Budismo
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Budismo
(páli/sânscrito: बौ�द्ध धर्म� Buddha Dharma) é uma religião1 e filosofia1 2 não-teísta1 que abrange
uma variedade de tradições, crenças e práticas, baseadas nos ensinamentos atribuídos
a Siddhartha Gautama, mais conhecido como Buda (páli/sânscrito: "O Iluminado"). Buda viveu
e desenvolveu seus ensinamentos no nordeste do subcontinente indiano, entre os séculos VI e
IV a. C.3 .
Ele é reconhecido pelos adeptos como um mestre iluminado que compartilhou suas ideias para
ajudar os seres sencientes a alcançar o fim do sofrimento (ou Dukkha), alcançando
o Nirvana (páli: Nibbana) e escapando do que é visto como um ciclo de sofrimento do
renascimento.4
Os ensinamentos de Buda Shakyamuni chegaram ao Tibete pela primeira vez no século V. Foi
somente a partir do século VII, no entanto, quando o Rei Trisong Deutsen convidou da Índia o
monge e erudito Shantarakshita e o Mestre Guru Padmasambava para construírem o
Monastério de Samye, que o budismo firmemente se estabeleceu no país das neves. Durante a primeira fase de propagação do Carma no Tibete, surgiu a escola mais antiga do Budismo
Tibetano, conhecida como Nyingma, palavra tibetana que significa “antigo”.
As quatro escolas; posteriormente, após um período em que um dos reis tentou dizimar o budismo do país, houve um novo fluxo de mestres indianos e novas traduções de
textos sagrados. Com isso formaram-se novas linhagens de práticas. Quatro escolas principais
foram estabelecidas e são conhecidas até hoje: Nyingma, Kagyu, Sakya, Gelupa.
Através dos séculos, os ensinamentos de Buda Shakyamuni foram transmitidos de professor a
aluno por meio das diferentes linhagens de práticas existentes nas quatro escolas principais. A
pureza dos métodos se manteve porque os detentores dessas linhagens alcançaram realização
e maestria das instruções recebidas.
Mesmo o budismo sendo uma prática muito popular na Ásia, os dois ramos são encontrados em todo o mundo. Várias fontes colocam o número de budistas no mundo entre 230 milhões e
500 milhões, tornando-o a quinta maior religião do mundo5 6 .
As escolas budistas variam sobre a natureza exata do caminho da libertação, a importância e
canonicidade de vários ensinamentos e, especialmente, suas práticas7 8 . Entretanto, as bases
das tradições e práticas são as Três Joias: O Buda (como seu mestre),
o Dharma (ensinamentos baseados nas leis do universo) e a Sangha (a comunidade budista)9 .
Encontrar refúgio espiritual nas Três Joias ou Três Tesouros é, em geral, o que distingue um
budista de um não-budista.10 Outras práticas podem incluir a renúncia convencional de vida
secular para se tornar um monge (sânsc.; pāli: Bhikkhu) ou monja (sânsc.; pāli: Bhikkhuni).
A vida de Buda[editar]
Ver artigo principal: Siddhartha Gautama
Gautama com seus cinco companheiros, que, mais tarde, compuseram a primeira Sangha(comunidade
monástica budista). Pintura da parede de um templo no Laos.
[Expandir]
Parte de uma série sobre
Budismo
De acordo com a narrativa convencional, o Buda nasceu em Lumbini (hoje, patrimônio
mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por volta
do ano 566 a. C. e cresceu em Capilvasto 11 : ambos, atuais localidades nepalesas 12 13 . Logo
após o nascimento de Siddhartha, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe, Suddhodana, e
profetizou que Siddhartha iria se tornar um grande rei e que renunciaria ao mundo material
para se tornar um homem santo, se ele, por ventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei, impedindo, assim, que
ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Siddhartha se
aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais
conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"14 ), ele soube do sofrimento das pessoas
comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente,
um ascético sadhu, aparentemente contente e em paz com o mundo. Essas experiências
levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida
espiritual.
Siddhartha Gautama fez uma primeira tentativa, experimentando a ascese e quase morreu de
fome ao longo do processo. Mas, depois de aceitar leite e arroz de uma menina da vila, ele
mudou sua abordagem. Concluiu que as práticas ascéticas extremas, como o jejum
prolongado, respiração sem pressa e a exposição à dor trouxeram poucos benefícios,
espiritualmente falando. Deduziu, então, que as práticas eram prejudiciais aos praticantes15 .
Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que não passa
pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas
de mortificação do corpo16 .
Quando tinha 35 anos de idade, Siddhartha sentou-se embaixo de uma figueira-dos-pagodes
(Ficus religiosa)17 18 hoje conhecida como árvore de Bodhi 16 , localizada em Bodh Gaya,
na Índia e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual19 20 21 .
A lenda diz que Siddhartha conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser
confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências e muitas
vezes é representado por uma cobra naja. Ainda segundo a lenda, Mara teria oferecido
o nirvana à Sidarta, contudo ele teria percebido que isso o levaria a se distanciar do mundo e o
impediria de transmitir seus ensinamentos adiante. Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta
se transformou no Buda, o Iluminado, atraindo um grupo de seguidores e instituiu uma ordem
monástica. A partir de então, passaria seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte
nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a
capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos oitenta anos de idade,
em 483 a. C., em Kushinagar, na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de
Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita
de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em
seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a
renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte22 .
Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong disse: "É obviamente difícil, portanto,
escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca
informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar razoavelmente
confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua
memória, sua vida e seus ensinamentos"23 .
Conceitos budistas[editar]
A vida e o mundo[editar]
Carma: lei de causa e efeito[editar]
Ver artigo principal: Carma no budismo
Tradicional thangka do budismo tibetano alusivo à "Roda da Vida", com seus seis reinos.
No budismo, o Carma (do sânscrito कर्म�, transl. karmam, e em pali, kamma, "ação") é a força
de samsara sobre alguém. Boas ações (páli: kusala), e/ou ações ruins (páli: akisala) geram
"sementes" na mente24 , que virão a aflorar nesta vida ou em um renascimento subsequente 25 .
Com o objetivo de cultivar as ações positivas, o sila é um conceito importante do budismo,
geralmente, traduzido como "virtude", "boa conduta", "moral" e "preceito".
O carma, na filosofia budista, refere-se especificamente a essas ações (do corpo, da fala e da
mente) que brotam da intenção mental (páli: cetana)26 e que geram consequências (frutos) e/ou
resultados (vipaka). Cada vez que uma pessoa age, há alguma qualidade de intenção em sua
mente e essa intenção muitas vezes não é demonstrada pelo seu exterior, mas está em seu
interior e este determinará os efeitos dela decorrentes.
No budismo Teravada, não pode haver salvação divina ou perdão de um carma, uma vez que é
um processo puramente impessoal que faz parte doUniverso. Outras escolas, como a Maaiana,
porém, têm opiniões diferentes. Por exemplo, os textos dos sutras (como o Sutra do
Lótus, Sutra de Angulimala e Sutra do Nirvana) afirmam que, recitando ou simplesmente
ouvindo seus textos, as pessoas podem expurgar grandes carmas negativos. Da mesma forma,
outras escolas, Vajrayana por exemplo, incentivam a prática dos mantras como meio de cortar
um carma negativo27 .
Renascimento[editar]
Ver artigo principal: Renascimento
Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas
como uma das muitas formas possíveis de senciência. Entretanto, o budismo, natural da Índia,
rejeita conceitos de "autoestima" permanente ou "mente imutável", eterna, como é chamada
no cristianismo e até mesmo no hinduísmo, pois, no budismo, existe a doutrina do anatta,
sobre a inexistência de um "eu" permanente e imutável.
De acordo com o budismo, o renascimento em existências subsequentes deve antes ser
entendido como uma continuação dinâmica, um constante processo de mudança - "originação
dependente" (sânscrito: pratītya-samutpāda) - determinado pelas leis de causa e efeito (carma),
em vez da noção de um ser encarnado ou transmigrado de uma existência para outra.
Cada renascimento ocorre dentro de um dos seis reinos, de acordo com os nossos reinos de
desejos, podendo variar de acordo com as escolas28 29 30 :
1. seres dos infernos : aqueles que vivem em um dos muitos infernos;
2. preta : o reino de seres que padecem de necessidades sem alívio, sofrimento,
remorsos, fome, sede, nudez, miséria, sintomas de doenças, entre outros;30
3. animais : um espaço de divisão com os humanos, mas considerado como outra vida;
4. seres humanos : um dos reinos de renascimento, em que é possível atingir o nirvana.
5. semideuses : variavelmente traduzido como "divindades humildes", titãs e antideuses;
não é reconhecido pelas escolas Teravada e Maaiana, que os consideram como devas
de nível mais baixo;
6. deva : comparado ao paraíso;30
O renascimento em alguns dos céus mais altos, conhecido como o mundo de
Śuddhāvāsa (moradas puras), pode ser alcançado apenas por pessoas com enorme realização
espiritual, conhecidos como não-regressistas (sânscrito: anāgāmis). Já o renascimento no reino
sem forma (sânscrito: arupa-dhatu) pode ser alcançando apenas por aqueles que podem
meditar sobre oarupajhanas, o maior objeto de meditação.
De acordo com o budismo praticado no leste asiático e o budismo tibetano, há um estado
intermediário (o bardo) entre uma vida e a próxima. A posição Teravada ortodoxa rejeita esse
conceito, no entanto existem passagens no Samyutta Nikaya do Cânone Páli (coleção de
textos em que a tradição Teravada é baseada) que parecem dar apoio à ideia de que o Buda
ensinou que existe um estado intermediário entre esta vida e a próxima.
O ciclo de samsara[editar]
Ver artigo principal: Samsara
Samsara é o ciclo das existências nas quais reinam o sofrimento e a frustração engendrados
pela ignorância e pelos conflitos emocionais que dela resultam31 . O samsara compreende os
três mundos superiores (deva, semideuses e seres humanos) e os três inferiores (seres dos
infernos, preta e animais), julgados não por um valor, mas em função da intensidade de
sofrimento32 .
Os budistas acreditam, em sua maioria, no samsara. Este, por sua vez, é regido pelas leis do
carma: a boa conduta produzirá bom carma e a má alma produzirá carma maléfico. Assim
como oshindus, os budistas interpretam o samsara não-esclarecido como um estado de
sofrimento. Só nos libertaremos do samsara se atingirmos o estado total de aceitação, visto
que nós sofremos por desejar coisas passageiras, e alcançarmos o nirvana ou a salvação33 .
Sofrimento: causas e soluções[editar]
As Quatro Nobres Verdades[editar]
Ver artigo principal: Quatro Nobres Verdades
De acordo com o Cânone Páli, As Quatro Nobres Verdades foram os primeiros ensinamentos
deixados pelo Buda depois de atingir o nirvana34 . Algumas vezes, são consideradas como a
essência dos ensinamentos do Buda e são apresentadas na forma de um diagnóstico
médico35 :
1. a vida como a conhecemos é finalmente levada ao sofrimento e/ou mal-estar (dukkha),
de uma forma ou outra;
2. o sofrimento é causado pelo desejo (trishna). Isso é, muitas vezes, expressado como
um engano agarrado a um certo sentimento de existência, a individualidade, ou para
coisas ou fenômenos que consideramos causadores da felicidade e infelicidade. O
desejo também tem seu aspecto negativo;
3. o sofrimento acaba quando termina o desejo. Isso é conseguido através da eliminação
da ilusão (maya), assim alcançamos um estado de libertação do iluminado (bodhi);
4. esse estado é conquistado através dos caminhos ensinados pelo Buda.
Esse método é descrito por alguns acadêmicos ocidentais e ensinado como uma introdução ao
budismo por alguns professores contemporâneos do Maaiana, como por exemplo o Dalai
Lama 36 .
De acordo com outras interpretações de mestres budistas e eruditos, e recentemente
reconhecidas por alguns estudiosos ocidentais não-budistas, as "verdades" não representam
meras declarações e/ou indicações, entretanto estas podem ser agrupadas em dois grupos37 :
1. o sofrimento e as causas do sofrimento;
2. a cessação do sofrimento e os caminhos para a libertação.
Assim, a Enciclopédia Macmillan de Budismo simplifica As Quatro Nobres Verdades, deixando-
as da seguinte maneira:
1. "A Verdade Nobre Que Está Sofrendo";
2. "A Verdade Nobre Que É O Surgimento do Sofrimento";
3. "A Verdade Nobre Que É O Fim do Sofrimento";
4. "A Verdade Nobre Que Produz o Caminho para o Fim do Sofrimento".
A compreensão tradicional do Teravada sobre As Quatro Nobres Verdades é que estas são um
ensino avançado para aqueles que estão "prontos"38 . A posição Maaiana é que eles são
ensinamentos prejudiciais para as pessoas que ainda não estão prontas para ensinar26 . No
Extremo Oriente, os ensinamentos são pouco conhecidos39 .
O Nobre Caminho Óctuplo[editar]
Ver artigo principal: Nobre Caminho Óctuplo
O Dharmachakra representando oNobre Caminho Óctuplo.
O Nobre Caminho Óctuplo - A Quarta Nobre Verdade do Buda - é o caminho para a o fim do
sofrimento (dukkha). Tem oito seções, cada uma começando com a palavra samyak (que
em sânscrito significa "corretamente" e "devidamente"), e são apresentadas em três grupos:
prajna : é a sabedoria que purifica a mente, permitindo-lhe atingir uma visão espiritual da
natureza de todas as coisas. Engloba:
1. dṛṣṭi (ditthi): ver a realidade como ela é, não apenas como parece ser;
2. saṃkalpa (sankappa): a intenção de renúncia, de liberdade e inocuidade.
sila : é a ética ou moral, a abstenção de atos nocivos. Engloba:
3. vāc vāc (vāca): falando de uma maneira verdadeira e não-ofensiva;
4. karman (kammanta): agir de uma maneira não-prejudicial;
5. ājīvana (ājīva): o meio de vida deve seguir os preceitos citados anteriormente40 .
samadhi : é a disciplina mental necessária para desenvolver o domínio sobre a própria
mente. Isso é feito através de práticas, engloba:
6. vyāyāma vyāyāma (vāyāma): fazer um esforço para melhorar;
7. smṛti (sati): ver as coisas como elas estão com a consciência clara da realidade
presente dentro de si mesmo, sem desejo ou aversão;
8. samādhi (samādhi): meditar ou concentrar-se de maneira correta.
A prática do Caminho Óctuplo é compreendida de duas maneiras: desenvolvimento simultâneo
dos oito itens paralelamente, ou como uma série progressiva pela qual o praticante se move,
ao conquistar um estágio. Contudo, os quatro nikāyas principais e o Caminho Óctuplo,
geralmente, não são ensinados para leigos e são pouco conhecidos no Extremo Oriente39 .
Os oito itens do caminho normalmente são apresentados em três divisões (ou treinamentos
elevados), como mostrado abaixo:
Divisão ItemSânscrito,
PaliDescrição
Sabedoria
(Sânscrito: prajna,
Pāli: paññā)
1. Visão correta
samyag
dṛṣṭi,
sammā ditthi
Enxergar a realidade como ela é, não
como ela parece ser
2. Intenção
correta
samyag
saṃkalpa,
sammā
sankappa
Intenção de renúncia, libertação e
inofensividade
Conduta Ética
(Sânscrito: sila,
Pāli: sīla)
3. Fala corretasamyag vāc,
sammā vāca
Falar de forma verdadeira e não
agressiva
4. Ação correta
samyag
karman,
sammā
kammanta
Agir de forma não agressiva
5. Viver
corretamente
samyag
ājīvana,
sammā ājīva
Viver de forma não agressiva
Concentração
(Sânscrito e
Pāli: samadhi)
6. Esforço
correto
samyag
vyāyāma,
sammā
vāyāma
Se esforçar para melhorar
7. Atenção
correta
samyag
smṛti,
sammā sati
Estar atento para enxergar as coisas
com a consciência clara;
estar consciente da realidade
presente dentro de si mesmo, sem
qualquer desejo ou aversão
8. Concentração
correta
samyag
samādhi,
sammā
samādhi
Correta meditação e concentração,
como os primeiros quatro jhanas
Caminho do Meio[editar]
Ver artigo principal: Caminho do Meio
Um importante princípio orientador da prática budista é o Caminho do Meio, que se diz ter sido
descoberto pelo Buda, antes de sua iluminação. O Caminho do Meio tem várias definições:
1. a prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a
autoindulgência e a morte;
2. o meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
3. uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que
todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias;
4. outros termos para o sunyata, a última natureza de todos os fenômenos (na escola
Maaiana).
A forma como as coisas são[editar]
Debate entre monges do Sera Monastery, no Tibet.
Estudiosos budistas têm produzido uma quantidade notável de teorias intelectuais, filosóficas e
conceitos de visão do mundo (por exemplo: filosofia budista, abhidharma e a realidade no
budismo). Algumas escolas do budismo desencorajam estudos doutrinários, algumas os
consideram como essenciais, pelo menos para algumas pessoas em algumas fases do
budismo.
Nos primeiros ensinamentos budistas, de certa forma, compartilhado por todas as escolas
existentes, o conceito de libertação (nirvana) está intimamente ligado com a correta
compreensão de como a mente lida com o estresse. Ao termos conhecimento sobre o apego,
um sentimento de desapego é gerado e se é liberado do sofrimento (dukkha) e do ciclo de
renascimento (samsara). Para esse efeito, o Buda recomendou ver as coisas através das três
marcas da existência.
Impermanência, sofrimento e não-eu[editar]
Ver artigo principal: Três Marcas da Existência
Anicca é uma das três marcas da existência. O termo exprime o conceito budista de que todas
as coisas são compostas ou fenômenos condicionados, sendo estes, inconstantes, instáveis e
impermanentes. Tudo o que podemos experimentar através dos nossos sentidos é composto
de peças e sua existência depende de condições externas. Tudo está em fluxo constante e,
assim, as condições e coisas em si estão mudando constantemente. As coisas estão vindo
constantemente a ser e deixar de ser. Como nada dura, não há nenhuma natureza inerente ou
fixada em qualquer objeto ou experiência.
Segundo a doutrina da impermanência, a vida humana incorpora esse fluxo no processo de
envelhecimento, no ciclo de renascimento e em qualquer existência de perda. A doutrina afirma
ainda que, pelo fato de as coisas serem impermanentes, o apego a elas é inútil e leva ao
sofrimento (dukkha).
Dukkha ou sofrimento (pāli दुक्ख; sanskrit दु�ख duḥkha) é um dos conceitos centrais do budismo.
A palavra pode ser traduzida de diversas maneiras, incluindo sofrimento, dor, insatisfação,
tristeza, angústia, ansiedade, desconforto, estresse, infelicidade e frustração, por exemplo.
Apesar disso, dukkha é traduzido, muitas vezes, como "sofrimento", o seu significado filosófico
é mais semelhante a "inquietação", como na condição de ser perturbado41 . Devido a isso,
algumas literaturas preferem não traduzir o verbete, como é o caso do inglês, com o objetivo de
englobar em uma palavra todos os significados42 43 44 .
Anatta, ou anatman, refere-se à noção da inexistência de um "eu". Após uma análise
cuidadosa, verifica-se que nenhum fenômeno é realmente "eu" ou "meu", estes conceitos são,
na realidade, construídos pela mente. O nikayas, no anatta, não é entendido como uma
afirmação metafísica, mas como uma aproximação para ganhar sofrimento. O Buda rejeitou
ambos os conceitos, afirmando que eles nos ligam ao sofrimento.
Originação dependente[editar]
Ver artigo principal: Originação Dependente
A doutrina do pratītyasamutpāda é uma parte importante da metafísica budista. Ela afirma que
os fenômenos surgem juntos em uma teia interdependente de causa e efeito. É variavelmente
traduzida como "orientação dependente", "gênese condicionada", "co-dependente decorrentes"
ou "emergência".
O conceito mais conhecido e aplicado do pratītyasamutpāda é o regime dos Doze Nidānas (do
páli: nidāna, que significa "provocar", "fundação", "fonte" e "origem"), que explicam a
continuação do ciclo de sofrimento e renascimento em detalhe. Os Doze Nidānas descrevem
uma relação entre as características subsequentes, cada uma dando origem ao nível seguinte:
1. Avidyā: ignorância (especificamente espiritual)26 45
2. Saṃskāras: formações45 ;
3. Vijñāna: consciência26 45 ;
4. Nāmarūpa: nome e forma (refere-se à mente e ao corpo)26 45 ;
5. Ṣaḍāyatana: suas bases dos sentidos (olhos, nariz, ouvidos, língua, corpo e mente)45 ;
6. Sparśa: contato (traduzido, também, como "impressão" ou "estimulo" por um objeto)45 ;
7. Vedanā: sensação, traduzida como algo "desagradável", "agradável" ou neutro45 ;
8. Tṛṣṇā: sede, mas, no budismo, refere-se ao desejo45 ;
9. Upādāna: apego ou apreensão45 ;
10. Bhava: ser (existência) ou se tornar (no Teravada possui dois significados: o carma,
que produz uma nova existência, e a existência em si)26 45 ;
11. Jāti: nascimento (entendido como ponto de partida)26 45 ;
12. Jarāmaraṇa: velhice e morte, também traduzida, através
do śokaparidevaduḥkhadaurmanasyopāyāsa, como tristeza, lamentação, dor e
miséria.45 .
Sunyata[editar]
Ver artigo principal: Sunyata
O budismo Maaiana foi fundado baseado nas teorias de Nagarjuna, provavelmente o estudioso
mais influente dentro das tradições da escola budista. A principal contribuição do filósofo
budista foi a exposição sistemática do conceito de sunyata, ou "vazio", comprovada
amplamente nos sutras, como Prajnaparamita, importantíssimos na época.
O conceito de "vazio" reúne as outras principais doutrinas budistas, particularmente a anatta e
a pratītyasamutpāda (orientação dependente), para refutar a metafísica
da Sarvastivada eSautrāntika (não extintas da escola Maaiana). Para Nagarjuna, não são
apenas os seres sencientes que estão vazios de atman; todos os fenômenos (dharmas) são,
sem qualquer svabhava(literalmente "própria natureza" ou "autonatureza") e, portanto, sem
qualquer essência fundamental, pois eles são vazios de ser independentes, assim, as teorias
heterodoxas de Svabhava, circuladas na época, foram desmentidas com base nas demais
doutrinas budistas.
Os pensamentos de Nagarjuna são conhecidos como Madhyamaka. Alguns dos escritos
atribuídos a Nagarjuna fazem referências explícitas aos textos de Maaiana, mas sua filosofia foi
argumentada dentro dos "parênteses" estabelecidos pela ágama. Ele pode ter chegado à sua
posição a partir de um desejo de alcançar uma exegese coerente da doutrina do Buda, tal
como o Canon. Aos olhos de Nagarjuna, o Buda não era apenas um precursor, mas o próprio
fundador do sistema Madhyamaka46 .
Os ensinamentos sarvastivada, que foram criticados por Nagarjuna, foram reescritos por
estudiosos como Vasubandhu e Asanga e foram, posteriormente, adaptados para a prática
do Yoga(sânscrito: Yogacara). Enquanto a escola Madhyamaka declarou que afirmar a
existência ou a inexistência de qualquer coisa, em última análise, era inadequado, contudo,
alguns expoentes daYogacara afirmaram que a mente, e só a mente, é real (doutrina
conhecida como consciência). Entretanto, nem todos dentro do Yogacara consideram essa
afirmação; Vasubandhu e Asanga, em particular, são um exemplo47 .
Além do vazio, a escola Maaiana, muitas vezes, dá ênfase nas noções de discernimento
espiritual pleno (prajnaparamita) e na natureza búdica (tathagatagarbha, que significa "embrião
budista"). De acordo com o sutras de tathagatagarbha, o Buda revelou a realidade da imortal
natureza budista, que se diz ser inerente a todos os seres vivos e permite que todos eles,
eventualmente, atinjam a iluminação completa, ou seja, tornando-se Budas.
Especulações contra a existência direta na epistemologia budista[editar]
A distinção entre o budismo e outras escolas filosóficas indianas é uma questão da justificação
da epistemologia. Apesar de todas as escolas de lógica indiana reconhecerem vários conjuntos
das justificativas válidas para o conhecimento (pramana), o budismo, por sua vez, reconhece
um conjunto menor do que os outros. Todos aceitam a percepção e a inferência, por exemplo,
mas, algumas escolas budistas não.
De acordo com as escrituras, durante a sua vida, o Buda permaneceu em silêncio quando
questionado sobre as várias questões metafísicas. São perguntas como: se o universo é eterno
ou não (ou se é finito ou infinito), se há unidade ou separação do corpo e do atman, a
inexistência completa de uma pessoa depois do nirvana, entre outros. Uma explicação para
esse silêncio é que tais questões atrapalham a atividade prática para o bodhi nota 1 e trazem o
perigo de substituir a experiência de libertação através da compreensão conceitual da doutrina
ou pela fé religiosa.
Escolas[editar]
Ver artigo principal: Budismo inicial
A sangha original, após a realização de um concílio no século IV a.C, dividiu-se em duas
escolas de pensamento: Mahasanghika e Sthaviravada. Desses dois troncos, a única escola
remanescente é a Theravada.48 Os três veículos principais são: Escolas Antigas,
Escolas Mahayana e Escolas Vajrayana.49
Escolas Antigas: Ch'eng-shih, Chu-she, Jôjitsu, Kusha, Lü-
tsung, Mahasanghika, Pudgalavada,
Ritsu, Sarvastivada, Sautrantika, Sthaviravada, Theravada e Vaibhashika;49
Escolas Mahayana : Ch'an, Ching-t'u, Chittamatra, Fa-hsiang, Hossô, Hua-yen, Ji-
shû, Jnanavada, Jôdo, Jôdo Shin, Kegon, Madhyamaka, Madhyamika, Nichiren, Nieh-
p'an, San-lun, Sanron,Tathagatagarbha, Ti-lun, Won, Yogachara, Yün-chi e Zen;49
Escolas Vajrayana : Nyingma, Gelug, Sakya, Jonang, Kadam, Kagyü, Mi-
tsung, Shingon, Tendai e T'ien-t'ai.49
Nirvana[editar]
1. É a meta do budismo.
2. É o apagar do fogo das paixões e a extinção do ego.
3. É não necessitar mais reencarnar.
4. É o que todo budista procura por toda vida, a paz absoluta.
5. É o que faz do homem comum um Buda.
6. É a iluminação.
7. É a extrema paz.
Origens[editar]
A estátua do Tian Tan Buda, monastério Po Lin na ilha de Lantau,Hong Kong.
O budismo formou-se no nordeste da Índia, entre o século VI a.C. e o século IV a.C.. Este
período corresponde a uma fase de alterações sociais, políticas e econômicas nessa região do
mundo. A antiga religiosidade bramânica, centrada no sacrifício de animais, era questionada
por vários grupos religiosos, que geralmente orbitavam em torno de um mestre.
Um desses mestres religiosos, como visto acima com mais detalhes, foi Siddhartha Gautama, o
Buda, cuja vida a maioria dos acadêmicos ocidentais e indianos situa entre 563 a.C. e 483 a.C.,
embora os acadêmicos japoneses considerem mais provável as datas 448 a.C. a 368 a.C..
Siddhartha nasceu na povoação de Kapilavastu, que se julga ser a aldeia indiana de Piprahwa,
situada perto da fronteira indo-nepalesa. Pertencia à casta guerreira (ksatriya).
Várias lendas posteriores afirmam que Siddhartha viveu no luxo, tendo o seu pai se esforçado
por evitar que o seu filho entrasse em contato com os aspectos desagradáveis da vida. Por
volta dos 29 anos, o jovem Siddhartha decidiu abandonar a sua vida, renunciando a todos os
bens materiais e adotando a vida de um renunciante. Praticou o ioga (numa forma que não é a
mesma que é hoje seguida nos países ocidentais) e seguiu práticas ascéticas extremas, mas
acabou por abandoná-las, vendo que não conseguia obter nada delas. Segundo a tradição, ao
fim de uma meditação sentado debaixo de uma figueira, descobriu a solução para a libertação
do ciclo das existências e das mortes que o atormentava.
Pouco depois, decidiu retomar a sua vida errante. Chegou a um bosque perto de Benares,
onde pronunciou um discurso religioso diante de cinco jovens, que convencidos pelos seus
ensinamentos, se tornaram os seus primeiros discípulos e com quem formou a primeira
comunidade monástica (sangha). O Buda dedicou, então, o resto da sua vida (talvez trinta ou
cinquenta anos) a pregar a sua doutrina através de um método oral, não tendo deixado
quaisquer escritos.
Cosmologia[editar]
Ver artigo principal: Cosmologia budista
A cosmologia budista considera que o Universo é composto por vários sistemas mundiais,
sendo que cada um desses possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio que
dura bilhões de anos. Num sistema mundial existem seis reinos, que por sua vez incluem
vários níveis, num total de trinta e um.
O reino dos infernos situa-se na parte inferior. A concepção do inferno budista é diferente da
concepção cristã, na medida em que o inferno não é um lugar de permanência eterna nem o
renascimento nesse local é o resultado de um castigo divino; os seres que habitam no inferno
libertam-se dele assim que o mau karma que os conduziu ali se esgota. Por outro lado, o
budismo considera que existem não apenas infernos quentes, mas também infernos frios.
Acima do reino dos infernos pelo lado esquerdo, encontra-se o reino animal, o único dos vários
reinos perceptível aos humanos e onde vivem as várias espécies. Acima do reino dos infernos
pelo lado direito, encontra-se o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas (preta). Os seres que
nele vivem sentem constantemente sede ou fome, sem nunca terem essas necessidades
saciadas. A arte budista representa os habitantes desse reino como tendo um estômago do
tamanho de uma montanha e uma boca minúscula.
O reino seguinte é o dos Asura (termo traduzido como "Titãs" ou dos antideuses). Os seus
habitantes ali nasceram em resultado de acções positivas realizadas com um sentimento
de inveja e competição e vivem em guerra constante com os deuses.
O quinto reino é o dos seres humanos. É considerado como um reino de nascimento desejável,
mas ao mesmo tempo difícil. A vida enquanto humano é vista como uma via intermédia nessa
cosmologia, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que de
acordo com a perspectiva budista favorece a tomada de consciência sobre a condição
samsárica.
O último reino é o dos deuses (deva) e é composto por vários níveis ou residências. Nos níveis
mais próximos do reino humano, vivem seres que, devido à prática de boas acções, levam uma
acção harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são
denominados como "Residências Puras", sendo habitadas por seres que se encontram perto
de atingir a iluminação e não voltarão a renascer como humanos.
Escrituras[editar]
Edição do Cânone Pali.
Buda não deixou nada escrito. De acordo com a tradição budista, ainda no próprio ano em que
o Buda faleceu teria sido realizado um concílio na cidade de Rajaghra, onde discípulos do Buda
recitaram os ensinamentos perante uma assembleia de monges que os transmitiram de forma
oral aos seus discípulos. Porém, a historicidade desse concílio é alvo de debate: para alguns
esse relato não passa de uma forma de legitimação posterior da autenticidade das escrituras.
Por volta do século I d.C., os ensinamentos do Buda começaram a ser escritos. Um dos
primeiros lugares onde se escreveram esses ensinamentos foi no Sri Lanka, onde se constituiu
o denominado Cânone Pali. O Cânone Pali é considerado pela tradição Theravada como
contendo os textos que se aproximam mais dos ensinamentos do Buda. Não existem, contudo,
no budismo um livro sagrado como a Bíblia ou o Alcorão, que seja igual para todos os crentes;
para além do Cânone Pali, existem outros cânones budistas, como o chinês e o tibetano.
O cânone budista divide-se em três grupos de textos, denominado "Triplo Cesto de Flores"
(tipitaka em pali e tripitaka em sânscrito):
1. Sutra Pitaka: agrupa os discursos do Buda tais como teriam sido recitados
por Ananda no primeiro concílio. Divide-se por sua vez em vários subgrupos;
2. Vinaya Pitaka: reúne o conjunto de regras que os monges budistas devem seguir e
cuja transgressão é alvo de uma penitência. Contém textos que mostram como surgiu
determinada regra monástica e fórmulas rituais usadas, por exemplo, na ordenação.
Estas regras teriam sido relatadas no primeiro concílio por Upali;
3. Abhidharma Pitaka: trata do aspecto filosófico e psicológico contido nos ensinamentos
do Buda, incluindo listas de termos técnicos.
Quando se verificou a ascensão do budismo Mahayana, essa tradição alegou que o Buda
ensinou outras doutrinas que permaneceram ocultas até que o mundo estivesse pronto para
recebê-las; dessa forma a tradição Mahayana inclui outros textos que não se encontram no
Theravada.
Difusão do budismo[editar]
Índia[editar]
Porcentagem de budistas por país.
A partir do seu local de nascimento no nordeste indiano, o budismo espalhou-se para outras
partes do norte e para o centro da Índia. Durante o reinado do imperador mauria Asoka, que se
converteu ao budismo e que governou uma área semelhante à da Índia contemporânea (com
excepção do sul), essa religião consolidou-se. Após ter conquistado a região de Kalinga pela
força, Asoka decidiu que a partir de então governaria com base nos preceitos budistas. O
imperador ordenou a construção de hospedarias para os viajantes e que fosse proporcionado
tratamento médico não só aos humanos, mas também aos animais. O rei aboliu também
a tortura e provavelmente a pena de morte. A caça, desporto tradicional dos reis, foi substituída
pela peregrinação a locais budistas. Apesar de ter favorecido o budismo, Asoka revelou-se
também tolerante para com o hinduísmo e o jainismo.
Asoka pretendeu também divulgar o budismo pelo mundo, como revelam os seus éditos.
Segundo estes, foram enviados emissários com destino à Síria, Egipto e Macedónia (embora
não se saiba se chegaram aos seus destinos) e para o oriente, para um terra de
nome Suvarnabhumi (Terra do Ouro) que não se conseguiu identificar com segurança.
O império mauria chegou ao fim em finais do século II a.C.. A Índia foi então dominada pelas
dinastia locais dos Sunga(c.185-173 a.C.) e dos Kanva (c.73-25 a.C.), que perseguiram o
budismo, embora este conseguisse prevalecer. Perto do início da era actual, o noroeste da
Índia foi invadido pelos citas, que formariam o Império Kushana. Um dos mais importantes reis
desta dinastia, Kanishka (c. 127-147), foi um grande proselitista do budismo.
Durante a era da dinastia Gupta (320-540), os monarcas favorecem o budismo, mas também o
hinduísmo. Em meados do século VI, os Hunos Brancos, oriundos da Ásia Central, invadem o
noroeste da Índia, provocando a destruição de inúmeros mosteiros budistas. A partir de 750, a
dinastia Pala governou no nordeste da Índia até ao século XII, apoiando os grandes centros
monásticos budistas, entre os quais o de Nalanda. Contudo, a partir do século XII, o budismo
entra num declínio definitivo devido a vários factores. Entre estes, encontravam-se o
revivalismo hindu, que se manifestou com figuras como Adi Shankara e pelas invasões
dos muçulmanos dos séculos XII e XIII.
Embora o budismo tenha passado por uma verdadeira renovação a partir de 1959, ano em que
o Dalai Lama escolhe o exílio, ele parece quase ausente da Índia, a ponto de termos, muitas
vezes, de seguir turistas estrangeiros para localizar os lugares santos de antigamente. Nesse
percurso, ao longo dos séculos, o budismo suscitou desvios, heresias, seitas.50
Sri Lanka e Sudeste da Ásia[editar]
Wat Mahathat, Sukhothai, Tailândia.
A tradição cingalesa atribui a introdução do budismo no Sri Lanka ao monge Mahinda, filho de
Asoka, que teria chegado à ilha em meados do século III a.C., acompanhado por outros
missionários. Esse grupo teria convertido ao budismo o rei Devanampiya Tissa e grande parte
da nobreza local. O rei ordenou a construção do Mahavihara ("Grande Mosteiro" em pali) na
então capital do Sri Lanka,Anuradhapura. O Mahavihara foi o grande centro do budismo
Theravada na ilha nos séculos seguintes.
Foi no Sri Lanka que, por volta do ano 80 a.C., se redigiu o Cânone Pali, a colectânea mais
antiga de textos que reflectem os ensinamentos do Buda. No século V d.C., chegou à ilha o
monge Buddhaghosa que foi responsável por coligir e editar os primeiros comentários feitos ao
Cânone, traduzindo-os para o pali.
Na Tailândia, o budismo lançou raízes no século VII nos reinos de Dvaravati (no sul, na região
de Banguecoque) e de Haripunjaya (no norte, na região de Lamphun), ambos reinos da etnia
Mon. No século XII, o povo Tai, que chegou ao território vindo do sudoeste da China, adoptou o
budismo Theravada como a sua religião.
A presença do budismo na península Malaia está atestada desde o século IV, assim como nas
ilhas de Java e Sumatra. Nessas regiões, verificou-se um sincretismo entre o budismo
Mahayana e o xivaísmo, que está ainda hoje presente em locais como a ilha de Bali. Entre o
século VII e o século IX, a dinastia budista dos Xailendra governou partes da Indonésia e a
península Malaia, tendo sido responsável pela construção de Borobudur, uma
enorme stupa que é o maior monumento existente no hemisfério sul. O islamismo chegou à
Indonésia noséculo XIV, trazido pelos mercadores, acabando por substituir o budismo como
religião dominante. Actualmente o budismo é principalmente praticado pela comunidade
chinesa da região.
China[editar]
Ver artigo principal: Budismo na China
Pintura nas grutas de Bezeklik, oeste da China, retratando monges budistas.
A tradição atribui a introdução do budismo na China ao imperador Ming de Han (25-220 d.C.), o
segundo imperador da dinastia Han do leste. Este imperador teve um sonho no qual viu um ser
voador dourado, interpretado por seus conselheiros como uma visão do Buda. O imperador
enviou emissários a outros países, a oeste da China, para obter informações sobre a doutrina
de Buda.
Escrituas budistas teriam sido trazidas à China, nas costas de cavalos brancos, por
Dharmarakṣa e Kaśyapa Mātaṅga, dois grandes monges indianos. Então o imperador ordenou
a construção do primeiro templo budista da China, o monastério Baima, na atual cidade
de Luoyang, província de Henan. Os monges levaram para a China 42 sutras, contendo
600.000 palavras em sânscrito.
Independentemente da tradição, o budismo só se espalhou na China nos séculos V e VI com o
apoio da dinastia Wei e Tang. Durante este período estabelecem-se na China escolas budistas
de origem indiana ao mesmo tempo em que se desenvolvem escolas próprias chinesas.
Coreia e Japão[editar]
Ver artigo principal: Budismo no Japão
Kanji japonês para "Zen".
O budismo entrou na Coreia no século IV. Nesta altura, a Coreia não era um território unificado,
encontrando-se dividida em três reinos rivais: o reino de Koguryo no norte, o reino
de Paekche no sudoeste e o reino de Silla no sudeste. Estes três reinos reconheceriam o
budismo como uma religião oficial, tendo sido o primeiro a fazê-lo Paekche (384), seguindo-se
o Koguryo (392) e Silla (528). Em 668, o reino de Silla unificou a Coreia sob o seu poder e o
budismo conheceu uma era de desenvolvimento. Foi nesse período que viveu o
monge Wonhyo Daisa (617-686), que tentou promover um budismo do qual fizessem parte
elementos de todas as seitas. No século VIII, foi difundido na Coreia o budismo da escola
chinesa Chan, denominado son (ou seon)em coreano e que se tornou a escola dominante. O
budismo continuou a florescer durante a era Koryo (935-1392), até que a dinastia Li (1392-
1910) favoreceu oconfucionismo.
A partir da Coreia e da China, o Budismo foi introduzido no Japão em meados do século VI. Em
593, o príncipe Shotoku declarou-o como religião do Estado, mas o budismo foi até à Idade
Média um movimento ligado à corte e à aristocracia sem larga adesão popular (os missionários
coreanos tinham apresentado à corte japonesa o budismo como elemento de protecção
nacional). Durante a era Nara (710-794)-Héian (794-1185), várias seitas de expressão chinesa
começaram a implantar-se no Japão. São deste último período a escola Shingon e
Tendai (Tien Tai). Durante a era Kamakura (1185-1333), o budismo populariza-se finalmente
com as escolas Terra Pura, Nichiren e Zen (Chan)nas suas principais vertentes chinesas das
escolas Rinzai (Linji) e Soto (Caodong).
Tibete[editar]
Deus lamaísta da fortuna.
No Tibete, o budismo propagou-se em dois momentos diferentes. O rei Srong-brtsan-sgam-po
(Songtsen Gampo, c.627-c.650), influenciado pelas suas duas esposas budistas, decidiu
mandar chamar ao Tibete monges indianos para ali difundirem a religião. Durante o reinado de
Khri-srong-lde-btsan (Trisong Deutsen), construiu-se o primeiro mosteiro budista tibetano e
em 747 chegou ao território o notável iogue indiano Padmasambhava, que organizou o
budismo tibetano e fundou a escola hoje conhecida como Nyingma (ou "escola da tradição
antiga", em relação às posteriores escolas estabelecidas por outros professores). Contudo,
uma reacção hostil da religião indígena, o Bon, levaria ao declínio do budismo nos dois séculos
seguintes.
O budismo seria reintroduzido no Tibete a partir do século XI, com a ajuda do monge indiano
Atisa, que chegou ao território em 1042. Com o passar do tempo, formaram-se quatro
escolas: Sakyapa, Kagyupa, Nyingmapa e Gelugpa. Em 1578, membros desta última escola
converteram o mongol Altan Khanà sua doutrina. Alta Khan criou o título de Dalai Lama, que
concedeu ao líder da escola Gelugpa. Em 1641, com ajuda dos mongóis, o quinto Dalai Lama
derrotou o último príncipe tibetano e tornou-se o líder temporal do Tibete. Os seguintes dalai
lamas foram na prática os governantes do Tibete até à invasão chinesa. O quinto dalai lama
criou o cargo de Panchen-lama, que reside no mosteiro de T-shi-lhum-po e que foi visto como
uma encarnação do Amitabha.
Bibliografia[editar]
BARBEIRO, Heródoto. Buda: o mito e a realidade. São Paulo : Madras, 2005. ISBN 85-
370-0025-6.
BAREAU, André - O Buda: Vida e Ensinamentos. Lisboa: Editorial Presença, 1997. ISBN
972-23-2205-2.
KEOWN, Damien - O Budismo. Lisboa: Temas e Debates, 2002. ISBN 972-759-426-3
SMITH, Huston; NOVAK, Philip. Budismo: uma introdução concisa. trad. Cláudio Blanck.
São Paulo : Cultrix. ISBN 85-316-0845-7.