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Sumário:
1.Apresentação
2.Programação geral
3.Resumos
3.1 Conferências
3.1.1 Avaliação integrada de leitura e escrita e níveis de proficiência:
avanços e desafios – Profa. Dra. Margarete Schlatter (UFRGS).
3.1.2 Diálogos na formação de professores de Português de Cabo Verde
e de outros PALOPs flagrados na produção de infográficos de mercados
sociolinguísticos – Prof. Dr. Pedro de Moraes Garcez – UFRGS
3.1.3 Culturas Interacionais e o Ensino de Português para Falantes de
outras Línguas – Profa. Dra. Teresinha Maher – UNICAMPI
3.1.4 Leitura e ensino de Português a Falantes de outras Línguas:
reflexões sobre teorias e desafios da sala de aula. Profa. Dra. Iracema
Luiza de Souza – UFBA.
3.2 Mesas- redondas
3.2.1 Exame CELPE-Bras e ensino de Português para falantes de outras
línguas: realizações, tendências e desafios contemporâneos.
Componentes da Mesa: Representantes do INEP, do CEBRASPE, da
Comissão Técnica do CELPE-Bras e do Posto Aplicador da UFBA.
3.2.2 Relações entre o exame Celpe-Bras e práticas de ensino e de
aprendizagem em PLA. Componentes da Mesa: Margarete Schlatter –
UFRGS, Juliana Roquele Schoffen – UFRGS, Beatriz Demoly Ohlweiler –
URGS.
3.2.3 Materiais de ensino de PBE contemporâneos ao Celpe-Bras: autoria
e representações do contexto brasileiro. Componentes da Mesa: Norimar
Júdice – UFF, Adriana Rebello – UFF e Ronaldo Amorim Lima - UFF.
3.2.4 Reflexões sobre o Exame Celpe-Bras: novas perspectivas de
análise. Componentes da Mesa: Regina L. Péret Dell´Isola (UFMG /
Comissão Técnico-Científica do Celpe-Bras), Natália Moreira
Tosatti (CEFET-MG) e Leandro Rodrigues Alves Diniz (UFMG /
Comissão Técnico-Científica do Celpe-Bras).
3.3 Minicursos
3.3.1 Título do Minicurso: Práticas pedagógicas para o ensino de
português como língua adicional a partir de tarefas que compõem a parte
escrita do Exame Celpe-Bras Profa. Letícia Grubert – Bem Brasil, Porto
Alegre.
3.3.2 Minicurso: Elaboração de Elementos Provocadores: Reflexões –
Profa. Sabrina Borges – UFBA
3. 4 Sessões de comunicações
3.4.1 Reflexões discursivas sobre a multiculturalidade na avaliação de
PLE aplicada no celpe-bras.
André Luiz Gaspari Madureira e Erivelton Nonato de Santana - UNEB
3.4.2 Elaboração de material didático preparatório ao Exame Celpe-Bras
Ellen Yurika Nagasawa – UFRGS
3.4.3 Aspectos culturais brasileiros: implicações no aprendizado de PLE
Jéssica Fraga Santos – UNEB
3.4. 4 A relevância e o impacto do trabalho com textos autênticos para
a promoção da autonomia e letramento crítico de alunos nas aulas de
português língua estrangeira.
Mariana Killner e Amanda de Camargo Mendes – UEL
3.4.5 O “Avançar” Nas Aulas De Português Como Língua Estrangeira
(PLE). Débora Racy Soares – UFLA
3.4.6 Um elo entre nós: uma experiência de ensino de português como
língua estrangeira na UFLA. Débora Racy Soares – UFLA
3.4.7 De que modo o professor de Português Segunda Língua apresenta
a língua e a cultura brasileira em sala de aula e que implicações isso tem
para o seu ensino?
Camila Alves Gusmão – UFBA
3.4.8 O português como LE/L2 na américa latina: mapeamentos iniciais.
Robson Batista Moraes – UFBA
3.4.9 Celpe-Bras: formação docente em Língua Portuguesa como
Segunda Língua e como Língua Materna
Laura Camila Braz De Almeida- UFS
3.4.10 Interferência Das Instruções Escritas Na Aplicação Da Prova Oral
do CELPE-BRAS
Cláudia Mendonça- UFPE
Apresentação
Os debates que vêm acontecendo desde as últimas décadas do
Século XX têm desvelado dimensões antes ignoradas no que tange às
pesquisas sobre língua/linguagem e sobre ensino de línguas. O sujeito do
Iluminismo - centrado, uno e senhor de si - é posto a nu nas discussões
da pósmodernidade: “está se tornando fragmentado; composto não de
uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou
não-resolvidas.” (HALL, 2003:12). O reconhecimento da,natureza
indisciplinar da Linguística Aplicada, a afirmação da indissociabilidade
das relações entre poder, língua e cultura, a concepção de língua como
prática social com participação constitutiva na construção das
identidades dos sujeitos em interação implicam em novas práticas e
novos modos de investigação das práticas linguísticas e em novas formas
de ensinar e aprender línguas maternas e estrangeiras, “especialmente no
que se refere a questões como língua, poder e identidade, já que definir
quem ou o que é o sujeito passa, dentre outras coisas, por esses três
aspectos.” (MASTRELLA, 2010:111).
Hoje, os atos de teorizar e fazer Linguística Aplicada levam a uma
politização do ato de pesquisar e pensar alternativas para a vida social
(MOITA LOPES, 2006, p 22). Este posicionamento corrobora os
pensamentos de Pennycook (2001, 43) de que “todo conhecimento é
político” e de Makoni & Meinhof (2006) de que ele vem de algum lugar.
O III SINCELPE – SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE O CELPE-
BRAS - dá continuidade à iniciativa de professores da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, que, em setembro de 2013, realizam o I
SINCELPE, durante o IX ENCONTRO DE PORTUGUÊS LÍNGUA
ESTRANGEIRA – IX PLE-RJ, atendendo a uma demanda do I
ENCONTRO DE COORDENADORES, realizado em Brasília, em 2012.
Em 2014, a UNICAMP toma a si a tarefa de levar adiante o Simpósio e,
em 2016, a UFBA, através de seu Posto Aplicador do CELPE-Bras e do
PROGRAMA DE PESQUISA, ENSINO E EXTENSAO DE
PORTUGUÊS-ProPEEP, localizados no Instituto de Letras, acolhe o III
SINCELPE, a realizar-se nos dias 31 de outubro a 02 de novembro, em
Salvador
O Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para
Estrangeiros (Celpe-Bras) é conferido a sujeitos de nacionalidade
estrangeira com desempenho satisfatório em teste padronizado de
português, desenvolvido pelo Ministério da Educação. O exame é aplicado
desde 1998 no Brasil e em outros países com o apoio do Ministério das
Relações Exteriores. Internacionalmente, o Celpe-Bras é aceito em firmas e
instituições de ensino como comprovação de competência na língua
portuguesa e, no Brasil, é exigido pelas universidades para ingresso em
cursos de graduação, em programas de pós-graduação e para a revalidação
de diplomas obtidos no exterior por profissionais de nacionalidade
estrangeira. Outorgado pelo MEC, o Celpe-Bras é o único certificado
brasileiro de proficiência em português como língua estrangeira
reconhecido oficialmente, sendo conferido em quatro níveis: intermediário,
intermediário superior, avançado e avançado superior. A partir do 2º
semestre de 2009, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep) é o responsável pelo exame.
Na Bahia, a Universidade Federal da Bahia é a única instituição
credenciada pelo MEC como Posto Aplicador desde 1999 e, tendo em vista
a atuação produtiva que vem desenvolvendo durante quase dezessete anos,
o seu Posto Aplicador assume a tarefa de organizar e presidir o III
SINCELPE, a realizar-se como parte central do I ENCONTRO DE
PORTUGUÊS PARA FALANTES DE OUTRAS LÍNGUAS, elegendo
como temática Exame CELPE-Bras e ensino de Português para falantes de
outras línguas: realizações, tendências e desafios contemporâneos, com o
propósito de promover o debate sobre questões de avaliação, ensino e
aprendizagem de línguas estrangeiras, em particular sobre Português para
falantes de outras línguas, bem como contribuir para a divulgação de
resultados de pesquisas no campo específico discutido no Simpósio.
Programação:
31/10 (SEGUNDA-FEIRA)
08:00h – Entrega de material.
09:00h – Sessão de Abertura.
09:30h – Mesa-Redonda 1: Exame CELPE-Bras e ensino de Português para
falantes de outras línguas: realizações, tendências e desafios contemporâneos.
Componentes da Mesa: Representantes do INEP, do CEBRASPE, da Comissão
Técnica do CELPE-Bras e do Posto Aplicador da UFBA.
10:30h – Intervalo. 11:00h - Conferência I: Avaliação integrada de leitura e escrita
e níveis de proficiência: avanços e desafios – Profa. Dra. Margarete Schlatter
(UFRGS).
12:30h – Intervalo para almoço.
14:30h –Práticas pedagógicas para o ensino de português como língua
adicional a partir de tarefas que compõem a parte escrita do Exame Celpe-
Bras. Letícia Grubert – Bem Brasil, Porto Alegre.
16:00h – Intervalo.
16:30h – Mesa-Redonda 2: Relações entre o exame Celpe-Bras e práticas de ensino
e de aprendizagem em PLA. Componentes da Mesa: Margarete Schlatter –
UFRGS, Juliana Roquele Schoffen – UFRGS, Beatriz Demoly Ohlweiler – URGS
01/11 (TERÇA-FEIRA)
9:00h - Sessões de Comunicação Individual.
9:00h – Minicurso: Elaboração de Elementos Provocadores: Reflexões –
Profa. Sabrina Borges – UFBA
10h30 – Intervalo.
11:00h – Conferência 2: Diálogos na formação de professores de Português
de Cabo Verde e de outros PALOPs flagrados na produção de infográficos
de mercados sociolinguísticos – Prof. Dr. Pedro de Moraes Garcez –
UFRGS.
12h30 – Intervalo para almoço
14h30 – Minicurso: Práticas pedagógicas para o ensino de português como
língua adicional a partir de tarefas que compõem a parte escrita do Exame
Celpe-Bras – Profa. Letícia Grubert – Bem Brasil, Porto Alegre.
16:00h – Intervalo
16h30 às 18:00h – Mesa-Redonda 3: Materiais de ensino de PBE
contemporâneos ao Celpe-Bras: autoria e representações do contexto
brasileiro. Componentes da Mesa: Norimar Júdice – UFF, Adriana Rebello
– UFF e Ronaldo Amorim Lima - UFF.
02/11 (QUARTA-FEIRA)
9:00h - Sessões de Comunicação.
9:00 - Minicurso: Elaboração de Elementos Provocadores: Reflexões –
Profa. Sabrina Borges - UFBA
10h30 – Intervalo
11h – Conferência 3: Culturas Interacionais e o Ensino de Português para
Falantes de outras Línguas – Profa. Dra. Teresinha Maher – UNICAMPI
12h30 – Intervalo para almoço
14h30 – Título do Minicurso: Práticas pedagógicas para o ensino de
português como língua adicional a partir de tarefas que compõem a parte
escrita do Exame Celpe-Bras – Profa. Letícia Grubert – Bem Brasil, Porto
Alegre.
16h – Intervalo
16:20h – Mesa-Redonda 4: Reflexões sobre o Exame Celpe-Bras: novas
perspectivas de análise. Componentes da Mesa: Regina L. Péret Dell´Isola
(UFMG / Comissão Técnico-Científica do Celpe-Bras), Natália Moreira
Tosatti (CEFET-MG) e Leandro Rodrigues Alves Diniz (UFMG / Comissão
Técnico-Científica do Celpe-Bras).
17:40h Conferência 5: Leitura e ensino de Português a Falantes de outras
Línguas: reflexões sobre teorias e desafios da sala de aula. Profa. Dra.
Iracema Luiza de Souza – UFBA. 3.Resumos
3.1 Conferências
3.1.1 Avaliação integrada de leitura e escrita e níveis de proficiência:
avanços e desafios – Profa. Dra. Margarete Schlatter (UFRGS).
O objetivo desta fala é refletir sobre a avaliação de proficiência em
língua portuguesa por meio de tarefas que integram a leitura e a escrita. A
noção de proficiência de leitura e de escrita é discutida com base na análise
de tarefas de exames de larga escala, entre os quais, o Celpe-Bras. O
conceito de uso da linguagem é relacionado às características das tarefas,
aos critérios de avaliação utilizados, aos descritores de níveis de proficiência
e a exemplos de desempenho em tarefas do exame Celpe-Bras. Discute-se a
complexidade das práticas avaliativas e sua relação com os objetivos da
avaliação, apresentando implicações de diferentes procedimentos para a
validade e a confiabilidade dos instrumentos adotados. Conclui-se com uma
reflexão sobre os avanços e os desafios em relação à avaliação integrada de
leitura e escrita e propõem-se alguns princípios que podem contribuir para
a validade e a confiabilidade de avaliações de desempenho. Entende-se que,
entre os compromissos sociais e éticos de sistemas de avaliação de alta
relevância, estão descrições mais robustas das especificações do exame,
com vistas a possibilitar uma maior compreensão de seus objetivos,
características e possíveis usos na sociedade.
3.1.2 Diálogos na formação de professores de Português de Cabo Verde
e de outros PALOPs flagrados na produção de infográficos de
mercados sociolinguísticos – Prof. Dr. Pedro de Moraes Garcez – UFRGS
Dou relato de discussões desenvolvidas durante várias edições de um
módulo de um programa de formação continuada de professores de
Português no ensino secundário (7o a 12o anos) de escolas públicas de países
africanos multilíngues onde o português é a língua oficial. Durante o
módulo, que teve carga horária entre 8 e 18 horas, os participantes-
professores foram apresentados a uma representação infográfica do
mercado sociolinguístico brasileiro (Bourdieu, 1998; Britto, 2004) como
pano de fundo para discutir suas próprias comunidades e sociedades com os
formadores brasileiros. A seguir, foram convidados a conceber uma
representação semelhante do mercado sociolinguístico de seus próprios
Estados-nação, produzindo em conjunto um infográfico (isto é, uma
representação gráfica, visual, de informações e conhecimentos dispostos de
modo claro para referência rápida em apoio à compreensão de um quadro
complexo). Nesta comunicação, mostro e comento brevemente os
infográficos produzidos por professores de Português de Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, com especial atenção ao
infográfico cabo-verdiano conforme se desenvolveu entre 2009 e 2013 ao
longo de 10 sessões de discussão distintas, com grupos de 20-30 professores
cada. Focando as versões finais dos infográficos produzidos em cada grupo,
e me valendo de anotações feitas durante os encontros do módulo e dos
relatórios do programa de formação de professores, destaco aspectos da
ideologia linguística (Woolard, 1998; Irvine & Gal, 2000) em que as várias
configurações infográficas convergiram ou divergiram, e reflito sobre as
posições dos professores acerca dos objetivos e práticas de ensino na
educação escolar em língua portuguesa em seus cenários de atuação.
Discuto em particular a tendência de imposição de um regime
monolíngue rígido na sala de aula de Português, contrastada com as próprias
práticas transidiomáticas dos professores, tanto durante o módulo quanto em
seus contextos multilíngues de ação, conforme relatado por eles próprios.
Por fim, faço uma avaliação crítica da nossa própria posição como
sociolinguistas/educadores/agentes de políticas linguísticas em nossas
tentativas de ação criticamente engajada na formação de professores de
línguas.
3.1.4 Leitura e ensino de Português a Falantes de outras Línguas:
reflexões sobre teorias e desafios da sala de aula. Profa. Dra. Iracema
Luiza de Souza – UFBA.
A leitura é geralmente referida como um dos conjuntos de
habilidades integrantes da competência comunicativa e intercultural. Um
olhar sobre a história da leitura nos revela, entretanto, diferentes concepções
desse objeto complexo e multiforme que afeta a existência dos sujeitos de
todas as épocas – a leitura de mundo - sobretudo a vida do homem na
contemporaneidade. Nesse trabalho, fazemos uma breve incursão sobre os
modos como a leitura vem sendo concebida no ensino de língua estrangeira
e, com base em postulados da Análise de Discurso pêcheuxtiana e da
Linguística Aplicada, refletimos sobre a leitura como prática social de
construção de sentidos, sobre aspectos cognitivos acionados nessa prática,
tudo isso com vistas à leitura como ponte entre indivíduos e culturas. Nesse
contexto, consideramos a sala de aula e nos indagamos sobre a aproximação
e/ou distanciamento entre o que se diz na academia acerca da leitura e o que
se pratica na sala de aula. Tendo em vista tais parâmetros, investigamos
como a leitura se apresenta em livros didáticos de PLE e em tarefas do
Exame CELPE-Bras com o propósito de detectar a existência ou não de
pontos de contato entre os construtos teóricos que sustentam as duas práticas
e, assim o fazendo, reunir subsídios que respaldem programas de
capacitação voltados para o ensino de Português L2/LE.
3.2 Mesas- redondas
3.2.2 Relações entre o exame Celpe-Bras e práticas de ensino e de
aprendizagem em PLA. Componentes da Mesa: Margarete Schlatter
– UFRGS, Juliana Roquele Schoffen – UFRGS, Beatriz Demoly Ohlweiler
– URGS.
O objetivo desta mesa é refletir sobre relações entre os pressupostos
teóricos do exame Celpe-Bras e práticas de ensino e de aprendizagem em
Português como Língua Adicional (PLA). São apresentados resultados de
um conjunto de pesquisas, desenvolvidas na Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, que trataram de práticas de ensino, elaboração de materiais
didáticos de leitura e produção de texto, avaliação da aprendizagem,
preparação de candidatos ao exame Celpe-Bras e formação de professores
de PLA. Com base nesse repertório de investigações, é possível afirmar que,
desde o início da aplicação do exame Celpe-Bras, em 1998, a área de ensino
de PLA tem apresentado avanços no que diz respeito ao desenvolvimento
de materiais didáticos e instrumentos de avaliação orientados pelo uso da
linguagem, práticas de ensino que priorizam gêneros do discurso e
participação dos aprendizes em práticas sociais em língua portuguesa. Ao
oferecer parâmetros de avaliação orientados por uma noção de proficiência
como participação em atividades sociais que demandam o uso da oralidade
e da escrita levando-se em conta a interlocução e o propósito da interação,
o exame Celpe-Bras tem contribuído para consolidar práticas de ensino de
PLA que tenham por objetivo promover vivências significativas de uso da
linguagem em contextos nos quais os aprendizes desejam ou precisam
participar.
3.2.4 Reflexões sobre o Exame Celpe-Bras: novas perspectivas de
análise. Componentes da Mesa: Regina L. Péret Dell´Isola (UFMG /
Comissão Técnico-Científica do Celpe-Bras), Natália Moreira Tosatti
(CEFET-MG) e Leandro Rodrigues Alves Diniz (UFMG / Comissão
Técnico-Científica do Celpe-Bras).
O Celpe-Bras, pela sua concepção, propósito, abrangência e uso,
caracteriza-se como um exame complexo que suscita discussões
importantes sobre avaliação e políticas linguísticas. Em vista dessa
complexidade, nesta mesa, busca-se refletir sobre esse instrumento de
avaliação e propor discussões sobre 1) a elaboração das tarefas que
compõem o exame; 2) as habilidades de leitura avaliadas nesse exame e 3)
a aplicação do Celpe-Bras para examinandos oriundos da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP)
3.2.4.1 Os desafios na seleção de insumos para a elaboração do
exame Celpe-Bras . Natália Moreira Tosatti (CEFET-MG)
No Celpe-Bras, um exame de desempenho, que avalia de forma
integrada as habilidades de compreensão oral, compreensão escrita,
produção oral e produção escrita, o conceito de proficiência é pautado na
ideia de uso adequado da língua para desempenhar ações no mundo.
Cumming (2013) enfatiza que tarefas integradas de escrita devem
favorecer atividades de letramento realistas e desafiadoras, que
envolvam o examinando na escrita de um conteúdo específico, ou seja,
que tenham compromisso com autenticidade das ações comunicativas ali
propostas. Além disso, as tarefas a serem utilizadas em uma avaliação de
desempenho devem ser relacionadas a atividades realizadas fora do
próprio teste, de forma a se aproximarem de situações de uso concreto da
língua, possibilitando uma previsão sobre como o examinando se sairia
em situações comunicativas reais. Essa proposta de teste torna o Celpe-
Bras um exame coerente às concepções contemporâneas de avaliação,
linguagem e interação, contudo traz também o desafio da elaboração de
tarefas que possibilitem a aferição daquilo que o exame se propõe a
medir. A seleção de insumos para a construção de uma avaliação de
desempenho é uma atividade complexa que envolve uma série de
questões relacionadas à abrangência e ao construto do exame. Nesta
comunicação, as discussões estarão focadas no processo de construção
das tarefas do exame. Temos como propósito refletir sobre aspectos
relacionados à elaboração do Celpe-Bras, no que envolve a seleção de
materiais e o tratamento dado a eles ao longo desse criterioso trabalho de
composição das tarefas. Para isso, tendo como referência o construto em
que se fundamenta o exame Celpe-Bras e as visões de MacNamara
(2000), Bachman (2002) e Scaramucci (2016) sobre avaliação,
discutiremos: critérios para a seleção desses insumos, a noção de
autenticidade, aspectos culturais e a construção dos enunciados.
3.2.4.2 A explicitude dos enunciados de tarefas comunicativas do
exame Celpe-Bras. Regina L. Péret Dell´Isola (UFMG / Comissão
Técnico-Científica do Celpe-Bras)
Nesta comunicação, tratamos da avaliação de habilidades de leitura dos
textos associados às tarefas comunicativas do exame oficial brasileiro para
obtenção do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para
Estrangeiros (Celpe-Bras). Na Parte Escrita desse exame, aferem-se de forma
integrada: 1) a compreensão, considerando-se a adequação e a relevância da
produção do examinando em resposta ao texto (oral ou escrito); 2) a produção
escrita, considerando-se a qualidade com que a ação é desenvolvida e o grau
de atendimento à tarefa executada pelo examinando. A qualidade com que a
ação é desenvolvida envolve adequação contextual e discursiva (gênero,
interlocutor, enunciador, propósito) e adequação linguística (clareza e coesão;
adequação lexical e gramatical), critérios de referência para a distinção entre
os níveis de proficiência avaliados. O grau de atendimento à tarefa envolve o
cumprimento pleno, parcial ou nulo ao que foi proposto no enunciado de cada
tarefa do exame. Em lugar de uma aferição quantitativa de pontos isolados da
língua, faz-se uma avaliação qualitativa do desempenho tendo em vista o
objetivo da tarefa. Considerado o perfil do exame, pautando-nos em uma
perspectiva teórica de base sociointeracionista, assumimos que,ao interagir
com um texto, espera-se de um leitor competente a compreensão do gênero
desse texto como resultado de um processo social, organizado, orientado para
um propósito, em um contexto situacional específico, como apontam Bhatia
(1997, 2005), Cassany (2008) e Coutinho (2012). Os gêneros textuais são
caracterizados pelos conteúdos que se tornam dizíveis através deles, pela
estrutura comunicativa, pelo conjunto de unidades linguísticas (traços da
posição enunciativa do enunciador), pelas sequências textuais e pelos tipos
discursivos que compõem a estrutura textual como defendem Bronckart
(1997, 2005, 2009), Adam (1992, 2001, 2008, 2014) e Coutinho (2003, 2006,
2007, 2012). Nessa perspectiva, a avaliação da proficiência em português
como língua estrangeira deve aferir o nível de competência nesse idioma dos
examinandos que prestam o exame Celpe-Bras, por meio da identificação de
suas habilidades de leitura e de escrita. Para além dos conhecimentos
linguísticos, é importante que seja considerado o funcionamento
comunicativo do texto. Assim, nossa atenção volta-se para a avaliação
da leitura dos textos associados às tarefas comunicativas (atividades que
se caracterizam pela condução de representações de escrita em situações
de uso da língua portuguesa). Focalizamos os enunciados das tarefas e
analisamos o cenário instaurado para a interlocução em leitura.
Buscamos descrever as habilidades de leitura mensuradas, aferir a
explicitude dos enunciados quanto à forma de exploração dos textos para
leitura e revelar o grau de compreensão do texto exigido ao leitor para a
execução das tarefas comunicativas do Celpe-Bras.
3.2.4.3 Quem pode se inscrever no Celpe-Bras? Validade e
consequências do uso do exame para distintos públicos Leandro
Rodrigues Alves Diniz (UFMG / Comissão Técnico-Científica do
Celpe-Bras)
“Estrangeiros não-lusófonos”. “Cidadãos estrangeiros ou brasileiros
cuja língua materna não é o português”. “Estrangeiros e brasileiros cuja
língua materna não é a língua portuguesa”. “Estrangeiros”. Essas são
algumas das formulações utilizadas, em diferentes momentos da história
do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros
(Celpe-Bras), para se restringir o público-alvo do exame. A partir de uma
análise de deslizamentos como esses, discutiremos, num momento inicial
de nossa apresentação, as distintas respostas que têm se construído para
duas perguntas que nem sempre são colocadas explicitamente:
“Brasileiros podem prestar o Celpe-Bras?” e “Todos os estrangeiros
podem se inscrever nesse exame?”. Chamaremos a atenção, a esse
respeito, para o processo de desnaturalização, ao longo da história do
exame, da coincidência imaginária entre língua nacional, língua oficial e
língua materna (ZOPPI-FONTANA, 2012). Em seguida, focalizeremos
a aplicação do Celpe-Bras para examinandos oriundos da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que refletiu, em particular, a
exigência, estabelecida pelo Decreto 7.498 (BRASIL, 2013), de que
todos os candidatos ao Programa de Estudantes-Convênio de Graduação
(PEC-G) – aí compreendidos os “lusófonos” – realizem o exame. Com
base em um estudo prévio (BIZON & DINIZ, 2015), argumentaremos
que, embora represente um importante reconhecimento da
heterogeneidade linguística constitutiva do espaço da CPLP, essa
exigência é, a nosso ver, equivocada. Primeiramente, porque o exame
não foi desenhado para a avaliação de primeira língua – o que passa a
acontecer com alguns examinandos vindos da CPLP. Em segundo lugar,
porque a aplicação da prova para esses sujeitos participa de um processo
de capitalização linguística (ZOPPI-FONTANA, 2009) do português
brasileiro, que descapitaliza outras variedades da língua portuguesa.
Assim, com base em um conceito ampliado de validade
(SCARAMUCCI, 2011), discutiremos, em nosso trabalho,
consequências de uso do Celpe-Bras para certos públicos, considerando
que um estudo dessa natureza deve, em nossa perspectiva, fazer parte de
um processo de validação da prova.
3.3 Minicursos
3.3.1 Título do Minicurso: Práticas pedagógicas para o ensino de
português como língua adicional a partir de tarefas que compõem a
parte escrita do Exame Celpe-Bras - Profa. Letícia Grubert – Bem
Brasil, Porto Alegre.
O efeito retroativo do Exame Celpe-Bras tem se revelado como um
elemento basilar para o desenvolvimento de práticas pedagógicas que
propiciem reflexões interculturais no contexto de ensino/aprendizagem de
português como língua adicional (Scaramucci, 2012). Este minicurso tem
por objetivo refletir sobre a elaboração de materiais didáticos para o ensino
de Português como língua adicional a partir de tarefas que compõem a parte
escrita do Exame Celpe-Bras. À luz do construto de proficiência que subjaz
ao Exame, serão analisadas propostas de materiais didáticos construídos
tendo como base os principais elementos constitutivos das relações
dialógicas inerentes aos textos e enunciados de tarefas que fazem parte das
provas do Exame Celpe-Bras.
3.3.2 Elaboração de Elementos Provocadores: Reflexões – Profa.
Sabrina Borges - UFBA
Os Elementos Provocadores da Interação Face a Face do Exame Celpe-
Bras são os principais condutores da parte oral do exame, uma vez que são
responsáveis pelo estímulo à produção oral do examinando submetido à
avaliação de proficiência em Português. São os EPs que sustentam a
interação entre o examinador-entrevistador e o examinando. Este minicurso
tem por objetivo refletir sobre a elaboração de elmentos provocadores por
meio da análise de composições de edições anteriores do Exame, tomando-
se como base a perspectiva interculturalista. Para essa reflexão, serão
ressaltados alguns pontos relevantes como tempo de leitura, emprego de
lexias e abordagem temática, serão analisadas propostas de materiais
avaliativos construídos tendo como base a conscientização da necessidade
de uma maior reflexão de cunho intercultural para sua elaboração.
3. 4 Sessões de comunicações
3.4.1 Reflexões discursivas sobre a multiculturalidade na avaliação de
PLE aplicada no celpe-bras. André Luiz Gaspari Madureira e Erivelton
Nonato de Santana – UNEB
O objetivo deste trabalho é lançar um olhar discursivo sobre o processo
avaliativo de Língua Portuguesa para falantes de língua estrangeira,
aplicada pelo exame de Certificação de Proficiência em Língua Portuguesa
para Estrangeiros no Brasil (Celpe-Bras). O propósito da abordagem é
verificar as características das Formações Discursivas que compreendem o
ambiente multicultural da avaliação e como podem interferir na percepção
do real domínio linguístico do candidato à Certificação de Proficiência em
Língua Portuguesa. Como base teórica, recorre-se à perspectiva da Análise
do Discurso de linha francesa, fundamentada pelo filósofo Michel Pêcheux.
O percurso metodológico segue por um caminho qualitativo, mediante a
análise discursiva de uma das questões escritas do Celpe-Bras,
correspondente ao semestre de 2015.2. A partir da apreciação desse corpus,
é identificada, no campo interdiscursivo, a materialização do componente
multicultural para se refletir acerca de sua pertinência no contexto do
referido exame. Diante disso, são percebidas diferenças na instauração das
Formações Discursivas reconhecidas, indicando certa instabilidade do
processo de instauração da multiculturalidade no material analisado, o que
aponta para uma possível necessidade de debate acerca da reordenação dos
parâmetros avaliativos do exame em questão.
3.4.2 Elaboração de material didático preparatório ao Exame Celpe-
Bras -Ellen Yurika Nagasawa – UFRGS
O conceito de proficiência que fundamenta o Exame Celpe-Bras
consiste no “uso adequado da língua para desempenhar ações no mundo”
(BRASIL, 2006, p. 3), por isso, na Parte Escrita do exame, a proficiência é
avaliada por meio de tarefas que apresentam um propósito claro de
comunicação, bem como uma relação de interlocução definida, a fim de
poder avaliar a adequação do texto produzido pelo examinando à situação
comunicativa proposta. O ponto central na preparação de um examinando
ao Exame Celpe-Bras, portanto, deve ser a compreensão da visão dialógica
que subjaz às provas. O objetivo deste trabalho é relatar as etapas de
elaboração da sequência didática Leitura e Produção Textual para
Preparação ao Exame Celpe-Bras, que se propôs a trabalhar essa visão
dialógica utilizando textos autênticos do Acervo Celpe-Bras e teve como
principal meta educacional desenvolver a capacidade de leitura e a produção
textual para, dessa maneira, preparar os estudantes para a obtenção do
certificado do Exame. A elaboração do material didático ancorou-se na
noção bakhtiniana de gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003) e buscou
trazer para a sala de aula o trabalho sobre a linguagem e a aprendizagem de
formas de participação no mundo social (SCHLATTER, 2009) por meio de
tarefas organizadas de maneira sistemática (DOLZ ET AL., 2004). Os
resultados deste trabalho contribuem na preparação de examinandos e
formação de professores, uma vez que a sequência didática desenvolvida
pode servir de modelo para outros contextos de ensino-aprendizagem que
almejem a certificação no Exame-Celpe-Bras.
As reflexões sobre o trabalho de elaboração da sequência didática e
ensino de Português como Língua Adicional para fins específicos de
preparo de estudantes para o Exame Celpe-Bras estão, neste estudo,
ancoradas na análise da sequência produzida, que demonstra a possibilidade
do uso da visão dialógica de linguagem na prática de sala de aula de cursos
preparatórios ao Exame Celpe-Bras.
3.4.3 Aspectos culturais brasileiros: implicações no aprendizado de
PLE- Jéssica Fraga Santos – UNEB
As reflexões e discussões de caráter cultural e intercultural emergem
como questões importantes na evolução das sociedades, e em diferentes
domínios, entre eles o da educação (MENDES, 2011). Este projeto de
pesquisa tem o objetivo de investigar se houve e, caso tenha havido, qual
(is) foi (ram) o(s) choque (s) cultural (is) sofrido(s) por estrangeiros
residentes na cidade de Porto Seguro, BA. Partimos da problemática de
investigar como os aspectos culturais interferem na aprendizagem da língua
portuguesa desses estrangeiros que residem no Brasil. Além disso, busca-se
também averiguar, analisar e descrever as dificuldades apontadas. Como
aportes teóricos serão utilizados os escritos de Silveira (1998), Santos e
Alvarez (2010), Mendes (2011), além de Fleuri (2005) para fundamentar a
relação interculturalidade e aprendizagem de Português como Língua
Estrangeira (PLE). Quanto à proposta de metodologia, será de caráter
qualitativo (FLICK, 2009), com pesquisa de campo, onde serão feitas
entrevistas e questionários com estudantes de cursos de PLE e moradores
estrangeiros da cidade de Porto Seguro que residam na cidade de um mês a
3 anos. Tratando do ensino do PLE, na visão interculturalista, reverbera que
ensinar e aprender outra língua não são aculturar o aluno, na medida em que
ele é levado a assimilar a cultura da língua – alvo, mas sim enriquecê-lo,
pois ele é ao mesmo tempo levado a ter consciência de suas próprias
identidades fazendo com que não aconteça um choque cultural. E discutindo
à questão cultural, nos pautaremos no processo de ensino/aprendizagem de
uma nova língua, pois é nela que existe uma relação da interface língua
portuguesa como língua estrangeira e a interculturalidade, acarretando
diversas reflexões e discussões. Para tal é imprescindível apurar, refletir e
dialogar sobre essa temática, pois, esse termo vem sendo utilizado com
muita frequência nas teorias e nas ações pedagógicas, mas saiu do contexto
educacional e ganhou maior amplitude passando a referir-se também a
práticas culturais e políticas públicas (FLEURI, 2005). Diante disso, esse
projeto de pesquisa vem somar e ampliar a discussão de se trabalhar com a
interculturalidade no ensino do PLE, pois, partindo desse estudo podemos
coadjuvar que a educação na área de línguas seja abrangente e fundamental,
e o interculturalismo esteja sempre presente na educação, fazendo com que
haja múltiplas interações, diminuindo as fronteiras entre a língua e o
isolamento das culturas.
3.4. 4 A relevância e o impacto do trabalho com textos autênticos para a
promoção da autonomia e letramento crítico de alunos nas aulas de português
língua estrangeira- Mariana Killner e Amanda de Camargo Mendes – UEL
Sabendo que materiais didáticos aliados ao estudo de textos podem
nortear o trabalho de professores e alunos e, ainda, otimizar o processo de
ensino-aprendizagem, sugerimos, a partir da experiência como professoras
de Português Língua Estrangeira (PLE) e como avaliadoras do exame
Celpe-Bras, uma proposta de material que complemente as aulas de um
curso preparatório para este exame, de modo que, como professores de PLE,
possamos trabalhar a escrita e a oralidade dos alunos em nossas aulas. Para
iniciar esse trabalho, julgamos fundamental considerar as necessidades de
aprendizagem dos alunos (LEFFA, 2008), para que o material caminhe na
direção dos objetivos e das finalidades do curso que será proposto para
atender às demandas específicas de cada público-alvo (OLIVEIRA;
FURTOSO, 2009). Desta forma, definimos como objetivo principal avaliar
a importância e o impacto de nossas escolhas textuais e de nossa
metodologia voltada para o debate em sala de aula para o ensino-
aprendizagem de LE em uma universidade do norte do Paraná, contexto em
que as pesquisadoras atuam, visando perceber a recepção e compreensão
dos alunos frente aos textos a que são expostos. Como objetivos específicos
pretendemos analisar o contributo das discussões dos textos (orais e
escritos) para o desenvolvimento das competências de recepção e produção
de alunos de PLE; identificar e analisar as potencialidades desses textos
como formas de desenvolver competências (inter)culturais, questionando e
desfazendo estereótipos culturais.
A partir da leitura e compreensão de textos orais e escritos, buscaremos
investigar as capacidades que os estudantes desenvolvem para que esses
criem seus próprios discursos. Nesse contexto, propomos que o professor de
PLE possa preparar estudantes para, por meio das discussões em sala de
aula, trabalhar as habilidades comunicativas e o letramento crítico deles a
fim de possam questionar estereótipos e, assim, colaborar para um
aprendizado significativo da cultura-alvo. Esta comunicação se justifica,
ainda, devido à carência de material didático no mercado editorial da área
de PLE, especificamente para o trabalho proposto, ou seja, um curso
preparatório para o exame Celpe-Bras.
3.4.5 O “Avançar” Nas Aulas De Português Como Língua Estrangeira
(PLE). Débora Racy Soares – UFLA
De acordo com a proposta do programa nacional Idioma sem
Fronteiras, do qual o Português sem Fronteiras faz parte, a implantação de
cursos de idiomas, visando a internacionalização das Instituições Federais
de Ensino Superior brasileiras, deve observar três diretrizes específicas.
Uma delas, particularmente, nos interessa. Trata-se da que recomenda a
utilização de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) e outros
recursos tecnológicos para enriquecer as aulas de PLE. Diante desta
diretiva, a Universidade Federal de Lavras tem oferecido, desde a
implantação dos cursos de PLE, em 2015, disciplinas que utilizam o AVA
“Avançar” como suporte pedagógico. As disciplinas têm utilizado recursos
tecnológicos como fóruns de discussão, chats, wikis, diários, glossários,
lições, questionários, entre outros recursos disponíveis no Moodle - e
também fora dele (blogs, páginas na web) - para potencializar o ensino-
aprendizagem de PLE na instituição. Em pouco tempo de implantação dos
cursos, os resultados têm se mostrado bastante satisfatórios. Ao longo das
disciplinas, é possível observar: o crescente aumento da motivação dos
alunos, sua melhor interação, tanto online quanto nas aulas presenciais, a
diminuição da inibição para se expressar oralmente e por escrito nos chats,
fóruns, a autorregulação da aprendizagem, seja através da solução de
problemas de forma individual e/ou coletiva, consolidação de input
linguístico favorável para a aprendizagem. Enfim, a utilização do “Avançar”
nas aulas de PLE, além de estar em consonância com as diretrizes do MEC
para a área, tem sido um diferencial na UFLA. É importante observar que,
a resistência inicial, menos por parte dos alunos e mais por parte dos
docentes, em integrar as atividades desenvolvidas no AVA-Avançar à carga
horária das disciplinas, é uma questão ainda a ser resolvida. Embora o
regulamento da UFLA permita que 20% da carga horária das disciplinas
presenciais sejam ministradas em ambiente virtual, esse percentual tem se
mostrado insuficiente diante da demanda de aprendizagem dos aluno.
Ademais, propor cursos de PLE que contemplem a modalidade mista de
aprendizagem (blended learning) ainda é um desafio que merece ser
encarado, a partir da reflexão conjunta dos envolvidos na área.
3.4.6 Um elo entre nós: uma experiência de ensino de português como
língua estrangeira na UFLA. Débora Racy Soares – UFLA
Uma das diretrizes do Programa Português sem Fronteiras (PsF), do
MEC (Ministério da Educação), diz respeito à introdução, paulatina, do
ensino híbrido (blended learning), com foco na aprendizagem de Português
como Língua Estrangeira (doravante PLE), através da adoção de atividades
a distância e presenciais. Os cursos de PLE da Universidade Federal de
Lavras (UFLA) foram recentemente implantados já atendendo, desde seu
planejamento, as diretrizes propostas pelo MEC. Assim sendo, por ora
refletir-se-á sobre a adoção do ELO, entre tantas NTICs (Novas Tecnologias
de Informação e Comunicação) disponíveis, como suporte virtual capaz de
verificar e consolidar a aprendizagem de PLE. O ELO
(http://www.elo.pro.br/) é uma plataforma de autoria, especialmente
desenvolvida para possibilitar a criação de vários tipos de atividades
didáticas, voltadas para o ensino de idiomas. Entre seus recursos destacam-
se questionários e feedbacks progressivos para cada resposta do aluno,
correta ou incorreta. Este software gratuito, disponível na internet, é
relativamente fácil de utilizar, além de conter “boias” explicativas para
alunos e professores, caso dúvidas apareçam. Várias atividades de reforço
foram elaboradas no ELO e utilizadas como complementação das aulas
presenciais de PLE na UFLA. Observou-se que a aquisição da L2/L3 foi
potencializada através de atividades como jogos de memória, reconstrução
textual, complete as lacunas, entre outras. Através destas atividades, os
discentes do nível básico, majoritariamente falantes de espanhol como
primeira língua, puderam melhor compreender os falsos cognatos, os
gêneros e os plurais dos substantivos em português brasileiro. Assim, as
atividades desenvolvidas no ELO mostraram-se bastante eficazes do ponto
de vista pedagógico, além de atenderem as diretrizes do MEC para a área,
através da inserção das NTICs nas aulas de PLE.
3.4.7 De que modo o professor de Português Segunda Língua apresenta
a língua e a cultura brasileira em sala de aula e que implicações isso tem
para o seu ensino? - Camila Alves Gusmão – UFBA
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa de paradigma
qualitativo de cunho interpretativista e de caráter etnográfico, que teve por
objetivo investigar a prática do docente de Português Segunda Língua (PL2)
e seu trabalho com a língua e cultura brasileiras. A pesquisa foi norteada a
partir da seguinte pergunta geral: De que modo o professor de Português
Segunda Língua apresenta a língua e a cultura brasileira em sala de aula e
que implicações isso tem para o seu ensino? Para tanto, enveredamos para
as áreas da linguística aplicada e dos Estudos Culturais, tendo como base,
para a formação do referencial teórico, autores como MENDES (2010; 211),
RAJAGOPALAN (2009), KRAMSCH (2010), HALL( 2001). A partir das
discussões e das análises implementadas, tentamos compreender como os
professores lidam com os estereótipos que são agregados à cultura
brasileira, e se isso, de alguma forma, afeta a sua prática, além de pensar
sobre como a abordagem intercultural pode contribuir para uma formação
mais sensível e crítica desses professores. Para isso, foram usados diários
de anotações - relata ações, falas e procedimentos dos professores e alunos
durante as aulas observadas - e entrevista semiestruturada; além de terem
sido feitas observações de aulas e análise dos materiais didáticos utilizados
pelos docentes. Com isso, percebemos que a definição de língua como
cultura ainda é confundida com o conceito estruturalista/formalista e que os
professores pouco sabem sobre as concepções atreladas à abordagem
intercultural, agindo, muitas vezes, como sujeitos de alienação de sua
própria cultura. Desse modo, refletiremos, a partir dos resultados de
pesquisa, sobre algumas problemáticas que fazem parte da realidade da
maioria dos professores de Português Segunda Língua no Brasil.
3.4.8 O português como LE/L2 na américa latina: mapeamentos
iniciais-Robson Batista Moraes – UFBA
O ensino de PLE/PL2 no contexto latino-americano tem se expandido
de forma bastante significativa, em virtude do grande crescimento do
número de publicações sobre o tema, realização de eventos, elaboração de
projetos de ensino, de formação de professores e de pesquisa, defesa de
trabalhos de pós-graduação concernentes a questões específica da área e a
implementação de políticas que promovem o português brasileiro nos
contextos latino-americanos e no mundo. Considerando esse cenário, este
trabalho tem o objetivo de realizar um mapeamento inicial das instituições
de ensino que oferecem cursos de PLE/PL2, no contexto da América Latina,
com recorte nos países Brasil, Argentina e México. Os mapeamentos serão
feitos a partir de ampla pesquisa via internet, com contato com as
instituições quando necessário, e serão mapeadas apenas as iniciativas
oficiais, ou seja, decorrentes de ações dos governos locais (universidades,
institutos etc.) ou do governo brasileiro. A partir do mapeamento inicial,
serão feitas a leitura e a análise dos dados colhidos em pesquisa
desenvolvida pelo Núcleo de Estudos em Língua, Cultura e Ensino – LINCE
(CNPQ/UFBA),que gerou questionários e entrevistas com professores de
português LE/L2 que atuam nesses países, o que nos dará importantes
informações sobre os contextos de atuação desses profissionais. Os
resultados desta pesquisa,ainda em andamento, são provenientes da
comparação dos contextos históricos do ensino de português LE/L2 nos
países tomados como foco, com a formação de professores em ambiente
brasileiro, para a realização de análises e confrontos, com vistas a
aprofundar a reflexão sobre o ensino e a formação desses professores no
Brasil e no espaço regional latino-americano. Para subsidiar as discussões,
serão tomadas como base teórico-metodológica as orientações, teorias e
métodos dos campos da Linguística Aplicada, da Educação e da Política
Linguística.
3.4.9 Celpe-Bras: formação docente em Língua Portuguesa como
Segunda Língua e como Língua Materna- Laura Camila Braz De
Almeida- UFS
O presente artigo apresenta resultados de um estudo qualitativo
sobre o efeito retroativo do Celpe-Bras, exame de proficiência de PLE, no
processo de ensino/aprendizagem de português como segunda língua e
como língua materna. Esse estudo é uma das etapas de execução do projeto
de pesquisa chamado Aprimoramento do Processo de Ensino de Português
como Língua Materna (PLM) e como Segunda Língua (PL2), desenvolvido
na Universidade Federal de Sergipe. Almeja-se, com esse projeto, contribuir
para a formação docente dos estudantes do Curso de Letras dessa
Universidade, por meio das atividades de pesquisa, ensino e extensão.
Baseando-se na análise de gêneros escritos apresentados por Schenewly e
Dolz (2004) e sobre a abordagem comunicativa e a abordagem intercultural
discutida por Almeida Filho (2002) e a Linguística Aplicada discutida por
Moita Lopes (2002), pretende-se analisar o processo de
ensino/aprendizagem de língua portuguesa como segunda língua e como
língua materna. Também é feito um estudo sobre leitura (Kleiman, 2008;
Koch, 2007) para fundamentar a elaboração e aplicação das tarefas de
compreensão e produção de textos desenvolvidas nas aulas de língua
portuguesa. As atividades de avaliação utilizadas nas aulas de PL2 e PLM
foram baseadas nas tarefas do exame Celpe-Bras por este avaliar as
habilidades compreensão e produção oral e escrita de forma interligada
(WIDDOWSON, 2005) e por as suas questões serem pautadas na
abordagem comunicativa (CANALE, 1995) e na abordagem intercultural
(FANTINI, 200). Para avaliar a compreensão e produção escrita, há duas
questões que utilizam a leitura de um texto escrito e, em seguida, há a
produção escrita com base num gênero textual apresentado em cada uma
dessas questões. Assim, foram feitas as atividades de avaliação formativa
(BLOOM, 1983) da aprendizagem nas aulas de PLM e PL2. O resultado
dessa pesquisa evidencia o efeito retroativo do Celpe-Bras nesse processo
de ensino/aprendizagem, uma vez que o grupo de pesquisa da graduação
envolvido nesse projeto passa a ensinar conforme essas teorias propostas,
ao aplicá-las nas aulas de PL2 e de PLM.
3.4.10 Interferência Das Instruções Escritas Na Aplicação Da Prova
Oral do CELPE-BRAS- Cláudia Mendonça- UFPE
A experiência de quinze anos corrigindo o Exame de Proficiência em
Português para Estrangeiros (CELPE-Bras), particularmente a prova oral
(PO), nos permitiu observar mudanças de orientação quanto à sua aplicação.
Inicialmente, recomendava-se que usássemos os elementos provocadores
(EP) para uma interação o mais próxima possível de uma conversa,
inclusive ressaltando-se que as perguntas do Roteiro de Interação (RI)
deveriam constituir apenas sugestões caso o candidato apresentasse
dificuldade. Com a substancial expansão do exame e consequente aumente
no número de aplicadores e culturas envolvidas, tem-se enfatizado a
necessidade de um procedimento mais rígido com vistas a garantir a
padronização e confiabilidade do exame. Embora a partir da edição 2015.1,
as instruções dispostas no RI ressaltem que “o entrevistador somente
sustente a conversa” e que a PO “não seja um ato mecânico de perguntas e
respostas descontextualizadas” tais orientações não têm sido devidamente
observadas, o que tem transformado um número significativo de POs em
questionários, distanciando-se do uso real da língua, o que constitui um dos
pressupostos básicos do CELPE-Bras. Fundamentados em Marcuschi
(1997, 2001) entre outros, consideramos que, em parte, esta deformação
decorre do fato das perguntas serem formuladas em língua escrita para
serem usadas em um contexto de oralidade, o que exige adaptações, não
apenas quanto à sequência, mas, principalmente, quanto à forma das
perguntas, dado que se trata de duas modalidades de uso da língua: escrita
e oral. Com base nestas observações, analisamos um corpus constituído de
191 áudios das edições 2015.1 e 2015.2 do exame, chegando a distinguir
três categorias de PO: conversa (C), conversa/questionário (C/Q) e
questionário (Q). A quantificação destas categorias revelou os seguintes
resultados: 35,08% correspondem à categoria C, 24,60% à categoria C/Q e
40,32% à categoria Q. Ou seja, parte significativa das POs apresenta-se de
forma bastante distinta do que se poderia considerar um uso real da língua
oral em um contexto coversacional . Em face da dificuldade de adaptação
de um roteiro escrito para uso oral por parte de alguns aplicadores e diante
de contextos culturais tão diversos, propomos que, ao invés de perguntas,
sejam sugeridos tópicos pertinentes aos temas dos EP, deixando ao
aplicador a tarefa de elaborar as perguntas. Pois, encontrando-se em uma
situação real de oralidade conversacional , certamente elaborariam
perguntas mais apropriadas, inclusive podendo levar em consideração os
aspectos sócio-culturais do contexto situacional.