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1 IGREJA METODISTA DE VILA ISABEL CADERNO DE ESTUDOS ESPECIAIS PARA ESCOLA DOMINICAL NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2009 ÍNDICE DAS LIÇÕES ESPECIAIS LIÇÃO 1 – Página 2 – A Reforma Protestante de 1517 LIÇÃO 2 – Página 7 – Compromisso com a Missão segundo a Igreja de Mateus LIÇÃO 3 – Página 9 – Para que o mundo creia LIÇÃO 4 – Página 11 – “Em tudo daí graças” LIÇÃO 5 – Página 15 – Primeiro domingo do Advento – a Aliança LIÇÃO 6 – Página 18 – Segundo domingo do Advento – a Profecia LIÇÃO 7 – Página 21 – Terceiro domingo do Advento – a Anunciação de Maria LIÇÃO 8 – Página 24 – Quarto domingo do Advento – os Anjos e os Pastores LIÇÃO 9 – Página 27 – Domingo de Natal – o Verbo se fez carne e habitou entre nós

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IGREJA METODISTA DE VILA ISABEL

CADERNO DE ESTUDOS ESPECIAISPARA ESCOLA DOMINICAL

NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2009

ÍNDICE DAS LIÇÕES ESPECIAIS

LIÇÃO 1 – Página 2 – A Reforma Protestante de 1517

LIÇÃO 2 – Página 7 – Compromisso com a Missão segundo a Igreja de Mateus

LIÇÃO 3 – Página 9 – Para que o mundo creia

LIÇÃO 4 – Página 11 – “Em tudo daí graças”

LIÇÃO 5 – Página 15 – Primeiro domingo do Advento – a Aliança

LIÇÃO 6 – Página 18 – Segundo domingo do Advento – a Profecia

LIÇÃO 7 – Página 21 – Terceiro domingo do Advento – a Anunciação de Maria

LIÇÃO 8 – Página 24 – Quarto domingo do Advento – os Anjos e os Pastores

LIÇÃO 9 – Página 27 – Domingo de Natal – o Verbo se fez carne e habitou entre nós

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Lição nº 1Para o dia 01 de novembro de 2009Texto de Alexander Duncan Reily

A REFORMA PROTESTANTE DE 1517

Há três coisas que devemos dizer logo no início desse estudo à guisa de introdução.

Primeira:A Reforma Protestante é um movimento de grandes proporções. Por falta de espaço, teremos quenos ater quase só à fase luterana do movimento, mas há a fase Reformada (de Zuínglio e Calvino),Radical (dos chamados "Anabatistas*", como os Menonitas), e a Reforma Inglesa.Mas a Reforma não se restringiu aos Protestantes: há um movimento paralelo dentro do CatolicismoRomano, parcialmente espontâneo (Reforma Católica) e parcialmente uma reação à ReformaProtestante (Contra-Reforma).

Naturalmente, também, a Reforma não para no ano de 1600 (na verdade, muitos historiadoresdatam a Reforma de 1517 a 1648), mas ela, como uma nova expressão do Cristianismo, permaneceviva até hoje.

Segunda:Apesar de ser um movimento religioso mais do que qualquer outra coisa, o seu contexto a marcouprofundamente.

OBSERVAÇÕES DESSA EDIÇÃO DA ESCOLA DOMINICAL - Quem quiser conheceroutros fatores e mais do contexto em que a Reforma Protestante aconteceu poderá ler e pesquisarna Revista História da Igreja, escrita por Alexander Duncan Reily, e que está publicada edisponibilizada integralmente no site da Igreja Metodista de Vila Isabel, particularmente aslições números 11, 12 e 13. O endereço da revista no site éhttp://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao.asp?n=37).

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Novas cidades e a crescente influência dos comerciantes (burguesia) e o desassossego doscamponeses prenunciavam o fim do feudalismo. Contribuiu para esse processo também onacionalismo, com o enfraquecimento da nobreza e a centralização da autoridade nas mãos dos reis.Assim, nasceram fortes estados nacionais (como por exemplo, Inglaterra, França e Espanha) queresistiam às pretensões absolutistas do Papa.

A Renascença desperta o interesse no estudo das fontes, e a Bíblia é lida novamente nas línguasoriginais, enquanto o surgimento da imprensa facilita a multiplicação da Bíblia e de livros em geral.O crescente desencantamento com o papado, após 70 anos do "Cativeiro Babilônico" e 40 de cismapapal, leva os intelectuais como João Wiclif e João Hus a questionar a própria estrutura da Igreja epapado e alguns dos seus dogmas (como a transubstanciação) enquanto insistem nos direitos dopovo de Deus, inclusive de pregar e receber a Santa Ceia completa (inclusive o vinho).

Muitos, de índole mais contemplativa, simplesmente deixam de lado a Igreja institucional,buscando a união com Deus diretamente por meio de contemplação e purificação, sem se preocuparcom hierarquia ou mesmo com o ritual da Igreja.

Paralelamente, há um ressurgimento de religião popular em muitas formas, inclusive a dosflagelantes, os quais, num ascetismo extremo, flagelam os seus corpos, assim criando quase umnovo sistema litúrgico e sacramentai que escapa ao da Igreja Papal tão desacreditada.

Todos estes — os intelectuais, os "pré-reformadores" como Wiclif e Hus, os místicos; os flagelantes— constituem vozes de protesto que diziam claramente: "A Igreja como está, dominada pelahierarquia, inteligível só à elite, não responde nem às nossas necessidades e nem às nossasaspirações. Queremos uma Igreja renovada, mais nos moldes de Cristo e seus apóstolos".

Terceira:A Reforma Protestante é mais um glorioso exemplo (e eu creio que seja o maior exemplo) da açãodivina; mais uma vez Deus renova Sua Igreja. Infelizmente, no processo, houve ruptura.

A REFORMA

Voltemos nossa atenção para tentarmos entender o que Martinho Lutero queria fazer.

Há basicamente duas maneiras de ver a obra de Lutero: uma basicamente negativa (polêmica) e aoutra basicamente positiva. A primeira tem sido mais usada e, penso eu, com prejuízo para nós epara o cristianismo. Podemos esboçar esta posição assim:

a) Justificação só pela fé e não pelas obras;b) Só a Bíblia como regra de fé e prática, e não a tradição;c) O sacerdócio universal dos crentes, e não só da hierarquia.

Ou como alguns preferem:- Fé X Obra;- Palavra de Deus X Palavra do homem;- Povo X Hierarquia.

Reconhecemos que há alguma validade nessa abordagem, mas questionamos se é a maneira maiscorreta de ver a obra de Lutero e o seu significado para nós, hoje.

Questionamos se realmente foi isto o que Lutero descobriu naqueles anos antes de 1517 quandobuscava tão ardentemente, como Monge Agostiniano, "um Deus gracioso" (amante e perdoador) aele.

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Creio que é inegável que a Reforma realmente ocorreu no coração de Martinho Lutero quando,depois da meditação, não apenas percebeu em Romanos 1.17 uma chave para atender toda arevelação de Deus na Bíblia, como também recebeu o próprio Cristo através da Palavra. Será umadeturpação desta experiência de Lutero concebê-la em termos polêmicos! É claro que Lutero e osoutros Reformadores se dedicaram à tarefa de dizer com a maior clareza possível o sentido e asconseqüências desta redescoberta!

1) É quase impossível evitar o termo "JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ" por causa da longatradição. Podemos, pelo menos temporariamente, tentar ver o que está por baixo ou por trás destaspalavras?

No caso de Lutero, não é difícil. Ele, quase morto por um raio, prometeu tornar-se monge se SantaAna o poupasse da morte. A vida monástica (em mosteiros) em si era vista como a maneira maiscerteira de chegar aos céus. E nos anos que Lutero passou no mosteiro, ele fazia o máximo paraagradar a Deus e ganhar a sua aprovação. Confissões intermináveis, sacrifícios (tentava dormir noinverno sem cobertor), obediência rigorosa a todas as exigências de sua ordem. Mas, depois detudo, Deus parecia ainda lhe condenar. Não havia meios para agradar a Deus — Lutero chegou aodiá-lo!

O que aconteceu para mudar isto? Na sua leitura da Bíblia, ele descobriu: "O justo viverá pela fé"(Rm 1.17). Mas o que é fé? Lutero descobriu que a fé que salva não é principalmente crer ouacreditar. Não é aceitar uma proposição intelectual. Crer é mais propriamente confiar. Confiar tem aver com relacionamento! Cristo Jesus lhe chegou através da Sua Palavra e tornou-se não maisaquele juiz que lhe acusava e lhe lembrava as suas falhas e culpas. Pela Palavra, ele percebeu Jesuscomo seu Salvador. Daí, Deus não era realmente aquela figura distante, austera. Na face de Cristo,Lutero viu pela primeira vez o Deus gracioso que há tanto tempo procurava. Ele diz que era comoque Deus lhe houvesse aberto as portas do próprio Paraíso, tão grande foi sua alegria!

E o resultado de tudo isso? JUSTIFICAÇÃO. Mas, há uma palavra melhor: PERDÃO! Afinal não éuma transação legal ou legalista. Em Cristo, o ser humano, desorientado, alienado de Deus e do seusemelhante, descobre Deus, reconcilia-se com seu semelhante e com seu mundo, descobre direção esentido na vida. Assim foi com Lutero.

E tudo isso realmente é iniciativa de Deus! Como Lutero diria, SOLA GRATIA (só graça). Nempor esforço e nem por merecimento do ser humano, mas pela bondade do "Deus Gracioso."

Quando Lutero fala de Justificação pela fé, então, ele não está, em primeira instância, armando umapolêmica contra os "romanistas". Pois tudo isto que acabamos de descrever, conhecida como sua"Experiência na Torre", ocorreu quando ele era monge e fiel aderente à Igreja Católica Romana! Eleestá nos convidando para confiar nossa própria vida nas mãos de Cristo para experimentar o perdãodos nossos pecados e conhecer a liberdade em Cristo — e livres de culpa e do egoísmo, realmentelivres para servir a Deus através do serviço ao próximo.

2) SOLA SCRIPTURA — Escritura contra tradição? Sim, mas há muito mais! Lutero é apenasum dos muitos que, mediante a leitura (ou o ouvir) da Palavra, Deus o alcança. Assim foi comAgostinho, no jardim de Milão. A voz de uma criança lhe chegou dizendo: "Toma e lê..." — elepegou no livro de Romanos e leu novamente (Rm 1313-14) e Deus lhe veio através da Palavra. JoãoWesley, o fundador do movimento metodista na Inglaterra do século XVIIII, também teria suaexperiência enquanto alguém lia do prefácio à Epístola aos Romanos (escrito por Lutero). Afinal,Paulo havia escrito: "a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus" (Rm 10.17). Para Lutero,Cristo nos vem através da Sua Palavra. Não devemos procurá-Lo onde ele não nos prometeu nosencontrar.

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Mas para Lutero, "Palavra" e "Bíblia" não são exatamente a mesma coisa. "Palavra", para Lutero, ésempre Cristo. Portanto, a Bíblia não é tanto lei, como o é para muitos. Mas, através das suaspáginas, Cristo nos chega, nos instrui, nos orienta, nos mostra quem somos. A Bíblia é como umespelho, para nos revelar realmente quem somos — não necessariamente aquele bom homem oubondosa mulher, mas muitas vezes aquele homem egoísta, aquela mulher orgulhosa, aquele jovemacomodado!

Por nos trazer Cristo e sua revelação, é também "a única regra de fé e prática". Mas para Lutero epara nós, Metodistas, isto nunca significou rejeitar o Credo Apostólico (que não é da Bíblia) e nemdesprezar as formulações dos Primeiros Concílios Ecumênicos (conclaves "católicos") e suasdecisões sobre Deus (Trindade) e Jesus (Encarnação, Cristologia).

A Sola Scriptura, de Lutero, é um desafio constante ao cristão de reexaminar hoje a Palavra para vero que o Espírito diz à Igreja. Não basta saber o que disse a Lutero e mesmo a João Wesley, por maisimportante que seja. O desafio é discernir o que Cristo diz a seu povo em nosso dia!

3) O SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRISTÃOS. Muitos entendem isto no sentidode: "Eu posso orar a Deus e confessar meus pecados diretamente. Não preciso de nenhumintermediário". Mas a doutrina* é muito mais profunda que isso. Realmente, é uma nova visão daIgreja! Wiclíf e Hus, antes da Reforma, totalmente desencantados com a Igreja hierárquica e papalnaquele tempo, ensinavam que a Igreja é o conjunto dos predestinados.

Não creio que devemos enfatizar os predestinados — a Igreja para os pré-reformadores era o POVOe não a HIERARQUIA (ou simplesmente, como alguns pensavam, o Papa). Lutero retoma a mesmaidéia.

O Credo fala da Comunhão dos Santos; para Lutero, isto era uma definição de Igreja! Igreja é povo,não hierarquia. Quando Lutero percebeu isto, muitas coisas começaram a se mudar.

Então, o POVO é importante no culto; tem que participar ativamente. Daí, tem que entender o quese passa, no seu próprio idioma. E Lutero traduz-lhes a Bíblia em alemão. O povo tem que louvar aDeus em cânticos, e não só o coro! E Lutero compõe hinos congregacionais apropriados ao espíritoda Reforma. O culto passa a ser essencialmente o Culto da Palavra.

Uma vez que a Igreja não é hierarquia, Lutero nem estabelece uma nova hierarquia. Para ele, aIgreja é essencialmente o povo, "a Comunhão dos Santos"; por isso, a questão de ordens passa a sercoisa secundária. Há igrejas luteranas com bispos, outras sem — pois a Igreja não é hierarquia, esim povo!

Talvez o maior desafio da Reforma para nós hoje seja o de tornar mais concreto em cada igrejalocal de nossa denominação o sentido de cada crente — homem, mulher, jovem, criança — ser umsacerdote ou sacerdotisa do Deus Vivo!

Para Refletir e aprofundar o assunto.

Dividir a classe ou grupo em três grupos menores.

GRUPO 1O grupo 1 examina o estudo e comenta o seguinte de acordo com os pontos levantados:"Parece-nos que Lutero quis dizer o seguinte com a expressão "JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ"Resposta:

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GRUPO 2O grupo 2 examina o estudo e comenta o seguinte de acordo com os pontos levantados:"Parece-nos que Lutero quis dizer o seguinte com a frase SOLA SCRIPTURA"Resposta:

GRUPO 3O grupo 3 examina o estudo e comenta o seguinte de acordo com os pontos levantados:"Parece-nos que Lutero pensava assim em torno do SACERDÓCIO UNIVERSAL DOSCRISTÃOS"Resposta:

PARA FECHAR A REFLEXÃO:

1 - Compartilhar os pensamentos essenciais com o grupão.2 - Perguntas gerais para o grupão pensar e aprofundar mais através da discussão das perguntas amais:

a) É comum ver pessoas hoje com sérios problemas de sentimento de culpa. Que diz a doutrinada JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ que possa ministrar a tais pessoas?

b) O grupo percebe a diferença entre um simples acreditar e CONFIAR?c) Por que é importante reconhecer que nossa justificação vem por iniciativa de Deus e é

resultado da sua graça?d) SOLA SCRIPTURA significa que a gente só deve ler a Bíblia e nenhum outro livro?e) O SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRISTÃOS significa que não deve haver ordenação

de ministros ou estudos ou preparação teológico para exercer o pastorado?f) Qual o relacionamento entre os Dons e Ministérios e a idéia do SACERDÓCIO

UNIVERSAL DOS CRISTÃOS?g) Sua congregação local é clericalizada (onde só o pastor decide tudo, e faz tudo) ou vive a

realidade do SACERDÓCIO UNIVERSAL DOS CRISTÃOS?

____________________________________________________________________OBS: Lição extraída da página 64 da revista "História da Igreja", correspondendo a lição de nº 14de um total de 17 (http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricao.asp?n=37).

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Lição nº 2Para o dia 08 de novembro de 2009Texto do Bispo Josué Adam Lazier

COMPROMISSO COM A MISSÃOSEGUNDO A IGREJA DE MATEUS

(Mateus 9.35 a 10.42)

A Igreja de Mateus, provavelmente localizada na cidade de Antioquia, passava por duas situaçõesbem peculiares: 1º) é formada por judeus e gentios que aderiram ao cristianismo e são considerados,na sua grande maioria, pelo Império Romano, como inferiores: artesãos, comerciantes, agricultores,jornaleiros, etc. As bem-aventuranças apresentam a identificação social dos membros desta igreja;2º) Por outro lado enfrentavam um problema com os judeus não cristãos pois, num concilio judaicorealizado em torno do ano 80 d.C., foram expulsos das sinagogas dos judeus e perderam a proteçãoque gozavam por parte das autoridades romanas.

Segundo o Evangelho, a Igreja de Mateus estava crescendo na compreensão e no compromisso coma missão. Algumas ênfases apresentadas pelo evangelista apontam isto:

1. ABERTURA PARA RECEBER OS DE FORADepois do episódio com o concílio judaico dominado pelos fariseus, a igreja de Mateus tinha 2opções: fechar-se e viver o evangelho como uma comunidade judaica ou abrir-se para a missãouniversal. A princípio a Igreja de Mateus optou pela primeira, seguindo o costume judeu farisaico,mas logo a comunidade abriu-se para receber os gentios que começaram a converter-se. Mateusconservou as palavras de Jesus dirigidas aos discípulos e agrupou em 5 grandes sermões. Estessermões invariavelmente são pregados, segundo Mateus, na perspectiva da Multidão. O texto de9.35-10.1 é um claro exemplo disto: Jesus sugere que os discípulos orem pela seara, pois osobreiros eram poucos. Jesus sabia que ao orarem acabariam por se “apaixonar” pela missão e abrir-se-iam para receber os de fora e buscar os que estavam desgarrados, como ovelhas sem pastor.Podemos dizer que a igreja de Mateus foi uma comunidade missionária que se abriu para os gentios.O Evangelho de Mateus pode ter sido escrito como um pequeno manual de missões, sobretudo ocap. 10.

2. ENVIO MISSIONÁRIOMateus 10.24-25 é a chave para compreender todo o sermão de Jesus no capítulo 10, chamado deSermão Missionário. Este sermão é proferido após Jesus ter observado as necessidades dasmultidões: estavam cansadas, angustiadas e eram como ovelhas sem pastor - 9.35-10.1. Isto querdizer que o povo que seguia a Jesus vivia numa situação caótica, enfrentando vários problemas esentindo na “pele” a situação de pobreza, de desesperança, de dúvidas, de infidelidade a Deus, etc.,que tomava conta de toda a Palestina. Havia muita gente sem emprego, sem casa, sem destinoseguro e, principalmente, sem esperança. A situação de aflição e desespero comove muito a Jesus(9.36). Ele, então, se dirige aos discípulos e, tendo em mente o quadro descrito anteriormente, osenvia ao encontro das multidões com o propósito de atender às suas necessidades: buscar as ovelhasperdidas (10.6); anunciar a chegada do Reino de Deus (10.7); curar os enfermos, libertar osoprimidos e restaurar os marginalizados (10.8).

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Jesus reconhece que os discípulos compreendiam um grupo pequeno diante de tão grandesnecessidades (9.37). Ele também sabia que o cumprimento desta missão não seria fácil. Haveriamuitos obstáculos: seria como ovelhas no meio de lobos (10.16); seriam acusados pelos poderosos(10.17); enfrentariam a oposição de governadores e reis (10.18) e seriam perseguidos nas cidades(10.23). Jesus não deixa de frisar que teriam a incompreensão dos familiares (10.21). Mas por queJesus envia os discípulos nesta missão? Porque, segundo o texto de Mt 10.24-25, o discípulo deveimitar ao seu Senhor e imitá-lo significa atender as multidões. Portanto, discipulado implica noenvio para a vivência de um estilo de vida e para o pastoreio do povo de Deus, bem como serviçoatravés dos dons e ministérios. A igreja de Mateus apresenta esta abertura para o "ide" de Jesus e"fazei discípulos".

3. DISCIPULADOO discipulado foi uma estratégia que Jesus usou para preparar seus seguidores para o cumprimentoda missão. Sem deixar de lado o ministério público, onde atendeu as multidões que o procuravamcom as mais diversas intenções, dedicou grande parte do seu tempo para ensinar e preparar seusdiscípulos para a missão. Na mente do evangelista Mateus, bem como de Marcos e Lucas, estadedicação aos discípulos estava ainda bem viva.

Um especialista em Novo Testamento (Manson, O Ensino de Jesus, ASTE), fez um levantamentodas palavras de Jesus registradas nos três primeiros Evangelhos e chegou ao seguinte resultado:49,7% das palavras são dirigidas aos discípulos 25,8 % das palavras são dirigidas às multidões24,5% das palavras são dirigidas às autoridades. Este levantamento mostra a importância que asPalavras de Jesus tiveram para os primeiros cristãos, a ponto de serem conservadas pela IgrejaPrimitiva e registradas pelos redatores dos Evangelhos. Fica evidente que Jesus dedicou tempo parapreparar seus discípulos. Encontramos na redação dos cinco sermões de Jesus no Evangelho deMateus o método de discipulado que Jesus usou: atender as necessidades das multidões e fazernovos discípulos, para que estes atendessem à outras mulditões e fizessem novos discípulos.

CONCLUSÃOO estudo sobre a Igreja de Mateus, baseado no capítulo 10 do Evangelho, leva-nos à algumasconclusões (veja-as abaixo. Converse sobre elas)1. A igreja deve organizar seus dons e ministérios de forma a atender os desafios para aevangelização, para o serviço e para o avanço missionário. Cursos de treinamento e capacitaçãodevem ser oferecidos aos membros das nossas igrejas.

2. A Igreja precisa estar com os olhos abertos para ver as multidões, suas necessidades e “sair” emdireção a estas “ovelhas perdidas”. Uma igreja missionária deve ter esta característica de abertura,tanto para ir como para receber as pessoas. É importante frisar que são muitos os camposmissionários que estão à disposição da Igreja. Quero mencionar alguns: o grupo de metodistas nãoprofessos, os filhos e filhas dos membros da igreja, os vizinhos dos bairros e dos prédios ondemoramos, a escola e o trabalho.

3. O crescimento numérico é importante, especialmente para aquelas igrejas que estão, de certaforma, estagnadas. O crescimento numérico é natural e conseqüência do cumprimento dos dons eministérios que Deus deu a cada um dos membros da Igreja. É importante também o crescimentoqualitativo, ou seja, o crescimento na fé e no conhecimento de Deus através do ensino e dodiscipulado.

4. Viver a experiência da Plenitude de Deus é assumir compromisso com a Missão que, segundo oEvangelho de Mateus, significa atender às multidões e fazer discípulos de Jesus Cristo naperspectiva do Reino de Deus.

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Lição nº 3Para o dia 15 de novembro de 2009Texto do Bispo Josué Adam Lazier

Para que o mundo creia(Filipenses 2.1-11)

A estatura de um cristãoVivemos numa sociedade marcada pelo desamor, pelo desentendimento, pela separação, pela faltade unidade na família, nas instituições que sustentam a sociedade, em especial, na instituição IgrejaCristã. Nem todos os leitores cristãos dão a devida atenção para as palavras de Jesus na oraçãosacerdotal: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejameles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.21) A versão na linguagem dehoje diz: “E peço que todos sejam. E assim como tu, meu Pai, está unido comigo, e eu estou unidocontigo, que todos os que crerem também estejam unidos a nós para que o mundo creia que tu meenviaste”. A versão do Novo Testamento intitulada “O mais importante é o amor”, da Liga BíblicaMundial, traduz assim este versículo: “Minha oração por todos eles é que sejam de um só coração epensamento, tal como Eu e o Senhor somos, ó Pai – porque assim como o Senhor está em Mim e Euno Senhor, assim estejam eles em Nós. Assim o mundo verá que minha missão é do Senhormesmo”. Aqui está um dos grandes sinais da presença do Espírito Santo, ou seja, a unidade cristã.Não se trata de uniformidade, como alguns gostariam de ver, mas sim de unidade na diversidade ena heterogeneidade que as pessoas evidenciam em suas vidas, até como expressão da criatividadede Deus em dar ao homem e a mulher a capacidade de gerar vidas com características próprias e deexperimentar a revelação divina de maneiras diferentes.

Ao falarmos em unidade estamos abordando um dos aspectos fundamentais da vida cristã e dasantificação, pois viver a presença da graça de Deus e do Espírito Santo, significa desenvolveratributos que levam à compreensão, à superação das diferenças, à solidariedade na dor e naangústia, à tolerância quando há antagonismo e, sobretudo, o amor. A vida cristã é construída com avivência destes atributos, que Paulo vai descrever no texto de Filipenses 2.1-11, e não com osestereótipos que querem uniformizar a experiência cristã e determinar quem é mais “cheio” da graçade Deus, tampouco com as atitudes e práticas teleguiadas e forjadas pelo ensaio, e sim pelatransformação que Deus opera na vida daqueles e daquelas que se submetem ao Senhorio de Cristo.No início do meu ministério pastoral, junto à igreja em Ponta Grossa/PR, chegou-me às mãos umasérie de livros intitulados a Estatura de um Cristão, de um Homem, de uma Mulher e de uma Igreja,de Gene A. Getz. Estes livros desenvolvem aspectos da maturidade cristã. Utilizei-os algumas vezesem grupos de discipulado e agora eles vieram à minha mente quando comecei a refletir sobre as“rachaduras” que estão presentes na Igreja Cristã, em especial em nossa Igreja Metodista.

Atributos da comunhão com CristoPalavras usadas por Paulo no v. 1: paraklésis - conforto, consolação. Esta palavra vem do vocábuloparakaleo – que indica o sentido de chamar para o lado, encorajar; paramuthion – que tem o sentidode encorajamento: koinomia – comunhão; splafixna - indica as partes interiores, entranhas da vida,coração, amor, afeição, etc) e oiktirmos – que quer dizer misericórdia, compaixão, e significa amanifestação de sentimentos ternos e compassivos, em desejos e atos.

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Desta forma, se destacam como atributos da nossa comunhão com Jesus Cristo, o consolo, oencorajamento, a comunhão, a misericórdia e a compaixão, que indicam o caminho da unidadecristã. Em outras palavras, podemos lembrar novamente que a vida cristã não é estereótipo e nematitudes forjadas e sim mudança interior que se estabelece nos relacionamentos. Quando há erros epecados, nós reconhecemos e confessamos, buscando a reconciliação com Deus e uns com osoutros, mas não podemos pautar nossa vida e nosso ministério em terreno arenoso, quandodeixamos que atitudes que negam a maturidade cristã sejam desenvolvidas como coisas normais davida cristã. Neste sentido, temos que resistir e denunciar, buscando assim a restauração e renovaçãoda presença da Graça de Deus em nossas vidas e relacionamentos.

A conduta digna do evangelho significa a busca e vivência da unidade cristã e não da uniformidade.Paulo provavelmente tinha notícias de algum problema de relacionamento entre alguns membros daIgreja de Filipos e para tratar do assunto entra no tema da dedicação e da consagração a Deus.

Aspectos da unidade cristãO maior princípio da unidade cristã é fazer aos outros o que Cristo fez por nós. Aqui é que seencontra o grande desafio da unidade dos cristãos. Receber de Cristo todos recebem. Fazer aosoutros o que Cristo fez por nós exige renúncia, humildade, dedicação, obediência, submissão, forçapara perdoar e para pedir perdão, etc.

Nos versos 2 a 4 o apóstolo Paulo descreve estas exigências ou passos para que a unidade cristã nãoseja apenas uma atitude forjada, um ensaio, mas seja de fato uma verdade e, por que não, umdogma? Vejamos o que a Palavra de Deus nos fala:

1. Pensar a mesma coisa. “É um passo básico para criar a unidade. Os cristãos têm a base para ainteireza de pensamento e ação”. O apóstolo se refere à Palavra de Deus. Na oração sacerdotal Jesusafirmou: “Eu lhes tenho dado a tua palavra” e “santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”(João 17.14,17). Em outras palavras, pensar a mesma coisa se refere a Sã Palavra de Deus.“Esta mensagem era a base suprema da unidade cristã, não apenas entre os discípulos, mas tambémentre todos os cristãos por toda a era cristã”.

2. Ter o mesmo amor. Paulo destaca o amor como o maior fruto, o maior dom e o maior elementoda Tríade Paulina, ao lado da esperança e da fé (1Co 13.13). O maior sinal da presença do EspíritoSanto e sua maior manifestação é o amor. A Igreja Metodista enfatiza na sua doutrina a santificaçãoou perfeição cristã. João Wesley definiu que a perfeição cristã é a prática do amor. Ele disse oseguinte: “um metodista é alguém que tem o amor de Deus em seu coração, pelo Espírito Santo quelhe foi dado...” (As Marcas de um Metodista). “O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudosuporta” (1Co 13.7).

3. Ser unido de alma e sentimento. Pensar a mesma coisa e ter atitudes de amor, produzem um únicoresultado: a unidade do Corpo de Cristo. Este foi o principal tema da oração sacerdotal de Jesus.

4. Ter humildade em todos os relacionamentos. Os versos 3 e 4 descrevem este caminho dahumildade. As versões A Bíblia na Linguagem de Hoje e O Mais Importante é o Amor, traduzemassim estes dois versículos: “Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receberelogios; mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos. Que ninguémprocure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros”; “Não sejam egoístas; nãovivam para causar boa impressão aos outros. Sejam humildes, pensando dos outros como sendomelhores do que vocês mesmos. Não pensem unicamente em seus próprios interesses, maspreocupem-se também com os outros e com o que eles estão fazendo”. Estas palavras devemrepercutir em nossas vidas, pois os princípios destacados nem sempre são vivenciados pelos cristãos.

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Os cristãos genuinamente cheios do Espírito Santo não discriminam, não marginalizam, nãoestigmatizam os outros, não buscam seus próprios interesses e sim aqueles que são revelados porDeus em Sua Palavra. Aliás, este conceito de cheios do Espírito Santo não é correto, pois o EspíritoSanto é Deus presente e de maneira plena, pois Deus não está na vida do cristão somente pelametade. Na verdade, o que acontece é que nem sempre somos plenamente submissos à vontade deDeus; não somos plenamente dedicados a Deus e a seu serviço; não somos totalmente obedientes aEle; não vivemos plenamente a santificação. Então, a questão não está na “quantidade” do EspíritoSanto presente na vida do cristão e sim a forma como cada um de nós se dedica a Deus. Nãopodemos julgar quem tem mais ou menos Espírito Santo, podemos sim ver os frutos, sobretudo osfrutos do arrependimento, pois somos todos pecadores e o fruto do Espírito Santo, que é o amor,pois todos somos transformados em templos onde habita Deus. Por conseguinte, o pensar a mesmacoisa, o ter o mesmo amor, o ser unido de alma e sentimento e o ter humildade em todos osrelacionamentos, são evidências da presença de Deus na vida do cristão e provas da dedicação econsagração plena ao Senhor.

Cristo: exemplo a ser seguidoPaulo apresenta Jesus Cristo como o principal exemplo para estas atitudes de humildade, de unidadee de santificação. O maior exemplo é que Jesus esvaziou-se de si mesmo para se encarnar e revelaro amor de Deus. Desta forma, Jesus teve um comportamento altruísta, viveu uma humildade semprecedentes, teve atitude sacrificial e, por isso, sua exaltação foi gloriosa. O verbo traduzido poresvaziar-se tem o sentido de aniquilar-se ou reduzir-se a nada. “A idéia é que ele como Deus podiater todos os poderes. Mas o caminho que escolheu, levou-o a perder não somente o poder dadivindade, mas os próprios direitos e poderes naturais em todo o homem. Entre todas as condiçõeshumanas, tomou a condição de escravo. Perdeu até o poder de defender-se das acusações injustas efoi condenado à morte. Sofreu a morte mais infame que é a morte de cruz”.

“Pode haver dúvidas no coração do crente de que uma atitude como a de Cristo seja o segredo paraa unidade e harmonia no Corpo de Cristo?” Eu não tenho dúvidas. Acredito que você também não astem. Que Deus nos dê a graça para vivermos esta unidade e esta harmonia e que elas sejam reflexo danova vida que Cristo nos oferece, tão somente reflexo de termos sido transformados pelo poder daGraça de Deus e não meramente atitudes forjadas ou estereótipos, como algumas vezes parece ser. Aseguir reproduzo a declaração de um discípulo de Jesus que aprendeu o caminho do seguimento. Oautor é anônimo e se expressa assim:

“Sou discípulo dEle. Não vou olhar para trás, vacilar, desacelerar, voltar atrás ou me calar. Meu passadofoi redimido, meu presente faz sentido e meu futuro está garantido. Esgotei e abandonei o viver rastejando,o andar contemplativo, o planejar acanhado, os joelhos sem calos, os sonhos sem cor, as visõesdomesticadas, as conversas munda¬nas, o contribuir mesquinho e os alvos diminutos! Já não preciso depreeminência, prosperidade, posição, promoções, aplauso e popularidade. Não tenho de sempre estar certo,ser o primeiro, estar no topo, ser reconhecido, louvado, percebido ou recompensado... Não posso sercomprado, comprometido, desviado, enfeitiçado, forçado a retroceder, diluído ou atrasado. Não fugireidiante do sacrifício, nem hesitarei na presença da adversidade, não negociarei à mesa do inimigo, nempararei para pensar diante da pesquisa de popularidade ou me desviarei no labirinto da mediocridade. Nãodesistirei, não me calarei, não cederei nem me ‘queimarei’ até que tenha pregado tudo, orado tudo, pagotudo, armazenado tudo e permanecido de pé pela causa de Cristo. Sou um discípulo de Jesus. Tenho deseguir até que ele venha, doar-me até cair e pregar até que todos conheçam. E quando ele voltar parabuscar os que lhe pertencem, ele não terá dificuldades em reconhecer-me.., minha bandeira será nítida”.

Que esta seja a nossa experiência e testemunho, pois estaremos caminhando para a unidade e para asantificação. E que Deus faça cumprir em nós a oração sacerdotal de Jesus, para que o mundo creia.

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Lição nº 4Para o dia 22 de novembro de 2009

Texto do João Wesley Dornellas

“Em tudo daí graças”

Textos Bíblicos:

Lc 22. 19-20“E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo; Isto é o meu corpo oferecidopor vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, dizendo: Este é o cáliceda nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”.

Rm 7.25“Graças a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor”.

1 Ts 5.16-18“Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, daí graças, porque esta é a vontade de Deus emCristo Jesus para convosco”.

Introdução

Na quinta-feira desta semana, dia 26 de novembro, estaremos comemorando o “Dia Nacional deAção de Graças”. A história desse dia remonta aos puritanos do navio Mayflower, depois chamadosperegrinos, que vieram para a América no ano de 1620. Eram ingleses mas se achavam refugiados,por motivos religiosos, na Holanda. Eles se acomodaram na cidade de Plymouth, na região da NovaInglaterra. Ao fim do primeiro ano, depois de muita dificuldade, nas quais foram ajudados poríndios nativos, tiveram uma boa colheita e se reuniram, puritanos e índios, para dar graças a Deus.Esse dia, comemorado na quarta quinta-feira de novembro, é hoje feriado nacional nos EstadosUnidos. No Brasil e em muitos outros países, é uma data oficial, mesmo sem ser feriado.

Na realidade, reservar um ou mais dias para uma celebração de ações de graças, especialmente emfunção da colheita, é coisa bem mais antiga. A Festa dos Tabernáculos (“sukkoth”) era a festa maisimportante de Israel. É oportuna uma leitura de Lv 23.33-44, texto que contém as instruções deDeus sobre a festa, bem como de Dt 16.1-17 que, além da Festa dos Tabernáculos, fala também dasoutras duas grandes festas de Israel, a Páscoa e o Pentecostes. Essas festas são formas cúlticas nasquais o povo recordava os gestos de Deus em sua história, ou seja, as festas são memórias históricasda intervenção de Deus.

Essas comemorações anuais de ação de graças em virtude da colheita não eram exclusividade dopovo judeu. Os antigos gregos celebravam durante três dias para reverenciar Deméter, umadivindade da terra cultivada, a deusa do trigo e dos cereais. Os romanos faziam uma comemoraçãosemelhante, no qual reverenciavam Ceres, sua deusa do trigo. A palavra cereal é derivada de Ceres.Por sua vez, os antigos chineses tinham uma festa da colheita chamada Chung Ch´ui.

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Voltemos à Festa dos Tabernáculos, que era chamada genericamente de “a festa”. Jesus participavaativamente de todas as três festas, que eram chamadas de festas de peregrinação, ou seja,Tabernáculos ou das tendas, Páscoa ou dos pães sem levedura (pães asmos ou ázimos) e a festa dePentecostes ou das semanas. O texto de Jo 7.37-40 narra a participação de Jesus na Festa dosTabernáculos.

“Dar graças”: Jesus deu o exemplo.

A atitude ação de graças é uma constante em todo o texto bíblico, sendo uma de suasrecomendações mais recorrentes. No Antigo Testamento, o povo judeu era instado a dar graças portudo, especialmente pela libertação da escravidão no Egito. O rei Davi, em salmos maravilhosos,está sempre agradecendo a Deus as bênçãos e recomendando que todos façam o mesmo. No salmo92.1-2, ele proclama “Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo,anunciar de manhã a sua misericórdia e, durante as noites, a sua fidelidade”.

Dar graças a Deus não era uma simples recomendação de Jesus mas prática constante em todos osmomentos, mesmo nos mais difíceis. Na multiplicação dos pães, “Jesus tomou os pães e, tendodado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam” (Jo 6.11).No dramático episódio da ressurreição de Lázaro, narrado com exclusividade pelo mesmo apóstoloJoão no capítulo 11, Jesus, antes do milagre, logo depois de ser removida a pedra do túmulo,elevando os seus olhos para o céu, disse: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás eu sabia quesempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu meenviaste”.

Mesmo nos momentos mais dramáticos de sua vida, Jesus nunca deixou de render graças ao Pai. Noepisódio da Ceia do Senhor (Lc 22.19-10), ele dá graças ao Pai pelos dons do pão e do vinho queele distribui aos seus discípulos, ordenando que repetissem esse ato em memória dele. Logo depois,ele foi preso no Jardim do Getsêmani e entregue para o julgamento e morte de cruz.

O sentimento da gratidão, que ele transmitia em suas orações de ação de graças, era muitoimportante para Jesus e está presente em muitos dos seus ensinos. Ele chegou a ficar desapontadoporque, dos dez leprosos curados por ele, só um voltou para agradecer (Lc 17.11-19).

Por que dar graças?

A oração do cristão deve incluir sempre as ações de graças. O grande metodista Daniel T. Niles, emseu livro “As ferramentas do Reino”, diz que há diversas classes de oração que nunca chegam aDeus. As que não são acompanhadas de ação de graças estão nessa categoria. Em Fp 4.6, oapóstolo Paulo exorta para que sejam conhecidas, notórias, diante de Deus, “as vossas petições, pelaoração e pela súplica, com ações de graças”.

O citado Rev. Niles nos diz que a gratidão é a nossa capacidade de receber o doador junto com opresente (dom). Deus nunca dá, segundo Niles, seus dons sem dar-se a si mesmo junto. Qualquercoisa que Deus nos dá é sempre um sinal que Ele vem junto com o presente. Orar sem ação degraças é como dizer a Deus: “quero teus dons mas não quero a Ti”. É por isto que Paulo nosadverte que em nossas súplicas a Deus, devemos pedir com ações de graças. “Orações sem ação degraças nunca chegam a Deus”.

Por sua vez, William Barclay, no capítulo “Nós e Nossas Orações” de seu livro “Orações para oHomem Comum”, nos diz que “a ação de graças é o produto da gratidão lógica do coração”. Paraele, “há três classes de ação de graças. Existe a que damos por Jesus Cristo, o maior e melhor domde Deus aos homens”. Isto está bem claro em Rm 7.25: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso

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Senhor”. Continuemos com o texto de Barclay: “Existe a ação de graças por todos os meios degraça, por todas as grandes alegrias e maravilhas da vida e, ainda, por todos os dons que Deus nostem dado e que nos ajudam a enfrentar os grandes momentos de nossa vida”. Como bonsmetodistas, vale a pena lembrar de importante sermão de João Wesley, “Os Meios de Graça”(Sermão nº 16). Ele nos diz que “os meios de graça são canais pelos quais Deus comunica aoshomens a Sua Graça”. Para Wesley, os principais são a oração, o estudo das Escrituras e aparticipação da Ceia do Senhor, comendo o pão e bebendo o vinho em memória de Cristo”.

Finalizando o seu pensamento sobre ação de graças, Barclay diz: “Existe porém uma terceira classede ação de graças. Um dos grandes perigos que enfrentamos na vida consiste em considerar aspessoas e as coisas, que se acham inseridas em nossa própria estrutura vital, unicamente comomeros elementos da paisagem e simples parte do quadro essencial da vida. Há dons que recebemoscom regularidade a cada dia e dos quais esquecemos sua condição de bênçãos. Temos que tergratidão por eles. Quando pensamos o que seria nossa vida sem as pessoas e objetos que nosrodeiam a cada dia, chegaremos à conclusão de que o dia inteiro não seria suficiente para dar graçasa Deus por eles”.

Crescendo em Ação de Graças

Um dos objetivos de nossa vida religiosa é crescer espiritualmente. Em Ef 4.15, somos chamados a“seguir a verdade em amor e crescer em tudo naquele que é o cabeça, Cristo”. Em Cl 2.6-7, oapóstolo Paulo nos aconselha: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, neleradicados e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações degraças.

A Bíblia, em 1 Co 15.57 nos dá a garantia final do plano de Deus em Cristo em favor do serhumano: “Graças a Deus que nos dá a vitória por intermédio de Jesus Cristo.

Paulo escrevendo aos tessalonicenses (1 Ts 1.3-5), exalta a qualidade de sua igreja e de seusmembros, dizendo que tinham fé operosa, esperança firme em Jesus Cristo e amor abnegado. Astrês virtudes chamadas teologais, também exaltadas em 1 Co 13, receberam, em função daquelaigreja, adjetivos muito importantes. Por isto, Paulo testemunha “que o Evangelho não chegou a elasomente em palavras mas sobretudo em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”. Isto écrescer em Cristo.

Como vimos, orações que não têm agradecimentos a Deus por seu grande amor são, na realidade,orações inócuas. Mas a atitude de ação de graças não se restringe às orações, ela tem que permeartoda vida do cristão.

Há um outro grande fator na atitude de ação de graças, a alegria do cristão. “Alegrai-vos, sempre,no Senhor. Mais uma vez lhes digo, Alegrai-vos”, são palavras de Paulo. No precioso conselhodado à igreja de Tessalônica, ele junta as três coisas, a alegria, a oração e a ação de graças. Seja oseu conselho uma constante em nossa vida de cristãos, não apenas no Dia de Ação de Graças destaquinta feira, mas em todos os momentos. “Regozijai-vos sempre, orai sem cessar e em tudo daígraças porque essa é a vontade de Deus para convosco” (1 Ts 5.16-18). Amém!

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Lição nº 5Para o dia 29 de novembro de 2009

Texto do João Wesley Dornellas

Primeiro Domingo do Advento – A Aliança

Textos Bíblicos

Gênesis 12.1-3“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa do teu pai e vai para a terraque te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tuuma bênção! Abençoarei os que abençoares e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti (de tuasemente) serão benditas todas as nações da terra”.

Gênesis 22.16-17“Jurei, por mim mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isto e não me negaste o teu único filho, quedeveras te abençoarei e certamente multiplicarei a sua descendência como as estrelas do céu e comoa areia na praia do mar”.

Hebreus 11.8“Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber porherança; e partiu sem saber aonde ia”.

O AdventoO ano litúrgico começa com a celebração do Advento, que abrange os quatro domingos queantecedem ao Natal. Advento é uma palavra de origem latina que significa “vinda”, “chegada”. Aestação do Advento é, para os cristãos, tempo de preparação para a vinda de Jesus. Na Igreja, étempo de meditarmos sobre os relatos bíblicos que prepararam os acontecimentos que sedesenrolaram na pequena cidade de Belém da Judéia.

O nascimento de Jesus não aconteceu por acaso. Também não é um plano de emergência que Deusfez ao constatar que as coisas aqui na terra não estavam indo como Ele gostaria. Nada disto. Esseplano de redenção do homem já estava no coração de Deus antes mesmo da criação do mundo. ABíblia nos diz: “Ele (Jesus) estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, esem ele nada do que foi feito se fez”(Jo 1.2-3).

Antes de criar o homem, “o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”. O nosso bom Deusjamais escondeu o seu plano de redenção, comunicando-o, com muita amor, pelas páginas daBíblia. Martinho Lutero, num sermão do Natal de 1521 em Wittenberg, dizia, poeticamente mascom grande sabedoria teológica, que “A Bíblia é a manjedoura na qual o menino Jesus repousa”.

Nesse tempo de espera para o Natal – o Advento – nós refletimos sobre os acontecimentos maisimportantes relacionados ao Natal. Hoje, relembramos a Aliança que Deus fez com a humanidade

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através de Abraão. Nos próximos domingos, vamos estudar Deus relembrando, através dos profetas,suas promessas de amor e pedindo firmeza naqueles tempos de espera, em que o seu povo, no meiode tantas tribulações, quase chegava a perder a esperança e a confiança nEle. Num terceiro passo,através do anjo Gabriel, Deus anuncia a Maria que ela foi a escolhida para ser a mãe de Jesus. Esseepisódio, chamado de “Anunciação de Maria”, é um dos relatos mais belos de toda a Bíblia. Noquarto domingo do Advento, relembraremos os anjos descendo do Céu e anunciando aos pastoresque a promessa fora realizada e que Jesus havia nascido em Belém. Finalmente, no domingo deNatal, vamos adicionar aos relatos históricos um Natal maior, o que é revelado em João 1.1-14,considerado, ao lado de João 3.16, um dos textos mais importantes da Bíblia.

Advento é tempo de espera. É tempo de esperança. Assim, neste período lindo do ano, vamosmanter firme a nossa esperança no cumprimento das promessas, especialmente a de poder participarcomo convidados especiais do grande banquete que está preparado para nós. Como nos diz aBíblia, “na esperança fomos salvos”.

Nós vimos, no domingo passado, na lição sobre Ação de Graças, a importância de algumas festasentre o povo de Israel, especialmente a dos Tabernáculos, a da Páscoa e a de Pentecostes. Nocristianismo, nascido em meio a muitas perseguições e contando com a adesão muito grande degentios, as festas, com exceção da Páscoa, acabaram sendo relegadas a um plano inferior. Só depoisque a Igreja se estabeleceu em Roma e começou a institucionalizar-se, é que as comemoraçõesfestivas passaram a existir. O Natal é uma delas. Só muitos séculos depois do nascimento de Cristoé que foi fixada uma data para ele e começaram as comemorações. Da mesma forma, todo ocalendário litúrgico. O Advento, começou a ser comemorado na Espanha por volta do ano 400 massó 200 ou 300 anos depois foi totalmente adotado pela Igreja.

No metodismo, o Advento, com alguns dos seus símbolos, como a Coroa do Advento, eracomemorado só em alguns países. No Brasil, só em algumas casas de pastores. Não havia ênfase nocalendário litúrgico, com exceção das comemorações do Natal e da Páscoa, o próprio domingo dePentecostes ficando em posição secundária.

Pode-se dizer perfeitamente que a Igreja Metodista de Vila Isabel é a pioneira, ou uma daspioneiras, no Brasil das comemorações do Advento. No ano de 1966 as comemorações do Adventotiveram programações especiais durante os quatro domingos e foi instalada a nossa primeira Coroado Advento, uma tradição que nunca foi interrompida e que acabou influenciando toda a IgrejaMetodista.

A AliançaComo foi dito acima, a vinda de Jesus – o infante que nasce numa humilde manjedoura – nãoaconteceu por acaso. Tudo estava, desde o princípio, no coração de Deus. “Ele estava no princípiocom Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1:2-3). .Antes de criar o homem, “o Verbo (já) estava com Deus e o Verbo era Deus”. Deus não escondeuconsigo o plano que criou para a redenção do homem. Esse não foi um segredo guardado a setechaves por Deus. Pelo contrário, Deus comunicou. O Antigo Testamento vai tecendo, livro apóslivro, em informações bem claras, o enredo maravilhoso do seu Plano de Salvação.

No Primeiro Domingo do Advento, nós nos lembramos da promessa feita a Abraão. Mais do queuma promessa vaga, o que houve, na realidade, foi um pacto entre Deus e o Homem, umaverdadeira aliança entre Deus, o criador, e Abraão, a criatura, símbolo de toda a espécie humana.

Ao chamar Abraão e constituí-lo no pai de uma grande família, Deus fala de maneira muito clara:“Multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar, e

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a tua semente possuirá a porta dos seus inimigos. E em tua semente ( Jesus) serão benditas todasas nações da terra”.

Apesar de ser um homem comum, nada justificando a sua escolha de sua pessoa, Abraão acabousendo o protótipo do povo de Israel. Abraão confiou na promessa, promessa que Deus cumpriu fiele amorosamente. De sua descendência nasceu Jesus, concebido pelo Espírito Santo de Deus e filhode Maria, aquela que achou graça perante Ele.

Abraão é considerado o pai da nação judaica mas, na realidade, ele foi muito mais do que isto.Quando Deus mudou o seu nome de Abrão para Abraão, que significa “pai dos povos” (Gn 17.5),as intenções de Deus, muito mais do que valorizar Abraão pessoalmente, seriam de mostrar que, desua semente humana, através de Jesus seriam benditas todas as nações da terra. A missão de Jesusseria de libertar o mundo e não somente o povo judeu. O que o Novo Testamento mostra, através dediversos textos, é que, embora reconhecendo e confirmando a eleição de Abraão, a obra de Cristo émuito mais importante. Vale a pena ler João 8.51-59.

Na grande galeria de heróis da fé do capítulo 12 de Hebreus, Abraão é reconhecido como homem defé e é exemplo para todos nós hoje. “Pela fé, Abraão, quando chamado obedeceu e partiu sem saberaonde ia” (Hb 12.8). É isto que Deus quer de nós: obedecer e ir à missão, mesmo que não saibamosa que caminhos ela nos levará.

Iniciando o período do Advento, ao relembrarmos aquela Aliança, que se cumpre no Natal de Jesus,não podemos nos esquecer de uma coisa muito importante: nós somos herdeiros da promessa. Istonos obriga a uma vida diferente, a uma vida com sentido bem mais amplo do que a simplescomemoração festiva à qual nós já nos habituamos.

Como bem disse Philip Potter, ex-secretário do Conselho Mundial de Igrejas, “Natal é tempo depenitência, de metanoia (mudança de mente). Um tempo no qual avaliamos nossas vidas e a vidade nossas sociedades pela vida encarnada de Cristo. Um tempo no qual relembramos, comBonhoeffer, que ´não é qualquer ato religioso que faz de um cristão aquilo que ele é, mas sim aparticipação no sofrimento de Deus na vida do mundo´.

Isto é metanoia. Um tempo no qual, em penitência, confiantemente abandonamos o medo dasameaças à sobrevivência pela alegria de viver com e pelos outros na liberdade e na unidade queCristo trouxe e traz no Natal.

Natal é, portanto, um desafio para concretizar a metanoia,o arrependimento, tanto em nossa vidapessoal como em nossa existência social e religiosa”.

Neste Primeiro Domingo do Advento, nós que somos legítimos herdeiros da promessa, temos quelevar a mensagem de Esperança aos que ainda não reconhecem Jesus como Salvador. E manterfirme a nossa própria esperança no cumprimento de outras promessas que foram feitas,especialmente aquela de poder participar, um dia, como convidados especiais, do grande banqueteque está preparado para nós no Reino dos Céus. Até lá, vamos fortalecer a nossa Fé e manter bemfirme a nossa Esperança. “Porque – como nos diz a Bíblia – na esperança fomos salvos”.

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Lição nº 6Para o dia 06 de dezembro de 2009

Texto do João Wesley Dornellas

Segundo Domingo do Advento – A Profecia

Textos Bíblicos

Isaías 11.1-5“Porque brotará um rebento do trono de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousarásobre ele o espírito do Senhor, o espírito da sabedoria e da inteligência, o espírito do conselho e defortaleza, o espírito do conhecimento e de temor ao Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor: enão julgará segundo a vista dos olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos. Masjulgará com justiça os pobres e repreenderá com equidade os manos da terra. E a justiça será o cintodos seus lombos”.

Isaías 53.4-5“Verdadeiramente tomou sobre si as nossas enfermidades, a as nossas dores levou sobre si, e nós oreputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, emoído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisadurassomos sarados”.

A Continuação da História

Hoje é o segundo domingo do Advento. No domingo passado relembramos a aliança que Deusestabeleceu com Abraão. A história toda está na Bíblia, começando no livro de Gênesis. Deuspromete a Abraão que, em sua descendência seriam benditas todas as nações da terra. Abraão játinha um filho, Ismael, gerado em Agar, uma escrava egípcia, a pedido da própria esposa Sara. Elenão era, no entanto, segundo Deus, o herdeiro da promessa, apesar de ter sido reservada a ele acriação de uma grande nação, a do povo árabe, que seria durante os séculos que se seguiram, atéhoje, os grandes inimigos do povo de Israel. Finalmente Abraão gerou a Isaac, o verdadeiro filho dapromessa. Quando Deus quer provar a fidelidade de Abraão, Ele pede que Abraão sacrifique a Isaace, ao admitir imolar o seu próprio filho, Abraão dá provas de sua fidelidade mas a criança é salva. Ageração de Abraão continua aumentando com o nascimento dos gêmeos Esaú e Jacó, filhos deIsaac, Um dos filhos de Jacó – José – vendido por seus irmãos como escravo, acabou no Egito onde,depois de muitas peripécias, acabou sendo um dos principais assessores de Faraó, encarregado deorientar o plano de produção e estocagem de alimentos nos sete anos de vacas gordas para que opovo pudesse sobreviver nos sete que viriam a seguir, o período das vacas magras.

José acabou sendo, como a Bíblia mostra, a salvação de toda a família, que acabou emigrando parao Egito. Com o passar dos anos, os judeus se multiplicaram e acabaram se tornando um problemapara alguns dos faraós que vieram depois. O resultado foi que o povo judeu acabou sendotransformado em escravo. Assim se passaram 200 anos. Para voltar ao lar – a Canaã – sob aliderança de Moisés e, depois, de Josué, o povo peregrinou 40 anos, enfrentando o deserto, as

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provações, a perseguição, os inimigos e, até mesmo, a tentação de revoltar-se contra a fuga daescravidão. A Aliança de Deus com o seu povo continuava válida, sendo confirmada a Moisés,conforme se pode ver em Êxodo 24.

Finalmente estabelecido como nação, o povo judeu teve juízes, reis, alguns bons e outros maus,enfrentou muitas guerras, perdendo as mais importantes. Assim, o povo de Deus acabou se tornandoescravo muitas vezes, na própria terra ou sendo levado no estrangeiro.

Foram tempos de grande desolação e para muitos pareceu que Deus havia abandonado o povo queEle próprio escolhera. Muitos aceitaram novos deuses e se misturaram com os dominadoresperdendo a pureza de sua fé. Deus, contudo, não se esquecera do seu povo nem deixou de amá-lo.

A mensagem dos profetas

Davi, o grande rei de Israel, em muitos dos seus salmos manifesta a sua confiança em Deus emostra confiança em suas promessas. No Salmo 68.18, ele exclama: “subiste às alturas, levastecativo o cativeiro; recebeste homens por dádivas, até mesmo rebeldes, para que o Senhor Deushabite no meio deles”. Este versículo é praticamente repetido por Paulo em Efésios 4.7-8,identificando nele a pessoa de Jesus: “e a graça foi concedida a cada um de nós segundo aproporção do dom de Cristo”.

Ele levantou, então, os profetas, aqueles que falavam em nome do Senhor. Foram muitos, algunscom grande capacidade de liderança. Outros, entristecidos com a situação, esperavam o pior.

Na realidade, como está bem claro no Vocabulário Bíblico de Jean-Jacques Von Allmen, “todo oAntigo Testamento testemunha acerca de uma espera, a espera da vinda de Jesus. Uma esperançaimensa, baseada no que o Deus de Israel fez e disse no passado, anima suas páginas. Todo o AntigoTestamento está voltado para o porvir, e parece viver exclusivamente em função de uma promessacujo cumprimento ainda desconhece”. “Até poderia afirmar-se” – diz o autor do verbete – “que oAT inteiro é uma imensa profecia, porquanto anuncia, prefigura e prepara um acontecimentovindouro. Ele, portanto, é apenas um esboço do que será um dia a realidade”.

É preciso saber bem o significado das palavras profeta e profecia. Profeta é aquele que fala emnome do Senhor. Profecia é especificamente pregação. Os profetas nunca tiveram a intenção defornecer um quadro completo dos acontecimentos futuros. Eles são, antes de tudo, pregadores. “Aprofecia não é apenas uma simples predição, mas uma proclamação das intenções divinas acerca dopovo escolhido e do mundo”.

A Nova Aliança confirma em tudo a intenção de Deus em sua promessa a Abraão. Que nele seriambenditas todas as nações da terra. Daí a mudança de seu nome, de Abrão para Abraão, que significapai dos povos. Na Nova Aliança, não são apenas as casas de Israel e de Judá, separadashistoricamente há muitos anos, que se unem na Aliança mas todas as nações. Nenhuma delas ficoude fora da Nova Aliança. A antiga era excludente, a nova, não.

Os verdadeiros profetas, ao mesmo tempo em que criticavam, com muita veemência, osdescaminhos e a desobediência dos judeus, relembravam as promessas do Pai e avisavam que seucumprimento estava próximo. A palavra que eles traziam para aquele povo sofrido era a palavra daesperança. Vale a pena, neste 2º domingo do Advento, relembrar algumas daquelas profecias quetanto animavam o povo e lhe davam a esperança de que as coisas iriam realmente mudar.

“Ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve;ainda que sejam vermelhos como o carmim, se tornarão como a branca lã” (Is 1:18)

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“Mas terra, que foi angustiada, não ficará entenebrecida. O povo que andava em trevas viu umagrande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. Tumultiplicaste este povo, a alegria lhe aumentaste: todos se alegrarão perante ti como se alegram naceifa. Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre ele, a vara que lhe feria os ombros”. (Is 9:34)“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo está sobre os seus ombros; e oseu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”. (Is9:6)

“Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o Eleito, em quem se compraz a minha alma; pus o meuespírito sobre ele, juízo produzirá entre os gentios”. (Is 42:1)

“Verdadeiramente tomou sobre si as nossas enfermidades, a as nossas dores levou sobre si, e nós oreputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, emoído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suaspisaduras somos sarados” Is 53:4-5)

“E ele será a nossa paz”. (Mq 5:5)

São muitos os textos dos profetas a anunciar a vinda e a missão do Messias. Na realidade, mesmoquando repreende o povo, os profetas estão sempre falando que as coisas vão mudar para melhorquando a promessa de Deus se cumprir. O grande valor do Antigo Testamento é justamente este, ode manter, na mente e no coração das pessoas, a esperança do Dia do Senhor, a esperança na vindado Messias.

A Nova Aliança

Jesus Cristo é o cumprimento das promessas amorosas de nosso Pai, que é Pai de Amor. Aquelemenino que vai nascer de maneira bem humilde na pequena cidade de Belém, verbo transformadoem carne, esperança traduzida em certeza, é o nosso Salvador. Deus promete, Deus cumpre! ANova Aliança é proclamada por Jesus na instalação da Eucaristia (Lc 22.20): “tomou o cálice,dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. Em Jeremias31.31, o Senhor avisa que firmará nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá. Vejamos bema promessa de Deus nos versículos 32 e 33 do mesmo capítulo: “Não conforme a aliança que fizcom seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto elesanularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o Senhor. Porque esta é a aliançaque firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor; nas mentes, lhes imprimirei asminhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.

Agora que o Verbo se faz carne e habita entre nós, temos que fazer, primeiramente, que ele viva emnosso coração e realmente dirija a nossa vida. Mas isto é pouco, muito pouco. Como verdadeirosprofetas, no entanto, temos que fazer com que a boa-nova de que Deus está conosco seja tambémuma realidade na vida dos que ainda não têm Cristo como seu Salvador.

Jesus dizia: “Ide e pregai!”. Por sua vez, João Wesley enfatizava que “não há nada a fazer a nãoser salvar almas”. A época do Advento, com sua beleza e poesia, é uma oportunidade valiosa paraproclamarmos a todos que Jesus é Deus conosco.

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Lição nº 7Para o dia 13 de dezembro de 2009

Texto do João Wesley Dornellas

Terceiro Domingo do Advento – A Anunciação de Maria

Textos Bíblicos

Mateus 1.21Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, por ele salvará o seu povo do pecado”

Lucas 1. 26-35“No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galileia, chamadaNazaré, a uma virgem desposada com um homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgemchamava-se Maria.E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela,porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria estasaudação.Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás edarás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus.Esse será grande e será chamado filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seupai; ele reinará para sempre na casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do altíssimo te envolverá com asua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho e Deus”

A jovem serva de Deus

Neste terceiro domingo do Advento, nós relembramos um episódio bíblico de muita beleza esensibilidade, a chamada Anunciação de Maria. O Anjo Gabriel, enviado por nosso Deus, chega-sea Maria e anuncia que ela achou graça diante de Deus e que conceberia e daria à luz uma criança, aquem deveria chamar pelo nome de Jesus. Ainda aturdida pela revelação, nem conseguindo em seucoração de menina entender a magnitude do que lhe era comunicado, Maria se limita a aceitar amissão: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lc 138).

O Natal se aproxima mais uma vez e, como sempre acontece, a figura de Maria, a mãe de Jesus,quase ausente da vida de nossas igrejas chamadas protestantes, é um pouco relembrada. Porque,apesar de que a mensagem mais grandiosa do Natal esteja no primeiro capítulo de João, versículos 1a 14, não se pode contar a história do Natal sem se falar da doce Maria, a mãe de Jesus. No resto doano, mesmo por ocasião da tragédia do Calvário e da glorificação de Jesus em sua ressurreição, nemsempre nos lembramos de Maria, o que é, certamente , uma pena.

Maria, mãe do Filho de Deus

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É claro que, como protestantes metodistas, não concordamos com o culto a Maria, que não é a mãe deDeus. Meu amigo Díler Trindade, o produtor do filme “A mãe do filho de Deus”, acertou em cheio aoescolher o seu título, fugindo à tentação de dizer simplesmente “a mãe de Deus”. A oração que oscatólicos mais fazem em sua vida é sem dúvida a Ave Maria, muito mais do que o próprio Pai Nosso,que Jesus nos ensinou. . Ela consta de duas partes, sendo a primeira uma saudação a Maria. “Ave”significa “Salve!”. Podemos, como protestantes, fazer a mesma saudação porque Maria é realmentecheia de graça, o Senhor é com ela, bendita ela é entre as mulheres e bendito é o fruto do seu ventre,Jesus. Essa declaração é bíblica, proferida por sua prima Isabel, mãe de João Batista, ao receber avisita de Maria. O problema é a segunda parte, não apenas uma saudação mas a própria oração, naqual se diz que Maria é a mãe de Deus e a ela se pede que interceda junto ao Pai por nossa salvação,“agora e na hora de nossa morte”. Isto realmente não aceitamos. Nosso único intercessor é JesusCristo. Como também não aceitamos o título de Nossa Senhora, que tem tantos adjetivos diferentes,de acordo com suas diversas “aparições” ao redor do mundo, fato que confunde os próprios católicos.Talvez por estas coisas é que os protestantes são acusados de não gostar de Maria. Na realidade,temos que admitir que, na realidade, o seu papel na história da salvação não é muito valorizado.

Maria é anunciada por Isaías: “portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgemconceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7:14). Muitos séculos depois, elairrompe a história humana no lindo episódio chamado Anunciação de Maria, conforme narração doprimeiro capítulo de Lucas. Depois das promessas e profecias, Deus estava tomando as últimasprovidências para a efetivação de seu plano de redenção do ser humano, o plano que estava em seucoração muito antes da criação do mundo. Mesmo assim, já estando bem claros alguns pormenoresdo cumprimento das promessas de Deus, a humanidade ainda teve que esperar alguns séculos paraque tudo se concretizasse.

O anúncio a Maria em Nazaré

O anúncio do anjo Gabriel a Maria é um dos acontecimentos bíblicos de maior beleza e ternura. Elemostra de maneira muito clara a “loucura de Deus”, como bem falava o apóstolo Paulo. Dessemodo, a mulher escolhida para ser a mãe de Jesus, que receberá o trono de Davi, seu pai, e reinaráeternamente na casa de Jacó, não é uma princesa ou uma mulher da elite. Nem uma habitante dagrande metrópole de Jerusalém. Ela era uma humilde camponesa, uma virgem prometida a José, umsimples carpinteiro. O anjo lhe fala que ela achou graça diante do nosso Deus.

É muito interessante o que assinala o escritor católico Inácio Larrañaga no livro “O Silêncio deMaria”: “é significativo que, em sua saudação, o anjo omita o nome próprio de Maria. A perífrasegramatical ´cheia de graça´ é usada como nome próprio. Gramaticalmente, é um particípio perfeitoem sua forma passiva, que poderíamos traduzir mais ou menos como: Bom dia, repleta de graças!Falando em linguagem moderna, poderíamos usar neste caso a palavra encantadora. Significa queDeus encontrou em Maria um encanto ou simpatia muito especiais”.

Ainda aturdida com a revelação recebida, Maria, provavelmente uma menina em plena adolescência,coloca-se à disposição de Deus dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim segundo atua Palavra”. Essa disponibilidade de Maria marca certamente o início de tudo. Ao pronunciaraquelas palavras, ela nem de leve podia imaginar que a aceitação do mistério revolucionaria a terrados homens. E o sinal de contradição se fez, através dela, dom, presente e carne.

O Deus que se revela a MariaOutro trecho bíblico de grande beleza e profundidade, conforme narrado por Lucas, “O cântico deMaria” (Lc 1:46-55 – O Magnificat) mostra isto tudo: “A minha alma engrandece ao Senhor, e omeu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque me fez grandes coisas o poderoso; e santo é

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o seu nome. E a sua misericórdia de geração em geração sobre os que O temem. Depôs dos tronosos poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos”.

O Deus que se revela a Maria não é o Deus dos poderosos e dos donos do poder. Porque o seu Filhoconfessava que nada tinha, nem lugar para reclinar a sua cabeça. Ainda hoje Deus está chamando oseu povo para missões difíceis, quase impossíveis. Como a doce e terna Maria, só nos cabe imitar oseu procedimento: aceitar a missão, confiar em Deus, entregarmo-nos totalmente a Ele e esperar queEle faça em nós a Sua exclusiva vontade.

A história de Maria não se encerra no nascimento de Jesus. Na realidade, é aí que começa aperegrinação de fé daquela mulher escolhida. Na viagem para o exílio no Egito, fugindo àperseguição de Herodes, nos cuidados com o menino, no despertar de Sua fé e em todas asprovidências que se esperam de uma mãe. Inclusive a de enfrentar, quando o filho adulto já está emmissão, um certo alheamento da parte dele, que não misturava as coisas. Esse alheamento é, semdúvida, refletido no tratamento, não de mãe mas de mulher, o mesmo que ele usou para asamaritana, para a cananéia, para Maria Madalena e até para a mulher adúltera. E até em certasrepreensões do filho, como na volta da peregrinação a Jerusalém e no cenário das bodas de Caná daGaliléia. Para não falar da afirmativa de Jesus que sua mãe e seus irmãos eram apenas os quefaziam a vontade de Deus.

Isto tudo, porém, não anularia nunca o fato, tão fortemente exaltado por Paulo em Gálatas 4:4, deque “Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher”. Ou como João Wesley comenta esse versículoem suas Notas Explanatórias: “Seu Filho, miraculosamente feito da substância de uma mulher”. Poristo Jesus é Deus e Homem. Essa é uma das afirmativas mais fortes de nossa fé, aprovada pelos paisda Igreja num dos seus primeiros concílios: “Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem”.

Na vida de Jesus, como salienta o citado Inácio Larrañaga, Maria sempre “procurou ficar oculta napenumbra de um segundo plano”. Na hora exata da humilhação e morte de Jesus, no entanto, Mariaestava ao pé da Cruz (Jo 19.25), participando, como mater dolorosa, do sacrifício de Jesus Cristo,feito em nosso lugar. Naquela hora dramática, uma das últimas providências de Jesus foi dar aMaria um novo filho, João, que nunca a deixou desprotegida, levando-a para sua casa.Neste Natal, nós temos uma oportunidade de ouro para esse reencontro com a nossa missão. Somosconvocados para proclamar o Evangelho do Reino. Somos enviados para anunciar um novo Reino.Porque Deus se torna carne e habita entre nós. O objetivo da vinda é edificar o Reino que estavaprometido desde o princípio. O Reino está próximo, quase às nossas mãos, como se diz muitasvezes na Bíblia inglesa, versão do Rei James.

O grande amor de Deus, fazendo com que o Verbo se faça carne e habite entre nós, exige nãoapenas uma atitude de ação de graças. Exige muito mais, a dedicação integral de nossas vidas.Tenhamos, pois, um Natal de Paz, de coragem, de denúncia, em busca de um mundo novo. Porquetudo se faz novo no Natal.,Por causa do recenseamento, Maria foi dar a luz ao filho de Deus na cidade de Belém, berço deDavi. Nossa história, a história da nossa fé, começa com o recenseamento. Por causa dele, Deus foicontado entre os homens. Desde aquele dia – e para todo o sempre – Deus pode ser contado juntoconosco. É isto o que significa Emanuel, Deus conosco. A partir do Natal, Deus é contado entre oshomens. No Natal, em contrapartida, pelo seu grande amor, nós também somos contados com Ele.Porque Jesus está entre nós, nós nos transformamos em ovelhas do seu pastoreio.Com a benditamissão de buscar novas ovelhas para o seu rebanho. Nesse trabalho, nunca deveremos nos esquecerque Maria, a doce mãe de Jesus, achou graça diante de Deus e é bem-aventurada entre todas asmulheres.

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Lição nº 8Para o dia 20 de dezembro de 2009

Texto do João Wesley Dornellas

Quarto Domingo do Advento – Os anjos e os pastores

Textos Bíblicos

Lucas 2.4-7“José também subiu da Galileia, da cidade de Nazaré, para a Judéia,a à cidade de Davi, chamadaBelém, por ser ele da casa de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias,

E ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e deitou-o numa manjedoura, porque não havialugar para eles na hospedaria”.

Lucas 2. 8-20“Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho duranteas vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhouao redor deles; e ficaram tomados de grande temor.O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o serápara todo o povo; é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo:Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem.E, ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos até Belém evejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.Foram apressadamente e acharam Maria, José e a criança deitada na manjedoura. E vendo-o, o quelhes tinha sido dito a respeito deste menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisasreferidas pelos pastores. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração”.

Deus prometeu, Deus cumpriu. Deus é fiel.

Neste quarto domingo do Advento, quando o tempo de espera termina e vivemos a realidade doDeus encarnado, nós nos lembramos do coral dos anjos e dos pastores das campinas. Para cumprir alei do recenseamento, José e Maria, já no estágio final de sua gravidez, deslocam-se de Nazaré, naGalileia, até Belém, na Judéia, para serem contados. Na longa caminhada, Maria devia estarpreocupada com seu estado, prestes a dar à luz àquela criança gerada miraculosamente, e com asdificuldades da caminhada. Finalmente, chegam a Belém mas não havia lugar para passar aquelanoite. As hospedarias estavam cheias e o único local que conseguiram encontrar foi um estábulo nomeio dos animais.

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Não era realmente o cenário ideal para o nascimento de um rei. Ao nascer, foi colocada numamanjedoura, onde os animais se alimentavam. Perto dali, no entanto, ao lado do milagre no Natal,aconteceriam coisas importantes que marcariam a história. O que relembramos no quarto Domingodo Advento é o lindo acontecimento da noite de Natal. Nas campinas de Belém, os pastores cuidamde suas ovelhas. É mais uma noite de vigília e nenhum deles, por mais visionário que fosse, sequerpoderia imaginar a experiência que viveriam naquela noite sem igual.

Um anjo desce do céu, acompanhado de uma milícia de anjos e comunica a humildes pastores danoite que Jesus, o Salvador, havia nascido. Maravilhados e surpresos, os pastores são espectadoresespeciais de uma festa empolgante, preparada especialmente eles. A Bíblia nos diz que a glória doSenhor brilhou ao redor deles. Só isto já seria uma experiência inesquecível para aqueles homens, aluz dos céus iluminando todo o campo.

Havia mais, porém. Uma multidão de anjos louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas maioresalturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem”. O poeta Manoel Bandeira gostava deusar a palavra alumbramento, que significaria mais, muito mais, do que deslumbramento. Pode-sedizer perfeitamente que aquela claridade e o brilho da glória de Deus eram os refletores para aquelecoral maravilhoso de anjos anunciando a vinda de Jesus e trazendo uma mensagem de paz na terra.Alumbramento é a palavra certa para definir a emoção que aqueles pastores sentiram.

A reação foi imediata e os pastores diziam uns para os outros, ainda atônitos com a experiência:vamos até Belém! Foram e acharam Maria, José a criança deitada na manjedoura. Este é um dosmaiores contrastes da Bíblia. A uma distância não muito grande, alguns poucos quilômetros daquelepresépio (o significado original da palavra é estábulo), os pastores contemplaram o brilho da glóriade Deus e ouviram o melodioso coro de anjos. Ali, no entanto, quase ao relento, eles encontram omenino Jesus, aquele que viria a ser o salvador do mundo e nosso rei, envolto em panos na peçatosca de madeira onde alguns animais se alimentavam.

Manjedoura X cruz

Aqui vem à nossa mente o texto lapidar de Paulo em sua carta aos Filipenses no capítulo 2, versos 5a 11, com destaque para “antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-seem semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-seobediente até a morte e morte de cruz”.

Alguns podem objetar que não seria oportuno estar relembrando, numa alegre festa de Natal, ostristes acontecimentos do julgamento e morte de Jesus. As duas coisas não se misturariam. Arealidade é que se misturam, sim. Não podemos fugir à realidade da cruz. Há um quadro de MariaCambraia Fernandes, uma artista que é membro de nossa igreja mas mora nos Estados Unidos, emque, com muita sensibilidade, ela pintou o presépio com Jesus, Maria, José e alguns animais.Tendo o menino Jesus ao colo, Maria está olhando para o céu onde, no fundo de uma nuvem, ela“vê”, com os olhos de seu coração de mãe, seu filho pregado numa cruz.

Não podemos nos esquecer, inebriados pelas comemorações alegres do Natal, essa realidade, sobpena de estarmos nos esquecendo dos verdadeiros motivos da vinda de Jesus ao mundo.

As implicações do Natal

Não há ninguém que não se emocione com o relato do Natal. São experiências que falam ao nossocoração porque demonstram claramente o grande amor de Deus – que nos amou primeiro – e são o

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selo final da aliança que, no passado com Abraão, Deus firmou com todo o seu povo aqui na terra.Agora, em Jesus, são benditas todas as famílias da terra.

Como foi dito na lição anterior, por causa do recenseamento, Maria foi dar à luz ao filho de Deus nacidade de Belém, berço de Davi. Nossa história, a história da fé, começa com o recenseamento. Porcausa dele, Deus foi contado entre os homens. Desde aquele dia – e para todo o sempre – Deuspode ser contado junto conosco. É isto o que significa Emanuel, Deus conosco. A partir do Natal,Deus é contado entre os homens. No Natal, em contrapartida, pelo seu grande amor, nós tambémsomos contados com Ele. Porque Jesus está entre nós, nós nos transformamos em ovelhas do seupastoreio.

Portanto, o mais importante no Natal não é que Jesus nasceu mas que ele ainda está conosco. Suapromessa é que nunca nos deixaria sozinhos. E ele, como um bom pastor, tem tomado cuidado denós. Por isto, não precisamos ter medo, mesmo nos momentos em que andamos pelo “vale dasombra da morte”. A promessa que temos é que “sua vara e o seu cajado nos consolam”. Ele estásempre conosco.

O anjo proclama “paz na terra” e diz aos pastores que as novas são de grande alegria. Essa alegriado Natal tem que ser compartilhada com todos os homens porque Jesus nasceu para todos. É nossodever levar a mensagem do Natal e reparti-la com o próximo. Porque a alegria é um fruto doespírito e Paulo afirma que contra ela não há lei. A alegria deve tomar conta de nossa vida, agoraquando comemoramos o Natal de Jesus e em todo o ano que está por chegar, o de 2010 ,que serácertamente, como os anteriores têm sido, um ano da Graça de Deus, cheio de oportunidades paraservir.

O anjo fala de alegria e também de paz.. Deus se fez homem para que pudesse haver paz. Essapalavra paz, com tudo o que significa, é um dos alicerces da vida cristã. Paz entre Deus e o Homem.Paz entre o Homem e outro Homem. Paz entre o Homem e a Natureza. Paz entre toda a criação deDeus. Deus se fez Homem para que pudesse haver paz. O anjo coloca juntas duas palavras, glória epaz. Glória é o esplendor de Deus derramado. É assim que se obtém a paz. A paz é o resultadodessa glória. E a glória se manifesta através da paz.

Neste quarto Domingo do Advento, ao relembrar o canto dos anjos na campinas de Belém, não nosesqueçamos das mensagens de alegria e de paz. Como os pastores de Belém, a primeira coisa afazer é correr ao encontro de Jesus para adorá-lo. Depois, alegres e dispostos a exercer o ministérioda paz, sair anunciando que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. E enquanto aguardamos oNatal, não nos esqueçamos de dar muitas graças a Deus por seu maravilhoso amor, por ter sidocontado entre nós e, mesmo sem ser merecedores, por termos recebido essa presente maravilhosoque é Jesus, o Salvador de nossas vidas.

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Lição nº 9Para o dia 27 de novembro de 2009

Texto do João Wesley Dornellas

Domingo de Natal – O Verbo se fez carne e habitou entre nós

OBSERVAÇÃO DESSA EDIÇÃO DA ESCOLA DOMINICAL:Embora o Dia do Natal seja o dia 25 de dezembro, no calendário Cristão operíodo litúrgico do Natal é celebrado num espaço maior de tempo: vai dasegunda-feira após o 4º domingo do Advento até o dia 5 de Janeiro. O Dia 6de janeiro é o dia da Epifania, quando os magos e pastores encontram omenino Jesus em Belém e o adoram como o Deus encarnado, tal comoprofetizado no Antigo Testamento.

Texto Bíblico

João 1.1-14“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.Ele estava no princípio com Deus.Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez.A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João.Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer porintermédio dele.Ele não era a luz, mas veio para que testificasse da luz,A saber, a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina todo homem.O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu.Veio para os que era seu, e os seus não o receberam.Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos quecreem no seu nome;os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas deDeus.E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glóriacomo do unigênito filho do Pai”.

Deus promete, Deus cumpre. Deus é Fiel

Quando Deus fez uma aliança de amor com Abraão, ratificada com Moisés e reforçada em JesusCristo (2ª Aliança), o povo judeu esperava alguém que pudesse restaurar a monarquia, ocupar otrono de Davi, conseguir independência política para a nação judaica, há tantos séculos escrava de

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uns e outros, agora do Império Romano. Todas as palavras dos profetas que foram relembradasnestas lições do Advento, com exceção das que falavam do servo sofredor, levavam a esse caminhotriunfalista e de natureza política.

O plano de salvação de nosso Pai excede a compreensão e os desejos humanos. Ele está sempre nafrente. Em vez de mandar um homem comum para garantir o cumprimento da Aliança, ele manda oseu próprio filho, que estava com ele desde o princípio. A vinda de Jesus não representa apenas osdesejos e as interpretações dos judeus que, ansiosamente, esperavam o Messias da promessa. Narealidade, Deus irrompe a história do ser humano, quase que para mostrar a todos que ele estava nocomando de tudo, que sempre esteve dirigindo tudo. Se Ele tomou providência tão drástica de virEle mesmo, em Jesus, para, de certa forma, fazer uma intervenção no mundo, Ele o fez movidounicamente pelo amor.

Na Grécia antiga, os grandes teatrólogos (o teatro nasceu lá) tinham uma regra de ouro para resolveras tramas dos seus enredos. O que eles diziam é que, numa peça teatral, quando a situação não temremédio, nem saída, e nenhum dos protagonistas tem condições de resolver o problema, o únicojeito é colocar um deus na história.

No que dependesse de um homem, por mais competente que fosse ou por mais habilidades quetivesse, os problemas do mundo não poderiam ser plenamente resolvidos. O que Deus fez foi, comoos teatrólogos gregos, colocar um Deus em cena, na história humana, seu próprio Filho. É na vindade Jesus que, conforme a promessa feita a Abraão, são benditas (abençoadas) todas as nações daterra. Deus prometeu, Deus cumpriu. No Natal.

O Evangelho de João

O Evangelho de João é muito diferente dos outros três. Muitas coisas importantes não foramnarradas por ele, como o nascimento de Jesus e o seu batismo, a chamada dos discípulos, asparábolas de Jesus (não há nenhuma no texto de João), nem – é incrível – existe nenhuma narrativasobre alguns dos momentos finais de Jesus na terra, como a instituição da Eucaristia, e outras coisasmais. Em compensação, João nos oferece com absoluta exclusividade relatos importantes da vida deJesus, que mostram sua sensibilidade e reforçam certamente características pessoais de Jesus.Somente João narra a preciosa entrevista de Jesus com Nicodemos, só ele fala da mulher samaritanae da ressurreição de Lázaro, nesta última narrando o diálogo de Jesus com Marta, com a afirmativa“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. Não podemosnos esquecer das revelações, básicas de nossa fé, do pensamento de Jesus sobre o Espírito Santo noscapítulos 14-16, nem da chamada oração sacerdotal de Jesus do capítulo 17, muito menos da liçãode humildade e de serviço que Jesus dá a seus discípulos ao lavar-lhe os pés.

Apesar de omitir coisas relevantes, ele é considerado o Evangelho mais importante. Nenhum outrodescreve tão bem o caráter, a missão e a visão de Jesus. O texto-base desta lição, João 1.1-14, é umadas partes mais importantes da Bíblia, trazendo uma declaração, sempre confirmada por Jesus, deque ele estava, desde o princípio, com Deus. Isto é fundamental na nossa fé.

Na narrativa de Apocalipse 5.7, são mencionados quatro seres viventes, o primeiro semelhante a umleão, o segundo, semelhante a um novilho, o terceiro tem rosto como de homem e o quarto ésemelhante à águia quando está voando. Só como curiosidade, esses seres foram tomados nahistória da Igreja como símbolos dos quatro evangelistas. Mateus, o leão, Marcos, o homem, eLucas, o boi. A águia acabou sendo o símbolo de João. Há uma explicação para isto. A águia é aúnica das criaturas viventes que pode olhar diretamente o sol sem se ofuscar. João conseguiu, aocontemplar a luz de Cristo, entender coisas que os outros discípulos não conseguiram perceber.

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Os destaques do texto

São muitos os livros que se limitam a comentar esses 14 versículos, em virtude de seus mistérios ede suas afirmativas. Não é nosso propósito aprofundar nesse estudo mas realçar algumas coisas quesão importantes nesse texto que, além de falar de um Natal “diferente”, nos traz ensinamentos muitoproveitosos.

O Verbo - Primeiramente, a identificação de Jesus com a palavra logus, Verbo, que também podeser entendida como palavra, razão. O logus, no dizer de Barclay, é a mente de Deus criando esustentando o universo. Os gregos não podiam entender o título de Messias. Quando João lhesfalou em Logos, era essa uma linguagem a que, na sua cultura, estavam acostumados. O importante,no entanto, mais do que a palavra Verbo, era a declaração de que, no princípio, o Verbo estava comDeus, e o Verbo era Deus”. Alguns aceitavam a Jesus como rei, por ser descendente de Davi.Outros criam que Jesus era um homem comum, depois transformado em Messias. Outros criam queJesus tinha forma de homem mas não era homem e sim Deus. João percebeu logo o que os concíliossó decidiram mais de 300 anos depois, que Jesus era plenamente Deus e plenamente homem. Ouseja, que ele estava desde o princípio com o Pai e também era Deus.

Vida - Outra palavra importante para João, não somente neste texto mas em todo o seuEvangelho, é vida. “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (Jo 14.4). “Eu vim para quetenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10. “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas (Jo10.11). “Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6). “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.35). Aliás, oEvangelho de João começa e praticamente termina com vida. Ao final o mesmo, ele diz queregistrou alguns sinais “para que creiais que Jesus é o Cristo é o filho de Deus, e para que, crendo,tenhais vida em seu nome” (Jo 20,31).

Pelo que se vê no Evangelho de João, a crença consta de três passos. Primeiramente significa aconvicção da mente de que Jesus é o filho de Deus. Segundo, a certeza de que tudo o que Jesusdisse é absoluta verdade. Terceiro, e não menos importante, basear a nossa ação de vida nasegurança de que os ensinos de Jesus devem ser seguidos à risca. Barclay nos diz que, quandochegamos a esse ponto, deixamos de simplesmente existir e começamos realmente a viver. Só assimsabemos o que quer dizer Vida, com maiúscula.

Luz - O texto escolhido nos diz que “a vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luzresplandece nas trevas, e as trevas não prevalecem contra ela”. “Jesus é a verdadeira luz, que, vindaao mundo, ilumina todo o homem. A luz tem duas grandes funções, revelar e guiar. A luz revelacoisas que as trevas escondem. A luz que Jesus traz é uma luz reveladora. A condenação de muitoshomens é que amaram mais as trevas do que a luz. A luz de Jesus nos revela as coisas tais como sãoe não como parecem. Muitas pessoas exibem máscaras, vivem em engano e procuram enganar osoutros. A luz de Jesus vence as barreiras e revela a verdade de cada um.

No relato bíblico da criação, é narrado que Deus movia sobre o abismo escuro que existia antes. Eledisse “Haja luz, e houve luz. E Deus viu que a luz era boa” (Gn 1.3-4). A luz que Jesus traz tambémfaz desaparecer o caos porque resplandece nas trevas. Ele é a única pessoa que pode evitar que avida se transforme num caos.

A luz que Jesus traz é uma luz que guia. O que não possui essa luz anda em trevas e não sabe aondevai (Jo 12.35). No versículo seguinte, Jesus adverte: “Enquanto tendes a luz, crede na luz, para quevos torneis filhos da luz”. Sem a luz de Jesus, nosso caminho é sempre escuro e incerto. Sem Jesus,caminhamos às tontas. Com ele, o caminho da vida é sempre claro.

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Jesus nos diz: “Quem me segue, nunca andará em trevas mas terá a luz da vida”. A frase luz davida significa duas coisas. A primeira, que a luz surge da fonte da vida. Também significa que éessa luz que dá vida aos homens. Os dois significados se completam em Jesus. Jesus é a mesma luzde Deus que chegou aos homens; Jesus é a luz que dá vida aos homens. Assim como a planta nãopode florescer quando não recebe a luz do sol, nossas vidas também não podem florescer senão coma graça e beleza que vêm até nós através da luz que é a presença de Jesus Cristo em nossas vidas.

O não reconhecimento dos seus

O texto nos fala de uma verdadeira tragédia humana, o fato de ter Jesus vindo para o que era seu, opovo judeu, o primeiro herdeiro da promessa, mas os seus não o receberam (Jo 1.11). Felizmente,muitos estavam preparados para recebê-lo e puderam receber a promessa de um novo nascimento.Esses, segundo o texto, “receberam o poder de serem filhos de Deus, a saber, aos que creem no seunome” (Jo 1.12).

O Verbo cheio de graça e de verdade

O versículo 14 é um dos mais importantes da Bíblia: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós,cheio de graça e de verdade. E vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”.

É Natal porque o Verbo se encarnou e habitou entre nós. A palavra graça é uma das palavras-chaveda Bíblia. Graça é favor imerecido. Ela nos dá a idéia de algo que nunca poderia ser conseguido pornosso próprio esforço. O ato de Jesus de ter vindo à terra para viver e morrer pelos homens não éalguma coisa que a humanidade merecera. É um ato de puro amor por parte de nosso bom Deus. Apalavra graça acentua, ao mesmo tempo, a total pobreza do homem e a bondade sem limites denosso Deus. A palavra graça, como vimos ao falar de Maria no terceiro domingo do Advento,também significa encanto. Em Jesus nós podemos ver e sentir a absoluta formosura de nosso Deus.

A outra palavra-chave é verdade, muito usada por João em seu Evangelho. Jesus é encarnação daverdade. “Eu sou a verdade”, dizia ela (Jo 14.6). E Jesus, já próximo da cruz, conforte osdiscípulos, ao prometer o “Espírito da verdade, que vos guiará a toda a verdade, porque não falarápor si mesmo. Ele me glorificará, porque há de receber o que é meu e vo-lo há de anunciar” (Jo16.13.14).

A verdade é aquilo que nos faz livres. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.32).

E vimos a sua glória

O texto termina com a afirmação de que vimos sua glória, glória como do unigênito do Pai (Jo1.14). A vida de Jesus Cristo foi uma manifestação de glória. Já no capítulo 2, ao narrar as bodasde Cana e a transformação de água em vinho, “Jesus...manifestou a sua glória e os discípuloscreram nele” (Jo 2.11).

A glória de Jesus é a glória de Deus, seu Pai. Jesus não brilha com luz alheia. A glória é sua pordireito próprio. Quando aceitamos a Cristo, nós também podemos ver e sentir a sua glória. E nóspodemos refletir a luz que vem de Cristo. A leitura da Bíblia, a oração, a eucaristia, o serviço cristãoe o amor ao próximo permitem que a nossa luz, que reflete a luz divina, resplandeça para os outros.Como dizia Jesus, “Vós sois a luz do mundo. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens,para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos Céus” ( Mt 5:14,16).

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Neste domingo de Natal, o último do ano de 2009, que possamos planejar um novo ano com maisfé, mais consagração, mais amor à obra. Se nos conscientizarmos disto e se colocarmos as mãos, e ocoração, na obra, bênçãos maravilhosas ocorrerão em nossas vidas, na vida de nossos entes queridose na vida de nossa Igreja Metodista de Vila Isabel. Oremos para que o ano de 2010 seja um ano daGraça em nossa Igreja.

PRÓXIMO MATERIAL DE ESTUDO

Nos meses de janeiro e fevereiro de 2010 osalunos(as) das classes de jovens e adultos da nossa EscolaDominical estudarão a revista “Jesus... os títuloscristológicos”, escrita pela Revda Joana Darc Meirelles epublicada pela I Região Eclesiástica da Igreja Metodista(RJ) dentro da coleção “Muito Prazer, Bíblia!”

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