BUSCANDO O PRAZER DA LEITURA POR MEIO DOS … · Buscou-se propor um projeto de leitura, voltado,...
-
Upload
nguyenphuc -
Category
Documents
-
view
214 -
download
0
Transcript of BUSCANDO O PRAZER DA LEITURA POR MEIO DOS … · Buscou-se propor um projeto de leitura, voltado,...
BUSCANDO O PRAZER DA LEITURA POR MEIO DOS CONTOS DE FADAS
Autor: Rosi de Fátima Oliveira Santos 1
Orientador Profº. Dr. Marcio Matiassi Cantarin 2
RESUMO
A presente pesquisa teve como prioridade considerar a importância do ato de ler, através dos contos de fadas infantis abrangentes na literatura dentro da proposta pedagógica escolar. Sabe-se do papel importante ao estímulo da leitura para nossas crianças, onde professores e família sentem dificuldades de trabalhar com esse tema tão fundamental para sua formação, cujo desenvolvimento motor e cognitivo está em plena capacidade de assimilação. Os contos de fadas, certamente, vêm para complementar esse processo de abstração no contexto de formação da criança. Buscamos propor um projeto de leitura, voltado, especificamente, para o público do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Cel. Joaquim Pedro de Oliveira - EFM – na cidade de Japira – Paraná. O objetivo principal desta proposta foi desenvolver um incentivo à leitura através do gênero Conto de Fadas, com perspectiva de estimular uma formação crítica dos alunos. Assim, construir um trabalho, para que os educandos consigam desenvolver o letramento através de atividades que lhes propiciem diferentes significados, inferências e intertextualidade. A metodologia utilizada foi a princípio da pesquisa bibliográfica concomitantemente com a realização de atividades práticas no cotidiano escolar, que propôs aos alunos uma postura mais consciente quanto à Literatura, onde através de textos selecionados a reflexão foi uma constante e um agente especial no processo de aprendizagem, enriquecendo-o intelectualmente. O resultado e avaliação que serão demonstrados no decorrer deste trabalho, foi realizando em cinco etapas de implementação. Pôde-se observar que a participação, a curiosidade, o estímulo, a percepção foram aguçadas. A proposta inicial foi atendida e que como crianças respondem muito bem às novas propostas, basta um despertar positivo por parte do educador.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Infantil; Conto de Fadas; Leitura; Estímulo.
1 - Professora da Rede Estadual participante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Governo do Paraná (PDE) – Col. Est. Cel. Joaquim Pedro de Oliveira – EFM – Japira – Paraná. 2 - Professor Orientador Dr. Marcio Matiassi Cantarin da UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Jacarezinho-PR.
1
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como proposta fundamental, além do incentivo à leitura
do gênero do conto de fadas no sentido de estimular uma formação mais crítica de
nossos alunos, também auxiliar o professor em sala de aula, com os resultados obtidos
na implementação deste projeto, para que possa se utilizar de informações obtidas
pedagogicamente e empiricamente para o público do 6º ano do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Coronel Joaquim Pedro de Oliveira da cidade de Japira – Paraná.
Buscou-se propor um projeto de leitura, voltado, especificamente para o público
do 6º ano do Ensino Fundamental, classificado por Aguiar (1986, p. 89) “como 3ª fase
de leitura (9 a 12 anos), quando ainda restam vestígios do pensamento mágico (dos
contos de fadas, mitos e lendas), e o leitor começa a perceber mais o real à sua volta”.
Um dos problemas sempre observados por professores, pedagogos,
pesquisadores, pais e sociedade é que o hábito da leitura é uma das maiores
dificuldades encontradas em todos os segmentos educacionais e, no caso específico
deste trabalho, fica um questionamento bem amplo: Como o gênero “Conto de Fadas”
pode desenvolver a criticidade, a apropriação dos significados linguísticos e a leitura no
processo de ensino-aprendizagem?
Justifica-se este trabalho na busca de investigar causas, formas, fontes, meios,
oportunidades, atividades e ações sempre na perspectiva de visar o desenvolvimento
crítico através deste tipo de literatura que tem por intuito a valorização da “Fantasia” e
da “Imaginação”, onde sua importância está diretamente ligada ao fato de que essas
estórias traziam alguma representação imaginária quanto ao que se produz
‘popularmente’ ou de forma considerada erudita, trazendo elementos orais da tradição.
Entende-se que em nossa cultura, não temos o hábito de dialogar com a
criança sobre suas emoções, e através das histórias, pode-se proporcionar momentos
mágicos para que a criança reflita sobre sentimentos como a alegria, a raiva, o prazer,
2
a tristeza, enfim, que faça comparações com a sua vida e torne consciente alguns
comportamentos, pois podem espelhar-se no comportamento do personagem.
[...] lidas ou contadas às histórias constituem-se em generoso processo educativo, pois ensinam recreando, dando à criança os estímulos e motivações apropriadas para satisfazer suas tendências, seus interesses, suas necessidades, seus desejos, sua sensibilidade. (MALAMUT, 1990, p. 06).
Portanto, a Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo da leitura, deve ser
utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da
capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a
literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambiguidade
e pluralidade.
Importante registrar que uma das precauções e atenção especial que se
dispomos neste trabalho é a observação de que o trabalho com as crianças através do
Conto de Fadas dentro da Literatura Infantil não deve se esgotar em mero exercício de
leitura de gramática, ou simplesmente em lazer. Pois assim não se alcançará o objetivo
maior que é formar leitores de postura crítico-reflexiva. E sim, que a leitura precisa se
dar através de uma atividade prazerosa e realizada com obras escritas especificamente
para tal faixa etária, permitindo a exploração de toda a sua característica formativa de
que tal obra é portadora.
Neste sentido, o quanto antes esse aluno entrar em contato com os livros e
perceber o prazer que a leitura produz, maior será a possibilidade de se tornar um
adulto leitor. É na relação prazerosa e lúdica do aluno com a obra literária que se
observa uma das possibilidades de se formar o futuro pequeno leitor. Com base na
exploração do fantástico e do imaginário que se excita a criatividade e se fortalece
interação entre texto e leitor.
3
Segundo Saviani (1986, p. 82):
É de fundamental importância a garantia de uma escola que possibilite a cultura letrada, o acesso à alfabetização e ao domínio da língua – padrão a todas as crianças, pois somente assim ocorre a formação dos cidadãos, capazes de participar nos destinos da nação, interferir nas decisões e expressar seus pontos de vista”.
Assim sendo, é de suma importância o trabalho do professor que deverá
implementar formas de criar no aluno o hábito, o gosto pela leitura e a formação de
leitores eficazes.
Para que se pudesse chegar a um bom termo de resultados na aplicação das
atividades propostas no plano de ação deste trabalho, foi utilizado inicialmente o
procedimento de pesquisas bibliográficas de autores renomados no tema em tela, e
através do cotidiano escolar, o processo de construção do conhecimento foi
fundamentado na execução das investigações de participações individuais e coletivas,
dentro de um caráter interdisciplinar, onde pode-se observar que nossos alunos são
criativos, interessados e participativos, o que fica mais significativo no resultado final é
que falta na verdade, é maior estímulo e motivação por parte de nós, educadores.
Assim, construir um trabalho, para que os alunos consigam desenvolver o
letramento através de atividades que lhes propiciem diferentes significados, inferências
e intertextualidade, bem como maneiras de alcançar o aprendizado é um compromisso,
uma possibilidade, como um meio de superação das dificuldades de aprendizagem que
possam vir a produzir uma motivação e expectativa positiva em nossos educandos.
O presente trabalho terá nos próximos tópicos, sequencialmente, os resultados
investigados na literatura especializada sobre o tema do Conto de Fadas dentro
Literatura Infantil através da pesquisa bibliográfica, e, consequentemente os resultados
da pesquisa de campo através da demonstração dos resultados dos eventos
construídos durante o período da proposta de intervenção pedagógica pré estabelecida
para a efetivação deste projeto e todas as informações básicas que promoveram um
suporte filosófico e pedagógico dentro da realidade de nossos educandos.
4
2 LETRAMENTO: O DISCURSO COMO PRÁTICA SOCIAL
Nos dias de hoje, em que as sociedades do mundo inteiro estão cada vez mais
centradas na escrita, ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado
condição insuficiente para responder adequadamente as demandas contemporâneas. É
preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e
da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas, é preciso
letrar-se.
É comum o entendimento do papel da escola, no que se refere ao aprendizado
da leitura e escrita, sabemos que só o domínio do sistema alfabético de escrita não
garante a total inserção da criança no mundo letrado. É preciso ir além do domínio do
código escrito, é preciso que a criança conheça as diferentes formas de discurso
escrito, como se estruturam, como e quando são usados. É preciso que ela se utilize
amplamente da leitura e da escrita no cotidiano e isto vai muito além do escrever ou ler
algumas palavras ou frases simples.
Para se tornar um usuário competente da língua a criança deve capaz de
compreender e usar o código escrito e, este “modo de usar”, está relacionado ao
letramento.
Deste modo, faz-se necessário que a escola proponha atividades que
possibilitem o letramento.
Conforme Soares (2004, p. 20), letramento.
[...] é entendido como o desenvolvimento de comportamentos e habilidades de uso competente da leitura e da escrita em práticas sociais; distinguem-se (alfabetização e letramento) tanto em relação aos objetos de conhecimento quanto em relação aos processos cognitivos e lingüísticos de aprendizagem e, portanto, também de ensino desses diferentes objetos.
5
Goulart (2006, p. 452) mostra que “o letramento estaria relacionado ao conjunto
de práticas sociais orais e escritas de uma sociedade”. Essa autora acrescenta:
“Compreendo que o letramento está relacionado à apropriação de conhecimentos, que
constituem a cultura chamada letrada”.
Entende-se, assim por alfabetização a aquisição do código escrito, e letramento
o uso desse código em práticas sociais.
2.1 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO DA CRIANÇA
Uma das perguntas mais frequentes que se ouve na sociedade, e,
principalmente, nas escolas é essa: Haverá lugar para a literatura infantil nesse mundo
da tecnologia que nos invadiu?
É difícil de responder, mas, há possibilidade de se entender que a literatura
infantil tem como função fundamental dentro da sociedade em transformação a de
servir como agente de formação, seja no convívio do leitor e livro, ou seja, no diálogo
de leitor e texto que deve ser estimulado pela comunidade escolar.
É através do livro, ou seja, da palavra escrita que atribuímos a maior
responsabilidade de formar crianças e jovens críticos e conscientes com capacidade de
analisar o mundo.
Como cita Bettelheim (1998):
Hoje como no passado, a tarefa mais importante e também mais difícil na criação de uma criança é ajudá-la a encontrar significado na vida. À medida que se desenvolve ela aprende a se entender melhor e torna-se capaz de entender os outros, e assim se relacionar com eles de forma mutuamente satisfatória e significativa [...]
E a escola é o lugar privilegiado para que a criança entre em contato com a
literatura, especialmente a infantil. E que muitas vezes representa a única oportunidade
da criança entrar em contato com a leitura.
6
A criança aprende a ler, ouvindo, soletrando e repetindo as palavras. Daí o
papel da literatura infantil como agente transformador da aprendizagem. Quando o
professor mantém uma rotina de contar histórias, ele estimula a curiosidade dos alunos
pelos livros e que aos poucos vão se sentido atraídos para conhecer as histórias
contidas nele.
Segundo Lajolo (2000, p. 66):
Na tradição brasileira, literatura infantil e escola mantiveram sempre uma relação de dependência mútua. A escola conta com a literatura infantil para difundir atividades pelo envolvimento da narrativa, ou pela força encantatória dos versos-sentimentos, conceitos, atitudes e comportamentos que lhe compete inculcar em sua clientela.
Na afirmativa acima, mostra a ligação e a importância que a literatura infantil
têm junto com a escola, em que os livros tem o papel importante na formação da leitura
das crianças, não deixando que o livro venha a ser uma obrigação, mas sim um prazer.
A escola como principal parceira do livro ajuda a mantê-lo no mercado,
preservando-o como um dos principais elementos de entretenimento e transmissão de
saberes indispensáveis à nossa vida.
A aproximação das crianças com o livro não deve ser realizado de uma forma
obrigatória, mas, de um jeito que ele se torne atraente aos pequenos leitores. Para que
a escola atraia seus alunos para a leitura é preciso criação de projetos que visam à
qualificação das práticas escolares, de leitura em todas as disciplinas.
Como cita Lajolo (2000, p. 74):
Os projetos precisam abrir-se com a crítica da inevitável participação nos rituais de apropriação da literatura infantil pela escola e vice-versa: que os professores lutem por uma formação competente, regular e supletiva, que os liberte da tutela de cursos efêmeros e do paternalismo autoritário de receitas de leituras opostas a livros, que os autores se mobilizem no sentido de fazerem frente à escolarização de seus textos. E que os demais envolvidos – nós todos – discutamos nos circuitos, bastidores e arrabaldes da literatura infantil o caráter histórico da organicidade institucional dos livros infantis.
7
Neste sentido, a afirmativa acima mostra que a leitura deve ser um prazer e não
uma regra, sendo uma responsabilidade da escola e seus integrantes fazer com que a
literatura infantil abra caminhos para a formação de futuros leitores no processo de
ensino aprendizagem.
2.2 O CONTO DE FADAS NO CONTEXTO ESCOLAR
Os diversos gêneros textuais refletem diferentes situações comunicativas,
sendo essas práticas discursivas que indicam o cotidiano e respondem a determinadas
estruturas, composições e ideias comunicativas.
Estes gêneros formaram-se através de desenvolvimento social e histórico
através de uma realidade ou finalidade.
O aluno quando entra em contato com diversos gêneros textuais, progride em
seu conhecimento social e ambiental, pois cada um destes interage em realidades,
fazendo com que o discente reflita sobre a sociedade, valores e aperfeiçoe seus ideais,
transpondo a ideia do texto para muito além do contexto escolar.
Na França do século XVIII, na monarquia do rei Luís XVI, se manifesta
abertamente a preocupação com uma literatura para crianças ou jovens (COELHO,
2000).
Esse tipo de literatura tem por intuito a valorização da “Fantasia” e da
“Imaginação”, que se constrói a partir de textos da Antiguidade Clássica ou de
narrativas que viviam oralmente entre o povo. Sua importância está diretamente ligada
ao fato de que essas estórias traziam alguma representação imaginária quanto ao que
se produz ‘popularmente’ ou de forma considerada erudita, trazendo elementos orais da
tradição, inclusive.
Seu momento político e cultural foi de muita efervescência quanto ao
Renascimento e uma maior Humanização e Racionalização das relações entre o
Homem e a Natureza. Seu maior legado está diretamente relacionado ao que se pode
8
trabalhar como histórias de grandes heróis medievais que dariam algum sentimento de
pertencimento ao nascimento dessa nova concepção de cultura e nacionalismo
incipiente.
Jean La Fontaine é, certamente, a quem cabe o mérito de dar forma definitiva
na literatura ocidental (COELHO, 2000), ao criar a forma de ‘fábula’, com suas
prerrogativas morais, heroicas e históricas, no intuito de criar alguma relação com o
pequeno leitor na busca de alguma ordenação social e política, visto o grande apelo
moral e crítico de suas estórias.
Certamente, portanto, há uma grande necessidade da criança, em seu
desenvolvimento para a vida, de imergir numa atmosfera sonhadora que os contos – e
isso inclui os contos de fadas, propiciam (ALBERGARIA, 1996), profundas satisfações
psicológicas no universo mental infantil, com desejos de compensação (ALBERGARIA,
1996), buscando vários modos de explicação para a vida de infância e sua relação de
fascínio com essa forma de literatura. Provavelmente, os contos de fadas teriam mais
coisas a ensinar sobre os problemas interiores do ser humano e suas soluções do que
qualquer outra forma de história (BETTELHEIM, 1998). Não seria, portanto, inoportuno
frisar a relevância desse tipo de trabalho, quanto à importância dos livros de contos de
fadas para a educação da fase infanto-juvenil – ou seja, os alunos da 6º ano os quais
se pretende aqui serem avaliados, e como essa temática pode ser transformadora para
uma busca de perspectivas de leituras para sua conduta social.
O lúdico destaca-se como uma das maneiras mais eficazes de envolver o aluno
nas atividades, pois a brincadeira é algo inerente na criança, e sua forma de trabalhar,
reflete e descobre o mundo que a rodeia.
Ferreiro e Teberosky (1985) aponta como benefício físico, o lúdico satisfaz as
necessidades de crescimento e de competitividade da criança. Como benefício
intelectual, o brinquedo contribui para a desinibição produzindo uma excitação mental e
altamente fortificante. Já como beneficio social, a criança, através do lúdico representa
9
situações que simbolizam uma realidade que ainda não pode alcançar através dos
jogos simbólicos se explica o real do eu.
Segundo Pinto e Lima (2003) é através das atividades lúdicas que a criança
pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte da sua realidade interior.
Ela irá aos poucos se conhecendo melhor e aceitando a existência dos outros,
estabelecendo suas relações sociais.
Para manter o equilíbrio com o mundo, a criança necessita brincar, jogar, criar e
inventar. Estas atividades lúdicas tornam-se mais significativas à medida que se
desenvolve, inventando, reinventando e construindo. Destaca Chateau (1987, p. 14)
que “uma criança que não sabe brincar, uma miniatura do velho, será um adulto que
não saberá pensar”.
Acrescenta Kishimoto (1994) a ludicidade é uma necessidade do ser humano
em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do
aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural,
colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os
processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.
A literatura infantil tem sido observada sim, como uma espécie de diálogo entre
o leitor e texto, obviamente, contudo, com fundamental importância para o estímulo
desse indivíduo, cujo desenvolvimento motor e mental, de sua formação identitária e
seus conflitos passam a ser tratados pacificamente.
Os contos de fadas, certamente, vêm para complementar esse processo. Seu
processo tem sido de “problematização existencial, busca de realização interior pelo
amor”, por ser daí retirado “cinco invariantes sempre presentes” nos contos de fadas:
aspiração (desígnios), viagem, obstáculos (ou desafios), mediação auxiliar e conquista
do objetivo (final feliz) (COELHO, 2000, p. 109).
Seu maior trunfo está diretamente relacionado ao fato de se trabalhar com a
representação ou o imaginário. Diante desta organização estrutural é que justifica este
trabalho que visa o desenvolvimento crítico através deste tipo de literatura que tem por
10
intuito a valorização da “Fantasia” e da “Imaginação”, onde sua importância está
diretamente ligada ao fato de que essas estórias traziam alguma representação
imaginária quanto ao que se produz ‘popularmente’ ou de forma considerada erudita,
trazendo elementos orais da tradição.
Por que será que os contos infantis são tão importantes no desenvolvimento
das crianças? Uma resposta bem simples seria que é por meio dos contos infantis que
as crianças desenvolvem seus sentimentos, emoções, sua personalidade e aprende a
lidar com todas essas sensações.
As histórias infantis são contos bem antigos e ainda hoje podem ser
consideradas verdadeiras obras de arte, lembrando sempre que seus enredos falam de
sentimentos comuns a todos nós, como o ódio, inveja, ciúmes, ambição, rejeição e
frustrações além de alegrias, felicidades, etc., vivenciadas e compreendidas pelas
crianças através das fantasias e emoções.
Por ter a finalidade de envolver as pessoas, instigar a mente e comover; os
contos funcionam como instrumentos para a descoberta dos sentimentos da criança ou
até mesmo dos adultos. Ao conter em seu enredo experiências e vivências do
cotidiano, existe então uma identificação com as dificuldades e conflitos dos
personagens.
Como descreve Villardi (1999, p. 6):
Inicialmente, o conto – uma vez que não tem comprometimento com a realidade, mas com o real que ela mesma cria – é ficção e, por natureza, da ordem da fantasia. Assim, fomenta no leitor a curiosidade e o interesse pela descoberta permite que ele vivencie situações pelas quais jamais passou, alargando seus horizontes e tornando-o mais capaz de enfrentar situações novas. Ao romper com as barreiras da realidade, possibilita ao leitor o acúmulo de experiências só vividas imaginariamente o que torna mais criativo e mais crítico, além de ensiná-lo a reagir a situações desagradáveis e ajudá-los a resolver seus próprios conflitos.
11
Apesar de terem se originado há séculos atrás, os contos, as fábulas e as
lendas foram transcritas da oralidade e continuam resistindo por transparecer
sentimentos inerentes ao homem.
Os grandes clássicos infantis como: O Lobo Mau; Cinderela; Chapeuzinho
Vermelho e outros, ainda funcionam como excelentes aliados de pais, educadores ao
trabalharem conflitos e temores infantis. Ao ouvir uma narrativa a criança identifica-se
com determinado personagem ao perceber que o drama que o envolve é verossímil ao
que ela vive. Ocorrendo, então, um intenso envolvimento com o mundo do faz de conta.
(VILLARDI, 1999, p. 17).
Outro fato importante, narra ainda a mesma autora, nas histórias infantis é a
controvérsia, no comportamento dos personagens; Como exemplo, a Chapeuzinho
Vermelho, apesar de ser uma menina prestativa, se mostra desobediente ao passar
pelo caminho mais perigoso e ainda aceitar sugestão de um estranho (o lobo mau).
Outro clássico é a Branca de Neve, pela sua ingenuidade foi envolvida pela madrasta,
disfarçada de uma pobre velha, e come uma maça envenenada.
Vê-se nestes exemplos que os contos infantis apresentam tanto o lado bom
quanto o mal de seus personagens principais, que apesar de possuírem um caráter
aceitável socialmente apresentam alguns aspectos negativos e por isso sofreram
consequências graves. Mas também mostra que apesar de nossos aspectos negativos
podemos obter ajuda e perdão das pessoas que amamos. Como no caso do Pinóquio
que só se envolve em apuros por causa de suas mentiras, mas ao final da história se
arrepende e vê seu sonho se realizar ao ser transformado em um menino de verdade.
Ainda outro ponto em relação a esses personagens é que mesmo enfrentando
dificuldades e sofrimentos, ao final da história sempre saem recompensados e
vitoriosos, enquanto que outros personagens que apresentam maldade, orgulho, inveja
em seu caráter, são castigados e terminam de uma forma trágica.
Veem-se então nos dois aspectos apresentados acima a intenção de se
transmitir uma lição de moral e princípios, onde o mal nunca prevalece sobre o bem.
12
No desenrolar das histórias vemos tentativas de perseguição de um
personagem contra o outro, gerando tensões na história, que causam expectativa em
quem lê ou ouve, prendem a atenção, despertando a sensibilidade. Nessas passagens
de tentativas, de destruição, com más intenções contra uma pessoa que é do bem,
recorre-se a encantamentos, magias, etc. Na busca de soluções para esses conflitos
surgem então, as figuras mágicas: fadas, anões, bruxas malvadas, duendes, príncipes
e princesas, etc.
Bettelheim (1998, p. 19) complementa:
Só partindo para o mundo é que o herói dos contos de fadas (a criança) pode se encontrar; e, fazendo-o, encontrará também o outro com quem será capaz de viver feliz para sempre, isto é, sem nunca mais ter de experimentar a ansiedade da separação.
Sendo assim, vê-se que a literatura, através dos contos infantis orienta o futuro
e guia a criança a entender o inconsciente e o consciente e assim fazendo com que a
mesma se torne independente em suas ações. E ainda, por possibilitar o processo de
identificação, a literatura relaciona-se com aspectos que formam a personalidade
infantil sem, entretanto, colocá-la numa posição de pouco apreço, mas antes de tudo
valorizando o que ela tem de melhor, contribuindo para o desenvolvimento de sua auto-
estima.
É este mundo encantador dos contos que nos leva a lugares inesquecíveis, que
vão além da imaginação, buscando assim novos horizontes e desafios a leitura e mexe
com nossos sentimentos mais íntimos promovendo o estímulo da imaginação, fantasia
e até mesmo da personalidade humana.
13
3 METODOLOGIA
O método utilizado foi o recepcional, organizado por Bordini e Aguiar (1993),
pois este atende às perspectivas das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e
Literatura. Embora a intenção desse trabalho, não se restrinja ao método, pretendeu-se
utilizá-lo, considerando toda a sua potencialidade dialógica e interativa no trabalho com
o texto literário. O processo de recepção se inicia antes do contato do leitor com o texto.
O leitor possui um horizonte que o limita, mas que pode transformar-se continuamente,
abrindo-se.
Por sua vez, o texto pode confirmar ou perturbar esse horizonte, em termos das expectativas do leitor, que o recebe e julga por tudo o que já conhece e aceita. O texto, quanto mais se distancia do que o leitor espera por hábito, mais altera os limites desse horizonte de expectativas, ampliando-os. (BORDINI & AGUIAR, 1993, p. 87).
O método assim sistematizado se embasa em estratégias dialógicas e
interacionistas e tem na participação efetiva do leitor o seu fundamental interesse. É a
recepção da obra pelo leitor o lócus de observação e análise do professor, servindo
tanto para a identificação do nível e gosto de leitura dos alunos, quanto do valor
estético da obra em si.
Segundo as autoras, isso é possível porque ocorre, no momento da leitura, a
fusão dos horizontes históricos em que obra e leitor estão inseridos, podendo haver por
parte do leitor estranhamento ou interação. Quanto mais a obra se distancia do
horizonte de expectativa do leitor mais poder de transformação ela possui.
Nosso objetivo foi o de desenvolver em nossos alunos o espírito crítico e a
compreensão dos textos literários para que se tornem sujeitos atuantes na sociedade
contemporânea.
Em resumo o método trabalhado consistiu em cinco etapas de implementação
do projeto, sendo a primeira a determinação do horizonte de expectativa, onde se
14
realizou um diálogo com os alunos para identificar em que nível de leitura este se
encontra.
Na segunda foram levados para a classe textos literários que os alunos
apreciaram, e as estratégias era trabalhar na forma que eles conheçam e não tenham
dificuldades de se interagir com os respectivos textos;
Na terceira fase foi manter a mesma estrutura dos textos e mesma temática,
porém, foram alterados outros aspectos, exigindo do leitor mais atenção e raciocínio
para a compreensão;
Na quarta etapa foi à relação de reflexão e de questionamento do material
literário trabalhado;
Na quinta e última etapa, foram observados o nível de conscientização das
aquisições feitas com a leitura e das alterações vividas por meio da experiência com a
literatura, assim sendo, avaliar a motivação para outras leituras e a reação individual e
coletiva de todo processo instituído da leitura como elemento básico de toda atividade
realizada.
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Após o período estabelecido pelo projeto de implementação organizado para a
realização desta pesquisa, observou-se que foi um trabalho de auxílio mútuo, realizou-
se uma excelente parceria entre a receptividade dos alunos o que nos auxiliou na
motivação da aplicação das atividades e o interesse em desfrutar daqueles momentos
que impulsionaram tantos instantes de debates, descobertas, reflexões, interações,
novos aprendizados, observação no crescimento individual e coletivo, o que torna
prazeroso o feed back para qualquer professor.
Iniciou-se as atividades com a seguinte caracterização e estrutura:
15
Apresentação do projeto para a Direção, a Equipe Pedagógica, o Corpo
Docente e Funcionários do Colégio.
ETAPA 1 - DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS:
Nesta etapa para detectar o horizonte de expectativa, foi realizado um diálogo
com os alunos para identificar em que nível de leitura a turma se encontrava em relação
a diversos aspectos: social, intelectual, ideológico, linguístico, psicológico e literário.
A atividade iniciou-se com o conto e o filme do “Chapeuzinho Vermelho”, por
ser um dos mais conhecidos e apresentar várias versões semelhantes, mas com suas
particularidades.
Para iniciar as atividades foi questionada a turma a respeito da história que
seria lida. O que sabiam sobre ela, o que esperavam encontrar nessa versão, que data
do séc. XVII e outros questionamentos que julgaram necessários no decorrer da
conversação.
Após a conversação foi apresentado o conto “Chapeuzinho Vermelho” na
versão de Charles Perrault. O professor leu o conto para os alunos. Essa leitura foi
planejada com antecedência, planejando intervenções que foram realizadas antes,
durante e depois da leitura.
Após a leitura, feita pelo professor, desta versão foi solicitado aos alunos que
comentassem sobre o texto livremente. (E o resultado foi altamente positivo, muitos
queriam falar ao mesmo tempo, perguntas das mais variadas foram surgindo e isto foi
muito interessante, pois logo na primeira atividade, pois o fato de ouvir com entonação,
caretas e performance estimulou a imaginação dos alunos, e para nós, professores, foi
um momento de grande motivação também.) Quando percebeu-se que os alunos já
haviam comentado a respeito de quase tudo o que gostariam, passou-se a uma outra
etapa que era uma discussão, onde foi chamada a atenção sobre determinados
detalhes, foi importante observar a descrição dos personagens, o cenário, a ação e o
16
diálogo que ocorre entre os personagens, onde seria realizado uma comparação com
outra versão da mesma história. A comparação foi realizada na versão dos irmãos
Grimm, nesta versão pode-se observar que a descrição das personagens é mais
elaborada, os diálogos são mais presentes e o final da história é bem diferente.
Também na interação da atividade foi chamada a atenção para os alunos
relendo algumas descrições e conversando sobre a linguagem literária e os efeitos que
ela produz no leitor para que ficasse mais marcante o enredo, a história, a mensagem.
Após a leitura do texto foram realizados comentários comparativos a partir dos
assuntos evidenciados nos mesmos, buscando atrair os alunos e motivando-os para
trabalharem o tema, foi solicitado aos alunos que falassem sobre o “Conto de Fadas”, a
diferença entre as histórias dos contos de fadas e as outras histórias, o que há nos
contos fantásticos que outros contos não têm; questionados foram também sobre os
autores de contos de fadas que já ouviram falar e sobre os contos conhecidos, e a
intenção era induzi-los a comparar diferentes versões de um mesmo conto.
Em termos de comparação foram realizadas atividades sequenciais priorizando
os seguintes elementos:
*Como o autor descreve o lobo no início da história? A descrição é diferente da
versão de Perrault?
* Como o autor caracteriza a floresta? Era uma floresta comum? O que tinha de
diferente?
* Quando o lobo encontra a menina pela primeira vez, o que ele diz a ela?
* Como o lobo fez para fingir ser a avó da menina? Deu certo esse plano?
* O autor descreve nessa história tanto as personagens como o ambiente, a
floresta e a casa da avó, isto torna a história mais monótona que a outra versão ou
não?
Explique sua resposta.
17
* Quanto ao uso dos diálogos, isso torna a história mais emocionante ou só a
prolonga mais?
*A versão de Perrault tem um fim trágico e uma moral. O que você entendeu
dessa moral?
* Na versão contada pelos Irmãos Grimm, A protagonista Chapeuzinho recebe
auxílio do caçador e sobrevive. Quem tem um fim trágico nessa versão? A moral está
presente nessa história ou não? Se sua resposta for afirmativa explique essa moral?
Após o debate sobre as semelhanças e diferenças e o registro escrito das
conclusões da turma, pode-se fazer uma pesquisa orientada, que levantou os tópicos
que os alunos iriam pesquisar através de um questionário.
A pesquisa foi sobre a origem dos contos de fadas e sobre os três principais
autores “Charles Perrault”, “Irmãos Grimm” e “Hans C. Andersen”. Os alunos fizeram a
pesquisa na Internet e em livros disponíveis na biblioteca da escola. Foram indicados
alguns sites e referências de livros e revistas de fácil acesso aos alunos.
Após a pesquisa feita e as questões respondidas, foi montado um texto.
Utilizou-se de perguntas para não deixar o aluno copiar tudo o que encontrasse, mas
para incentivá-lo a ler e selecionar o que realmente fosse importante para a construção
do texto da pesquisa que foi realizado em grupos pequenos, juntando as respostas e
construindo o texto sob a supervisão do professor que os orientou sobre como proceder
para que o texto ficasse coerente, claro e que fosse realmente um produto do trabalho
deles.
ETAPA 2 - ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Esta segunda etapa consistiu no atendimento do horizonte de expectativas, em
que foram levados para a classe textos literários para que os alunos apreciassem, e as
estratégias trabalhadas foram na medida da realidade do aluno, do seu conhecimento
elementar e o grau de dificuldade.
18
Nesta etapa, apresentou-se o conto “A Bela e a Fera” e posteriormente foi
assistido o filme do mesmo conto. Com esse texto e o filme foi possível fazer a
comparação entre a versão escrita e a do filme, verificando os elementos estruturais e
os símbolos presentes tanto no texto quanto no vídeo.
Para estabelecer relação entre o filme e a realidade social do aluno, as
seguintes perguntas foram dirigidas à turma: Qual seria sua reação ao encontrar com
uma fera como a do filme? Apesar das aparências, mas mostrando-se humanizada
você seria capaz de amá-la? Bela teve razões para recusar o amor de Gastão? Quais?
Para você as qualidades internas são mais importantes que a aparência física? Você
conhece alguma história (fictícia ou real) que tenha semelhança com a que acabou de
ver? Vamos narrar para os colegas.
Após as leituras, foi a vez de trabalhar a escrita através da reprodução dos
contos lidos fazendo paráfrase, paródias, ou desconstruindo os mesmos, modificando o
ambiente, acrescentando personagens ou misturando as histórias.
Através da leitura, das atividades de paráfrases, paródias e desconstrução dos
textos, os alunos deveriam estar aptos a produzirem seus próprios contos. Novamente
foi colocado no quadro os elementos que eram necessários para elaborar um conto de
fadas.
Foi solicitado para os alunos que consultassem o Dicionário de Símbolos,
preparado anteriormente, um pequeno esquema que ajudou a entender melhor alguns
dos simbolismos implícitos no conto, por exemplo:
• Conhecer o castelo – introspecção ao nosso mundo interior; busca de
autoconhecimento; simboliza a conjunção dos desejos, sendo que o Castelo às escuras
(onde vivia a Fera) representa o inconsciente; a parte luminosa (onde Bela transitava)
representa o consciente;
• Espelho mágico – símbolo do conhecimento e da sabedoria é o
instrumento da iluminação; simboliza também o coração do iniciado;
• Floresta – símbolo do inconsciente pela obscuridade;
19
• Relógio – ligado ao simbolismo do tempo e ao ciclo da vida;
• Castiçal – símbolo de luz espiritual, de semente de vida e de salvação;
• Pai – ligado ao simbolismo da dominação, da posse, do valor, é uma
forma de representação da autoridade; representa a consciência diante dos impulsos
instintivos e dos desejos espontâneos do inconsciente;
• Lobo – imagem arquetípica cujo simbolismo está ligado ao fenômeno de
alternância dia-noite, morte-vida; também simboliza a sexualidade instintiva.
Ligando-se essa simbologia, têm-se uma descida ao inconsciente em busca de
autoconhecimento, onde os conteúdos sombrios são gradativamente assumidos e
integrados à consciência. Todos nós, no desenvolvimento de nossa personalidade
consciente, teremos o acompanhamento da sombra. E ela se torna perigosa quando a
personalidade consciente perde contato com ela. Pois então poderá irromper com toda
a potencialidade do inconsciente, como força poderosa e irracional. Como Bela temos
que aprender a amar a Fera - nosso lado obscuro, pois ele faz parte de nós, e
integrando essa parte obscura de nosso todo psíquico, proporcionamos um
desenvolvimento rico e criativo à nossa personalidade.
ETAPA 3 - RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Nessa fase, foi a hora de romper com ideias pré-concebidas e preconceituosas.
A estrutura do texto apresentado manteve a mesma temática, porém, foram
alterados os outros aspectos, exigindo do leitor mais atenção e raciocínio para a
compreensão.
Após a leitura do livro de Pedro Bandeira “O fantástico mistério de Feiurinha”,
os alunos fizeram uma viagem pelo universo fantástico dos contos de fadas, isso
porque o autor reúne numa versão nova e bem humorada, vários contos de fadas,
apresentados sob nova perspectiva.
20
Nesta fase foi escolhida a obra “O fantástico mistério de Feiurinha”, por tratar-se
de uma narrativa que rompe com os contos de fadas tradicionais e, em muitos
aspectos, perturba completamente a ordem dos acontecimentos, misturando
brincadeiras com uma pitada de ironia, o autor focaliza clichês presentes nas histórias
infantis, colocando-os em dúvida, requerendo do público leitor uma nova postura, ao
mesmo tempo aventureira e questionadora.
Desse modo, ao caminhar junto com os personagens para desvendar o mistério
de Feiurinha, o leitor relembra as histórias tradicionais, observando com desconfiança
os elementos curiosos que compõem o universo fantástico dessas narrativas. Assim,
além de alterar o quadro de referências do leitor, ele pode também, atuar como
detetive, buscando pistas que justifiquem o sumiço da princesa.
Essa caminhada instigante na recuperação das pistas dá margem á mediação
do professor para apontamentos de aspectos importantes a serem observados durante
o percurso de leitura. Entre eles a linguagem; os usos figurativos, as técnicas de
composição dos cenários, personagens (características físicas e psicológicas) e a
forma de utilização do tempo (cronológico e ou psicológico), ou seja, toda a gama de
recursos utilizados pelo autor que traduzem o seu estilo e garantem a literariedade do
texto. E, ainda, os elementos estruturais, próprios do texto teatral (os diálogos, as
indicações, as descrições dos cenários [...]) que indicam a diferença entre o texto
dramático e o narrativo.
Solicitou-se aos alunos a releitura dos contos feitos nas aulas anteriores, para
identificarem pontos de semelhança com a obra de Pedro Bandeira quanto a estrutura
composicional, em seguida foi solicitado aos alunos que fizessem a leitura dos contos
do segundo livro, Sete faces dos contos de fadas: “Um par de tênis novinho em folha”,
“Chapéu vermelho II – as bocas do lobo”, “A salvadora do mundo”, “Bela”, “Luz verde”,
que tratam, respectivamente dos clássicos: “Cinderela”, “Chapeuzinho vermelho”,
“Branca de Neve e os sete anões”, “A bela adormecida”, e “A bela e a fera”. Foi dado
um prazo para que todos os alunos pudessem ler. Terminado o prazo para a leitura e
21
compreensão da obra de Pedro Bandeira, pediu-se para que os alunos apresentassem
uma encenação do livro, “O fantástico mistério de Feiurinha”,
Ao final dessa etapa, os alunos deveriam ser capazes de retomar as diferenças
e semelhanças fundamentais das personagens e trazê-las para a vida real. E esta foi
uma conquista muito positiva apresentada pelos mesmos.
ETAPA 4 - QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
A próxima etapa desenvolvida com os alunos foi, conforme citam Bordini e
Aguiar (1993), de questionamentos dos materiais literários trabalhados. Quais textos
exigiram um nível mais alto de reflexão, realização de análises e comparações das
leituras realizadas, e, através disso, a intenção era detectar as dificuldades que ainda
existiam, e que os educandos percebessem que o conhecimento e a experiência que
tiveram estavam sendo ajudados na compreensão dos textos vistos.
Apresentou-se ainda aos alunos, uma leitura totalmente diferente do esperado
como a história da “Chapeuzinho Amarelo de Medo” de Chico Buarque. Onde foi
promovida uma interpretação sobre o texto e solicitado aos alunos que em grupos
criassem uma nova versão para o conto, mudando o final ou colocando elementos da
nossa realidade que depois seriam expostas em um varal de contos.
Trabalhou-se também a intertextualidade e a interdisciplinaridade, com o texto
Fita Verde no Cabelo de Guimarães Rosa. Após uma leitura do texto Fita Verde no
Cabelo de Guimarães Rosa, foi explicado o contexto social que foi escrito, mostrando
para o aluno a importância da intertextualidade e proporcionando através das
atividades, a sensibilização e a socialização entre os alunos.
A seguir foram abordados temas importantes do conto Fita Verde no Cabelo
como: as relações familiares, a doença, a velhice, os perigos a que estamos sujeitos, os
22
medos que estão no outro e dentro de nós mesmos, entre outros que poderão surgir
através do diálogo em sala de aula, é importante que ele perceba a riqueza da
narrativa. O aluno ainda pôde, através de uma leitura comparativa dos vários textos,
estudar não só nossa flora e fauna, como também, criar seu próprio Chapeuzinho
Vermelho.
Como atividades para aprofundamento e compreensão da leitura da música
Chapeuzinho Amarelo foram realizados os seguintes questionamentos:
1) Quais as diferenças entre Chapeuzinho Vermelho e Chapeuzinho Amarelo?
2) Qual dos medos da personagem você achou mais estranho?
3) Em sua opinião, como deve ser a vida do Chapeuzinho Amarelo?
4) Qual é o tema que se pode extrair da música de Chico Buarque?
5) Você é medroso? Se for, qual é o seu maior medo? Argumente.
Algumas histórias, ainda hoje, são passadas de geração em geração. Você
deve dar continuidade ao Era uma vez, desenvolvendo a atividade proposta abaixo.
I momento:
Entreviste os avôs coletando histórias.
Selecione a que mais gostou e apresente para a sala.
II momento:
Em grupo, selecionem as histórias que provocaram gostinho de quero
mais, risos, surpresas, medos, emoções...
III momento
• Assim como os autores Charles Perrault e os irmãos Grimm, no coletivo,
vamos registrá-las.
• Escrevam um sumário com o título das histórias;
• Façam um pequeno texto informando o leitor do que vai encontrar na
coletânea.
23
ETAPA 5 - AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Nesta última etapa, conforme afirmam Bordini e Aguiar (1993), os alunos devem
perceber que os textos literários não são apenas tarefas da vida escolar, mas estão
conscientes das aquisições feitas e das alterações vividas por meio da experiência com
a Literatura, assim sendo, eles deverão buscar outras leituras, isso ampliará ainda mais
os seus horizontes.
Segundo Bordini e Aguiar (1993) o final desta etapa é o início de uma nova
aplicação do método, que evolui em espiral, sempre permitindo aos alunos uma postura
mais consciente com relação à literatura e à vida.
Foi passado o filme: “Deu a Louca na Chapeuzinho”, com o objetivo de
promover a discussão e reflexão em grupo e fazer apontamentos sobre os temas mais
interessantes da história. Fizeram uma comparação com os textos já vistos,
confirmando assim, a ampliação, ou não, do horizonte de expectativas de cada aluno.
PRODUZINDO UM CONTO DE FADAS
Foi solicitado o seguinte esquema ao aluno: Você observou que nos contos de
fadas, algumas situações se repetem:
▪ a presença do herói ou da heroína;
▪ a armadilha;
▪ a luta entre herói e vilão;
▪ a vitória;
▪ o castigo do vilão.
Agora é a sua vez de escrever um lindo conto de fadas e divulgá-lo através do
mural “Cantinho do Conto”, que será organizado junto com seu professor.
24
4.1 AVALIAÇÃO FINAL
Percebeu-se no decorrer das atividades o interesse da turma nos momentos de
contação de histórias, tais momentos eram propostos ao longo do dia, a dramatização
com o auxílio de máscaras e roupas e sempre com muita criatividade.
A história da Chapeuzinho Vermelho foi necessário recontá-la várias vezes e
suas versões também, e embora eles tivessem decorado as falas e as passagens,
mostravam-se sempre concentrados e atentos a cada nova interação. E a cada nova
atividade se mostravam cada vez mais estimulados a ouvir e curiosos no que viria na
sequência, quais as surpresas que estavam sendo reservadas para eles.
Bastava realizar uma atividade como colagem, pintura, desenho livre,
dobradura, folhear revistas e livros, para se criar uma nova história. Ficou evidente que
a proposta de ouvir, ler, pesquisar, relatar, escrever e ilustrar as produções sobre várias
temáticas enriquece a desenvoltura, o interesse e a participação natural do aluno.
Fica bem visível também que com a conveniência deste projeto, a ampliação do
vocabulário foi um dos elementos positivos, a possibilidade de interação entre o grupo,
uma vez que todas as crianças participavam de todas as etapas do processo de
criação. É fato, que alguns alunos se destacam mais por se expressarem com clareza e
possuírem um perfil mais espontâneo, extrovertido, aberto, mas sem tirar o mérito sobre
os mais tímidos, fechados, quietos que na sua forma de ser também se expressavam
de maneira confortável e muito natural, expressando-se não através de palavras, mas
com expressões faciais para demonstrar alegria, surpresa, espanto, descontentamento,
etc. Enfim, esse projeto oportunizou que se aflorassem muitas emoções no grupo,
enriquecendo o vocabulário e incentivando o gosto pela leitura.
Ao desenvolver a pesquisa faz com que o aluno possa trabalhar com a
informação, a criatividade, a imaginação, a socialização, aguçar a curiosidade, mas, de
certa forma, trabalha-se o desenvolvimento geral, isto é, o cognitivo, motor, verbal,
expressão corporal, escrita, localização geográfica e espacial, coordenação, raciocínio
25
lógico e abstrato, e ainda, o fator emoção, que é um sentimento que existe na forma de
muita carência em nossos educandos, e este emocionar faz com que o aluno possa
reconhecer sua própria reação perante a sua relação com o mundo, com as estórias do
mundo real e isto é um auxílio altamente salutar que o professor deve ter no seu rol de
metodologia pedagógica para auxiliar o educando na construção de sua personalidade.
Acredito que o gestor, professor, educador, deva investir mais nestas
possibilidades inovadoras, pois, é a personalidade do aluno que está dentro da
prioridade do processo. E assim, ele contribuirá para um mundo melhor com grandes
leitores e verdadeiros cidadãos.
Em suma, foi um trabalho enriquecedor para ambos, motivante, gratificante e ao
final das atividades observar aquele sentimento em nossos alunos de “quero mais” é
um valor impagável.
É o fechamento que qualquer profissional sente na pele o prazer da realização
de seu papel, o prazer de dizer com veemência: “missão cumprida”.
5 CONCLUSÃO
Conclui-se o presente trabalho, partindo do princípio elementar de que segundo
a pesquisa bibliográfica que vários autores são enfáticos e categóricos quando se
referem à importância, o prazer e o gosto pela leitura. Que quanto mais cedo o contato
com a Literatura, maior será o sucesso com a formação de futuros leitores.
Infelizmente nos dias atuais, numa sociedade imediatista, onde a televisão e os
jogos eletrônicos ocupam grande parte do dia a dia da população, principalmente das
crianças, o professor tem um grande desafio quanto se trata de prazer pela literatura.
Portanto, a formação do futuro leitor, o desenvolvimento da sua capacidade de
ler e do gosto que ele apresentará pela leitura, supera os limites escolares, porém, é
26
impossível dissociar instituição escolar e leitura, devido ao nível de responsabilidade
que essa instituição chamou para si com o consentimento da sociedade.
Cabe ao professor buscar inserir democraticamente esse aluno em práticas
variadas, de modo que possa experimentar a leitura em diversos contextos e de
diversas formas.
Portanto, afirma-se que é através de atividades pedagógicas criativas que os
alunos têm a oportunidade de entrar ou reentrar no contexto da leitura, do ouvir
histórias e reproduzir sua própria história. Mas este contato não pode ser encarado
como uma obrigação escolar nem como parte de aquisição de conteúdos, apenas. É
necessário que se busquem alternativas para a utilização da literatura como algo
formador e transformador, indispensável à formação do atual e futuro leitor, que saberá
interpretar o mundo que o cerca, como um verdadeiro cidadão.
É de extrema necessidade que nossos alunos possam exercer sua capacidade
de criar, que exista riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas
dentro da escola, sejam elas voltadas através do lúdico, do conto de fadas ou das
aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta ou indireta.
Pois existem modos de agir e de pensar que competem somente às crianças,
porém, somente ao adulto é possível questioná-las para que estruturem logicamente o
seu pensamento e consequentemente suas ações.
Esta é a verdadeira postura do educador, do profissional da educação.
27
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira de. A Literatura e o leitor. Letras de hoje. Porto Alegre, Epecê, 1986. v. 19, n.1. p. 87-94.
ALBERGARIA. Lino. Do folhetim à literatura infantil: leitor, memória e identidade. Belo Horizonte: Editora Lê, 1996.
BANDEIRA, Pedro. O Fantástico mistério de Feiurinha: teatro. 1a ed. São Paulo: FTD, 2001. (Coleção literatura em minha casa; v.5).
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 1998. BORDINI, Maria da Gloria e AGUIAR, Vera. A Formação do Leitor: Alternativas Metodológicas. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.
CHATEAU, Jean. O Jogo e a Criança. São Paulo: Summus, 1987.
CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. edição 24ª Editora José Olympio, 2003.
COELHO, Nelly Novaes. 'O Conto de Fadas'. São Paulo: Ática, 2000.
FERREIRO, Emilia & TEBEROSKY, Ana. Reflexões sobre a alfabetização. São Paulo: Cortez, 1985.
GOULART, Cecília. Letramento e modo de ser letrado: discutindo a base teórico metodológica de um estudo. Revista Brasileira de educação, vol. 11, n. 33, p. 450-460, set./ dez., 2006.
GOUVEIA, Ricardo. Chapeuzinho Vermelho. In Estorinhas pra ninar Marguixe. São Paulo: Ed. Nacional, 1984.
GRIMM, Irmãos. Chapeuzinho Vermelho. In Contos e Lendas dos Irmãos Grimm. São Paulo: Edigraf.,1961.
KISHIMOTO, Tadamitsu. O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira, 1994.
28
LAJOLO, Marisa. De mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Editora Ática, 2000.
MACHADO, Angelo. Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará. São Paulo: Melhoramentos, 1993.
MALAMUT, Éster. Contando ou lendo estórias na pré-escola. Revista do professor. Rio Grande do Sul, CPOEC, ano VI, n.º 21, jan. á mar. 1990.
NOVA ESCOLA. Um banho de modernidade nos contos de fadas. Disponível em http://novaescola.abril.com.br/ed/120_mar99/html/portugues.htm. Acesso em 05/07/2011.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública da Educação Básica do Estado do Paraná – Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.
PERRAULT, Charles. Chapeuzinho Vermelho. Porto Alegre: Kuarup, 1984.
PINTO, Gerusa Rodrigues; LIMA, Regina Célia Villaça. O Desenvolvimento da Criança. 6. Ed. Belo Horizonte: FAPI, 2003.
ROSA, João Guimarães. Fita Verde no Cabelo, in Ave Palavra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
SAVIANI, Demerval. Educação, cidadania e transição democrática. In: COVRE, Maria de Lourdes Manzini, org. A cidadania que não temos. São Paulo. Brasiliense, 1986, p.82
SOARES, Magda B. Alfabetização e letramento, caminhos e descaminhos. Revista Pátio, ano VIII, n. 29, p. 19-22, fev / abr, 2004.
TATAR, Maria. Contos de fadas: edição comentada e ilustrada. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004.
TELLES, Carlos Queiroz et al. Sete faces do conto de fadas. 5a ed. Projeto e orientação literária de Márcia Kupstas. São Paulo: Moderna, 1993.
VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler. Rio de Janeiro: Ed. Dunija, 1999.
29
ZILBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. Série Fundamentos 41. São Paulo: Ática, 1989.
SITES VISITADOS
Disponível em: http://www.monica.com.br/index.htm. Acesso em 06/07/2011.
Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/visualizar.php?idt=102457. Acesso em 05/07/2011.
Disponível em: http://www.wikipedia.org/. Acesso em 05/07/2011.
Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/4829/1/Contribuicoes-Do-Metodo-Recepcional-Para-A-Leitura-Literaria-Na-Escola/pagina1.html#ixzz1IMVzzplq. Acesso em 04/07/2011.
30