Caderno de Resumos Ix Jornada Discente 2014

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UFRJ

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CADERNO DE RESUMOS DA IX JORNADA DE ESTUDOS

HISTÓRICOS PROFESSOR MANOEL SALGADO

CORPO DISCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

HISTÓRIA SOCIAL DA UFRJ

NOVEMBRO DE 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Reitor

PROFESSOR ANTONIO CARLOS LEVI DA CONCEIÇÃO

Vice-Reitor

PROFESSOR JOSÉ LEDO ALVES DA CUNHA

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

PROFESSORA DÉBORA FOGUEL

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História Social

MONICA GRIN

Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História

Social

MARCOS LUIZ BRETAS DA FONSECA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Programa de Pós-Graduação em História

Social

Largo de São Francisco de Paula, 1, sala 205.

Centro, Rio de Janeiro-RJ. CEP: 20.051-070.

Endereço eletrônico: www.ppghis.historia.ufrj.br

FICHA CATALOGRÁFICA

IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado [2014: Rio de Janeiro, RJ]

IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado: 24 a 28 de novembro de

2014, Rio de Janeiro, Brasil – 2014.

Número de pág p.;

Caderno de Resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado

promovido pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal

do Rio de Janeiro.

ISBN:

1. História. 2. História Social. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. II. Centro de

Filosofias e Ciências Humanas. III. Título.

CDD??

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 4

MEMBROS DA COMISSÃO EXECUTIVA

Amanda Oliveira – PPGHIS/UFRJ

Aline Martello – PPGHIS/UFRJ

Bruno Capilé – PPGHIS/UFRJ

Larissa Riberti – PPGHIS/UFRJ

Lucas C. S. de A. Pereira – PPGHIS/UFRJ

Marcus Vinicius Kelli – PPGHIS/UFRJ

Natascha Otoya – PPGHIS/UFRJ

Renata Rufino – PPGHIS/UFRJ

Vitor Leandro de Souza – PPGHIS/UFRJ

MEMBROS DA COMISSÃO CIENTÍFICA

Adrianna Setemy – PPGH/UFF

Antonio Herculano Lopes - FCRB

Daniela Paiva Yabeta de Moraes

Eduardo Ferraz Felippe

Elisa Goldman

Felipe Santos Magalhães – PPGHR/UFRRJ

Fernando Castro – PPGHIS/UFRJ

Flávio Limoncic – PPGH/UNIRIO

Gustavo Naves Franco – PPGH/UNIRIO

Jean Rodrigues Sales – PPGHR/UFRRJ

Lise Sedrez – PPGHIS/UFRJ

Luciana Mendes Gandelman – PPGH/UFRRJ

Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro – PPGH/UFF

Marcos Guimarães Sanches – PPGH/UNIRIO

Margareth de Almeida Gonçalves – PPGHR/UFRRJ

Monica Grin – PPGHIS/UFRJ

Oswaldo Munteal – PPGHS/UERJ

Samantha Quadrat – PPGH/UFF

Silvio Cesar de Souza Lima

SUMÁRIO

Mesa Arte e História .................................................................................................................9

Corpo e voz: a expressividade na voz de Elis Regina. ...............................................................9

A narrativa que se repete – estudo sobre a análise do teatro de catequese no Brasil proposta

em Panorama do teatro brasileiro. ..........................................................................................9

Um Gavroche nos meios literários: política, sociedade e teatro. ...........................................10

Mesa História e memória de regimes autoritários na América Latina dos séculos XX e

XXI .............................................................................................................................................11

História, memória e direitos humanos: os movimentos estudantis mexicanos de 1968 de e

1971 a partir do Informe da Femospp. ...................................................................................11

O golpe militar chileno sobre o olhar dos intelectuais de esquerda.......................................11

Os espaços de memória traumática como via de superação do esquecimento. ....................12

Quem conta um conto, conta o que? Reflexões sobre história, retórica e justiça por meio da

análise dos processos apresentados à Comissão de Anistia ...................................................12

Mesa Colonização no interior do Brasil ...............................................................................14

Sesmarias em Palmares: notas iniciais de pesquisa. ..............................................................14

“Os bandeirantes paulistas e o mundo atlântico moderno: circularidades atlânticas e suas

influências na vila de São Paulo do século XVII”. ....................................................................15

A importância das relações maritais entre índios e europeus no processo de colonização do

Planalto Paulista. ....................................................................................................................16

“Guardareis o Regimento”: instruções de governo e poderes do Governo Geral do Estado do

Brasil no século XVII. ..............................................................................................................16

As relações de poder do Estado Português no início da colonização brasileira. .....................17

Burocracia e aventura: o caso dos Secretários de governo em São Paulo (1688-1750). ........18

Mesa História e construção de identidade .........................................................................20

A construção da identidade regional do Oeste Paulista nas obras de Jolumá Brito, Mario

Neme e Aluísio de Almeida (1940 - 1960). .............................................................................20

Pará: Migração, cultura política e separatismos (1960-2011). ...............................................21

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 6

Questionar com a própria língua: o discurso combativo de Mário Pinto de Andrade na

revista angolana Mensagem (1951-1952). .............................................................................21

O “Outro” Inventado: relatos de ibéricos e orientais na África Índica – (séc. XVI). ................22

Mesa Cultura popular, redes e espaços de sociabilidades nas cidades..........................23

Clubes Recreativos Suburbanos do Rio de Janeiro: espaços de lazer social e associativismos.

...............................................................................................................................................23

Fronteiras da diferença: a experiência do imigrante sob a lógica da desconfiança na cidade

(1930-1945). ...........................................................................................................................23

Gente do Mercado: Sociabilidades e cultura popular na Belle époque carioca. ....................24

Crédito e Relações de Parentesco no Rio de Janeiro nos dois primeiros decênios do século

XIX. .........................................................................................................................................24

Mesa Escravidão, abolição e debates racialistas ...............................................................26

Redes de solidariedade e luta pela liberdade nas sociedades beneficentes negras no Rio de

Janeiro no século XIX. .............................................................................................................26

Hierarquia e cor social: Recôncavo da Guanabara, RJ, século XVIII ........................................26

“Negro, sim! Sou negro!”: Artur Azevedo e os debates racialistas de finais do século XIX. ...27

“Como se de ventre livre houvesse nascido, porém com a condição de...” Notas de pesquisa

sobre alforrias condicionais na cidade do Rio de Janeiro. ......................................................28

O tempo do progresso: abolicionismo brasileiro....................................................................29

Mesa Faces das ditaduras ......................................................................................................30

Estado ditatorial e empresariado: notas sobre a caracterização empresarial-militar nas

transições das ditaduras da Argentina e Brasil (1974-1985). .................................................30

Usos da anistia entre 1970 e 2007. ........................................................................................30

A visão do Ministério das Relações Exteriores sobre os exilados brasileiros na França durante

o regime militar (1964-1985). ................................................................................................31

O Correio da Manhã e a política externa do governo Goulart ................................................32

Mesa História da ciência e saúde .........................................................................................33

A arte de curar as mulheres. ..................................................................................................33

O Instituto de Identificação da Polícia Civil do Rio de Janeiro em pauta: a circulação de ideias

científicas através dos Arquivos de Medicina Legal e Identificação - (1933-1946). ................33

Um estudo sobre as moléstias mentais dos escravos no Brasil durante o começo do século

XIX. .........................................................................................................................................34

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 7

Mesa História e literatura ......................................................................................................36

Mário de Andrade: a viagem como conversão “folclorista”. ..................................................36

Norbert Elias e a dimensão documental da literatura. ...........................................................37

Plágio como função literária. ..................................................................................................38

Um “Mal-estar no incêndio”: internacionalismo, divulgação literária e o modernismo de

Sérgio Milliet. .........................................................................................................................38

Temporalização e espacialização na distopia de Haruki Murakami em 1Q84. .......................39

Mesa História política das Américas: formação do estado e pensamento político .....41

As armas da República: a influência das elites locais no recrutamento de tropas na Argentina

durante a Guerra do Paraguai. ...............................................................................................41

A aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos da América na obra “A situação

Internacional do Brasil” (1913). ..............................................................................................42

Ao sul do Atlântico: dimensões da independência do Brasil na província Cisplatina (1821-

1824). .....................................................................................................................................43

Reflexões sobre a influência do liberalismo democrata americano nos discursos de Barack

Obama. ...................................................................................................................................44

Cidadania estrangeira: apontamentos para compreensões da ideia de cidadania de Domingo

Faustino Sarmiento em seu exilio no Chile. ............................................................................45

Mesa Império Português e religiosidade.............................................................................46

O espaço de autonomia das religiosas do Convento de Nossa Senhora da Conceição da

Ajuda. .....................................................................................................................................46

Rio de São Januário e Sant’Ana: santos patronos e política católica na diocese do Rio de

Janeiro, século XVIII. ...............................................................................................................46

Surgimento e evolução dos retratos de Corte em Portugal do século XV. .............................47

Mouriscas judaizantes no reino luso do século XVI. ...............................................................48

Mesa Narrativas históricas, patrimônio e cidades ............................................................50

Petrópolis, Cidade Imperial, e suas outras histórias. ..............................................................50

Entre letras e memórias: A escrita da história iguaçuana a partir da Arcádia Iguassuana de

Letras (AIL). ............................................................................................................................50

Uma rede de amigos ou de livros? – O INL entre o funcionalismo e a sociabilidade..............51

Um estudo comparativo sobre os processos que consolidaram Lisboa e Madrid como

cidades-capitais. .....................................................................................................................52

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Mesa Pensamento político, indivíduos e biografia na América Latina...........................54

Santos Dumont para crianças: biografia, política cultural e memória na heroicização do

inventor brasileiro durante a década de 1940. ......................................................................54

Uma biografia em dois tempos: as duas vidas de Simões Lopes Neto. ..................................55

Crônicas Mestiças: um estudo sobre as estratégias de dominação indígena através das obras

de Bernardino de Sahagún – México, século XVI. ..................................................................55

Tradicionalismo didático versus geração Y: A reconstrução do professor de história do século

XXI. .........................................................................................................................................56

Juan de Solórzano Pereira e a defesa da expansão espanhola na América. ...........................57

Mesa Experiências fascistas e autoritárias .........................................................................59

Reflexões e apontamentos sobre a relação entre as Forças Armadas do Brasil e os regimes

fascistas. .................................................................................................................................59

Criminosos nazistas no brasil: a gênese de um axioma. .........................................................60

“Nenhum comunista está sozinho em meio à batalha”: Jorge Amado e a Guerra Civil

Espanhola (1936-39). .............................................................................................................60

Mesa Relações de poder e construção do Estado..............................................................61

Governar é preciso: racionalização e representação do território brasileiro pelo governo

imperial no Segundo Reinado. ...............................................................................................61

Petróleo e progresso na Era Vargas........................................................................................62

O Compromisso e o Reformismo Agrário no Governo João Goulart. .....................................62

A microhistória no Ensino de História: uma nova possibilidade metodológica. .....................63

Mesa Religiosidade no mundo ocidental ............................................................................64

O papel das imagens nos livros de horas. ...............................................................................64

Testar como instrumento para a salvação no setecentos. .....................................................65

Razão de Estado e pragmatismo católico em Diego Enríquez de Villegas – século XVII. ........65

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MESA ARTE E HISTÓRIA

Corpo e voz: a expressividade na voz de Elis Regina.

Andrea Maria Vizzotto Alcântara Lopes - doutoranda PPGHIS/UFRJ

Essa comunicação propõe a discussão sobre o canto de Elis Regina e sua

contribuição para a canção brasileira. O estudo da recepção é central na minha

pesquisa e uso como fontes relatórios do Ibope com pesquisas quantitativas sobre a

vendagem de discos e execução radiofônica, além de matérias de jornais e revistas da

época. Problematizo certa noção de intelectualidade conferida à MPB e,

consequentemente, o circuito restritivo de consumo que lhe é atribuído, buscando

também o que estava sendo apresentado pelos mediadores e compreendido pelo

público como MPB, que abrangia mais artistas do que os têm sido discutidos nos

trabalhos acadêmicos. Considero fundamental na música de Elis Regina a sua

expressividade, a forma como trabalha o conteúdo emocional nas canções, que é

também um aspecto constantemente lembrado por ouvintes fãs, além do seu domínio

técnico como instrumentista da voz. Contudo, fazendo uma revisão historiográfica,

observa-se que esse tema não aparece nas discussões acadêmicas sobre MPB, em

que se privilegia o tema do engajamento político e uma noção de “linha evolutiva”

tropicalista que ignora outros procedimentos musicais inovadores não pautados pela

vanguarda artística, muitas vezes naturalizando-se o debate produzido nas décadas

de 1960 e 1970. E onde situar a obra de Elis Regina – e outros intérpretes e

compositores – dentro desses esquemas restritivos? O conceito de performance, de

Paul Zumthor, tem orientado a minha discussão. Considero que a interpretação de Elis

Regina – ao longo de toda a sua trajetória artística, com diferentes graus de

intensidade – convidava a uma atuação mais efetiva do corpo, pela dança, pelo

sofrimento, pela alegria, pela reflexão, pois, segundo Zumthor, os nossos sentidos são

também órgãos do conhecimento e formas ativas de posicionamento perante o

mundo. É essa performance e a singularidade do canto de Elis Regina e sua

contribuição para a música popular urbana brasileira que proponho discutir.

Palavras-chaves: canção brasileira; performance vocal; recepção.

A narrativa que se repete – estudo sobre a análise do teatro de catequese no Brasil proposta em Panorama do teatro brasileiro.

Thiago Herzog – Mestrando PPGHIS/UFRJ

O artigo pretende analisar os escritos de Sábato Magaldi sobre o teatro de catequese

no Brasil, a primeira experiência de artes cênicas em nossa terra, segundo ele. Será

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 10

privilegiado, como material de estudo o capítulo O teatro como catequese do livro

Panorama do teatro brasileiro (1996. [1962]), procurando investigar e discutir as

matrizes referenciais dos projetos de teatro e de história contidos nas afirmações

desse autor sobre essa forma de praticar-se a arte teatral. Sábato foi um importante

crítico teatral jornalístico e ensaístico, professor aposentado da Escola de arte

dramática da Universidade de São Paulo (EAD/ USP), membro da Academia brasileira

de letras, considerado um dos “pais fundadores” da historiografia teatral brasileira, e

esta obra se tornou um cânone dos estudos históricos teatrais e um guia fundamental

de aulas nos cursos de graduação e pós-graduação em teatro e artes cênicas.

Partindo de uma minuciosa análise desta obra, serão investigadas as referências que

guiaram esta escrita da história do teatro brasileiro, procurando entender as relações

que o autor estabelece entre esse teatro realizado por padres e indígenas no Brasil

colonial e o teatro grego clássico e o teatro medieval, em um claro esforço de

aproximação entre a escrita de uma narrativa para o teatro nacional que adeque-se aos

moldes da narrativa tradicional sobre o teatro no ocidente. A partir delas será possível

demonstrar: a busca de uma inclusão de nossa história teatral à história do teatro

europeu; e a dupla operação realizada na conexão com dois períodos distintos, clássico

e medieval, demonstrando uma leitura hierarquizada para as artes cênicas no seu

projeto de escrita histórica. Os questionamentos propostos partem das indagações e

pontuações colocadas às formas tradicionais de análise de objetos culturais pelo new

historicism e pela nova História cultural francesa. Essa comunicação é integrante do

projeto de pesquisa para dissertação intitulado Teatro brasileiro sabático – Investigação

sobre as referências de história e teatro em Panorama do teatro Brasileiro.

Palavras-chave: Teatro de catequese, Panorama do teatro brasileiro, Sábato Magaldi

Um Gavroche nos meios literários: política, sociedade e teatro.

Giselle Pereira Nicolau Doutoranda PPGH – UFF

Gavroche foi o pseudônimo utilizado por Arthur Azevedo para assinar seus versos no

jornal O País. A trajetória deste teatrólogo e a sua atuação no meio social se entrelaçam

de modo singular em um momento mudanças no cenário político brasileiro, no difícil

processo de enraizamento da ordem republicana. Procurando evitar o risco de projetar

um trabalho que valorize mais o contexto do que a atuação de Azevedo na sociedade

pretende-se aqui ressaltar sua luta pela valorização e reconhecimento da atividade

teatral brasileira e seu engajamento nos debates políticos e literários à época.

Palavras-chave: Teatro, política, sociedade.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 11

MESA HISTÓRIA E MEMÓRIA DE REGIMES AUTORITÁRIOS NA

AMÉRICA LATINA DOS SÉCULOS XX E XXI

História, memória e direitos humanos: os movimentos estudantis mexicanos de 1968 de e 1971 a partir do Informe da Femospp.

Larissa Jacheta Riberti - Doutoranda PPGHIS/UFRJ

O trabalho que aqui se apresenta é parte das investigações que iniciei em 2013 em

decorrência do curso de doutorado. O projeto a ser desenvolvido é chamado “Justiça

de transição no México: a criação e as atividades desenvolvidas pela FEMOSPP -

Fiscalía Especial para Movimientos Sociales y Políticos del Pasado (2001-2006)”. A

pesquisa tem como objetivo central problematizar a criação e a existência do

organismo, enquanto mecanismo do processo de justiça de transição iniciado no

governo do presidente mexicano Vicente Fox (2000-2006), num contexto chamado de

“virada democrática” quando, depois de 71 anos no poder, o Partido Revolucionario

Institucional (PRI) perdeu as eleições presidenciais para o candidato do Partido de la

Acción Nacional (PAN).

Palavras-chave: México, Femospp, justiça de transição.

O golpe militar chileno sobre o olhar dos intelectuais de esquerda.

Ana Paula de Abreu Figueira - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Os diferentes olhares que analisam um fato histórico ou um acontecimento produzem

histórias, ou melhor, narrativas diferenciadas sobre um mesmo cenário, ao

analisarmos a construção da narrativa intelectual produzida acerca do golpe militar no

Chile em 1973 e veiculada através da Revista cubana Casa de las Américas no

período correspondente aos anos de 1969 a 1975, período este que marca o início da

experiência socialista no Chile (1969) e a consolidação do governo ditatorial de

Pinochet (1975), podemos perceber a construção de uma narrativa diferenciada do

governo militar chileno. Ao analisarmos a construção do discurso sobre o golpe militar

chileno, pelos intelectuais da Revista Casa de las Américas, e analisarmos a trajetória

e a atuação destes intelectuais que dialogavam no contexto histórico de fins do século

XX, temos que levar em consideração a que este discurso se insere dentro de um

projeto ideológico orientado pelo ideal revolucionário da revista cubana Casa de las

Américas, percebendo como a circulação de ideias através das páginas desse

periódico possibilitou a aproximação de intelectuais, políticos, professores, escritores,

poetas, dentre outros, de diversos países e instituições, que estavam construindo um

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 12

pensamento sobre as questões políticas, culturais e sociais de seu tempo e

manifestando um posicionamento político neste cenário que era marcado pela

bipolaridade entre Capitalismo e Socialismo. Podemos perceber ao analisarmos as

publicações destes intelectuais, a construção de uma narrativa diferenciada sobre o

golpe militar chileno, que se por um lado enfatiza a importância da experiência

socialista de Salvador Allende e os acontecimentos que precederam ao golpe militar

de 1973, também ressaltam a estratégia de denúncia da colaboração do imperialismo

norte-americano no golpe militar e a ênfase na conceituação do regime instaurado por

Pinochet de fascista. A denúncia do caráter fascista do golpe não se faz de forma

aleatória, já que a violência adotada pelo regime faz com que muitos intelectuais o

considerem semelhante aos governos fascistas.

Palavras-chave: Revista Casa de las Américas; Ditadura Chilena; Fascismo.

Os espaços de memória traumática como via de superação do esquecimento.

Carine Silva Muguet - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Tendo em vista os 50 anos do golpe de 1964, nossa proposta é demonstrar o esforço

de grupos sociais de todo país, pela a criação de espaços de memória, como

memoriais de resistência e circuitos urbanos da repressão e tortura. Buscaremos

refletir quais as implicações desses locais na construção de identidades e de que

forma poderiam impactar o meio social.

Palavras-chave: museus; ditadura; memória.

Quem conta um conto, conta o que? Reflexões sobre história, retórica e justiça por meio da análise dos processos apresentados à Comissão de

Anistia.

Pedro Ivo Carneiro Teixeirense - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Este trabalho pretende apresentar algumas ideias acerca das relações entre História,

retórica e justiça de transição por intermédio do estudo de um conjunto de processos

apresentados à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça desde o ano de 2001.

Em um primeiro plano, o estudo pretende apresentar uma série de reflexões acerca

dos limites que a configuração de dado gênero narrativo impõe ao autor do relato. Em

um segundo plano, o trabalho busca apresentar o processo de configuração do gênero

narrativo mencionado, que surge por meio da definição de uma modelo para a

apresentação das demandas de justiça, história e memória junto à Comissão criada

por meio da lei 9.140 de 1995. Dessa forma, o estudo buscará apresentar aspectos

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 13

relevantes para a compreensão dos recursos de poder atribuídos à Comissão de

Anistia. De um lado, analisar os processos que resultaram na instituição desse

importante mecanismo de justiça de transição e sua inserção na história da transição

política que marcou o término d último ciclo ditatorial brasileiro. Por outro lado, refletir

sobre as disputas políticas que definiram o modelo de narrativa que deve configurar as

demandas apresentadas à mencionada Comissão. A inserção do debate proposto

parte da concepção de que a história da Comissão de Anistia instituída pelo Estado

brasileiro deve ser entendida no amplo quadro de afirmação dos mecanismos de

justiça de transição adotados desde o final da década de 1970. A formulação teórica

desses mecanismos estabelece importante diálogo com os processos transicionais

que, de forma geral, ocorrem a partir do surgimento de novos regimes políticos ou da

mudança paradigmática das concepções de justiça. No século passado, por

intermédio da constatação de violações massivas dos Direitos Humanos, que foram

perpetradas ao longo das décadas de 1930 e 1940, começa a tomar corpo uma dada

noção contemporânea de justiça transicional, que será a base de formação do modelo

adotado no Brasil.

Palavras-chave: História, Justiça de transição, Comissão de Anistia.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 14

MESA COLONIZAÇÃO NO INTERIOR Do BRASIL

Sesmarias em Palmares: notas iniciais de pesquisa.

Felipe Aguiar Damasceno – Doutorando PPHIS/UFRJ

Ao longo de séculos, muito se escreveu sobre o famoso episódio do Quilombo dos

Palmares. Análises de todo o tipo tentaram dar conta de elucidar o emaranhado de

eventos que caracterizou tão longo fenômeno (c.1600 - c.1716). No entanto, muito

pouco se escreveu sobre o que alguns autores identificam como o principal motivo da

continuada guerra aos quilombolas da Serra da Barriga, na capitania de Pernambuco:

a ocupação territorial e a incorporação das terras ocupadas pelos quilombolas à

efetiva jurisdição da Coroa portuguesa, através do sistema de sesmarias. Por volta de

1678, em meio a um frustrado acordo de paz entre lideranças do quilombo e o

governador da capitania, diversos lotes de terra foram concedidos em sesmarias, de

diferentes dimensões, na área onde os mocambos dos negros ainda resistiam. Muitos

dos agraciados foram os oficiais militares que integraram o esforço de guerra. Este

pequeno texto busca uma primeira aproximação ao problema das terras palmarinas, e

seus possíveis desenvolvimentos entre a última fase da guerra aos quilombos (c.1680

– c.1716) e meados do século XVIII. Através da documentação vasta produzida sobre

o fenômeno, é possível identificar, mesmo que parcialmente até o momento, os

primeiros sesmeiros a ter jurisdição sobre estas terras, suas famílias, seus cargos na

administração colonial, assim como uma remota ideia da localização das terras

recebidas. Acredito que, com o desenrolar da pesquisa de doutorado que ora

desenvolvo, possa ser visível, ou pelo menos sugerível, que mesmo após a derrota

das principais lideranças palmarinas, comunidades quilombolas ainda persistiam por

toda a região, integradas, como sempre estiveram, à sociedade colonial local ao seu

redor. Algumas das questões mais importante que procuro “responder” são sobre as

relações entre quilombolas e escravos que trabalhavam as roças e lavouras da região.

Há indícios de que alguns dos negros sublevados capturados retornaram ao cativeiro

nas próprias terras concedidas aos conquistadores em sesmarias. A pergunta que

surge de imediato é como se deram as relações entre sesmeiros, arrendatários,

escravos e negros fugitivos em um contexto de franca crise do açúcar pernambucano

e avanço do que alguns chamam de campesinato na região? Longe de respondê-la,

espero conseguir formular de forma coerente, teórica e empiricamente, esta questão

com o presente texto.

Palavras-chave: Palmares; sesmaria; Pernambuco; século XVIII.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 15

“Os bandeirantes paulistas e o mundo atlântico moderno: circularidades atlânticas e suas influências na vila de São Paulo do século XVII”.

Luiz Pedro Dario Filho - Mestrando PPGH/UFF

A história atlântica vem surgindo, nas últimas décadas, como uma categoria teórico-

metodológica inovadora no auxílio de historiadores na construção das suas pesquisas

a respeito das sociedades do Antigo Regime. Sua principal contribuição é deslocar o

eixo interpretativo do mundo moderno para o oceano atlântico, estabelecendo nele o

seu principal centro de gravidade. Com isso, todos os continentes "unidos" através

desse oceano - Américas, Europa e África - seriam conectados não apenas pelo mar,

mas por todas as trocas que nele se estabeleceram durante o período das empresas

coloniais. Fossem essas trocas econômicas, demográficas, culturais ou sociais. E

seriam através delas, dessas circularidades atlânticas, que o mundo moderno teria se

formado. O objetivo principal dessa comunicação é inserir a vila de São Paulo, da

primeira metade do século XVII, dentro desse mundo atlântico. Pretendo demonstrar

que o conflito entre jesuítas e bandeirantes, e seus respectivos projetos coloniais, não

podem ser compreendidos, em toda a sua complexidade, sem levarmos em

consideração as interdependências dessas trocas mediadas pelo Atlântico. Com a

invasão e posterior estabelecimento dos holandeses no nordeste da América

portuguesa entre finais da década de 1620 e ao longo da década de 1630, muitas das

antigas rotas comerciais que alimentavam o mercado americano, internas ou externas

ao continente, se perderam ou foram obstruídas. Esse abastecimento teve que ser

provido através da ação de outros comerciantes e núcleos comunitários, com

participação ativa dos colonos da vila paulista. Dessa forma, mesmo que

indiretamente, as circularidades atlânticas afetaram de forma concreta a vida e as

dinâmicas internas da vila paulista, sobretudo no que diz respeito à maior demanda de

escravos e, consequentemente, à intensificação dos conflitos com os padres jesuítas.

Com isso, ainda que de forma preliminar, concluirei que existem certos aspectos da

conjuntura colonial paulista do século XVII que apenas são passíveis de serem

compreendidas ao percebermos que o mundo moderno era, de uma certa forma,

também um mundo atlântico.

Palavras-chave: história atlântica; jesuítas, bandeirantes paulistas.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 16

A importância das relações maritais entre índios e europeus no processo de colonização do Planalto Paulista.

Silvana Alves de Godoy - Doutoranda PPGHIS/UFRJ

Por meio de fragmentos da trajetória de descendentes dos líderes indígenas Tibiriçá e

Piquerobi esta comunicação analisa a importância das alianças entre indígenas e

europeus para o sucesso da ocupação e colonização da capitania Paulista, bem como

o surgimento de uma nobreza da terra. Martim Afonso, o cacique Tibiriçá, era o

principal líder tupiniquim do planalto paulista e chefiava a aldeia de Inhapuambuçu,

também chamada de Piratininga. Piquerobi, por sua vez, chefiava outra importante

aldeia, denominada de Ururaí. Tibiriçá e Piquerobi casaram suas filhas com europeus.

Através das genealogias destas famílias, é possível analisar o processo de ocupação do

planalto paulista, a importância das alianças entre europeus e indígenas e a formação

de uma nobreza da terra formada a partir dos matrimônios entre descendentes de

lideranças indígenas e europeus. Dessa forma, a compreensão da trajetória de

membros das famílias de Tibiriçá e Piquerobi contribui para um melhor entendimento do

processo de formação e consolidação de uma elite na capitania de São Paulo.

Palavras chaves: lideranças indígenas, europeus e São Paulo colonial.

“Guardareis o Regimento”: instruções de governo e poderes do Governo Geral do Estado do Brasil no século XVII.

Hugo André Flores Fernandes Araújo - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Os regimentos dos governadores gerais do Estado do Brasil são uma fonte

privilegiada para o estudo das dinâmicas políticas durante o Antigo Regime. Podemos

caracterizar o regimento como um instrumento régio por excelência, uma vez que era

utilizado para delegar poderes e delimitar jurisdições, definindo assim as funções

políticas de vários ofícios e concelhos da Monarquia Portuguesa. A importância dos

regimentos reside entre outras coisas na delegação de poderes régios aos

governadores gerais, pois através da transferência de um atributo próprio do monarca,

a “regalia”, os governadores gerais podiam exercer sua autoridade em nome do coroa.

Por tudo isso, propomos uma análise comparativa entre os regimentos que foram

passados aos governadores gerais entre 1621 e 1677, a fim de perceber e entender

como os poderes e as instruções de governo foram delegadas neste período.

Buscamos conjugar em nossa análise questões quantitativas e qualitativas. Para tanto,

observaremos de modo comparativo o número de “capítulos” em cada regimento. Por

outro lado, também buscaremos contemplar as especificidades destas instruções,

atentando para o detalhamento dispensado na elaboração do texto da instrução.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 17

Buscamos estabelecer diálogos com a historiografia que abordou os regimentos, de

modo a levantar novas questões para o debate sobre a organização do poder político-

administrativo na América Lusa durante o século XVII. A escolha desses regimentos

como objeto de análise foi feita tendo em vista o contexto dinâmico do Estado do

Brasil no século XVII. Sendo assim é preciso ressaltar que o regimento de Diogo de

Mendonça Furtado foi elaborado durante a União Ibérica (1621), e como a

historiografia recente apontou, este documento serviu de modelo para a dinastia dos

Bragança, que incorporou a experiência castelhana ao seu modo de governo,

enviando regimentos semelhantes aos governadores Antônio Teles da Silva (1642),

Conde de Atouguia (1654) e Afonso Furtado de Mendonça (1671). A mudança no

“modelo” de regimento só se verificou a partir do documento passado a Roque da

Costa Barreto, elaborado em 1677. Este foi o “modelo” de regimento que permaneceu

como o principal norte de poderes e jurisdições dos governadores gerais até o início

do século XIX.

Palavras-chave: Governo Geral, Regimentos, Século XVII.

As relações de poder do Estado Português no início da colonização brasileira.

Thaís Silva Félix Dias - Mestranda PPGH/UNIRIO

O trabalho em questão busca compreender de que forma as relações entre o poder

central e os poderes periféricos, já existentes no Estado Moderno Português, foram

desenvolvidas na sociedade do Brasil colonial. Para isso pretende-se analisar as

relações de poder entre a metrópole portuguesa e sua colônia brasileira,

representadas na relação entre o Governo-Geral, sob a jurisdição do primeiro

governador geral Tomé de Sousa, e a Capitania de Pernambuco, administrada por

Duarte Coelho, entre os anos de 1548 a 1553. A escolha por esta delimitação

cronológica corresponde ao período no qual Tomé de Souza ficou no cargo como

governador geral, representando assim um primeiro momento da implantação do

Governo-Geral na colônia. Da mesma forma a escolha é baseada na relevância

econômica que a capitania de Pernambuco tinha dentro da economia colonial lusa –

considerada uma das mais prósperas -, no prestígio que seu donatário possuía

perante o monarca e nos tensos diálogos que existiram entre o governador geral e

Duarte Coelho, tensões expressas nas cartas que ambos escreveram ao monarca D.

João III no presente recorte cronológico. A pesquisa também almeja perceber como a

ideia de corpo social (ou sociedade corporativa), que esteve presente ao longo da

existência das monarquias na Europa Ocidental no início da Era Moderna, foi aplicada

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 18

em Portugal. Nessa ideia, o poder era repartido entre os membros do corpo, porém

não concentrado em apenas um membro, onde o poder central era representado pela

cabeça e os poderes periféricos pelos demais membros do corpo. Ainda nesta lógica,

a cabeça não visava destruir os demais membros do corpo, mas sim manter a

harmonia e a ordem, orientando cada um a exercer a sua função pelo bem-estar do

corpo. A partir desta compreensão, é possível analisar tanto a configuração estatal do

Estado português (observando que este possuía um poder concentrado, porém

também concedido e compartilhado pelo rei), como a aplicação da mesma em suas

possessões marítimas e em seus processos de colonização, como o ocorrido no caso

brasileiro.

Palavras-chave: Estado Moderno Português – Relações de Poder – Brasil Colonial.

Burocracia e aventura: o caso dos Secretários de governo em São Paulo (1688-1750).

Thiago Rodrigues da Silva - Mestre PPGH/UFF

A presente proposta de comunicação trata do cargo de Secretário de Governo, que

apesar de sofrer com a ausência de um número substancial de estudos

historiográficos se mostra como um cargo de destaque no quadro da governança

portuguesa nos trópicos. Sua criação, na segunda metade do século XVII (29 de

Março de 1688), para Angola, e seu estabelecimento subsequente para diversas

capitanias do império, durante o governo de D João V, ilustra como novos

instrumentos administrativos, ligados a diversas questões, como a comunicação e o

entendimento minucioso do estado das conquistas, se faziam presentes no alvorecer

do século XVIII, antes, portanto das famosas “Reformas Pombalinas”. Os secretários

eram os homens que criavam e que tinham a posse dos cartórios locais (da

Capitania), tendo o controle sobre os livros onde deveriam ser registrados todos os

postos da governança e das armas (pagas e de ordenança), além do registro de todas

as ordens que chegassem de Portugal, assim como anotavam a política que havia

sido executada com relação às mesmas. Ainda nestes livros se faziam os registros de

sesmarias e de posses diversas, caracterizando uma “memória burocrática” da região.

É importante destacar também que estes livros deveriam ter, obrigatoriamente, uma

cópia remetida para Lisboa anualmente. Além disto, estes indivíduos circundavam o

governador e chegavam mesmo a representa-lo. Dado isto, apresentamos traços da

atuação cotidiana destes sujeitos, ou seja: o registro e posse (sempre conflituosa) da

Secretaria de Governo e de seu poderoso cartório, e as missões diversas que estes

funcionários régios executavam. Sobre as missões, temos como exemplo um episódio

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 19

onde o secretário de São Paulo, Gervásio Leite Rebelo, atua na relevante e perigosa

missão de reconhecimento das Minas de Cuiabá, juntamente ao seu governador, em

1726, ainda no contexto da conturbada separação das capitanias de São Paulo e de

Minas Gerais. Entender a posição dos secretários de governo e sua larga

possibilidade de atuação é um subsídio importante para apreendermos melhor a

arquitetura do poder presente na governança da América Portuguesa do Setecentos.

Palavras-chave: América Portuguesa, Capitanias, Burocracia.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 20

MESA HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE

A construção da identidade regional do Oeste Paulista nas obras de Jolumá Brito, Mario Neme e Aluísio de Almeida (1940 - 1960).

Gabriel Vinicius Baroni Mestrando – PPGHIS/UFRJ

O artigo identifica os principais elementos do imaginário histórico de um conjunto de

cidades da região do Oeste Paulista, especificamente as cidades de Campinas,

Piracicaba e Sorocaba. A análise prioriza as obras de história que buscaram narrar as

origens de cada um desses locais, elaboradas pelos autores Jolumá Brito, Mário

Neme, e Aluísio de Almeida e interpretados por nós como os estudos mais pertinentes

para a composição de uma identidade regional. Portanto, apontaremos os elementos

que mais se aproximam nas obras dos autores e, também, os elementos que divergem

ou distanciam as elaborações realizadas por cada autor em um movimento

comparativo. Pretendemos analisar como essa construção discursiva pode fornecer

uma nova leitura da paulistanidade, comparando-a com o imaginário histórico

construído e consolidado pela historiografia anterior a esses autores: a do século

XVIII, com as obras de Pedro Taques de Almeida e Frei Gaspar da Madre de Deus, e

a produção do final do século XIX e começo do século XX, com os autores ligados ao

Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) que elegeram o bandeirante

como principal símbolo da história e identidade paulista, representado como um

sertanista desbravador, pioneiro, conquistador e rebelde, resultado da miscigenação

entre brancos e índios, assumindo proporções de agente civilizador e mantenedor da

ordem. Contornos que posteriormente seriam interpretados e apropriados como

instrumento da formação territorial paulista e da própria formação do país, tornando-se

São Paulo o centro da história nacional. Entretanto ao deslocarmos nossa atenção do

centro para a periferia percebemos que a construção identitária não foi homogênea em

todo o estado, e pode se observar uma tensão discursiva que em certos casos

assimilaria valores, imaginários e identidades produzidas pelo centro, e em outros o

metamorfosearia. Permite-se pensar que a historiografia examinada manifestaria uma

elaboração específica de certa noção da identidade regional paulista, sem

necessariamente representar uma ruptura completa com a tradição histórica anterior.

Palavras-chave: Historiografia, Oeste Paulista, Paulistanidade.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 21

Pará: Migração, cultura política e separatismos (1960-2011).

Thiago Broni de Mesquita - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Na presente comunicação pretendo analisar como se estabeleceu uma cultura política

de separação nas regiões do sul e sudeste paraense, tendo como foco um olhar para

os processos migratórios iniciados na década de 1960 e analisando a constituição de

novos territórios e novas lideranças políticas locais. No ano de 2011 a população do

Estado do Pará foi chamada a manifestar sua opinião a respeito da divisão do Pará

em outros dois Estados, Carajás e Tapajós. Muitos foram pegos de surpresa, afinal a

proposta de divisão territorial não fazia parte do cotidiano de grande parte da

população, mas para outros, esse foi um momento ímpar para se repensarem as

questões referentes à situação social do Estado, especialmente as sociedades locais

surgidas após um processo histórico de incentivo a migração na década de 1960.

Nesse sentido não podemos deixar de levar em consideração o fato de que em

regiões de ocupação recente no Pará, foram migrantes que se estabeleceram

enquanto elites municipais a partir da constituição de novas cidades e novos territórios

estabeleceram novos arranjos produtivos, construíram projetos políticos de

emancipação municipais na década de 1980 e posteriormente consolidaram uma

cultura de separação que se expressou no plebiscito de 2011. Debater essas e outras

questões a partir de uma história social da ocupação recente dessa região é o objetivo

da presente comunicação, que entre outras analisará a lógica de ocupação e

desenvolvimento da Amazônia (1950–1980), processos de colonização, e uma analise

preliminar a respeito do plebiscito sobre a separação do Pará e a formação das elites

no sudeste do Pará.

Palavras-chave: Pará, migração, separatismo.

Questionar com a própria língua: o discurso combativo de Mário Pinto de Andrade na revista angolana Mensagem (1951-1952).

Karina Helena Ramos Mestranda – PPGHIS/UFRJ

Embebida pela lógica do projeto do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola

(MNIA), a revista Mensagem serviu como instrumento de luta contra a imagem do

negro angolano reificado construída pela literatura e ideologia colonial salazarista.

Este artigo tem como objetivo refletir sobre o exercício de descolonização do saber

proposto por Mário Pinto de Andrade, um dos colaboradores de Mensagem e

responsável pela seção fixa intitulada “Questões de linguística Bantu”.

Palavras-chave: Revista Mensagem, linguística, Mário Pinto de Andrade.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 22

O “Outro” Inventado: relatos de ibéricos e orientais na África Índica – (séc. XVI).

Leandro Rosa da Silva - Mestrando PPGHS/USS.

O texto em questão aborda algumas mudanças que os contatos dos povos da África

Índica com os europeus e os orientais trouxeram ao passado e identidades dos suaílis

no século XVI. Para tanto, discutimos a lógica narrativa para descrever o outro sob a

perspectiva de documentos orientais e europeus. Neles, as múltiplas culturas, etnias e

o rico comércio suaíli (que intermediava a exportação das mercadorias interioranas e

suaílis com a importação dos produtos da Europa, Sul da Arábia, golfo Pérsico e da

costa oeste da Índia) não eram devidamente percebidos, pelo contrário, eram

confinados, como num ato criativo, em representações de uma África inventada e

propositalmente diminuída.

Palavras-chave: África, suaílis, lógica narrativa, invenção.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 23

MESA CULTURA POPULAR, REDES E ESPAÇOS DE

SOCIABILIDADES NAS CIDADES

Clubes Recreativos Suburbanos do Rio de Janeiro: espaços de lazer social e associativismos.

Igor Estevam Santos de Oliveira - Mestrando UERJ

Os objetivos da pesquisa são investigar como era o cotidiano das sociedades

recreativas, como elas estavam organizadas, as atividades que promoviam e que

poderiam variar entre: bailes, jogos, desfiles e simples espaços de diversão. Discuto

as obrigações e direitos dos sócios os quais possuíam e exploro algumas formas de

participação na administração das sociedades, particularmente seus processos

eleitorais para escolha da diretoria e cargos internos. Também busco investigar os

perfis dos trabalhadores que compunham essas sociedades e para que eles se

organizavam dessa forma, quais eram as atividades cotidianas dessas sociedades,

quais as regras que definiam para o comportamento dos sócios nas mesmas e o tipo

de controle exercido sobre o ingresso de novos membros. A questão da participação

dos sócios na gestão e rumos das sociedades foi outra questão analisada e pudemos

observar que não só as estruturas administrativas previam cargos e órgãos para

deliberação coletiva como a existência de regras para a realização de eleições, nas

quais os membros tinham razoável participação. A partir de informações mais

aprofundadas sobre o funcionamento de duas sociedades pudemos observar quais

eram suas atividades cotidianas mais frequentes, tais como bailes, recitas, cinemas

etc.

Palavras-chave: agremiações carnavalescas; associativismo para lazer; lazer popular.

Fronteiras da diferença: a experiência do imigrante sob a lógica da desconfiança na cidade (1930-1945).

David Barreto Coutinho Mestrando – PPGH/UERJ

Os instrumentos de vigilância e repressão se desenvolvem atendendo uma demanda

política e social, a fim de garantir a ordem no espaço urbano. A polícia, por exemplo,

passou por diversos momentos de ampliação de suas funções, maior autonomia na

identificação dos suspeitos, bem como elevou seu grau de especialização. As

mudanças no esquema da polícia e também na cidade seguiam relacionadas com a

expansão demográfica, crescimento e avanço das tecnologias e da indústria, alterando

a dinâmica da sociedade. Nesse sentido, buscamos compreender a experiência do

imigrante na cidade em meio à vigilância e a pro atividade policial que compreendia,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 24

especialmente a partir de 1930, o estrangeiro como uma ameaça para a segurança

nacional.

Palavras-chave: Imigração, Repressão, Cidade.

Gente do Mercado: Sociabilidades e cultura popular na Belle époque carioca.

Vitor Leandro de Souza Mestrando - PPGHIS / UFRJ

Construída e inaugurada durante uma das maiores intervenções urbanas realizadas

na cidade do Rio de Janeiro, a nova praça de Mercado da Capital Federal, propunha

modernizar o sistema de abastecimento da Capital Federal na virada dos séculos XIX

e XX. O período conhecido como Reforma Pereira Passos (1903-1906) foi vivenciado

intensamente pelos cariocas, e além da modificação executada no espaço urbanístico,

atingiu também de forma intensa as relações dos cariocas com a cidade e com os

costumes e hábitos que passaram a representar os ideais modernos nos anos após a

República. Assim, este trabalho pretende apresentar a relação − pouco convencional −

dos frequentadores da Praça de Mercado Central do Rio de Janeiro com aquele novo

espaço, buscando compreender os significados e representações destes usos. A ideia

neste trabalho é entender o papel do Novo Mercado para aqueles que tinham ali uma

opção de trabalho, lazer, sociabilidades e resistência cultural. Para isso, buscarei

traçar o perfil dos frequentadores do Mercado Central, assim como os costumes tidos

como característicos das classes populares e a importância da Praça de Mercado para

a permanência destes hábitos nas regiões centrais da cidade.

Palavras-chave: Rio de Janeiro; Mercado; Classes Populares.

Crédito e Relações de Parentesco no Rio de Janeiro nos dois primeiros decênios do século XIX.

Daiane Estevam Azeredo Mestranda - UFRRJ

Este artigo tem por objetivo analisar as transações de crédito com participação

feminina, que envolviam relações de parentesco no mercado de crédito do Rio de

Janeiro nas duas primeiras décadas do século XIX (1800-1820), e de que modo essas

relações interpessoais repercutiam ao estabelecer uma negociação creditícia.

Utilizaremos vasta bibliografia sobre o tema, além de fontes manuscritas: as escrituras

de dívida, de venda com saldo a ser liquidado posteriormente e de quitação dos livros

de nota do Primeiro Ofício Cartorial do Rio de Janeiro, sob a guarda do Arquivo

Nacional. Deteremos nossas análises fundamentalmente no método qualitativo dos

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 25

dados, pormenorizando as negociações que mais se destacaram e que envolviam

laços de proximidade sanguínea ou não entre credor ou devedor. Dessa forma,

investigaremos as atuações femininas na economia fluminense justamente onde não

era esperado encontrá-las: no mercado de crédito. Pretendemos com isso averiguar

em que medida esses laços de proximidade favoreciam ou não esses sujeitos para

conseguir alguma mercê e como esses vínculos eram demonstrados ou não na

composição de um negócio. Além disso, almejamos demonstrar que mesmo entre

familiares, transações eram efetivadas em cartórios com todo o aparato de segurança

para quitação das dívidas – juros e hipotecas, por exemplo – que as demais

negociações possuíam. Acreditamos que essa era uma forma de fazer com que

informações de acordos bem sucedidos circulassem no meio creditício. Dentro desse

contexto, apontaremos as mulheres como agentes ativos nesse mercado, na qual

parte delas estava integrada nas redes creditícias e que elas não eram descartadas no

momento de aquisição ou de concessão de crédito. Questões como: como se

processavam as atuações entre sujeitos simples, pequenos lavradores, especialistas

em algum ofício, viúvas, casadas, solteiras e divorciadas? Havia relação de

parentesco entre esses indivíduos? Como se processava essas transações

creditícias? São alguns dos questionamentos que nortearão a discussão desse

trabalho.

Palavras-chave: Crédito, Parentesco, Mulheres.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 26

MESA ESCRAVIDÃO, ABOLIÇÃO E DEBATES RACIALISTAS

Redes de solidariedade e luta pela liberdade nas sociedades beneficentes negras no Rio de Janeiro no século XIX.

Camila Menegardo Mendes - Mestranda PPGHS/FFP/UERJ

Durante os séculos XVIII e XIX, as sociedades beneficentes ou de ajuda mútua

tornaram-se bastante populares no Brasil. Elas reuniam diversos trabalhadores, dos

mais diversos estratos sociais, que uniam seus recursos financeiros a fim de destiná-

los a si próprios ou outros sócios nas horas de necessidade. Através do pagamento de

mensalidades ou anuidades, o dinheiro era recolhido e guardado para ser utilizado

pelo membro ou sua família em caso de desemprego, prisão, doença ou alguma outra

possibilidade que o impedisse de trabalhar. Grosso modo, tratava-se de uma prática

de assistencialismo mútuo entre membros com algum traço de identidade em comum,

fosse ele de ofício, naturalidade ou étnico-racial. Em uma época de transformações

sociais e aumento das tensões nas cidades, como no caso da Corte do Rio de Janeiro

na segunda metade do século XIX, essa prática tornou-se ainda mais popular. Este

trabalho tem como finalidade analisar as redes de solidariedade existente entre

trabalhadores negros e brancos; livres, libertos ou cativos na cidade do Rio de Janeiro

no período pré-Abolição a partir de sua reunião nas sociedades beneficente,

privilegiando aqui as sociedades compostas exclusivamente por trabalhadores negros

e suas tentativas de legalizar suas atividades, bem como as barreiras impostas pelo

Governo Imperial, na figura do Conselho de Estado, a isso. Serão analisados aqui os

estatutos da Sociedade Beneficente da Nação Conga, de 1861, da Associação

Beneficente Socorro Mútuo dos Homens de Cor e da Sociedade de Beneficência da

Nação Conga “Amiga da Consciência”, ambas de 1874, compreendendo essas

sociedades como um canal de luta por melhores condições de vida e de trabalho e

também um meio legal de combate à escravidão.

Palavras chave: sociedades, trabalhadores, negros.

Hierarquia e cor social: Recôncavo da Guanabara, RJ, século XVIII

Júlia Ribeiro Aguiar - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Este trabalho tem por objetivo precípuo analisar o desenvolvimento das categorias

lexicais de cor através de fontes paroquiais, em especial registros de batismo de

escravos, na freguesia de São Gonçalo do Amarante, Rio de Janeiro, no século XVIII.

Pretende-se demonstrar como este vocabulário social de cor estava intrinsecamente

vinculado à ascendência e status do indivíduo, tendo sido a todo tempo redefinido e

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 27

ressignificado pelos próprios agentes históricos, em um processo de identificação do

outro e de si mesmo. Este léxico por sua vez se conformava como um mecanismo

classificatório na tentativa de manter e reafirmar uma hierarquização social da

população de cor que, agregando escravos e forros, chegou a superar a população

“branca” em fins dos setecentos. Como embasamento teórico desta pesquisa, faço

uso de algumas questões teóricas fundamentais elaboradas por cientistas sociais da

área da Antropologia, História e Sociologia com o intuito de discutir as falhas e limites

teóricos do uso de termos como “raça”, “etnia” e/ou “grupos étnicos” e os problemas

de se pensar em identidade quando se trata de uma população liberta de cor que

buscava por diferentes mecanismos distinguir-se e afastar-se do mundo do cativeiro.

Palavras-chave: hierarquia, mobilidade, escravidão.

“Negro, sim! Sou negro!”: Artur Azevedo e os debates racialistas de finais do século XIX.

Julia Soares Leite Lanzarini de Carvalho - Mestranda PPG História Social da Cultura PUC-Rio

No Brasil, durante muito tempo, reproduziu-se uma visão bastante negativa em

relação aos intelectuais da Geração de 1870. Estudiosos de diferentes áreas

buscavam caracterizá-los como simples imitadores do Velho Continente, que

desprezavam completamente uma cultura brasileira, por considerá-la inferior. Nos

últimos anos, novos estudos têm procurado romper com essa tradição. Martha Abreu e

Carolina Viana Dantas (2007), por exemplo, evidenciam como a intelectualidade do

XIX, interessada em forjar uma identidade brasileira, não apenas discutia a questão da

cultura popular de matriz africana como muitas vezes buscava valorizá-la, com o

intuito de marcar a originalidade do povo brasileiro. Este trabalho procurará contribuir

com essas novas abordagens. Assim, a partir do estudo das peças de Artur Azevedo,

escritas entre 1872 e 1908, buscarei identificar a maneira como esse autor se inseria

nos debates racialistas e evolucionistas altamente em voga em finais do século XIX. A

hipótese inicial é de que ele assemelha-se a Mello Moraes Filho ao criticar o

“estrangeirismo” e afirmar que a marca do povo brasileiro estava na miscigenação.

Miscigenação que era positiva não porque era associada ao branqueamento, mas

porque (algumas) tradições afrodescendentes tinham seu valor e deveriam ser

incorporadas, com orgulho, à nacionalidade brasileira. Nesse sentido, esses dois

intelectuais, interessados na modernização do país, apresentavam, ainda que de

maneiras distintas, uma “versão otimista das originalidades culturais nacionais (...) e

até mesmo dos próprios descendentes de africanos e escravos”. (ABREU; DANTAS,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 28

2007, p. 139). O mais interessante, entretanto, será examinar em que sentido esse

posicionamento estava em intenso diálogo com o universo de encontros, trocas e

disputas simbólicas e sociais do Rio de Janeiro Oitocentista. Não apenas refletindo,

mas o alimentando, amplificando e reconfigurando. Mas por ser algo construído na

interação com o heterogêneo público fluminense, não é possível identificá-lo de forma

pronta em nenhuma peça. Mais produtivo será perceber o caminho tortuoso que essa

valorização da mestiçagem vai seguir, começando pela análise da peça Fritzmac, de

1889, em que algumas questões já começam a ser levantadas.

Palavras-chave: Século XIX, Raça, Teatro.

“Como se de ventre livre houvesse nascido, porém com a condição de...” Notas de pesquisa sobre alforrias condicionais na cidade do Rio de

Janeiro.

Vanessa Gomes Ramos Sanches – Mestre PPGHIS/UFRJ

De um modo geral, um dos objetivos principais da pesquisa é analisar a temática da

liberdade e seus diferentes significados para senhores e escravos, verificando a

aplicação deste conceito na vida dos libertos. Para tanto, as cartas de alforrias

registradas entre os anos de 1840 a 1888, na cidade do Rio de Janeiro, são as fontes

fundamentais. Normalmente, os estudos acerca da alforria classificam as cartas em

três categorias: as gratuitas, as pagas e as condicionais. No entanto, uma análise mais

atenciosa nos mostra que essa divisão taxonômica é bastante redutora, visto que o

processo precedente à assinatura do documento mostrava-se tão complexo – sendo

senhores, escravos e terceiros passíveis de envolvimento – que muitas vezes uma só

manumissão possuía traços de duas ou mais categorias. Nessa perspectiva, a carta

condicional mostra-se como a mais complexa de se “enquadrar”. Neste caso,

considero como condicionadas as que exigiam do escravo o cumprimento de certas

atividades estabelecidas por seus senhores. Esse tipo de carta poderia ser acordado

de diversas maneiras. Por exemplo: o escravo devia servir ainda por um determinado

período, variando entre meses e décadas; servir ao senhor durante toda a vida deste

ou a alguém por ele designado (além de ter, em alguns casos, de arcar com o funeral

e missas pela alma do senhor); realizar trabalhos, como garçom ou costureiro por

algum período do ano; exercer funções militares etc. Por deixá-lo em uma situação

ambígua, essa categoria gerava certa polêmica sobre a real condição jurídica do (ex)

escravo: seria livre e cativo ao mesmo tempo. Por si só, esta situação incita uma

instigante análise historiográfica. À primeira vista algumas cartas de liberdade nos dão

a sensação de que não mudaram de maneira significativa a vida do escravo,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 29

suscitando-nos a percepção de uma continuidade da sujeição ao seu (ex) senhor.

Nesse sentido, qual a representação de liberdade contida nessas cartas do ponto de

vista do escravo? Representava uma simples continuidade do cativeiro? Estes são

alguns questionamentos sobre os quais esta pesquisa se debruça.

Palavras-chave: Liberdade, alforria, Rio de Janeiro.

O tempo do progresso: abolicionismo brasileiro.

Júlio Cesar de Souza Dória - Mestrando PPGHIS/UFRJ

A concepção de tempo estabelecida por determinada sociedade, grupo, nação ou

povo é construída pelas variantes culturais, sociais e históricas conjuntamente. Essa

construção permanece como um paradigma responsável pelas formas de pensamento

e ação individual e coletiva ao longo de sua duração, que pode variar conforme a sua

aceitação e validade social. Quando um regime temporal declina em oposição a outro

considerado mais moderno, estamos diante de um período revolucionário,

caracterizado, sobretudo, por uma crise institucional generalizada. As ideias e ações

que antes norteavam a sociedade são vistas como obsoletas, ultrapassadas ou até

mesmo inconvenientes – prejudiciais – ao bem estar geral. Contudo, esse processo

não ocorre de forma abrupta nem tão pouco é conscientemente elaborado. A dinâmica

das relações sociais, políticas e econômicas das diferentes sociedades é que

engendra às constantes transformações sociais e por consequências proporcionam o

surgimento de demandas para contemplá-las. Não se trata de justificar as ideias como

consequência das ações e necessidades sociais, mas, sim, de enfatizar a

interdependência entre a ação e pensamento das relações e dos fatos sociais. As

trocas culturais, políticas e econômicas ocorridas no ocidente entre os séculos XV e

XVIII, foram responsáveis pelo surgimento da ideia de progresso. Progresso gradativo

e hierarquizado, baseado no conceito de evolução. Deste modo, criava-se uma escala

entre os povos, nações e sociedades com um fim determinado, que seria a

modernização de todos os aspectos de um povo por intermédio do progresso de suas

instituições. No Brasil do século XIX, essa concepção de progresso permeou o

pensamento da intelectualidade e dos líderes políticos do país. O maior entrave para

esses indivíduos era a escravidão, vista como um atraso para o progresso do país.

Nesse sentido, o presente artigo relaciona o abolicionismo brasileiro com a perspectiva

de modernidade e progresso defendido por intelectuais brasileiros e estrangeiros ao

longo da segunda metade do século XIX.

Palavras-chave: Tempo, Progresso, Abolicionismo.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 30

MESA FACES DAS DITADURAS

Estado ditatorial e empresariado: notas sobre a caracterização empresarial-militar nas transições das ditaduras da Argentina e Brasil

(1974-1985).

Tiago Francisco Monteiro - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Este trabalho tem as seguintes propostas. Em primeiro lugar, revisaremos as

principais interpretações acerca da natureza das ditaduras militares organizadas na

Argentina e no Brasil. Em segundo lugar, analisarei empiricamente tais interpretações

a partir do exame das trajetórias sócio-políticas dos ministros civis que ocuparam os

chamados cargos políticos, ou seja, funções diretamente ligadas à organização da

nação e ao diálogo com as formas políticas locais: Casa Civil, Ministério da Justiça,

Ministério do Interior (Brasil), Ministério do Interior, Ministério da Defesa e Ministério da

Justiça (Argentina).

Palavras-chave: Ditadura; empresariado; representação política.

Usos da anistia entre 1970 e 2007.

Glenda Gathe Alves Mestranda PPGHIS – UFRJ

Muitos diálogos têm sido travados entre a História e o Direito, desde debates a

respeito da influência que os contextos políticos têm sobre a elaboração de leis e

sobre a forma como o Direito é estruturado, até reflexões sobre os diferentes usos que

os historiadores podem fazer de documentos produzidos pelos 3 poderes.

Reconhecendo o Direito como produto social, as suas práticas, instituições e discursos

são alvo de estudos que analisam a sua interação com processos sociais e à luz de

questões historiográficas que considerem as disputas de poder, o campo simbólico e

as práticas discursivas que fazem parte desse campo. Esses trabalhos analisam como

diferentes noções de justiça foram produzidas e entraram em conflito, criando distintas

interpretações do legal, do justo e do Direito. Dentro desse debate, essa comunicação

visa analisar diferentes apropriações feitas do conceito de anistia desde o processo de

redemocratização e os diferentes interesses que envolveram o seu uso. Para isso,

além de analisar o debate acadêmico em torno da luta pela anistia pretendo fazer um

exame da Lei nº 6.683 (Lei de Anistia de 1979) e da Lei nº 10.559 (que regulamenta a

distribuição de reparações e o funcionamento da Comissão de Anistia do Ministério da

Justiça desde 2002) – como a Lei de Anistia foi interpretada e apropriada desde o seu

processo de elaboração até a gestão de 2007 da Comissão de Anistia e por quais

conceitos de justiça as apropriações da mesma têm se guiado. Nessa proposta

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 31

caberá, portanto, analisar como a Lei de anistia de 1979 foi elaborada, os interesses e

disputas que envolveram a sua aprovação, o conceito de justiça que permeou a sua

produção e como a Comissão de Anistia tem interpretado a Lei e lidado com os seus

limites e possibilidades.

Palavras-chave: anistia, reparação, Justiça de Transição.

A visão do Ministério das Relações Exteriores sobre os exilados brasileiros na França durante o regime militar (1964-1985).

Paulo César Gomes – Doutorando PPGHIS/UFRJ

O trabalho trata do discurso construído pelo Ministério das Relações Exteriores sobre

as atividades dos exilados brasileiros na França, a partir da produção cotidiana de

informações pelos diplomatas, bem como dos documentos do Centro de Informações

do Exterior (CIEX), órgão de informações do regime militar brasileiro. Sabe-se que,

depois da chegada dos militares ao poder em 1964, houve fundamentalmente duas

ondas de exilados brasileiros em direção à França. A primeira, que ocorreu logo após

o golpe, foi composta sobretudo por grandes figuras políticas de esquerda excluídas

do poder. Após a outorga do Ato Institucional n. 5, em 1968, e a consequente

institucionalização do aparato repressivo, outro grupo de brasileiros, composto

majoritariamente por jovens militantes originários do movimento estudantil, começou a

partir para o exílio. Os principais países de destino foram Cuba e Chile. O golpe de

Estado chileno em 1973, que pôs fim à experiência socialista vivida pelo país,

provocou a ida de uma segunda leva de brasileiros para a Europa, em especial Paris.

Há alguns trabalhos que analisam as atividades de oposição dos exilados na França e

suas publicações. Também é possível encontrar autores que se concentram em

estudar as memórias do exílio. No entanto, são raras as reflexões sobre a visão que o

governo brasileiro e seu aparato repressivo tinham sobre os exilados. Assim,

aproveitando a recente liberação de documentos sigilosos da repressão, o nosso

objetivo principal é investigar de que maneira esses órgãos citados, especializados em

assuntos relativos ao exterior, viam os brasileiros que viviam na França, ou por não

concordarem com a conjuntura política do país ou por terem sido expulsos.

Palavras-chave: Ministérios das Relações Exteriores, ditadura militar, exílio.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 32

O Correio da Manhã e a política externa do governo Goulart

Renato Pereira da Silva - Mestrando PPGH/ UFF

O presente artigo analisa e apresenta os resultados parciais da pesquisa sobre a

trajetória do jornal Correio da Manhã em relação à gestão presidencial de João Goulart

(1961-1964), tendo como eixo de discussão o posicionamento do diário carioca sobre

a política externa do governo Goulart. Trata-se de refletir sobre como o matutino

carioca interpretou a orientação do Itamaraty no processo de reatamento das relações

diplomáticas com a União Soviética e na questão cubana, quando os Estados Unidos

mobilizaram os países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA)

numa tentativa de expulsar o país caribenho da instituição e estabelecer um bloqueio

econômico. Analisar a trajetória do Correio da Manhã e suas relações no campo

político no início dos anos 1960, período em que diversos setores da sociedade

brasileira dividiram-se em torno de como as mudanças estruturais para o país seriam

postos em prática, pode sinalizar as ambiguidades para compreender as motivações

que levaram um jornal identificado e notabilizado pelo compromisso com as

instituições liberal-democráticas a apoiar um golpe de Estado para destituir um

presidente da República e, logo depois, tornar-se um dos poucos jornais brasileiros a

se por abertamente aos caminhos seguidos pelo governo de abril de 1964. Um olhar

mais próximo e cuidadoso pode evidenciar diferenças significativas dentro de uma

redação, seja entre articulistas progressistas e conservadores, seja entre a direção e o

corpo de profissionais que compõem um jornal. Enfim, pode nos permitir a

identificação de nuances entre os veículos de imprensa. Analisar os momentos em

que o Correio da Manhã se voltou contra o governo torna-se, assim, imprescindível

para a construção histórica dos idos de março e a queda de abril de Goulart da

presidência da República.

Palavras-chave: Correio da Manhã; governo João Goulart; política externa.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 33

MESA HISTÓRIA DA CIÊNCIA E SAÚDE

A arte de curar as mulheres.

Tânia Souza Lourenço - Mestranda PPGH/UFF

Na Europa, no início da Época Moderna, o discurso médico fornecia argumentos que

reafirmavam a inferioridade estrutural da mulher e justificavam o papel que elas

desempenhavam na família e na sociedade, apoiando-se em preceitos aristotélicos e

galênicos. A mulher devia estar submetida ao homem. A sua função social estava bem

definida pelas características físicas peculiares do seu corpo: devia conceber e educar

os seus frutos dentro dos valores socialmente aceitos. O organismo feminino era

considerado doentio, frágil, débil e por isso mais suscetível às doenças. O útero, ou

melhor, a matriz era considerada a fonte da maioria das doenças que atingiam as

mulheres. Acreditava-se que esse órgão tinha comunicação com diversas partes do

corpo feminino e o seu mau funcionamento poderia causar, entre outros sintomas,

uma dor de cabeça. O presente trabalho analisa as práticas de cura aplicadas às

mulheres a partir do saber médico do século XVII, em Portugal. A sangria foi o método

mais usado na reabilitação de pacientes de todas as idades, independente do gênero,

idade ou grupo social. Nos procedimentos terapêuticos investigados procurou-se

destacar as especificidades das técnicas utilizadas para a reabilitação de pacientes do

sexo feminino, bem como as semelhanças no tratamento de doentes homens. Para

isto, foi utilizada a obra “Observações Médicas Doutrinais”, do doutor João Curvo

Semedo, médico da Casa Real e dos Cárceres do Santo Ofício. A obra é um relato

dos achaques de diversos pacientes atendidos, bem como dos tratamentos prescritos.

Autor de inúmeros tratados de medicina, Semedo destacou-se entre seus pares pela

experiência na arte de curar e pelos remédios que inventou, inovando ao associar o

conhecimento médico tradicional à Escola Hermética. Os métodos por ele empregados

para curar as mulheres obedeciam a critérios em consonância ao ciclo menstrual e a

gravidez, além da utilização de recursos do universo mágico ou sobrenatural.

Palavras-chave: práticas de cura, mulheres, saber médico.

O Instituto de Identificação da Polícia Civil do Rio de Janeiro em pauta: a circulação de ideias científicas através dos Arquivos de Medicina Legal e

Identificação - (1933-1946).

Rodrigo Ramos Lima - Mestrando PPGHCS/FIOCRUZ

O presente estudo tem como objetivo analisar os Arquivos de Medicina Legal e

Identificação do Instituto de Identificação da Polícia Civil do Rio de Janeiro,- nessa

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 34

fase inicial da pesquisa- em sua dinâmica de comunicação de práticas e saberes

científicos ante a questões relacionadas aos desvios de comportamentos, tais como as

homossexualidades. Durante a gestão de Leonídio Ribeiro, o gabinete de Antropologia

Criminal foi responsável por exercer prisões de 195 homossexuais, que foram fichados

na polícia civil como “pederastas passivos”. Nesse sentido, buscamos realizar uma

comunicação que aborde os principais trabalhos historiográficos produzidos sobre o

tema, bem como apontar algumas diretrizes que ainda não foram abordadas pela

escrita da história ante a este tema. Trata-se de entender, como os Arquivos possuem

um cabedal documental que nos permite compreender o alcance das ideias

defendidas pelos cientistas brasileiros num contexto internacional. Leonídio Ribeiro,

médico legista, discípulo confesso de Afrânio Peixoto, assume a direção do Gabinete

de Identificação da Polícia Civil do Rio de Janeiro em 1933, mantendo-se nesse cargo

até 1946. Em sua trajetória científica, pode-se acompanhar uma relação intrínseca

entre o saber científico e a arena política. Sua chegada ao cargo de direção do

Instituto foi viabilizada, por Batista Luzardo, sendo este posicionado politicamente com

a extrema direita do período. Não obstante, Leonídio Ribeiro venceu o Prêmio

Lombroso de pesquisa em 1931, pelos seus trabalhos realizados no Instituto. Esse

conjunto de pesquisas que fora encaminhado a Itália, continha estudos que

relacionavam os saberes oriundos da Antropometria, Antropologia Criminal,

Endocrinologia, Biotipologia, dentre outros, que versavam sobre a pureza dos índios

guaranis, sobre o tipo criminoso negro e os homossexuais que foram presos, com fins

de que pudessem comprovar as teorias hormonais e de inversão sexual em voga por

volta daquela época. Assim, pretendemos inserir a pesquisa num debate mais amplo,

a saber: aquele que busca entender a circulação dos conhecimentos e das práticas

científicas em contextos não europeus, de modo a problematizar questões como

“centro x periferia”, demonstrando, dessa forma, como a produção de noções como a

de conhecimento universal, são construídas e ativadas em contextos locais diversos,

notadamente, em regiões non-western (RAJ,2013; Basalla,1967).

Palavras Chaves: Leonídio Ribeiro, Medicina Legal, Homossexualidades.

Um estudo sobre as moléstias mentais dos escravos no Brasil durante o começo do século XIX.

Pedro Henrique Ferreira Danese Oliveira - Mestrando PPGHCS/FIOCRUZ

Pretende-se com o seguinte trabalho compreender o modo como as moléstias mentais

dos escravos foram analisadas e estudadas levando em consideração as

idiossincrasias do território brasileiro durante o começo do século XIX. Como escopo,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 35

foram utilizadas algumas teses defendidas a partir da década de trinta do século XIX

dos primeiros formandos da recém-inaugurada Faculdade de Medicina do Rio de

Janeiro, que posteriormente tornou-se a Faculdade Imperial de Medicina, destacando-

se a tese de Joaquim Manuel de Macedo intitulada “Considerações sobre a Nostalgia”,

defendida no ano de 1844. Outra forma de relato das moléstias dos cativos foi feita

pelos viajantes, como o médico francês Joseph Sigaud em sua obra “Dos Climas e

das Doenças do Brasil ou Estatística Médica deste Império”. Importante salientar que

nessa obra assim como em outras, tais como a do botânico alemão von Martius

intitulada “Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros”, percebe-se

um neohipocratismo para a compreensão das moléstias, levando em consideração,

muitas vezes, a questão do clima tropical no território brasileiro relacionando-o com a

tristeza profunda, podendo chegar a casos mais graves como a melancolia, tentativa

de suicídio ou o suicídio concretizado, muitas vezes realizado por enforcando em

árvores ou através da “pica” - ingestão de objetos estranhos - em uma determinada

época mais fria do ano e acessos de loucura mais frequentes nas épocas mais

quentes, fato este associado às obras dos alienistas europeus Pinel e Esquirol.

Palavras-chave: Loucura, Brasil, Escravidão.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 36

MESA HISTÓRIA E LITERATURA

Mário de Andrade: a viagem como conversão “folclorista”.

Karla Adriana de Aquino - Doutoranda PPGHIS/UFRJ

Mário de Andrade propõe um projeto intelectual que venha responder à necessidade

de documentar os elementos constituidores da cultura brasileira, ideia presente já em

seus artigos após a sua primeira viagem a Minas Gerais, em 1919, ainda que, num

primeiro momento (1917-1924), o núcleo de suas reflexões seja a inserção do país na

ordem internacional por meio do modernismo. Neste sentido, o folclore e a cultura

popular surgem como espelhos do localismo na interpretação da identidade brasileira,

de acordo com Antonio Candido, para quem o “desrecalque localista” consistia na

superação do complexo de inferioridade em relação à Europa que dominava o país,

condenando-o à imitação das culturas mundialmente hegemônicas. Para Eduardo

Jardim de Moraes, é somente a partir de 1924 - data da viagem a Minas Gerais que

Mário de Andrade faz com Blaise Cendrars e alguns modernistas, como Tarsila do

Amaral e Oswald de Andrade -, que a questão central do modernismo passa a ser a

constituição de uma estética que tem como fundamento a tradição, identificada como

elemento de “autenticidade” da cultura brasileira, único caminho de se alcançar o

cosmopolitismo. Considera-se, a partir de então, que o particular leva ao universal. Se,

por um lado, antes de 1924, o experimentalismo estético do modernismo é identificado

como revolucionário porque rompia com a literatura passadista, propondo uma

atualização da produção cultural que encontra paralelo com a estetização do cotidiano

proposta pelos movimentos europeus coetâneos, por outro, a partir da viagem de 1924,

a revolução da linguagem faz uso também de outras abordagens, levando Mário de

Andrade à análise etnográfica. À experiência iniciática que são para Mário de Andrade

suas viagens pelo Brasil – desde as viagens a Minas Gerais, em 1919 e 1924 –, soma-se

o seu caráter de observação de uma realidade considerada “autêntica”, permitindo-lhe

elaborar um discurso analítico que se consolidaria com suas viagens posteriores ao Norte

e Nordeste, em 1927, 1928 e 1929. Assim, a conversão de Mário de Andrade a uma nova

etapa do modernismo, definitiva para sua representação, através de sua iniciação nas

manifestações culturais tradicionais, na dimensão iniciática de sua experiência corporal, é,

em suma, o resultado de suas experiências de viagens, que o conduz não só à renovação

literária de sua obra, mas à realização de seu conceito de arte-ação, de engajamento

intelectual na tarefa de gestação de uma tese que afirma a identidade cultural do Brasil

sob uma perspectiva fundada na valorização da tradição popular.

Palavras-chave: Mário de Andrade, Modernismo, narrativas de viagem.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 37

Norbert Elias e a dimensão documental da literatura.

Daniel Gonçalves da Silva - Mestrando PPG História Social da Cultura – PUC-Rio

O presente trabalho parte da abordagem de uma das questões incontornáveis da

sociologia de Elias: a associação entre as transformações da estrutura social e as

mudanças da composição psíquica dos indivíduos – de sua maneira de agir, seus

comportamentos e atitudes –, haja vista configurarem “um todo relacional”. Dentre os

diversos caminhos percorridos no intuito de um desenvolvimento mais sistemático

dessa questão, cerne de seu esboço de uma “teoria de processos civilizadores”,

pretende-se discutir a maneira como o autor se favoreceu, em alguns de seus mais

importantes trabalhos, da apropriação de discursos literários e da investigação de

elementos linguísticos, por concebê-los enquanto um dos meios sintomáticos que

permitiriam entrever a expressão de tal associação. Serão examinados, assim, três textos

de Elias. Primeiramente, um ensaio de 1939, “A sociedade dos indivíduos”, tendo em vista

relevar sua insistente reiteração da “interdependência” e da “inter-relação” entre indivíduo

e sociedade. Em seguida, volta-se o olhar para os capítulos “Sobre a sociogênese do

romantismo aristocrático no processo de curialização” e “Da sociogênese dos conceitos

de ‘civilização’ e ‘cultura’”. No que concerne ao primeiro capítulo, a atenção estará

centrada na discussão de um “ethos romântico” – e de sua reciprocidade literária –, que

ressurgiria sempre quando da passagem de uma figuração social a outra; no que diz

respeito ao segundo – e para apresentar um exemplo das especificidades de uma

formação social distinta da francesa –, o interesse concentrar-se-á na identificação,

analisada por Elias, de uma correspondência entre a estruturação semântica do

conceito de Kultur e as tensões intergrupais que organizavam o mundo germânico de

fins do século XVIII, início do XIX. Acredita-se que a eleição deste ensaio e capítulos,

provenientes de obras distintas do autor, além de corroborar a própria coerência

intelectual de Elias, se justifica pelo fato de terem sido redigidos em épocas bem

aproximadas ou, mesmo, simultaneamente. Ademais, apresentam-se, em suas

particularidades, como meio privilegiado para se adentrar a questão da sociologia

eliasiana, anteriormente mencionada, a partir do enfoque específico que se propôs

examinar. Finalmente, interessará indagar-se sobre a real importância das formulações

do autor para a problematização de uma pesquisa histórica que tenha como objeto de

estudo um discurso literário e, por extensão, seus signos linguísticos. Sendo assim, o

objetivo último do presente trabalho consistirá em atentar para a relevância de se

considerar a conexão entre a constituição particular de uma formação sócio-histórica e

seus “sistemas de pensamento”, neste caso específico, sua instituição literária.

Palavras-chave: Norbert Elias, literatura, história.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 38

Plágio como função literária.

Jean Felipe Bastardis Coelho - Doutorando PPGHIS/UFRJ

O plágio literário constitui questão interessante para estudos voltados à reflexão sobre

autoria e consumo de obras literárias. Tendo em vista que essa prática aparentemente

subverte uma lógica de produção e apropriação de textos, seu estudo possibilita

compreender razões de ocorrências e seu significado no contexto em que se

produzem. Essa comunicação pretende tatear alguns aspectos relacionados ao estudo

de plágios literários sob o ponto de vista da história, procurando discutir suas

possibilidades no ambiente intelectual brasileiro. No decorrer da exposição, procurarei

definir alguns termos relativos à temática da autoria literária, principalmente no que diz

respeito à situação brasileira. Contudo, sua estruturação pretende salientar os limites

impostos a uma pesquisa que tome o plágio, definido juridicamente, como ponto

principal de análise. Considerando a dinâmica da construção da pesquisa histórica,

procurarei contemplar não apenas as conclusões de parte do esforço de pesquisa

realizado, mas também, os descaminhos enfrentados para dar a entender certas

questões relativas aos plágios e sua pesquisa. Por conta disso, as dificuldades

enfrentadas no percurso não foram apagadas e, bem pelo contrário, auxiliam na tarefa

de expor as conclusões alcançadas até o momento. O plágio apenas pode ser

compreendido na conjunção de alguns conceitos relacionados aos textos. A autoria,

por exemplo, nos parece atualmente um princípio fulcral do esquema de

funcionamento da produção literária. É extremamente difícil pensar o apagamento da

figura autoral, sob pena de colocar em cheque a própria existência do que se

considera o campo literário, baseado na circulação de textos classificados, entre

outros aspectos, sob o prisma da individualidade responsável por esses escritos. A

literatura, como espaço de ação desses indivíduos inspirados, conforma uma série de

regras segundo as quais a originalidade ocupa um lugar especial na atribuição estética

dispensada aos produtos culturais. Procurarei apresentar alguns apontamentos

relativos ao funcionamento desses esquemas de classificação no caso brasileiro,

buscando precisar a função literária do plágio na produção literária brasileira.

Palavras-chave: Plágio literário; Literatura brasileira; Práticas letradas.

Um “Mal-estar no incêndio”: internacionalismo, divulgação literária e o modernismo de Sérgio Milliet.

Renata Rufino da Silva - Doutoranda PPGHIS/UFRJ

Esse trabalho faz parte da minha pesquisa de doutorado cujo objetivo é analisar o

papel Sérgio Milliet (1898-1966) no modernismo brasileiro. Sérgio Milliet, que era

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 39

sociólogo de formação, mas também crítico (literário e de artes plásticas), poeta,

ensaísta e tradutor, teve um papel significativo, porém pouco estudado, no movimento

modernista nos anos seguintes à Semana de Arte Moderna de 1922. Entre 1922 e

1926, atuando como mediador cultural entre os modernismos do Brasil e da Europa,

foi um importante divulgador das ideias modernistas brasileiras e europeias a partir,

principalmente, de sua colaboração (seja com artigos, seja com traduções) em revistas

de vanguarda dos dois lados do Atlântico. Além disso, foi um dos responsáveis pela

“embaixada intelectual” brasileira em Paris que contava, entre outros nomes, com

artistas e escritores como Brecheret, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita

Malfatti, Souza Lima, Maria Antonia, Alonso da Fonseca e Villa Lobos. Nesse trabalho,

em particular, pretendemos discutir o projeto de modernismo de Milliet atentando ao

seu caráter internacionalista, sobretudo a partir da análise de seus textos na revista

belga Lumière (1919-1923), como também em periódicos brasileiros de vanguarda da

década de 1920. Enquanto estava na Europa, Milliet difundia seu cosmopolitismo nas

colunas “Carta de Paris”, que manteve na revista Ariel e “Cronica parisiense”, na

Revista do Brasil, assim como também participou de Klaxon, considerado o primeiro

periódico das ideias modernistas no Brasil. De uma maneira geral, seu projeto

modernista de literatura se sustentava, pelo menos logo após à Semana de 1922, em

uma integração entre “o modernismo de lá” e o “de cá”, sendo que, a seu ver, o

reconhecimento na Europa era imprescindível para a vitória da arte moderna no Brasil.

Dessa maneira, seu modernismo se constituía, portanto, não tão atrelado ao

“paradigma nacionalista”, algo tão caro à maioria dos modernistas.

Palavras-chave: Sérgio Milliet, Modernismo, História literária

Temporalização e espacialização na distopia de Haruki Murakami em 1Q84.

Rafael da Cunha Duarte Francisco Doutorando PPGHIS/UFRJ

O presente trabalho tem como seu principal objetivo pensar as questões da

espacialização e da temporalização da distopia no romance 1Q84 do escritor japonês

Haruki Murakami. O processo de temporalização do romance utópico remonta ao

século XVIII, como bem explicitou Koselleck se valendo do exemplo da obra 2440

escrita pelo francês Mércier, e o surgimento do romance distópico no começo do

século XX, é igualmente tributário desse processo de temporalização. As alegorias

construídas por Aldous Huxley e George Orwell, dois dos principais expoentes desse

subgênero, situam-se no futuro de seus leitores. E assim é também com outras

distopias contemporâneas como Hunger Games e Divergent, por exemplo. No entanto,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 40

a trilogia de 1Q84 escrita por Haruki Murakami parece trazer um mundo que, ao invés

de estar situado em um futuro distante como os mundos de seus precursores Orwell

(1984) e Huxley (Brave New World), está localizado em um outro lugar. Esse novo

lugar não é mais o ano de 1984 e sim um mundo paralelo no qual os dois

protagonistas se encontram presos, descrito por um deles como o ano de 1Q84. Para

os fins desse trabalho, a nossa investigação se concentrará em tentar refletir sobre

esse processo de espacialização da distopia, levado a cabo por Haruki Murakami em

seu romance, procurando pensar como ele é capaz de inaugurar também uma nova

experiência do tempo na qual a distopia não mais se encontra no futuro distante mas

sim no passado dos seus leitores. O ano de 1984 que em George Orwell virou símbolo

do terror que estava à espreita de seus leitores e leitoras, agora - em 2009 - é

retomado por Murakami como um passado distópico, como um outro lugar no qual o

terrível mundo de 1Q84 tem lugar. Funda-se assim uma distopia espacializada que é,

ao mesmo tempo, uma distopia do passado.

Palavras-Chave: Distopia; Haruki Murakami; George Orwell.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 41

MESA HISTÓRIA POLÍTICA DAS AMÉRICAS: FORMAÇÃO DO

ESTADO E PENSAMENTO POLÍTICO

As armas da República: a influência das elites locais no recrutamento de tropas na Argentina durante a Guerra do Paraguai.

Aline Goldoni - Doutoranda PPGHIS/UFRJ

O objetivo deste trabalho é analisar a atuação das lideranças locais na reunião de

tropas na Argentina durante a Guerra do Paraguai (1864-1870), mais precisamente até

1868, quando o presidente daquele país – Bartolomé Mitre – deixou o comando das

tropas aliadas. Essa análise será feita a partir da influência que as elites locais

exerciam sobre a formação de milícias, o que determinou o apoio ou não das

autoridades locais à atividade de reunião de contingentes. Durante grande parte do

século XIX, as duas formas de organização militar predominantes na Argentina foram

o exército regular e as milícias. Essas duas instituições, no entanto, não operaram de

forma continua, nem foram estabelecidas com base em regimentos legais que

garantissem uma atuação constante e organizada em escala nacional. Concluído o

processo de independência, as Províncias Unidas do Rio da Prata, que mais tarde

formariam a Argentina, conservaram o sistema de milícias, pois a própria formação

política assumida pela região não permitiu o estabelecimento de um exército unificado.

As milícias eram organizadas pelas lideranças locais, o que acabou por lhes incutir

grande peso político, atuando como um elemento concreto de participação do povo na

política. Após a Revolução não houve uma separação muito clara entre os milicianos e

os militares do exército, o sistema de recrutamento era bastante confuso. A partir da

Constituição de 1853, houve uma tentativa de instruir um caráter nacional às forças

militares. A frente do governo da Confederação Argentina, Justo José de Urquiza

iniciou a formação de um Exército Nacional regular e profissional, que seria criado a

partir do envio de tropas pelas províncias. Nesse período, Buenos Aires separada da

Confederação, não fazia parte dessa organização. Somente após concluir sua

organização política e unificar-se de maneira definitiva, em 1862 (Batalha de Pavón), é

que a Argentina pôde organizar suas armas de maneira a compor uma instituição

nacional. Dessa forma, a Guerra do Paraguai foi o primeiro evento que reuniria um

exército totalmente nacional e exigiria um grande esforço do governo federal para

organizar um grande contingente capaz de fazer frente ao imenso exército paraguaio.

Esse processo de reunião de tropas e também de recursos para a guerra concebeu

um momento de crise para o processo de consolidação do Estado argentino. A

dependência da ação dos caudilhos locais motivados por interesses particulares e a

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 42

ausência de meios eficazes para a realização do recrutamento militar limitou a

capacidade extrativa do Estado.

Palavras-chave: Recrutamento, Argentina, Guerra do Paraguai.

A aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos da América na obra “A situação Internacional do Brasil” (1913).

Elion de Souza Campos - Mestrando PPGHIS/UFRJ

Este trabalho pretende analisar as ideias de Salvador de Mendonça sobre a

aproximação entre o Brasil, nos primeiros anos após a Proclamação da República,

com os Estados Unidos da América, em um contexto marcado pelas lógicas político-

ideológicas do monroísmo e do pan-americanismo. Salvador de Mendonça foi um

intelectual fluminense que ao final do Segundo Reinado engajou-se na causa do

republicanismo, estando presente em momentos fundamentais da formação desse

movimento no Brasil, como na fundação do Clube Republicano do Rio de Janeiro, que

mais tarde se tornaria o Partido Republicano Brasileiro, bem como na redação do

Manifesto Republicano de 1870. No entanto, em um momento de recrudescimento do

republicanismo, foi cooptado pela burocracia do Império para atuar na diplomacia

brasileira como Cônsul Imperial em Nova York, estando nesta função quando da

Proclamação da República no Brasil, em 15 de novembro de 1889. Permanecendo na

diplomacia pela notoriedade de seu sentimento republicano, Salvador de Mendonça

teve atuação destacada em momentos fundamentais da consolidação do regime

republicano no Brasil e, sobre estes momentos, deixou suas representações

publicadas em artigos na imprensa brasileira e estadunidense. É sobre estes artigos,

compreendidos como discursos políticos dotados de intencionalidade, que tratamos

neste trabalho. Especificamente, voltamo-nos para uma compilação dos artigos do

final da vida de Mendonça, que resultou no livro A Situação Internacional do Brasil.

Para tanto, optamos por adotar alguns pressupostos teórico-metodológicos da escola

historiográfica denominada “Escola de Cambridge”, particularmente, de Quentin

Skinner e John G. A. Pocock, que visam a inserção do discurso político em seus

contextos político, econômico, social e linguístico, para compreender sua

intencionalidade na época de sua produção. Compreendemos que Salvador de

Mendonça fez parte de um grupo de intelectuais brasileiros, do final do século XIX e

início do XX, que desenvolviam um projeto de nação republicana para o Brasil, e que

entre os principais tópicos de seu pensamento estava a aproximação com a República

que se despontava como a maior potência das Américas e uma das principais do

mundo, os Estados Unidos da América. Partimos do pressuposto de que Mendonça

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 43

pensava nesta relação, tendo em vista tanto a fragilidade crítica da República

brasileira, em seus primeiros anos, quanto as ressignificações que sofria a Doutrina

Monroe, em direção à uma expansão imperialista estadunidense.

Palavras-chave: República, monroísmo, pan-americanismo.

Ao sul do Atlântico: dimensões da independência do Brasil na província Cisplatina (1821-1824).

Murillo Dias Winter - Doutorando PPGHIS/UFRJ

O processo de ruptura dos laços coloniais entre Portugal e o Brasil possibilitou o

arranjo de novos projetos políticos na província Cisplatina. A região em disputa desde

o período colonial foi a última a se integrar oficialmente ao Império do Brasil, em

fevereiro de 1824. Tal processo é integrante de um contexto maior, de alterações e de

crise do Antigo Regime e, consequentemente, do Sistema Colonial no mundo

atlântico, problemas diagnosticados pelos próprios atores sociais do período. Desse

modo, partindo da ideia de que no decorrer das reformas liberais e constitucionalistas

de Portugal e Espanha e da América da primeira metade do século XIX, e sobretudo,

das independências, nesse caso em especial a do Brasil, os discursos políticos

denotavam percepções e representações do processo de mudança em acontecimento,

se buscará analisar expressões linguísticas: conceitos, metáforas e mitos que revelam

este processo de transformação dos discursos políticos e de novas possibilidades a

serem construídas. Na província Cisplatina, o processo toma uma dimensão particular

por, justamente, tratar-se de um ponto de encontro entre os antigos domínios coloniais

ibéricos. Discutia-se na imprensa, em ebulição desde a liberdade promovida pelas

Cortes de Lisboa, se a região permaneceria integrada a Portugal, a validade da

independência do Brasil, as consequências para os locais ao apoiarem D. Pedro na

mesma medida em que cogitava-se aproximar-se novamente de Buenos Aires ou

proclamar a independência absoluta da região. Estes questionamentos fundamentam

uma questão maior: como era projetada e organizada na imprensa local a região que

era disputada e pensada como parte do Reino Português, do império brasileiro, uma

província de um projeto unificado platino, ou um Estado plenamente independente?

Como estes distintos grupos, balizados em experiências coletivas anteriores,

propuseram-se a projetar o Estado e a Nação, um plano a ser realizado no futuro?

Dimensões particulares de uma crise política geral que serão analisadas nessa

comunicação.

Palavras-chave: Imprensa, independência, província Cisplatina.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 44

Reflexões sobre a influência do liberalismo democrata americano nos discursos de Barack Obama.

Barbara Maria de Albuquerque Mitchell – Mestranda PPGHIS – UFRJ

Este trabalho tem o objetivo de perceber como o pensamento liberal moderno

americano influenciou a construção dos discursos de Barack Obama entre os anos de

2004 e 2009. O paralelo entre o liberalismo e o atual presidente dos Estados Unidos é

traçado a partir da noção de que algumas das principais metas desenvolvidas pelo

movimento liberal se repetem ou se resignificam nos discursos políticos do democrata.

Inserindo Barack Obama como participante da renovação liberal iniciada nos anos 90,

o estudo de seus discursos será desenvolvido a partir das suas proximidades com a

tradição liberal democrata americana, bastante fortalecida durante o governo de

Franklin Delano Roosevelt, mas com elementos que remetiam ao progressivismo do

final do século XIX. Além disso, especialmente a partir dos anos de 1950, as questões

do direito civil e a construção de uma sociedade mais igualitária não só

economicamente como socialmente passaram a influenciar um importante segmento

do Partido. Com isso, percebe-se que o pensamento liberal não se manteve estático

ou homogêneo até mesmo dentro do próprio partido democrata, passando por

inúmeras transformações ao longo dos anos. Após a crise dos anos de 1970 e a

eleição de Ronald Reagan como presidente, o liberalismo perdeu considerável espaço

na política americana. Com o passar do tempo, o senso comum a respeito do

liberalismo se tornou tão negativo que os membros do Partido Democrata passaram a

recusar o rótulo de liberais e, praticamente por todo o governo Reagan, precisaram se

defender a respeito dos seus posicionamentos políticos. No entanto, a população

americana estava, grosso modo, contra o liberalismo da Great Society e via nesses

grupos apenas a união de membros de uma elite incapaz de compreender as

verdadeiras necessidades do povo, iniciou-se o imaginário de que o partido havia se

tornado “liberal demais”. Assim, pretende-se, através desta pesquisa, defender a ideia

de que elementos do pensamento liberal democrata se apresentaram como uma

influência clara nos discursos políticos de Barack Obama, já que estes retomam

discussões e questões marginalizadas do campo político nos últimos anos.

Palavras Chave: Estados Unidos da América, Pensamento Liberal, Barack Obama

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 45

Cidadania estrangeira: apontamentos para compreensões da ideia de cidadania de Domingo Faustino Sarmiento em seu exilio no Chile.

Diego Ferreira de Oliveira Mestrando PPGH – UFF

Domingo Faustino Sarmiento importante letrado e político do século XIX para Chile e

Argentina, esta ultima onde acabou se tornando presidente da República (1868-1874),

exilou-se no Chile por divergências políticas em sua província San Juan, em território

chileno tornou-se importante força política contra o regime de Manuel Rosas então

governador de Buenos Aires. A sociedade do universo pós-independente argentino

acabou por se polarizar entre Unitários e Federalistas o senário politico, no qual

respectivamente Domingo Faustino Sarmiento e Manuel Rosas se alinharam/aliaram.

O fato de Sarmiento tornar-se um Unitarista nos ajuda a compreender seu exilio e

suas reflexões a respeito da Educação do povo nos novos territórios pós-

independentes. No entanto, percebemos que existem alguns marcos paradigmáticos

na formação das repúblicas hispano-americanas e posteriormente das nações da

América Latina que precisamos observar, pois dá legitimidade aos novos regimes. A

Educação Pública teve um lugar de destaque no desenvolvimento do paradigma da

formação de um novo ser em um novo ordenamento social, Sarmiento soube explorar

bem esse campo. Porém fez algumas outras incursões em outros marcos

fundamentais para o nexo social pós-independente como o meio politico institucional e

no jornalismo. Percebemos na História do Chile do século XIX uma relação intima e

conflituosa entre a organização do Estado e as atividades jornalísticas chilenas do

período, de onde por sua vez extraímos a perspectiva de Domingo Faustino Sarmiento

que buscava afirmar-se e viver no país estrangeiro participando de sua vida politica,

buscamos nessa comunicação compreender e explicar como este personagem

contribui ao fazer jornalístico e o papel do governo na sociedade da qual se exigia

cada vez mais uma nova forma de viver, um comportamento cívico, uma cidadania,

dentro da recente ordem republicana.

Palavras chave: Domingo Faustino Sarmiento, Cidadania no século XIX, História da

Imprensa.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 46

MESA IMPÉRIO PORTUGUÊS E RELIGIOSIDADE

O espaço de autonomia das religiosas do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda.

Amanda Dias de Oliveira - Mestranda PPGHIS/UFRJ

O presente artigo terá como respaldo algumas fontes de caráter normativo. Tal

escolha se deu para que pudéssemos traçar o perfil, o qual tinha sido estabelecido

pelos religiosos frente ao Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda, no Rio

de Janeiro. Será observado que o papel de um prelado frente à administração do

espaço conventual foi fundamental e indissociável. Não obstante, ao estabelecer

legalmente tal instituição, obtivemos aproximadamente a profissão de vinte e quatro

mulheres. Sendo assim, ao tomarem o seu estado era preciso que estas observassem

todos os mandamentos inerentes ao papel que passariam a desempenhar. E será a

partir deste identificador que iremos estruturar tal artigo. Portanto, observar tais

constituições proporcionar-nos-ão a compreensão em relação ao modelo estabelecido

pelo prelado responsável ao convento, o que não inibe a identificação da relação

social entre religiosas e o bispo. Entretanto, será ressaltado que tais mulheres tinham

um espaço de organização e administração próprios, conseguindo assim, uma relativa

independência. Evidentemente que não iremos utilizar apenas as constituições

próprias do convento, que servirão como respaldo, mas também, far-se-á uma

comparação com outras obras normativas, para que assim, enriqueçamos a análise

proposta. Indicaremos as funções nas quais as religiosas seriam responsáveis. E

como tais ocupações deveriam obedecer determinados critérios e ser minuciosamente

organizadas pelo prelado e pela Abadessa da comunidade.

Palavras-chave: Colônia, Rio de Janeiro, Religiosas.

Rio de São Januário e Sant’Ana: santos patronos e política católica na diocese do Rio de Janeiro, século XVIII.

Vinicius Miranda Cardoso - Doutorando PPGHIS/UFRJ

As razões da eleição de um novo santo patrono por poderes seculares ou

eclesiásticos, com o fito de ampliar o “panteão” de uma cidade, província, reino ou

instituição; ou mesmo pretendendo substituir uma antiga invocação oficializada, de

acordo com as sensibilidades próprias de novas conjunturas, são objeto privilegiado

para a discussão e interpretação de aspectos político-religiosos relevantes em

sociedades católicas pregressas. Sendo assim, este ensaio pretende abordar

brevemente a história de dois cultos oficializados pela diocese fluminense em dois

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 47

momentos diferentes do século XVIII. Em 1710, o bispo D. Francisco de São Jerônimo

instituiu o feriado de São Januário na cidade do Rio de Janeiro, elevando o santo a um

patamar equivalente ao de um santo patrono local, em comemoração à vitória sobre

Jean-François Duclerc. E em 1760, o bispo D. Antonio do Desterro Malheiros divulgou

a entronização de Sant’Ana como segunda padroeira da cidade e diocese do Rio de

janeiro, num processo aprovado pela Congregação dos Ritos e pelo papa em Roma.

Nos dois casos, dois aspectos interessam a este trabalho: 1) as razões que levaram à

escolha destes santos, diante dos problemas, dilemas e orientações das conjunturas

históricas em que tiveram lugar; e 2) as razões de um relativo insucesso, ou melhor,

da restrita ressonância destes dois cultos patronais no âmbito do bispado fluminense,

ao longo do século XVIII. De um modo geral, busca-se discutir a hipótese de que,

embora tenham correspondido a tentativas de intervenção do alto clero em questões

urgentes do governo do bispado (em especial, a consolidação da figura do bispo e a

busca de um culto próprio para a diocese num período de definição de “fronteiras”

entre poder secular e eclesiástico) a veneração desses dois santos teria carecido do

apoio e do reconhecimento fundamental de poderes e agentes seculares, o que teria

contribuído para um relativo fracasso de tais cultos em sua faceta oficial e citadina.

Palavras-chaves: santos patronos – política eclesiástica – diocese do Rio de Janeiro

Surgimento e evolução dos retratos de Corte em Portugal do século XV.

Danielle de Oliveira dos Santos-Silva - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Este trabalho se dedicará a analisar o surgimento e o desenvolvimento dos retratos

chamados “de corte” em Portugal no século XV. Os retratos “de corte” são aqueles

cujos modelos foram indivíduos pertencentes à realeza ou à nobreza, retratos feitos

com a função de representar o poder da dinastia à qual se pertencia, que aos poucos

adquiriram funções de propaganda política, no qual excedeu a função primária de

lugar de memória. Em Portugal, as primeiras representações pictóricas encontradas

de membros da família real, estão relacionadas à arte tumular, às estátuas jacentes

dos túmulos de reis e rainhas, a partir do século XIII. Entre os séculos XIII e XIV

aconteceu um grande progresso na qualidade da imagem jacente, permitindo o

reconhecimento de traços e da individualização do representado, tal como nos túmulos

de D. Inês de Castro e D. Pedro I, no Mosteiro do Alcobaça e os de D. Felipa de

Lencastre e D. João I, no Mosteiro da Batalha, mas ainda não havia retratos pintados.

É em meados do século XV que, lentamente, vão surgindo os primeiros retratos dos

membros da família real portuguesa da dinastia de Avis, que sobreviveram à

passagem dos séculos e ainda subsistem para serem estudados. Pesquisadores têm

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 48

assinalado a existência de prováveis retratos da rainha Santa Isabel, D. Dinis e D.

Fernando, através de indícios recolhidos em fontes, mas nenhum destes alcançou a

contemporaneidade. O motivo para o surgimento dos retratos da família real

portuguesa dos quais temos conhecimento, está no enlace matrimonial entre a Infanta

Portuguesa D. Isabel de Avis, filha do rei D. João I, com o Duque de Borgonha Felipe

II, o Bom. Por ocasião das negociações do noivado, Felipe enviou à Portugal seu

pintor preferido, Jan Van Eyck com o objetivo de pintar a futura noiva. A partir daí,

ainda que timidamente, se inicia uma produção de retratos no reino português. É este

fenômeno que vamos tentar analisar.

Palavras-chaves: Realeza, Portugal, Iconografia

Mouriscas judaizantes no reino luso do século XVI.

Rachel Romano dos Santos - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Neste artigo serão apresentados dois documentos inquisitoriais portugueses datados

do século XVI. Trata-se de processos de mouriscas (mouras/muçulmanas batizadas

no Cristianismo) acusadas pelos Tribunais do Santo Ofício de Évora e Lisboa de

manterem diferentes práticas religiosas ilícitas no reino: uma acusada por práticas e

rituais islamizantes; outra, por práticas e rituais judaizantes. O objetivo aqui será a

análise das práticas religiosas relatadas, bem como o levantamento dos possíveis

motivos para a adoção das crenças ilícitas por ambas mouriscas. As relações

interpessoais aferidas na documentação tratada que permeiam e, de acordo com a

nossa hipótese, justificam a adoção por essas mouriscas das religiosidades

clandestinas serão tópico de discussão deste artigo. Os mouriscos desta pesquisa são

originários dos avanços militares portugueses na expansão marítima e comercial no

Norte da África e formaram uma comunidade de conversos em Portugal no século XVI.

Esses imigrantes, que integraram demograficamente a comunidade lusa no início dos

quinhentos, ingressaram, em sua maioria, na condição de cativos, sendo

principalmente de origem marroquina. O Tribunal do Santo Ofício luso foi criado em

1536 pela ação diplomática do rei D. João III. Teve como principal objetivo a

perseguição de cristãos-novos suspeitos de judaizarem. O crime de Islamismo era

secundário na “hierarquia de delitos” inquisitoriais, porém foi o delito mais frequente

dos mouriscos portugueses. Neste artigo, os casos serão apresentados de forma

comparativa, com a intenção de ressaltar o caráter de exceção de um dos casos, o da

mourisca judaizante. Serão, assim, apontadas as principais crenças, os contatos

interpessoais envolvidos, o interrogatório inquisitorial e as relações com outros

acusados pelo Santo Ofício. Nesse sentido, a análise será feita recriando uma

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 49

realidade comum aos mouriscos portugueses na análise do processo da mourisca

islamizante, as características que se cruzam nos dois casos e, finalmente, a defesa

das relações interpessoais e familiares como geradoras de uma situação inusitada, a

adoção por uma conversa de mouro de práticas aparentemente incompatíveis com

seu estatuto social de origem.

Palavras chave: mouriscos, Judaísmo, Portugal

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 50

MESA NARRATIVAS HISTÓRICAS, PATRIMÔNIO E CIDADES

Petrópolis, Cidade Imperial, e suas outras histórias.

Graziele de Souza Rocha - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Petrópolis, município localizado na serra fluminense, é comumente identificado como

uma cidade que conserva fortes traços do período imperial. Essa percepção da cidade

pode ser verificada, por exemplo, por meio das adjetivações – Cidade Imperial e

Cidade de Pedro – com que é frequentemente caracterizada. Essas adjetivações

somadas aos passeios de charrete pelo Centro Histórico, seus casarões e construções

conservados e seus tradicionais pontos turísticos como o Museu Imperial, o Palácio de

Cristal e a Catedral São Pedro de Alcântara sugerem a existência de certa

identificação entre a cidade e os valores e tradições do Segundo Império Brasileiro.

Criada por Decreto Imperial, em 1843, é possível afirmar que, além de ser a primeira

cidade, no Brasil, fundada a partir de um plano urbanístico, grande parte de seu

povoamento deveu-se às primeiras levas de imigrantes alemães chegados à região

em meados da década de 1840. Dessa forma, a cidade acabou por ser identificada

tanto por seus habitantes como pelos visitantes com os valores e as tradições do

Segundo Império. No entanto, essa identificação deve ser interpretada como uma

construção que – entre o início do século XX e os anos 1940 ganhou consistência –

que foi operada por um determinado grupo e conformou as interpretações do passado

da cidade na sua relação com os tempos do império, sobretudo D. Pedro II. Portanto,

ao interpretarmos as cidades devemos atentar para as suas alteridades, aquilo que

escapa à universalidade de uma identificação que não é capaz de dar conta das suas

especificidades. Ou seja, no tocante a Petrópolis não basta considerar apenas o seu

aspecto imperial, como se o fato de ter sido criada oficialmente, por meio de um

Decreto Imperial, determinasse os seus rumos eliminando, dessa forma, as suas

outras potencialidades. Assim, espero demonstrar outras possibilidades de abordagem

e compreensão da história de Petrópolis, para além de sua identificação com a

monarquia e o último dos Bragança a reinar no Brasil.

Palavras-chave: Petrópolis, Segundo Império, historiografia

Entre letras e memórias: A escrita da história iguaçuana a partir da Arcádia Iguassuana de Letras (AIL).

Maria Lúcia Bezerra da Silva Alexandre - Mestranda PPHR/UFRRJ

Na década de 1930 o município de Nova Iguaçu foi um grande polo da citricultura no

estado do Rio de Janeiro. A cidade integrou o grande cinturão de investimentos e

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 51

modernização da agricultura. O cultivo da laranja foi o motor econômico local e

congregou as ações de um grupo ruralista. Instituiu representações e símbolos que

correlacionavam o “progresso” municipal a elite agrária. Ao final dos anos 1940 o

município teve seu território reconfigurado a partir dos loteamentos e

desmembramento de seus distritos. A chegada de indústrias e a ampliação do setor de

comércio e serviço alargaram a participação de novos interlocutores. Mediante estas

mudanças os filhos da “era de ouro” constituíram a Arcádia Iguaçuana de Letras (AIL)

em 11 de agosto de 1955. Através de eventos e obras, e estas últimas serão objeto

deste estudo, a instituição arrematou a escrita da história iguaçuana. Os membros da

AIL utilizaram suas memórias de forma que o papel desempenhado por seus

antecessores fosse reiterado. O discurso completou as intervenções físicas e culturais

efetuadas em décadas anteriores. O objetivo é demonstrar como a literatura elaborada

pelos árcades camuflaram as mudanças sofridas por Nova Iguaçu entre os anos 1950

e 1960. Segundo Raymond Williams, a literatura produzida sobre o mundo rural inglês

estava atrelada a um momento de transição dos modelos de produção, ou seja, a uma

necessidade em opor campo e cidade e mascar as mudanças em curso. Neste

sentido, acreditamos que a nova operação historiográfica feita pela AIL demarcou a

necessidade de estabilidade mediante o rearranjo nos usos do território. As obras nos

permitirão analisar como a literatura foi parte de um projeto político que estava se

encerrando. Por isso os títulos foram catalogados por gênero, contudo analisaremos

as narrativas que elegem a cidade como tema. A ideia é explorarmos conceitos como

campo, cidade e memória, deste modo poderemos confirmar o projeto de escrita de

uma memória sobre Nova Iguaçu.

Palavras-chave: Literatura; Intelectuais; Nova Iguaçu.

Uma rede de amigos ou de livros? – O INL entre o funcionalismo e a sociabilidade.

Mariana Rodrigues Tavares - Mestranda PPGH/UFF

O ano de 1937 guardou muitas novidades. Foi o primeiro do Estado Novo de Getúlio

Vargas e também a primeira vez que, na visão dos homens que o compunham, nós

concretamente, nos “tornávamos” brasileiros. Enquanto Rodrigo Melo Franco de

Andrade e o grupo de intelectuais modernistas mineiros discutia a definição de

patrimônio para o recém-criado Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(Sphan), cabia ao ministro Gustavo Capanema e os intelectuais ao seu redor atribuir

sentido também aos monumentos de papel, os livros. Nesse momento, cultura e nação

unificavam-se, constituindo a definição do que era ser um legítimo brasileiro. No Brasil,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 52

inaugurava-se um período de ação de criação e preservação do patrimônio histórico,

artístico e letrado fundado sobre sua identificação direta com o Estado. Aos

intelectuais de Capanema coube a incumbência de monumentalizar a nossa história e

eleger seus cânones. Ao Estado, a função de fundar instituições culturais dedicadas

as mais diversas áreas. Munido no espírito dessa época e com os propósitos claros de

organizar e publicar a Enciclopédia Brasileira e o Dicionário da Língua Nacional foi

criado o Instituto Nacional do Livro. No entanto, este órgão jamais tirou do papel os

planos que orientaram a sua fundação. Apesar de nunca terem sido cumpridos, o

Instituto se revelou uma entidade pública repleta de intelectuais, disputas por

legitimação e publicação. Nesta apresentação, procurarei evidenciar exatamente

essas disputas e debates em torno da edição e do lançamento da Enciclopédia e do

Dicionário. Além disso, procurarei salientar de que maneira a gestão de alguns

editores, em especial, a de Augusto Meyer e a de Herberto Sales, garantiram a muitos

autores e editores a possibilidade de publicarem suas obras, acionando o mecanismo

da rede de amizades. Sendo assim, procuro discutir nessa apresentação as questões

referentes às redes de sociabilidade no espaço público através da análise de

correspondências e pareceres. Nesse sentido, pretendo propor uma discussão da

viabilidade desse conceito para empregá-lo para o Instituto Nacional do Livro, pois se

trata de uma instituição pública convivendo entre leis e a sociabilidade.

Palavras-chave: disputas intelectuais; produção editorial; Instituto Nacional do Livro.

Um estudo comparativo sobre os processos que consolidaram Lisboa e Madrid como cidades-capitais.

Daniela Rabelo Costa Ribeiro Paiva - Doutoranda PPGHR/UFRRJ

No alvorecer da modernidade, os reinos europeus vivenciaram concomitantemente os

processos de centralização política e de definição de uma cidade-capital para dirigir o

reino e também ser residência da família real e sede das instituições que

assessoravam o governo. Esses processos foram marcados pela reciprocidade. Em

outras palavras, a centralização política teria demandado o estabelecimento de uma

cidade sede, que, por sua vez, teria contribuído com o fortalecimento do poder real por

ser um centro de referência. A escolha dessa cidade muitas vezes ocorreu de forma

espontânea. Pode-se citar como exemplo Lisboa, que exercia uma natural primazia

sobre as demais cidades do reino português, muito embora não houvesse na época

uma lei ou decisão régia que deixasse evidente o seu posto de capital. Essa

centralidade natural envolve questões geoestratégicas e econômicas, assim como, as

questões de ordem simbólica e cultural. Outras vezes, a escolha da cidade-capital

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 53

decorria da vontade do próprio monarca. Destaca-se o caso de Madrid, que foi eleita

pelo perspicaz Filipe II. Naquele momento, Madrid não passava de uma vila sem

importância, sua história e economia não se sobressaiam no conjunto das cidades

castelhanas. Porém, foi justamente a sua pequenez um dos fatores que a permitiram

triunfar. Madrid não contava com instituições autônomas e diligentes ao defender seus

interesses. Filipe II escolheu um espaço neutro, sem poderes que concorressem com

sua autoridade e seu brilho. A comunicação propõe fazer uma história comparada

sobre os processos que tornaram Lisboa e Madrid capitais. Também haverá uma

discussão sobre algumas impressões da época: descrições que proclamavam as

excelências e defendiam a escolha dessas cidades como sede da corte régia e capital.

Defende-se que, na proporção que reforçavam a imagem dessas cidades como

“cabeça do reino”, as descrições concorriam para que Lisboa e Madrid adquirissem

prestígio junto aos seus respectivos reinos e passassem a exercer plenamente o papel

de capital.

Palavras-chave: História Moderna Ibérica, Cidade-capital, Descrições urbanas.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 54

MESA PENSAMENTO POLÍTICO, INDIVÍDUOS E BIOGRAFIA NA

AMÉRICA LATINA.

Santos Dumont para crianças: biografia, política cultural e memória na heroicização do inventor brasileiro durante a década de 1940.

André Barbosa Fraga - Doutorando PPGH/UFF

O objetivo do presente artigo é analisar o período da nossa história em que ocorreu

um dos maiores investimentos em torno da figura de Santos Dumont: o primeiro

governo Vargas. Por meio de um projeto direcionado a inserir definitivamente o

inventor brasileiro no panteão dos heróis nacionais, uma quantidade substancial de

políticas culturais foi desenvolvida. Tais ações, elaboradas sobretudo na década de

1940, principalmente por causa da importância que a aviação passou a ganhar

durante a Segunda Guerra Mundial, obtiveram um resultado favorável às expectativas

depositadas. Para alcançar tal objetivo, o Estado Novo optou por diversificar os

campos de atuação, agindo em diversas frentes, com ações as mais diversas, dentre

as quais cabe mencionar a construção de estátuas, a composição de músicas, a

celebração de datas marcantes na vida do personagem e a produção de discursos.

Nesta pesquisa, especificamente, voltaremos nossa atenção a outro produto cultural

que tem sido indispensável a qualquer projeto de glorificação de personagens

históricos, que vislumbre fazê-los se perpetuarem na memória dos grupos aos quais

se destina: a biografia. Nesse campo das biografias, analisaremos o livro Santos

Dumont para Crianças, pertencente a uma coleção chamada “Biblioteca Pátria”. Tal

coleção foi criada no ano de 1940 pelo “Suplemento Juvenil”, pertencente à editora

Grande Consórcio Suplementos Nacionais, situada na cidade do Rio de Janeiro, e era

composta por um conjunto de livros intitulado “Grandes Figuras do Brasil”. De início,

esse material foi encomendado, a pedido do Ministério da Educação e Saúde, para ser

distribuído nas escolas. Em dezembro de 1941, afetado pela política de estatização

dos meios de comunicação promovida durante o Estado Novo, o Grande Consórcio

Suplementos Nacionais foi incorporado ao patrimônio público, passando a ser

controlado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda. Nessa análise, estaremos

atentos aos aspectos que foram privilegiados na obra para construir uma determinada

versão sobre a vida de Santos Dumont, de forma.

Palavras-chave: Santos Dumont, Biografia, Memória.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 55

Uma biografia em dois tempos: as duas vidas de Simões Lopes Neto.

Jocelito Zalla - Doutorando PPGHIS/UFRJ

O presente trabalho objetiva discutir, através da trajetória e da imagem pública do

escritor gaúcho João Simões Lopes Neto (1865-1916), um problema biográfico: as

relações entre projetos intelectuais e construções de memória post-mortem. Quais as

possibilidades de conciliação das análises prospectiva e retrospectiva dessa dupla

trajetória de Simões? O que seu caso nos revela sobre os usos políticos do biográfico?

Com a reflexão, pretendo apresentar um balanço do primeiro ano da pesquisa, alguns

resultados preliminares, hipóteses reformuladas e caminhos futuros. Para tanto, serão

analisados discursos produzidos pelo autor e ensaios que resgataram sua obra,

encaminhando sua relativa seleção para o cânone literário nacional e sua celebração

na memória histórica do Rio Grande do Sul. Parto dos conceitos de “trajetória”, de

Pierre Bourdieu, e “projeto”, de Gilberto Velho, para compreender a biografia como

devir, processo de (auto)construção do personagem, e a categoria de “função-autor”,

de Michel Foucault, para discutir a consagração póstuma, na crítica especializada. O

caso de Simões, escritor “municipal” de pouca circulação e pequena relevância em

vida, que foi resgatado e transformado em patrimônio literário gaúcho somente trinta

anos após seu falecimento, oferece elementos para pensar sobre as relações entre

trajetória e imagem pública, mas também permite refletir sobre os desafios da escrita

biográfica. A reflexão revela uma tensão entre a trajetória, profissionalmente múltipla,

e a imagem de autor literário vanguardista, “patriarca das letras” no estado sulino,

segundo palavras de Alfredo Bosi, e precursor de estratégias narrativas modernistas.

O trabalho de enquadramento de sua memória pública atende à construção de uma

genealogia heroica e ao projeto de auto-representação da geração de escritores

gaúchos do segundo momento abordado, o que coloca um duplo desafio ao biógrafo

contemporâneo: contornar as interpretações dominantes, ali gestadas, sobre a vida e

a obra de Simões; tomar a memória como um objeto privilegiado da biografia histórica,

mais do que ver nela seu principal contraponto.

Palavras-chave: biografia, memória, Simões Lopes Neto.

Crônicas Mestiças: um estudo sobre as estratégias de dominação indígena através das obras de Bernardino de Sahagún – México, século

XVI.

Daniella Machado Fraga Mestranda PPGHIS – UFRJ

O presente trabalho possui como objetivo analisar as estratégias das apropriações

culturais indígenas a partir da obra “Historia General de Las cosas de la Nueva

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 56

España” (1588), produzida pelo franciscano Bernardino de Sahagún em um contexto

de dominação espanhola sobre a cultura náhuatl durante o século XVI. Buscaremos,

portanto, identificar as estratégias de diferenciação do que seria aceito como

veneração Católica ou prática herege e também problematizaremos a construção dos

discursos de dominação e missão religiosa franciscana no México. As distintas

interpretações acerca dos rituais de adoração, os festejos, e as leituras indígenas

sobre as adorações demonstravam para os religiosos que o processo de cristianização

estaria sendo moldado de maneira problemática. A imagem cristã, que na teoria

deveria ser uma representação divina, transformava-se, segundo o imaginário nativo,

na própria divindade. Missionário mendicante, Bernardino de Sahagún chegou ao

México em 1529 e seguindo uma tendência que se observou até meados de 1570,

coletou informações através de grupos de sábios e anciãos indígenas sob a

perspectiva de observar e reunir vestígios da organização sociocultural ameríndia pré-

hispânica. Segundo o franciscano, era necessário conhecer a cultura asteca para

então efetivar com êxito o processo de dominação cultural europeia nestas

sociedades. Para o franciscano era preciso conhecer para dominar. Considerando a

produção de Bernardino de Sahagún e sua “Historia General de las cosas de la Nueva

España”, através dos significados da alteridade e seus sentidos práticos e

epistemológicos, analisaremos a utilização do conhecimento da língua e da cultura

nativa como forma de aproximação e identificação de elementos considerados

perigosos aos anseios evangelizadores da ordem franciscana no México. Os

respaldos teóricos dos conceitos trabalhados por Serge Gruzinski como a

ocidentalização do imaginário e a idolatria nos ajudarão a pensar a problemática das

construções dos discursos de dominação, negociação e missão religiosa no México do

século XVI.

Palavras-chave: México, Cultura Náhuatl, B. Sahagún.

Tradicionalismo didático versus geração Y: A reconstrução do professor de história do século XXI.

Lucas de Souza de Andrade – Mestrando Letras e Ciências Humanas UNIGRANRIO

Uma das preocupações dos professores de História é tornar sua matéria atrativa e

interessante para várias turmas e alunas que apareçam ao longo de sua carreira.

Quando não alcançamos esse objetivo o sentimento de frustração, cansaço e stress

afloram. (Re) Pensar na didática de História é o início para a superação dessa

questão. Percebemos que a Didática ficou visivelmente desprestigiada nos programas

de pós-graduação e nas grades curriculares de História. Dificilmente tínhamos à

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 57

disposição a existência de historiadores amplamente capacitados para pesquisar e

ensinar no campo da Didática. Chegamos até o ponto de questionar se a Didática e o

Ensino de História não seriam matérias melhores tratadas pela Pedagogia. Sendo

assim, alcançaríamos a estranha situação em que a transmissão do saber histórico

não seria uma preocupação daqueles que escrevem a História. A forma tradicional de

ensinar não é congruente com a nova configuração social do mundo pós-moderno. A

velocidade das transformações sociais influenciada pelo alto desenvolvimento

tecnológico transforma as formas tradicionais de ensino de história ficar obsoletas, a

predominância de uma aula oral entre em choque com essa nova atmosfera. As

relações efêmeras também nos desafiam para transcendermos em nossa práxis

didática. Em meio a esses desafios presentes em nosso cotidiano escolar, nós,

professores, enfrentamos um desafio antigo, o saber desenvolver o espírito crítico e a

cidadania de nossos alunos, transmitindo cultura e saberes, acrescida de uma

problemática atual exposta à cima. A necessidade de enfrentarmos essa circunstancia,

caminhando para uma nova estratégia metodológica se faz necessário para o sucesso

didático na plenitude de seu significado, isto é, a arte de ensinar. A

interdisciplinaridade surge como uma alternativa para o se fazer ensinar de modo

qualitativo e reflexivo. A pesquisa interdisciplinar tem sido temática frequente no

ensino superior. Este artigo aborda os conceitos primários e basilares do pensamento

social brasileiro sobre interdisciplinaridade sob a égide de Japiassú e Ivani Fazenda e

como estes podem se relacionar e qualificar a nossa práxis docente na educação

básica no ensino de história. Analisaremos também, as dificuldades impostas para

uma ação de fato interdisciplinar no cotidiano escolar como um currículo rígido, uma

formação docente engessada, a falta de tempo para elaboração de alternativas

didáticas e quais seriam suas possíveis superações.

Palavras-chave: Didática de História, Interdisciplinaridade, Cotidiano escolar.

Juan de Solórzano Pereira e a defesa da expansão espanhola na América.

Ricardo Leme Santelli - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Juan de Solórzano Pereira (1575 – 1655) foi um renomado escritor e jurista espanhol

que construiu uma proeminente carreira nas grandes instituições monárquicas: da

audiência de Lima ao Conselho de Castela, fazendo parte do Conselho das Índias por

15 anos. É mais conhecido pelos historiadores por sua Política Indiana (1648), uma

obra fundamental e clássica para a interpretação do governo e da administração dos

amplos territórios da Monarquia hispânica. Nesta comunicação refletiremos sobre sua

vida e obra, especialmente em Salamanca, Lima, Huancavelica e Madri; além de

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 58

discutir suas proposições e posições acerca da justificativa e defesa da expansão

hispânica nos territórios americanos. Salientamos suas influências, diálogos e ideias,

que, coligados, fomentaram seu projeto político, para um Atlântico ibérico, e de vida,

durante os reinados de Felipe III e Felipe IV. Nas linhas de Política Indiana e em

outras obras de Solórzano Pereira, encontramos uma questão importante: a

legitimidade do Império e da presença espanhola na América. Aqui, ressaltaremos

aspectos que, para Solórzano, justificam e legitimam a expansão marítima espanhola.

Não é por acaso que essas obras têm essa marca. Era necessária, através de

reflexões teóricas fundamentais, a formação de bases políticas e legais para tratar de

assuntos que se referiam ao reino, à coroa e a colônia. Solórzano pautou seus escritos

numa forte defesa, baseada nos seus conhecimentos jurídicos, contra inimigos

internos e externos que tentavam se sobrepor ao Estado Espanhol. Além disso, ajudou

a fortalecer a ideologia de legitimidade do império, a qual teve grande impacto sobre a

classe dirigente espanhola, temerosa de que os grandes sucessos e lucros anteriores

estivessem ameaçados. Para esta tarefa trabalhou com questões caras à economia, à

administração colonial e à questão jurídica, apoiando-se na tradição clássica

humanista e também em questão religiosas. Nota-se também em suas obras, a

presença do Direito Romano, que servirá como apoio na construção de sua visão

sobre o sistema de administração das Índias, alimentando, portanto, a formação do

Direito Indiano.

Palavras-chave: Juan de Solórzano Pereira, Política Indiana, Expansão.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 59

MESA EXPERIÊNCIAS FASCISTAS E AUTORITÁRIAS

Reflexões e apontamentos sobre a relação entre as Forças Armadas do Brasil e os regimes fascistas.

Felipe Duarte Balocco - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Diante de um processo de centralização do poder vivenciado pelo governo brasileiro

ao longo da década de 1930 e apoiado por amplos quadros do setor militar, muitos

estudos acadêmicos contemporâneos lidam com a ideia de que existiria naquele

momento uma suposta proximidade entre os ideais defendidos pelos oficiais

brasileiros e aqueles praticados nas experiências fascistas europeias, em particular o

caso alemão. Sobre esse assunto, o presente artigo visa trazer uma nova luz sobre a

relação comumente aceita pela historiografia entre a oficialidade das Forças Armadas

do Brasil e os modelos políticos nazifascistas que se disseminaram pelo mundo no

período em questão. Para tanto, utiliza-se como referência central o pensamento do

General Pedro Aurélio de Góes Monteiro, considerado por grande parte das pesquisas

correlatas como a principal referência intelectual do Exército Brasileiro durante o

Governo Vargas, e reconhecido pelas mesmas como um dos grandes articuladores do

golpe que em 1937 instaurou a ditadura do Estado Novo (1937 - 1945). Nesse sentido,

o artigo estrutura-se através de uma análise dos pontos de convergência e de

divergência entre três tópicos básicos: as posições de Góes Monteiro a respeito dos

rumos do Brasil (características do país, possibilidades de atuação, escopo de

interesses e objetivos a serem alcançados); as características gerais encontradas nas

experiências fascistas; e os constrangimentos impostos por uma conjuntura

internacional que se encaminharia para a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939 -

1945). Busca-se por fim refletir e traçar apontamentos, ainda que não conclusivos,

sobre as contradições inerentes em certas caracterizações do modelo político

defendido pela oficialidade militar - e posto em prática com o seu aval e suporte -

durante o Estado Novo. As contradições em questão surgem através de uma

equivocada percepção de convergência ideológica entre o Estado Novo e os regimes

fascistas, ocorrendo de diversas maneiras na historiografia: seja como fruto de uma

possível influência que nutriam pelos regimes fascistas; como um esforço de importar

experiências políticas estrangeiras para a América do Sul; ou mesmo como uma busca

de um alinhamento diplomático condizente com interesses imediatos. Atenta-se dessa

maneira para a autenticidade do caso brasileiro que, a despeito de possíveis

semelhanças com experiências políticas que se desenvolviam ao redor do mundo,

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 60

possui características próprias que a tornam um caso particular e, assim sendo, ainda

mais intrigante.

Palavras-chave: Forças Armadas do Brasil; Góes Monteiro; Governo Vargas.

Criminosos nazistas no brasil: a gênese de um axioma.

Bruno Leal Pastor de Carvalho - Doutorando PPGHIS/UFRJ.

A partir do final da Segunda Guerra Mundial, difundiu-se socialmente a imagem da

América Latina como “paraíso” para criminosos nazistas em fuga da Europa. No início

dos anos 1950, a partir do “Caso Cukurs”, o Brasil também passou ser visto como país

acolhedor de nazistas foragidos da justiça internacional, principalmente pela ótica da

imprensa. A proposta deste trabalho é mostrar como se deu a gênese dessa visão e

os seus principais fundamentos, procurando evidenciar como o tema tem sido

enfrentado hoje no meio social e na própria historiografia.

Palavras-chave: Criminosos Nazistas, Cukurs, Brasil.

“Nenhum comunista está sozinho em meio à batalha”: Jorge Amado e a Guerra Civil Espanhola (1936-39).

Marco Antônio Machado Lima Pereira - Doutorando PPGHIS/UFRJ

O propósito central desta comunicação consiste em examinar o lugar ocupado pelo

tema do conflito civil espanhol no primeiro volume da trilogia “Os subterrâneos da

liberdade” (1954), intitulado “Os ásperos tempos”. Num outro plano da análise, a

apresentação se concentrará na trajetória do personagem Apolinário Rodrigues,

inspirado no ex-combatente brasileiro Apolônio de Carvalho (1912-2005). Como

Apolônio, Apolinário combateu na Espanha. Para além da demonstração de

solidariedade com a Espanha republicana, Jorge Amado contribuiu para elaborar certa

imagem (heroica) dos voluntários brasileiros comprometidos com a causa antifascista.

Palavras-chave: Espanha, Imagem, Guerra.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 61

MESA RELAÇÕES DE PODER E CONSTRUÇÃO DO ESTADO

Governar é preciso: racionalização e representação do território brasileiro pelo governo imperial no Segundo Reinado.

Bruno Capilé - Doutorando PPGHIS/UFRJ

O gerenciamento de grandes territórios é profundamente dependente de mecanismos

de racionalização e representação deste espaço. O estado brasileiro, que “aprendia” a

ser nação, apresentava uma estrutura aquém de suas necessidades administrativas.

No Segundo Reinado, os investimentos na criação de instituições, formação de

pessoal e melhorias na gestão do território e da população, deixou o poder estatal

mais amplo, especializado e complexo, buscando suprir a demanda de logística e

planejamento do corpo de engenheiros e cartógrafos do Ministério da Agricultura.

Sendo assim, o presente trabalho lança luzes sobre como estes mecanismos

potencializaram o gerenciamento estatal sobre o ambiente natural, e como o governo

imperial fortaleceu-se com tais investimentos, segundo a ideia de poder infraestrutural

de Michael Mann. Segundo ele, tal poder deriva da utilidade social, das formas de

centralização territorial que não podem ser fornecidas pelas forças da sociedade civil.

A racionalização e a simplificação do território, tendo como expoente a representação

cartográfica, forneceram meios para modificações ambientais pela mineração,

agricultura, obras públicas urbanas. Todavia, embora a cartografia possa participar

efetivamente do aumento do poder infraestrutural, através da racionalização do

ambiente, os recursos governamentais provaram não ser suficientes para a realização

de comissões cartográficas. Numa interpretação mais superficial, podemos observar

que o aperfeiçoamento da eficiência da gestão territorial, foi um importante fator na

consolidação estatal – assegurando recursos naturais, investimentos em ferrovias etc.

No entanto, ao analisarmos com mais cautela vemos que os esforços de treinamento

de engenheiros, criação de comissões cartográficas, dentre outros, fortaleceu também

diferentes setores de oposição do governo imperial. Por fim, busca-se aqui explicitar

que os mapas, como objetos socialmente construídos e dotados de intenções que

transpassam seus interlocutores através de discurso social, ideológico e retórico,

asseguraram um distanciamento das realidades locais: fator essencial de uma

administração imperial e centralizadora.

Palavras-chave: cartografia, Segundo Reinado, poder infraestrutural.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 62

Petróleo e progresso na Era Vargas.

Natascha de Vasconcellos Otoya - Mestranda PPGHIS / UFRJ

O início da busca pelo petróleo em solo brasileiro se dá, em larga medida, sob a égide

do governo Vargas. O primeiro jorro, em 1939 na Bahia, acontece um ano depois da

criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), órgão que visa controlar a indústria

do refino e a distribuição de petróleo – minério até então inexistente no Brasil. O

caráter estatizante do CNP, que imediatamente nacionaliza e expropria a primeira

descoberta, será a tônica do início da exploração de petróleo no país durante o Estado

Novo. Desde a criação do CNP até a fundação da Petrobras em 1953 – já no segundo

governo Vargas – o petróleo foi apropriado como elemento do imaginário político por

grupos distintos que reivindicavam o minério como uma riqueza capaz de promover o

progresso desejado para o país. Este texto busca explorar duas possíveis chaves

interpretativas para o estudo da história do desenvolvimento da indústria petrolífera no

Brasil: as visões de natureza vigentes no período, que integram um movimento mais

amplo de busca pelo progresso, e a questão da implementação de um projeto

nacionalista pela via estatal ao mesmo tempo em que a exploração do petróleo

demandava presença de estrangeiros qualificados para tal.

Palavras-chave: Petróleo, progresso, Vargas.

O Compromisso e o Reformismo Agrário no Governo João Goulart.

Israel Gil da Silva Mendonça - Mestrando UFRRJ

O presente trabalho tem como finalidade introduzir uma discussão sobre o papel do

compromisso e da aliança no governo de João Goulart, entre partidos (PTB, PSD e

UDN); entidades de classe Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) e Sociedade

Rural Brasileira (SRB); e movimentos sociais rurais, como as Ligas Camponesas e a

União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas Brasileiros (ULTAB) no reflexo para

os projetos de reforma agrária presentes no período que obtiveram significativa

repercussão e atuação dos componentes políticos e sociais citados acima. Desta

forma, o trabalho objetiva introduzir uma análise da esfera política recortada

apresentando dois conceitos: “compromisso” e “reformismo agrário”, na tentativa de

explorar a relação entre estes, questionando se há divergências ou

complementariedade e o limite entre a prática do compromisso político e a prática da

reforma agrária para além do discurso e do planejamento institucional. Também

questionamos se estas duas práticas foram extintas com o golpe militar e o governo de

Castello Branco. Entendemos que o “reformismo” não, exemplificado com a

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 63

promulgação do Estatuto da Terra em 1964 que viabilizava, entre outras coisas, uma

política de distribuição de terras. Para o desenvolvimento das questões apontadas

para o trabalho será introduzido uma discussão e análise histórica sobre as relações

entre governo, partidos, entidades de classes e movimentos sociais rurais, e também

uma discussão teórica neomarxista sobre o papel do Estado capitalista – dentre os

autores podemos destacar, Gramsci, Poulantzas, Claus Offe, Ralf Miliband – e sobre o

Estado desenvolvimentista brasileiro, com a utilização das ideias de Francisco Weffort,

José Luís Fiori e Francisco de Oliveira.

Palavras-chave: Reforma Agrária, Estado de Compromisso, Governo João Goulart.

A microhistória no Ensino de História: uma nova possibilidade metodológica.

Maria Renata de Alvarenga Guimarães Teixeira - Mestranda Educação UFMG

O presente artigo tem por objetivo apresentar a pesquisa de Mestrado que está sendo

realizada no Programa de Mestrado Profissional da Faculdade de Educação da

Universidade Federal de Minas Gerais. Esta pesquisa tem como finalidade romper

com os paradigmas tradicionais que ainda permeiam o ensino de História trazendo

para a sala de aula uma nova abordagem teórica metodológica: a microhistória. A

microhistória, movimento historiográfico iniciado na Itália, ganha cada vez mais força no

Brasil e na América Latina. Essa modalidade de pesquisa nasceu da renovação

epistemológica e metodológica de um grupo de historiadores italianos, como Carlo

Ginzburg, Edoardo Grendi e Giovanni Levi, que descreveram e interpretaram casos

“minúsculos” e periféricos à luz de uma história mais geral, buscando registrar uma série

de fatos significativos que seriam imperceptíveis e que, no entanto, foram interpretados

por sua inserção em contextos mais amplos e relacionáveis. Dentro desse aporte teórico,

tem-se como foco o trabalho com dois conceitos do historiador Carlo Ginzburg: a redução

da escala de observação e a circularidade da cultura. Considera-se que a Teoria da

História é componente estruturante na Didática da História. Assim, elas mantêm conexões

sistemáticas que justificam o trabalho com as contribuições da ciência da História no

processo de ensino e aprendizagem da História como disciplina escolar. Tem-se como

objetivo interligar a microhistória, metodologia teórica, às práticas docentes através da

construção de sequências didáticas baseadas na análise de trajetórias individuais dentro

das temáticas trabalhadas em salas de aula da Educação Básica. Esse trabalho

investigativo parte da compreensão das vivências e representações sociais e culturais de

indivíduos para o entendimento de um contexto mais amplo.

Palavras-chave: Ensino de História, Microhistória, Carlo Ginzburg.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 64

MESA RELIGIOSIDADE NO MUNDO OCIDENTAL

O papel das imagens nos livros de horas.

Maria Izabel Escano Duarte de Souza - PPGHIS /UFRJ

Na virada do século XII para o século XIII podemos identificar algumas mudanças no

seio da Cristandade Ocidental, caracterizadas de uma forma geral como uma

“promoção dos leigos” no interior da Igreja. Decorre disso um desenvolvimento do que

se pode chamar de devoção pessoal: a prece e a meditação piedosas, antes

reservadas aos clérigos, são doravante acessíveis a uma elite laica. O homem leigo

desenvolve, assim, uma vida particular de oração para a qual novos tipos de textos,

como os livros de horas, são produzidos. Eles são livros de orações que contêm

textos, salmos e orações para as oito horas canônicas do dia, que se conformam com

uma prática de oração cotidiana característica da vida monástica. Eles são específicos

para a meditação e a leitura privada, e são confeccionados para essa nova elite laica

que deseja uma maior participação na vida eclesiástica. Um de seus principais

elementos era sua decoração, composta de iluminuras. Como iluminura, denomina-se

o tipo de imagem contida principalmente em livros manuscritos, que auxiliam na leitura

do texto, e que se utiliza da folha de ouro em sua confecção, refletindo a luz do

ambiente, e assim iluminando visualmente o texto. Nos livros de horas, era comum ter

uma iluminura no início de cada novo ofício ou mesmo de cada hora canônica, no caso

do Ofício da Virgem Maria. A iluminação de um manuscrito pode servir a uma

variedade de propósitos: pode ser puramente decorativa e/ou ilustrativa, tornando a

aparência do texto mais atrativa ou comunicando de uma forma visual sua narrativa ou

ideias. Também pode, marcando o início dos capítulos e outras partes textuais,

esclarecer a estrutura do texto, tornando o livro mais fácil de manusear e enfatizando

seu conteúdo. Para livros usados na liturgia e para devoção, como os livros de horas,

a riqueza da decoração e iluminação significa maior glorificação de Deus. Também há

uma outra função desempenhada pelas imagens nos livros de horas, e que nos

interessa investigar neste artigo: seu papel no processo de meditação característico da

devoção pessoal. Assim, com base em determinados autores como Hans Belting,

Sixten Ringbom e Bret Rothstein, e na análise da iluminura da Anunciação do livro de

horas 50,1, 16, datado do século XV e pertencente ao acervo da Biblioteca Nacional

do Rio de Janeiro, pretende-se discutir qual seria este papel e porque ele é importante

neste momento em que novas práticas devocionais se conformam na Cristandade

Ocidental.

Palavras-chave: livros de horas, iluminuras, manuscritos iluminados.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 65

Testar como instrumento para a salvação no setecentos.

Anne Elise Reis da Paixão - Mestranda PPGHIS/UFRJ

Ainda que associado à morte, o testamento é um dos instrumentos que versam,

sobretudo, sobre a vida. Para o historiador que se debruça, por exemplo, sobre esta

documentação do século XVIII, o testamento é uma fonte capaz de revelar escolhas e

trajetórias de vida contadas, muitas vezes, na iminência da morte. Mais do que

apontar dívidas, relações parentais e bens materiais, o testador no período colonial se

dedica a descrever como e onde será seu funeral, já que quando, só Deus sabe

quando lhe será servido. Em outras palavras, o testamento era um eficaz instrumento

para o cristão no caminho da salvação, sendo menos importante as questões de

partilhas e heranças do que a afirmação da fé cristã e o desejo de redenção ao lado

da Santíssima Trindade. Normalmente, logo no início do testamento, o testador

reafirmava sua crença na Santíssima Trindade e seu desejo de morrer conforme os

preceitos cristãos com o auxílio da Madre Igreja Católica. Citava também os nomes

dos seus santos de devoção e por estes pedia intercessão no momento do trespasse.

Enunciada a sua fé cristã, o testador se dedicava a organizar seu próprio enterro,

mencionando qual clérigo encomendaria sua alma e como seu corpo seria conduzido

à sua sepultura e quantos clérigos acompanhariam seu cadáver. Mencionava também

em qual mortalha seu corpo estaria envolto e em qual sepultura repousaria em paz.

Solicitava não só missas em intenção de sua alma, mas também solicitava missas

para entes e amigos já falecidos, para seus escravos, se fosse o caso, e para as

almas do purgatório. Planejando todos estes cuidados que deveriam tomar com seu

corpo e sua alma, o testador estava praticando o bem-morrer, isto é, o caminho certo a

ser traçado para que sua alma se elevasse aos céus. Nesse sentido, a presente

comunicação pretende discutir como o testamento era um elemento chave dentro da

lógica do bem-morrer. Para tal, serão analisados alguns testamentos setecentistas da

freguesia de São Gonçalo de Amarante.

Palavras-chave: Igreja Católica, testamentos, América Portuguesa.

Razão de Estado e pragmatismo católico em Diego Enríquez de Villegas – século XVII.

Bruno Silva de Souza - Doutorando PPGHIS/UFRJ

Desde o aparecimento Della ragione di Stato (1589), de Giovani Botero, a temática da

razão de Estado ocupou uma posição central dentro da “literatura política”, sobretudo

no século XVII. Na península ibérica, o debate em torno dos “meios adequados a

fundar, conservar e ampliar” um Estado revestiu-se, desde cedo, de um tom

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 66

francamente antimaquiaveliano: tratava-se de combater o que os autores ibéricos

consideravam ser a ímpia herança do secretário florentino, defensor da uma “razão de

Estado tirânica”. Apesar do teor marcadamente católico das formulações ibéricas a

respeito da razão de Estado, alguns autores fizeram concessões ao pragmatismo, indo

buscar sobretudo em Tácito uma fonte para a elaboração do que estamos

considerando aqui como “pragmatismo católico”. O presente trabalho se debruça em

torno de um autor português: o “Capitão de Corazas” e “Comendador da Ordem de

Cristo”, Don Diego Enríquez de Villegas, que prestou serviços militares à coroa

Espanhola durante praticamente trinta anos (de 1615 a 1644), tendo falecido em

Lisboa no ano de 1671. Villegas é o autor de diversos livros sobre engenharia militar,

além de tratados em que a temática da razão de Estado aparece com diferentes

contornos, desde uma tonalidade mais afinada com a defesa da fé e igreja católicas,

até uma postura decididamente mais pragmática, na qual a abordagem chega, em

alguns momentos, a aproximar-se das ideias daquele que era considerado o principal

inimigo da política católica: Nicolau Maquiavel. É este o caso das Advertencias

Eruditas para Príncipes y ministros, publicado postumamente em 1791 num periódico

chamado de Semanário Erudito, publicado em Madri por Don Antonio Valladares de

Sotomayor. De fato, nas suas Advertencias, conforme iremos demonstrar, Villegas

chega a concessões que bem poderiam servir para classificar a obra como proponente

de uma razão de Estado que, em determinados momentos, beira ao maquiavelismo, o

que resulta num caso raro dentro da literatura política ibérica.

Palavras-chave: Dissimulação, pragmatismo, pensamento político moderno.

Caderno de resumos da IX Jornada de Estudos Históricos Professor Manoel Salgado, novembro de 2014 Página 67