BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CATALÃO – CESUC DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E HABILITAÇÕES TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA Elizangela Inácio

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O comércio internacional é uma atividade dinâmica e importante para os países, visto que é através deste que os países se abastecem de tudo aquilo que não são auto-suficientes e escoam o seu excedente produtivo. O presente estudo versa sobre a relação comercial existente entre o Brasil e os demais países do chamado BRIC’s. O objetivo é compreender a relação comercial entre estes países, procurando conhecer as vantagens ou desvantagens comerciais para o Brasil nestes intercâmbios. Neste contexto, a presente monografia encontra-se assim estruturada: no primeiro capítulo estuda os aspectos teóricos relacionados ao comércio exterior, os motivos que levam um país a comercializar com outros, a evolução do comércio entre as nações, e os princípios restritivos ao comércio; no segundo capítulo estuda-se os aspectos sociais, políticos, econômicos, e comerciais dos países que compõem o chamado BRIC’s, e quais as características que os tornam candidatos as principais potências emergentes de 2050, bem como os fatores que podem impedir tal ascensão visualizada por Jim O’Neill; no terceiro capítulo realiza-se uma análise da composição da Balança Comercial Brasileira no período de 1994 a 2009, com os demais países do chamado BRIC de forma tal que seja possível verificar a competitividade dos produtos brasileiros exportados para estes países com os que são importados destes. A análise de tais informações tem o objetivo de verificar a validade da hipótese principal de que o comércio brasileiro com estes países é deficitário dado ao fato do Brasil exportar para estes países produtos de baixo valor agregado (essencialmente commodities) e em contrapartida importar produtos de alto valor agregado (baseados em tecnologia). Foram utilizados neste estudo os dados de importação e exportação disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior compreendidos no período de 1987 a 2009.Palavras-chaves: Comércio Internacional, Balança Comercial, BRIC’s.

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CATALÃO – CESUC

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E HABILITAÇÕES

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA

Elizangela Inácio

Catalão/GO

2010

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CATALÃO – CESUC

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E HABILITAÇÕES

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA

Elizangela Inácio

Monografia apresentada ao Centro de Ensino

Superior de Catalão – CESUC, sob orientação do

Prof. Msc. André Luiz Pires Muniz, como requisito

parcial para graduação no Curso de Administração

com Habilitação em Comércio Exterior.

Catalão/GO

2010

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DECLARAÇÃO DE RESPONSABILIDADE E DIREITOS AUTORAIS

Eu, Elizangela Inácio, nos termos do artigo 5º, inciso XXVII, da Constituição Federal, e

da Lei Federal nº 9.610/1998, declaro ser de minha responsabilidade a autoria do presente

trabalho. Declaro ainda, nos termos do art. 5º, inciso IX, da Constituição Federal, que as opiniões

contidas nesse trabalho não coincidem, necessariamente, com as do Centro de Ensino Superior de

Catalão – CESUC.

Catalão (GO), __ de ________________ de 2010.

____________________________________________

Elizangela Inácio

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TERMO DE APROVAÇÃO

O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA

Elizangela Inácio

Monografia submetida à Banca Examinadora como requisito parcial para a conclusão do Curso de Administração com Habilitação em Comércio Exterior. Aprovada em ____/____/____.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Orientador – Prof. Msc. André Luiz Pires Muniz - CESUC

____________________________________________________

Membro - Prof. ( ) - CESUC

_____________________________________________________

Membro – Prof. ( ) - CESUC

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À minha mãe, meus irmãos e à minha avó, pela compreensão carinho e estímulo!

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AGRADECIMENTOS

Existem momentos na vida que paramos, olhamos para trás e diante das incertezas do

futuro e dos desafios que nos aguardam pensamos em desistir de tudo, as duvidas são grandes o

sacrifício parece ser tão amplo diante de uma vitória incerta. Porém existem pessoas que por ser

de sua natureza ajudar e auxiliar, estão lá para dizer VÁ EM FRENTE! Pessoas, que pegam em

nossas tremulas mãos de criança insegura, e diz: Faça o trabalho! Vamos publicar um artigo!

Você é capaz!

Sei que existem poucas pessoas assim no mundo, porém eu posso me dizer a pessoa mais

rica e privilegiada do mundo, pois nestes quatro anos de graduação contei com duas pessoas que

não só me apoiaram como também me estimularam e se hoje estou concluindo mais esta

importante etapa de minha vida pessoal, acadêmica e profissional devo cinqüenta por cento desta

vitória a eles.

Por isso este pequeno espaço onde nos é permitido expressar um pouco de nossa gratidão

as pessoas que abdicaram de tempo e até mesmo de prazeres pessoais para nos auxiliar, desejo

utilizá-lo para agradecer e homenagear o mestre, amigo, exemplo e Professor André Luiz Pires

Muniz o nosso querido e admirado ANDRÉZINHO sem o qual este trabalho jamais teria sido

possível, sem o qual eu jamais teria gostado de economia e jamais teria publicado um Artigo

Científico, obrigada professor meu grande mestre por ter insistido que eu me dedicasse mais, que

eu desse o melhor de mim. Agradeço também a Professora Carla Melo de Lima nossa eterna

CARLINHA amiga, mestre, companheira e confidente por suas aulas conselhos e auxilio pessoal

e profissional. Obrigada por acreditarem em mim, PROFESSORES por me darem apoio e

principalmente por terem me trazido à realidade nos momentos que titubeei e por pura

imaturidade pensei em desistir ou atuei de forma impensada.

Aos demais idealizadores, coordenadores e funcionários do CESUC – Centro de Ensino

Superior de Catalão, a todos os professores e seus convidados pelo carinho, dedicação e

entusiasmo demonstrado ao longo do curso. Às nossas famílias pela paciência em tolerar a nossa

ausência. E, finalmente e principalmente, a DEUS pela oportunidade e pelo privilégio que nos

foram dados em compartilhar tamanha experiência, ao freqüentar este curso, e perceber e atentar

para a relevância de temas que não faziam parte, em profundidade, das nossas vidas.

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“O país onde o comércio é mais livre será sempre

o mais rico e próspero, guardadas as proporções”.

(Voltaire)

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RESUMO

O comércio internacional é uma atividade dinâmica e importante para os países, visto que é através deste que os países se abastecem de tudo aquilo que não são auto-suficientes e escoam o seu excedente produtivo. O presente estudo versa sobre a relação comercial existente entre o Brasil e os demais países do chamado BRIC’s. O objetivo é compreender a relação comercial entre estes países, procurando conhecer as vantagens ou desvantagens comerciais para o Brasil nestes intercâmbios. Neste contexto, a presente monografia encontra-se assim estruturada: no primeiro capítulo estuda os aspectos teóricos relacionados ao comércio exterior, os motivos que levam um país a comercializar com outros, a evolução do comércio entre as nações, e os princípios restritivos ao comércio; no segundo capítulo estuda-se os aspectos sociais, políticos, econômicos, e comerciais dos países que compõem o chamado BRIC’s, e quais as características que os tornam candidatos as principais potências emergentes de 2050, bem como os fatores que podem impedir tal ascensão visualizada por Jim O’Neill; no terceiro capítulo realiza-se uma análise da composição da Balança Comercial brasileira no período de 1994 a 2009, com os demais países do chamado BRIC de forma tal que seja possível verificar a competitividade dos produtos brasileiros exportados para estes países com os que são importados destes. A análise de tais informações tem o objetivo de verificar a validade da hipótese principal de que o comércio brasileiro com estes países é deficitário dado ao fato do Brasil exportar para estes países produtos de baixo valor agregado (essencialmente commodities) e em contra partida importar produtos de alto valor agregado (baseados em tecnologia). Foram utilizados neste estudo os dados de importação e exportação disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior compreendidos no período de 1987 a 2009.

Palavras Chaves: Comércio Internacional, Balança Comercial, BRIC’s.

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LISTA DE SIGLAS

CCI – Câmara de Comércio Internacional.

EUA – Estados Unidos da América.

FOB – Free on Board (...Named Port of Destination).

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística.

IDE – Investimento Direto Estrangeiro.

IDH – Índice de Desenvolvimento.

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

OMC – Organização Mundial do Comércio.

ONGs – Organizações Não Governamental.

ONU – Organização das Nações Unidas.

PEA – População Economicamente Ativa.

PIB – Produto Interno Bruto.

SECEX – Secretaria de Comércio Exterior.

URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2008 - US$ bilhões FOB.........................30

GRÁFICO 2 – Representatividade da China, Índia e Rússia no fluxo decomércio internacional brasileiro – 1987 a 2009...........................................................................41

GRÁFICO 3 – Representatividade da China, Índia e Rússia no fluxo decomércio internacional brasileiro – 1987 a 2009...........................................................................42

GRÁFICO 4 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X China– 1987 a 2009.................................................................................................................................44

GRÁFICO 5 – Relação Brasil X China – participação percentual das exportaçõese importações chinesas no total exportado e importado pelo Brasil – 1987 a 2009......................44

GRÁFICO 6 – Balança Bilateral Brasil x China – 1994 a 2009....................................................46

GRÁFICO 7 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X Rússia– 1987 a 2009.................................................................................................................................50

GRÁFICO 8 - Relação Brasil X Rússia – participação percentual das exportaçõese importações russas no total exportado e importado pelo Brasil – 1992 a 2009..........................51

GRÁFICO 9 – Balança Bilateral Brasil x Rússia – 1994 a 2009..................................................52

GRÁFICO 10 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X Índia– 1987 a 2009.................................................................................................................................56

GRÁFICO 11 – Relação Brasil x Índia – participação percentual das exportaçõese importações indianas no total exportado e importado pelo Brasil – 1992 a 2009......................57

GRÁFICO 12 – Balança Bilateral Brasil x Índia – 1994 a 2009...................................................57

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Exportações Russas: principais produtos exportados em 2007...............................32

TABELA 2 – Importações Russas: principais produtos importados em 2007..............................33

TABELA 3 – Taxa de crescimento do PIB real e PIB per capita dos BRICS- 1990 e 2005 (% ao ano)...............................................................................................................38

TABELA 4 – Exportações Brasil x China por fator agregado – 1994 a 2009...............................47

TABELA 5 – Comércio Bilateral Brasil x China os dez principais produtoscomercializados – 2007 a 2009......................................................................................................48

TABELA 6 – Exportações Brasil x Rússia por fator agregado – 1994 a 2009..............................53

TABELA 7 – Comércio Bilateral Brasil x Rússia os dez principais produtoscomercializados – 2007 a 2009......................................................................................................54

TABELA 8 – Exportações Brasil x Índia por fator agregado – 1994 a 2009................................59

TABELA 9 – Comércio Bilateral Brasil x Índia os dez principais produtoscomercializados – 2007 a 2009......................................................................................................60

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................................13

CAPÍTULO I – ASPECTOS TEÓRICOS DO COMÉRCIO EXTERIOR............................15

1.1. Conceitos Básicos de Comércio Exterior...........................................................................15

1.2. Fatores Determinantes do Comércio Exterior....................................................................18

1.3. Histórico do Comércio.......................................................................................................19

1.4. Teorias de práticas comerciais...........................................................................................21

1.5. Principais medidas protecionistas (barreiras comerciais)..................................................23

CAPÍTULO 2 – BRICS (BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA)............................................26

2.1. Histórico dos BRIC’s.........................................................................................................26

2.2. Características sócio-econômicas dos BRIC´s..................................................................27

2.2.1. Brasil: o “B” dos BRICs............................................................................................28

2.2.2. Rússia: o “R” dos BRICs...........................................................................................30

2.2.3. Índia: o “I” dos BRICs...............................................................................................33

2.2.4. China: o “C” dos BRICs............................................................................................35

2.3. BRIC’s: um breve comparativo..........................................................................................37

CAPÍTULO 3 – O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL,RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA.........................................................................................................40

3.1. Evolução do Comércio Brasileiro com os demais países do chamado BRIC’s.................40

3.2. Comércio Brasil X China ..................................................................................................43

3.3. Comércio Brasil X Rússia..................................................................................................49

3.4. Comércio Brasil X Índia....................................................................................................55

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................65

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INTRODUÇÃO

BRIC é um acrônimo criado em 2001 por Jim O’Neill chefe de pesquisa em economia

global do grupo financeiro Goldman Sachs, para designar as principais economias emergentes do

mundo - Brasil, Rússia, Índia e China. Segundo o relatório desenvolvido por Jim O’Neill e

publicado pelo Goldman Sachs (SACHS, 2007), cada país que compõem o BRIC possui claras

funções no desempenho econômico mundial. Brasil e Rússia seriam os maiores fornecedores de

matérias-primas – O Brasil como grande produtor de alimentos e a Rússia de petróleo. Na Índia

e China devida a concentração de mão-de-obra e tecnologia, estariam localizados os negócios de

serviços e manufatura.

Analisar a interação comercial entre os países do BRIC’s se justifica por serem

economias com grande potencial econômico e financeiro de superar a econômica dos países que

compõem o G6 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália). O comércio

internacional é mola propulsora da geração de riquezas econômicas e desenvolvimento social dos

países. É através do comércio que as nações conseguem suprir a demanda interna de tudo aquilo

que não são capazes de produzir internamente ou a sua produção seria muito onerosa. Porém, as

características tecnológicas dos produtos comercializados entre os países nem sempre permite um

resultado comercial positivo para todos os envolvidos na transação comercial. Conhecer,

portanto, o processo de desenvolvimento político e econômico dos países permite aos

profissionais de Comércio Exterior estabelecer as perspectivas do comércio internacional, e

antecipar riscos e oportunidades de negócios.

Neste contexto, o objetivo geral do trabalho é estudar o fluxo de comércio brasileiro com

os demais países que compõem o BRIC (Rússia, Índia e China).

Acredita-se que o baixo valor agregado dos produtos brasileiros exportados para China,

Índia e Rússia o deixa, em relação a estes países, em uma situação de Balança Comercial

deficitária, justamente, pelo fato da contrapartida (as importações) serem compostas de produtos

de elevado valor agregado.

Os objetivos específicos deste trabalho são: mostrar a evolução das exportações e

importações brasileiras com a China, Rússia e Índia, através de dados disponibilizados no site do

Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) do período de 1994 a

2009. Procura-se ainda estudar a composição das transações comerciais do Brasil com estas

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nações de forma tal que seja possível confirmar ou recusar as hipóteses indicadas anteriormente.

A tarefa básica deste trabalho é mostrar que mesmo o Brasil sendo considerado o “seleiro do

mundo” carece de desenvolvimento tecnológico afetando negativamente o seu desempenho

econômico nas relações comerciais estabelecidas com outros parceiros, e que estando o resultado

da Balança Comercial inter-relacionado com a capacidade que o país possui de agregar valor aos

produtos comercializados. Acredita-se que ao longo do trabalho será possível perceber que o

investimento em tecnologia é a principal estratégia dos demais países que compõem o BRIC, e

este investimento permite maior, produtividade e desempenho comercial de seus produtos. As

duas hipóteses que se procurará verificar com a realização deste trabalho são: que existe uma

deterioração nos termos de troca do Brasil com os demais componentes dos BRIC’s que acarreta

em uma posição de Balança Comercial deficitária para o Brasil; e que existe nas negociações

comerciais que ocorrem entre o Brasil e os demais países componentes dos BRIC’s uma

diferença tecnológica entre os produtos comercializados, sendo este um dos fatores que põem o

Brasil em uma situação deficitária frente a tais países.

O desenvolvimento deste trabalho baseia-se fundamentalmente na utilização dos dados

da Balança Comercial brasileira disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria

e Comércio Exterior (MDIC) no período de 1987 a 2009. Utilizam-se também as informações

econômicas e sociais dos BRIC’s disponíveis nos sites Central Intelligence Agency (AGENCY)

e The Federation of International Trade Associations (FITA), além de bibliografias específicas

de comércio exterior e economia internacional.

O trabalho está estruturado da seguinte maneira: no primeiro capítulo estudam-se os

aspectos teóricos relacionados ao comércio exterior, os motivos que levam um país a

comercializar com outro, a evolução do comércio entre as nações, e os princípios restritivos ao

comércio; no segundo capítulo estuda-se os aspectos sociais, políticos, econômicos, e comerciais

dos países que compõem o chamado BRIC’s, e quais as características que os tornam candidatos

as principais potências emergentes de 2050, bem como os fatores que podem impedir tal ascensão

visualizadas por Jim O’Neill; no terceiro capítulo realiza-se uma análise da composição da

Balança Comercial brasileira no período de 1994 a 2009 buscando neste sentido verificar a

validade (ou não) das hipóteses previamente delimitadas.

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CAPÍTULO I

ASPECTOS TEÓRICOS DO COMÉRCIO EXTERIOR

O objetivo deste capítulo é estudar e compreender os principais aspectos teóricos que

norteiam a questão do comércio exterior. Procura-se, neste sentido, estudar a evolução histórica

do comércio exterior no mundo, as principais terminologias utilizadas na área, bem como quais

são os fatores que levam um país a realizar comércio com outros.

1.1 Conceitos Básicos de Comércio Exterior

O comércio internacional existe porque os países não são autárquicos, ou seja, não

possuem condições de suprir suas necessidades de forma independente e economicamente viável.

É a partir da impossibilidade de autarquia que os países são obrigados a manter entre si relações

comerciais com o intuito de suprir suas necessidades de bens, matérias-primas e serviços que

isoladamente não conseguem produzir.

O comércio internacional compreende transações de compra e venda realizadas em âmbito

internacional através das quais os países buscam satisfazer as suas necessidades de recursos que

de outra maneira não conseguem.

A existência de comércio internacional parte do pressuposto básico que um país não

consegue realizar a produção vantajosa e lucrativa de tudo que necessita. O motivo desta

impossibilidade de se produzir tudo e ser auto-suficiente é a distribuição desigual de recursos

naturais, diferenças de clima e solo, técnicas de produção diferenciadas, e know how distintos,

que impossibilita a produção de alguns bens, gerando a escassez destes internamente. Assim

como apontam Carvalho & Silva (2002), mesmo que existissem recursos naturais idênticos em

todos os países as diferenças fiscais e tributárias já seriam fatores suficientes para inviabilizar a

produção interna de alguns bens, estimulando o processo de trocas entre as nações.

Como a distribuição de recursos naturais, recursos humanos, tecnológicos, etc. varia de país para país, haverá sempre diferenças sensíveis nos custos com que os bens podem ser produzidos. O comércio torna vantajoso para os países se especializarem naqueles produtos cujo custo é comparativamente menor. (LANGONI, 1976, p. 51)

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Toda transação comercial é composta por duas operações básicas: compra e venda. As

transações de comércio internacional são denominadas de importação e exportação, onde

importações correspondem as compras de produtos e serviços realizadas em outros países, e as

exportações são as vendas realizadas em outros mercados. Souza (2003, p. 144) conceitua

importação como: “uma relação de troca entre países distintos, relativamente à entrada de

mercadorias contra a saída de divisas”.

A exportação, por sua vez, é aquela operação que remete ou vende mercadorias

nacionais para fora do país, e o importador é aquele que realiza a operação inversa, ou seja, traz

os produtos estrangeiros para o país onde reside. Assim, toda transação ocorre a partir de uma

compra e uma venda.

Exportar é remeter a outro país mercadorias produzidas em seu próprio ou em terceiros países, que sejam de interesse do país importador, e que proporcionem a ambos envolvidos vantagens na sua comercialização ou troca. É, portanto a saída de mercadorias para o exterior. Importação é o ato inverso, ou seja, adquirir em outro país, ou trocar com este, mercadorias de seu interesse, que sejam úteis a sua população e seu desenvolvimento, isto é, a entrada de bens produzidos no exterior (KEEDI, 2004, p. 17).

Os termos importação e exportação remetem a outro, também muito importante para a

análise do comércio internacional: a Balança Comercial.

A Balança Comercial, portanto, é um indicador síntese de comércio entre as nações.

Neste indicador, utilizam-se as informações de importações e exportações onde as importações

são contabilizadas como passivo e as exportações como ativo. O cálculo da Balança Comercial é

dado pela seguinte expressão (Expressão 1):

Balança Comercial = Exportações - Importações Expressão 1

Quando o saldo da Balança Comercial, ou seja, o resultado das exportações menos as

importações é favorável (positivo) diz se que a Balança Comercial é superavitária, e no sentido

inverso é denominado de saldo deficitário. Segundo Carvalho & Silva (2002) a Balança

Comercial é a demonstração dos valores das exportações e importações de um país. O saldo da

Balança Comercial determina se o país é credor (superávit comercial) ou devedor (déficit

comercial) de um ou diversos países estrangeiros.

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Segundo Maia (2000, p. 271): “A Balança Comercial registra as exportações e as

importações. As exportações são contabilizadas como receitas e as importações como despesas.

O critério mais usual é registrá-las pelo valor FOB1.

O equilíbrio da balança comercial é fundamental para o desenvolvimento econômico do País, tendo como meta a elevação das receitas provenientes da exportação em níveis compatíveis com aqueles necessários ao atendimento da crescente procura de matérias-primas, produtos semi-elaborados, máquinas e equipamentos imprescindível à expansão e à renovação do parque industrial (...), bem assim dos compromissos decorrentes de importações destinadas à execução de projetos setoriais e regionais (BIZELLI, 2009, p.16).

Manter o saldo da Balança Comercial superavitário (exportações maiores que as

importações) é importante para os países, pois atrai moeda estrangeira, aumenta as reservas

internacionais, gera emprego internamente diminuindo a fragilidade do país frente as oscilações

econômicas externas.

Contudo, assim como pondera Keedi (2004), se as exportações são importantes para a

economia interna as importações também o são, visto que é através delas que o país adquire

novas tecnologias e se abastece de tudo aquilo que não se consegue produzir internamente ou a

sua produção interna não é vantajosa ou insuficiente.

Por outro lado, segundo Belluzzo (1992), quando as importações superam as

exportações o governo, para equilibrar o saldo do Balanço de Pagamentos2, deve recorrer as

reservas de moeda internacional, ou a outras fontes de financiamento. Quando este processo de

ajuste nas contas externas é realizado com banqueiros internacionais há o aumento da dívida

externa e quando realizado no mercado doméstico através da venda de títulos públicos há o

aumento da dívida interna.

1 Segundo Vieira (2005), FOB - Free on Board (...Named Port of Destination) é uma modalidade de Incoterms (International Commecial Terms / Termos de comércio Internacional), que reza que as despesas e os riscos de perda da mercadoria passam a ser de responsabilidade do comprador a partir do momento que a mercadoria transpuser a amurada do navio no país de origem. Logo quando as importações e exportações são contabilizadas na Balança Comercial o valor de registro não contabiliza o custo do frete internacional que só é contabilizado na Balança de serviços outra conta do Balanço de Pagamentos.2 Balanço de Pagamentos segundo Keedi (2004, pp. 67-68), “representa todas as transações realizadas pelas pessoas, empresas e governos de todas as esferas de poder com o exterior, sob todas as formas. Tudo que representa entrada e saída de moeda é registrado. O Balanço de Pagamento é composto, basicamente, pela balança comercial, balança de serviços, transferências unilaterais e conta de capitais. As três primeiras são denominadas de transações correntes de um país.”

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Percebe-se com isto a importância de se manter o saldo da Balança Comercial em

equilíbrio (se possível, em situação superavitária), de modo que não se cause outros problemas

econômicos mais graves.

Essa balança [Balança Comercial], ao contrário do Balanço de Pagamentos, por ser apenas um registro parcial dele, pode apresentar superavitária ou deficitária, dependendo do comportamento do comércio exterior do país, isto é, maior ou menor exportação e importação. O comportamento da balança comercial poderá influenciar positiva ou negativamente no Balanço de Pagamento, e obrigando o país a importar ou não capital para o seu fechamento (KEEDI, 2004, p. 69).

Manter o superávit comercial é muito importante para os países, e para o Brasil não é

diferente haja vista que um déficit comercial implicaria na necessidade de financiamentos

internos ou externos o que à longo prazo comprometeria a política econômica interna.

Na próxima seção destaca-se quais são os fatores que determinam o comércio exterior

entre os países.

1.2 Fatores Determinantes do Comércio Exterior

Nenhum país consegue produzir tudo o que precisa para se abastecer. Neste sentido é que

se torna importante a realização de comércio com outros países. Em outras palavras, o comércio

exterior ocorre, essencialmente, porque os países precisam de produtos que não conseguem

produzir. São diversos os motivos que fazem um país não ser auto-suficiente. O objetivo desta

seção é destacar estes fatores.

Os motivos que levam os países a comercializarem entre si são os mesmos desde a

antiguidade. Segundo Souza (2003, p. 19): “Tendo como base a permuta, o comércio na

Antiguidade promovia a transferência de mercadorias de uns povos para outros, deslocando-as de

regiões onde elas existiam em abundância para aquelas onde eram escassas ou insuficientes para

atender ao consumo.”

Entre esses motivos, destacam-se as diferenças de clima, de solo, de disponibilidade de

recursos e de conhecimento (know-how), ou seja, a dotação de fatores de produção é uma questão

fundamental que influencia o comércio exterior.

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O Comércio internacional e o motivo pelo qual os países comercializam entre si pode ser explicado através da Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo (1817), segundo a qual cada país deve se especializar na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente - ou que tenha um custo relativamente menor - exportando essa mercadoria. Por outro lado, esse mesmo país deve importar aqueles bens cuja produção gera um custo relativamente maior - ou cuja produção seja menos eficiente, do que em outros países (LIMA, 2008, p. 6).

A escassez ou a abundância de determinados fatores leva os países a comerciarem entre

si exportando o excedente e importando aquilo que não conseguem ou não desejam produzir

internamente. A exportação geralmente é realizada com a finalidade de obtenção de lucros e

elevação das receitas internas no país. Já as importações são motivadas pela demanda interna e

pela redução de custos. Porém, conforme aponta Keedi (2004, p.19) “o comércio exterior é

movido também por relacionamentos entre os países, os quais precisam trocar mercadorias pelas

mais diversas razões, e elas poderão não estar relacionadas a abundância ou a falta de recursos”.

Ou seja, outros fatores (como os políticos, por exemplo) também são importantes na realização

de comércio entre os países.

Outro motivo para um país praticar o comércio com outros é a redução dos riscos por

estar focado em apenas um mercado: “A importação de mercadorias de vários países poderá

eliminar ou minimizar os problemas nacionais, assim como a exportação também ampliará os

mercados para escoamento de uma produção que poderá ter seu consumo diminuído em seu

mercado interno” (KEEDI, 2004, p. 20).

A mercancia internacional é uma forma de diversificação do mercado consumidor que

propicia crescimento quantitativo e qualitativo as suas atividades comerciais. Na próxima seção

destacam-se alguns aspectos históricos importantes em relação ao comércio internacional.

1.3. Histórico do Comércio Exterior

O comércio é a forma encontrada pelos seres humanos de estabelecer trocas entre si de

forma vantajosa para as partes envolvidas. Na antiguidade, contudo, o comércio era realizado na

forma de escambo (mercadoria por mercadoria) e implicava na dependência e similaridade de

interesses (a chamada dupla coincidência de desejos).

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20

Segundo Lopes & Rossetti (2002) com a evolução da humanidade, o ser humano se

tornou sedentário e a sociedade ficou cada vez mais complexa devido ao surgimento de diversos

outros produtos. Com este novo cenário, a dupla coincidência de desejos foi se tornando cada vez

mais rara em se efetivar e as transações comerciais começaram a ser prejudicadas. Para sanar este

problema surgiu a moeda que passou a ser a medida de valor, as trocas passam a ser mais livres e

permitir que indivíduos comercializassem com outros que não necessariamente possuía as

mercadorias que eram de seu interesse. Souza (2003, p.19), analisa que:

Por meio dos registros históricos, as primeiras transações comerciais foram feitas entre núcleos de civilizações localizados nos vales da Mesopotâmia e do Egito. As operações comerciais limitavam-se ao escambo de algumas mercadorias, como tecidos, tintas e artigos de metal.

Com o passar dos tempos surgiu o comércio entre as nações, conhecido agora como

Comércio Internacional do qual os primeiros registros são datados de 200 a.c. e conhecido como

a “Rota da Seda”. A origem do comércio exterior segundo Souza (2003, p. 19): “está diretamente

ligada ao desenvolvimento das técnicas de transporte e comunicações”.

Apesar dos termos comércio exterior e comércio internacional serem utilizados como

sinônimos existem diferenças muito tênues entre estes dois termos. Como comércio exterior

deve-se entender a regulação Estatal, já o termo Comércio Internacional deve ser entendido como

relações de troca internacional.

Comércio internacional pode ser conceituado como o intercâmbio de mercadorias e serviços entre nações, sob a égide da legislação internacional, ou seja, ao amparo do Direito Internacional Público.............................................................................................................................A prática do comércio exterior pode ser conceituada como o intercâmbio de mercadorias e serviços entre agentes econômicos (...) que operam sob a égide da legislação nacional (SOUZA, 2003, pp. 36-37).

Atualmente, a globalização é um fenômeno que vem intensificando o comércio

internacional através da desregulamentação dos mercados e também da evolução dos meios de

transporte e comunicação que possibilita maior intercâmbio entre as nações e facilita o trânsito de

mercadorias entre as fronteiras dos diversos países e regiões do globo.

Um importante instrumento deste processo de globalização é a Internet que além de

interligar as partes negociantes contribui para a difusão das informações coorporativas

Page 21: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

21

possibilitando práticas comerciais mais transparentes. Segundo Maluf (2000, p. 18): “com a

globalização provocada pela revolução tecnológica, as prioridades mundiais modificaram-se.

Busca-se relações mais transparentes, trocas comerciais mais baseadas na competição do que na

proteção”.

A regulamentação do comércio internacional é realizada através de órgãos

internacionais, e suas regras são ditadas por órgãos como a Organização Mundial do Comércio

(OMC), Organização das Nações Unidas (ONU), e a Câmara de Comércio Internacional (CCI).

Na próxima seção destacam-se as teorias de práticas comerciais, indicados os

argumentos a favor e contra cada uma delas.

1.4. Teorias de práticas comerciais

As práticas comerciais podem ser guiadas pela teoria protecionista ou pela teoria liberal.

Ambas possuem argumentos a favor e contra. O objetivo desta seção é destacar tais argumentos e

entender os momentos em que cada uma delas pode prevalecer.

Segundo Brogini (2002), as práticas protecionistas (ou protecionismo) referem-se às

medidas de defesa comerciais adotadas pelos países para proteger a economia doméstica da

invasão desregulada de produtos de origem internacional. O principal objetivo destas práticas é o

de dificultar a penetração de produtos importados no mercado nacional e/ou proteger a indústria

nacional dos seus concorrentes externos. Para os adeptos das praticas protecionistas o Estado

deve intervir nas relações de comércio ditando as políticas internas e externas controlando as

importações e as exportações.

O protecionismo, como o próprio nome diz, é aquele em que o Estado é bastante intervencionista. Enquanto no liberalismo as decisões econômicas são produtos do mercado, no protecionismo essas decisões são dadas pelos burocratas estatais. O governo dita a política comercial, externa e interna; controla as importações e exportações. Com o propósito de desenvolver o país, cria barreiras alfandegárias. Muitas vezes, essas barreiras atingem produtos que o país não pode produzir; sua proibição seria justificada para sanear o Balanço de Pagamentos (MAIA, 2000, p. 121).

As teorias liberalistas, por outro lado, visam abrir as fronteiras nacionais aos produtos

importados reduzindo e/ou eliminando qualquer forma de protecionismo. Esta vertente prega o

Page 22: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

22

livre comércio entre as nações e a desregulamentação de mercados de forma tal que todas as

transações comerciais sejam facilitadas pelos governos de todos os países acirrando a

competitividade e proporcionando a livre concorrência comercial mundial. Conforme esclarece

Dupas (1998), para a corrente liberal ao governo cabe apenas o papel de regulador da ordem e de

manutenção das leis internas, o comércio não seria de sua competência.

A idéia central do liberalismo econômico é a defesa da independência da economia de qualquer interferência proveniente de outros meios. Ainda segundo esta doutrina econômica, deve ser colocada a ênfase na liberdade de iniciativa econômica, na livre circulação da riqueza, na valorização do trabalho humano e na economia de mercado (defesa da livre concorrência, do livre cambismo e da lei da procura e da oferta como mecanismo de regulação do mercado), opondo-se assim ao intervencionismo do Estado e às demais medidas restritivas e protecionistas defendidas pelo Mercantilismo. (BARON, s.d, p. 01)

Os liberais pregam, portanto, o livre mercado onde o Estado não faz intervenção alguma

nas questões de comércio. Neste esquema a concorrência ocorre via preço dos fatores que é

determinado pelo mercado sob a teoria da oferta e da demanda, sobrevivendo apenas as empresas

eficientes.

A iniciativa individual onde toda e qualquer pessoa pode exercer a profissão que

desejar, a desregulamentação através da qual o Estado remove todas as barreiras impeditivas da

atividade comercial, e a divisão internacional do trabalho na qual o país só se dedicaria a

produção daqueles bens que lhes são economicamente mais viáveis são os princípios gerais que

norteiam às práticas liberais de comércio.

Segundo Carvalho & Silva (2002), as principais vantagens do modelo liberal são: a)

divisão internacional da produção partilhada pela teoria da especialização nacional, na qual um

país deve concentrar suas forças produtivas naqueles produtos que ele desempenha maior

capacidade lucrativa e deixar a produção dos demais à cargo de países com maior capacidade de

produzi-los; b) promove uma melhor utilização dos recursos naturais; c) economia em escala,

pois se especializando na produção dos bens que possui maior capacidade produtiva ele se

tornaria especialista e produzia em maior escala.

Este autor aponta ainda que as desvantagens do modelo liberal são: a escravidão

comercial e social que por não haver regulamentação estatal e pela distribuição nem sempre ser

igualitária dos benefícios gerados pela atividade comercial os países tornam-se muito vulneráveis

Page 23: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

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às práticas desleais de comércio como o Truste e os Cartéis; conflitos de interesses, pois por visar

exclusivamente o lucro, as empresas passam a adotar práticas produtivas que se conflitam com os

interesses do Estado; e o colonialismo exercido pelos países desenvolvidos sobre os países

subdesenvolvidos e em fase de desenvolvimento forçando-os a não desenvolverem seu parque

industrial e a continuarem como fornecedores de matérias-primas (ou seja, manterem-se

produzindo e comercializando produtos de baixo valor agregado, prejudicando assim o saldo final

da Balança Comercial).

Segundo o destaque de Carvalho & Silva (2002), protecionismo e liberalismo, portanto

são vertentes de política econômica que objetivam descrever o modelo ideal de mercancia entre

as nações. Embora ambos possuam adeptos, são modelos impraticáveis em sua totalidade visto

que a implantação total do protecionismo fecharia as fronteiras nacionais provocando

sucateamento tecnológico e monopólio comercial, enquanto que a implantação integral do

liberalismo prejudicaria a indústria nacional e colocaria o Estado à mercê das oscilações políticas,

econômicas, e comerciais de outras nações.

Logo, o protecionismo e o liberalismo devem ser adotados pelos países de forma

equilibrada buscando permitir a livre concorrência, mas também criando barreiras para evitar o

massacre à economia nacional.

Na próxima seção destacam-se as principais medidas protecionistas existentes e que um

determinado país pode utilizar para controlar as práticas comerciais.

1.5. Principais medidas protecionistas (barreiras comerciais)

As barreiras protecionistas podem ser de dois tipos: tarifárias e não tarifárias. Segundo

Keedi (2004, p. 74),

Restrição tarifária é aquela cuja entrada ou saída de mercadorias não é restrita nem proibida, mas apenas dificultada ou encarecida. Isto é realizado pela incidência de impostos, cujos montantes são definidos visando maior ou menor dificuldade para sua comercialização. As restrições não-tarifárias são em muito maior número e podem restringir, proibir ou dificultar a entrada ou a saída de mercadorias. São praticadas com o intuito de proteger a industria nacional, o mercado interno e os consumidores.

Page 24: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

24

As barreiras tarifárias são aquelas que têm como objetivo tornar os produtos de origem

estrangeira mais caros no mercado interno. A mais usual e aplicada é o Imposto de Importação

(também chamadas de Tarifas) que possui como objetivo principal a proteção dos produtores

domésticos frente à concorrência dos produtos importados. Conforme indica Carvalho e Silva

(2002), esta tarifa pode ser: específica, “ad valorem” ou mista. No primeiro caso é cobrado um

valor específico por unidade de produto importado, no segundo o custo da tarifa é calculado

como um percentual do valor da mercadoria importada, enquanto que a tarifa mista implica na

cobrança de determinado montante por unidade importada, além de um percentual sobre o seu

preço.

De acordo com Carvalho e Silva (2002), as vantagens desse tipo de tributação na

importação são: maior arrecadamento de receitas para o Estado; proteção de produtores e

trabalhadores internos; proteção dos recursos naturais; produção estratégica (alguns setores são

de interesse do Estado); favorecimento, mesmo que à curto prazo, da Balança Comercial, e;

estímulo ao aumento da renda e do emprego em períodos de recessão.

Os aspectos desfavoráveis desse tipo de restrição às importações são: menor

concorrência interna, que no caso de mercados de oligopólio ou monopólio podem causar

desestímulo à redução de preços e à melhoria na qualidade dos produtos; perdas aos

consumidores internos por terem de pagar mais caro pelos produtos importados; nocivos efeitos

sobre a distribuição da renda porque as exportações passam a não aumentar a demanda dos

fatores abundantes e as importações não reduz a escassez dos fatores.

Por sua vez, as barreiras não tarifárias já objetivam dificultar ou não a entrada de

mercadorias importadas no país e possui como argumento à seu favor a proteção dos interesses

maiores da população como saúde, segurança, entre outros.

Assim como esclarece Carvalho e Silva (2002) as barreiras não tarifárias são medidas

aplicadas por meio de sansões administrativas e imposição ao cumprimento de regras específicas

na consecução dos produtos importados. São exemplos de barreiras não tarifárias:

a) cotas de importação que visam à importação apenas da quantidade necessária a

complementação da demanda interna;

b) direitos de monopólio estatal que permite a importação de alguns bens apenas pelo

Estado;

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25

c) controles cambiais onde o governo determina (influencia) a taxa de câmbio para a

importação ou exportação de determinado bem;

d) proibição de importação que impede totalmente a importação de um produto;

e) especificação técnica que exige certificados de qualidade para importação;

f) especificações sanitárias que são normas de fabricação e manuseio;

g) barreiras religiosas que impede a comercialização interna de produtos que vão contra

os princípios morais, éticos e religiosos de um determinado país.

Visto os aspectos teóricos gerais relacionados ao comércio exterior, destacam-se no

próximo capítulo as características gerais dos países que são o objeto de estudo desta monografia.

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CAPÍTULO II

CARACTERÍSTICAS SÓCIO-ECONÔMICAS DOS BRIC’s 3

Neste capítulo estudam-se os aspectos sociais, políticos, econômicos, e comerciais dos

países que compõem o chamado BRIC´s. O objetivo deste capítulo é compreender quais as

características que tornam estes o Brasil, a Rússia, a Índia e a China nos candidatos às principais

potências emergentes de 2050 e quais de suas características podem impedir que estes se tornem

as potências visualizadas por Jim O’neill.

2.1. Histórico dos BRIC’s

BRIC é um acrônimo criado por Jim O’Neill (economista e vice-presidente mundial de

pesquisa do Goldman Sachs) em novembro de 2001, para designar, no relatório "Building Better

Global Economic Brics", os quatro principais países emergentes da atualidade – Brasil, Rússia,

Índia e China.

Através do mapeamento da economia dos países que compõem os BRIC’s, Jim O’Neill

concluiu que estes países podem se tornar grandes forças econômicas superando a economia, em

termos de valor de PIB em dólares americano, dos países do chamado G6 (Estados Unidos,

Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália) (SACHS, 2007). Se as previsões deste relatório

se concretizarem o impacto na economia global será significativo, haja vista que estes países

concentrarão 40% da população mundial e um PIB de 85 trilhões de dólares.

Em 2002 os países do BRIC constituíram uma aliança através de diversos tratados de

comércio e cooperação. A primeira cúpula oficial dos BRIC ocorreu em 16 de julho de 2009 em

Yekaterinburg na Rússia, onde temas como a substituição do dólar como reserva de valor, e a

participação em organismos internacionais foram discutidos, mas até a atualidade estes países não

formam nenhum bloco político, aliança militar, ou de comércio formal. No entanto, sua força já

pode ser sentida em reuniões de cúpula antes freqüentadas apenas por países desenvolvidos. A

Rússia e a China são membros permanentes do Conselho de Segurança das Organizações das

Nações Unidas, e Brasil e Índia integram as Nações G4 (Aliança formada com o objetivo único

3 O conteúdo deste capítulo contempla parte de um trabalho realizado no 5º período na disciplina de Economia Internacional, ministrada pelo prof. André Luiz Pires Muniz que se tornou em artigo publicado na revista CEPPG do Centro de Ensino Superior de Catalão – CESUC (MUNIZ & INÁCIO, 2008).

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27

de buscar um lugar permanente para seus membros no conselho de segurança da ONU)

juntamente com Alemanha e Japão com o objetivo de também integrarem este conselho.

Conforme aponta O’Neill (2001) os países dos BRIC’s apresentam significativas

diferenças entre eles. Enquanto o Brasil nunca se engajou em uma corrida armamentista, Rússia,

Índia e China são grandes potências militares. O Brasil e a Rússia seriam grandes produtores de

matérias-primas, e os setores de serviços e produtos manufaturados ficariam á cargo de Índia e

China.

Estima-se que a produção de soja e carne bovina brasileira seria suficiente para alimentar

40% da população mundial, a produção de combustíveis renováveis e ambientalmente

sustentáveis seria a mola propulsora do desenvolvimento interno, já para os países em

desenvolvimento o Brasil seria o fornecedor preferencial de matérias-primas essenciais, e suas

reservas naturais de água é um bem que no futuro assumirá o lugar do petróleo na lista dos bens

mais cobiçado pelos governantes. Com estas características ele assumiria o 4º lugar no ranking

das maiores economias do mundo em 2050.

A Rússia, segundo Sachs (2007), seria o fornecedor de matérias-primas e petróleo, mas

também se destacaria como exportador de mão-de-obra altamente qualificada e tecnologia, além

de ser uma grande potência militar. A Índia, por sua vez, concentraria o setor de serviços

especializados por possuir uma grande população e estar realizando volumosos investimentos em

tecnologia e qualificação de sua mão-de-obra.

A maior potência mundial de 2050, segundo este mesmo relatório seria a China, caso esta

mantenha o crescimento apresentado nas últimas décadas, devido o seu desenvolvimento

tecnológico e a qualificação de sua população. Deverá também se tornar grande potência militar.

Na seção seguinte descrevem-se informações sócio-econômicas para caracterizar e

compreender a grandeza destas quatro nações foco do presente estudo.

2.2. Características sócio-econômicas dos BRIC´s

O objetivo desta seção é traçar uma descrição das principais características sócio-

econômicas dos países que compõem o BRIC´s, visando entender suas potencialidades e

limitações que poderão influenciar em seu processo de desenvolvimento e crescimento do

comércio internacional.

Page 28: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

28

2.2.1. Brasil: o “B” dos BRIC’s

Vários economistas renomados questionam a possibilidade do Brasil tornar-se uma

potência econômica mundial, haja vista que entre os BRIC o Brasil é o país que possui as

menores taxas de crescimento do PIB. O “B” dos BRIC’s se justifica? Foi um dos

questionamentos importantes levantados em um documento publicado em novembro de 2007

pelo Goldman Sachs onde Jim O’neill critica o termo BRIC’s criado por ele mesmo em 2001.

Com um sistema financeiro sólido, uma indústria de exploração mineral tecnologicamente

bem desenvolvida, terras férteis e abundantes, e um mercado consumidor em expansão devido o

aumento do poder aquisitivo da classe média, segundo Lamucci (2010), o Brasil ocupa o décimo

lugar entre as maiores economias mundiais e suas decisões econômicas passaram a ter grande

impacto na economia mundial. A influência comercial na América Latina segundo Carbonari

(2009), aumentou significativamente sua importância na economia regional transformando o

Brasil em um grande referencial econômico para os seus vizinhos sulistas. Esta importância

regional o favorece em outros cenários econômicos como em rodadas de negociações

internacionais.

Apesar do favorável posto conquistado no cenário econômico mundial existem problemas

de ordem econômica nacional que entravam o desenvolvimento comercial e industrial e podem

comprometer o desempenho destes setores à curto e meio prazo, como é o caso das altas taxas de

juros (que estavam paulatinamente decrescendo, porém, para contornar o processo inflacionário,

o governo nos últimos meses decidiu elevá-las); o robusto sistema de proteção tarifária, que

viabiliza a movimentação de capital especulativo no país e inviabiliza em muitos casos a entrada

de produtos em seu mercado; a precária infraestrutura que não possui capacidade de sustentar o

escoamento da produção nacional; os altos índices de corrupção, e; o baixo nível de investimento

em educação, entre outros Indriunas (2008).

Conforme aponta Paiva e Wajnman (2005), o novo padrão demográfico brasileiro

apresenta reduções consecutivas na taxa de crescimento populacional e aumento significativo do

número de idosos o que é um grande problema para um país que está em fase de

desenvolvimento.

O Brasil é o quinto país mais populoso do planeta, com uma população superior á 190

milhões de pessoas. Apesar de sua grande população, é um país com uma baixa densidade

Page 29: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

29

populacional (22,11 habitantes por km²) devido ao seu grande território. A população urbana

corresponde à 81% da população total do país, sendo o sudeste a região mais urbanizada e o

nordeste, por sua vez, é a região com maior população rural. Segundo os dados do IBGE de 2005,

o analfabetismo no Brasil atinge 10,2% de toda a população. O Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) brasileiro de 2006 é de 0,7924 e a expectativa média de vida da população em

2005 era de 71,9 anos.

Apesar de ser considerada uma das principais economias do mundo com uma taxa de

crescimento do PIB de 4,5% em 2007, existe ainda no Brasil uma grande dívida social

(relacionada com as altas taxas de analfabetismo, elevada desigualdade e concentração na

distribuição da renda, sistema de saúde e previdenciário precário, dentre outros) e sérios

problemas estruturais a serem sanados.

Os programas assistenciais desenvolvidos e implantados pelos governos não minimizam o

problema e torna a dependência de grande parte da população uma estratégia eleitoral que atrasa

o desenvolvimento econômico do Brasil. Programas sociais tais como o “Bolsa Família” e o

“Fome Zero” são importantes para impulsionar o consumo provocando aumento na demanda do

mercado doméstico, porém são medidas imediatistas que não agregam nada ao processo

desenvolvimentista nacional o que exige maior atenção do governo nacional, visto que a recente

crise econômica (crise dos títulos imobiliários nos EUA) que modificou significativamente a

demanda global, impôs um novo cenário econômico mundial provocado pela retração no

consumo norte-americano o que reduz o fluxo internacional de comércio e obriga os países que

tinham a sua economia baseada no comércio internacional a desenvolver o seu mercado

consumidor doméstico com o intuito de manter suas taxas de crescimento interno.

No Gráfico 1 pode-se observar a evolução da Balança Comercial brasileira no período de

1950 e 2008 onde se percebe que apesar do fluxo de comércio brasileiro (soma das exportações e

importações) ter aumentado significativamente no período o saldo comercial (que, assim como

assinalado no capítulo 1, é a diferença entre as importações e as importações em termos de

dólares norte-americano) não melhorou na mesma proporção o que sugere uma análise mais

profunda dos motivos destes saldos comerciais.

4 O IDH é um índice que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento econômico do país.

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30

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Exportação Importação Saldo Comercial

Gráfico 1 - Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2008 - US$ bilhões FOBFonte: SECEX/DEPLA. MDIC – Ministério do Desenvolvimento Industria e Comércio Exterior.

Como se abordará de forma mais detalhada no terceiro capítulo, no início do Plano Real e

do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) houve grande incentivo ao aumento da

exportação de produtos manufaturados e semimanufaturados através de feiras internacionais e

incentivos fiscais à exportação de produtos, porém com o início do governo Lula viu-se um

retrocesso na qualidade das exportações brasileiras onde o maior incentivo estatal está voltado as

exportações de matérias-primas demonstrando um anacronismo no comércio internacional

brasileiro. Este retrocesso comercial possui grande peso negativo na Balança Comercial, visto

que o volume de exportações de matérias-primas deve ser elevado para contrabalancear as

importações de produtos industrializados.

2.2.2. Rússia: o “R” dos BRIC’s

Manter o crescimento econômico necessário para se tornar uma superpotência econômica

em alguns anos para a Rússia assim como para todos os países que compõem o BRIC é um

grande desafio social, político, econômico e financeiro. Como o Brasil, a Rússia por ser grande

produtora de matérias-primas, possui como função econômica nos BRIC’s abastecer o mercado

mundial de recursos naturais que estão se tornando escassos e fazer deste comércio de

commodities a mola propulsora de seu desenvolvimento econômico.

Page 31: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

31

Segundo Vieira e Veríssimo (2009) o desenvolvimento de pequenas e médias empresas é

outro grande desafio russo, pois o ambiente empresarial russo é formado por empresas oligarcas

que impedem o surgimento de novas empresas, minimiza a concorrência interna e impede o

desenvolvimento do comércio internacional de produtos russos.

A infraestrutura russa assim como o seu parque industrial é herança da extinta União

Soviética, mas a falta de investimentos estatais em manutenção desta estão tornando-a obsoleta

para atender as necessidades comerciais do país.

Conforme aponta Bertonha (2007), a nulidade russa em competir no mercado mundial de

informática e outros com produtos que envolvem tecnologia da informação compromete a sua

consolidação como superpotência emergente. A falta de recursos para investimento na construção

de um sistema telefônico e de informática necessários a modernização de sua economia e dos

processos comerciais do país é um problema muito sério para o país. Estes problemas estruturais

enfrentados pela Rússia tendem a ser solucionados com a maior participação desta na economia

mundial e os consecutivos superávits comerciais de sua Balança, porém é necessário para que a

Rússia possa competir globalmente iniciar em passos acelerados os investimentos necessários em

sua infraestrutura, pois serão necessárias décadas para que ela possa atingir níveis tecnológicos

ideais para rivalizar com o ocidente e a Ásia.

A Rússia, por sua vez, é territorialmente o maior país do mundo. De acordo com

informações do Global 21 (2010) a Rússia possui a sétima maior população mundial, com 152

milhões de habitantes, porém uma baixa densidade populacional (com 8,3 hab./km²) também

devido a sua grande extensão territorial.

Com uma renda per capita de US$ 14.600 e uma taxa de crescimento média anual de

8,1%, (AGENCY, 2010), a Rússia possui também diversos problemas sociais a serem sanados (a

população que está abaixo do nível da pobreza, por exemplo, representa 15,8% de sua população

total). A Balança Comercial russa é sustentada basicamente pela exportação de eletricidade,

petróleo, e gás natural. O grande problema atual da Rússia é a sua desigualdade social que obriga

a população a viver em condições de extrema pobreza e a depender de programas sociais para

suprirem suas necessidades mais básicas. Esta situação, segundo as informações coletadas, é o

resultado, principalmente, do baixo investimento em educação (a maioria da população é formada

por pessoas de nível médio e técnico).

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32

Tornar os programas assistenciais meios para a promoção do desenvolvimento social de

sua população para a Rússia assim como para o Brasil é um desafio político e econômico de

grande importância, pois se torna necessário aumentar o acesso da população ao emprego, e a

qualificação profissional para que esta aumente a demanda no mercado interno provocando em

efeito cascata investimento nos setores produtivos do país e conseqüentemente crescimento.

As exportações russas, como podem ser observadas na Tabela 1, são principalmente de

matérias-primas onde há apenas a emprego de tecnologia de extração, o que torna seus produtos

commodities de baixo valor agregado e sujeitos a grandes oscilações de preço devido a sua

demanda internacional.

Tabela 1 – Exportações Russas: principais produtos exportados em 2007Exportações Rússia - Mundo 2007 US$ Milhões FOB

Combustíveis, óleos e ceras minerais 216.034 61,30%Ferro fundido, ferro e aço 21.115 6,00%

Madeira, carvão vegetal e obras de madeira 8.850 2,50%Níquel e suas obras 8.837 2,50%

Alumínio e suas obras 8.147 2,30%Caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos 5.881 1,70%

Demais produtos 83.402 23,70%Total 352.266 100,00%

Fonte: Brasiltradenet (2010b).

As importações em contra partida, como podem ser observadas na Tabela 2,

correspondem principalmente à produtos de alto valor agregado que com a constante oscilação do

preço das commodities (exportações russas) no mercado internacional podem fazer com que a sua

Balança Comercial torne-se deficitária rapidamente impedindo que a Rússia continue sanando a

sua dívida externa e/ou possua recursos para investir na ampliação de seu setor produtivo

tornando-se competitiva globalmente não só em matérias-primas, mas também em produtos

industrializados.

Com as exportações baseadas na venda de commodities para o mercado mundial a Rússia

possui relações de comércio exterior muito semelhantes às estabelecidas pelo Brasil com o resto

do mundo, porém a diferença básica entre estes países é que a pauta de exportações brasileiras é

mais diversificada tanto na quantidade de produtos exportados quanto na variedade de mercados

consumidores, o que significa em outras palavras que a economia brasileira está menos

Page 33: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

33

vulnerável as oscilações do preço das commodities no mercado externo do a Rússia atualmente

está.

Tabela 2 - Importações Russas: principais produtos importados em 2007Importações Rússia - Mundo 2007 US$ Milhões CIF

Veículos automóveis, tratores, ciclos  33.502 17,50%Caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos  32.479 17,00%

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 22.133 11,60%Plásticos e suas obras 6.741 3,50%

Produtos farmacêuticos  6.696 3,50%Instrumentos e aparelhos de óptica e fotografia 5.911 3,10%

Ferro fundido, ferro e aço 5.722 3,00%Demais produtos 77.792 40,70%

Total 190.976 100,00%Subtotal 113.184  

Fonte: Brasiltradenet (2010b).

A capacidade de exportar em escala produtos industrializados é outra vantagem

competitiva brasileira que a Rússia atualmente não possui, sendo este o desafio futuro russo no

que tange ao comércio internacional.

2.2.3. Índia: o “I” dos BRIC’s

Segundo informações do Sachs (2007), a República da Índia concentraria os setores de

serviços especializados devido a sua volumosa população e os constantes investimentos em

tecnologia e qualificação de mão-de-obra.

Com o objetivo de desenvolvimento econômico a Índia tem fortalecido suas relações

diplomáticas com importantes países como os Estados Unidos e a China e sua capacidade para se

tornar uma potência emergente tem aumentado gradativamente sua influência em assuntos

internacionais. É também integrante de importantes organismos internacionais como a

Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial do Comércio além de ser

candidata a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.

Com um mercado consumidor potencializado pelo crescente poder aquisitivo de uma

classe média que gira entorno de 100 a 300 milhões de pessoas (AGENCY, 2010), e a grande

oferta de mão-de-obra qualificada e extremamente barata, a Índia é na atualidade um país

Page 34: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

34

fortemente atraente aos investidores internacionais que escolhem o país como sede para a

instalação de empresas multinacionais voltadas principalmente ao setor de serviços.

Regionalmente é considerada uma grande potência econômica, onde suas decisões

possuem peso relevante na economia de seus vizinhos menores. A liderança econômica indiana

frente aos países em desenvolvimento é um fator determinante para o desenvolvimento de

acordos de comércio global visto a sua influência econômica e política frente a tais países.

Conforme aponta Berndt e Nunes (s.d.) o boom econômico indiano marcado por sua imposição

econômica e cultural é no contexto global um importante marco para a ampliação do comércio

mundial de produtos e serviços.

Porém, a precária infraestrutura indiana tem sido apontada pelos investidores

internacionais como o principal entrave aos investimentos no país, as péssimas condições de suas

estradas, o ineficiente sistema de transportes públicos de eletricidade, portos obsoletos e lentos

fazem os investidores estrangeiros dar preferência a investir em outros países como a China, dado

ao fato desta possuir melhor infraestrutura Graefe (2008). A Índia atual é um grande canteiro de

obras, porém ainda são necessários anos de investimentos expressivos em infraestrutura para que

o país possa ser capaz de atrair investimentos estrangeiros tão volumosos quantos os

investimentos recebidos pela China.

Berço de 16% da população mundial, a Índia apresenta a maior taxa de crescimento

demográfico 1,548% ao ano entre os BRIC’s ocupando em 2009, segundo dados do Agency

(2010) o 84º lugar no ranking da Taxa de Crescimento Demográfico Mundial. Os grandes

desafios do governo indiano no campo social são manter a tradição nas ciências exatas, com

sólidos investimentos em educação para a capacitação da mão-de-obra nacional, e reduções nos

índices de criminalidade além de investir em saúde e saneamento básico com a finalidade de

reduzir a pobreza extrema que hoje segundo dados do FITA (2010) atinge 25% da população

indiana que possui um IDH de apenas 0,609, o menor entre os BRIC’s.

Dependendo quase que exclusivamente da expansão do mercado doméstico para o seu

crescimento econômico, a Índia busca no intercâmbio comercial basicamente recursos para

manter o seu desenvolvimento interno, porém estes recursos tem provocado consecutivos déficits

na Balança Comercial indiana.

Para equilibrar o Balanço de Pagamentos a principal estratégia do país é a exportação de

serviços que tem apresentado crescentes saldos superavitários. A Balança Comercial indiana

Page 35: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

35

sofre com a alta do petróleo e commodities agrícolas no mercado externo e está acumulando

sucessivos déficits comerciais que contribuem em muito para o aumento de sua dívida externa

que segundo Agency (2010) que em dezembro de 2007 era de 206 bilhões de dólares e em 2009

já ultrapassavam os 229 bilhões de dólares, colocando a Índia em 29º no ranking dos países com

a maior dívida externa ativa do mundo.

Portanto, pode-se notar que apesar do crescente crescimento econômico indiano a sua

Balança Comercial, e seus problemas sociais e de infraestrutura são os maiores entraves ao seu

desenvolvimento futuro.

2.2.4. China: o “C” dos BRIC’s

No sentido inverso aos demais países que compõem os BRIC’s o crescimento econômico

chinês esta voltado quase que exclusivamente à ampliação do mercado consumidor externo, haja

vista as características dos produtos fabricados e comercializados, entretanto a recente crise

financeira mundial (crise dos títulos imobiliários nos EUA) provocou um declínio na demanda

mundial e o fato da produção industrial chinesa estar voltada a produção para exportação

diminuiu a sua participação no comércio exterior mundial o que refletiria de forma negativa em

sua Balança Comercial e retardaria seu processo de desenvolvimento econômico Rajan (2009).

Com a maior população do planeta, a economia da China vem crescendo a passos largos

em média 10% ao ano e com a finalidade de impulsionar o seu desenvolvimento a China tem se

tornado uma importante importadora mundial de matérias-primas e com isso a sua influência

econômica mundial esta em forte ascensão. Na atualidade a economia chinesa é considerada

como um dos melhores países para se investir no mundo e este título conquistado pelos

sucessivos investimentos em educação e infraestrutura tem aumentado gradativamente o volume

de Investimentos Direto Estrangeiro (IDE) no país (MUNIZ, 2009. p. 145).

Conforme aponta Amorim (2005), o sistema bancário nacional, no entanto é um grave

problema na economia do país, visto que as confusões entre as responsabilidades econômicas e

financeiras destas instituições atrapalham o bom desempenho financeiro destes tornando-os

ineficientes para atuar de forma imparcial e firme frente a um processo de globalização

econômica pelo qual o país esta passando. O mercado chinês garantido por uma população com

poder aquisitivo crescente é também um fator importante quando se fala da importância e da

influência econômica global chinesa visto que este tem se tornado cada vez mais atrativo as

Page 36: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

36

empresas internacionais que tendem à estabelecer bases no país injetando cada vez mais recursos

financeiros na economia do país.

Entre os BRIC’s a China é com toda certeza o país que possui a melhor infraestrutura

capaz de acompanhar o seu desenvolvimento econômico. Com uma infraestrutura portuária,

rodoviária, ferroviária, e aeroportuária projetada para suportar o crescente volume de mercadorias

transacionadas dentro e fora de suas fronteiras a China tornou-se um grande atrativo ao IDE.

Conforme destaca Indriunas (2008), o que pode vir a ser um entrave aos objetivos de

desenvolvimento dos chineses é um problema comum a todos os países que compõem os BRIC’s,

ou seja, a corrupção política e empresarial que aumentam consideravelmente os custos dos

investimentos em infraestrutura e compromete a imagem do país frente aos investidores

internacionais.

Os custos ambientais, culturais e sociais das obras de infraestrutura chinesas são outros

entraves de grande proporção ao seu desenvolvimento econômico, pois a ganância chinesa tem

atropelado ONGs de proteção ambiental e promovido um sistema desenvolvimentista

ambientalmente insustentável que à longo prazo pode frear o crescimento econômico do país pela

escassez de recursos naturais provocados pela contaminação excessiva de alguns recursos como a

água e o ar ou pela extração desregulada de outros como gás natural, petróleo, carvão, entre

outros Wasserman (2009).

“Irá a China envelhecer antes de enriquecer?” é o questionamento levantado no terceiro

capítulo do livro “BRICS e o Futuro” publicado pelo Goldman Sachs em 2007 (SACHS, 2007).

As medidas de contenção demográfica que no início do século eram necessárias para evitar uma

desestabilização econômica e social no país hoje provocam um efeito inverso, pois o crescente

contingente de idosos do país e a decrescente taxa de natalidade fez inverter a pirâmide etária

chinesa o que em médio prazo pode comprometer o desenvolvimento econômico do país pela

falta de mão de obra visto que a População Economicamente Ativa (PEA) esta reduzindo-se

consideravelmente. Segundo a Agency (2010) em 2009 a taxa de crescimento da população

chinesa foi de 0,665%.

Com investimentos em educação de 1,9% do PIB nacional a China possui uma das mais

altas taxas de alfabetização mundial. Segundo o censo de 2000 realizado pela Agency (2010),

90,9% de sua população é alfabetizada. A alfabetização não atinge toda a população chinesa

também por tradições milenares visto que o maior índice de analfabetismo esta entre as mulheres,

Page 37: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

37

e também porque grande parte da população está concentrada na zona rural onde a educação é de

difícil acesso e quando existe é muito precária.

A China em 2009, segundo a Agency (2010) exportou 1.194 trilhões de dólares e

importou 921,5 trilhões de dólares o que lhe conferiu o 2º e 4º lugar no ranking dos países que

mais exportou e importou respectivamente. A crise mundial, porém afetou significativamente o

seu fluxo de comércio internacional. Entretanto a redução de seu fluxo de comércio não

prejudicou as sua reservavas internacionais que saltaram de 1.995 trilhões em 2008 para 2.206

trilhões em 2009 conferindo-lhe o primeiro lugar no ranking mundial, e possibilitou ainda reduzir

a sua dívida externa em 53.5 bilhões de dólares.

2.3. BRIC’s: um breve comparativo

Como estudado na seção anterior, todos os países que compõem os BRIC’s possuem

vários fatores favoráveis e desfavoráveis que podem impulsionar ou não o seu desenvolvimento

econômico.

As taxas de crescimento do PIB nominal e PIB per capita apresentadas na Tabela 3

mostram uma disparidade na taxa de crescimento destes dois indicadores, onde os melhores

desempenhos são de China e Índia e os menos expressivos de Brasil e Rússia. O que indica que

embora os países do BRIC estejam em processo de desenvolvimento econômico, China e Índia

possuem maior fôlego econômico que Rússia e Brasil, fato que pode ser explicado pelos altos

índices de investimentos do PIB nos setores sociais e econômicos (no caso de China e Índia) e a

reduzida participação dos produtos industrializados na pauta comercial de Rússia e Brasil além

do pouco investimento do PIB em setores estratégicos tanto sociais quanto econômicos nestes

últimos dois países.

Analisando os recursos naturais de cada país pode-se notar que, enquanto Brasil e Rússia

possuem recursos naturais capazes de viabilizar o seu desenvolvimento econômico e fazem da

exportação destes recursos a sustentação de sua Balança Comercial, a Índia por não possuir

recursos naturais suficientes tem sua Balança Comercial altamente deficitária pela importação

destes em grande escala, e a China apesar de ser rica em recursos naturais ainda necessita

importar parte para suprir todas as suas necessidades produtivas que tem se ampliado.

Page 38: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

38

Tabela 3. Taxa de crescimento do PIB real e PIB per capita dos BRICS -1990 e 2005 (% ao ano).

AnosPIB PIB per capita

Brasil China Índia Rússia Brasil China Índia Rússia1990 -4,2 3,8 5,6   -5,92 2,29 3,69 -3,371991 1 9,2 2,1   -0,34 7,72 -1,07 -5,261992 -0,5 14,2 4,2   -2,05 12,81 3,33 -14,571993 4,9 14 5 -8,7 3,32 12,71 2,95 -8,561994 5,9 13,1 6,8 -12,7 4,33 11,83 5,54 -12,461995 4,2 10,9 7,6 -4,1 2,65 9,7 5,74 -4,021996 2,2 10 7,5 -3,6 1,17 8,85 5,52 -3,341997 3,4 9,3 4,9 1,4 1,76 8,19 2,67 1,71998 0 7,8 5,9 -5,3 -1,39 6,77 4,18 -5,041999 0,3 7,6 6,9 6,4 -1,39 6,59 5,32 6,832000 4,3 8,4 5,4 10 2,85 7,64 2,21 102001 1,3 8,3 3,9 5,1 -0,13 7,52 3,47 5,352002 2,7 9,1 4,5 4,7 0,49 8,37 2,49 5,212003 1,1 10 6,9 7,3 -0,85 9,32 7 7,872004 5,7 10,1 7,9 7,2 3,47 9,44 5,39 7,72005 2,9 10,4 9 6,4        

Média 2,2 9,8 5,9 1,1 0,53 8,65 3,89 -0,8Fonte: Vieira (2009, p. 104).

A infraestrutura também é um grande problema para três países que compõem o BRIC,

pois enquanto a infraestrutura do Brasil e da Índia são insuficientes para fazer frente ao seu

desenvolvimento econômico em grande escala, a Rússia apesar de possuir uma grandiosa infra-

estrutura (herança em grande parte da URSS) ainda falta recursos para fazer manutenção, o que

está provocando o seu sucateamento.

No tocante aos aspectos socioculturais, todos os países apresentam problemas

significativos. O Brasil enfrenta o alto índice de analfabetismo, déficits previdenciários

crescentes, programas sociais ineficientes, corrupção política e empresarial, e êxodo rural

expressivo. A Rússia apesar de possuir um alto índice de alfabetização o pouco investimento nos

últimos anos começa a apresentar prejuízos sociais, a pobreza extrema e crescente é outro

problema sério, além da concentração urbana. A Índia por outro lado tem investido bastante em

educação nos últimos anos apesar de possuir ainda o maior índice de analfabetismo entre os

BRIC (44,2% de sua população é analfabeta – segundo a Agency (2010)). Os principais

Page 39: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

39

problemas da Índia são o alto índice de crescimento demográfico, a pobreza extrema, e a

criminalidade. A China já possui o maior índice de investimento em educação e infraestrutura

entre os BRIC’s, porém os grandes problemas enfrentados por ela no campo social são o baixo

número de jovens principalmente do sexo feminino decorrentes de sua “Política do filho único”, e

a inversão da pirâmide etária de sua população (ou seja, a população tem se tornado mais velha).

Politicamente Brasil, Rússia, e Índia são países democráticos com formas de governo bem

parecidas. As exceções estão no poderio militar destes países, pois enquanto o Brasil nunca

participou de uma corrida armamentista, Rússia e Índia são grandes potencias militares. A China

ao contrário dos demais possui um governo comunista e regionalmente possui um legado de

conflitos externos centenários além de possuir um dos maiores acervos nucleares do planeta.

No capítulo seguinte, estuda-se com maiores detalhes a formação da pauta de exportação

e importação do Brasil para com os outros países componentes do BRIC’s visando verificar a

validade das hipóteses previamente levantadas.

Page 40: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

40

CAPÍTULO III

O COMÉRCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RÚSSIA, ÍNDIA E CHINA

O objetivo deste capítulo é estudar a Balança Comercial brasileira analisando os dados de

exportações e importações disponibilizados no site do Ministério de Desenvolvimento, Indústria

e Comércio Exterior (MDIC) no período de 1987 a 2009 de forma tal que seja possível

compreender o fluxo de comércio existente entre o Brasil e os demais países que compõem os

BRIC’s.

Procura-se com tais informações verificar a hipótese de que a característica dos produtos

comercializados pelo Brasil coloca-o em relação aos demais componentes do BRIC´s em uma

situação cuja Balança Comercial é deficitária.

3.1. Evolução do Comércio Brasileiro com os demais países do chamado BRIC’s

Busca-se através de uma análise detalhada dos dados do MDIC compreender como se dá a

relação comercial do Brasil com a Rússia, Índia e a China, de forma tal que seja possível

visualizar qual a posição ocupada pelo Brasil nas relações comerciais, ou seja se o mesmo é

credor ou devedor destes parceiros comerciais e quais são os principais produtos comercializados.

O estudo da relação comercial brasileira com a China, Índia e Rússia se justifica, pois o fluxo

comercial destes países com o Brasil em 2004 já ultrapassava a soma de 15,5 milhões de dólares

e em 2005 estes três países já estavam entre os 21 principais parceiros comerciais do Brasil.

O Gráfico 2 abaixo mostra o fluxo de comércio internacional brasileiro com a Rússia

Índia e China. Percebe-se que a soma das importações e exportações em 1987 correspondiam a

apenas 2,13% do fluxo total de comércio e que há uma considerável elevação deste fluxo na

década de 90 onde em 1995 atinge o patamar de 3,85%. A partir de 2000 nota-se também que

estes passam a ter uma representatividade expressiva, pois de 3,42% em 2000 este fluxo passa a

16,39% em 2009 do fluxo total do comércio internacional brasileiro, número este

significativamente inflado pela relação comercial Brasil – China.

Page 41: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

41

3,42%

3,17%2,97%3,45%

3,30%

3,85%

3,40%

2,72%

1,38%1,05%

1,41%

1,88%

2,06%2,13%

6,48%

4,94%

16,39%

13,23%

11,36%

10,12%

9,46%

8,04%8,04%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

16,00%

18,00%

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2.009Anos

Par

tici

paç

ão %

(R

epre

sen

tati

vid

ade)

Gráfico 2 – Representatividade da China, Índia e Rússia no fluxo de comércio internacional brasileiro – 1987 a 2009.Fonte: Muniz & Inácio (2008, p. 139).Nota: O indicador de representatividade é dado pela razão da somatória das exportações e importações dos três países (China, Índia e Rússia) pela somatória de exportações e importações do mundo.

No Gráfico 3 é possível visualizar a representatividade de cada país em separado no

comércio internacional do Brasil. Percebe-se que deste 1987 a China possuía significativa

representatividade no fluxo de comércio internacional brasileiro. De 1987 a 1993 a China,

seguida pela Índia, eram importantes parceiros comerciais brasileiros representando mais de 2,5%

do fluxo de comércio internacional do país. Já em 1993 com a desintegração da URSS e o fim da

“Era Soviética” o Brasil inicia o comércio bilateral com a Federação Russa que ultrapassa a

representatividade comercial da Índia.

A participação chinesa no fluxo de comércio brasileiro, como pode ser observado no

período de 2000 a 2008, eleva-se significativamente passando de 2,08% a 9,82% destacando a

China como um dos principais parceiros comerciais do Brasil, representatividade essa que só se

elevou a ponto de em 2009 com 12,86% de participação no comércio brasileiro a China chegar à

primeira posição entre os principais parceiros comerciais do Brasil ultrapassando inclusive os

EUA.

Page 42: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

42

Rússia e Índia também aumentaram a sua participação na Balança Comercial brasileira a

partir de 2000, porém essa participação não chega a ser tão expressiva quanto a participação

chinesa, embora a Rússia tenha passado de uma participação de 0,90% em 2002 para 2,15% em

2008. Em 2009 esta apresentou um declínio em sua participação que embora não a tenha

retrocedido aos patamares anteriores a 2000 à tornou menos relevante comercialmente para o

Brasil que a Índia que de uma participação de 0,45% em 2000 saltou para 2,0% de participação

em 2009. Contudo estes dois países ainda possuem uma pequena participação no fluxo de

comércio brasileiro.

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

19871988

19891990

19911992

19931994

19951996

19971998

19992000

20012002

20032004

20052006

20072008

2.009

Anos

Rep

rese

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dad

e em

%

Representatividade China

Representatividade Rússia

Representatividade Índia

Gráfico 3 – Representatividade da China, Índia e Rússia no fluxo de comércio internacional brasileiro – 1987 a 2009.Fonte: Muniz & Inácio (2008, p. 140) – atualizado com informações para o ano de 2009 extraídos do MDIC.

Nas próximas seções estuda-se a relação comercial do Brasil com cada um dos outros

países do BRIC’s de forma a comprovar ou a recusar a hipótese de que o valor agregado dos

produtos transacionados entre estes países deixa o Brasil em situação desfavorável

comercialmente.

Page 43: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

43

3.2. Comércio Brasil X China

O comércio entre Brasil e China é o de maior representatividade para Balança Comercial

brasileira se comparado com os demais países que compõem os BRIC’s. A importância do

comércio bilateral entre Brasil e China vem ano após ano aumentando ao ponto de em dezembro

de 2009 a China alcançar o posto de maior parceiro comercial do Brasil, posto antes ocupado

pelos Estados Unidos.

Entretanto, essa elevação no fluxo comercial entre Brasil e China não está sendo favorável

ao resultado da balança comercial brasileira, visto que este tem demonstrado sucessivos e

expressivos déficits comercias desde 2006, último ano que o Brasil apresentou superávit

comercial. O vertiginoso aumento do déficit comercial nesta relação de comércio bilateral pode

ser explicado em parte pelo valor agregado dos produtos chineses frente aos nacionais, haja vista

que os produtos que o Brasil importa da China são de alto valor agregado e os que exporta para

este país são basicamente matérias-primas que apesar de intensas em recursos naturais são de

baixo valor agregado já que pelo fato de serem commodities seus valores comerciais são

estabelecidos pela oscilação da oferta e demanda internacional.

A partir das informações do Gráfico 4 observa-se a evolução do saldo da Balança

Comercial bilateral Brasil-China de 1987 a 2009. É possível constatar com tais informações que

de 1987 a 2000 a Balança Comercial era favorável ao Brasil, já de 1996 a 2000 esta se torna

negativa em mais de US$ 1,3 bilhões. Em 2001 esta passa novamente a ser positiva atingindo seu

pico em 2003 com um saldo positivo superior a US$ 2,3 bilhões. Desde 2003 o resultado outrora

expressivamente favorável ao Brasil passa a sofrer sucessivos decréscimos até 2007 onde passa

novamente a ser deficitário alcançando em 2008 um déficit superior US$ 3,6 bilhões, que só volta

a produzir um resultado favorável superior à US$ 4,2 bilhões ao Brasil em 2009, fato este

provocado pela crescente necessidade chinesa de importação de matérias-primas para

impulsionar o desenvolvimento interno frente à crise financeira internacional.

Page 44: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

44

-5.000.000.000

-4.000.000.000

-3.000.000.000

-2.000.000.000

-1.000.000.000

0

1.000.000.000

2.000.000.000

3.000.000.000

4.000.000.000

5.000.000.000

Anos

US

$ M

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ÕE

S

Gráfico 4 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X China – 1987 a 2009.Fonte: Muniz & Inácio (2008, p. 141) – atualizado com informações para o ano de 2009 extraídos do MDIC.

O Gráfico 5 permite visualizar a participação percentual da China no total comercializado

pelo Brasil com o mundo no período de 1987 a 2009, onde se percebe que até o ano 2000 a

participação chinesa no comércio exterior brasileiro era pouco expressiva, haja vista que o fluxo

comercial (importação ou exportação) entre Brasil e China era inferior a 6% do total

comercializado, contudo em 2001 este passa a ser mais expressivo.

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Ano

Pa

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ipa

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no

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Imp

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o e

Ex

po

rta

do

Participação % da Exportações Chinesas no TotalExportado pelo Brasil

Participação % das Importações Chinesas no TotalImportado pelo Brasil

Gráfico 5 – Relação Brasil X China – participação percentual das exportações e importações chinesas no total exportado e importado pelo Brasil – 1987 a 2009.Fonte: Muniz & Inácio (2008, p. 141) - – atualizado com informações para o ano de 2009 extraídos do MDIC.

Page 45: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

45

Nota-se também no mesmo gráfico que até 2000 existia certo equilíbrio entre as exportações e

importações brasileiras destinadas e oriundas da China em termos de dólares norte americanos.

Entre 2001 e 2003 as exportações para a China aumentam significativamente tornando-se mais

expressivas que as importações e que a partir de 2004 ocorre uma inversão neste quadro até que

em 2008 as importações da China superam as exportações e chega a quase 12% do total

importado pelo Brasil contra um pouco mais de 8% do total exportado pelo Brasil.

O Gráfico 6 apresenta a balança bilateral entre Brasil e China no período de 1994 a 2009

permitindo realizar um comparativo entre os governos FHC e Lula. É possível perceber que

ocorreu neste período um aumento de aproximadamente 3.432% no total das importações

brasileiras da China contra um pouco mais de 2.455% das exportações brasileiras para a China.

Analisando o Gráfico 6 pode-se perceber também que há significativa mudança no

cenário comercial a partir de 2006 segundo ano de mandato do Governo Lula, pois em 2002

último ano de mandato do Governo FHC, o valor das exportações brasileiras para a China

cresceu 33% alcançando um superávit comercial 69% maior em relação a 2001. Contudo, em

2004, o Brasil passa a apresentar um cenário comercial que mesmo estando em consonância com

as políticas externas estabelecidas pelo governo anterior apresenta um crescimento tímido das

exportações frente às importações chinesas gerando pouco mais de 78% de crescimento do saldo

comercial.

O saldo comercial brasileiro com a China de 2003 a 2008 teve redução superior à 152%

tornando o intercambio comercial Brasil x China pouco interessante a economia nacional,

contudo em 2009 a necessidade chinesa de investimento em infraestrutura para manter o

aquecimento de sua economia frente a crise mundial exigiu que esta importasse grande volume

de matérias-primas principalmente minérios de ferro e soja o que favoreceu a Balança Comercial

brasileira fechando o ano com um intercambio comercial favorável em mais de US$ 4 bilhões

para o Brasil.

Page 46: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

46

-5.000.000.000

0

5.000.000.000

10.000.000.000

15.000.000.000

20.000.000.000

25.000.000.000

19

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19

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19

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19

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19

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19

99

20

00

20

01

20

02

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03

20

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20

05

20

06

20

07

20

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20

09

Ba

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Bil

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ral

Bra

sil

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hin

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19

94

a 2

00

9.

Exportação Importação Saldo BC

Gráfico 6 – Balança Bilateral Brasil x China – 1994 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Este resultado comercial entre Brasil e China pode ser explicado não só pela natureza dos

produtos comercializados entre estes países, mas também pelos incentivos comerciais e

governamentais de estímulo as exportações, visto que ao passo que o governo FHC estava focado

no incentivo à exportação de produtos manufaturados e industrializados, o de Lula já focou os

esforços comerciais brasileiros na produção e exportação de produtos primários sem nenhuma ou

pouca industrialização. Em outras palavras, o país continua enviando à China mais matérias-

primas que enviava em 2002 e recebe menos máquinas e equipamentos que recebia neste mesmo

período de análise.

A Tabela 4 apresenta as exportações do Brasil para a China no período de 1994 a 2009

onde se percebe que a partir do segundo ano de mandato do governo FHC há uma intensificação

na exportação de Produtos Básicos para a China e em conseqüência um declínio na exportação de

produtos industrializados (tanto manufaturados como semi-manufaturados). Todavia, é em 1998

que estas exportações realmente caracterizam o Brasil como produtor de matérias-primas para a

China onde as exportações desse tipo de produto alcançam uma soma superior a US$ 620

milhões totalizando mais de 69% das exportações brasileiras destinadas a esse país. Nos anos

subseqüentes a 1998 o que se vê é uma pequena oscilação no cenário comercial Brasil x China,

porém com pouco ou nenhum acréscimo expressivo na exportação de produtos com alto valor

agregado.

Page 47: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

47

Tabela 4 – Exportações Brasil x China por fator agregado – 1994 a 2009

AnoProdutos Básicos

IndustrializadosSemi-manuf. Manufaturados

1994 17,55% 57,19% 25,26%1995 15,90% 57,26% 26,84%1996 36,15% 40,87% 22,97%1997 52,12% 30,33% 17,54%1998 69,46% 16,83% 13,71%1999 62,64% 21,53% 15,83%2000 68,23% 12,98% 18,79%2001 61,00% 14,49% 24,51%2002 61,70% 17,60% 20,70%2003 50,13% 23,88% 25,98%2004 59,49% 22,72% 17,79%2005 68,54% 14,74% 16,72%2006 74,25% 15,24% 10,51%2007 73,87% 18,05% 8,08%2008 77,54% 15,78% 6,68%2009 76,79% 16,16% 7,05%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Em 2006, ao final do primeiro mandato de Lula, o que se observa é um agravamento do

cenário comercial onde as exportações de matérias-primas ultrapassam os 74% da pauta de

comércio com a China tendenciando a um permanente déficit comercial que só viria a ser

revertido em 2009, ano que as exportações de matérias-primas somaram mais de US$ 15 bilhões

de dólares contra pouco mais de US$ 4 bilhões em industrializados – semi e manufaturados –

totalizando mais de 76% da pauta de exportação para a China.

A Tabela 5 detalha os dez principais produtos comercializados na pauta do comércio

bilateral entre Brasil e China no período de 2007 à 2009, onde pode-se perceber que os dez

produtos mais exportados para a China compreenderam em 2009 86% de tudo que foi

transacionado com este país, sendo mais de 62% apenas de minérios de ferro e soja. Nota-se que

nos anos de 2008 e 2007 mesmo as exportações do Brasil para a China estarem concentradas em

mais de 80% nestes dez produtos há uma maior diversificação na pauta destes visto que os

produtos antes mencionados compreendem pouco mais de 57% da pauta de exportação e que o

petróleo nestes dois anos possui maior participação no intercâmbio comercial.

Page 48: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

48

Tabela 5 – Comércio Bilateral Brasil x China os dez principais produtos comercializados – 2007 a 2009.

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

 

2009 2008 2007

Valor US$ F.O.B

Part. %

Valor US$ F.O.B

Part. %

Valor US$ F.O.B

Part. %

TOTAL DOS 10 PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

17.387.675.337 86 14.403.821.109 88 8.642.899.600 80

MINERIOS DE FERRO NAO AGLOMERADOS E SEUS CONCENTRADOS

6.354.058.584 31,47 4.114.503.367 25,08 3.118.949.214 29,02

OUTROS GRAOS DE SOJA,MESMO TRITURADOS 6.342.964.920 31,42 5.324.052.177 32,46 2.831.860.767 26,35

OLEOS BRUTOS DE PETROLEO 1.338.299.338 6,63 1.702.458.061 10,38 839.897.186 7,81

PASTA QUIM.MADEIRA DE N/CONIF.A SODA/SULFATO,SEMI/BRANQ

891.956.064 4,42 614.810.265 3,75 385.553.136 3,59

MINERIOS DE FERRO AGLOMERADOS E SEUS CONCENTRADOS

656.601.083 3,25 771.495.585 4,7 591.337.446 5,5

OLEO DE SOJA,EM BRUTO,MESMO DEGOMADO 398.991.889 1,98 824.025.672 5,02 310.246.249 2,89

FUMO N/MANUF. TOTAL/PARC.DESTAL.FLS.SECAS,ETC.VIRGINIA

367.731.002 1,82 366.963.783 2,24 269.100.543 2,5

OUTROS AVIOES/VEICULOS AEREOS,PESO>15000KG,VAZIOS

348.650.025 1,73 204.614.213 1,25 --- ---

FERRONIOBIO 346.397.420 1,72 404.362.083 2,47 206.034.331 1,92

FERRO FUNDIDO BRUTO NAO LIGADO,C/PESO<=0.5% DE FOSFORO

342.025.012 1,69 76.535.903 0,47 89.920.728 0,84

PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

TOTAL DOS 10 PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

2.571.156.506 16 3.382.777.409 17 2.017.813.812 16

OUTS.PARTES P/APARELHOS RECEPT.RADIODIF.TELEVISAO,ETC.

477.393.557 3 423.098.989 2,11 149.559.539 1,18

DISPOSITIVOS DE CRISTAIS LIQUIDOS (LCD) 427.139.411 2,68 818.024.870 4,08 506.375.981 4,01

OUTS.PARTS.P/APARS.D/TELEFONIA/TELEGRAFIA 413.627.123 2,6 857.728.116 4,28 713.500.158 5,65

TELA P/MICROCOMPUTADORES PORTATEIS,POLICROMATICA

238.966.270 1,5 290.428.269 1,45 99.252.702 0,79

OUTROS CIRCUITOS INTEGRADOS 194.855.156 1,22 105.478.913 0,53 77.348.206 0,61

GLIFOSATO E SEU SAL DE MONOISOPROPILAMINA 172.085.406 1,08 48.444.374 0,24 209.393 ---

TERMINAIS PORTÁTEIS DE TELEFONIA CELULAR 167.544.180 1,05 342.197.375 1,71 155.668.656 1,23

MICROPROCESSADORES MONT.P/SUPERF.(SMD) 166.754.179 1,05 140.701.664 0,7 71.807.954 0,57

CIRCUITO IMPRESSO 159.563.756 1 194.674.676 0,97 139.955.927 1,11

OUTROS ACUMULADORES ELETRICOS 153.227.468 0,96 162.000.163 0,81 104.135.296 0,83

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC

Com este cenário comercial surge outra questão muito polêmica economicamente, pois a

especialização nem sempre traz benefícios aos países especialistas visto que uma oscilação

econômica externa pode mudar as necessidades de importação de determinado país e a

continuidade deste panorama comercial do Brasil com a China pode prejudicá-lo, visto que as

Page 49: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

49

exportações brasileiras destinadas à China estão fortemente concentradas em basicamente dois

produtos de baixo valor agregado e intensivos em recursos naturais.

Por outro lado, as importações da China para o Brasil estão bem diversificadas, onde os

dez principais produtos comercializados em 2009 correspondem à somente 16% do total

exportado para o Brasil, tendo mantido o mesmo percentual nos dois anos anteriores. Sendo os

produtos chineses importados pelo Brasil intensivos em tecnologia e, portanto de alto valor

agregado não é difícil imaginar o que se terá como saldo da Balança Comercial. A diversificação

da pauta de exportação da China para o Brasil também coloca este país em grande vantagem

frente ao Brasil visto que uma vez que estando pulverizadas as suas exportações a redução da

importação do Brasil de um determinado produto, por exemplo, aparelhos rádios difusores, trará

pouco impacto em sua Balança Comercial, ao passo que a redução da importação chinesa de

minérios de ferro causará forte impacto na Balança Comercial brasileira com este país e até

mesmo em seu montante geral, uma vez que a China em 2009 passou a ser o principal parceiro

comercial do Brasil.

3.3. Comércio Brasil X Rússia

O comércio entre Brasil e Rússia inicia-se em 1992, pois antes este país pertencia à

extinta União Soviética e só mantinha relações comerciais com países pertencentes a este bloco

econômico, ou com aqueles que compartilhavam com estes países os mesmos princípios

ideológicos, políticos e sociais. Ocupando a décima terceira posição no ranking dos principais

parceiros comerciais do Brasil, o saldo da Balança Comercial entre Brasil e Rússia, nos anos mais

recentes (a partir de 2000) é positivo.

Page 50: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

50

-500.000.000

0

500.000.000

1.000.000.000

1.500.000.000

2.000.000.000

2.500.000.000

3.000.000.000

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Anos

US

$ M

ilh

õe

s

Gráfico 7 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X Rússia – 1987 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC

Como é possível observar no Gráfico 7 a trajetória ascendente do saldo comercial entre

estes países se eleva até o ano de 2006, porém, a partir de então, passa a ser positivo, mas em

montantes inferiores, ou seja, passa a ter uma trajetória descendente. Tal fato pode ser explicado

pela característica dos produtos transacionados entre estes dois países e pelas altas dos preços das

commodities no mercado internacional, sendo o comércio entre Brasil e Rússia sustentado

basicamente pela exportação de produtos de baixo valor agregado e as importações sendo

compostas de produtos de alto valor agregado e de commodities como o petróleo e os fertilizantes

que desde 2006 tem obtido sucessivas altas no mercado internacional. Pode-se dizer que mesmo

existindo um decréscimo no saldo da Balança Comercial entre Brasil e Rússia este ainda tem

apresentado fôlego exportador favorável. Contudo, estes superávits comerciais podem não se

sustentar à longo prazo haja vista que é crescente a exportação de produtos de baixo valor

agregado e decrescente a exportação de produtos industrializados.

O Gráfico 8 apresenta a participação percentual da Rússia no total comercializado pelo

Brasil com o mundo de 1992 a 2009. Percebe-se com estas informações que apesar do

intercâmbio comercial entre Brasil e Rússia não ser tão representativo para a Balança Comercial

brasileira como a relação comercial existente com a China, desde 2001 este é bastante

significativo.

Page 51: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

51

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Pa

rtic

ipa

çã

o %

Ex

po

rta

çõ

es

e I

mp

ort

õe

s

Participação % das exportações Russas no totalexportados pelo Brasil

Participação % das importações Russas no totalimportados pelo Brasil

Gráfico 8 - Relação Brasil X Rússia – participação percentual das exportações e importações russas no total exportado e importado pelo Brasil – 1992 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Contudo este gráfico apresenta outra importante curiosidade sobre o perfil comercial do

Brasil, pois mesmo o Brasil tendo se tornado alto suficiente na produção e consumo de petróleo

ainda é grande a importação desta commoditie da Rússia, e a crescente profissionalização da

produção agrícola nacional faz com que o consumo de fertilizantes e agrotóxicos importados da

Rússia (grande produtora mundial destes insumos) seja crescente o que aumenta a participação da

Rússia nas importações nacionais.

Este cenário, apesar de apresentar tendências a déficits comerciais futuros é muito

favorável ao país no longo prazo visto que o Brasil esta importando da Rússia insumos que

permite agregar valor na produção nacional de bens que posteriormente são exportados até

mesmo para a Rússia, caso que não ocorre com a China (por exemplo) visto que ao passo que

exportamos commodities e importamos commodities da Rússia o intercâmbio Brasil x China é

baseado em commodities-tecnologia.

O Gráfico 9 apresenta a Balança Comercial entre Brasil e Rússia no período de 1994 a

2009, onde é possível perceber que a partir de 2003, no primeiro mandato do Governo Lula, há

uma intensificação do comércio brasileiro com a Rússia.

Page 52: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

52

-1.000.000.000

0

1.000.000.000

2.000.000.000

3.000.000.000

4.000.000.000

5.000.000.000

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

US

$ B

ilh

ões F

OB

Exportação Importação Saldo Comercial

Gráfico 9 – Balança Bilateral Brasil x Rússia – 1994 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Nota-se também que as exportações para esse país cresceram de forma gradativa desde

2005 até 2008 e que as importações até 2006 não acompanharam as exportações, o que gerou

saldos positivos crescentes para o Brasil, porém a partir de 2007 as importações provenientes da

Rússia são impulsionadas e o saldo comercial mesmo estando positivo sofre um decréscimo

significativo. Em 2009 já ocorrem decréscimos em toda a pauta comercial do Brasil com a Rússia

o que proporcionou ao Brasil um saldo comercial que apesar de ser mais superavitário que o

apresentado em 2008 ainda é pequeno se comparado ao alcançado em 2006.

A Tabela 6 apresenta as exportações do Brasil para a Rússia no período de 1994 a 2009

onde se percebe que a partir do último ano do segundo mandato do governo FHC (2002) há uma

intensificação na exportação de Produtos Básicos para a Rússia e em conseqüência um declínio

na exportação de produtos industrializados.

As informações da Tabela 6 permitem também perceber que há uma modificação

crescente na pauta de exportações Brasil x Rússia desde a posse do Governo FHC, pois em 1994

praticamente 78% da pauta de exportação do Brasil para a Rússia era composta por produtos

manufaturados e que a partir de então esta relação comercial passa a se modificar gradativamente

ano a ano.

Page 53: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

53

Tabela 6 – Exportações Brasil x Rússia por fator agregado – 1994 a 2009.

AnoProdutos Básicos

IndustrializadosSemimanuf. Manufaturados

1994 13,43% 8,04% 77,97%1995 0,23% 51,29% 48,34%1996 4,10% 26,76% 69,01%1997 7,30% 36,02% 56,59%1998 4,30% 56,89% 38,72%1999 4,03% 79,85% 16,09%2000 15,90% 68,44% 15,59%2001 29,25% 62,78% 7,93%2002 53,10% 39,58% 7,27%2003 44,45% 45,54% 9,96%2004 56,78% 30,45% 12,73%2005 61,35% 26,21% 12,39%2006 50,54% 36,64% 12,77%2007 58,52% 28,06% 13,34%2008 61,06% 25,30% 13,51%2009 63,13% 30,17% 6,55%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Contudo a mudança mais expressiva na pauta de exportação ocorre a partir de 2001, ano

que a participação dos manufaturados na Balança Comercial fica abaixo de 8%, e a dos produtos

básicos alcança mais de 29% da pauta de exportação. Com a troca de governos em 2003 a pauta

de exportação do Brasil para a Rússia bate mais um recorde de exportação de produtos básicos

(quase 45% das exportações). Os incentivos governamentais de Lula à produção agrícola e à

exportação de matérias-primas fizeram com que em seu mandato a pauta de exportação para a

Rússia ainda se deteriorasse mais fechando 2009 com os produtos básicos compondo mais de

63% da pauta de exportação e os semi e manufaturados em conjunto representando menos de

37% das exportações brasileiras para a Rússia.

A Tabela 7 apresenta os dez principais produtos que compõem a Balança Comercial do

Brasil com a Rússia no período de 2009 a 2007, onde pode-se notar que o comércio entre estes

dois países é composto basicamente pela comercialização bilateral de matérias-primas que visam

impulsionar o processo produtivo de cada país. Contudo o que se nota observando este ranking é

Page 54: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

54

que, mesmo os produtos russos sendo matérias-primas, estes possuem maior valor agregado que

as matérias-primas exportadas pelo Brasil.

Tabela 7 – Comércio Bilateral Brasil x Rússia os dez principais produtos comercializados – 2007 a 2009.

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

 

2009 2008 2007

Valor FOB Part. % Valor FOB Part. % Valor FOB Part. %

TOTAL DOS DEZ PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

2.670.002.818 93% 3.822.020.998 82% 3.088.739.104 83%

CARNES DESOSSADAS DE BOVINO,CONGELADAS 909.884.961 31,72% 1.428.291.246 30,70% 966.459.324 25,83%

ACUCAR DE CANA,EM BRUTO 852.518.164 29,72% 1.134.052.629 24,37% 1.037.547.031 27,73%

OUTRAS CARNES DE SUINO,CONGELADAS 489.646.230 17,07% 613.408.843 13,18% 531.544.868 14,21%

PEDACOS E MIUDEZAS,COMEST.DE GALOS/GALINHAS,CONGELADOS

103.540.218 3,61% 242.650.594 5,21% 217.240.821 5,81%

FUMON/MANUF.TOTAL/PARC.DESTAL. FLS.SECAS,ETC.VIRGINIA

89.853.027 3,13% 100.479.530 2,16% 86.675.259 2,32%

CARCACAS E MEIAS-CARCACAS DE SUINO,CONGELADAS

68.287.818 2,38% 113.476.550 2,44% 102.925.452 2,75%

CAFE SOLUVEL,MESMO DESCAFEINADO 58.865.121 2,05% 71.791.081 1,54% 83.439.813 2,23%

TRIPAS DEBOVINOS,FRESCAS, REFRIG.CONGEL.SALG.DEFUMADAS

41.196.604 1,44% 45.047.748 0,97% 24.822.021 0,66%

CAFE NAO TORRADO,NAO DESCAFEINADO,EM GRAO 39.730.625 1,39% 33.295.121 0,72% 24.696.001 0,66%

FUMO N/MANUF.TOTAL/PARC.DESTAL. FLS.SECAS,TIPO "BURLEY"

16.480.050 0,57% 39.527.656 0,85% 13.388.514 0,36%

PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

 

2009 2008 2007

Valor FOB Part. % Valor FOB Part. % Valor FOB Part. %

TOTAL DOS DEZ PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

1.116.345.605 79% 1.510.315.503 45% 875.510.403 51%

OUTROS CLORETOS DE POTASSIO 448.348.141 31,75% 382.722.480 11,49% 298.697.576 17,47%

UREIA COM TEOR DE NITROGENIO>45% EM PESO 249.057.723 17,64% 527.274.667 15,82% 358.214.009 20,96%NITRATO DE AMONIO, MESMO EM SOLUCAO

AQUOSA 144.928.350 10,26% 214.696.398 6,44% 117.914.228 6,90%

OUTROS HELICOPTEROS DE PESO>3500KG,VAZIOS 73.478.880 5,20% --- --- --- ---

NAFTAS PARA PETROQUíMICA 50.796.112 3,60% --- --- --- ---

ENXOFRE A GRANEL,EXC. SUBLIMADO,PRECIPITADO OU COLOIDAL

46.107.058 3,27% 182.479.788 5,48% 26.738.529 1,56%

HULHA BETUMINOSA,NAO AGLOMERADA 34.189.782 2,42% --- --- --- ---

ADUBOS OU FERTILIZANTES C/NITROGENIO,FOSFORO E POTASSIO

27.921.242 1,98% 70.763.336 2,12% 16.760.904 0,98%

OUTS.ADUBOS/FERTILIZ.MINER.QUIM.C/NITROGENIO E FOSFORO

21.044.732 1,49% 117.347.663 3,52% 54.441.270 3,18%

PALADIO EM FORMAS BRUTAS OU EM PO 20.473.585 1,45% 15.031.171 0,45% 2.743.887 0,16%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Page 55: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

55

Outro importante fator que pode ser observado nesta Tabela 7 é que ao passo que os dez

principais produtos exportados para a Rússia desde 2007 já compreendiam mais de 83% da pauta

de exportação chegando em 2009 a 93% desta, a pauta de exportação da Rússia para o Brasil em

2007 era mais diversificada com os dez principais produtos representando apenas 51% da pauta

de exportação, porém com o início das importações por parte do Brasil do produto (OUTROS

HELICOPTEROS DE PESO > 3500KG,VAZIOS ), há uma maior concentração na pauta de

exportação russa com o Brasil.

O curioso é que ao passo que o carro chefe da Balança Comercial brasileira com a Rússia

sempre esteve focado na exportação de produtos derivado da produção agrícola e pecuária do

país, as exportações da Rússia para o Brasil estão concentradas na comercialização de matérias-

primas derivadas de extração mineral e fertilizantes químicos que além de possuírem maior valor

agregado exigem maior emprego tecnológico que os utilizados na concepção dos produtos

brasileiros.

Relembrando as palavras de Jim O’Neill, nos BRIC’s pode-se ver que Rússia e Brasil

estão seguindo as suas funções de grandes produtores e exportadores de matérias-primas

inclusive no comércio bilateral existentes entre eles, e que, mesmo estando as transações

bilaterais entre Brasil e Rússia concentradas em matérias-primas, a situação comercial do Brasil

não é muito favorável, visto que a diferença no emprego de tecnologia dos produtos russos para

os brasileiros faz com que os últimos tenham menor valor comercial o que diminui os ganhos do

país nas negociações internacionais, podendo no futuro provocar déficits substanciais na Balança

Comercial brasileira também com a Rússia.

3.4. Comércio Brasil X Índia

Ocupando no ano de 2003 a vigésima primeira posição no ranking dos principais

parceiros comerciais do Brasil este país possui pouca representatividade comercial para o Brasil

devido a sua pequena participação nos saldos da Balança Comercial brasileira, e quando este é

superavitário ainda é pouco expressivo.

No Gráfico 10, pode-se observar que a relação comercial do Brasil com a Índia apresenta-

se deficitária para o Brasil. Percebe-se ainda que mesmo naqueles momentos em que o saldo da

Balança Comercial foi superavitário, houve um volume muito pequeno frente a outros parceiros

Page 56: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

56

comerciais. Os produtos adquiridos pela Índia do Brasil são basicamente matéria-prima com

pouca ou nenhuma tecnologia empregada.

-3.000.000.000

-2.500.000.000

-2.000.000.000

-1.500.000.000

-1.000.000.000

-500.000.000

0

500.000.000

1.000.000.000

1.500.000.000

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Anos

US

$ M

ILH

ÕE

S

Gráfico 10 – Evolução do saldo da Balança Comercial entre Brasil X Índia – 1987 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Nota-se também no gráfico anterior que a relação comercial do Brasil com a Índia além de

ser altamente deficitária para o Brasil apresenta déficits crescentes desde 2005.

No Gráfico 11, é possível constatar que a evolução da participação indiana nas

importações e exportações brasileiras no período de 1992 a 2009. Com estas informações

percebe-se que apesar das exportações brasileiras para a Índia terem apresentado pequena

participação na Balança Comercial brasileira no período de 2001 a 2008 o mesmo não ocorreu

com as importações, pois neste período do Governo Lula as importações brasileiras oriundas da

Índia foram superiores 0,8% do total importado pelo Brasil de todo o mundo.

Outro fator relevante a ser notado é que ao mesmo tempo em que as exportações da Índia

ganhavam importância no montante total importado pelo Brasil do mundo, as exportações do

Brasil para a Índia perdiam participação no montante exportado. A única exceção que se percebe

é o montante exportado em 2009 onde as exportações para a Índia contabilizaram mais de 2% de

tudo o que o Brasil exportou no ano. Porém o resultado superavitário de 2009 superior a US$ 1,2

Bilhões só começou a ser construído a partir do mês de Abril deste ano, visto que até este mês o

saldo comercial corrente entre estes dois países era deficitário para o Brasil em mais de US$ 170

milhões

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57

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Pa

rtic

ipa

çã

o %

Im

po

rta

çã

o e

Ex

po

rta

çã

o

Participação % das exportações da Índia no total exportadospelo Brasil

Participação % das importações da Índia no total importadospelo Brasil

Gráfico 11 - Relação Brasil x Índia – participação percentual das exportações e importações indianas no total exportado e importado pelo Brasil – 1992 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC

.

O Gráfico 12, apresenta a Balança bilateral entre Brasil e Índia no período de 1994 a

2009, mandatos de FHC e Lula, onde se percebe que é a partir do primeiro mandato do Governo

Lula que o comércio entre Brasil e Índia é intensificado passando a ter maior peso na Balança

Comercial brasileira.

-3.000.000.000

-2.000.000.000

-1.000.000.000

0

1.000.000.000

2.000.000.000

3.000.000.000

4.000.000.000

US

$ B

ilh

õe

s F

OB

Exportação Importação Saldo Comercial

Gráfico 12 – Balança Bilateral Brasil x Índia – 1994 a 2009.Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

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58

Nota-se que a intensificação da participação indiana na Balança Comercial brasileira até

2008 não era favorável ao Brasil visto que os déficits comerciais foram crescentes ano após ano.

A reversão neste quadro comercial em 2009 pode ser explicada pela intensiva campanha

diplomática e comercial de Lula realizada neste ano e pelas crescentes necessidades que esse

país, como já foi estudado anteriormente, necessita incrementar sua infraestrutura para fazer

frente ao seu desenvolvimento econômico e financeiro. Contudo o histórico comercial de Brasil e

Índia apenas reforça a hipótese de que o Brasil está intensificando o comércio internacional com

os demais países dos BRIC’s durante um período de forte recessão internacional onde os países

necessitam cada vez mais impulsionar o desenvolvimento interno para garantir a evolução de seu

crescimento econômico, haja vista que o comércio internacional encontra-se em desaceleração

devido a redução do poder de compra do principal comprador internacional (EUA).

Logo esse superávit comercial com a Índia assim como o conseguido com os demais

BRIC’s em 2009 não é motivo de grandes comemorações na área comercial brasileira, pois não

será permanente visto que logo haverá um ponto de saturação no investimento em infraestrutura

destes países e conseqüentemente as importações por partes destes haverá de se reduzir voltando

aos patamares anticrese e a Balança Comercial brasileira com esses poderá voltar a ser negativa.

Na Tabela 8, estão apresentadas as exportações do Brasil para a Índia por fator agregado

no período de 1994 a 2009. Percebe-se que em 1994 o intercâmbio comercial estava baseado na

comercialização de produtos industrializados onde estes representavam mais de 90% das

mercadorias transacionadas.

Neste intercâmbio também é possível ver de forma clara ao se comparar a Tabela 8 com o

Gráfico 12, que mesmo existindo um superávit comercial pouco expressivo em alguns anos esses

coincidem com os períodos que houve maior exportação de produtos industrializados que

primários como ocorre em 1994 e 1999, por exemplo. A exceção neste cenário está em 2009

onde as exportações de produtos primários foram bastante expressivas e mesmo assim tem-se um

superávit comercial que se comparados aos demais anos torna-se bastante expressivo. Contudo

nota-se também que mesmo havendo intensificação nas exportações de produtos primários em

2009 a relação percentual da exportação destes naquele ano é relativamente inferior ao ocorrido

em 2005, ano em que, como pode ser observado no Gráfico 12, inicia-se uma seqüência de

déficits comerciais crescentes que só vem a permitir uma mudança de cenário comercial em

Page 59: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

59

2009, ano inclusive que o percentual de produtos básicos transacionados é inferior a 2008, ano de

maior déficit comercial registrado nesta Balança Bilateral desde 1987.

Tabela 8 – Exportações Brasil x Índia por fator agregado – 1994 a 2009.

AnoProdutos Básicos

IndustrializadosSemimanuf. Manufaturados

1994 6,55% 69,89% 23,55%

1995 13,66% 53,73% 32,57%

1996 27,44% 11,15% 61,37%

1997 18,30% 19,98% 61,66%

1998 19,19% 25,70% 55,06%

1999 8,82% 26,66% 64,50%

2000 12,48% 37,07% 50,42%

2001 19,29% 45,90% 34,77%

2002 55,60% 28,71% 15,67%

2003 50,23% 26,70% 23,05%

2004 15,66% 44,37% 39,92%

2005 11,74% 41,78% 46,40%

2006 39,85% 19,74% 40,40%

2007 36,69% 30,41% 32,86%

2008 33,58% 28,10% 38,23%

2009 32,66% 44,64% 22,68%Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC.

Na Tabela 9 estão relacionados os dez principais produtos que compõem a Balança

Comercial do Brasil com a Índia no período de 2007 a 2009, onde se pode perceber que o

comércio bilateral é significativamente desfavorável ao Brasil, pois ao passo que os produtos

exportados para a Índia possui como carro chefe o Açúcar de Cana em Bruto e os Óleos Brutos

de Petróleo, o principal produto importado da Índia é o Óleo Diesel, seguido por geradores de

energia eólica, ambos de relevante valor agregado quando comparados aos exportados para este

país.

Faz necessário também salientar que retirando o Óleo Diesel, principal produto importado

da Índia (que apesar de também passar por um processo de modificação industrial é uma

commoditie), os demais produtos que compõem as exportações indianas para o Brasil são de alto

valor agregado pouco intensivos em recursos naturais e intensivos em tecnologia

Page 60: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

60

Tabela 9 – Comércio Bilateral Brasil x Índia os dez principais produtos comercializados – 2007 a 2009.

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

2009 2008 2007Valor FOB Part. % Valor FOB Part. % Valor FOB Part. %

TOTAL DOS DEZ PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

2.856.370.804 83,64% 530.444.352 49,45%

475.503.156

49,64%

ACUCAR DE CANA,EM BRUTO 1.326.128.646 38,83% 43.663.811 3,96%   --OLEOS BRUTOS DE PETROLEO 872.716.624 25,56% 12.955.901 1,18%   ---OUTS.ACUCARES DE CANA,BETERRABA, SACAROSE QUIM.PURA,SOL.

143.271.192 4,20% 19.249 0,00% 10.509.085 1,10%

SULFETOS DE MINERIOS DE COBRE 134.611.477 3,94% 219.770.807 19,94% 235.716.868 24,61%OLEO DE SOJA,EM BRUTO,MESMO DEGOMADO

132.289.236 3,87% 189.672.492 17,21% 181.464.841 18,94%

ALCOOL ETILICO N/DESNATURADO C/VOL.TEOR ALCOOLICO>=80%

125.425.580 3,67% 31.763.450 2,88% 1.714.753 0,18%

OUTROS LAMIN.FERRO/ACO,L>=6DM, QUENTE,ROLOS,E<3MM

86.157.760 2,52% --- 0,00% 1.563.798 0,16%

OUTRAS FORMAS DE AMIANTO (ASBESTO)

35.770.289 1,05% 32.598.642 2,96% 32.637.277 3,41%

MOTOR ELETR.CORR.ALTERN.TRIF.75KW<POT<= 7500KW

33.243.497 0,97% 14.716.974 1,34% 10.332.736 1,08%

OUTS.LAMIN.FERRO/ACO,L>=6DM,QUENTE,ROLOS,3MM<=E<=4.75MM

25.301.879 0,74% --- 0,00% 1.563.798 0,16%

PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

2009 2008 2007

Valor FOB Part. % Valor FOB Part. % Valor FOB Part. %TOTAL DOS DEZ PRINCIPAIS

PRODUTOS IMPORTADOS1.024.112.604 46,74% 2.115.973.842 59,37

% 1.330.893.319

61,48%

"GASOLEO" (OLEO DIESEL) 541.914.840 24,73% 1.525.382.629 42,80% 1.084.090.155 50,08%OUTROS GRUPOS ELETROG.DE ENERGIA EOLICA

160.142.781 7,31% 107.184.257 3,01% 27.039.846 1,25%

OUTS.COMPOSTOS HETEROCICL.C/1 CICLO TIAZOL N/CONDENSADO

77.225.279 3,52% 75.385.636 2,12% 63.640.868 2,94%

FIO ALGODAO>=85%,CRU,SIMPL.FIBRA PENT.192.3D<=T<232.56D

56.322.044 2,57% 99.038.795 2,78% 10.826.705 0,50%

FIO DE FIBRAS ARTIFICIAIS>=85%,SIMPLES

41.802.770 1,91% 34.210.810 0,96% 36.852.781 1,70%

FIOS SIMPL.POLIÉSTERES ORIEN.S/C TORÇ.50VOL/M

38.070.058 1,74% 56.124.235 1,57% 39.072.590 1,80%

COQUES DE HULHA,DE LINHITA OU DE TURFA

34.819.973 1,59% 108.488.709 3,04% 5.938.046 0,27%

FIO TEXTURIZADO DE POLIESTERES 34.108.207 1,56% 71.188.017 2,00% 40.811.976 1,89%FIO DE FIBRAS DE POLIESTERES COM FIBRAS ARTIFICIAIS

20.694.520 0,94% 21.671.179 0,61% 12.940.888 0,60%

CORANTES REAGENTES E SUAS PREPARACOES

19.012.132 0,87% 17.299.575 0,49% 9.679.464 0,45%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do MDIC

Nesta tabela também pode ser observado que há grande concentração na pauta de

exportação brasileira com a Índia, assim como ocorre com os demais componentes dos BRIC’s,

visto que ao passo que em 2009 os dez principais produtos exportados pelo Brasil para a Índia

Page 61: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

61

correspondiam a 83,64% da pauta de exportação, e os dez principais importados representavam

apenas 46,74% da pauta de exportação indiana para o Brasil.

Outro interessante fator a ser observado é que ao passo que de 2007 a 2009 houve uma

maior concentração da pauta de exportação brasileira na pauta de exportação indiana ocorreu

exatamente o inverso, o que demonstra que o Brasil esta mais vulnerável comercialmente em

relação à Índia que esta em relação ao Brasil, haja vista este além de estar focado na exportação

de matérias-primas, também está concentrando suas exportações em um pequeno número de

produtos.

A seguir são delineadas as considerações finais do trabalho onde apresentar-se-á a

confirmação ou não da hipótese delineada no início deste trabalho.

Page 62: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

62

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar o intercâmbio comercial entre as nações é de relevante importância quando se

pretende conhecer a capacidade econômica e comercial de um país, haja vista que é através do

estudo da evolução de sua Balança Comercial que se pode avaliar o processo desenvolvimentista

nacional e o nível de especialização deste país frente a seus concorrentes internacionais. Neste

contexto, o objetivo geral deste trabalho era estudar o fluxo de comércio brasileiro com os demais

países que compõem o BRIC (Rússia, Índia e China), de forma tal a compreender a relação

comercial existente entre estes países e a importância destes intercâmbios comerciais para a

economia nacional.

Para tanto o primeiro capítulo desta pesquisa estudou os princípios fundamentais que

envolvem a temática do comércio internacional, e os motivos que tornam o comércio

internacional uma das estratégias relevantes ao desenvolvimento econômico nacional.

O segundo capítulo é um breve histórico dos BRIC’s, onde se estudou as características

políticas, econômicas e sociais dos quatro países que segundo Jim O’Neill, em 2050 serão as

principais potências econômicas mundial. O conteúdo abordado neste capítulo permitiu perceber

quais são as principais peculiaridades que tornam estes países grandes potências emergentes e

quais podem impedir que suas economias desenvolvam-se de forma expressiva para que se

tornem potências mundiais.

O estudo dos países que compõem os BRIC’s permitiu perceber entraves econômicos

importantes como, por exemplo, a baixa taxa de natalidade e mortalidade chinesa que está

provocando a inversão da pirâmide etária nacional o que diminui a sua população

economicamente ativa e aumenta os custos de manutenção da sociedade; os reduzidos

investimentos russos em infraestrutura e educação, que estão tornando a robusta infraestrutura e o

elevado nível educacional herdados da extinta URSS em um entrave de grandes proporções ao

desenvolvimento econômico russo; a precária infraestrutura indiana e brasileira que desestimula o

investimento direto estrangeiro pela dificuldade de escoamento da produção nacional.

Constatou-se ainda que a mola propulsora do desenvolvimento econômico destes países

por outro lado é: na China o elevado nível de escolaridade de sua população os significativos

investimentos em infraestrutura e a capacidade global de concorrência externa; o

desenvolvimento da Rússia e do Brasil em contra partida está apoiado na exportação de matérias-

Page 63: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

63

primas e o desafio destes dois países é tornar o comércio de commodities um mecanismo para

alavancar sua importância econômica mundial através do investimento dos recursos resultantes

do comércio internacional em áreas estratégias como a educação, infraestrutura e indústria de

bens de capital e tecnologia; a Índia, o grande elefante asiático, tem como principal propulsor de

seu desenvolvimento econômico os volumosos investimentos em tecnologia, o nível educacional

de sua população e o baixo custo da mão-de-obra nacional que atrai grandes somas de

investimento direto estrangeiro com o objetivo de sediar no país os setores de serviços de

empresas multinacionais.

Como pôde ser conferido no capítulo dois, todos os países que compõem o BRIC’s

enfrentam problemas significativos que podem comprometer sua candidatura as grandes

potências econômicas de 2050, mas que também possuem grande fôlego econômico e financeiro

tornando o estudo de Jim O’Neill muito relevante.

No terceiro capítulo deste trabalho procurou-se compreender o comércio bilateral entre o

Brasil e os demais componentes dos BRIC’s (Rússia, Índia e China) de forma tal que fosse

possível verificar a validade da hipótese de que o comércio existente entre esses era desfavorável

ao Brasil uma vez que o Brasil exporta para esses países produtos de baixo valor agregado

(essencialmente commodities), e em contra partida importa produtos de alto valor agregado

(baseados em tecnologia) o que coloca o país em relação a esses parceiros comerciais em uma

situação comercial deficitária.

Tendo o exposto percebe-se que o comércio brasileiro com os demais componentes dos

BRIC’s, com exceção da Rússia, é altamente deficitário para o Brasil principalmente na relação

comercial bilateral com a China onde com exceção do ocorrido em 2009 (ano em a China para

manter o aquecimento da economia interna frente à crise internacional investiu expressivamente

em sua infraestrutura importando volumes significativos de matéria-prima), os déficits comerciais

são crescentes prejudicando o saldo da Balança Comercial brasileira.

Este cenário deficitário no que tange a Balança Comercial brasileira é ocasionado pela

qualidade do intercâmbio comercial brasileiro com os demais países que compõem os BRIC’s,

haja vista que a grande concentração nacional na produção e comercialização de matérias-primas,

a ineficiência da indústria brasileira em produzir e comercializar em grande escala produtos de

alto valor agregado a preços internacionalmente competitivos capazes de rivalizar com grandes

potências industriais, somados ao pequeno incentivo governamental de desenvolvimento da

Page 64: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

64

produção industrial colocam o Brasil a mercê das oscilações externas na demanda internacional

de commodities, tornando-o ano após ano apenas um grande produtor e exportador de insumos

para o desenvolvimento econômico de outros países. Portanto, acredita-se que a hipótese

previamente levantada foi confirmada com o presente estudo.

Page 65: BRIC'S - O COMERCIO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL, RUSSIA INDIA E CHINA.

65

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