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ALCANOS E COCLOALCANOS ANA JULIA SILVEIRA 133 A principal fonte dos alcanos é o petróleo, sua composição química apresenta uma mistura complexa de alcanos, hidrocarbonetos aromáticos e compostos de oxigênio, enxofre e nitrog ênio, que aparecem em menor quantidade. O petróleo é um líquido viscoso e geralmente de coloração escura. Os combustíveis utilizados diariamente pela sociedade são misturas de hidrocarbonetos derivados do petróleo, como a gasolina, gás de cozinha, querosene, óleo diesel, etc. Os derivados do petróleo são obtidos em uma refinaria de petróleo através da destilação fracionada, neste processo é utilizado uma torre de fracionamento, também chamada de coluna de destilação que tem o objetivo de separar os componentes químicos do petróleo pelo ponto de ebulição. Os componentes químicos que possuem o mesmo ponto de ebulição, ou ponto de ebulição próximos, aparecem como uma mistura, portanto, é possível a obtenção de misturas de alcanos de pontos de ebulição semelhantes. O destilado pode apresentar mais de 500 compostos diferentes com pontos de ebulição abaixo de 200°C e muitos têm praticamente os mesmos pontos de ebulição. Os alcanos de alto peso molecular, que formam estruturas com vinte até quarenta carbonos, são responsáveis pela fabricação de velas e giz de cera. A quantidade de carro que trafega em nosso planeta, aumenta a cada década. Para atender ao grande consumo de gasolina, as refinarias processam muito petróleo. As mistura de alcanos, denominadas de gasóleo (alcanos que possuem a quantidade de carbono maior ou igual a 12) são submetidas ao craqueamento catalítico, que consiste no aquecimento desta mistura, em temperatura elevada, cerca de 500 0 C na presença de catalisador. Este processo favorece a quebra e rearranjo das moléculas de alcanos,desta forma, se obtém alcanos menores e ramificados. O produto mais importante obtido da destilação do petróleo é a gasolina, que apresenta estruturas C 7 e C 8 , como hidrocarboneto predominantes em sua

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A principal fonte dos alcanos é o petróleo, sua composição química apresenta uma mistura complexa de alcanos, hidrocarbonetos aromáticos e compostos de oxigênio, enxofre e nitrog ênio, que aparecem em menor quantidade. O petróleo é um líquido viscoso e geralmente de coloração escura. Os combustíveis utilizados diariamente pela sociedade são misturas de hidrocarbonetos derivados do petróleo, como a gasolina, gás de cozinha, querosene, óleo diesel, etc. Os derivados do petróleo são obtidos em uma refinaria de petróleo através da destilação fracionada, neste processo é utilizado uma torre de fracionamento, também chamada de coluna de destilação que tem o objetivo de separar os componentes químicos do petróleo pelo ponto de ebulição. Os componentes químicos que possuem o mesmo ponto de ebulição, ou ponto de ebulição próximos, aparecem como uma mistura, portanto, é possível a obtenção de misturas de alcanos de pontos de ebulição semelhantes. O destilado pode apresentar mais de 500 compostos diferentes com pontos de ebulição abaixo de 200°C e muitos têm praticamente os mesmos pontos de ebulição.

Os alcanos de alto peso molecular, que formam estruturas com vinte até quarenta carbonos, são responsáveis pela fabricação de velas e giz de cera.

A quantidade de carro que trafega em nosso planeta, aumenta a cada década. Para atender ao grande consumo de gasolina, as refinarias processam muito petróleo. As mistura de alcanos, denominadas de gasóleo (alcanos que possuem a quantidade de carbono maior ou igual a 12) são submetidas ao craqueamento catalítico, que consiste no aquecimento desta mistura, em temperatura elevada, cerca de 5000C na presença de catalisador. Este processo favorece a quebra e rearranjo das moléculas de alcanos,desta forma, se obtém alcanos menores e ramificados. O produto mais importante obtido da destilação do petróleo é a gasolina, que apresenta estruturas C7 e C8, como hidrocarboneto predominantes em sua

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composição. O craqueamento pode ser também realizado na ausência do catalisador e recebe a denominação de craqueamento térmico. A ausência do catalisador favorece a obtenção de alcanos de cadeia normal, este tipo de alcano não é favorável para a composição de uma boa gasolina. A melhor gasolina é aquela que possui em sua composição alcano ramificado como 2,2,4-trimetilpentano. O composto 2,2,4- trimetilpentano (chamado de “isoctano” na indústria do petróleo) altamente ramificado, queima muito suavemente (sem bater pino) nos motores de combustão interna e é usado como um dos padrões pelos quais a octanagem de gasolina é estabelecida, pelo fato de favorecer melhor desempenho ao motor dos carros. De acordo com a escala, 2,2,4-trimetilpentano tem octanagem 100.

H3C

C

CH2

C

CH3

H3CCH3 CH3H

2,2,4-trimetilpentano

H3C

H2C

CH2

H2C

CH2

H2C

CH3

heptano

O heptano CH3(CH2)5CH3, um composto que produz muita batida quando é

queimado em um motor de combustão interna, e, portanto fornece o pior desempenho ao motor do automóvel tem octanagem de zero. A mistura 2,2,4-trimetilpentano e heptano são usadas como padrões de octanagem de 0 a 100. A gasolina que tem as mesmas características em um motor com a mistura de 87% de 2,2,4-trimetilpentano e 13% de heptano seria cotada como gasolina de 87 octanas. Gasolina com índice de octanas igual a 70% apresenta a composição da mistura com 70% de octanas e 30% de heptano.

A geometria tetraédrica para o carbono com hibridação sp³ permite uma disposição

espacial para cada carbono e para cada hidrogênio na estrutura, como pode ser observado na (figura 6.01).

CH4

Metano

CH3 - CH3

Etano

CH3 - CH2 - CH3

Propano

H

H

HH

CH3

H

HH

CH3

CH3

HH

Figura 6.01. Forma espacial de alguns alcanos.

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A conexão entre carbonos é realizada através da ligação sigma. Estes compostos são de baixa reatividade e promovem reações com mecanismo via radical livre.

O encadeamento de carbonos favorece a formação de alcanos com vários tipos de cadeia. Nestas cadeias carbônicas se formam carbonos quaternários, terciários, secundários e primários.

H3C CH3

H CH3

neopentano

isopentanoCarbono quaternário

Carbono terciário

Estrutura do2-metilexano

H3C

H2C

CH2

CH3

Carbono primário

Carbono secundário na estrutura do butano

H3C

H2C

CH2

CH

CH3

H3C

Carbono terciário

Carbono primário

Carbono primárioCarbono secundário

Carbono primário

H2C

H2CCH2

CH2

H2C

Estrutura do ciclopentanoTodos são carbonos secundários

Os compostos cíclicos com três e quatro carbonos mostram uma distorção acentuada

no ângulo de ligação tetraédrico que normalmente é de 109,5o. Esta distorção angular diminui em anéis de cinco e deixa de existir em anéis de seis. A estrutura do cicloalcano mostra o lado “de cima “ da molécula e o lado “de baixo” , desta forma é possível localizar os ligantes em diferentes lados em cicloalcanos substituídos, este comportamento leva a formação de isômeros. Por exemplo, existem dois isômeros diferentes para cada cicloalcano.

CH3 CH3 CH3

CH3H H H

H

cis-1,2-dimetilciclopropano trans-1,2-dimetilciclopropano

CH3 CH3

H Hcis-1,2-dimetilciclobutano

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CH3 CH3

H H

cis-1,4-dimetilcicloexano

CH3

CH3H

H

trans-1,4-dimetilcicloexano

CH3

CH3H

H

trans-1,2-dimetilciclobutano

O butano e o isobutano possuem a mesma fórmula molecular: C4H10 e se tornam diferentes pela forma como são conectados os átomos. Quando os compostos se diferenciam pela forma diferente de realizar a conexão dos átomos, recebem a denominação de isômeros constitucionais. O isopentano, o pentano e o neopentano também são isômeros constitucionais. Os isômeros constitucionais possuem propriedades físicas e químicas diferentes.

H3C

H2C

CH2

CH3

H3CCH

CH3

CH3

butanoisobutano / 2-metilpropano

H3C

H2C

CH2

CH2

H3CCH

CH2

CH3

isopentano / 2-metilbutano

CH3

pentano

CH3

H3CC

CH3

H3C CH3

neopentano / 2,2-dimetilpropano

A tabela 6.01 mostra que o número de isômeros constitucionais possíveis cresce à medida que o número de átomos de carbono no alcano aumenta. Tabela 6.01. Número de isômeros constitucionais para alguns alcanos. (Allinger, 1978).

Fórmula molecular Isômeros constitucionais

C4H10 2

C5H12 3

C6H14 5

C7H16 9

C8H18 18

C9H20 35

C10H22 75

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São formados de alcanos e cicloalcanos pela retirada de hidrogênio primário, secundário ou terciário. A tabela 6.02 mostra o grupo alquila correspondente a cada alcano.

Perceba que o propano pode gerar o radical propil pela retirada de hidrogênio primário e o radical isopropil pela retirada de hidrogênio secundário. Tabela 6.02. Alguns grupos alquila de cadeia linear Alcano Grupo alquila Abreviatura Nome Metano CH4 -CH3 -Me Metil ou metila Etano CH3 – CH3 -CH2CH3 -Et Etil ou etila Propano CH3CH2CH3 -CH2CH2CH3 -Pr Propil ou propila Butano CH2CH2CH2CH3 -CH2CH2CH2CH3 -Bu Butil ou butila

H2C

H2CCH2

CH2

H2C

Ciclopentano

H2C

H2CCH2

CH

H2C

Ciclopentil

H2C

H2CCH2

CH2

CH2

H2C

Cicloexano

H2C

H2CCH2

CH

CH2

H2C

Cicloexil

O sistema formal de nomenclatura usado atualmente é aquele proposto pela IUPAC-

(International Union of Pure and Applied Chemistry). Norteando o sistema IUPAC de nomenclatura para os compostos orgânicos, repousa um princípio importante: cada composto diferente deve ter um nome específico. O sistema IUPAC é suficientemente simples para permitir a qualquer químico familiarizado com as regras escrever o nome de qualquer composto que possa ser encontrado. Da mesma forma, é possível deduzir a estrutura de um dado composto a partir de seu nome na IUPAC. O sistema IUPAC para denominar os alcanos não é difícil de aprender e os princípios envolvidos também são usados para nomenclaturas de outras famílias. Assim, começaremos com as regras IUPAC para os alcanos, haletos de alquilas e álcoois. O final para todos os nomes dos alcanos é –ano. As raízes dos nomes da maioria dos alcanos (acima de C4)são de origem grega ou latina. Portanto, saber as raízes é como aprender a contar em química orgânica.Então, um, dois, três, quatro e cinco, se transformam em met, et, prop, but e pent.

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As regras utilizadas para a nomenclatura de alcanos com cadeia ramificada tiveram como referência (Solomons, 2005). 1-Localize a cadeia de carbono mais comprida com o maior número de ramificações. Essa cadeia determina o nome principal para o alcano. Designamos o seguinte composto, por exemplo, como sendo um hexano, pois a cadeia mais comprida possui seis átomos de carbono: 2- A numeração da cadeia mais longa começa na extremidade que estiver mais próxima do substituinte.

H3C

H2C

CH2

H2C

CH

CH3

CH3

1

356 24

Substituinte

H3C

H2C

CH2

H2C

CH

CH3

CH2H3C

Substituinte

1

2

34

56

7

3-Use os números obtidos pela aplicação da regra dois, para designar a localização do grupo substituinte.

Primeiro coloca-se o numero localizador do substituinte seguido do hífem, posteriormente o nome do substituinte seguido do nome principal atribuído ao encadeamento.

H3C

H2C

CH2

H2C

CH

CH3

CH3

1

356 24

H3C

H2C

CH2

H2C

CH

CH3

CH2H3C

1

2

34

56

7

2- Metilexano 3-Metileptano

4) Quando dois ou mais substituintes estão presentes, atribua a cada substituinte um número que corresponde à sua localização na cadeia mais comprida e liste os substituintes por ordem alfabética. Por exemplo, designamos o seguinte composto como 4-Etil-2-metilexano.

H3C

HC

CH2

H2C

CH

H2C

CH2H3C

12

34

56

7

CH3

CH2

CH3

8

5-Etil-2-metiloctano Os grupos substituintes devem ser listados em ordem alfabética, desconsidere os

prefixos de multiplicação, tais como “Bi” e “Tri”.

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5-Quando dois substituintes estão presentes no mesmo átomo do carbono, use aquele número duas vezes. 6-Quando dois ou mais substituintes são idênticos, isso é indicado pelo uso dos prefixos bi-, tri-, tetra-, e assim por diante, separe os localizadores por virgula.

H3C

CH

CH

CH3

H3C

CH32,3-Dimetilbutano

12

3

4H3C

CH

CH

CH

H3C

CH3

2,3,4-trimetilpentano

12

3

4 CH3

5

CH3

7-Quando duas cadeias de comprimento igual competem pela seleção como a cadeia principal, escolha a que tiver o maior número de substituintes.

H3C

H2C

CHCH

CHCH

CH3

CH3

CH3

H2CCH2

H3C

CH3

1

23

456

72,3,5-Trimetil-4-propileptanoEstrutura com quatro substituintes

8-Quando iguais ligantes (ramificações) estão a mesma distancia da extremidade, escolhe-se o segundo ligante mais próximo da extremidade para iniciar a numeração da cadeia principal. Neste exemplo temos duas metilas eqüidistantes da extremidade, então quem irá direcionar a numeração é o próximo substituinte que estiver mais perto da extremidade da cadeia.

CH2

CH

CH

CH3CHH3C

CH3 CH3

CH3

1

23

45

6

2,3,5- trimetilexano

Para os alcanos com mais de dois átomos de carbono, mais que um grupo derivado é possível.Dois grupos podem ser derivados do propano, por exemplo, o grupo propila é

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derivado pela remoção de um hidrogênio terminal, e o 1-metiletila ou grupo isopropila, é derivado pela retirada de um hidrogênio do carbono central:

Propano Grupo propila

Grupo 1-metiletila ou isopropila

H3C

H2C

CH3

Pela retirada de hidrogênio primárioH3C

H2C

CH2

H3CCH

H3CPela retirada de hidrogênio secundário

12

Metiletila é o nome sistemático para este grupo; isopropila é o nome comum. A nomenclatura sistemática para os grupos alquilas é similar à do alcano com cadeias ramificadas, com a condição que a numeração comece sempre no ponto onde o grupo é ligado à cadeia principal. O C4H10 apresenta quatro radicais alquila, dois são derivados do butano e dois são derivados do isobutano.

Isobutano

Grupo 2-metilpropila ou isobutila

Grupo 1,1-dimetiletil ou terc-butila

H3CCH

CH3

CH3Perda de hidrgênio primário

Perda de hidrgênio terciário

H3CCH

CH2

CH3

12

3

H3C

CH3C

H3C

1

2

Os exemplos a seguir mostram como os nomes desses grupos são empregados.

4-(1-Metiletil)heptano ou 4-isopropileptanoH3C

H2C

CH2

HC

CH2

H2C

CH3

123456

7

CHH3C CH31

2

H2C

H2C

CH2

HC

CH2

H2C

CH3

123456

7

CH3C

CH31

2

H3C

CH3

8

4-(1,1-dimetiletil)octano ou 4-terc-butiloctano

Os nomes comuns isopropila, isobutila, sec-butila e terc-butila são aprovados pela

IUPAC continuam sendo usados muito freqüentemente. Assim, terc-butila precede a etila,

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mas a etila precede a isobutila. Existe um grupo de cinco carbonos com um nome aprovado pela IUPAC: o grupo 2,2-dimetilpropila, normalmente chamado de grupo neopentila.

C

CH3

H2CH3C

CH3

Grupo 2,2-dimetilpropila ou neopentila3 12

Podemos classificar os átomos de hidrogênio dependendo dos carbonos aos quais são ligados.Como por exemplo, um átomo de hidrogênio ligado a um carbono primário é um átomo de hidrogênio primário, e assim sucessivamente. O 2,2-dimetilpropano, um composto que só possui átomo de hidrogênio primário.

H3C CHH2C CH3

CH3

Átomos de hidrogênio 1o

Átomo de hidrogênio 3oÁtomos de hidrogênio 2o

H3C C CH3

CH3

CH3

2,2-dimetilpropano ou neopentano.Todos os hidrogênios são primários.

O cicloexano e o ciclopentano possuem átomos de hidrogênios secundário.

H2C

CH2H2C

H2C

CH2

H2C

H2C

CH2

CH2

CH2

H2C

CiclopentanoCicloexano

A nomenclatura dos cicloalcanos é feita da seguinte forma: os cicloalcanos com um

anel apenas são denominados pelo prefixo ciclo-ligado ao nome dos alcanos que possuem o mesmo numero de átomo de carbono. Os nomes dados aos cicloalcanos substituídos são simples. Pode ser alquilcicloalcanos, halocicloalcanos ou alquilcicloalcanóis e assim por diante. Quando houver dois substituintes enumere o anel começando pelo substituinte

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seguindo a ordem alfabética e o numero na direção que favorecer ao substituinte o menor numero possível.

H2C

CH2H2C

H2C

CH2

Ciclopentano

CH2

H2C CH2

Ciclopropano

H2C

CH2H2C

CH2

Ciclobutano

Quando houver três ou mais substituintes começando a nomenclatura no substituinte que leva ao conjunto mais baixo de localizadores.

CH3CHCH3

CH3

CH2CH3

OH

CH3

Isopropilcicloexano

1-Etil-3-metilcicloexano(não 1-etil-5-metilcicloexano)

2-Metilcicloexanol Podemos denominar os compostos de cicloalquilalcanos quando um sistema de anel

simples é ligado a uma cadeia simples com o maior número de átomos de carbono ou quando mais de um sistema de anel é ligado a uma cadeia simples. Como:

1-Ciclobutilpentano1,3-Dicicloexilpropano

CH2CH2CH2CH2CH3

A nomenclatura desses compostos é feita da seguinte forma. Nomeiam-se os

compostos que contêm dois anéis fundidos ou formando pontes como bicicloalcanos e usamos o nome do alcano correspondente ao numero total de átomos de carbono nos anéis como nome principal. Os átomos de carbono comuns a ambos os anéis são chamados de cabeça de ponte, e cada ligação, ou cada cadeia de átomos ligando os átomos de cabeça de ponte, é chamada de ponte.:

Biciclo[3.2.0]heptano

12

3

456

7 Ponte com três carbonos

Ponte com dois carbonos

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Os carbonos 1e 5 são chamados cabeça de ponte. Observe a formação das pontes de

carbono, começando no carbono 1 e terminando no carbono 5. As pontes são colocadas entre colchetes em ordem decrescente. Desta forma, [3.2.0] são só números de pontes existentes no composto seguindo a ordem decrescente de comprimento.

CH2CH3

8- etilbiciclo[4.3.0]nonanoBiciclo[2.2.2]octano

Biciclo[2.2.1]heptano

12

3

4

5

67

8

9

Ponte de quatro carbonos

Ponte de três carbonos Ponte de dois carbonos Ponte de dois carbonosPonte de um carbono

No 8-etilbiciclo[4.3.0]nonano, os carbonos cabeça de ponte são C-1 e C-6.

Se houver substituintes, iremos numerar o sistema de anéis fundido começando em uma cabeça de ponte, e continuando, em primeiro lugar, ao longo da ponte mais comprida até a outra cabeça de ponte. A ponte mais curta será numerada por último.

As ligações sigmas formadas entre os carbonos sp3 favorecem o fenômeno da torção

em torno da ligação carbono-carbono, gerando nos ligantes dos carbonos sp3 disposições espaciais diferentes que originam as chamadas conformações.. Para melhor visualização espacial dos ligantes, de cada carbono sp3, será utilizada a projeção em cela. A figura 6.04 mostra a projeção em cela estrelada do etano. Observe que os ligantes de cada um dos carbonos aparecem em oposição.

H

HH

HH

H

CH3CH3

Ligantes em oposição

1 Hidrogênio para cima

1 Hidrogênio para baixo

2 Hidrgênios para cima

2 Hidrogêniospara baixo

Projeção em cela estrelada

Figura 6.04. Projeção em cela estrelada do etano

Note que, a projeção em cela denominada de oposição permite aos ligantes um maior afastamento espacial, pelo fato destes hidrogênios se encontrarem em posições contrárias. Esta conformação é por este motivo a mais estável, e portanto de menor energia.

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Perceba que a projeção em cela em coincidência coloca os hidrogênios muito próximos no espaço, ocasionando na estrutura o chamado impedimento espacial ou tensão esteríca.

HH

H

HH

HH H

H

HH

HProjeção em cela em oposiçãoProjeção estrelada

Projeção em cela coincidênciaProjeção eclipsada

Estimativas baseadas nos cálculos termoquímicos indicam que a força de uma

ligação pi é de 264 KJ mol-1, esta então é a barreira à rotação da ligação dupla. Ela é visivelmente mais elevada do que a barreira rotacional dos grupos unidos

pelas ligações simples C – C (13 – 26 KJ mol-1). Enquanto os grupos unidos pelas ligações simples giram de modo relativamente livre à temperatura ambiente, isso não acontece àquelas unidas pelas ligações duplas.

Por exemplo: Girar um carbono de ligação dupla a 900, inevitavelmente resultaria na quebra da ligação pi. Vamos voltar a atenção para o etano e descobrir as possíveis possibilidades de torção na ligação carbono-carbono e relacionar cada conformação obtida com a energia. A figura 6.01 mostra as conformações e a energia de torção envolvida para a molécula do etano.

Cela eclipsada

Cela estrelada

0o 60o 120o 1800 240o

Ângulo diedro

En e

rgi a

pot

e nc i

al

3 kcal

Figura 6.01. Conformações do etano

Para a estrutura do butano ocorre a possibilidade de dois tipos de torção. A primeira

pode ser efetuada entre os carbonos C1 e C2 enquanto que a segunda pode ocorrer entre os

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carbonos C2 e C3. As formas moleculares temporárias apresentadas pelo butano, que resultam das rotações dos grupos em torno de ligações simples são chamadas de conformações da molécula do butano.

Metila para cima

Metila para baixo

Conformação mais estável.Torção no carbono 2-3

H3CCH3

H H

H H1

34

Torção no carbono 2-3

Será efetuada a torção entre os carbonos C2-C3. Observe que os ligantes do carbono dois e do carbono três são iguais, e estão representados por dois hidrogênios e uma metila. A torção inicia no ângulo diedro de zero graus e termina no ângulo diedro de 300o. No ângulo diedro de zero graus, existe um tensão espacial entre as metilas que se localizam para o mesmo lado da molécula, por este motivo esta conformação tem maior valor energético. Quando as metilas alcançam o ângulo diedro de cento e oitenta graus, a molécula atinge o menor valor energético, maior estabilidade, e as metilas ficam uma para cima e outra para baixo, assumindo uma posição denominada de ANTI.

H H

CH3

H H

CH3

Ângulo diedro W = 0o

CH3H

H

H H

CH3

W = 60o

H H

CH3

H CH3

H

W = 120oCela eclipsada de maior energia

Cela estrelada Cela eclipsada de menor energia

Vici ou gauche

CH3CH3H3C

H

H

HH

CH3

HH

CH3

H

HCH3

HH

H

H

CI IIIII

HH

CH3

H H

CH3

W = 180o

H H

CH3

H3C H

H

W = 240o

HH3C

H

H H

CH3

W = 300oCela estrelada de menor energia

Conformação Anti mais estávelCela eclipsada de menor energia

Cela estrelada de maior energia

Vici ou gauche

CH3

HH

H

H3C

H H3C

H3C

CH3

HHH

CH3

H

H

H

H

H

Projeção deNewman

Figura 6.06. Conformações do butano

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As conformações (diferentes formas espaciais) em projeção coincidência (eclipsada) possuem maior energia quando comparadas com as estreladas.

As projeções de Newman quando colocadas em um diagrama de energia mostram as conformações ANTI e VICI como sendo as de menor energia, pelo fato de mostrarem os ligantes do carbono em oposição. As projeções de Newman em coincidência se mostram no diagrama nos pontos mais altos de energia.

CH3

CH3

H3C

H

H

HH

H

H

CH3

H

H

CH3

H3C

H3C

CH3

HH

H H

CH3

HHH

CH3

H

H

H

H

Vici ou gaucheANTI menor energia

H

16 KJ/mol

3,8 KJ / mol

19 KJ / mol

Vici ou gauche

W=180O

W=120O

W=60O

W=0O

W=60O

Energia

Para estudarmos mais profundamente a química dos compostos cíclicos, temos de

recorrer à análise conformacional, que por mostrar a disposição espacial dos carbonos e dos seus respectivos ligantes, torna evidente o desvio dos ângulos entre os orbitais hibridados. O ângulo entre os orbitais sp3, do carbono, é de 109,5º, este ângulo é desviado para 60o na formação do ciclopropano, este desvio angular é denominado de tensão angular.

A disposição espacial dos ligantes de carbonos tetraédricos vicinais é representada em forma estrelada para garantir uma maior estabilidade, sendo assim, qualquer desvio do arranjo estrelado vem acompanhado de tensão torcional ou tensão de torção (tensão de van der waals). A aproximação de grupos ligantes volumosos em uma estrutura, origina um tipo de tensão denominada de tensão estérica ou impedimento espacial.

O ângulo normal da ligação tetraédrica nos átomos hibridizados em sp3 é 109,5º. No ciclopropano (molécula que tem a forma de um triângulo eqüilátero), os ângulos internos devem medir 60º e por isto devem afastar-se do valor ideal por uma diferença muito grande

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147

– por 49,5º. Esta compressão dos ângulos internos das ligações provoca o que os químicos denominam tensão angular. A tensão angular existe no anel do ciclopropano em virtude de os orbitais sp3 dos átomos de carbono não terem a possibilidade de superporem-se com a mesma eficiência da superposição nos alcanos As ligações carbono-carbono no ciclopropano são mais fracas e, por isto, a molécula possui maior energia potencial.

C

C

CH

H

H

H

H

H60º

1,510H

H

115º

1,089

H

H

Ao

Ao

H

H

HH

HH

(b) Comprimento de ligaçaõ e ângulo de ligação

(c) Projeção de Newman

(a) Ângulo interno

CH2

Tensão angular e torcional do ciclopropano

Em virtude de o anel ser plano, os átomos de hidrogênio do anel estão todos eclipsados. O ciclobutano apresenta grande tensão angular. Os ângulos internos são de 88º e ocasionam uma diferença maior do que 21º em relação ao ângulo de ligação tetraédrica normal.

O anel do ciclobutano não é plano, sua forma é dobrada. Dobrando-se ligeiramente o anel, consegue-se uma diminuição da tensão de torção, mesmo com o pequeno aumento em sua tensão angular.

Conformações do ciclobutano

O ciclo pentano planar tem baixa tensão angular e grande tensão de torção, porém

quando é torcido, para adquirir uma conformação não-planar, mostra um aumento da tensão angular e um decréscimo na tensão de torção. A existência de dois substituintes no anel de uma molécula de qualquer cicloalcano faz com que haja possibilidade de estereoisômeros cis-trans. Podemos observar isto se começarmos pelo exame dos derivados do ciclopentano, uma vez que o anel do ciclopentano é praticamente plano.

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148

Conformação planar. ClorociclopentanoConformação não-planar. Clorociclopentano

Cl

Cl

H

H

HH

H

HH

H

HHH

H

HH

H

H

H H

Em determinado instante é evidente que o anel do ciclopentano pode estar torcido, mas as conformações torcidas rapidamente se transformam. Em média, sobre um intervalo de tempo dilatado, a conformação do anel do ciclopentano é plana.

trans-1,2-Dimetilciclopentano

pe 91,9ºC

cis-1,2-Dimetilciclopentanope 99,5ºC

H

CH3

H

CH3

CH3

H

H

CH3

Na primeira estrutura, os dois grupos metila estão do mesmo lado do anel, ou seja, estão em posição cis. Na segunda estrutura os grupos metila estão em lados opostas do anel; estão em posição trans. O cis e o trans 1,2-dimetilciclopentano são estereoisômeros e se diferenciam apenas pela disposição espacial dos átomos. As duas formas não podem ser convertidas uma na outra, sem o rompimento de ligações carbono-carbono. Por isto, as formas cis e trans podem ser separadas, colocadas em frascos distintos e guardadas indefinidamente.

Entre os cicloalcanos, o cicloexano é o composto que apresenta um maior número

de conformações, denominadas de meia-cadeira (mais instável), torcida, barco e cadeira (mais estável).

Conformação em barco Conformação cadeiraConformação torcida

Vamos desviar a atenção para a conformação cadeira por ser a mais estável.

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149

CarbonoHidrogênio axial

CarbonoHidrogênio equatorial

CarbonoHidrogênios equatorial e axial

Perceba que os hidrogênios axiais localizados nas posições um e três (posições alternadas) estão voltados para o mesmo lado da molécula, assim visualizamos três hidrogênios axiais voltados para parte de cima e três hidrogênios axiais voltados para a parte de baixo da molécula .

Os ângulos C-C-C do ciclo-hexano podem assumir uma configuração do tetraedro livre de tensão, se o anel adotar a conformação em cadeira. Assim chamada devido a sua semelhança com uma espreguiçadeira – um encosto, um assento e um descanso para as pernas. A maneira mais fácil de visualizar o ciclo-hexano em cadeira é pela construção de um modelo molecular. A conformação cadeira está isenta não só de tensão angular, como também de tensão torcional. Corresponde a um mínimo de energia e constitui a conformação mais estável do ciclo-hexano e, na realidade, de quase todos os derivados do ciclohexano. Pelas rotações parciais em torno das ligações carbono-carbono simples do anel, a conformação em cadeira pode assumir outra forma, chamada de conformação em “bote”. A conformação em bote (barco) do cicloexano se forma quando uma extremidade da forma em cadeira sobe (ou desce). Este movimento envolve somente rotações em torno de ligações simples carbono-carbono.

1 4

Repulção de Van der WaalsInteração do mastro

Conformação bote

HH

HH

CHCH 2

2

H H

H

H

Projeção de Newman da conformação bote A conformação em bote não está isenta da tensão de torção. Quando se observa o

modelo da conformação em bote ao longo dos eixos das ligações carbono-carbono na lateral, verifica-se que os hidrogênios destes átomos de carbono estão eclipsados. Além disso, dois dos átomos do hidrogênio, em C1 e em C4, estão suficientemente próximos para provocar repulsões de Van der Waals . Este efeito foi chamado de interação “do mastro” da conformação em bote. A tensão de torção e as interações de mastro fazem com que a conformação em bote tenha energia maior que a conformação em cadeira.

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150

Bote

Interação 1,3-diaxial

13

14

Interação do mastro

Repulsões de Van der Waals.

Interação 1,3-diaxialCadeira

1

3

Os dados de combustão demonstram que o ciclo-hexano não tem tensão angular, nem de torção. De que modo isso se dá? A resposta foi sugerida inicialmente por Hermann Sachs, em 1980, e mais tarde desenvolvida por Ernest Mohr. Ao contrário da concepção de Baeyer, o ciclo-hexano não é plano, e ocorre em conformações tridimensionais que não tem tensão. Olhando qualquer ligação carbono-carbono na projeção de Newman, é fácil verificar que o ciclo-hexano na conformação em cadeira não possui tensão de torção: todas as ligações C-H adjacentes estão em oposição

CH2

CH2CH2

CH2

1

2

3

45 6

123

4

5

6

Conformação cadeira Projeção de Newman

É importante lembrar que, quando se desenha o ciclo-hexano em cadeira, as

ligações inferiores estão na frente e as superiores atrás. Caso não se defina esta convenção, uma ilusão de ótica pode fazer o inverso parecer verdadeiro.

Esta ligação esta atrás

Esta ligação esta na frente Cadeira com inversão do anel As duas conformações em cadeira se interconvertem facilmente, resultando na troca

de posições axiais e equatoriais. Essa interconversão de conformação em cadeira é denominada de interconversão do anel.

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151

Um ciclo-hexano na conformação em cadeira pode ser convertido na outra

conformação em cadeira conservando-se os quatro átomos de carbono do meio em seus respectivos lugares e dobrando-se os dois carbonos das extremidades em sentidos opostos. O resultado é a interconversão das posições axiais e equatoriais. A figura abaixo mostra a energia das várias conformações do cicloexano.

Conformações do cicloexano. (Solomons 2005).

Um substituinte axial em uma conformação em cadeira transforma-se em um

substituinte equatorial na outra conformação em cadeira, e vice-versa. O metil-ciclo-hexano com o grupo metila axial torna-se, por exemplo, metil-ciclo-hexano com o grupo metila equatorial. Como a barreira de energia para a interconversão cadeira-cadeira é de cerca de 45 KJ/mol (10,8 kcal/mol) apenas, o processo é muito rápido à temperatura normal.

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152

H

CH3

CH3

HCH3 em posição axial CH3 em posição equatorial

Os ciclo-hexanos substituídos são os ciclos alcanos mais comuns na natureza. Um

grande número de compostos, incluindo muitos agentes farmacêuticos importantes, contém anéis de cicloexano. Embora os anéis de cicloexano se interconvertam rapidamente à temperatura normal, os dois isômeros conformacionais de um cicloexano monossubstituído não são igualmente estáveis. No metil-cicloexano, por exemplo, o isômero conformacional com o grupo metila equatorial é mais estável do que o axial por 8,0 KJ/mol (1,8 kcal/mol). O mesmo ocorre para outros ciclo-hexanos monossubstituídos: o isômero com o substituinte equatorial é quase sempre mais estável do que o isômero com o substituinte na posição axial. A diferença de energia entre os isômeros conformacionais axial e equatorial é decorrente da tensão estérica está muito próximo dos hidrogênios axiais dos carbonos em C3 e C5 resultando em 7,6 KJ/mol (1.8 kcal/mol) de tensão estérica. A aglutinação mais pronunciada verifica-se entre átomos unidos por ligações axiais do mesmo lado do anel; a interação que daí resulta chama-se interação diaxial-1,3, e ocorre com os hidrogênios axiais dos carbonos 3 e 5 e a metila.

Cadeira com interação 1,3-diaxial Cadeira sem interação 1,3-diaxial

Metilcicloexano

O metilciclo-hexano em posição axial possui duas interações 1,3-diaxias efetuadas entre a metila e os hidrogênios três e cinco, sendo assim, a estrutura apresenta 2 x 3,8 = 7,6 kJ/mol de tensão estérica. Observe que quando a metila é colocada em posição equatorial a interação um três diaxial com os hidrogênios três e cinco deixa de existir, e desta forma a molécula fica com menor energia e portanto com maior estabilidade. O cicloexanol terá uma energia de 4,2 kJ/mol, pois o valor de cada interação 1,3-diaxial com os hidrogênios três e cinco é de 2,1kJ/mol. Observe que o metilcicloexano com metila em posição axial tem maior energia que o cicloexanol com hidroxila em posição axial, como é mostrado nas estruturas a seguir.

OH

H

H CH3H

H

2,1 KJ /mol

2,1 KJ /mol

3,8 KJ /mol

3,8 KJ /mol

Tensão estérica

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153

As interações 1,3-diaxial (interferências estéricas) estão ausentes no metilciclo-hexano equatorial e, por isso encontramos uma diferença de energia de 7,6 KJ/mol entre as duas formas. O que é verdadeiro para o metil-ciclo-hexano também é para outros ciclo-hexanos monossubstituídos: o confôrmero com o substituinte axial terá maior energia. A interferência estérica em um cicloexano trissubstituído, que apresenta uma metila equatorial e duas axiais é elevada em decorrência das interações 1,3-diaxial.

Esse grupo metila tem duas interações 1,3-diaxial

Esse grupo metila também tem duas interações 1,3-diaxial

Essa metila é equatoriale não tem interação 1,3 diaxial

Interação 1,3- diaxial em cicloexano trissubstituído (Brown, 1995).

A maior ou menor tensão estérica 1,3-diaxial de um composto específico, depende, é claro, da natureza e do tamanho do grupamento axial. A tabela abaixo relaciona os valores de tensão estimados para alguns substituintes comuns. Como se deveria esperar, a tensão estérica aumenta na série; −<<−<−<− CCHCHCHCHCHCH 3323233 )()( em

acordo com tamanho dos grupamentos alquila (tabela 6.03).

CH2CH3H

H

CH(CH3)2H

H

4 KJ /mol

4 KJ /mol

4,6 KJ /mol

4,6 KJ /mol

Tensão estérica

As estruturas em conformação cadeira, mostram que o isopropilcicloexano apresenta uma tensão esterica de 4,6kJ /mol com cada hidrogênio três e cinco, dando um total energético de 9,2 kJ/mol, tabela 6.03.

Tabela 6.03.Tensão estérica em cicloexano monossubstituído. (McMurry 2005 ).

Tensão de uma interação 1,3-diaxial H-Y

H Y

interferência estérica

1

2

3

Y (KJ/mol) (kcal/mol) -F 0,5 0,12 -Cl 1,0 0,25

-Br 1,0 0,25

-OH 2,1 0,5

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154

-CH3 3,8 0,9 -CH2CH3 4,0 0,95 -CH(CH3)2 4,6 1,1

-C(CH3)2 11,4 2,7 -C6H5 6,3 1,5

Quando o volume do substituinte é diminuído o valor energético é diminuído, isto é

observado quando substituímos o grupo isopropil pelo grupo etil, , pois o valor da tensão entre o etil com cada hidrogênio das posições três e cino é de 4kJ/mol, para o isopropil o valor é de 4,6kJ/mol.

HC

H

CH2CH3

H

CH3

CH3

Substituinte isopropil em posição axial.Maior energia molecular.

Substituinte etil em posição axial.

Observe que os valores da tabela se referem a interações 1,3-diaxiais do

grupamento ali indicado com um único átomo de hidrogênio. Estes valores devem ser duplicados para se chegar à tensão observada em um ciclo-hexano monossubstituído, pois esta interação envolve dois hidrogênios localizados nas posições três e cinco. As estruturas em conformação cadeira, do metilcicloexano, do trans-diaxial-1,2-dimetilcicloexano apresentam energia molecular diferentes..Perceba que conforme aumenta a quantidade de substituintes em posição axial, aumenta a tensão estérica (impedimento espacial) e conseqüentemente a energia da molécula.

MetilcicloexanoTrans-diaxial-1,2-dimetilcicloexano

Os cicloexanos dissubstituídos apresentam mais de uma conformação possível, pois

cada substituinte colocado no anel pode assumir a posição axial ou equatorial. Por exemplo, para o trans-1,4-dimetilcicloexano existem duas conformações. A primeira é denominada de trans-diaxial pelo fato dos ligantes ocuparem em cada carbono a posição axial. A

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155

segunda é trans-diequatorial e neste caso os ligantes de cada carbono se encontram em posição equatorial. Fica bem mais fácil e mais simples visualizar o cicloexano na conformação cadeira. Perceba que a molécula do trans-1,4-dimetilcicloexano com ligantes axiais apresenta tensão estérica; na outra posição com os ligantes equatoriais a tensão estérica desaparece. A conformação diequatorial é a mais estável e constitui a estrutura de 99% das moléculas em equilíbrio.

H

CH3

CH3

H

H

H3CCH3

HDiaxial Diequatorial

oscilação

do anel

Uma forma de reconhecer um cicloexano dissubstituído em trans é notar que um grupo

está preso pela ligação de cima (entre as duas do seu carbono) e o outro pela ligação de baixo.

H

H3C CH3

HLigaçãopara cima

Ligaçãopara cima

Ligação para baixo

Ligaçãopara baixo

trans-1,4-Dimetilcicloexano

H

H3C

CH3

H

Ligaçãopara cima

Ligaçãopara cima

cis-1,4-Dimetilcicloexano

No cicloexano dissubstituído em cis, os dois grupos estão presos por ligações de cima,

ou por ligação de baixo. O cis-1,4-dimetilcicloexano existe em duas conformações em cadeira equivalentes. A relação cis dos grupos metila, exclui a possibilidade de estrutura com os dois grupos numa posição equatorial. Em qualquer conformação pelo menos um grupo é axial. Conformações equivalentes do cis-1,4-dimetilexano. O trans-1,3-dimetilcicloexano é, com o composto cis-1,4, uma molécula em que não é possível a conformação em cadeira com os dois grupos metila numa posição equatorial preferida (tabela 4.04). As seguintes conformações têm a mesma energia e são igualmente distribuídas no equilíbrio.

H

H3C H

CH3 (a) (e)

(a)CH3

H

CH3

H trans-1,3-Dimetilcicloexano

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156

Contudo, considerando outros cicloexanos dissubstituídos em trans-1,3, com um grupo alquila maior do que o outro, a conformação de energia mais baixa é a que tem o grupo maior na posição equatorial. Como exemplo temos a conformação mais estável do trans-1-ter-butil-3metilcicloexano, que aparece a seguir, tem o grande grupo ter-butila ocupando posição equatorial.

H

CH3

Equatorial

C

H

H3C

CH3H3C

Axial

As conformações do 1,2-dimetilcicloexano possuem estabilidades diferentes. A mais energética é a trans- diaxial, pois nesta conformação ocorre interações 1,3-diaxiais entre as metilas eo os hidrogênios três e cinco. A mais estável é a trans-diequatorial, nesta conformação não existe interação 1,3-diaxial.

CH3

CH3

CH3

H3C

Trans diaxial Trans diequatorial

CH3

CH3 CH3

CH3

Cis axial/equatorial Cis equatorial /axial

1,2- dimetilcicloexano

As conformações do 1,4-dimetilcicloexano também possuem grau energético diferentes, sendo a mais estável a trans-diequatorial.

CH3

CH3

Trans diaxial Trans diequatorial

CH3

CH3

Cis axial/equatorial Cis equatorial /axiall

1,4- dimetilcicloexano

CH3

H3C

H3C

CH3

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157

Possuem baixa reatividade, precisando de condições especiais para reagir, como calor ou luz que favorecem a formação de radicais livres. O mecanismo se processa através de cisões homolíticas e ocorre em três fases: fase de iniciação, fase de propagação e a fase de término. A reação mais comum é a de halogenação que será mostrada a seguir.

CH4 + Cl2 → CH3Cl + HCl

Mecanismo radicalar

Cl2λluz, Cl Cl

Cl

Fase de iniciação

HCl Fase de propagação

HH

H

H

HH

HE L

Intermediário

H

HH

Cl - Cl

H

H

H

ClCl

Produto desejado

R R R-R Fase de término. União de qualquer radical livrepresente no meio reacional.

R, representa qualquer radical livre presente no sistema de reação

Fase de propagação

Na fase de iniciação é formado o reagente radical livre que interage com o substrato metano levando a formação do radial livre metila , intermediário da reação,que em seguida reage com a molécula de cloro levando ao produto desejado clorometano, estas duas reações acontecem na fase de propagação. A última fase, denominada de término, ocorre às várias possibilidades de conexão entre os radicais livres presentes no meio reacional. Esta reação pode se prolongar levando a formação de diclorometano (CH2Cl2), clorofórmio (CHCl3) e tetracloreto de carbono (CCl4). O diagrama de energia para a cloração de um alcano mostra dois estados de transição com energias de ativação diferentes.

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158

Diagrama de energia para a cloração de um alcano

A estabilidade dos intermediários radicalares pode ser relacionada com o grau de

hidrogenação do carbono, onde se localiza o radical. Radicais estáveis são formados em carbonos menos hidrogenado, sendo assim, o radical livre formado em carbono terciário vai apresentar maior estabilidade, por esta razão, haletos terciários reagem com maior velocidade.

>

H3C

C

H3C

CH3

H3C

CH

CH3

H3C

CH

H

H

CH

H> >

Estabilidade dos radicais livres Cloração do etano

Cl2λλλλluz, Cl Cl

Cl

Fase de iniciação

HCl

HCH3

H

H

CH3H

HE L

Intermediário

Fase de propagação

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159

Fase de propagação

H

CH3H

Cl - Cl

CH3

H

H

Cl Cl

Produto desejado

R R R-R Fase de término. União de qualquer radical livrepresente no meio reacional.

R, representa qualquer radical livre presenteno sistema de reação

É uma reação de óxido-redução, onde o alcano é o redutor e recebe a denominação

de combustível enquanto que o oxigênio é o oxidante e chamado de comburente. O produto mais importante da combustão total é o calor (energia), por este motivo, o alcano (gasolina C7 e C8) é empregado como combustível. Na combustão incompleta forma-se o gás poluente tóxico monóxido de carbono e fuligem.

H

H

HH

H

H

HH

+ 2 O2CO2 + 2 H2O

+ 3/2 O2 CO + 2 H2O

As fabricas provocam combustão parcial em busca do carbono chamado negro de fumo, utilizado na fabricação de tintas e na composição da borracha utilizada na fabricação de pneus.

6.1 Identificar e quantificar os carbonos primário, secundário, terciário e quaternário nas

estruturas abaixo.

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160

P

P P

P P

P

PP

Carbonos primários 9

S

S

SS

S

Carbonos secundários 5

TTT

T

T

T

T

T

Carbonos terciários 8

Q

Q

Carbonos quaternários 2

6.2 Nomenclatura dos cicloalcanos.

Cl

H

Cl

H

Br

H

Br

H

CH3

H

H3C

Hcis-1,2-diclorociclopropano cis-1,2-dibromociclobutano cis-1,4-dimetilcicloexano

6.3 Escrever a nomenclatura IUPAC para os alcanos.

H3CCH

CH2

CHCH

CH3

H3C

H2C

CHCH

CHCH

CH3

H2CCH2

H3C

CH3

CH3

H3C

CH3 CH3

CH3

H3C

H2C

CHCH

CHCH

CH3

H2CCH2

H3C

CH3

CH3

H3C

Existem duas cadeias longas competindo na escolha da cadeiaprincipal. Neste caso será escolhida a cadeia que contiver o maior número de ramificações.

1

7

65

432

4-etil-3,5,6-trimetilheptano

H3CCH

CH2

CHCH

CH31

6

5 4 32

CH3 CH3

CH3

1

6

5

4

32

Nesta cadeia carbônica as ramificações estãoequidistantes. Nesta situação a cadeia principalescolhida, deve conter, o somatório dos números indicadores das ramificações com o menor valor.

Números indicadores em vermelho: 2+ 4+5=11

Números indicadores em preto: 2+ 3+5=10 . Menor soma e será o indicador da cadeia principal.2,3,5-trimetilexano

6.4 Escrever a nomenclatura IUPAC para os biciclos a seguir.

Br

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161

Br

Ponte com quatro carbonos

Ponte com três carbonos

Carbono-6 :cabeça de ponte

Carbono-1: cabeça de ponte

1

2

3

4

56

8

7

9A numeração segue o caminho da maior ponte.As pontes são enunciadas em ordem decrescente dentro de um colchete.

Nomenclatura: 7-bromobiciclo[4.3.0]nonano

Ponte com um carbonosPonte com três carbonos

Carbono-5: cabeça de ponte

Carbono-1: cabeça de ponte

1

23

45

6

7

Nomenclatura: biciclo[3.1.1]heptano

Ponte com um carbonos

6.5 Mostrar as possíveis conformações cadeira para o cicloexanol.

Indicação das posições axiais para cima Indicação das posições axiais para baixo

Existem seis posições axiais, três são voltadas para cima e três voltadas para baixo

Cada posição axial é acompanhada de uma posição equatorial. No ciclo exano, os hidrogêniossecundários de cada carbono ocupam uma posição axial e outra equatorial. Sempre que a axial estiver direcionada para cima a equatorial será direcionada para baixo, de tal forma que os hidrogêniossecundários estarão sempre direcionados para cima e para baixo.

Indicação das posições equatoriais com a cor azul

As três posições indicam, um ligação axial para cima e uma ligação equatorial para baixo.

As três posições indicam, um ligação axial para baixo euma ligação equatorial para cima.

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162

OH

H

H

H

H

H

HH

H

HH

H

H

H

H

OH

H

H

HH

H

HH

H

Ligante hidroxíla em posição axial

A hidroxila em posição equatorial não mostraa tensão estérica 1,3-diaxial. A posição equatorialpara qualquer substituinte colocado no anel, é umaposição benéfica, pelo fato de mostrar ausência deinteração 1,3-diaxial, favorecendo uma moléculacommenor energia.

A posição axial favorece um impedimentoespacial ou tensão estérica da hidroxila

com os hidrogênios axiais três e cinco. Estatensão espacial e denominada de interação1,3-diaxial. Esta tensão espacial promove

um aumento na energia da molécula.

Ligante hidroxíla em posição equatorial.

Maior energia molecular Menor energia molecular

A conformação cadeira pode sofrer interconversão, quando o fenômeno acontece a posição axial de umaforma passa a ser equatorial na outra forma.

OH

OHH

H

Hidroxila axial

Hidroxila equatorialHequatorial

Haxial

Menor energia molecularMais estável

Maior energia molecular