativos Aldicarb, Carbofuran, Oxamil e

Fenamifós. Das opções de controle encontradas uma das mais eficientes é a rotação de

culturas e a associação de rotação de culturas ao sistema de plantio direto com a utilização de

variedades resistentes, plantas não hospedeiras e plantas antagonistas. (Plantas antagonistas:

são as plantas nas quais o nematóide penetra, mas não se desenvolve e/ou apresenta efeito

estimulatório sobre a eclosão dos ovos dos nematóides. Exemplo: Crotalária Spectabilis e

Mucuna).

Na Tabela 3, observam-se algumas opções economicamente viáveis, para a rotação de

culturas dentro do contexto de plantio direto e de acordo com os principais seguimentos de

mercado e também pelo nível de infestação e de novas raças de H. glicynes.

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Sistema I: Baixa Infestação para H. glicynes

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Soja Resistente Milho / B. ruziziensis Algodão

Soja Resistente Sorgo Soja Resistente

Soja Resistente B. ruziziensis Milho

Soja Resistente Cober Crop Soja Resistente

Soja Resistente Milho Soja Resistente

Soja Resistente Milheto Soja Resistente

Soja Resistente Crotalária Milho

Milho SP Algodão Soja Resistente

Milho Crotalária Soja Resistente

Milho / B. ruziziensis ILP - Int. Lavoura Pecuária Soja Resistente

Sistema II: Alta Infestação e novas raças para H. glicynes

VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II

Algodão Manejo de pós-colheita Milho

Cober Crop Algodão Milho

Crotalaria Sorgo Milho

Crotalaria Milho / B. ruziziensis Crotalaria

Crotalaria Milho Crotalaria

Milheto Algodão Milho

Milho Mucuna Algodão

Milho Algodão Milho

Milho Crotalaria Algodão

Milho Cober Crop Algodão

Milho ILP - Int. Lavoura Pecuária Algodão

Tabela 3. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de NCS

2) Nematóide de Galhas (Meloidogyne spp.)

- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS dos nematóides do gênero Meloidgyne spp.

Ciclo Biológico: Meloidogyne

J2

infestando

a raiz

J2

iniciando a

alimentação

J2

Adultos

permanece no interior

da galha

rompe a cutícula e

abandona a galha

juvenil

eclodindo

realizando postura

J2

livres a procura do

hospedeiro

J4

desenvolvimento

do aparelho

reprodutor

Desenho: Patrícia Milano

Ciclo Biológico: Meloidogyne

J2

infestando

a raiz

J2

iniciando a

alimentação

J2

Adultos

permanece no interior

da galha

rompe a cutícula e

abandona a galha

juvenil

eclodindo

realizando postura

J2

livres a procura do

hospedeiro

J4

desenvolvimento

do aparelho

reprodutor

Desenho: Patrícia Milano

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Com seu CICLO de aproximadamente de 25 a 40 dias este nematóide compreende as fases de

ovo em quatro estádios juvenis e adulto, sendo:

1. Ovo: massa de ovos colocadas no solo ou no córtes da raiz;

2. J1: primeira ecdise no interior do ovo;

3. J2: fase infectiva (sai do ovo e inicia sua movimentação no solo em busca de

alimento, penetra as raízes até atingir a região central (estelo) daí inicia-se a sua

alimentação (4 a 8 células nutridoras);

4. J3 e J4: o nematóide cresce e perde a mobilidade, trocando de pele mais três vezes;

5. Fase Adulta:

- Macho: recupera mobilidade e adquire a forma esbelta e a Fêmea continua

sedentária com a região posterior do corpo na epiderme da raiz aguardando para ser

fecundada. Cada fêmea pode colocar de 200 a 1000 ovos por (média 400 ovos). Os

machos não são necessários para reprodução.

Fases do ciclo de ovo a adulto do Meloidogyne spp.

Foto Monsanto. Penetração de

Juvenis J2 nas raízes.

OVO J 2 J 2 a J3 FÊMEAOVO J 2 J 2 a J3 FÊMEA

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Juvenis do 2º Estádio Fêmea de Meloidogyne na raíz

Fêmea de Meloidogyne na raiz com Ooteca Galhas com massa de ovos

Fêmea com ovos e região perineal de Meloidogyne

Juvenis do 2o EstádioJuvenis do 2o Estádio

Massa de ovos( OOTECA )

Fêmea

Massa de ovos( OOTECA )

Fêmea

Deposição de ovos para dentro da OOTECA Deposição de ovos para dentro da OOTECA

Massa de ovosMassa de ovos

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O gênero Meloidogyne compreende um grande número de espécies. Entretanto, M.

javanica e M. incognita são as que mais limitam a produção das grandes culturas como a soja

e algodão (Tabela 4). No Brasil a OCORRÊNCIA do M. javanica (soja) é generalizada,

enquanto M. incognita predomina em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão

(PR, SP, MG, MS, MT, BA). O nematóide Meloidgyne spp. tem PRFERÊNCIAS por solos

arenosos ou médio-Argilosos ( > 25% de argila ). As maiores PERDAS, da ordem de 10% a

40%, são observadas em soja cultivada em solos arenosos. (Prof. Dr. Mario Inomoto,

ESALQ/USP).

A DISSEMINAÇÃO dos nematóides de galha se deram inicialmente através de mudas de

café, estacas enraizadas, mudas de frutíferas, ornamentais, batata semente (tubérculos), no

entanto, hoje pode-se contar com sementes e mudas fiscalizadas e certificadas, porém a

disseminação ainda continua sendo um dos grandes entraves no controle destes parasitas, pois

são facilmente levados através de máquinas e implementos agrícolas (terceirizados /

emprestados / transferidos), movimentações excessivas de solo, sementes, calçados, sacarias e

até mesmo enxurradas ou erosões.

Sua SOBREVIVÊNCIA pode variar de 6 a 12 meses e se torna menor em condições de

plantio direto, pois há maior teor de matéria orgânica, conseqüentemente maior presença de

inimigos naturais no solo. Além das características do solo, temperatura e umidade também

interferem na sobrevivência dos nematóides de galha.

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M. M. M. M.

incognita hapla javanica arenaria

Crotalaria spectabilis crotalaria 0 (1)

0 0 0

Cucurbita pepo abóbora 4 (5)

4 4 4

Lectuca sativa alface 4 - 4 -

Medicapo sativa alfafa 3 4 3 3

Gossypium hirsutum algodão 3 0 0 0

Arachis hypogaea amendoim 0 4 0 4

Avena sativa aveia 1 (2)

0 1 1

Musa caverdishii banana - (6)

- 4 -

Solanum tuberosum batata 4 3 3 3

Impomoea batatas batata-doce 2 (3)

2 0 0

Beta vulgaris beterraba 4 2 4 4

Saccharum officinarum cana-de-açucar - - 3 -

Allium cepa cebola 4 1 3 3

Daucus carota cenoura 4 2 4 4

Phaseolus vulgaris feijão 3 (4)

4 4 4

Pelargonium sp. gerânio 0 1 0 0

Cajanus cajan guandu - - 4 -

Ricinus communis mamona 4 - - -

Arracacia xanthorrhiza mandioq. Salsa 4 4 - -

Citrullus vulgaris melancia 4 - - -

Zea mays milho 3 0 3 2

Fragaria sp. morangueiro 0 4 0 0

Hibiscus esculentus quiabo 3 0 3 1

Apium graveolens salsão 4 - - -

Glycine max soja 4 4 4 3

Lycopersicum esculentum tomate 4 4 4 4

Triticum aestivum trigo 4 0 4 3

Fonte: "Nematóides das Plantas Cultivadas" L. G. E. Lordello.

Legenda(1)

Grau 0 = não houve infestação; no caso de terem as larvas pré-parasita penetrado nos tecidos

não se desenvolveram até o estado de fêmeas maduras produtoras de ovos.(2)

Grau 1 = infestação extremamente leve, tendo apenas uma ou outra fêmea com massa de ovos

sido verificada no interior da raiz.(3)

Grau 2 = infestação leve, com fêmeas maduras com massas de ovos facilamente vistas, meso

ao olho nú.(4)

Grau 3 = infestação moderada, sendo as fêmeas maduras e massas de ovos moderadamente

abundantes.(5)

Grau 4 = infestação severa, sendo muito abundantes não só femeas maduras mas também ootecas.(6)

- = a ausência de um numero significa que a susceptibilidade não foi testada ou verificada

em amostra coligada na natureza

Tabela 4. Suceptibilidade de algumas culturas ao ataque de nematóides do genero Meloidogyne , por 4 espécies

Nome comumNome cientifico

Quanto a sua SINTOMATOLOGIA pode-se observar a partir do florescimento os

sintomas reflexos, como, a redução na área foliar, deficiências minerais e murchamento

temporário nos horários mais quentes do dia, clorose interneval, diferentemente da que ocorre

com Heterodera glicynes e em populações mais elevadas até mesmo um avermelhamento nas

folhas, crestamento generaliza (Carijó) e conseqüentemente baixas produtividades. Os

sintomas diretos apresentam redução e distúrbios no sistema radicular, através do

engrossamento das paredes celulares nas raízes promovendo baixa eficiência na absorção e

translocação de água e nutrientes.

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Fotos Monsanto - Sintomas de galhas nas raízes da soja – Meloidogyne spp.

Foto Guilherme L. Asmus, Embrapa –

CNPAO, Sintoma de M. incógnita em raiz

de algodão

Para o CONTROLE do nematóide de galhas podem ser utilizadas, de modo integrado,

várias estratégias, primeiramente deve-se interromper os mecanismos de dispersão entre e

dentro das propriedades rurais. Entretanto, as mais eficientes são a rotação/sucessão com

culturas não ou más hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes. A rotação de culturas

para controle do nematóide de galhas deve ser bem planejada, uma vez que, a maioria das

espécies cultivadas podem ser atacada. Quase todas as plantas daninhas também possibilitam

a reprodução e a sobrevivência desses nematóides, assim, deve ser realizado o controle

sistemático dessas plantas principalmente nas reboleiras. A escolha da rotação adequada deve

se basear, também, na viabilidade técnica e econômica da cultura na região, sendo bastante

variável de um local para outro. Para recuperação da matéria orgânica e da atividade

microbiana do solo e possibilitar a manutenção populacional de inimigos naturais, também é

importante incluir, na rotação/sucessão, espécies de “adubos verdes” resistentes. Como existe

variação dentro das espécies vegetais com relação à capacidade de multiplicar as diferentes

espécies de Meloidogyne spp., somente a partir do conhecimento da reação de cultivares e

híbridos a esta espécie, é que se pode desenvolver um planejamento eficiente de

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rotação/sucessão de culturas. Em soja a presença de galhas é positivamente correlacionada

com maior reprodução do nematóide e maior dano na planta. Há casos de formação de galhas

incitadas por Meloidogyne spp. em alguns híbridos de milho, mas a regra é a ausência, mesmo

quando ocorre o parasitismo. Os danos em milho são raros também. Mesmo em reboleiras de

elevada infestação, o milho apresenta desenvolvimento normal. Desta forma pode se dizer que

os genótipos de milho possuem elevada tolerância a danos causados por espécies de

Meloidogyne presentes no Brasil e podem ser de fundamental importância para a redução da

população desses nematóides. A escolha de híbridos de milho e soja resistentes para rotação,

auxiliam em manter a população dos nematóides em níveis baixos, evitando perdas de

produtividade (vide tabela das empresas). Os incrementos da população (FR) de M. javanica

em soja são, maiores do que aqueles observados em milho mesmo em cultivares de soja

resistentes, como Pequi, a Conquista e Garimpo. Em cultivares de soja suscetíveis o

incremento da população foi ainda mais elevado. (João Flávio Veloso Silva – EMBRAPA

Soja). O método de controle mais eficiente, barato e de fácil assimilação pelos produtores, é o

uso de cultivares e híbridos resistentes. Atualmente, cerca de 80 cultivares de soja com níveis

variados de resistência aos nematóides de galhas estão disponíveis no Brasil. Todas

descendem de uma única fonte de resistência: a cultivar norte-americana Bragg. Como os

níveis de resistência destes cultivares não são muito altos, em situações de populações

elevadas do nematóide, antes de semear uma cultivar resistente o agricultor deverá fazer

rotação de cultura com uma espécie vegetal não ou má hospedeira.

É preciso destacar que quanto maior a infestação do nematóide, mais difícil é seu

controle, ou seja, por mais tempo será necessário utilizar o milho ou o sorgo ou outra cultura

resistente para que a população do nematóide fique suficientemente baixa para não causar

perdas à cultura subseqüente de soja. O milho também pode ser utilizado em rotação ou

sucessão com a soja para o controle dos nematóides das galhas, no entanto, três ações são

importantes para se obter o controle dos nematóides das galhas por meio de rotação ou

sucessão de culturas (vide tabelas das empresas) 1- identificar a espécie de Meloidogyne spp.;

2- conhecer as cultivares ou os híbridos que são resistentes à espécie identificada; 3- verificar

a população do nematóide no final da safra (Prof. Dr. Mário Inomoto, ESALQ/USP).

Page 14: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

3) Nematóide Reniforme (Rotylenchulus reniformis)

- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Rotylenchulus reniformis:

Este nematóide apresenta tipicamente quatro fases juvenis, onde sua primeira ecdise

acontece ainda dentro do ovo (J1).

1- J1: Primeira troca de pele (dentro do ovo);

2- J2: Eclosão (sai do ovo e entra movimentação no solo);

3- J3 e J4: Adultos imaturos (NÃO se alimenta nesta fase);

4- Fase Adulta:

- Macho: comuns no solo e aparentemente não se alimentam e permanecem móveis

no solo;

- Fêmeas imaturas: esbeltas e infectivas. Penetram a parte anterior do corpo no

Cortéx radicular, onde estabelece um sítio de alimentação e atraem os machos; Torna-se

sedentário, aumentando de tamanho (forma semelhante a um Rim). Cada fêmea coloca em

média 100 ovos (massa gelatinosa recobrindo as fêmeas).

Ciclo Biológico: Rotylenchulus

J2

livres no solo

J3

livres no solo

J4

livres no solo

Adultos sexualmente

imaturos

(1) Fêmea iniciando a

alimentação no

hospedeiro

(3) macho

permanece no solo

sem se alimentar (1)

(2)(3)

(2) Adultos

sexualmente imaturos

Fêmea

sedentária

Fêmea adulta (formato

de rim)

Fêmea madura

sexualmente pronta para o

acasalamento

e

em cópula

Fêmea realizando

postura J2

eclodindo

Desenho: Patrícia Milano

Ciclo Biológico: Rotylenchulus

J2

livres no solo

J3

livres no solo

J4

livres no solo

Adultos sexualmente

imaturos

(1) Fêmea iniciando a

alimentação no

hospedeiro

(3) macho

permanece no solo

sem se alimentar (1)

(2)(3)

(2) Adultos

sexualmente imaturos

Fêmea

sedentária

Fêmea adulta (formato

de rim)

Fêmea madura

sexualmente pronta para o

acasalamento

e

em cópula

Fêmea realizando

postura J2

eclodindo

Desenho: Patrícia Milano

Page 15: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

Fotos: Guilherme L. Asmus, Embrapa CNPAO – Rotylenchulus reniformis na raíz

Muito embora o algodão seja a cultura mais afetada por R. reniformis, também tem

parasitado à cultura da soja, feijão, abacaxi entre outras (Tabela 1). Sua OCORRÊNCIA

está localizada principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, em especial na região

Centro-Sul do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. No Brasil Central apresenta

PREFERENCIAS por solos médio-argilosos a argilosos (25 a 35% de argila) a (> 35% de

argila) respectivamente, nestas condições tem-se verificado perdas de 10 a 30% na cultura

da soja.

Apresenta alta capacidade de SOBREVIVENCIA na ausência de hospedeiros, pois

quando em condições de baixa umidade no solo entra em estado de Anidrobiose

(mecanismo de natureza fisiológica pelo qual, a escassez de umidade, induz o nematóide a

reduzir drasticamente seu metabolismo, quase ametabolismo), suportando melhor a

dessecação que outras espécies de nematóides (Dr. Guilherme Lafourcade Asmus,

EMBRAPA – CNPAO). Há relatos que mencionam sua sobrevivência acima de 29 meses.

Quando em estado de anidrobiose sua DISSEMINAÇÃO pelo vento é facilitada, além das

demais práticas de dispersão, como: qualquer prática que movimente o solo, através de

máquinas e implementos agrícolas (terceirizados / emprestados e/ou transferidos). Em

campos infestados durante operação de plantio e cultivo foram encontrados nos pneus do

trator 1.200 nematóides/200cm3 de solo aderido e durante a operação de colheita, nos

pneus da máquina foram encontrados 52 nematóides/200 cm3 de solo aderido.

Suas SINTOMATOLOGIAS diferentemente dos demais nematóides não apresentam

galhas ou fêmeas visíveis a olho nu (NCS), mas da mesma forma apresenta como sintoma

direto um sistema radicular pouco desenvolvido, caracterizado por apresentar em alguns

pontos da raiz uma camada de terra aderida às massas de ovos do nematóide, que são

produzidas externamente, deixando com aspecto de raiz suja de terra mesmo após lavada

em água corrente e como sintomas reflexos apresenta reboleiras muito grandes, difíceis de

serem percebidas por um observador com pouca experiência, o porte de plantas ficam

menores que as normais (semelhante à compactação de solo) e sem apresentar cloroses,

plantas “Carijó”, somente em altas populações e conseqüentemente baixas produtividades

Page 16: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

na cultura. O Nível de Dano: EUA – 600 nematóides/200cm3, porém no Brasil ainda não

há uma determinação.

Foto: Guilherme L. Asmus Foto: Jaime Maya dos Santos

Foto: Jaime Maia dos Santos

Para se efetuar um manejo adequado de R. reiniformis, é imprescindível que se adote

medidas integradas, não se limitando a apenas uma ação, mas há um conjunto de ações,

onde primeiramente deve-se Interromper os mecanismos de dispersão deste parasita,

através da lavagem dos equipamentos e máquinas, antes e após sua utilização; procurar

deixar as áreas mais infestadas serem trabalhadas por último e adotar medidas culturais

que neste caso são altamente eficientes, como a rotação/suscessão com culturas não

hospedeiras optando por qualquer cultivar ou híbrido de milho, sorgo, soja resistente.

Trabalhar o sistema de plantio direto associado à rotação de culturas, pois a maioria das

culturas de coberturas, tais como: braquiarias, sorgo, sorgo forrageiro, milheto, pé-de-

Rotylenchulus reniformisRotylenchulus reniformis

CARIJÓ TÍPICOCARIJÓ TÍPICO

Page 17: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

galinha, mesmo em sucessão apresentou redução deste nematóide. Dentro deste manejo

integrado a escolha do método de imunização é altamente interessante, pois é facilmente

assimilado pelo agricultor, através da adoção de cultivares e variedades resistentes.

4) Nematóide das Lesões Radiculares (Pratylenchus brachyurus)

- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Pratylenchus brachyurus:

Seguindo praticamente as mesmas características do R. reniformis durante sua fase juvenil o

nematóide das Lesões Radiculares se diferem basicamente na sua fase adulta e seus ovos

podem ser colocados dentro das raízes e no solo.

1- J1: ocorre à primeira troca de pele ainda dentro do ovo;

2- J2: Eclosão e início da sua alimentação;

3- J3 e J4: continuam a crescer e passa por outras trocas de ecdise;

4- Estádio Adulto: nesta fase o P. brachyurus é composto basicamente por fêmeas, já

que o macho é muito raro para esta espécie e sua reprodução é do tipo partogênica.

- Fêmeas: completam o ciclo dentro da raiz; Após alimentar-se das raízes ou

por excesso de ocupação das mesmas, caminha no solo em busca de raízes em melhores

condições. Uma fêmea chega a colocar cerca de 80 ovos dentro das raízes. No geral seu

CICLO é completado em 3 a 4 semanas, podendo alongar-se em épocas mais frias.

No Brasil, as espécies de nematóide do gênero Pratylenchus, conhecidas como

“nematóides das lesões radiculares”, figuram em segundo lugar em termos de importância

para a Agricultura, sendo superadas apenas pelos chamados “nematóides de galhas”, do

Ciclo Biológico: Pratylenchus

Desenho: Patrícia Milano

Fêmeas adultas em busca

de novos hospedeiros

Fêmea infestação no

hospedeiro

Fêmea dentro do hospedeiro,

ovipositando

Juvenil eclodindoJ2J3

J4

Ciclo Biológico: Pratylenchus

Desenho: Patrícia Milano

Fêmeas adultas em busca

de novos hospedeiros

Fêmea infestação no

hospedeiro

Fêmea dentro do hospedeiro,

ovipositando

Juvenil eclodindoJ2J3

J4

Page 18: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

gênero Meloidogyne. Dentro do gênero Pratylenchus, a espécie P. brachyurus (Godfrey)

Filipjev & S. Stekhoven é uma das mais destacadas em todo o mundo. Tal relevância está

associada a algumas características mostradas por esse nematóide, entre as quais: i) ampla

distribuição geográfica, ocorrendo na maioria dos países das regiões tropical e subtropical; ii)

alto grau de polifagia, ou seja, capacidade de parasitar e multiplicar-se em grande número de

plantas hospedeiras, filiadas a diferentes famílias botânicas; e iii) ação patogênica

pronunciada no caso de várias culturas de grande interesse agronômico, anuais e perenes,

podendo causar danos marcantes e perdas econômicas vultosas.

No Mato Grosso e no Norte do Mato Grosso do Sul, tornou-se mais favorável a este

nematóide, pois apresenta solos de textura média e sucessões constantes de culturas

suscetíveis (soja, milho e algodão), o que tem levado ao aparecimento de populações elevadas

nestas regiões. Levantamento feito em áreas produtoras de soja e algodão no estado do MT

apresentou 94% das amostras com Pratylenchus brachyurus (Silva, 2003). O que denota

importância subestimada deste parasita. Contudo, quase não existem estudos sobre os efeitos

do seu parasitismo nas diversas culturas. (Tabela 1). Sua PREFERENCIA é por solos médio-

arenosos (15 a 25% argila) e tem-se beneficiado muito com as culturas de soja e algodão,

além daquelas áreas degradadas, onde anteriormente era pastagem e foi incorporada para

lavoura de soja. Quando é único nematóide presente na cultura da soja, pode causar PERDAS

de 10 a 25%, porém pode ocorrer associado com outros nematóides (NCS e Galha).

O Pratylenchus brachyurus tem baixa capacidade de SOBREVIVÊNCIA na ausência

de hospedeiros, porém consegue sobreviver em restos culturais, tornado seu controle um

pouco mais complicado, pois é favorecido pelas áreas com sistema de plantio direto e cultivo

mínimo, nos quais a formação da palhada assegura no solo a manutenção do teor de umidade

adequado à sobrevivência e boa atividade dos nematóides durante boa parte do ano. É muito

comum e abundante em culturas irrigadas, onde há presença constante de hospedeiros.

Sua DISSEMINAÇÃO é umas das formas mais importantes para inibir sua dispersão, pois é

facilmente levado por máquinas e implementos, além das enxurradas e outros meios.

A SINTOMATOLOGIA causada por este nematóide apresenta o sistema radicular da

planta menos volumoso, pouco desenvolvido, e as raízes presentes mostram áreas parcial ou

totalmente escura, resultantes da coalescência das muitas lesões necróticas causadas

internamente pelo nematóide. Essas anomalias provocadas no sistema radicular limitam a

absorção e o transporte de água e de nutrientes, levando a planta atacada a exibir diferentes

sintomas reflexos na parte aérea, em especial enfezamento, nanismo, murcha nas horas mais

quentes do dia, clorose e outros indicativos de distúrbios nutricionais, desfolha, queda na

produtividade, etc. O ataque costuma ocorrer em reboleiras, nas quais os níveis populacionais

do nematóide são elevados e o porte das plantas é menor que o normal.

Interação com outros fungos agrava a murcha por Verticillium (algodão, batata,

morango e tomateiro), murcha por Fusarium e agrava problemas com Rhizoctonia,

Phytophthora e Pythium

Page 19: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

Foto: Jaime M. dos Santos – UNESP Foto: Neucimara R. Ribeiro - APROSMAT

Foto: Neucimara R. Ribeiro – APROSMAT Foto: Prof. Dr. Mário Inomoto – ESALQ/USP

Foto: Jaime Maia dos Santos – Pratylenchus na cultura do algodão

Pratylenchus brachyurusPratylenchus brachyurus

Page 20: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

Há várias medidas de MANEJO que podem ser cogitadas visando à solução de um

determinado problema de natureza nematológica, porém para Pratylenchus brachyurus a

maioria delas não se mostra tecnicamente eficaz ou economicamente exeqüível, ficando as

opções bastante restritas. O emprego do controle varietal, por exemplo, embora fosse o ideal,

não está ao alcance no momento, pois não se dispõe de cultivares de soja altamente resistentes

a P. brachyurus, haja visto que, nos últimos anos, as pesquisas nacionais na área de

melhoramento genético têm visado principalmente à resistência ao nematóide de cisto e aos

nematóides de galhas, assim como os estudos referentes aos híbridos e variedades de milho e

sorgo.

O controle químico também encontra objeções, em especial pelo fato de que os

produtos nematicidas, embora eficientes, não erradicam o nematóide, mas apenas reduzem-lhe

as populações temporariamente, aspecto conflitante com os objetivos do plantio direto e que,

ao longo do tempo, poderia onerar a produção.

A técnica que vem sendo mais indicada ao manejo de P. brachyurus é a rotação de

culturas, alternando plantios de soja com outras culturas de verão e de inverno que sejam

resistentes a esse nematóide (Tabela 5). A eficácia da técnica está ligada ao fato de que,

embora a lista de hospedeiros de P. brachyurus seja extensa, encontram-se ainda algumas

plantas nas quais a sua multiplicação não ocorre ou a taxa de reprodução é extremamente

baixa. Portanto, o cultivo de tais plantas, dentro de esquema bem planejado, poderá ensejar

ao produtor a redução da população desse nematóide na área a níveis toleráveis, a exemplo do

que já se tem buscado fazer em relação aos nematóides de galhas e ao nematóide de cisto.

Tabela 5: Sistema de rotação alternando plantio de soja e outras culturas

Além da soja e algodão, P. brachyurus pode parasitar a aveia, o milho, o milheto, o

girassol, a cana-de-açúcar, o amendoim, dentre outras, alguns adubos verdes e a maioria das

ervas daninhas. Entretanto, existe variabilidade entre e dentro das culturas ou espécies

utilizadas em cobertura ou adubação verde, com relação à capacidade de multiplicar o

nematóide (Tabela 6). Espécies, cultivares e híbridos resistentes ou que multiplicam menos o

parasita, devem ser preferidas para semeadura em rotação/sucessão com as grandes culturas

do cerrado, nas áreas infestadas.

Page 21: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

Tabela 6. Fatores de reprodução (FR) de P. brachyurus em algumas espécies vegetais.

Médias de seis repetições. Embrapa Soja, março de 2007.

Espécies Vegetais FR* Espécies Vegetais FR

Aveia preta

Crotalaria spectabilis

Crotalaria breviflora

Crotalaria mucronata

Crotalaria ochroleuca

Crotalaria junceae

Brachiaria decumbens

Brachiaria brizantha

Milheto „ADR Lab 04-208‟

Milheto „ADR 300‟

Milheto „BN2‟0,0

Milheto „ADR 500‟

Mucuna cinza

Mucuna anã

Mucuna preta

0,9

0,0

0,0

0,0

0,0

1,3

0,6

1,7

0,2

0,2

0,0

1,8

2,6

3,3

11,4

Guandu Fava Larga

Guandu anão „IAPAR 43‟

Girassol „Hélio 251‟

Girassol „Hélio 358‟

Girassol „BRS 122‟

Girassol „IAC Uruguai‟

Girassol „Catissol‟

Labe-labe

Sorgo „IG 150‟

Quiabo „Santa Cruz‟

Soja „Peking‟

Soja „Essex‟

0,4

0,6

0,2

0,4

0,7

1,1

0,2

2,2

2,2

6,6

1,6

4,9

*FR= população final de nematóides recuperada em cada planta/população inicial (600 espécimes).

Algumas cultivares norte-americanas foram relatadas (www.soybean.ncsu.edu/soyvar)

como sendo resistentes (Cook, Davis, Deltapine 417, Essex, McNair 600, NK Coker 338 e

Ransom) ou moderadamente resistentes (Hutton, NK Coker 136, Pickett, Asgrow A5979 e

Bragg), porém o controle genético da resistência não foi esclarecido.

O comportamento das cultivares brasileiros de soja em áreas infestadas com P.

brachyurus não tem indicado a existência de materiais resistentes ou tolerantes. Todavia,

avaliações em casa-de-vegetação mostraram que as cultivares recomendadas no Brasil Central

diferem bastante com relação à capacidade de multiplicar o nematóide.

Conclusões/Recomendações

O controle dos nematóides no cerrado não se faz através de ações isoladas e sim

trabalha-se um conjunto delas, através de um bom planejamento técnico, sistemas produtivos

e estratégias adequadas que viabilizem a convivência econômica com estas pragas. E para isso

só se consegue ser assertivo no manejo dos nematóides começando por sua identificação e

quantificação das espécies presentes na lavoura, através de coletas de amostras de solos e

raízes, a uma profundidade de 0 a 30 cm, acondicionadas em sacos plásticos bem amarrados e

acondicionadas em caixas térmicas para que as amostras se mantenham frescas e úmidas, em

seguida encaminhar ao laboratório de sua preferência para as análises o mais rápido possível.

Page 22: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

A rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas, esta é uma

das ferramentas mais eficientes no combate ao nematóide. E para alguns gêneros, raças e/ou

altas populações se faz imprescindível.

O cultivo de plantas não hospedeiras na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser

boa opção para redução da população de nematóides, ainda sim se faz necessário à rotação de

culturas no verão.

A utilização de cultivares, variedades e híbridos resistentes no sistema produtivo é um

dos métodos mais seguros e econômicos, porém não deve ser a única opção de manejo de

nematóides, pois poderá haver quebra de resistência em situações de alta população de

nematóides, nestes casos antes de semear uma cultivar resistente, o agricultor deverá fazer

rotação de cultura com uma espécie não hospedeira.

A rotação de culturas é um forte componente do Sistema de Plantio Direto e um

agente que auxilia na menor disseminação dos nematóides, além de todos os demais

benefícios. Nematóides do gênero Pratylenchus brachyurus podem e devem ser manejados

em sistema de plantio direto com a adoção de culturas botânica resistentes, além de se buscar

variedades, cultivares e híbridos resistentes na recomendação da cultura subseqüente.

Como pode-se observar, que o manejo de nematóides é bastante complexo e tornou-se

imperioso e inadiável. Por se tratar de pequenos vermes microscópicos, a percepção das

perdas pelo produtor é bastante lenta e com isso facilita ainda mais sua dispersão e incremento

populacional, somente com este conjunto de ações e atitudes os agricultores conseguirão

aumentar suas produtividades e sua receita.

Autores e co-autores:

(1) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rondonópolis, MT

(2) Gerente de Pesquisa em Nematologia, Dra. em Nematologia, APROSMAT, Rondonópolis, MT

(3) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rio Verde, GO

(4) Gerente Técnico em Biotecnologia, Dr em Entomologia, Monsanto do Brasil Ltda, Piracicaba, SP

(5) Gerente Regional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Goiânia, GO

(6) Gerente Nacional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, São Paulo, SP

- Andréa Luciana Sari Sampaio, Revisora, Especialista em linguagem e práticas de ensino da

Língua Portuguesa, UNIR/FAIR, Rondonópolis, MT

Page 23: Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008

REVISÃO DE LITERATURA:

[1] DIAS, W.P.; SILVA, J.F.V.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G.E.S. Nematóides de

importância para a soja no Brasil. In: Boletim de Pesquisa de Soja 2007.

Rondonopólis, Fundação MT (org.), 2007. p.173-183.

[2] INOMOTO, M. M; ASMUS, G. L.; SILVA, R. A.; MACHADO, A. C. Z. Nematóides

uma ameaça a cotonicultura brasileira, 2007.

[3] DIAS, W.P; RIBEIRO, N.R.; LOPES, I. O. N.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G. E.S.;

SILVA, J. F. V. Manejo de nematóides na cultura da soja. 2007.

[4] CAMPOS, H. D. Manejo de nematóides na cultura da soja e do milho. FESULV, Rio

Verde, 2006.

[5] FERRAZ, L. C. C. B. O nematóide Pratylenchus brachyurus e a soja sob plantio

direto. Piracicaba: ESALQ/USP, Revista Plantio Direto, 2006.p. 26-27.

[6] INOMOTO, M. M. Principais nematóides na cultura da soja e seu manejo. Piracicaba:

ESALQ/USP, 2006.

[7] FERRAZ, L. C. C. B. As meloidogynoses da soja: passado, presente e futuro. In:

SILVA, J.F.V. (Org.) Relações parasito-hospedeiro nas meloidogynoses da soja.

Londrina: Embrapa Soja/Sociedade Brasileira de Nematologia, 2001. p-15-38.

[8] SILVA, J.F.V.; DIAS, W.P. et all Controle de nematóides de galhas em soja: O uso de

híbridos de milho na rotação. Embrapa Soja, 2001.

[9] GARCIA, A.; SILVA, J.F.V.; PEREIRA, J.E.; DIAS, W.P. Rotação de culturas e

manejo do solo para controle do nematóide de cisto da soja. In: Sociedade Brasileira

de Nematologia (Ed.) O Nematóide de cisto da soja: a experiência brasileira.

Jaboticabal: Artsigner Editores, 1999. p-55-70.

[10] ROBBINS, R.T.; RAKES, L. Resistance to the reniform nematode in selected soybean

cultivars and germplasm lines. Journal of Nematology, 28 (4S): 612-615, 1996.

[12] TOWNSHEND, J.L. Methods for evaluating resistance to lesion nematodes,

Pratylenchus species. In: STARR, J.L. (ed.). Methods for evaluating plant species for

resistance to plant-parasitic nematodes. Hyattsville: The Society of Nematologists,

1990.

[13] LORDELLO, L.G.E. Nematologia das plantas cultivadas.