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Comunicações Coordenadas

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SUMÁRIO Sessão Coordenada – 01 ...................................................................................................................................25 INTELECTUAIS NA EDUCAÇÃO: MEMÓRIA, MILITÂNCIA, PROJETOS Coordenadora: ADELIA MARIA MIGLIEVICH RIBEIRO Rogério Cunha de Castro Adelia Maria Miglievich Ribeiro Lia Ciomar Macedo de Faria Maria das Graças Campos Sessão Coordenada – 02 ...................................................................................................................................28 BACHARÉIS EM DIREITO, CRIMINOLOGIA E EDUCAÇÃO Coordenador: IRLEN ANTÔNIO GONÇALVES Irlen Antônio Gonçalves Marcos César Alvarez Ilka Miglio de Mesquita Marcia Terezinha Jerônimo Oliveira Cruz Sessão Coordenada – 03 ...................................................................................................................................31 POPULAÇÃO NEGRA E SUAS CONDIÇÕES DE EDUCABILIDADE Coordenador: MARCUS VINÍCIUS FONSECA Surya Aaronovich Pombo de Barros Itacir Marques Luz Marcus Vinícius Fonseca Adlene Silva Arantes Sessão Coordenada – 04 ...................................................................................................................................34 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS, DIFUSÃO E ENSINO NA (E DA) HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: FONTES E `MÉTODOS Coordenadora: DENICE BARBARA CATANI Decio Gatti Júnior César Augusto Castro Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas Denice Barbara Catani Sessão Coordenada – 05 ...................................................................................................................................37 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS DA NATUREZA: CONECTANDO SABERES, OBJETOS PEDAGÓGICOS E PRÁTICAS DE ENSINO. Coordenadora: KATYA MITSUKO ZUQUIM BRAGHINI José Maurício Ismael Madi Filho Katya Mitsuko Zuquim Braghini Maria Cristina Ferreira dos Santos Reginaldo Alberto Meloni Sessão Coordenada – 06 ...................................................................................................................................40 ESCOLAS ISOLADAS: A FACE OCULTA DA ESCOLA PRIMÁRIA BRASILEIRA Coordenadora: MARIA CRISTINA SOARES DE GOUVEA Maria Cristina Soares de Gouvea Amália Cristina Dias da Rocha Bezerra Natália de Lacerda Gil Maria Angélica Cardoso Sessão Coordenada – 07 ...................................................................................................................................43 INSTITUIÇÕES FEMININAS CONFESSIONAIS E DIVERSIDADES DE PRÁTICAS EDUCATIVAS Coordenadora: ANA CRISTINA PEREIRA LAGE Ana Cristina Pereira Lage Maria Alzira da Cruz Colombo Paula Leonardi Maria Aparecida Correa Custodio

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Sessão Coordenada – 08 ...................................................................................................................................46 HISTÓRIAS DE PRÁTICAS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES NO BRASIL: TEMAS E OBJETOS DE PESQUISA À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Coordenador: IRAN DE MARIA LEITÃO NUNES Iran de Maria Leitão Nunes Andréa Gabriel Francelino Rodrigues Stella Sanches de Oliveira Silva Olivia Morais de Medeiros Neta Sessão Coordenada – 09 ...................................................................................................................................49 HISTÓRIA DO ENSINO PÚBLICO RURAL E DE SUAS ESCOLAS: MEMÓRIAS, LEGISLAÇÃO, ECONOMIA DOMÉSTICA E PERSPECTIVA CIVILIZATÓRIA Coordenador: JOSEMIR ALMEIDA BARROS Sandra Cristina Fagundes de Lima Nilce Vieira Campos Ferreira Gilma Maria Rios Josemir Almeida Barros Sessão Coordenada – 10 ...................................................................................................................................52 ESCOLA SEM PAREDES: A HISTÓRIA DA TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (1920-1960) Coordenadora: PATRÍCIA COELHO DA COSTA André Luiz Paulilo Maria Angela Borges Salvadori Patrícia Coelho Da Costa Cíntia Nascimento de Oliveira Conceição Sessão Coordenada – 11 ...................................................................................................................................55 ENTRE REVISTAS, MANUAIS E DESENHOS: OLHARES, PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DO CORPO Coordenadora: ANDREA MORENO Andrea Moreno Carmen Lucia Soares Anderson da Cunha Baía Ingrid Dittrich Wiggers Sessão Coordenada – 12 ...................................................................................................................................58 MODERNIDADE E EDUCAÇÃO NOS PROJETOS DE INTELECTUAIS BRASILEIROS Coordenadora: ROSANA AREAL DE CARVALHO Rosana Areal de Carvalho Raphael Ribeiro Machado Thamires Maciel e Silva Henrique de Oliveira Fonseca Matheus da Cruz e Zica Raylane Andreza Dias Navarro Barreto Sessão Coordenada – 13 ...................................................................................................................................61 ACERVOS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: ENTRE O INSTITUCIONAL E O PROFISSIONAL Coordenadora: DORIS BITTENCOURT ALMEIDA Maria Teresa Santos Cunha Luciane Sgarbi Santos Grazziotin Doris Bittencourt Almeida Maria Helena Camara Bastos Sessão Coordenada – 14 ...................................................................................................................................64 TRANSNACIONALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA: DESENVOLVIMENTISMO, MODERNIZAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS NOS DEBATES EDUCACIONAIS NAS DÉCADAS DE 1950 E 1960 Coordenadora: MARIA DAS DORES DAROS Maria das Dores Daros Leziany Silveira Daniel Marilândes Mól Ribeiro de Melo Elaine Aparecida Teixeira Pereira

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Sessão Coordenada – 15 ...................................................................................................................................67 REPUBLICA E EDUCAÇÃO: DEMANDAS PEDAGÓGICAS E CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PROJETO DE FORMAÇÃO DE FUTUROS CIDADÃOS Coordenadora: ELIANA DE OLIVEIRA Claudia Alves Talita Barcelos Eliana de Oliveira Cynthia Greive Veiga Adelia Bassi Ana Carolina Bergamashi Sessão Coordenada – 16 ...................................................................................................................................70 REPÚBLICA, EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE DE PROPOSIÇÕES POLÍTICO PEDAGÓGICAS: POSITIVISMO, COMUNISMO, INTEGRALISMO, ESCOLANOVISMO. Coordenadora: MAYSA GOMES RODRIGUES Maysa Gomes Rodrigues Cristiane Xavier Lenir Palhares Wojciech Andrzej Kulesza Sessão Coordenada – 17 ...................................................................................................................................73 HISTÓRIA DO ENSINO DAS LÍNGUAS NO BRASIL Coordenador: JONATHAS DE PAULA CHAGURI Luiz Eduardo Oliveira Elaine Maria Santos Jonathas de Paula Chaguri Thadeu Vinícius Souza Teles Giselle Macedo Barboza Sara Rogéria Santos Barbosa Sessão Coordenada – 18 ...................................................................................................................................76 ETNIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO CEARÁ, RIO GRANDE DO NORTE E PARAÍBA Coordenadora: ZULEIDE FERNANDES DE QUEIROZ Marlúcia Menezes de Paiva Kilza Fernanda Moreira de Viveiros José Mateus do Nascimento Flavio José de Oliveira Silva Cicero Gomes Correia Zuleide Fernandes de Queiroz Marlúcia Menezes de Paiva Sessão Coordenada – 19 ...................................................................................................................................79 MARCAS DA ETNICIDADE, ESCOLARIZAÇÃO E MEMÓRIA: ITALIANOS, UCRANIANOS, POLONESES E POMERANOS. Coordenadora: PATRÍCIA WEIDUSCHADT Terciane Angela Luchese Valquiria Elita Renk Patrícia Weiduschadt Carmo Thum Sessão Coordenada – 20 ...................................................................................................................................82 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO RURAL E FONTES: O DESAFIO EM APREENDER SUJEITOS, PRÁTICAS E CULTURAS Coordenadora: GILVANICE BARBOSA DA SILVA MUSIAL Gilvanice Barbosa da Silva Musial José Edimar de Souza Patrícia Weiduschadt Fábio Garcez de Carvalho

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Sessão Coordenada – 21 ...................................................................................................................................85 REGISTROS MEMORIALÍSTICOS, DIÁRIOS, LITERATURA E RELATÓRIOS DOCENTES: FONTES DA PRESENÇA E AÇÃO FEMININAS NOS DIFERENTES ESPAÇOS DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX Coordenador: JUAREZ JOSÉ TUCHINSKI DOS ANJOS Maria Celi Chaves Vasconcelos Juarez José Tuchinski dos Anjos Ana Maria Rufino Gilies Paula Perin Vicentini Rita de Cássia Gallego Sessão Coordenada – 22 ...................................................................................................................................88 MULHERES VIAJANTES E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: FORMAÇÃO DOCENTE, CIRCULAÇÃO DE SABERES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Coordenadora: EVELYN DE ALMEIDA ORLANDO Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas Evelyn de Almeida Orlando Ana Maria Bandeira de Mello Magaldi Alexandra Lima da Silva Sessão Coordenada – 23 ...................................................................................................................................91 MATRIZ INTERPRETATIVA DE NORBERT ELIAS PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Coordenador: TONY HONORATO Tony Honorato Ademir Gebara Magda Sarat Lucas Facundo Krotsch Sessão Coordenada – 24 ...................................................................................................................................94 TEMPOS DISTINTOS DE CENTRALIDADE EDUCACIONAL PARA CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS (IDADE MÉDIA E SÉCULO XX) Coordenadora: ROSA LYDIA TEIXEIRA CORRÊA Maria Celi Chaves Vasconcelos Rosa Lydia Teixeira Corrêa Terezinha Oliveira Joaquim Luís Medeiros Alcoforado Marta Maria de Araújo Sessão Coordenada – 25 ...................................................................................................................................97 HISTÓRIA DOS PROFESSORES RURAIS NO BRASIL: FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO (1930 –1970) Coordenadora: ROSA FÁTIMA DE SOUZA Analete Regina Scheubauer Virgínia Pereira Silva Ávila Alessandra Cristina Furtado Rosa Fátima de Souza Sessão Coordenada – 26 .................................................................................................................................100 HISTÓRIA DA INFÂNCIA E CULTURA MATERIAL ESCOLAR Coordenadora: GIZELE DE SOUZA Cynthia Greive Veiga Vera Lúcia Gaspar da Silva Gizele de Souza Juarez José Tuchinski dos Anjos César Augusto Castro Sessão Coordenada – 27 .................................................................................................................................103 DE HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO COTIDIANO ESCOLAR ENTRE IMIGRANTES ITALIANOS EM TERRAS BRASILEIRAS (FINS DO XIX E PRIMEIRAS DÉCADAS DO XX) Coordenadora: TERCIANE ANGELA LUCHESE Clarícia Otto Elaine Falcade Maschio Eliane Mimesse Prado Terciane Angela Luchese

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Sessão Coordenada – 28 .................................................................................................................................106 RENOVAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO BRASILEIRO: CLASSES EXPERIMENTAIS E GINÁSIOS VOCACIONAIS (DÉCADAS DE 1950 E 1960) Coordenador: NORBERTO DALLABRIDA Sérgio Roberto Chaves Júnior Carlos Bizzocchi Daniel Ferraz Chiozzini Sandra Marques Letícia Vieira Norberto Dallabrida Sessão Coordenada – 29 .................................................................................................................................109 A EDUCAÇÃO PRIMÁRIA EM DEBATE: TEMPOS, ESPAÇOS E SABERES ESCOLARES NO BRASIL, PORTUGAL E ESTADOS UNIDOS (1845 - 1935) Coordenador: PAULO ROGÉRIO MARQUES SILY Inára de Almeida Garcia Pinto Paulo Rogério Marques Sily Daniel Cavalcanti de Albuquerque Lemos André Luiz Paulilo José Cláudio Sooma Silva Sessão Coordenada – 30 .................................................................................................................................112 HISTÓRIA E MEMÓRIA DAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: ENTRE PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES Coordenadora: MARIA EDITH ROMANO SIEMS-MARCONDES Maria Edith Romano Siems-Marcondes Heulalia Charalo Rafante Giovani Bezerra Bezerra Katia Cristina Nascimento Figueira Sessão Coordenada – 31 .................................................................................................................................115 HISTÓRIA LOCAL - A EDUCAÇÃO MUNICIPAL: HISTÓRIA, POLÍTICA E EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS Coordenadora: MARIA ANGÉLICA DA GAMA CABRAL COUTINHO Maria Angélica da Gama Cabral Coutinho Marcia da Silva Quaresma Edilson de Souza Marilene Alves Maia Sessão Coordenada – 32 .................................................................................................................................118 O LIVRO "HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS", DE MARIO ALIGHIERO MANACORDA: DIFUSÃO E INFLUÊNCIAS NO CAMPO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Coordenadora: GESTINE CÁSSIA TRINDADE Paolo Nosella Marco Antônio de Oliveira Gomes Gestine Cássia Trindade Heulalia Charalo Rafante Sessão Coordenada – 33 .................................................................................................................................121 CIÊNCIA E EDUCAÇÃO: IMPRESSOS, INTELECTUAIS E DIÁLOGOS ENTRE OS SABERES MÉDICOS E A PSICOLOGIA NOS PROJETOS DE ESCOLARIZAÇÃO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX Coordenador: IRANILSON BURITI DE OLIVEIRA Maria do Socorro Nóbrega Queiroga Iranilson Buriti de Oliveira Eliane Vianey de Carvalho Paula Cristina David Guimarães

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Sessão Coordenada – 34 .................................................................................................................................124 GEOPOLÍTICA DOS SABERES PEDAGÓGICOS E OS PERIÓDICOS EDUCACIONAIS NO SÉCULO XIX Coordenador: JOSÉ GONÇALVES GONDRA Fabiana Sena Sonia Maria da Silva Araujo Giselle Baptista Teixeira José Gonçalves Gondra Juan Suásnabar Sessão Coordenada – 35 .................................................................................................................................127 ARCAÍSMO E MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX: ASPECTOS HISTÓRICOS NOS DEBATES SOBRE A EDUCAÇÃO Coordenadora: MARCILIA ROSA PERIOTTO Marcilia Rosa Periotto Adriene Santanna Celina Midori Murasse Mizuta Cristiano de Jesus Ferronato Marileide Lopes dos Santos Sessão Coordenada – 36 .................................................................................................................................130 AS MULTIFACES DAS RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E MODERNIDADE NO BRASIL IMPERIAL Coordenador: MATHEUS DA CRUZ E ZICA Ilka Miglio de Mesquita Gustavo dos Santos Vera Lúcia Nogueira Matheus da Cruz e Zica Rita Cristina Lima Lages Sessão Coordenada – 37 .................................................................................................................................133 MODERNIDADE, EDUCAÇÃO E CULTURA NOS PROJETOS DE BRASIL (1920-1940) Coordenadora: SOLANGE APARECIDA DE OLIVEIRA HOELLER Ione Ribeiro Valle Marcus Vinicius Corrêa Carvalho Solange Aparecida de Oliveira Hoeller Carolina Ribeiro Cardoso da Silva Vera Lúcia Gaspar da Silva Vanessa Costa de Macêdo Luciano Mendes Faria Filho

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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Sessão Coordenada - 01

INTELECTUAIS NA EDUCAÇÃO: MEMÓRIA, MILITÂNCIA, PROJETOS

Coordenadora: ADELIA MARIA MIGLIEVICH RIBEIRO Eixo Temático: 1 - Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira

Os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Mato Grosso, mediante os investigadores convidados, professores doutores e uma professora doutoranda, respectivamente da UFES, UERJ e Universidade de Cuiabá, articulam um debate acerca do intelectual público e a história do pensamento educacional no Brasil, dando visibilidade a personagens ainda não plenamente observados em sua relevância na história da educação brasileira. Tem como objetivo geral apresentar tais nomes inserindo-os nos respectivos círculos intelectuais e contextos, atentando, de um lado, para as noções mannheimianas de ideologia e utopia e, de outro, para a leitura gramsciana do intelectual orgânico e da luta pela hegemonia. Tematiza-se o início do século XX, numa São Paulo em processo de urbanização, quando da recepção do anarquismo no Brasil, e rebatimentos na formulação de ideais educacionais; as décadas de 1950-60, tempos de construção da nova capital e de planejamento de uma universidade antenada aos desafios postos pelo nacional-desenvolvimentismo, num cenário de luta pelas reformas de base; o “antes” e o “depois” dos anos ditatoriais no Brasil, a histórica luta pela implementação da escola pública em tempo integral nas redes municipal e estadual do Rio de Janeiro, na árdua tensão entre o "chaguismo" e o "brizolismo"; mais uma vez, os anos 1980 e a campanha pela redemocratização no país, atentando para as disputas nas políticas públicas, observando-se o Brasil, desta vez, a partir do Mato Grosso. Fala-se aqui nada menos do que das trajetórias do intelectual autodidata e militante anarquista João Penteado, em especial, de sua atuação na Escola Moderna n.1 de São Paulo (1912-1919); de Darcy Ribeiro na criação, junto a SBPC, da UnB em convergência à utopia de um Brasil a se libertar do “atraso”, levando tal reflexão para, após o Golpe de 1964, mediante as vivências do intelectual como reformador universitário no exílio latino-americano. Traz-se ainda a biografia da primeira catedrática da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no curso de História, Maria Yedda Linhares, acompanhando sua trajetória da “academia” à “ação político-pedagógica”, observando, com isso, a presença das mulheres na história das instituições; por fim, Dante de Oliveira, no foco ao processo de redemocratização brasileira e de construção de seu pensamento educacional, na ligação às teses de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, particularmente sensível à inclusão social e ao respeito às diferenças culturais numa nação plural. Nesta sessão coordenada, os investigadores partilham do tratamento das biografias como, também, fragmentos de histórias coletivas, cuja memória é capaz hoje de inspirar o debate acerca da educação brasileira. A aposta é nas continuidades e descontinuidades das experiências políticas e educacionais brasileiras, a gerar o acúmulo do pensamento crítico. O SONHO DE UM TOLSTOIANO: JOÃO PENTEADO E A ESCOLA MODERNA DE SÃO PAULO (1912-1919)

Rogério Cunha de Castro

Sob o título "O sonho de um tolstoiano: João Penteado e a Escola Moderna de São Paulo (1912-1919)", apresenta-se o autodidata e militante anarquista que começou a lecionar em Jaú. Em suas conferências, João Penteado defendeu o pacifismo e o internacionalismo, granjeando a admiração com a qual foi conduzido à condição de diretor da Escola Moderna de São Paulo. Uma vez à frente deste "ninho de liberdade", procurou implantar, o mais imediato possível, o comunismo anarquista. Na qualidade de admirador de Liev Tolstói, Penteado adocicou o discurso político, árido para a maioria da população, temperando-o com o anarquismo cristão do afamado escritor russo. Além disso, ainda como entusiasta do humanismo apregoado pelo autor de “Guerra e Paz”, combateu a propaganda militarista que incidiu sobre os jovens, sobretudo após a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, ao buscar os recursos financeiros que necessitava junto aos organismos de classe, ajudou a politizar os sindicatos, fazendo com que ultrapassassem as lutas mais imediatas na mesma medida em que introduzia a luta de classes no currículo de uma escola brasileira. Dessa maneira, conforme as condições dos estudantes e suas necessidades enquanto futuros trabalhadores, tal como propõe o conceito de “demopedia” de Pierre-Joseph Proudhon, João Penteado procurou implantar a “instrução integral” reivindicada por Mikhail Bakunin, encontrando na Escola Moderna de Barcelona, organizada pelo educador catalão Francisco Ferrer y Guardia, um paradigma para suas experiências educacionais. Portanto, dando consequência às resoluções do Congresso Operário Brasileiro de 1906, João Penteado e seus colaboradores se dedicaram à instrução física, intelectual e social dos meninos e meninas que frequentaram a Escola Moderna n.1 de São Paulo. Convictos de que adultos comprometidos com o conjunto da sociedade resultam do ambiente vivenciado durante a infância, insistiram na perspectiva de que para alcançarmos uma sociedade livre, composta

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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas

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por comunas autônomas, necessitamos de uma educação sem prêmios ou castigos, que transforme a escola em exemplo de ação direta. Em outras palavras, as poucas edições de “O Início”, jornalzinho elaborado pelas crianças, revelam a vinculação entre a metodologia racionalista e o campo político e social, permitindo aos jovens desenvolver as habilidades com as quais os problemas coletivos podem ser resolvidos coletivamente, tanto pela substituição da disciplina pelo livre acordo, quanto pelo esforço conjunto no sentido de que cada estudante se torne o principal mestre de si.

A UTOPIA NECESSÁRIA: DARCY RIBEIRO, UNIVERSIDADE E AMÉRICA LATINA

Adelia Maria Miglievich Ribeiro

Em "A utopia necessária: Darcy Ribeiro, Universidade e América Latina", focalizam-se, na década de 1950, as vigorosas ideias mannheimianas de “intelligentsia” e utopia. Em que pesem as matrizes distintas, um inegável voluntarismo marca aqueles homens – e algumas mulheres – em torno de um projeto intelectual de reinterpretação e de transformação do Brasil rumo à superação do atraso. Darcy Ribeiro (1922-1997) fez parte de uma geração de intelectuais e artistas que acreditava firmemente ser possível construir um projeto cultural abrangente para o Brasil e para a América Latina. Destaco, em sua trajetória intelectual, o entrelaçamento com Anísio Teixeira nos esforços de criação da Universidade de Brasília (UnB), convergência rara de intelectuais e cientistas eminentes em torno de um projeto de desenvolvimento nacional autônomo. Narro, de modo especial, os não poucos embates dentro e fora do Governo JK a fim de que a universidade da nova capital não se perdesse de seus princípios originais bem como explicito a instabilidade do Governo de João Goulart na luta pelas reformas de base. Fato é que Jango, em 1962, ainda como primeiro-ministro, assinava, enfim, a lei de fundação da nova universidade. Chamo atenção para o “pensamento-ação” de Darcy Ribeiro que o conduz, no projeto da UnB, a uma autocrítica severa da universidade, expressa no intento de se repensar “responsavelmente” sua função, e reagir, nas palavras do próprio, à “mediocridade” do desempenho cultural e científico das cátedras. Entendendo a universidade como “motor de desenvolvimento” nas sociedades, Darcy atribuía-lhe uma significativa relevância na “aceleração do progresso global das nações” em oposição à perpetuação da “modernização reflexa”. A derrota política com o Golpe de 1964, que o levou ao exílio e “selou” o destino da UnB, é lembrada. Opta-se, porém, por valorizar a memória do ponto de vista da criação de uma vasta rede de intelectuais latino-americanos que fazem de Darcy Ribeiro “cidadão latino-americano” e reformador de universidades no continente. Assim, sua biografia e suas teses se confundem em “Universidade Necessária” (1968), livro em que descreve um projeto de universidade pioneiramente fundado na integralidade dos saberes, mediante a construção dos institutos de ciências e institutos centrais, na extinção do regime de cátedra, na criação de uma carreira docente, na valorização do ensino, pesquisa e extensão, na articulação com a educação básica, na atenção aos distintos perfis de alunos, na excelência da pós-graduação, no compromisso entre universidade e sociedade. Nesse sentido, a comunicação postula contribuir, em sua medida, para o campo da história da educação brasileira promovendo a visibilidade de uma experiência que, mesmo temporária, traduziu um “estado” da intelectualidade nacional que ganhou realidade e desdobramentos, movendo ainda hoje o pensamento crítico.

MARIA YEDDA LEITE LINHARES: UMA INTELECTUAL NA EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Lia Ciomar Macedo de Faria

Em "Maria Yedda Leite Linhares: uma intelectual na educação do Rio de Janeiro", analisa-se a trajetória da professora Maria Yedda Leite Linhares, desvelando indícios sobre a contribuição desta historiadora que esteve, intelectualmente, à frente de seu tempo. Desta forma, investigamos suas ações e pensamento, ressaltando a luta que sempre travou pelas causas que acreditava serem fundamentais para a consolidação da universidade pública e da escola republicana no Brasil. Tal análise se inscreve no desejo de indagar qual a contribuição desta professora para a jovem historiografia brasileira, destacando em particular, o debate acerca da atuação feminina nos meios intelectuais e universitários naquela década de 1960. Dentro de tal ótica, desvendar as sombras que ainda ocultam a participação de mulheres como Maria Yedda, enquanto dirigente e intelectual de seu tempo é objeto desta investigação, rompendo esquecimentos e registrando memórias datadas de um determinado período histórico. Os múltiplos olhares, da cátedra à ação político-pedagógica, enquanto secretária municipal e estadual de educação do Rio de Janeiro (RJ) revelam um cotidiano entrelaçado, em meio aos sucessivos embates travados nos campos da educação, da política e da história nacional e fluminense. A partir deste deslocamento da filiação da memória, intentamos também recuperar a consciência geracional de uma coletividade acadêmica inserida naquela contingência temporal dos anos 1960 e, posteriormente, dos anos 1980, no período de redemocratização. Segundo Le Goff (1992), a classe hegemônica e o Estado são os senhores da memória e do

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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esquecimento, trata-se portanto, de recuperar a visibilidade dos acontecimentos dos anos imediatamente pré e pós-ditadura civil militar no Brasil. E, identificar as possíveis marcas encontradas no cotidiano da rede municipal das escolas do Rio de Janeiro. Neste viés, a história de Maria Yedda, embora (...) única, perdida e solitária entre todas as outras - aponta para o perigo dos processos de manipulação da memória coletiva, ressignificando os sentidos da universidade pública brasileira (Faria, p.709, 1998). Portanto, os olhares de Maria Yedda, como acadêmica e cidadã, surgem lado a lado com a construção de um mundo novo, se somando à tarefa de garantir às mulheres um espaço real de atuação política na sociedade. Novos rumos e novos olhares se apresentam no caminho da incansável historiadora durante o processo de redemocratização do Brasil nos anos 1980, quando é convidada para assumir a secretaria de educação do município (1983) e em 1986, a secretaria de educação do estado. Em tal contexto, falar de Maria Yedda é falar da própria histórica política do Brasil, se considerarmos que ela conviveu com os intelectuais mais importantes das décadas de 1950 a 1980.

O PROJETO EDUCACIONAL DE DANTE DE OLIVEIRA, O AUTOR DA EMENDA DAS DIRETAS-JÁ!

Maria das Graças Campos

"O projeto educacional de Dante de Oliveira, o autor da emenda das DIRETAS-JÁ!" é o título da exposição que aborda a tese acerca da trajetória de formação, convivência familiar e rede de sociabilidade de Dante de Oliveira em convergência à construção de seu pensamento político. Pergunta-se qual ideologia o permeou e sua influência em sua atuação como formulador de políticas públicas. A investigação possibilitou constatar que havia por parte de Dante uma preocupação em priorizar a educação, tanto em seus planos de metas, quanto na execução das políticas. Neste sentido, consta do Plano de Metas Mato Grosso (1995- 2006), que as políticas prioritárias do governo seriam Educação, Emprego e Renda, Energia e Estradas. Estas propostas foram construídas com a participação popular e a Frente Cidadania e Desenvolvimento, composta pelos partidos: PDT, PMDB, PSD, PC do B, PT, PV, PSC, PMN, PSB, PPS. No período de 1995 a 2002, quando Dante de Oliveira esteve à frente do governo do Estado de Mato Grosso a Política Educacional orientou-se desde 1995, com os princípios de Democracia, Descentralização e Ética para a Cidadania. Esta visão educacional norteava-se nos principais eixos: Reorganização do Sistema Educacional, Fortalecimento da Escola, e a Valorização dos Profissionais da Educação. Conforme linhas norteadoras do Documento Denominado: Na nova Educação de Mato Grosso (SEDUC, 2001) houve avanços, contudo permanecia o desafio de melhorar continuamente o trabalho Educacional do estado. Nesta perspectiva foi executado O Programa Xané com objetivo de promover a inserção educativa sociocultural de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade. Esta iniciativa repercutia a influência dos ideais de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro de propiciar Educação Integral e uma escola melhor para a classe trabalhadora. O programa foi extinto no ano de 2004, após ser viabilizado em 91 municípios, quando participavam 55 mil crianças com investimento estadual na ordem de R$ 5.000 000,00 (Cinco milhões). Sem contar os outros investimentos em formação continuada, e disponibilidade das equipes. Além do Programa Xané, foi executado o Tucum, programa de educação escolar indígenas, que se destinava à formação de professores com o tema “Terra, Língua e Cultura”, tendo como base um currículo diferenciado, específico e bilíngue (SEDUC/MT 2001, p.16). Outra questão trabalhada foi a formação dos profissionais do apoio da administração escolar com o Programa Arara Azul. Tais inciativas admite-se afirmar as evidências do avanço educativo quando as propostas são desencadeadas à luz das necessidades da população.

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Sessão Coordenada - 02

BACHARÉIS EM DIREITO, CRIMINOLOGIA E EDUCAÇÃO

Coordenador: IRLEN ANTÔNIO GONÇALVES Eixo Temático: 1 - Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira

Trata-se de uma proposta de Comunicação Coordenada composta por quatro pesquisadores de instituições diferentes, encontrando-se cada um atuando em três unidades da Federação brasileira. São pesquisadores que vem estudando a temática dos bacharéis em direito e sua relação com a educação, no âmbito da historiografia, particularmente, da História da Educação. Assim, a intensão da Comunicação é a de abrir o debate histórico sobre a relação entre os bacharéis em direito, a criminologia e a educação, apontando para os desdobramentos que ocorreram no estabelecimento de políticas educacionais e, bem assim, na construção do estado brasileiro. As comunicações propostas pelos autores e autoras abordam: 1ª. JURISTAS E BACHARÉIS E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO NO DEBATE CRIMINOLÓGICO NO BRASIL DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA. O autor propõe uma discussão acerca da educação no âmbito criminológico, de acordo com os autores da Nova Escola Penal no Brasil, tendo em vista também as reformas legais e institucionais propostas pelos juristas defensores da Criminologia. Para ele, a reconstrução do debate sobre o papel da educação no âmbito criminológico no país pode apontar, assim, para novas dimensões das concepções e das práticas de setores das elites, especialmente juristas e bacharéis, no que diz respeito à história da educação no Brasil; 2ª. CRIMINOLOGIA NA FORMAÇÃO DE BACHARÉIS EM DIREITO: configuração de cultura jurídica acadêmica no século XIX. A autora objetiva problematizar a configuração da cultura jurídica acadêmica a partir de teses e dissertações de doutoramento dos bacharéis em Direito da Academia de São Paulo, no período de 1850 a 1888, que tratam sobre justiça, delitos, penas, júri, violação e processo criminal na relação com os estudos sobre o Código Criminal de 1830. Para ela, compreender as ideias de direito e processo criminal sob a luz da cultura jurídica acadêmica da Faculdade de Direito de São Paulo no século XIX, estão lançadas as luzes para um campo de discussões representado pelas escolas do direito da modernidade e pensamento jurídico brasileiro; 3ª. A RETÓRICA DISCURSIVA DOS BACHARÉIS EM DIREITO SOBRE OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL. Com essa proposta, o autor propõe refletir sobre a construção de projetos de educação profissional e de República, sob o ponto de vista da retórica dos discursos dos bacharéis em direito que ocuparam postos de destaque na política mineira, na virada do século XIX para o século XX. 4ª. FORMAÇÃO JURÍDICA: PRÁTICAS DE ENSINO NA FACULDADE DE DIREITO DE SERGIPE (1950 A 1970). Aqui autora apresenta as práticas de ensino adotadas na instituição para a formação de bacharéis entre as décadas de 1950 a 1970, buscando evidenciar os aspectos relacionados à cultura acadêmica vivenciada durante a existência da Faculdade de Direito de Sergipe.

A RETÓRICA DISCURSIVA DOS BACHARÉIS EM DIREITO SOBRE OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Irlen Antônio Gonçalves

O que se propõe nesta comunicação é uma reflexão sobre a construção de projetos de educação profissional e de República, sob o ponto de vista da retórica dos discursos dos bacharéis em direito que ocuparam postos de destaque na política mineira, na virada do século XIX para o século XX. O Estado de Minas Gerais, no período entre 1889 e 1930, teve 22 presidentes que assumiram um ou dois mandatos, consecutivos ou não. Deste elenco, somente quinze produziram as mensagens enviadas ao Congresso mineiro. Assim, como nosso propósito principal é analisar as mensagens enviadas, nos deteremos somente sobre quinze presidentes que as produziram. Dos quinze selecionados identificamos que doze deles possuíam o grau acadêmico de bacharel em direito, um era formado em medicina, um em engenharia e outro autodidata. Entre os bacharéis, apenas um se formou na escola Livre de Direito em Minas Gerais e onze se formaram na Faculdade de Direito de São Paulo entre 1868 e 1900. Essa constatação estimulou o aprofundamento sobre a participação dos bacharéis em direito na política mineira, bem como o interesse em descortinar, a partir dos seus discursos, a influência que eles tiveram na produção de políticas públicas para a educação profissional. As mensagens foram produzidas em forma de relatórios digitados e enviados ao Congresso Mineiro anualmente, contendo disposições acerca da administração do Estado, frente as dificuldades e soluções ressaltadas pelo presidente em exercício. Para embasar a reflexão, a referência teórica será o da cultura política, a partir de Serge Berstein. Com ele temos que o movimento para a identificação da cultura política é duplo: primeiramente pelo discurso, pelo argumentário e pelo gestual. O discurso é o pronunciamento oral ou escrito, elaborado com uma série de significados que expressam a maneira de pensar e de agir, de um indivíduo dirigindo-se ao outro ou a um grupo de indivíduos. Nele se encontram os

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elementos simbólicos comunicacionais. O argumentário é o conjunto dos argumentos constitutivo do discurso. O segundo movimento, de captura da cultura política, é o que reflete a dimensão coletiva dos indivíduos. Esse, fornece uma chave que permite compreender a coesão de grupos organizados à volta de uma cultura. Um grupo que se constitui na comunhão de seus membros, com visão comum do mundo, numa leitura partilhada do passado, de uma perspectiva idêntica de futuro, em normas, crenças, valores que constituem um patrimônio indiviso, fornecendo-lhes, para exprimir tudo isto, um vocabulário, símbolos, gestos. Quanto ao aspecto metodológico, a análise tomará as proposições de Patrick Charaudeau, para quem a palavra discurso deve ser tomada ao mesmo tempo pelo que ela diz e pelo que ela não diz e que o discurso político é incitado pelo desejo e pela intenção de influenciar o outro.

JURISTAS E BACHARÉIS E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO NO DEBATE CRIMINOLÓGICO NO BRASIL DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA

Marcos César Alvarez

Ao longo da Primeira República no Brasil, juristas e bacharéis debateram e divulgaram as idéias da Criminologia e da assim chamada Nova Escola Penal, voltadas para o estudo do criminoso e para a reforma do Direito e das instituições penais. A discussão acerca do papel da educação no combate à criminalidade exemplifica aspectos das formas de pensamento dos juristas adeptos da “nova escola”. A maioria dos autores, ao acompanhar neste aspecto as opiniões correntes já manifestas na Europa, se mostravam céticos quanto ao papel da simples instrução no combate à criminalidade. Para eles, o máximo que se conseguiria, com a ampliação da instrução primária para o conjunto da população, seria formar criminosos mais bem preparados intelectualmente para as tarefas delituosas. Também os trabalhadores estariam entregues à propaganda nefasta dos revolucionários, sem as necessárias orientações morais que a instrução isoladamente não poderia proporcionar. Eles defendiam, em contrapartida, a necessidade de uma educação moral, pois esta sim poderia, ao fornecer um senso moral adequado às necessidades da sociedade, coibir os atos considerados anti-sociais. Os juristas brasileiros adeptos da Criminologia, sobretudo de sua vertente italiana, no entanto, parecem menos preocupados em definir qual seria o conteúdo dessa educação moral do que em estabelecer os mecanismos jurídicos e institucionais capazes de torná-la viável. Por exemplo, estabelecimentos como o Instituto Disciplinar, em São Paulo, criado em 1902, foram concebidos sob os mesmos parâmetros, pois não se propunha aí apenas uma instituição penal, mas uma “escola para crianças anormais”, capaz de garantir a formação moral para as abandonadas pelos pais ou responsáveis. Nesta exposição, tal discussão acerca da educação no âmbito criminológico, de acordo com os autores da Nova Escola Penal no Brasil, será aprofundada, tendo em vista também as reformas legais e institucionais propostas pelos juristas defensores da Criminologia. A discussão sobre o tema da menoridade, que culminou com a promulgação do primeiro Código de Menores, em 1927, será igualmente explorada como exemplo das reformas propostas a partir do horizonte das idéias criminológicas. Juristas e bacharéis brasileiros no período reafirmaram a convicção de que a educação teria influência nula no combate ao crime, se não fosse acompanhada de uma adequada formação moral, sobretudo diante do perigo da “criminalidade precoce”. A reconstrução do debate sobre o papel da educação no âmbito criminológico no país pode apontar, assim, para novas dimensões das concepções e das práticas de setores das elites, especialmente juristas e bacharéis, no que diz respeito à história da educação no Brasil. CRIMINOLOGIA NA FORMAÇÃO DE BACHARÉIS EM DIREITO: CONFIGURAÇÃO DE CULTURA JURÍDICA

ACADÊMICA NO SÉCULO XIX

Ilka Miglio de Mesquita

Esta comunicação tem como objetivo problematizar a configuração da cultura jurídica acadêmica a partir de teses e dissertações de doutoramento dos bacharéis em Direito da Academia de São Paulo, no período de 1850 a 1888, que tratam sobre justiça, delitos, penas, júri, violação e processo criminal na relação com os estudos sobre o Código Criminal de 1830. O ano de 1850 refere-se ao período em que encontramos os primeiros trabalhos acadêmicos dos bacharéis em Direito, bem como evidenciamos configuração da cultura jurídica acadêmica por meio de mudanças na estrutura curricular do curso, temas de estudo e autores estudados. Já o ano de 1888 constitui-se como período que encontramos as últimas teses e dissertações referentes ao período imperial. Assim, é possível compreender o Estado brasileiro a partir de ideias de justiça contidas nas teses e dissertações? Como os bacharéis da Faculdade de Direito de São Paulo fizeram a reflexão acerca dos estudos de criminologia? Quais eram os crimes e delitos que mais afetavam a sociedade brasileira e como se configura a cultura jurídica acadêmica em torno do direito e processo criminal? Para tanto, o levantamento de vestígios no centro de

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documentação da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP fez-se necessário, já que ao dialogarmos com esses vestígios procuramos fazer indagações que toda investigação histórica pressupõe diante da multiplicidade de documentos e das ferramentas próprias ao ofício do historiador. Contudo, é essencial desvelar a relação das ideias acadêmicas com o direito e processo criminal e, por fim, conceber uma noção de cultura jurídica a partir de referenciais teóricos que aplicaram esse conceito. Não obstante, procuramos fazer uma reflexão acerca do conceito de cultura jurídica a partir das análises contidas nos livros “Cultura jurídica no Brasil (1822-1922)” de Plínio Barreto, “O império dos bacharéis: pensamento jurídico e a organização do Estado-Nação no Brasil” de Mozart Linhares da Silva com as obras “Os juristas na formação do Estado-Nação brasileiro do século XVI-1850 e de 1850-1889”, organizadas por Carlos Guilherme Mota. Temos em vista ampliar os estudos da história da educação, sob as perspectivas da história social e cultural, investigando nas teses e dissertações a configuração da cultura jurídica brasileira. Assim, tentando compreender as ideias de direito e processo criminal sob a luz da cultura jurídica acadêmica da Faculdade de Direito de São Paulo no século XIX percebemos que há um campo de discussões representado pelas escolas do direito da modernidade e pensamento jurídico brasileiro.

FORMAÇÃO JURÍDICA: PRÁTICAS DE ENSINO NA FACULDADE DE DIREITO DE SERGIPE (1950 A 1970)

Marcia Terezinha Jerônimo Oliveira Cruz

Após algumas tentativas de implantação e funcionamento de uma Academia jurídica em Sergipe, datadas do final do século XIX e do início do século XX, em 1950, um grupo de intelectuais, reunido no Conselho Penitenciário, fundou a Faculdade de Direito de Sergipe (FDS). Foi a última instituição, desta natureza, a ser criada na região nordeste, o que demonstra as dificuldades locais para a implantação do ensino superior. A iniciativa situou-se em um cenário de crescimento econômico, impulsionado pelo modelo nacional-desenvolvimentista, momento em que o governo sergipano investia na interiorização da escola primária e das estradas de rodagem, na puericultura, na telefonia, transportes, dentre outros. A FDS foi a terceira instituição de ensino superior a ser fundada entre o final da década de 1940 e o início da década de 1960, quando este foi definitivamente implantado. A Faculdade de Direito, considerada uma instituição exemplar do ponto de vista administrativo, docente e estudantil, por Inspetores Federais de Educação e diversos juristas que a visitaram, a exemplo de Hermes Lima e Orlando Gomes, foi federalizada no início da década de 1960. Em 1968, juntamente com outras cinco instituições superiores, deu origem à Universidade Federal de Sergipe. Este estudo apresenta as práticas de ensino adotadas na instituição para a formação de bacharéis entre as décadas de 1950 a 1970. Busca evidenciar aspectos relacionados à cultura acadêmica vivenciada durante a existência dessa instituição, o que justifica o recorte proposto. Para tanto, a pesquisa caracteriza o espaço físico onde as aulas eram ministradas, a dinâmica de aulas inaugurais, aulas teóricas, atividades relacionadas à prática forense e às aulas de Medicina Legal. Também levanta o modo como eram aplicadas provas escritas e orais. O trabalho, construído a partir dos pressupostos teóricos da História Cultural, fundamentou-se em fontes bibliográficas que trouxeram à baila as contribuições de Pierre Bourdieu, Roger Chartier, Michel de Certeau e Peter MacLaren, por intermédio das categorias campo e capitais (simbólico, social e cultural), práticas, representações e rituais de resistência. Também utilizou fontes documentais (atas de exames, cadernetas de aula), orais e periódicas (Revista da Faculdade de Direito) que apresentam as representações de ex-alunos e os discursos relativos ao ideal de bacharel que a FDS deveria formar. Os resultados obtidos ajudam a compreender o tipo de formação realizada pela instituição e sua ligação com a tradição do bacharelismo no Brasil.

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Sessão Coordenada - 03

POPULAÇÃO NEGRA E SUAS CONDIÇÕES DE EDUCABILIDADE

Coordenador: MARCUS VINÍCIUS FONSECA Eixo Temático: 2 - Etnias e Movimentos Sociais na História da Educação

A educação dos negros é um tema que foi definitivamente incorporado à historiografia educacional brasileira. Seu surgimento e consolidação enquanto objeto de análise na história da educação ocorreu nas duas últimas décadas e a manifestação mais clara de sua evolução encontra-se no refinamento das análises. Os trabalhos produzidos nos últimos anos revelam que o foco das pesquisas não está exclusivamente centrado nos processos de inclusão/exclusão dos negros dos espaços escolares e nem tampouco em questões amplas como a relação dos membros deste grupo com as políticas educacionais. A produção vem sendo revigoradas por análises que, sem perder de vista os elementos estruturais, se voltam para o entendimento e detalhamento da relação entre os negros e as práticas educativas (escolares e não escolares) que ocorreram em distintas regiões do país. As questões que vem sendo formuladas pelas pesquisas giram em torno da tentativa de compreensão das experiências que marcaram a trajetória dos negros enquanto um grupo social. Nesta perspectiva, o termo negro deixou de ser uma categoria que reflete as condições de um grupo social homogêneo para ser tratado como uma designação que se aplica a diferentes condições sociais vivenciadas por segmentos desta população. Estas condições necessitam ser compreendidas para que haja um entendimento mais amplo de suas possibilidades de relação com as práticas educacionais. Desta forma, procuramos nesta comunicação articular múltiplos elementos que perpassam à trajetória social dos negros estabelecendo conexões com a educação. A partir disso, elementos como a condição de livres e escravos adquirem uma significação importante na construção das perguntas e da própria matriz interpretativa relativa às experiências educacionais do século XIX. Na mesma direção segue o destaque cada vez maior que alcançam as práticas educativas que se davam fora do espaço escolar, como os movimentos associativistas que, no século XIX, foram responsáveis pela elaboração e sustentação de padrões conduta dos negros. As condições de educabilidade são ainda reforçadas por análises que colocam em foco os processos de escolarização dirigidos a alunos negros que foram submetidos a processos pedagógicos específicos, ou na condição de professores marcados por práticas em que a condição profissional e racial se encontravam fortemente articuladas. Este conjunto de experiências indica um padrão de variabilidade dos processos educacionais que precisa ser compreendido a partir de considerações que levem em conta os negros como sujeitos portadores de condições sociais que possuem especificidades no tempo e no espaço. Assim, partimos do tratamento desta situação em Pernambuco, Paraíba e Minas Gerais para indicar, entre o século XIX e XX, uma variedade de condições sociais que possibilitaram diferentes formas de relação dos negros com a educação.

SER ESCRAVO, SER LIVRE NA PARAHYBA DO NORTE OITOCENTISTA: POSSIBILIDADES DE ANÁLISE PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA

Surya Aaronovich Pombo de Barros

O objetivo dessa comunicação é discutir os limites entre ser livre e ser escravo no que se refere à população negra da província da Parahyba do Norte ao longo do século XIX. Como demonstram trabalhos de historiografia social da escravidão que analisam outras províncias, personagens ou momentos específicos do Império, as fronteiras entre as duas condições jurídicas eram muito frágeis. A justificativa para a preocupação com esse problema no campo da história da educação brasileira é pensar nas possíveis consequências dessa fluidez entre ser livre e ser escravo para as experiências negras no acesso (ou não) à educação escolar, especificamente para a escola paraibana no período imperial. A análise será desenvolvida a partir da conceituação de estratégias e táticas de Michel de Certeau (1998) de modo a pensar sobre a ação dos que escravizavam ou re-escravizavam pessoas negras livres (estratégia) e, também, em diferentes maneiras como escravizados se utilizavam dessa possibilidade para se passar por pessoas livres (táticas). Serão utilizados como fontes a imprensa paraibana (principalmente os jornais O Governista, O Publicador, e o Jornal da Parahyba), a legislação sobre instrução da Parahyba do Norte (leis e regulamentos) e os documentos oficiais da administração provincial do governo da Parahyba, como ofícios e relatórios de inspetores da instrução pública e de presidentes da província. Tendo como referências os trabalhos de historiografia social da escravidão e história da educação, sugerimos que no caso de estudos de história da educação da população negra é mais fecundo para a análise da sociedade imperial paraibana analisá-los como um grupo social do que segmentá-los em categorias como escravos, libertos, livres, ingênuos. Para os debates historiográficos e para o debate político acerca da resistência negra sempre foi importante e necessário observar as diferenças entre as diversas classificações a que podiam estar submetidas as

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pessoas negras. A partir de referências à presença negra em espaços escolares, encontradas em notícias de jornal e em outras fontes consultadas, defendemos que para o estudo da escola paraibana em que havia a presença de alunos de diferentes condições jurídicas e raciais, é mais pertinente não dividir o segmento negro da população em livres e escravos, uma vez que os limites entre estas condições eram muito tênues neste período.

APRENDENDO ENTRE IRMÃOS: VIDA ASSOCIATIVA E EDUCABILIDADES ENTRE AS IRMANDADES NEGRAS DE PERNAMBUCO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX

Itacir Marques Luz

Esta comunicação discute as atividades associativas praticadas pela população negra, entendendo-as também enquanto instâncias educativas no conjunto dos arranjos coletivos produzidos por este grupo no interior da ordem escravista. Para tanto, observamos suas formas de manifestação particularmente na Província de Pernambuco da primeira metade do século XIX, tendo em vista seu papel significativo no circuito do tráfico de escravizados e, por conseguinte, cenário de uma expressiva presença dessa população de africanos e seus descendentes. Nesse contexto, analisamos o papel social e político das irmandades negras, com recorte em três destas entidades: Irmandade do Rosário dos Homens Pretos; Irmandade de N. S. do Terço; e Irmandade de S. José do Ribamar, buscando compreender sua organização e funcionamento, as articulações existentes entre essas entidades e sua capacidade de promover a circulação de valores e saberes diversos junto à população negra local. Com base em estudos sobre História da África, História do Escravismo no Brasil, além de estudos sobre Culturas e Sociabilidades no Mundo Atlântico, realizamos uma pesquisa documental sobre as irmandades de pretos e de pardos, a exemplo dos Compromissos, Livros de Registros, Petições e outros. Além destes registros produzidos diretamente pelos próprios sujeitos pesquisados, tomamos à análise os ofícios e relatórios emitidos por órgãos oficiais e eclesiásticos da Província relativos a esse tipo de organização, bem como a legislação e jornais da época, considerando a contribuição desses dois elementos no exercício de compreensão da realidade vigente. Tal levantamento de fontes foi realizado no Arquivo Público Estadual, no Arquivo da Assembléia Legislativa de Pernambuco, no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e IPHAN. Somou-se ao estudo um levantamento da legislação da época e uma busca aos jornais da época disponíveis no setor de microfilmagem da Fundação Joaquim Nabuco. Com base nesses levantamentos, compreendemos que estes arranjos associativos da população negra como expressão de alternativas “autônomas” de vida social e política frente à ordem escravista a partir do compartilhamento de valores e saberes entre gerações, sendo a própria dinâmica associativa uma via de educabilidade. Os estudos sobre essa prática associacionista da população negra nesse período também apontam para essas entidades como possibilidade de certas “vivências africanas” para seus membros, ao mesmo tempo em que também ajudava na configuração de estatutos sociopolíticos diferenciados, o que pode nos ajudar avançar na compreensão sobre as diferentes formas de afirmação e resistência promovidas pelos negros.

PADRE VICTTOR: UM EDUCADOR NEGRO NO SUL DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Marcus Vinícius Fonseca

Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a educação e a população negra no sul de Minas, região em que os membros deste grupo racial tinham menor capacidade de circulação no espaço social. Isso pode ser constatado através de dados demográficos que indicam a elevada proporção de escravos em meio à população das cidades desta região. Pode também ser constatado através da comparação com outras regiões de Minas, onde é possível perceber que os negros tinham uma presença significativa na população livre, inclusive com elevado registro em meio aos alunos das escolas elementares, como ocorria na região central de Minas Gerais. Para construção da análise utilizamos como referência a trajetória de Padre Victor (1827-1903) que nasceu em Campanha/MG, onde frequentou escolas de instrução elementar e latim; posteriormente foi para o Seminário Nossa Senhora da Boa Morte, em Mariana/MG, tornando-se sacerdote. Em 1852, tornou-se vigário na cidade de Três Pontas/MG, atuando também como professor público de latim e francês. Nesta mesma cidade, foi diretor do Colégio Sacra Família, escola que foi criada e dirigida por ele com objetivo de educar a mocidade da região, foi também diretor da primeira escola normal da cidade, fundada no ano de 1895. Padre Victor foi considerado uma pessoa profundamente generosa, sendo atribuída a ele a condição de santo. A idéia de santidade permaneceu após a sua morte dando origem a um forte movimento de culto a sua imagem, resultando na construção de um processo para sua canonização que, atualmente, encontra-se em curso no Vaticano. Neste trabalho utilizaremos como referência a idéia de ilusão biográfica, de Pierre Bourdieu, para analisar registros relativos à sua trajetória

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de vida. O primeiro deles foi produzido em 1946, por um ex-aluno chamado João Abreu Salgado, Magnus Sacerdos: Conêgo Padre Vitor; o segundo foi produzido em 1973, por padre Victor Rodrigues de Assis tendo como título Vida e vitórias de monsenhor Francisco de Paula Victor: o patriota e milagroso padre Victor de Três Pontas. Por fim, analisaremos o livro Padre Francisco de Paula Victor: o Homem de Deus para o mundo, publicado em 2004, por Maria Rogéria de Mesquita e Nilce de Oliveria Piedade, através da Associação Padre Victor de Três Pontas. A partir destes registros procuramos demonstrar a implicação da condição racial na trajetória social de Padre Victor e também, que a sua atuação como educador foi um dos elementos acionado para construir a condição de homem santo deste padre negro que viveu no sul de Minas Gerais.

MEDICINA E RACIALIZAÇÃO: A CONSTRUÇÃO DA BIOTIPOLOGIA DAS CRIANÇAS QUE FREQUENTAVAM AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS PERNAMBUCANAS

(1911-1945)

Adlene Silva Arantes

Neste texto buscamos compreender como se davam as ações médicas para construir a biotipologia das crianças que frequentavam as aulas de educação física nos grupos escolares e nas escolas isoladas da cidade do Recife na década de 1911-1945, com vistas a perceber como a biotipologia tentou estabelecer uma hierarquia entre brancos e negros a partir das suas práticas de racialização no ambiente escolar. A periodização aqui adotada tomou como referência inicial o momento de institucionalização dos grupos escolares em Pernambuco, enquanto que o marco final refere-se ao Estado Novo, período que foi marcado por uma preocupação mais acentuada do estado brasileiro em relação à definição da “figura do homem brasileiro.” Para tanto, foram elaborados muitos estudos antropométricos objetivando o estabelecimento do biótipo do escolar pernambucano. Tais estudos visavam criar turmas escolares homogêneas física e intelectualmente. Assim, as discussões em torno do higienismo e do pensamento eugênico se materializaram no universo escolar a partir das prescrições e normatizações que iam desde a construção das escolas até o seu funcionamento, marcando, portanto singularidades da cultura escolar especialmente no âmbito dos grupos escolares. Baseados nas discussões, comumente racializadas, a elite intelectual e política procurou explicar biologicamente o atraso pelo qual se encontrava a nação brasileira. Para tanto, a proposta apontada para sair daquela situação era a harmonização de um tipo nacional, buscando-se para isso o “branqueamento” da sociedade brasileira, ora de forma mais explicita ora mais velada. Utilizamos como fontes: leis, decretos, relatórios, regimentos, regulamentos e reformas da instrução pública, programas de ensino das escolas primárias, relatórios e jornais de grupos escolares, anuários estatísticos de ensino, mensagens de governadores sobre a educação, revistas do ensino, da área médica e de assuntos gerais. Nos baseamos teórica e metodologicamente na Nova História Cultural, além de estudos sobre o pensamento racial brasileiro e sobre história da educação no Brasil. Percebemos que nas escolas primárias a antropometria foi utilizada com o intuito de estabelecer o biotipo do escolar pernambucano. Nesse processo o fator racial era levado em consideração e a classificação adotada era a de Edgard Roquette-Pinto: leucodermos(brancos), faiodermos(brancos x negros), xantodermos(brancos x indios) e melanodermos(negros). Nesse contexto, destacamos o papel que teve a matéria de educação física no cenário nacional e local tendo em vista que as políticas de racialização, baseadas testes e medições antropométricas imprimiram a missão de revigorar a raça e garantir o estabelecimento de uma sociedade saudável fisicamente, intelectualmente e moralmente.

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Sessão Coordenada - 04

PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS, DIFUSÃO E ENSINO NA (E DA) HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: FONTES E `MÉTODOS

Coordenadora: DENICE BARBARA CATANI Eixo Temático: 3 - Fontes e Métodos em História da Educação

A proposta aqui apresentada unifica-se pelo propósito comum de compreender processos de produção do conhecimento histórico educacional mediante o exame de casos específicos do recurso a fontes e métodos diversos. As comunicações retomam e analisam, assim, entre outros aspectos, em especial, a utilização da legislação e dos manuais de ensino situando a discussão a partir de estudos desenvolvidos acerca de situações determinadas como a educação no Maranhão na primeira república e a elaboração de manuais escolares e os sentidos por eles assumidos no campo educacional, em São Paulo, no período entre as décadas de 1940 e 1950. Características dos processos de autoria e legitimação dos manuais são objeto de atenção. Também se confere lugar de destaque para as potencialidades da legislação (e de diversas outras fontes) no confronto entre as proposições oficiais e a concretização de práticas na vida escolar, a partir da análise da situação do ensino de história da educação em Minas Gerais constatando o baixo nível de correspondência entre prescrições e realizações no ensino. Questões ligadas à produção do conhecimento histórico educacional e suas configurações em países (como Portugal, França e Espanha), cujas relações com o Brasil tem sido marcantes, são o ponto de partida para a discussão sobre o trânsito de modos de interpretação, escolhas teóricas e recurso a fontes que predominaram entre nós desde a década de 1970. As comunicações em seu conjunto evidenciam a preocupação com as possibilidades de concorrer para a história do ensino, da produção de conhecimentos, das escolas e da profissão docente. As potencialidades e limites dos diferentes materiais são problematizados em cada um dos trabalhos bem como o são as questões relativas às experiências de identificação, sistematização e disponibilização, como se sublinha na investigação sobre a situação do ensino primário no Maranhão. Desse modo, é possível afirmar que os estudos reunidos na proposta caracterizam-se de forma convergente ao se ancorar, cada um deles, numa investigação específica de objeto e periodização autônomos e realizar, simultaneamente, incursões metodológicas que explicitam e debatem o potencial de fontes e métodos exemplificando marcas teóricas e enquadramentos diversos que mostram modalidades de construção de interpretações em História da Educação.

FONTES E MÉTODOS DE PESQUISA NA COMPREENSÃO DO NÍVEL DE CORRESPONDÊNCIA ENTRE OS OBJETIVOS FIXADOS E A REALIDADE DO ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Decio Gatti Júnior

Trata-se de uma reflexão teórico-metodológica realizada a partir de experiência de investigação sobre o percurso disciplinar da História da Educação na escola secundária e superior brasileiras, na qual houve emprego de evidências de pesquisa diversificadas. De um lado, no que se refere as fontes relacionadas ao exame das finalidades ideais, que podem ser melhor compreendidas na relação entre escola e sociedade, em sua variedade de projetos políticos e culturais, as fontes de investigação incluíram: as ideias educacionais veiculadas em livros, jornais e revistas; as legislações de ensino; as notícias veiculadas pela imprensa de modo geral e a pedagógica de modo particular; os programas de ensino; os manuais; os diários de classe; etc. De outro lado, compreendendo as fontes relacionadas às realidades pedagógicas, que compõe um universo de instituições escolares, com fontes que incluem: cadernos de alunos, provas escolares, iconografia, imprensa escolar e, quando possível, a construção de documentos escritos a partir de depoimentos orais. Consciente desta situação, a experiência de investigação que será relatada e sobre a qual repousa a presente reflexão, incluiu, primeiramente, o levantamento minucioso dos programas e dos manuais de História da Educação em circulação no Brasil desde o início da vigência da disciplina, do qual resultaram listagens completas, bem como com a montagem de um acervo documental integrado pelo conjunto destes documentos e obras, a partir do qual, tem sido possível desenvolver uma série de esforços de interpretação sobre o conteúdo definido para disseminação na disciplina. Ao lado deste esforço, outro de maior envergadura tem encontrado lugar na experiência de pesquisa, o que inclui o exame das práticas de ensino da disciplina História da Educação em instituições escolares específicas, neste caso, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no estado de Minas Gerais, tanto no nível secundário, mas, também, no nível superior, para o que um conjunto variado de fontes relacionado ao ensino veiculado nas salas de aula tem sido buscado e examinado, com resultados de grandes fertilidade para a

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compreensão do fenômeno histórico-educacional em tela. As conclusões parciais das investigações realizadas indicam o papel central de programas e manuais na formatação das finalidades ideais da disciplina História da Educação, todavia, com baixo nível de correspondência entre os objetivos fixados, em especial, no ensino secundário e na escola normal, e a realidade pedagógica da disciplina, ou seja, daquilo que foi efetivamente veiculado e trabalhado nas salas de aulas das instituições escolares examinadas. Palavras-Chave: Fontes, História da Educação, Disciplina.

A LEGISLAÇÃO COMO FONTE PARA A HISTÓRIA DA INSTRUÇÃO PRIMÁRIA NO MARANHÃO

César Augusto Castro Neste trabalho tratamos da instrução pública maranhense na primeira república partir das fontes legislativas. Esta fonte é de fundamental importância para a compreensão do movimento da instrução pública nos níveis primário e secundário, na medida em que a partir delas podemos identificar os vários procedimentos adotados pelos dirigentes do Estado para fazerem a “maquinaria escolar” funcionar. Ou seja, podemos compreender o modo pelo qual eram contratados os professores e as professoras, a criação e substituição de cadeiras, construção, reformas e adaptações dos edifícios escolares, locais e espaços onde eram edificadas essas instituições e os artefatos utilizados como livros, cadeiras, quadros parietais, cadernos, etc. Enfim, essas fontes representam as diversas estratégias adotadas pelos dirigentes para atenderem a crescente demanda por instrução no amplo território do Maranhão. Para a realização desta pesquisa nos centralizamos em duas perspectivas metodológicas. A primeira a realização de um levantamento bibliográfico para identificarmos estudos similares realizados no Brasil: Sá e Siqueira, em Mato Grosso (2000), Miguel e Martin, no Paraná (2000), CURY, (2005), na Paraíba e Stramatto e Gurgey no Rio Grande do Norte, por exemplo. Segundo passo foi à pesquisa documental junto ao Arquivo e Biblioteca Pública do Estado do Maranhão para mapearmos a massa documental armazenada e o estado de conservação da mesma. Em seguida, realizamos a catalogação das leis. Para tanto, elaboramos ficha onde descrevemos as fontes por ano, tipologia (lei, decreto, portaria), localização, estado de conservação, etc. Em seguida, os documentos foram transferidos para uma base de dados para indexação e recuperação da informação através de palavras-chave. Em paralelo transcrevemos as fontes localizadas e as que apresentaram bom estado de conservação, foram digitalizados e/ou escaneados e aquelas onde estes procedimentos não foi possível foram transcritas. Em seguida, realizamos a atualização ortográfica da documentação digitada/transcrita. A partir desses procedimentos iniciamos o processo de análise da legislação, dando ênfase às contribuíram para a estruturação e organização da educação maranhense procurando-se correlacionar as medidas impostas pelo regime republicano que trazia a ideia de uma escola moderna e capaz de propiciar o progresso e a civilidade do Maranhão. Destaca-se no conjunto da legislação (leis, decretos e portarias) as relativas aos grupos escolares, a Escola Modelo “Benedito Leite” e a Escola Normal, instituições mais representativas da educação maranhense no primeiro período republicano. Palavras-chave: Legislação educacional. Fontes Históricas. Maranhão República.

FONTES PARA A DIFUSÃO DA DIDÁTICA MODERNA NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: OS MANUAIS DO ENSINO GINASIAL E A AUTORIA DOCENTE NAS DÉCADAS DE 1940 E 1950.

Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas

A pesquisa mobilizou como fontes prioritárias os manuais de língua portuguesa para as séries ginasiais, editados nas décadas de 1940 e 1950, de autoria de professores paulistas, e a defesa do ensino do idioma pátrio através da didática moderna, que pregava o aprendizado da gramática a partir de textos literários. A coleção “Páginas Floridas”, de Francisco Silveira Bueno, editada pela Livraria Acadêmica, Saraiva e Cia e a “Coleção Didática do Brasil – Série Ginasial- Português”, assinada por Aída Costa foram selecionadas como exemplares representativos de compreensão da circulação de novos padrões didáticos por professores-autores que ocuparam posições relevantes no campo educacional paulista. A produção de pesquisas no campo da História da Educação, nas últimas décadas, tem demonstrado a importância das temáticas relacionadas com a História da Profissão Docente. Através de fontes diversas, registros da atuação de professores, suas práticas de formação e de docência, suas estratégias de organização e de produção de saberes, bem como, as trajetórias de diferentes professores e professoras estão sendo inventariados e analisados nas diferentes regiões do Brasil, entre outros estudos, que tratam destas temáticas, em diferentes estados brasileiros, indica-se: Catani (2003;2008); Bastos, Bencostta e Cunha (2004); Peixoto e Passos (2005); Vasconcellos e Nascimento (2006); Araújo, Freitas e Lopes (2008); Souza e Mignot (2008); Tambara e Corsetti (2008 e 2009); Vicentini e Lugli (2009). Legitimidade, experiência, competência didática comprovada, aprovação em concursos públicos, exercício do magistério em

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instituições de ensino renomadas, formação acadêmica, domínio de línguas estrangeiras, entre outros elementos parecem produzir “efeitos” específicos na autoria-didática, na primeira metade do século XX. Nos “conflitos de poder” estabelecidos entre as editoras para a seleção e manutenção de autores e coleções de livros, neste período, observamos que as disputas são travadas não apenas no campo educacional, mas também diante de “normas” que regem o campo editorial. Diante deste contexto, pode-se perguntar: por que, para que e para quem escreveriam os professores e as professoras? Em que medida a escrita docente de livros didáticos servia como mediação para os processos de legitimação na carreira do magistério? Seriam apenas objetivos materiais que estimulariam os professores e as professoras a escreverem livros didáticos? A pretensão do estudo foi contribuir com a História da Profissão Docente, e com a História das Disciplinas Escolares ao desvendar a trajetória de dois professores-autores, que difundiram o ensino de português e literatura, a partir de coleções, que foram produzidas em São Paulo, e tiveram circulação ampliada. Palavras-chave: Ensino Ginasial. História da Profissão Docente. Manuais.

A ESCRITA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DISTÂNCIAS E PROXIMIDADES NAS APROPRIAÇÕES DE FONTES E MÉTODOS NO CASO DAS PRODUÇÕES DE PORTUGAL, FRANÇA, ESPANHA E BRASIL

Denice Barbara Catani

O trabalho aqui apresentado beneficia-se dos resultados da investigação realizada sobre a produção de conhecimentos na área dos estudos educacionais e, em especial, sobre a produção dos estudos da história da educação no Brasil. Para tanto recorre à pesquisa dos processos que permitiram a construção e renovação de matrizes interpretativas a partir do exame da produção da área em países que sabidamente estabeleceram, nas últimas décadas, importantes relações acadêmicas com o nosso país, isto é França, Espanha e Portugal. Indicam-se, assim, as relações entre as transformações da escrita histórico educacional no Brasil e nos países citados atentando especialmente para as apropriações decorrentes de intercâmbios, deslocamentos e viagens dos conhecimentos. O projeto original ancorou-se numa delimitação temporal que abrangeu o período desde 1970 até a primeira década do século XXI. Procura-se aqui evidenciar os aspectos do estudo que se ligam à história educacional elaborada nos quatro países e que se mostra em teses, artigos e balanços efetuados sobre a produção e suas características de construção. Mantendo-se nos limites de uma perspectiva comparada mostra-se a partir dos resultados do projeto, algumas das características assumidas pela produção da história da educação e as transformações que caracterizaram a produção brasileira no período relacionando-as ao caso dos diferentes países mediante o exame dos procedimentos e escolhas teóricas recorrentes, ao privilégio conferido a tipos específicos de fontes e a autores representativos de modos de produzir a investigação-interpretação. Tanto quanto possível, para cada caso buscou-se, no desenvolvimento do projeto que sustenta a análise apresentada, dar conta das relações entre as condições do campo e as operações lógicas de análise. Desse modo, pode-se construir um entendimento das aproximações e distanciamentos na concretização da história da educação nesses espaços. Da observação de diferentes formas de apropriação decorrentes de intercâmbios, deslocamentos e viagens dos pesquisadores e dos conhecimentos é possível, na análise do material, identificar não apenas as dimensões da caracterização interna da produção, mas igualmente características devidas a especificidades das escolhas e posições de pesquisadores no campo em tempos diferentes. Dentre as referências que auxiliaram a análise na perspectiva dos estudos sócio- histórico-comparados cabe sublinhar Schriewer, Nóvoa e C. Charles dentre outros. Palavras-chave: Produção histórico-educacional, Estudos sócio- histórico- comparados, Escrita da história da educação.

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Sessão Coordenada - 05 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS DA NATUREZA: CONECTANDO

SABERES, OBJETOS PEDAGÓGICOS E PRÁTICAS DE ENSINO.

Coordenadora: KATYA MITSUKO ZUQUIM BRAGHINI Eixo Temático: 6 - História das Culturas e Disciplinas Escolares

A mesa apresenta uma discussão sobre a história da educação científica no Brasil entre a segunda metade do século XIX até finais dos anos 1960 investigando, os conteúdos de ensino de disciplinas científicas e a seleção cultural feita pela escola em relação a esses saberes. Busca-se a ampliação das discussões sobre a história do ensino das ciências considerando tanto as especificidades da vida escolar, como os nexos com o contexto sociocultural, nos seguintes aspectos: a ocupação dos saberes científicos nos curriculos escolares; as mudanças e permanências que ocorrreram nos programas de ensino ao longo do período indicado; o uso de objetos pedagógicos em espaços específicos para essa finalidade. O fato de o currículo humanista ter sido hegemônico por quase dois séculos de escolarização não apaga as discussões sobre a entrada e o fortalecimento das ciências da natureza no currículo escolar e nem a existência de objetos científicos, como conteúdos e recursos de ensino no Colégio Pedro II desde 1858. Trata-se, portanto, de pensar a constituição da educação científica em seus próprios termos e significados históricos construídos, apresentando os atores envolvidos e seus respectivos espaços de saber, fosse na docência ou no fomento de políticas educacionais, demarcando a necessidade do ensino das ciências como elemento para o progresso e, posteriormente, para o desenvolvimento do país. Propõe-se a criticar um tipo de pesquisa dito “histórico” do ensino das ciências que apela à evolução do tempo cronológico, percebendo-o como o único formato do tempo histórico, para tratar de “resgates” e “trajetórias”, entre os métodos de ensino mais antigos aos mais modernos, evidênciando a inovação como a principal qualidade das Ciências. Essa perspectiva parece desconhecer que a racionalidade científica não acontece por abstração pura em constante evolução, desconsiderando o jogo dinâmico, clivado no tempo, entre cientistas, professores, produção do conhecimento, produtores de materiais e processo de escolarização. Para tanto, os trabalhos da mesa apresentam as seguintes perspectivas: 1. A maneira pela qual os animais taxidermizados foram tornados materiais didáticos entre meados do século XIX e começo do século XX entendendo-os pela “biografia” do objeto, ou seja, por sua trajetória de uso, entre a apropriação, aquisição e abandono da prática escolar; 2. A análise de como era a relação entre os professores de ciências e o mercado de objetos didáticos científicos no estado de São Paulo no período da Primeira República, mostrando a dialética entre os interesses pedagógicos modernizadores e o estímulo comercial dado pelo mercado didático; 3. O programa de ensino e a análise das concepções de educação em ciências veiculadas nas reformas educacionais entre os anos 1920-1950; 4. A comparação dos programas de ensino de Química que foram propostos entre os anos 1940-1960 e a análise dos conteúdos conceituais e dos métodos de ensino que prevaleceram nesses documentos.

OS ANIMAIS TAXIDERMIZADOS PARA O ENSINO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

José Maurício Ismael Madi Filho O estudo teve por objetivo analisar a maneira pela qual animais taxidermizados foram tornados materiais didáticos entre meados do século XIX e começo do século XX. Nesse período, ocorreu a renovação dos currículos escolares, mais sensíveis ao ensino de ciências, acompanhado pela exigência do aprimoramento da “observação”, principalmente de coisas. A utilização de animais taxidermizados como ferramenta de ensino significava uma guinada pedagógica, já que apontava para um conhecimento dito “prático”, contrário à recitação. O teor do método intuitivo permeou o ensino Primário e o Secundário que se apropriaram da noção de treinamento da observação, também favorecida pela entrada das ciências no currículo. Escolas passaram a contar com gabinetes para o ensino de Física, Química e História Natural. Por meio do estudo dos animais taxidermizados, foi possível conhecer a biografia deste material “peculiar” dentro de um quadro histórico que compreendeu a sua produção; sua inserção na cultura, como itens ornamentais colecionáveis e/ou objetos de estudos para os naturalistas, antes mesmo de seu uso didático; a apropriação escolar; comercialização até o “abandono” dessa modernidade pedagógica em meados dos anos de 1950. Foi apreendido que esses itens aproximavam aos olhos dos alunos uma natureza distante e, na maior parte das vezes, selvagem. Tais artefatos serviam para que aluno fizesse a descrição e reconhecimento das especificidades do animal; a comparação entre os animais, da mesma ou de espécies diferentes; a classificação segundo o saber corrente da Zoologia que à época se fazia pelo estudo da sua morfologia, da anatomia externa do animal. Foi percebido que essas práticas visavam veicular e introjetar no

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público escolar, o próprio método científico das ciências naturais. Este estudo se ancora à temática da cultura material escolar e tem por referenciais Souza (2007), Escolano (2007), Law e Grosvenor (2005). Participa da ideia de que artefatos escolares são vetores das relações socioculturais presentes na escola. Para esse trabalho foi mobilizada a documentação escolar variada: a coleção de animais taxidermizados, do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo; os livros didáticos da Biblioteca do Livro Didático (FEUSP); legislações educacionais, manuais de naturalistas do século XIX, os relatórios produzidos pela França relativos às Exposições Universais dos seguintes anos: 1851, 1855, 1862, 1889. O presente trabalho apresenta os resultados obtidos em pesquisa de mestrado. Prática Escolar, Taxidermia, Cultura Material Escolar

A RELAÇÃO ENTRE OS PROFESSORES DE CIÊNCIAS E AS EMPRESAS FABRICANTES DE PRODUTOS DIDÁTICOS CIENTÍFICOS EM SÃO PAULO, PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: COMPRA,

CORRESPONDÊNCIA, CIRCULAÇÃO DE CONHECIMENTO

Katya Mitsuko Zuquim Braghini Os objetos invadiram o sistema de ensino no Brasil e no mundo, seduzido pelo fascínio de uma pedagogia dos sentidos. A ideia de obtenção de conhecimento por meio da experiência direta com a chamada “realidade” passou a elencá-los como recursos imediatos e meios vantajosos para que fosse executado o ato de ensinar. Na educação, tal processo que dependia da visualização direta de coisas para a obtenção de conhecimentos foi difundido sob a denominação de “método intuitivo”, fundamentado pela hipótese de que sujeitos aprendiam partindo de noções concretas às abstratas. O uso de artefatos como necessidade pedagógica instigou o interesse dos defensores deste método de ensino para o estímulo da “observação”, ação que, pelo uso dos sentidos, desencadearia graus sucessivos de entendimento e conhecimento no aluno. Esse movimento pedagógico instigou um mercado didático científico. Esse tipo de material foi adquirido, acompanhando os discursos educacionais que pregavam pelo avanço das ciências no currículo escolar. Instituições de ensino de todos os tipos passaram a comprar materiais científicos – máquinas, aparelhos, instrumentos, taxidermizados e modelos anatômicos – vistos como elementos distintivos que as posicionavam entre as escolas modernas; igualmente para exibi-los como curiosidades. Fabricantes dotavam-nas com o seus produtos, estimulando a circulação comercial; mas também, informavam e formavam os professores sobre o funcionamento desses mesmos objetos. Portanto, o vetor contrário, de que o mercado foi um grande estimulador do método intuitivo não pode ser descartado como hipótese. Essa comunicação tem por interesse apresentar como era o contato entre os professores e o mercado de objetos voltados ao ensino das ciências no estado de São Paulo, de modo a discutir como essa relação comercial foi acontecendo em meio à batalha de representações entre o estabelecimento de um “espírito científico”, frente à hegemonia de um currículo clássico. O caráter transnacional de tal situação, entre a aquisição de produtos, a recepção e apropriação de conhecimentos, entendendo tais ações como transferências interculturais, leva em conta os estudos de Ossenbach e Pozo (2011). Para a pesquisa foram investigados os seguintes documentos: catálogos de venda de objetos científicos; cartas entre professores e as empresas; registro de aulas de professores; atas de reuniões; inventários; anúncios diversos publicados em jornais; patrimônio científico-escolar etc. Esses documentos estão distribuídos pelos seguintes arquivos: Arquivo do Estado de São Paulo; Centro de Referências Mário Covas, acervo da Escola Normal; Primeiro Ginásio da Capital; Colégio Marista Arquidiocesano; Colégio Marista Glória. Ensino das Ciências, Mercado Didático, Cultura Material Escolar

APONTAMENTOS PARA UMA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS: PROGRAMAS DE HISTÓRIA NATURAL E BIOLOGIA DO ENSINO SECUNDÁRIO ENTRE OS ANOS 1920-1950

Maria Cristina Ferreira dos Santos

Os anos 1920 a 1950 no Brasil foram cenário de transformações sociais, políticas e econômicas, em que o país se afastou da tradição agroexportadora e se direcionou para a urbanização e industrialização. No primeiro governo de Getúlio Vargas foram empreendidas duas reformas educacionais importantes para o ensino secundário. A primeira foi a reforma Francisco Campos (1931), que se estendeu a todo o território nacional, instituindo a frequência obrigatória, a seriação do ensino secundário, a formação universitária específica dos professores secundários, e concedendo mais prestígio à educação em ciências no currículo escolar. A segunda foi a reforma Capanema, intitulada no texto legal como Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei nº 4244), que manteve os sete anos de duração do ensino secundário, caracterizando-se pela valorização da cultura geral e predominância do enciclopedismo, com a diminuição do tempo escolar para as disciplinas de ciências e aumento do tempo das disciplinas de humanidades. Gustavo Capanema valorizou o ensino de humanidades no ensino

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secundário, associando-o ao nacionalismo e à formação da elite dirigente do país. Com base nas contribuições teóricas de Goodson (1983, 1995, 1997) e Chervel (1990), este estudo pretende contribuir com reflexões sobre a organização das disciplinas escolares de História Natural e Biologia, com foco nos conteúdos e métodos de ensino entre os anos 1920-1950. Tomando como principais fontes programas de ensino e textos da imprensa pedagógica, o intuito foi compreender as concepções de educação em ciências veiculadas em documentos da época, na perspectiva de apontar mudanças e permanências nos conteúdos e saberes dessas disciplinas escolares. A análise indicou que a seleção e organização de conteúdos nos programas do ensino secundário se diferenciaram no período, com a presença da Botânica e da Zoologia, ramos tradicionais da História Natural, na maioria dos programas; a inclusão da Biologia Geral a partir do programa do curso complementar em 1931; e exclusão da Geologia e Mineralogia no programa de 1943. Das “lições” e “pontos práticos” nos programas dos anos 1920 aos métodos ativos e experimentais nos discursos dos anos 1930-1950, acentuou-se a tendência de valorização de uma educação com base científica e calcada em saberes especializados. Argumenta-se que as modificações nos programas de ensino de História Natural e Biologia na primeira metade do século XX sinalizam sua gradual reconfiguração, sob a influência do desenvolvimento das Ciências Biológicas desde o final do século XIX e das finalidades pedagógicas e sociais da educação escolar. Educação em Ciências, Ensino de Biologia, História das Disciplinas Escolares.

OS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO EM QUÍMICA: RUPTURAS E PERMANÊNCIAS

Reginaldo Alberto Meloni Neste trabalho serão apresentados alguns resultados obtidos durante o desenvolvimento do projeto “O ensino de Química no Brasil – 1945/1971” que definiu como objetivos: 1. Entender as concepções de educação em Química que predominaram no nível secundário entre o final da Segunda Guerra e a promulgação da Lei 5692/71 e 2. Fazer uma aproximação com as práticas pedagógicas escolares que foram estimulas para o ensino de Química nesse período. Nos anos 1950 e 1960, ocorreu um movimento com os objetivos de atualizar os conteúdos pedagógicos e promover métodos práticos para a educação em ciências que resultou, entre outras iniciativas, na criação do Instituto Brasileiro de Educação em Ciências e Cultura (Ibecc), na formação da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec) e nas traduções dos projetos de ensino elaborados por cientistas estadunidenses. Tendo em vista essas iniciativas e o contexto sociocultural da época, procurou-se responder a seguinte questão: qual foi o alcance das propostas de transformação da educação, especialmente em Química, elaboradas nesse período? Ou, formulada de outra forma: as propostas de modificação da educação em ciências se concretizaram na escolha dos conteúdos conceituais e na opção dos métodos de ensino? Visando responder a essas questões, tomaram-se como referência as ideias de Chervel, sobre a possibilidade de tratar a disciplina escolar como um objeto histórico, e as ideias Goodson, sobre a construção social dos currículos, para se analisar as transformações dos programas de educação em Química, no contexto do pós-guerra e o impacto que a “comunidade disciplinar” ou “comunidade de referência”, entendida como o grupo com mais poder de legitimação da disciplina escolar, exerceu sobre a definição dos programas de ensino de Química. Para a realização dessa análise foi feita a comparação entre os programas de ensino de Química que foram propostos em 1943 e em 1951, e as orientações que surgiram para essa disciplina após a promulgação da LDB, em 1961, que vigoraram em termos legais até a reforma educacional promovida pelo regime militar com a Lei 5692/71. Os resultados apontaram que, nesse período, houve uma mudança nas concepções de educação em Química. Em relação aos conteúdos conceituais, os temas sociais ou mais próximos da vida cotidiana foram substituídos por conteúdos conceituais mais abstratos e, no caso das metodologias de ensino, houve um retorno à “química descritiva” em detrimento das metodologias ativas. Educação em Química, Programas de Ensino, Currículo de Ciências

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Sessão Coordenada - 06

ESCOLAS ISOLADAS: A FACE OCULTA DA ESCOLA PRIMÁRIA BRASILEIRA

Coordenadora: MARIA CRISTINA SOARES DE GOUVEA Eixo Temático: 6 - História das Culturas e Disciplinas Escolares

ESCOLAS ISOLADAS URBANAS: ENTRE O INVESTIMENTO E A PRECARIZAÇÃO (BELO HORIZONTE 1906/1927)

Maria Cristina Soares de Gouvea

O trabalho busca resgatar a presença de escolas isoladas na cidade de Belo Horizonte, no período entre a Reforma de 1906, que instituiu a escola graduada no estado mineiro e a Reforma de 1927, que implementou a pedagogia escola novista, tendo como fontes a legislação educacional, relatórios de inspetores, correspondências oficiais, cartografia. Tem-se em vista apreender o lugar social das escolas multiseriadas, após a implementação da escola graduada. O projeto republicano de instrução centrou-se naquele período na criação dos grupo escolares. Tal projeto era voltado para os espaços urbanos, demandando recursos para prédios, funcionários e cultura material sofisticada. Porém, as condições históricas de um país rural, com um modelo federativo que imputava aos estados a responsabilidade pela instrução determinaram um alcance limitado e socialmente restritivo das escolas graduadas. As escolas isoladas permaneceram numericamente dominantes no país até meados do século, embora secundarizadas nas políticas de instrução e demonizadas nos discursos dos educadores e dirigentes, produzindo seu apagamento na história e historiografia da educação primária. Ainda que presentes nos centros urbanos, afirmou-se historicamente a associação entre escola rural e escola isolada, representantes do atraso e ineficiência na oferta da instrução. No caso de Belo Horizonte, cidade republicana planejada para reproduzir na ocupação dos espaços a estratificação social, observa-se a dificuldade do acesso à escola graduada por parte dos setores populares. Os recursos foram concentrados na criação dos grupos escolares, inicialmente localizados no centro da cidade, atendendo aos extratos superiores, precarizando-se as escolas isoladas, que atendiam preponderantemente à população pobre das zonas suburbana e colônias agrícolas. Observa-se, ao longo do período, oscilação e ambiguidade nas políticas de instrução dirigidas a estas escolas na cidade. Por um lado, verifica-se um progressivo investimento na sua qualificação, com elaboração de plantas que padronizassem os prédios, pagamento igualitário dos docentes dos grupos( desde que normalistas), financiamento de auxiliares de ensino. Por outro, mobiliário, material didático, presença de caixa escolar(recurso que buscava garantir a frequência dos alunos) eram secundarizados em relação aos grupos. Tal ambiguidade do projeto de instrução é demonstrativa do modelo restritivo de cidadania da primeira república. No caso de Belo Horizonte fez-se presente tanto a elitização dos grupos escolares, quanto o investimento, ainda que limitado, nas escolas isoladas, configurando- as como um mal necessário, ante as dificuldades de universalização da instrução. Palavras chave: cidade- escola isolada- República

ESCOLAS ISOLADAS PÚBLICAS E PRÁTICAS DE SERIAÇÃO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (1916- 1950).

Amália Cristina Dias da Rocha Bezerra

Apresentamos resultados de pesquisa concluída sobre os tipos de escolas primárias existentes no município de Iguaçu, estado do Rio de Janeiro, entre 1916-1950. O município apresentou uma significativa expansão na oferta de escolas primárias nas primeiras décadas republicanas. A partir da análise dos mapas de frequência escolar – ferramenta de inspeção estadual das escolas – foi possível restituir um perfil de escolas primárias. A escola isolada predominou como tipo de organização das escolas, tanto em áreas rurais quanto urbanas do munícipio. Os mapas de frequência, ao fornecerem indícios que permitem situar a distribuição nas escolas em um mesmo município, constituem uma fonte importante para os estudos de história local. O trabalho sistemático realizado e o cruzamento com outras fontes revelaram a expressiva presença de escolas públicas estaduais e municipais de ensino primário em Iguaçu e no distrito-sede – nas décadas de 1930 e 1940. A presença de escolas foi maior no distrito-sede em todo período coberto pela pesquisa. A localização das escolas no distrito- sede revelou a maior presença de escolas de localização urbana, nas principais ruas e no entorno central do distrito-sede. A experiência da microanálise imposta por este tipo documental institui uma escala de observação para a

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compreensão da diversidade e heterogeneidade dos processos de escolarização. Quanto ao formato das escolas, da seriação de ensino ofertada, da organização de turnos, dos professores e alunos por elas distribuídos, localizamos a existência de múltiplas experiências de escolas primárias no município, sendo, contudo, predominante a escola isolada com até as três primeiras séries do ensino. A comparação da movimentação de alunos por classes, séries e turnos restitui um cotidiano diversificado. Quadro de adjuntos, turno, série e classe eram variáveis agregadas de diferentes modos, revelando a coexistência de tipos diferentes de escolas e as apropriações realizadas dos termos classe, série, turno, em face da implantação do novo regime de organização das escolas. Nas contradições que permearam este processo, observava-se o contraste entre a homogeneidade pretendida pelos projetos de norma zação elaborados pelo estado, e a pluralidade das experiências, a instabilidade, as estratégias promovidas para povoar as escolas de alunos, professores, modos e condições de funcionamento. Estes resultados da pesquisa agregam subsídios ao debate historiográfico sobre a importância das escolas isoladas públicas nos processos de expansão da escola primária nas primeiras décadas republicanas. Palavras-chave: escola isolada, mapa de frequência, seriação. “ PEQUENOS FOCOS DE LUZ”: AS ESCOLAS ISOLADAS NO PERÍODO DE IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO

ESCOLAR SERIADO NO RIO GRANDE DO SUL

Natália de Lacerda Gil Este trabalho centrou-se no exame das representações das escolas isoladas na documentação do estado do Rio Grande do Sul durante o início do século XX. Embora seja inegável que a escola seriada tenha sido identificada como uma instituição de melhor qualidade ao longo desse período e progressivamente tenha passado a predominar em termos quantitativos, esse processo não se deu sem resistências. A historiografia da educação recentemente tem dado maior atenção a essas escolas numerosas e reputadas quase sempre como de pior qualidade, cuja existência deveria durar apenas enquanto ou onde não se tivesse condições de substituí-las por uma escola seriada. É no sentido da compreensão das representações acerca dessas escolas que este estudo pretende contribuir. Opera-se aqui a análise a partir do conceito de representação, conforme definido por Roger Chartier (2002). Ou seja, busca-se compreendê-la como percepções do social que mobilizam estratégias e práticas pretendendo impor-se sobre outras. Nesse sentido, objetivou-se compreender a coexistência de discursos antagônicos como evidência da luta de representações. Numerosas no estado do Rio Grande do Sul, as escolas isoladas vão existir/resistir por um longo período – fisicamente, é certo, mas também no imaginário das pessoas que, mesmo recentemente, estudaram nessas instituições. Até pelo menos os anos 1940, a matrícula nessas escolas, de diversos tipos e administradas por diferentes instâncias, foi numericamente mais expressiva do que a das escolas seriadas, cuja instalação se deu em 1909 no estado. Nem sempre essas representações reportam uma escola precária, indesejável. Aqui, interessa sublinhar a necessidade de aprofundar os estudos sobre essas escolas sul-rio-grandenses, buscando conhecer suas características, as resistências e os arranjos na composição com o novo modelo. Neste estudo, num primeiro momento, tentou-se evidenciar a expressiva participação das escolas isoladas nas matrículas do ensino público no estado durante a primeira década de funcionamento da escola seriada. Em seguida, pretendeu-se destacar aspectos do discurso oficial ressaltando as oscilações entre a defesa desses “pequenos focos de luz” espalhados pelo amplo território do estado e a proposição de sua substituição pelos colégios elementares e grupos escolares, que puseram em funcionamento no Rio Grande do Sul o modelo seriado. Para tanto, foram analisados os Relatórios da Secretaria do Interior e do Exterior publicados entre 1909 e 1920, além da legislação que regulamentou o funcionamento da instrução pública no período. No que se refere à legislação, foi dada especial atenção ao decreto nº 89, de 2 de fevereiro de 1897, que reorganiza a instrução pública do estado em consonância com as necessidades do novo regime político. Palavras-chave: escola isolada, escola seriada, matrículas

DE ESCOLAS ISOLADAS AOS GRUPOS ESCOLARES: O ENSINO CONFORME A ORIGEM SOCIOECONÔMICA

Maria Angélica Cardoso

Esta pesquisa tem por objeto a organização do trabalho didático nas escolas isoladas paulistas no período de 1893 a 1932. Neste período ocorreu a criação e a predominância dos grupos escolares sem, contudo, extinguir-se as escolas isoladas. Fundamentando-se no método histórico-crítico, foi estabelecida a organização do trabalho didático como categoria de análise, objetivando analisar a história e a forma como estas escolas se organizaram didaticamente para atender à camada pobre, enquanto os grupos escolares voltavam-se à camada média, em formação naquele período. A fundamentação teórica tem por base os trabalhos de Saviani (2008); Alves (2005);

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Marcílio (2005); Souza (1998, 2009); Reis Filho (1995); Infantosi (1983). Os documentos impressos e manuscritos, constantes no Arquivo do Estado de São Paulo, foram as fontes primárias consultadas. No primeiro período republicano, a necessidade de universalização da instrução pública brasileira levou à criação dos grupos escolares, que atendiam, inicialmente, aos grandes centros urbanos; para os centros menores e bairros populosos, criaram-se as escolas reunidas. Contudo, estas escolas não atendiam aos bairros afastados, periféricos, às vilas, nem às áreas rurais; locais onde a instrução deveria chegar também, para alcançar a universalização pretendida. Coube, então, às escolas isoladas assumiram a função de dar uma formação básica – leitura, escrita e as operações elementares da aritmética – à população pobre, residente nesses locais. Funcionando em casebres, as Escolas Isoladas herdaram das Escolas de Primeiras Letras, principalmente, o atendimento, em uma só sala, por um único professor, com crianças de idades variadas e em diferentes níveis de adiantamento. Conforme Souza (2009), enquanto os grupos escolares caracterizavam um tipo de escola de melhor qualidade, consolidava-se um sistema escolar excludente, privilegiando determinados setores sociais e discriminando setores populares de menor poder aquisitivo. Para Cunha (1978) as escolas elementares, destinadas aos filhos dos trabalhadores, eram de qualidade muito baixa, a educação por eles recebida era incomparavelmente inferior à dos filhos das classes dominantes e das camadas médias. No período da Primeira República brasileira foi conveniente manter as escolas isoladas para atender às classes populares suburbanas e/ou rurais, economicamente carentes, educando, em pouco tempo, crianças cujo serviço era muito cedo aproveitado pelos pais. Nos grandes centros urbanos, os grupos escolares atendiam aos filhos dos trabalhadores mais especializados e, para a elite, escolas particulares nacionais ou estrangeiras. Palavras-chave: Escolas Isoladas; Grupos Escolares, Organização do Trabalho Didático.

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Sessão Coordenada - 07

INSTITUIÇÕES FEMININAS CONFESSIONAIS E DIVERSIDADES DE PRÁTICAS EDUCATIVAS

Coordenadora: ANA CRISTINA PEREIRA LAGE Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

Esta proposta de comunicação pretende articular quatro pesquisas no âmbito da História das Instituições educativas, em diversos espaços e temporalidades brasileira. Insere-se no eixo História das Instituições e práticas educativas e pretende dialogar com a história da instalação de diversas congregações confessionais femininas no Brasil, a implantação de suas escolas e as práticas educativas desenvolvidas no interior das instituições aqui analisadas. O diálogo das pesquisas aqui apresentadas busca perceber as proximidades e distanciamentos das práticas educativas, nas suas culturas congregacionistas. Além disso, busca-se articular a análise das práticas educativas com as diferenças étnicas ou sociais no interior de cada instituição. Percebe-se que, além de educar meninas das elites e pagantes, com o intuito de praticar uma ação caritativa, as instituições confessionais femininas católicas aceitavam educar e preparar para o trabalho meninas pobres ou órfãs. Esta era uma prática comum na maioria destas instituições desde o início do período moderno, variando no público assistido e no tipo de atividade ensinada de acordo com as regras da Congregação religiosa e com as necessidades do espaço de instalação da obra caritativa. No período Moderno, para além da preparação para o casamento e para a maternidade, as instituições femininas católicas, além do preparo da instrução e da moralização, foram também responsáveis por preparar as educandas para o desenvolvimento de diversos tipos de trabalhos, principalmente domésticos e manuais. A história das instituições escolares faz parte de uma tendência recente das pesquisas historiográficas, especificamente dentro dos quadros de temáticas regionais. Muitas pesquisas se perdem no singular, mas salienta-se que é importante perceber o particular, mas sem perder de vista o geral. Como as instituições são criadas para satisfazer determinadas necessidades humanas, elas tornam-se unidades que estão sempre em construção e transformação. Constituem-se como um sistema de práticas, com agentes e instrumentos que atinjam as finalidades esperadas. Quando pensa-se em instituições educativas, trabalha-se com um emaranhado de instituições que existem em determinado espaço e tempo para a construção e ordenamento da educação de um determinado grupo social. Assim, esta proposta de comunicação coordenada pretende trabalhar as especificidades da instalação de determinadas congregações femininas e a criação de instituições educativas em territórios distintos. A diversidade das análises das instituições propiciam a percepção de aproximações e distanciamentos nas práticas educativas das congregações católicas aqui analisadas: A Congregação das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo; a Congregação de Nossa Senhora de Sion; a Congregação das Filhas da Imaculada Conceição; por fim, uma comparação entre as Congregações Nossa Senhora do Calvário de Gramat e Sagrada Família de Bordeaux.

AS FILHAS DE CARIDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO E O COLÉGIO PROVIDÊNCIA: PRÁTICAS EDUCATIVAS DIFERENCIADAS PARA ALUNAS PAGANTES E ÓRFÃS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO

XIX (MARIANA, MG)

Ana Cristina Pereira Lage Este trabalho pretende dialogar com as discussões teóricas acerca da História Conectada, a partir das reflexões propostas pelo historiador francês Serge Gruzinski. Segundo este, para que ocorram trocas entre culturas distintas e enraizamentos nos locais de instalação de um novo grupo cultural, torna-se necessário aplicar práticas de contato entre os dois polos culturais. Assim, quando as Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo chegaram em Mariana em 1849, estabeleceram contato com os seus superiores em Paris por meio de cartas, que conectavam a obra mineira com a obra parisiense. Pretende-se então trabalhar com a análise das cartas enviadas a Paris pela Primeira Superiora de Mariana (Irmã Dubost), entre os anos de 1849 e 1854 e verificar as conexões estabelecidas para a implantação do Colégio Providência em Mariana. O material pesquisado totaliza 81 cartas, sendo 59 destas encaminhadas à Superiora de Paris, 14 ao Superior Geral da Congregação da Missão, e oito para pessoas variadas da Congregação. As correspondências buscavam assegurar a regularidade das ações e da preservação da cultura organizacional vicentina em solo brasileiro. As cartas estavam repletas de juízos, referenciados nos valores franceses, católicos e congregacionistas e são considerados primordiais para o estabelecimento das práticas educativas das vicentinas no solo mineiro. Inicialmente propuseram o desenvolvimento de diversas obras caritativas em Mariana, mas logo voltaram as suas atenções para a educação

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feminina: órfãs, pobres ou ricas. O acolhimento das meninas mais abastadas estava relacionado à manutenção financeira das demais obras da Congregação, mas foi especificamente a prática educativa que proporcionou o distanciamento dos princípios originais, ocasionando mudanças na cultura organizacional, por meio do desenvolvimento, fortalecimento e expansão do Colégio Providência. A demonstração da capacidade adaptativa das Filhas de Caridade em Minas Gerais chega até a atualidade, pela própria historicidade e existência do referido colégio até os dias de hoje. Verifica-se que, no início do funcionamento do Colégio, a educação constituía-se da divisão das turmas em dois grupos, que ficavam, cada um, a cargo de uma professora. A divisão das alunas era de acordo com a idade, e não de acordo com sua condição, já que órfãs, meninas pagantes e não-pagantes ficavam na mesma sala. Mas logo, as diferenças nas práticas educativas entre as meninas pagantes e aquelas órfãs e não–pagantes foram delimitadas, uma vez que as primeiras receberam uma formação desejada pelas famílias mineiras, nos moldes de uma civilidade francesa, especialmente no aprendizado de língua estrangeira e do piano; já as demais alunas eram preparadas para o aprendizado do trabalho manual, como atividades de limpeza, costura, etc.

UMA VISÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO FEMININA NO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX

Maria Alzira da Cruz Colombo Minha pesquisa sobre a educação das jovens nas sociedades francesa e brasileira constitui meu primeiro argumento para compreender o papel dos colégios católicos e suas práticas educativas, que se desenvolveram no final do Império e início da República. A atuação pioneira das religiosas francesas corresponde a um campo rico para a compreensão da educação das jovens brasileiras, quando algumas congregações vieram para o Brasil especialmente para fundar estabelecimentos de ensino para as filhas da oligarquia cafeeira e industrial. Era grande a influência entre nós da cultura francesa e os pais de família costumavam enviar suas filhas para internatos na França para que recebessem uma educação requintada. A vinda dessas religiosas ao solo brasileiro veio ao encontro dos anseios dessa oligarquia, sem os altos custos de enviá-las à Europa. O sistema educativo francês permaneceu no XIX, dividido em classes sociais. O ensino secundário era acessível apenas à burguesia, uma pequena porcentagem da população. Ele era diferenciado também de acordo com os sexos. O sistema disponibilizava aos rapazes uma variedade de estabelecimentos (particulares e públicos), que davam acesso à universidade e os preparavam para as profissões liberais. As jovens, por sua vez, eram educadas para se tornarem boas donas de casa, com aulas de costura, lições de música, com destaque para o piano, a harpa e o canto. No Brasil, a situação não era muito diferente. Até meados do século XIX não havia preocupação com a educação feminina. Tal informação é confirmada pelos viajantes de exterior que visitaram o Brasil nessa época. Em 1827, a lei da Instrução passou a exigir “escolas das primeiras letras” nos municípios mais populosos. As meninas tiveram acesso ao ensino básico das quatro operações matemáticas, leitura e escrita, enquanto os meninos tinham acesso às demais disciplinas mais “científicas”. A influência da cultura francesa e dos princípios liberais que norteavam a política e as sociedades dos países desenvolvidos europeus veio provar aos pais de família que não era possível manter as mulheres ignorantes, sabendo cuidar apenas da casa e dos filhos. Era preciso que estudassem mais para poderem conversar com os filhos. A partir de 1850, com a abolição do tráfico negreiro, iniciou-se no Brasil um período de profundas transformações econômicas, sociais e políticas que viabilizaram o aparecimento e crescimento das escolas para as jovens nas principais cidades da região sudeste do país. Elas foram criadas principalmente pelas ordens religiosas francesas. Nesse trabalho, pesquisei fontes variadas: arquivos públicos e privados da congregação Notre Dame de Sion, uma das primeiras a chegar ao Brasil no final do século XIX. Estudei os contextos político, social e religioso nos quais viveram as irmãs e alunas de São Paulo.

A CENTRALIDADE DAS IMAGENS NA EDUCAÇÃO CATÓLICA: MEMÓRIA E IMITAÇÃO NA FORMAÇÃO DE RELIGIOSAS

Paula Leonardi

Esta comunicação analisa as práticas formativas de religiosas no interior de duas congregações católicas francesas que enviaram religiosas para o Brasil no início do século XX: Nossa Senhora do Calvário de Gramat e Sagrada Família de Bordeaux. Tendo desenvolvido suas comunidades no Brasil e com o recrutamento local, essas religiosas enviaram as noviças brasileiras para formação em suas casas na França. Francesas e brasileiras, as religiosas atuaram na educação no Brasil nas primeiras décadas do século em escolas ou fora delas. Dessa forma, essas práticas são analisadas no trânsito França-Brasil e vice-versa procurando relacioná-las com seu tempo, a origem social dessas mulheres, a cultura de seus países. Intenta compreender de que forma esses elementos se

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relacionam de modo a oferecer a possibilidade de seguir determinada “carreira” no interior da instituição. Utiliza como fontes crônicas, circulares e excertos de cadernos de noviças. Havia três períodos na passagem de uma freira por uma congregação religiosa que permanecem os mesmos até os dias de hoje: formação, vida ativa e aposentadoria, coincidentes, respectivamente, com a adolescência, vida adulta e velhice. O período de formação divide-se em: aspirantado (que correspondia ao período do colégio), postulantado e noviciado. A análise das fontes aponta que, desde seu ingresso na vida religiosa, a aspirante se vê imersa em imagens e em um programa visual que tem por fim atingir a memória individual por meio de exames de consciência e exercícios espirituais. O uso da memória com fins morais utiliza as imagens agentes (Yates) a fim de lembrar a religiosa em formação do bom o do mau caminho mas, também, de oferecer-lhe um modelo a ser imitado. As virtudes cardeais e teológicas combinavam-se, em momentos de recordação, nos personagens imediatos que emprestavam suas qualidades dos modelos supremos: José, Jesus e Maria. Esses modelos deveriam, por sua vez, combinar-se em uma forma de educação específica que imprimisse nas almas das futuras freiras suas virtudes. Educar, nesse sentido, seria, como queria Durkheim, inscrever o mestre nas almas de suas alunas. Para ele, o homem só se tornaria ser moral quando incorporasse o Outro, primeiro pela disciplina; em seguida se sacrificando, por amor ao Outro e às regras e; em um terceiro momento, alcançaria a autonomia da vontade, o que significa que concordaria com conhecimento de causa, isto é, obedeceria voluntariamente e desejaria ativa e deliberadamente as regras. É essa pedagogia que se inscreve nesses textos. Isto significa conseguir que a Regra seja livremente desejada por aquele que é educado. Ao alcançar esse objetivo, o discípulo estaria apto a reproduzir esse esquema e também ensiná-lo. Assim, a pedagogia do exemplo tem seu início e fim na perfeição da imagem especular. EDUCAÇÃO DE MENINAS E MOÇAS NA INSTITUIÇÃO SAGRADA FAMÍLIA (IPIRANGA – SÃO PAULO): A MARCA DA AMBIGUIDADE NO COTIDIANO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS (PRIMEIRAS DÉCADAS DO

SÉCULO XX)

Maria Aparecida Correa Custodio Os objetivos desta comunicação são analisar as práticas educativas – e as relações étnico-raciais embutidas nelas – de uma organização católica, a Instituição Sagrada Família, que nasceu de um projeto idealizado por Vicente de Azevedo (parlamentar e leigo abonado da Igreja de São Paulo), e operacionalizado pelas Filhas da Imaculada Conceição (congregação brasileira nascida em Santa Catarina no ano de 1890 e expandida para São Paulo em 1903). O ideal de Vicente de Azevedo era atender ex-escravos e seus descendentes, o que se materializou na inauguração de um asilo em 1903, o Asilo Sagrada Família, localizado à Avenida Nazaré, no Ipiranga. Esse asilo, gerenciado pelas Filhas da Imaculada Conceição e mantido pela Instituição Sagrada Família, na qual Vicente de Azevedo tornou-se seu primeiro presidente, assistiu exclusivamente às meninas negras durante seus primeiros anos de funcionamento (1904-1909); de 1909 a 1918 atendeu também os velhos negros, mas depois desse ano eles foram transferidos para que se pudessem receber mais meninas órfãs, cujas famílias haviam sido vítimas da gripe espanhola que grassou na cidade de São Paulo. Em 1918, em comum acordo com a Instituição Sagrada Família, as freiras deram mais um passo importante: criaram uma escola particular (anexa ao asilo) para meninas e moças das classes médias paulistanas, a fim de subsidiar financeiramente o asilo em um momento de grande instabilidade econômica, no contexto da Primeira Guerra Mundial. Esse estabelecimento escolar foi chamado Colégio São Luiz Gonzaga e depois renomeado Colégio Sagrada Família; funcionou no Ipiranga até 1961 e depois foi transferido para a Via Anchieta, mudando também sua nomenclatura para Colégio Regina Mundi (funciona até hoje nesse lugar). A ideia básica desta comunicação é explorar a seguinte questão: as práticas educativas nesses espaços – asilo e colégio – podem ser analisadas a partir da marca da ambiguidade, pois as irmãs passaram a fazer distinção de sua clientela com base no critério de raça e de classe social. Desse modo, funcionaram dois projetos distintos de educação, que desembocaram em diferentes práticas educativas e em diferenças de tratamento às meninas do asilo e às meninas do colégio, em termos de grau de estudo, rotina escolar e de trabalho, alimentação, vestimenta, instalações físicas etc. A problemática anunciada foi apreendida da documentação examinada, sobretudo, depoimentos escritos de irmãs que trabalharam no asilo e no colégio nas primeiras décadas do sec. XX e entrevistas realizadas com irmãs e ex-internas que também passaram pela “Sagrada Família”, os quais são cotejados com outros documentos institucionais (crônicas, cartas, biografias) referentes à história e à trajetória das Filhas da Imaculada Conceição.

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Sessão Coordenada - 08

HISTÓRIAS DE PRÁTICAS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES NO BRASIL: TEMAS E OBJETOS DE PESQUISA À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Coordenador: IRAN DE MARIA LEITÃO NUNES Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

As pesquisas em História da Educação apresentam tendências de concentração nas temáticas de história da profissão docente e das instituições escolares, história do currículo e das disciplinas e cultura e práticas escolares. Mas, os caminhos às pesquisas em História da Educação no Brasil, nas últimas décadas, exprimem uma ampliação e uma variação de temas, objetos e problemas de investigação, cujos resultados vêm sendo difundidos em livros, periódicos e congressos locais e nacionais do campo da História da Educação. Nesses termos, essa comunicação coordenada reúne pesquisadores dos Estados do Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e Maranhão, de distintas instituições de ensino superior, com o objetivo de discutir sobre práticas educativas nos espaços de formação escolares e não escolares, observando as formas de produção, apropriação e difusão dessas práticas em distintas configurações dos modos de educar no Brasil do final do século XIX e primeira metade do século XX, por entendermos que os caminhos de investigação à História da Educação interconectam a escola e instituições diversas, a cidade e o campo, bem como a cidade e a escola. Dessa maneira, essa investigação histórica que atenta para as práticas educativas nos espaços de formação escolares e não escolares tem um corpus documental amplo e distinto que é composto por fontes como decretos, leis, relatórios de instrução pública, fotografias, livros de memórias, jornais, cadernos e livros didáticos, códigos de posturas municipais, processos-crime, dentre outras fontes. Para o desenvolvimento da análise das práticas educativas demarcamos dois eixos de investigação: o primeiro abordará métodos, mateias e culturas escolares de instituições de ensino nas modalidades escola confessional e escola secundária; o segundo eixo enfatizará práticas educativas em instâncias de educabilidade e sociabilidade em espaços não escolares como as Igrejas, as praças públicas, os mercados e as ruas. Consideramos a divisão para efeito formal, os dois eixos imprimem permanente diálogo, enriquecendo a sistematização dos resultados, pois as práticas educativas ocorrem em ambos os espaços, assumindo formas socioculturais. Contudo, quando (de)limitamos a análise às práticas educativas nos espaços de formação escolares e não escolares, abrimos novas frentes de investigação, com vistas não só ao espaço escolar e suas variáveis, mas, também, às práticas socioculturais, corroborando com um entendimento amplo de educação. Palavras-chave: Práticas educativas, Espaços escolares, Espaços não escolares. .

PRÁTICAS EDUCATIVAS EM ESPAÇOS ESCOLARES CONFESSIONAIS: O SAGRADO E O PROFANO DOS RITUAIS FESTIVOS

Iran de Maria Leitão Nunes

No conjunto das práticas educativas realizadas nos espaços escolares encontramos aquelas que ainda carecem ser mais evidenciadas: as festas religiosas, acadêmicas e cívicas. Compreendemo-las como rito e festa, que se interpenetram e cuja “linha divisória é tênue”, conforme Segalen (2002), identificando-as no âmbito de uma escola confessional masculina nas primeiras décadas do Século XX, em São Luis do Maranhão, e analisando-as como, na constituição da cultura escolar (JULIA, 2001), elas contribuíram para a formação do “bom cristão e o virtuoso cidadão”, lema do Instituto dos Irmãos Maristas, à luz das orientações da Igreja Católica. Estas estavam explicitadas na Encíclica "Pascendi" e no Decreto "Lamentabili", do Papa Pio X" publicados em 1907, os quais destacaram o papel da educação realizada nos seminários, colégios e universidades católicas na defesa de seus posicionamentos antimodernistas. No Brasil, foi dada ênfase à educação dos jovens por meio das escolas católicas e das publicações de periódicos católicos, como mecanismos de oposição à mentalidade liberal-positivista, tendo em vista a reação católica ao clima laicista pós-proclamação da República. (CURY, 1978). Os Irmãos Maristas somaram-se a outros institutos religiosos europeus presentes no País na formação de um novo tipo de laicato, oriundo, em sua maioria, da classe média, surgindo e consolidando-se uma nova cristandade conservadora. Assim sendo, do bom cristão era esperado que assumisse estas orientações em sua vida; frequentasse, regularmente, os sacramentos e defendesse sua fé. E do virtuoso cidadão, que se posicionasse como cidadão católico, defensor da educação, da família e da imprensa católicas, diante deste contexto. Para tanto, as referidas festas constituíram-se em “uma verdadeira ação pedagógica”, e em ritos, como “maneiras de agir” (DURKHEIM, 1996) e como “maneiras de fazer”, num processo de sacralização do profano, tendo em vista “um viés sagrado ou sacralizante” do divertimento. Os registros destas práticas educativas foram encontrados

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nos 23 exemplares do jornal "Labor” publicados pelos alunos do Colégio “São Francisco de Paula”, de 1913 a 1917, e no Jornal "A Tarde", de 1915, que foram localizados nos arquivos da Biblioteca Pública “Benedito Leite”, em São Luís do Maranhão, em 1999, quando da elaboração de minha Dissertação de Mestrado, intitulada: “Os Primórdios da Obra dos Irmãos Maristas no Maranhão (1908-1920)”. O “Labor” era publicado mensalmente com quatro páginas, nas quais eram distribuíam artigos e notícias registrando, detalhadamente, os eventos mais importantes do Colégio. O estudo revela como estas práticas reforçaram a identidade educativa do Instituto Marista por meio da incorporação de seus princípios pedagógicos, mediante os atos de atribuição e pertença por parte de seus docentes e discentes. Palavras-chave: Práticas educativas, Espaços. Rituais.

ESCOLA DOMÉSTICA DE NATAL: PRÁTICA ESCOLAR FEMININA NO RIO GRANDE DO NORTE

Andréa Gabriel Francelino Rodrigues Pesquisa de cunho histórico que apresenta como objeto de análise a instituição escolar Escola Doméstica de Natal, discutindo a multiplicidade dos atores e práticas envolvidas na escola que melhor definiam e explicavam os fenômenos daquela realidade educativa e das relações com o tempo e o lugar em que estava inserida. Os conceitos de memória e cultura escolar foram fundamentais para a compreensão dessas práticas, porque contribuíram para fazermos uma leitura histórico-cultural do conjunto de aspectos institucionalizados na escola, como o seu currículo, finalidades, modos de ensinar e aprender, condutas, normas, enfim, o que caracterizavam a sua organização e práticas cotidianas. Sendo a Escola Doméstica de Natal uma instituição pioneira no modelo de ensino voltado para a educação feminina no Brasil, priorizamos reconhecê-la e circunscrevê-la na sua contribuição à História da Educação norte-rio-grandense. Concebida por um modelo de organização escolar europeu para a educação feminina, a Escola Doméstica de Natal foi inaugurada em 1914, tendo como seu criador, o intelectual norte-rio-grandense Henrique Castriciano de Souza. Sua singularidade, divergindo das escolas femininas existentes no RN e no país naquele momento, advinha do modelo escolar adotado, que enfatizava a formação de uma mulher voltada para atender aos anseios modernos despontados com o advento da República. Esse ideário exigia, por parte da escola, a formação de um modelo de mulher em seus aspectos moral, físico, cultural e intelectual moldados nos ideais da ordem e do progresso. Essa seria uma nova forma de educação escolar que favoreceria a modernização dos velhos métodos de ensino, provocando o surgimento de modelos que implicariam numa nova organização pedagógica nas escolas existentes no Estado e conduziriam a cidade a novos e elevados patamares de cultura e civilidade. Estava presente, também a representação de que, com essa formação, a escola contribuiria para que a mulher atuasse na sociedade de forma mais ativa, social e ajustável ao meio. As palavras ordem, novo, civilidade, moderno e progresso circulavam e se entrecruzavam com valores arcaicos ainda arraigados e permanentes na visão da vida e na ideia de mundo de então. Assim, percebia-se a Escola Doméstica como instituição modelo, específica em sua função, que iria trazer para a cidade e, particularmente para o Estado do RN, ideias de civilidade, ordem e progresso. Palavras-chave: História da Educação, Cultura Escolar, Escola Doméstica. O COTIDIANO ESCOLAR DE INSTITUIÇÕES SECUNDÁRIAS CONFESSIONAIS NO SUL DE MATO GROSSO

Stella Sanches de Oliveira Silva

Com o intuito de acessar o cotidiano de escolas confessionais de cursos ginasiais no sul de Mato Grosso, entre as décadas de 1930 e 1940, buscou-se estudar os métodos elaborados, os materiais relacionados ao trabalho escolar e as práticas realizadas pelos professores no ensino das disciplinas. Duas escolas foram pesquisadas: o Ginásio Imaculada Conceição, em Corumbá, e Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora, em Campo Grande. As fontes desse estudo são documentos criados pelos inspetores federais de ensino secundário como “Termo ou registro de visitas” e “Relatórios” e emitidos pela instância federal - Divisão de Ensino Secundário - como “Circulares” e “Ofícios”, “Decretos” e “Exposições de motivos”. Com exceção dos decretos e exposição de motivos, o corpus documental foi encontrado no acervo das próprias escolas. Partimos do princípio de que apesar de estar inserido em um amplo e aprofundado sistema de regras, normas, instruções e legislação, por meio da cultura escolar é possível enxergar sujeitos que se inserem em práticas relativamente consolidadas permitindo possibilidades de construção de outras formas e modos de atuação e de hábitos. Formas e modos, ideias e pautas que conformam a realidade e extrapolam a determinação e o ordenamento, possibilitando outros sentidos. Assim, pela análise da cultura escolar percebida nos métodos e materiais imbricados às práticas cotidianas do ensino secundário vimos que o incentivo à autonomia do jovem, a capacidade de construir conhecimento pelo trabalho pessoal, a descoberta de novos caminhos e soluções de maneira individual eram aspectos em voga naquele momento no Brasil. Os relatos dos inspetores nos Termos de visitas forjaram um conjunto documental que permitiram

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enxergar práticas de professores, ainda que pelas lentes dos inspetores. O método intuitivo identificava-se ao ensino primário como fundamento teórico e pedagógico para o trabalho escolar do professor de crianças e, de certa forma, o mesmo método intuitivo era o referencial para a prática do docente secundário. O conhecimento escolar do curso ginasial pode ser entendido pela organização de um currículo com disciplinas escolares humanísticas e científicas sem necessariamente um equilíbrio dos números de aulas entre as duas tendências, consagrando aos estudos secundários um caráter predominantemente humanístico. Contudo, os discursos dos inspetores esboçados nos métodos de ensino para o curso ginasial, defendiam a ascendência científica nos estudos secundários, propondo um trabalho prático, baseado na observação e experiência. Palavras-chave: Ensino secundário, Cultura escolar, Escola confessional.

CIDADE E SOCIABILIDADES RELIGIOSAS (PRÍNCIPE, RIO GRANDE DO NORTE – SÉCULO XIX)

Olivia Morais de Medeiros Neta As sociabilidades apresentam-se como manifestações do social que formam e ditam habitus à vida urbana. Dessa forma, objetivamos problematizar as sociabilidades religiosas no Príncipe (atual cidade de Caicó, Rio Grande do Norte) no século XIX. O corpus documental é composto pelo primeiro livro de tombo da Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó (1748 – 1906), pelos livros de registros de batismo, de matrimônio e de enterramento e pelos Compromissos das irmandades de leigos de Santa Ana, do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade das Almas, aprovados pela Assembleia Provincial em 1836. Para a análise e interpretação das fontes, o estudo assenta-se no método indiciário, permitindo o apreço aos pormenores e a conciliação entre a racionalidade e a sensibilidade. Este trabalho se inscreve na dimensão da história cultural aqui empreendida, de conformidade com Roger Chartier e Peter Burke enquanto estudo dos processos com os quais se constrói sentidos, pois é preciso aproximá-la das configurações sociais e conceituais de um tempo e de um espaço próprios. As sociabilidades religiosas ocorriam com as preces, as novenas e missas, as procissões e reuniões das irmandades que glorificavam os santos ao mesmo tempo em que preservavam ritos e simbologias religiosas. As igrejas e outros espaços de culto e celebrações eram igualmente (se não principalmente) voltados ao convívio social, onde religiosidade e sociabilidade se (con)fundiam e se interpenetravam. Nesses termos, as missas, as novenas, os ofícios solenes, os sepultamentos, as visitas de covas, as palavras ouvidas nos sermões, as reuniões e eleições das irmandades, as visitas pastorais eram ritos e celebrações que faziam da Igreja e de seus representantes dispositivos de poder e de sociabilidades. Assim, as educabilidades vinculadas aos aprendizados decorrentes de sociabilidades religiosas versavam, em sua maioria, acerca da ação dos fiéis, de seus habitus frente à Igreja Católica e suas cerimônias religiosas e festivas seja para glorificar a Senhora Santa Ana, os santos protetores ou mesmo a celebração das exéquias solenes que se direcionavam à renovação da fé dos católicos e para o aprimoramento de comportamentos e atitudes ligados a uma vida religiosa. As sociabilidades religiosas, como as político-administrativas e jurídicas, ditaram formas de portar-se e com isso gestavam habitus específicos para assistir missas e novenas, sepultamentos e reuniões de irmandades ou mesmo posturas privadas, pois os preceitos eclesiásticos tinham desde cedo implicações, talvez sutis mas seguramente concretas, sobre o ordenamento citadino. Palavras-chave: Sociabilidade. Príncipe (Rio Grande do Norte). Século XIX.

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Sessão Coordenada - 09

HISTÓRIA DO ENSINO PÚBLICO RURAL E DE SUAS ESCOLAS: MEMÓRIAS, LEGISLAÇÃO, ECONOMIA DOMÉSTICA E PERSPECTIVA

CIVILIZATÓRIA

Coordenador: JOSEMIR ALMEIDA BARROS Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

Esta proposta de comunicação coordenada tem como finalidade ampliar os debates sobre a história do ensino rural e de suas escolas a partir de produções científicas de quatro pesquisadores; bem como acolher, dar visibilidade e gerar novas indagações a partir de memórias, legislações, economia doméstica e perspectiva civilizatória. Percebemos alguns desafios sobre o ensino público rural brasileiro no século XX, avanços e permanências no que se refere à história das instituições e de práticas educativas. Nessa modalidade de ensino que se apresenta com área de interesse comum em nossos estudos e pesquisas intentamos expor o funcionamento do ensino rural em alguns munícipios brasileiros. Acreditamos que as investigações sobre escolas situadas no meio rural permitam melhores entendimentos sobre as práticas educativas construídas e sedimentadas ao longo do tempo. Dessa forma, a mesa coordenada envolverá quatro pesquisas tratando de distintos subtemas relacionados à temática da história do ensino público rural e de suas escolas. O primeiro texto versa sobre Um intelectual na “província”: História do meio rural e de suas escolas nos escritos de Jerônimo Arantes (Uberlândia-MG, década de 1970) de autoria de Sandra Cristina Fagundes de Lima (PPGEd/FACED/UFU), a proposta é de compreender as representações do meio rural e de suas escolas engendradas no âmbito do memorialismo a partir Jerônimo Arantes. A comunicação abordada por Nilce Vieira Campos Ferreira (PPGed/IE/UFMT/Cuiabá/MT) intitulada Economia rural doméstica: educação para a mulher (1950-1962), discute o ensino de Economia Rural Doméstica que emergiu nas escolas brasileiras com o intuito de atender as demandas das instituições voltadas para o atendimento à extensão rural. O terceiro texto é de autoria de Gilma Maria Rios (UNIPAC/Araguari/MG) que traz ao debate a análise de questões pertinentes a organização do ensino rural dentro da política educacional do Estado Novo, seu título é a Organização do ensino público primário rural no município de Araguari e a Lei 13 de fevereiro de 1937. Por fim, ao tratar de questões que tangenciam a educação a partir dos preceitos da Republica civilizatória, o texto de Josemir Almeida Barros (PPGE/FaE/UEMG/B.Hte.) é centrado em algumas particularidades do ensino rural e traz com título O ensino público primário rural em Minas Gerais na perspectiva civilizatória (1899-1911). Entendemos que os textos ora apresentados para a composição da mesa coordenada são instigantes e significativos, portanto, contribuem para a abordagem histórica das instituições e suas práticas educativas no meio rural. UM INTELECTUAL NA “PROVÍNCIA”: HISTÓRIA DO MEIO RURAL E DE SUAS ESCOLAS NOS ESCRITOS DE

JERÔNIMO ARANTES (UBERLÂNDIA-MG, DÉCADA DE 1970)

Sandra Cristina Fagundes de Lima O tema de nossa pesquisa (financiada pelo CNPq e FAPEMIG) incide sobre a história das escolas e do ensino rural no município de Uberlândia-MG no século XX. A relevância desse estudo encontra-se no fato de que até aproximadamente os anos 1950, quando a população brasileira vivia majoritariamente no campo, as escolas rurais eram o locus privilegiado de alfabetização das crianças e, não obstante, a sua história ainda não se consolidou como objeto de investigação. Partindo, portanto, dessa temática, a questão aqui proposta consistiu em compreender as representações do meio rural e de suas escolas engendradas no âmbito do memorialismo, uma literatura produzida para exaltar a cidade quando as fronteiras com o campo ainda eram tênues. Para respondê-la elegemos o livro Cidade dos Sonhos Meus, escrito por Jerônimo Arantes na década de 1970 e publicado postumamente em 2003. Arantes nasceu em Monte Alegre-MG no ano de 1892 e faleceu na cidade de Uberlândia em 1983, onde foi professor, funcionário público (Inspetor de Ensino e Secretario Municipal de Educação), jornalista e, sobretudo, memorialista, pois nas horas vagas buscava documentos, recolhia-os e os organizava com vistas a reunir material empírico para escrever a história de Uberlândia. Além do arquivo que construiu, dos livros que escreveu, ele idealizou, produziu e editou, durante os anos de 1935 a 1961, a revista Uberlândia Ilustrada. Em virtude do envolvimento com os fatos que marcaram a história desta cidade, num período em que o meio rural ainda era mais povoado do que o urbano, assim como devido ao fato de que toda a produção escrita de uma história local, na primeira metade do século XX, era resultado do trabalho dos memorialistas é que os escritos de um deles serão tomados como fonte para se apreender as representações que

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construiu sobre o papel que esse meio, os seus habitantes e as suas escolas teriam desempenhado no processo de constituição e de consolidação do município. Os resultados aos quais chegamos demonstram que, embora escrevendo sobre um município marcadamente rural, Arantes construiu uma história apologética sobre a cidade, com a qual enfatizou o crescimento urbano, destacou o comércio, as escolas e o papel desempenhado pelos pioneiros. Em contrapartida, a história do espaço rural, de seus habitantes, de seus fazeres, de sua cultura e de suas escolas foi parcialmente silenciada e não encontrou nesse livro a acolhida necessária para ser divulgada. Palavras-chave: História do ensino rural, Meio rural, Memorialismo, Provinciano, Uberlândia.

ECONOMIA RURAL DOMÉSTICA: EDUCAÇÃO PARA A MULHER (1950-1962)

Nilce Vieira Campos Ferreira O ensino de Economia Rural Doméstica emergiu nas escolas brasileiras com o intuito de atender as demandas das instituições voltadas para a extensão rural. Os arcabouços dessa formação destinada às mulheres era formar uma educadora que pudesse orientar as famílias rurais a respeito de princípios básicos relacionados à alimentação e nutrição; saúde e higiene; desenvolvimento humano; vestuário; habitação; administração do lar; educação do consumidor, entre outras atividades que pudessem contribuir para atender as necessidades básicas da família rural. Nessa linha de raciocínio, tenho como objetivo analisar como algumas dessas práticas cotidianas à escolarização feminina se desenvolveram, investigando a expressão de sua historicidade e dos processos de formação. No Brasil, nesse período, balizados por diversas ações visando a escolarização do povo brasileiro, os governantes sugeriram a criação de escolas especializadas, agrícolas, femininas, para preparar moças para atuar como educadoras familiares agrícolas. As seguintes questões compõem a problemática: Quais eram os princípios pedagógicos do curso de Economia Rural Doméstica? Qual era a formação técnica, profissional oferecida às mulheres? Fontes escritas/ documentais, como programas educacionais, relatórios do ministro da educação, programas de curso, imprensa oficial, fotografias e outros documentos compõem a pesquisa. Ressalto que a criação desses cursos refletia transformações e problemas vividos pela sociedade brasileira e voltava-se para problemas sociais vivenciados, mantendo estreita vinculação às iniciativas da Igreja Católica e com intelectuais católicos. Constato que programas educacionais serviam como instrumento para tentar eliminar as carências de alimentos, de informações, de saúde, de laços sociais do homem brasileiro rural e desprovido. Esses programas traziam imbuídos em si o propósito de integrar as brasileiras ao mundo da produção e do consumo, desígnios do capitalismo em expansão no país. Para o Ministério da Agricultura brasileiro, ao qual a formação estava vinculada, os ensinamentos em Economia Doméstica visavam proporcionar à mulher conhecimentos capazes de elevar o nível de vida das famílias, favorecer a organização do ambiente doméstico, além de levá-las a assimilar os valores fundamentais das condições econômicas e sociais essenciais à melhoria da vida rural brasileira por meio do consumo de bens, serviços e insumos diversos, como era foco da visão desenvolvimentista que se espalhava pelo país. Em suma, uma formação aliada aos ditames do capitalismo e como forma de incentivar as mulheres a participarem de uma produção extensiva de bens e serviços e na formação de novos hábitos de produção e consumo. Palavras-chave: História das mulheres, Ensino profissionalizante, Instituições escolares.

ORGANIZAÇÃO DO ENSINO PÚBLICO PRIMÁRIO RURAL NO MUNICÍPIO DE ARAGUARI E A LEI 13 DE FEVEREIRO DE 1937.

Gilma Maria Rios

Este trabalho tem como proposta abordar e analisar as questões da educação rural em Araguari, cidade do interior mineiro, referente a política municipal local na década de 30 e 40. Para a reconstrução da história da educação araguarina durante o período da História Brasileira denominada de “Estado Novo”, usamos como fonte de pesquisa os jornais “Gazeta do Triângulo” e revistas locais que circularam no período mencionado acima. Tal proposta se justifica considerando que o Poder executivo em Araguari sanciona a Lei n. 13 de 12 fevereiro de 1937, organizando o ensino público primário do município, onde no primeiro artigo foi exposto que o ensino público primário, ministrado no município seria de uma única categoria: ensino primário fundamental. Época em que as escolas do município de Araguari serão classificadas em: urbanas, distritais e rurais. Porém, havia uma permuta constante entre os lugares - fazendas da região - de fixação das escolas rurais. As discussões em torno dessa temática perpassam reflexões que buscam esclarecer aspectos importantes das políticas educacionais estadonovistas no sentido de compreender do papel da escola e o seu significado no esboço de uma sociedade liberal. O Brasil havia passado por uma série de mudanças estruturais que ganharam velocidade a partir da década de 1930. Essas transformações diziam respeito especialmente às bases do desenvolvimento, ao modelo econômico adotado, à ênfase na industrialização orientada pelo Estado, à liberalização política e ao controle

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social e sindical. O Brasil vivia o que se chamava então de um intenso processo de "modernização" política e econômica e sofria todos os impactos, positivos e negativos, daí decorrentes. Assim, com a urbanização crescente pela decadência das formas de produção no campo e a intensificação do processo de industrialização, aumenta a demanda social por educação, mas a expansão de oportunidades educativas, naquele período, se caracterizou pela desigualdade. Atendeu às expectativas das camadas privilegiadas da sociedade em detrimento das camadas populares. Nesse sentido, embora tenha sido registrada a criação de algumas escolas rurais no período, as condições necessárias para mantê-las em funcionamento não foram criadas. Havia carência de prédios próprios - uma vez que os espaços eram improvisados, predominavam professoras leigas, dentre outros problemas. Palavras-chave: Estado Novo, Educação rural, Araguari.

O ENSINO PÚBLICO PRIMÁRIO RURAL EM MINAS GERAIS NA PERSPECTIVA CIVILIZATÓRIA (1889-1911)

Josemir Almeida Barros

O presente texto traz como recorte temporal e espacial os anos de 1899 a 1911 em alguns municípios que compuseram a primeira e a segunda Circunscrição Literária de Minas Gerais, tendo como especificidade a discussão sobre o ensino primário rural na perspectiva civilizatória. Um dos objetivos é analisar a composição dos currículos instituídos oficialmente para o exercício das práticas educativas nas escolas situadas no meio rural. Percebemos que o ensino público primário rural em Minas Gerais se articulava com particularidades da vida no campo assumindo características próprias, nas quais era necessário conjugar hábitos higiênicos necessários para um novo homem a partir dos preceitos da jovem República. Na maioria das localidades, o ensino rural ocorria em salas de aula com espaço reduzido, com turmas diferenciadas convivendo ao mesmo tempo e no mesmo espaço, estudando programas diferentes, com graus distintos de complexidade. Uma de nossas indagações é: o currículo da instrução pública primária rural em Minas Gerais apresentava correspondentes para a formação de sujeitos patrióticos incutindo valores e normas sociais na perspectiva civilizatória? Nessa perspectiva, em diversos momentos ocorriam adaptações curriculares no processo de ensino nas escolas primárias rurais. Com essa concepção a organização do ensino carregava a necessidade de dar visibilidade aos novos significados políticos, sociais e culturais que foram impostos à sociedade. A lógica civilizatória se fez presente no ideário dos administradores públicos e se materializou por meio de uma proposta de caráter elitista, bastante e consequentemente excludente. A nosso ver, o projeto macroestrutural de ensino era voltado para os centros urbanos e deixava de lado os investimentos em educação no meio rural. Em termos metodológicos utilizamos como fontes históricas oficiais as Mensagens dos Presidentes de Estado de Minas Gerais, leis, decretos, regulamentos, resoluções, relatórios de inspeção e termos de visitas, bem como anuário estatístico do Brasil. Pesquisamos também termos de nomeações, designações e remoções de professores. Recorremos a jornais, correspondências e fotografias. As críticas relacionadas à infraestrutura das escolas se fizeram presentes por todo o período pesquisado, nos inúmeros relatos mencionados. No conjunto, deduzimos que poucas ações educacionais subsidiavam as escolas mais afastadas dos centros urbanos. Palavras-chave: Ensino rural, Instrução pública primária rural, Currículo, Ensino civilizatório.

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Sessão Coordenada - 10

ESCOLA SEM PAREDES: A HISTÓRIA DA TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO PELOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (1920-1960)

Coordenadora: PATRÍCIA COELHO DA COSTA Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

Esta comunicação coordenada tem como tema a História da transmissão do conhecimento pelos meios de comunicação. Atualmente, a educação a distância é reconhecida como uma modalidade de ensino que muito contribui para a expansão do processo de universalização do ensino em nosso país. A cada semestre, são criados novos cursos nos níveis fundamental, médio, superior e de pós-graduação. Embora a expressão “educação a distância” seja recente, a prática da transmissão do conhecimento pelos meios de comunicação remonta ao início do século XX. Com efeito, no Brasil, a partir dos anos 1910, os intelectuais que desejavam divulgar aos lugares mais distantes e isolados do país, informações sobre a ciência, a geografia e a história por meio de irradiações e imagens, sucumbiram aos encantos da cinematografia e da radiofonia, que eles logo identificaram como poderosos veículos para a transmissão de conhecimentos com vistas à integração e ao preparo da nação em torno de um propósito científico. Na década de 1930, estudiosos de métodos de ensino como Edgar Roquette-Pinto, Jonathas Serrano, Francisco Venâncio Filho, Genolino Amado e Gilson Amado empreenderam esforços em prol do uso de tais instrumentos de comunicação para fins exclusivamente educacionais. Com o desenvolvimento comercial das emissoras e estúdios, e com o processo de regulamentação destes meios de comunicação, estes intelectuais intensificaram as campanhas sobre o uso pedagógico dos referidos veículos, de forma a salientar a relevância de tal propósito e de convencer pais e professores sobre a adequação de suas ideias. Dentre as questões abordadas constavam as recomendações sobre o teor que seria mais adequado à família, pois à luz da concepção de que o processo educacional não terminava na escola, a unidade familiar e a sociedade também atuariam de maneira decisiva na formação infantil. Participaram deste fórum de discussões o Estado, educadores e os defensores do uso comercial das emissoras. Nos anos 1950, estes debates também foram levados à televisão, que acabava de ser trazida ao nosso país. Pioneiros do radio e do cinema, como, por exemplo, Gilson Amado organizaram os primeiros programas tele educativos. Estas experiências, apesar de terem sido fundamentais para o desenvolvimento da linguagem e do formato de programas educacionais, são pouco estudadas e raramente são aludidas nos estudos sobre a educação a distância. O objetivo desta comunicação consiste em promover uma discussão sobre os desafios enfrentados e as estratégias empregadas por estes educadores para o controle do uso educacional do rádio, do cinema e da televisão durante o processo de implementação destes veículos. Pretende-se, assim contribuir com novos prismas para a história das práticas educativas no Brasil, em especial para a história da educação pelos meios de comunicação em nosso país.

O CINEMA EDUCATIVO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DA EDUCAÇÃO NOS ANOS 1920-30

André Luiz Paulilo O tema do cinema educativo durante as reformas Fernando de Azevedo entre 1927 e 1930 e Anísio Teixeira de 1931 a 1935 inspirou interesse por parte dos educadores que procuravam aproveitar de forma instrutiva as projeções de imagens. Nesse sentido, a Diretoria Geral de Instrução, por meio de Jonathas Serrano e Francisco Venâncio Filho, ambos da subdiretoria técnica entre 1928-1930, entrou em contato com diversas empresas dedicadas a cinematografia e projeção de imagens para organizar uma exposição de aparelhos. E, depois, em 1932, foi organizada a Filmoteca Central como seção da Biblioteca Central da Educação do Departamento de Educação do Distrito Federal. Ainda no espaço da capital da República, o Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE) foi criado em 1937, sob os auspícios do governo federal. São dessas iniciativas de institucionalização do cinema educativo de que se ocupa esta comunicação. Interessou, sobretudo, estudar o lugar do cinema educativo na estrutura administrativa da instrução pública durante os anos 1920 e 1930 e o seu uso nas escolas públicas como marca de uma renovação dos métodos e procedimentos de educação da capital federal. A partir da análise do livro Cinema e Educação, do Boletim de Educação Pública, do relatório administrativo do Departamento de Educação de 1935 e da legislação relativa ao cinema educativo pensou-se tratar da proteção oficial para a utilização do cinema como meio de educação e do estabelecimento de critérios para utilizar filmes na sala de aula. Assim, a pesquisa assume como perspectiva a história das políticas públicas de educação para compreender, além das estratégias de controle da linguagem e dos conteúdos das produções, as condições de implantação do cinema educativo. Decisiva para a análise, a percepção de que a presença de educadores nesse

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campo de atuação definiu seu pioneirismo em um espaço então emergente de negociação entre o Estado e os interesses econômicos da indústria cultural completa o quadro explicativo desta abordagem. Como resultado, por um lado, o estudo procura mostrar que a criação dos serviços de cinema educativo na legislação de ensino e no Departamento de Educação serviu tanto à conversão do prestígio intelectual em autoridade pública quanto ao treinamento técnico dos quadros de pessoal. Por outro, então, sublinha-se que na discussão em torno do cinema educativo na capital federal tão importante quanto a regulamentação e a censura parecem ter sido as políticas de indução e a formação de quadros para os órgãos administrativos. Palavras-chave: Cinema Educativo, reforma educacional, processos de escolarização.

“O QUE PENSAM OS RÁDIO-OUVINTES” : DEBATES SOBRE RÁDIO E EDUCAÇÃO NO BRASIL (ANOS 1930 E 1940)

Maria Angela Borges Salvadori

Qual a opinião do ouvinte sobre a programação das estações de rádio, particularmente as paulistas e cariocas, nos anos 1930 e 1940? Em particular, como analisavam as relações entre rádio e educação naquele período? Nesta comunicação, procuro responder a essas questões tomando como fontes as cartas publicadas pela revista Carioca na seção “O que pensam os rádio ouvintes”, presente na publicação desde os seus primeiros números, datados de 1935. Entre 1935 e 1939, semanalmente, a revista publicou cerca de quatro missivas, premiadas com valores em dinheiro, além de várias menções honrosas. A partir de janeiro de 1939, passa a publicar uma única carta, mantendo o procedimento da premiação financeira. Quando tomado este conjunto documental, observa-se que parte das mensagens eram assinadas por pessoas que se identificavam como professores e que, em geral, dirigiam um olhar bastante crítico à programação radiofônica de caráter mais comercial e de entretenimento, defendendo o uso educativo do rádio. As acusações incidiam, principalmente, sobre a canção popular – o samba, em particular -, os anúncios publicitários, a atuação dos speakers e programas de humor e auditório, grande parte delas ressaltando o desrespeito às normas cultas da língua e as ameaças à “boa” moral presentes na programação. Tais ouvintes, professores, reiteram em seus escritos a necessidade de retomar os ideais do rádio educativo dos anos 1920, ligados aos pioneiros da radiodifusão no Brasil, e de um maior controle do Estado sobre o veículo. Deste modo, ao defenderem as potencialidades educativas do rádio, faziam-no de modo a abarcar tantos aspectos pedagógicos escolares stricto sensu quanto a formação moral, preocupação dirigida em especial às classes populares. Em não raras ocasiões, estas cartas trataram de programas radiofônicos destinados especificamente às crianças. Ao clamor dos professores que expressaram sua opinião nas páginas da Carioca, juntavam-se outros, igualmente preocupados com o que era entendido como permissividade e desserviço educacional prestados pelo rádio. Trata-se, portanto, de buscar compreender as visões dos ouvintes, particularmente dos professores, sobre a programação e, nas críticas formuladas, identificar também suas impressões a respeito dos brasileiros, adultos e crianças, a serem educados. Trata-se, ainda, de identificar o modo como esses professores sentiam a interferência do rádio em sua prática profissional cotidiana, na tensão entre saberes escolares e costumes, inclusive linguísticos, da população.

EDUCADORES NO RÁDIO: AS ESTRATÉGIAS DESENVOLVIDAS PARA ASSEGURAR A FINALIDADE EDUCACIONAL DAS EMISSORAS BRASILEIRAS (1930-1950)

Patrícia Coelho Da Costa

Em 1924, cientistas, professores, médicos e engenheiros, associados da Academia Brasileira de Ciências (ABC), empolgados com o potencial da radiofonia para transmitir conhecimento aos lugares mais distantes do Brasil, organizaram a Radio Sociedade do Rio de Janeiro (PRA2). No mesmo ano foi autorizado o início das atividades de outras sociedades de rádio, que partilhavam dos princípios da ciência e da importância da educação para a integração da nação, vendo a radiodifusão como um instrumento capaz de contribuir para o nosso desenvolvimento como nação, tais como a Radio Sociedade da Bahia (PRA4), a Radio Educadora Paulista (PRA6) e a Radio Club de Pernambuco (PRA8). Entre os educadores que participaram desta fase da radiofonia é possível citar: Edgar Roquette-Pinto, Francisco Venancio Filho, Edgar Sussekind de Mendonça, Ariosto Espinheira, Ilka Labarthe e Genolino Amado. Juntos construíram uma rede de sociabilidade em defesa do uso exclusivamente educacional do rádio. Entre as ações deste grupo estavam organização de campanhas, elaboração de programas educacionais radiofônicos de diferentes formatos, a irradiação de aulas e a realização de cursos para os professores. No início da década de 1930, o mundo da radiofonia assistiu ao início de um intenso debate sobre os parâmetros educacionais que deveriam ser adotados. Participavam destas discussões: educadores, ouvintes e diretores de broadcasting das estações, que não se orientavam a partir de preceitos educativos, e ambicionavam

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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas

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uma programação com novo formato, que chamasse mais atenção do público e atraísse anunciantes. No mesmo período, as sociedades de rádio viveram uma crise financeira com um orçamento deficitário, que as impossibilitavam de se adaptar às exigências técnicas do Decreto 21.111 e continuar suas atividades. Neste contexto de disputas, a luta dos educadores no rádio se intensifica, uma vez que eles se sentem responsáveis pela condução da cultura nacional. Neste aspecto, não aceitam perder o controle sobre o veículo de comunicação que tanto divulgaram como solução para o nosso atraso. O objetivo desta comunicação é analisar as estratégias empreendidas pelos radioeducadores para assegurar a presença dos preceitos educacionais nas emissoras comerciais. Em especial, serão estudadas as trajetórias de Genolino Amado e Ilka Labarthe na Rádio Nacional, no final dos anos de 1940. Serão usados como fonte gravações, scripts e periódicos. Com este estudo, se pretende contribuir com novas perspectivas sobre a história da educação por meio do rádio e novos referenciais para a história da educação a distância. Palavras-chave: Educadores, Rádio, História

FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A TV EDUCATIVA NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (1960- 1975)

Cíntia Nascimento de Oliveira Conceição

Esta proposta para mesa coordenada tem o objetivo discutir o curso de introdução à TV educativa, direcionado a professores de todo o país e coordenado pela professora Alfredina de Paiva Souza, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Docentes dos níveis primário, médio e superior de diferentes regiões do Brasil aprendiam noções de eletrônica e questões técnicas sobre o funcionamento de uma emissora de televisão. A iniciativa teve adesão do Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FCBTVE) e da Secretaria de Educação da Guanabara. A intensão do curso era capacitá-los para o lançamento da TV Educativa. O Instituto de Educação também mantinha curso de produção e operação de TV e uma emissora de televisão interna. A iniciativa pioneira de capacitar professores começou em 1967 e teve o apoio de Gilson Amado que dirigiu a FCBTVE e estabeleceu como meta alfabetizar 15 de milhões de brasileiros acima de 18 anos com o auxílio da televisão, que chegou ao Brasil em 1950, com a inauguração da TV Tupi. No inicio, a programação tinha público restrito e seguia com proposta de uso educativo semelhante ao rádio com gincanas infantis, encenações de clássicos da dramaturgia nacional e internacional, balés, concertos e saraus literários. Em 1960, a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO) sinalizou a possibilidade de usar satélites para erradicar o analfabetismo, e nos anos seguintes, com a adoção do videoteipe, a televisão se popularizou no Brasil, tornando-se um veículo de comunicação de massa. Os governos militares se dedicaram á instalação de emissoras educativas e criaram meios legais para que as redes comerciais veiculassem conteúdos educacionais. Neste período foi criada a TV Educativa visando à educação popular, tanto no sentido lato, de informação e divulgação do conhecimento e de formação cidadã, quanto no sentido de educação supletiva. Em São Paulo, o governo criou, em 1963, o Serte – Serviço de Educação e Formação pelo Rádio e Televisão, que produzia e transmitia 10 horas semanais de aulas para o grupo Diário Associados de Assis Chateaubriand. A necessidade de mão de obra para a produção de programas educativos culminou em parceria entre a FCBTVE e a Unesco, em 1969, para realização de cursos de capacitação de profissionais para atuarem nos diferentes setores das emissoras educativas. Instrutores da Grã-Bretanha vieram ao Brasil ministrar cursos em locais sugeridos por Gilson Amado. As fontes utilizadas na pesquisa são livros, documentos, gravações, revistas e jornais da época. Palavras-chave: História da Educação, TV Educativa, Formação de Professores

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Sessão Coordenada - 11

ENTRE REVISTAS, MANUAIS E DESENHOS: OLHARES, PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO DO CORPO

Coordenadora: ANDREA MORENO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

A pesquisa histórica, a consequente operação com fontes e as problematizações a partir de questões distintas, já permitiu a elaboração de inúmeras narrativas acerca da educação do corpo, de suas práticas, lugares e tempos. Os trabalhos aqui reunidos examinam, especificamente, impressos que, em sua singularidade, se constituem como documento e recortam um período: fins do século XIX e primeiras décadas do século XX. As análises e interpretações acerca da educação do corpo foram desenvolvidas tomando como fontes diferentes revistas, jornais, coleções de desenhos infantis e manuais de ensino. Interrogados e problematizados como fonte para a história da educação do corpo, estes impressos trazem múltiplas possibilidades de interpretação daquilo que se desejou como projeto de intervenção sobre e no corpo. Essa comunicação coordenada reúne quatro trabalhos que, a partir da análise de diferentes impressos, apresenta e problematiza práticas e representações acerca da educação do corpo, interrogando-os desde diferentes questões. Operando com revistas especializadas, dois trabalhos problematizam a educação do corpo de diferentes modos. Um deles toma como tema e problema de pesquisa a educação do corpo pela natureza e a vida ao ar livre, ideário caro ao pensamento educacional brasileiro das primeiras décadas do século XX e que se faz presente de forma abundante em revistas especializadas em educação e educação física. Outro trabalho que toma para si as revistas debruça-se sobre o impresso oficial da Associação Cristã de Moços, que veiculando ideias, práticas e saberes, desejam forjar e mesmo legitimar valores e projetos para a educação do corpo entre fins do século XIX e início do XX. Já um outro formato de suporte impresso também presente nesta comunicação coordenada tomado como fonte e objeto, são os manuais de ginástica sueca produzidos nessa mesma temporalidade, procurando perceber como a ginástica sueca, em sua versão pedagógica, foi sistematizada para o uso de professores. Adentrando os anos 30 do século XX, o quarto trabalho nos interpela ao pensar as práticas corporais infantis e as representações de corpo de crianças, a partir da coleção de desenhos infantis do acervo de Mário de Andrade. Reside aqui neste trabalho uma reflexão conceitual sobre o que temos compreendido como impresso. Com esse debate, os autores tentam mostrar como, a partir de diferentes registros e suportes impressos, novas possibilidades de compreender a educação do e no corpo vai sendo construída. É desse modo que os estudos desenvolvidos aqui vão observar como, lentamente, diversas prescrições vão difundindo-se no Brasil e em países de língua portuguesa, de diferentes modos, em diferentes lugares, revelando diferentes formas de conceber o corpo e de educá-lo a partir de distintas e múltiplas práticas. Palavras-chaves: revistas, manuais escolares, desenho infantil, educação do corpo

VESTÍGIOS DA GINÁSTICA SUECA EM LÍNGUA PORTUGUESA: OS MANUAIS O SISTEMA SUECO DE GINÁSTICA FOI CONCEBIDO POR P. H. LING (1776-1839).

Andrea Moreno

Diretor do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo, Ling vai, pouco a pouco, rascunhando seu método ginástico, que tinha na formação do corpo harmonioso sua razão de ser e na ciência médica sua explicação. Construiu-se explicita e severamente: movimentos precisos, coordenados, gestos rígidos, tempo ordenado. Hjalma Ling (1820-1886) dedica-se a pormenorizar a obra do pai, particularmente a ginástica pedagógica. Este estudo debruça-se sobre os Manuais de Ginástica Sueca produzidos em língua portuguesa. Podemos identificar que, entre fins do século XIX e início do XX, um farto conjunto de impressos, sobretudo com características de manuais, foi produzido. O que eles podem querer dizer em seu formato, em sua linguagem, em sua estrutura? É perceptível o esforço de professores, mas também de militares e médicos, em escrever e divulgar a ginástica sueca, num esforço de sistematização e aplicação de sua prática. Uma verdadeira vulgarização desse saber foi produzida por meio desses. Uma primeira questão que se coloca diz respeito à “taxionomia” desses impressos. Sob diferentes denominações são intitulados: tratados, compêndios, manuais ou guias. De todo modo, a despeito do termo utilizado, é um impresso pequeno, objetivo, que visa a aplicação pelo professor, com uma rasa fundamentação teórica e uma sistematização de lições práticas. Uma hipótese para a proliferação desses em língua portuguesa pode ter sido a necessidade de tradução. O Instituto de Estocolmo tinha um forte investimento na divulgação de suas práticas, via visita de estrangeiros e também da ida de professores formados no Instituto

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ao exterior. Nesse caminho, a tradução se fazia necessária. Outra, diz respeito mesmo a necessidade de sistematizá-la para o uso nas escolas. Muitos desses escritos iniciam dizendo da escassez de material disponível que servisse ao “professor de gymnastica”. Os manuais, neste aspecto, tinham um formato bastante convidativo: eram simples, organizados em lições, fáceis de aplicar. Continham muitos desenhos que facilitavam sua compreensão. Aqui residia um problema de apreensão do método sueco: fazia-se necessário simplificá-lo, considerando o excesso de detalhes em sua execução e de pormenores para sua prática. Finalmente, convém ressaltar que a ginástica sueca concretizava um importante alinhamento com o modelo escolar: podia ser realizada com um grande grupo de alunos, num espaço reduzido, com atividades iguais para todos e um esquema de progressão de exercícios organizado em lições. Assim, saliento que, a investigação da ginástica sueca, tomando como fonte os manuais de ginástica produzidos em língua portuguesa pode nos possibilitar contar outras histórias dessa prática em terras brasileiras. Palavras-chaves: ginástica sueca, manuais de ginástica, ginástica educativa.

AS REVISTAS NA DIVULGAÇÃO DO IDEÁRIO DE UMA EDUCAÇÃO PELA NATUREZA NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX NO BRASIL

Carmen Lucia Soares

No Brasil há uma fértil cultura de revistas desde fins do século XIX, em especial, nas primeiras décadas do século XX, período recortado pela nossa pesquisa. Consideramos a significativa importância deste tipo de impresso para um estudo do ideário de uma educação pela natureza e da vida ao ar livre, sobretudo pelo seu caráter leve, condensado e de fácil apreensão. Testemunho de tempos e vozes diversas, revelando e traduzindo sentimentos, as revistas educavam seus leitores ao sublinhar e destacar certos temas, ao mesmo tempo em que esqueciam, ou, simplesmente, negligenciavam outros. Em registros múltiplos que tomam a forma escrita tais como editoriais, reportagens, artigos, cartas e comentários de diferentes seções, bem como fotografias e desenhos gráficos, propaganda de produtos diversos, o conteúdo de uma revista oscilava entre o perfil de seus proprietários àquele de seus consumidores, mas, elas também desejavam educar e, muitas vezes tomavam a própria forma escolar em suas seções. Folhear uma revista antiga nos remete a uma fluidez naquilo que mostra, esconde, ou, talvez, naquilo que apenas deseja, pois, de suas páginas parece exalar uma atmosfera desse outro tempo, de gostos e de sentimentos, de necessidades diversas que aparecem ali como as mais importantes. Assim, uma revista não seria um espelho fiel do passado e nem seu registro mais seguro. Talvez, o mais adequado fosse mesmo pensar nas ambiguidades e ambivalências que cada fonte contém, incluindo aí as revistas. Suas páginas, assim, expressam tanto desejos, sentimentos, dúvidas e certezas de indivíduos que lá viveram, vínculos com causas e circunstâncias políticas, ideológicas, emocionais que já não são mais as nossas, quanto silêncios, ausências, vazios. Num impresso, não estão guardados segredos e nem tesouros são ali escondidos, mas, sim, e de modo muito tênue, rastros humanos, pequenos trechos da vida que se esparramam em múltiplas direções entre lembranças e esquecimentos, em traços da memória que ali permanecem. Interrogar seus silêncios, ausências, assim como seus excessos, em outras palavras, ouvir, ver, interpretar, narrar, eis a tarefa do presente que se impõe. Para este trabalho, operamos com três revistas especializadas em educação física e esporte que circularam no Brasil desde 1932: 1-Educação Physica - Revista Téchnica de Sports e Athletismo de 1932-1945; 2- Revista de Educação Física do Exército de 1932 até os dias de hoje e 3- Revista Sport Illustrado de 1938 a 1952. Concluímos que as revistas aqui analisadas guardam significativo conteúdo para uma compreensão do ideário de uma educação pela natureza e da vida ao ar livre, tão caro ao pensamento educacional brasileiro do período recortado neste trabalho. Palavras-chave: revistas; natureza e vida ao ar livre; historia da educação física

A GINÁSTICA E O ESPORTE NA REVISTA MOCIDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO DOS CORPOS NAS ASSOCIAÇÕES CRISTÃS DE MOÇOS BRASILEIRAS (1898-1925)

Anderson da Cunha Baía

A Revista Mocidade contribuiu com a circulação de práticas e saberes nas Associações Cristãs de Moços (ACMs) brasileiras. Instituição criada na Inglaterra, em 1844, implantou-se no Brasil em 1893, no Rio de Janeiro, por intermédio do norte-americano Myron Augusto Clark. Seu projeto de formação, seguindo um padrão norte-americano, apresentava-se alicerçado no tripé: formação intelectual, moral e física. Para proporcionar uma formação física aos associados, a ginástica e o esporte apresentaram centralidade, foram eleitos e colocados em evidência, para todos os associados por diversos meios de comunicação, entre eles – e o principal – a Mocidade: Revista Mensal das Associações Christãs de Moços no Brasil. Tratava-se de um órgão oficial das ACMs no Brasil, de publicação mensal, que era distribuída a todos os seus associados. É a partir da importância desse periódico

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que tenho como propósito compreender a educação dos corpos presente na revista Mocidade, por meio da circulação de saberes e práticas referentes à ginástica e ao esporte. Foram analisados 88 números da revista, que no período escolhido para esse estudo, passou por diferentes denominações: ACM (1898-1907), Amigo da Mocidade (1908-1911), Canaan (1911-1912), Mocidade (1913-). Não se pode precisar o período final do periódico, mas se nota, nos exemplares presentes na Biblioteca Nacional, que, a partir de meados da segunda década do século XX, as publicações começaram a tornar-se menos frequentes, finalizando, para este estudo, no ano de 1925. Todos os números produzidos pela ACM foram analisados como um impresso que nas palavras de Limeira (2012), forjam, legitimam e ratificam valores, ideias, projetos, mobilizam discursos na produção de verdades. Elegem fatos que chegam ao público, assim como a forma como estes fatos serão recebidos. Com esse olhar, percebi a revista circulando a necessidade do indivíduo controlar as vontades, ser recatado, formado a partir dos predicados morais que conduziam os ensinamentos cristãos. O corpo, no periódico, aparece como lugar da moral, da religião e do aprendizado. Deveria, portanto, ser tratado como tal. A alimentação adequada, as formas de comportar e agir e as orientações de como deveria ser a atuação dos associados nos momentos das práticas corporais, especialmente na ginástica e no esporte, indicam a necessidade de uma “reforma dos costumes”. Essas ideias integraram um debate que, em grande parte, foi incorporado ao discurso acmista no Brasil, materializado no conjunto de textos escritos e traduzidos pelo H. J. Sims na revista Mocidade, os quais circularam em instâncias de decisões políticas da Educação Física brasileira, como a seção de Educação Physica e Hygiene da Associação Brasileira de Educação, extrapolando os limites formativos das ACMs, no Brasil. Palavras-chaves: Revista, ACM, educação do corpo

A COLEÇÃO DE DESENHOS INFANTIS DE MÁRIO DE ANDRADE E AS PRÁTICAS CORPORAIS DE CRIANÇAS, NAS DÉCADAS DE 1930 E 1940

Ingrid Dittrich Wiggers

O presente trabalho aborda práticas corporais de crianças de São Paulo, das décadas de 1930 e 1940, considerando sua interface com a natureza. O principal objetivo é identificar e analisar práticas corporais infantis, destacadamente as brincadeiras, bem como representações de corpo de crianças e os cenários expressos na coleção de desenhos infantis do acervo de Mário de Andrade. Pretende-se, desse modo, salientar a cultura infantil no campo dos estudos historiográficos. A coleção de desenhos infantis de Mário de Andrade se constitui fonte primária de pesquisa. A mesma encontra-se sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo e é composta por 2160 peças. A maior parte está identificada pelo nome, idade, nome da escola, origem dos pais e raça da criança. Trata-se da única coleção de desenhos infantis conhecida no Brasil aberta à consulta para pesquisadores, o que sugere sua importância como fonte para estudo da história da infância brasileira. O desenho é uma manifestação típica da infância e um ato estritamente humano. O seu produto surge como efeito da integração da ação – prática que torna visível a ideia – e do pensamento – a imaginação. Em adição, os desenhos são considerados como expressão da cultura infantil de uma época e um lugar. Na perspectiva da história cultural, evidenciam a experiência de crianças mediadas pelas fontes culturais e visuais de sua própria contemporaneidade. Desse modo, o desenho é um ponto de partida para se compreender a experiência infantil, em especial, a cultura corporal. A partir da apreciação dos desenhos observou-se que há grandes temas que foram representados pelas crianças do período, como cenários urbanos, meios de transporte, flores, frutas, a figura humana, ambientes domésticos, paisagens naturais e ainda brincadeiras. Elementos da natureza são bastante explorados nos cenários dos desenhos, por meio de nuvens, mar, montanhas, rios, sol, céu, árvores, pássaros, borboletas, flores e frutas. A natureza também está representada nos contextos urbanos em formato de jardins, remetendo à ideia de natureza controlada. Destacam-se desenhos contendo representações de brincadeiras tradicionais, como, por exemplo, pular corda. Além dessas, esportes também foram objeto de representação das crianças. Os desenhos infantis expressam um tempo cruzado por elementos culturais tecnológicos, ilustrados pelos meios de transporte, ao mesmo tempo em que registram a natureza como uma dimensão significativa da vida das crianças. Além disso, o desenho é uma brincadeira em si, que faz parte da cultura lúdica infantil daquele período. Destaca-se, ao fim, o desenho como uma gestualidade, integrando o conjunto de práticas corporais infantis. Palavras-chave: Práticas corporais. Desenhos infantis. Mário de Andrade.

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Sessão Coordenada - 12

MODERNIDADE E EDUCAÇÃO NOS PROJETOS DE INTELECTUAIS BRASILEIROS

Coordenadora: ROSANA AREAL DE CARVALHO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Ao longo dos últimos quatro anos, no espaço social e científico delimitado pelo Programa de Pesquisa Moderno, Modernidade, Modernização: a educação nos projetos de Brasil – séc. XIX e XX temos reunido esforços no sentido de elaborar uma teoria sobre o lugar da intelectualidade brasileira na construção da esfera pública e produzir entendimentos sobre as noções de moderno, modernidade e modernização, presentes nesses projetos. Tomando como recorte a longa duração, empreendemos o propósito de produzir conhecimento sobre as articulações e desdobramentos da relação intelectuais e educação, considerando a polissemia presente nos conceitos de moderno, modernidade e modernização e as relações estabelecidas entre estes conceitos e a concepção de educação, ao longo dos séculos XIX e XX, por instituições e sujeitos, principalmente por aqueles que, sobretudo por meio da escrita, vieram a público para apresentar propostas de compreensão e de ação sobre variados aspectos relacionados à nação brasileira. Compreender os dilemas da modernidade ou dos processos de modernização é uma operação complexa, pois o grande desafio dos tempos modernos foi alcançar uma estabilidade, ou unanimidade, a partir de rupturas estabelecidas no mesmo processo. Denominamos como intelectuais, cientes dos riscos dessa categoria, aqueles que por meio da escrita procuraram não só esclarecer e dar visibilidade aos modos, às marcas, à multifacetada modernidade e ao processo de modernização, mas também dar sentido e norte para os dilemas impostos pelos próprios tempos vividos. Enquanto intelectuais, ocuparam diversos espaços públicos – instituições de ensino, instituições políticas, editoras, instituições de pesquisa; manifestaram-se por variados meios – a imprensa, os livros, os debates parlamentares; estabeleceram amplas relações de sociabilidades nas províncias e na Corte, nos estados e na capital da República. Tendo tais aportes como substratos, reunimo-nos para apresentar quatro exemplos que senão representam, somam-se aos outros também elaborados a partir do referido Programa de pesquisa: Bernardo Guimarães (1825-1884), em cuja escrita multiforme alertava para a função da educação na construção de uma nacionalidade com aportes da modernidade; Tobias Barreto (1839-1889), professor da Faculdade de Direito do Recife, partícipe do movimento denominado “Escola do Recife”, encabeçou projetos que defendiam a democracia na política, a liberdade do homem e a educação/emancipação feminina; Primitivo Moacyr (1868-1942) que estendeu sua experiência como redator de debates parlamentares na produção de uma vasta obra sobre a história da educação brasileira, abrangendo o período imperial e a Primeira República, tendo sido colaborador de pesquisa no Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos - INEP; e a Sociedade Amigos de Alberto Torres que, em consonância ao pensamento deste atuam, publicamente, entre os anos 30 e 40, em defesa do ensino rural.

OS SUBSÍDIOS DE PRIMITIVO MOACYR PARA A MODERNIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Rosana Areal de Carvalho Raphael Ribeiro Machado

Thamires Maciel e Silva Referência para a História da Educação Brasileira, a escrita de Primitivo Moacyr consiste na compilação e organização das legislações e regulamentos, debates parlamentares e cenários educacionais traçados nos relatórios de presidentes de província e diretores da instrução pública, abrangendo desde o período do Império até a Primeira República, retratando as proposições e as tensões políticas afeitas ao tema. O objetivo deste trabalho é compreender o contexto no qual os livros de Primitivo Moacyr foram publicados, especialmente o período dos anos 30 e princípios dos anos quarenta do século XX. O primeiro volume do seu livro A instrução e o Império: subsídios para a história da educação no Brasil saiu a público em 1936, pela Companhia Editora Nacional e os últimos volumes de A instrução e a República, em 1942, pela Imprensa Nacional. O período assinalado, anos 30 e princípios da década de 40, foi marcado por grandes transformações sociais e políticas, como a Revolução de 30 e as medidas de modernização do Estado Brasileiro que implicaram na criação do Ministério da Educação e Saúde, do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos- INEP, dentre outros organismos direta ou indiretamente vinculados à educação e à cultura brasileiras. Ainda no campo educacional, o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, publicado em 1932, é um ponto de inflexão importante, seja pelo diagnóstico ali exposto sobre a educação brasileira, seja pela defesa da educação enquanto ciência. Em 1937, a implantação do Estado Novo apresentou

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novas perspectivas para o conjunto das forças políticas, angariando o apoio de muitos intelectuais. Moacyr foi um homem de relações amplas, decorrentes de atuações múltiplas: no campo profissional era bacharel em Direito e foi redator de debates da Câmara Legislativa do Congresso Nacional por mais de três décadas. Como homem de imprensa publicou durante vários anos no Jornal do Commercio, um dos jornais de maior circulação durante a Primeira República. Os resultados obtidos com a pesquisa apontam para o enquadramento da obra de Moacyr na arquitetura da construção de uma nova identidade para a educação brasileira, postulada pelos escolanovistas. Tal postulação, também articulada ao processo de modernização do Estado brasileiro, explica a publicação das obras de Moacyr pela Companhia Editora Nacional, na coleção Biblioteca Pedagógica dirigida por Fernando de Azevedo, e pela Imprensa Nacional, sob a chancela do INEP, dirigido por Lourenço Filho. No âmbito da historiografia da educação brasileira, seu trabalho está marcado pela concepção de história praticada nos marcos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, qual seja, a premência documental. Por outro lado, não é incomum perceber a presença do autor na própria obra como, por exemplo, sua posição claramente favorável pelos recursos destinados à instrução primária e pelo ensino oficial, ou seja, sob a batuta do Estado.

SOCIEDADE DOS AMIGOS DE ALBERTO TORRES E A EDUCAÇÃO RURAL (1930-1940)

Henrique de Oliveira Fonseca No decorrer da história do Brasil várias associações civis foram fundadas com o objetivo de discutir e participar do cenário político nacional. Este é o caso, por exemplo, da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres - SAAT - (1932-1945), fundada na então capital federal, o Rio de Janeiro, e que teve sua existência marcada pela ascensão e declínio do governo de Getúlio Vargas. Alberto Torres (1865–1917) foi um personagem bastante popular e atuante em seu tempo, em seus livros criticava veemente o modelo político brasileiro, afirmava que a falta de união nacional era um dos principais motivos que coibiam o desenvolvimento do país à condição de uma nação desenvolvida. Torres é considerado por grande parte da historiografia como pertencente ao grupo dos sujeitos que primeiramente teceram reprovações ao modelo republicano, até então vigente, e é também avaliado como um dos fundadores da linhagem do pensamento autoritário brasileiro. Dessa maneira, no começo dos anos de 1930, período de intensas agitações sociais, um grupo de intelectuais formado por Oliveira Vianna, Edgar Roquette-Pinto, Sud Mennucci, entre outros, decidiram fundar a SAAT para dar continuidade ao projeto nacional proposto por Torres. Até hoje foram poucos os estudos que se dedicaram na compreensão do funcionamento e da estruturação dessa sociedade, tal fato se deu, principalmente, pois todo o acervo documental dessa instituição fora perdido em um incêndio ocorrido na década de 40 do século XX. Contudo, ao analisar as revistas educacionais daquele período fica evidente que o nome desse associação era ventilado com frequência como sendo uma organização de incentivo à Educação Rural. Assim, através de uma análise que transita nos estudos sobre intelectuais, política e impresso, esse presente trabalho procura exibir as trajetórias de alguns dos associados da SAAT, almejando vislumbrar rastros que indique uma correlação entre as posturas políticas defendidas por esses sujeitos na esfera pública com as diretrizes e concepções orientadoras da SAAT. Deste modo, por meio de uma pesquisa em diversos artigos de revistas educacionais de Minas Gerais e São Paulo, nas década 30 e 40 do século XX, procurarei compreender melhor o funcionamento e a composição desta sociedade. Nesse sentido, usarei de uma perspectiva analítica que procura situar o intelectual como um mediador, visando observar como a atuação pública sobre determinados aspectos educacionais representava uma transição de proposições instituídas pela SAAT. FORMAÇÃO DE SENSIBILIDADES E MODERNIDADE: O SÉCULO XIX BRASILEIRO TRADUZIDO NA POESIA

DE BERNARDO GUIMARÃES

Matheus da Cruz e Zica Esta comunicação tem como objetivo problematizar representações culturais que sugerem relações entre a formação de determinadas estruturas de sentidos e sensibilidades em meio ao conflito entre tradição e modernidade que se operava no Brasil do século XIX. Em nossas abordagens, privilegiaremos as análises sobre as produções discursivas do escritor mineiro Bernardo Guimarães (1825-1884), sobretudo sua escrita poética. A temática educacional sempre foi uma marca nas reflexões desenvolvidas por Bernardo Guimarães durante toda sua trajetória. Foi Professor do Liceu Mineiro durante quase quinze anos e refletiu profundamente sobre a condição dos jovens nos romances que escreveu, expondo os dilemas colocados para as novas gerações de brasileiros. Seus protagonistas, sejam masculinos ou femininos, localizavam-se sempre nesse recorte geracional. Junto de Flávio Farnese e Lafaiete Rodrigues, inaugurou no início de 1859, no Rio de Janeiro, então Corte do Império do Brasil, uma ‘folha’ liberal intitulada A Actualidade, onde frequentemente publicavam textos sobre a

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condição da instrução e educação no Brasil daquele momento. O que tinham em comum, além da Província de origem, era a passagem pela Faculdade de Direito de São Paulo. Inaugurada em 1827, a Faculdade surge com o propósito de superar a antiga dependência do Brasil em relação a Portugal. Esperava-se dos alunos que passassem por ela que protagonizassem um movimento não só de renovação da legislação e da administração pública do Império do Brasil recém-surgido, mas também de construção de uma mentalidade acerca da nação brasileira, marcada por referenciais associados à modernidade. Não há dúvidas quanto à influência dessa instituição na vida desses sujeitos que se engajaram na produção desse jornal para intervirem nas questões nacionais. Frequentemente a educação aparece como mola mestra para o desenvolvimento da modernidade nacional no periódico mencionado. Na escrita poética de Bernardo Guimarães a questão da educação aparece de forma mais sutil. Toda uma estrutura de sensibilidade é sugerida nessa produção que se dá em meio ao dilaceramento produzido pela tensão entre modernidade e tradição, aspecto importante naquele contexto histórico. Conhecido como o poeta dos jovens, sua escritura também marca a formação sensível de inúmeros leitores que o aclamavam como um autor modelar, o que torna o empreendimento que propomos ainda mais relevante para a História da Educação no Brasil. Para a análise dessa produção escrita foram utilizados os aportes teóricos desenvolvidos por Roger Chartier, Reinhart Koselleck e Hans Gumbrecht.

TOBIAS BARRETO E A EDUCAÇÃO: IDEIAS DE UM MODERNO NO IMPÉRIO BRASILEIRO

Raylane Andreza Dias Navarro Barreto O século XIX responde pela maior transição política do país o que também representa mudanças em suas esferas social, cultural e educacional. A proclamação da República brasileira, o processo de laicização e tudo o que ele alavancou em termos de estruturação do ensino público no país foram senão frutos, mas consequências de uma série de ações de personagens da história do Brasil que pensaram, propuseram e por vezes implementaram modos de ser e conceber o mundo a partir da noção de moderno. Tobias Barreto de Menezes (1839-1889), sergipano da cidade de Campos, foi uma dessas personagens que marcaram o Brasil Império e contribuíram com um projeto de nação voltado para a modernidade. Professor da faculdade de Direito do Recife e divulgador das ideias culturais alemãs no Brasil, Tobias Barreto, como ficou conhecido, foi também poeta, político e autor de vários livros que contemplam temas da filosofia, do direito e da crítica política social, além da religião. Consta no rol dos intelectuais brasileiros por estar a frente das mentes que compuseram o movimento da “Escola do Recife” e por encabeçar projetos que defendiam a democracia na política, a libertação do homem e a educação/emancipação feminina, sendo este último tema de seu projeto de lei, quando deputado provincial em Pernambuco, intitulado Paternogógio que primava pela defesa da escolarização feminina em nível superior. O objetivo desse trabalho é, portanto, compreender as bases de seu pensamento e consequentemente de seus ideas, pensando o Brasil a partir da Filosofia, do Direito e da Cultura. Buscar desvelar em que medida o “projeto de Brasil” pensado Tobias Barreto de Menezes, envolve as noções de moderno, modernidade e modernização, se justifica, haja vista o destaque dado por Carvalho (2012, p. 31) quando este ressalta que parece licito afirmar que os projetos de Brasil invariavelmente têm sido produzidos num circulo vicioso de preconceito, exclusão social, violência e brutalidade, cuja resultante é a ratificação de seus fatores originários. Assim sendo, analisar e interpretar as permanências e as pregnâncias no projeto interpretativo de Brasil, onde a educação ganha relevo, auxilia, por certo, no desvelamento do seu pensamento e o de seus seguidores a exemplo dos juristas, escritores e políticos Silvo Romero e Fausto Cardoso, que encabeçaram, em Sergipe, o movimento republicano. Ao tomar como objeto de estudo a trajetória de vida de Tobias Barreto de Menezes e dentro dela seu desempenho em pensar e propor ao Brasil uma forma de organização da sociedade o faço através da consulta em suas obras, reunidas em 10 volumes, nas quais constam suas ideias acerca da religião, do direito e da filosofia, em especial a alemã e que compõe seu entendimento acerca do papel da educação.

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Sessão Coordenada - 13

ACERVOS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: ENTRE O INSTITUCIONAL E O PROFISSIONAL

Coordenadora: DORIS BITTENCOURT ALMEIDA Eixo Temático: 10 - Patrimônio educativo e cultura material escolar

Nessa comunicação coordenada, tematizam-se a organização de acervos, cujas materialidades se constituem em documentos importantes para a historiografia. Nos estudos aqui reunidos, procurou-se problematizar a produção dos acervos, considerando cada um deles, em que pesem suas especificidades, testemunhos valorosos de práticas culturais, significativos para a construção da História da Educação. Cada um dos trabalhos discute o tema em questão a partir de diferentes perspectivas: dois investigam acervos escolares, outro investiga um acervo pessoal e o último dirige sua atenção a um acervo institucional, representativo de uma comunidade étnica. Os recortes temporal e geográfico compreendem o século XX, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. O interesse nesses acervos está relacionado à possível originalidade do que foi, consciente ou inconscientemente, escolhido para ser preservado. Esses patrimônios educativos sugerem múltiplos modos de observação e provocam a abertura de novas frentes de pesquisas. Nas apresentações, aborda-se, por um lado, a organização de acervos e suas interfaces com os sujeitos que os produziram e suas pertenças religiosas, étnicas, profissionais, geracionais, de gênero. Por outro, analisa-se seu potencial e suas interfaces com o campo da História da Educação. As pesquisas identificam-se com os pressupostos teóricos da História Cultural, tendo como referenciais as concepções de preservação de memórias que promovam a ampliação do repertório historiográfico da educação, enquanto uma produção discursiva de um determinado tempo e lugar. Assim, o conjunto dessas pesquisas permite entender e refletir sobre o pouco que restou dessa materialidade do passado e como foi inventariada. Os estudos “Intuição, inspiração e vínculo: a criação e a manutenção do museu escolar Arnildo Hoppen do Colégio Sinodal de São Leopoldo/RS – 1996/2014” e “Uma iconografia da cultura escolar: Retratos do ensino primário do Colégio Farroupilha/RS (1940 a 1970)” discutem acervos escolares como remanescentes de uma história das escolas. O primeiro objetiva produzir a história do museu escolar e refletir sobre sua materialidade e relações com a História da educação. O seguinte analisa o acervo iconográfico do Colégio, tendo como foco as fotografias/retratos do ensino primário. “Itinerários investigativos no acervo do Professor Elpídio Barbosa (SC – Décadas de 1930- 1960): Um estudo sobre a Revista EBSA” investiga o acervo do professor catarinense que contém documentos oficiais e ordinários que permitem construir uma memória para a história da educação catarinense. Por fim, “Nos rastros de narrativas de memória do povo judeu: O Acervo de História Oral do Instituto Marc Chagall (Porto Alegre/RS – 1985 – 1995)” analisa como se deu a constituição desse Acervo e busca nos depoimentos indícios da história da educação de imigrantes judeus e seus descendentes.

ITINERÁRIOS INVESTIGATIVOS NO ACERVO DO PROFESSOR ELPÍDIO BARBOSA (SC – DÉCADAS DE 1930- 1960): UM ESTUDO SOBRE A REVISTA EBSA

Maria Teresa Santos Cunha

O acervo do professor catarinense Elpídio Barbosa (1909-1966) contém documentos oficiais e ordinários que permitem construir uma memória para a história da educação catarinense entre as décadas de 1930 a 1960. Os materiais reunidos neste acervo permitem mapear a configuração de projetos educacionais em Santa Catarina seja na proposição de políticas públicas para a educação em SC (Escola Nova) seja nas ações efetivas para a gestão destas políticas. Elpídio Barbosa foi, entre 1935 e 1966, advogado, professor, inspetor escolar, reitor da UDESC e diretor de sua Faculdade de Educação e secretário da Educação do estado de Santa Catarina. Seu acervo está depositado no Instituto de Documentação e Investigação de Ciências Humanas (IDCH - UDESC) e é composto por um fundo documental de cerca de trezentas peças entre revistas pedagógicas, catálogos, uma hemeroteca e cadernos com anotações manuscritas, recortes e colagens contendo cópias de leis, atas de reunião e fotografias escolares que se encontram coladas em seus cadernos, autonomeados como “tomos” todos relativos à sua atuação na educação em Santa Catarina, entre 1935 e 1966. Deste acervo já se encontram higienizadas sessenta (60) exemplares da Revista da Editora do Brasil S/A.(EBSA) abrangendo os anos de 1953 a 1964. Este trabalho busca evidenciar um itinerário investigativo nesta coleção de revistas a partir da descrição deste impresso tanto em sua materialidade (dimensões, diagramação) como em seu conteúdo (articulistas, temas, abordagens) com o objetivo de analisar a importância da Revista como veículo de divulgação de ideias e propostas para os professores que atuavam no Ensino Médio, conjugada à trajetória deste professor como um intelectual/

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mediador para a configuração de projetos educacionais em Santa Catarina, desde a década de 1940. Assim, a partir desses vestígios documentais, busca-se dar sentido a esta experiência sob o prisma combinado da História da Educação – como produto de uma construção cultural em articulação com sua dimensão social assumida por noções como representações, práticas e materialidade destes objetos culturais – (CARVALHO e PINTASSILGO, 2011 e FAULLHABER, LEITE LOPES e CHARTIER,2012) e da História do Tempo Presente - que considera as experiências temporais da história e como em cada presente, as dimensões temporais do passado e do futuro são postas em relação (HARTOG, 2013), considerando-se também, diálogos na clave dos estudos sobre o Patrimônio Cultural pela análise das instâncias que custodiam e caracterizam um acervo dessa monta como um bem cultural.

INTUIÇÃO, INSPIRAÇÃO E VÍNCULO: A CRIAÇÃO E A MANUTENÇÃO DO MUSEU ESCOLAR ARNILDO HOPPEN DO COLÉGIO SINODAL DE SÃO LEOPOLDO/RS – 1996/2014.

Luciane Sgarbi Santos Grazziotin

A cidade de São Leopoldo, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, é conhecida como o berço da colonização alemã no Rio Grande do Sul. Em 1824, ao chegarem ao Brasil, os alemães cultivaram seus hábitos: idioma, cultura, religião, em sua grande maioria luterana. O Sínodo Rio-Grandense, responsável, em grande medida pela educação da região, reuniu pequenas escolas de modo a melhorar as condições de estudo dos colonos. Neste contexto é lançada, em 1936, a pedra fundamental do Colégio Sinodal, com bases fortemente luteranas. As marcas dos diferentes contextos de ordem política, econômica, social e cultural, bem como seus efeitos nas instituições escolares e na educação do país podem ser identificados, traduzidos e analisados a partir dos acervos documentais encontrados em distintas instituições de ensino. Esses acervos, ao mesmo tempo em que se constituem em remanescentes de uma história da educação, são também ilhas, muitas vezes isoladas, do contexto escolar a que pertencem. O edifício, o mobiliário conservado, a luz, a iconografia e demais elementos que os compõem, são fragmentos que produzem uma interpretação sobre a globalidade do que foi a escola de outros tempos (DÍAZ, 2002). Os discursos escolares, materializados em museus, arquivos e acervos, produzidos nos espaços de conservação a eles destinados, configuram uma espécie de hermenêutica daquele que organizou e para aquele a quem se destina esse “lugar de memória”, que é, de modo geral, uma comunidade escolar. Uma professora de Artes entusiasmada, um professor de História colaborador, um diretor empreendedor, um marceneiro criativo e uma faxineira disposta: cinco pessoas e a história de criação e organização de um museu escolar. O Museu Escolar Arnildo Hoppen do Colégio Sinodal em São Leopoldo, foi inaugurado dia 19 de maio de 1996. A investigação que tem como objetivo, produzir a história desse espaço e fazer uma reflexão sobre a materialidade desses objetos e sua relação coma a História da educação, faz parte de um projeto intitulado Instituições escolares na Região Metropolitana de Porto Alegre e Vale dos Sinos: acervos, memórias e cultura escolar - sec. XIX e XX. A construção da empiria para a análise deste espaço, que hoje se denomina museu e arquivo, foi se constituindo a partir de visitas ao acervo, de produção de imagens do espaço por ele ocupado, consultas aos documentos e, sobretudo, a partir da narrativa memorialística de sua idealizadora: a professora Lilian Sofia Saenger. A professora Lilian foi aluna nas décadas de 1940 e 1950, trabalhou como secretaria da escola entre 1951 e 1957 e, em 1974, retornou como professora. Através de suas memórias foi possível entrever uma rede de elementos que tornaram possível a criação, conservação e permanecia, até os dias atuais, do espaço em questão.

NOS RASTROS DE NARRATIVAS DE MEMÓRIA DO POVO JUDEU: O ACERVO DE HISTÓRIA ORAL DO INSTITUTO MARC CHAGALL (PORTO ALEGRE/RS – 1985 – 1995)

Doris Bittencourt Almeida

A presente investigação faz parte das ações desenvolvidas pelo grupo de pesquisa “Educação no Brasil: memória, instituições e Cultura Escolar”. Elege-se como objeto de análise o Acervo de História Oral do Instituto Marc Chagall, localizado em Porto Alegre, que salvaguarda memórias de imigrantes judeus no Rio Grande do Sul. O Instituto Marc Chagall foi criado em 1985 com o objetivo de promover o reconhecimento da cultura judaica no Rio Grande do Sul. Aqui interessa apresentar e problematizar um de seus acervos, o de História Oral, composto por quase 500 entrevistas desenvolvidas com imigrantes judeus e seus descendentes, todas elas transcritas e disponíveis para consulta. Este Acervo começou a ser constituído em 1986 com o projeto “Preservação da Memória Judaica”. Naquela ocasião, escutaram-se 428 narrativas desta comunidade étnica, tanto de Porto Alegre, quanto de cidades do interior do Estado. Na década de 1990, o Instituto Marc Chagall promoveu um novo projeto intitulado “Identidade Judaica”, cuja proposta era produzir documentos para elaboração de um censo da

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comunidade judaica no Rio Grande do Sul. Assim, complementou-se o Acervo de História Oral com mais 40 entrevistas. A pesquisa situa-se no campo da História da Educação, em suas interfaces com as discussões acerca da constituição de Acervos, Memória e História Oral. Teorizar e conferir dinamicidade e legitimidade às investigações que tenham a História Oral como opção metodológica é uma forma de desenvolver pesquisas que envolvam movimentos realizados em comunidades de memória anteriormente organizados por outros. Neste sentido, valoriza-se aqui esse Acervo de História Oral do Instituto Marc Chagall, entendendo-se que as narrativas produzidas nas entrevistas são portadoras de informações preciosas que nos permitem um maior entendimento das histórias vividas pelo povo judeu desde seu processo de emigração da Europa até a chegada ao Brasil. Especificamente, a pesquisa busca analisar como se deu a constituição desse Acervo, quem eram as pessoas responsáveis pelas entrevistas, como elas aconteceram, como se deu a escolha dos narradores, quais as questões disparadoras, quais os evocadores de memória, entre outros aspectos. Para além da constituição do Acervo de História Oral, importa analisar nesses depoimentos indícios da história da educação desses sujeitos, incluindo aí seus processos de escolarização. Trabalhar com essas memórias por meio da utilização de um Acervo Oral já existente é uma legítima possibilidade historiográfica que promove a produção de outras histórias tendo como fonte vozes de mulheres e homens, de certo modo imortalizadas, preservadas no Instituto Marc Chagall.

UMA ICONOGRAFIA DA CULTURA ESCOLAR: RETRATOS DO ENSINO PRIMÁRIO DO COLÉGIO FARROUPILHA/RS (1940 A 1970).

Maria Helena Camara Bastos

O estudo da imagem como um arquivo da memória escolar e da memória das práticas educativas é um dispositivo de informação e de formação. A imagem é uma proposta ou protocolo de leitura, sugerindo ao leitor a compreensão do texto e do seu significado. A iconografia na história e, especialmente, na história da educação tem sido analisada como um registro histórico que merece um tratamento interno e externo pelos pesquisadores. A imagem constitui uma forma importante de evidência histórica e nos permite “imaginar” o passado de forma mais vívida. A análise de imagens deve abarcar os seus diversos elementos e planos, identificando mensagens e motivações, o que implica uma leitura de temas e significados, que trazem as formas expostas na imagem e o contexto de produção e recepção (BURKE, 2004). A leitura de imagens representa um campo de pesquisa da História Cultural, pela conjugação de três elementos não dissociáveis: uma história dos objetos em sua materialidade, uma história das práticas nas suas diferenças e uma história das configurações, dos dispositivos nas suas variações. Por longo tempo, as imagens foram utilizadas como ilustração de algo, como paisagem ou retrato. A sua redescoberta deu-se pela associação com a ideia de representação (CHARTIER, 1999). Entendendo as representações e as imagens como elementos que participam das relações sociais e como práticas educativas, o presente estudo analisa o acervo iconográfico do Memorial do Colégio Farroupilha de Porto Alegre/RS (1886), tendo como foco as fotografias/retratos do ensino primário, nas décadas de 1940 a 1970. O corpus documental é composto de 700 fontes imagéticas, a maioria em preto e branco, realizadas majoritariamente pelo Studio Os Dois, que podem ser classificadas como individuais, coletivas, de sala de aula, de festas escolares, quanto ao gênero, posadas ou espontâneas, em filas, alunos, professores, alunos e professores, etc. As imagens serão analisadas como representações da cultura escolar. A pesquisa também abordará os outros estúdios fotográficos presentes no espaço escolar. O estudo com imagens – cartazes de propaganda, anúncios de publicidade, ilustração de livros didáticos e revistas pedagógicas, fotografias, mapas, plantas, filmes, lâminas, slides, obras de arte, desenhos, histórias em quadrinhos – oferece múltiplas possibilidades de leitura da liturgia escolar, como discurso pedagógico e não como um mero elemento decorativo.

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Sessão Coordenada - 14

TRANSNACIONALIZAÇÃO E EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA: DESENVOLVIMENTISMO, MODERNIZAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS NOS

DEBATES EDUCACIONAIS NAS DÉCADAS DE 1950 E 1960

Coordenadora: MARIA DAS DORES DAROS Eixo Temático: 1 - Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira

A Comunicação Coordenada busca apresentar e discutir a presença das lógicas transnacionais no debate educacional brasileiro dos anos de 1950 e 1960. Embora as leis e a organização do sistema educativo brasileiro resultem da ação do governo do país, elas seguem na esteira de um pensamento mais global e de uma estratégia de desenvolvimento definida em função de conveniências de uma sociedade capitalista. São, sobretudo, importantes, em relação à modernização, às pressões para o desenvolvimento da escola de massas. Esse desenvolvimento era sentido como necessário à expansão das relações que deveriam promover a consolidação e a expansão das sociedades que valorizavam a iniciativa privada, os valores burgueses, a circulação do capital e dos produtos, o aumento do consumo. Fortes pressões externas mais ou menos explícitas pela influência do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e de outros organismos internacionais, estiveram presentes em vários países, na segunda metade do século XX, sobre diversas formas: missões técnicas para a orientação do planejamento educacional, realização de conferências educacionais, assistência na produção do conhecimento para a implementação das políticas públicas pela valorização do papel das ciências sociais, como também a realização de empréstimos, entre outras ações. A criação de organizações internacionais de natureza supranacional, como a Unesco, proporcionou um forte impulso à internacionalização das problemáticas educacionais. As várias ações realizadas faziam parte do “esforço para estabelecer uma racionalidade científica que permitisse formular leis gerais capazes de guiar, em cada país, a acção reformadora no campo da educação permitindo criar vastas redes de conctatos, de financiamentos e de permuta de informações e conhecimentos entre autoridades político-administrativas de âmbito nacional, actores sociais experts e investigadores universitários” (TEODORO, 2001, p. 127). O tema predominante no meio intelectual brasileiro nos anos de 1950 e 1960 era o tema da mudança social, ancorada na percepção dualista da realidade brasileira. Esses foram os anos do desenvolvimentismo, forma de teorizar a industrialização elaborada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e divulgada no Brasil, visando colocar o Estado a serviço de um acelerado crescimento econômico, reunindo intelectuais e educadores em torno do projeto de democratização da sociedade brasileira, ancorado também no debate transnacional sobre a educação.

DESENVOLVIMENTISMO E TRANSNACIONALIZAÇÃO NA DISCUSSÃO EDUCACIONAL NO BRASIL DOS ANOS 1950 E 1960

Maria das Dores Daros

A educação que se discute e que se organiza no Brasil participa de um sistema civilizacional fortemente relacionado com a ordem econômica capitalista. Assim, e reconhecendo que todo o país tem sistemas educativos com particularidades decorrentes das dinâmicas econômicas e culturais de cada um e de processos e protagonismos políticos singulares, devemos ter em consideração que a educação no Brasil está sujeita a lógicas transnacionais que a condicionam fortemente. Embora as leis e a organização do sistema educativo brasileiro resultem da ação do governo do país, elas seguem na esteira de um pensamento mais global e de uma estratégia de desenvolvimento definida em função de conveniências de uma sociedade capitalista. Exploraremos a hipótese de um processo de globalização cultural de longa duração, que inclui a expansão da forma política do Estado-Nação (DALE, 1999), para compreender a relação entre educação e desenvolvimento no Brasil, tendo como principais atores, nas décadas de 1950/1960 organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre outras. A criação de organizações internacionais de natureza supranacional, como a Unesco, proporcionou um forte impulso à internacionalização das problemáticas educacionais. As conferências, missões e assistência técnica e financeira foram oferecidas a inúmeros países, entre os quais o Brasil. Nas recomendações das Conferências Internacionais de Instrução Pública da Unesco (12 Conferências realizadas entre os anos de 1946 e 1962), a maior ênfase está na preocupação com a universalização da educação primária, obrigatória e gratuita,

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com a diversificação da educação secundária e sua progressiva gratuidade, bem como a articulação deste grau de ensino com o antecedente e com o acesso ao ensino superior. Essas recomendações estão centradas na equação educação e desenvolvimento, ou seja, na crença que a expansão e a melhoria dos sistemas educativos assegurariam o desenvolvimento socioeconômico e cultural. O tema predominante no meio intelectual brasileiro nos anos de 1950/1960 era o tema da mudança social, ancorada na percepção dualista da realidade brasileira. Esses foram os anos do desenvolvimentismo, forma de teorizar a industrialização, elaborada pela Cepal e divulgada no Brasil, visando colocar o Estado a serviço de um acelerado crescimento econômico. No Brasil as bases do projeto nacional desenvolvimentista são reforçadas pelo processo de redemocratização do país após a queda do Estado Novo em 1945, sendo esse um momento de confluência entre o projeto do Estado Nacional e as ambições dos educadores e intelectuais reunidos em torno do projeto de democratização da sociedade brasileira, reforçado também pela transnacionalização da discussão educacional.

“EDUCADOR BRASILEIRO COM INTERESSES COMPARATIVOS”: ARTICULAÇÕES ENTRE AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A EDUCAÇÃO COMPARADA NO PENSAMENTO E ATUAÇÃO DO INTELECTUAL JOÃO

ROBERTO MOREIRA (DÉCADAS DE 1950/1960)

Leziany Silveira Daniel Nas décadas de 1950 e 1960, o Brasil vivia um período de redemocratização e reconstrução nacional e o mundo enfrentava o pós-guerra, reorganizando-se o sistema capitalista, tanto nos países mais desenvolvidos como nos países menos desenvolvidos. Os organismos internacionais passaram a prestar assessoria aos países latinos na produção de conhecimento e implementação de políticas públicas para a organização da sociedade. Em especial, valorizou-se o papel das ciências sociais no direcionamento do planejamento econômico e desenvolvimento social dos países latino-americanos. A educação passou a ser pensada como fator determinante para a democracia e desenvolvimento do país, a partir de uma “modernização planejada” (XAVIER, 1999). Dessa forma, “a mobilização no interior do campo intelectual foi marcada pelo empenho em criar instituições e abrir mercado próprio para o assessoramento na condução das políticas públicas, tendo como princípio norteador o planejamento racional e científico” (XAVIER, 1999, p. 82). Foi neste contexto de mudanças sociais, políticas e econômicas, que o intelectual brasileiro João Roberto Moreira (1912-1967) iniciou sua atuação em órgãos e centros de pesquisa da educação nacional e internacional, entre eles o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) e o Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS). Moreira participou de um momento em que se iniciava o processo de institucionalização das ciências sociais, na mesma medida em que se intensificava o processo de profissionalização e racionalização da esfera educacional. Nos seus estudos publicados, bem como nas atuações que marcaram sua trajetória, Moreira passou a participar de um projeto que, a partir da fundamentação científica nas ciências sociais, refletiu sobre a educação e a organização dos sistemas de ensino, bem como pretendeu colaborar no direcionamento de políticas de Estado para essa área, subsidiando o encaminhamento dado por este e pelos organismos internacionais à educação no Brasil e dos países latino-americanos, em especial a partir de sua especialização na área da Educação Comparada. Para George Bereday, especialista da Educação Comparada, no seu livro Método Comparativo em Educação, de 1968, Moreira pode ser considerado um estudioso da Educação Comparada, na América Latina. Considera-se, assim, que Moreira participou desse projeto implementado na América Latina por estes organismos e coadunou com muitos dos intelectuais que acreditavam no papel central das ciências sociais para o encaminhamento das políticas nacionais, bem como na sua função como intelectual que buscava compreender o sistema histórico-social e fornecia subsídios para intervenção. Moreira integrou, neste sentido, um “projeto de modernização da sociedade e de edificação de uma ciência do desenvolvimento e de mudança planificada” (BLANCO, 2007, p. 105).

MISSÃO TÉCNICA INTERNACIONAL PARA A ORIENTAÇÃO DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NO BRASIL NAS DÉCADAS DE 1950/60

Marilândes Mól Ribeiro de Melo

No Brasil dos anos 1950 e 1960 a cooperação técnica internacional não era uma raridade. Sua difusão no século XX pode ser observada nas décadas anteriores, quando a Universidade de São Paulo (USP) recebeu missões de professores franceses nos anos 1930, e também foi criada a Comissão Mista Brasil Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico em 1951 e encerrada em 1953, durante a segunda gestão do governo de Getúlio Vargas (RIBEIRO, 2013). Essas missões encontraram no País uma ambiência privilegiada e receptiva, e após a 2ª Guerra Mundial a intervenção de organizações internacionais nas políticas educativas nacionais, como novos

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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas

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modos de regulação da problemática educacional, possuem uma intensa movimentação. As missões não focaram somente o campo educacional, mas também outros campos como, por exemplo, o da arte e da cultura, uma vez que podemos destacar a presença dos peritos Michel Parent (1966/1967), Frédéric Limburg Stirum (1967 - projeto Parati); Graeme Shankland (1968/1969 - Projeto Salvador) e Alfredo Viana de Lima (1968/1970 - Projeto Ouro Preto), dentre outros que se fizeram presentes depois dos anos 1970 (RIBEIRO, 2013). António Teodoro (2001), inspirado em B. Fuller e R. Rubinson (1992) transcreve em uma epígrafe: “Deus se encarnava sempre na figura de um ministro da educação”, o que demonstra que o sistema escolar se constituía “um dos lugares centrais no processo de construção da modernidade” (TEODORO, 2001, p. 125). Assim, o objetivo das missões, tanto culturais quanto educacionais, foi a integração desses campos ao planejamento e ao desenvolvimento do país. No que diz respeito ao campo educacional, as missões internacionais procuraram imprimir soluções aos problemas educacionais. Deste modo, negociações e intensas trocas foram possibilitadas pela cooperação técnica da agência internacional Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Brasil. As missões técnicas foram oferecidas por meio de convênios realizados entre o Ministério de Educação a vários estados brasileiros, entre os quais Santa Catarina, no intuito de reforçar a ideia de promoção do desenvolvimento por meio da elaboração do planejamento da educação. O planejamento e a pesquisa eram prescritos como “remédios” capazes de curar os males da educação (elevada taxa de repetência e evasão) e de tornar hígidos os recursos humanos e materiais para acelerar o progresso social, econômico e cultural. Assim, os países da periferia e da semiperiferia. ocidental começam a depender cada vez mais, na formulação de suas políticas educativas, “da legitimação e da assistência técnica das organizações internacionais” (TEODORO, 2001, p. 127).

PESQUISA E PLANEJAMENTO EDUCACIONAL NO BRASIL DOS ANOS 1950/1960: TRANSNACIONALIZAÇÃO E MODERNIZAÇÃO

Elaine Aparecida Teixeira Pereira

O período de democratização do Brasil iniciado em 1945 foi marcado pelo clima de modernização via desenvolvimento da indústria e da infraestrutura nacional. Tal contexto contribuiu para a crença de que o país, além de fabricar seus bens e produtos, deveria gestar conhecimentos, uma vez que estes subsidiariam propostas ajustadas à modernização preconizada (FREITAS, 2002). A prática do planejamento com fins à modernização, no tocante à educação, esteve relacionada à criação de instituições voltadas para o desenvolvimento de pesquisas ancoradas nas ciências sociais. Conceitos e métodos dessas ciências aplicadas à educação embasaram campanhas e inquéritos acerca da realidade educacional brasileira, como é o caso das iniciativas do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE). A partir de 1952, quando assumiu a direção do INEP, uma das primeiras ações de Anísio Teixeira foi a implementação da Campanha de Inquéritos e Levantamentos do Ensino Médio e Elementar (Cileme), que atendia ao objetivo de conhecer a realidade educacional dos estados brasileiros a fim de planejar racionalmente as ações a serem efetivadas, numa vinculação entre pesquisa, planejamento, elaboração de políticas educacionais e aplicação de recursos no setor. A partir do ano de 1956, as atribuições da Cileme passaram ao CBPE que, criado com a colaboração da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), encontrava-se afinado às ideias que circulavam transnacionalmente acerca das relações entre educação, modernização e desenvolvimento. Intersecções entre o local, o nacional e o transnacional podem ser identificadas como uma das características do projeto, pois, ao mesmo tempo em que eram realizados estudos sobre a realidade nacional (“encomendados” ou não pela Unesco), com atenção às características regionais, também se colocava a perspectiva transnacional, uma vez que os intelectuais ligados ao CBPE circulavam em instâncias que extrapolavam os limites do país. Lógicas transnacionais representadas por organismos como a Unesco estiveram presentes em vários países no período em questão, o que se deu tanto na forma de missões técnicas para a orientação do planejamento educacional, quanto pela realização de conferências educacionais, ou ainda na assistência à produção de conhecimentos ancorados nas ciências sociais visando à implementação de políticas públicas. Uma das preocupações que emerge nos discursos assinados por esses organismos é a universalização da educação primária, obrigatória e gratuita, o que encontrou ressonância no Brasil e no estado de Santa Catarina, quando, por exemplo, há uma série de projetos voltados para as escolas primárias rurais e a formação de seus professores, em iniciativas que pareciam atender ao objetivo de uma espécie de modernização do arcaico.

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Sessão Coordenada - 15

REPUBLICA E EDUCAÇÃO: DEMANDAS PEDAGÓGICAS E CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PROJETO DE FORMAÇÃO DE FUTUROS CIDADÃOS

Coordenadora: ELIANA DE OLIVEIRA Eixo Temático: 1 - Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira

Republica e educação: demandas pedagógicas e condições de trabalho no projeto de formação de futuros cidadãos Esta mesa coordenada tem como tema central de estudos algumas proposições pedagógicas elaboradas e discutidas ao longo da primeira metade do século XX por diferentes setores sociais. Destaca-se que desde os primeiros anos republicanos ampliaram-se os debates e os esforços para a efetivação da educação escolar no Brasil que de modo diferenciado do período imperial centrou o foco na necessidade de formação de futuros cidadãos, dada a nova condição politica dos cidadãos. Esta questão associada ao alto índice de analfabetismo se desenvolveu em meio à proibição do voto dos analfabetos, ao crescimento urbano, a demanda social pela escola, movimentos operários e disputas politicas regionais. De qualquer modo o desenvolvimento da educação escolar e o fortalecimento da cidadania se apresentaram como fatores fundamentais para ordenação social e desenvolvimento da nação brasileira. No bojo desta questão e entre as múltiplas discussões sobre a importância e função da educação escolar destacamos quatro debates que organizam esta mesa. O primeiro, “Disputas militares em torno da escola republicana positivista” objetiva identificar as diferenças no interior do campo militar, quanto à apreensão da doutrina positivista presente na elaboração das propostas pedagógicas para a escola republicana; o segundo, “Exigências morais a profissão docente: o debate sobre a moralidade dos professores primários no Segundo Congresso Brasileiro de Instrução Primária e Secundária (1912)”, analisa as demandas morais aos professores da escola primária discutidas no Segundo Congresso Brasileiro de Instrução Primária e Secundária, ocorrido em Belo Horizonte no ano de 1912, este evento se realizou em meio às demandas pela nacionalização da escola primária e reformas na formação dos professores; o terceiro, “Escola republicana e condições de trabalho: proposições dos professores”objetiva problematizar a associação dos professores frente as novas exigências trazidas pelas reformas escolares e suas propostas para melhoria da educação primária; o quarto “Republica, formação do cidadão e debates sobre a educação rural (1934-1961)”, realiza um levantamento das principais proposições pedagógicas para a educação no meio rural, no recorte temporal indicado, levando-se em consideração as necessidades de desenvolvimento econômico, e principalmente o problema do crescimento urbano e êxodo rural. Os trabalhos discutem fontes documentais diversas bem como estudos bibliográficos do campo da historia e da história da educação e estudos conceituais nos campos da sociologia e da politica. Palavras chaves: educação republicana, debates políticos, debates pedagógicos

DISPUTAS MILITARES EM TORNO DA ESCOLA REPUBLICANA POSITIVISTA

Claudia Alves

A circulação de ideias associadas ao positivismo de Auguste Comte iniciou-se no Brasil logo na segunda metade do século XIX. A historiografia assinala a repercussão que tais ideias tiveram no meio militar, com destaque particular para professores e alunos da Escola Militar da Corte, que formava oficiais para o exército brasileiro. O ideário positivista fomentou a adesão ao projeto republicano e fundamentou as críticas ao regime monárquico, assentando as bases do golpe militar que instaurou a república no Brasil. Na historiografia da educação brasileira, a presença dos pressupostos positivistas foi constatada em várias dimensões da educação e dos processos de escolarização empreendidos na Primeira República. O primeiro momento representativo das tentativas de implementação prática das propostas comtianas para a educação escolarizada é assinalado na reforma de ensino consubstanciada no Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890, que determinou um novo Regulamento para a instrução primária e secundária do Distrito Federal, conhecida como Reforma Benjamin Constant. Vista como resultado da vontade de um dos maiores expoentes do pensamento positivista do século XIX, a vinculação direta do instrumento legal ao nome do oficial que ocupava, naquele momento, a Secretaria da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, criada pelo novo regime, é assumida como um dado pacífico. A liderança de Benjamin Constant sobre as hostes positivistas militares impõe-se como um fato de tal envergadura que as disputas que ocorreram em torno das leituras da obra de Comte são pouco discutidas pelos historiadores. Neste trabalho, investimos em mapear as diferenças no interior do campo militar, quanto à apreensão da doutrina positivista, em especial no que se refere à escola, no âmbito do projeto republicano. As principais fontes utilizadas foram

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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas

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documentos manuscritos do acervo da Casa de Benjamin Constant e os artigos publicados por Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos no Jornal do Comércio, no período imediatamente posterior ao decreto da reforma. O principal objetivo foi identificar os pontos de divergência nessas leituras, colocando em foco um campo de representações sobre a escola, o papel dos professores e o Estado republicano. Por meio da análise desse corpus documental, foi possível perceber as nuanças da adesão de Benjamin Constant às ideias de Auguste Comte, permeadas por uma experiência de ocupação de postos no estado construída sob a monarquia. Observou-se, também, os dilemas que, no nascedouro, se impunham a um projeto republicano de educação escolarizada que pretendesse aderir ao comtismo de forma radical. Palavras-chave: República, positivismo, Benjamin Constant

EXIGÊNCIAS MORAIS A PROFISSÃO DOCENTE: O DEBATE SOBRE A MORALIDADE DOS PROFESSORES PRIMÁRIOS NO SEGUNDO CONGRESSO BRASILEIRO DE INSTRUÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA (1912)

Talita Barcelos

Os anos iniciais da República pautaram-se pelo debate em relação à necessidade da ampliação do acesso à instrução pública, uma vez que, ela era considerada o componente essencial para o progresso e a modernização do país. Nesse contexto, alguns espaços de debate foram construídos com o intuito de discutir as possibilidades de diminuição dos altos índices de analfabetismo da população no período. Um desses espaços foi estabelecido por meio dos Congressos Brasileiros de Instrução Primária e Secundária, ocorridos entre 1911 e 1913, que tinham por objetivo debater os princípios e as ações necessárias para o desenvolvimento de uma educação nacional. Dentre os diversos temas discutidos nesses congressos, ressaltava-se a importância atribuída ao papel do professor, entendido como agente essencial na educação das crianças principalmente no que diz respeito à importância moral de sua função. O objetivo desse trabalho é analisar as demandas morais aos professores da escola primária nos debates do 2º Congresso Brasileiro de Instrução Primária e Secundária, realizado em Belo Horizonte no ano de 1912. Esse congresso pretendia concentrar seus debates especificamente nas questões relativas à educação primária. Como fonte de análise utilizou-se as atas de organização e os anais relativos ao 2º Congresso, bem como, notícias de jornais do estado de Minas Gerais que deram visibilidade ao Congresso educacional. Para análise das fontes tomou-se como referencial teórico a perspectiva do sociólogo Èmile Durkheim visando entender o educador como instrumento moralizador no processo de socialização e aprendizagem dos alunos. Utilizou-se ainda, os conceitos de Norbert Elias considerando a escola, e a moral construída através dela, como parte de um processo civilizador. Constatou-se que a formação e o resguardo moral dos professores constituía-se ponto fundamental das questões e dos debates realizados no Congresso, logo que, a educação moral do cidadão deveria ser aspecto imprescindível do processo educativo das novas gerações. Entre outras questões, identificou-se que os debates realizados durante o Congresso destacaram o professor como sujeito fundamental para a erradicação do analfabetismo e para a transformação das crianças em cidadãos moralmente ativos para a república. Desse modo, esse trabalho pode concorrer para o entendimento do processo de construção da profissão docente, esclarecendo os aspectos e as demandas que se constituíram associados à profissão. Pode ainda, contribuir para o debate em torno dos projetos educacionais em disputa nos anos iniciais da república e como a profissão docente era influenciada ou se relacionava com tais projetos. Palavras-Chave: Moral, profissão docente, república.

ESCOLA REPUBLICANA E CONDIÇÕES DE TRABALHO: PROPOSIÇÕES DOS PROFESSORES

Eliana de Oliveira Cynthia Greive Veiga

Esta comunicação apresenta reflexões desenvolvidas em pesquisa recentemente concluída sobre o processo de profissionalização dos professores públicos primários em Minas Gerais nos anos iniciais da republica. Parte-se da premissa de que o processo de normatização da escola pública primária realizada pelos governantes mineiros e que culminou na criação oficial dos grupos escolares no ano de 1906, contribui de forma significativa para alterar as dinâmicas relacionais entre o professorado, bem como entre docentes, gestores do ensino e comunidades locais, havendo inclusive em algumas escolas variados conflitos que culminavam em processos disciplinares, perseguições políticas, abandono do cargo e em alguns casos, no surgimento ou agravamento de doenças, relacionadas com problemas de fundo nervoso. Por sua vez, concomitante com o processo de organização dos grupos escolares, os professores também começam a se organizar em associações docentes, que culminou na criação da “União do Magistério Mineiro” em 1906 e na realização de três encontros anuais entre os professores primários ocorridos respectivamente nos anos de 1909, 1910 e 1911 intitulado “Congresso dos Professores Públicos Primários de Minas Gerais”. Nossa principal hipótese é que a instituição dos grupos escolares

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intensificou de forma significativa as relações entre os docentes, visto que passaram a compartilhar de forma mais intensa as experiências da prática do trabalho, o que por sua vez, contribuiu para acentuar o processo de criação das entidades associativas e a realização de proposição para a melhoria da escola primaria e das condições de trabalho. A análise do processo de associação entre os professores primários se fundamentou na teoria de Edward Thompson, deste modo, pretendeu-se explicar que a consciência de classe elaborada pelo professorado favoreceu a organização dos professores enquanto categoria profissional de modo a fazer ouvir suas reivindicações. A teorização de Norbert Elias também contribuiu para dar visibilidade a dinâmica relacional de interdependência presente no processo de escolarização, sendo possível, perceber a existência de equilíbrios diferenciados de poder entre professores, alunos, pais e gestores do ensino. As principais fontes utilizadas para o desenvolvimento desta comunicação foram os documentos que se encontram no Arquivo Público Mineiro, como as correspondências enviadas a Secretaria do Interior, contendo solicitações e queixas de professores e inspetores ambulantes no que diz respeito as condições de trabalho nas escolas primárias. Também foi dado destaque para as publicações no Jornal “Minas Gerais” referente a “União do Magistério Mineiro” e sobre a realização dos três encontros do “Congresso dos Professores Públicos Primários de Minas Gerais”. Palavras Chave: escola republicana, condições de trabalho docente, associativismo docente

REPÚBLICA, FORMAÇÃO DO CIDADÃO E DEBATES SOBRE A EDUCAÇÃO RURAL (1934-1961)

Adelia Bassi Ana Carolina Bergamashi

Esta comunicação analisa os debates sobre a elaboração de políticas de estruturação da educação rural no Brasil por meio de estudos sobre os projetos de educação rural em circulação no período entre 1934 e 1961. Neste recorte histórico, adotamos como marco inicial a promulgação da Constituição de 1934 que de modo inédito previu fundos para a educação rural e, como marco final, a finalização da primeira lei de diretrizes e bases da educação nacional em 1961. No Brasil, desde o período imperial é possível identificar iniciativas de educação para o trabalho no meio rural, especificamente nas instituições inauguradas após a Lei do Ventre Livre (1871), como colônias e asilos orfanológicos. Neste contexto, se instaurou uma tradição de associação entre formação rural e crianças marginalizadas social e economicamente. Esta prática se seguiu ao longo da república, embora alguns grupos escolares trouxeram em seus currículos, conhecimentos elementares de práticas agrícolas. Com o avanço da urbanização, crescimento da indústria e êxodo rural, ampliou-se a nacionalização dos debates sobre a educação rural e profissionalização tanto no nível da escola primária como da escola secundária, incluindo o aparecimento da vertente do ruralismo pedagógico. Há de se destacar que no contexto em estudo houve um deslocamento nas representações negativas da população brasileira (ROCHA, 2004), para uma dimensão de república pautada pelo nacionalismo e valorização popular. Contudo, nas discussões sobre educação e profissionalização da população rural destacam-se contradições. Nossa hipótese é de que os projetos de educação rural foram constituídos pelos valores da vida urbana e, paradoxalmente, acabaram por negar a própria vida rural. O objetivo do estudo é realizar um levantamento das principais proposições pedagógicas para a educação no meio rural, no recorte temporal indicado, em diferentes fontes documentais tais como legislações, artigos veiculados em periódicos, como a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, anais dos congressos da Associação Brasileira de Educação (ABE), entre outras. Os estudos historiográficos se fazem através da produção sobre república dialogando principalmente com Ângela de Castro Gomes (2002; 2013), Marcos Cezar Freitas (2005), Maria Helena Capelato (2007); historiadores da educação contemporâneos como Flavia Werle (2007; 2010; 2013) e Marta Carvalho (1998); autores clássicos, como Alberto Torres (1982), Sud Menucci (1934), Fernando de Azevedo (1953, 1962), Jorge Nagle (1974; 1975), entre outros; os estudos teóricos e conceituais se realizam no âmbito da sociologia rural a partir dos estudos de José de Souza Martins (1986; 1975) e William Héctor Soto (2002). Palavras-chave: Educação rural; República; Modernização do campo.

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Sessão Coordenada - 16

REPÚBLICA, EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE DE PROPOSIÇÕES POLÍTICO PEDAGÓGICAS: POSITIVISMO, COMUNISMO, INTEGRALISMO,

ESCOLANOVISMO.

Coordenadora: MAYSA GOMES RODRIGUES Eixo Temático: 1 - Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira

A proposta desta mesa resulta de discussões sobre a República em vários e diferentes aspectos, buscando a compreensão de seus contextos e dos processos educadores. Não sem razão, a diversidade de abordagens traduz a heterogeneidade da Primeira República no Brasil, e as temáticas aqui expostas estiveram presentes nos debates educacionais constituindo as diferentes matizes do pensamento pedagógico e das ações educacionais enquanto políticas de Estado. Esta mesa se organiza a partir de quatro comunicações que abordam distintas proposições pedagógicas, são elas: “República e educação: o positivismo como um processo educador” que analisa a relação positivismo e educação em sua construção enquanto um processo educador, considerando em seu contexto a produção de concepções de educação e sociedade que circularam por meios diversos em fins do século XIX e início do XX, influenciando os processos políticos, sociais e educacionais; “As relações perigosas: espiritismo, marxismo, comunismo, educação de adultos” que objetiva compreender figuração estabelecida por Paschoal Lemme (1904-1997) em sua interdependência com outras figuras sociais no processo de militância e produção intelectual na educação de adultos; “O Integralismo e a educação: escolas integralistas em Minas Gerais (1932-1937)” que analisa a educação nas fileiras do integralismo a partir da implantação e funcionamento das escolas integralistas em Minas Gerais e “Escola Nova: da renovação do ensino à reforma educacional pelo alto” busca pontuar as ideias pedagógicas esgrimidas na sociedade civil, distinguindo as diferentes concepções de escola em jogo no processo da organização do ensino na Paraíba e no Rio Grande do Sul na década de 1940. Perfaz, assim, uma trajetória da história da educação brasileira de fins do século XIX a meados do XX, período de maior vigor destas propostas educacionais. A presença das diferentes proposições podem levar, em um primeiro momento, a pensar em rupturas ou dicotomias, no entanto, o entendimento dos processos mais específicos da história da educação demonstraram que, no trânsito social e político, diversas tendências do pensamento educacional caminharam juntas: ora se aproximando, ora se negando e ora se mesclando. Neste entendimento é possível observar e compreender como a história da educação da Primeira República e dos anos subseqüentes abrigou em seus domínios a complexidade social do período. Neste movimento, esta proposta de comunicação coordenada além de aprofundar o diálogo com as especificidades da educação que constituíram a diversidade do período, busca compreender, por meio de novas fontes e olhares mais específicos, como e em que aspectos, proposições articuladas com o positivismo, com o comunismo, com o integralismo e o escolanovismo permearam as discussões político-sociais sobre a educação e as proposições de ações no contexto de sua importância na construção do Brasil.

REPÚBLICA E EDUCAÇÃO: O POSITIVISMO COMO UM PROCESSO EDUCADOR.

Maysa Gomes Rodrigues Este trabalho analisa a relação positivismo e educação a partir das propostas veiculadas em estudos, publicações e periódicos associados a essa corrente de pensamento. Parte da constatação da visibilidade que ambos, positivismo e educação, adquiriram na República brasileira e busca compreender, pelas fontes, como esta relação se constrói e se apresenta enquanto um processo educador. Considera que o positivismo é essencialmente pedagógico tanto nas proposições quanto nas ações, e que seus adeptos (ortodoxos e não ortodoxos) produziram concepções de educação e sociedade que circularam por meios diversos em fins do século XIX e início do XX, influenciando os processos políticos, sociais e educacionais. Tais concepções, calcadas principalmente nas lições de Comte, proliferaram em diferentes estados, escolas, faculdades, entre políticos, professores e alunos, aliadas às lutas políticas da abolição da escravatura e da instauração da República brasileira. A ambiência positivista em diferentes escolas do país, a atuação de professores e as publicações construíram a visibilidade desta corrente de pensamento, que teve na República sua emergência política. Assim, o ideário positivista se transformou em conteúdos escolares e programas políticos com vistas ao progresso, onde a Humanidade, por meio do conhecimento, do ordenamento político-social, do desenvolvimento da indústria e da ciência, atingiria a regeneração social. Dizer do positivismo como um processo educador significa considerar além das diferentes formas de sua manifestação e disseminação no Brasil, seus objetivos educativos expressos na sistematização de

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suas propostas, de suas ações e sua relação com uma educação político-social. Estas ações foram desenvolvidas institucionalmente pela Igreja Positivista do Brasil e pelo Apostolado Positivista, e “pela fortaleza das convicções de uma plêiade de cidadãos”. Neste contexto, a abordagem da temática do positivismo como processo educador considera a atuação dos positivistas no período que antecedeu a República, na sua implantação e no período subseqüente, temporalidades em que apresentou maior influência. Esta pesquisa foi feita a partir da historiografia brasileira e da educação, e de autores como Alonso(1995), Bergo(1979), Botto(1996), Carvalho(1998), Lins(1967), Paim(2002), Silva(2008), Sobreira (2003) e Veiga(2011) cujas análises balizam este estudo; além das obras de e sobre Comte e de positivistas brasileiros dos séculos XIX e XX. Esta comunicação apresenta resultados parciais de pesquisa de pós doutoramento e foi efetivada pelo levantamento de fontes primárias e secundárias, com seleção por sua caracterização e pertinência ao estudo. Constitui-se em uma pesquisa documental e bibliográfica realizada a partir da história da educação e suas propostas metodológicas de inquérito das fontes, ampliação da leitura e interpretação temática. Palavras-chave: Positivismo, Educação, República

AS RELAÇÕES PERIGOSAS: ESPIRITISMO, MARXISMO, COMUNISMO, EDUCAÇÃO DE ADULTOS.

Cristiane Xavier Este estudo é parte de pesquisa de doutorado, em andamento, e que objetiva compreender a figuração formada por Paschoal Lemme (1904-1997) em sua interdependência com outras figuras sociais no processo de militância e produção intelectual em prol da educação de adultos. Constitui-se em um esforço de articulação conceitual entre as proposições da sociologia do conhecimento em Norbert Elias e da história dos intelectuais em François Sirinelli para o qual trazemos como fontes a obra de Lemme publicada nas suas Memórias, livros, artigos, entrevistas e relatórios bem como decretos, leis, jornais de época e estudos sobre a temática da educação de adultos realizados por membros da ABE. Os resultados parciais indicam que a participação de Lemme no debate sobre o problema da educação de adultos no movimento de renovação pedagógica dos anos de 1920-1930, apresentava algumas particularidades em relação à ação dos reformadores na atividade administrativa da instrução pública do Distrito Federal. Tais particularidades estiveram situadas na disputa entre mudar as condições sociais para criar um sistema adequado de instrução ou construir um sistema de instrução adequado capaz de mudar as condições sociais. Assim, para tornar possível a democratização do ensino, enquanto a escolarização das crianças “em idade escolar” no modelo próprio das escolas ativas fora enfatizada nas reformas educacionais do Distrito Federal, mesmo ciente dos altos índices de analfabetismo da população em geral Lemme afirmava que a educação de adultos ultrapassava em premência e importância a própria obra de extensão do ensino elementar para os indivíduos em idade escolar. É certo que as atividades profissionais e a militância de Lemme no campo da educação foram marcadas por uma posição de esquerda. As suas redes de interdependência demonstram que ele estava estreitamente ligado ao comunismo e às suas atividades. Tais redes indicam que ao menos três dos seus irmãos atuavam junto ao Partido. Foi detido e preso em 1936, pelo Tribunal de Segurança Nacional, acusado de fazer propaganda comunista nos cursos de educação de adultos que organizara. Artigos e notas de divulgação de conferências por ele proferidas e de livros de sua autoria estão presentes em jornais como “Tribuna Popular” e “A classe operária”. Referências elogiosas ao seu nome, caráter e competência figuram nas páginas de “A Batalha” e “A Esquerda”. Como fruto do seu processo de individualização, a identificação de Lemme com a esquerda e o seu modo de compreender a educação de adultos tem origens nas relações familiares tecidas durante a sua infância e adolescência e suas raízes estão conectadas ao espiritismo. Palavras-chave: Paschoal Lemme, Educação de Adultos, Comunismo

O INTEGRALISMO E A EDUCAÇÃO: ESCOLAS INTEGRALISTAS EM MINAS GERAIS (1932-1937).

Lenir Palhares O trabalho analisa a educação nas fileiras do integralismo a partir da implantação e funcionamento das escolas integralistas em Minas Gerais, no período compreendido entre os anos de 1932 e 1937. A delimitação cronológica foi estabelecida levando-se em consideração o período de atuação da Ação Integralista Brasileira. O Integralismo se lança oficialmente no ano de 1932, por meio do Manifesto de 7 de Outubro, e seu fim é decretado em dezembro de 1937, data em que os partidos políticos são cassados por Getúlio Vargas com o advento do Estado Novo. Nos anos iniciais da República e nas primeiras décadas do século XX, aprofunda-se a compreensão de que a instrução do povo brasileiro era fundamental para construção e consolidação da República. Nessa perspectiva, o advento da escolarização pode ser visto como processo de continuidade de um projeto que se instaura já nos primórdios da República, mas que, ainda na década de 1930, se apresenta

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incipiente e incapaz de suprir a demanda social. Em consonância com essa abordagem, este trabalho parte da hipótese de que a adesão à proposição de projeto pedagógico na perspectiva da cultura política do integralismo foi favorecida pelas lacunas deixadas pelo Estado no que toca a expansão do acesso à alfabetização, da escola primaria e de profissionalização. O trabalho tem como objetivo apontar a forma de funcionamento dessas instituições escolares por meio do estudo do dos regimentos integralistas, do processo de implementação e funcionamento destas escolas, assim como também de suas práticas pedagógicas, de modo a estabelecer sua forma de atuação em face às demandas sociais do contexto. O estudo toma por base as proposições de José Chasin (1978), Hélgio Trindade (1979), Marilena Chauí (1978), Gilberto Vasconcelos (1979); no tocante à educação integralista, estabelece interlocução com Rosa M. F. Cavalari (1995), Giovanny Viana (2008) e Renata Simões e Silvana Goellner (2012). No que se refere ao campo conceitual situa-se por meio das proposições de Cynthia Veiga (2003), Rodrigo Patto Sá Motta (2009), Serge Berstein (1998) e René Rémond (1996). O trabalho parte de fontes documentais do acervo do Arquivo Público Mineiro onde estão guardados documentos produzidos pela Polícia Política e pelos integralistas, entre os anos de 1927 a 1979; dos periódicos integralistas, visto que a AIB foi o primeiro partido de massa brasileiro a fazer uso da imprensa de forma sistemática; conta ainda com a investigação bibliográfica das obras produzidas por Plínio Salgado e outros intelectuais integralistas, no que se refere à educação. Palavras-chave: educação, integralismo, escolas integralistas

ESCOLA NOVA: DA RENOVAÇÃO DO ENSINO À REFORMA EDUCACIONAL PELO ALTO

Wojciech Andrzej Kulesza

Recebendo como herança do Império a descentralização da escola elementar, a República brasileira teve que esperar pela década de 1930 para que o Estado nacional assumisse efetivamente a meta da escolarização básica para todos. Manteve-se assim por mais de 40 anos a motivação federativa do Ato Adicional de 1834, que praticamente relegou às então Províncias o cuidado com a educação primária e secundária. O caráter essencialmente propedêutico ao ensino superior dessa última manteve-a sob o rígido controle do poder central, enquanto se deixava ao incipiente ensino primário a livre experimentação pelo poder local. O modelo de organização desse ensino em grupos escolares se tornou rapidamente uma marca distintiva da República, com suas edificações grandiosas a simbolizar “a ordem e o progresso” nacionais. Em estreita associação com a modernidade, sob a influência das inovações pedagógicas em curso tanto na Europa como nos Estados Unidos as elites intelectuais locais criticam duramente a educação tradicional nesse período, apropriando-se das diversas propostas metodológicas então em circulação. As reformas educacionais da década de 1920 nas diversas unidades da federação já anunciam sua convergência para uma “escola nova”, cuja oportunidade surge de imediato com a irrupção do movimento revolucionário liderado por Getúlio Vargas e que tinha a educação popular como bandeira de luta. Exatamente um século depois do Ato Adicional, na constituinte de 1934, ao se retomar a questão de uma escola única para todos, investe-se o Estado nacional do dever de prover uma escolarização básica para os brasileiros, objetivo que seria alcançado apenas no final do século e somente para o ensino fundamental. Neste trabalho pretende-se pontuar essa trajetória analisando as ideias pedagógicas esgrimidas na sociedade civil, procurando distinguir as diferentes concepções de escola em jogo nos debates que ocorreram na organização do ensino na Paraíba e no Rio Grande de Sul no início da década de 1940. A intervenção do governo federal na educação desses dois Estados durante o Estado Novo varguista, com a participação efetiva do escolanovista Lourenço Filho então no comando do INEP, nos parece ilustrar bem a gama de problemas então enfrentados nessa tentativa de implantação de um sistema nacional de educação primária. O problema da nacionalização do ensino nas zonas de imigração estrangeira em terras gaúchas e o desafio da inclusão escolar na região nordestina pôs à prova a capacidade das novas ideias pedagógicas de feitio liberal embasar a política educacional do governo autoritário. Palavras-Chave: Reforma Educacional, Política Educacional, Lourenço Filho

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Sessão Coordenada - 17

HISTÓRIA DO ENSINO DAS LÍNGUAS NO BRASIL

Coordenador: JONATHAS DE PAULA CHAGURI Eixo Temático: 1 - Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira

Esta sessão de comunicações parte do pressuposto de que é possível construir uma história do ensino das línguas a partir da legislação referente à matéria. Isso porque tal história, ao atentar para o processo de ins tucionalização do ensino de línguas, bem como de sua configuração como disciplina escolar no sistema educacional do país, tem como objetivo principal investigar o modo como se delineiam suas finalidades políticas, pedagógicas e culturais, para além do seu papel como instância de validação de um conjunto de conteúdos e métodos (re)elaborados ou facilitados para sua aprendizagem escolar no decorrer do tempo, como geralmente se pensa. Nesse sentido, a perspectiva aqui adotada torna possível a inves gação do modo pelo qual os próprios conceitos de língua e literatura se cons tuíram historicamente, uma vez que, através do estudo de certas peças legislativas, pode ser observado o papel que tais conceitos se configuraram nas políticas linguísticas e educacionais implementadas nos diferentes momentos históricos. Desse modo, o estudo do seu processo de ins tucionalização, isto é, de sua oficialização, mediante as políticas educacionais do Estado, confunde-se com a análise da legislação promulgada por esse mesmo Estado, no intuito de apreender suas finalidades – que são ao mesmo tempo políticas, pedagógicas e culturais –, tal como se mostram no texto final da lei, a qual, por sua vez, resulta das práticas legislativas de vários agentes, ao mesmo tempo em que repercute seus fatores políticos, religiosos, econômicos e culturais. Seus objetivos são os seguintes: fazer um levantamento biobibliográfico de professores de línguas que, em seus respectivos contextos institucionais, contribuíram para o desenvolvimento do ensino de suas disciplinas, seja publicando compêndios, seja ocupando cargos diretivos ou legislativos; estabelecer uma periodização relacionada ao ensino de línguas e de suas respectivas literaturas no Brasil, do ponto de vista legislativo, levando em conta suas finalidades e práticas; congregar pesquisadores das áreas de História da Educação, Língua Portuguesa, Linguística, Linguística Aplicada e Teoria Literária, numa relação recíproca de trocas e empréstimos, para romper certas limitações e fomentar perspectivas inusitadas do ensino de línguas; fazer o levantamento, seleção e descrição crítica de compêndios produzidos e publicados no Brasil, classificando-os por gêneros e relacionando-os com o processo de ins tucionalização e desenvolvimento do ensino de línguas no país; contribuir para a construção e sistema zação de um banco de dados referentes ao ensino de línguas e de suas respectivas literaturas no Brasil, facilitando o desenvolvimento de futuras pesquisas sobre o tema.

O ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS NO BRASIL OITOCENTISTA: uma periodização (1809-1890)

Luiz Eduardo Oliveira Elaine Maria Santos

Este trabalho pretende propor uma periodização para o ensino de línguas estrangeiras no século XIX, contrapondo-se a uma certa historiografia que divide a sua história no Brasil em uma fase anterior e outra posterior a 1931, posição adotada não só por Leão (1935) e Chagas (1967), mas por quase todos os estudos que tratam da matéria, justificando-se pelas finalidades políticas, pedagógicas e culturais assumidas pelo ensino daquelas línguas, mais do que pelos seus supostos avanços metodológicos, os quais, de qualquer modo, são bem anteriores a 1931, ano em que foi instituído o método direto no país. Dessa forma, são delineadas três fases, ou etapas, do processo de institucionalização do ensino das línguas estrangeiras no Brasil. Na primeira fase (1809-1837), que comporta o governo joanino e do seu filho e sucessor, D. Pedro I, bem como o período regencial, estendendo-se até o ano em que foi criado o Colégio de Pedro II e instituída a Instrução Secundária no país, as línguas estrangeiras têm uma finalidade eminentemente instrumental, uma vez que seu estudo se justifica como instrumento de acesso a um conhecimento tido então como “scientifico”, e que era professado, às vezes por lentes estrangeiros e quase sempre por compêndios escritos em língua francesa ou inglesa, nas Academias Militares, nos Cursos Médico-Cirúrgicos, nas Aulas de Comércio e Agricultura e depois nos Cursos Jurídicos, centros formadores da Sociedade Civil, ou da elite local, que excluía todos os que não fossem “cidadãos”, de acordo com a interpretação à época corrente do artigo 6.º da Constituição de 1824: os escravos e os homens livres e despossuídos. A segunda fase (1837-1870) tem início com a instituição da instrução secundária no país, que coincide com a fundação do Colégio de Pedro II, quando o ensino das línguas estrangeiras, além de seu papel instrumental, assumiu uma finalidade literária, mais de acordo com o tipo de formação que os estabelecimentos modelados segundo aquela instituição deveriam proporcionar aos alunos, e que estava muito próximo de uma

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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas

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“educação litteraria”, estendendo-se até a reforma de seus regulamentos por um decreto de 1870, assinado pelo Conselheiro Paulino José Soares de Souza, que reformulou os programas de línguas em função da supremacia que o estudo do português passou a ter no plano de estudos da instituição. A terceira fase (1870-1890), finalmente, se inicia quando as línguas estrangeiras, mantendo seu caráter instrumental e literário, começam a assumir uma finalidade prática, como “meio de communicação do pensamento” – nas palavras do professor Carlos de Laet, em relatório de 1882 –, o que ocorre com a reforma do conselheiro Paulino José Soares de Souza, em 1870, e termina quando o inglês deixa de ser uma matéria obrigatória no plano de estudos do Colégio de Pedro II, o que ocorre quando o ministro Benjamin Constant assina o Decreto n. 1.075, de 1890. OS SENTIDOS DA POLÍTICA DO ENSINO DE LINGUA ESPANHOLA NO ESTADO DO PARANÁ (1980-1990)

Jonathas de Paula Chaguri

O que se procura descrever nesta ocasião é um recorte de uma pesquisa que foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado) da Universidade Estadual de Maringá, entre o ano de 2009 a 2010, orientado pelo Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo. Ao longo da História, houve várias mudanças no cenário do ensino de Língua Estrangeira (LE) no Brasil. Elas ocorreram não somente na estrutura desse componente curricular das escolas de ensino fundamental e médio, mas também, na estrutura do currículo escolar que sofreu constantes transformações em decorrência dos aspectos políticos, sociais e econômicos. Até meados do século XX, o ensino de LE tinha objetivos bem diferentes do dos dias atuais, pois, antigamente, desde o Império até a LDB de 1971, a LE era entendida como parte da formação para a própria unidade do espírito humano dos jovens. Atualmente, ela é atrelada a fins de instrumentalização (não no sentido de instrumento de comunicação, mas principalmente no sentido de ferramenta para certos fins determinantes) da entrada do jovem no mercado de trabalho, como afirma a mídia em certas reportagens e/ou documentários que tratam da importância em se aprender uma LE com ênfase ao mercado de trabalho. Portanto, podemos dizer que essa transformação na forma do ensino de LE, ocorrida na primeira metade do século XX, afetou a forma de se concebê-la como disciplina escolar. Assim, o objetivo desse trabalho é apresentar os (des) caminhos que levaram o estado do Paraná a um momento de reformulação em seu currículo, levando a saída do espanhol como componente curricular na década de 1980 e voltando a sua oferta no início da década de 1990 com a criação do Centro de Ensino de Língua Estrangeira Moderna (CELEM) em todo Estado. Este trabalhou utilizou uma metodologia documental e bibliográfica para elucidar os sentidos da política de ensino do espanhol (1980-1990) no Paraná. Nesse sentido, constatou-se, que, no estado do Paraná, o espanhol começou a se solidificar no cenário do ensino de LE, no final da década de 1980, devido a sua valorização mundial e também pela valorização dos professores de idiomas que não concordavam com a supremacia do inglês como LE a ser ensinada como componente curricular nas escolas do Paraná. Devido a esta luta contra a hegemonia do inglês, o espanhol se configura no estado do Paraná, em 1982, com a criação do CELEM, que primeiramente, ficou mais restrito no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba, devido à existência de professores licenciados a lecionarem o espanhol, e mais tarde, entre 1984 a 1989 expandiu-se por todo o Estado, vindo se consolidar como componente curricular devido à criação do MERCOSUL na década de 90.

AS AULAS DE COMÉRCIO E A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA (1759-1846)

Thadeu Vinícius Souza Teles

A presente proposta de comunicação tem como objetivo principal observar a configuração das Aulas de Comércio e sua iminente demanda do ensino de língua inglesa. Após um relativo período de estabilidade econômica portuguesa baseada na sua posição geográfica privilegiada e pelo pioneirismo nas grandes navegações, Portugal enfrentou a crise do sistema colonial agravada pelo Terremoto de Lisboa (1755), que trouxe à tona as dificuldades portuguesas em sustentar-se na sua política de neutralidade, além de expor a crise administrativa enfrentada por um reinado descomprometido com os assuntos da corte portuguesa, conforme Maxwell (1996, p. 4). Diante do mencionado cenário histórico, surgiu a necessidade da (re)construção da nação portuguesa. A figura responsável por implementar as reformas necessárias foi o secretario dos negócios do reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Uma das primeiras manobras das reformas pombalinas foi a capacitação dos homens de negócios. Visando o projeto de perfeito negociante idealizado na legislação pombalina, foram criadas as Aulas de Comércio, que, além de oferecer aulas de aritmética, registro mercantil e outras referentes à prática comercial, ainda suscitou o ensino de língua inglesa para viabilizar as transações comerciais mantidas com a Inglaterra. A partir da contextualização histórica e do entendimento dos princípios das reformas pombalinas, foram observadas peças legislativas e documentos que prestaram

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depoimento acerca das Aulas de Comércio, iniciadas em 1759 em Lisboa e importadas para o Rio de Janeiro em 1846. As Aulas de Comércio e seus Estatutos foram observados a partir de registros encontrados de suas representações em Lisboa, Porto, e mais tarde, Brasil. Algumas contribuições de intelectuais como Sanches (2003) e Locke (1779) para a instrução foram relacionadas para apontar a recomendação do ensino de língua inglesa no contexto da formação utilitária necessária para a formação do Estado Moderno português. Além disso, para atender ao objetivo proposto e promover o embasamento teórico necessário, foram utilizados alguns pressupostos teóricos da historiografia linguística, como (AUROUX, 1992), dos estudos culturais (HALL, 2001), da história cultural (ANDERSON, 2008), da história política (HOBSBAWM, 1991), da historiografia educacional (ANDRADE, 1978; CARVALHO, 1978; FALCON, 1993), bem como do ensino de Inglês (HOWATT, 1984; MICHAEL, 1987; OLIVEIRA, 1999, 2006, 2008, 2010; e SANTOS, 2010). Diante da natureza desta pesquisa, a proposta teórico-metodológica que mais se aproximou das necessidades foi o método indiciário de Ginzburg (1986, p. 149-150), o qual tem seu paradigma centrado no uso de dados considerados reveladores ainda que residuais ou marginais.

O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E SUA INSTITUIÇÃO COMO LÍNGUA NACIONAL NO PERÍODO SETECENTISTA

Giselle Macedo Barboza

Sara Rogéria Santos Barbosa

Este trabalho objetiva investigar a importância da língua portuguesa na constituição do Estado Nação e como esta foi inserida no ensino de humanidades no Brasil durante o período de 1757 a 1772, que corresponde à primeira fase das reformas pombalinas da instrução pública. Para tanto, fez-se a análise do discurso educacional da legislação expedida no período recortado, observando, sobretudo, os elementos que contribuíram para reconhecer a maioridade da língua portuguesa, em detrimento do latim. Nesse sentido, realizou-se o levantamento dos Alvarás de 1757, 1759, 1770 e 1772. Serviram de base para esta pesquisa alguns pressupostos teóricos da história das disciplinas escolares (CHERVEL, 1990; CHERVEL & COMPÈRE, 1999), da história cultural (ANDERSON, 2008; HÉBRARD, 2000; CHARTIER, 2000), da linguística histórica (AUROUX, 1992), e da historiografia educacional (ANDERSON, 2008; CARVALHO, 1978; CARVALHO 2001; HÉBRARD, 2000; OLIVEIRA, 2010). A fonte objeto de estudo deste trabalho foi a legislação pombalina em dois volumes: Collecção da Legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordenações oferecida a El Rei Nosso Senhor pelo Desembargador Antonio Delgado da Silva. Legislação de 1750 a 1762 e Collecção da Legislação Portugueza desde a ultima compilação das ordenações redegida pelo Desembargador Antonio Delgado da Silva. Legislação de 1763 a 1774, ambas disponibilizadas por meio eletrônico. Dentro dessa coleção, figura um documento chamado Instrucções Régias que corresponde às orientações para professores de Humanidades das escolas abertas em Portugal e seus domínios e abrangiam desde a finalidade do ensino até a proibição da metodologia jesuítica. Nele, vê-se a importância de acrescentar o idioma nacional ao ensino de Humanidades. O recorte cronológico justifica-se pelo seguinte: 1757 por ser o ano da publicação da Lei do Diretório, primeira legislação a tratar explicitamente do ensino de língua portuguesa, tornando-o razão de estado. Ainda no mesmo dispositivo, Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, expressou seu projeto de maioridade e valorização da língua portuguesa como instrumento de representação do espírito nacional não só de Portugal, mas também da América Portuguesa, por meio da institucionalização do ensino da referida através da abertura de duas escolas de ensino elementar no Grão-Pará e Maranhão. Quanto a 1772, explica-se por ser este o ano no qual foi promulgado o Alvará que constituiu o “coroamento” de um conjunto de ações pedagógicas travadas durante o Reinado de José I, com a reformulação dos Estudos Menores, criação de mecanismos estatais para viabilizar a ensino ofertado pelo Estado, a exemplo do subsídio literário, e abertura de escolas em todos os territórios sob seu domínio, em benefício do plano de administração do ensino em Portugal e suas colônias, dando início à segunda fase das reformas.

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Sessão Coordenada - 18

ETNIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO CEARÁ, RIO GRANDE DO NORTE E PARAÍBA

Coordenadora: ZULEIDE FERNANDES DE QUEIROZ Eixo Temático: 2 - Etnias e Movimentos Sociais na História da Educação

Esta sessão coordenada propõe estudar práticas educativas que contemplam a educação da infância. Os estudos nessa área vêm ampliando seu campo de ação, saindo dos espaços mais tradicionais de pesquisa em história da educação. Nos presentes trabalhos, os pesquisadores que compõem essa proposta apresentam suas pesquisas em estudos voltados para etnias indígenas e ciganas e para as práticas educativas desenvolvidas pela Igreja Católica de assistência à criança pobre, envolvendo estudos nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte e Paraíba. O marco temporal se situa no período que vai do Pós Segunda Grande Guerra aos dias atuais e têm como referencial teórico a história cultural e antropologia da infância. A pesquisa ‘As Práticas Educativas da Igreja Católica de Assistência à Criança no Crato/CE e em Natal/RN’ reconstitui a história de duas instituições não escolares e escolares, criadas pela igreja católica e realizaram ações de assistência as crianças pobres. As instituições se constituíram em um lugar de assistência, formação escolar e profissional; foram espaços de disputa entre o público e o privado/católico; e responsáveis pela formação de muitos que residiam em bairros periféricos e no meio rural dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A pesquisa intitulada ‘Pedagogia das Tradições: educação da criança indígena potiguara’ procura compreender como o povo potiguara, em Mamamguape (PB) tem investido no envolvimento das novas gerações na afirmação da cultura e tradições indígenas. Neste estudo de cunho histórico-antropológico, a criança indígena é vista como um sujeito social capaz de vivenciar, assimilar e comunicar a cultura religiosa de seu povo. São curumins que agem e interagem com o meio onde vivem através das práticas de sobrevivência instituídas no próprio cotidiano da aldeia. A pesquisa analisa um programa de intervenção nas trinta e duas aldeias dispostas no Vale do Mamanguape, na Paraíba. O estudo intitulado ‘Educação de Crianças Ciganas (O Romanèsthan) no Rio Grande do Norte’ evidencia trabalhos com sujeitos itinerantes - os ciganos (romanèsthan), presentes em uma grande quantidade de cidades do estado. O trabalho tem sua relevância em proporcionar reflexões acerca dos desafios de vivenciar no espaço da escola, questões relativas à diversidade cultural, bem como ao trabalho educativo com Ciganos que historicamente estiveram excluídos das salas de aula do nosso país. Os pesquisadores consideram que um debate desta natureza busca discutir a educação da infância no Brasil na perspectiva da história da educação, trazendo elementos para práticas educativas na contemporaneidade.

PEDAGOGIA DAS TRADIÇÕES: EDUCAÇÃO DA CRIANÇA INDÍGENA POTIGUARA

Marlúcia Menezes de Paiva Kilza Fernanda Moreira de Viveiros

José Mateus do Nascimento

O estudo aborda o desenvolvimento sociocultural da região do Vale do Mamanguape, Litoral Norte da Paraíba, e busca compreender as representações e práticas educativo-religiosas compartilhadas por crianças indígenas que vivem no seio da aldeia São Francisco, no município de Baía da Traição/PB. Os filhos dos índios Potiguara estão cotidianamente envolvidos em práticas relacionadas às tradições, crenças e a cultura de seu povo. Enquanto curumins em formação possuem o desafio de assimilar os artefatos socioculturais e religiosos como patrimônio identitário que deve ser perpetuado e apreendido pelas novas gerações. As crianças são levadas a aprender os valores e as atitudes dos índios adultos vivenciando e participando das atividades coletivas e eventos sociais na comunidade. Para entendermos essas diferentes formas de apreensão, temos que dialogar com uma antropologia da criança, especificamente, da criança indígena. Referimo-nos, a um ramo da antropologia que se preocupa em analisar o que significa ser criança no seio de outras culturas. Não podemos abordar o ser curumim sem entender como essa criança se concebe enquanto sujeito integrante de uma comunidade ou povo indígena. Buscamos um modelo analítico que permite entender as crianças por elas mesmas, com ponto de partida e de chegada o ponto vista de cada uma delas sobre o mundo em que se inserem. Neste estudo de cunho histórico-antropológico, a criança indígena é vista como um sujeito social capaz de vivenciar, assimilar e comunicar a cultura religiosa de seu povo. São curumins que agem e interagem com o meio onde vivem através das práticas de sobrevivência instituídas no próprio cotidiano da aldeia. A pesquisa integra um programa de intervenção nas trinta e duas aldeias dispostas no Vale do Mamanguape, na Paraíba. Procura compreender como o povo

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Potiguara tem investido no envolvimento das novas gerações na afirmação da cultura e das tradições nas ações do cotidiano e nas práticas desenvolvidas pela educação escolar indígena. O estudo é de natureza etnográfica, com o desenvolvimento de estudo de caso, realização de entrevistas e observação participante nas comunidades indígenas São Francisco, Jaraguá e Monte-Mor. Atualmente, é notada a preocupação das lideranças indígenas em integrar a infância (os curumins) às tradições, pela promoção frequente do ritual Toré; aos saberes da etnia, pela instituição de escolas indígenas que tenham o currículo e a rotina focados na cultura Potiguara; à construção de uma identidade, pela valorização da memória, das crenças herdadas dos ancestrais. Ser Potiguara é acreditar no fortalecimento da etnia, no reconhecimento de si mesmo como indígena. No Projeto de etnicidade, a infância torna-se fator essencial. Ela é convidada a protagonizar as práticas, a continuar construindo a sua própria história. Palavras-chave: Pedagogia das Tradições, Educação Indígena, Etnia Potiguara

EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS CIGANAS (O ROMANÈSTHAN ) NO RIO GRANDE DO NORTE

Flavio José de Oliveira Silva

O presente trabalho é parte de uma pesquisa que tem por objetivo compreender os modos de vida itinerante dos ciganos e suas interrelações com a escola no Rio Grande do Norte. Este texto tem como objeto de estudo, as práticas educativas e culturais dos Ciganos Calon no Rio Grande do Norte e os desafios de educar crianças ciganas nômades no cotidiano escolar. A pesquisa se insere no campo da História da Educação ao evidenciar um fenômeno social, cultural e educativo, com centralidade na História Cultural e aporte teórico em Certeau (1994), Le Goff (1994), Burke (1998), Julia (2001) e Frago (1993); evidenciando trabalhos com sujeitos itinerantes - os ciganos (romanèsthan), presentes em uma grande quantidade de cidades do RN. Como técnica de pesquisa optamos pela observação participante, com utilização de filmagens, fotografias, entrevistas, documentos pessoais, publicações de circulação nacional e internacional. Os ciganos são descendentes de comunidades tradicionais, com traços culturais diferenciados, costumes e tradições próprias de grupos subordinados e sofrem a estigmatização desde sua perspectiva física, justificada pela ausência da disciplina do corpo. Por quase todo o século XX, o tema da diversidade cultural esteve ausente das salas de aula e, estudos sobre as relações étnico-raciais no espaço escolar evidenciam que a escola, enquanto agência socializadora, pode reforçar as tradicionais assimetrias raciais presentes na sociedade e atuar como difusora do preconceito e da discriminação. Entretanto, as questões étnico-raciais estão presentes no sistema educacional, seja através dos livros textos das áreas de ensino, comemorações, eventos cívicos e culturais, seja também nos discursos e práticas docentes. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN - e as implantações das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 são medidas que, neste sentido, dão contribuições, ainda que tímidas, a problemática, pontuando algumas alternativas em busca da promoção de mudanças no sistema educacional. O trabalho tem sua relevância em proporcionar reflexões acerca dos desafios de vivenciar no espaço da escola, questões relativas à diversidade cultural, bem como ao trabalho educativo com crianças ciganas que, historicamente, estiveram excluídos das salas de aula do nosso país. Concluímos que um estudo desta natureza colabora para o conhecimento de experiências educativas étnico-raciais, com os sujeitos nômades, propondo alternativas para o trabalho pedagógico no cotidiano escolar. Palavras-chave: Ciganos, Práticas culturais, Cultura escolar.

MOVIMENTOS DE EDUCAÇÃO POPULAR NO RIO GRANDE DO NORTE (1958-1964)

Cicero Gomes Correia

Em 1950, pelo Censo Demográfico o Rio Grande do Norte contava com uma população de 800.538 habitantes, desse total, apenas 222.923 sabiam ler e escrever, ou seja, um percentual de apenas 27,8%. O Rio Grande do Norte, à época um dos seus estados mais pobres, destacou-se pelas experiências educacionais aqui desenvolvidas. Essas experiências, que ocorreram no final da década de 1950 e início da de 1960, trouxeram importantes contribuições para a educação de adultos no Brasil. As políticas públicas, que mal atendiam a educação primária para as crianças, descuravam quase totalmente a educação de adultos. Foram três as mais destacadas experiências educacionais que apontavam para uma prática de libertação das condições de exploração do homem. Objetivamos analisar práticas educativas das experiências educacionais das Escolas Radiofônicas, da Campanha de pé no chão também se aprende a ler e da experiência de Paulo Freire em Angicos. as três experiências partiram de três diferentes segmentos da sociedade civil e política: Igreja católica, prefeitura municipal de Natal e Estado do Rio Grande do Norte. Inicialmente, a Igreja Católica, por meio da Arquidiocese de Natal, que desde o final da Segunda Grande Guerra vinha desenvolvendo ações sócio-educativas de largo alcance social, denominadas de Movimento de Natal, resolveu, em 1958, iniciar atividades na área da educação de jovens e adultos, voltadas para o meio rural, procurando alfabetizar por meio do rádio, criando as Escolas Radiofônicas;

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A expansão da experiência fez surgir o Movimento de Educação de Bases (MEB), que atingiu grande parte do país. Depois, em 1961, a prefeitura de Natal, na gestão do prefeito Djalma Maranhão, diante da extrema falta de escolas e de verbas para construí-las, iniciou um movimento de educação popular que recebeu o sugestivo nome de Campanha de pé no chão também se aprende a ler; essas duas experiências alcançaram um contingente expressivo da população, desenvolvendo, além da alfabetização, uma ação pedagógica conscientizadora. Por último, o Governo do Estado, com subsídios da USAID, empreende, na cidade de Angicos, município do sertão norte-rio-grandense, a experiência de educação de adultos coordenada por Paulo Freire, conhecida como as 40 horas de Angicos. Nessa cidade, o renomado educador aplicou em escala maior o seu sistema educacional. O sistema estava pensado e aplicado em pequenos grupos. Naquele momento, ao aplicá-lo em escala maior, o educador conseguiu consolidá-lo, redimensionando-o e adequando-o às necessidades de alfabetização das camadas mais pobres da população. Concluímos que, essas experiências educacionais possuíam um componente político-pedagógico inovador que contribuiu para modificar as diretrizes curriculares da educação de jovens e adultos até então adotadas. Palavras – Chave: História da Educação, Movimentos de Educação Popular, Campanhas Educativas

AS PRÁTICAS EDUCATIVAS DA IGREJA CATÓLICA DE ASSISTÊNCIA À CRIANÇA NO CRATO/CE E EM NATAL/RN

Zuleide Fernandes de Queiroz

Marlúcia Menezes de Paiva

O estudo reconstitui a história das Instituições Liceu Diocesano de Artes e Ofícios, no Crato/Ceará e o Serviço de Assistência Rural–SAR no Rio Grande do Norte. Essas instituições tinham em comum a assistência às crianças carentes e eram coordenadas pela Igreja Católica. A metodologia baseou-se nos estudos da história cultural, com a consulta de documentos oficiais, a realização de entrevistas com antigos professores, freiras e leigos envolvidos na ação sócio-educativa da Igreja. Objetivou reconstituir a história da ação sócio educativa da Igreja Católica, no período do final da década de 1940 a 1990. A criação do Liceu, situado em um bairro de moradia de trabalhadores na cidade do Crato (CE), foi resultado da ação missionária dos padres do Seminário São José (1875) e das freiras da Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus. Tinha como ação pastoral o clube de mães, cursos profissionalizantes e com crianças carentes. A criação da creche, em 1968, teve início com 60 crianças, em 1974 recebeu a parceria da prefeitura do município para contratação dos professores. Oito turmas foram formadas com professores contratados e com a habilitação no magistério, auxiliares de serviços gerais e uma clientela de 300 crianças. Em 2005 deixou de ser assistida pela ação social e o pessoal passou a ser contratado pela Secretaria de Educação municipal, exigência do Parecer Nº594/2005. Foi responsável pela alfabetização e profissionalização de crianças, adolescentes, jovens e adultos, se constituindo como umas das primeiras experiências de creches e escola para crianças pobres do bairro do Seminário. Na década de 1990 a instituição criou a escola de educação infantil e fundamental, após a aprovação da LDB Nº 9394/96. O Serviço de Assistência Rural-SAR iniciou ação sócio-educativa de assistência à infância em finais da década de 1940, tendo em vista as dificuldades sociais e econômicas que o estado do Rio Grande do Norte enfrentava com a retirada das tropas americanas no campo militar de Parnamirim, cidade vizinha. Iniciou sua atuação com escolas-ambulatórios, creches e clubes de mães nos bairros pobres situados na periferia da capital, se estendendo para o meio rural, com maior atuação. No meio rural um dos programas que se destacou foi o projeto denominado Grupos Mirins de Saúde, integrante do Programa de Educação Sanitária. O Programa objetivou criar novas práticas e hábitos de higiene e saúde, diante de uma modernidade que ainda não alcançara o meio rural. Foi possível concluir com as pesquisas que as instituições, se constituíram em um lugar de assistência, formação escolar e às vezes profissional; foram espaços de disputa entre o público e o privado/católico; e responsáveis pela formação de muitos que residiam em bairros periféricos e no meio rural dos dois estados. Palavras-Chave: História da educação, história de instituições, assistência à criança

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Sessão Coordenada - 19 MARCAS DA ETNICIDADE, ESCOLARIZAÇÃO E MEMÓRIA: ITALIANOS,

UCRANIANOS, POLONESES E POMERANOS.

Coordenadora: PATRÍCIA WEIDUSCHADT Eixo Temático: 2 - Etnias e Movimentos Sociais na História da Educação

O objetivo dessa comunicação é discutir aspectos de grupos étnicos do Rio Grande do Sul e do Paraná que imigraram ao Brasil a partir da segunda metade do século XIX e entender o processo de escolarização desses grupos que buscaram se organizar diante do descaso pelo Estado brasileiro em relação à educação pública. Pode-se depreender que esses grupos tiveram apoio ao fomento das escolas das instituições religiosas tanto luteranas como católicas, como também de iniciativas comunitárias particulares. Mas de forma geral buscaram através da escolarização a manutenção da identidade e coesão do grupo, reforçado pela língua, ritos e práticas escolares. A cultura escolar dos grupos e as situações de adaptações e de resistências as normas impostas da política educacional brasileira foram também aspectos que auxiliaram a constituir a formação da escolarização das escolas étnicas. O trabalho dos diferentes grupos pode ser amplamente aprofundado através de fontes do material didático, de documentos e da memória. Apesar das semelhanças no processo de escolarização comunitária dos grupos identificados como italianos, ucranianos, poloneses e pomeranos, é possível perceber especificidades das marcas de cada grupo étnico, dependendo do processo imigratório e das estratégias e influências que cada grupo se constituiu. Cada grupo étnico manteve especificidades nos processos educativos. Apesar de muitas semelhanças nos processos históricos e na forma de organização escolar, os grupos mantiveram algumas singularidades que precisam ser estudadas e comparadas no sentido de ampliar os estudos nessa temática. Os imigrantes de italianos organizaram-se em espaços da serra Gaúcha e criaram vínculos comunitários através da religião católica, assim como os grupos de poloneses e ucranianos. Em relação aos pomeranos a religiosidade luterana esteve presente e neste contexto as escolas comunitárias resistiram ao processo de nacionalização do ensino, mesmo sendo fiscalizadas pelo Estado. De qualquer forma estes grupos tiveram que se reorganizar diante da política de nacionalização do ensino. Eles sofreram processos de repressão e ingerência do estado, mas as formas de resistência são diversas. A produção da cultura escolar nos diferentes tempos escolares pode ser percebida através de várias fontes que antes se presumia que eram inexistentes. Mas no aprofundamento dos estudos é notório reconhecer que há muitos processos, silenciamentos e fontes a ser exploradas ao pesquisar sobre grupos étnicos e escolarização.

MARCAS DA ETNICIDADE NA VIDA EM COMUNIDADE: AS EFÊMERAS ESCOLAS DE IMIGRANTES ITALIANOS E DESCENDENTES

Terciane Angela Luchese

O presente texto analisa o processo escolar vivenciado por imigrantes italianos e descendentes no contexto brasileiro entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, atentando especialmente para as escolas étnico-comunitárias. A análise é resultado parcial do projeto de pesquisa “História das escolasétnico-comunitárias italianas no Brasil (1875 – 1945)”.Desde o final do século XIX, emtodos os relatórios consulares, encontram-se menções da falta de escolasno país e da necessidade do governo italiano intervir, passando a apoiar a educação, enviando livros e materialescolar. Considerando a atuação de cônsules e agentes consulares, da Igreja e das lideranças das próprias comunidades na promoção de um processo escolar marcadamente étnico e comunitário, o tema é desdobrado percebendo-se aproximações e distinções nos modos como os imigrantes foram constituindo a escola, organizando-a, criando táticas para mantê-la, em diferentes espaços territoriais por eles ocupados em terras brasileiras. O aporte teórico da História Cultural orienta a análise do corpus documental constituído de relatórios, correspondências, jornais, fotografias, estatutos de associações de socorro mútuo, autobiografias e entrevistas. Entre os imigrantes italianos, as escolas comunitárias se multiplicaram principalmente na zona rural e tiveram características étnicas, pela questão da língua (dialetos), dos valores e de hábitos partilhados. Havia escolas comunitárias, étnicas, que foram iniciadas e mantidas pelas comunidades, estabelecidas próximo às capelas. As escolas étnico-comunitárias italianas em sua maioria foram efêmeras e não funcionaram com regularidade. Predominou o ensino do ler, escrever e calcular, e também, do catecismo. Os professores em geral não tinham formação, com exceção daqueles que foram enviados pelo Governo Italiano. Algumas escolas receberam subsídio por meio de livros e do envio de professores, mas a política externa italiana, no recorte temporal em foco, foi instável.Percebe-se ainda marcas de diferenciação entre as escolas italianas

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rurais e aquelas mantidas pelas Associações de Socorro Mútuo ou pela Sociedade Dante Alighieri. Dentre os materiais didáticos que circularam pelas escolas, a maioria era impresso na Itália e enviado para o Brasil, mas também houve livros impressos no Brasil para as escolas italianas. Assim, compreender as iniciativas escolares étnicas dos grupos de imigrantes italianos é tema de relevância para a História da Educação permitindo compreender o calidoscópio de possibilidades de escolarização organizadas e vivenciadas no país.

AS MARCAS DA ETNICIDADE NAS ESCOLAS ÉTNICAS ESLAVAS (UCRANIANAS E POLONESAS) DO PARANÁ

Valquiria Elita Renk

Esta comunicação discute as escolas étnicas eslavas como um espaço escolarização comunitária, de manutenção da identidade étnica e resistência à nacionalização do ensino, nas primeiras décadas do século XX, no Paraná. Neste estado aportaram milhares de imigrantes eslavos, que organizavam a sua vida em colônias étnicas, mantendo a tradição cultural, através do associativismo, da religiosidade, da língua materna e da escolaridade. Ante a ausência de escolas públicas na maioria das colônias eslavas, estes imigrantes construíram as escolas comunitárias e assumiram a escolarização dos seus filhos, assim como a compra do mobiliário, do material didático e do pagamento do professor. As escolas étnicas eslavas não formavam um bloco monolítico, mas, atendiam os interesses das comunidades, com o ensino em língua estrangeira e cultuando a identidade étnica. Haviam mais de 200 escolas étnicas eslavas no Paraná, conforme atestam os documentos oficiais de que, em cada colônia havia uma escola. Estas escolas existiam à margem do aparelho estatal e tinham uma organização pedagógica própria vinculadas às associações comunitárias e associações de professores laicas ou vinculadas à Igreja Católica. As associações, a partir dos anos de 1920 intensificaram seu trabalho de homogeneização pedagógica com a produção e publicação de livros didáticos, organização de cursos de qualificação para os professores, a produção e circulação dos suplementos educacionais infantis nos seus jornais étnicos, a circulação de literatura através das bibliotecas itinerantes e também ministrando cursos de língua portuguesa. Os clamores pela nacionalização das escolas étnicas e homogeneização dos conteúdos escolares se intensificaram na legislação escolar a partir de 1914, evidenciando que estas escolas passaram a representar um perigo para a formação do sentimento de pertencimento nacional, pois as autoridades consideravam que elas ‘desnacionalizavam’ a infância. Ante isso, inúmeras medidas por tomadas pelo Estado, de caráter coercitivo, como inspecionar, fiscalizar e controlar estas instituições, para o fim específico de verificar se ministravam aulas em língua portuguesa, se cumpriam os preceitos legais e se estavam formando o sentimento de brasilidade. O corpus documental compõe-se dos documentos oficiais, tais como a legislação escolar, os Relatórios de Governo e da Inspetoria de Ensino, os documentos dos arquivos das instituições de ensino, tais como cadernos, livros didáticos, documentos de matrícula, fotografias e também os relatos dos ex-alunos que vivenciaram este período. O cotejamento das fontes possibilita entender e analisar esta experiência escolar, que é única na história da educação brasileira e também porque existem semelhanças e diferenças nos processos escolares das diferentes etnias no Brasil.

MARCAS DA ETNICIDADE- ESCOLARIZAÇÃO E RELIGIÃO ENTRE OS POMERANOS

Patrícia Weiduschadt Essa comunicação pretende abordar a constituição das escolas luteranas paroquiais no contexto pomerano, na Serra dos Tapes- RS, a partir do final do século XIX até as décadas de 1940-1970, atentando que a periodização difere da instituição luterana envolvida. Historicamente a etnia pomerana migra em meados do século XIX para o interior de São Lourenço do Sul e tenta organizar a vida comunitária incluindo igreja e escola utilizando a língua alemã. O primeiro tipo de luteranismo organiza-se em torno das igrejas independentes, fenômeno discutido nos estudos de Teichmann (1996), sendo que, atualmente, a maioria dos fieis luteranos da região pertencem a comunidades independentes. Entretanto, as igrejas oficiais: Sínodo Riograndese (atual IECLB), constituída em meados do século XIX e Sínodo de Missouri (atual IELB), fundada em 1900, tentam demarcar espaço no contexto fundando escolas e igrejas, muitas vezes, aproveitando as comunidades independentes anteriormente formadas. Neste contexto muitas escolas paroquiais comunitárias religiosas luteranas formaram-se e é possível analisar as diferenças e semelhanças nos projetos religiosos-educativos existentes através de fontes, apesar de escassas no período que antecede a nacionalização como: material didático, publicação religiosa, material escolar. Outras fontes são os impressos produzidos pelas instituições religiosas, direcionadas às crianças, jovens e adultos, sendo de extrema relevância para o entendimento da diferenciação dos projetos educativos. Neste contexto da Serra dos Tapes as escolas religiosas ainda conseguiram manter os processos educativos dentro da realidade local,

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muitas ainda mantendo filiadas as instituições religiosas diante da fiscalização do governo do Estado Novo. As fontes mais recorrentes aparecem depois da década de 1940, em que as escolas religiosas eram fiscalizadas e obrigadas a guardar o material como boletins, planos, cadernos de chamadas, atas cívicas. No contexto meridional do Rio Grande do Sul as escolas étnicas conseguiram resistir por mais tempo a municipalização das escolas. Ainda como fonte de grande valia são as memórias de muitos que vivenciaram esse período: os alunos e professores. Nessa perspectiva a memória é construída coletivamente (HALBWACHS, 1990) através das narrativas sobre a escola e igreja. É necessário compreender esse processo de escolarização dentro de um contexto étnico pomerano, que por muitas vezes foi silenciado (THUM, 2009), especialmente pelo uso da língua alemã valorizada pela religião e pela educação formal.

HISTÓRIA E MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO: INTERFACES ENTRE NARRATIVAS E ESCRITURAÇÃO ESCOLAR

Carmo Thum

Objetiva esse painel discutir e problematizar os aspectos da memória e da escrituração escolar no conjunto interpretativo das fontes da historiografia cotejada com as fontes específicas de regiões com contextos sócio-históricos similares em diferentes locais do Brasil, especialmente de espaços de imigração polonesa, ucraniana, pomerana e italiana no Brasil. Coloca em análise a História da Educação da Serra dos Tapes/RS especialmente a partir dos aspectos que envolvem os processos de colonização dessa região a partir do ano de 1858. Apresenta dados relativos às experiências docentes narradas de sujeitos que vivenciaram a condição de professor-colono e que viveram no seu tempo profissional as mudanças nas estruturas de ensino aqui analisadas em fases distintas. Para tanto busca em cadernos de visitas e cadernos de inspeção, em dados de escrituração escolar e higienização dos espaços as fontes históricas primárias da história da educação das instituições educativas do espaço. O espaço rural e/ou do campo já foi objeto de análise de diferentes autores, contudo, lacunas específicas em regiões inóspitas geram a possibilidade de, na atualidade, revisitar a historiografia a respeito. A presença maciça de pomeranos se faz visível no espaço. Os pomeranos, como um povo tradicional do Brasil mantêm processos ritualísticos, de sociabilidade e de organização social próprios, o que lhes garante continuidade e coesão como grupo cultural. O Núcleo Educamemória tem realizado processos de pesquisa e intervenção nos espaços rurais da localidade da Serra dos Tapes/RS de forma a problematizar as questões relativas à vida no campo, a memória, ao pertencimento e empoderamento dos camponeses, levantando dados relevantes de fonte primária. A historiografia da Educação Brasileira, tem nos mostrado recorrentes indicações de que a condição docente se fazia precária e de modo muito irregular (TAMBARA, 2011, RENCK, 2009; THUM, 2009; LUCHESI, 2008; THIES, 2008; WEIDUSCHADT, 2007). Os espaços rurais não ofereciam condições para a permanência dos profissionais, seja por questões salariais, de difícil acesso, ou na maioria dos casos, também, por falta de condições de permanência. No caso em análise, a memória é tomada como um processo de totalidade que envolve a história dos sujeitos da cultura local, nas suas múltiplas dimensões. Partindo de uma análise de dados historiográficos oficiais confrontados pela memória problematizada buscamos produzir uma interpretação contemporânea que re-interpreta a história a partir das circunstâncias-limites colocadas como condicionadores da condição camponesa local a partir da fonte historiográfica.

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Sessão Coordenada - 20

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO RURAL E FONTES: O DESAFIO EM APREENDER SUJEITOS, PRÁTICAS E CULTURAS

Coordenadora: GILVANICE BARBOSA DA SILVA MUSIAL Eixo Temático: 3 - Fontes e Métodos em História da Educação

A Comunicação Coordenada que ora apresentamos tem como objetivo analisar os desafios e possibilidades na seleção e utilização de fontes para a pesquisa sobre a História da Educação Rural, na perspectiva da história cultural. Com o intuito de aprofundar a discussão teórico-metodológica sobre a educação rural, nos propomos a analisar as potencialidades da literatura como fonte para o estudo da educação das populações rurais em Minas Gerais no final do século XIX; analisar as memórias orais como fontes documentais para a reconstrução de práticas e culturas de Escolas Isoladas públicas primárias municipais, da região de Lomba Grande, município de Novo Hamburgo-RS, entre 1940 a 1952; analisar uma revista infantil produzida pela instituição luterana do Sínodo de Missouri, atual Igreja Evangélica Luterana do Brasil, para a educação de crianças em escolas étnicas comunitárias alemãs no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XX e finalmente analisar a utilização de testemunhos escritos, testemunhos orais e testemunhos figurados (materiais arqueológicos) para a construção de trajetórias de professores/as leigos/as do município rural de Icapuí, estado do Ceará, entre 1940 e 2000. No campo da historiografia brasileira, tem-se ressaltado a importância de se revisitar períodos, temas e problemas históricos, que, embora privilegiados pelas pesquisas ancoradas na vertente tradicional, merecem receber novas abordagens, conforme Janotti (2000). Na historiografia da educação, esse movimento também tem se apresentado, levando os pesquisadores a considerar outros objetos e outros problemas, além daqueles estudados nas tradicionais histórias das idéias pedagógicas e história das políticas educacionais. Esse movimento tem possibilitado a emergência de campos de investigação, tais como: a leitura, os impressos, a profissão docente, os processos de escolarização, a cultura escolar, as práticas educativas e pedagógicas. Somando-se a eles, também sentimentos, emoções e mentalidades passaram a fazer parte da História, assim como fontes até então consideradas pouco confiáveis e científicas, como a literatura, as memórias, os periódicos, passam a constituir indícios para a reconstrução do passado, de acordo com Lopes; Galvão (2001). Embora os historiadores da educação brasileira estejam se debruçando sobre novos objetos e trabalhando com novas fontes, as pesquisas sobre os processos de escolarização têm priorizado o contexto urbano. Apesar desse predomínio, as pesquisas sobre a História da Educação Rural têm constituído um campo em expansão no Brasil e desafiado pesquisadores a mobilizar variadas fontes em contextos onde o documento escrito muitas vezes é lacunar, disperso e às vezes de difícil localização. Quando o historiador se propõe apreender sujeitos, práticas e culturas nos contextos rurais essa tarefa se torna mais complexa e desafiadora.

A LITERATURA COMO FONTE PARA O ESTUDO DA EDUCAÇÃO DAS POPULAÇÕES RURAL EM MINAS GERAIS

Gilvanice Barbosa da Silva Musial

O presente trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades e os limites do uso da literatura como fonte para a apreensão das representações sobre os espaços sociais rurais, seus sujeitos e sua educação em Minas Gerais no final do século XIX. O estudo está baseado, teórica e metodologicamente, nos pressupostos da História Cultural, em especial, na noção de representações de Roger Chartier. Para Nicolau Sevcenko (2003, p.286), as décadas situadas em torno da transição dos séculos XIX e XX assinalaram mudanças drásticas em todos os setores da vida brasileira. Essas mudanças foram registradas pela literatura; elas, sobretudo, transformaram-se em literatura. Nessa direção, diferentes historiadores, incluindo-se nesse grupo, os historiadores da educação, têm utilizado a literatura como fonte importante em suas pesquisas (WILLIAMS, 1989; GALVÃO, 1998; SEVCENKO, 2003; GOUVÊA, 2004). Assim, como podemos aprender os espaços sociais rurais, seus sujeitos e sua educação a partir dos textos literários? Segundo Ana Maria de O. Galvão; Antônio A. G. Batista (2009), “a apreensão do cotidiano escolar, como qualquer outra dimensão da realidade, é uma tarefa difícil. No entanto, há fontes que se revelam mais férteis para uma aproximação de sua reconstrução. As memórias, autobiografias e os romances constituem algumas delas” (p.34). Considerando essa afirmação, trabalhamos com quatro romances do escritor sabarense Avelino Fóscolo, romancista da virada do século XIX, que fez da literatura documento social. São eles: O Caboclo, A Capital, O Mestiço e Morro Velho. Eduardo Frieiro (1960) ressalta que “os romances de Avelino Fóscolo oferecem matéria de interesse para possíveis futuros estudiosos da vida social em Minas nos derradeiros

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anos do Império e primeiros da República” (p.35). Contudo, Galvão; Batista (2009) salientam que, ainda que a literatura apresente potencialidades, o trabalho com esse tipo de fonte implica a discussão de questões teórico-metodológicas. Como conciliar, então, história e ficção? Considerando as reflexões de Chartier (2009b), tal como seus diálogos com Greenblatt (1988) e Hobsbawn (1994), tomo a literatura como uma produção social, como ressaltado por Galvão (1996). Apesar de manter como referência a realidade na qual foi produzida, a literatura guarda em si uma relação de não transparência, de opacidade, caracterizada pela própria reconstrução que realiza (GOUVÊA, 2004). Nesse processo, “torna-se importante a explicitação de quem fala e de onde fala, ou seja, do autor de sua obra e das características que marcaram o período literário em que se vincula” (GALVÃO, 1996, p.108). Os referidos romances nos possibilitaram uma aproximação dos espaços sociais rurais de Minas Gerais no final do século XIX e a apreensão de práticas educativas diversas nesses espaços. O USO DE MEMÓRIAS ORAIS TRANSCRITAS COMO FONTE DOCUMENTAL: AS PRÁTICAS E CULTURAS

DE ESCOLAS ISOLADAS NO MEIO RURAL DE LOMBA GRANDE/RS (1940-1952)

José Edimar de Souza Este estudo trata da história do Ensino Rural e suas práticas e representações relacionadas ao desenvolvimento de Culturas Escolares, entre 1940 a 1952, a partir da memória de alunos e professores de Escolas Isoladas municipais, da região de Lomba Grande, município de Novo Hamburgo. Objetivo foi reconstruir, historiograficamente, práticas e culturas de Escolas Isoladas públicas primárias municipais, nesta localidade, evidenciando as identidades culturais como construções coletivas que se constituíram na relação plural com contextos valendo-se de memórias orais como fontes documentais. A cultura é aqui entendida como campo particular de práticas e produções sociais que, constituem um conjunto de sentidos, que se materializam pelos diferentes enunciados e condutas, como argumenta Chartier (1990, 2002). As memórias são analisadas na perspectiva do “tempo social”, no sentido que trata Halbwachs (2006), pelas relações formais ou informais, por meio de mediações culturais diversas que compõem os quadros sociais de memórias. Sob o referencial da História Cultural, a análise valeu-se de depoimentos orais de dez sujeitos que constituíram empiria estudada na pesquisa de doutorado. Neste trabalho, enfatizou-se a discussão do uso da memória oral e escrita como possibilidade investigativa para estudo de história da educação no meio rural, tendo como pressupostos as fontes como documento/monumento, como discutem Certeau (2011) e Le Goff (2012). Para Stephanou (2011) as lembranças/esquecimentos não representam uma realidade passada e ainda tangível, tampouco acessível na imediatez da narrativa. Escrevemos e dizemos o que pensamos ter vivido, o que pensamos ter sentido, experimentado. Do mesmo modo que o binômio da memória nos impõe o desafio de construir uma história frente à afirmativa de Ricouer (2009): impossível lembrar tudo e narrar tudo que sucedeu, ou seja, o que se reconstrói é parcial. Nesse sentido, as memórias trazidas pela voz dos sujeitos, que viveram em um determinado tempo e espaço, é documento construído e produzido pelo historiador. Grazziotin e Almeida (2012) acrescentam que este procedimento agrega o risco e as implicações de encontrar uma verdade, pois o mesmo se constrói em função da posição ocupada pelo historiador, na instituição histórica de sua época. Essa construção carrega ainda um conteúdo narrativo que conforma interesses subjetivos. As memórias permitiram conhecer e compreender como as práticas e culturas escolares foram se constituindo no interior de Escola Isolada nesta localidade. A escolarização e institucionalização, em Lomba Grande foi marcada pela coexistência de iniciativas particulares e públicas, sob a influência da comunidade para ampliar escolas públicas no interior deste bairro.

FONTES PARA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: O USO DE IMPRESSOS RELIGIOSOS

Patrícia Weiduschadt Pretende-se abordar nessa comunicação o uso dos impressos no campo da História da Educação. Esse campo ao aproximar-se da História Cultural buscou ampliar os tipos de fontes e os modos de análise. Vários trabalhos na área já discutiram o quão profícuo se torna o uso de impressos na análise historiográfica, como jornais, revistas infantis e juvenis, ou periódicos direcionados ao professor (LUCA, 2010; FARIA FILHO E SOUSA, 1999). Através deles pode-se analisar com mais propriedade aspectos das práticas educativas e da cultura escolar. Neste sentido, este resumo se propõe a analisar especificamente uma revista infantil produzida pela instituição luterana do Sínodo de Missouri, atual Igreja Evangélica Luterana do Brasil. A referida instituição instalou-se no Brasil no início do século XX, na região meridional do Rio Grande do Sul, logo expandindo para outras regiões, fundando a editora Concórdia, localizada em Porto Alegre, que teve a preocupação em editar periódicos, livros didáticos e revistas que atendesse vários públicos de seus fiéis: homens, mulheres, jovens e crianças. O trabalho da igreja também estava envolvido com as escolas étnicas comunitárias alemãs no Brasil, sendo essas escolas

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localizadas na grande maioria na zona rural. O uso dos impressos nesta realidade foi pensado na educação religiosa e escolar das crianças. Essa revista circulou entre as comunidades do Sínodo entre 1933 até 1939, na língua alemã denominada “Kinderblatt”, depois com a nacionalização do ensino ela modifica-se para a circulação em português com o nome “O Pequeno Luterano”, sendo editada até 1966. Foi possível perceber determinadas estratégias usadas pelo editorial e as diferentes táticas dos leitores (CERTEUAU, 2012), na apropriação da revista. A revista teve como objetivo geral preparar o leitor, aluno, fiel da escola paroquial a educar os leitores preparando-os para determinadas condutas para o futuro. Nos discursos apresentados pelo impresso fica claro o investimento doutrinário e religioso na educação das crianças. Não era somente necessário o leitor no futuro pertencer à instituição, mas era preciso instaurar modos próprios de participação: como as formas de contribuição financeira, a valorização de práticas de participação em eventos religiosos e o comprometimento na vida infantil, juvenil e na vida adulta nos vários departamentos da igreja. Para isso, seria necessário o conhecimento dos conteúdos religiosos, doutrinários e de ordem moral. Essas eram uma das estratégias usadas pelo periódico, mas de forma pouco recorrente aparecem também determinadas táticas dos leitores, como formas de resistência ao objetivo central do impresso. É possível perceber subliminarmente essas táticas, nas reclamações e chamadas da revista por uma ampliação da rede de leitores e pela crítica aos leitores em preferirem outras revistas que não fossem religiosas.

UM ITINERÁRIO DE PESQUISA PARA OS ESTUDOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO RURAL: O DESAFIO DAS FONTES

Fábio Garcez de Carvalho

A proposta de comunicação, apresentada em tela, fundamenta-se na descrição e análise dos desafios enfrentados para a realização da pesquisa em nível de doutorado, cuja temática versou sobre a trajetória dos (as) professores (as) leigos (as) do município rural de Icapuí, estado do Ceará, entre os anos 1940 e 2000. Para este estudo considerou-se a categoria da duração como algo a plasmar a construção social de um grupo de ofício. Isto quer dizer que a pesquisa se insere no âmbito dos estudos em História da Educação. Ao encaminhar o diálogo com a produção na área, verificou-se que a temática em tela inseria-se em um vasto campo a ser explorado, qual seja: os estudos sobre a história da educação rural. Trazer à tona as vozes e o protagonismo dos (as) professores (as) leigos (as) no interior de sociedades camponesas obrigou a um exercício teórico e metodológico que envolveu um duplo desafio: 1) Enfocar o local como campo repleto de experiências individuais e coletivas significativas; 2) Investigar os vestígios da presença dos (as) professores (as) leigos (as) na vida social e política nas comunidades rurais, considerando as repercussões educativas da ação desses sujeitos individuais e coletivos. No primeiro caso, buscamos no debate entre micro e macro, à luz de uma vasta tradição historiográfica da micro-história italiana, com suas repercussões em diversas historiografias nacionais, as bases para a problematização das relações entre indivíduo e coletividade; local e nacional (REVEL: 1998, 2010; LEVI: 2000, 1992; GRENDI: 2009; ROJAS: 2012). No segundo caso, cabem alguns esclarecimentos em relação à exploração de um cabedal de fontes variadas. No texto, em tela, procuraremos discutir os caminhos da pesquisa em História da Educação, que podemos resumir como “[...] o espetáculo da busca, com seus sucessos e reveses [...] (BLOCH: 2001), sobretudo se considerarmos a pesquisa em contextos rurais. É escusado dizer que as dificuldades interpostas ao pesquisador da educação rural são de inúmeras ordens: a precária conservação e o caráter lacunar do corpus documental; sem deixar de mencionar o pouco apreço dos poderes locais com a preservação da memória, o que torna essencial a busca e consulta, quando possível, aos arquivos privados. A pesquisa foi construída a partir de três categorias de fontes comumente utilizadas nas pesquisas em História da Educação, de acordo com a classificação de Antoine (1983): os testemunhos escritos, os testemunhos orais e os testemunhos figurados (materiais arqueológicos). Longe de se constituir em uma investigação eclética, a exploração de uma variedade de fontes, submetidas a um criterioso cruzamento e analisados à luz de adequada crítica heurística do testemunho, foi estratégica para a construção da análise de acordo com a alternância de escalas.

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Sessão Coordenada - 21 REGISTROS MEMORIALÍSTICOS, DIÁRIOS, LITERATURA E RELATÓRIOS

DOCENTES: FONTES DA PRESENÇA E AÇÃO FEMININAS NOS DIFERENTES ESPAÇOS DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX

Coordenador: JUAREZ JOSÉ TUCHINSKI DOS ANJOS Eixo Temático: 3 - Fontes e Métodos em História da Educação

No século XIX, as luzes se voltam para destacar a presença feminina, rompendo com seu aparente silêncio (Perrot, 2005). No Brasil, pesquisas recentes confirmam essa situação, tanto no campo da História como da História da Educação. Todavia, para ouvir tais vozes femininas e capturar sua presença nos variados espaços em que elas foram enunciadas, o historiador ou historiadora, no presente, precisa romper com a mudez dos arquivos, investindo na localização e problematização de fontes que permitam, por novos olhares, que as mulheres do passado sejam capturadas, observadas e interrogadas como protagonistas na História. O objetivo desta comunicação coordenada é justamente problematizar registros memorialísticos, diários, literatura e relatórios de docentes, como fontes da presença e ação femininas nos diferentes espaços da educação no século XIX brasileiro, apresentando, ainda, algumas interpretações sobre as experiências das mulheres sobre as quais testemunham. Tratamos aqui de mulheres da elite, imigrantes, professoras e escravas, tanto as que deixaram registros de si na primeira pessoa como aquelas de quem os homens nos falam, sem, contudo, impedir-nos de chegar aos ecos das vozes das mulheres às quais se referem. O registro memorialístico e a literatura são abordados na comunicação que analisa as possibilidades da educação feminina a partir da investigação da história de três mulheres inseridas no contexto do Rio de Janeiro Oitocentista, no espaço doméstico. Noutra investida, em registros memorialísticos da infância de paranaenses que viveram no século XIX, são apontadas e analisadas as práticas de educação da criança livre, engendradas pelas amas escravas, no espaço familiar. Se elas próprias não puderam relegar testemunho pessoal a comunicação procura mostrar de que modo as memórias de infância são um caminho para contornar seu silêncio. A terceira comunicação, também situada na Província do Paraná, debruça-se sobre o diário de uma imigrante britânica que atuou como professora particular na casa de famílias abastadas e também como educadora dos próprios filhos. Além de problematizar as peculiaridades desse testemunho feminino, evidencia o trabalho, sociabilidades, sucessos, angústias e intrigas em que a personagem se viu imersa, no período pesquisado. A última comunicação, indagando os relatórios enviados por professoras aos seus superiores na instrução pública primária na Província de São Paulo, lança sobre elas um novo olhar, ao tomar por objeto a experiência docente feminina. Por meio da operação com essa fonte e discutindo aspectos relativos ao exercício da docência, revela como a voz ativa dessas mulheres professoras, falando de seu ofício, pode ser recuperada nessa empiria.

A EDUCAÇÃO DE TRÊS MULHERES NO OITOCENTOS: ENTRE LITERATURA E EGODOCUMENTO

Maria Celi Chaves Vasconcelos O trabalho analisa possibilidades de educação feminina, a partir da investigação na história de três mulheres no contexto do Rio de Janeiro oitocentista. A primeira é uma personagem real, Maria Isabel de Lacerda Werneck, viscondessa de Arcozelo, nascida no século XIX, em 1840, vivendo o apogeu do Império bem como a sua decadência, e que deixou registrado um ano de sua vida, 1887, em um egodocumento singular por sua autoria e contexto, o Diário de Lembranças. Considerando as relações permitidas entre a história e a literatura como fonte (CHARTIER, 2000; PESAVENTO, 2003; KARNAL & TATSCH, 2011; FERREIRA, 2011), a segunda personagem é Guiomar, criada por Machado de Assis, para ser a protagonista do romance A mão e a luva, publicado em 1874, que conta a história da moça órfã que vive sob a proteção da madrinha, uma baronesa viúva, que quando lhe morre a filha, estabelece-a definitivamente em sua casa, alterando seus planos educacionais. A terceira personagem, também machadiana, é Iaiá Garcia, heroína do romance datado de 1879, que ambicionava ser professora de piano ou em um colégio, e que escapa a tal destino ao casar-se com um oficial do exército, não precisando mais submeter-se à condição de mestra. O objetivo do estudo, na perspectiva da análise das circunstâncias educativas dessas três mulheres, é averiguar as possibilidades e as representações da educação feminina contidas nas fontes estudadas, com centralidade nos padrões do que era permitido ao sexo feminino na sociedade oitocentista, visando às expectativas relativas a essa formação, ou seja, moldar uma boa esposa, boa gestora da casa e uma mãe capaz de educar seus filhos. Na pesquisa histórica, a utilização de fontes como egodocumentos se inscreve na ampliação dos modos de investigação (SCHULZE, 1996; FULBROOK & RUBLACK,

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2010), buscando-se localizar em escritos não intencionais ao tema tratado, vestígios que possam revelá-lo. A associação de fontes de pesquisa documentais, como o diário, relacionadas e confrontadas com a literatura que, no Brasil do século XIX, é um dos principais registros para se compreender a realidade existente, permitem a recomposição de cenários historiográficos, especialmente aqueles que têm como foco anotações e reflexões sobre a cotidianidade vivida, contendo elementos que outras fontes não explicitam de forma tão elucidativa. Conclui-se que o ensino de aprendizagens consideradas indispensáveis à boa educação feminina era uma demandada constante nas elites, assim como a perspectiva de aquisição de um ofício, como o de mestra, era destinada, particularmente, às mulheres que, não dispondo de sustentação parental, tinham que prover o seu próprio sustento, embora a ocupação de mestra de meninas seja a única opção de trabalho feminino, descrita e, relativamente, aceita nas histórias dos romances oitocentistas. Palavras-chave: Educação feminina; História e literatura; Rio de Janeiro.

AS AMAS ESCRAVAS E A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NA FAMÍLIA: INDÍCIOS DE SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MEMÓRIAS DE INFÂNCIA (PARANÁ, SÉCULO XIX)

Juarez José Tuchinski dos Anjos

A figura da ama escrava é uma das facetas femininas mais conhecidas nas histórias da infância, das mulheres e da escravidão no Brasil. Geralmente enfocada nos estudos na sua função de nutriz, pouca atenção tem sido dada ao papel educativo que desempenhou na vida das crianças pequenas que estiveram sob seus cuidados. Com efeito, no Brasil Oitocentista, não raras foram as escravas que, adentrando numa família como ama de leite, para nutrir o Nhonhô ou a Sinhazinha, após o período de lactação, ali permaneceram como amas secas, incorporando a identidade de “mãe preta”, coadjutora da mãe biológica na educação dos seus filhos durante a infância. As práticas empregadas por esta personagem feminina, tanto na função de ama de leite como ama seca, na educação da criança na família, são o objeto de estudo nesta comunicação. A fonte aqui privilegiada são memórias de infância de adultos que, quando crianças, tiveram contato com essas mulheres no Paraná da segunda metade do século XIX. Embora tais textos sejam escritos por homens, permitem ao historiador, em meio aos fios de memória e das retóricas da infância (BECCHI, 1994), aproximar-se dessas mulheres do passado, pelas imagens que esses registros memorialísticos delas refletem, no encalço da operação histórica proposta por Georges Duby (2011) no seu “Damas do Século XII”. Em face disso, o objetivo é identificar, a partir dos registros memorialísticos, as práticas educativas engendradas pelas amas e como elas tornavam-se práticas de educação das crianças sob seus cuidados. Para o desenvolvimento da pesquisa, dialoga-se com os conceitos de prática e apropriação, conforme demarcados por Roger Chartier (2002) e Michel de Certeau (1998) e com a historiografia da escravidão, da infância e das mulheres no Brasil Oitocentista, com especial ênfase àquela que tem se dedicado ao estudo das amas escravas. Os resultados alcançados permitiram identificar, dentre as práticas de que lançavam mão as “mães pretas” na educação das crianças sob seus cuidados, as canções de ninar e as estórias de seres sobrenaturais ou folclóricos. Observou-se que essas práticas tornavam-se educativas na medida em que traduziam e naturalizavam na criança, desde a infância, as relações patriarcais e de gênero em que estavam inseridas no contexto da sociedade brasileira oitocentista. Por fim, evidenciou-se a possibilidade das memórias de infância redigidas por homens como fonte potencial para a escrita da história de mulheres, como as amas escravas, que não deixaram registros de si. Palavras-chave: Amas escravas. Registros memorialísticos. Século XIX.

A CONDIÇÃO FEMININA E A EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX A PARTIR DO DIÁRIO DE UMA IMIGRANTE BRITÂNICA QUE TORNOU-SE PROFESSORA PARTICULAR NA PROVÍNCIA DO PARANÁ

Ana Maria Rufino Gilies

A comunicação proposta objetiva discutir a atuação de uma imigrante britânica, Caroline Tamplin, que tornou-se professora particular na província do Paraná na segunda metade do século dezenove, utilizando como fonte central um diário escrito por ela entre os anos de 1880 a 1882. Ao fazê-lo, pretende-se explorar o potencial desse tipo de documento para o estudo das representações femininas e, no presente caso, particularizar aspectos sobre a educação. Caroline chegou ao Paraná em dezembro de 1868 acompanhada do marido e filhos. Da capital, foram enviados à colônia do Assunguy, a 100 quilômetros de Curitiba, uma das colônias para onde eram destinados os milhares de europeus atraídos pelas campanhas de imigração postas em ação pelo governo imperial brasileiro. Em 1874, seu marido faleceu, mas ela permaneceu na colônia atuando como professora em escola estabelecida em suas terras. Contudo, em 1880, possivelmente cansada da dificuldade para receber do governo provincial os materiais escolares que considerava adequados bem como as gratificações que lhe seriam devidas, colocou anúncio do principal periódico da época oferecendo seus serviços como professora de línguas,

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piano, música, pintura etc. e, acompanhada de dois filhos menores, mudou-se para Curitiba, onde estabeleceu-se - educando os filhos dos outros, a cujas casas ela ia em dias e horários previamente marcados, seus filhos, outras mulheres e a si própria - ao menos até 1888, quando não foi mais possível encontrar quaisquer vestígios sobre ela. O diário, único exemplar, possivelmente parte de uma coleção maior quiçá queimada numa daquelas fogueiras feitas para dar cabo de papéis velhos, assemelha-se a uma contabilidade cuidadosa dos dias e as horas; são vestígios do cotidiano de mulheres, crianças e pessoas bem postas na sociedade; eles falam de trabalho, sociabilidades, alegrias, desventuras, intrigas; são indícios dos modos de pensar. O diário suscita muitas perguntas e lança luz sobre muitas outras. Por que alguém escreve um diário? Quais teriam sido suas intenções ao fazê-lo? Para quem escreve? Muitos autores debruçaram-se sobre esta questão (Artières, Caligaris, Lejeune, Barros, Gomes); alguns escreveram belos textos a partir deste tipo de fonte (Perrot, Borges), outros discutiram ainda seu caráter autobiográfico. Transparece, nos lançamentos diários certamente submetidos a uma seleção, a preocupação com a construção e a manutenção de uma imagem favorável de si e dos filhos, orientada por práticas culturais próprias de camadas mais elevadas da sociedade ou em ascensão. Assim sendo, a discussão será orientada por pressupostos teóricos da história cultural, como o conceito de ‘representações’ (Chartier), identidade e escrita-de-si. Palavras-chave: Mulheres. Educação. Diários. ENTRE A ADESÃO ÀS NORMAS E A BUSCA DE MELHORES CONDIÇÕES EDUCACIONAIS: UMA ANÁLISE

DOS IMPERATIVOS DE MUDANÇAS NA CULTURA DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DE SÃO PAULO PRESENTES EM MEMÓRIAS DE PROFESSORAS (1850-1890)

Paula Perin Vicentini

Rita de Cássia Gallego A comunicação visa discutir aspectos relativos ao exercício da docência entre os anos de 1850 e 1890, quando estavam surgindo os sistemas públicos de ensino no âmbito mundial com muitas demandas aos professores para incorporar os imperativos de mudanças difundidos pelo modelo pedagógico da escola de massas. O que era ser professora nesse período? Como elas vivenciavam o seu ofício e viam tal inciativa? Essas questões balizam a análise realizada aqui sobre os relatórios de professoras que atuavam nas escolas da Província de São Paulo, produzidos entre 1850 e 1890, tendo como base os conceitos de representação (Chartier) e de cultura escolar (Escolano, Frago e Julia). Escritos sob páginas amareladas, brancas, rasgadas, conservadas ou corroídas pelo tempo, sendo a caligrafia, às vezes, ilegível, esses documentos encontram-se no Arquivo do Estado de São Paulo e permitem conhecer as discussões que antecederam a criação dos grupos escolares em São Paulo, ocorrida em 1893, mostrando o modo como as professoras – ao relatarem a sua prática e os problemas enfrentados – vivenciaram este processo. Esses relatos guardam, portanto, ricas memórias sobre o cotidiano escolar, embora por serem endereçados à inspeção, por vezes, têm um formato padronizado e acentuam, quase sempre, a conformidade de suas ações com as leis e regulamentos ou outros como as circulares, o que demonstra a hierarquização e controle ao qual estavam submetidas. Entretanto, foi possível encontrar registros de episódios transcritos com emoção, insatisfação, inconformismo ou reivindicação. Ao tratarem dos aspectos que deveriam contemplar no relatório, as professoras trazem textos nos quais se notam conflitos velados (ou explícitos) entre docentes, pais e inspetores, deixando transparecer agressões simbólicas por meio de apresentação de intrigas e insinuações aos diferentes agentes ou à realidade na qual o professor se encontrava. Alguns relatórios são bastante originais do ponto de vista dos argumentos, das demandas, da dedicação ao escrever relatos para não só descrever, mas também propor mudanças e contar minuciosamente as atividades desenvolvidas. Assim, atrás da aparente receptividade das professoras, que endossam suas práticas a partir das referências às normas, há um grande número de relatórios que expressa a precariedade com que os docentes cumpriam seu dever, ensinavam, preparavam as crianças, discutiam questões de ensino, solicitavam materiais para poderem melhor aplicar os métodos tidos como ideais. Mais do que querer instaurar a regularidade do funcionamento de suas escolas, as professoras solicitavam alterações em sua realidade, muitas vezes, bastante distantes daquela a partir da qual a legislação partia. Palavras-Chave: Profissão Docente. Memórias. Relatórios.

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Sessão Coordenada - 22

MULHERES VIAJANTES E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: FORMAÇÃO DOCENTE, CIRCULAÇÃO DE SABERES E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Coordenadora: EVELYN DE ALMEIDA ORLANDO Eixo Temático: 3 - Fontes e Métodos em História da Educação

O objetivo desta mesa é explorar as múltiplas possibilidades em torno da temática “Mulheres viajantes e história da educação”, pensando aspectos referentes aos intercâmbios, à formação docente, à circulação de saberes e práticas pedagógicas em diferentes realidades educacionais. Situamos a presente proposta no âmbito das preocupações da História da Educação, acompanhando um movimento de outros trabalhos sobre a temática, produzidos na área a partir de fontes diversas, tais como cartas, cartões, diários, relatórios, notas de viagem, dentre outras (VIÑAO, 2000), transbordando “relatos de espanto, admiração, respeito e esperança. Olhares de familiaridade e estranhamento que tentaram inspirar e legitimar mudanças nas realidades educacionais”(MIGNOT & GONDRA, 2007, p.9), evidenciando-se experiências de viagens de educadoras, num mosaico com diferentes nacionalidades, temporalidades e destinos. A comunicação intitulada As viagens da advogada e professora Maria Rita Soares de Andrade (1904-1998): em defesa da educação e da emancipação feminina busca compreender os processos vivenciados e construídos pela personagem como pioneira em diversas situações, desvendando aspectos da trajetória de uma livre-docente do ensino secundário, destacando ainda as relações das professoras sergipanas com a mobilização das lideranças femininas na década de 1930. Abordando uma personagem que atuou também de forma privilegiada no ensino secundário, o trabalho Uma porta aberta para o mundo: as viagens de Maria Junqueira Schmidt como experiência de formação e distinção no cenário educacional brasileiro, analisa as viagens desta personagem em seus sentidos de experiência de formação e signos de distinção no campo educacional, buscando apreender como ela constrói seus saberes e práticas nesse movimento de circulação internacional. Em outra dimensão que foge do cenário escolar, o trabalho Mulheres de letras e educação feminina no espaço luso-brasileiro: lições em torno da infância nos escritos de Júlia Lopes de Almeida e Emília de Sousa Costa focaliza a ação educativa conduzida pelas duas escritoras, a partir principalmente de suas obras de aconselhamento dirigidas a mulheres-leitoras-educandas, tendo como horizonte a intervenção na infância, aspecto visto como essencial na construção da nação nos dois países, que se encontravam, no período de publicação das mesmas, sob a vigência do regime republicano, recém-instituído. Nesse contexto mais ampliado, o trabalho Histórias cruzadas? A educação como horizonte em três viajantes do século XIX, põe em conexão experiências isoladas de viagem, cruzando histórias que apresentam personagens em lugares sociais e geográficos distintos, conectadas pelo sentido de importância do viajar. A educação, em suas diferentes formas, é tema central e crucial na vida e nas viagens realizadas não apenas pelas três personagens abordadas neste trabalho, mas em todas as personagens estudadas nas pesquisas articuladas nesta mesa.

AS VIAGENS DA ADVOGADA E PROFESSORA MARIA RITA SOARES DE ANDRADE (1904-1998): EM DEFESA DA EDUCAÇÃO E DA EMANCIPAÇÃO FEMININA

Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas

Maria Rita Soares de Andrade (1904-1998) nasceu em Aracaju e se formou em Direito em 1926, na Faculdade de Direito da Bahia. Em 1929, prestou o concurso para o Atheneu Sergipense para a cadeira de Línguas Latinas e Literatura Brasileira. A tese defendida perante a banca do concurso teve como título: “A mulher na Literatura”. Apesar de ter sido aprovada em primeiro lugar, só conseguiu ser nomeada depois de entrar com um processo contra a direção do estabelecimento do ensino, em 1931. Foi também processada por calúnia e difamação pelo diretor, tendo em vista as denúncias apresentadas à imprensa sergipana contra a gestão do mesmo. Entre 1931 e 1934 ela foi editora responsável pela Revista Renovação, de caráter literário, a publicação veiculava em suas páginas textos em prosa e em verso, de autoras e autores sergipanos, bem como de outros colaboradores reconhecidos nacionalmente. Em muitas matérias defendia os direitos femininos e a emancipação da mulher pela ampliação da sua escolarização. Neste período, as viagens realizadas por Maria Rita também foram visibilizadas nas páginas da Renovação, ela esteve diversas vezes no Rio de Janeiro, em contato com as lideranças da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e da União Universitária Feminina. Em 1938, mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro, atuou como advogada e foi redatora de diversos impressos, entre eles do Jornal do Brasil, de 1954 a 1963. Em 1967, Maria Rita foi nomeada a primeira juíza federal do Brasil, atuando

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nesta função até a sua aposentadoria em 1974. A pesquisa fundamentou-se na abordagem biográfica associada à História da Educação, na perspectiva teórica e metodológica da História Cultural. As categorias de representação e apropriação de Chartier, bem como capital cultural e capital social de Pierre Bourdieu foram mobilizadas para compreender os processos vivenciados e construídos por Maria Rita como pioneira em diversas situações. Buscou-se a partir dos depoimentos, relatos de viagens, cartas, reportagens, entre outras fontes, analisar as contribuições da referida professora no Atheneu, e em outros campos de atuação em defesa da educação feminina e da ocupação do espaço público pelas mulheres. Espera-se com esta investigação contribuir para a História da Profissão Docente e a História das Mulheres, desvendando aspectos da trajetória de uma livre-docente do ensino secundário, bem como compreender as relações das professoras sergipanas com a mobilização das lideranças femininas na década de 1930, através de impressos, cartas, viagens, participação em congressos e seminários. Palavras-chave: História da Profissão Docente, Magistério secundário, Sergipe.

UMA PORTA ABERTA PARA O MUNDO: AS VIAGENS DE MARIA JUNQUEIRA SCHMIDT COMO EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E DISTINÇÃO NO CENÁRIO EDUCACIONAL BRASILEIRO

Evelyn de Almeida Orlando

Maria Junqueira Schmidt foi uma mulher católica, de atuação expressiva na educação brasileira em diferentes áreas que abrangeram do ensino escolar à orientação educacional e educação das famílias. Autora de biografias, livros de literatura, livros didáticos de francês e história e uma coleção de livros voltados para a educação das famílias, a personagem é considerada nesta pesquisa como uma intelectual da educação católica pelo lugar que ocupou como produtora e mediadora de uma cultura católica, profundamente engajada nas questões sociais de seu tempo. Nascida na década de 1910, estudou por dez anos na Europa, entre Alemanha, Bélgica, Suissa e França. Ao retornar ao Brasil integra o corpo docente do Colégio Jacobina no Rio de Janeiro, e em 1929 passa no concurso público do estado, sendo designada como professora de francês na Escola de Comércio Amaro Cavalcante, assumindo posteriormente o cargo de diretora dessa mesma escola. Ao longo de sua carreira empreende novas viagens vinculadas à profissão docente. Dentre elas, destaco viagens para a França a fim de realizar novos cursos de aperfeiçoamento em Literatura Francesa, e uma viagem aos Estados Unidos para compreender como aquele país lida com o problema dos menores abandonados. Suas experiências acabam por ampliar seu escopo de atuação profissional e, com isso, se insere no contexto da educação profissional, da Orientação Educacional e da educação das famílias. Convidada pelo Ministro da Educação compõe a Comissão nacional de Literatura e a Comissão Nacional do Livro Didático ao lado de expoentes da literatura como Cecília Meireles, José Lins do Rego, Manuel Bandeira, dentre outros. Sua rede alcança também a intelectualidade católica, expressa no convite de Alceu Amoroso Lima para ministrar um curso sobre educação das famílias no Centro D. Vital. O aporte teórico para compreender essa personagem passa pelo conceito de intelectual (SIRINELLI, 2006), considerando suas viagens como experiências de formação e distinção no campo educacional (BOURDIEU, 2007). As viagens se constituem como fontes privilegiadas deste trabalho para apreender como essa personagem constrói seus saberes, suas práticas nesse movimento de circulação que lhe permite trazer mais do que lembranças em sua bagagem (VIÑAO FRAGO, 2007; LIMA, 2012; MIGNOT & GONDRA, 2007; GONDRA, 2010). Ao mesmo tempo, essas viagens podem ser lidas como um investimento em uma formação cada vez mais distintiva que lhe permite ocupar uma posição de visibilidade entre seus pares, especialmente entre as mulheres. Palavras-chave: Viagens, Intelectuais, Formação e profissão docente. MULHERES DE LETRAS E EDUCAÇÃO FEMININA NO ESPAÇO LUSO-BRASILEIRO: LIÇÕES EM TORNO DA

INFÂNCIA NOS ESCRITOS DE JÚLIA LOPES DE ALMEIDA E EMÍLIA DE SOUSA COSTA

Ana Maria Bandeira de Mello Magaldi

Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) foi uma literata que ocupou um lugar de destaque na cena cultural brasileira, de fins do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Em meio às produções literárias de sua autoria, de gêneros diversos, como romances, crônicas e peças teatrais, entre outras, que conformam um conjunto volumoso, distinguem-se os manuais dirigidos às mulheres brasileiras, desde as jovens, consideradas em um momento de vida anterior ao casamento, até mulheres maduras, mães e esposas. Nas páginas destes livros, a dimensão educativa e civilizadora, presente em sua obra de forma geral, adquire centralidade, sendo uma marca dos mesmos a abordagem prescritiva, observada nas lições por meio das quais a escritora e educadora pretendia alcançar “noivas”, “donas e donzelas”, sobre os mais diversos temas referidos à vida feminina. Do outro lado do Atlântico, em um tempo que coincide, em parte, com aquele em que se desenvolveu a carreira de Júlia Lopes de Almeida, Emília de Sousa Costa (1877 -1959), escritora portuguesa, também teve uma trajetória de relevo no

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mundo das letras de seu país, publicando, do mesmo modo que a autora brasileira, obras de gêneros diversos, em meio às quais se destacam as dotadas de viés educativo. Entre as duas autoras e suas obras que elegiam as mulheres como alvos privilegiados, podem ser observadas aproximações expressivas, a que daremos atenção nesse estudo. No que se refere ao contato estabelecido entre ambas, são dignas de nota as viagens promovidas por cada uma das escritoras ao país em que vivia a outra, percebidas como momentos privilegiados no intercâmbio de experiências e de ideias entre as duas. Este foi o caso, por exemplo, da visita de Emília de Sousa Costa ao Brasil, em 1923, ocasião em que foi recebida, justamente, por Júlia Lopes de Almeida, como pôde registrar a imprensa carioca da época, e em que os vínculos entre as duas puderam ser estreitados. No caso desse estudo, a pretensão é de focalizar a ação educativa conduzida pelas duas escritoras, a partir principalmente de suas obras de aconselhamento dirigidas a mulheres-leitoras-educandas, tendo como horizonte a intervenção na infância, aspecto visto como essencial na construção da nação nos dois países, que se encontravam, no período de publicação das mesmas, sob a vigência do regime republicano, recém-instituído. Na análise das prescrições veiculadas, será explorado o direcionamento das autoras tencionando a preparação das leitoras para a educação e o cuidado dos filhos e o seu direcionamento às mesmas leitoras, com vistas ao estímulo à sua atuação social via filantropia, caminho por meio do qual era visualizada a possibilidade de extensão de hábitos e comportamentos higiênicos e civilizados para a infância pobre. Palavras-chave: Mulheres de letras, Impressos, Circulação de saberes.

HISTÓRIAS CRUZADAS? A EDUCAÇÃO COMO HORIZONTE EM TRÊS VIAJANTES DO SÉCULO XIX

Alexandra Lima da Silva

O horizonte do presente trabalho é analisar algumas figuras de mulheres viajantes em narrativas como as de Amanda Berry Smith (1893), Anna Harriette Leonowens (1870) e Ina Von Binzer (1887), no sentido de indicar as possibilidades de tais fontes para a escrita e o ensino de história da educação. Há conexões em experiências tão distintas? Amanda Berry Smith nasceu escrava em 23 de janeiro de 1837, nos Estados Unidos. Após uma trajetória de percalços, tornou-se missionária. Durante doze anos, Amanda Smith conheceu diferentes culturas, conheceu pessoas e visitou instituições diversas. O tom da narrativa muda, ganha feições de diário de viagem. Após viajar pelo mundo afora, escreveu a autobiografia intitulada An autobiography. The story of the Lord’s dealings with Mrs. Amanda Smith the colored evangelist, onde relata suas viagens à América, Inglaterra, Irlanda, Escócia, Índia e África. Fundou a Amanda Smith Orphan Home and Industrial School, destinado a abrigar crianças negras abandonadas. Amanda Berry Smith faleceu aos 78 anos, no ano de 1915. Por sua vez, Anna Harriette Leonowens é considerada uma educadora britânica, porém, nasceu na Índia, no ano de 1831. A partir de suas memórias dos tempos em que foi preceptora e professora da realeza do Sião, escreveu o livro The English Governess at the Siamese Court, being of six years in the Royal Palace at Bangkon, publicado em Londres pela editora Trubner &Co, no ano de 1870. Tal obra inspirou outra, o livro ficcional Anna e o Rei do Sião, de Margareth Landon. Tal obra, por sua vez, inspirou o roteiro dos filmes Ana e o Rei (1946 e 1999). A terceira figura de viajante a ser analisada no presente trabalho é Ina Von Binzer, cujo nome completo é Ina Sofie Amalie von Bentivegni. Nascida na Alemanha, em 1856, viajou para o Brasil no ano de 1881 para atuar como preceptora de crianças da elite. Afinal, o que une tais mulheres que nasceram e viveram no século XIX? Situadas em lugares sociais e geográficos distintos, as três mulheres analisadas no presente trabalho estão conectadas pelo sentido de importância do viajar nas três narrativas. A educação e o exercício da docência é algo central e crucial na vida e nas viagens realizadas pelas três. Ademais, a viagem representou um marco nas trajetórias das três mulheres, dotando a experiência de uma excepcionalidade que a tornou digna de ser lembrada e contada. O viajar pode ser explorado neste caso, como uma experiência educativa e formativa, nos remetendo à dimensão proposta por Antonio Viñao, para qual, “todos los viajes educan, aunque solo sea por abrir al viajero a uma realidad diferente a la suya. Sólo que unos educan más que otros, o de forma diferente a otros” (VIÑAO FRAGO, 2007, p. 15).Enfim, as viagens tornam experiências aparentemente isoladas, em histórias cruzadas. Palavras-chave: Narrativas de viagem, Mulheres, Formação

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Sessão Coordenada - 23

MATRIZ INTERPRETATIVA DE NORBERT ELIAS PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Coordenador: TONY HONORATO Eixo Temático: 3 - Fontes e Métodos em História da Educação

A comunicação coordenada tem como objetivo apresentar e discutir pesquisas de história da educação que têm tomado como referencial as teorias dos processos civilizadores e da sociologia figuracional propostas por Norbert Elias e interlocutores. A motivação é a de que nas três últimas décadas os estudos e as investigações em história da educação no Brasil identificaram na história cultural e social uma forma de revitalizar seus objetos de estudo, elaborando temas e fontes diversificados. Para tanto houve, e ainda há o constante diálogo com autores representativos. Por sua vez, a obra de Norbert Elias apresenta-se a historiografia da educação como um caminho teórico e metodológico pertinente aos estreitamentos entre os campos da educação, da história e da sociologia. A matriz interpretativa de Norbert Elias instiga-nos a investigar a história da educação considerando as dinâmicas sociais, as relações de poder, os controles das emoções, as figurações sociais, a formação de estados, bem como os comportamentos e habitus específicos dos processos civilizadores. Deste modo, pretende discutir investigações relativas a estes processos civilizatórios tendo a educação como centralidade nas sociedades em civilização. A comunicação coordenada se organiza em quatro trabalhos. O primeiro “Educação dos povos nativos no Brasil”, a partir de fontes referentes ao século XVI e XVII, discute a hipótese de que o olhar do branco sobre os nativos foi se alterando em diferentes momentos e que as ações de conversão, catequese, domesticação, civilização e educação, quando se referem a grupos com menor participação nos centros de poder, têm significados muito próximos e, algumas vezes, sinônimos. O segundo “O (re)equilíbrio de poder nas escolas paulistas de formação de professores (1897-1921)”, considerando o conceito de poder de Norbert Elias e uma realidade empírica, investiga o processo da escola complementar à escola normal de Piracicaba/SP no período republicano. O terceiro “Processo civilizatório escolar na infância: memorias de imigrantes (1930-1945)”, analisa como se deu os processos de civilização escolar na vida de imigrantes europeus, mais precisamente, filhos da primeira geração que ocupou a região centro oeste do Paraná em meados do século XX. O quarto “Civilización y construcción del Estado Nacional Argentino: Domingo F. Sarmiento”, apresenta uma pesquisa sobre o processo de civilização que tem em foco um dos intelectuais e políticos fundamentais no processo de construção do Estado Nacional da República Argentina. Todas as comunicações têm como premissa a teoria dos processos civilizadores proposta por Norbert Elias. Elas problematizam as tensões educacionais históricas, vividas pelos colonizadores brancos e povos nativos; por indivíduos no processo de institucionalização na formação de professores em São Paulo; pelo processo escolarizador dos filhos de imigrantes no Brasil e na formação do Estado argentino a partir de uma ótica de política (des)civilizatória. O (RE)EQUILIBRIO DE PODER NAS ESCOLAS PAULISTAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES (1897-1921)

Tony Honorato

Esta comunicação apresentará uma experiência de pesquisa na área de história da educação, tendo como orientação o diálogo entre a realidade empírica e o conceito de poder proposto por Norbert Elias. O objeto empírico de investigação foi o processo de uma instituição escolar pública voltada à formação de professores, tomando como caso específico a Escola Complementar e Normal (1897-1921) localizada na cidade de Piracicaba no Estado de São Paulo, Brasil. Como fonte assumiu a legislação da instrução pública paulista e registros da administração escolar impressos e manuscritos. A periodização justifica seu início em 1897 em razão ter sido o ano de instalação da Escola Complementar de Piracicaba, que somente em 1921 funcionou como uma Escola Normal recebendo os mesmos atributos de suas congêneres. A partir de tal realidade buscou um diálogo com o conceito de poder de Norbert Elias (1980; 1994; 2000; 2006) para produzir uma interpretação histórica. Como registro inicial, para Norbert Elias o poder não é um amuleto que um indivíduo possua e o outro não, é característica estrutural das relações humanas que diz sobre níveis de interdependências e de correlações de forças entre pessoas, grupos, instituições e nações. Desse modo, e sem usar os documentos para reprodução de uma teoria dada a priori, o conceito de poder de Norbert Elias e o caso estudado possibilitaram problematizar a existência, concomitantemente, de dois modelos de formação de professores: o complementarista e o normalista. O normalista gozava de maior prestígio no quesito preparação de professores, particularmente o modelo ofertado pela Escola Normal da Capital do Estado de São Paulo; enquanto o modelo complementar era

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um paliativo encontrado pelos reformadores republicanos. Contudo, com a Reforma da Instrução Pública Paulista de 1911, conhecida como Reforma “Oscar Thompson”, converteu-se as complementares em normais primárias ou secundárias, por conseguinte nominalmente houve uma maior reequilíbrio de poder entre as instituições voltadas à formação de profesores. Já em 1920, com a Reforma “Sampaio Dória”, o aparelho escolar paulista foi reorganizado tendo como um de seus objetivos o ato de transformar a formação de professores em tipo único. Neste momento, nominalmente, pode ser interpretado que houve um equilíbrio de poder, que não é sinônimo de igualdade, entre as instituições modelares. No caso da Escola de Piracicaba, a argumentação do texto, ora proposto, desenvolverá: a) a interpretação de que o equilíbrio de poder foi visível para além dos dispositivos legislativos; b) a teoría proposta por Norbert Elias possibilita uma interpretação da história da formação de professores sem dualidades e polarizações, e sim produtora de relações de interdependências humanas e pedagógicas, indicando assim um ângulo diferente para a historiografia da educação. Palavras-chave: Institucionalização, Escola, Poder.

EDUCAÇÃO DOS POVOS NATIVOS NO BRASIL

Ademir Gebara Na colonização americana há um imbricamento da ação européia na África e na América, sua natureza civilizadora é também genocida ou descivilizadora. A capacidade dos europeus em “globalizarem” sua expansão colonial a partir do século XVI, é em si mesma geradora do descontrole dos comportamentos ditos civilizados, dadas as injunções de sua própria superioridade política e tecnológica em contato com outros processos civilizadores. A nova elite que se constitui nesses espaços coloniais, desenvolverá, na longa duração, processos pedagógicos de integração das populações submetidas à construção de comportamentos integrativos e desejáveis. O processo euro-americano implica em reconsiderar formulações clássicas em inúmeras questões tal como N. Elias as encontrou no ambiente europeu. O primeiro problema a enfrentar é o contato entre civilizações letradas e civilizações orais, outro problema é o significado de violência que se estabelece a partir do século XV tanto na Europa como nas Américas. No caso brasileiro, a violência e/ou a tolerância dela foram racionalmente utilizadas, quer para dominar os nativos e escravos africanos, quer para conquistar o território, mais especificamente a fronteira econômica em expansão, quer para organizar e desenvolver a produção material, quer para inculcar valores, comportamentos e crenças, freqüentemente desfuncionalizando a vida comunitária existente. Neste caso, a violência é um componente estrutural da política estatal. Quando nos referimos a constituição da população brasileira, freqüentemente nos referimos a existência de povos nativos, deixando margem ao entendimento de que estamos falando de um grupo relativamente homogêneo e identificável, denominados indígenas. A hipótese é a de que o olhar do branco sobre os nativos foi se alterando em diferentes momentos. Documentos produzidos quando do “descobrimento” do Brasil, como a carta de Pero Vaz de Caminha, cartas jesuíticas e relatos de viajantes, permitem identificar algumas aproximações pelas quais os conceitos de educação e de civilização afloram de maneira tensa. Estas tensões explicitam-se mais claramente quando das discussões visando a organização da nação independente. Em 1 de junho de 1823 José Bonifácio de Andrada e Silva endereçou a Assembléia Nacional Constituinte os “Apontamentos para a civilização dos índios bravos do Império do Brasil”. O autor, tornando-se figura central no processo de constituição do Brasil independente, após uma análise pregressa e atualizada das relações dos portugueses e brasileiros com os diferentes grupos nativos, sugere um conjunto de medidas “que se deve lançar logo mão para a pronta e sucessiva civilização dos Índios”. O argumento terá como hipótese que a conversão, catequese, domesticação, civilização e educação, quando se referem a grupos com menor participação nos centros de poder tem um significado muito próximo e, algumas vezes, sinônimos. Palavras-Chave: Civilização, Educação, Brasil

PROCESSO CIVILIZATÓRIO ESCOLAR NA INFÂNCIA: MEMÓRIAS DE IMIGRANTES (1930-1945)

Magda Sarat Na escola a criança vivencia as primeiras experiências fora do âmbito familiar o que faz da infância um período fundamental na formação dos indivíduos em qualquer grupo social. Para Norbert Elias (1998) “a criança só se torna um ser humano” ao se integrar a um grupo e aprender as regras de controle das pulsões e dos afetos que são próprias da civilização. As condutas que a criança vivencia na escola como espaço de aprendizagem coletivo e individual é parte do processo de escolarização da infância que, ainda segundo Elias, depende totalmente da aprendizagem de símbolos sociais. Tais conhecimentos caracterizam um processo de longa duração que vem sendo acumulado histórico, social e culturalmente e marca as diferenças entre o ser humano e outros seres vivos, pois somos dependentes e precisamos confiar na aprendizagem adquirida no processo de longa duração que,

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caracteriza as trocas e as relações geracionais entre os indivíduos. Partindo, dessa premissa, este trabalho pretende discutir à luz das teorias de Norbert Elias como se estabeleceram estes processos de civilização escolar na vida de imigrantes europeus, filhos da primeira geração que ocupou a região centro oeste do Paraná e viveu a infância entre as décadas de 1930 a 1940. Tais indivíduos compõem a segunda geração de imigrantes que vieram nos processos migratórios para o Brasil no início do século XX e, se estabeleceram, permitindo assim criar sucessivas gerações dentro de um mesmo grupo social. Portanto, trata-se de uma pesquisa com fontes orais, recolhidas a partir dos procedimentos metodológicos da história oral e, que procura apontar, de que modo à escola fez parte da vida e do aprendizado destas pessoas e da sua geração. Buscamos recuperar os modos de perceber como se estabeleceu um processo civilizador aprendido na escola paranaense do período, qual seja entre os anos 1930 e 1945. Este foi o período em que os entrevistados viveram suas primeiras experiências escolares, portanto, nos permite indagar os comportamentos, as condutas, as regras, as pulsões e os padrões civilizatórios que estavam presentes, ou não, neste espaço escolar caracterizado por uma cultura específica. Assim, perscrutando o lugar da escola e sua materialidade nas histórias e memórias de ex-alunos, percebemos que de alguma forma, ela se caracterizou pela ausência em relação à formação familiar e ao trabalho, mantendo silêncios e descontinuidades na infância destes indivíduos. Finalmente, esperamos a partir das teorias de Elias contribuir com a discussão da história da infância e seu processo de escolarização e, a partir das fontes orais, dar visibilidade aos modos como a escola e sua educação foram lembradas, pois atribuímos à ela a tarefa social de inserir o indivíduo, desde a infância, em um processo civilizador que pretende torná-lo humano e parte do seu grupo social. Palavras chave: Infância, Processo Civilizador, Escolarização.

CIVILIZACIÓN Y CONSTRUCCIÓN DEL ESTADO NACIONAL ARGENTINO: DOMINGO F. SARMIENTO

Lucas Facundo Krotsch Me propongo presentar en esta ponencia un avance de investigación sobre el proceso de civilización que tenía en mente uno de los intelectuales y políticos fundamentales en el proceso de construcción del Estado Nacional en la República Argentina: Domingo F. Sarmiento. A través de una revisión bibliográfica de la producción de este personaje fundamental de la historia argentina se intentará responder a preguntas nodales de Norbert Elias tales como: “¿Cómo mantienen entre sí los miembros de un grupo la convicción de que son no solo más poderosos, sino también mejores seres humanos que los de otro grupo? ¿A qué medios recurren para imponer la creencia en su propia superioridad humana sobre los menos poderosos?”. Estimo que la respuesta a estas preguntas ayudará a pensar, desde el caso argentino, un proceso civilizador latinoamericano. Para el objetivo señalado se utilizarán fuentes secundarias como la obra del pensador y político en cuestión, artículos de revistas, periódicos de la época, producción audiovisual y académica directa o indirectamente relacionado con el tema. El marco teórico desde el cual se realiza este análisis está fuertemente influenciado por el pensamiento de Norbert Elias e involucra conceptos centrales del mismo como configuración, proceso de civilización, proceso de individuación, informalización, autocoacción de las emociones, concentración del poder estatal, interdependencia, figuración establecidos-forasteros, etc. Si podemos hablar de un proceso de civilización argentino este deviene de complejas luchas civilizadoras y descivilizadoras que deben ser esclarecidas para poder objetivar la particularidad “del” proceso local. En este trabajo se propone una primera lectura desde grupos cuyo diferencial de poder ha hecho que los intentos de otros, incluso de culturas y pueblos originarios, sean considerados claramente descivilizadores. El objetivo final de esta investigación es insertarse en otra que integra diversas perspectivas latinoamericanas en la misma dirección. Se trata de mi primera incursión en un terreno en el que se incorpora, a parte de una mirada politológica lógicas propias del campo de la historia de la educación y de la filosofía y la sociología de la educación. Se trata, también, de una lucha encarnizada sobre los límites de lo nacional y la concepción de los elementos materiales y simbólicos que deben constituirlo; de la conformación social de las subjetividades en un espacio social determinado, ajustándolo a un territorio legalmente constituido. Desde ya que esta legalidad tiene que ver con este juego de imposición de concepciones de lo legítimo y de aquellos que “debe ser” más allá de las particularidades de lo que “es”. Palabras-clave: Educación, Civilización, Argentina.

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Sessão Coordenada - 24

TEMPOS DISTINTOS DE CENTRALIDADE EDUCACIONAL PARA CRIANÇAS, JOVENS E ADULTOS (IDADE MÉDIA E SÉCULO XX)

Coordenadora: ROSA LYDIA TEIXEIRA CORRÊA Eixo Temático: 4 - História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil

A história da história da educação de épocas longínquas e recentes há de elucidar as vicissitudes das maneiras de educar na interação entre grupo familiar, instituição escolar, poderes públicos e História. Na Alta Idade Média (século V ao século X d.C.), a educação da criança ocidental é predominantemente pensada e praticada para formar o adulto cristão, seja nos mosteiros, seja nas escolas paroquiais. Com o desenvolvimento das cidades ocidentais devido ao crescimento do comércio e de uma burguesia urbana, escolas elementares são criadas e dirigidas por corporação de mestres, professores particulares, professores laicos. A sua expansão é simultânea ao crescimento de alunos (scolares) e mestres (magistri). Nos tempos modernos, a educação da criança em idade escolar, além do jovem e do adulto não alfabetizado, está associada à ação educativa na família, na escola pública e nas instituições religiosas e laicas. Nesses lugares e nesses tempos distintos, o mosteiro, a escola paroquial, a família, a escola pública, religiosa e laica constituem-se em instituições reconhecidas para educar visando ao aprimoramento do educando, das sociedades e dos tempos. Assim sendo, os trabalhos da Sessão Coordenada, inscritos no Eixo Temático História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil, dialogam com os repertórios das fontes documentais nacionais e internacionais (incluindo cartas escritas por São Jerônimo (347-420), o manual de dhuoda (803-843) escrita por uma mulher nobre), além de uma literatura educacional especializada. No seu conjunto, objetiva-se proporcionar uma apreciação da educação da criança, do jovem e do adulto em tempos e lugares diferentes, igualmente Europa na Alta Idade Média, Portugal e Brasil no século XX, por intermédio da centralidade daquilo que é peculiar ao ato de ensinar: aprender a viver em comunidades estritas e extensivas. Os quatros trabalhos de fundamentos históricos encontram-se, assim, estruturados articuladamente: i) a educação da criança mediante projetos cristãos na Alta Idade Média; ii) a educação escolar para idade adulta no Brasil e em Portugal no século XX; iii) a educação da criança da escola primária no Paraná pelas prescrições do Estado na Segunda República; iv) a educação de crianças e de jovens na casa no Brasil e em Portugal, simultaneamente com o preceito da obrigatoriedade escolar; Nos tempos medievos e modernos, a educação da criança, do jovem e do adulto constituem-se em projetos cristãos, planos públicos e programas privativos da família. Palavras-chave: Educação da criança, jovem e adulto. Idade Média. Século XX.

A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS NA CASA: ASPECTOS DA LEGISLAÇÃO NO BRASIL E EM PORTUGAL

Maria Celi Chaves Vasconcelos

Na maior parte dos países ocidentais, o século XIX marca o início da escolaridade obrigatória aliada à estruturação e organização dos sistemas de ensino sob o domínio do estado. Tal processo tem seu ápice no século XX, quando, em alguns países, como o caso do Brasil e de Portugal, é consagrada a escolaridade obrigatória e o estado, direta ou indiretamente, torna-se o mantenedor e o regulador das redes públicas e privadas de escolarização. Assim, o objetivo central deste estudo é a investigação acerca do processo de estabelecimento da escolaridade obrigatória em Portugal e no Brasil, bem como das novas tendências de desescolarização presentes no cenário educativo mundial e as consequências desse movimento sob a legislação nos dois países em foco. A escolha do tema referente aos dois países resultou do fato do Brasil haver compartilhado com Portugal a legislação educacional relativa à instrução pública durante o Reino Unido, período em que o ensino doméstico era prática majoritariamente exercitada pelas elites para a educação intelectual de seus filhos, parentes e agregados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual é utilizado um repertório diversificado de fontes, destacando-se os documentos produzidos sobre esta problemática e depoimentos tomados sobre essa modalidade de educação. Na atualidade, constata-se que o ensino doméstico volta a ser procurado de maneira significativa, atendendo a diferentes motivações de pais, que optam por manter os filhos fora da escola oficial, denominando-se de homeschooling por ter nos Estados Unidos da América o maior número de adeptos, dois milhões de crianças e jovens submetidos à educação na casa em 2002, de acordo com os dados apresentados no Worldwide guide to homeschooling. Em países como Brasil e Portugal, tal prática cultural possui, hoje, políticas orientadoras diferentes, sendo, no primeiro proibido e sujeito a penalidades das leis em vigor, especialmente as que tratam da proteção à criança e ao adolescente; e no segundo, consentido com base

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no princípio constitucional da liberdade de aprender e ensinar. Como resultados constata-se que a análise das propostas de desescolarização sinaliza caminhos para a possível revisão e consequente flexibilização da legislação vigente ou, pelo contrário, para uma tomada de consciência por parte dos decisores políticos e dos legisladores da necessidade de reforçar a obrigatoriedade da escolarização por meio da escola pública e privada. Palavras-Chave: Educação doméstica; Legislação educacional; Brasil e Portugal.

A CRIANÇA DA ESCOLA PRIMÁRIA: PRESCRIÇÕES E SABERES GOVERNAMENTAIS NO PARANÁ NA SEGUNDA REPÚBLICA

Rosa Lydia Teixeira Corrêa

A efetiva inserção na modernidade requer das nações a consolidação de bases nas quais estas se assentem com vistas a responder às exigências próprias desse tempo. Nesse sentido, à escola primária é atribuída pelo Estado brasileiro e distintos governos lugar de centralidade na conformação da nacionalidade brasileira, visando atender aos imperativos do mundo moderno. Nessa base ela se institucionaliza em distintas modalidades, sendo-lhe delegada a instrução da criança. Na segunda Republica com o acirramento das medidas de nacionalização a criança da escola primária é entendida como a expressão da construção futura da nacionalidade moderna em documentos governamentais aqui entendidos como códigos de ensino, relatórios de governo, programas, mas também em livros escolares de leitura. Desse modo, este estudo objetiva trazer apreciação sobre a criança da escola primária na Segunda Repúbica, sob as representações (CHARTIER, 1990) de distintos governos. Essas representações estão contidas naqueles documentos, traduzidas, muitas vezes, por meio de prescrições a serem rigorosamente cumpridas pela escola. Para tanto, certos saberes escolares se constituem em matrizes para a formação nacional por meio de livros escolares. Metodologicamente situado no campo da História da Educação utiliza-se da documentação anteriormente referida como fontes desde as quais são apreendidas tanto as prescrições como os saberes num exercício interpretativo por meio do qual se estabelecem nexos com as aspirações modernas e nacionais sobre o escolar da instituição primária do período. Trata-se de uma abordagem histórica sócio/política da educação no Brasil, considerando-se a abrangência e, ao mesmo tempo, as intencionalidades governamentais tacitamente marcadas numa materialidade na qual substancialmente são prestadas contas para os supostos representantes do povo sobre realizações governamentais acerca da escolarização da criança no Paraná, bem como por meio do que essa escolarização precisaria ser levada a cabo. Os governos entendem haver necessidade de educar a criança brasileira segundo as bases da moderna ciência pedagógica com substrato psicológico/sociológico da escola ativa em duas vertentes: a cientificista e a escola nova em sua articulação com pensadores europeus, tais como: Decroly, Pestalozzi, Maria Montessori, entre outros e, por meio de desdobramentos presumivelmente científico/higienista que deveriam conformar o escolar nacional segundo condutas cívicas patrióticas, calcadas em distintos campos do conhecimento, necessários à inserção do futuro adulto no mundo do trabalho e da modernidade.

PROJETOS CRISTÃOS DE EDUCAÇÃO PARA A CRIANÇA NA IDADE MÉDIA

Terezinha Oliveira O objetivo desta comunicação é analisar, por meio de três escritos, projetos que indicam como deveria ser a educação/formação da criança com vistas a formar o adulto cristão. O primeiro escrito é uma Carta de São Jerônimo (347 – 420), dirigida aos pais de Pácula, uma criança romana prometida, desde antes do nascimento, à Igreja. O segundo é o texto de uma mãe nobre, do reinado de Carlos, o Calvo, que redige um manual para educar seus dois filhos. Ele leva o seu nome Manual de Dhuoda (803-843). O terceiro é uma peça de teatro intitulada Sabedoria. A monja Roswitha de Gandersheim (ca. 935 - ca.1002) redige com uma dupla finalidade: educar nos princípios cristãos as meninas que se encontravam no seu mosteiro e, ao mesmo tempo, ensinar matemática. Por meio destes três textos refletiremos sobre a permanência de um ideal de formação da criança que norteou o pensamento dos teóricos medievais entre os séculos V ao X d.C. Observamos que a escolha e o recorte temporal dos documentos estão associados aos limites possíveis para análise da proposta deste trabalho. A eleição destes documentos justifica-se por serem textos singulares da história da educação da criança no medievo. Em primeiro lugar, os escritos apontam para a diversidade de autorias: um teórico romano convertido ao cristianismo, que reflete sobre a formação da criança no momento de transição do Império Romano para o início da Alta Idade Média; uma mãe que redige um Manual para orientar a educação de seus filhos à distância, já que, em virtude do estado de guerra que marcava o governo do seu ‘senhor’, afastou os dois filhos de seu convívio para assegurar a sobrevivência destes e, por fim, uma monja, de linhagem real, vinculada à dinastia de Otão III (980 – 1002), que se dedica a ensinar matemática às meninas do mosteiro no qual exerce a função de abadessa. No conjunto dos

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textos encontramos aspectos essenciais da educação medieval e, especialmente, do princípio escolástico porque neles encontram-se fundidos as duas fontes do conhecimento medieval, o pensamento filosófico greco-latino e os escritos sagrados. Em face de suas características, acreditamos que a recuperação e análise, dos mesmos contribuirão para a construção da memória da educação da criança no Ocidente medieval e, em concomitância, possibilitará que consideremos que os teóricos cristãos, envolvidos com a criação e manutenção de um ideário de sociedade, tinham em mente que para que este se efetivasse seria preciso iniciar pela educação das crianças. Salientamos, por fim, que elegemos a história social para analisar os escritos, pois ela nos permite que, ao recuperar a memória dos escritos, possamos tomar os teóricos medievais – que se dedicaram à elaboração de projetos para educação das crianças – como ponto de apoio para nossas reflexões para elaborar projetos para educar nossas crianças. PALAVRAS CHAVE: Educação da Criança. Idade Média. Cristandade.

A EDUCAÇÃO ESCOLAR PARA IDADE ADULTA NO BRASIL E EM PORTUGAL NO SÉCULO XX

Joaquim Luís Medeiros Alcoforado Marta Maria de Araújo

No regime do Estado Novo no Brasil, o presidente Getúlio Dornelles Vargas criava, no Ministério da Educação e Saúde, a Comissão Nacional de Ensino Primário (1938), com uma das atribuições de organizar o plano de uma campanha nacional de combate ao analfabetismo. No governo do General Eurico Gaspar Dutra, o Ministro da Educação e Saúde, Clemente Mariani Bittencourt nomeou, em janeiro de 1947, o Diretor-Geral do Departamento de Educação, Manoel Bergström Lourenço Filho, para coordenar o Plano de Ensino Supletivo da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos. O recenseamento geral de 1940 revelou na população de maiores de 15 anos, a taxa de 55% de analfabetos. No regime do Estado Novo em Portugal (1933-1974), especialmente na presidência de António de Oliveira Salazar, no Conselho de Ministros (1933-1968), o censo da população de 1940 evidenciou uma elevada percentagem de jovens e adultos entre 14 e 35 anos de idade analfabetos, atingindo um milhão em 1950. A escolaridade primária obrigatória como antídoto do analfabetismo levaria as autoridades do Ministério da Educação Nacional a declarar um Plano de Educação Popular (1952), elaborado e dinamizado pelo Subsecretário da Educação Nacional Henrique Veiga de Macedo e o Ministro Fernando Andrade Pires de Lima. A cargo da Direção-Geral do Ensino Primário do Ministério da Educação, o Plano de Educação Popular integrava a Campanha Nacional de Educação de Adultos, destinada aos indivíduos de 14 a 35 anos não alfabetizados. A partir do corpus documental pesquisado (legislação educacional, portarias ministeriais, acordos institucionais, planos anuais de ensino supletivo), o trabalho histórico pertinente aos quatro primeiros anos da Campanha de Educação de Adultos oficializada em Portugal (1953-1957) com os recursos do Fundo Nacional de Educação de Adultos e no Brasil (1947-1951) com os recursos do Fundo Nacional do Ensino Primário tem como objetivo elaborar quadros descritivos circunscritos à infraestrutura político-jurídica e educacional, bem como elaborar quadros analíticos referentes ao Plano efetuado pelo Serviço de Ensino Supletivo especialmente do munícipio de Coimbra (Portugal) e ao Plano efetivado pelo Serviço de Ensino Supletivo do Estado do Rio Grande do Norte (Brasil). Os quadros descritivos e analíticos analisam-se pelo procedimento histórico-comparativo conforme a orientação de Clarice Nunes (2001), que consiste em compreender e explicar as lógicas sobre as quais as singularidades e as diversidades se operam numa perspectiva mais global. Em Portugal e no Brasil, a política nacional de educação de adultos centrada nas Campanhas de Educação de Adultos na promoção da educação elementar transitória (Portugal) e do ensino supletivo primário (Brasil) era permeada de propósitos no sentido de concorrer para a integração ajustada de cada aluno adulto alfabetizado no trabalho produtivo.

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Sessão Coordenada - 25

HISTÓRIA DOS PROFESSORES RURAIS NO BRASIL: FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO (1930 –1970)

Coordenadora: ROSA FÁTIMA DE SOUZA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esta comunicação coordenada objetiva dar visibilidade e aprofundar a discussão sobre um tema ainda pouco investigado na História da Educação no Brasil, isto é, a história do magistério primário rural. Foi a partir dos anos 30 do século XX que se intensificaram no país políticas do governo federal e dos estados para a educação primária rural. No âmbito do governo federal, a partir de 1946, com base nos recursos do Fundo Nacional de Ensino Primário, criado em 1942, o Ministério da Educação e Cultura passou a implementar o plano nacional de ampliação e melhoria da educação primária e normal. Para o meio rural, o plano previa a construção de escolas com residência para o professor, cursos de aperfeiçoamento para professores rurais e a construção de escolas normais rurais com internatos quando necessário nas diversas unidades federais. Coube ao Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) o planejamento, execução e fiscalização desse plano de expansão e melhoria do ensino primário rural. Com base nesse plano, entre 1946 e 1949 foram construídas no país 6.160 escolas rurais primárias. No âmbito regional, além dos convênios assinados com a União, os estados implementaram políticas específicas para a formação e profissionalização de professores rurais. Alguns investiram na criação e expansão das Escolas Normais Regionais Rurais enquanto outros privilegiaram cursos de especialização e outros programas de formação, como o curso normal de férias. Visando a solucionar o problema de provimento das escolas primárias nas zonas rurais, os governos estaduais buscaram adotar incentivos como a construção de casas para residência dos professores e incentivos na carreira docente. Além disso, instituíram programas de inovação educacional incidindo sobre os programas e métodos de ensino. O objetivo desta comunicação coordenada é apresentar as trajetórias distintas de formação e profissionalização do magistério primário rural em quatro estados brasileiros: Pernambuco, Mato Grosso, São Paulo e Paraná no período em que ocorreram políticas específicas de expansão da escolarização pública no campo e que se manteve o ensino normal como instância de profissionalização docente. Os quatro estudos problematizam as políticas de formação e as condições de trabalho docente no campo colocando em questão como os governos estaduais lidaram com os problemas da educação rural. O cotejamento dessas diferentes experiências possibilita apreender a complexidade da história da profissão docente no Brasil e as desigualdades educacionais inscritas nas diferenças e desigualdades regionais do país.

ENTRE O POVOAMENTO E A EDUCAÇÃO: HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PRIMÁRIO NO MEIO RURAL PARANAENSE (1930-1960)

Analete Regina Scheubauer

O estudo sobre a história da formação do professor primário no meio rural paranaense, anunciado no título da comunicação, objetiva aprofundar a discussão sobre a educação rural no estado entre as décadas de 1930 e 1960. Período inicialmente marcado por medidas intervencionistas e políticas de nacionalização e posteriormente, por um processo de democratização que perdura até a implantação do Regime Militar, em 1964. Neste contexto o debate e as ações do governo federal e dos governos estaduais em torno da expansão do ensino primário rural, bem como da formação de seus professores ganha centralidade diante do contingente da infância brasileira que vivia no campo. O Paraná, alinhado às políticas nacionais, volta sua atenção ao povoamento e a modernização do estado para garantir a produção agrícola e a pecuária, contando com o ingresso de imigrantes nacionais e estrangeiros que se dirigiam para as áreas rurais. Povoar e educar se torna uma de suas metas do estado e coloca a educação rural como pauta das ações governamentais, por meio de acordos e subvenções com os municípios, com o objetivo de expandir a rede de ensino primário e normal no meio rural. A preocupação com esta formação é impactada com a aprovação da Lei Orgânica do Ensino Normal em 1946, que prevê a formação do regente de ensino primário nos cursos normais regionais. Após doze anos de aprovação da lei, o Paraná contava com uma rede de 71 cursos normais regionais. Além destes eram ofertados aos professores rurais, cursos de atualização e aperfeiçoamento. Cabe salientar a presença de periódicos educacionais como a Revista de Pedagogia, órgão da Associação de Estudos Pedagógicos para os Cursos Normais Regionais, dirigida por Erasmo Pilotto, na formação do professor primário rural. O corpus documental da investigação que deu origem a presente comunicação reuniu textos dos relatórios e mensagens de governadores

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e interventores de Estado; leis, decretos, regulamentos, projetos educacionais; periódicos agrícolas e educacionais; fontes iconográficas, dentre outras. Os dados cotejados possibilitaram, por um lado, visualizar um salto quantitativo relacionado ao número de escolas criadas para a formação do professorado da zona rural e, por outro, constatar a longa permanência da figura do professor leigo na zona rural, à medida que a formação específica não era garantia de que o professor exercesse sua docência nas áreas rurais, para as quais o deslocamento e as condições de trabalho nem sempre eram favoráveis. A investigação sobre a história da formação do professor primário da zona rural paranaense possibilita compreender de que maneira o estado do Paraná respondeu a este debate e as políticas federais no âmbito da expansão das escolas de formação de professores e sua profissionalização no meio rural. A CONSTITUIÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE EM ESCOLAS RURAIS NO SERTÃO PERNAMBUCANO (1950-

1970)

Virgínia Pereira Silva Ávila Estudos recentes assinalam que a profissão docente compreende a organização de um campo específico de atuação que foi se tornando cada vez mais complexo, uma vez que o sistema escolar passou a abranger diversos níveis e modalidades de ensino (primário, médio, superior, profissional, de jovens e adultos, infantil), exigindo, dessa forma, a criação de instituições para a formação docente, a produção e a circulação de conhecimentos específicos para a área. Outro aspecto destacado pela literatura especializada se refere ao fato de que, em muitos lugares, durante boa parte do século XX, as escolas e os cargos de professores constituíram moeda de troca nos jogos políticos locais. Em Pernambuco, por exemplo, na década de 1960, conviviam, praticamente lado a lado, escolas rurais do estado, em precárias condições de aparelhamento, e escolas rurais mantidas pela União, nas quais os(as) professores(as) eram mais bem remunerados(as), inclusive recebendo materiais adequados para o trabalho. Este texto analisa aspectos da profissionalização docente em escolas rurais no sertão pernambucano, no período que compreende os anos de 1950 a 1970. Busca, sobretudo, compreender o processo de formação de professores para as escolas rurais no sertão nordestino e as implicações advindas com o ingresso na profissão (tipo de contrato, empregador, vencimentos e condições de trabalho), cotejando aspectos locais, regionais e nacionais. Com referência aos aspectos teórico-metodológicos da investigação, optou-se pela história oral como metodologia de pesquisa, no caso específico, a utilização de entrevistas com ex-professores(as) de diferentes cidades do sertão pernambucano. Por delimitação temporal, tomam-se as décadas de 1950 e 1970, período em que o país viveu a fase dos “anos dourados”. A primeira é considerada uma época de transição entre o período de guerras da pri¬meira metade do século XX e o período das revoluções comportamentais e tecnológicas. No Brasil, essas transformações foram se consolidando ao longo da década, e alteraram o consumo e o compor¬tamento de parte da população que habitava os grandes centros urbanos. A segunda tem como marco a ascensão dos militares ao poder. A situação edu¬cacional configurada a partir das reformas instituídas pela ditadura militar logo se tornou alvo da crítica dos educadores, que crescentemente se orga¬nizavam em associações de diferentes tipos. O estudo se insere no campo da História e Historiografia da Educação, mais especificamente relacionado à Nova História Cultural. Por ser este um campo de investigação ainda pouco explorado, pretende-se, com o presente trabalho, contribuir com os estudos acerca da história da profissionalização docente no Brasil e, de maneira especial, com a história da profissão docente no sertão pernambucano.

AS POLÍTICAS PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR LEIGO RURAL PRIMÁRIO, NO SUL DE MATO GROSSO, NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

Alessandra Cristina Furtado

O presente trabalho tem o objetivo de analisar as políticas implantadas para a formação do professor leigo rural primário em Mato Grosso, especialmente na parte Sul do Estado, nas décadas de 1960 e 1970. Esse recorte temporal justifica-se tendo em vista as políticas educacionais implementadas visando soluções para a questão da formação de docentes leigos, como o Programa de Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), nos anos de 1960, e o Projeto LOGOS I, na década de 1970, criados pelo governo federal e implantados em alguns estados brasileiros, como Mato Grosso. E, ainda, por abranger a implantação de políticas estaduais em Mato Grosso, na década de 1970, que, em parceria com os municípios, sobretudo da parte Sul do Estado, instalaram cursos para a formação de professores leigos. O trabalho foi realizado por meio de dados obtidos em fontes documentais, tais como os Relatórios e Mensagens de governadores do Estado de Mato Grosso, Relatórios e Mensagens de Interventores, Relatórios de Secretários de Estado, legislação, entre outros. Recorreu-se, também, a uma

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bibliografia ligada à História, história de Mato Grosso, história e historiografia da educação e ao ensino rural. A falta de professores habilitados era uma questão bastante problemática em Mato Grosso, sobretudo na parte Sul do Estado, uma vez que eram os professores leigos que lecionavam nas classes dos primeiros anos da escola rural primária. Entretanto, nas décadas de 1960 e 1970, as fontes documentais indicaram que as políticas adotadas em âmbito federal e estadual em parceria com os municípios favoreceram a formação de uma parcela dos professores leigos em Mato Grosso. O Centro de Treinamento do Magistério de Cuiabá criado no contexto do Programa de Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), na década de 1960, contribuiu com os cursos intensivos de férias para professores leigos, realizados em Cuiabá. Por outro lado, as reivindicações de professores leigos, devido à distância geográfica das localidades do Sul do Estado a Cuiabá, possibilitaram a adoção de políticas estaduais, em parceria com os municípios, para a instalação de Cursos de “Normal de Férias”, que também proporcionaram a habilitação de uma parcela considerável dos professores. Apesar das políticas postas em funcionamento em Mato Grosso, a parte Sul do Estado continuava apresentando problemas com a falta de professores diplomados, tendo que contar, no final da década de 1970, com o Projeto LOGOS I, um projeto do Ministério da Educação e Cultura, que, por meio de uma metodologia personalizada, atendia um número significativo de professores. Assim, as políticas para a formação dos professores leigos, no Sul de Mato Grosso, no período estudado, enfrentaram dificuldades para atender à demanda de professores sem habilitação, que lecionavam nas escolas rurais primárias.

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES PRIMÁRIOS RURAIS NO ESTADO DE SÃO PAULO (1930 – 1971)

Rosa Fátima de Souza A questão da formação dos professores rurais teve um encaminhamento bastante peculiar no estado de São Paulo entre as décadas de 1930 e 1970. Enquanto a maioria dos estados brasileiros optou pela criação e instalação de Escolas Normais Regionais Rurais, em São Paulo, apesar das inúmeras propostas de criação da Escola Normal Rural, prevaleceram os cursos de especialização para a formação dos professores rurais. Este encaminhamento resultou de vários fatores, entre eles o embate político entre ruralistas e defensores da escola comum. Neste texto problematizamos dois aspectos interelacionados: as propostas para a formação dos professores rurais que circularam na imprensa pedagógica e que mobilizaram o debate entre os educadores e as políticas educacionais implementadas pelos poderes públicos para a formação do magistério rural. Os adeptos das concepções ruralistas, liderados por Sud Mennucci, batalharam pela criação de uma Escola Normal Rural no Estado de São Paulo. Esses educadores defendiam uma formação especializada para os professores rurais cujas características estariam voltadas para o meio fossem nas finalidades, nos programas de ensino e na organização administrativa e pedagógica. Por outro lado, a posição dos partidários da escola comum, como Fernando de Azevedo e Almeida Junior, postulavam a criação dos cursos de especialização nas escolas normais já existentes. Esses cursos deveriam ser breves, compreendendo três a quatro meses de duração e abrangendo matérias e atividades essenciais ao professor rural. A ideia era formar o professor técnico de educação rural. A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo realizou vários desses cursos de especialização nos anos 40 e 50 do século XX. Nos anos 60, a opção política foi a revisão dos programas das Escolas Normais do estado com a inclusão de conteúdos rurais. Este estudo está fundamentado na Nova História Política levando em conta as representações dos educadores sobre a formação de professores e a compreensão das relações entre educação e Estado entendendo o poder e suas manifestações não só como soberania do Estado, mas como um assunto social que afeta os sujeitos particulares e coletivos. As fontes de pesquisa utilizadas foram os periódicos educacionais (a Revista de Educação e a Revista do Professor), os Boletins publicados pela Secretaria da Educação de São Paulo, os Anuários do Ensino de 1935- 1936 e de 1936-1937, a legislação educacional e as mensagens dos governadores. O presente estudo é fruto de análises e investigações realizadas no âmbito do projeto temático “História da Escola Primária Rural no Estado de São Paulo (1931 – 1968): circulação de referenciais estrangeiros, iniciativas do Poder Público e cultura escolar”, financiado pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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Sessão Coordenada - 26

HISTÓRIA DA INFÂNCIA E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

Coordenadora: GIZELE DE SOUZA Eixo Temático: 6 - História das Culturas e Disciplinas Escolares

A comunicação coordenada traz como eixo agregador, dos esforços empreendidos pelos pesquisadores aqui reunidos, a cultura material escolar e o processo de escolarização da infância. Os estudos realizados escrutinam o tema por fontes e vias de perspectivas teórico-metodológicas diversas, mas o que os articula é a provisão material da escola primária, em diferentes províncias e estados brasileiros - como em Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Maranhão - e as interrogações acerca dos processos históricos de escolarização da infância. Os objetivos deste painel de estudos têm como mote de reflexão: os intentos de projeto de modernidade e modernização do ensino; os debates acerca da materialidade da escola primária e a circulação de objetos escolares; as experiências e apropriações que a escola e seus objetos produziram na memória dos adultos que quando crianças frequentaram estes espaços educativos; de desigualdades escolares e desigualdades das condições de infância; a cultura material escolar constituidora da diversidade da oferta escolar; de distinções pedagógicas em relação as inscrições geográficas e sociais dos sujeitos envolvidos nas experiências escolares. Nesta direção, interroga-se acerca da cultural material escolar tanto como constituidora das finalidades da escola e dos sentidos a ela confiados, como ferramenta de distinção social e pedagógica das instituições e dos sujeitos que nelas vivenciaram suas infâncias. Os pesquisadores que compõem esta comunicação utilizam-se de acervos e diversos arquivos e contam com uma ampla base empírica, como por exemplo: textos memorialísticos, relatórios de governo, de diretores e inspetores de ensino, inventários escolares, revistas pedagógicas, jornais, discursos de Conferência Estadual do Ensino, legislação e correspondências entre professores e autoridades de ensino. O recorte temporal se estende de fins do século XIX até as primeiras décadas do século XX, período este que antecede a implantação da escola graduada em determinadas províncias e se prolonga à experiência dos grupos escolares e escola modelo. Em termos teóricos, os pesquisadores utilizam como aporte para o exercício analítico das fontes, referências como: Norbert Elias, Michel de Certeau, Roger Chartier, Michael Pollak, Krzystof Pomian, Clifford Geertz, Richard Bucaille, Jean-Marie Pesez, Agustín Escolano, Antonio Viñao Frago, Juri Meda, Witold Kula e da historiografia brasileira especializada no tema da cultura escolar e cultura material escolar.

A MATERIALIDADE DAS ESCOLAS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS REPUBLICANAS E DESIGUALDADE DAS CONDIÇÕES DE INFÂNCIA (MINAS GERAIS, 1906-1927)

Cynthia Greive Veiga

Esta comunicação discute no âmbito da historia das desigualdades escolares as desigualdades das condições de infância a partir da investigação e analise da materialidade das escolas de Minas Gerais nas primeiras décadas republicanas. O recorte temporal compreende o período de instalação dos grupos escolares e a realização da reforma educacional Francisco Campos que introduz uma nova materialidade fundada nos argumentos do escolanovismo. Em Minas Gerais, durante o período imperial, predominou uma situação de extrema precariedade material das escolas de instrução elementar, o que deu visibilidade a condição de aluno pobre por meio dos registros escolares, relatórios de governo, bem como a criação de meios para atenuar tal situação, como é o caso das caixas escolares (VEIGA, 2007). Contudo, com a fundação dos grupos escolares e significativa alteração da cultura escolar ampliaram-se também os campos de visibilidade das desigualdades da condição da infância. Minha hipótese é de que no contexto republicano, levando-se em consideração a crescente urbanização, demandas por alfabetização, crescimento das camadas médias, progressos na oferta de produtos de consumo, associados à heterogeneidade da oferta escolar de ensino primário, ampliaram-se os processos de identificação e matização da pobreza das crianças escolares e desigualdade das condições de vivência da infância. O objetivo da pesquisa é identificar, por meio de pesquisa documental e discussões teóricas e conceituais a cultura material escolar constituidora da diversidade da oferta escolar; e a cultura material escolar produzida nas estratégias politicas de governo das desigualdades materiais das crianças escolares, entre elas a caixa escolar. Este estudo é feito a partir das proposições desenvolvidas pela historiografia da educação brasileira em autores como Cynthia G. Veiga (2000), Rosa Fatima de Souza (2007), Ana Maria G.B. de Freitas (2011), Vera Lucia G. da Silva (2012), Cesar Castro (2013) e estudiosos da cultura material, tais como Richard Bucaille e Jean M. Pesez (1989) e Jean M. Pesez (1990). Apesar das diferenças das abordagens desses autores, eles aproximam-se no entendimento de que os objetos organizam a percepção que temos de nos mesmos, individual e coletivamente. Acrescento a este entendimento a análises do sociólogo Norbert Elias (1994), relativa à dimensão relacional e

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interdependente presente na produção da cultura material. Indaga-se, portanto sobre a relação entre as dinâmicas diferenciadas de poder produtoras de culturas materiais escolares distintas e as desigualdades na condição de infância. Destaca-se para este estudo a investigação de diferentes fontes documentais, como relatórios de governo, de inspetores de ensino, inventários escolares, revistas pedagógicas e jornais. Palavras chaves: infância, cultura material escolar, desigualdades

A MODERNIDADE PELOS OBJETOS: ALIMENTO PEDAGÓGICO DA PRÁTICA ESCOLAR

Vera Lúcia Gaspar da Silva A intenção desta apresentação é explorar parte do potencial que os objetos da escola oferecem para a reflexão da educação, entendendo-os como portadores de mensagens de modernidade e modernização e como base material de um projeto de escolarização da infância. Como suporte teórico lança-se mão de perspectivas articuladas a cultura material escolar, com apoio em Agustín Escolano, Antonio Viñao Frago, Juri Meda e Witold Kula, Como fonte toma-se por base discursos extraídos dos Annaes 1ª Conferência Estadual do Ensino Primário, realizada em Santa Catarina no ano de 1927. Esta Conferência está alinhada a outras que aconteceram no Brasil dos anos de 1920 como Conferência Interestadual do Ensino Primário, realizada por iniciativa do governo federal (Rio de Janeiro, 1921); Primeira Conferência Nacional de Educação, promovida por intermédio da Associação Brasileira de Educação em Curitiba, em 1927 e outras ocorridas nos anos de 1928/1929. Além de se constituírem espaços importantes de difusão de propostas pedagógicas e de forte mobilização de um discurso bastante prescritivo sobre os modos de operar no interior da escola e com a infância, estes fóruns também serviram como vitrines para estimular o consumo de produtos oriundos de uma emergente indústria que descobre na educação um importante nicho; um consumo muitas vezes sustentado nas prescrições. O mapeamento feito nas páginas dos Annaes indicou um aparato material sintonizado com outros projetos já localizados no espaço nacional e internacional, defendido, ou condenado, com base em discursos que encontram no argumento da modernização um moderno recurso de sustentação. Contudo, esta modernização se constitui não como inovação genuína mas como superação de um modelo julgado obsoleto, antigo, ultrapassado, incapaz de formar o cidadão para atuar nos espaços urbanos, já que para o campo o modelo “ultrapassado” insistia em servir. Para o presente trabalho fez-se a escolha por destacar as peças do mobiliário e da estrutura material da escola citadas nos Annaes e discursos e argumentos a elas articulados. Nos dados localizados a higiene escolar é uma espécie de “bandeira de luta”, aliada escolar do projeto de higienização dos costumes, tão caro ao projeto de escolarização da infância e, particularmente, da criança “pobre”. O mobiliário comporia parte do cenário dedicado ao ensino e prática dos preceitos higiênicos: a forma de cuidar das peças, de organizá-la nos espaços, de usá-las, com destaque para as carteiras, são partes do projeto educativo. O aparato moderno tinha destino certo e os dados indicam que a modernização do projeto educativo foi alimentada pedagogicamente de maneira diferente pelos objetos da escola, em geral seguindo as inscrições geográficas e sociais dos sujeitos envolvidos. Palavras-chave: cultura material escolar, escolarização da infância, objetos da escola

REMEMORANDO A ESCOLA E SEUS OBJETOS: CULTURA MATERIAL ESCOLAR E MEMÓRIAS DE INFÂNCIA (PARANÁ, 1870-1900)

Gizele de Souza

Juarez José Tuchinski dos Anjos A presente comunicação examina alguns aspectos da cultura material escolar por meio de memórias de infância escritas por adultos que, quando crianças, entre os anos de 1870 a 1900, período que antecedeu a implantação da escola graduada no Paraná, frequentaram escolas primárias isoladas daquela região, na passagem do Império para a República. Dentre os aspectos privilegiados neste estudo, enfocam-se aqueles ligados à indumentária escolar e aos materiais visuais, sonoros e táteis utilizados para o ensino. Os primeiros testemunham vestígios das condições materiais das infâncias escolarizadas ao passo que os segundos trazem evidências da circulação e apropriação de alguns materiais destinados ao ensino e escolarização dos sujeitos dessas infâncias. Tais aspectos aqui considerados integram um quadro mais amplo de referência, classificação e categorização de itens representativos do provimento material da instrução primária em determinadas províncias e estados brasileiros no mesmo período. Este material foi inventariado no âmbito da pesquisa realizada pelo Grupo Cultura Material Escolar (2011-2012), inserido no projeto de investigação “Por uma teoria e uma história da escola primária no Brasil: investigações comparadas sobre a escola graduada (1870 – 1950)”. Avançando sobre os resultados da referida pesquisa coletiva, que mapeou a circulação de objetos na escola primária brasileira e representações acerca de seu provimento, o exercício analítico nesta comunicação reside em examinar as apropriações dessa

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materialidade escolar pela ótica dos alunos, conforme experimentadas na infância pelos autores dos registros memorialísticos aqui interrogados. Nesta perspectiva, a cultural material escolar é parte e ferramenta da memória de infância e escola dos adultos protagonistas das narrativas memorialísticas, mas também sinaliza para uma dada representação de ensino, dos sujeitos e dos objetos escolares no contexto social. Na operação historiográfica empreendida, tais registros, tomados como uma construção de memória, tal qual alertam Michael Pollak e Krzystof Pomian, foram cruzados com outras fontes, contemporâneas às experiências que relatam, compostas por ofícios, regulamentos e relatórios da instrução pública paranaense, a fim de serem descontruídos como monumentos de memória e interrogados como evidência histórica. Complementando a operação empírica, o estudo dialogou, ainda, com referências teóricas derivada das contribuições de Clifford Geertz, Michel de Certeau, Roger Chartier, Richard Bucaille e Jean-Marie Pesez e com o campo da historiografia brasileira. Palavras chaves: Infância, Cultura Material Escolar, Memórias.

OS OBJETOS DA CULTURA ESCOLAR NA ESCOLA MODELO DO MARANHÃO

César Augusto Castro Neste ensaio tratamos dos materiais da cultura que fizeram parte do processo de formação de alunos e alunas maranhenses nas primeiras décadas republicanas, tendo como foco a Escola Modelo “Benedito Leite”, instituição anexa à Escola Normal do Estado. Esta instituição, criada pela Lei n.155, de 6 de maio de 1896, como resultado da Reforma Educacional de 1895 empreendida no governo de Benedito Leite, com a finalidade de dar novos rumos a educação através da formação de professores e da melhoria da instrução primária. Por problemas de ordem econômica do Estado e de carência de espaço físico, somente em 1900 é efetivamente instalada, trazendo no seu ideário a noção de modernidade, civilidade e de progresso que tanto carecia a instrução pública e particular maranhense. Na direção da Escola Modelo esteve à frente Barbosa de Godóis (importante educador maranhense na primeira década republicana) com a responsabilidade de fiscalizar as atividades dos professores e alunos, reivindicar a melhoria das condições físicas, adquirir material para as disciplinas e contratar docentes como se depreende da vasta quantidade de ofícios que diariamente encaminhava aos governadores do Estado. Portanto, o objetivo deste ensaio é discorrer e analisar os diferentes artefatos da cultura, como os mobiliários, os objetos de leitura escrita, os quadros parietais e outros que eram adquiridos em duas ordens. A primeira, em menor proporção, se destinava às atividades administrativas da instituição como papel diplomata para correspondência do diretor com os pais das crianças, livros de frequência, de controle de ponto dos professores e servidores, livros de matrícula, dentre outros; e aqueles que se destinavam à limpeza e conservação do edifício escolar como vassouras, fechaduras, tintas para parede e cera para móveis, por exemplo. A segunda destinava-se às atividades pedagógicas, que variavam de acordo com a disciplina, o nível de conhecimento das crianças – curso primário, médio ou complementar – e o gênero dos alunos. Como fontes para a escrita deste trabalho utilizamos os relatórios do Diretor dessa instituição, a legislação e, principalmente, os correspondências trocadas entre as autoridades do governo e a Escola relativas à compra, a confecção e a aquisição de materiais escolares em diferentes mercados brasileiros como as mesas para os professores e os armários na indústria Cimo, os quadros parietais, pedras, mamíferos, aves, etc na Casa de Fils de Emille Dyrrolle (Paris) e as cadeiras de alunos na Chandler Adjustable Chair and Desk Compan (Estados Unidos). Este texto possibilita compreendermos as formas de organização escolar maranhense e o processo de circulação dos objetos da cultura escolar em diferentes espaços e regiões brasileiras. Palavras-chave: cultura material escolar, ensino primário, Maranhão República.

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Sessão Coordenada - 27

DE HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO COTIDIANO ESCOLAR ENTRE IMIGRANTES ITALIANOS EM TERRAS BRASILEIRAS (FINS DO XIX E

PRIMEIRAS DÉCADAS DO XX)

Coordenadora: TERCIANE ANGELA LUCHESE Eixo Temático: 6 - História das Culturas e Disciplinas Escolares

A presente comunicação coordenada vincula-se aos trabalhos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do grupo de pesquisa História da Educação, Imigração e Memória (GRUPHEIM) e objetiva discutir o cotidiano das escolas com marcas étnicas, predominantemente italianas, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Ao final do século XIX, como sabemos, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais foram os principais espaços que contaram com a presença de imigrantes provenientes da península itálica. Muitos desses já traziam conhecimentos rudimentares da escolarização e, por intermédio da organização em comunidades, mas também com o incentivo da Igreja, dos cônsules, de Sociedades como a Dante Alighieri e das Associações de Mútuo Socorro, investiram na abertura de escolas étnicas. Essas escolas se constituíram em experiências singulares no processo histórico educacional brasileiro e nos sinalizam para a diversidade de iniciativas e formas como a escola foi organizada por diferentes culturas e grupos humanos. Escolas étnicas vinculadas às comunidades ou aquelas mantidas por associações, escolas confessionais e mesmo escolas públicas foram espaços ressignificados pela presença de imigrantes e descendentes. O Governo Italiano subsidiou, mesmo que irregularmente, com remessas de materiais escolares (livros) e subsídios para algumas dessas escolas. O Governo Brasileiro, de sua parte, permitiu que muitas das escolas étnicas fossem mantidas e em alguns casos, mediante o ensino do português, também subsidiou o pagamento dos professores, ao menos até o final dos anos 1930, quando a política de nacionalização determinou seu fechamento. Atentando para aspectos da cultura escolar tais como os saberes, os livros e leituras, a cultura material, as memórias das vivências desses espaços escolares marcadamente étnicos, nossa proposta é lançar olhares investigativos sobre diferentes matizes das culturas escolares instituídas e instituintes. O apoio teórico das análises considera as contribuições da História Cultural e o corpus empírico é diversificado, contando com memórias, livros de leitura, objetos da cultura material, relatórios, correspondências, livros de atas, jornais e fotografias. Adentrar no cotidiano, na cultura escolar vivida, permite relacionar e perceber os espaços de negociação e tensionamento, os vínculos de pertencimento e processos identitários, as marcas dialetais, os saberes, as leituras, as políticas nacionais mas também as italianas. Enfim, os processos escolares étnicos italianos que marcam a História da Educação no Brasil.

MEMÓRIAS DOS TEMPOS DE ESCOLA DE IMIGRANTES ITALIANOS NO SUL DO BRASIL

Clarícia Otto No decorrer da segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, imigrantes de diversas etnias aportaram no sul do Brasil. Pela iniciativa de porta-vozes dos países de origem, agentes consulares e cônsules, líderes locais ou iniciativa deles próprios, buscaram “conservar” e/ou (re)inventar aspectos de identificação étnica. Nesse contexto, ocuparam lugar associações religiosas, culturais e escolares, destacando-se as escolas étnicas. Essas escolas funcionaram como um dos principais espaços para inculcar discursos visando manter e/ou desenvolver sentimentos vinculados aos valores das regiões das quais haviam emigrado. Por exemplo, nas colônias italianas, em Santa Catarina, as escolas étnicas Dante Alighieri foram as principais fomentadoras do sentimento de italianidade. Todavia, não se pode imaginar uma cultura italiana homogênea, em consequência de fatores diversos: a região da Itália de onde os imigrantes eram procedentes, o tipo de atendimento religioso em cada núcleo colonial, o grau de instrução e envolvimento político de algum emigrado, as especificidades de cada região no interior do próprio estado catarinense, os diferentes momentos da política educacional no Brasil, a coexistência de diferentes redes escolares, entre outros. Nesse sentido, este trabalho objetiva identificar aspectos do cotidiano escolar de imigrantes italianos, em Santa Catarina, tomando como fonte principal memórias de imigrantes. Trata-se de uma revisita a memórias de descendentes de imigrantes italianos do Médio Vale do Itajaí-Açu e do Sul catarinense, gravadas e transcritas entre os anos de 2002 e 2003, período em que foram coletados dados para determinada pesquisa, com objetivos distintos dos atuais. Rememorar é viajar por caminhos, tempos e espaços de passados longínquos. As narrativas dos entrevistados são compreendidas na perspectiva da memória coletiva de Halbwachs (2006), aquela que rememora experiências circunscritas aos

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quadros sociais de tempos e espaços circunscritos a determinados grupos. Ao mesmo tempo em que se observam elementos de coesão, as narrativas dos entrevistados apontam para aspectos relacionados aos processos de coerção, de enquadramentos, de seleção e de silêncios da memória, na perspectiva de Pollak (1989; 1992). Ressaltam-se, nas narrativas, confluências em torno das dificuldades vividas naqueles tempos, das disputas na implantação de diferentes redes escolares e, principalmente, sobre o processo de nacionalização forçada, o qual exterminou as escolas étnicas e proibiu o uso da língua italiana e de seus dialetos. Palavras-chave: Memórias. Imigrantes italianos. Escolas étnicas.

A CULTURA MATERIAL ESCOLAR NAS ESCOLAS RURAIS ITALIANAS: ESPAÇOS, OBJETOS E MATERIAIS DE ENSINO

Elaine Falcade Maschio

O trabalho tem como objetivo analisar a materialidade das escolas rurais públicas localizadas nas colônias italianas, no interim dos séculos XIX e XX. Considerando os elementos materiais da cultura escolar, procura-se compreender a dimensão dos espaços e da materialidade da escola, caracterizados pelos edifícios, pelos objetos, pelos materiais e pelo mobiliário. Busca-se identificar os aspectos que constituem a cultura material das escolas públicas coloniais dedicadas ao ensino das primeiras letras, por meio da análise das representações, apropriações, usos e consumos. A dinâmica de apropriação de um espaço social para o ensino colocava em evidência a escolarização do espaço que inicialmente era provisório. Do mesmo modo, objetos e materiais eram apropriados ao uso escolar. Ao se apropriar do espaço e dos objetos do cotidiano da colônia, atribuía-se outro sentido àquela materialidade. Assim, a análise da cultura material escolar ajuda a compreender como os processos de escolarização ocorrem em determinado tempo e lugar, bem como, quais os sentidos e significados são atribuídos ao ensino pelos sujeitos. Como fonte de pesquisa foram utilizadas as correspondências oficiais, entre elas os inventários de materiais escolares, os relatórios dos secretários, inspetores e professores. Sob a perspectiva da História Cultural, o diálogo foi constituído pelos estudos de Chartier (1991), Certeau (2008), Bucaille e Pesez (1989), Escolano (2001,2010) e Viñao Frago (2012). Ainda que a materialidade das escolas rurais das colônias italianas tenha se constituído de modo similar aos demais processos de escolarização público primário do período, merece destaque os aspectos que configuram o improviso dos espaços para abrigar as aulas, a precariedade do mobiliário, os modos como as escolas eram providas com os materiais escolares, a preocupação das famílias italianas em providenciar o material escolar diante da falta destes ou da demora da entrega por parte do governo. Somente a partir de meados da década de 1910 a constituição de um espaço físico adequado ao ensino, e a preocupação com a higienização da sala e do asseio dos alunos foram configurando paulatinamente o cotidiano das escolas rurais. Neste processo de renovação dos materiais e mobílias escolares, de adequação dos espaços escolares por meio de práticas sanitaristas, houve a ampliação dos materiais escolares. Essas transformações contribuíram para reforçar o processo de homogeneização de uma cultura escolar das escolas públicas primárias. Tais mudanças assinalaram também as experiências com o ensino de primeiras letras nas colônias italianas. Palavras-chave: Materialidade. Escolas Rurais. Imigração. LEITURAS SUGERIDAS PELOS EDITORIAIS DOS PERIÓDICOS AOS ALUNOS DAS ESCOLAS ELEMENTARES

Eliane Mimesse Prado A grande comunidade peninsular que se fixou nas terras brasileiras organizou-se política, social e economicamente. A medida em que existiam reivindicações ao governo local e este não atendia essas solicitações, o grupo assumiu outros papéis, providenciando, o que fosse necessário para sua localidade. Para além da fundação das associações de ajuda mútua e escolas elementares, existiram os periódicos semanais e mensais, que adotaram a função de divulgar as ideias e contribuir com a manutenção da nacionalidade. Prerrogativa disseminada pelo governo italiano aos indivíduos emigrados. O objetivo deste estudo é o de delinear como os editoriais dos periódicos escritos em italiano, sugeriam livros de leitura aos alunos das escolas elementares, frequentadas principalmente por peninsulares. Existiam duas modalidades de escolas elementares voltadas para essa população: as públicas e as subsidiadas pelo governo italiano. As escolas deveriam receber materiais suficientes para o desenvolvimento das aulas. Muitas dessas escolas foram criadas nas colônias de imigrantes visando a alfabetização dos filhos dos estrangeiros. Na prática essa ação não se realizava, o envio de materiais era falho, e as escolas nem sempre tinham prioridade nas remessas. Por outro lado, as subsidiadas aceitavam alunos estrangeiros e brasileiros filhos de imigrantes. Recebiam alguns materiais, livros e valores mínimos em espécie, visando melhorias no cotidiano escolar. Nenhuma das duas modalidades de escolas contavam com bibliotecas estruturadas. As sugestões de leituras propaladas a partir dos editoriais dos periódicos

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possibilitaram a reflexão sobre outros livros além dos indicados nos programas de ensino. Os autores que fundamentaram essa pesquisa foram: Salvetti (1995) que estudou a Sociedade “Dante Alighieri”; Cruz (2013) discutiu a vida urbana e o periodismo; Biondi (2010) focou o movimento operário italiano; Toledo (2010) estudou a trajetória de alguns periódicos italianos; Mimesse (2010) apresentou as escolas elementares de imigrantes italianos; entre outros. As fontes documentais foram compostas por periódicos e documentos diversos sobre a instrução pública, que estão alocadas no acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo. As indicações de leituras efetuadas pelos periódicos eram mais acessíveis a comunidade peninsular, por serem conhecidos no país de origem. Os livros difundiam a nacionalidade, e ainda contribuíam com a alfabetização de crianças e adultos na língua instituída no Reino Italiano, de modo a colaborar indiretamente com a manutenção do sentimento de italianidade. Palavras-chave: Leitura. Escolas elementares. Imigrantes italianos. LER, ESCREVER, CONTAR, REZAR OU MUITO ALÉM? SABERES PRESCRITOS E PRATICADOS EM ESCOLAS

ÉTNICAS ITALIANAS NO BRASIL (1875 – 1942)

Terciane Angela Luchese A emergência de escolas marcadamente étnicas por imigrantes saídos da península itálica e estabelecidos no Brasil entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX, sensibiliza para pesquisar o que se ensinava nesses espaços de escolarização, quais saberes eram prescritos e quais foram trabalhados pelos professores. Essas questões constituem o recorte temático do presente texto que resulta de projeto de pesquisa intitulado “História das Escolas Étnico-Comunitárias Italianas no Brasil (1875 – 1945)”. As escolas étnicas italianas foram organizadas a partir da ausência de um sistema escolar público no país, ou seja, como resposta a uma necessidade. As formas de organização das escolas étnicas variaram no tempo e no espaço e perseguir os indícios que foram preservados para compreender quais saberes foram prescritos e quais foram os realmente trabalhados nas aulas é possível considerando-se uma diversificação da base documental constituída por materiais didáticos, especialmente livros enviados pelo Governo Italiano mas também aqueles impressos no Brasil, fotografias, correspondências, relatórios, livros de atas, jornais, dentre outros. Esse corpus documental é analisado à luz dos referenciais da História Cultural. Em 1908, o conde De Velutiis, cônsul no Rio Grande do Sul, descreveu e definiu as escolas italianas no Brasil afirmando que nas áreas urbanas e sedes coloniais as escolas eram mantidas ou surgiam sob a liderança das Associações Italianas, que forneciam o local, os móveis e utensílios necessários. Nas colônias, entre as linhas que não contavam com escolas públicas, os imigrantes procuravam sustentar as próprias custas, uma pequena escola para seus filhos, sob a responsabilidade do colono mais instruído do lugar. (1908, p. 348). Analisando a documentação observa-se, com relação aos saberes ensinados nas escolas mantidas pelas Associações o currículo era amplo, com ensino de língua italiana, francesa e portuguesa, além da história italiana e brasileira, geografia, matemática, geometria, desenho, caligrafia, canto, ginástica e exercícios militares. A circulação de livros e alguns outros materiais escolares também era mais frequente. Já as escolas étnicas rurais trabalhavam com as noções rudimentares da leitura, escrita, operações fundamentais e catecismo. Em alguns momentos puderam contar com os livros distribuídos pelo consulado italiano. Essas escolas, vistas de um modo geral, como espaço privilegiado para a manutenção da língua e do culto da Itália como a pátria dos filhos dos imigrantes, por cônsules e autoridades italianas, exerceram múltiplos papéis, para além da difusão do sentimento de italianidade. O texto procura contribuir para a compreensão da multiplicidade de processos de escolarização no Brasil, atentando especialmente para os saberes, considerando sua diversidade étnica e cultural.

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RENOVAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO BRASILEIRO: CLASSES EXPERIMENTAIS E GINÁSIOS VOCACIONAIS (DÉCADAS DE 1950 E

1960)

Coordenador: NORBERTO DALLABRIDA Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

A partir dos anos 1950, foram formulados novos desenhos curriculares para o “tradicional” ensino secundário brasileiro. A renovação mais contundente nesse nível de escolarização foi colocada em marcha pela Diretoria do Ensino Secundário (DESE), órgão do Ministério da Educação e Cultura, chefiada por Gildásio Amado. Em meados de 1958, a DESE viabilizou a oficialização das “Instruções sobre a natureza e a organização das classes experimentais”, que autorizavam, a partir do ano letivo seguinte, a instalação de classes experimentais no ensino secundário. Essa legislação prescrevia uma preocupação com o desenvolvimento das “aptidões individuais” dos alunos, que se efetivavam na limitação de até trinta alunos por sala de aula e na possibilidade de os discentes optarem por disciplinas e atividades educativas. E também estipulava exigência em relação ao corpo docente, que deveria ter reuniões regulares, sendo agrupado por classes, particularmente para viabilizar a integração de “disciplinas-saber”. Desta forma, a partir de 1959, começaram a ser implantadas, em alguns poucos colégios – especialmente no curso ginasial, o primeiro ciclo do ensino secundário – as classes secundárias experimentais, que construíram uma marcante renovação no ensino secundário brasileiro. A presente comunicação coordenada procura discutir resultados de quatro pesquisas históricas sobre experiências das classes secundárias experimentais, bem como os seus desdobramentos, a partir da década de 1960, nos ginásios vocacionais. O trabalho “Luís Contier e as classes secundárias experimentais no Instituto Estadual Alberto Conte (1951-1962)” procura refletir sobre o pioneirismo desse ensaio pedagógico no Estado de São Paulo, enfatizando a apropriação das classes nouvelles francesas. O trabalho “As classes integrais do Colégio Estadual do Paraná no contexto das inovações pedagógicas do ensino secundário brasileiro (1960-1967) busca compreender as apropriações das classes secundárias experimentais no principal educandário público de Curitiba, sob a denominação de classes integrais. Sob o título “Experimental da Lapa (1961-1971): as práticas escolar de uma instituição renovadora”, o texto coloca o foco sobre o ensaio educacional colocado em prática no Ginásio Experimental Dr. Edmundo de Carvalho, sendo fundamentado em diferentes matrizes pedagógicas. Por fim, o ensaio “As relações entre Escola Nova, Classes Experimentais e Ginásios Vocacionais (1958-1970)” tem o fito de estabelecer conexões entre as classes experimentais secundárias e os ginásios vocacionais, mediadas por premissas escolanovistas. Esta comunicação coordenada, portanto, procura cotejar ensaios educacionais, nas décadas de 1950 e 1960, que tiveram o intuito de concretizar uma renovação pedagógica no ensino secundário brasileiro.

LUIS CONTIER E AS CLASSES SECUNDÁRIAS EXPERIMENTAIS NO INSTITUTO ALBERTO CONTE (1951-1962)

Sérgio Roberto Chaves Júnior

As Classes Experimentais Secundárias configuraram-se como campo de ensaio de novas matrizes curriculares. O surgimento dessas experiências no Estado de São Paulo, onde ocorreram em maior número, teve como principal fator a atuação do educador paulista Luis Contier. Esse trabalho pedagógico iniciou com a sua participação no Congresso de Educadores, realizado na França, em 1950, e do seu estágio no Centro de Sèvres, onde se plasmava a proposta das classes nouvelles, que o estimulou a empreender renovações no ensino brasileiro. Ao retornar ao país, em meados de 1951, Contier desenvolve uma apropriação – conceito usado a partir da perspectiva de Roger Chartier – das classes nouvelles no Brasil, realizando adaptações de seus princípios fundamentais ao contexto nacional. Tolhido pela legislação vigente, que não permitia o caráter ensaístico do projeto pretendido, bem como pela escassez de recursos, Contier busca efetivar táticas – no sentido certeauniano – que o permitissem colocar em marcha um processo de renovação do ensino secundário no Instituto Estadual Alberto Conte, onde era diretor. Nessa esteira, Contier iniciou um trabalho pedagógico com professores e alunos desse colégio de ensino secundário para introdução de uma metodologia ativa pautada nos princípios das classes nouvelles, cujas principais estratégias eram trabalhos de pesquisa, atividades em grupos e estudo do meio. Além disso, o diretor e os professores dessa escola dedicavam um dia por mês para atendimento de pais de alunos, buscavam redução do número de alunos por classe e ministravam aulas onde o conteúdo contava com contribuições pessoais dos alunos. Obtendo resultados positivos, Contier recebeu em suas classes experimentais a visita de autoridades

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educacionais interessadas nas especificidades da cultura escolar praticada no Instituto Estadual Alberto Conte e foi convidado por Marina Cintra – delegada do MEC no Estado de São Paulo – a divulgar os resultados obtidos no colégio que dirigia na “Jornada de Diretores” (1956). Em decorrência dessa exposição e do reconhecimento do trabalho pedagógico inovador realizado pelo professor Luis Contier, por meio das “Instruções sobre a natureza e a organização das classes experimentais” (1958), as classes secundárias experimentais foram autorizadas a funcionar no Brasil. A LDB de 1961, que vigorou a partir do ano letivo de 1962, permitiu a organização de cursos ou colégios experimentais mediante a autorização dos conselhos estaduais de educação. Este trabalho, portanto, procura compreender a experiência pioneira das classes secundárias experimentais Instituto Estadual Alberto Conte, liderada por Luis Contier, que serviu de referência para as prescrições dessa cultura escolar em nível nacional. Palavras-chave: Classes Experimentais, Luis Contier, Ensino Secundário.

AS CLASSES INTEGRAIS DO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ NO CONTEXTO DAS INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS DO ENSINO SECUNDÁRIO BRASILEIRO (1960-1967)

Carlos Bizzocchi

Ao longo da década de 1950 o debate acerca da necessidade de reformulação do ensino secundário brasileiro se intensifica. Dentre as principais críticas estavam a inadequação dos programas, métodos e finalidades daquele nível de ensino em decorrência das transformações sociais, somada à necessidade de efetivar a democratização de acesso ao ensino secundário a uma parcela mais significativa da população. Nesse quadro de urgência de transformações as Classes Experimentais podem ser consideradas uma importante realização de mudanças pedagógicas que representavam “a mais lidima esperança de dias melhores para nossa educação secundária”, de acordo com Gildásio Amado, da Diretoria do Ensino Secundário (DESe). As possibilidades de ensaios de modalidades de ensino e a flexibilização curricular motivadas pelas Classes Experimentais foram desenvolvidas em um conjunto ímpar de instituições de ensino secundário a partir de 1959, com desdobramentos muito particulares. No que tange ao objeto desta comunicação, a concretização daquela proposta de inovação pedagógica no estado do Paraná se deu no modelar Colégio Estadual do Paraná sob a denominação de “Classes Integrais”, entre os anos de 1960 e 1967. De pronto, destacam-se os argumentos sobre a nomenclatura diferenciada: o horário integral de funcionamento; o espírito de educação integral; o receio de que o nome experimental não encontrasse repercussão favorável junto aos pais; e, por fim, a consciência de que não seria possível dispor, de início, das condições indispensáveis para a realização de um trabalho rigorosamente experimental. Coexistindo ao lado das classes comuns - que representavam mais de 95% das turmas da instituição -, as poucas turmas das Classes Integrais do Colégio Estadual do Paraná procuraram desenvolver um currículo adaptado às condições dos alunos e às solicitações de uma “sociedade democrática em crescente fase de industrialização, urbanização e que constantemente se modifica[va] pelos influxos das novas descobertas científicas”, de acordo com a coordenadora das Classes Integrais, a professora Ruth Compiani (1964). Faziam parte dos objetivos da inovação pedagógica paranaense contemplar as seguintes dimensões da formação dos alunos: educação física, intelectual, artística, moral, sexual, formação religiosa, educação social, democrática, para o trabalho e para as horas de lazer (COMPIANI, 1960). As principais modificações no plano pedagógico se efetivaram na realização de atividades que englobavam o entrosamento de disciplinas, o estudo meio, a adoção de métodos de ensino ativos, o acompanhamento individualizado dos alunos e a reunião semanal de professores para planejamento. Palavras-chave: ensino secundário; inovações pedagógicas; classes integrais. EXPERIMENTAL DA LAPA (1961-1971): AS PRÁTICAS ESCOLARES DE UMA INSTITUIÇÃO RENOVADORA

Daniel Ferraz Chiozzini Sandra Marques

O Grupo Escolar – Ginásio Experimental “Dr. Edmundo de Carvalho”, mais conhecido como Experimental da Lapa, foi uma das referências em ensino experimental entre as diversas experiências nas décadas de 1960 e 70 no Estado de São Paulo e uma das mais duradouras iniciativas baseadas no modelo experimental. Iniciou as atividades em 1939, manteve o caráter pedagógico inovador durante a década de 1950 e, com o advento das classes experimentais, teve o auge de sua produção e realizações durante os anos 1960 e 70. Continuou aplicando métodos que serviram à rede pública e se disseminaram por outros municípios até 2000, quando a escola foi inserida na rede estadual sem a diferenciação que teve durante 60 anos. Por meio de análise documental – leis, decretos, portarias, pareceres, além de exaustiva leitura dos relatórios da instituição e dos Cadernos publicados para divulgação da experiência na escola à rede pública – e de estruturas metodológicas baseadas em mapas conceituais, o estudo investigou as práticas escolares e suas relações com quatro

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movimentos educacionais, em especial. Fundamentada por preceitos da Escola Nova nas principais práticas pedagógicas, a Escola Compensatória tem forte amparo em várias ações desenvolvidas junto à comunidade em geral e, em especial, com as famílias dos alunos, enquanto o Tecnicismo se instala nos métodos, advindo das orientações dos projetos educacionais oficiais elaborados pelo governo federal em conjunto com os Estados Unidos durante a década de 1950. A Escola Compreensiva encaixa-se no modelo de ensino continuado e universal que era reivindicado a partir da Segunda Guerra. A inclusão dos Ginásios Pluricurriculares na estrutura do Grupo Escolar que já vinha funcionando juntamente com a pré-escola proporcionou a experiência de um ensino contínuo de oito anos, sem reprovação e com a exclusão do exame de admissão. O Experimental da Lapa, forjado nos modelos educacionais citados, inovou o ensino paulista e influenciou no rumo de algumas práticas oficializadas mais tarde ao incluir o aluno como protagonista do processo educacional por meio de várias práticas, visar à integração com a comunidade para a elaboração de um projeto pedagógico curricular voltado às expectativas das famílias dos alunos e da sociedade como um todo e a formação continuada em trabalho para o aperfeiçoamento docente, entre outras. Palavras-chave Experimental da Lapa; classes experimentais; práticas escolares. AS RELAÇÕES ENTRE ESCOLA NOVA, CLASSES EXPERIMENTAIS E GINÁSIOS VOCACIONAIS (1958-1970)

Letícia Vieira Norberto Dallabrida

Os Ginásios Vocacionais foram unidades escolares inseridas em um projeto educacional experimental, desenvolvido entre 1961 e 1970 no estado de São Paulo, situadas nas cidades de Barretos, Batatais, Rio Claro, Americana, São Paulo e São Caetano do Sul. Foram criados por meio de um projeto de lei que reestruturou o sistema de ensino industrial e de economia doméstica do estado. A bibliografia específica existente acerca da história dos Ginásios Vocacionais traz, de maneira recorrente, que os mesmos tiveram como referência para sua estruturação as chamadas Classes Experimentais, instaladas na cidade paulista de Socorro, iniciada em 1957 (ALBUQUERQUE, 2010; CHIOZZINI, 2014; MASCELLANI, 1998; MARQUES, 1985; NEVES, 2012; ROVAI, 2005; TAMBERLINI, 2001). Tal apontamento parte, primeiramente, da constatação do fato de que alguns professores trabalharam em ambos projetos educacionais, especialmente a educadora Maria Nilde Mascellani, que foi professora das Classes Experimentais de Socorro e coordenadora do Serviço do Ensino Vocacional (SEV), órgão que implantou e administrou os Ginásios Vocacionais. Em segundo lugar, também é apontada a relação entre a atuação desses sujeitos com um processo de renovação do ensino em curso no estado de São Paulo, sobretudo desde os anos 1950, que tem como marco a formalização das Classes Experimentais em 1958, por meio de uma Circular do Ministério da Educação. Essa relação, no entanto, é pouco explorada dentro de uma perspectiva de temporalidade diacrônica e sincrônica, buscando a média e a longa duração da renovação do ensino no Brasil. Nesse sentido, a presente comunicação é parte de uma investigação que – por meio de uma revisão bibliográfica sobre o tema e fontes primárias do período – visa aprofundar a compreensão de como o processo de concepção e implantação dos Ginásios Vocacionais, se valendo da apropriação de referenciais escolanovistas – como os utilizados na Escola de Sèvres, na Escola Compreensiva Inglesa e na produção intelectual de John Dewey – forjou uma nova concepção de educação experimental, culminando com a consolidação da definição da noção de educação renovada, muito difundida por Mascellani a partir do fim dos Ginásios Vocacionais. Essa consolidação obscureceu o processo de apropriação do referencial teórico escolanovista ocorrido anteriormente, especialmente aquele associado ao ideário deweano e, posteriormente, lhe custou uma série de críticas acerca dos fundamentos de suas proposições, especialmente por parte de autores como Azanha (1974), Saviani (1974) e Ribeiro (1980). Palavras-Chave: Escola Nova, Classes Experimentais, Ginásios Vocacionais

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Sessão Coordenada - 29

A EDUCAÇÃO PRIMÁRIA EM DEBATE: TEMPOS, ESPAÇOS E SABERES ESCOLARES NO BRASIL, PORTUGAL E ESTADOS UNIDOS (1845 - 1935)

Coordenador: PAULO ROGÉRIO MARQUES SILY Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

No período compreendido entre a segunda metade do século XIX e três primeiras décadas do XX diferentes projetos relacionados ao governo das populações foram tencionados no Brasil, Portugal e Estados Unidos. Em um esforço de síntese, pode-se afirmar que tais investimentos concorreram para que a escolarização primária fosse concebida como uma estratégia possível para harmonizar e disciplinar as circunstâncias do viver social. Para alcançar esses propósitos, sob a lógica governamental, tornou-se imprescindível a organização de mecanismos que, de algum modo, tratassem de normatizar, controlar e fiscalizar a instrução pública em relação à formação docente e ao funcionamento dos tempos, espaços e saberes escolares. Desse quadro geral, ao selecionar algumas experiências de escolarização que foram construídas no Brasil, Portugal e Estados Unidos – colocando em relevo suas aproximações e distanciamentos – os trabalhos aqui reunidos objetivam, principalmente: 1) discutir algumas das políticas públicas voltadas à construção de um lugar próprio para as escolas elementares, buscando analisar como foram pensadas e apropriadas as medidas de modernização e a tentativa de uniformização dos espaços escolares, assim como as tensões por elas suscitadas nos três países em questão; 2) problematizar os debates sobre o fim dos castigos físicos travados por professores no Brasil e em Portugal na segunda metade do século XIX; 3) examinar alguns dos mecanismos de controle, normatização e fiscalização que foram direcionados ao corpo docente da cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, nas duas primeiras décadas do século XX; 4) analisar as transformações na formação e na atuação docente na antiga capital do Brasil nas décadas de 1920 e 1930, buscando compreender as maneiras como as reformas da educação reorganizaram as condições de exercício do trabalho docente por meio da reforma da Diretoria Geral de Instrução Pública e do Instituto de Educação. As fontes históricas que embasaram os estudos aqui reunidos abarcam diferentes tipos documentais: jornais, revistas, livros, relatórios, manifestos e boletins referentes à imprensa pedagógica, à administração pública, às ações de educadores e agentes de governo nos países e período tratados. Com esta mesa busca-se tanto fomentar o diálogo em torno dos possíveis caminhos de pesquisa sobre a escola primária e a formação de seus professores quanto ampliar, qualitativamente, as fontes para a produção do conhecimento em História da Educação.

UM LUGAR PRÓPRIO PARA A ESCOLA PÚBLICA ELEMENTAR: DEBATE SOBRE PRÉDIOS ESCOLARES (BRASIL, PORTUGAL, ESTADOS UNIDOS, SÉCULO XIX)

Inára de Almeida Garcia Pinto

Paulo Rogério Marques Sily Neste trabalho focalizamos o debate relativo às iniciativas de governo dirigidas à construção de prédios para abrigar escolas públicas de ensino primário em meados do século XIX. Na intenção de ampliar os espaços de observação acerca das propostas pedagógicas sobre esse tema, pretendemos considerar aspectos que foram importantes na discussão dessa questão no Brasil, em Portugal e nos Estados Unidos. Tivemos por objetivo elucidar políticas públicas voltadas à construção de um lugar próprio para as escolas elementares, buscando analisar como foram pensadas e apropriadas as medidas de modernização e tentativa de uniformização dos espaços escolares, assim como as tensões por elas suscitadas. No que diz respeito às fontes, acompanhamos, no Brasil, a discussão sobre os prédios escolares, principalmente, por meio de seus projetos de construção, examinando plantas-baixas, a materialidade proposta para fins pedagógicos e os indícios dos usos desses espaços educativos em construção, perceptíveis na massa documental sob a guarda do Arquivo Nacional e do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Em relação aos Estados Unidos, buscamos perceber o debate pelas páginas de dois impressos: School Arquitecture; or contributions to the improvement of school-houses in the United States (1849) e The American Journal of Education (1855-1881), ambos sob a direção do educador Henry Barnard. No que se refere a Portugal, consideramos a polêmica estabelecida na documentação sobre as escolas de ensino elementar guardada na Biblioteca da Torre do Tombo e nas obras de António da Cósta: Imprensa Nacional (1870) e História da Instrução Popular em Portugal (1890). Nesse estudo foi possível observar a simultaneidade do debate sobre o tema em destaque e nele localizar pontos de conexão entre projetos de construção dos prédios escolares nos países aqui considerados. Percebemos, então, sinais da circulação das concepções relativas à

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arquitetura escolar veiculadas, principalmente, pela imprensa comum e pedagógica, mas também em exposições internacionais e nas ações de professores viajantes em missão ao estrangeiro na segunda metade do Oitocentos. Ao apreender as singularidades dos acontecimentos aqui demonstrados, compreendemos a importância de termos em conta os sentidos produzidos em cada um desses lugares a partir da relação entre as políticas de Governo e as práticas de atores envolvidos na luta pela construção de um espaço próprio para o funcionamento da escola pública de ensino elementar no século XIX. Prédios Públicos Escolares, Processos De Escolarização, Circulação De Projetos Pedagógicos

A PALMATÓRIA DO MESTRE: DEBATES NA IMPRENSA PEDAGÓGICA SOBRE O FIM DOS CASTIGOS FÍSICOS NAS ESCOLAS BRASILEIRAS E PORTUGUESAS – 1850-1890

Daniel Cavalcanti de Albuquerque Lemos

“Há de chegar à pedagogia a sua época de serenidade cientifica”, assim se posiciona diante do público leitor O Ensino – Revista d’Instrucção Primária ao defender a manutenção dos castigos físicos nas escolas portuguesas no ano de 1887. Para os autores do impresso, ainda era tempo das palmatórias nas escolas de Portugal. No Brasil o jornal Noticiário do Rio, publicou em 1876 uma matéria intitulada “um mestre irascível” criticando o uso dos castigos, lembrando a proibição legal que havia em tal atitude. O presente trabalho busca compreender os debates sobre o fim dos castigos físicos travados por professores através de jornais e revistas pedagógicas na segunda metade do século XIX no Brasil e em Portugal opinando sobre a instauração de novas práticas disciplinares vistas como modernas. O tema da disciplina escolar ocupou nesse período um lugar de destaque na organização das escolas, fato que pode ser observado pelo grande número de artigos dedicados ao tema nos jornais docentes nos dois lados do Atlântico. Enquanto no Brasil da segunda metade do século XIX os professores que atuam na imprensa vão cada vez mais se afinando com a proposta de supressão dos castigos, entendendo essa posição como parte de um processo que promovia a modernização do ensino e possibilitava a instituição de novos mecanismos disciplinares, em Portugal a imprensa docente aponta no sentido da defesa dos castigos corporais, argumentando que seu abandono era idealista. Ao trabalhar com essas publicações, busco compreender por meio do debate o pensamento educacional dos professores e demais envolvidos com a disciplina escolar. Para tanto, utilizo como fontes revistas e jornais pedagógicos brasileiros e portugueses, mais especificamente os produzidos nas cidades de Lisboa e Rio de Janeiro. O conjunto de fontes que mobilizo estão localizadas na Biblioteca Nacional (BN), no caso do Brasil, e na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), no caso de Portugal. Nas duas bibliotecas localizei jornais, tanto pedagógicos como da grande imprensa, que noticiavam casos de uso de castigos nas escolas e de abusos de professores. Para o presente trabalho vou centrar a análise nos jornais A Instrução Pública e o Noticiário do Rio, e no caso português vou trabalhar com as revistas O Ensino e Froebel. Por fim, busco perceber como os impressos pedagógicos e os professores brasileiros e portugueses constroem seus argumentos e como se posicionam, compreendendo os sentidos produzidos por cada um desses discursos na construção de uma modernidade pedagógica no ensino elementar no século XIX. História Da Educação, Castigos Corporais, Disciplina Escolar TEMPOS DE FORMAÇÃO, ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DOCENTE NA CAPITAL DO BRASIL NOS ANOS 20/30

André Luiz Paulilo

O artigo trata da historiografia do movimento educacional brasileiro entre 1920 e 1930, especialmente dos estudos acerca da formação docente. Por um lado, discute a relevância do Instituto de Educação do Rio de Janeiro para entender as reformas da instrução pública no período. Sugere que essa instituição foi marcada por transformações na memória do movimento educacional brasileiro nos anos 20 e 30. Por outro lado, a comunicação aborda as transformações do tempo de formação docente na ampliação da Escola Normal do Distrito Federal em Instituto de Educação entre 1927 e 1935 e também reflete sobre os espaços de atuação docente na capital do país nesse período.Assim, estuda-se o Boletim de Educação Pública, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, os relatórios administrativos e a imprensa periódica para a compreensão da ampliação do tempo de formação de professores e sua elevação de nível durante a década e meia que separa a posse de Antônio Carneiro Leão como diretor geral de instrução pública do Distrito Federal, em 1922, da exoneração de Anísio Teixeira da Secretaria de Educação e Cultura do Rio de Janeiro em 1935. Já em relação à atuação docente no Distrito Federal, procura-se mapear a legislação para entender o modo como se deu a ocupação dos cargos na instrução pública da capital à época. Sobretudo, baseado numa historiografia que, de diversos modos, vem analisando as trajetórias e modos de circulação de professores no Rio de Janeiro, a comunicação aborda a questão a partir da reestruturação administrativa conduzida entre 1922 e 1935 por

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Carneiro Leão (1922-1926), Fernando de Azevedo (1927-1930) e Anísio Teixeira (1931-1935). A análise beneficia-se ainda das proposições da história cultural dos intelectuais para tratar das tabelas de designação e promoção dos quadros do magistério. Tendo em vista pensar as transformações na formação e na atuação docente da então capital do país, busca-se compreender a forma como as reformas da educação reorganizaram as condições de exercício do trabalho docente por meio da reforma da Diretoria Geral de Instrução Pública e do Instituto de Educação. No texto da apresentação conclui-se que entre 1922 e 1935 o exercício da docência na capital foi sendo profissionalizado por meio da reestruturação administrativa da carreira do magistério. Desse modo, argumenta-se que parte do que o movimento de renovação educacional dos anos 20 e 30 logrou alterar nos saberes e nas práticas docentes resultou da reforma dos tempos de formação do magistério e da reestruturação da sua carreira. História Da Profissão Docente, Processos De Escolarização (1922-1935), Instituto De Educação O CORPO DOCENTE CARIOCA SOB CONTROLE: SOBRE ALGUMAS DAS ESTRATÉGIAS ACIONADAS PELA

DIRETORIA GERAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA NO FINAL DA DÉCADA DE 1910

José Cláudio Sooma Silva O presente trabalho estabelece interlocuções com um conjunto de pesquisas em História da Educação que têm explicitado que analisar a escolarização primária na cidade do Rio de Janeiro no decurso das duas primeiras décadas do século XX significa, fundamentalmente, atentar para todo um repertório de projeções que, sob a lógica das ações de governo, ansiavam disciplinar e harmonizar a capital e a sua população. Baseado no exame de um conjunto de solicitações encaminhadas pela Diretoria Geral de Instrução Pública e na análise de uma série de notícias colocadas em circulação pelo periódico carioca Gazeta de Notícias, as atenções incidiram sobre alguns dos mecanismos de controle, normatização e fiscalização que foram direcionados em relação ao corpo docente no período enfocando, principalmente, as investigações e as acusações que culminaram na prisão do professor adjunto Álvaro Palmeira. A trama envolveu a Diretoria Geral de Instrução Pública (DGIP) e a Polícia. No início, houve uma suspeita: a DGIP se ocupou de averiguar se Álvaro Palmeira exercia adequadamente os seus encargos docentes. Para tanto, junto à Inspetoria Escolar responsável pelo Distrito no qual professor lecionava (São José), inquiriu acerca da “capacidade” do adjunto, mas também sobre a sua “conduta”, posto haver suspeitas de que o mesmo estaria “incutindo nos alunos ideias subversivas”. Tais suspeitas concorreram para que outra instituição fosse acionada por parte da DGIP: a polícia. Nessa medida, o professor foi preso e teve instaurado um processo sob a acusação de que “concitara o povo à revolta”. Passadas vinte e quatro horas, Álvaro Palmeira foi colocado em liberdade e, “espontaneamente”, dirigiu-se até a DGIP e “fez exposição verbal da ocorrência em que se achara envolvido, deixando em mãos uma justificativa de sua ação naquela ocorrência”. A problematização desse acontecimento contribui com outros indícios para se pensar algumas das estratégias que foram empregadas pela DGIP para controlar, normatizar e fiscalizar os tempos e espaços escolares do ensino primário da antiga capital do Brasil. Nesse sentido, no que diz respeito aos constrangimentos que foram empreendidos ao professor Álvaro Palmeira, despontam dimensões que podem ser perscrutadas tanto como uma tentativa de explicitação da normalidade almejada quanto, e principalmente, como uma reafirmação da exemplaridade que deveria proporcionar junto àqueles que eram concebidos e largamente propalados, na época, como os responsáveis pela conformação do futuro da cidadania carioca: os professores. História Da Educação, Escolarização Primária, Diretoria Geral De Instrução Pública

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Sessão Coordenada - 30 HISTÓRIA E MEMÓRIA DAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS DE EDUCAÇÃO

ESPECIAL: ENTRE PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES

Coordenadora: MARIA EDITH ROMANO SIEMS-MARCONDES Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

Esta proposta de comunicação coordenada visa promover o debate historiográfico e metodológico acerca da história das instituições educativas especializadas e de suas práticas pedagógicas. Apresenta um panorama de estudos que tomam por base instituições escolares consideradas de educação especial e suas práticas apresentando um painel multifacetado de aspectos da história da educação especial em diferentes regiões do país. Parte-se do pressuposto de que é preciso entender a história da educação especial nos planos micro e meso-histórico, na perspectiva das instituições, do local e do regional, dialeticamente interligados com o social, o geral e o nacional. Foca-se na apresentação de instituições educativas que se ocuparam e ainda se ocupam da educação e/ou escolarização de pessoas com deficiência, aqui compreendidas como patrimônio histórico e como fontes propícias ao entendimento das contradições hoje vivenciadas pela proposta nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Essas instituições apresentam grande potencial para a pesquisa historiográfica em educação, com seu acervo de materiais impressos e/ou fotográficos, documentos e registros ainda em processo de catalogação, bem como no registro de uma memória das vivências de seus atores que se constituem em rico painel para a compreensão da educação brasileira. Entendemos que a preocupação com a história das instituições educativas, também precisa entrar na agenda das pesquisas sobre educação especial. Empreender estudos e pesquisas nessa área, enfocando a história das instituições educativas especializadas, que se dedicaram ao ensino e educação de pessoas com deficiência, e que, ao fazê-lo, produziam uma cultura peculiar, uma memória, um ideário pedagógico, um inventários de práticas e representações; em síntese, uma identidade histórica ainda a ser conhecida e explorada é um dos objetivos dessa comunicação coordenada. Os trabalhos que a compõem apresentam um painel que se estende do Nacional, como o estudo do impacto do Decreto que institui, na década de 1960 a comemoração da Semana do Excepcional e suas manifestações no extremo norte do país, ao peculiar representado pelas instituições que constituíram a Sociedade Pestalozzi no Sudeste passando pelo registro histórico de instituições especializadas no Centro Oeste brasileiro. Os sentidos dessas instituições, seu ciclo de vida, suas representações e estratégias, seus nexos com os planos local, regional e nacional, os meandros de sua ação educacional e ideológica são investigados, no que se depreende a relevância desta comunicação coordenada, congregando pesquisadores que se dedicam à história e memória da educação, em particular à educação especial, suas instituições e práticas educativas. Metodologicamente, diferentes caminhos de análise das Instituições Especializadas também se apresentam, ampliando o panorama de perspectivas historiográficas, ampliando as vertentes investigativas para a área.

A “SEMANA DO EXCEPCIONAL”: PERSPECTIVAS DO REGIME MILITAR NA EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA EM RORAIMA NO PERÍODO 1964 - 1985

Maria Edith Romano Siems-Marcondes

A Educação Especial como política pública oficial a ser estruturada em todo o Brasil tem seu início na década de 1970 com a instauração formal de órgãos como o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) em 1973 e a inserção da educação dos então chamados “excepcionais” no ordenamento jurídico, a partir da reforma do ensino preconizada pela lei 5692/71. Trata-se de período em que atuavam dirigentes militares que governaram o país entre os anos de 1964 e 1985, na perspectiva de um regime militar ditatorial. Dos documentos de natureza legal produzidos à época, destacamos o Decreto Federal 54.188 de 28 de agosto de 1964, do presidente Humberto de Alencar Castello Branco, que instaura a “Semana do Excepcional” a ser comemorada anualmente entre 23 e 28 de agosto além de determinar que o Ministério da Educação protagonize a execução dessa ação. Em estudo com o objetivo de compreender os efeitos do regime militar nos processos de implantação de serviços de Educação Especial no então Território Federal de Roraima, documentos e entrevistas apontam que a comemoração da Semana do Excepcional é parte das atividades sistemáticas dos serviços especializados, diversificando-se ao longo dos anos, mas trazendo em sua estrutura e práticas, indicativos das concepções de deficiência que perpassam o período. Analisar de que forma esta ação se desenvolve, suas atividades principais, o teor dos discursos que atravessam as ações e o impacto dessas na comunidade escolar nesta localidade, são os objetivos desse trabalho, que se desenvolve na perspectiva histórica de E. P. Thompson, de uma “história vista de

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baixo”. Com base neste referencial teórico metodológico, busca-se identificar de que maneira os indivíduos diretamente envolvidos experimentaram os processos educacionais dos quais participaram. No processo de pesquisa, buscamos mapear as práticas estabelecidas nos serviços especializados de educação especial a partir deste decreto e como essas atividades impactaram junto a diferentes atores do processo educacional, através de entrevistas realizadas com profissionais envolvidos e da análise de documentos do cotidiano escolar como atas, convites, folhetos de divulgação, imagens e correspondências institucionais. Com base nestes dados, identificamos a presença de um discurso missionário e religioso, direcionando práticas de sensibilização quanto às questões relativas à deficiência e o foco em discursos de forte apelo emocional à comunidade, numa perspectiva de solidariedade, permeada por uma ótica de benemerência e humanismo cristão. Destaca-se ainda, o foco nas atividades esportivas com referências que remetem às concepções militares de valorização da Educação Física e do domínio corporal como prática disciplinadora. Palavras chave: História da Educação Especial, Educação de Excepcionais, Deficiência.

AS SOCIEDADES PESTALOZZI: PRINCIPIOS E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E A CONSTITUIÇÃO DESSA ÁREA ENQUANTO POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL

Heulalia Charalo Rafante

Em geral, os trabalhos que tratam da História da Educação Especial no Brasil tomam, como ponto de partida, as ações das esferas governamentais e, considerando que essa área ganhou espaço nos programas dessas esferas nas décadas de 1960 e 1970, os estudos têm privilegiado a análise desse contexto. Para o período anterior à década de 1960, as pesquisas indicam que há o predomínio das ações de instituições particulares, entre estas, destaca-se a Sociedade Pestalozzi, que teve sua primeira experiência em Belo Horizonte, em 1932, por iniciativa da educadora russa Helena Antipoff. A Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, como ficou conhecida, viabilizou outras instituições: o Pavilhão de Natal (1934), o Instituto Pestalozzi (1935) e a Fazenda do Rosário (1939), todas destinadas à educação daqueles considerados “excepcionais”. Nas décadas seguintes, outras instituições congêneres foram se organizando em diferentes partes do país. O objetivo desse texto é analisar os princípios e práticas direcionadas à educação dos “excepcionais” pela Sociedade Pestalozzi, em Minas Gerais, nas décadas de 1930 e 1940, e dimensionar a participação desta instituição e de suas congêneres brasileiras na organização dos programas governamentais direcionados à Educação Especial no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970. Para esta elaboração, foi utilizado um variado corpus documental, preservado na Fundação Helena Antipoff, em Ibirité (MG), onde se instalou uma das instituições criadas pela Sociedade Pestalozzi, a Fazenda do Rosário, e no Centro de e Pesquisa Helena Antipoff, na Biblioteca Central da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre os documentos estão os Estatutos da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais; o Boletim da Secretaria da Educação e Saúde Pública de Minas Gerais; a Coletânea de Obras Escritas de Helena Antipoff, organizadas pelo Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA) da Universidade Federal de Minas Gerais, entre outros. A análise desses documentos foi feita à luz dos referenciais de Antonio Gramsci e possibilitou concluir que o princípio educativo presente nas Sociedades Pestalozzi foi a educação pelo e para o trabalho, restrito ao trabalho manual; esses princípios permaneceram na realidade educacional brasileira porque as Sociedades Pestalozzi se constituíram enquanto aparelho privado de construção da hegemonia social, criando uma proposta para a educação dos excepcionais e disseminando seus princípios e práticas em diferentes partes do país. Além disso, essas instituições articularam, tanto a sociedade civil, quanto a sociedade política, a organização da Educação Especial brasileira, participando ativamente da institucionalização dessa educação enquanto política educacional. Palavras-Chave: Educação Especial. História da Educação. Sociedades Pestalozzi. Práticas Educativas. UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS ESPECIALIZADAS EM MATO GROSSO

DO SUL: O CASO DA APAE/CEDEG DE CAMPO GRANDE

Giovani Bezerra Bezerra A história da Educação Especial no estado de Mato Grosso do Sul, antigo estado de Mato Grosso, ainda precisa ser contada. As informações sobre o tema são escassas e, quase sempre, limitadas às fontes oficiais. Três instituições educativas especializadas dominaram e dominam a cena em Mato Grosso do Sul, quanto ao atendimento das pessoas com deficiências, sendo, ainda, referências modelares em seu campo de atuação, a saber: o Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos “Florisvaldo Vargas”, criado em 1957; a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), fundada em 1967, e a Sociedade Pestalozzi, inaugurada em 1979, todas as instituições na cidade de Campo Grande/MS. Todavia, elas não têm sido objeto de estudos com enfoque historiográfico propriamente dito. Muitas narrativas dessa história encontram-se por serem escritas, com a

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localização de documentos, impressos variados e materiais iconográficos que, por ora, encontram-se avulsos, dispersos, desordenados e em risco constante de deterioração nessas instituições educacionais que contam a história e compõem a memória do povo sul-mato-grossense. Na direção do exposto, busca-se, com este relato de pesquisa, vinculado ao doutoramento em educação, na linha de pesquisa História da Educação, Memória e Sociedade, apresentar o legado histórico de uma instituição privado-filantrópica, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Campo Grande/MS (APAE) - Centro de Educação Especial Girassol (CEDEG), para a educação das pessoas com deficiência no Sul de Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, haja vista ser essa a segunda instituição educativa especializada fundada no referido estado para atender a clientela da Educação Especial, em 10 de junho de 1967. Em seu itinerário, a instituição revela e esconde diversas apropriações, práticas e representações culturais, implicadas em seu programa de ensino, em suas rotinas e formas de organização pedagógico-administrativa. Diante de sua representatividade, torna-se necessário entender como foi se constituindo e instituindo a APAE/CEDEG em Campo Grande/MS, haja vista o distanciamento histórico já ser de quase 50 anos da sua fundação. Para o desenvolvimento desta pesquisa, parte-se da vertente historiográfica mais ampla denominada História Cultural, que, recentemente, à medida que amplia as fontes, os objetos e métodos de investigação, tem forjado a emergência da abordagem denominada de Nova História Cultural, mais adequada para estudar objetos históricos singulares, como as instituições educativas. Recorre-se à perspectiva teórico-metodológica da História das Instituições Educativas, compreendendo a instituição educativa como uma totalidade epistêmica. Palavras-chave: História e Memória das instituições educativas especializadas. História Cultural. Sul de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.

PESQUISAS SOBRE INSTITUIÇÕES ESCOLARES: EM FOCO A INSTITUIÇÃO ESCOLAR ESPECIALIZADA

Katia Cristina Nascimento Figueira Este trabalho tem por objetivo refletir sobre instituições escolares, entendendo-as como portadoras de organicidade materiais e simbólicas, que impõem aos pesquisadores a necessidade de apreender seus elementos constitutivos. Como recorte, foram analisadas as práticas desenvolvidas por uma instituição especializada do Estado de Mato Grosso do Sul, instalada em meados da década de 1970 em Campo Grande, que vem desenvolvendo projetos para incluir seus alunos no ensino comum, desde o final dos anos 1990, como o Programa de Apoio à Inclusão. Para atender ao objetivo de analisar a extensão dessas práticas na inclusão dos alunos no ensino comum, elegemos também duas escolas da Rede Municipal de Campo Grande, que recebiam alunos com deficiência encaminhados pela instituição pesquisada. Tal delimitação revelou-se como mecanismo de análise da constituição da educação especial, sobretudo frente ao processo de inclusão escolar que tem tomado corpo no campo das políticas públicas nos últimos anos. O problema que emergiu na investigação foi avaliar em que medida essas práticas contribuíram efetivamente para o processo de escolarização dos alunos por ela atendidos. A abordagem utilizada foi o estudo etnográfico, que além de possibilitar a apreensão de vários elementos de análise por meio da pluralidade de fontes para a apreensão do objeto da pesquisa, mostrou-se como fundamental para a investigação que se propõe a estudar as práticas da instituição. Foram utilizados a observação participante, a entrevista e, também, a análise documental que complementou os dados obtidos. A opção pela abordagem etnográfica justifica-se também pela necessidade de mergulho do pesquisador no campo estudado, a fim de captar as práticas desenvolvidas na instituição para entender como as instituições estão trabalhando no interior do movimento da inclusão escolar e se tais práticas são determinantes para o processo de escolarização dos alunos com deficiência. Foi preciso, ainda, empreender esforços que permitiram a compreensão das relações sociais mais amplas no âmbito do movimento educacional, expressão da materialidade da sociedade. A pesquisa revelou que a instituição especializada, por força do emergente movimento de inclusão escolar, deflagra um processo de reorganização de suas práticas e implanta serviços que se ocupam especificamente da inclusão dos alunos com deficiência no ensino comum. A experiência de pesquisa no campo das instituições escolares evidenciou-a como um locus privilegiado para o estudo de temáticas educacionais, e um caminho importante para o estudo da educação especial no âmbito do movimento da inclusão escolar permitindo estudar as relações internas das instituições e as influências sociais presentes na instituição. Palavras-chave: Instituições escolares; Instituição escolar especializada; História da Educação de MS.

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Sessão Coordenada - 31

HISTÓRIA LOCAL - A EDUCAÇÃO MUNICIPAL: HISTÓRIA, POLÍTICA E EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS

Coordenadora: MARIA ANGÉLICA DA GAMA CABRAL COUTINHO Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas

A História Local vem ganhando a cada dia maior importância. Desde os anos de 1980, mais pesquisadores brasileiros vêm mergulhando em pesquisas cuja abordagem tem privilegiado a história regional, buscando evidenciar as comunidades e suas particularidades e singularidades. A história local e regional tem a característica de aproximar o pesquisador de seu objeto de estudo. Nesse mesmo movimento, a História da Educação vem sofrendo transformações, e cada vez mais dedicando parte de suas pesquisas a conhecer a educação e a história das pequenas localidades, de suas escolas mais distantes, de seus personagens, professores e gestores nos municípios mais longínquos. Em parte, esse processo foi estimulado posto que, atualmente, a maior responsabilidade política e administrativa acerca da educação, no Brasil, recai sobre a esfera municipal. A carta constitucional vigente confirma a importância dos municípios ao determinar que a responsabilidade sobre o ensino fundamental, cabe obrigatoriamente aos municípios, que ainda assumem a tarefa de assegurar a Educação Infantil. O artigo 18 da Constituição Federal afirma que a “ (...) organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos”. Portanto, atualmente, os municípios são entes da federação, assim como os estados, assumindo na educação um papel preponderante, pois enfeixam a tarefa de gerir os primeiros anos de escolaridade da educação brasileira. Entretanto, do ponto de vista dos recursos financeiros, o município torna-se a esfera mais fragilizada da estrutura política. Como as políticas financeiras para a educação são determinadas por legislações federais, a comunidade municipal fica muito distanciada das disposições legais e sua participação acaba sendo muito minimizada, as iniciativas populares são incipientes ou então ineficazes, e confirmam a fragilidade dos municípios nas questões financeiras. O exame da educação pública no município de Seropédica parte da compreensão de que “(…) a sociedade é criação, e criação dela mesma: autocriação” (CASTORIADIS, 1999, p. 281). Toda sociedade, no seu processo de criação, estabelece os valores, o padrão de ética e de comportamento, e as leis que vão regê-la. Assim sendo, estabelece também o seu projeto de escola e de educação. Esse olhar circunscrito sobre algumas localidades de diferentes regiões brasileiras pretende contribuir para o fortalecimento da história da educação local.

A ORIGEM DO SISTEMA MUNICIPAL DE SEROPÉDICA/RJ: A HISTÓRIA DAS PRIMEIRAS ESCOLAS

Maria Angélica da Gama Cabral Coutinho Historicamente, a gênese da escola pública guardou por muito tempo a marca do centralismo de um Estado que pretendia monopolizar os esforços educacionais da sociedade, reduzindo-os a seus objetivos “civilizadores”, “modernizadores” ou disciplinares. No entanto, a escola não é somente o instrumento de construção de uma ordem autoritária; ela também é o reflexo do processo sociopolítico que define a sociedade. Mais do que a iniciativa isolada de um de seus grupos, ela é recriação cotidiana dessa iniciativa. De tal forma que, como destaca Valle (2000, p.27) “(…) a grande tarefa da escola é hoje a de construir coletiva e permanentemente o sentido de sua especificidade, e recriando a cada momento as vias, os meios, os procedimentos pedagógicos que permitem concretizá-lo”. A escola pública é o lócus em que diferentes projetos de sociedade se confrontam e disputam a possibilidade de construir uma nova sociedade. Nessa instituição convivem profissionais da educação, professores e funcionários que, em alguns casos, discutem a possibilidade de constituir a escola como uma instituição voltada para a construção de uma sociedade socialmente referenciada, onde o debate sobre a transformação social assume um lugar privilegiado. Cabe destacar que esse processo constante de elaboração da identidade da instituição escolar, necessita cada vez mais ser objeto de uma reflexão consciente por parte de seus profissionais, dos alunos e famílias e da sociedade em geral. O presente trabalho pretende identificar os motivos e os agentes que determinaram a criação das primeiras escolas no município de Seropédica/RJ, buscando reconhecer o envolvimento da comunidade. A educação que hoje conhecemos na referida cidade, município da região metropolitana do Rio de Janeiro, teve seu início nos limites do município de Itaguaí, ao qual pertencia como um distrito. Todas as escolas municipais de Itaguaí localizadas no antigo distrito foram transferidas para a nova esfera municipal: eram dezenove unidades escolares, distribuídas por vários bairros e também localizadas na área rural dos limites territoriais do município. Até a emancipação, a Prefeitura de Itaguaí

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construiu com seus próprios recursos oito unidades escolares, como se observa pelo documento fornecido pela Secretaria Municipal de Educação (SME) de Seropédica. Duas outras foram construídas por moradores, outra funciona em prédio estadual, e, por fim, as oito restantes são escolas estaduais que foram municipalizadas, em sua maior parte, no ano de 1993.

O ESTADO DO RIO DE JANEIRO E O CONVÊNIO ESTADUAL DE ENSINO PRIMÁRIO – 1943: A INTERVENÇÃO DO ESTADO NOVO NA EDUCAÇÃO MUNICIPAL

Marcia da Silva Quaresma

Esta comunicação pretende analisar o convênio estadual de ensino primário assinado entre os municípios do antigo estado do Rio de Janeiro e seus municípios à época (1943) e sua relação com o ideário do Estado Novo então em voga no país. Em 1943 os municípios do estado do Rio de Janeiro assinaram com o referido estado um convênio em que cada município abria mão da administração das suas escolas municipais que passariam a ter fiscalização e orientação da rede estadual, os municípios também não poderiam criar novas escolas. O convênio determinava ainda quanto cada município (segundo legislação nacional) deveria investir em educação além de decidir que este valor seria repassado ao estado à medida que este assumisse as escolas então da rede municipal. Esta ação teve grande influência nos municípios fluminenses que estavam organizando suas redes e ficaram impedidos de desenvolver sua atuação. Outro fator importante neste convênio era a obrigatoriedade de que todas as escolas municipais passassem a cumprir o programa oficial do estado além de participarem obrigatoriamente de todos os programas desenvolvidos pela rede estadual, como por exemplo, as provas de avaliação a que as escolas estaduais eram submetidas. Toda a estrutura física das escolas municipais que fossem sendo desativadas passaria também para a rede estadual. Algumas cláusulas deste convênio nos mostram claramente o grau de interferência na organização municipal, como por exemplo a “Clausula terceira: As atuais escolas municipais continuarão a ser mantidas pelos municípios; a orientação e a fiscalização entretanto serão ministradas pelos órgãos estaduais competentes, os quais, remeterão ao Prefeito, para os devidos fins, os mapas mensais de frequência (...)” (ABREU, 1955,p.145). A importância deste estudo se dá na forma de recuperar aspectos pouco estudados da história da educação fluminense, que no período enfocado estava sob intervenção do Comandante Amaral Peixoto que implantou politicas educacionais que influenciam a educação fluminense até hoje, pois foi o governador que ficou mais tempo a frente do estado (oito anos como interventor no período compreendido entre 1937-1945 e depois como governador eleito entre 1951-1955.Nesta comunicação analisaremos a influência do Estado Novo nesse Convênio e de como o estado do Rio de Janeiro e os municípios fluminenses reagiram diante desta nova forma de organização da rede escolar, além de refletir sobre as consequências deste Convênio no estado do Rio de Janeiro.

AS MARCAS DA EDUCAÇÃO INTEGRAL: BRASÍLIA (1960)

Edilson de Souza Anísio Teixeira procurou fazer com que a criação de Brasília conjecturasse também a execução de um projeto pedagógico que pudesse acompanhar o crescimento de uma nova cidade. Tais anseios, nada pequenos, necessitavam de uma reconfiguração socioeconômica, política e cultural que, para obter êxito, devia ser implantada em um local onde a pólis e seu sistema de ensino estivessem iniciando. A estrutura física de Brasília é composta por grandes quadras arborizadas, sendo reconhecida, para além das fronteiras brasileiras, pelo seu planejamento urbanístico e arquitetônico, como expressão contemporânea da criação técnica e artística do país. Anísio acreditava que o novo Distrito Federal se apresentava como cenário propício para a criação de uma nova escola pública e um novo sistema educacional, que se constituísse de fato enquanto polis. O debate que proponho vai no sentido de discutir o processo de criação das Escolas Parque/Classe de Brasília, apontando os tensionamentos positivos pelo qual passou a construção dessa escola, tendo em vista o momento histórico em que foi criada, sendo essa experiência importância histórica como possibilidade de avanços no âmbito da escola pública. Por outro lado, as experiências de educação integral pelas quais passou o Brasil ensaiaram, dentro das condições materiais possíveis, uma aproximação a uma formação humanista moderna. Foi o caso das proposições advindas do Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, que se materializaram nas experiências educacionais de Anísio Teixeira, no Centro Educacional Carneiro Ribeiro na Bahia, mais tarde, durante a experiência da formação da Cidade de Brasília, com as escolas Classe/Parque e com a própria Universidade de Brasília. Mudanças demandadas pelos anseios provocados pelo Movimento de 1932, que lançou um manifesto intitulado “A reconstrução educacional no Brasil – ao povo e ao governo”, Mais conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, rogou pela qualidade da escola pública, inserindo a discussão sobre educação integral.

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Tal escola deveria ser capaz de superar os imperativos da educação tradicional e transformar-se num espaço democrático, de valorização de direitos e individualidades, onde a autonomia e a liberdade pudessem promover o exercício da vida em tempo real, independentemente da classe social, centrado no indivíduo e no desenvolvimento de suas potencialidades e, ainda, sem a velha dicotomia entre formação geral e formação especial, entre formação para o trabalho e formação para o lazer, que tem caracterizado a educação brasileira ao longo do tempo, para Anísio Teixeira, a instituição escolar teria de ser repensada em seus fundamentos, alterando seus objetivos, a sua organização e os modos de funcionamento, portanto, transformar um sistema de educação discriminatória, de privilégios, em um sistema de educação democrático, igualitário.

ROBERTO FARIA: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O COLÉGIO LEOPOLDO OSCAR STULTZ, MUNICÍPIO DE BOM JARDIM/RJ (1984-2004)

Marilene Alves Maia

O presente trabalho objetiva dar visibilidade a um dos trabalhos realizados pelo educador Roberto Faria que, ao longo de sua carreira, no exercício da profissão docente, pronunciou-se de forma expressiva a favor da educação pública enquanto prática possível de mediação para a libertação, para a emancipação democrática e a construção da cidadania. Revelou-se um cidadão ativo, militante político, defensor da democracia e da transformação da realidade socioeconômica, através do sistema público municipal de ensino. Roberto Faria atuou como professor de Matemática na rede de ensino estadual do Rio de Janeiro, com mais de 35 anos em sala de aula. Sua formação escolar e acadêmica sempre foi em instituições públicas e, fiel ao ideário da instrução pública, laica, gratuita e para todos, defendeu, no exercício do magistério público, tais ideais. O período recortado compreende os anos de 1975, quando o professor Roberto muda-se para Nova Friburgo, até 2004, ano que se aposentou e saiu do colégio observado nessa pesquisa. Ao longo de sua carreira, o referido professor trabalhou incessantemente em defesa do acesso à escola pública, em especial, à escola pública do meio rural de Nova Friburgo, região que escolheu para trabalhar e também para morar. Foi no Colégio Leopoldo Oscar Stultz (CELOS), no distrito de Barra Alegre, no município de Bom Jardim, que o professor extrapolou os limites da sala de aula se engajando em mudanças políticas ao desenvolver e implementar projetos de âmbito municipal. Sua participação e atuação em atos efetivos na proposição de políticas para o favorecimento desta comunidade escolar pode ser verificada através de alguns documentos elaborados pelo próprio educador. A representação social e o papel político desempenhado por Roberto Faria me remetem ao conceito que Gramsci categoriza como intelectual orgânico. Pensando nessa categoria é que procurei trazer para o debate no campo da história da educação a presença do educador enquanto tal. Para a composição dessa narrativa, me utilizei também da história oral, a qual, pelo reavivamento da memória de pessoas que participaram direta ou indiretamente junto ao educador Roberto Faria, me proporcionou maior aproximação com o sujeito investigado, possibilitando assim, construir um perfil, uma história. Procuro identificar – nos projetos, nos relatos das memórias (companheiros de profissão, familiares, alunos), nas escolas que frequentou, na sua formação acadêmica, na sua geração, nas suas leituras, na sua militância política – indícios, marcas, vias, que engendraram escolhas que os conduziram a uma determinada forma de atuar na vida, mas, sobretudo na educação, quando se decidiu pelo magistério. Trata-se, assim, de levar em consideração que suas ações resultam de um conjunto de elementos que se revelam sob um aspecto datado, mas que também manifestam escolhas.

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Sessão Coordenada - 32

O LIVRO "HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS", DE MARIO ALIGHIERO MANACORDA: DIFUSÃO E INFLUÊNCIAS

NO CAMPO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Coordenadora: GESTINE CÁSSIA TRINDADE Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Este trabalho investigativo situa-se no campo da História da Educação e da temática "Intelectuais e História da Educação". Reúne quatro professores-pesquisadores de universidades públicas federais de diferentes regiões do Brasil – Sul, Sudeste, Norte e Nordeste – interessados em discutir como tem se constituído a difusão do livro "História da educação: da antiguidade aos nossos dias", do historiador da educação Mario Alighiero Manacorda (Itália, 1914–2013), entre os professores brasileiros. Na Itália, o livro foi publicado em 1983. No Brasil, sua primeira edição data 1988. Hoje, o livro tem 31 anos de existência na Itália e 26 anos de circulação no Brasil, estando aqui na 14ª edição. O objetivo geral da pesquisa é dimensionar a perspectiva marxista no campo da História da Educação por meio da análise da propagação e da influência deste livro na formação de professores e no pensamento pedagógico brasileiro nas últimas três décadas. Para tanto, os pesquisadores delinearam como fontes de estudo os planos de ensino dos cursos de graduação e pós-graduação das universidades públicas federais, os acervos das respectivas bibliotecas, as dissertações e teses produzidas pelos programas de pós-graduação e os depoimentos escritos de professores que se utilizam desse livro. O primeiro pesquisador conta a história do livro na Itália e no Brasil, esclarece as intenções do autor e do responsável pela tradução no Brasil, registra as diversas edições e analisa o valor cultural da obra para a história da educação em geral. O segundo pesquisador avalia a presença do livro nos planos de ensino da disciplina de História da Educação dos cursos de formação de professores, em particular do Curso de Pedagogia. O terceiro pesquisador aborda o livro nos planos de ensino das disciplinas de História da Educação e Educação Brasileira dos Programas de Pós-Graduação em Educação. Ambos os trabalhos – segundo e terceiro – estão acrescidos por um diagnóstico do número de exemplares do livro nos acervos das bibliotecas, bem como por alguns depoimentos escritos de professores que orientam o trabalho pedagógico pela epistemologia marxista de Manacorda. E o quarto pesquisador enfatiza o exame do livro nas dissertações e teses elaboradas nos Programas de Pós-Graduação em Educação nas universidades públicas federais das regiões Nordeste e Sudeste, no período de 2009 a 2012. Trata-se, por fim, de uma pesquisa de caráter colaborativo, referendada na premissa gramsciana de que uma ação coordenada, no caso específico, a ampla socialização do livro "História da educação: da antiguidade aos nossos dias" na formação de professores, contribuiu, de algum modo, para significar a crítica e o avanço do pensamento pedagógico no limiar das últimas três décadas. O LIVRO "HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS" DE M. A. MANACORDA NA

ITÁLIA E NO BRASIL

Paolo Nosella Em 1987, o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar organizou o Seminário Comemorativo dos 10 anos de sua criação. Para proferir a palestra de abertura, foi convidado o historiador Mario Alighieiro Manacorda que dissertou sobre: “O humanismo de Marx e o industrialismo de Gramsci”. Na oportunidade, o ilustre visitante realizou um ciclo de palestras em várias universidades brasileiras, onde participou de debates, deu entrevistas e estabeleceu contatos. Tudo isso motivou traduções e publicações para o mercado brasileiro de algumas de suas obras. A mais importante foi: “História da Educação: da antiguidade aos nossos dias”, 1ª edição, Cortez Editora, São Paulo, 1988. A primeira edição italiana saíra no ano de 1983, resultado de doze transmissões radiofônicas, realizadas pela ERI (Radiotelevisão Italiana), no final do ano de 1980. Portanto, a obra tem hoje 31 anos de existência na Itália e 26 no mercado brasileiro. Aqui está na 14ª edição (sem contar inúmeras reimpressões). Sua Editora, em 2010, selecionou algumas publicações mais bem sucedidas para colocá-las à disposição do público, em novo formato. Este livro foi um dos escolhidos. Todo campo científico nacional, de qualquer área, é influenciado por atores, instituições, informações e produtos culturais internacionais. No Brasil, sempre houve cientistas realizando cursos e estágios no exterior, estabelecendo relações de trabalho, trazendo para cá visitantes especialistas cujas publicações aqui são traduzidas e difundidas. Com Mario Alighiero Manacorda e sua obra não foi diferente. Seu livro "História da Educação" é hoje bastante conhecido entre nós, sobretudo entre estudantes de história da pedagogia. Pequena, mas significativa prova disso, está a carta que uma professora de

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História da Educação enviou, em 2006, ao autor: “Sou professora da UFSCar onde, há 13 anos, ensino com o seu livro “História da Educação: da antiguidade aos nossos dias” e me sinto muito gratificada quando, no encerramento das aulas, na ocasião da confraternização que costumo realizar com meus alunos, ouço deles: “vamos sentir saudades de Manacorda” (BITTAR, 2006). É natural se perguntar: qual a razão dessa notável circulação entre historiadores e educadores brasileiros? Que influência teve no campo da história da educação? Em síntese: o valor principal do livro é apresentar um esplêndido panorama da história da educação ao longo dos séculos com base não apenas em fontes produzidas por profissionais da pedagogia, mas, sobretudo, em documentos extraídos dos clássicos da literatura, da poesia e das artes em geral, ou seja, não é um texto corporativo que conta a história da educação partindo só de fontes relacionadas com o interior da instituição escolar; é um livro que fala de educação mas se relaciona com o crescimento geral da sociedade nos aspectos culturais, da vida cotidiana e do trabalho.

MANACORDA E A EPISTEMOLOGIA MARXISTA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: LIMITES E POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

Marco Antônio de Oliveira Gomes

Este trabalho parte do princípio que a disciplina de História da Educação possibilita o entendimento amplo do processo educativo e escolar por meio do qual o homem se produz. A compreensão da historicidade do processo educativo permite problematizar os objetivos da educação nos diferentes momentos históricos. No entanto, em oposição a perspectiva de uma história totalizante, verificou-se no decorrer do último quartel do século XX, especialmente com a crise do socialismo real, o fortalecimento do discurso pós-moderno na produção do conhecimento. Sinteticamente é possível afirmar que o pós-modernismo no campo da história privilegia como objeto de estudo as mentalidades, a vida cotidiana, das mulheres, gays, etc. Os desdobramentos da perspectiva pós-moderna implicam na rejeição das concepções de racionalidade, igualdade e da perspectiva marxista de emancipação. Movimento análogo foi verificado também no campo da história da educação que abdicou do propósito de explicar a totalidade dos fenômenos sociais, restringindo-se ao singular dos objetos estudados. Neste contexto, o trabalho busca analisar a importância da literatura marxista, e mais especificamente da obra "História da Educação: da antiguidade aos nossos dias" de Manacorda, nos planos de ensino da disciplina de História da Educação dos cursos de Pedagogia nas universidades federais do Brasil atual. Sua obra é uma leitura obrigatória nos cursos de formação de professores? Mesmo difundida em diferentes regiões do país nos cursos de pedagogia, pode-se afirmar que nem sempre foi devidamente compreendida. Em “História da Educação: da antiguidade aos nossos dias”, Manacorda apresenta uma percepção ampla de fonte histórica o que leva ao leitor descobrir por meio da produção da existência pelos homens o aspecto educativo. Trata-se de um trabalho de síntese de cultura geral, que não aborda a questão pedagógica por meio apenas dos documentos produzidos pelos educadores, mas também por outros gêneros de literatura e com a utilização de fontes pouco convencionais ao universo de autores marxistas. No entanto, Manacorda não rompe com os pressupostos do pensamento marxiano. A pertinência das fontes empregadas pelo autor permite a compreensão do cotidiano sem resvalar no em aspectos fragmentários, mas como parte constituinte de uma totalidade. O zelo no trato com as fontes e a leitura dos clássicos materializa-se em um livro que abrange um conhecimento necessário à formação dos futuros professores e daqueles que trabalham com a história da educação. Para realização do trabalho foram analisados os documentos atinentes ao Projeto Pedagógico dos diferentes cursos e a bibliografia das disciplinas de História da Educação ofertadas nas instituições. Tendo como princípio norteador o referencial teórico marxista foram utilizados os seguintes autores: Al

O LIVRO "HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS", DE MARIO ALIGHIERO MANACORDA NAS BIBLIOTECAS DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS E NA PÓS-GRADUAÇÃO EM

EDUCAÇÃO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

Gestine Cássia Trindade Mundialmente, o historiador da educação Mario Alighiero Manacorda (Itália, 1914-2013) é reconhecido como um dos mais empenhados intelectuais a disseminar o debate da relação entre trabalho e educação no pensamento pedagógico no transcurso do século XX para o século XXI. Para ele, o trabalho é a atividade vital do homem e o princípio pedagógico das sociedades industriais desde a modernidade (MANACORDA, 1988). Sua premissa fundamenta-se no estudo filológico rigoroso das obras de Karl Marx (1818-1883) e Antonio Gramsci (1891-1937). A perspectiva marxista assumida por Manacorda explicita a necessidade de superação da dicotomia pedagógica na formação humana, ou seja, decidir se as novas gerações serão rousseaunianamente deixadas ao

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espontaneismo do próprio desenvolvimento, em aparente liberdade, ou se serão direcionadas a adequarem-se ao movimento característico de sua época (MANACORDA, 1997). No ano de 1987, a Pós-Graduação em Educação, por meio do Programa da UFSCar, trouxe Manacorda ao Brasil. A iniciativa desencadeou para a continuidade da tradução de sua produção científica para a língua portuguesa. Dentre os trabalhos, um destaque particular é atribuído ao livro "História da Educação: da antiguidade aos nossos dias", na qual o autor expressa a essência em matéria da educação dos séculos. A partir de 1988, esse livro tornou-se conhecido entre os professores brasileiros. Hoje, o livro encontra-se na 14ª edição. Eis o objeto de interesse desta investigação: a obra "História da Educação: da antiguidade aos nossos dias". O objetivo é analisar a difusão e a influência do pensamento marxista no clássico livro de Manacorda, verificando a sua inserção nas disciplinas de História da Educação e Educação Brasileira dos Programas de Pós-Graduação em Educação e nos acervos das bibliotecas no âmbito das universidades públicas federais. Nesse sentido, são três as fontes utilizadas para a pesquisa, a saber: planos de ensino; acervo das bibliotecas; e depoimentos de professores da pós-graduação. Os dados foram compilados de maneira a preservá-los por regiões brasileiras – Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste – e por períodos – até 2002 e de 2003 aos dias atuais (anos marcados pela política de Estado de expansão do ensino superior). O estudo mostra como uma ação coordenada na formação de professores, tanto na graduação como na pós-graduação, no caso, a difusão de uma obra que trata da dimensão histórico-dialética da formação humana – “a escola dos séculos” (MANACORDA, 1988) –, poderá resultar numa viva possibilidade para a crítica e para o avanço do pensamento pedagógico contemporâneo.

O LIVRO "HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA ANTIGUIDADE AOS NOSSOS DIAS", DE M. A. MANACORDA, NAS DISSERTAÇÕES E TESES PRODUZIDAS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS DAS REGIÕES

NORDESTE E SUDESTE (2009-2012)

Heulalia Charalo Rafante O educador e historiador da educação Mario Alighiero Manacorda nasceu na Itália, em 1914, e faleceu em 2013. É considerado um dos maiores intelectuais marxistas italianos do século XX. Cursou Literatura e Língua Italiana na Universidade de Pisa, lecionou literatura italiana no liceu clássico de Siena e seguiu carreira de professor universitário, assumindo a cátedra de História da Pedagogia, passando por quatro universidades: Cagliari, Viterbo, Florença e Roma. Dedicou-se em traduzir e comentar, do original para o italiano, os textos mais importantes do marxismo para a educação. Na década de 1950, publicou a coleção Clássicos do Marxismo. Escreveu sobre diferentes assuntos, sempre mantendo a unidade no método e a coerência teórica. Em 1987, foi convidado para participar do evento comemorativo dos 10 anos do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos. Nessa ocasião, palestrou em diferentes universidades brasileiras, concedendo entrevistas e estabelecendo contatos com diferentes intelectuais, abrindo caminho para tradução e publicação de suas obras no país. Até o momento, temos as seguintes obras de Manacorda publicadas em nosso idioma: “Marx e a pedagogia moderna”; “O princípio educativo em Gramsci”; “Marx e a liberdade”; “História da Educação: da Antiguidade aos nossos dias”. Esta última constitui o foco dessa comunicação por apresentar um panorama da História da Educação numa perspectiva marxista. A primeira edição italiana é de 1983, sendo publicada, no Brasil, em 1988 e, na atualidade, está na 14ª edição. O objetivo deste trabalho é verificar a difusão e a influência desta obra no campo da História da Educação no Brasil, especificamente, na elaboração de teses e dissertações, produzidas nas universidades públicas federais das regiões Nordeste e Sudeste, no período de 2009 a 2012. Para essa investigação, foram utilizados os dados disponíveis nos Cadernos de Indicadores da CAPES, constituídos a partir das informações preenchidas anualmente pelos programas de pós-graduação e enviadas por meio do Coleta de Dados. Entre os dados qualitativos está a categoria Teses e Dissertações, que apresenta todos os trabalhos defendidos por instituição/ano, contendo: nome do autor; título do trabalho; área de concentração; linha de pesquisa; entre outros. Foram selecionados todos os trabalhos inseridos nas linhas de pesquisa fundamentos da educação e afins. Em seguida, buscou-se identificar a presença do livro de Manacorda nas referências dos trabalhos, destacando aqueles em que a obra se fazia presente. Com esta incursão, procurou-se quantificar a presença do autor nestas elaborações e analisar como o livro está sendo utilizado nas nossas produções acadêmicas. Trata-se de resultados preliminares de um esforço coletivo de mapear essa produção em todas as universidades públicas brasileiras, desde a primeira publicação do livro em questão no Brasil até a atualidade desde o período de publicação do livro no Brasil até a atualidade.

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Sessão Coordenada - 33 CIÊNCIA E EDUCAÇÃO: IMPRESSOS, INTELECTUAIS E DIÁLOGOS ENTRE

OS SABERES MÉDICOS E A PSICOLOGIA NOS PROJETOS DE ESCOLARIZAÇÃO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Coordenador: IRANILSON BURITI DE OLIVEIRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta comunicação coordenada tem por objetivo problematizar os projetos de escolarização que emergiram nas primeiras décadas do século XX e que estabeleceram diálogos com os campos de conhecimento médico e psicológico. Para tanto, propomos estabelecer reflexões sobre impressos de intelectuais que desenharam novas rostidades para a infância no referido contexto, elaborando paisagens médico-educativas para meninos e meninas em idade escolar. O interesse é problematizar os discursos médico-pedagógicos sobre a infância tomando como referencial o discurso médico-higienista que circulou tanto na imprensa pedagógica (a exemplo do jornal oficial O Educador – Órgão do Professorado Primário, publicado na província da Parahyba do Norte) quanto em publicações de intelectuais brasileiros do porte de Belisário Penna, Renato Kehl e Maria Lacerda de Moura. Para a análise documental operamos com o campo historiográfico dos fundamentos teórico-metodológico da Nova História Cultural, fazendo a leitura dos impressos e manuais pedagógicos que elegemos como fontes, dialogando, sobretudo, com a análise do discurso e a genealogia, além das noções de governamentalidade, biopoder e normalização. A perspectiva investigativa em História Cultural da Educação nos possibilita interrogar os discursos de verdade elaborados e legitimados pelo ideário republicano. Tal ideário foi veiculado na imprensa pedagógica, no projeto científico de educação da infância formulado por Maria Lacerda de Moura e apresentado à Secretaria do Interior do Estado de Minas Gerais no ano de 1919, bem como em obras voltadas para o professorado (Em torno da Educação, de 1918 e Renovação, de 1919, ambos de Maria Lacerda de Moura); para as crianças (Fada Hygia, do médico-higienista Renato Kehl, publicado em 1925), para a instrução e o público em geral (Higiene para o povo: amarelão e maleita, do médico-sanitarista Belisário Penna, editado em 1924). Portanto, a partir dessas fontes, pretendemos problematizar a produção e circulação do discurso higienista nos projetos de escolarização nas primeiras décadas do século XX, colocando em suspeição os repertórios culturais e políticos, a partir dos quais a sociedade promoveu a produção de sentidos sobre a infância, e as maquinarias de governo da infância que esta formação discursiva produziu e pôs em funcionamento, no horizonte da formação da nação e de um sentimento cívico nacional. Compreendemos que as práticas discursivas dos intelectuais presentes em diversas publicações (livros, jornais, requerimentos e projetos) possibilitaram o surgimento de verdades sobre a regeneração da raça pela prática higienista e eugênica, sobre a instrução pública, e sobre o professor ideal para lidar com a infância a ser cuidada.

“AS EXIGENCIAS DA HYGIENE INTELECTUAL SERÃO MUITO NECESSÁRIAS AFIM DE SE EVITAR UMA RAÇA DEGENERADA”: DISCURSOS SOBRE A INFÂNCIA NAS PÁGINAS D’ O EDUCADOR

Maria do Socorro Nóbrega Queiroga

A pesquisa analisa os discursos sobre a infância e a instrução pública, em textos jornalísticos que circularam na Paraíba na Primeira República (1921-1922). O interesse é problematizar os discursos médico-pedagógicos sobre a infância tomando como referencial o discurso higienista que circulou na imprensa pedagógica, no caso o jornal oficial O Educador – Organ do Professorado Primário, publicado na província da Parahyba do Norte, e dirigido aos professores, como dispositivo para a sua formação. A pesquisa da fonte – jornal O Educador – foi realizada no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba – IHGP, onde se encontra depositado e ao qual tivemos acesso através de cópia digitalizada. Para a análise documental operamos com o campo historiográfico dos fundamentos teórico-metodológico da Nova História Cultural, fazendo a leitura do impresso pedagógico que elegemos como fonte a partir das teorizações de Roger Chartier e da analítica foucaultiana, sobretudo a análise do discurso e a genealogia, além das noções de governamentalidade, biopoder e normalização. A leitura dos impressos possibilitou o conhecimento sobre uma preocupação com a instrução primária e o analfabetismo na Paraíba em início do século XX, e aponta novos indícios acerca do ideário higienista que atravessa os discursos em diferentes matérias, as quais nos ajudam a compreender sobre a história da infância na Paraíba no século XX, sobre a instrução escolar, civilidade, desenvolvimento mental, higiene social e disciplinamento dos corpos. A perspectiva investigativa em História Cultural da Educação nos possibilita interrogar os discursos de verdade elaborados e legitimados pelo ideário republicano, veiculados na imprensa pedagógica paraibana – ou seja, a

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produção e circulação do discurso higienista, entre os anos de 1921-1922; e sobre os repertórios culturais e políticos, a partir dos quais a sociedade promoveu a produção de sentidos sobre a infância, e as maquinarias de governo da infância que esta formação discursiva produziu e pôs em funcionamento, no horizonte da formação da nação e de um sentimento cívico nacional. Compreendemos que as práticas discursivas possibilitaram o surgimento de verdades sobre a regeneração da raça pela prática higienista, sobre a instrução pública, e sobre o professor ideal para lidar com a infância a ser cuidada. Essas foram as condições de possibilidade para compreendermos o que a sociedade paraibana da época pensava, o que escrevia, e o que a expertise da educação local propunha como leitura para a formação dos professores e de como deveria ser educada a infância, através de aconselhamento dirigido às instituições de ensino, por pessoas autorizadas a dizerem sobre a infância, na imprensa pedagógica, legitimado pelos saberes modernos, sobretudo a medicina, a psicologia e a pedagogia.

A FADA HYGIA: RENATO KEHL E AS LEITURAS SOBRE A INFÂNCIA BRASILEIRA

Iranilson Buriti de Oliveira A presente pesquisa aborda as imagens construídas pelo intelectual e médico-higienista Renato Ferraz Kehl (1889-1974) sobre a educação sanitária e a higiene da infância no período da Primeira República (1889-1930), tendo como fonte o livro para crianças A Fada Hygia: primeiro livro de higiene, publicado pela primeira vez em 1925, em São Paulo, e adotado pelas diretorias de instrução pública desse estado, bem como do Distrito Federal, Pará e Pernambuco. A partir desse livro, problematizarmos as aproximações entre os saberes médico e o pedagógico, num contexto em que o Brasil precisava se inscrever internacionalmente como a pátria da “ordem e do progresso”. Para analisarmos a obra em apreço, lançamos mão em nossa metodologia de teóricos da Nova História Cultural francesa, dentre os quais Roger Chartier e Michel de Certeau, com os quais dialogamos com os conceitos de recepção, leitura, cotidiano, estratégias e táticas. Esses teóricos nortearam a leitura documental e foram fundamentais para recortarmos os objetivos da pesquisa, dentre os quais fazer aproximações entre os saberes médico e o educacional, tomando como referência temporal a Primeira República. Nessas aproximações, analisamos a presença do discurso médico orientando o saber pedagógico e a recepção desse ideário médico-sanitarista pelos educadores do Brasil. Desta forma, a pesquisa objetiva colocar em análise os escritos de Renato Kehl acerca da educação higienista na Primeira República, mostrando como este médico procurava apresentar as heterogeneidades acerca da saúde e da doença da cartografia brasileira, particularmente da infância. A importância das aproximações entre os campos médico e pedagógico consiste no próprio estatuto de saber médico na Primeira República, principalmente a partir das primeiras décadas do século XX. Neste contexto, os médicos chamaram para si o poder de remediar e educar a população, curar os “males do país”, assumindo a questão da educação pública. Os discursos médicos vinham quase sempre acompanhados por uma preocupação com a legitimidade, com o controle social e com a afirmação desta categoria profissional como fundamental para a implementação de um projeto saneador e modernizador. Dessa forma, médicos como Renato Kehl estabeleceram as escolas como clínicas em que os males nacionais associados à mistura de raças poderiam ser curados. Suas crenças forneceram um poderoso motivo para a construção de escolas e moldaram a forma de seu funcionamento. Como um “fervoroso” defensor da aliança entre pais e escola, objetivando melhorar tanto o organismo das crianças quanto o da sociedade brasileira, Renato Kehl reclamava, em seus escritos, da falta de interesse dos pais pela educação dos filhos e do governo federal para salvar o Brasil pela educação. A Fada Hygia, portanto, é um livro no qual ganham visibilidade os discursos para pedagogizar a própria escola, alertando-a sobre a importância da educação em seu sentido mais amplo.

DA DESGRAÇA DA DOENÇA AO MILAGRE DA CURA: AS IMAGENS COMO DISPOSITIVO CIENTÍFICO- EDUCATIVO NO LIVRO, DE BELISARIO PENNA, HIGIENE PARA O POVO: AMARELÃO E MALEITA

Eliane Vianey de Carvalho

Este trabalho tem por objetivo analisar o papel educativo das imagens presentes no livro Higiene para o povo: amarelão e maleita, do intelectual e médico sanitarista mineiro, Belisario Penna, cuja primeira edição é de 1924 (SILVA, 2013, p. 63) e foi direcionado à instrução pública. A análise se apóia nas noções e conceitos de Michel Foucault, principalmente, sobre a biopolítica (2005). Penna teve grande inserção social no país. Sua atuação médica iniciou-se no final do século XIX, e, logo no início do século XX, já estava à frente de projetos nacionais de saúde pública, como inspetor sanitário, sob o comando do médico Oswaldo Cruz que, na época, era o responsável pelos serviços federais de saúde. Belisario Penna atuou em mais de 22 estados do Brasil, fez intervenções médicas, pesquisou a ocorrência de doenças na população e realizou extensas campanhas de

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educação sanitária. Teve uma vida política ativa, assumiu vários cargos públicos, entre eles a direção do Departamento Nacional de Saúde Pública, nos anos de 1930 (THIELEN e SANTOS, 2002). Além da saúde pública, o sanitarista esteve presente em vários encontros educacionais, apresentou diversos trabalhos sobre higiene e educação sanitária, realizou palestras e conferências, e, também deixou livros e textos publicados, entre eles, o livro sobre Higiene, que é objeto de investigação deste trabalho. A Higiene, na época, era tratada e difundida por médicos, intelectuais, políticos e educadores, como uma ciência, cuja finalidade era preservar a saúde (ROCHA, 2003). Com isso, surgem vários dispositivos em prol da educação higiênica e sanitária da população, como o livro estudado. O autor direciona o livro a “todos os habitantes do Brasil que saibam ler: aos alunos das escolas primárias, secundárias, superiores; aos operários das fábricas e aos patrões; aos trabalhadores rurais, aos fazendeiros e aos sitiantes, aos jornalistas, aos padres, aos políticos, aos administradores federais, estaduais e municipais” (PENNA, s/d, p. 03). Uma vez que, “por ignorância de rudimentares preceitos de higiene, a população brasileira está bichada, intoxicada, com os intestinos transformados em carniças vivas de vermes, que se podem extinguir, e, melhor ainda, evitar completamente” (PENNA, s/d, p. 10). A busca pelo progresso do Brasil dependia da educação, para isso, Penna se utilizou, exaustivamente, das imagens como dispositivo persuasivo para ilustrar seus textos e educar (governar) a população, por meio da polaridade doença versos saúde. As imagens contrastam a desgraça da doença e o milagre da cura para persuadir a população a tratar das enfermidades, adquirir hábitos higiênicos, tornar-se forte e saudável para contribuir, com seu valor biológico, ao progresso do Brasil.

MARIA LACERDA DE MOURA E A PSICOLOGIA EXPERIMENTAL PARA A EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA EM MINAS GERAIS (1919)

Paula Cristina David Guimarães

O presente trabalho descreve e analisa o projeto científico de educação da infância formulado por Maria Lacerda de Moura e apresentado à Secretaria do Interior do Estado de Minas Gerais no ano de 1919. Tal projeto se apresenta no formato de um requerimento, em que a professora da cidade de Barbacena-MG expõe seus objetivos para realizar estudos de psicologia experimental aplicados à pedagogia e solicita autorização do Estado para aplicá-los nas escolas da sua cidade. Em anexo ao requerimento estão seis pareceres que ora aceitam, ora refutam o projeto de Maria Lacerda e que fornecem informações valiosas sobre os debates travados sobre as questões da psicologia aplicada à educação em Minas Gerais no início do século XX. A referida fonte de pesquisa é inédita e se completa com outros impressos e fontes produzidos sobre e por Maria Lacerda no período em que atuou na cidade de Barbacena. Trata-se de documentos diversos da Escola Normal de Barbacena, lugar em que atuou como professora de Pedagogia e Higiene entre os anos de 1908 e 1921; também de livros de sua autoria, tais como Em torno da Educação (1918) e Renovação (1919), em que expõe seus ideais de educação da infância; e também jornais da época, que noticiaram sua atuação enquanto reformadora social ao atuar na Liga Barbacenense contra o Analfabetismo, ao criar uma vila para as pessoas pobres de sua cidade, e na fundação de um lactário para crianças pobres. O recorte temporal (1919) contempla o período em que a professora mineira escreve o seu projeto enquanto educadora na cidade de Barbacena – MG e se justifica pela riqueza das fontes encontradas até o momento bem como pela falta de pesquisas que comtemplem esse período de sua atuação. Já a proposta do trabalho se justifica pela possibilidade de “lançar luzes”’ sobre as experiências da psicologia experimental aplicada à educação da infância 10 anos antes da chegada e atuação de Helena Antipoff no Estado Mineiro, percebendo em que medida educadores e políticos mineiros pensavam a condição da educação aliada à ciência para a formação da infância em um momento anterior a utilização desse recurso no âmbito das diretorias de instrução pública. Para a análise dos discursos e práticas que perpassaram o projeto científico de educação da infância de Maria Lacerda de Moura são utilizadas as ferramentas de análise formuladas por Michel Foucault, principalmente aquelas que nos ajudam a compreender as relações de poder, a produção de saber e de verdade no interior das ciências.

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Sessão Coordenada - 34 GEOPOLÍTICA DOS SABERES PEDAGÓGICOS E OS PERIÓDICOS

EDUCACIONAIS NO SÉCULO XIX

Coordenador: JOSÉ GONÇALVES GONDRA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Os saberes pedagógicos foram objeto de múltiplas iniciativas que visaram convencionar o permitido e o proibido em termos de doutrina pedagógica. Dentre elas, podemos destacar o processo de formação escolar dos professores, a sofisticação dos exames de seleção, bem como inúmeras ações no campo da agremiação e de reuniões pedagógicas ao longo do século XIX em diversas províncias. Essa mesa focaliza a produção de impressos pedagógicos em três províncias brasileiras, a saber, Rio de Janeiro, Ceará e Pará. Os estudos incidem sobre cinco revistas e um jornal. No que se refere às revistas, trabalhamos com periódicos que apresentam uma perspectiva nacional, na medida em que recobrem temas extra-provinciais. Trata-se das revistas A Instrucção Nacional: revista de pedagogia, sciencias e letras (Rio de Janeiro, 1873), American Journal of Education (Hartford, Connecticut, 1855-1881), A Escola (Rio de Janeiro, 1878-1879), Anales de la educación común (Buenos Aires, 1858-1874) e Revista de Educação e Ensino (Pará, 1891-1900). No que se refere ao jornal, trabalhamos com o Cearense (Ceará, 1881), enfatizando a análise do relatório de viagem realizada por Amaro Cavalcanti aos Estados Unidos, refletindo o suporte, mas também a função autoral que nele se efetiva. No exame desse conjunto documental, procuramos observar as condições de produção desses impressos e ciclos de vida, como para compreender um movimento de abrangência nacional em sua capilaridade. Como indagação complementar, exploramos uma entrada específica para analisar as referências ao "nacional" e ao "estrangeiro" em algumas revistas do XIX. Com isso, observamos aspectos do processo de montagem de uma agenda constituidora do campo educacional e dos próprios impressos, identificando o mapa da comunicação e os conteúdos do que se comunica. Temos assim, ainda que indiciariamente, um pequeno atlas da geopolítica do conhecimento pedagógico, com as instituições envolvidas, estratégias, saberes mobilizados e sujeitos em ação. Por meio desse recorte suplementar, refletimos sobre os sistemas de trocas dentro da América, para sublinhar os processos de inclusão e de veto nos impressos por nós selecionados. Assim, procuramos sustentar que o debate pedagógico se processa de modo policéfalo, sem um único centro, seja no interior das nacionalidades, seja nas mediações e hierarquizações transnacionais em curso ao longo do século XIX. Palavras-chave: historiografia, periódicos pedagógicos, história da educação na américa

DO CEARÁ PARA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA: RELATÓRIO SOBRE A INSTRUÇÃO PÚBLICA NO JORNAL CEARENSE DE 1881

Fabiana Sena

Em 29 de julho de 1880, o professor em exercício de Latim, Amaro Cavalcanti, na cidade de Baturité, província do Ceará, foi comissionado para estudar o sistema de instrução elementar nos Estados Unidos da América, pelo presidente desta província, o senador Pedro Leão Velloso. Durante a sua estada na América, o professor de Latim aproveitou a oportunidade para obter o título de bacharel em Direito, na Albany Law School of Union University, em Nova York. Após um ano excursionando por este país, o docente, em seu retornou à província, publicou o relatório sobre as suas observações acerca da instrução no jornal Cearense no período de 07 de setembro a 21 de outubro de 1881. Essa produção, entretanto, não foi privilégio apenas dos leitores cearenses, uma vez que o Ministério do Império foi contemplado com 5 exemplares. De acordo com o periódico supracitado, o relatório é composto de três partes: a primeira refere-se à educação em geral; a segunda trata da educação nos Estados Unidos da América; e a última sobre as reformas pertinentes à província do Ceará. Nele estão presentes também dados estatísticos da educação estadunidense, bem como as visitas aos principais institutos de educação nos vários estados. Após o regresso, a carreira de Amaro Cavalcanti tomou outras direções. Em outubro de 1881, por exemplo, assumiu a Direção Geral da Instrução Pública da província do Ceará. No ano de 1883, ele foi designado pelo Ministro do Império para reger uma turma de Latim do 2º ano do externato do Colégio Pedro II. Já em 1884 tornou-se Deputado-Geral pela província do Ceará. Na esteira dos estudos de Gondra sobre a instrução pública na América, que analisam o direcionamento do olhar da elite brasileira oitocentista sobre a educação para os Estados Unidos da América, estes colocam em evidência os referenciais desse país para o projeto civilizatório no Brasil. Com o propósito de investigar esses referências, este estudo busca dar visibilidade ao relatório do professor Amaro Cavalcanti por meio do jornal Cearense do ano de 1881, no qual apresenta dados da sua viagem aos Estados Unidos da América. Para tanto, faz-se necessário considerar o suporte onde o relatório foi publicado, pois concebemos o jornal como o lugar tanto das aspirações do privado quanto do coletivo. Outro dado a ser

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considerado para este estudo é a autoria do relatório. Para esse propósito, buscamos identificar a circulação do professor, advogado e político Amaro Cavalcanti na sociedade cearence e brasileira oitocentista por meio da imprensa, bem como a atuação dele na instrução pública. Nessa perspectiva, o estudo do relatório de viagem do professor no jornal possibilita compreender a participação da imprensa para a discussão e projeto de educação a partir de um novo modelo educacional para a província do Ceará, inserindo-a no Brasil moderno e civilizado. Palavras chave: Instrução, CE

INSPECIONANDO OS SENTIDOS DA “REVISTA DE EDUCAÇÃO E ENSINO” NO PARÁ DO SÉCULO XIX

Sonia Maria da Silva Araujo A comunicação tem como objeto de discussão a Revista de Educação e Ensino, publicada no Pará, na última década do século XIX. A questão que procuramos responder é: que sentidos assumem a produção da Revista de Educação e Ensino na história da Instrução Pública do Pará e sua relação com a consolidação do estado nacional brasileiro? Assim, objetiva-se compreender os sentidos local e global da Revista de Educação e Ensino na complexa condição histórica da Instrução Pública do Pará no final do século XIX ao se inspecionar a dimensão interior e exterior de seu conteúdo. Metodologicamente, operamos uma análise que estabelece relações entre o mundo interior do texto e seu exterior. Nesta direção, realizamos o estudo em três etapas: 1) Levantamento e localização dos números publicados do periódico; 2) Cotejamento do interior dos números do periódico, identificando sua estrutura, editor, autores de artigos e vínculos institucionais, temas recorrentes, notas, citações e referências; 3) Identificação de acontecimentos e apresentação de dados sobre a Instrução Pública no Pará; 4) Estabelecimento de conexões entre os dados internos e os dados externos. A Revista de Educação e Ensino, publicada por homens de letras e ciência do Pará sob os auspícios da Instrução Pública do Estado, que vinha sendo articulada muito antes de sua primeira publicação, se materializou para atingir um grupo específico: o professorado primário paraense. O periódico apresenta uma estrutura canônica: editorial, seção de “Sciencias”, seção de “Assumptos Grammaticaes”, seção de “Litteratura”, seção destinada à “Instrucção Pública” e Noticiário. A Revista de Educação e Ensino é publicada em um momento importante da Instrução Pública do Pará – já havia ocorrido um incremento na expansão do número de escolas em todo o Estado e a incorporação, por parte da população mais empobrecida da sociedade paraense, da importância e necessidade da instrução. Do ponto de vista político e econômico a Revista de Educação e Ensino é publicada no final de um século em que a Amazônia sofre profundas transformações por conta: a) da incorporação do norte ao Estado brasileiro e da adesão sangrenta à Independência do Brasil; b) dos projetos ideológicos da Doutrina Monroe, que previa a expansão dos EUA em direção ao vale do Amazonas; c) da exploração da borracha. Mediante tal contexto, a Revista de Educação e Ensino, composta discursivamente de textos pautados na ‘sciencia’, no domínio culto da língua, na assimilação de valores suscitados pela literatura que publicava e em informação sobre Instrução Pública, dirigida ao professorado primário, se constitui em mais um instrumento da política de educação da população em direção à incorporação ‘qualificada’ do norte ao Estado do Brasil e à soberania de seu território continental, moderno e livre. Palavras chave: Revista de Educação e Ensino – Pará – Estado Nacional Brasileiro. O “NACIONAL” E O “ESTRANGEIRO” NA REVISTA A INSTRUCÇÃO NACIONAL: INVESTIGAÇÕES SOBRE

O CAMPO EDUCACIONAL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO (1873)

Giselle Baptista Teixeira Na movimentada década de 1870, vimos emergir na cidade do Rio de Janeiro a chamada “imprensa pedagógica”, que se propunha a trazer mais especificamente as questões referentes à educação e ao ensino. Ao analisarmos os impressos que surgiram neste período, podemos verificar que um dos assuntos comuns que perpassavam os mesmos, era uma prometida reforma da instrução pública, feita pelo Imperador Dom Pedro II no início da referida década que, segundo os próprios professores públicos da Corte, agitou o país inteiro. Objetivando interferir nessa reforma, na busca pelo que consideravam os melhoramentos na instrução, descrita constantemente como “atrasada”, muitos dos sujeitos envolvidos com as questões educacionais recorriam não só a elementos do repertório “nacional”, como do “estrangeiro”. O argumento que prevalecia como técnica de convencimento era a obtenção dos bons resultados alcançados pelos diferentes lugares citados. No intuito de melhor compreender parte dessas comunicações estabelecidas, assim como os seus conteúdos, elejo nesse momento para pesquisa um dos impressos que surgiram nesses anos, intitulado “A Instrucçao Nacional: revista de pedagogia, sciencias e letras”. Publicada no ano de 1873, a iniciativa para a elaboração dessa revista partiu dos destacados professores públicos da Corte, Antonio Estevão da Costa e Cunha e Augusto Candido Xavier Cony. Como o próprio nome do impresso indica, seus idealizadores almejavam uma revista que não se restringisse

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somente ao município da Corte, mas que abrangesse todo o país, sendo um lugar de encontro do magistério brasileiro. Na busca por uma uniformidade no ensino, publicam notícias de outros estados, que serviriam de exemplo, evidenciando uma relação mais próxima com Pernambuco. A valorização das ideias educacionais advindas do estrangeiro, muitos dos quais considerados lugares do avançado e do moderno, também esteve presente nessa revista. A defesa de propostas apresentadas como o ensino obrigatório, as conferências populares, o fim dos castigos físicos e a instrução secundária, foram respaldadas, principalmente, por experiências europeias. Porém, podemos averiguar também, o estabelecimento de relações com países americanos, interesse maior de investigação deste trabalho. Foi possível localizar exaltações ao educador estadunidense Horace Mann, e ao jornalista Benjamin Franklin, com referências a sua obra “Almanaque do Bom Homem Ricardo”, considerado um importante documento da história norte-americana, que também circulou no Brasil. Tais informações dão pistas sobre os processos de constituição do campo educacional no Rio de Janeiro, formado pelo sistema de trocas com outras províncias e países, no qual a imprensa pedagógica exerceu um significativo papel. Palavras-chave: impressos pedagógicos, Rio de Janeiro, comunicações estabelecidas.

REVISTAS PEDAGÓGICAS E GOVERNO (SUAVE E PROLONGADO) DOS PROFESSORES NOS ESTADOS UNIDOS, BRASIL E ARGENTINA (1874-1879)

José Gonçalves Gondra

Juan Suásnabar Formação pela prática, normalização, processos de recrutamento, conferências pedagógicas, sociedades de socorro mútuo, associações literárias e outras modalidades de agremiações, bibliotecas e livros constituem alguns dos dispositivos que configuram as políticas voltadas para a racionalização do trabalho pedagógico. Ao lado desse conjunto de ações que, no limite, definem e modelam a configuração dos saberes pedagógicos e a própria disciplina da pedagogia, é possível observar a emergência e proliferação de diversos impressos de destinação pedagógica, sejam eles jornais, revistas, anuários, relatórios e material traduzido. Nesse trabalho, para pensar a modelagem da agenda da formação docente na América, focalizamos o estudo de revistas, em especial, três periódicos de projeção nacional que circularam em três dos quatro maiores países da América: EUA, Brasil e Argentina. Trata-se do American Journal of Education (1855-1881), A Escola (1878-1879) e Anales de la educación común (1858-1874), respectivamente. O estudo foi centrado em um período de existência comum das três revistas (1874-1879), como forma de flagrar elementos do debate sobre a matéria educativa travada nos três países selecionados nos anos 1870. No exame dessas fontes, procuramos observar homologias e diferenças nos ciclos de vida das revistas, na composição da pauta e no sistema de remissão aos modelos nacionais e estrangeiros. No que se refere ao transnacional, analisamos as experiências selecionadas e o modo como as mesmas são apropriadas localmente com base nos índices presentes nessa documentação. Por fim, uma interrogação adicional consistiu em perceber a presença e o modo como as experiências da América são representadas nesses dispositivos. Com esse exercício, pudemos notar o duplo jogo de legitimação ativado por meio da palavra impressa, isto é, aquele que estabelece seleções e mediações com os poderes locais, intranacionais e o que dialoga com o mundo externo. Por meio dos dois recursos, os periódicos procuram dar visibilidade ao que é considerado como exemplar e recusam o que é classificado como velho e atrasado. Um elemento regular dos enunciados presentes nas polaridades constituídas consiste no deslocamento do professorado para o centro do debate, pois de sua formação dependeria o sucesso dos projetos educacionais em curso. No exame deste tipo específico de documentação também foi possível perceber outros elementos da pauta disputada, bem como as estratégias de imposição de determinados modelos pedagógicos associados a uma escola mais científica considerada, então, uma condição para se trilhar os caminhos incertos do progresso, cujos bons exemplos passam a ser produzidos e identificados, inclusive, nas distintas e desiguais experiências do “novo mundo”. Palavras-chave: Revistas Pedagógicas, Formação de Professores, História da Pedagogia

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Sessão Coordenada - 35 ARCAÍSMO E MODERNIZAÇÃO DO BRASIL NO SÉCULO XIX: ASPECTOS

HISTÓRICOS NOS DEBATES SOBRE A EDUCAÇÃO

Coordenadora: MARCILIA ROSA PERIOTTO Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

O conjunto de trabalhos apresentados refere-se ao século XIX brasileiro e traz o objetivo de abordar temas correlativos à educação no período. Busca-se a vinculação desses estudos a um eixo maior- o da modernização social, econômica e política da sociedade-, entendendo-a como uma avantajada demanda social, imbricada nos projetos que se revestiam de caráter progressista e contrários à manutenção das práticas enraizadas no passado colonial. O debate sobre educação nos Oitocentos assumiu contornos vários: esteve presente na imprensa, nos discursos políticos e nas experiências individuais ou coletivas, marcando cada um deles as especificidades de uma época urgente de propostas capazes de somar forças a modernização, requerendo a impostação de novas práticas sociais, cujo cerne advinha da implantação do trabalho livre e do fim da escravidão. Entretanto, o debate progressista não encontrou espaço acolhedor desde sempre: a sua construção deu-se ao sabor das demandas pontuadas no decorrer do longo século XIX e enfrentou um quadro opositor aguerrido à manutenção dos privilégios e de uma concepção de mundo ligada à superioridade de classe. Estas características estão delineadas perfeitamente nos estudos aqui apontados e transitam pela defesa de um tipo de educação preparadora de quadros burocráticos oriundos das elites locais, como em Sabará a partir de 1850, ou no tomismo vinculado ao Antigo Regime presente nas obras de Direito do professor José Soriano de Souza, escritas nos anos 1870, no posicionamento do Dezenove de Dezembro (1854 a 1890), jornal de circulação nos campos de Curitiba a respeito da formação de identidade dos paranaenses elevados a provinciais e, ainda, a proposta de educação feminina emergente em dois jornais estudantis publicados na capital do Maranhão, e divergentes quanto ao novo papel da mulher frente à nova realidade política e social nos fins dos Oitocentos. O ponto de unidade dos estudos é a compreensão da importância da educação na formação de indivíduos que se presumiam necessários a manutenção das prerrogativas elitistas ou a construção de uma sociedade moderna e progressista. A História da Educação requer este esmiuçar historiográfico, fundamental à delimitação cada vez mais precisa do próprio campo e das respostas que a época de hoje exige no sentido de se superarem os obstáculos interpostos ao estabelecimento de uma sociedade democrática. Neste sentido, os estudos buscam compreender os processos históricos que pontuaram o decorrer do século XIX brasileiro, inclusive os debates sobre a educação e os diversos propósitos nela existentes.

A EDUCAÇÃO FEMININA NA IMPRENSA MARANHENSE: OS JORNAIS A ESCHOLA E O ENSAIO (1891)

Marcilia Rosa Periotto Adriene Santanna

É um estudo sobre o modelo de conduta feminina determinado às mulheres em fins do século XIX. Os jornais A Eschola (1891) e O Ensaio (1891), publicados no Maranhão, são exemplos de imprensa envolvida na definição de modelos de comportamento feminino. Esses jornais dirigidos por estudantes em São Luís expuseram uma forma de educação centrada nos velhos costumes e ideias, em oposição aos conteúdos educativos requeridos na construção e afirmação do ideal feminino moldado nas transformações que atingiam o domínio patriarcal e permitia às mulheres uma participação mais direta na dinâmica social brasileira. Considera-se o fato dos jornais terem sido publicados no ocaso do século XIX, tempo de acentuada perda na supremacia da classe dominante ligada à agricultura e ao latifúndio. A riqueza material passava a ser também produzida nas cidades com a instalação de manufaturas e do trabalho dos imigrantes europeus, provocando profundas transformações no corpo social, político e econômico brasileiro. O estudo objetiva traçar as condições de submissão das mulheres no final do século XIX e os propósitos estabelecidos na sua educação. As mulheres pouco conviviam fora do círculo familiar ou social, eram educadas a cultivar comportamentos condizentes ao extrato social dominante e tinham a tarefa de perpetuá-los. Esse tipo de educação não descuidava das questões morais, pois se entendia que a menina, ao se casar, seria o esteio do lar, e da formação dos filhos. Tinha que ser bem educada, nos moldes rígidos do comportamento para também bem educar e manter acesa nos filhos a chama da natural superioridade de classe. Nos jornais da época verificam-se propostas educativas voltadas às mulheres. A elas traçava-se um modelo do feminino muito mais relacionado à manutenção do status social do que a um modelo modernizado de feminilidade, sobretudo diante da chegada massiva de imigrantes que traziam mulheres trabalhadoras, e muitas

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delas atuantes intelectualmente nos seus meios de origem e praticantes de uma liberdade garantida pela prática do trabalho livre nos seus países de origem. A imprensa, de modo geral, põe-se como um espaço privilegiado da memória histórica. Exatamente por trazer as marcas das transformações, da luta pela consolidação da nação, de busca da identidade nacional, de estabelecimento de modelos sociais ou de oposição aos que denotavam modernização dos hábitos e punham a perder o modelo patriarcal, faz-se num objeto que merece dos pesquisadores uma atenção redobrada. A História da Educação e a pesquisa muito têm a analisar nos impressos jornalísticos, na medida em que neles se encontram irrevogáveis marcas de um tempo histórico que até os dias de hoje ainda persistem amalgamados no ideário social. Palavras-Chave: Educação- Imprensa; Modernização Social; Educação Feminina.

LIÇÕES PARA A MODERNIZAÇÃO DA PROVÍNCIA DO PARANÁ NO JORNAL O DEZENOVE DE DEZEMBRO (1854-1871)

Celina Midori Murasse Mizuta

Trata-se de um estudo documental de caráter histórico que tem como objeto e fonte de pesquisa o jornal O Dezenove de Dezembro (ODD), o primeiro periódico a circular na Província do Paraná. Cândido Martins Lopes, editor e proprietário do jornal, era tipógrafo conhecido pela qualidade de seus trabalhos em Niterói. A convite do Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, presidente da província do Paraná, instalou a Tipografia Paranaense em Curitiba, na Rua das Flores número 13. O primeiro número do jornal circulou no dia 1 de abril de 1854 e o último no dia 9 de abril de 1890. Cândido Lopes prometera isenção política na publicação dos atos oficiais do governo provincial e da assembleia legislativa, promessa difícil de ser cumprida. Manteve-se à frente do empreendimento até dezembro de 1871, quando faleceu. O texto mostra a ação político-educativa dos artigos publicados no jornal, sejam oficiais ou a pedido dos moradores da província ou ainda o próprio editorial. No caso dos atos oficiais, evidenciavam a necessidade de dar forma e direção à província do Paraná, apontando quais eram as novas normas estabelecidas para o seu funcionamento. Em caso de descumprimento dessas regras, o governo provincial aplicava as sanções cabíveis, por exemplo o caso que envolveu o senhor Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, nomeado pelo presidente de província Vasconcellos para o cargo de inspetor geral da instrução pública. O inspetor comunicou a autoridade provincial que um dos professores se recusava a cumprir as determinações oficiais. O jornal publicou o desenrolar e o desfecho do episódio com a penalidade aplicada ao professor. Em relação ao pedido dos moradores, selecionamos o caso da negra liberta Francisca Placidiana e seus quatro filhos que, após a morte de sua senhora, foram incluídos no inventário, partilhados pelos herdeiros e escravizados em Castro. O periódico ODD apresentou a petição elaborada e enviada por Antonio Rufino Nunes ao presidente de província, bem como o encaminhamento da solicitação e a decisão final. Quanto ao editorial do jornal ODD, o destaque coube ao posicionamento frente à questão da imigração na província paranaense, desde o artigo de esclarecimento ao público sobre a Lei de Terras de 1850, a divulgação da Lei n. 29 de 21 de março de 1855 que incentivava a imigração na província, além de fatos relacionados aos imigrantes. Todos esses artigos contribuíram para a formação e a modernização da província do Paraná e, ao mesmo tempo, para a conscientização e a educação dos moradores quanto à sua nova condição de paranaenses e as ações dela decorrentes. Para os pesquisadores no campo da História da Educação, o jornal traz preciosas lições de História do Paraná e do processo educativo instaurado na província paranaense nos oitocentos. Palavras-chave: Educação, Modernização, O Dezenove de Dezembro.

UM ESTUDO DO “COMPÊNDIO LIÇÕES DE PHILOSOPHIA ELEMENTAR RACIONAL E MORAL” DE JOSÉ SORIANO DE SOUZA (1871)

Cristiano de Jesus Ferronato

O objetivo deste trabalho é analisar à luz da História da Educação o compêndio “Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral”, de José Soriano de Souza, publicado em 1871 e a sua influência no ensino de filosofia no Brasil nos Oitocentos. No seu percurso intelectual José Soriano foi aluno do Lyceu Provincial da Parahyba do Norte, atuou como professor da cadeira de Filosofia no Gymnásio Provincial Pernambucano e teve segundo alguns pesquisadores, muita influência no campo da Filosofia brasileira nos Oitocentos. Publicou ainda vários trabalhos onde se destacam temas como a religião, o Direito, entre estes se destacam o “Compêndio de Philosophia ordenado segundo os princípios e methodo do doutor Angelico S. Thomaz de Aquino”, “Elementos de Philosophia do Direito”. Soriano teve ainda uma grande atuação nos jornais de Recife atuando como redator e jornalista em vários periódicos na segunda metade dos Oitocentos entre estes: o Cathólico, (1872), A Esperança (1864) e A União. O Compêndio ao qual aqui nos detemos “Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral”,

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escrito por ele, foi adotada como manual de filosofia no Gymnásio Pernambucano, instituição de ensino secundário na qual lecionava. A obra de José Soriano de Souza trouxe no momento de sua publicação elementos que remetiam ao pensamento tomista francês do Antigo Regime. Segundo Barbuy (2012), Soriano de Souza foi o mais significativo vulto do pensamento tomista brasileiro do século XIX. Sendo este um dos elementos que caracterizam o autor como o primeiro a difundir o tomismo no Brasil, nossa análise da obra parte destes aspectos e de como eles se inserem no campo da história da educação. Para Deleuze (1992) os filósofos trazem novos conceitos, os expõem, mas não dizem, pelo menos não completamente, aos quais problemas esses conceitos respondem. Diante disso, pretende-se investigar os aspectos inovadores e não somente reprodutores no ponto de vista do pensamento filosófico de José Soriano. Por meio do ensino de filosofia, da pessoa do professor José Soriano de Souza e sua obra Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral, pretende-se aqui buscar as bases para compreensão das diversas especificidades, signos e representações da área pesquisada. Como historiadores, sabemos da impossibilidade de reconstituir o passado tal como ele foi vivenciado, o máximo que podemos é recuperar algumas facetas, parte de um todo muito mais complexo e dinâmico. Para a análise aqui proposta direcionamos o nosso olhar para a História Cultural e entendendo o livro didático como objeto cultural, buscamos manter diálogos com alguns estudiosos desta área como Chartier (1998), Chervel (1990); Choppin (2004), Abreu (1999), Bittencourt, (2004), Felgueiras (2010). Palavras-chave: Filosofia. Compêndio. Oitocentos. A CÂMARA MUNICIPAL DE SABARÁ E A FORMAÇÃO DA ELITE SABARENSE NA SEGUNDA METADE DO

SÉCULO XIX

Marileide Lopes dos Santos

O trabalho aborda o envolvimento dos camaristas de Sabará/MG com a instrução da “mocidade” na segunda metade do século XIX. O debate sobre a instrução esteve presente no centro das preocupações dos vereadores de Sabará durante o século XIX, em alguns momentos de forma mais intensa e, em outros, apenas tangenciado. A partir de 1850 o debate voltou-se para o ensino secundário, tornando-se mais presente nas falas dos camaristas. Colégios particulares, como o Emulação Sabarense, o Externato da Cidade e a Escola Normal de Sabará foram espaços em que os vereadores atuaram na condição de professores, pais de aluno, parentes de docentes, ou como cidadãos preocupados com os rumos do Brasil. Essa inquietação com a educação expressava o desejo da “prosperidade” do município como ainda de verem seus filhos preparados para serem “colunas” da “nação”. Além da documentação da câmara municipal - especialmente atas e ofícios, os jornais foram grandes colaboradores na difusão de ideias sobre a educação sabarense e das atividades das instituições escolares desse período. As fontes que contribuem para o cruzamento de dados do presente trabalho são os jornais O Bom Senso, Diário de Minas, O Correio Official de Minas, O Liberal Mineiro, A Folha Sabarense e O Contemporâneo. A imprensa oportuniza apreender que o envolvimento político desses indivíduos não deixou de fazer parte dessas instituições. Tanto a Câmara como as instituições escolares foram espaços de sociabilidades dos grupos de dirigentes locais. O colégio Emulação Sabarense – fundado em 1853, pelo médico e vereador Anastácio Symphronio de Abreu recebeu em seu quadro alunos das elites locais que, em tempos vindouros, se constituiriam em alguns dos políticos que viriam a assumir a administração municipal e atuariam no campo da educação, assim também o Externato de Sabará, criado em 1867. Essa instituição foi espaço não só da instrução da mocidade, mas também de intensa vivência política e social. A Escola Normal sabarense, instalada em 1882, levou para o município novas perspectivas de instrução, e por ela passaram vários alunos e professores que tiveram de algum modo ligação com a Câmara, como por exemplo, os descendentes de vereadores e ex-vereadores que foram docentes na instituição. A elite sabarense, ou pelo menos parte dela, demarcou bem seu lugar nessas instituições demonstrando que os esforços educativos visavam apenas a “mocidade” que fazia parte de seus quadros. Levando-se em consideração o fato de que vários dos camaristas passaram por cargos da burocracia administrativa do Estado, podemos considerar que esse movimento também se constituiu num processo de educação política, nos tramites da administração pública imperial e no qual os jornais expressaram as demandas da época. Palavras-chave: Educação e imprensa, Política, Sabará- Século XIX.

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Sessão Coordenada - 36 AS MULTIFACES DAS RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO E MODERNIDADE

NO BRASIL IMPERIAL

Coordenador: MATHEUS DA CRUZ E ZICA Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Apresentamos como temática geral desta comunicação coordenada a recorrência das relações que passam a ser estabelecidas entre educação e modernidade em discursos produzidos por sujeitos situados em diversificados lugares de enunciação no Brasil do século XIX. As quatro partes integrantes dessa comunicação coordenada resultam da contribuição efetiva que um Programa de Pesquisa nacionalmente articulado e apoiado pelo CNPq tem proporcionado enquanto agente de integração entre pesquisadores de diferentes universidades e regiões desse país. A partir de uma preocupação central com a circulação de referenciais de Educação, Civilização, Progresso, Modernidade e Nação, cada pesquisador, participante dessa comunicação, irá se debruçar sobre um ponto específico em que tais noções se entrelaçam, de modo a operacionalizar um posicionamento efetivo de sujeitos individuais ou coletivos em seus contextos determinados. Um dos trabalhos presentes nessa comunicação procura esclarecer que a linguagem do direito passa a emergir como a forma, por excelência, para se pensar e expressar qualquer projeto de futuro para a nação, então em construção. A educação foi sistematicamente mobilizada por esse saber jurídico como elemento fundamental para a construção de um país ilustrado, civilizado e polido. Outro resultado de pesquisa, presente nessa comunicação, se dedica a analisar e ressaltar a ideia de que educar e instruir adultos também fazia parte da preocupação da elite letrada brasileira que se dedicava ao vocabulário da filantropia moderna, envidando esforços em prol da construção da nação, por meio de ações concretas, mesmo que, prescindir do apoio efetivo do Estado, necessário fosse. Um terceiro trabalho, que integra a comunicação, ressalta o fato de que num contexto em que a noção liberal de que todos os indivíduos nascem livres e iguais perante a lei já está largamente difundida, instituições como a escravidão e o machismo soam como incômodos indicativos de falta de civilização. Para além das mulheres articulistas, os diversos sujeitos do gênero masculino que, no século XIX, tomam da escrita para fazer uma defesa da educação da mulher em nome da modernização do país evidenciam a complexidade desse momento histórico específico que continua a nos exigir mais cautela nas leituras que fazemos daquele contexto. A quarta reflexão a integrar essa comunicação enfatiza a atenção ao modo como ideias sobre educação e modernidade se entrelaçaram nos discursos produzidos pela classe política dirigente ao longo do século XIX, construindo referenciais estrangeiros, entre os quais destacam-se os casos franceses e norte-americanos. Palavras-chave: Modernidade, Educação, Brasil do século XIX.

MODERNIDADE NA FORMAÇÃO DA CULTURA JURÍDICA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX

Ilka Miglio de Mesquita Gustavo dos Santos

Esta comunicação tem como objetivo analisar configurações de modernidade na formação da cultura jurídica brasileira no séc. XIX. Para realizarmos tal analise tomamos como documento base o livro de Plínio Barreto (1922) intitulado “A cultura Jurídica no Brasil (1822-1922)”, o qual traça a história da formação da cultura jurídica brasileira ao longo da primeira década da independência do Brasil. O autor aponta que alguns homens do Brasil pós 1822 traziam consigo um senso prático das necessidades do país e não desconheciam os valores da cultura jurídica. A obra em evidência, traz também possibilidades de cruzamentos interpretativos de documentos que podem evidenciar a implantação dos cursos jurídicos no Brasil, como as atas da Assembleia Constituinte ao longo das sessões parlamentares e trabalhos acadêmicos dos bacharéis em Direito. As faculdades de Direito do Brasil tiveram uma importância na constituição da cultura jurídica, uma vez que essas instituições estavam nos planos parlamentares não apenas para a formação do Estado-Nação brasileiro, mas em gerar futuros estadistas pelos moldes da ciência do direito moderno. Juntamente com esse livro tomamos os trabalhos acadêmicos produzidos pelos bacharéis da Academia de Direito de São Paulo, em vias de doutoramento, a fim de verificar nessas composições um pensamento de modernidade atrelado à formação da cultura jurídica. Durante o século XIX é possível perceber algumas mudanças na configuração da cultura jurídica brasileira que podem evidenciar noções de modernidade, uma vez que entendemos esse conceito como um conjunto de elementos que se sobrepõe e justapõe ao longo do tempo e que cria relações múltiplas com o espaço envolvido. Dessa forma, buscamos responder às questões: Como se configurou a formação da cultura jurídica brasileira? Que repertório de

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modernidade pode ser evidenciado a partir dessa formação jurídica no século XIX? O exercício histórico-metodológico contribui para história da educação brasileira, uma vez que nos possibilita analisar as noções de modernidade numa obra comemorativa de cem anos da independência, tratando da formação dos juristas brasileiros e da própria organização dos cursos de Direito como instituições formadoras de homens públicos e políticos. Portanto, diante das fontes providas de significações e de possibilidades para a história da educação brasileira acerca de configurações de modernidade, é possível afirmar que a cultura jurídica pode ser compreendida pelo processo de formação acadêmica na Academia de São Paulo, durante o século XIX, projetando para a sociedade do séc. XIX homens de Estado. Palavras-Chaves: Modernidade, Formação, Cultura Jurídica.

MODERNIDADE E FILANTROPIA NA EDUCAÇÃO DE ADULTOS NO BRASIL (1870-1880)

Vera Lúcia Nogueira Esta comunicação objetiva analisar e refletir sobre o sentido das diversas iniciativas voltadas para a instrução e a educação de adultos nas diversas províncias brasileiras e que, nas décadas finais do Império, mobilizou um conjunto de experiências educativas, criadas e mantidas por distintas forças sociais e políticas, vinculadas não somente ao Estado como também à igreja e à sociedade civil, tais como sociedades protetoras da instrução, maçonarias, clubes literários, musicais, abolicionistas etc. Tais iniciativas compreendem parte de um repertório discursivo moderno inserido no projeto de construção da nação empreendido pela intelectualidade brasileira já a partir da década de 30 do oitocentos, na sede do poder político e econômico do país. Uma das condições para se alcançar o status de nação civilizada era a de promover o seu aperfeiçoamento moral, técnico e político e, para a concretização desse ideal civilizatório, muito contribuiu uma das formas de sociabilidade intelectual mais difundidas por meio da imprensa periódica imperial, que foi a filantropia moderna. O vocabulário da filantropia comportava práticas que possibilitavam a identificação dos letrados beneméritos como construtores de lugares de referência de ações e de pertencimento vinculados a um projeto de construção de Nação embasado nos ideais de modernidade e de civilização. A imprensa atuava na difusão e, ao mesmo tempo, na construção dessa concepção de filantropia moderna, seja pela visibilidade que conferia às mais variadas práticas de benevolência realizadas por indivíduos e associações, ou pela possibilidade de fazer circular e de socializar um vocabulário comum que traduzia o sentido de tais ações, destacando, ora seu alinhamento às nações civilizadas, ora o sublime significado humanitário dessas práticas que deveriam ser imitadas por toda a sociedade. A filantropia moderna, diferindo-se da caridade tradicional, rompia com o sentido conferido à ajuda aos pobres e à relação estabelecida com o Estado-nação. Nos Oitocentos acentuaram-se as diferenças entre o sentimento relacionado a ambas evidenciadas com as transformações operadas pelas Luzes no sentimento de caridade. No âmbito da pedagogia, atuava a filantropia na instrução primária dos adultos, com o objetivo de levar as Luzes àqueles que viviam nas trevas provocadas pelo analfabetismo e, bem assim, operar na transformação de comportamentos, atitudes e valores indispensáveis ao progresso moral e material da sociedade. Nesse caso, a função da escola noturna para adultos seria a de fazer de “analfabetos sair homens úteis e verdadeiros cidadãos”, incorporando, dessa forma a população pobre aos costumes, ideias e ao progresso civilizatório. Palavras-chave: Modernidade, Filantropia, Educação de adultos.

ARTICULAÇÕES ENTRE MODERNIDADE, GÊNERO E EDUCAÇÃO EM ESCRITAS MASCULINAS SOBRE O BRASIL OITOCENTISTA

Matheus da Cruz e Zica

Esta comunicação tem como objetivo problematizar representações culturais que articulam gênero, modernidade e educação nas produções discursivas de Presidentes de Província e viajantes europeus que visitaram o Nordeste brasileiro do século XIX. As análises presentes nesse trabalho são frutos do Projeto de Pesquisa que procurou analisar a docência masculina em tempos de feminização do magistério no contexto da Parahyba do Norte. Foram analisados os Relatórios dos Presidentes da Província da Paraíba, produzidos entre os anos de 1840 e 1890, além dos relatos produzidos por viajantes europeus, como George Gardner, Alcide D’Orbigny, Henri Koster e Agassiz, que visitaram as Províncias do Nordeste brasileiro ao longo da primeira metade do século XIX. Pode-se afirmar que esses viajantes europeus estavam atentos a inúmeros detalhes em suas descrições, como relevo, clima, espécies de plantas, mas, também se mostravam interessados pelos contextos socioculturais com os quais se deparavam. Procuramos, nessa ocasião, enfocar mais, detidamente, as representações construídas por eles no que tange às relações de gênero, indagadas, a partir da especificidade de suas posições discursivas, masculinas e europeias, diante das situações sociais encontradas nos trópicos. Outro

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discurso masculino que procurou mapear e dar alguma racionalidade às experiências vividas pelos brasileiros do século XIX foi o dos governantes estatais. Anualmente, os Presidentes das numerosas Províncias brasileiras produziam um relatório minucioso de suas atividades, nos mais diversos ramos da administração pública, para ser endereçado à Corte Imperial. As temáticas concernentes às questões educativas costumavam ocupar um volume importante nesses relatórios. Nessas sessões do relatório relativas à educação podemos ver com frequência o estabelecimento de correlações discursivas entre o progresso da nação, o avanço da educação e a condição do masculino e do feminino nesse processo. Fica evidenciado nas escritas dos europeus e brasileiros analisados que um modo específico de compreensão do mundo está se consolidando ao longo do século XIX. Uma compreensão marcada pela associação entre as noções de progresso e civilização à noção de modernidade. As questões de gênero e da educação não ficam apartadas desse escopo. As conexões entre esses diversos aspectos, na verdade, são fartamente exploradas e dos mais diferentes modos pelos distintos sujeitos masculinos que se valem da escrita, naquele período, a partir de lugares sociais específicos. Para a análise dessa diversificada documentação foram utilizados os aportes teóricos desenvolvidos por Roger Chartier, Reinhart Koselleck e Hans Gumbrecht. Palavras-chave: Relações de gênero, Modernidade, Educação.

A MARCHA DA CIVILIZAÇÃO: LUGARES, ESPAÇOS E PRÁTICAS DE CIVILIDADE E MODERNIDADE NOS DISCURSOS SOBRE INSTRUÇÃO PÚBLICA EM MINAS GERAIS NO SÉCULO XIX

Rita Cristina Lima Lages

A leitura dos discursos da presidência da província mineira, produzidos ao longo do século XIX, permitiu flagrar uma manifestação contínua pela inserção do Brasil no rol das nações civilizadas. Os contornos de uma relação teleológica com a civilização evidenciaram-se por meio de estratégias de educação da população, seja pela via da escola, seja por outras instituições. Ao explorar a semântica dos discursos que pleiteavam a civilização do país, o léxico mobilizado permitiu vislumbrar que, até meados do século XIX, civilizar significava promover hábitos de civilidade, de moral e bons costumes, como expressão de combate à barbárie. Do mesmo modo, verificamos nesse período também a manifestação pelo progresso da nação. Porém, não tão flagrante quanto a partir da segunda metade do século. Já na década de 1850, ao ideal de civilidade viria se acrescentar o anseio de direcionar a nação para a rota do progresso: o progresso da indústria e o progresso através da construção de estradas e demais vias de comunicação. O ideal de civilização se encontra vinculado, logo, ao progresso e aos princípios da modernidade colocados em circulação. Justaposto aos países “adiantados” do Velho Mundo, os Estados Unidos, nessa segunda metade do século, são definidos como a nação exemplo do progresso; e a instrução da população, como razão do prodígio da pátria norte-americana. Pretendemos, nesta comunicação, portanto, uma aproximação das estratégias empreendidas — vislumbradas no plano dos discursos — para se colocar a Província de Minas Gerais na marcha da civilização; de acordo os contornos acima descritos. Na busca do outro e deus códigos de civilização, destacaram como formas de contato: as viagens de estudantes ao estrangeiro, a organização de bibliotecas públicas, as exposições internacionais. E, considerando que esse “outro”, espelho do civilizado e do moderno, era o estrangeiro, ou seja, tratava-se aí dos países considerados adiantados na marcha do progresso e da civilização, o ensino de línguas estrangeiras, por sua vez, pode ser considerado como uma prática mediadora de acesso aos códigos da civilização. Além da instrumentalidade que pode ser atribuída ao aprendizado das línguas: para leituras de livros e jornais estrangeiros, para as viagens de estudantes ao exterior, destaca-se ainda o caráter de distinção conferido àqueles que aprendiam idiomas estrangeiros. Palavras-chave: Instrução Pública, Países Estrangeiros, Modernidade.

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Sessão Coordenada - 37

MODERNIDADE, EDUCAÇÃO E CULTURA NOS PROJETOS DE BRASIL (1920-1940)

Coordenadora: SOLANGE APARECIDA DE OLIVEIRA HOELLER Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação

Esta Comunicação Coordenada demarca matrizes teóricas, instituições, sujeitos e produções escritas, favorecendo a compreensão de nuances do pensamento educacional, político e social no Brasil das décadas de 1920 a 1940. As diferentes opções teóricas, procedimentos metodológicos e a variedade de fontes enriquecem o debate proposto, delineado nos campos sociológico e historiográfico da educação brasileira. Com a proposta busca-se discutir projetos de Brasil, tendo como ponto de convergência diferentes formas de inscrever propostas de modernidade e modernização para o período. Para tanto, articulam-se temáticas que tratam de aspectos que expressam o movimento histórico e social brasileiro, colocando em cena projetos políticos que tomam a cultura, a educação e a modernidade como eixos centrais para a problemática em foco. Problematiza-se, dentre outras questões, os princípios legitimadores da escola moderna, destacando-se a matriz da diferenciação social e as abordagens integracionistas de Durkheim e Parsons, além da perspectiva crítica da dominação e da reprodução social de Bourdieu. Pressupõe-se que o discurso modernizador foi apropriado de diferentes formas pelos projetos de educação, os quais, examinados à luz de princípios dessas matrizes, gravitam em torno da ideia de justiça social. Outra questão crucial para a reflexão proposta é a mobilização de temas centrais para o Brasil dos anos 1920 a 1940, que entrecruzam de maneira complexa projetos modernos com o debate político, educacional e cultural. A trajetória intelectual e política de Sérgio Buarque de Holanda, marcada por um regime escritural poligráfico, que se articulava com a interpretação social e cultural do Brasil, é pródiga, por exemplo, na construção de interfaces indissociáveis entre intervenções na crítica literária, cultural e historiográfica e as experiências republicanas. As críticas do período assinalado, em certo sentido, traziam a exigência de sintonizar o Brasil com “a hora atual do mundo”. Assim, certas narrativas foram construindo uma ideia de educação e modernidade que anunciava a necessidade de sintonizar o projeto educacional brasileiro com a modernidade educacional de países considerados mais avançados. Nos embates e tensões do Brasil republicano das décadas de 1920 a 1940, os projetos colocados em disputa permitem vislumbrar as marcas das trajetórias de sujeitos que em suas vinculações a matrizes teóricas, grupos, instituições, associações, empreendem conflitos que em sua processualidade dão azo à delimitação ética de um espaço público brasileiro. Supõe-se que ao coadunar perspectivas historiográficas e sociológicas sobre os campos educacional, cultural, político e social criar-se-á a oportunidade de discutir alguns dos projetos que se embatem em torno da proposição da “organização nacional através da organização da cultura”, tencionando firmar o Brasil como Nação moderna, favorecendo, assim, uma contribuição consistente e rigorosa para o pensamento social brasileiro.

PRINCÍPIOS LEGITIMADORES DA ESCOLA MODERNA NO CAMPO SOCIOLÓGICO

Ione Ribeiro Valle Que princípios têm fundado os diferentes projetos de escolarização postos em prática ao longo do século XX? A resposta a esta questão supõe a mobilização de diferentes matrizes teóricas. Revisitar uma dessas matrizes edificadas por pensadores clássicos e contemporâneos é o objetivo central desta reflexão. Buscamos, assim, na matriz da diferenciação social duas abordagens integracionistas, de Émile Durkheim (1858-1917) e Talcott Parsons (1902-1979), as quais foram criticadas pela teoria da dominação e reprodução social desenvolvida por Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean-Claude Passeron (1930-). Consideramos que o discurso modernizador foi apropriado de diferentes formas pelos projetos de educação, tendo se pautado em dois princípios que estão na base dessa matriz teórica e que gravitam em torno da ideia de justiça social. Segundo Bruno Garnier (2010), desde que Condorcet (1743-1794) a incluiu no campo dos direitos do cidadão, a educação passou a compor a agenda dos projetos republicanos e a integrar as diferentes retóricas liberais. Se outrora ela era unicamente uma questão familiar, ficando ao abrigo de todo debate sobre a justiça, ao ser vista como um direito torna-se de interesse de todos. Espera-se, desde então, que o desenvolvimento dos sistemas escolares não apenas amplie as habilidades humanas úteis à economia, mas torne os indivíduos e as sociedades melhores e mais “civilizados”. Apesar do estreitamento, em termos ideais, das relações entre educação (escolar) e justiça social, estudos desenvolvidos em diferentes campos do conhecimento têm demonstrado que a apropriação do princípio da igualdade foi, ao longo dos tempos, sendo matizada, ora se aproximando ora se distanciando dos propósitos a ele

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subjacentes. Assim, de uma igualdade de direitos, que se traduz nos projetos de escola pública, gratuita, obrigatória e laica, se evoluiu para uma igualdade de oportunidades, segregando dos projetos de escolarização grandes contingentes populacionais. Nesse quadro de ambiguidades ganha força outro princípio de justiça social: a meritocracia escolar, que harmoniza e legitima diferenças individuais e desigualdades sociais, e vê no mérito a única maneira de enfrentar as “propriedades herdadas” e produzir desigualdades justas. Apesar do caráter, aparentemente, inabalável deste princípio, sabemos, desde as rupturas epistemológicas promovidas no campo educacional nos anos de 1960, que as desigualdades fracionam-se, multiplicam-se e diversificam-se no âmbito da escola, do mundo do trabalho, das hierarquias sociais. Revisitar portanto esta matriz teórica permite lançar um novo olhar sobre a reprodução cultural e apreender os mecanismos da escola conservadora buscando saber em que condições a escola pode se tornar libertadora – e justa. Palavras-chaves: Escola moderna; diferenciação social; igualdade e meritocracia.

SERGIO BUARQUE DE HOLANDA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: TRADIÇÃO, MODERNIDADE, INTERESSE PÚBLICO E POLIGRAFIA.

Marcus Vinicius Corrêa Carvalho

A proposta deste trabalho é ponderar criticamente sobre a trajetória intelectual e política de Sérgio Buarque de Holanda nos anos 1920 e 1930. Interessa argumentar que sua atividade intelectual, marcada por um regime escritural poligráfico, articula-se à interpretação social e cultural do Brasil sendo indissociável de suas intervenções políticas. As tensões entre modernidade e tradição na crítica literária, cultural e política em seus primeiros artigos produzidos entre 1920 e 1921 – publicados, por exemplo, no Correio Paulistano e no Rio-Jornal, quando ele contava entre 17 e 19 anos – serão chave para o argumento que contemplará ainda suas atividades como professor assistente na Universidade do Distrito Federal na década de 1930. Importa considerar como e em que medida questões relativas à arte, à cultura material e à república brasileiras articulam problemáticas que arranjam a visada holandiana sobre a tradição brasileira com sua perspectiva sobre a formação de uma sensibilidade moderna no cultivo de um sentimento nacional brasileiro a partir de sua interpretação crítica sobre a urbanização, a modernidade e a política no Brasil do início dos anos 1920, instruindo um olhar sobre a nação e os brasileiros que lança o horizonte de suas intervenções no período do governo Vargas junto ao Ministério da Educação e Saúde Pública e à UDF. Os problemas relativos à república e à educação sugerem distinguir suas experiências republicanas a fim de delimitar os exercícios intelectuais deste ativista do letramento esclarecido, percebendo seu regime de escritura, sua inserção nos processos de mediação social e cultural, e, nas relações sociais de produção escrita daquele período. Com este procedimento discriminativo, será possível interpretar a dimensão crítica de sua ação política visando à formação dos brasileiros, como cidadãos, e do Brasil, como entidade nacional, inferindo sua percepção sobre interesse público e ética nacional. Merecerá relevo a proposição de uma crítica cultural e política que pretende operar no processo formativo da nação brasileira em sua pretensão modernizadora, favorecendo considerações sobre seu impacto na emergência de tensões entre a esfera pública, a vida privada e as instâncias governamentais no Brasil. Este trabalho pretende contribuir para a história da educação e a historiografia brasileiras ao problematizar a proposição da “organização nacional através da organização da cultura”, discutindo tensões entre trajetórias individuais em dinâmicas institucionais, levando a sério os limites entre a estabilização do espaço público e o âmbito dos interesses privados na definição de um campo ético para a estruturação educacional e a fruição cultural que visava dar forma ao Brasil moderno. Palavras-chave: Modernidade. Espaço público. Sérgio Buarque de Holanda.

“A HORA ATUAL DO MUNDO”: CARNEIRO LEÃO, ORESTES GUIMARÃES E A MODERNIDADE EDUCACIONAL NO BRASIL DOS ANOS DE 1920

Solange Aparecida de Oliveira Hoeller

Carolina Ribeiro Cardoso da Silva Vera Lúcia Gaspar da Silva

“A hora atual do mundo” anuncia a necessidade de sintonizar o projeto educacional brasileiro com a modernidade educacional de países considerados mais avançados. Este é um entre muitos argumentos que compõem discursos inscritos nas páginas de obras de relativa circulação nacional e que são tomadas neste trabalho como fonte, com base nas quais se busca refletir sobre possibilidades de interpretação acerca da modernidade educacional no Brasil dos anos de 1920. O eixo de análise gira em torno dos conceitos de moderno e modernidade, no desafio do enfrentamento teórico-metodológico que marca estes conceitos – tendo em vista a já anunciada e denunciada polissemia que os envolve – no sentido de compreender modos como certas

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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação

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narrativas discursivas, imbricadas nessas noções, foram construindo uma ideia de educação e modernidade no Brasil dos anos de 1920. Como fontes foram escolhidas duas obras de educadores que ocuparam espaço na cena pública nesse período: À margem da história da República – Tomo I (1924/1981), organizada por Vicente Licínio Cardoso, com estreitamento para o texto de Antonio de Arruda Carneiro Leão – Os deveres das novas gerações brasileiras; e Suggestões sobre a educação popular no Brasil, de Orestes de Oliveira Guimarães, publicada em 1924. Carneiro Leão (1924) e Orestes Guimarães (1924), como a chamada dos títulos das suas produções sinalizam – “deveres” e “sugestões”–, se colocaram como porta-vozes do povo brasileiro, dirigindo-se não apenas à geografia específica de algum estado ou a um ponto específico para a área educacional, mas delineando o que acreditavam que deveria ser providenciado para suplantar o indesejável em termos de “educação popular para o Brasil”, no caso das “sugestões” de Orestes; e dos “deveres das futuras gerações brasileiras” para o progresso do país, no caso de Carneiro Leão. Os textos, considerados como representativos do “pensamento político e cultural renovado”, apresentam uma análise quase sempre comparativa entre passado, presente e futuro. As referências ao passado frequentemente recebem um tom de crítica ao regime político do Brasil Império ou mesmo anterior a ele, como algo a ser superado, adaptado às necessidades do presente. Esses “intérpretes” apontam as causas e soluções do que consideram as problemáticas daquele momento (anos de 1920). Ainda que se tenha que ter em conta as diferentes condições de produção entre as obras de Orestes Guimarães e Carneiro Leão – a primeira sob encomenda e a segunda de ordem mais “independente” – não se pode deixar de avaliar que ambas significam possibilidades de interpretação dos problemas existentes e das soluções defendidas por seus autores e são representativas das discussões presentes nos anos de 1920. Palavras-chave: Modernidade educacional. Carneiro Leão. Orestes Guimarães.

EDIÇÃO E SOCIABILIDADES INTELECTUAIS: UMA ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO E DA ATUAÇÃO DO INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS (1938-1944)

Vanessa Costa de Macêdo

Luciano Mendes Faria Filho Nosso trabalho se insere num investimento maior de compreender a atuação de intelectuais vinculados a projetos políticos em disputa nas décadas de 1930 e 1940. Entendemos os intelectuais como sujeitos que no espaço público atuaram elaborando propostas, defendendo posições e mediando relações. Investimos sobre eles esforço interpretativo nos processos de constituição de seus grupos, nas redes de sociabilidades em que atuaram e, por fim, na constituição de projetos políticos percorrendo a trajetória desses indivíduos através das ações empreendidas no espaço público brasileiro. Dentro deste quadro investigativo, insere-se a pesquisa sobre o Instituto de Estudos Brasileiros – IEB, que congregou, entre 1938 e 1944, cerca de 300 pessoas por meio da realização de conferências e da publicação da revista Estudos Brasileiros. Este instituto se propôs a convidar especialistas, nos mais variados temas, a participar de suas conferências, seja na condição de conferencistas ou de debatedores. Neste trabalho apresentamos os modos como o IEB estabeleceu sua estrutura organizacional, o que lhe permitiu constituir-se como um lugar de sociabilidade para um grupo expressivo de intelectuais brasileiros durante o tempo em que funcionou. Compreender o tipo de inserção do IEB na sociabilidade intelectual carioca nos remete ao entendimento, em uma escala maior, ao modo como esta intelectualidade atuante na capital da república se insere nos debates do período e define um campo de atuação. Noutra escala, queremos compreender a forma como o sujeito coletivo IEB se engaja nas disputas que ocorrem no campo intelectual e político. Na pesquisa, trabalhando com documentos institucionais e, sobretudo, com a coleção da revista Estudos Brasileiros que se encontra no acervo do Centro de Documentação da Faculdade de Educação da UFMG, vimos que o IEB constitui e é constituído por redes de sociabilidades e que sua atuação na mediação dos sujeitos, se realiza a partir do uso das formas de inscrição social destes intelectuais no contexto de atuação no Rio de Janeiro. O acirramento do debate, a radicalização de posições políticas, a funcionarização dos intelectuais, a ampliação do aparelho de Estado, modificam o quadro de atuação destes sujeitos, criando facilidades ou estabelecendo constrangimentos não apenas no estabelecimento de ligações e na montagem de redes de sociabilidade, mas também para o próprio reordenamento do campo de atuação destes intelectuais. Nesse sentido, nesta pesquisa apresentamos um conjunto de questões relacionadas às mudanças ocorridas no ordenamento do trabalho intelectual entre 1930 e 1940 e em como estas mudanças afetaram a constituição da sociabilidade e dos projetos para o Brasil, no interior dos quais a Educação aparece como objeto e espaço de disputa política e cientifica. Palavras-chave: Intelectuais. Sociabilidade. Estado Novo.

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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas

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