Caderno de Produção e negócios

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NEGÓCIOS PRODUCÃO & ANO 1 - NÚMERO 14 RIO BRANCO, DOMINGO, 15.04.2012 Fábrica de beneficiamento de peixe do Bujari vai movimentar economia e ampliar a produção de pescado, hoje em 700 mil quilos por ano Embrapa: 35 anos de boas pesquisas Páginas 4 a 7 pescador Não é estória de Página 2

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Producao e negocios

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ANO 1 - NÚMERO 14RIO BRANCO, DOMINGO, 15.04.2012

Fábrica de beneficiamento de peixe do Bujari vai movimentar economia e ampliar a produção

de pescado, hoje em 700 mil quilos por ano

Embrapa: 35 anos de boas pesquisasPáginas 4 a 7

pescadorNão é estória de

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Rio Branco – AC, DOMINGO, 15.04.20122NEGÓCIOS

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Juracy Xangai

Com uma pro-dução estima-da em mais de 700 mil quilos

de tambaqui, piau, pintado e pirarucu, os piscicultores do Bujari dominaram o mane-jo das criações e agora estão prontos para assumir a ver-ticalização da atividade, ou seja, tocar sua agroindústria de beneficiamento da carne de pescado.

A fábrica, que entrará em operação nos próximos dias, tem capacidade para benefi-ciar 500 quilos de peixe por dia, mas a princípio vai pro-cessar 250 quilos por dia e trabalha com a meta de que nos próximos meses esteja empacotando e vendendo a cada mês mais de dez mil quilos de carne desfiada, pre-parado para caldeiradas e fi-lés de pescado prontos para o consumo.

“Vamos iniciar com a produção da carne desfiada pronta para o preparo de bo-linhos, tortas, quibes, pastéis, casquinhas de caranguejo (usando carne de tambaqui) e outros pratos tão apreciados da nossa cozinha. Ainda nes-te mês estamos negociando a vinda de um mestre filetador para treinar nosso pessoal na preparação dos filés e outros cortes especiais como a cos-

Tambaqui “ralado”Piscicultores do Bujari preparam inauguração da primeira indústria de beneficiamento de pescado do Acre

telinha de tambaqui. As ca-beças e parte da cauda, não aproveitados na filetagem, também serão vendidos em nossos kits para caldeirada. Já a pele e ossos serão trans-formados em farinha para a fabricação de ração animal”, explica Edileuza Menezes, presidente da Associação dos Piscicultores do Bujari e membro da Cooperativa Pró--Peixe, que está à frente desta fábrica de alimentos.

Origens

O primeiro grande desafio – criar peixes – foi vencido pelos produtores do Bujari, que recebem apoio e orien-tação técnica do projeto para o Desenvolvimento da Pisci-cultura no Acre, pelo Sebrae, desde 2005. Com uma farta produção na mão, os pisci-cultores passaram a buscar alternativas de beneficiamen-to que vai agregar mais valor à carne do pescado. Para isso contaram com apoio do Mi-nistério da Pesca, que liberou recursos para a construção do frigorífico, obra que aca-bou sendo embargada ainda na gestão do prefeito Michel Marques.

O projeto foi retomado quando, na atual gestão do prefeito Padeiro, ele e a Câ-mara de Vereadores do Bujari concordaram em ceder o pré-

dio para os piscicultores, que, por sua vez, passaram a re-ceber apoio e orientação do governo do Estado, através da Secretaria do Comércio e Indústria (Sedict), Secreta-ria de extensão e Produção Familiar (Seaprof) e Secreta-ria dos Pequenos Negócios (SEPN). Estas se responsabi-lizaram em adaptar o prédio (que seria um frigorífico) em indústria de beneficiamento de pescado.

“Para dizer a verdade, quando nós procuramos a

prefeitura nossa intenção era conseguir o prédio para fun-cionar como sede da nossa associação e da cooperativa, como também para depósito de ração, mas a ideia evoluiu e os resultados saíram bem melhores que o esperado a princípio. Agora temos a sede e realizamos o sonho de constituir uma indústria para beneficiar a carne do nos-so peixe”, explica Edileuza, lembrando que a fábrica vai beneficiar cem produtores, sendo 49 cooperados e 41 as-sociados.

Para que a empresa entre em funcionamento, dez pes-soas passaram por um trei-

namento de 60 dias, quando aprenderam do manejo cor-reto do pescado durante todo o processo industrial para oferecer um alimento seguro até as técnicas de industriali-zação da carne.

Sorriso largo

Um dos primeiros investi-dores na criação comercial de tambaquis, no Acre, o pro-dutor Kionori Kioki, que há 30 anos toca a fazenda Boa Esperança, no Bujari, é um dos mais empolgados com a inauguração desta primeira fábrica de beneficiamento do pescado.

“Graças ao apoio e à orientação que recebemos do Sebrae, hoje podemos dizer que somos piscicultores e sa-bemos criar peixes comercial-mente. Agora, com o apoio da prefeitura e do governo do estado, vamos inaugurar nos-sa fábrica que será um marco importante para completar nossa cadeia produtiva. Nós produtores seremos muito beneficiados com isso, por-que o peixe que vai ser desfia-do precisa pesar entre 500 e 600 gramas, e isso nós pode-mos produzir com facilidade num ciclo de apenas 90 dias. Assim poderemos usar um mesmo açude para tirar pelo menos três safras por ano, quando até agora podíamos tirar uma só. Isto quer dizer que assim nós vamos ganhar mais dinheiro”, comemora Kioki.

Edileuza, da fábrica de peixes

Máquina trituradora para produção de peixe em lascas

Localizada no Bujari, a fábrica vai gerar emprego e renda

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anTOniO DELFiM nETTO

Há tarefas que as vir-tudes do m e r c a d o

não podem realizar ade-quadamente. Não se pode e não se deve esperar que uma empresa privada, que só pode sobreviver se gerar lucro, distribuir dividendos e criar valor para seus acio-nistas, atenda corretamente ao interesse social se tiver objetivos conflitantes entre o curto e o longo prazo.

É o que pode aconte-cer, por exemplo, quando a pesquisa e a inovação ocorrem em empresas que são, ao mesmo tempo, pro-dutoras e disseminadoras de bens que incorporem seus resultados.

Suponhamos, para sim-plificar o argumento, uma empresa que produza um eficiente fungicida para combater doença que ataca a produção de feijão. Um dia, seus cientistas constro-em com sucesso uma va-riedade de feijão resistente

Embrapaao fungicida que ela mesma produz. Qual será a provável reação da sua administração, cujo primeiro dever é pro-teger o valor do patrimônio de seus acionistas? Patente-ar a inovação e colocá-la na prateleira! Até quando? Até que o valor dos seus investi-mentos na produção do fun-gicida seja completamente amortizado.

O “mercado” apresenta uma “falha”. Não funciona adequadamente pela simples e boa razão que o “incenti-vo” que lhe determina a ação -a maximização dos lucros- subordina o interesse cole-tivo ao “curto-prazismo” do interesse privado. Em outras palavras, o feijão resistente aos fungicidas que benefi-ciaria toda a sociedade terá a sua disseminação controlada pela velocidade da deprecia-ção do investimento já feito para produzir o fungicida, condicionada ainda à possi-bilidade de garantir a remu-neração dos dispêndios fei-tos com a pesquisa -ou seja, à patente e ao controle do valor criado pela descoberta.

Se não houver a “garan-tia” da patente, o mais pro-vável é que, devido ao inte-

resse privado, a inovação de interesse social nunca veja a luz.

Foram constatações tão simples como essas que le-varam o governo, em 1972, a criar a EMBRAPA, que transformou o maior “pas-sivo” brasileiro, o cerrado, no nosso maior “ativo”. Um ativo construído com dedicação, diligência e tra-balho duro, que precisa continuar a ser defendido do “aparelhamento” ideo-lógico-partidário.

Ao contrário do que pensam alguns de nossos economistas, a EMBRA-PA não nasceu para com-petir com o setor privado. Nasceu para inovar, criar e transmitir conhecimen-tos, usando as empresas privadas como instrumen-to para disseminá-los. Ela não produz “distorções” no mercado.

Muito pelo contrário, corrige a sua miopia “pra-zo-curtista”. É isso que torna incompreensível o misterioso e confuso “ru-ído” político atual sobre o seu importante papel para o desenvolvimento nacional.

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras na colu-

na Opinião da Folha. [email protected]

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Quem conhe-ceu o Acre dos anos 70, época do re-

conhecimento da falência to-tal da economia da borracha que já estava quebrada des-de 1945, quando os aliados retomaram dos japoneses os seringais da Malásia, sabe que naquele tempo a maior parte da carne consumida em Rio Branco vinha do Vale do Beni, na Bolívia. O gado che-gava ao Acre quase esqueléti-co após três meses de cami-nhada pela mata, e isso fazia o produto raro e caro, acessível a poucos bolsos afortunados. Os demais alimentos eram estocados nos três ou quatro meses mais fortes do verão, em que a BR-364 garantia acesso por terra ao restante do país. No inverno, frutas e verduras chegavam pelo rio e eram um luxo para poucos.

É neste cenário que foi criada, em 1976, a Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito estadual , a Uepae/Rio Branco, com a missão de pesquisar técnicas e va-riedades de sementes que garantissem a produção de alimentos de qualidade para a população acreana. Durante dez anos, até 1986, seus testes se concentraram na pecuária de gado e búfalos, culturas como o arroz, feijão e milho, frutas cítricas e regionais, se-ringais de cultivo e pequenos animais. Assim, ia se instalan-do a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Em-brapa no Acre.

A segunda década, ou seja, de 1986 a 1996, com a inauguração de sua sede na Fazenda da Embrapa e seus laboratórios, permite iniciar a fase da diversificação de culturas com a apresentação de novas variedades de café, concentração das pesquisas com os búfalos mestiços, cabras e ovelhas. A apresen-tação de novas variedades de laranja e limão resistentes ao cancro cítrico alongou a

Embrapa:35 anosTecnologias a serviço do desenvolvimento

Transformar as potencialidades agroflorestais acreanas em produtos que atendam as necessidades do mercado, gerando renda para os produtores, é o desafio da Embrapa

vida produtiva dos pomares. Avança a busca de varieda-des de banana resistentes à sigatoka negra e ao mal do Panamá, que destruíam os plantios tradicionais. O apelo ambiental mundial transfor-ma a Uepae Rio Branco em Centro de Pesquisa Agroflo-restal do Acre (CPFAC), dan-do corpo e tom científico ao manejo florestal comunitário e ao empresarial de finalidade econômica sustentável.

Na terceira década, que acontece de 1996 a 2011, a Embrapa enfatiza os usos múl-tiplos da terra e da floresta, a agricultura sem fogo, a valori-zação das culturas locais e dos produtos regionais. Finalmen-

te, o “pão da terra”, a mandio-ca, é reconhecida como prin-cipal cultura agrícola acreana. Novas variedades mais produ-tivas para o beneficiamento in-dustrial, como a Panati e Araçá, ou para o consumo de mesa, são apresentadas.

O manejo florestal sai do laboratório para a floresta em busca de mercado, novas va-riedades de capim e o amen-doim forrageiro dão força à pecuária bovina que multipli-ca sua produtividade e aplica novas formas de manejo em exemplos que já saem daqui para o mundo.

A castanha até então vul-garizada na economia local ganha, pelas boas práticas,

qualidade e status nutracêuti-co (por fazer bem à saúde das pessoas), seu preço se multi-plica e gera melhores condi-ções de vida a quem vive na floresta. Criam-se núcleos te-máticos de pesquisa focados nas necessidades tecnológicas dos produtores agropecuários e florestais, bem como da so-ciedade em geral. A floresta gera produtos madeireiros e não madeireiros, a pecuária integra-se à lavoura e à flo-resta para ganhar sustentabi-lidade e iniciam-se os traba-lhos de recuperação das áreas degradadas. Os laboratórios promovem o avanço genético animal, e a clonagem vegetal acelera a reprodução de plan-

tas de interesse econômico, como a banana e o abacaxi.

Estes são alguns dos avan-ços e resultados que podem ser melhor conhecidos na revista comemorativa dos 35 anos de pesquisa da Embra-pa Acre. Alguns destes traba-lhos, que são fundamentais para o desenvolvimento da economia acreana, estarão sendo apresentados a partir deste número do nosso jornal Produção e Negócios, que nesta edição destaca os avan-ços da cultura de tecidos ve-getais, mais conhecido como clonagem, e seus benefícios para a produção de alimen-tos, madeira, medicamentos e cosméticos no Acre.

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Embrapa:35 anosA cultura de tecidos,

também conhecida como clonagem porque permite que a partir de uma única célula os cientistas reprodu-zam uma nova planta total-mente igual à sua “mãe”, é uma técnica de reprodução vegetal conhecida desde 1840. Mas dominar essa arte é para os poucos que se dedicam a realizar testes e mais testes em laboratório até descobrir o jeito que se consegue mais sucesso na reprodução da espécie de plantas que se quer cultivar.

No Acre, os primeiros a encarar esse desafio, em 2003, foram os técnicos da Embrapa, destacadamente o pesquisador Jonhy Ever, que conseguiu sucesso na reprodução de variedades de bananeiras mais resis-tentes aos males da sigatoka negra e do mal do Panamá, abacaxis mais produtivos, plantas de interesse medici-nal e industrial como a sa-caca, espécies madeireiras e não madeireiras da Amazô-nia e orquídeas pela sua be-leza ornamental e risco de extinção de várias espécies. Também fizeram rosas, se-ringueiras, açaís, unha de gato, pimenta longa, teca, cerejeira, mogno, bambus, pupunha, dendê e muito mais.

A segunda experiência acontece na Funtac, foca-da em espécies regionais de interesse madeireiro, não madeireiro, cosmético e farmacológico. Pois bem, pesquisas feitas e tecnologia dominada, neste momen-to o governo do Estado se prepara para inaugurar junto ao viveiro da flores-ta a primeira biofábrica do Estado, construída com re-cursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). A princípio, essa indústria biológica de finali-

Clones para o desenvolvimentoTransformar uma única célula de bananeira em 300 mudas no decorrer de um ano é um exemplo

de como a clonagem de vegetais pode acelerar o crescimento da produção

dade comercial vai reproduzir mudas de bananas e de aba-caxis, que serão vendidas aos produtores rurais.

E é assim que o trabalho dos cientistas permitirá um rápido crescimento do setor produtivo, não apenas de ba-nanas e abacaxis, mas de di-versas outras culturas que já contribuem para o desenvol-vimento e a sustentabilidade do Acre com produção.

Multiplicação das células

A coordenação do labora-tório da Embrapa está hoje a cargo da bióloga Andrea Ra-poso. Ela é doutora em gené-tica e melhoramento de plan-tas, e explica: “Na clonagem nós pegamos um pedacinho da planta e colocamos esse tecido numa gelatina especial que chamamos meio de cul-tura, onde ela vai crescer e se multiplicar, dando origem a novas plantas que são exata-mente iguais à sua mãe”.

Segundo ela, esse tecido

pode ser um pedacinho de folha, de caule e de raiz. Esse pedaço tem que estar bem sadio e limpo para evitar a contaminação do meio de cultura que causaria a morte da plantinha. “Em nosso tra-balho damos preferência aos tecidos mais jovens e a esse pedacinho damos o nome de explante. Colocamos o ex-plante na gelatina e com um mês, em média, começam a surgir os primeiros broti-nhos. Nós vamos retirando esses brotos e colocando em vidros separados, onde eles crescem e também liberam mais brotos. Assim, no caso da bananeira por exemplo, num período de nove meses a um ano, a gente consegue reproduzir uma média de 300 mudas que irão para o viveiro e depois serão plantadas nas lavouras”, explica Andrea.

Na cultura tradicional, em que o agricultor espera a ba-naneira soltar seus “filhotes”, consegue-se uma média de 12 mudas num ano.

“A vantagem da clonagem

Produtores aprovam

Um dos produtores que testou e aprovou o uso das variedades clonadas é Raul Gonçalves, que reside no projeto de colonização Orion, onde cultiva 45 mil touceiras de banana prata e comprida. Outro é Sebastião Gama, do Ramal Samaúma, no projeto de colonização Peixoto. Eles trabalham em parceria com a Embrapa, experimentando no campo o que os pesquisadores de-senvolvem no laboratório. Quem também se beneficiou deste trabalho foram os mais de 100 produtores de bana-na do Ramal Granada, no Peixoto, que além de vender as frutas in natura, também mantêm uma fábrica que produz mais de 300 quilos de farinha de banana por dia. Boa parte dessa produção é consumida pelos estudantes na merenda escolar.

Produtores de pratica-mente todos os municípios do Acre receberam, ao longo dos últimos anos, mudas de bananeiras prata, maçã e baé clonadas, que são resistentes ao mal da sigatoka. Dentre as variedades clonadas estão a Maravilha, Pacovan, Precio-sa, Thap Mael e Japira.

“Nós só fazemos clones de plantas que nos interes-sem do ponto de vista produ-tivo. A bananeira comprida, por exemplo, apesar de seu interesse comercial, não clo-namos porque ainda não en-contramos nenhuma varieda-de dela que seja resistente ao mal da sigatoka. Pra nós, que trabalhamos na pesquisa, é uma satisfação muito grande saber que o resultado do que fazemos está melhorando a vida do produtor e contri-buindo para o desenvolvi-mento do Estado”, conclui Andrea.

é a rápida reprodução das plantas que são totalmente sadias, de tamanho mais igual, mais fortes, mais produtivas e mais precoces, ou seja, pro-duzem mais frutos, frutos mais regulares. E apesar de ser uma tecnologia avançada, as mudas de ótima qualidade custam em média R$ 1,15 a R$ 1,20, enquanto uma muda tradicional retirada da toucei-ra custa apenas R$ 0,70. O produtor ganha tempo, mas é a qualidade produtiva dessa muda clonada que compensa o investimento”, diz ela.

Outra vantagem que faz a diferença, segundo a dou-tora Andrea, é que os clones são criados em laboratório climatizado, e assim não de-pendem do clima para ser re-produzidos. Nessa condição climatizada, as mudas podem ser reproduzidas em qualquer período do ano, permitin-do que se programe para ter mudas prontas para ir para o campo no momento do iní-cio das chuvas, o que facilita a vida dos agricultores.

Pesquisadores da Embrapa desenvolvem estudos que tornam as plantas mais resistentes e produtivas

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Quando o bió-logo paraense Paulo Arthur concluiu seu

mestrado em ecologia e foi aprovado em concurso pú-blico para atuar no Acre, não podia imaginar que se encon-traria profissionalmente, não na floresta, mas dentro de um laboratório rodeado por vidros e mais vidros onde cultiva células vegetais para transformá-las em árvores que contribuirão para a con-servação da Amazônia.

Ao chegar ao Acre e ser encaminhado para trabalhar junto ao pesquisador Jonhy Ever, que dirigia o laborató-rio de clonagem na Embrapa, foi quase que uma paixão à primeira vista. “Eu me achei no laboratório e no começo não foi nada fácil, mas me dediquei e estudei bastante porque, na verdade, ter um laboratório completo não basta. É preciso desenvolver os procedimentos corretos para garantir a reprodução do maior número possível da planta desejada. Mas o que mata mesmo a gente aqui em Rio Branco é a instabilidade e os apagões da energia elé-trica. Menos de um minuto sem energia é suficiente para contaminar e destruir nosso trabalho, como se não bastas-

Tecnologia a serviço da naturezaLaboratório de biotecnologia da Funtac reforça a economia pesquisando a reprodução de espécies florestais de interesse da indústria madeireira, farmacológica e cosmética

se a perda do material, vamos gastar dias e dias replanejan-do o trabalho inteiro”, diz ele.

Passo a passo

Embora clonar seja, a grosso modo, um trabalho relativamente fácil, são suas etapas que complicam tudo. Isto a começar por ter de es-colher o que clonar e se há suporte técnico e financeiro para clonar o que se quer.

“Meu trabalho com a re-produção de orquídeas veio a partir de um pedido de ajuda do Sebrae, que estava execu-tando o Projeto Estruturan-te da Floricultura. Em 2007, como nos reunimos diversas vezes com os produtores e eles não conseguiam deci-dir o que queriam produzir, tomei a iniciativa de visitar as floriculturas e supermer-cados para ver o que ofere-ciam e perguntei às pessoas que flores elas gostariam de ter e não encontravam, e a maioria delas respondeu que admiravam as orquídeas e as bromélias, que são da família do abacaxi”.

Paulo então apresentou o resultado aos produtores, sugerindo as orquídeas ao in-vés das bromélias, que apesar de bonitas, têm folhas que acumulam água e facilitam a

reprodução dos mosquitos transmissores da dengue.

“Não tive dúvidas: come-cei a coletar orquídeas da re-gião, e o desafio era localizá--las e conseguir pelo menos dois indivíduos da mesma variedade para poder produ-zir sementes férteis. Assim nasceu nosso orquidário, onde temos mais de 50 es-pécies acreanas. Os pesquisa-dores dizem que há mais de 150. Desenvolvi técnicas de reprodução, produzi as plân-tulas prontas para irem para a estufa, mas apesar de estar com tudo à mão, os floricul-tores nunca vieram em busca da resposta. Fazer pesquisa tem dessas decepções, por-que às vezes o resultado do nosso trabalho não consegue chegar no campo para bene-ficiar os produtores, e dali vai ao mercado como produto. Mas quando chega, é a nossa felicidade ver que o esforço valeu a pena”

Depois de realizar tes-tes com diversas plantas da floresta que vão do mogno ao buriti, neste momento o pesquisador está concluindo suas pesquisas com a Caape-ba e o João Brandim. As duas têm aplicações múltiplas na medicina e na cosmética. Da caapeba são extraídos anti--inflamatórios e cicatrizantes; do João Brandim, um de seus principais produtos é o óleo elétrico, já testado e aprova-do como lubrificante para preservativos masculinos que evitam a ejaculação precoce.

“As espécies de plantas Amazônicas merecem muitos estudos porque temos muito a aprender com elas”, adverte o pesquisador.

Fé e obras

Paulo faz uma segunda ad-vertência que deve ser levada em conta porque não é um problema particular do Acre, mas do Brasil: “A pesquisa é um trabalho que se faz com tempo e dinheiro, mas se a extensão não levá-la ao cam-po, ela nunca chegará ao pro-dutor, à indústria e por fim ao mercado como produto para ser vendido ao consu-midor. Assim, seus resulta-dos se transformam em boas ideias, mas não em inovação. Só é inovação o que é levado à prática e se esta melhora a qualidade de vida das pesso-as. Quando isso não aconte-ce, é só uma boa ideia, mas não vale nada”, ensina ele.

Bióloga Andrea Raposo, doutora em genética e melhoramento de plantas, coordena atualmente o laboratório da Embrapa no Acre

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Uma câmara fria com umidade controlada é o ambiente ide-

al para manter as sementes num ambiente “confortável” e assim garantir sua capacida-de de germinação durante al-guns anos, mas quanto mais o tempo passa, menos semen-tes vão nascer. Então é preci-so reproduzi-las em viveiros ou multiplicá-las através da clonagem, por isso o Banco de Sementes e o laboratório da cultura de tecidos da Fun-tac funcionam de maneira integrada. Ainda na Funtac, aliado aos dois já citados, está o laboratório onde são pes-quisados os fitocosméticos e os fitomedicamentos, mas esta é uma história à parte, embora sejam todos interde-pendentes.

O sociólogo Edson San-tos, o qual tem mestrado em desenvolvimento rural, é o responsável pelo Banco de Sementes que além de traba-lhar na proteção do genoma acreano (preservação do pa-trimônio genético das espé-cies florestais), sua função primordial levar para junto das comunidades maneja-doras da floresta o trabalho dos pesquisadores da Funtac, e assim produzir resultados que beneficiem os dois lados dessa história.

Exemplo disto é o En-contro de Coletores que será realizado em Sena Madureira nos dias 26 e 27 deste mês, quando acontecerá um curso de manejo de sementes para aprimorar o trabalho que uns já realizam e outros estão ini-ciando agora.

“Nós cuidamos do banco de sementes, mas as sementes não são nossas. Elas perten-cem aos coletores, nós ape-nas fazemos a comercializa-ção e o dinheiro volta para as comunidades. O mercado da venda de sementes florestais ainda não está consolidado, mas vem se desenvolvendo em caráter permanente. Um exemplo disso é que há dez anos tínhamos uma média de seis a oito famílias coletoras que conseguiam uma renda anual de R$ 1.500, hoje te-mos umas 30 famílias e a ren-da acumulada ultrapassa os R$ 40 mil vendendo mais de 20 espécies florestais”, expli-ca Edson.

Entre as variedades pre-feridas pelo mercado se des-

Sementes do bemO banco de sementes, além de ser um repositório de proteção genética das espécies florestais

de interesse comercial, criou um novo mercado para os manejadores ganharem dinheiro

tacam o mogno, cerejeira, cedro, jacarandá, maçaran-duba, cumaru ferro, cetim e também o jatobá. Já varieda-des como o ipê e a samaúma ganham maior interesse para os viveiristas ornamentais, embora a primeira também tenha destaque pela qualida-de de sua madeira. A compra das sementes deve ganhar maior impulso a partir deste ano, quando o governo do Estado inicia o processo de recuperação das áreas degra-dadas e matas ciliares do vale do Rio Acre.

Edson destaca uma im-portante parceria conquista-da ao longo desta caminhada em que se vai construindo e aumentando o primeiro ban-co de sementes nativas do Acre. “Este é um trabalho que precisa ganhar visibili-dade e, a partir da qualidade, conquistar mercados. Essa é uma tendência natural num mundo em que as pessoas começam a levar a questão ambiental e as mudanças climáticas mais a sério. Nis-so temos uma aproximação muito boa com a Catie, que é respeitado como uma dos maiores e melhores bancos de conservação e comercia-lização de sementes tropicais do mundo. Parcerias como esta são importantes, consi-

derando que temos espécies únicas da nossa floresta com interesse comercial e que o re-florestamento é mais que um apelo, mas uma necessidade para atender as necessidades do mercado”, diz ele.

Serviço ambiental

O projeto Sementes do Acre, que deu início e man-têm o Banco de Sementes, é bancado com recursos do Fundo Nacional de Meio Ambiente desde 2007. E apesar das tentativas e treina-mentos feitos com diversas

comunidades, como em Assis Brasil, está mais consolidado com as famílias manejadoras da Floresta Estadual do An-timari, nas Florestas Nacio-nais, as Flonas do Macauã e São Francisco, sendo iniciada neste ano com os manejado-res da Reserva Extrativista do Cazumbá/Iracema, em Sena Madureira.

“As coisas funcionam de maneira integrada, ou seja, nós oferecemos assistência técnica, orientação e treina-mento para as comunidades coletoras. Elas colhem as sementes e trazem para cá,

onde nós vamos examiná-las e testar sua qualidade de con-servação, nível de contamina-ção e poder de germinação. Só então elas são comercia-lizadas. Nosso maior com-prador ainda é o viveiro da floresta, mas também forne-cemos para outros viveiristas dentro e fora do Estado num mercado que está crescendo e promete ser uma nova al-ternativa econômica para os manejadores florestais, que à sua maneira trabalham pelo desenvolvimento de um Acre verdadeiramente sustentá-vel”, conclui.

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E x p E d i E n t E :Textos publicados nesta página são de responsabilidade da Assessoria de Comunicação do Sebrae no Acre Jornalista Responsável: Lula Melo MTB 015/90 - e-mail: [email protected]. Colaboradores: Juracy Xangai, Vanessa França e Evandro Souza. Sugestões, comentários e-mail para [email protected]. Central de atendimento: 0800-5700800

Quem tem conhecimentovai pra frente!

Juracy Xangai

Mais de 140 mil jovens universi-tários participa-ram da disputa

realizada em 2011. O Desafio Se-brae 2012 é mandar bem; man-dar bem na formação das equi-pes e na solução dos problemas que serão propostos durante as cinco etapas onde os estudantes universitários são estimulados a desenvolver seu espírito empre-endedor encarando todas as di-ficuldades do dia a dia de quem administra uma fábrica de polpa de frutas virtual.

As duas primeiras equipes acreanas já se inscreveram na manhã de ontem, primeiro dia das inscrições que vão até o dia 18 de maio. Então, se você tem coragem e disposição para encarar este desafio comece formando uma equipe com um mínimo de dois e, o máximo de cinco estudantes, os quais po-dem ser de diferentes cursos e diferentes universidades, pois o importante para vencer é o es-pírito de união e o comprome-

Juracy Xangai

Encarar as ameaças in-ternas e externas que rodeiam as empresas no concorrido mun-

do dos negócios foi o desafio en-frentado pelos agentes de orientação empresarial do programa Negócio a Negócio do Sebrae durante o En-contro Nacional de Inclusão Produ-tiva realizado em Brasília.

Nele os agentes formaram equi-pes com objetivo de administrar uma empresa virtual de construção civil. A orientadora Laís Marques, que atua como gerente da Unidade Regional do Juruá, localizado em

Cruzeiro do Sul, participou da equi-pe composta pelos agentes do Acre, Piauí, Tocantins e Rio Grande do Norte que venceram a competição em terceiro lugar.

“O jogo foi disputado em nove etapas, e, em cada uma delas, nós tínhamos de avaliar os fatores inter-nos e externos para tomar decisões estratégicas sobre investimentos e ações de gestão do negócio. Isto foi muito instrutivo porque, embora eu atue como consultora do Sebrae em contato permanente com que está montando ou querendo ampliar um negócio que já tem, durante o jogo tivemos de ir para o outro lado da empresa e pensar como empresários

vivenciando os fatores mais fortes ou mais fracos da empresa frente ao concorrido mundo dos negócios onde cada decisão pode representar o sucesso ou fracasso de qualquer negócio”, explica Laís Marques.

Animada com a conquista do terceiro lugar nacional nessa com-petição, Laís complementou: “Essa mudança de posição é muito impor-tante pra gente enquanto profissio-nais porque muda a visão do proble-ma, ao mesmo tempo em que pude constatar que nossas orientações vem sendo muito positivas, pois a empresa virtual que nós gerencia-mos cresceu e apresentou bons re-sultados!”

Negócio a Negócio VirtualAgentes de orientação do Sebrae participam de treinamento com jogo virtual para vivenciar

o mundo empresarial e a equipe do Acre obtêm terceiro lugar nacional

E aí, vai encarar?Começaram as inscrições para Desafio Sebrae 2012, o maior jogo empresarial da América Latina,

e nele você vai encarar o desafio de administrar uma fábrica de polpas de fruta

timento dos componentes para dar soluções aos problemas do quotidiano empresarial.

No ano passado a meta era inscrever 810 estudantes acrea-nos, mas 1.028 resolveram enca-rar o desafio e saíram dela com

uma experiência de negócio que vai influenciá-los pelo resto de suas vidas. Até porque durante as cinco etapas do jogo, as três da fase estadual são disputadas virtualmente e seus vencedores ganharão o direito de participar

das duas etapas finais, que são presenciais, que acontecerão em Salvador, na Bahia.

Os interessados podem inscrever-se pelo site www.de-safio.sebrae.com.br através do qual vão imprimir um boleto bancário e pagar os R$ 50 da taxa de inscrição até o dia 18 de maio para garantir sua participa-ção neste jogo, que de tão esti-mulante, também estão sendo disputados na Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia, Uruguai, o que já permite que os vence-dores de cada um destes países realizem uma grande disputa Latino Americana.

Além disso, os vencedores da etapa nacional. Além de vários prêmios, ganham uma viagem para conhecer centros de negó-cios em países como a Itália e Alemanha. A equipe vencedo-ra da etapa estadual do Desafio Sebrae do Acre ganhou viagem de uma semana com tudo pago no Rio de Janeiro onde foram conhecer diversas iniciativas em-preendedoras.

Fique esperto para tirar dú-vidas junto às equipes de mo-

bilização do Sebrae que estarão visitando todas as universidades do Acre. Além disso, o estímulo também vale para os professores que mais estimularem a inscrição de equipes, o mestre que mais indicar ganha uma viagem acom-panhando a equipe vencedora a um centro de empreendorismo. Os participantes também con-correm a premiações com iPads, bolsas de estudo, cursos de ino-vação e, como já foi dito antes, a viagens internacionais.

NovidadesAté 2011 na composição das

equipes era exigido um mínimo de duas pessoas, agora duplas podem ser inscritas. Já para faci-litar o manejo dos trabalhos e as reuniões das equipes, o jogo vir-tual, além da versão para compu-tadores, vem também com ver-sões e aplicativos para os tablete e smartphones.

E aí vai encarar? Então mos-tre ao mercado quem é que man-da, inscreva-se no site ou junto às equipes de mobilização que estão passando pela sua universidade.