Brasil Sempre 39
-
Upload
amarnatureza-natureza -
Category
Documents
-
view
223 -
download
6
description
Transcript of Brasil Sempre 39
An
o 1
0 •
nº
39 •
ja
nei
ro/f
ever
eiro
/ma
rço
201
0 yeAr 10 • no. 39january/february/march 2010
Ano 10 • nº 39janeiro/fevereiro/março 2010
revista brasileira de desenvolvimento
sustentável
c e n t r o i n t e r n a c i o n a l d e desenvolvimento sustentável FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
14 MUDANÇAS CLIMáTICAS
co2: ameaças e benefícios 26 ENTREVISTA
leonardo chevalier e o fundo social6 FINANÇAS
impacto ambiental no mercado de captais
pegada ecológica do rio
rio’s ecological footprint
estudo revela padrão insustentável do estilo de vida carioca pág. 20
survey reveals that cariocas lead an unsustainable lifestylepAge 59
ISSn 1981-6022
ABRIL/MAIO/JUNHO 1
O Rio se prepara para sediar dois grandes eventos internacionais: a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas de 2016. E, nessa preparação, a área de sustentabilidade precisa de atenção
especial. A matéria de capa desta edição da Brasil Sempre apresenta um estudo inédito do pesquisador Jaison Luís Cervi que pode colaborar nesse sentido.
Em dissertação de Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cervi discutiu a relação entre sustentabilidade e consumo e a pressão ambiental na cidade do Rio de Janeiro. Para concluir a tarefa, ele usou a metodologia da Pegada Ecológica. O resultado vocês podem verificar nas páginas a seguir.
Dando continuiação à proposta de refletir sobre o conceito de susten-tabilidade, Rodrigo Costa da Rocha Loures, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), propõe que seja avaliada a relação intrínseca com o desenvolvimento, bem como outras variáveis.
A seção de entrevista traz uma boa notícia para as organizações sociais que operam no Brasil. Leonardo Letelier, CEO da sitawi, anuncia a criação de um fundo financeiro responsável pela implantação do conceito de empréstimo social no país. A iniciativa tem como missão o financiamento de instituições que não têm acesso ao mercado formal de crédito.
E por falar em finanças, o trio de articulistas Rogério Gollo, Ernesto Cavasin e Dominic Schmal, da PricewaterhouseCoopers, alerta-nos para a ampliação do valor das temáticas socioambientais nas estratégias de negócios das empresas, agora, já no período pós-crise. Pauta que também orienta o artigo de Fernado Penteado, da FGV Direito Rio, sobre risco ambiental e o mercado de capitais. Ou melhor, de como o mercado ainda tem dificuldades de mensurar o risco ambiental nos seus negócios.
E na série de enigmas da sustentabilidade, o diretor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Carlos Baldicero Mohon, questiona: o gás carbônico é de fato o grande vilão do aquecimento global?
Por fim, esta edição apresenta iniciativas sustentáveis da indústria da cerâmica vermelha. Presente em todos os estados brasileiros, ela gera mais de 400 mil empregos diretos em aproximadamente 5.500 empresas.
Boa leitura!
Carlos PousaD I R E t O R - R E S P O n S á V E L
http://www.insightnet.com.br/brasilsempre
D I R E t O R - R E S P O n S á V E LCarlos Pousa
EDItOR SênIOR (LICEnCIADO)renê GarCia Jr.
EDItORA ExECUtIVAKelly nasCimento
PROJEtO GRáFICOantônio seara
PRODUçãO GRáFICAruy saraiva
PROGRAMAçãO VISUALmarCelo Pires santana
REVISãOrubens sylvio Costa / José neves de oliveira
FOtO DE CAPAmarCelo Carnaval
COnSELhO EDItORIALPaulo Henrique Cardoso (Presidente)
asPásia CamarGoeliezer batista
Felix de bulHões VraPHael de almeida maGalHães
Brasil Sempre é editada em associação de Ins ight Engenhar ia de Comunicação & Marketing Ltda. e Centro Internacional de Desenvolvimento Sustentável da Escola de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Cids/Ebape/FGV).
InSIGht EnGEnhARIA DE COMUnICAçãO E MARkEtInG
rio de Janeiro Rua Sete de Setembro, 71 / 13o e
14o andares, Centro, Rio de Janeiro, RJCEP 20050-005. tel.: (21) 2509-5399
são Paulo Rua Sansão Alves dos Santos, 76 / 7o and.,
Brooklin, São Paulo, SP CEP 04571-090,
te l . : (11) 5502-3842 [email protected]
CIDS/EBAPE/FGVCentro internaCional de desenvolvimento
sustentável da esCola brasileira de administração PúbliCa e de emPresas
da Fundação Getulio varGas
Praia de Botafogo, 190, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
CEP 22250-900, tel.: (21) 2559-6042 [email protected]
PUBLICAçãO tRIMEStRALJa n e i r o/Fe v r e i r o/ma r ç o 2010
todos os ensaios editados nesta publicação poderão ser livremente transcritos desde que citada a fonte das informações.
Os ar t igos as s inados são de in te i ra responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
6FInAnçAS 1
O ExECUtIVO FInAnCEIRO EM tEMPOS DE RISCO SOCIOAMBIEntALUma das lições que os principais executivos das grandes organizações mundiais estão absorvendo, num cená-rio de pós-crise financeira, certamente se baseia numa adequada tomada de decisão sobre o direcionamento dos recursos financeiros. Numa percepção mais evoluída dessa lição, atualmente os grandes chefes do setor financeiro também perceberam que suas res-ponsabilidades pela administração de riscos vão além da esfera da adminis-tração financeira. Por roGérIo GoLLo, ErnESto CAVASIn E DoMInIC SChMAL
10FInAnçAS 2
RISCO AMBIEntAL E MERCADO DE CAPItAIS Já se tornou lugar comum a ideia de que os impactos mais relevantes são geralmente derivados de eventos fora das expectativas, em virtude da baixa frequência das ocorrências ou da sim-ples desconsideração da variável cau-sadora. O professor Nassin Taleb, da Universidade de Massachussets popula-rizou esse conceito ao denominar esses raros eventos como cisnes negros.Por FErnAnDo PEntEADo
14MUDAnçAS CLIMátICAS
CO2 : POLUEntE OU O GáS DA VIDA?Análises de climas passados mostraram que variações da temperatura e da concentração de CO2 não estão rela-cionadas entre si, ou seja, o CO2 não controla o clima global. Ao contrário,
a temperatura do sistema climático, ao aumentar, induz o aumento do CO2 na atmosfera. Que ocorreu um aque-cimento global nos últimos 100 anos, não dúvida! A questão que se coloca é se o aquecimento observado é natural ou antropogênico e se é controlado pelo CO2.Por LuIz CArLoS BALDICEro MoLIon
20CIDADES
RIO, UMA CIDADE InSUStEntáVELAs pressões ambientais provoca-das pela concentração humana em aglomerações urbanas colocam as metrópoles no centro do debate sobre o futuro das sociedades contemporâ-neas. Todos esses fatores reforçam a necessidade de se mensurar a pressão antrópica da população da cidade do Rio de Janeiro. Nesse sentido, a metodologia do indicador de sustenta-bilidade pegada ecológica surge como contribuição valiosa para o debate sobre sustentabilidade ambiental no recorte espacial municipal.Por JAISon LuíS CErVI
26EntREVIStA
EMPRéStIMO SOCIAL ChEGA AO BRASILBoa notícia para as organizações sociais brasileiras. Está em operação por essas bandas um fundo social que empresta quantias entre R$ 100 mil e R$ 400 mil para ONGs e OSCIPs com juros de apenas 1% ao mês: o da sitawi. Leornardo Letelier, CEO do fundo, apresenta o conceito e explica como pretende introduzir o modelo no Brasil desenvolvendo a infraestrutura financeira para o setor social
2
32DESAFIO
SUStEntABILIDADE MUItO ALéM DO PROSELItISMO AMBIEntALTantas vezes incorporamos ao nosso linguajar que isto ou aquilo é ou não sustentável, porém pouco nos pergun-tamos o que queremos sustentar. Será que não estamos passando por cima do que é mais vital e importante, as nossas relações, o nosso entorno, as nossas redes de conversação? Será que antes de incorporarmos e instalarmos esse conceito em nosso pensar, não deverí-amos considerar que tipo de ação esse pensamento reproduz?Por roDrIGo CoStA DA roChA LourES
36InDÚStRIA
InDÚStRIA DE CERâMICA: RUMO à SUStEntABILIDADEApesar de já fabricar produtos tidos como naturalmente eficientes, a indústria de cerâmica estrutural – mais conhecida como cerâmica vermelha –, responsável pela fabricação de tijolos, blocos, tubos e telhas cerâmicos, está dando passos largos em direção às exigências de sustentabilidade que se impõem neste século.Por LuIS LIMA
42nOtAS CURtASSUStEntáVEIS
45VERSãO EM InGLêSEnGLISh VERSIOn
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
SUMÁRIOJAnEIRO/FEVEREIRO/MARçO 2010
3JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
CASE STUDIESrevista brasileira de management
Anúncio_Case Studies.indd 1 26/6/2008 11:58:43
4 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
5JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
6 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
O ExEcUtIVO FINANcEIRO EM tEMpOS dE RIScO
SOCIOAMBIEntALP o r r o G é r i o G o l l o , e r n e s t o C a v a s i n e d o m i n i C s C H m a l
e s p e c i a l i s t a s d a á r e a d e S u s t e n t a b i l i d a d e d a p r i c e w a t e r h o u s e c o o p e r s
F i n a n ç a s 1
Com o passar da crise, a corrida pela concorrência e os desafios pela sustentabilidade traduzem um evi-dente crescimento sobre interesses dos investidores
institucionais acerca das práticas e das estratégias organi-zacionais voltadas à mitigação dos impactos associados ao aquecimento global ou até mesmo pela política de gestão interna a respeito da escassez de recursos naturais. Além disso, a maneira sistemática e o processo de monitoramento são avaliados no grau de interesse e nas tomadas de decisão desses investidores.
O resultado do atual cenário é ainda fragilizado pela falta de visão dos executivos que pouco se preocupam por levar temáticas socioambientais às principais mesas de reuniões e comitês de divulgação de resultados. Muitas vezes os resultados e os indicadores socioambientais se tornam um compêndio de informações filantrópicas em
uma das lições que os PrinCiPais exeCutivos das Grandes orGanizações mundiais estão
absorvendo, num Cenário de Pós-Crise FinanCeira, Certamente se baseia em adequada
tomada de deCisão sobre o direCionamento dos reCursos FinanCeiros. numa PerCePção
mais evoluída dessa lição, atualmente os Grandes CHeFes do setor FinanCeiro também
PerCeberam que suas resPonsabilidades Pela administração de risCos vão além da esFera
da administração FinanCeira.
que não é possível mensurar o desempenho operacional e tampouco trazer clareza às ações que agregam de fato valor as companhias.
Há uma enorme reconsideração no mercado de capitais sobre as abordagens de investimentos socioambientais. Isso torna os níveis de governança e os critérios de transparência tão exigentes quanto o fluxo das operações econômicas e as formas de gestão da controladoria financeira de uma organização no que diz respeito aos custos e investimentos socioambientais. Na prática, pode-se abordar que há anos os controles sobre a utilização e o consumo da água numa empresa eram pouco relevantes no contexto reputacional ao acionista. Atualmente a percepção é inversa, e, dependendo do setor de atuação, a exigência para a empresa é propor-cional ao desempenho de indicadores econômicos.
Um exemplo dessas considerações voltadas à preo-
7JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
8 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
cupação sobre os controles socioambientais bem como uma maior participação dos investidores é refletida no crescimento do número de signatários dos princípios de investimentos responsáveis das Nações Unidas (UN PRI). O princípio mais importante aborda a integração dos fatores ambientais, sociais e governança nos processos de investimentos e na necessidade de engajamento das organizações.
Quando se trata do engajamento sobre as partes gover-namentais, as empresas também não podem deixar de lado a necessidade de adequação à legislação socioambiental, que está cada vez mais estrita e direcionada para maiores exigências. Empresas que não se anteciparem para atender às questões regulatórias também não estarão aptas a atender aos requisitos do mercado de capitais e, por conseguinte, terá um menor desempenho a longo prazo nas suas atua-ções, trazendo potenciais frustrações aos seus investidores e demais públicos de interesses.
Aspectos como o aperfeiçoamento da comunicação institucional, o poder de resposta às partes interessadas e o controle sobre as ações e os investimentos socioambientais podem ser parte da solução para amenizar a preocupação e estão cada vez mais onipresentes nos desafios dos executivos financeiros.
Transformar os resultados positivos das organizações e equilibrar a relação econômica com as vertentes ambientais, sociais e de governança se tornaram um requisito tão es-sencial à saúde organizacional e certamente será o principal desafio das próximas décadas.
A garantia de confiança para o investidor e a correta divulgação dos resultados socioambientais certamente serão reflexos da eficiência no processo de controles da organiza-ção. Apesar de relacionar as informações socioambientais como indicadores de performance não financeira, a sua divulgação explicitará as formas de gerenciamento e quais são os desafios quanto à melhoria de processos. Companhias responsáveis necessitam prover à sociedade um apropriado nível de divulgação sobre o grau de maturidade da susten-tabilidade, sejam os requisitos de divulgação mandatários ou não.
Já se pode observar uma evolução no processo de gestão de controles em que a legislação exige o relato das informações de sustentabilidade e de natureza socioam-biental. Em muitas organizações já é visível a definição da responsabilidade na esfera corporativa e, quando as ver-tentes socioambientais estão em equidade com a vertente econômico-financeira, os executivos da área financeira tomam a dianteira sob essa responsabilidade da gestão socioambiental. Já é perceptível em algumas organizações uma acentuada periodicidade na prestação de contas sobre essas informações, e para que não haja um desconforto ou falta de confiabilidade nos resultados apresentados, a organização recorre a uma asseguração independente no sentido de passar credibilidade ao investidor.
A Federação Europeia dos Contadores – FEE, por exemplo, participa de uma série de eventos que fomentam as práticas de gestão e divulgação das informações socioam-bientais. Um dos objetivos é contribuir para a evolução e qualidade dos critérios dessas informações, onde se acredita na necessidade de mudança da cultura corporativa, que com certa notoriedade irá facilitar e promover visibilidade e relevância à sustentabilidade.
O aumento a essa relevância deve proporcionar à área financeira a transformação do conceito de controles so-cioambientais mais operacionais, permitindo a redução da distância entre o conceito abstrato e a tomada de decisões no processo de desenvolvimento organizacional.
Isso reforça a necessidade imediata das organizações para capacitar os executivos da área financeira quanto ao conceito da sustentabilidade e os respectivos critérios de controles socioambientais, pois nesse sentido eles serão os principais agentes que comandarão as relações de desem-penho entre controladores e investidores que se atentam aos resultados de performance socioambiental. A falta de capacitação sobre essas questões pode levar os grandes executivos a tomarem decisões estratégicas desalinhadas com o grau de expectativas dos stakeholders.
Quando se considera o papel do executivo da área fi-nanceira sob a gestão socioambiental é preciso inicialmente identificar e mapear todos os riscos que possam afetar o de-
F i n a n ç a s 1
HÁ UMA IMpORtANtE REcONSIdERAÇãO NO MERcAdO dE cApItAIS
SObRE AS AbORdAgENS dE INVEStIMENtOS SOcIOAMbIENtAIS
9JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
F i n a n ç a s 1
sempenho operacional e reputacional da organização. Após esse mapeamento, é requerida a atividade por avaliar qual o grau de prontidão às respostas dos riscos socioambientais. Essa atividade requer da área financeira a determinação das respostas aos riscos, desenvolvendo uma série de medidas para alinhá-los com a tolerância.
Para assegurar que as respostas aos riscos sejam executa-das com eficácia, a instituição de políticas e procedimentos deve ser estabelecida dentro da organização. A partir disso, a implementação das atividades de controle deverão passar pelo processo de monitoramento que garanta a integridade da gestão de riscos das informações socioambientais.
Uma parcela do alto executivo da área financeira destaca o insucesso nessa implementação e atribui a falta de com-prometimento da gestão empresarial sobre as questões da
sustentabilidade. Por isso a comunicação deve ser eficaz e ocorrer num sentido mais amplo, em que se espera fluí-la em todos os níveis da organização.
A intenção dos executivos é sem dúvida resgatar o cli-ma de confiança que se perdeu com a falta de clareza e as más práticas de gestão. E um dos papéis das organizações é procurar a transição para uma sociedade sustentável. Porém, parte dessa transição deve permitir que os atores econômicos tenham a oportunidade de se envolverem na definição de riscos e oportunidades associadas com as tendências dos aspectos socioambientais.
O desafio ou a resposta não se baseia na adição de dados que incrementam as informações de divulgação para os investidores, mas sim na maneira ética e confiável que pos-sibilitou a construção correta dessas informações.
10 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
RISCO AMBIEntALE MERcAdO dE cApItAIS
Bra ilzS E M P R E
F O R E V E R
P o r F e r n a n d o P e n t e a d oV i c e - d i r e t o r d a F g V d i r e i t o R i o
F i n a n ç a s 2
11JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
O comprometimento com uma política ambiental deve ser assegurado entre os colaboradores por meio de diferentes instrumentos, entre eles a
comunicação visual, incentivos às conquistas responsáveis para o meio ambiente, informações sobre o desempenho ambiental da empresa e investimentos realizados para a produção mais limpa alinhada às prioridades ambientais da região e a sua extensão à família.
Entretanto, no Brasil, os efeitos da crise financeira in-ternacional de 2008 demonstraram que grandes perdas não são decorrentes apenas de eventos de baixa probabilidade de ocorrência. Podem, alternativamente, advir de riscos altamente prováveis, porém não avaliados ou subestima-dos. O grau de alavancagem e a ausência de análise de sensibilidade em situações de ruptura por parte tanto dos agentes quanto dos reguladores podem formar o estopim de perdas para os investidores. O melhor exemplo foi a elevada perda com derivativos de empresas de capital aberto, por desconhecimento do grau de alavancagem nas operações de target forward, e a ausência de regulação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no que se refere às exigências de publicidade dos níveis de risco.
A atuação atenta às grandes variações por parte do re-gulador se torna fundamental na preservação do mercado de capitais, na medida em que não se pode esperar que a autorregulação de riscos ocorra quando o mercado opera em regime de remuneração variável, proporcional ao risco assumido. Se o incentivo é a assunção de riscos, cabe ao regulador limitá-los ou pelo menos exigir sua publicidade. A Comissão de Valores Mobiliários fez isso em dezembro de 2008, três meses após a eclosão da crise e sete anos após a reforma empreendida no regime das sociedades anôni-mas, quando foi estabelecida a competência da CVM para regular derivativos cujos ativos subjacentes sejam ou não valores mobiliários, conforme os incisos VII e VII do art.
Já se tornou luGar-Comum a ideia de que os imPaCtos mais relevantes são Geralmente derivados de eventos Fora das exPeCtativas, em virtude da baixa FrequênCia das oCorrênCias ou da simPles desConsideração da variável Causadora. o ProFessor nassin taleb, da universidade de massaCHussets, PoPularizou esse ConCeito, ao denominar esses raros eventos Como Cisnes neGros.
2º da Lei nº 6385/1976.Hoje, o risco ambiental talvez seja um dos maiores fa-
tores de risco não contemplados nas avaliações de crédito de instituições financeiras, bem como na determinação do preço das ações de empresas de capital aberto. Grandes pesquisadores mostram já há algum tempo que, na forma-ção de diversos preços na economia, não são levados em consideração o risco ambiental assumido. Mesmo assim, pouco tem sido feito no sentido de considerá-lo nas deci-sões de investimento. Em virtude disso, pode-se imaginar, portanto, que os valores das ações da empresas de capital aberto não estejam ajustados ao risco ambiental.
A Securities and Exchange Commission (SEC) ame-ricana parece ter acordado para esse problema, ao liberar uma orientação interpretativa que indica a necessidade de empresas de capital aberto tornarem públicos os riscos que enfrentam com as mudanças climáticas. Essas informações tendem a fazer com que os riscos ambientais passem a ter impacto não somente nos balanços das empresas, mas, sobretudo, nas projeções para avaliação de ações. Embora a orientação interpretativa não crie nem modifique regras, indica de forma clara e precisa a necessidade de transpa-rência. Essa exigência diz respeito ao estudo de impactos decorrentes da legislação, acordos internacionais, regulação e práticas de mercado. Caberá aos investidores o cálculo do impacto financeiro desse risco, e às instituições financeiras a determinação das variações nos spreads de crédito em decorrência dos riscos enfrentados. Usando a terminologia do acordo de capital de Basileia II, não é difícil inferir que os riscos ambientais são geradores de risco legal, de risco de mercado e de risco de crédito.
Essa decisão é sem dúvida um grande incentivo às avaliações financeiras das mudanças climáticas. No Brasil, embora as ferramentas para análise estejam disponíveis, os reguladores ainda não demonstraram inquietação com
F i n a n ç a s 2
12 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
F i n a n ç a s 2
O MEIO AMbIENtE tAlVEz SEJA UM dOS MAIORES FAtORES
dE RIScO NãO cONtEMplAdOS NAS AVAlIAÇõES dE
cRédItO dE INStItUIÇõES FINANcEIRAS
13JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
a ausência do risco ambiental nos modelos de avaliação de empresas e de crédito. Da mesma forma, inves-tidores institucionais, signatários ou não dos Princípios do Investimento Responsável, deveriam ser mais pro-ativos em demandar e apoiar uma iniciativa semelhante à da SEC por parte da CVM. Apenas alguns bancos começam a se preocupar com o tema, mas na maior parte das vezes dirigem sua atenção especialmente para ope-rações de financiamento de projetos por serem signatários dos Princípios do Equador.
O exemplo ditado pelo regulador americano deverá disseminar ainda mais no Brasil a cultura de inventários de carbono dos gases de efeito estufa para empresas abertas. Vale destacar que movimento nesse sentido já vem sendo trabalhado por alguns renoma-dos centros de pesquisa, utilizando metodologia adaptada do World Re-sources Institute (WRI) e do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), compatí-vel com os padrões e os critérios ISO 14064. É importante notar ainda que o fomento de iniciativas de inventário de emissões se constitui no primeiro passo para criação de mercados volun-tários ou mesmo regulados de crédito de emissões amplamente utilizados não apenas pelo Protocolo de Quioto, mas por diversos ordenamentos jurídicos
ambientais de países desenvolvidos. No Brasil, o marco regulatório para a concepção de mecanismos de mercado tem seu pilar na alteração do artigo 9º, da Lei nº 6.938/1981, promovida pela Lei nº 11.284/2006 e responsável pela inserção do inciso XIII, o que permitiu a utilização de incentivos econômicos como instrumentos da política ambiental brasileira.
Dessa forma, tanto a recente in-dicação da SEC norte-americana de tornar públicas as ações empresariais de mitigação do risco climático como as iniciativas ainda tímidas e isoladas, porém representativas do empresariado brasileiro, demonstram uma tendência cada vez maior do regulador e do em-presariado de contabilizarem os riscos ambientais como ferramentas não ape-nas da internalização das externalidades negativas, mas, acima de tudo, como instrumento de gestão de riscos que crescentemente ameaçam as operações produtivas mundiais. Para a parte do setor produtivo que ainda não foi sen-sibilizada pelos efeitos das mudanças climáticas, espera-se que os reguladores sejam mais ágeis do que foram em outras importantes fontes de risco não mapeadas. Tendo como referência o modelo americano, mais do que evitar que perdas relevantes sejam sofridas por investidores mal informados, cabe intro-duzir a gestão e a decorrente mitigação de riscos ambientais.
F i n a n ç a s 2
O FOMENtO dE INIcIAtIVAS dE INVENtÁRIO dE EMISSõES é O
pRIMEIRO pASSO pARA cRIAÇãO dE MERcAdOS VOlUNtÁRIOS OU
MESMO REgUlAdOS dE cRédItO dE EMISSõES
14 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
CO2:pOlUENtE OU O gÁS dA VIdA?
Um artigo publicado na prestigiada revista científica Nature (n° 462) focalizou a reconstrução das tem-peraturas no Leste da Antártica nos últimos 340 mil
anos, feita por uma equipe de cientistas britânicos, liderada por Louise C. Sime, que utilizou cilindros de gelo e mostrou que elas foram, nos últimos três interglaciais, entre 6ºC e 10ºC mais elevadas que as atuais. Entre 800 d.C. e 1200 d.C., o “Período Quente Medieval”, as temperaturas esti-veram entre 1ºC e 2ºC acima das atuais, e o clima quente permitiu que os Vikings colonizassem as regiões do Norte do Canadá e uma ilha chamada Groenlândia (Terra Verde), hoje cobertas de gelo.
Convém salientar que as concentrações atuais de dióxido de carbono (CO
2) e metano (CH
4), os chamados gases de
efeito estufa (GEE), são 30% e 130%, respectivamente, maiores que as concentrações dos GEE daquelas épocas e aqueles aquecimentos foram naturais e não forçados pelos GEE. De 1350 a 1920, entretanto, o clima se resfriou, com temperaturas 1,5º a 2°C inferiores às de hoje, particular-mente no Oeste da Europa, período bem documentado denominado “Pequena Era Glacial”. Porém, após 1920, o clima voltou a se aquecer e as temperaturas se elevaram lentamente. Que ocorreu um aquecimento global nos últimos 100 anos, não há dúvida! A questão que se coloca é se o aquecimento observado é natural ou antropogênico
e se é controlado pelo CO2? Análises de climas passados
mostraram que variações da temperatura e da concentração de CO
2 não estão relacionadas entre si, ou seja, o CO
2 não
controla o clima global. Ao contrário, a temperatura do sistema climático, ao aumentar, induz o aumento do CO
2
na atmosfera. No término da 2ª Guerra Mundial, a tem-peratura já tinha aumentado 0,4ºC, mas o homem emitia menos de 10% do carbono que lança hoje na atmosfera.
No período pós-guerra, quando a industrialização se acelerou e o consumo de petróleo e consequentes emissões, aumentaram significativamente, houve, contrariamente ao que prevê a teoria do aquecimento global antropogênico (AGA), um resfriamento global, a ponto de, em 1976, os climatologistas afirmarem que uma nova era glacial estava iminente. Esse período de resfriamento coincidiu com o res-friamento dos oceanos. Recentemente, entre 1977 e 1998, ocorreu um breve período de aquecimento dos oceanos e do clima, e é esse aquecimento que está sendo atribuído às emissões humanas. Na realidade, os fluxos naturais de carbono entre os oceanos, a vegetação e os solos (incluídos vulcões) somam 200 bilhões de toneladas por ano (GtC/a). A incerteza nesses fluxos é ±40 GtC/a e o homem coloca na atmosfera apenas 6 GtC/a. O erro nas estimativas dos fluxos naturais, portanto, é 13 vezes superior às emissões humanas. Ou seja, as emissões humanas são insignificantes em relação
P o r l u i z C a r l o s b a l d i C e r o m o l i o nd i r e t o r d o I n s t i t u t o d e c i ê n c i a s A t m o s f é r i c a s d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d e A l a g o a s
M u d a n ç a s c l i M á t i c a s
15JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
16 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
Mu d a n ç a s c l i M á t i c as
O AqUEcIMENtO glObAl dEIxOU dE SER UMA pAUtA
cIENtíFIcA, OU pREOcUpAÇãO AMbIENtAl, E pASSOU A
SER UMA plAtAFORMA pOlítIcO-EcONôMIcA
17JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
às naturais. Não há evidências científicas, portanto, que o CO
2 emitido pelo homem interfira no clima global, sendo
variabilidade natural. Também não há comprovação de que o nível dos mares esteja subindo. Al gore, em seu filme “A Verdade Inconveniente”, laureado com o Oscar em 2007, afirmou que o nível dos mares irá aumentar em 20 pés (6 metros!). Os satélites que medem o nível do mar detectaram um aumento de 3,4 mm por ano durante 1993-2006. Isso corresponde a um aumento inferior a 5 cm nesses 14 anos, dentro da variabilidade natural que é de 10 ± 2 cm. Essa elevação terminou em 2006 e foi provocada por um ciclo lunares de 18,6 anos, a precessão dos nodos lunar, pontos em que a órbita da Lua cruza o Plano da Eclíptica, onde se encontram o Sol e os planetas.
O máximo desse ciclo ocorreu entre 2005 e 2007, elevou o nível do mar nos trópicos, gerando marés altas e acelerando as correntes marinhas, que levaram mais calor para os polos. As águas oceânicas mais aquecidas entraram por debaixo das geleiras flutuantes, derreteram a sua base e sua parte aérea despencou. Notem que o gelo flutuante não aumenta o nível do mar, porque sua parte submersa já desloca o volume que a água vai ocupar quando o gelo derreter. Ou seja, um ciclo natural, que já ocorreu antes e se repetirá em torno 2025. Um ponto importante é que o CO
2 tem sido tratado pela mídia como se fora um vilão,
um poluente! CO2 é o gás da vida! Nós e os animais não
produzimos a comida que ingerimos. Quem o faz são as plantas, via fotossíntese, por meio da qual retiram CO
2 do
ar e o transformam em amidos, açúcares, fibras dos quais nos alimentamos.
Na hipótese absurda de se eliminar o CO2, a vida
acabaria na Terra. Ensaios agronômicos mostraram que, quando se dobra a concentração de CO
2, trigo, milho,
arroz, soja, cana-de-açúcar têm sua produtividade aumen-tada de 30%-50%, em média. Portanto, o CO
2 é benéfico
para a Humanidade! Mas, se não há evidências, por que a preocupação exacerbada com relação ao aquecimento
global, como se viu recentemente com a Conferência de Copenhague, por exemplo? Por que reduzir emissões de CO
2? O aquecimento global deixou de ser uma pauta
científica, ou preocupação ambiental, e passou a ser uma plataforma político-econômica. A frase “reduzir as emis-sões” significa, na realidade, “gerar menos energia elétrica”, que é vital para o desenvolvimento dos povos, reduzindo as desigualdades sociais existentes hoje. Possivelmente, políticos, influenciados por grandes grupos econômicos, cujo interesse é o poder apenas, estejam sendo vítimas, ou cúmplices no caso do G7, de uma pretensa “urgência planetária” sem comprovação científica. Os modelos cli-máticos atuais não conseguem reproduzir o clima dos 100 anos passados, portanto, suas projeções para os 100 anos futuros são meros exercícios acadêmicos, inúteis para o planejamento das atividades humanas.
Em dezembro de 2009, o presidente da República san-cionou a “Lei Climática”, pela qual o Brasil deve reduzir, voluntariamente, suas emissões de CO
2 entre 36% e 38% até
2020. Reduzir emissões de nada adiantará em face da magni-tude dos fluxos naturais de CO
2 e do fato comprovado de que
ele não comanda o clima global. Entretanto, considerando que boa parte de nossas emissões provém da destruição da Floresta Amazônica, é possível que tal compromisso venha a reduzir, ou até mesmo eliminar, o desmatamento. E, nesse aspecto, será benéfico para o Brasil e para a Humanidade, dada a fantástica biodiversidade dessa floresta. Mas não mudará a marcha do clima, que é controlado basicamente pela atividade solar, calor armazenado nos oceanos e na cobertura de nuvens. A atividade solar é modulada por um ciclo de 90 anos, que passou por um mínimo entre 1895-1920, atingiu um máximo em 1957 e 1968, e agora estará num novo mínimo até cerca de 2030.
A coincidência de os oceanos estarem se resfriando e o Sol num mínimo deve provocar um resfriamento global nos próximos 20 anos, e não um aquecimento, fato que já pode ser sentido com o declínio da temperatura nos
Mu d a n ç a s c l i M á t i c as
ENSAIOS AgRONôMIcOS MOStRARAM qUE, qUANdO
dObRAdA A cONcENtRAÇãO dE cO2, tRIgO, MIlHO,
ARROz, SOJA, cANA-dE-AÇúcAR têM SUA pROdUtIVIdAdE
AUMENtAdA EM Até 50%
18 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
últimos 10 anos. O último resfriamento dos oceanos ocor-reu entre 1947 e 1976, durou 30 anos, e causou muitos transtornos para a economia global, embora a população fosse bem menor que a de hoje. No Sul e Sudeste do Brasil, por exemplo, os invernos foram rigorosos, a frequência de geadas severas foi grande e acabou com o cultivo do café no Oeste do Paraná. As tempestades também foram mais severas, especialmente na primavera, acompanhadas, mui-
tas vezes, de granizo e ventos fortes e tornados. Porém, o fato de o homem não interferir no clima global não é um aval para destruirmos o meio ambiente. Com o aumento populacional, há necessidade de mudarmos nossos hábitos de consumo, usar parcimoniosamente os recursos naturais e conservar o meio ambiente. Essa conservação é necessária para a sobrevivência da espécie humana, independentemen-te de o clima se aquecer ou se resfriar.
Mu d a n ç a s c l i M á t i c as
SOLUBILIDADE DO CO2 NOS LÍQUIDOSA solubilidade dos gases nos líquidos é inversamente proporcional à temperatura destes, fenômeno do dia-a-
dia, que ocorre numa garrafa de refrigerante. Quando se abre uma garrafa gelada, percebem-se as bolhas de CO2 subindo e vindo à superfície. Se o líquido não for resfriado logo após, ele expulsará o “gás” à medida que se aquece e o refrigerante fica “sem gás”. Estenda esse principio para o reservatório de CO2 planetário que é os oceanos e que cobrem 71% da superfície terrestre. Quando eles se aquecem, expulsam ou absorvem menos CO2 e vice-versa. Portanto, o grande controlador da concentração do CO2 na atmosfera é os oceanos e não as emissões humanas.
GELO FLUTUANTE NÃO AUMENTA NIVEL DO MARFaça um experimento. Encha um copo com água até a boca e coloque um cubo de gelo flutuante nele. O gelo,
inicialmente, derrama um pouco de água do copo, um volume correspondente a 90% do cubo, já que a densidade do gelo é cerca de 90% da água líquida. Você vai ver que, quando o gelo derreter, não cairá uma gota para fora do copo! Isso porque o volume deslocado pelo gelo é o que será ocupado por sua água quando derreter.
19JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
Graça e leveza fazem a diferença em qualquer circunstância.
Mas tudo melhora se você tem o par perfeito.
Rio de Janeiro • Rua Sete de Setembro, 71 - 14º andar • Centro • Rio de Janeiro, RJ • CEP 20050-005 • Tel: (21) 2509-5399São Paulo • Rua Bela Cintra, 746 - Conjunto 71 • Consolação • São Paulo, SP • CEP 01415-002 • (11) 3284-6147
www.insightnet.com.br
20 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
d e s a F i O
21JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
RIO, UMA CIDADEINSUStENtÁVEl
P o r J a i s o n l u í s C e r v iA n a l i s t a d o I b g E
o atual nível de utilização dos reCursos naturais tem Gerado Graves ConsequênCias
ao equilíbrio ambiental, Pois suPera em muito a CaPaCidade de CarGa dos eCossistemas.
a mudança dos Padrões ClimátiCos e as imPliCações deCorrentes da Produção de
alimentos e a oCorrênCia de Fenômenos atmosFériCos extremos são um alerta sobre a
exaustão do atual modelo de Produção e Consumo. a neCessidade de monitorar as
Condições ambientais e ColoCar em termos numériCos as ConsequênCias eColóGiCas e
sanitárias dos males da nossa Civilização são etaPas na busCa da sustentabilidade.
o CaPítulo 40 da aGenda 21 da onu deixa Patente a neCessidade da elaboração
de indiCadores de desenvolvimento sustentável Para servirem de base às deCisões
aCerCa do meio ambiente e do desenvolvimento eConômiCo. as Pressões ambientais
ProvoCadas Pela ConCentração Humana em aGlomerações urbanas ColoCam as
metróPoles no Centro do debate sobre o Futuro das soCiedades ContemPorâneas.
todos esses Fatores reForçam a neCessidade de se mensurar a Pressão antróPiCa
da PoPulação da Cidade do rio de Janeiro. nesse sentido, a metodoloGia do
indiCador de sustentabilidade PeGada eColóGiCa surGe Como Contribuição valiosa
Para o debate sobre sustentabilidade ambiental no reCorte esPaCial muniCiPal.
c i d a d e s
22 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
c i d a d e s
O estabelecimento da pegada ecológica ajuda a discutir a condição histórico-legal de municípios na Fede-ração brasileira, a relação entre sustentabilidade e
consumo, apresentar a metodologia e os referenciais teóricos do indicador de sustentabilidade pegada ecológica, avaliar a produção nacional, o estado das artes do indicador de sus-tentabilidade no Brasil e aplicar a metodologia para o ano de 2003. O cálculo da pegada ecológica envolve dimensionar em área as categorias de consumo alimentar, de água, energia elétrica, produção de lixo, emissão de gases de efeito estufa por setor de atividade, o consumo de produtos florestais e a área construída, bem como estimar a bioprodutividade do município para as categorias dos territórios de cultivo, pastagem, marinho, construído e para sequestro de carbono. Utilizando-se os resultados da pegada ecológica e da bio-produtividade estima-se o saldo ecológico da área estudada. O estabelecimento de indicadores ambientais que possam retratar e monitorar o meio ambiente é uma das etapas no sentido de conhecer e minimizar os problemas causados pelo modelo de produção e consumo contemporâneo.
MEtODOLOGIA DA PEGADA ECOLóGICALançado em 1996, o livro “Our ecological footprint”,
de autoria de William Rees e Mathis Wackernagel, propôs a utilização de uma ferramenta para medir o desenvolvimento sustentável: o ecological footprint method, traduzido para o português como pegada ecológica. Esse método resulta um indicador de sustentabilidade que mede o impacto do ho-mem sobre a Terra, um indicador da pressão exercida sobre o ambiente, e permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de vida. A pegada ecológica está relacionada com o conceito de capacidade de carga, que pode ser entendido como “a capacidade da Terra de suportar a vida”.
Para calcular a pegada ecológica é necessário somar a contribuição de vários componentes, ou seja, as parcelas de impactos ambientais, que se traduzem em diferentes áreas. Somando as várias parcelas das pegadas obtém-se um valor global que representa uma área produtiva capaz de repor, pelo menos em teoria, o capital natural consumido pela Humanidade. Essa área pode ser comparada com o espaço efetivamente existente no planeta, isto é, com sua bioca-pacidade, concluindo-se a respeito da sustentabilidade do sistema.
As categorias de espaço ecológico utilizadas no cálculo da pegada ecológica podem ser divididas em categorias de terrenos (terras de cultivo, pastagens, oceanos, florestas, terras de energia, área para a proteção da biodiversidade e espaço construído) e categoria de consumo (alimentação, habitação, transporte, bens de consumo e serviços). Cada categoria de
consumo é convertida numa área de terreno, em princípio, de uma das categorias mencionadas, por meio de fatores de produtividade ou rendimento.
A rede de consumo de uma dada região é o resultado do total demandado em termos de matéria e energia, composto pela importação, pela produção e pela exportação dos in-sumos necessários à manutenção do estilo de vida. Assim, a pegada ecológica é a divisão de todas as categorias de consu-mo, importação e exportação, divididas pela produtividade e multiplicadas pelo respectivo Fator de Equivalência (FE). O resultado é a demanda em hectares globais por categoria de consumo, em que o somatório de todas as demandas será a pegada ecológica total da região estudada.
A determinação da pegada ecológica é definida pela fórmula abaixo:
Pegada Ecológica (gha) = quantidade hectares necessários para suportar cada categoria de consumo x o fator de equivalência de cada tipo de área correspondente
Onde a quantidade de hectares necessários para suportar cada categoria de consumo corresponde ao quanto de áreas de cultivo, pastagem, floresta, mar e construída são utilizadas para manter os níveis de consumo atuais dada a produtivi-dade característica de cada tipo de uso do solo, assim como, a quantidade de hectares necessários para absorver o CO2
emitido e o lixo produzido.
A determinação da biocapacidade de uma dada área é definida pela eguinte equação:
Biocapacidade (gha) = área (ha) x fator de equivalência x fator de produtividade
A biocapacidade total de uma região se dá pela soma de todas as suas áreas bioprodutivas. A comparação entre a pegada ecológica das atividades humanas de uma região e a biocapacidade presente revela o quanto o consumo humano está exigindo dos recursos naturais e demonstra a extensão em que o meio ambiente natural está sendo usado. O exces-so na utilização dos recursos naturais além do que as áreas bioprodutivas podem suprir será indicado por uma pegada ecológica maior do que a biocapacidade, o que é chamado de overshoot e caracteriza a região como portadora de déficit ecológico. Ao contrário, se as áreas produtivas conseguirem atender à demanda existente, a biocapacidade será maior que a pegada ecológica, havendo reserva ecológica no sistema pesquisado.
Em síntese, tem-se a seguinte relação:
23JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
c i d a d e s
Saldo Ecológico (gha) = Biocapacidade (gha) - Pegada Ecológica (gha)
O saldo ecológico com sinal posi-tivo indica biocapacidade maior que a pegada ecológica, existindo uma reserva ecológica de biocapacidade produtiva que não está sendo usada (ecological reserve).
As informações utilizadas para o cál-culo da pegada ecológica do Rio de Ja-neiro foram obtidas em diversas fontes, todos são dados secundários. A escolha do ano de 2002-2003 se deve ao fato de ser possível calcular o consumo alimen-tar per capita utilizando como proxy os microdados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2002-2003, Aquisição Alimentar Domiciliar Per Capita para o recorte espacial escolhido.
Análise da pegada ecológica do Município do Rio de Janeiro
Em conformidade com a metodo-logia estandardizada estabelecida na Global Footprint Network (2006), assim como na bibliografia nacional e internacional sobre o tema, passamos a comentar os componentes do cálculo da pegada ecológica média per capita para o ano de 2003 na cidade do Rio de Janeiro.
Na classificação dos diferentes consumos urbanos foram somadas as contribuições de cada componente para os grupos: consumo de alimentos, emissões de gases de efeito estufa e consumo de produtos florestais.
Considerando que a população brasileira, segundo o IBGE (2008), para o ano de 2003, era estimada em 176.871.437 habitantes, o município do Rio de Janeiro, com a população
estimada residente de 5.974.081, representava 3,37% do total da popu-lação e sua pegada ecológica ocupava 3,94% do território de brasileiro de 8.514.876,599 km². Dessa forma o consumo da população estudada, representado pela pegada ecológica, estendido para toda a população bra-sileira seria superior a toda a reserva ecológica disponível no país.
COnSUMO ALIMEntAR, EnERGIA ELétRICA E VEíCULOS: MAIORES PEGADAS
O consumo alimentar baseado em alimentos de origem animal é altamen-te insustentável, apesar de em peso ser menos da metade do consumo de alimentos de origem vegetal, apresenta uma pegada ecológica superior a 16 vezes a representada pelo consumo alimentar. O desperdício de alimen-tos, na forma como foi apresentado
24 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
25JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
no desenvolvimento do trabalho, representa mais de um quinto de toda a pressão ambiental gerada com o consumo de alimentos. O consumo de água é outra questão impor-tante a ser discutida na sociedade. Um recurso natural tão importante não poderia ser tão mal utilizado como é no ambiente estudado. Não somente pelo mau uso individual, que não é pequeno, com usos como lavação de carros com água corrente, a vassoura d’água, em que as pessoas prefe-rem varrer utilizando jato de água, e outros maus usos, mas principalmente pelo desperdício na adução e distribuição do líquido para a população. A empresa responsável declara que para cada litro consumido outro é desperdiçado, isso deve ser repensado porque quem paga é toda a sociedade, tanto econômica quanto ambientalmente.
A energia elétrica é outro bem da vida utilizado com pouca racionalidade. Uma comprovação desse fato foi que nos tempos do racionamento, no início da década, pelo medo do “apagão” o consumo diminuiu. Passado o medo do colapso energético voltaram os maus hábitos da refrigeração excessiva de ambientes, da iluminação desnecessária, tanto em ambientes privados como públicos, da permanência de equipamentos elétricos ligados sem utilização, entre outros hábitos de consumo de energia perdulários constatados no cotidiano que poderiam ser evitados.
Outra demonstração de pouca preocupação com o meio ambiente são as emissões fugitivas de gás. Perder na Natureza esse combustível fóssil não é absolutamente aceitável, mas em nosso estudos constatamos uma emissão significativa de gases para atmosfera sem qualquer utilização. Devemos levar em conta, ainda, o consumo de gás nos sistemas de aquecimento domiciliar para banhos quentes demorados e outras formas de mau uso cotidiano.
O uso de veículos automotores para transporte individual é uma constante nas grandes cidades. Os baixos preços dos automóveis, a ampliação do crédito e o aumento do poder de compra da população ocorrido nos últimos anos possi-bilitou que um contigente maior de pessoas tivesse acesso a esse bem. Acontece que o carro é o modelo de nossa civi-lização, tanto para o conforto e a velocidade de locomoção quanto para o desequilíbrio ambiental. As cidades não estão preparadas para absorver esse aumento crescente da frota, tampouco o ambiente consegue suportar o crescente dessa pressão. Nosso estudo demonstrou que as emissões de CO2
são isoladamente o maior fator de pressão sobre a pegada ecológica dimensionada, que somente o transporte público pode diminuir.
A produção de lixo, responsável por uma parcela superior a cinco pontos percentuais na pegada ecológica do município do Rio de Janeiro, decorre dos maus hábitos de utilização e do acondicionamento dos restos do consumo. Uma sociedade relativamente equilibrada não geraria tamanha quantidade de resíduos, porque a maior parte do lixo poderia ser aprovei-tada para reciclagem ou compostagem. No sistema estudado todo o processo deveria ser repensado, desde a coleta que deveria obrigatoriamente ser seletiva, o transporte que não poderia ser tão distante até o destino final que é inadequado, modificações urgentes devem ser realizadas.
DéFICIt ECOLóGICOTendo em vista esses dados, não foi à toa que o saldo eco-
lógico foi negativo em 24.498.949,07 gha, ou seja, o consumo da população da cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2003, excedeu a biocapacidade, ou a capacidade de carga ambiental em mais de 200 vezes à área de 122.456,07 ha, correspondente a área territorial do município, exceto área marítima. Esse número revela a dimensão do overshoot do Rio de Janeiro em escala global, o que significa dizer que a apropriação de recursos naturais e a geração de resíduos são consideradas levando-se em conta a capacidade de carga planetária.
O fenômeno observado, denominado overshoot, ocorre quando o consumo humano e a produção de resíduos exce-dem a capacidade das fontes naturais de produzir recursos necessários à manutenção do consumo e absorção dos resí-duos gerados pelo consumo. É uma situação insustentável porque, mesmo apropriando-se de recursos naturais e da capacidade de regeneração de outras regiões, importando os insumos de consumo e exportando os resíduos, a longo prazo leva à exaustão dos recursos e da capacidade de regeneração ambiental das regiões ambientalmente exploradas.
Constata-se, assim, a insustentabilidade do modelo ur-bano adotado no município do Rio de Janeiro, a segunda metrópole brasileira. Verificamos cada categoria de consumo e constatamos que o mau uso, caracterizado pelo desperdício e pelo excesso, agrava a situação. Boa parte do consumo poderia ser minimizada com algumas mudanças de posturas individuais e coletivas.
c i d a d e s
26 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
EMPRéStIMO SOCIAL
e n t r e v i s t a
cHEgA AO bRASIle n t r e v i s t a C o m
l e o r n a r d o l e t e l i e r
C E O d a S i t a w i
27JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
Há quanto tempo a Sitawi está no Brasil? Estamos há cerca de dois anos e meio no Brasil. Nossos
primeiros empréstimos foram feitos há um ano e meio. Já emprestamos cerca de R$ 600 mil. A inadimplência é zero. Temos cerca de R$ 500 mil no fundo. Ou seja, teve dinheiro que já foi, já voltou e já foi repassado para outra organização. Esse é o objetivo do fundo social. Além desse portfólio de empréstimos, nós também fizemos vários projetos de consul-toria para empresas, fundações e organizações sociais.
Qual é a missão de vocês? Nosso objetivo é desenvolver uma infraestrutura financeira para o setor social. O emprésti-mo é o primeiro produto, a primeira ferramenta que estamos desenvolvendo. Então, a ideia começa de forma bem simples. O fundo trabalha com o recebimento de doações. Só temos um canal de entrada: a doação. E também apenas um canal de saída: o empréstimo.
Ao longo do tempo, a ideia é que a gente vá comple-mentando com mais canais de entrada, tais como capital de baixo e alto risco/retorno. E mais canais de saída também.Então, hoje temos empréstimo a uma taxa fixa, poderemos no futuro ter um empréstimo a taxa variável, um contrato de performance. Mas isso seria para daqui a 15 anos, temos que amadurecer a ideia. O próprio mercado tem que ama-durecer.
Detalhe um pouco esse mecanismo de entrada com o qual vocês trabalham. São doações nacionais e interna-cionais?
boa notíCia Para as orGanizações soCiais brasileiras. está em oPeração Por essas bandas
um Fundo soCial que emPresta quantias entre r$ 100 mil e r$ 400 mil Para onGs
e osCiPs Com Juros de aPenas 1% ao mês: a sitawi. Para ter aCesso ao Crédito, as
orGanizações PreCisam ser autossustentáveis, ou seJa, PreCisam Produzir reCeita, e ter
oPerações no brasil.nos estados unidos o emPréstimo soCial Já existe Há mais de 25 anos
e mais de us$ 175 milHões Já Foram emPrestados Para quase 10 mil orGanizações.
dasPu, aliança emPreendedora e CasPiedade são alGumas das instituições do terCeiro
setor que ConseGuiram alavanCar seus neGóCios e multiPliCar sua reCeita. leornardo
letelier, Ceo do Fundo, aPresenta o ConCeito e exPliCa Como Pretende introduzir o
modelo no brasil desenvolvendo a inFraestrutura FinanCeira Para o setor soCial.
e n t r e v i s t a
O foco são organizações, empresas do Brasil. A primeira grande doação que recebemos veio da Fundação Avina, en-tidade latino-americana com um escritório grande no Brasil, mas sediada na Costa Rica. Foi fundada por um empresário suíço chamado Stephan Schmidheiny, que veio para a Amé-rica Latina e montou uma série de negócios, uma série de empresas. Mais tarde, doou isso para um trust chamado “Viva Trust”, que financia a Fundação Avina.Uma das empresas que ele montou foi a Amanco, por exemplo. Agora a Amanco foi vendida e esse dinheiro vai para o Viva Trust.
Esse foi nosso primeiro grande doador. Agora temos algumas pessoas e empresas, principalmente do mercado financeiro. Então, tem um fundo de private equity – o Stra-tus – e um hedge fund – o Fram Capital. Temos também uma fundação norte-americana. Mas o foco é cada vez mais desenvolver parcerias, apoios financeiros no Brasil.
Qual é a diferença de doar diretamente para uma orga-nização, um projeto social e doar para a sitawi?
São duas grandes diferenças. A primeira é o objetivo, a meta alcançada. Se você apoia diretamente uma organização, por exemplo, uma organização que trabalhe com doação de medicamentos para idosos. Você vai com seu dinheiro garantir a distribuição dos remédios para idosos. Isso é importante, tem que continuar a ser feito, mas, se só isso for feito, nunca vamos desenvolver esse outro lado, outras ferramentas de financiamento com impacto social, por mais dinheiro que seja doado.
28 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
e n t r e v i s t a
Se o objetivo da doação é mudar o panorama do setor social, de como se financia impacto social no Brasil, o caminho é doação para a sitawi. Então, você atinge objetivos diferentes.
A outra vantagem, no caso da sitawi, é que como o dinheiro entra no fundo, é emprestado e volta, e assim continua nesse ciclo, tem um efeito multiplica-dor do impacto social. Por exemplo, al-guém que coloque R$ 1 milhão naquela organização de doação de remédios. Se bem gasto, esse dinheiro vai acabar. Se for mal gasto, vai acabar antes. Mas ele sempre acaba.
Já uma doação de R$ 1 milhão para a sitawi, esse dinheiro vai ser empresta-do para várias organizações, vai voltar e será emprestado para outras. Então, o impacto desse R$ 1 milhão, será mul-
tiplicado por seis, dez vezes – depende de quantas vezes esse dinheiro rodar. Um modelo como esse, funcionando direitinho, tem um efeito infinito. Estará sempre circulando.
Esse efeito multiplicador que a sita-wi oferece não se aplica a uma doação tradicional a uma organização.
Esse conceito de rotatividade vem de onde?
A metodologia de fundos rotativos já existia. Talvez não tenha sido aplicada nesse modelo de impacto social. São várias razões por trás disso: a necessi-dade de mudar o sentimento de que “quando o dinheiro acabar, essa pessoa voltará para pedir mais”. A pessoa pode até estar fazendo um bom trabalho, mas volta depois de um determinado
“NA SItAWI, A MEcÂNIcA dO
FUNdO SOcIAl tRAz dOIS bENEFícIOS:
MUltIplIcA O IMpActO dAS dOAÇõES E A
VERbA é tOtAlMENtE AplIcAdA NA MISSãO
dA INStItUIÇãO”
29JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
Como é essa dinâmica? Como vocês asseguram o retorno da verba emprestada?
A sitawi faz o empréstimo social. Avaliamos as organiza-ções e as iniciativas que elas têm de negócio para entender o que é sustentável, o que é financiável. Para isso, obser-vamos alguns critérios: primeiro, é preciso ter um impacto social real e relevante; segundo, tem que ter um projeto em cuja financiabilidade acreditemos, ou seja, que o dinheiro vai e voltará para a gente; em terceiro lugar, é preciso ter uma equipe que esteja lidando com aquele projeto social. A ideia não é que a gente entre para tocar a operação, mas que já exista alguém com essa função. Observamos também a existência da chamada “fibra ética”, se são pessoas com as quais a gente quer trabalhar.
Dentros desses critérios está nossa melhor estimativa de que o dinheiro vai ser aplicado nas finalidades propostas, vai ter impacto econômico, impacto social e voltará para a sitawi.O que financiamos não é a organização como um todo , mas parte da “operação de negócios” daquela orga-nização.
Outra questão fundamental é: eles estarão melhor depois do empréstimo do que antes? Um ponto é a devolução, o
e n t r e v i s t a
período solicitando verba. Por melhor que o trabalho esteja sendo realizado, não é um saco sem fundo. Nem estamos entrando na questão de desvios. É uma lógica de despesa, de gasto corrente contínuo, versus uma lógica de investimento que permite fazer o dinheiro girar.
Há um movimento no Brasil hoje no sentido de estrutu-ração desses fundos patrimoniais – que são muito comuns lá fora. Esses fundos funcionam da seguinte maneira: normal-mente, uma organização separa uma determinada quantia de dinheiro numa conta separada. A ideia é que esse dinheiro acumule e que você não o gaste, mas pegue seu rendimento e vá gastando.
Então na prática acontece situações como R$ 10 milhões parados e vai se gastando R$ 100 mil por mês, supondo rendimento de 1% ao mês. O que é uma coisa boa porque quanto maior for esse fundo, mais independência essa or-ganização terá. Se o orçamento dela for R$ 100 mil, ela não precisa mais captar. O problema, comparativamente, é que você tem R$ 10 milhões parados, sem qualquer impacto social.
No nosso caso, não só você tem esse dinheiro nos prazos para operação, mas esse R$ 10 milhões estão sendo usados na missão.
Então a mecânica do fundo social tem esses dois benefícios: multiplica o impacto das doações e a verba é totalmente utili-zada para a missão da instituição.
“SE dESENVOlVERMOS UM MétOdO
qUE pOSSA SER INcORpORAdO NOS bANcOS tRAdIcIONAIS,
cONSEgUIREMOS tRAzER 100 VEzES
MAIS dINHEIRO pARA O SEtOR SOcIAl”
30 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
e n t r e v i s t a
retorno do dinheiro; outro é se haverá uma melhora efetiva naquela organização. Se suspeitamos que não haverá, não em-prestamos. Nosso objetivo é não deixar as instituições piores que encontramos. Se há esse risco, não emprestamos.
Outro ponto observado é se a organização tem acesso ao empréstimo tradicional. Se tem, não emprestamos. Porque não estaríamos gerando acesso a crédito, mas oferecendo crédito mais barato para quem já tem crédito.
Hoje há cerca de R$ 5 bilhões sendo doados anualmente para as organizações sociais. Parece bastante dinheiro, mas não é. Se você comparar o número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, o número de organizações so-ciais com a gravidade dos temas do Brasil, esse valor não vai resolver o problema.
Por outro lado, há R$ 1 trilhão – 200 vezes mais – no mercado de dívida ou de ações. Então há muito mais dinheiro para ser emprestado do que para ser doado. Se só olhar-mos para essas migalhas do bolo, teremos um impacto social limi-tado; mas se olharmos para o bolo como um todo, há infinitas possi-bilidades. O setor pode desenvolver modelos de maior impacto social. Isso não está acontecendo sozinho na velocidade necessária, dados os problemas que o Brasil enfrenta. Nem as organizações sociais olham para o bolo de capital como possí-vel fonte de financiamento, nem os donos desse capital enxergam as instituições como clientes em potencial.
A missão da sitawi é mostrar na prática que isso é possível. Esse modelo existe e funciona em outros países, não tem por que não dar certo no Brasil. Sabemos que hoje não é uma questão estra-tégica para os bancos brasileiros, mas em algum momento será. E aí já teremos esse modelo pronto para compartilhar com o setor financeiro tradicional e permitir mais fluxo de mais capital de uma forma mais diversa que a atual.
Não é que todo esse dinheiro deveria ser investido em
organizações sociais ou que todas essas organizações deveriam tomar empréstimo. Mas aquelas que necessitam deveriam ter acesso. Hoje essa ponte não é feita.
Vocês vislumbram no futuro parcerias mais próximas com bancos?
Com certeza. Só que queremos desenvolver da forma plug and play para os bancos tradicionais. Hoje temos R$ 500 mil no fundo. Vamos captar e chegar a R$ 5 milhões, por exemplo. Ou, na possibilidade de que sejamos ultrabem-sucedidos, tenhamos R$ 50 milhões. Se a sitawi tem R$ 50 milhões, imagina quanto o Itaú terá? Muito mais.
Então, olhando o dinheiro como impacto social latente, quem tem mais potencial de impacto social é o setor finan-
ceiro tradicional.Por isso, não adianta desenvol-
vermos uma metodologia que só funcione na sitawi. Porque acrescen-taríamos muito pouco em termos de capital para o setor social. Mas, se desenvolvermos um método que possa ser incorporado nos bancos tradicionais, conseguiremos trazer 100 vezes mais dinheiro para o setor social. No final das contas é esse o nosso objetivo maior.
Já temos conversas iniciais com alguns bancos nesse sentido.
Qual universo, no Brasil, dessas instituições que não têm acesso a crédito?
Não existe uma estatística pre-cisa. O número que circula e que tomamos como base é que existem 400 mil organizações sociais no Bra-sil. A grande maioria não tem acesso a crédito. Não necessariamente,
todas as que não têm acesso a crédito se qualificariam para o empréstimo social. Se não fizermos nada, nada mudará.
A próxima geração de líderes sociais já nascerá ou se for-mará num onde haverá várias modalidades de financiamento. Então há esse efeito de contágio positivo. O setor como um todo vai mudando.
“A pRóxIMA gERAÇãO dE lídERES SOcIAIS
JÁ NAScERÁ OU SE FORMARÁ NUM AMbIENtE ONdE HAVERÁ VÁRIAS
MOdAlIdAdES dE FINANcIAMENtO. é O cHAMAdO EFEItO dE
cONtÁgIO pOSItIVO”
31JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
32 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
PROSELItISMO AMBIEntAL
SUStENtAbIlIdAdE MUItO AléM dO
d e s a F i O
P o r r o d r i G o C o s t a d a r o C H a l o u r e sp r e s i d e n t e d o S i s t e m a F e d e r a ç ã o d a s I n d ú s t r i a s d o E s t a d o d o p a r a n á ( F I E p ) .
33JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
d e s a F i O
Estamos vivendo um dos mais importantes momentos de transformação na história humana e ele está centrado na sustentabilidade. Mas o que realmente significa
essa palavra? Com a banalização do uso, ela passou a ser interpretada sob diversas óticas e acabou esvaziada. Tantas vezes incorporamos ao nosso linguajar que isto ou aquilo é ou não sustentável, porém pouco nos perguntamos o que queremos sustentar. Será que não estamos passando por cima do que é mais vital e importante, as nossas relações, o nosso entorno, as nossas redes de conversação? Será que antes de incorporarmos e instalarmos esse conceito em nos-so pensar, não deveríamos considerar que tipo de ação esse pensamento reproduz? Não deveríamos antes nos preocupar em fortalecer a sustentabilidade das pessoas em sua poderosa rede de relações?
DESEnVOLVIMEntO E SUStEntABILIDADE nUMA RELAçãO IntRínSECA
Nosso pressuposto básico é que testemunhamos um contexto dinâmico, em permanente evolução. Existe um nexo conotativo – uma relação intrínseca – entre desenvol-vimento e sustentabilidade. Sustentabilidade, hoje, é o novo nome do desenvolvimento, incluindo suas várias dimensões: econômica, social, cultural, físico-territorial e ambiental, político-institucional, científico-tecnológica e, para alguns, principalmente espiritual.
Nestes tempos, são cada vez mais estreitas as relações entre desenvolvimento (ou sustentabilidade), democracia (como modo de regulação de conflitos e como experiência de vida) e redes (como padrão de organização). Desse modo, os pro-cessos de sustentabilidade têm a ver com inteligência e vida individual e coletiva, simultânea e interconstitutivamente. Tem a ver também com emergência, com desenvolver capital humano e social capaz de construir habilidades de autorre-gulação em sistemas complexos; e não com a aprendizagem de uma nova cartilha, com um tipo laico de conversão a um conjunto de ideias e valores formulados de maneira hierár-quica por uma ecclesia de sábios.
Defender o desenvolvimento sustentável não é fazer proselitismo ambiental. É, sim, mostrar que as chances de futuro dos seres humanos, das sociedades humanas e de suas organizações dependem de uma mudança na forma como interagimos, tanto entre nós quanto com o meio ambiente natural. E isso depende, mais do que de educação inculcativa, de experiências concretas de fazer as coisas de modo diferente.
No nível corporativo, muitas das empresas que figuravam orgulhosamente na lista das maiores e melhores da revista Fortune há apenas uma década ou duas, não sobreviveram às tormentas da época atual. Milhões de pessoas foram atiradas
para as filas do desemprego, provocado em grande parte pelos downsizings e rightsizings intermináveis. Isso revela as limitações do mundo dos negócios de aprender a produzir e distribuir riquezas a partir dos seus ativos mais estratégi-cos: a criatividade, a capacidade de gerar conhecimento e o entusiasmo humano.
No nível individual, temos sido obrigados a desenvolver competências novas e mais complexas para manter os nossos empregos. Algo que não imaginávamos há vinte anos. Mas muitos daqueles que conseguem manter-se razoavelmente empregados veem-se compelidos a agir contra os seus prin-cípios e valores ou vivem estressados e comprimidos pelo alucinante ritmo ditado pelo mercado.
O fato é que, conquanto a comunidade empresarial seja a grande geradora de empreendedorismo, renda e riqueza, em paralelo ela tem contribuído, de forma contundente, para as disfunções dos sistemas do nosso mundo. O chamado para deixar de fingir que tudo é apenas business as usual está soando nos nossos ouvidos. Existe uma real possibilidade de estarmos nos aproximando do ponto sem retorno, no qual a busca por líderes empresariais mais sensíveis às questões de sustentabilidade já não seja alcançada.
Apesar dessas disfunções do sistema econômico, não po-demos deixar de apreciar os avanços históricos em tão pouco tempo. Há menos de três décadas, Milton Friedman*, um dos mais influentes teóricos do liberalismo econômico, havia declarado que a responsabilidade social de uma empresa se limitava a gerar tanto dinheiro quanto possível para seus donos, dentro das regras do jogo, e recebeu aplausos do establishment da época.
Para ele, ações de responsabilidade social eram perigosas, antidemocráticas e imprudentes. Com o tempo e a explosão dos problemas sociais e ambientais, outros começaram a enxergar nos negócios uma fonte potencialmente poderosa de ações para o bem do planeta e, consequentemente, para os prós. Durante os anos 1980, a atividade industrial começou a ser alvo de muitos estudos. Ambientalistas ganharam fama injusta de serem antinegócios ao identificar as empresas como fonte de uma parte considerável da poluição e as principais instigadoras do crescimento econômico baseado no consumo irresponsável de recursos.
Hoje há um consenso crescente em torno da questão de mudanças climáticas com um foco justamente nas causas e nos efeitos econômicos que Friedman negou. Sua condena-ção de responsabilidade social como algo “fundamentalmente subversivo” parece absurda nos dias atuais. Dos anos 1970 para cá, avançamos muito. O maior desafio passou a ser a construção de uma nova teoria econômica do crescimento sustentável com melhor distribuição de riqueza.
Uma mudança radical no centro do pensamento eco-
34 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
d e s a F i O
nômico. Muitos dos economistas e pensadores sociais que contribuíram para criar e fortalecer as ideias iniciais de desenvolvimento econômico – e que originalmente pensa-ram esses temas nos anos 1940 e 1950 – tinham em mente uma agenda bastante complexa. Suas abordagens iam além do mero crescimento e estavam centradas na promoção do desenvolvimento humano. Não é gratuita a preocupação de muitos desses pioneiros com os temas institucionais, com os valores sociais e culturais, com a democracia e com a igualdade, ou ainda com o que ficou conhecido como os diferentes estilos de desenvolvimento.
Como de resto, todo pensamento econômico, a economia do desenvolvimento, também passou por um longo perío-do de predomínio de uma abordagem muito ortodoxa. A herança dessa influência se fez presente no predomínio de modelos muito abstratos de crescimento, na identificação do tema desenvolvimento com o do crescimento econômico, e na desconsideração do desenvolvimento como um processo de mudança do conjunto da sociedade.
Felizmente, há alguns anos, o desenvolvimento econômico
voltou a ganhar a atenção dos economistas. Abordagens críticas também voltaram a salientar a complexidade e as múltiplas ques-tões envolvidas. Em paralelo a esse retorno às origens, a agenda e as medidas do desenvolvimento ganharam novas dimensões.
Os indicadores de desenvolvimento incorporaram isso de forma explícita, a exemplo do Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH) ou do debate que culminou com o estabelecimento, no âmbito do sistema das Nações Unidas, dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), conjunto de metas socioambientais e de qualidade de vida agrupadas em oito capítulos para ser cumpridos até 2015.
Não há dúvida de que o desafio que a Humanidade como um todo precisa enfrentar, no presente momento, não tem precedente histórico e está longe de se refletir com a gravidade que mereceria na pauta do desenvolvimento econômico. Se é certo que temos hoje uma maior preocupação com a sustentabilidade, que criamos e avançamos em direção a uma nova economia com olhar atento ao meio ambiente, também é certo que ainda não soubemos mudar de forma radical o centro do pensamento econômico.
ExIStE UMA REAl
pOSSIbIlIdAdE dE
EStARMOS NOS
ApROxIMANdO dO
pONtO SEM REtORNO,
NO qUAl A bUScA pOR
lídERES EMpRESARIAIS MAIS
SENSíVEIS àS qUEStõES dE
SUStENtAbIlIdAdE JÁ NãO
SERÁ AlcANÇAdA
35JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
d e s a F i O
ALéM DA EMPRESA SUStEntáVELNão está na hora, por exemplo, de elevarmos nossa
atenção para além “da empresa sustentável” e começarmos a estudar e a projetar “setores industriais sustentáveis”? Como sugere a expressão inovação em massa (massive change), nossa era é uma em que há necessidade premente de se aumentar a velocidade do alcance de soluções isoladas: é o momento de elevar a escala, ampliar. Uma era de mudança em massa é, assim, uma oportunidade para inovação ampliada. É um chamado para a criatividade humana mais avançada, numa escala e sentido de propósito que representem uma nova or-dem de magnitude. Valorizar inovação em termos de projeto sistêmico é valorizar um dos mais abundantes e renováveis recursos à nossa disposição.
Pensar longe tornou-se uma necessidade estrutural desse momento de transição. Não temos outra escolha senão a de planejar o futuro para mitigar o gerenciamento de crises, já que estas são caras e traumáticas e nos resta tão pouco tempo para restaurar os sistemas socioambientais. Antecipar eventualidades, preparar-se para as contingências, explorar novas alternativas. Esses são os caminhos mais saudáveis para lidarmos com as mudanças e com esse momento de crises simultâneas: energética, climática, financeira e de alimentos.
“Quais são os planos da sua empresa para daqui a quinze anos? É possível que eles estejam debaixo d’água.” Literal-
mente. Essa argumentação foi feita pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore em uma palestra realizada em 2006, em São Paulo. A mensagem foi usada para instigar os presentes a refletirem sobre as questões climáticas que afetam o planeta. Apesar de certo exagero, trata-se de uma previsão que, em um prazo mais longo, não pode ser des-considerada.
Gore fala com conhecimento de causa, pois vem estudan-do os efeitos da ação do homem sobre o meio ambiente há pelo menos quarenta anos. Nos últimos anos, fez algumas centenas de apresentações sobre o tema para casas cheias no mundo inteiro. Seu documentário “Uma verdade inconve-niente” foi ganhador do Oscar da categoria e quebrou recor-des de público. Conquanto tenha algumas inconsistências científicas, trata-se de um trabalho que joga luzes sobre a sustentabilidade do planeta. A questão é: Vamos só escutar ou agir de acordo com as implicações mostradas?
Uma nova era está se iniciando sob o nosso olhar. Ter a visão de um planeta sustentável é impossível se deixarmos de lado ainda que uma pequena parte dele. Estamos vivendo uma “era sistêmica”. Vida sustentável requer ações pequenas, locais, para atingirmos um bem global. É hora de uma nova consciência sobre um ecossistema sustentável. Ações que surgem da nossa mais profunda consciência, de onde nos conectamos com o centro mais profundo de nossa energia, serão muito importantes nesta nova era.
36 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
InDÚStRIA DE CERâMICA:
aPesar de Já FabriCar Produtos tidos Como naturalmente eFiCientes, a indústria de CerâmiCa estrutural – mais ConHeCida Como CerâmiCa vermelHa –, resPonsável Pela FabriCação de tiJolos, bloCos, tubos e telHas CerâmiCos, está dando Passos larGos em direção às exiGênCias de sustentabilidade que se imPõem neste séCulo.
i n d ú s t r i a
P o r l u i s l i m aE m p r e s á r i o e p r e s i d e n t e d a A s s o c i a ç ã o N a c i o n a l d a I n d ú s t r i a c e r â m i c a – A n i c e r
RUMO à SUStENtAbIlIdAdE
37JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
nosso processo de fabricação utiliza matéria-prima 100% natural, a argila, e nenhum componente agressivo ao meio ambiente. Para converter a maté-
ria-prima no produto final, utilizam-se os quatro elementos da natureza: terra – argila; água – misturada à argila para ser moldada; ar – para alimentar o fogo e secar as peças; e fogo – para aumentar sua resistência.
Esse material tão antigo e tradicional é o favorito dos brasileiros devido às suas propriedades únicas, como seu alto isolamento térmico e acústico, dois fatores essenciais para as condições de salubridade e conforto de uma resi-dência. Inclusive, temos aqui no Brasil um bom exemplo de sabedoria popular acerca das características de isolamento térmico desse produto, que é o hábito de armazenar água em potes cerâmicos, as moringas, para manter o seu frescor por muito tempo.
As principais mudanças pelas quais passa a indústria cerâmica vermelha se dão em torno da mudança na matriz energética, da qualificação e modernização de processos, e recuperação das áreas de extração. Mudanças que colocam o setor em sintonia com o que há de mais moderno em termos
de sustentabilidade no mundo.Nos últimos anos, um número crescente de indústrias
cerâmicas vem adotando, como combustível para os for-nos, diversas biomassas renováveis que são descartadas pela agroindústria, como bagaço de cana, cascas de coco e de castanha-do-Pará, sementes de açaí, palhas de café, milho e arroz, além do pó de serragem da indústria moveleira e grandes volumes de podas de árvores de parques e jardins, entre outros.
A última novidade é o uso da glicerina proveniente do processo de fabricação de biodiesel em cerâmicas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com o crescimento expo-nencial do mercado de biocombustíveis, a eliminação dos resíduos passou a ser um desafio para aquele setor. A cada nove litros de biodiesel é produzido um litro de glicerina. Pelo enorme volume gerado e baixa taxa de absorção pelo mercado, a glicerina se mostrou economicamente viável, como combustível. Ao ser injetada nos fornos pré-aquecidos a 500° Celsius, a glicerina tem queima completa, incluindo as substâncias tóxicas, como a acroleína.
Sempre enfatizo que, além de utilizar combustíveis que emi-
i n d ú s t r i a
38 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
tem menos gases-estufa e que não desmatam, a indústria cerâ-mica passou a absorver e eliminar resíduos de outros segmentos, atuando como indústria limpadora do meio ambiente.
A redução das emissões de gases-estufa alcançada pela adoção dessas biomassas alternativas tem permitido às empre-sas gerar e negociar créditos de carbono no mercado interna-cional por meio de diferentes operações, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Os recursos obtidos nestas transações têm permitido que as empresas financiem a conversão de seus equipamentos para se tornarem cada vez mais sustentáveis. Esse ciclo virtuoso, que se tem repetido em um número cada vez maior de indústrias, vem ganhando escala no segmento cerâmico e está transformando o setor em um importante aliado contra o aquecimento global.
Segundo dados fornecidos pela empresa que vem prestando consultoria ambiental a muitas cerâmicas, a adoção dessas bio-massas e outras adaptações no processo fabril já possibilitaram que as nossas indústrias deixassem de emitir, nos últimos anos, mais de 10 milhões de toneladas de CO
2.
Ou seja, diferentemente das indústrias químicas, meta-lúrgicas, energéticas, cimenteiras e automotivas, o papel das
i n d ú s t r i a
chaminés nas indústrias de cerâmica vermelha está se tornando outro, contribuindo na redução das emissões de gases.
Se esses milhares de toneladas de biomassas não fossem consumidas pelos fornos, iriam para aterros sanitários e liberariam enormes quantidades de metano durante sua decomposição. E o metano é um gás que tem potencial de aquecimento atmosférico vinte vezes superior ao do dióxido de carbono (CO
2).
Na experiência realizada em parceria entre o Sebrae/AM e uma dezena de cerâmicas do Amazonas, a adoção dessas biomassas como combustível permitiu ainda outros ganhos de cunho social, como o aumento da vida útil dos aterros sanitários, geração de ocupação e renda, e otimização da logística para transporte do combustível para queima, redu-zindo também as emissões oriundas dos caminhões.
A recuperação das áreas de extração de argila também é tratada por nosso setor com atenção, em cumprimento às obrigações estipuladas pelo artigo 225, inciso 2º, da Consti-tuição. Apesar de ser a segunda maior atividade mineradora do Brasil, ela é muito difusa e de baixo impacto. Os projetos de recuperação, geralmente, dedicam essas áreas às ativida-
39JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
des de piscicultura, fruticultura, eco turismo, pastagens ou florestas plantadas com vegetação nativa ou exótica.
Outro fato importante é que os resíduos de cerâmica vermelha não são nocivos ao meio ambiente e são classifica-dos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) como classe “A”, reaproveitáveis e totalmente recicláveis, sem danos ao meio ambiente.
Mas, é em termos de eficiência energética – tema que norteia todo o reposicionamento sustentável da indústria mundial – que a indústria de cerâmica vermelha tem dado a sua contribuição para o meio ambiente, multiplicando seus efeitos na cadeia da construção civil. Pois em termos de eficiência energética, desde a fabricação, transporte e manuseio no canteiro de obras, os produtos cerâmicos apresentam melhor desempenho, já que seu peso é metade do seu equivalente de concreto, com a mesma resistência
mecânica, o que permite reduzir o consumo de combustível empregado no transporte, menor dispêndio de energia no transporte vertical, etc.
Outro aspecto que confere grande eficiência energética relativa aos transportes é o fato de sermos uma indústria espalhada por todo o território nacional, com jazidas de matéria-prima muito próxima às fábricas e com uma rede de distribuição capilarizada que atende a todos grandes cen-tros consumidores com uma distancia máxima de 250km, incluindo aí a Região Norte.
Aliados, esses fatores provocam grande redução nas emissões de CO
2 em decorrência da logística envolvida.
Além disso, vale ressaltar, blocos cerâmicos possuem melhor isolamento térmico, o que proporciona grandes economias em energia elétrica destinada à refrigeração de ar, ao longo de toda a vida útil de um imóvel.
i n d ú s t r i a
“NOS últIMOS
ANOS, UM NúMERO
cREScENtE dE
INdúStRIAS
cERÂMIcAS VEM
AdOtANdO cOMO
cOMbUStíVEl
pARA OS FORNOS
dIVERSAS bIOMASSAS
RENOVÁVEIS
qUE SãO
dEScARtAdAS pElA
AgROINdúStRIA”
luis lima
SUStEntáVEIS
40 JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
Conhecida pela sofisticação no design de suas embalagens, a Ouro Fino vai lançar a água mineral em caixinha. O produto será distribuído em embalagem Tetra Prisma de 300 ml. Esta será a primeira água mineral do mundo a ter o Forest Stewarship Council (FSC). A certificação é uma garantia de que todas as embalagens cartonadas serão produzidas com recursos provenientes de florestas manejadas dentro dos mais rígidos padrões de preserva-ção socioambiental. O lançamento da nova embalagem está previsto para este mês. O produto será comercializado inicialmente nas regiões Sul e Sudeste.
Para o Dia Mundial da Água preparou ações especiais: distribuição de sementes, passeios educativos pela fonte e palestras. A empresa é uma das maiores en-vasadoras de água mineral do país e também referência em ações de conservação do ambiente.
O Parque Ecológico Ouro Fino conta com cerca de nove milhões de metros quadrados, abrigando uma área de preservação ecológica fundamental para garantir a qualidade da sua fonte natural. O parque é abrigo para muitas espécies raras da flora e da fauna características da região e nele encontra-se a Estância Hidromineral Ouro Fino, que é aberta ao público. A Estância tem como objetivo maior o de contribuir para
OURO FInO: PRIMEIRA DO MUnDO COM CERtIFICAçãO FSC
a formação da consciência ecológica da população.
Um pouco sobre a Ouro FinoHá registros da comercialização da água
mineral Ouro Fino datados de 1898. Ela re-cebeu esse nome por estar situada na região de Bateias (Campo Largo/PR) que, no início do século XIX, ficou famosa pelas jazidas de ouro que continha. Desde a sua criação, a empresa busca o equilíbrio com a Natureza na extração de água mineral, com o máximo de qualidade e tecnologia. Com uma vazão de 520 mil litros/hora, a Ouro Fino é a segun-da maior envasadora do Brasil. No Paraná,
a marca detém 67% do mercado, segundo dados do Departamento Nacional de Pesquisas Minerais (DNPM).
A água mineral natural Ouro Fino é classificada como alcalino-terrosa fluoretada e é proveniente das fontes naturais Ouro Fino, protegidas e preservadas naturalmente graças ao cinturão verde de Mata das Araucárias que circundam o Parque Ecológico Ouro Fino, uma das maiores reservas do Paraná. Com pro-priedades digestivas e diuréticas, a água é também considerada Sodium Free (com baixíssimos teores de sódio e cloretos). Por isso, seu consumo ajuda o orga-nismo a eliminar toxinas.
Fernando Moreira, CEO da HSBC Seguros, acaba de ser indicado copresidente do Grupo de Seguros para a América Latina do Programa de Políticas Ambientais das Nações Unidas. A entidade reúne cerca de 200 instituições do setor financeiro mundial que, voluntariamente, discutem ações para melhores práticas socioambientais e de sustenta-bilidade relacionadas ao setor financeiro (bancos, gestoras de fundos de investimento, seguradoras). O enfoque da iniciativa está no intercâmbio de informações entre as organizações e na criação de ferramentas que possam guiar e capacitar o setor.
Juntamente com os grupos de América do Norte, Ásia, Europa, África e Oceania, a nova instituição tem
CEO DA hSBC SEGUROS nA OnUcomo responsabilidade para 2010 definir e implemen-tar os Princípios de Sustentabilidade para Seguradoras, que estarão em discussão em Paris no próximo mês. Esses princípios devem criar um consenso global sobre sustentabilidade para integrar e incentivar a adoção de soluções inovadoras e ações coletivas frente aos desafios globais que afetam a continuidade e o meio ambiente.
Para Moreira, a adesão a essa iniciativa pelas insti-tuições de seguros poderá ajudá-las a fazer melhores negócios, de acordo com as políticas sustentáveis do século XXI. “A intenção é envolver o maior número de pessoas do setor para trabalhar em conjunto e adotar as melhores práticas no desenvolvimento dos Princípios Sustentáveis de Seguros (PSI)”.
SUSt
Entá
VEI
S
41JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
O Sistema Coca-Cola Brasil reduziu em quase 5% o índice de uso de água no ano de 2009, mantendo-se entre os melhores índices da in-dústria de bebidas em todo o mundo. Foi utili-zado 1,98 litro para cada litro de bebida produzido - o que inclui o litro que vai dentro da embala-gem. No fim de 2008, eram 2,08 litros. Há pouco mais de uma década, cada litro produzido consumia cinco litros de água. A meta global da empresa é, até 2020, devolver à natureza toda a água utilizada em seu processo industrial através de ações como a captação da água da chuva para rea-limentação de lençóis freáticos e o replantio de árvores para recuperação de bacias hidrográficas.
A plataforma de sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, a Viva Positivamente tem entre suas ações prio-ritárias o uso eficiente e racional da água, sempre de acordo com a política mundial para recursos hídricos seguida pela empresa, baseada em três “Rs”: Reduzir a água usada na produção de bebidas; Reciclar a água restante do processo para outros usos; e Repor a água às comunidades e à natureza.
Segundo José Mauro de Moraes, diretor de Meio Ambiente da empresa, “a diminuição do uso de água proporciona, além da redução de custo, fatores po-sitivos como a necessidade de menores estações de tratamento de água e efluentes, estações de tratamen-to mais eficientes e com menor custo operacional e empregados mais conscientes. Além disto ele sustenta que a cultura de consumo consciente de água estimula outras ações de sustentabilidade como a redução do consumo de energia e de destino adequado de resíduos sólidos”.
“Estamos tratando de sustentabilidade em muitas frentes e essa é uma decisão da empresa que não
COCA-COLA BRASIL REDUZ O USO DE áGUA EM 5%
voltará atrás. A platafor-ma Viva Positivamente é clara em seus conceitos e estabelecemos metas ousadas que estamos buscando continuamen-te. O objetivo da em-presa é aproveitar sua imagem para liderar a indústria de todo o mundo rumo à susten-tabilidade”, completou Moraes.
Programa Água Limpa Nos 16 fabricantes de Coca-Cola no Brasil, além
de Del Valle e Leão Junior, o projeto trata da qualidade da água que é devolvida à natureza pelos fabricantes e da economia na utilização deste bem cada vez mais escasso no planeta. Atualmente, por exemplo, 15 fabricantes e a sede da empresa no Rio de Janeiro utilizam o sistema de captação de água da chuva, inclusive como fonte bruta no processo industrial, o que representa 3,1% da média de consumo destas fá-bricas, podendo chegar a 17% em algumas delas.
Programa Água das Florestas Tropicais Brasileiras
O programa foi criado pelo Instituto Coca-Cola Brasil, em 2007, para promover a recuperação de bacias hidrográficas com o reflorestamento de suas matas ciliares. O programa foi iniciado na Bacia do Rio Piraí (SP), que está sendo recuperada com o plantio de mudas de espécies nativas, com a participação da Fundação SOS Mata Atlântica.
Reconhecido pelo Clinton Global Iniative, um dos mais importantes fóruns internacionais para o desen-volvimento sustentável, o Água das Florestas Tropicais Brasileiras também contribui para a neutralização das emissões de carbono, de acordo com as diretrizes da Convenção do Clima do Protocolo de Kyoto.
SUStEntáVEIS
42
SUStEntáVEIS
42
INFORMAçõES PARA ESTA COLUNA: [email protected]
JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2010
A Amanco vai usar o tema da água para levar arte e cultura a cerca de 400 estudantes de escolas públicas que vivem em situação de risco social nas três cidades em que a empresa tem fábrica - Joinville (SC), Cabo de Santo Agostinho (PE) e Sumaré (SP) - e em São Paulo, onde está situada a sede administrativa.
Patrocinado pela Amanco, o Fabricando Arte é um projeto de inclusão social por meio da arte e da educação realizado em parceria com as secretarias municipais de Educação. Durante os seus dez meses de duração, as crianças e adolescentes, com idade entre 10 e 17 anos, terão, fora do horário regular, aulas de técnicas de pintura (gravura/tela), história da arte e sobre temas transversais como ética, cidadania, desenvolvimento sustentável e aproveitamento de recursos naturais.
A temática “Água: Presente e Futuro” permeará todo o trabalho e servirá de inspiração artística. A escolha do tema vai ao encontro do que ele representa para a Amanco, que, há muito tempo, adota ações operacionais e institucionais relacionadas à água.
LançamentoO projeto será lançado em Joinville, onde a Amanco
AMAnCO UtILIZA áGUA PARA PROMOVER EDUCAçãO possui duas unidades fabris, em aula inaugural no Dia Mundial da Água, 22 de março, às 9h, no auditório da Univille, com a presença do secretário municipal de Educação, Marco Aurélio Fernandes. Em São Paulo, ca-pital, a aula inaugural será no dia 23 de março na AAEB (Associação de Amigos dos Excepcionais do Brooklin), que participará do projeto com 50 alunos. A outra escola atendida na capital paulista será a E.E. Lourenço Filho, com mais 50 estudantes.
Todo o material necessário – incluindo cartilha, para o desenvolvimento do projeto, bem como o arte-educador e a capacitação necessária para a realização das oficinas –, será fornecido pela Amanco. O projeto é coordenado pela empresa de gestão de projetos culturais Geração Cultural.
“Pretendemos despertar nesses jovens, desde cedo, a consciência da importância da água como um bem universal e essencial para a vida. Paralelamente contri-buiremos para a inclusão social deles por meio da arte”, afirma a gerente de Comunicação Corporativa da Aman-co Brasil, Yazmín Trejos. Segundo ela, a empresa tem por objetivo estreitar o relacionamento com a comunidade do entorno das unidades fabris, fortalecendo o exercício da cidadania.
Pelo segundo ano consecutivo, os restaurantes McDonald´s participarão da Hora do Planeta, iniciativa mundial da WWF para conscientizar a sociedade sobre as mudanças climáticas. No dia 27 de março, das 20h30 às 21h30, os 577 restaurantes da rede no Brasil desligarão seus luminosos externos, em apoio ao gesto que visa a gerar reflexão sobre o aquecimento global.
Neste ano, além de apagar as lu-zes, o McDonald´s realiza duas ações para reforçar sua adesão à Hora do Planeta. A primeira delas consiste em uma campanha para incentivar os fun-cionários, fornecedores e franqueados a desligarem as lâmpadas e os equipamentos elétricos também em suas casas durante o evento.
A segunda iniciativa contempla diversas atividades em seu restaurante-conceito, localizado na Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP). Durante a Hora do
MCDOnALD´S PARtICIPA DA hORA DO PLAnEtA 2010Planeta, será apresentado um “Show do Ronald” com o tema “Missão Planeta”. Gratuita, a apresentação enfocará ecologia e meio ambiente. Haverá, ainda, um
cardápio-degustação com itens como água de coco, sucos, Cenouritas com molho cheddar,
tomate grape e queijo nozinho.O McDonald´s de Bertioga foi o
primeiro restaurante da América Latina a obter a certificação LEED (Leader-ship in Energy and Environmental Design), principal reconhecimento internacional atribuído a edifícios que
atendem a critérios de sustentabilidade no projeto arquitetônico e na construção.
O restaurante utiliza tecnologias de baixo impacto ao meio ambiente, como a preven-
ção de poluição, o reaproveitamento de resíduos, a captação de águas pluviais, o uso de energia limpa e a utilização de materiais naturais, renováveis, reciclados e de produção regionalizada.
C o n j u n t u r a E C o n ô m i C a 43
AbR I l/MAIO/JUNHO 2004 43
SUSt
Entá
VEI
SEN
GLI
SH V
ERSI
ON
Rio’s getting ready to host two major international events: the 2014 World Cup and the 2016 Olympics. In this process, there must be special focus on sustainability. the cover story of this Brazil Forever
edition brings a survey performed by Jaison Luís Cervi that might shed a light on this issue.In a Master’s essay on Populational Surveys and Social Research perfor-med by the Brazilian Institute of Geography and Statistics, Cervi discussed the relationship between sustainability and consumption, and provided information about environmental pressure on the city of Rio de Janeiro. to draw a conclusion, he used the Ecological Footprint method. You will see the findings on the next pages.to proceed with the debate on the sustainability concept, Rodrigo Costa da Rocha Loures, chairman of the Federation of Industries of the State of Paraná (FIEP, Federação das Indústrias do Estado do Paraná), suggests an evaluation of its intrinsic relationship with development, as well as other variables. the interview section brings good news for social organizations operating in Brazil. Leonardo Letelier, CEO of sitawi, announces the creation of a fund that will implement the social loan concept in Brazil. their mission is to offer funding for institutions that don’t have access to the formal credit market. Speaking of financial issues, Rogério Gollo, Ernesto Cavasin and Dominic Schmal, of PricewaterhouseCoopers, show that socioenvironmental issues have become more important for corporate business strategies in this post-crisis period. the article by Fernando Penteado, of FGV’s Law School in Rio, is about environmental risk and the capital market. According to him, the market is still unsure about how environmental risk should be measured in business.to proceed with the sustainability riddles series, Luiz Carlos Baldicero Mo-lion, head of the Atmospheric Science Institute of the Federal University of Alagoas, asks: is carbon dioxide really the bad guy in the global warming story? Finally, you will see in this issue the sustainable initiatives of the red ceramics industry. With activities in all Brazilian states, is generates over 400,000 direct jobs in about 5,500 companies.
Enjoy your reading!
Carlos PousaR E S P O n S I B L E D I R E C t O R
http://www.insightnet.com.br/brasilsempre
RESPOnSIBLE DIRECtORCarlos Pousa
SEnIOR EDItORrenê GarCia Jr.
ExECUtIVE EDItORKelly nasCimento
GRAPhIC PROJECtantônio seara
GRAPhIC PRODUCtIOnruy saraiva
DESktOP PUBLIShInGmarCelo Pires santana
COVER PICtUREmarCelo Carnaval
EDItORIAL COUnCILPaulo Henrique Cardoso (President)
asPásia CamarGoeliezer batista
Felix de bulHões VraPHael de almeida maGalHães
Brazil Forever is published in association with Insight Engenharia de Comunicação & Mar keting Ltda. and the International Center for Sustainable Development from the Getu-lio Vargas Foundation’s School of Public and Business Administration (Cids/Ebape/FGV).
InSIGht EnGEnhARIA DE COMUnICAçãO E MARkEtInG
rio de Janeiro Rua Sete de Setembro, 71 / 13o e
14o andares, Centro, Rio de Janeiro, RJCEP 20050-005. tel.: (21) 2509-5399
são Paulo Rua Sansão Alves dos Santos, 76 / 7o and.,
Brooklin, São Paulo, SP CEP 04571-090,
te l . : (11) 5502-3842 [email protected]
CIDS/EBAPE/FGVCentro internaCional de desenvolvimen-
to sustentável da esCola brasileira de administração PúbliCa e de emPresas
da Fundação Getulio varGas
Praia de Botafogo, 190, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
CEP 22250-900, tel.: (21) 2559-6042 [email protected]
qUARtERLY PUBLICAtIOnJanuary/February/marCH 2010
All essays edited in this publication may be quoted, as long as the information source is mentioned.
the authors are entirely liable for the contents of the signed articles, which do not necessarily reflect the opinion of the magazine.
44 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
46FInAnCE 1thE ROLE OF CFOS At tIMES OF SOCIOEnVIROnMEntAL RISkIn this post-financial crisis scenario, one of the lessons that the main officers of large global corporations are learning is certainly based on appropriate decision-making about the use of financial resources. Gras-ping the lesson in a more evolved manner, CFOs have also realized that their responsibilities regarding risk management go beyond financial management. roGérIo GoLLo, ErnESto CAVASIn
AnD DoMInIC SChMAL
51FInAnCE 2thE CAPItAL MARkEt AnD EnVIROnMEntAL RISkSThere’s a common belief that more significant impacts usually result from unexpected events because they are infrequent or simply due to failure to consider the causative variable. Pro-fessor Nassim Taleb, of the University of Massachusetts, disseminated such concept; he called such rare events black swans.FErnAnDo PEntEADo
54CLIMAtE ChAnGECO2: A POLLUtAnt OR thE GAS OF LIFE?Past climate analyses have shown that temperature and CO2 concentration
variations are not interrelated–that is, CO2 doesn’t control global climate. Instead, when the climate system’s temperature rises, there’s an increase in CO2 levels in the atmosphere. The planet has doubtlessly experienced global warming over the past 100 years. The question asked in this story is whether the observed warming is natural or anthropogenic, and whether it’s controlled by CO2 or not. LuIz CArLoS BALDICEro MoLIon
59CItIESRIO: An UnSUStAInABLE CItYEnvironmental pressures caused by human concentration in urban mas-ses put big cities in the center of the debate on the future of modern so-cieties. These factors only go to prove the need to measure the anthropic pressure of the population of the city of Rio de Janeiro. In this sense, the methodology used by the ecological footprint sustainability indicator is a valuable contribution to the debate on environmental sustainability in the city’s spatial contour.JAISon LuíS CErVI
63IntERVIEWSOCIAL LOAnS nOW AVAILABLE In BRAZILHere’s a piece of good news for social organizations in Brazil: sitawi, a social fund that grants loans of between R$ 100,000 and R$ 400,000 to NGOs and Public Interest Civil Society Orga-
45
nizations (OSCIPs, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público,) with interest rates of only 1% per mon-th, is now operating here. Leonardo Letelier, the fund’s CEO, explains the concept and how he intends to intro-duce the model in Brazil by developing a financial infrastructure for the social sector.
67ChALLEnGESUStAInABILItY BEYOnD EnVIROnMEntAL PROSELYtISMWe often say that this or that is or isn’t sustainable, but we rarely ask oursel-ves what it is that we want to sustain. Are we overlooking the most vital and important things: our relationships, our surroundings, our conversation networks? Before we consolidate and establish this concept in our minds, shouldn’t we think about the type of action related to it? roDrIGo CoStA DA roChA LourES
73InDUStRYthE CERAMICS InDUStRY On thE PAth tOWARDS SUStAInABILItYDespite the fact that the structural ceramics–or red ceramics–industry manufactures products known as na-turally efficient–ceramic bricks, blocks, tubes and roof tiles– it is taking large steps towards meeting the sustainabi-lity requirements of this century.LuIS LIMA
SUMMARyJAnUARY/FEBRUARY/MARCh 2010
JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
46 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
F i n a n c e 1
tHE ROlE OF cFOS At tIMES OFSOCIOEnVIROnMEntAL RISk
b y r o G é r i o G o l l o , e r n e s t o C a v a s i n a n d d o m i n i C s C H m a lS u s t a i n a b i l i t y e x p e r t s a t p r i c e w a t e r h o u s e c o o p e r s
As the crisis wears off, competition and sustainability challenges evidence that institutional investors are more interested in organizational practices and
strategies focused on the mitigation of global warming impacts or in internal management policies related to the exhaustion of natural resources. Furthermore, the monitor-ing process and system are assessed as per the degree of interest and the decisions made by these investors.
Current scenario results are weakened by the lack of vision of such officers, who aren’t concerned about including socioenvironmental themes in the agendas of important meetings and results reporting committees. Socioenvironmental results and indicators often provide a summary of charity information that doesn’t measure operating performance nor sheds a light on actions that actually add value to companies.
The capital market is reconsidering the socioenvi-ronmental investment approaches. This leads to high
governance levels and transparency criteria about an organization’s flow of economic operations and financial controllership management with regard to socioenviron-mental costs and investments. From a practical perspective, we could say that, a few years ago, controls on water use and consumption weren’t relevant for a company in terms of reputation before shareholders. Today there’s an op-posite perception, and depending on the activity area, the company must be as careful about these issues as about the performance of economic indicators.
One example related to considerations focused on concerns about socioenvironmental controls and greater investor participation can be noticed because of the fact that the number of signatories of the United Nations Principles for Responsible Investment (UN PRI) has been growing. The most important principle tackles the inte-gration among environmental factors, social factors and governance in investment processes and the need for
in tHis Post-FinanCial Crisis sCenario, one oF tHe lessons tHat tHe main oFFiCers oF larGe Global CorPorations are learninG is Certainly based on aPProPriate deCision-maKinG about tHe use oF FinanCial resourCes. GrasPinG tHe lesson in a more evolved manner, CFos Have also realized tHat tHeir resPonsibilities reGardinG risK manaGement Go beyond FinanCial manaGement.
47JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c l i M a t e c h a n g e
48 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
F i n a n c e 1
tRANSFORMINg pOSItIVE cORpORAtE RESUltS ANd
FINdINg tHE bAlANcE bEtWEEN EcONOMy ANd
ENVIRONMENtAl, SOcIAl ANd gOVERNANcE ISSUES
HAS bEcOME cRItIcAl FOR ORgANIzAtIONAl HEAltH
49JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
corporate engagement. When it comes to government engagement, compa-
nies can’t ignore the need to observe socioenvironmental legislation, which is getting stricter and more demanding. Companies that fail to deal with regulatory issues will not be ready to meet capital market requirements, thus will have a poorer long-term performance, a situation that might frustrate investors and other public interests.
Aspects such as the improvement of institutional com-munication, the power of reporting to stakeholders and controls over socioenvironmental actions and investments might be part of the solution to mitigate the concern, and are increasingly common in the challenges faced by CFOs.
Transforming positive corporate results and finding the balance between economy and environmental, social and governance issues has become critical for organizational health and will certainly be the main challenge over the next decades.
Organizations will be able to prove that they have ef-ficient control processes by winning investor trust and ap-propriately reporting socioenvironmental results. Although socioenvironmental information is provided in the form of non-financial performance indicators, publishing them provides important information about managerial strate-
gies and the challenges to be faced with regard to process improvement. Responsible companies need to provide soci-ety with appropriate reporting on its sustainability practices whether reporting requirements are mandatory or not.
There has been an evolution in the control management process in situations where sustainability and socioenviron-mental reporting is demanded by law. In many organiza-tions, corporate responsibility has been clearly defined, and when socioenvironmental issues are as important as economic and financial issues, CFOs are the ones lead-ing this socioenvironmental management responsibility. Some organizations provide regular information on such matters, and to avoid uneasiness or discredit with regard to results, organizations hire independent auditors to reas-sure investors.
The Federation of European Accountants (FEE, Fédéra-tion des Experts Comptables Européens,) for instance, participates in several events that foster socioenvironmental management and reporting practices. One of the purposes of this strategy is to contribute to the evolution and quality of information criteria, because of the belief that corpo-rate culture needs to change, and these actions will help promote sustainability, increasing its relevance.
More relevance should help the financial area transform the concept of socioenvironmental and operating controls,
F i n a n c e 1
tHERE HAS bEEN AN EVOlUtION IN tHE cONtROl
MANAgEMENt pROcESS IN SItUAtIONS WHERE
SUStAINAbIlIty ANd SOcIOENVIRONMENtAl
REpORtINg IS dEMANdEd by lAW
50 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
F i n a n c e 1
bringing the abstract concept and decision-making related to organizational development closer together.
This goes to show that organizations must start now to educate financial officers on sustainability and the respective socioenvironmental control criteria, since they will be the main agents directing performance relation-ships between controllers and investors concerned about socioenvironmental performance results. The lack of training with regard to these issues might lead officers to make strategic decisions that aren’t in line with stakeholder expectations.
When considering the role of financial officers in so-cioenvironmental management, first we must identify and map all risks that might affect the organization’s operating and reputational performance. After that, promptness in the response to socioenvironmental risks must be evalu-ated. This activity requires the financial area to define how the organization will respond to risks, developing several measures to align risks and tolerance.
To assure that such responses are effective, policies and procedures must be defined within the organization. Then
control activities must be monitored to assure that socioen-vironmental information risks are managed properly.
Some chief financial officers highlight the failure in this implementation process, and say the lack of corporate management commitment with regard to sustainability is-sues is to blame. For that reason, communication must be effective and far-reaching, and must flow to all corporate levels.
Officers want to rescue the trust lost with the lack of transparency and bad management practices. Among other things, companies should focus on making the transition to a sustainable society. However, part of this transition must allow economic players to participate in the process of identifying risks and opportunities related to socioenvironmental trends.
The challenge or response isn’t about adding data to flourish reporting information for investors, but in offering ethical, trustworthy information.
WHEN cONSIdERINg tHE ROlE OF FINANcIAl OFFIcERS
IN SOcIOENVIRONMENtAl MANAgEMENt, FIRSt WE
MUSt IdENtIFy ANd MAp All RISkS tHAt MIgHt AFFEct
tHE ORgANIzAtION’S OpERAtINg ANd REpUtAtIONAl
pERFORMANcE
51JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
EnVIROnMEntAL RISkS
tHE cApItAl MARkEt ANd
F i n a n c e 2
b y F e r n a n d o P e n t e a d oV i c e - d e a n o f F g V ’ s l a w S c h o o l i n R i o d e J a n e i r o
52 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
F i n a n c e 2
there’s a common belief that more significant impacts usually result from unexpected events because they are infrequent or simply due to failure to consider
the causative variable. Professor Nassim Taleb, of the University of Massachusetts, disseminated such concept; he called such rare events black swans.
In Brazil, however, the effects of the 2008 international financial crisis have shown that major losses aren’t caused by highly improbable events only. They may also result from highly probable risks that haven’t been assessed or that have been underrated. The leverage degree and the lack of a sensitivity analysis in situations of disruption caused both by agents and regulation bodies may trigger investor losses. The best example lies in the significant losses related to derivatives experienced by publicly-traded companies because they were unfamiliar with
the leverage degree of target forward transactions, and because of the Brazilian Securities and Exchange Com-mission (CVM) failed to publish a regulation including requirements related to the dissemination of the related risk levels.
To preserve the capital market, regulation bodies must take action when major variations arise, since we can’t expect a self-regulation of risks when the market operates with a variable income proportional to the risk taken. If risk-taking is the incentive, regulation bodies must limit them or at least demand their disclosure. CVM did that in December 2008, three months after the crisis started and seven years after the corporations act was reviewed, providing that CVM would be in charge of regulating de-rivatives based on securities or not, as per items VII and VII (sic) of article 2 of Law no. 6385/1976.
53JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
Environmental risk might be one of today’s main risk factors ignored in credit assessments performed by financial institutions, as well as in the pricing of publicly traded company shares. Prominent researchers have been pointing out for some time now that the pricing of several items doesn’t consider the environmental risk taken. Despite the warnings, little has been done with regard to taking this factor into account in investment decisions. Therefore it’s fair to think that the value of the shares of publicly traded companies doesn’t reflect the related environmental risk.
In the US, the Securities and Ex-change Commission (SEC) seems to have acknowledged the problem. Last week, it issued a release providing an interpretative guideline suggesting that publicly traded companies need to disclose the risks faced by them because of climate change. Providing such information on environmental risks will have an impact not only on corporate balance sheets, but, most importantly, on share evalua-tion projections. Although an inter-pretative guideline doesn’t create or modify rules, it clearly and accurately points at the need for transparency. This requirement is related to the study of impacts resulting from laws, international treaties, regulations and market practices. Investors will be able to calculate the financial impact of such risk, and financial institutions will be able to determine credit spread variations as per the risks involved. Using the Basel II Ac-cord terminology, we can see that environmental risks generate legal, market and credit risks.
This decision definitely encour-ages the financial assessment of climate change. In Brazil, although analytic tools are available, regula-tors haven’t yet shown discomfort because of the lack of environmental risk information in corporate and credit assessment models. Likewise, institutional investors that have or haven’t signed the Principles for Re-sponsible Investment should be more proactive with regard to demand-ing and supporting an initiative, by CVM, similar to the one created by SEC. Only a few banks have started showing concern for the theme, but mostly they focus on project funding operations because they have signed the Equator Principles.
The example given by the US regu-lation body should further spread, in Brazil, the culture of greenhouse gas
carbon inventories for publicly traded companies. Renowned research cen-ters have already started working on these issues, based on methodologies adapted from World Resources Insti-tute (WRI) and World Business Council for Sustainable Development (WBC-SD) standards, compatible with ISO 14064 standards and criteria. It’s also important to point out that encourag-ing emissions inventory initiatives is the first step towards the creation of volunteer or regulated emissions credit markets, which are provided not only in the Kyoto Protocol, but also in the legal systems of developed countries. In Brazil, the basis of the regulatory framework for the creation of market mechanisms is article 9 of Law no. 6,938/1981, promoted by Law no. 11,284/2006, which led to the ad-dition of subsection XIII, allowing the use of economic incentives as Brazilian environmental policy tools.
Thus, both the recent guidelines issued by SEC with regard to the disclosure of corporate climate risk mitigation actions and the initiatives by Brazilian corporations, still at an early, but significant, stage, show that regulation bodies and companies are willing to use the calculation of environmental risks not only as a tool to identify negative externalities that might affect them, but also as a man-agement tool for protection against the risks that pose growing threats to global manufacturing operations. As for the manufacturing companies that haven’t created awareness about climate change, it’s expected that regulation bodies will act faster than they did with regard to other signifi-cant unmapped risk sources. Based on the American model and with the purpose of doing more than avoiding relevant losses by investors provided with insufficient information, environ-mental risk management and mitiga-tion must be introduced.
F i n a n c e 2
54 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
A pOllUtANt OR tHE gAS OF lIFE?b y l u i z C a r l o s b a l d i C e r o m o l i o n
H e a d o f t h e A t m o s p h e r i c S c i e n c e I n s t i t u t e o f t h e F e d e r a l U n i v e r s i t y o f A l a g o a s
CO2:
55JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c l i M a t e c h a n g e
an artiCle PublisHed in tHe PrestiGious nature maGazine, issue
462, FoCused on tHe reConstruCtion oF temPeratures in eastern
antarCtiCa over tHe Past 340,000 years. tHe survey was PerFormed
by a team oF britisH sCientists led by louise C. sime; iCe Cores were used
to Find out tHat, in tHe Past tHree interGlaCials, temPeratures were
between 6ºC and 10ºC HiGHer tHan today. between a.d. 800 and
1200, Known as tHe “medieval warm Period,” temPeratures were
between 1ºC and 2ºC HiGHer tHan today, and tHe warm weatHer
allowed viKinGs to Colonize tHe nortH oF Canada and an island
Called Greenland, wHiCH today are Covered witH iCe.
It’s important to point out that current concentrations of carbon dioxide (CO2) and methane (CH4,)
known as greenhouse gases (GHGs,) are respectively 30% and 130% higher than GHG concentrations at the warm times of the past, and the warming experienced then was natural, not forced by GHGs. Between 1350 and 1920, however, climate cooled down, with temperatures between 1.5ºC and 2ºC lower than today, especially in Western Europe. This period, known as “Little Ice Age,” was well docu-mented. However, after 1920, climate started warming up again and tem-peratures have risen slowly. The planet has doubtlessly experienced global warming over the past 100 years. The point here is whether it’s a natural or anthropogenic warming, and whether it’s caused by CO2 or not. Past climate analyses have shown that temperature and CO2 concentration variations aren’t interrelated, meaning that CO2 doesn’t control global climate.
Instead, when the climate system’s temperature rises, there’s an increase in CO2 levels in the atmosphere. By the end of World War II, temperature had raised 0.4ºC, but man-related emissions totaled less than 10% the amount of carbon dumped in the atmosphere today.
During the post-war period, when industrialization and oil consumption became more intense, with significant increase in emissions, a global cool-ing period took place, going against all anthropogenic global warming (AGW) theories, leading climate ex-perts to affirm that a new ice age was imminent. This cooling period took place together with ocean cooling. Recently, between 1977 and 1998, a brief period of ocean and climate warming took place, and that’s the phenomenon that’s being assigned to human emissions. In fact, natural carbon flows among oceans, vegeta-tion and land (including volcanoes) add up to 200 billion tons per year
56 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c l i M a t e c h a n g e
(GtC/yr.) Flow uncertainty equals ±40 GtC/yr, and emis-sions caused by man account for only 6 GtC/yr into the atmosphere. Therefore, the error margin in natural flow estimates is 13 times higher than human emissions. This means that human emissions are insignificant compared to natural emissions. However, there’s no scientific evidence showing that CO2 emissions by man interfere with global climate, being its variation levels natural. There’s also no proof that sea level has been rising. Al Gore, in his movie “An Inconvenient Truth,” which was awarded an Oscar in 2007, affirmed that sea level will rise by 20 feet (6 meters!) Satellites that measure sea levels have detected an increase of 3.4 mm per year in the 1993-2006 period. This corre-sponds to less than 15 cm over this 14-year period, which is within natural 10 ± 2 cm variation levels. It stopped rising in 2006. The phenomenon was caused by a lunar cycle of 18.6 years–or lunar node precession,–which refers to points in which the moon’s orbit crosses the plane of the ecliptic, where the Sun and the planets meet.
The peak of this period took place between 2005 and 2007, rising sea level in the tropics, resulting in high tides and marine current acceleration, which took more heat to the poles. Warmer ocean waters ran under floating gla-ciers, melting their bases and causing the aerial portion to fall down. Note that floating ice doesn’t cause the sea level to rise, because the submerged portion already shifts the volume to be occupied by water after the ice melts. Thus, it’s a natural cycle that has happened before and will take place again around 2025. It’s important to note that CO2 has been treated by media as a villain, a pollutant! CO2 is the gas of life! Humans and animals don’t produce the food they eat. Plants do that, through photosynthesis, a process
in which they capture CO2 from the air, transforming it in starch, sugar and fibers that feed us.
Eliminating CO2 would be irrational, for it would cause the end of life on Earth. Agronomic essays have shown that, when CO2 concentration doubles, the production of wheat, corn, rice, soy and sugar cane has an average increase of 30-50%. Therefore, CO2 is beneficial for man-kind. However, if there’s no evidence, why is everyone so concerned about global warming, as we have seen recently in the Copenhagen Summit, for instance? Why should we cut CO2 emissions? Global warming is no longer a sci-entific issue or an environmental concern, but a political and economic agenda. The expression “cutting emissions” actually means “generating less electric power,” which is vital for development and for reducing social inequalities that exist today. It’s possible that politicians, influenced by major economic groups, which are concerned about power only, are being used as G7 victims or accomplices in a false “planetary emergency” scheme for which there’s no scientific proof. Current climate models fail to reproduce the climate of the past 100 years, therefore projections for the next 100 years are mere academic theories, useless for planning human activities.
In December 2009, the Brazilian President sanctioned the “Climate Law,” according to which Brazil shall voluntari-ly cut its CO2 emissions by 36%-38% until 2020. It’s no use cutting emissions if we look at natural CO2 flow volumes, and the fact that CO2 doesn’t determine global climate. However, since most emissions in Brazil come from the destruction of the Amazon forest, such commitment might help reduce, or even eliminate, deforestation. From that point of view, it will be good for Brazil and mankind, con-
cURRENt clIMAtE MOdElS FAIl tO REpROdUcE
tHE clIMAtE OF tHE pASt 100 yEARS, tHEREFORE
pROJEctIONS FOR tHE NExt 100 yEARS ARE MERE
AcAdEMIc tHEORIES
57JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c l i M a t e c h a n g e 1
58 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c l i M a t e c h a n g e
sidering the amazing biodiversity found in this forest. But it won’t affect climate change, which is basically controlled by solar activity, the heat stored in the oceans, and cloud cover. Solar activity has a 90-year cycle, which achieved a minimum level between 1895 and 1920, a maximum level between 1957 and 1968, and is now entering a new low level cycle that will last until about 2030.
The fact that the oceans are cooling down and the Sun is at its lowest cycle should cause global cooling, not global warming, over the next 20 years. It’s already possible to feel that with the decline in temperature over the past 10 years. The last ocean cooling period took place between 1947 and 1976, lasting 30 years and causing several
problems for global economy, although the population was a lot smaller than today. In the south and southeast regions of Brazil, for instance, winters were very cold, and there were severe frosts that put an end to coffee crops in western Paraná. Storms were also more severe, especially during spring, and often involved hail and strong winds and tornados. However, the fact that man doesn’t interfere with global climate doesn’t mean we’re allowed to destroy the environment. Populational growth requires a change in consumption habits, a careful use of natural resources and environmental conservation, which is needed for the survival of the human species, regardless of whether there’ll be global warming or cooling.
CO2 SOLUBILITY IN LIQUIDSGas solubility in liquids is inversely proportional to their temperature, an ordinary phenomenon that can be
observed in a soda bottle. When you open a cold bottle, you can see CO2 bubbles rising to the surface. If the liquid isn’t cooled again after that, it will expel the “gas” as it warms up, and the soda becomes “still.” Let’s analyze this principle for the planetary CO2 reservoir formed by the oceans, which cover 71% of the Earth’s surface. When they heat up, they expel CO2 or absorb less of it, and vice-versa. Therefore, CO2 concentration in the atmosphere is controlled mainly by the oceans, not human emissions.
GELO FLUTUANTE NÃO AUMENTA NIVEL DO MARTry making an experiment. Fill a glass of water to the top and put a floating ice cube in it. At first, the ice will
cause some water to be spilled out of the glass, a volume which corresponds to 90% of the cube’s volume, since ice density corresponds to about 90% of the density of water in liquid state. You’ll see that, once the ice melts, not a drop of water will be spilled! That’s because the volume shifted by the ice will be occupied by the water once it melts.
59JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
RIO:b y J a i s o n l u í s C e r v i
A n a l y s t a t t h e b r a z i l i a n I n s t i t u t e o f g e o g r a p h y a n d S t a t i s t i c s
AN UNSUStAINAblE cIty
c l i M a t e c h a n g e 2
60 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
Today, the extent to which natural resources are used has been causing serious consequences to environ-mental balance, for the carrying load is much higher
than ecosystems can bear. Climate change and related impacts on food production and extreme atmospheric phenomena come as a warning about the exhaustion of the current production and consumption model. The need to monitor environmental conditions and provide figures that reflect the ecological and sanitary consequences of the harm caused by man-made civilization are steps in the quest for sustainability. Chapter 40 of UNO’s Agenda 21 points at the need for establishing sustainable development indicators based on which environmental and economic development decisions should be made. Environmental pressures caused by human concentration in urban masses put big cities in the center of the debate on the future of modern societies. These factors only go to prove the need to measure the anthropic pressure of the population of the city of Rio de Janeiro. In this sense, the methodology used by the ecological footprint sustainability indicator is a valuable contribution to the debate on environmental sustainability in the city’s spatial contour.
Finding out what the ecological footprint is helps discuss the historical and legal status of the city in the Brazilian Federation, establish the relationship between sustain-ability and consumption, present the methodology and theoretical references of the ecological footprint sustain-ability indicator, assess domestic production, evaluate the state-of-art of the sustainability indicator in Brazil, and apply the methodology for 2003. The ecological footprint account involves finding out the area required to meet the needs related to food, water, electricity, waste generation, greenhouse gas emissions per activity area, forest products consumption and built-ups area, as well as estimating the city’s bioproductivity of farming, grazing, marine, built-up and carbon uptake land. Ecological footprint and biopro-ductivity results allow the ecological balance of the surveyed area to be estimated. One of the steps towards getting to know and minimizing problems caused by the modern production and consumption model is the establishment of environmental indicators to provide a picture of the environment and monitor it.
ECOLOGICAL FOOtPRInt MEthODPublished in 1996, the book Our ecological footprint,
by William Rees and Mathis Wackernagel, came up with a tool to measure sustainable development: the ecologi-cal footprint method, which is based on a sustainability indicator that measures man’s impact on Earth–it’s an indicator of pressure on the environment. It allows us to
find out the productive land area needed to support our life style. Ecological footprint is related to the carrying capacity concept, which may be understood as the Earth’s capacity of sustaining life.
To calculate the ecological footprint, we must add the contribution of several factors to environmental impact. These factors correspond to different areas. By adding all footprint components, we can come up with a global value that represents a productive area capable of regenerating, at least in theory, the natural capital consumed by mankind. This area may be compared to a space that actually exists in the planet, that is, to its biocapacity, so that conclusions regarding the system’s sustainability may be drawn.
Ecological space categories used to calculate the eco-logical footprint may be divided in land (cropland, grazing land, fishing ground, forests, energy land, biodiversity protection areas and built-up land,) and consumption (food, shelter, mobility, goods and services.) Each consump-tion category is converted into a land area in one of the aforementioned categories through the use of productivity or yield factors.
The consumption network of a certain region is the result of the total material and energy demand, which is made up by imports, production and export of inputs needed to maintain a lifestyle. Thus, ecological footprint corresponds to all consumption, import and export categories divided by productivity and multiplied by the respective equivalence factor (EF). The result obtained is the demand in global hectares per consumption category, where the sum of all demands will be the total ecological footprint of the region surveyed.
Ecological footprint is determined by the formula be-low:
Ecological Footprint (gha) = number of hectares needed to support each consumption category x equivalence factor of each corresponding land type
Where the number of hectares needed to support each consumption category corresponds to the amount of crop-land, grazing land, forest, fishing grounds and built-up land used to keep current consumption levels given the specific productivity of each land use type, as well as the number of hectares needed to absorb CO2 emissions and waste generation.
An area’s biocapacity is determined by the following equation:
Biocapacity (gha) = area (ha) x equivalence factor x yield factor
c i t i e s
61JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c i t i e s
A region’s total biocapacity is equal to the sum of all of its bioproductive areas. The comparison between the ecological footprint of a region’s human activities and the available biocapacity indicates the human consumption demand on natural resources, and shows the extent to which the natural environment is being used. Excessive use of natural resources that goes beyond the supply ca-pacity of bioproductive areas will result in an ecological footprint higher than biocapacity. This is known as over-shoot, which indicates that the region has an ecological deficit. On the other hand, if bioproductive areas meet the existing demand, biocapacity will be higher than the ecological footprint; in this case, the surveyed system has an ecological reserve.
In short, we have the following relationship:Ecological balance (gha) = Biocapacity (gha) - Ecological footprint (gha)
A positive ecological balance means that biocapacity is larger than the ecological footprint, leaving an ecological reserve of productive biocapacity that is not being used.
The information used to calculate the ecological foot-print has been obtained from several sources, and all data are secondary. The 2002-2003 period was chosen because
it was possible to calculate the per capita food consumption using as proxy the microdata of the 2002-2003 Family Budget Research (POF, Pesquisa de Orçamento Familiar) with regard to per capita household food acquisition for the chosen spatial contour.
ECOLOGICAL FOOtPRInt AnALYSIS OF thE CItY OF RIO DE JAnEIRO
As per the standardized methodology established by the Global Footprint Network (2006,) as well as national and international literature on the theme, we have ana-lyzed the average per capita ecological footprint account components for 2003 in the city of Rio de Janeiro.
In the categorization of different urban consumptions, each component’s contribution to food consumption, greenhouse gas emissions and forest product consump-tion were added.
According to 2008 IBGE data, the estimated Brazil-ian population equaled 176,871,437 inhabitants, and the city of Rio de Janeiro had an estimated population of 5,974,081, corresponding to 3.37% of the total produc-tion. Its ecological footprint corresponded to 3.94% of the Brazilian territory, which totals 8,514,876.599 km2. If the consumption of the population surveyed, represented by its ecological footprint, were to be extended to the entire
62 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
Brazilian population, it would be higher than the entire ecological reserve available in the country.
Food-related consumption of animal products is highly unsustainable: it has an ecological footprint sixteen times higher than the food consumption footprint, although, in terms of weight, it corresponds to less than half the consumption of vegetable products. The food waste identified during the course of work corresponds to over one-fifth of the entire environmental pressure generated by food consumption. Water consumption is another important issue to be discussed by society. It’s a valuable natural resource often misused in the surveyed environment. In addition to individual misuse in the form of car washing, floor cleaning (people prefer to use hoses instead of brooms) and others, which have significant weight, water waste in supply and distribution system has also significant impact. The water company states that, for each liter consumed, one liter is wasted. Society should rethink its practices, for the cost is paid by it, both from the economic and environmental perspectives.
Electricity is another asset used irrationally. We can say that because, in the beginning of the decade, when ration-ing occurred, the population cut consumption because it feared a blackout. After the fear faded, the bad habits settled in again, including excessive cooling of environ-ments, unnecessary lighting in both private and public environments, electrical appliances turned on while not being used, and other routine wasteful energy consumption habits that could be avoided.
Fugitive gas emissions are another proof of little concern for the environment. The notion of wasting away this fossil fuel is unacceptable, but our survey has shown significant emissions into the atmosphere of unused gas. We must also consider gas consumption in household heating systems for long hot showers and other forms of daily misuse.
The use of automotive vehicles for individual trans-portation is common in big cities. Low automobile prices, credit expansion and increased purchasing power over the past few years have allowed more people to have access to cars. A car is a perfect representation of our civiliza-tion, both in terms of comfort and speed and in terms of environmental imbalance. Cities aren’t ready to absorb this growing increase in the number of vehicles, and the environment cannot bear the resulting increased pressure. Our survey has shown that CO2 emissions are alone the
greatest pressure factor on ecological footprint, and that can only be cut down if a good public transportation system is established.
Waste production, which accounts for a share of over five percentage points in Rio de Janeiro’s ecological foot-print, is a result of bad habits related to the use and disposal of consumption leftovers. A relatively balanced society wouldn’t generate such amazing amount of waste, because most of it could be recycled or composted. Rethinking the entire process identified in the surveyed system would be recommended, from pick-up, which should include mandatory selective waste collection, to transportation, which should involve smaller distances. Urgent change is needed.
ECOLOGICAL DEFICItBased on these data, there was a negative ecological
balance of 24,498,949.07 gha. This means that the con-sumption of the population of the city of Rio de Janeiro, in 2003, exceeded the city’s biocapacity (or environmental carrying capacity) by more than 200 times its 122,456.07 ha area, which corresponds to the city’s territory, excluding the marine area. This figure shows the dimension of Rio de Janeiro’s overshoot at a global scale–the use of natural resources and waste generation is calculated based on the planet’s carrying capacity.
The overshoot phenomenon takes place when human consumption and waste production exceed the capac-ity that natural sources have of producing the resources needed for consumption and the absorption of the waste generated by such consumption to be maintained. It’s an unsustainable situation for, even if natural resources and the regeneration capacity of other regions are used to counterbalance the excess, by means of input imports and waste exports, over the long term this leads to the exhaus-tion of resources and of the environmental regeneration capacity of environmentally explored regions.
Therefore we conclude that the urban model adopted by the city of Rio de Janeiro, Brazil’s second metropolis, is unsustainable. Each consumption category has been veri-fied and we have found that misuse, especially related to waste and excess, aggravates the situation. A significant share of consumption could be minimized with some in-dividual and collective behavior changes.
c i t i e s
63JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
t r a n s p O r t a t i O n
BRAZILSOcIAl lOANS NOW AVAIlAblE IN
l e o r n a r d o l e t e l i e rC E O d a S i t a w i
i n t e r v i e W
64 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
i n t e r v i e W
For how long has sitawi been operating in Brazil?We have been operating in Brazil for about two and
a half years. Our first loans were granted one and a half year ago. We have already loaned about R$ 600,000. The default rate is zero. We have about R$ 500,000 in the fund. Money has been loaned, paid back and trans-ferred to another organization. That’s the purpose of the social fund. In addition to the loan portfolio, we also offer consulting services to social companies, foundations and organizations.
What’s your mission statement?We aim at developing a financial infrastructure for the
social sector. Loans are the first product, the first tool be-ing developed. It’s a very simple basic notion. The fund receives donations, which are our only input channel. And we also have only one product to offer: loans.
Over time, we expect to add other input channels, such as low and high risk/return capital. And we expect to offer other products as well. Today we have loans at a fixed rate; maybe in the future we will have a variable rate loan, a performance agreement. But this would be 15 years from now; the concept needs to be carefully analyzed. The mar-ket itself has a long way to go in terms of maturity.
Tell us a little bit more about your input mechanism. Are there domestic and international donations?
We focus on Brazilian organizations and companies. The first significant donation was made by the Avina Foun-dation, a Latin American entity with significant operations in
Brazil, but with headquarters in Costa Rica. It was founded by a Swiss businessman called Stephan Schmidheiny, who came to Latin America and started various businesses. Later, he donated his ventures to a trust called “Viva Trust,” which funds the Avina Foundation. One of the companies he started was Amanco, which has been sold, and the money will be transferred to Viva Trust.
It was our first major donor. Now we have some people and companies, especially from the financial market. They have a private equity fund–Stratus–and a hedge fund–Fram Capital. There’s also an American foundation. However, we are focused on developing more partnerships and get-ting more financial support in Brazil.
What’s the difference between donating directly to an organization or a social project and donating to sitawi?
There are two huge differences. The first one regards the purpose, the goal attained. You might, for instance, offer direct support to an organization that works distributing free medication to elderly people. You give your money to assure that these people get the medication they need. It’s an important initiative that has to go on, but if that’s the only thing and organization does, the other aspect, other funding tools with social impact, will never be developed, no matter how much money is donated.
If the donation intends to change the social sector scenario, the way social impact is funded in Brazil, then you should donate to sitawi. The purposes to be attained are different.
Another advantage of the work developed by sitawi is
Here’s a PieCe oF Good news For soCial orGanizations in brazil: sitawi, a soCial Fund tHat Grants loans
oF between r$ 100,000 and r$ 400,000 to nGos and PubliC interest Civil soCiety orGanizations
(osCiPs, orGanizações da soCiedade Civil de interesse PúbliCo,) witH interest rates oF only 1%
Per montH, is now oPeratinG Here. in order to be qualiFied For Credit, orGanizations must be selF-
sustainable–tHat is, tHey need to Generate revenue–and Have oPerations in brazil. in tHe united states,
soCial loans Have been available For over 25 years, and loans totalinG more tHan us$ 175 million
Have been Granted to almost 10,000 orGanizations.
dasPu, aliança emPreendedora and CasPiedade are some non-ProFit orGanizations tHat Have manaGed
to leveraGe business and multiPly revenue. in tHis interview, leonardo letelier, tHe Fund’s Ceo, exPlains
tHe ConCePt and How He intends to introduCe tHe model in brazil by develoPinG a FinanCial inFrastruCture
For tHe soCial seCtor.
65JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
i n t e r v i e W
the fact that the money is invested in the fund, then loaned and paid back, and the cycle goes on with a multiplier effect on social impact. For instance, let’s say someone donates R$ 1 million to the organization that distributes medication. No matter how well this money is invested, at some point the resources will be exhausted.
However, a R$ 1 million donation to sitawi will be trans-formed in loans to several organizations, which will pay us back, and we’ll be able to grant loans to other companies. So the positive impact of this amount will be multiplied by six, maybe ten. It depends on how much it goes around. If this model is well managed, the effect is infinite. The money will always circulate.
The multiplier effect offered by sitawi cannot be ob-tained through a traditional donation to an organization.
Where does this turnover concept come from?The revolving funds methodology isn’t new. It may not
have been used in a social impact model for several rea-sons: one of them regards the need to change the belief that, once the money is spent, people will come back for more. They might even be doing a good job, but come back after some time requesting funds. No matter how good the work of a company or organization is, the resources aren’t infinite. And I’m not talking about deviations here. It’s an expense logic, of continuous current expenses versus an investment rationale that allows the money to work.
Today there’s a movement in Brazil for structuring such
equity funds, which are very common abroad. Let me explain how these funds work. An organization usually makes a provision in a separate account. The amount should grow and the money invested initially must not be spent; only the resulting income should be used.
In a R$ 10 million investment, for instance, this amount would remain in the account and R$ 100,000 could be spent per month, considering an yield of 1% per month. It’s a good thing, because the higher the amount invested in the fund, the more independent the organization will be. If it has a R$ 100,000 budget, it doesn’t need to raise funds any more. However, the comparative problem is that you have R$ 10 million that aren’t working to generate some kind of social impact.
With us, in addition to having the money in the trans-action periods, the R$ 10 million are being used in the mission.
Therefore, the operation of a social fund generates two benefits: it multiplies the impact of donations and the money is all used to make the institution’s mission come true.
How does it work? How do you assure that the loaned amount will be paid back?
Sitawi grants social loans. We assess the organizations and their business initiatives to determine which ones are sustainable and worthy of funding. To that end, some cri-teria are observed: first, they need to have actual, relevant social impact; second, we must believe that the project’s
“tHE NExt gENERAtION OF
SOcIAl lEAdERS WIll bE bORN OR RAISEd IN A WORld WItH SEVERAl
FUNdINg pOSSIbIlItIES. SO tHERE’S A pOSItIVE
VIRAl EFFEct”
66 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
has an appropriate profile for funding, we must be sure that the money will be loaned and paid back; third, a team working on the social project is required. We are not supposed to run the operation; someone must be already working on the project. We also verify if something called “ethical fiber” exists, that is, if these are people we want to work with.
These criteria help us determine as much as possible that the money will be invested in the proposed projects, that it will have economic and social impact, and that it will be returned to sitawi. We don’t offer funding for the entire organization, but for part of its “business operation.”
Another essential question to be asked is: will there be actual improvement after the loan is granted? Assuring that the money will be paid back is important, as well as know-ing that there’ll be actual improvement in the organization. If we suspect the answer is “no,” we don’t grant the loan. Our purpose isn’t to worsen the status of the institutions. If that risk exists, we don’t grant the loan.
Another issue to be observed is if the organization has access to traditional loans. If it does, we don’t lend the money, because, in this case, we wouldn’t be creating ac-cess to credit, but offering credit at lower rates for those who already have access to it.
Today, social organizations receive donations totaling about R$ 5 billion per year. It seems like a lot of money, but it’s not. If you look at the number of people who live in extreme poverty and at the number of social organizations tackling serious issues in Brazil, you’ll see that this amount won’t solve the problem.
On the other hand, there’s R$ 1 trillion–200 times more–in the debt or stock market. Therefore, there’s much more money to be loaned than donated. If we look at the crumbles of the pie only, we’ll have limited social impact; however, if we look at the entire pie, there are endless possibilities. The sector may develop models with greater social impact. This isn’t taking place, without help, at the required pace, considering the problems faced in Brazil. Social organizations don’t look at this capital as a potential funding source, and those who own the capital don’t see institutions as potential customers.
Sitawi’s mission is to show that it is possible to do it. The
model exists and works in other countries; there’s no reason why it shouldn’t work in Brazil. We know that, today, it isn’t a strategic issue for Brazilian banks, but someday it will be. Then we’ll have a model to share with the traditional financial industry to allow greater capital flow in many ways that aren’t pursued today.
We’re not saying that all the money should be invested in social organizations or that all such organizations should ask for loans. But those in need should have access to that. Today, this opportunity doesn’t exist.
In the future, do you see close partnerships with banks?
Yes, definitely. But we want to develop a “plug and play” method for traditional banks. Today, we have R$ 500,000 in the fund. Let’s say we raise enough funds to have a total of R$ 5 million. Or, if we’re extremely successful, R$ 50 million. If sitawi has R$ 50 million, how much does a bank like Itaú have? Much more.
So, if we look at money as latent social impact, it’s the traditional financial industry that has the most social impact potential.
Therefore, it’s no use developing a methodology that works for sitawi only. Because the capital contribution to the social sector would be very small. But, by developing a method that can be used by traditional banks, we’ll man-age to offer 100 times more money to the social sector. After all, this is our ultimate purpose.
We have already started talking to some banks with this regard.
What are the institutions that don’t have access to credit in Brazil?
Related statistics aren’t accurate. We estimate that there are 400,000 social organizations in Brazil. Most don’t have access to credit. However, not all institutions that don’t have access to credit would qualify for a social loan. If we don’t do anything, nothing will change.
The next generation of social leaders will be born or raised in a world with several funding possibilities. So there’s a positive viral effect. The sector will change as a whole.
i n t e r v i e W
67JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
SUStAINAbIlIty bEyONd ENVIRONMENtAl
PROSELYtISMb y r o d r i G o C o s t a d a r o C H a l o u r e s
c h a i r m a n o f t h e I n d u s t r i a l F e d e r a t i o n S y s t e m o f t h e S t a t e o f p a r a n á ( F I E p , S i s t e m a F e d e r a ç ã o d a s I n d ú s t r i a s d o E s t a d o d o p a r a n á )
c h a l l e n g e
68 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c h a l l e n g e
erate knowledge and human enthusiasm.As individuals, we have been forced to develop new,
more complex competences to keep our jobs. We didn’t see that coming twenty years ago. However, several people who’re able to keep reasonable jobs are often forced to act against their principles and values, or feel constantly stressed and repressed by the crazy pace imposed by the market.
The truth is that, although the business community encourages entrepreneurship and generates income and wealth, at the same time it’s liable for a significant share of dysfunctions observed in the world’s systems. We must listen to the warnings that tell us to stop pretending that it’s all business as usual. There’s strong evidence indicating that we’re getting too close to a point of no return where the search for business leaders more concerned about sustainability might have no effect.
Despite the economic system’s dysfunctions, we must acknowledge the unprecedented progress made in such short time. Less than three decades ago, Milton Friedman, one of the most influent economic liberalism experts, stated that corporate social responsibility was limited to generating as much money as possible for the owners as per the rules of the game, and was applauded by the establishment then.
According to him, social responsibility actions were dangerous, anti-democratic and careless. Over time and with the outburst of social and environmental problems, others started to see business as a potentially powerful source of actions with positive impact on the planet. Dur-ing the 1980’s, industrial activity started being analyzed in several studies. Environmentalists also became unfairly known as enemies to business because they said companies were responsible for a significant portion of pollution and were the main advocates of economic growth based on irresponsible resource consumption.
Today there is growing consensus with regard to the climate change issue focused precisely on the economic causes and effects denied by Friedman. He condemned social responsibility for being essentially subversive, which sounds absurd today. From the 1970’s on, great progress has been made. The greatest challenge became developing a new economic theory based on sustainable development, with improved distribution of wealth.
A DRAMAtIC ChAnGE tO thE CORE OF ECOnOMIC thInkInGSeveral economists and social thinkers who have helped
establish and strengthen initial economic development theories–and who originally thought about these issues in the 1940’s and 1950’s–had a quite complex agenda in
We’re experiencing one of the most important changes in human history, and it’s focused on sustainability. But what does this word really
mean? Overuse has led to different interpretations, and its meaning has become null. We often say that this or that is or isn’t sustainable, but we rarely ask ourselves what it is that we want to sustain. Are we overlooking the most vital and important things: our relationships, our surroundings, our conversation networks? Before we consolidate and establish this concept in our minds, shouldn’t we think about the type of action related to it? Shouldn’t we start by worrying about strengthening the sustainability of people in its powerful relationship network?
DEVELOPMEnt AnD SUStAInABILItY In An IntRInSIC RELAtIOnShIP
The basic assumption is that we’re witnessing a dy-namic context in permanent evolution. There is an implied link–an intrinsic relationship–between development and sustainability. Today, sustainability has been used as a synonym for development, including its various dimensions: economic, social, cultural, physical and territorial, as well as environmental, political and institutional, scientific and technological, and, for some, spiritual, above all.
In modern times, the relationships among development (or sustainability,) democracy (as a way to regulate conflicts and as a lifetime experience) and networks (as an organi-zational model) become more intimate. Thus, sustainability processes are also simultaneously and essentially related to intelligence and individual and collective life. It’s also about the urge to develop human and social capital capable of developing self-regulation skills in complex systems. It’s not about learning a new subject with an amateur conversion into a set of ideas and values established hierarchically by a congregation of wisemen.
Standing up for sustainable development is not about environmental proselytism. It’s about showing that the future of human beings, human societies and organiza-tions depend on a change in the way we interact, both with other people and the natural environment. And, more than indoctrination, that depends on hands-on experience in doing things differently.
At the corporate level, several companies that were proudly listed among Fortune’s biggest and best companies one or two decades ago couldn’t survive the hardships of modern times. Millions have lost their jobs mainly because of never-ending downsizings and rightsizings. This only goes to show that the business world is very limited with regard to learning how to generate and distribute wealth based on its most strategic assets: creativity, ability to gen-
69JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
c h a l l e n g e
tHERE’S StRONg EVIdENcE INdIcAtINg tHAt WE’RE
gEttINg tOO clOSE tO A pOINt OF NO REtURN WHERE tHE
SEARcH FOR bUSINESS lEAdERS MORE cONcERNEd AbOUt
SUStAINAbIlIty MIgHt HAVE NO EFFEct
70 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
71JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
mind. Their approaches would go beyond mere growth, and focused on promoting human development. There’s a reason why these pioneers were deeply concerned about institutional themes, social and cultural values, democracy and equality, or with what was known as different develop-ment styles.
Like all lines of economic thinking, the development economy also went through a long period in which a very orthodox approach prevailed. The heritage left by this influence can be seen in the prevalence of extremely abstract growth models, in perceiving development as mere economic development, and in the construction of development as a process of change of society as a whole.
Fortunately, a few years ago economic development started being more widely discussed by economists. Criti-cisms once again started pointing out the complexity and multitude of issues involved. Together with this rebirth, the development agenda and measures were redefined.
Then new concepts started being tackled by develop-ment indicators, such as the Human Development Index (HDI) or the debate that ended up with the establishment, by the United Nations, of the Millennium Development Goals (MDGs,) a set of socioenvironmental and quality goals grouped in eight chapters, to be achieved by 2015.
However, it’s clear that the challenge to be faced by humankind now is unprecedented, and is far from being tackled as seriously as it should in the economic develop-
ment agenda. Although the concern about sustainability has grown and we have established and made progress towards a new economy with deep concerns about the environment, we haven’t been able to dramatically change the core of economic thinking.
BEYOnD CORPORAtE SUStAInABILItYHasn’t the time come, for instance, to raise awareness
with regard to the need to go beyond the “corporate sus-tainability” model and start aiming at “industrial sustain-ability”? The massive change concept indicates that the time has come to expand the impact of isolated solutions: we must increase the scale, spread. Therefore, a time in which massive change is needed is an opportunity for ex-panded innovation. It’s a call for more advanced human creativity at a newfound magnitude of scale and sense of purpose. Valuing systemic project innovation is valuing one of the most abundant and renewable resources at hand.
Long-term thinking has become a structural need at this moment of transition. We have no choice but to plan the future to mitigate crisis management, which is an ex-pensive and traumatic process, and there’s not much time left to restore socioenvironmental systems. Anticipating possibilities, preparing for contingencies, exploring new alternatives are healthier ways to deal with change and a time in which the energy, climate, financial and food crises take place at the same time.
“What’s your corporate fifteen-year plan? Because it
c h a l l e n g e
ANtIcIpAtINg pOSSIbIlItIES, pREpARINg FOR
cONtINgENcIES, ExplORINg NEW AltERNAtIVES ARE
HEAltHIER WAyS tO dEAl WItH cHANgE ANd A tIME IN
WHIcH tHE ENERgy, clIMAtE, FINANcIAl ANd FOOd cRISES
tAkE plAcE At tHE SAME tIME
72 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
might be under water.” Literally. This was said by former US vice-president Al Gore at a 2006 seminar in São Paulo. The purpose of the message was to encourage people to think about climate change issues that affect the planet. Although it was a little bit overstated, it’s a forecast that, over the long term, cannot be ignored.
Gore knows what he’s saying, because he’s been study-ing the effects of human action on the environment for at least forty years. Over the past years, he’s made hundreds of presentations on the theme to very large audiences all over the world. His documentary “An inconvenient truth” won an Oscar and was a box office hit. Although there
are some scientific inconsistencies in it, it sheds light on the planet’s sustainability. We need to ask ourselves if we’re just going to listen to all that’s being said or if we’re going to act accordingly.
A new age is beginning right before our eyes. Envision-ing a sustainable planet is impossible if we fail to consider it as a whole. This is a “systemic age.” Sustainable living requires small, local steps to achieve global wellness. It’s time for a new awareness about what a sustainable ecosys-tem is. Actions encouraged by our own deep conscience, where we connect to the most profound core of our own energy, will be very important in this new age.
c h a l l e n g e
73JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
RED CERAMICSIN A NEW
SUStAINAblE ERA
i n d u s t r Y
b y l u i s l i m ab u s i n e s s m a n a n d c h a i r m a n o f t h e b r a z i l i a n c e r a m i c s I n d u s t r y A s s o c i a t i o n ( A n i c e r , A s s o c i a ç ã o N a c i o n a l d a I n d ú s t r i a c e r â m i c a )
74 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
Our manufacturing process uses a 100% natural raw material–clay–and no components harmful for the environment. To convert the raw material
into final products, four natural elements are used: earth, or clay; water, which is mixed with clay for molding; air, which feeds the fire and dries the pieces; and fire, to in-crease resistance.
This ancient, traditional material is Brazil’s favorite because of its unique properties, such as high thermal and acoustic isolation, two factors that are essential for a healthy, comfortable home. In Brazil, a good example of popular wisdom related to the thermal isolation proper-ties of ceramics is the habit of keeping water in clay jars to keep it fresh for longer periods of time.
The main changes through which the red ceramics in-dustry is going through refer to changing its energy matrix, qualifying and modernizing processes, and recovering extraction areas. Because of these changes, the industry becomes more aligned with the latest sustainability prac-tices adopted in the world.
Over the past years, a growing number of ceramic industries has been adopting, as furnace fuel, different types of renewable biomasses disposed of by the agricul-tural industry, such as sugar cane bagasse, coconut and Brazil nut shells, açaí seeds, coffee, corn and rice fibers, as well as wood flocks from the furniture industry and high volumes of pruning matter from parks and gardens, among others.
The latest innovation is the use of glycerin originated from the biodiesel manufacturing process, which is used in ceramics in Mato Grosso and Mato Grosso do Sul. With the exponential growth of the biofuel market, waste elimination became a challenge for that industry. For each nine liters of biodiesel, one liter of glycerin is produced. The high volume generated and the low market absorption rate have made glycerin a cost-effective fuel option. When injected
in pre-heated 500º Celsius furnaces, glycerin is completely burned, including toxic substances, such as acrolein.
I like to emphasize that, in addition to using fuels that issue less greenhouse gases and do not require deforesta-tion, the ceramic industry started absorbing and eliminating waste from other segments, acting as an environmental cleaner.
The reduction of greenhouse gas emissions attained by the adoption of alternative biomasses has allowed companies to generate and negotiate carbon credits in the international market through various types of transactions, such as Clean Development Mechanisms (CDMs.) The resources resulting from such transactions have allowed companies to fund equipment conversion to become even more sustainable. This virtuous cycle has been identified in a growing number of industries, and is also spreading in the ceramics industry, making it an important ally against global warming.
According to data supplied by a firm that has been rendering environmental consulting services to several ceramics companies, the use of biomass and other ad-justments in the manufacturing process have allowed our plants to avoid emissions, over the past years, of over 10 million tons of CO2.
Unlike the pattern observed in chemical, metallurgical, energy, cement and automotive industries, the role of red ceramics plant chimneys is changing, and they’re becom-ing allies in the gas emissions reduction process.
If such thousand tons of biomass weren’t consumed by the industry’s furnaces, they would be dumped in sanitary landfills, releasing huge volumes of methane during the breakdown process. Methane is a gas with atmospheric warming potential twenty times higher than carbon dioxide (CO2.)
In a trial performed in a partnership between Sebrae/AM and ten ceramics plants located in Amazonas, the use
desPite tHe FaCt tHat tHe struCtural CeramiCs–or red CeramiCs–industry manuFaCtures
ProduCts Known as naturally eFFiCient–CeramiC briCKs, bloCKs, tubes and rooF
tiles– it is taKinG larGe stePs towards meetinG tHe sustainability requirements oF
tHis Century.
i n d u s t r Y
75JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
i n d u s t r Y
tHE lAtESt INNOVAtION IS tHE USE OF glycERIN ORIgINAtEd
FROM tHE bIOdIESEl MANUFActURINg pROcESS, WHIcH IS USEd
IN cERAMIcS IN MAtO gROSSO ANd MAtO gROSSO dO SUl
76 JANUARy/FEbRUARy/MARcH 2010
the world industry, multiplying the effects in the civil works chain. In terms of energy efficiency, through the phases of manufacturing, transportation and handling in the con-struction site, ceramic products show better performance, since they weigh half as much as concrete equivalents and have the same mechanical resistance, which allows the reduction of fuel consumption for transportation, as well as of energy use in vertical transportation, etc.
Another aspect that contributes to great energetic ef-ficiency in transportation is the fact that our industry is spread all over the domestic territory, with raw material deposits located next to plants and a capillary distribution network that serves all major consumer centers covering a maximum distance of 250 km, including the northern region.
Together, these factors cause great reduction in CO2 emissions because of the logistics involved. Furthermore, it’s worth mentioning that ceramics blocks provide im-proved thermal isolation, resulting in electricity savings over a property’s useful life because less intensive air conditioning use is required.
i n d u s t r Y
of biomass as fuel has also resulted in social achievements, such as increased useful life of sanitary landfills, job and income generation, and optimization of the transportation logistics of fuel for burning, also cutting emissions issued by trucks.
The recovery of clay extraction areas is also a major concern in our industry, in observance of the obligations established in article 255, subsection 2, of the Brazilian Constitution. Although it’s Brazil’s second major mining activity, it’s very widespread and low-impact. Recovery projects involve the establishment of areas for fish breed-ing, fruit production, eco-tourism, grazing or forests with native or exotic species.
Another important fact is that red ceramics waste isn’t harmful for the environment, and is rated by the Brazil-ian Environment Council (Conama, Conselho Nacional de Meio Ambiente) as class “A,” being reusable and fully recyclable.
However, the contribution made by the red ceramics industry to the environment regards energetic efficiency, a theme that guides the entire sustainable repositioning of
UNlIkE tHE pAttERN ObSERVEd
IN cHEMIcAl, MEtAllURgIcAl,
ENERgy, cEMENt ANd
AUtOMOtIVE INdUStRIES, tHE
ROlE OF REd cERAMIcS plANt
cHIMNEyS IS cHANgINg,
ANd tHEy’RE bEcOMINg
AllIES IN tHE gAS EMISSIONS
REdUctION pROcESS