Bruno Bauer e o Início Do Cristianismo

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MIA > Biblioteca > Marx/Engels > Novidades Bruno Bauer e o Início do Cristianismo Friedrich Engels 11 de Maio de 1882 Primeira Edição: Sozialdemokrat, de 411 de maio de 1882. Fonte: A tradução foi realizada a partir da versão inglesa constante do MIA . Tradução: Wellington de Lucena Moura HTML: Fernando A. S. Araújo . Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License. Em Berlim, em 13 de abril, morreu um homem que atuou como filósofo e teólogo, mas, durante anos, dificilmente se ouvia falar dele, somente atraindo a atenção pública eventualmente como um "literato excêntrico". Teólogos oficiais, inclusive Renan , corresponderamse com ele e, mesmo assim, mantiveram sobre ele um silêncio de morte. E ele valia mais do que todos eles e fez mais que todos eles em uma questão que também interessa a nós, Socialistas: a pergunta pela origem histórica do Cristianismo. Por ocasião da sua morte, vamos fazer um breve relato da situação atual da questão, e da contribuição de Bauer para a sua solução. A visão que dominou os livrespensadores da Idade Média incluindo os Iluministas do século XVIII, de que todas as religiões eram obra de enganadores, e, portanto, o Cristianismo também, não era mais suficiente depois que Hegel fixou para a filosofia a tarefa de mostrar a evolução racional na história mundial. É claro que se espontaneamente surgem religiões como a adoração de feitiços dos Negros ou a religião comunal dos arianos primitivos — sem qualquer engodo inicial, entretanto, o engano, através dos sacerdotes, logo se torna inevitável no seu desenvolvimento subsequente. Apesar de toda fé sincera, religiões artificiais não podem permanecer, desde a sua fundação, sem engano e falsificação histórica. O Cristianismo, também, pode se gabar de grandes realizações a este respeito desde o início, como Bauer mostrou em sua crítica do Novo Testamento. Mas isto somente confirma um fenómeno geral e não explica o caso particular em questão.

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Artigo de Friedrich Engels sobre a critica do cristianismo por Bruno Bauer. (Marxists Archive)

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    BrunoBauereoInciodoCristianismoFriedrichEngels

    11deMaiode1882

    PrimeiraEdio:Sozialdemokrat,de411demaiode1882.Fonte:AtraduofoirealizadaapartirdaversoinglesaconstantedoMIA.Traduo:WellingtondeLucenaMouraHTML:FernandoA.S.Arajo.DireitosdeReproduo:AcpiaoudistribuiodestedocumentolivreeindefinidamentegarantidanostermosdaGNUFreeDocumentationLicense.

    EmBerlim,em13deabril,morreuumhomemqueatuoucomofilsofoe telogo,mas, durante anos, dificilmente se ouvia falar dele, somenteatraindoaatenopblicaeventualmente comoum"literatoexcntrico".Telogosoficiais, inclusiveRenan, corresponderamse comelee,mesmoassim,mantiveram sobre ele um silncio demorte. E ele valiamais doque todoselese fezmaisque todoselesemumaquestoque tambminteressa a ns, Socialistas: a pergunta pela origem histrica doCristianismo.

    Por ocasio da suamorte, vamos fazer um breve relato da situaoatualdaquesto,edacontribuiodeBauerparaasuasoluo.

    AvisoquedominouoslivrespensadoresdaIdadeMdiaincluindoosIluministas do sculo XVIII, de que todas as religies eram obra deenganadores,e,portanto,oCristianismotambm,noeramaissuficientedepois que Hegel fixou para a filosofia a tarefa de mostrar a evoluoracionalnahistriamundial.

    claroqueseespontaneamentesurgemreligiescomoaadoraodefeitiosdosNegrosouareligiocomunaldosarianosprimitivossemqualquer engodo inicial, entretanto, o engano, atravs dos sacerdotes,logosetorna inevitvelnoseudesenvolvimentosubsequente.Apesardetoda f sincera, religies artificiais nopodempermanecer, desde a suafundao, sem engano e falsificao histrica. O Cristianismo, tambm,podesegabardegrandesrealizaesaesterespeitodesdeoincio,comoBauer mostrou em sua crtica do Novo Testamento. Mas isto somenteconfirmaumfenmenogeralenoexplicaocasoparticularemquesto.

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    A religio que subjugou o Imprio Romano e dominou semdvida amaior parte da humanidade civilizada por 1.800 anos, no pode serexplicadaapenasdeclarandoserelaumatoliceresultantedefraudes.Nosepodeelucidarestaquestoetersucessonaexplicaodasuaorigeme do seu desenvolvimento sem partir das condies histricas sob asquais surgiu e alcanou o domnio da situao. Isto se aplica aoCristianismo.Aquestoasersolucionada,ento,:comoaconteceuqueasmassaspopularesnoImprioRomanopreferiramestatolicequeeraaceita, normalmente, pelos escravos e oprimidos a todas as outrasreligies, e, finalmente porque o ambicioso Constantino viu na adoodesta religio tola o melhor meio de elevar a si mesmo ao posto deautocratadomundoromano.

    Bruno Bauer contribuiu mais para a soluo desta questo quequalqueroutrapessoa.No importaquantoos telogosmeiocrentesdoperodo da reao tenham lutado contra ele desde 1849, eleirrefutavelmente demonstrou a ordem cronolgica dos Evangelhos e suainterdependncia mtua, demonstrada por Wilke do ponto de vistapuramentelingustico,peloprpriocontedodosEvangelhos.EleexpsacarnciacompletadeespritocientficodavagateoriademitodeStrauss,deacordo comaqual sepode considerar comohistrico tudoquanto segostanasnarraesdoEvangelho.E,sequasenadadocontedo inteirodos Evangelhos historicamente provvel de forma que at aexistncia histrica de Jesus Cristo pode ser questionadaBauer tem,assim, iluminado os fundamentos para a soluo da pergunta: qual aorigemdasidiasepensamentosqueforamtecidoscomoumaespciedesistemanoCristianismo,ecomoveioeleadominaromundo?

    Bauer estudou esta pergunta at a sua morte. Sua investigaoalcanou seu ponto alto na concluso que o judeu de Alexandria, Filon,que ainda vivia por volta de 40D.C.,mas j eramuito velho, foi o paiverdadeirodoCristianismo,equeoesticoromanoSnecaera,porassimdizer,seutio.AescritanumerosaatribudaaFilonquenosalcanoutemorigemrealmenteemumafusoalegricaeracionalisticamenteconcebidadastradiesjudaicascomasgregas,particularmenteafilosofiaestica.Estaconciliaodeperspectivasocidentaiseorientaisjencerratodasasidias essencialmente Crists: o pecado inato do homem, o Logos, aPalavra, que est comDeus e Deus e que se torna omediador entreDeus e homem: a compensao, no por sacrifcios de animais, mastrazendose o prprio corao a Deus, e finalmente a caractersticaessencial que na nova filosofia religiosa, invertendo a ordem mundialanterior, busca seus discpulos entre os pobres, os miserveis, osescravos, e os rejeitados, e menospreza o rico, o poderoso e oprivilegiado,originandoopreceitoparamenosprezartodoprazermundanoemortificaracarne.

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    Poroutrolado,AugustoviaemsimesmonosoDeushomem,mastambmachamadaconcepo imaculadaquese tornou frmula impostaoficialmente. Ele no s teve Csar e ele mesmo idolatrados comodeuses,mastambmespalhouanooqueele,AugustusCaesarDivus,oDivino,noerafilhodeumpaihumano,masquesuameoconcebeudodeus Apolo. Mas no seria talvez o Apolo citado na cano de HeinrichHeine?[RefernciaaApollgott,deHeine.].

    Comovemos,nsprecisamosapenasdapedrafundamentaleteremosoconjuntodoCristianismoemsuascaractersticasbsicas:aencarnaoda Palavra se torna homem emuma pessoa definida e seu sacrifcio nacruztrazaredenodahumanidadepecadora.

    As fontes mais confiveis no nos do certeza sobre quando estapedra fundamental foi introduzida nas doutrinas esticofilnicas. Masuma coisa certa: no foi introduzida por filsofos, nem discpulos deFilon ou esticos. As religies so fundadas por pessoas queexperimentamumanecessidadeprpriadereligioe tmumapercepodasnecessidades religiosasdasmassas.Como regra,estenoocasodosfilsofosclssicos.Poroutrolado,nsobservamosqueemtemposdedecadnciageral,agora,porexemplo,afilosofiaeodogmatismoreligiosogeralmente aparecem em sua forma vulgar e superficial. Enquanto afilosofia grega clssica em suas ltimas formas particularmente naescola Epicurista leva ao materialismo atestico, a Filosofia gregavulgar leva doutrina de um Deus nico e da imortalidade da almahumana. O Judasmo tambm, racionalmente vulgarizado em mistura eintercurso com estrangeiros e meiojudeus, acaba negligenciando acerimnia e transforma o antigo deus judeu exclusivamente nacional,Jahveh, no nico Deus verdadeiro, o criador de cu e Terra, e adota aidia da imortalidade da alma, que era estranha ao Judasmo inicial.Deste modo, a filosofia vulgar monotesta entrou em contacto com areligiovulgar,aqualpresenteoucomojelaboradoDeusnico.Assim,o caminho foi preparado pela elaborao entre os judeus das tambmvulgarizadasnoes filnicas,enodosprprios trabalhosdeFilon,dasquais o Cristianismo procede, como est provada pelo quase totaldescuido com que foi composta a maior parte do Novo Testamento,particularmente a interpretao alegrica e filosfica das narraes doVelhoTestamento.EsteumaspectoaoqualBauernodedicouatenosuficiente.

    PodeseterumaidiadoqueeraoCristianismoemsuaformainiciallendoochamadoLivrodoApocalipse,deSoJoo.Selvageria,fanatismoconfuso, dogmas incipientes, amoral Crist apenas amortificao dacarne, mas h uma multido de vises e profecias. O desenvolvimentodosdogmasedoutrinasmoraispertenceaumperodoposterior,noqual

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    os Evangelhos e as chamadas Epstolas dos Apstolos foram escritos.Nestasltimaspelomenoscomoconsideraomoralafilosofiadosesticos, de Sneca em particular, foi copiada sem qualquer cerimnia.Bauer provou que as Epstolas, frequentemente, copiam os antigospalavraporpalavra de fato, qualquer fiel nota isto, masmesmo assimeles mantm que Sneca copiou o Novo Testamento, embora ele aindanohouvessesidoescritonaqueletempo.Odogmafoidesenvolvido,porumladocomrelaolendadeJesusqueestava,ento,seformando,e,poroutrolado,nalutaentrecristosdeorigemjudaicaedeorigempag.

    BauertambmfornecedadosvaliosossobreascausasqueajudaramoCristianismoatriunfareatingiradominaomundial.Masaquiofilsofoalemo impedido por seu idealismo de ver claramente e formularprecisamente. As frases frequentemente substituem a substncia empontosdecisivos.Aoinvs,ento,deentraremdetalhessobreasvisesdeBauer,daremosanossaprpriaconcepodesteponto,baseadosemtrabalhosdeBauer,etambmemnossoestudopessoal.

    A Conquista romana dissolveu em todos os pases que dominou,primeiro, diretamente, as condies polticas antigas, e depois,indiretamente,tambmascondiessociaisdevida.

    Primeiramente, substituindo a antiga organizao fundamentada naspropriedades (escravido parte) pela distino simples entre cidadosromanoseperegrinosouvassalos.

    Depois, e principalmente, pelo severo tributo em nome do Estadoromano. Se, debaixo do imprio, era fixado um limite ao interesse doestadoparacontera sedede riquezadosgovernadores,aquelasede foisubstituda pela taxao mais efetiva e opressiva em benefcio datesourariaoficial,cujoefeitoeraterrivelmentedestrutivo.

    Emterceirolugar,aLeiromanaera,emltimainstncia,administradaemtodapartepor juizes romanos,enquantoosistemasocialnativoeraanuladonocasodeconflitoscomasprescriesdaleiromana.

    Estas trs alavancas necessariamente desenvolveram um tremendonivelamento de poder, particularmente quando foram aplicados porcentenas de anos a populaesdas quais as parcelasmais vigorosastinham sido ou eliminadas ou escravizadas nas batalhas precedentes,acompanhando, e frequentemente seguindo, a conquista. As relaessociaisnasprovnciasficaramcadavezmaisprximasdoquedependiadacapital e da Itlia. A populao se tornou cada vez mais nitidamentedividida em trs classes, ignorando os mais variados elementos enacionalidades:pessoasricas,incluindoalgunsescravosemancipados(cf.Petrnio),grandesproprietriosdeterrasouagiotasouambosdeumas

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    vez, como Sneca, o tio do Cristianismo pessoas livres despossudas,que, em Roma, eram alimentadas e divertidas pelo estado mas nasprovncias viviam como podiam, sem ajuda e, finalmente, a grandemassa, os escravos. Em face do Estado, isto , do Imperador, as duasprimeirasclassestinhamtopoucosdireitosquantoosescravosemfaceaos seus senhores. Do tempo de Tibrio ao de Nero, em particular, eraumaprtica condenar cidados romanos ricosmortea fimde confiscarsuapropriedade.Osuportedogovernoeramaterialmente,oexrcito,queeramaisumexrcitodesoldadosestrangeiroscontratadosdoquedevelhos camponeses romanos, e moralmente, a viso geral de que nopoderia ser de outro modo que no era este ou aquele Csar, mas oimprio fundamentado na dominao militar que era uma necessidadeimutvel. Aqui no o lugar para examinar os fatos materiais quejustificamestaviso.

    A perda geral de direitos e a falta de possibilidades demelhorar decondioocasionaramumcorrespondenteafrouxamentoedesmoralizaogeral.OspoucosRomanosvelhos,sobreviventesdotipopatrcio,oueramremovidos ou mortos Tcito foi o ltimo deles. Os outros ficavamcontentes quando podiam manterse afastados da vida pblica todarazoparavivererajuntaredesfrutardariqueza,epraticarafofocaeaintriga privada. Os cidados livres despossudos eram pensionistas emRoma,masnasprovnciassuacondioerainfeliz.Tiveramquetrabalharecompetircomotrabalhoescravopelosalrio.Maseramconfinadosnascidades. Alm deles, existiam tambm os camponeses das provncias,livres proprietrios de terras (ambos, provavelmente, com propriedadescomunais) ou, como na Glia, fiadores das dvidas dos grandesproprietrios de terras. Esta classe era a menos afetada pelo motimsocial tambmeraaque resistiamais tempoaomotimreligioso. [Notade Engels: Conforme Fallmereyer, os camponeses emMain, Peloponeso,aindaofereciamsacrifciosaZeusnosculoIX.]Finalmente,existiamosescravos, destitudos de direitos e de si prprios e da possibilidade delibertao, comoaderrotadeSpartacus jprovaraamaiorpartedeles,porm,foramantescidadoslivres,oufilhosdecidadoslivresnascidos.Deveria, ento,haver aindaentreelesumdiogeneralizadoevigoroso,entretanto, externamente impotente, por causa das suas condies devida.

    Devemos encontrar o tipo de idelogo que correspondia situaodaquelemomento. Os filsofos eram ou professores que ensinavam pordinheiro ou palhaos pagos para divertir os ricos. Alguns eram atescravos. Um exemplo do que se tornaram eles sob boas condies fornecidoporSneca.Esteestico,pastordavirtudeedaabstinncia,erao primeiro intrigante da corte de Nero, o que ele no poderia ser semservilismo ele assegurou para si presentes em dinheiro, propriedades,

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    jardins,epalcioseenquantooravapelopobreLzarodoEvangelho,eleera,narealidade,ohomemricodamesmaparbola.AtqueNeroofez solicitar ao imperador que aceitasse a devoluo todos os seuspresentes, pois sua filosofia era o bastante para ele. S os filsofoscompletamente isolados, como Persius, tiveram a coragem de brandir astiraacimade seus contemporneosdegenerados.Umsegundo tipodeidelogos, os juristas, eram entusiastas das novas condies porque aabolio de todas as diferenas entre Estados permitiria a eles largoescoponaelaboraodeseudireito favorito,oprivado,emtrocadequeelesprepararamparaoimperadorosistemaoficialdedireitomaisvilquejexistira.

    Assim como fez com as peculiaridades polticas e sociais dos vriospovos,oImprioRomanotambmfoicondenadoaarruinarsuasreligiesparticulares.TodasasreligiesdeAntiguidadeeramespontneas,tribais,evelhasreligiesnacionais,quesurgiramdafusodascondiessociaisepolticasdosrespectivospovos.Umavezqueestasbasesseromperam,e suas tradicionais formas de sociedade, suas instituies polticasherdadas e suas independncias nacionais foram destrudas, a religiocorrespondente a estas tambm naturalmente desmoronou. Os deusesnacionaispodiamsuportaroutrosdeusesaoladodeles,comoeraaregrageraldaAntiguidade,masnoacimadeles.OtransplantededivindadesOrientais para Roma era prejudicial s para a religio romana, no severificava decadncia das religies Orientais. Assim que os deusesnacionais ficaram incapazes de proteger a independncia de sua naoencontraram sua prpria destruio. Este foi o caso em todos lugares(exceto com camponeses, especialmente nas montanhas). O que oiluminismo filosfico vulgar eu quase disse Voltairianismo fez emRoma e naGrcia, foi feito nas provncias pela opresso romana e pelasubstituio de homens orgulhosos de sua liberdade por submissosdesesperadosemalandrosegostas.

    Tal era a situaomaterial e moral. O presente era insuportvel, apossibilidade do futuro tranquilo, ameaada. E nada, alm disso. S odesesperoourefgionoprazersensualcomum,pelomenosparaaquelesque podiam dispor disto, e estes eram uma minoria minscula. Casocontrrio, nada, almdeesperar o inevitvel.Mas, em todas as classesexistiam necessariamente as pessoas que, desesperando da salvaomaterial,buscavamemseulugarumasalvaoespiritual,umaconsolaoemsuaconscinciaparasalvarsedodesesperoabsoluto.Estaconsolaono podia ser fornecida pelos esticos ou pela escola Epicurista, pelarazodequeestes filsofosnoeramvoltadospara conscincia comume,secundariamente,porqueacondutadediscpulosdestasescolastrouxeodescrditoemsuasdoutrinas.Aconsolaoeraumsubstituto,noparaa filosofia perdida, mas para a religio perdida teve que tomar uma

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    formareligiosa,amesmaquedealgumamaneira,segurouasmassasato sculo XVII. Precisamos notar apenas que a maioria daqueles queestavamsensveisparatalconsolaodesuaconscincia,paraestevodo mundo externo para o interno, estavam necessariamente entre osescravos.Foinomeiodestadecadnciaeconmica,poltica, intelectualemoralqueoCristianismoapareceu.Eentroucomoumaantteseresolutaatodasasreligiesanteriores.

    Emtodasasreligiesanteriores,acerimniaeraacoisaprincipal.Stomando parte nos sacrifcios e procisses, e, noOriente, observando adietamaisdetalhadaepreceitosdelimpeza,podiaalgummostraraquereligiopertencia.EnquantoRomaeaGrciaeram tolerantesa respeitodisto, existia noOrienteuma revolta contra as proibies religiosas quecontriburammuitoparaasuaquedafinal.Pessoasdeduasdasreligiesdiferentes,(EgpciosPersas,judeus,Caldeus)nopodiamcomeroubeberjuntos,apresentarseeagir juntos,oumesmofalarumcomooutro.Eracertamente devido a esta segregao do homem pelo homem que oOriente desmoronava. O cristianismo no possua nenhuma formalidadedistintiva, nem mesmo os sacrifcios e procisses do mundo clssico.Destemodo, rejeitando todasas religiesnacionaisesuas formalidadescomuns,edirigindosediretamenteatodasaspessoassemdistino,setornouaprimeirareligiomundialpossvel.Ojudasmotambm,comseunovodeusuniversal,fezumcomeoacaminhodesetornarumareligiouniversalmasosfilhosdeIsraelsemprepermaneceramumaaristocraciaseparandooscrenteseoscircuncidados,eoprprioCristianismotevequeselivrardanoodasuperioridadedoscristosjudeus(aindadominantenochamadoApocalipse,deSoJoo)antesdepoderrealmentesetornaruma religio universal. O Isl, por outro lado, preservando a cerimniaespecificamenteOriental,limitouareadesuapropagaoaoOrienteefricadoNorte, conquistadaepovoadanovamenteporbedunosrabesalielepodesetornarareligiodominante,masnonoOeste.

    Secundariamente,oCristianismoatingiuumtomqueestavadestinadoaecoaremincontveiscoraes.Atodasasreclamaessobreamaldadedostemposeaangstiamoralematerial,aconscinciacristdopecadoresponde: assim e no pode ser de outro modo tu ardes em culpa,somos todos culpados pela corrupo do mundo, por nossa prpriacorrupo interna! E onde estava o homem que podia negar isto? Meaculpai A admisso da parte de cada um na responsabilidade pelainfelicidade geral era irrefutvel e era a prcondio para a salvaoespiritualqueoCristianismoaomesmotempoanunciava.Eestasalvaoespiritualestavatoinstitudaquepodiaserfacilmentecompreendidapormembros de toda a comunidade religiosa antiga. A idia do pagamentopara aplacar a deidade ofendida era conhecida em todas as religiesantigascomoaidiadoautosacrifciodomediadorpagandodeumavez

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    Incluso 01/07/2008

    por todasospecadosdahumanidadenopodiaser facilmenteexplicadaassim? O cristianismo, ento, expressou claramente o sentimentouniversal de que os prprios homens so culpados da corrupo geralatravs da conscincia do pecado de cada um ao mesmo tempo,providenciou,nosacrifciodamortedeseujuiz,umasadauniversalmenteesperada pela salvao interna do mundo corrupto, a consolao deconscinciaassimnovamenteocristianismoprovousuacapacidadeparase tornar uma religiomundial e ser, realmente, uma religio adequadaaomundocomoeleeranaqueletempo.

    Assimaconteceuque,entreosmilharesdeprofetasepregadoresdodesertoqueenchiamaqueleperodode incontveis inovaes religiosas,s os fundadores do Cristianismo tiveram sucesso. No s a Palestina,masoOrienteinteirofervilhoucomtaisfundadoresdasreligies,eentreeles travouse o que pode ser chamado uma luta darwiniana pelaexistncia ideolgica. Usando principalmente os elementosmencionadosacima, o Cristianismo "ganhou o dia". Como ele gradualmentedesenvolveu seu carter de religiomundial por seleo natural na lutadasseitasumascontraasoutrasecontraomundopagoexplicadoemdetalhepelosprimeirostrssculosdahistriadaIgreja.

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