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CADERNO PEDAGÓGICO

RECANTO DE LEMBRANÇAS

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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: LEITURA E MEMÓRIA CULTURAL DOS POVOS ESLAVOS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA – RECANTO DE LEMBRANÇAS.

Autor EUGÊNIA OSATCHUK

Escola de Atuação COLÉGIO ESTADUAL “DR. CHAFIC CURY” – E. F. E M

Município da escola RIO AZUL

Núcleo Regional de Educação

IRATI

Orientador PROF. DR. EDSON SANTOS SILVA

I.E.S. UNICENTRO

Disciplina/Área (entrada no PDE)

LÍNGUA PORTUGUESA

Produção Didático-pedagógica

CADERNO PEDAGÓGICO – RECANTO DE LEMBRANÇAS

Público Alvo ALUNOS DE 7ª SÉRIE DO TURNO DA MANHÃ

Localização COLÉGIO “DR. CHAFIC CURY” – RUA ZACHARIAS BURKO, S/Nº

RIO AZUL

Apresentação:A população da região Centro – Sul do Paraná é formada por um elevado percentual de descendentes de povos eslavos, especialmente ucranianos e poloneses. A escola, por estar inserida neste contexto, é responsável por atividades que levem os alunos à reflexão e à ação no que diz respeito ao resgate e ao conhecimento da história destes povos. A essência do trabalho será explorar a história de Leitura de idosos selecionados (acima de 80 anos), por meio da Oralidade e da Escrita transformando-as em Narrativas a fim de contextualizá-las . Os alunos conhecerão a história da Imprensa Ucraniana no Brasil e visitarão a Editora dos padres Basilianos , o Museu da Imigração e outros pontos. O objetivo maior é estreitar relações entre a escola e a comunidade, evidenciando a diversidade cultural e valorizando o papel do idoso na formação da identidade cultural da região.

Palavras-chave ( 3 a 5

palavras)

IMIGRANTES – UCRANIANOS – ESLAVOS - PRÁTICAS -

LEITURA

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SUMÁRIO

Introdução.....................................................................................................................4

Unidade 01 – Palavras aos Professores......................................................................5

Unidade 02 – Explorando a Oralidade e a Escrita.....................................................12

Unidade 03 - História e Vida da Imigração Ucraniana – 120 anos de lutas e

conquistas..................................................................................................................15

Unidade 04 – A Importância da Palavra em Nossa

Vida............................................43

Unidade 05 – Texto Narrativo – Elementos Composicionais do Gênero.- Da Fala à

Escrita.........................................................................................................................47

Avaliação...................................................................................................................54

Referências............. .............................................................................................................54

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INTRODUÇÃO

O presente Caderno Pedagógico tem a função de nortear qualitativamente a

fase mais significativa do PDE, a implementação do projeto na escola, com

sugestões de atividades para o seu desenrolar desejável. O segundo propósito é

por meio da Rede no Portal da Educação divulgar e dar sugestões aos colegas

professores que possam interessar-se em desenvolver atividades similares em suas

práticas pedagógicas. Neste momento do PDE a troca de experiências, isto é, a

elaboração didático- pedagógica, é campo fértil para a produção de bons frutos na

seara da Educação nos próximos anos. Sua apresentação constitui-se da seguinte

sequência;

Unidade 01 – Palavras aos Professores

Nesta unidade encontram-se a descrição dos objetivos, a justificativa, a

fundamentação teórica em relação ao envolvimento da escola no que diz respeito

ao resgatar, evidenciar e registrar a história local e regional, isto é, do meio onde

encontra-se, sob seus diversos aspectos.

De modo especial, a possibilidade de tecer relações por meio da

linguagem, com as histórias das práticas de leitura dos descendentes de eslavos:

ucranianos e poloneses reveste-se de importância, por serem estes povos a

essência da formação étnica da Região Centro- Sul do Paraná. O Colégio Estadual

Dr. Chafic Cury de Rio Azul, no qual será implementado o Projeto, está

profundamente inserido neste contexto, grande parte de seus alunos provém de tais

etnias. O PDE está proporcionando a oportunidade de olhar com olhos acadêmicos

e pedagógicos para esta realidade. Por meio da língua, como prática social evitar

que se percam histórias preciosas, que estão silenciosamente guardadas nas

lembranças dos idosos descendentes desses povos.

Unidade 2 – Explorando a Oralidade e a Escrita

As atividades desta unidade levarão os alunos à reflexão de que a

linguagem é um processo contínuo e a cada dia novo em suas vidas e que constitui

o uso efetivo da língua,

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Unidade 03 - História e Vida da Imigração Ucraniana – 120 anos de lutas e conquistas.

As atividades desta unidade colocarão os alunos frente à história dos povos

eslavos, em especial dos Imigrantes Ucranianos, desde a sua chegada ao Brasil até

os dias atuais.

Unidade 04 – A Importância da Palavra em Nossa Vida

As atividades desta unidade levarão os alunos a vivenciarem a língua com

seus pares ( idosos selecionados) e a encararem como prática social. Por meio da

oralidade e da escrita este será o momento da real interação, isto é, face- a- face

idoso e aluno a fim de contextualizar a história das práticas de leitura na linha do

tempo.

Unidade 05 - Texto Narrativo – Elementos Composicionais do Gênero.- Da

Fala à Escrita.

As atividades da unidade darão suporte teórico e metodológico para que

as informações e histórias de vida coletadas por meio da linguagem oral se

transformem em textos escritos de forma natural. Os elementos composicionais do

gênero narrativo estudados passo – a – passo e com exemplos ilustrativos

certamente tornarão prazeroso o ato de escrever, uma vez que o assunto estará

carregado de valores sentimentais adquiridos durante as entrevistas.

Unidade 01 – Palavras aos Professores

Estudem meus irmãos, pensem,leiam

Aprendam o que é dos outros

Mas não se afastem do que é seu;

Quem esquece a mãe, é por Deus

castigado

E no lugar do coração tem uma pedra no

peito.

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Tarás Chevtchenko – Grande poeta da Ucrãnia

É fato que no mundo todo, os idosos constituem grande parte da sociedade.

O avanço científico, o controle e a prevenção de doenças levam à longevidade. Este

novo fenômeno apresenta a existência de várias gerações sob o mesmo teto.

Portanto, o convívio inter-geracional na família e na escola deve ser encarado como

algo benéfico, de enriquecimento mútuo, tendo como premissa o diálogo e a troca

de experiência entre as gerações. A modalidade oral da língua se faz o centro

inicialmente, e na sequência, ao lado da escrita é um meio de interação, de

afetividade carregando-se de significados históricos e culturais

No contexto do PDE o presente material visa apresentar atividades

organizadas, a priori por meio da linguagem oral e a posteriori por meio da escrita,

estabelecer ligação entre alunos e idosos descendentes de eslavos que colonizaram

a Região Centro- Sul do Paraná a fim de contextualizar as suas práticas de leitura e

motivar os alunos ao diálogo e à valorização das pessoas de muitos anos.

A sociedade tecnológica, com as diferentes telas (computador, TV, celular,

etc.), invadiu as casas das famílias. As práticas de leitura e as ações de convívio

familiar foram mudando. A vida competitiva e a busca desenfreada pelos bens

impõem separação de gerações, mesmo vivendo sob o mesmo teto. A sociedade

contemporânea vive acelerada pelas mudanças no campo tecnológico, econômico e

social. Tal realidade coloca os alunos diante de muitas possibilidades de leitura.

Numa perspectiva social da linguagem, utilizando o gênero discursivo oral tentar-se-

á resgatar fatos relevantes da vida do grupo selecionado de descendentes de

imigrantes eslavos,a fim de que se evite o distanciamento das gerações e para que

não se perca a história local e regional.

No que diz respeito à história familiar, à formação cultural e à vivência de

valores vale conferir o que diz Chauí:

Por que temos que lutar pelos velhos? Porque são a fonte de onde jorra aessência da cultura, ponto onde o passado se conserva e o presente se prepara, pois como escrevera Benjamin, só perde o sentido aquilo que no presente não é percebido como visado pelo passado.( CHAUÍ apud Bosi,2007,p.18).

Ainda na esteira de Marilene Chauí:

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A sociedade industrial é maléfica à velhice, pois nela todo sentimento de

continuidade é destroçado, o pai sabe que o filho não continuará sua obra e que o

neto nem mesmo dela terá notícia. Destruirão amanhã o que construímos hoje.

(idem. ibidem, p. 25)

Pela interação face a face criança/idoso a língua deixa de ser um sistema de

regras e o estudo não é mais das regras e sim uma prática discursiva social e meio

de expressão e interação. Essa abordagem linguística leva o aluno a viver a língua

entre parceiros, fazendo-a viva. Nesse sentido lembra Bakhtin ( 2003)” Todos os

diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem através de

enunciados orais e escritos que são o uso efetivo da língua ”. Segundo Marcuschi

( 2001), na sociedade atual, tanto a oralidade quanto a escrita são imprescindíveis.

Trata-se pois, de não confundir seus papéis e seus contextos de uso.

O ser humano constitui-se a um só tempo: físico, psíquico, social,cultural e

histórico. Desse modo o meio que utiliza para construir sentidos nos mais diversos

contextos e épocas é a linguagem oral e escrita. Esse enfoque pode ser observado

na afirmação de Pechêux:

A formação discursiva é o lugar da construção de sentido, sua matriz por assim dizer. O que nos leva a entender que o sentido de uma palavra, de uma proposição,etc. não existe em si mesmo, mas é determinado pelas posições ideológicas postas em jogo no processo social-histórico em que as palavras, expressões e proposições são produzidas, Istoé, reproduzidas.( 2005, p. 66 )

Foi-se o tempo em que a História era apenas uma pesquisa de documentos

oficiais ou o registro da história de vida dos famosos. Hoje é necessário que a escola

desperte a consciência nos alunos de que somos responsáveis pela produção e

escrita de nossa história e envolva os alunos nesse trabalho. Fazer do momento

verdadeira aproximação de gerações para explorar por meio de entrevistas as

práticas de leitura vivenciadas historicamente pelos entrevistados e confrontá-las

com as práticas de leitura dos entrevistadores. Assim as palavras de Pecheux são

significativas:

Se é bem verdade que todos os povos, indistintamente, tem ou tiveram uma tradição oral , mas relativamente poucos tiveram ou tem uma tradição escrita, isto não torna a oralidade mais importante ou prestigiosa que aescrita. Trata-se apenas de perceber que a oralidade tem uma “primazia cronológica” indiscutível sobre a escrita. A mudança de visão operou-se a partir dos anos 80, em reação aos estudos das três décadas anteriores em

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que se examinavam a oralidade e a escrita como opostas, predominando a noção da supremacia cognitiva dentro da escrita. È fundamental considerar que as línguas se fundam nos usos e não o contrário. (IBIDEM, p 16 e 17)

Na perspectiva discursiva, a afirmação a seguir fundamenta o que se

propõe: perpetuar as histórias orais por meio de narrativas:

Cada manhã recebemos notícias de todo mundo. E, no entanto, somos pobres em histórias surpreendentes . A razão é que os fatos já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do queacontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação. Metade da arte narrativa está em evitar explicações. O extraordinário e o miraculoso são narrados com a maior exatidão, mas o contexto psicológico da ação não é imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma amplitude que não existe na informação. As narrativas são constituídas portecidos adiposos carregadas de significados, emoções, lembranças, que as fazem antagônicas em relação as informações porque são feitas da sabedoria do homem. (BENJAMIN, 1987, p. 203)

A intenção de contextualizar as diversas vozes obtidas e construídas na

linha do tempo por meio do diálogo entre alunos e idosos tem seu embasamento

com a seguinte afirmação:

Para haver relações dialógicas, é preciso que qualquer material lingüístico (ou de qualquer outra materialidade semiótica) tenha entrado na esfera do discurso, tenha sido transformado num enunciado, tenha fixado a posição de um sujeito social. Só assim é possível responder ( em sentido amplo e não apenas empírico do termo), Isto é, fazer réplicas ao dito, confrontar posições, dar acolhida fervorosa à palavra do outro, confirmá-la ou rejeitá-la, buscar-lhe um sentido profundo, ampliá-la. Em suma, estabelecer com a palavra de outrem relações de sentido de determinada espécie, isto é, relações que geram significado responsivamente a partir do encontro de posições avaliativas (FARACO, 2003, in DCE’s, p.64)

Sob a perspectiva de que a fala abre caminho para a escrita transformar os

dados coletados em narrativas, considerando os elementos composicionais e

constitutivos do gênero, propiciando uma nova leitura a partir da retextualização

construída pelos alunos. Essa possibilidade muda o destino do texto, ou seja, o de

estar confinado na gaveta ou caderno do professor e de ser lido somente por ele. O

ato de escrever certamente reveste-se de outro significado pelo fato de ser

carregado de afetividade e convivência no momento de sua gestação oral e de

posteriormente, em sua forma escrita ultrapassar o universo escolar.

Transcrever a fala é passar um texto de sua realização sonora para a forma gráfica com base numa série de procedimentos convencionalizados. Seguramente, neste caminho, há uma série de operações e decisões que conduzem a mudanças relevantes que não podem ser ignoradas. Contudo,

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as mudanças operadas na transcrição devem ser de ordem a não interferir na natureza do discurso produzido do ponto de vista da linguagem e do conteúdo.( MARCUSCHI 2001, p.49)

Nesse contexto, vale salientar o que diz Benjamin

“Para que se possa construir uma narrativa é necessário que se recorra à fonte das experiências passadas de pessoa a pessoa. Entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros narradores anônimos”. (1987,p.198)

Considerando os elementos composicionais do gênero os recursos

narrativos, isto é, discurso indireto, discurso direto e indireto livre serão utilizados

na transposição da fala à escrita. Pelo discurso indireto os alunos irão narrar e

apresentar as suas percepções construídas no decorrer dos diálogos com os idosos.

O discurso direto será a voz dada às personagens, pois o diálogo escrito dá vida à

narrativa cria condições para que o leitor entre em contato direto com as

personagens. Assim, vejamos como nos fundamentam as DCE’s:

É na escola que o aluno, e mais especificamente o da escola pública , deve encontrar o espaço para as práticas de linguagem que lhe possibilitem interagir na sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, em instâncias públicas e privadas. Nesse ambiente escolar, o estudante aprende a ter voz e fazer uso da palavra , numa sociedade democrática, mas plena de conflitos e tensões... O conflito persiste quando se observa que não basta dar a palavra ao outro é necessário aceitá-la e devolvê-la ao outro. (p.38, 2008)

Segundo Geraldi, é devolvendo o direito à palavra – e na nossa sociedade isto inclui

o direito à palavra escrita – talvez possamos um dia ler a história contida, e não

contada, da grande maioria dos que hoje ocupa os bancos das escolas públicas. ( in

DCE’s p.38). Nesse contexto de interatividade o homem é um ser que em seu

interior situa-se no mundo, faz suas leituras, análises, percepções e avaliações

acerca deste mundo. Por essa razão estamos em constantes adaptações e podemo

considerar um processo contínuo e a cada dia novo.

Um dos maiores fenômenos que ocorrem com o homem é a sua incessante

busca, o querer descobrir, experimentar por meio de sua ligação a outras pessoas,

grupos, estados ou até países, mas sempre procurando manter a sua essência e

identidade. Por ser o homem dotado de liberdade, é inevitável a busca pela auto-

realização a fim de satisfazer seus desejos em todos os aspectos. É nesse sentido

que os grupos étnico-sociais vão se constituindo, se historicizando e

constantemente se adaptando à novas situações.

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“ Um ser humano tem uma raiz por sua participação real, ativa e natural na

existência de uma coletividade que conserva vivos certos tesouros do passado e

certos pressentimentos do futuro ( WEIL, Simone, apud BOSI, p.443)

Nessa perspectiva, as DCE’s Estaduais fundamentam esta proposta:

É importante que os professores tenham claro que o método fundamental, entre contextos sócio-históricos, é a distinção temporal entre as experiências do passado e as experiências do presente. Tal distinção é realizada por meio de conceitos e saberes que estruturam historicamente as disciplinas. Também devem ser consideradas as relações de temporalidade tais como a contextualização social e a contextualização por meio da linguagem. ( DCE’s, 2008 p.29 )

A contextualização entre épocas e valores por meio da linguagem em seus

gêneros oral e escrito, será a essência das atividades sem perder de vista ou

empobrecer a construção do conhecimento científico e a sua sistematização,

evitando que a simples comparação, gere somente paralelos vazios de

subjetividade e historicidade. Para melhor entendimento observe-se o que

alavancam as DCE’s neste sentido:

A linguagem é um elemento constitutivo da contextualização sócio-histórica e, nestas diretrizes, vem marcada por uma concepção teórica fundamentada em Mikhai Bakhtin. Para ele, o contexto sócio-histórico estrutura o interior do diálogo da corrente da comunicação verbal entre os sujeitos históricos e os objetos do conhecimento. Trata-se de um dialogismo que se articula à construção dos acontecimentos e das estruturas sociais, construindo a linguagem de uma comunidade historicamente situada. Nesse sentido, as ações dos sujeitos históricos produzem linguagens que podem levar à compreensão dos confrontos entre conceitos e valores de uma sociedade. (IBIDEM, p.30)

Na história da humanidade a família sempre cumpriu papel de primeira

formadora em todos os aspectos. As práticas de leitura oral eram os meios mais

utilizados para manter e repassar seus costumes e tradições às novas gerações. A

hierarquia familiar era totalmente respeitada, os idosos, com suas experiências e

sabedoria, adquiridas pelos anos, eram respeitados e admirados. Outrora, avós,

pais, filhos e netos passavam várias horas do dia dialogando. Esta convivência

criava laços afetivos, as experiências de vida e ensinamentos considerados

necessários eram passados pela linguagem oral às novas gerações, como pode-se

observar:

Os relatos orais sobre o passado englobam explicitamente a experiência subjetiva. Isso já foi considerado uma limitação, mas hoje é reconhecido como uma das principais virtudes da história oral: fatos pinçados aqui e ali nas histórias de vida dão ensejo a percepções de como um modo de

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entender o passado é construído, processado e integrado à vida de uma pessoa. ( FERREIRA e AMADO, 2006, p.156)

Hoje fala-se tanto em criatividade... mas, onde estão as brincadeiras, os jogos, os cantos e danças de outrora? Nas lembranças de velhos aparecem e nos surpreendem pela sua riqueza. O velho é guardião de um tesouro. Ele nos aborrece com o excesso de experiência que quer aconselhar, providenciar, prever. Se protestamos contra seus conselhos, pode calar-se e talvez querer acertar o passo com os mais jovens. Essa adaptação falha com frequência, pois o ancião se vê privado de sua função e deve desempenhar uma nova, ágil demais para o seu passo lento. A sociedade perde com isso. Se a criança ainda não ocupou nela o seu lugar, é sempre uma força em expansão. O velho é alguém cheio de dons que se retrai de seu lugar social e este encolhimento é uma perda e um empobrecimento(BOSI, 2007, p.83)

Segundo Marcuschi (2001), na perspectiva sociointeracionista da linguagem

fala e escritaapresentam dialogicidade, usos estratégicos, funções interacionais,

envolvimento, negociação, situacionalidade, coerência e dinamicidade.

Os textos e atividades a seguir estão inseridos no contexto social da língua

e por meio dos diferentes gêneros os envolvidos serão sujeitos ativos e usuários

da linguagem para que se atinjam os objetivos propostos. As atividades elaboradas

darão suporte metodológico para que se possa fazer do momento verdadeira

aproximação de gerações a fim de explorar as práticas de leitura vivenciadas no

passar das décadas historicizando-as e confrontando-as.

O processo narrativo será adotado para que não se percam informações

preciosas e que por meio da escrita possam perpetuar-se como observa-se a

seguir:

Uma narrativa tem sempre em sua essência um fundo utilitário, podendo conter um ensinamento moral, provérbio, uma norma de vida, um conselho, para que as experiências não deixem de se perpetuar por meio dos narradores. O conselho tecido na substância viva da existência tem um nome: sabedoria. A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em extinção. ( BENJAMIM, p.200)

Os alunos serão narradores observadores, a fim de interarem-se no

processo mais organizado da língua, seguindo as linhas básicas de estrutura da

narrativa, na tentativa de elucidar os acontecimentos, respondendo às seguintes

perguntas essenciais: o que? os fatos que determinam a história; quem? a

personagem ou personagens envolvidas; como? o enredo , o modo como se tecem

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os fatos; onde? o lugar ou lugares das ocorrências; quando? os momentos em que

se passam os fatos (tempo cronológico).

Será também explorado o tempo psicológico, que não é material nem

mensurável, somente flui pela mente e transmite a sensação experimentada

durante o tempo em que o fato ocorreu. A produção textual possibilitará aos alunos

uma nova leitura, com novas percepções na retextualização.

Segundo Marcuschi ( 2001),toda vez que repetimos ou relatamos o que

alguém disse, até mesmo quando produzimos as supostas citações ipsis verbis,

estamos transformando,recriando e modificando uma fala em outra.

Farão parte das atividades materiais orais e escritos, certamente isso

despertará nos alunos a percepção das diversas formas de comunicação e a

adaptação lingüística a cada situação. Os enunciados articulando-se entre si

formarão a sequência narrativa, fazendo-se as inferências necessárias, surgindo

assim uma nova leitura. A oralidade será a base fornecedora de requisitos para a

produção, visto que não se pode criar fatos históricos do nada, é necessário dispor

de um bom referencial adquirido anteriormente. Nesse sentido, é relevante a

afirmação:

As frases ou os enunciados que lemos ou ouvimos chegam até nós como uma coisa pronta e acabada, mas é evidente que esses enunciados não surgiram do nada: eles foram produzidos por alguém. Dessa forma, qualquer enunciado, isto é, aquilo que foi dito ou escrito, pressupõe alguém que o tenha dito. Com base nesses dados, vamos deixar assentado que: a) aquilo que foi escrito ou dito por alguém chamaremos enunciado; b) o produtor do enunciado, responsável pela organização do texto, chamaremos narrador. (PLATÃO e FIORIN, 1991, p.137)

Os recursos narrativos discurso indireto, discurso direto e discurso indireto

livre serão utilizados na estrutura das narrativas. Pelo discurso indireto os alunos

irão narrar e apresentar as suas percepções construídas no decorrer dos diálogos

com os idosos.

O discurso direto será a voz dada às personagens, pois o diálogo escrito da

vida à narrativa cria condições para que o leitor entre em contato direto com as

personagens.

UNIDADE 02 – EXPLORANDO a ORALIDADE e a ESCRITA

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Refletir as questões abaixo para compreender a função da linguagem em nossa

vida:

Segundo Bakhtin,2003, p.261 “Todos os campos da atividade humana estão

intimamente ligados ao uso da linguagem por meio de enunciados orais e escritos

que são o uso efetivo da língua.”

a) Você concorda com a a firmação do estudioso russo porque:

( ) A escrita e a fala são formas de comunicação

( ) A escrita é mais importante que a fala

( ) A fala surgiu antes da escrita

( ) A fala e a escrita são usos diferentes e reais da língua.

b) Oralidade é:

( ) Uma forma de comunicação

( ) É representada por sons emitidos pela nossa voz

( ) O ser humano se apropria antes da oralidade e depois da escrita.

( ) A escrita surgiu depois da oralidade

c) Cite algumas práticas de oralidade que você pratica diariamente

d) Marque F para falso e V para verdadeiro

( ) A oralidade jamais desaparecerá e sempre será ao lado da escrita, o grande

meio de expressão e de atividade comunicativa. ( MARCUSCHI, 2005,p.36)

( ) A fala abre caminho para a escrita

( ) As palavras pronunciadas poderão tornar-se eternas por meio da escrita.

( ) É necessário preparar-se para escrever.

( ) A escrita é uma manifestação formal de letramento e geralmente é adquirida

na escola.

( ) Fala e escrita são atividades comunicativas e práticas sociais.

( )Todos os povos tem ou tiveram uma tradição oral, mas nem todos tiveram ou

tem uma tradição escrita.

( ) A oralidade tem uma primazia cronológica sobre a escrita, isto é, a oralidade é

mais antiga.

( )A oralidade é uma prática social inerente ao ser humano e jamais será

substituída por nenhuma outra tecnologia .

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( ) A fala é sonora e a escrita é visual.

( ) A escrita é a pura mudança da fala em representação gráfica e não tem

regras.

( ) A oralidade é uma prática interativa que pode apoximar as pessoas mesmo

que elas estejam distantes.

( ) A escrita não necessita ter um destinador e um destinatário no mesmo espaço.

RESPONDA

1. Primeiro você aprendeu a falar, depois a escrever. Quem ensinou você a

falar? Quantos anos você tinha quando esse fato ocorreu?

2. Pergunte para seus pais quais foram as primeiras palavras que você falou.

3. Onde e como você aprendeu a escrever?

4. Diariamente, qual prática comunicativa é mais utilizada pelas pessoas?

5. A seu ver o que veio primeiro: a fala ou a escrita?

6. O uso real da língua ocorre em qual dessas práticas?

7. Você gosta mais de falar ou escrever?

8. Em sua família há pessoas que gostam de contar histórias?

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9. Você valoriza mais a fala ou a escrita? Por quê?

Unidade 03 – História e Vida da Imigração Ucraniana – 120 anos de

Lutas e Conquistas

Vamos ler o texto a seguir para podermos refletir acerca das diferenças

existentes entre a fala e a escrita.

Os povos eslavos, principalmente ucranianos e poloneses, muito contribuíram para a

colonização da Região Centro- Sul do Paraná. Esses povos trouxeram consigo

muitas tradições e costumes: uma língua diferente, danças, bordados, festas,

celebrações e um jeito característico de preparar os alimentos. Cento e vinte anos

depois, os descendentes destes povos fazem parte da sociedade paranaense. É

necessário ressaltar que a língua e a cultura mantidas até hoje, em diversas formas

de leitura, são frutos da inabalável fé e da expressiva organização religiosa.

Apresentação do Diálogo Teatral: “Venceram pela Fé” escrito por Giovanna

Ivasko e apresentado por Gisele Krinski e Marina Sczymczak Dal Magro da cidade

de Mallet- Pr.

Personagens : BABA – Avó

MALENKA – Neta

MOIÁ MALENKA – Minha pequena

A história se passa na sala da casa da avó. A neta chega para visitar a

avó que está sentada bordando uma blusa para a netinha.

NETA: Baba, vim te ver....

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( Abraça a baba)

AVÓ: Que bom que você veio moiá malénka

NETA: O que a senhora está fazendo?

AVÓ: Estou bordando... estou bordando uma blusa pra você!! Uma blusa

ucraniana... sabe, quando eu tinha sua idade, minha baba também bordou uma para

mim. Puxa, que saudade tenho daqueles tempos.

NETA: Baba...a mamãe me disse que a senhora veio lá da Ucrânia... como era lá?

AVÓ: Moiá malénka... são tantas lembranças... lá era lindo... me lembro do nosso

pequeno sítio , da nossa casa...da pequena igreja que tinha ali por perto... ah meu

tempo de menina.... que saudades!!! Sabe... tenho boas lembranças de lá...mas não

era tudo tão maravilhoso assim... passamos por muitas dificuldades... muita

pobreza,,, trabalhávamos duro... mas malmente conseguíamos nos sustentar... a

situação estava cada vez mais crítica...

NETA: E como vocês vieram parar aqui no Brasil?

AVÓ: Humm... pois é malénka... passávamos por dificuldades mas amávamos

aquele lugar... lembro que um dia desses veio até nossa colônia um representante

do Brasil... convidando-nos para vir para cá... todo mundo ficou encantado com a

idéia,pois ele dizia que tudo seria diferente aqui, que teríamos bons empregos,

liberdade, terras férteis...nos dizia que os rios eram feitos de mel...as cercas das

casas eram feitas de lingüiça... uma terra encantada... nossa aquilo era tentador...

imagina... um lugar fantástico assim... claro que aceitaríamos... quem seria louco de

perder essa oportunidade... no Brasil poderíamos ficar ricos... e um dia voltaríamos

para a Ucrânia... trabalhar em nosso sítio, fazer dele uma grande fazenda... nossos

mais belos sonhos afloraram.

Tato e mama conversaram com a família toda... precisavam decidir se iriam

mesmo... abandonar tudo ali, não era tão fácil assim...tínhamos uma vida ali...

vivíamos uma história...

NETA: E vocês aceitaram, baba?

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BABA: Sim... juntamos nossas coisas... tudo que podíamos carregar... e estava

chegando a hora mais difícil... a hora da despedida... a gente amava aquele lugar ...

nosso pequeno sítio... nossa casinha... não estávamos deixando apenas nossos

bens materiais... deixávamos o mais importante de nossos tesouros... nossa amada

Ucrânia...

NETA: E como vocês vieram para cá?

AVÓ: Viemos de navio... Prometeram- nos ótimas acomodações... mas quando

chegamos ao porto nos informaram se pagássemos mais teríamos melhores

lugares... bem... nós não tínhamos quase nada... então viajamos no porão do navio,

como tantas outras famílias... no pior dos lugares... imagine um lugar escuro... e

com o tempo foi ficando pior ... mas nem mesmo isso nos tirou o sorriso do

rosto...pois carregávamos muita esperança em nossos corações... no início a

viagem foi tranqüila... animada... cantávamos kolomeikas... fazíamos jogos para

passar o tempo, dançávamos... e sonhávamos com a terra prometida... mas logo as

dificuldades começaram a aparecer... os enjoos... as tempestades assustadoras,

doenças... MORTES... quantas mães perderam seus filhos... quantos filhos

perderam seus pais... ninguém estava preparado para tanto sacrifício... e nós

também perdemos... perdemos o nosso pequeno Nekola ... meu irmão caçula...

como foi terrível... como foi terrível... ter que lançar ao mar seu pequeno corpo...

( A avó começa a chorar)

NETA: calma, baba... calma... me conte o resto da história.

AVÓ: Depois de meses de viagem... chegamos à terra prometida... ficamos quarenta

dias em uma ilha no Rio de Janeiro,chamada Ilha das Cobras para adaptação e para

evitar doenças... logo depois nos encaminharam para nossas terras... mas algumas

famílias escolheram trabalhar nas fazendas de café em São Paulo... Nós

escolhemos o Sul. Depois de alguns dias de viagem ainda... enfim chegamos ao

destino final.

NETA: Como é que era a cidade?

AVÓ: ÓH! Moiá malénka ... não havia cidade... quando chegamos aqui malmente

havia pequenas colônias de poloneses... mas o resto era tudo mata... foi aí que

bateu o desespero...chegamos a um lugar totalmente diferente do que nos

prometeram... nos prometeram terras férteis... belos sítios... cadê toda aquela

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fartura?? Pensamos ter desembarcado no lugar errado... mas era aqui mesmo...

teríamos que desbravar... derrubar a mata... começar a lavoura... mas não era algo

tão simples... nos deram um pouco de mantimentos e algumas ferramentas...

NETA: Mas baba... mas como conseguiram construir isso tudo?

AVÓ: Trouxemos em nossas bagagens algo muito valioso, não eram nossos

pertences... era a nossa fé... O povo ucraniano sempre foi um povo sofrido, sempre

fomos humilhados, perseguidos e oprimidos, mas Deus nunca nos abandonou, Ele

sempre acalentou nossos corações, para que não perdêssemos a esperança, pois

dias melhores viriam... e foi graças a essa fé que enfrentamos todos esses

obstáculos e conseguimos por em pé nossos sonhos. Logo que construímos as

nossas casas, começamos a construção de uma igreja... reunimos toda

comunidade, todos ajudaram, homens, mulheres, jovens, idosos e crianças... todos

ajudaram... como podiam! E conseguimos em 55 dias terminar a construção da

primeira igreja ucraniana em solo brasileiro, logo depois construímos salas de

catequese e escolas, não poderíamos abandonar nossa língua e tradições...

Trouxemos um pouco de nossa amada terra para cá..

NETA: Baba, como é que eram as escolas na sua época?

AVÓ: Então minha malénka, como te falei, depois que construíram a igreja, foram

construídas salas de catequese e salas de aula... bom... no começo a comunidade

não tinha dinheiro para pagar um professor, então o padre deu aulas para nós...nós

recebíamos os livros de estudo lá da Ucrânia, dos Estados Unidos e do Canadá... os

parentes e amigos nos mandavam, aqui não tinha onde comprar. E sabe, era tão

precioso o nosso estudo... a gente tinha poucos livros,cuidávamos deles como se

fossem a coisa mais valiosa deste mundo... e na verdade eram sim... a gente

aprendia a ler, a escrever... não existe nada mais maravilhoso que isto...

Também tinha a sala de leitura... onde ficavam os livros e jornais que recebíamos...

o povo se reunia depois da missa e emprestava os livros e jornais para ler em casa

durante a semana e assim no próximo domingo eles trocavam por outros... assim

todos podiam ler...

NETA: Baba e como a senhora conheceu o Dido?

BABA: Ah! Teu Dido era um rapaz muito bonito... o mais elegante da colônia... mas

naquela época não se namorava como hoje... A maioria dos casamentos eram

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arranjados pelos pais,ou quando o rapaz era mais corajoso ia até a casa da moça

escolhida e pedia a mão dela em casamento aos pais.Eu lembro de um caso

engraçado que aconteceu em minha colônia. Um certo rapaz decidiu que queria

casar, então disse ao seu pai que só voltava para casa se arranjasse uma noiva, ele

estava de olho numa moça da comunidade... linda por sinal... foi até a casa dela,

conversou com seus pais, estava tudo certo até aí... mas quando foi conversar com

ela... a moça fugiu... subiu na mais alta árvore... e disse que não sairia de lá de jeito

nenhum... e que não casaria com ele... O rapaz ficou muito decepcionado... foi até a

cãs de um amigo se aconselhar... foi quando ele viu a irmã do rapaz... acabou

pedindo ela em casamento... coisas do destino ( risos)

No meu caso, o acerto foi feito entre as famílias que numa tarde de domingo se

reuniram para nos apresentar, eu e seu avô. Lembro que coloquei minha melhor

roupa e fiz belas tranças no cabelo, deixaram-nos na sala para que pudéssemos

conversar... mas... deixaram minha baba no meio de nós dois...vê se pode uma

coisa dessas... como iríamos conversar se a babunha estava no meio de nós...mas

até que numa altura a baba dormiu...( risos) e ele pode finalmente pegar em minha

mão... aiaiaiaiai...nunca senti emoção maior... Então marcamos o casamento e logo

começamos os preparativos. Pense... uma semana de festa... os vizinhos ajudando,

fizemos lingüiça, babkas, perohê,

holuptchi, nossa quanta festa. Ah! E os korovais, ganhamos muitos... foi tudo tão

lindo!

Devagar nossa colônia crescia, não ficamos ricos como nos fora prometido... mas

estávamos muito felizes. Moiá malénka... terminei tua blusa, experimente.

( coloca a blusa na neta)

NETA: Que linda, baba... um dia a senhora me ensina a bordar? Vamos mostrar

para a mamãe.

AVÓ: Vamos sim...

Que bom ver que minha história e tradição encantaram você minha malénka...

Espero que em você cresça a semente de nosso povo... Pois enquanto tivermos

pessoas que se interessem pela nossa cultura, língua, costumes, artesanato a nossa

amada Ucrânia que um dia nossos pais deixaram para irem em busca de novos para

sempre viverá. Agradecemos a este país que nos acolheu, é aqui,que mesmo entre

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muitas dificuldades vimos nossos filhos nascerem e crescerem e ajudamos a fazer

deste país uma pátria próspera.

Atividade ExternaVisita Editora à dos Padres Basilianos em Prudentópolis – Pr. para conhecer a

história da Imprensa Ucraniana no Brasil. Desde 1911, sem interrupção, esta

editora é responsável pela edição do Jornal - “Prácia” Trabalho, atualmente editado

quinzenalmente e pela revista mensal “Micionar” - Missionário, ambos em Língua

Ucraniana com algumas matérias traduzidas para a Língua Portuguesa. Os

referidos periódicos são amplamente lidos pelos descendentes e simpatizantes no

Brasil e no exterior. Desde o início é material carregado de grande significado por

abordar notícias sociais e culturais da colônia brasileira, da Ucrânia e de outros

países onde há descendentes de ucranianos.

Para melhor entendimento da história de leitura destes povo vejamos um

recorte da história da Imigração Ucraniana no Brasil.

Em Busca de Uma Nova Pátria

Cinquenta anos após a independência, o Brasil era um país pouco povoado,

era necessário, portanto, preencher os vazios demográficos e um dos expedientes

para isso foi trazer europeus que colonizassem estas terras. Foram fundados na

Itália escritórios de emigração. Os agentes destes escritórios escreviam cartas nas

línguas dos países europeus, descrevendo o Brasil de forma idealizada, ou seja,

uma espécie de oitava maravilha do mundo. Era necessário motivar o maior número

possível de colonos, em especial os da Ucrânia e Polônia uma vez que a pobreza

lá era extrema devido a guerra e também havia poucas terras para a agricultura.

Nos países eslavos, tais agentes encontraram campo dos mais propícios para sua atuação, e a propaganda decaía em lamentáveis excessos que exploravam a credulidade do camponês. A partir de 1895, teve início uma verdadeira debandada de camponeses da Ucrânia para o Brasil, às custas do governo republicano. No decurso de dois anos, mais de cinco mil famílias abandonaram suas aldeias e, na grande maioria, fixaram-se no Paraná;entre 1897 e 1907, mais de mil emigraram às próprias custas. Com a renovação do transporte gratuito em 1907, novas grandes levas de

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emigrantes dirigiram-se ao Paraná. (Fundação Cultural de Curitiba, 1995, p.08)

Por serem agricultores pobres, com baixa escolaridade e muitos analfabetos,

eram alvo fácil de agentes desonestos. Muitos camponeses somente ficaram

sabendo que viriam ao Brasil no momento do desembarque em São Francisco do

Sul em Santa Catarina ( no momento do embarque sabiam que Francisco nos

Estados Unidos) e no Rio de Janeiro. Foram em porões de desconfortáveis navios,

na Ucrânia, na Polônia, na Alemanha, na na Rússia.

Não era possível carregar muita bagagem, trouxeram somente algumas

roupas, em especial as mais frescas, pois foi - lhes dito que para onde iriam não

fazia frio, algumas ferramentas, sementes, objetos sacros e livros. Famílias inteiras

enfrentaram inúmeras dificuldades até chegar à terra que os acolheria. Alguns não

conseguiram alcançar o novo destino. Acometidos de doenças durante a longa

viagem morriam e eram lançados ao mar. Mesmo enfrentando as inúmeras

dificuldades vinham em busca de vida melhor, com desejo de prosperar.

Ao se instalarem nas glebas de 250 mil metros quadrados recebidas do

governo em consignação, e que seriam pagas em dez anos, trataram de lutar pela

sobrevivência e construir a sua história.

O governo forneceu aos imigrantes algumas ferramentas, como: enxada,

machado, foice e cortadeira, fato que auxiliou os imigrantes a abrir estradas que

estão até hoje nessa região, marcando uma nova rota geográfica e cultural.

A primeira dificuldade, sem dúvida, foi a comunicação com os povos que aqui já

existiam. Certamente a identificação com o outro foi entrave face à pluralidade de

conceitos culturais do novo espaço. Todo povo tem uma identidade que resulta dos

traços manifestados por sua cultura e seu falar. Assim, era necessário quebrar o

isolamento cultural que poderia se instalar, e dar início à construção de uma nova

pátria plurilinguística e pluricultural.

Nessa situação, gestos, representações e sinais que indicassem os objetos

e identificassem os fatos eram as práticas geradoras de um discurso comunicativo.

Dentro desse cotidiano ocorreu o maior aprendizado linguístico, sem professores,

sem escola, sem teorias ou tendências, mas fruto da necessidade de

relacionamento e interação, tudo em busca da sobrevivência. Os diferentes gêneros

discursivos cotidianos breves, isto é, de saudação, despedida, felicitações, votos de

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toda espécie, informações, contribuiu para que aos poucos a língua de ambas as

partes se tornasse espaço de produção de sentidos e entendimento.Fisicamente

estavam no Brasil, mas estavam intimamente ligados cultural e religiosamente à

pátria - mãe. Não lhes era possível imaginarem-se em terra distante sem sua igreja

com suas celebrações e sem material impresso para leitura. Os imigrantes que

sabiam ler e escrever, em nome de todos escreviam cartas para as autoridades

eclesiásticas da Ucrânia, pedindo o envio de sacerdotes e religiosas para o

atendimento espiritual, educacional e cultural dentro do seu Rito na nova terra.

O pedido do povo foi atendido, e em 1897 vieram os primeiros sacerdotes do

Rito Bizantino Católico para dar assistência aos imigrantes. Em 1911, as primeiras

religiosas vieram ao Brasil; foram enviadas sete Irmãs Servas de Maria Imaculada.

Sua principal função era a escolarização dos filhos desses imigrantes. O ano de

2010 marcou o início da celebração de seu Centenário em terras brasileiras. Essas

religiosas possuem atualmente muitas escolas de Ensino Fundamental e Médio nos

Estados do Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A grande

religiosidade do povo se fortalecia nesse momento, pois já contavam com o

importante suporte para eles, dos padres e das religiosas.

Aos poucos foram chegando outros sacerdotes e religiosas, que eram

recebidos com muita alegria pelos imigrantes. A partir desse momento, alimentados

espiritualmente com sua liturgia e sacramentos, com muito sacrifício e trabalho

braçal coletivo, puxando pedras e pesadas madeiras, foram construindo igrejas que

são verdadeiras obras de arte em muitas comunidades da região Centro-Sul do

Paraná e Norte de Santa Catarina.

No decorrer dos anos, as condições econômicas foram melhorando. O novo

idioma aprendido possibilitava o diálogo, mesmo que precariamente, pois não

deixaram de lado sua língua materna. A troca de experiências já era possível, tanto

em questões agrícolas como lingüísticas e culturais uma vez que a agricultura era a

atividade principal naquele momento e a necessidade de comunicação neste campo

era inevitável.

E assim pequenos povoados, ao redor de uma igreja, centro da vida social,

cultural e religiosa, surgiam na nossa região. À medida que os filhos casavam,

residências com características arquitetônicas da pátria-mãe eram construídas ao

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redor da casa do pai, em substituição aos primeiros e precários barracos. Já

habituados aos costumes de vida locais, formavam-se novas famílias. Os filhos iam

nascendo, deste modo, entre berços de balanço com colchões de palha de milho,

com pés descalços, vestindo roupas costuradas à mão, casas iluminadas com

lampiões a querosene; a história de vida dos imigrantes eslavos foi sendo escrita e

cuidadosamente guardada no baú de suas lembranças. Com tranqüilidade pode-se

afirmar que até os dias atuais os descendentes de ucranianos e simpatizantes

aprendem a língua dos seus antepassados porque desejam perpetuá-la por meio

dos melodiosos cantos litúrgicos e populares e das celebrações dominicais e

sazonais. Assim, a leitura foi constituindo e fortalecendo o espírito eslavo/ucraniano

em terras brasileiras.

Leia com atenção esta informação!

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná, preocupada em resgatar

alguns idiomas e evidenciar outros, institucionalizou a preocupação e a iniciativa

dessas etnias criando em 15 de agosto de 1986, pela resolução Nº 3.546/86, o

CELEM, para oferecer aos alunos da rede e à comunidade interessada o ensino de

línguas estrangeiras. Vale lembrar que em Rio Azul o CELEM do Colégio Dr. A. de

Camargo – Ens. Fund. e Médio oferece o ensino da Língua Ucraniana há 14 anos

sob a responsabilidade desta pesquisadora. O curso tem duração de três anos, com

quatro aulas semanais e é certificado pela Secretaria de Estado da Educação.

Durante o curso ocorrem a alfabetização em língua ucraniana, aprendizado de

cantos religiosos e populares, oficinas de Pêssankas (ovos artisticamente

decorados) e de bordados. A escola, em conjunto com os alunos e professora, com

o apoio da comunidade ucraniana do município que dispõe de espaço físico e

trabalho de parceria, organiza festas pascais e natalinas e os alunos tem

oportunidade de aprender a confeccionar os pratos típicos que compõem o cardápio.

Acontecem também viagens a locais que representam a imigração ucraniana ao

Brasil.

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Vale ressaltar que em 2007 a Secretaria de Estado da Educação coordenou

a produção de Material Pedagógico para o ensino da Língua, que foi organizado por

um grupo de nove professores, inclusive por esta pesquisadora.

Naquela época,quando os imigrantes já estavam familiarizados na nova

pátria, era necessário pensar em uma escolarização mais elevada, e como não

havia escolas públicas os humildes imigrantes trataram de se organizar com material

humano, didático e espaço físico improvisados. Ao lado das Igrejas construíam

escolas, e os que sabiam ler e escrever ensinavam as crianças com os poucos livros

de que dispunham. Foram organizadas pelos imigrantes diversas bibliotecas na

região, como: Colônia 5 (Mallet), Nova Galícia (Porto União), Marco 5( General

Carneiro e em Vera Guarani (Paulo Frontin ) o Padre Metódio Koval dedicou-se de

corpo e alma para constituir uma biblioteca com milhares de volumes.Por dominar,

além da língua ucraniana a língua alemã, Padre Koval conseguiu muitos livros em

alemão. Nesses espaços iniciava-se a prática de leitura oral para toda a comunidade

por um líder. Após as celebrações, o povo reunia-se na escola/biblioteca e liam-se

cartas, livros e material impresso de cunho religioso e cultural vindos da Ucrânia e

de outros países como Canadá e Estados Unidos. A sede por informações

políticas,religiosas, culturais e notícias de familiares que ficaram na pátria-mãe e de

alguns que emigraram para os referidos países era grande. Tal realidade pode ser

confirmada pela leitura da carta do Sr. Teodoro Pototskei escrita em Rio Claro

(Mallet), em setembro de 1897, e enviada ao Jornal Svoboda de Nova York, nos

Estados Unidos. Este fato comprova a necessidade de leitura e o grau de cultura

dos imigrantes.

Pessoas graduadas também vieram da Ucrânia , por iniciativa própria com a

preocupação de editar material para leitura aqui no Brasil, fato que pode ser

comprovado pelo texto abaixo:

Em 1907, era publicado o Zoriá “Estrela”, o primeiro jornal publicado em Curitiba, bissemanal, com tiragem de 500 exemplares. Era de propriedade da Sociedade Prosvita, e o primeiro redator foi o médico ucraniano Stephan Petrysky. Infelizmente, três anos depois, não conseguindo superar sérias dificuldades, o periódico viu-se obrigado a encerrar suas atividades. Ainda em 1910, em Curitiba surge outro jornal bissemanal, o Prápor “Bandeira” de propriedade dos padres Basilianos. Em dezembro do mesmo ano, era o jornal transferido para Prudentópolis, onde continuou a ser publicado por algum tempo. A desativação do jornal deu lugar a duas publicações, editadas pelos Padres Basilianos, o Micionar “o Micionário”, periódico mensal de caráter religioso (desde 1911) e o jornal Pracia “Trabalho”,

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semanário de caráter político-social e orientação católica, fundado em 1912, cujo primeiro redator foi o professor ucraniano Osyp Martenetz, vindo da Galícia (Ucrânia Ocidental) para exercer essa função. Estas duas publicações são editadas regularmente até os nossos dias. Em 1924, surge em União da Vitória o semanário Chliborob “O Lavrador”, editado pela União Agrícola Instrutiva e redigido por Petró Karmansky. De orientação político-social e também veículo de informação dos lavradores, o periódico é transferido para Curitiba em 1934, sendo publicado até a presente data (Fundação Cultural de Curitiba, P. 23).

Os Sacerdotes Basilianos exerceram papel fundamental nas práticas de

leitura dos imigrantes, pois, com muito esforço, trouxeram para cá máquinas

tipográficas e a partir desse momento toda colônia teria material de leitura formativo

e informativo.

O Jornal “Prácia”, nessa época semanário, publicava notícias da

comunidade ucraniana do Brasil, era a única forma de comunicação entre as

comunidades por onde os sacerdotes passavam. Praticamente toda a colônia lia,

pois as pessoas tinham sede de informação. Além das notícias do Brasil, o “Prácia”

publicava notícias sócio-políticas da Ucrânia.

A Editora dos Padres de São Basílio Magno, em Prudentópolis – Paraná

desenvolve papel fundamental na manutenção da língua ucraniana no Brasil pelos

materiais impressos que até os dias atuais produz. O material utilizado para a

catequese em todas as comunidades é editado em língua ucraniana e portuguesa,

livros litúrgicos, folders diversos folhetos garantem à colônia o acesso à leitura em

língua ucraniana. Notícias religiosas, sociais e culturais do Brasil e do exterior têm

espaço garantido neste periódico que é editado quinzenalmente. Possui assinantes

no Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e em muitos países onde

há descendentes de ucranianos

A revista mensal Micionar ( Missionário), iniciada em 1911, é de caráter

religioso, sendo fundamentação de extrema importância para as pastorais, como

Cruzada Eucarística, Apostolado de Oração e Grupos de Jovens nas comunidades

ucranianas e é intensamente lida até os dias atuais, por conter textos e dinâmicas

que subsidiam as reuniões desses grupos.

Passaram-se de doze a quinze décadas das maiores correntes imigratórias

de eslavos. A interação entre os povos foi acontecendo e desenhando uma

trajetória, hoje admirada por muitos, pela garra, pela luta e pelo desejo de vencer

desse povo, material, espiritual e culturalmente.

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As práticas de leitura oral, que ainda são encontradas em algumas

comunidades eslavas no Sul do Paraná, hoje fazem parte de práticas acadêmicas

de leitura oral, mudando apenas a roupagem e a abordagem, como: monografias,

teses, artigos, e outros. Os trabalhos acadêmicos ocupam-se na atualidade desse

assunto. Pode-se afirmar que os temas, antes considerados familiares, fazem parte

de projetos de pesquisa.

Vamos ler a carta do Sr. Teodoro Potoskei, considerada pelos descendentes

um documento histórico nos dias atuais. Trata-se de um material de estudo de

vários projetos acadêmicos nas Universidades da região.

Rio Claro, setembro de 1897Rio Claro, setembro de 1897

Prezados irmãos ucranianos da América!Prezados irmãos ucranianos da América!

Escrevo para vocês com um grande entusiasmo. Alegro-me em poderEscrevo para vocês com um grande entusiasmo. Alegro-me em poder

receber e ler o vosso jornal (Svobodá). Ele é lido, não apenas por mim, mas porreceber e ler o vosso jornal (Svobodá). Ele é lido, não apenas por mim, mas por

todos os ucranianos que vivem em nossa Colônia. Temos aqui uma sala de leitura,todos os ucranianos que vivem em nossa Colônia. Temos aqui uma sala de leitura,

junto à residência que nós construímos para o nosso padre, Nikon Rozdolsky. Estajunto à residência que nós construímos para o nosso padre, Nikon Rozdolsky. Esta

casa e a sala de leitura, são bastante grandes, nela instalamos uma escola para ascasa e a sala de leitura, são bastante grandes, nela instalamos uma escola para as

nossas crianças. No início, aqui estudavam 40 crianças das famílias vizinhas. Para anossas crianças. No início, aqui estudavam 40 crianças das famílias vizinhas. Para a

sua construção, gastamos 1.000 réis, apenas mão-de-obra. Todo o material foisua construção, gastamos 1.000 réis, apenas mão-de-obra. Todo o material foi

doado pelas famílias. Devemos ainda construir a escola e pintar...doado pelas famílias. Devemos ainda construir a escola e pintar...

Nós nos reunimos para a leitura, após a Divina Liturgia dos domingos. AsNós nos reunimos para a leitura, após a Divina Liturgia dos domingos. As

crianças andam na escola todos os dias, na parte da manhã. Ainda não temos umcrianças andam na escola todos os dias, na parte da manhã. Ainda não temos um

professor, pois não temos dinheiro para pagá-lo. Porém, temos um sacerdote muitoprofessor, pois não temos dinheiro para pagá-lo. Porém, temos um sacerdote muito

bom, que está ensinando nossas crianças sem receber salário, pois ele entendebom, que está ensinando nossas crianças sem receber salário, pois ele entende

muito bem as nossas dificuldades. Já faz dois anos que nos encontramos nestamuito bem as nossas dificuldades. Já faz dois anos que nos encontramos nesta

colônia. Construímos já a nossa Igreja, a residência do sacerdote e a sala de leituracolônia. Construímos já a nossa Igreja, a residência do sacerdote e a sala de leitura

que funciona como escola...que funciona como escola...

O Padre Nikon ensina muito bem as nossas crianças, não apenas aO Padre Nikon ensina muito bem as nossas crianças, não apenas a

catequese, mas também noções de aritmética e a Língua Portuguesa . Nóscatequese, mas também noções de aritmética e a Língua Portuguesa . Nós

precisamos muito aprender esta língua, porém nunca devemos abandonar a nossaprecisamos muito aprender esta língua, porém nunca devemos abandonar a nossa

língua materna...língua materna...

Os brasileiros nos estimam muito, freqüentam inclusive a nossa igreja.Os brasileiros nos estimam muito, freqüentam inclusive a nossa igreja.

Precisamos saber nos comunicar com eles. Muitas vezes eles freqüentam nossasPrecisamos saber nos comunicar com eles. Muitas vezes eles freqüentam nossas

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casas, nos visitam. Eles apreciam o nosso modo de cultivar a terra. Querem noscasas, nos visitam. Eles apreciam o nosso modo de cultivar a terra. Querem nos

imitar. Aqueles que moram mais próximos de nós, já conseguem semear o centeio,imitar. Aqueles que moram mais próximos de nós, já conseguem semear o centeio,

cultivar as batatinhas. Alguns conseguem falar a Língua Ucraniana. No começo,cultivar as batatinhas. Alguns conseguem falar a Língua Ucraniana. No começo,

quando os brasileiros chegavam até nós, oferecíamos a eles um pedaço de pão.quando os brasileiros chegavam até nós, oferecíamos a eles um pedaço de pão.

Porém eles não aceitavam, porque não sabiam o que era. Hoje eles apreciam muitoPorém eles não aceitavam, porque não sabiam o que era. Hoje eles apreciam muito

o nosso pão. Por isso, eles admiram muito o nosso povo...o nosso pão. Por isso, eles admiram muito o nosso povo...

Fazemos um pedido a vocês e ficaríamos muito gratos se fôssemosFazemos um pedido a vocês e ficaríamos muito gratos se fôssemos

atendidos: precisamos semente de árvores frutíferas, porque ainda não temos aquiatendidos: precisamos semente de árvores frutíferas, porque ainda não temos aqui

em Rio Claro. Na cidade de Curitiba já existem pomares com vários tipos de árvoresem Rio Claro. Na cidade de Curitiba já existem pomares com vários tipos de árvores

frutíferas de origem européia. Aqui em Rio Claro temos apenas frutas cítricas:frutíferas de origem européia. Aqui em Rio Claro temos apenas frutas cítricas:

laranjas, limões e alguns tipos de ameixas brasileiras. Já plantei a uva, mas aindalaranjas, limões e alguns tipos de ameixas brasileiras. Já plantei a uva, mas ainda

não está produzindo. Nem todos ucranianos possuem um parreiral ou outros tiposnão está produzindo. Nem todos ucranianos possuem um parreiral ou outros tipos

de frutas. Muitos dos ucranianos procuram imitar os poloneses que já se encontramde frutas. Muitos dos ucranianos procuram imitar os poloneses que já se encontram

no Brasil há oito anos. Muitos plantam a mandioca e dela fazem a farinha. Estano Brasil há oito anos. Muitos plantam a mandioca e dela fazem a farinha. Esta

farinha pode ser misturada no pão ou comer com carne. Aqui existem plantações defarinha pode ser misturada no pão ou comer com carne. Aqui existem plantações de

banana – uma fruta com casca dura. Quando nós a descascamos, encontramosbanana – uma fruta com casca dura. Quando nós a descascamos, encontramos

uma fruta muito deliciosa, parecida com a manteiga. É muito bom comer o pão comuma fruta muito deliciosa, parecida com a manteiga. É muito bom comer o pão com

banana. Existem ainda outras árvores frutíferas. A guabiroba produz um fruto muitobanana. Existem ainda outras árvores frutíferas. A guabiroba produz um fruto muito

doce. Existe também a cereja, uma fruta vermelha muito boa. A variedade dedoce. Existe também a cereja, uma fruta vermelha muito boa. A variedade de

árvores na floresta é muito grande, ainda não sei identificar todas. Algumas euárvores na floresta é muito grande, ainda não sei identificar todas. Algumas eu

conheço pelo nome: pinheiro, imbuia, cedro, canelas, palmeiras, guabiroba, cereja.conheço pelo nome: pinheiro, imbuia, cedro, canelas, palmeiras, guabiroba, cereja.

Para a construção de casas as melhores madeiras são produzidas pela imbuia, peloPara a construção de casas as melhores madeiras são produzidas pela imbuia, pelo

pinheiro e pelo cedro. O clima aqui é muito saudável, a água também é muito boa.pinheiro e pelo cedro. O clima aqui é muito saudável, a água também é muito boa.

Quase todos nossos colonos possuem criações de abelhas. A produção de mel éQuase todos nossos colonos possuem criações de abelhas. A produção de mel é

muito boa, mas ninguém quer comprar porque cada um tem sua própria produção...muito boa, mas ninguém quer comprar porque cada um tem sua própria produção...

Hoje escrevemos de nossa sala de leituraHoje escrevemos de nossa sala de leitura, recebemos o correio no 1º de, recebemos o correio no 1º de

novembro de 1896. Junto com o sacerdote fomos até a cidade de Rio Claro, ondenovembro de 1896. Junto com o sacerdote fomos até a cidade de Rio Claro, onde

funciona o correio. O carteiro, um representante do governo local, é uma pessoafunciona o correio. O carteiro, um representante do governo local, é uma pessoa

muito rica. Nós o convencemos a entregar as correspondências para nósmuito rica. Nós o convencemos a entregar as correspondências para nós

endereçadas, aqui na Colônia 5, em nossa sala de leitura. Toda a Colônia podeendereçadas, aqui na Colônia 5, em nossa sala de leitura. Toda a Colônia pode

retirar as suas correspondências aqui em nossa sala de leitura.Nós contratamosretirar as suas correspondências aqui em nossa sala de leitura.Nós contratamos

uma pessoa que duas vezes por mês, deverá ir até Rio Claro para trazer estauma pessoa que duas vezes por mês, deverá ir até Rio Claro para trazer esta

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correspondência. Durante os últimos dois meses nós não recebemos nenhumacorrespondência. Durante os últimos dois meses nós não recebemos nenhuma

correspondência, perdeu-se em algum lugar. Tudo aquilo que vocês nos enviaram,correspondência, perdeu-se em algum lugar. Tudo aquilo que vocês nos enviaram,

nós recebemos. Somos muito gratos, todos os membros de nossa sala de leituranós recebemos. Somos muito gratos, todos os membros de nossa sala de leitura

agradecem. De um modo especial agradecemos o jornal “Svoboda”, que nos traz asagradecem. De um modo especial agradecemos o jornal “Svoboda”, que nos traz as

notícias de nossa terra natal, bem como, dos ucranianos que se encontram nosnotícias de nossa terra natal, bem como, dos ucranianos que se encontram nos

EUA. “Svoboda” é a primeira andorinha ucraniana, que voou entre nós aqui naEUA. “Svoboda” é a primeira andorinha ucraniana, que voou entre nós aqui na

floresta, quando aqui chegamos e ainda amargamente chorávamos e sentíamos afloresta, quando aqui chegamos e ainda amargamente chorávamos e sentíamos a

saudade da nossa terra natal, da qual nunca nos esquecemos, embora aqui vamossaudade da nossa terra natal, da qual nunca nos esquecemos, embora aqui vamos

viver e morrer. Muito suor e lágrimas derramamos nesta terra para podermosviver e morrer. Muito suor e lágrimas derramamos nesta terra para podermos

construir a nossa propriedade. Passamos por uma dura escola.construir a nossa propriedade. Passamos por uma dura escola.

Muito obrigado pelos livros. Os membros da nossa comunidade agradecemMuito obrigado pelos livros. Os membros da nossa comunidade agradecem

os calendários, principalmente pelo calendário do ano de 1898. Agradecemos àos calendários, principalmente pelo calendário do ano de 1898. Agradecemos à

organização Prosvita, pelos livros e jornais. Não se esqueçam de nós. Nós tambémorganização Prosvita, pelos livros e jornais. Não se esqueçam de nós. Nós também

não nos esquecemos da pátria-mãe e sempre nos lembramos que somos filhos danão nos esquecemos da pátria-mãe e sempre nos lembramos que somos filhos da

Ucrânia. Por ele vivemos.Ucrânia. Por ele vivemos.

Pediria que os livros e o jornal fossem enviados em nome do padre NikonPediria que os livros e o jornal fossem enviados em nome do padre Nikon

Rozdolsky ou Teodoro Potoskei, na Colônia 5, Rio Claro. Aqui todos nos reunimos,Rozdolsky ou Teodoro Potoskei, na Colônia 5, Rio Claro. Aqui todos nos reunimos,

aos domingos após a Divina Liturgia, para a leitura em nossa sala. Distribuímosaos domingos após a Divina Liturgia, para a leitura em nossa sala. Distribuímos

livros e jornais para que as pessoas possam ler durante a semana. No domingo,livros e jornais para que as pessoas possam ler durante a semana. No domingo,

eles nos devolvem. Assim, a nossa sala de leitura está sempre cheia de pessoas.eles nos devolvem. Assim, a nossa sala de leitura está sempre cheia de pessoas.

Pediria que nos mandassem mais livros para a escola, para o primeiro ePediria que nos mandassem mais livros para a escola, para o primeiro e

segundo ano. Podem ser livros usados, pois aqui nós não temos aonde conseguir.segundo ano. Podem ser livros usados, pois aqui nós não temos aonde conseguir.

Pediríamos que nos enviassem, mais tarde, se Deus quiser, poderemos retribuir...Pediríamos que nos enviassem, mais tarde, se Deus quiser, poderemos retribuir...

Svoboda nos pediu que escrevêssemos o que acontece conosco aqui. EuSvoboda nos pediu que escrevêssemos o que acontece conosco aqui. Eu

escrevi a verdade. Mais tarde escreverei novamente. Agora tenho um pouco mais deescrevi a verdade. Mais tarde escreverei novamente. Agora tenho um pouco mais de

tempo livre, por isso vou escrever regularmente para vocês. tempo livre, por isso vou escrever regularmente para vocês.

RELEIA A CARTA E RESPONDA:

a) Qual era a sensação dos imigrantes ao receberem e lerem o Jornal Svobodá

( Liberdade) ?

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b) Quem se interessava pela escolarização dos filhos?

c) Onde era feita a leitura?

d) Quando era feita a leitura? Este fato chama a sua atenção?

e) A palavra escrita para os imigrantes gerava que sentimentos?

f) Para se comunicarem, os imigrantes conheciam muitas palavras da Língua

Portuguesa?

g) No contexto da aprendizagem da língua portuguesa o silêncio e os gestos

também comunicavam?

h) Se fosse hoje, livros e jornais seriam pedidos?

i) Muito suor e lágrimas derramamos nesta terra para podermos construir a

nossa propriedade. Passamos por uma dura escola. Qual é o significado da

palavra “escola” nesta afirmação?

j) O trecho: Aqui todos nos reunimos, aos domingos após a Divina Liturgia

( denominação da Missa no Rito Ucraniano), para a leitura em nossa sala.

Distribuímos livros e jornais para que as pessoas possam ler durante a

semana. No domingo eles nos devolvem. Assim, a nossa sala de leitura está

sempre cheia de pessoas.

Que sensação esta prática desperta em você?Que sensação esta prática desperta em você?

Hoje isto seria possível ?Hoje isto seria possível ?

Numa manhã de domingo você iria a uma bibliotecaNuma manhã de domingo você iria a uma biblioteca

pedir livros emprestados ?pedir livros emprestados ?

Por meio da carta do Sr. Teodoro, você pode perceber que foram

extremamente difíceis os primeiros anos dos imigrantes eslavos/ucranianos no

Brasil, porém eles jamais desanimaram. Como percebe-se logo esses imigrantes

trataram em aprender a língua local, sem esquecer a sua língua materna. Estar em

contato com jornais e livros era a forma dos eslavos estarem conectados com o país

que haviam deixado e de irem alfabetizando seus filhos na língua deles.

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Agora responda as questões abaixo:

1. Você gosta de ler?

2. O que você mais lê?

3. Qual é seu horário preferido para ler?

4. Como você adquire o material para leitura?

5. O que mais lhe interessa ler?

6. Hoje, como é possível ler?

7. Que livros ou histórias lhe trazem boas lembranças?

8. Se você fosse embora do Brasil e pudesse levar somente uma mala, o que

levaria nela?

9. Você sabe o que os imigrantes que colonizaram a região Centro- Sul do

Paraná trouxeram em suas malas?

10.Já imaginou a vida sem livros?

11.Como seria a vida se fosse proibido ler?

12.Cite os três últimos livros que você leu.

13.De todos textos, histórias ou livros que você leu qual mais lhe agradou?

14.O que é um bom livro?

15.O que é ser um bom leitor?

16.Qual é a principal função de um livro, revista ou jornal?

Conheça alguns costumes enraizados na vida dos descendentes de

ucranianos e amplamente apreciados pela sociedade em geral.

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PÊSSANKAS

Ovos artisticamente decorados de forma característica, carregados de simbologias e

cores atualmente amplamente conhecidos, admirados e seu aprendizado pode

realizar – se nas aulas de Língua Ucraniana no CELEM.

Figura 1 - Aula de Língua Ucraniana no Col. Dr. A. de Camargo – Rio Azul

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Figura 2 - Aula prática de confecção de Pêssankas

Figura -3 Exposição de Pêssankas confeccionadas pelos alunos do CELEM

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Figura – 4 Exposição de Pêssankas

VARÉNEKE

Espécie de raviólis feitos com massa sem fermento, recheados com

requeijão, batata,repolho, queijo que são cozidos e servidos com molho ou nata. Se

preparados com uma massa parecida com a massa do pão podem ser fritos ou

assados e são chamados PEROHÊ.

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Figura – 5 Varéke

Figura – 6 Perohê

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Figura – 7 Perohê frito

Figura – 8 Perohê assado

HOLUBTCHI

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Enrolados feitos com folhas de repolho, recheados com quirera de milho ,

arroz ,tatarca ( trigo mourisco) temperados com carne moída ou linguiça e outros

cozidos no vapor com o molho de preferência.

Figura – 9 confecção de Holuptchi

Figura – 10 Holuptchi prontos para o cozimento

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BÓRSTCH

Sopa feita de repolho, beterraba, carne suína com temperos específicos e

servida como entrada.Obrigatoriamente faz parte da Ceia da Véspera de Natal “

Sviat Vétchir” ( Noite Santa) Para esta ocasião deve ser preparada sem carne a

qual pode ser substituída por cogumelos.

Figura – 11 Sopeira com BorstchPÁSKA

Pão salgado redondo preparado de forma solene, decorado com tranças, flores e

folhas confeccionadas de massa e que faz parte da Cesta Pascal.

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Figura – 12 Paska em crescimento

Figura – 13 Paska assada

BÁBKA

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Pão doce redondo preparado da mesma forma que a Paska, porém recheado com

frutas cristalizadas, goiabada, chocolate, cerejas e outros. Também faz parte da

Cesta Pascal.

Figura – 14 Babka assada

SVIATCHÉNERefeição Típica com alimentos que fazem parte da Cesta Pascal servida em

mesa solenemente decorada para ser abençoada com orações específicas para

cada alimento.

Figura – 15 Mesa com Babkas

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Figura – 16 mesa preparada para bênção

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Figura – 17 mesa preparada para bênção

VELEKODNEI KÓCHEK Cesta Pascal na qual colocam-se os alimentos de forma solene que são

levados à Igreja para serem abençoados no Sábado de Aleluia ( véspera da Páscoa)

e que serão degustados no desjejum do Domingo da Ressurreição. Alimentos que

fazem parte da Kóchek são os seguintes: Paska, Babka, Ser ( queijo, requeijão),

Kovbassá ( lingüiça colonial e outros derivados da carne), Máslo ( manteiga), Ovos

cozidos, Chênka ( pernil assado), Khrin ( raiz forte), Pêssankas ( ovos pintados cujo

objetivo é decorar a cesta ) e sal.

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Figura – 18 cesta prepoarada para bênção

SVIAT VÉTCHIRCeia na véspera do Natal da qual fazem parte 12 pratos preparados sem

carne:

Bórstch, Varéneke, Perohê, Holubtchi, Rêba( peixe), Uzvar ( frutas cozidas),

Kutiá ( trigo sem casca cozido e temperado com diversas especiarias), Pão, Hrebê

( cogumelos), Mlentsi ( espécie de panquecas), Pampuchkê ( bolinhos fritos) e

Kalatch ( Pão doce decorado em forma de trança).

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Figura – 19 Sviat Vétchir – Jantar de Natal organizado pelo CELEM

Figura –20 KALATCHI – Pães doces, preparados por ocasião do Natal e Casamento

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Figura – 21 Didukh e Baba – Decoração Típica Ucraniana por ocasião do Natal

Vamos refletir acerca do texto – Em Busca de Uma Nova Pátria

1. Você conhece alguma história a respeito de alguém que foi enganado?

2. Você teria coragem sair de seu país sem saber muito bem para onde iria?

3. Imaginemos o terror que a guerra instala no coração das pessoas.Vc conseguia descrever esse terror?

4. A vida do ser humano é impossível sem comunicação e a fala é a forma mais antiga de comunicação. Levando em conta essa afirmação responda:

a) Como podem comunicar-se pessoas que falam línguas diferentes?

b) Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas pelos imigrantes?

c) Você acredita ser possível aprender a ler utilizando-se de livros sacros ?

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No ano de 2011 comemoram-se os 120 anos da vinda dos Primeiros

Imigrantes Ucranianos ao Brasil. O dia 24 de agosto foi instituído por Decreto

Presidencial pelo Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva o Dia da

Comunidade Ucraniana no Brasil. Muitas comemorações estão acontecendo nas

diversas comunidades onde há uma Comunidade Ucraniana. Os Correios estão

lançando o Selo Comemorativo, uma homenagem a este povo que muito contribuiu

na formação social e étnica, ajudando a fazer do Brasil uma pátria de muitas línguas

e culturas

PARA RECORDARPARA RECORDAR

*O padre foi o grande incentivador de leitura e alfabetizador de muitos.

*O leitor sempre era um líder da comunidade.

Constituía-se assim a leitura partilhada com leitores populares como percebe-se em:Tratava-se acima de tudo de caracterizar as diferentes populações de leitores e leitoras a partir da presença desigual do livro no interior dos diversos grupos sociais de uma cidade ou região... É evidente que os leitores populares acham-se possuidores de livros que não lhes são especificamente destinados. ( CAVALLO, 1999, p.117 )

*A língua e a cultura mantidas até hoje, em diversas formas de leitura, são

frutos da inabalável fé e da expressiva organização religiosa. No triplica contexto:

igreja, língua, cultura, os imigrantes foram enraizando a identidade eslava/ucraniana

no Brasil.

Hoje, a Colônia Ucraniana no Brasil conta com mais de 230 Igrejas, com

características peculiares do Rito Oriental Bizantino, que são as cúpulas redondas,

localizadas nas cidades e comunidades rurais do Paraná, Santa Catarina e São

Paulo e é inconteste afirmar que em todas elas há pastorais organizadas que se

preocupam com a preservação da língua, no mínimo em suas celebrações. Sem

dúvida a igreja é responsável também pelas práticas de leitura, oferecendo material

de cunho religioso e cultural. Isto pode ser comprovado por quem circula pelas

estradas dessas regiões.

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Conheça algumas destas igrejas:

As Imagens estão no anexo deste material: Fotos das Igrejas Ucranianas no Brasil

Para melhor conhecer a história deste povo acesse:

www.rcub.com.br/rcub/cultura/igrejas

Unidade 04 – A Importância da Palavra em Nossa Vida

[...] Toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige a alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro.[...] A palavra é território comum do locutor e do interlocutor (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999,p.113)

Vamos ler o trecho do texto “ As Palavras” para fazermos uma reflexão:

AS PALAVRAS

Fragmento de “As palavras,” de José Saramago ( Deste mundo e do outro –

1986 ).

As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As

palavras pedem desculpas. As palavras queimam. As palavras acariciam. As

palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão

ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam... As palavras aconselham,

sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas ou

azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os

cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e

inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o

que fazem. Há muitas palavras.

E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em e

equilíbrio instável graças à uma precária sintaxe, até o prego final do disse ou

tenho dito. Com discursos se comemora, se inaugura, se abrem e fecham sessões,

se lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas de veludo. São brindes,

orações, palestras e conferências. Pelos discursos se transmitem louvores,

agradecimentos, programas e fantasias. E depois as palavras dos discursos

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aparecem deitadas em papéis, são pintadas de tinta de impressão – e por essa via

entram na imortalidade do verbo.

As palavras deixam de comunicar. Cada palavra é dita para que não se ouça

outra palavra. A palavra mesmo quando não afirma, afirma-se. A palavra não

responde nem pergunta: amassa. A palavra é a erva fresca e verde que cobre os

dentes do pântano. A palavra é poeira nos olhos e olhos furados. A palavra não

mostra. A palavra disfarça. Daí que seja urgente moldar as palavras para que a

sementeira se mude em Seara. Daí que as palavras sejam instrumento de morte –

ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o silêncio do ato. Há

também o silêncio.

O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, examina,

observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo.O silêncio é a terra negra e fértil, o

húmus do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas

as palavras. As palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo da pão.

SARAMAGO José, Deste Mundo e do Outro, 2ª edição, Editorial Caminho, Lisboa

1986

PARA REFLETIR?

Marque V para verdadeiro e F para falso

a) O ser humano é a única criatura que fala e sabemos que por meio das

palavras comunica-se

( ) As palavras sempre nos aproximam

( ) A ausência de palavras pode nos aproximar também

( ) Muitas palavras podem nos separar.

b) As palavras são boas:

( ) Quando ofendem

( ) Quando perdoam

( ) Quando são vendidas e inventadas.

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c) E há os discursos , que são palavras encostadas umas às outras, você

entende que:

( ) Pelo discurso podemos expressar os bons sentimentos

( ) O discurso pode ferir e curar

( ) Somente muitas palavras comunicam.

d) “Com discursos se comemora, se transmitem louvores, agradecimentos.

As palavras são brindes, orações, palestras e conferências. E depois as

palavras dos discursos aparecem deitadas em papéis, são pintadas de

tinta de impressão – e por essa via entram na imortalidade do verbo.”

Refletindo a respeito do que nos apresenta o trecho assinale as

afirmações:

( ) Os textos escritos tornam as palavras imortais.

( ) Palavra deitada significa que elas estão descansando

( ) Palavras escritas imortalizam a história por meio do verbo

e) Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve.

( ) O silêncio também é uma forma de comunicação

( ) O silêncio pode ser mais importante que as palavras

( ) O silêncio pode invalidar muitas palavras.

f) Sobre o silêncio caem todas as palavras , as boas e as más. O trigo e o

joio. Mas só o trigo da pão. Assim, considera-se que:

( ) É permitido falar tudo, em todos lugares e ocasiões

( ) É necessário fazer escolhas e saber fazê-las

( ) O pão é comparado ao resultado que as boas palavras geram.

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

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1. Nome completo

2. Local de nascimento

3. Data de nascimento

4. Nome do seu pai

5. Onde ele nasceu?

6. Nome da sua mãe

7. Onde ela nasceu?

8. Nome dos avós paternos:

9. Avô

10.Avó

11.Onde eles nasceram?

12.Nome dos avós maternos:

13.Avô

14.Avó

15.Onde eles nasceram?

16.O senhor(a) conheceu seus avós ou bisavós? Quais?

17.O que sabe acerca deles?

18.Sabe se eles sabiam ler e escrever?

19.Que livros liam?

20.Sabe se eles freqüentaram uma escola?

21.Que ensinamento importante seus avós ou bisavós passaram para a sua

vida?

22.Você tem conhecimento por que seus avós /bisavós saíram de seu país e

vieram para o Brasil?

23.Na sua opinião quais foram as maiores dificuldades vividas pelos imigrantes

em terras brasileiras quando aqui chegaram?

24.Tem conhecimento como seus pais aprenderam a ler?

25.Eles estudaram na escola?

26.Em que língua foram alfabetizados?

27.Tem conhecimento de como era a escola da época de seus pais?

28.Quais eram as brincadeiras que fizeram parte da infância de seus pais?

29.Eles gostavam de ler e que livros eles dispunham?

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30.Que tipo de material de leitura era possível adquirir naquela época?

31.Até que série ou durante quantos anos eles estudaram?

32.Como o senhor (a) aprendeu a ler?

33.Quem lhe ensinou a ler?

34.Qual foi a primeira língua aprendida pelo Sr (a)?

35.Qual era o material escolar disponível na sua idade escolar?

36.Como era feita a leitura na escola?

37.Fora da escola onde e quando se lia?

38.Lembra quando ganhou seu primeiro livro?

39.Qual era o nome do livro e como ele era?

40.De que assunto tratava?

41.Na sua infância era fácil adquirir livros?

42.Quando e como era praticada a leitura na casa de seus pais?

43.Quais os livros que eram lidos durante sua infância e juventude?

44.Comente algum fato de sua infância ou juventude que possa incentivar as

crianças de hoje para que se interessem mais pela leitura.

45.Percebe alguma diferença entre a época escolar de sua infância e da infância

da atualidade?

46.O que o senhor (a) gosta ler atualmente?

47.Quais são as maiores diferenças entre a sua infância e a infância da

atualidade?

48.Deixe uma mensagem aos alunos de hoje.

Unidade 05 – Texto Narrativo – Elementos Composicionais do Gênero

Da Fala à Escrita

Com as informações em mãos é hora de eternizarmos as ricas histórias por meio da

escrita transformando-as em Textos Narrativos.

NARRAÇÃO

O que é o ato de escrever segundo um escritor?

O ato de escrever é prazer, diversão . É a sensação de poder, de domínio. Criar gente, fabricar fantasia, inventar cidades, dar vida e dar morte, criar um terremoto, um furacão, fazer o que eu quiser. Escrever é um jogo, brincadeira.conseguir segurar, prender uma pessoa, mantê-la atrelada a si ( é o leitor diante do livro: sua sensação divina).( BRANDÃO apud MASSANRADUBA E CHINELLATO )

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O que é narrar?

Narrar é contar uma história ( real ou fictícia) posicionando os personagens

e fatos numa dimensão de e espaço.

São exemplos de Narrativas a novela, o romance, o conto, uma notícia de

jornal, uma piada, um poema, uma letra de música, uma entrevista com perguntas e

respostas pode ser transformada em narrativa. O nosso trabalho será exatamente

este, explorar e aproveitar as respostas obtidas para que nos possibilitem fazer

articulações pela linguagem escrita.

Quais são os elementos básicos da narração?

A narrativa deve tentar elucidar os acontecimentos, respondendo as

seguintes perguntas essenciais:

O QUE? O fato (s) que determina(m) a história;

QUEM? O personagem ou personagens;

COMO? O enredo, o modo como se tecem os fatos;

ONDE? O lugar ou lugares de ocorrência;

QUANDO? O momento ou momentos em que se passam os fatos;

POR QUE? A causa do acontecimento.

Neste momento será apresentado o texto de Manuel Bandeira “ Tragédia

Brasileira “ para que se observem aplicados no texto os elementos acima.

Enredo na Narrativa

O enredo ou trama corresponde à maneira como a história se desenrola,

aos arranjos narrativos que cercam os personagens, e as situações que os

envolvem. Essa articulação pode revelar o núcleo temático da matéria narrada, seja

ela real ou ficcional; assim falamos em enredo temáticas podem ser conflitos

passionais, casos de mistério ou terror,dramas sociais, experiências existenciais,

ficção científica,etc. Esse desenrolar das ações chamado enredo deve conter as

etapas narrativas: EXPOSIÇÃO, DESENVOLVIMENTO ( complicação – ponto de

tensão – e clímax- ponto de maior tensão e DESFECHO.

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O texto narrativo resulta de duas articulações: a história ( sequência dos

fatos) e o enredo ( organização dos fatos). Dessa forma, o enredo é a maneira como

o narrador organiza os dados que a história oferece.

• Leitura do Texto Domingo no Parque de Gilberto Gil para que se observe a

aplicabilidade da articulação.

O TEMPO NA NARRAÇÃO:

a) Tempo Cronológico : é tempo que se desenrola a ação. Indica-se

conforme o caso, dia, mês, hora, minuto, segundo década,século,etc. Não

é preciso mencioná-los sempre, mas deve-se dar a entender ao leitos a

que tempo se refere.

b) Tempo Psicológico: o tempo psicológico,flui na mente dos personagens.

Nesse caso transmite-se a sensação experimentada durante o tempo em

que o fato ocorreu. O tempo psicológico é produto de uma experiência

interior. É carregado de emoções.

O FOCO NARRATIVO:

É a posição do narrador com relação ao acontecimento ou fato. Assim o narrador

pode assumir três pontos de vista na narrativa:

• Narrador participante – é um dos personagens de sua história. Ele está

dentro da história e vê os acontecimentos de dentro para fora.

• Narrador observador – simplesmente relata os fatos , registrando as ações e

falas dos personagens; ele conta como espectador, uma história vivida por

terceiros. É a narrativa escrita em 3ª pessoa ( ele, ela,eles, elas)

• Narrador onisciente – é uma espécie de testemunha invisível de tudo quanto

ocorre. Ele não só se preocupa em dizer o que os personagens falam ou

fazem, mas também traduz o que pensam e o que sentem. Portanto ele tenta

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passar para o leitor as emoções, os pensamentos e os sentimentos dos

personagens.

DISCURSO NARRATIVO:

O narrador pode reproduzir a fala dos personagens aplicando as seguintes

possibilidades:

• Discurso Direto – No discurso direto indica-se o interlocutor e caracteriza-se

sua fala por meio de verbos dicendi: dizer, exclamar, suspirar, explicar,

perguntar, responder, replicar, etc. Nem sempre o autor precisa indicar as

falas, elas se esclarecem no contexto.

• Discurso Indireto – O narrador exprime indiretamente a fala dos personagens.

Funciona como testemunha auditiva e passa para o leitor o que ouviu dos

personagens. Nessa transcrição o verbo aparece na 3ª pessoa, sendo

imprescindível a presença dos verbos dicendi: dizer, responder, retrucar,

replicar perguntar, pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar,

indicar, declarar, afirmar, mandar.

• Discurso Indireto Livre - É uma mistura dos discursos direto e

indireto,processo de grande efeito estilístico na narrativa. É uma espécie de

monólogo interior dos personagens, mas expresso pelo narrador. Este

interrompe a narrativa para registrar e inserir reflexões ou pensamentos dos

personagens. O foco narrativo deve ser de 3ª pessoa. As orações do discurso

indireto livre, são independentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que

marque a passagem de fala do narrador para a fala do personagem. Ex.

Enfim, apanhar do governo não é desfeita, e Fabiano até sentia orgulho ao

recordar-se da aventura. Mas aquilo... Soltou uns grunhidos. Por que motivo o

governo aproveitava gente assim? Só se ele tinha receio de empregar tipos

direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele,

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Fabiano, seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos

trabalhadores e dar pancadas neles? Não iria. ( Graciliano Ramos )

Texto base disponível em: http://www.mundovestibular.com.br

Para melhor nos prepararmos para a escrita de nossas histórias observemos

alguns elementos importantes nos trechos das narrativas abaixo:

Trecho da Narrativa de Mário Prata retirado do Livro Linguagem e

Interação, FARACO, Carlos Emílio,1. Ed.,São Paulo :Ática,2009

“Chapeuzinho Vermelho de Raiva”

- Senta aqui mais perto,Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica.

- Mas, vovó , que olho vermelho....E grandão...

- Ah minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás está

queimada.

- Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas

a senhora está com o nariz tão grande , mas tão grande.

- Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é

um deus nos acuda. Fico todo dia respirando este ar horrível. Chegue mais perto,

minha netinha, chegue.

- Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até

aqui e agora com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com

a minha moto.

- Pois é, minha filha. E o que tem aí nessa cesta enorme?

− Já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí;

margarina, maionese Hellman’s , Danone de frutas e até uns pacotinhos de sopa

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Knorr, mas é para a senhora comer só um por dia. Lembra da indigestão do

Carnaval?

Linguagem Oral

1. Este texto parece uma conversa?

2.Os personagens estão expressando seus sentimentos no texto?

3. O narrador participa da história como personagem?

4. O narrador comenta algo a respeito dos personagens?

5.Que sinal se repete no decorrer do texto?

6. Você sabe o que significa este sinal?

7. Destaque os trechos do texto que representam o diálogo entre os personagens e

que são considerados atos de enunciação.

Trecho da narrativa de Marina Colasanti retirado do Livro Linguagem e Interação,

FARACO, Carlos Emílio,1 ed. São Paulo :Ática,2009

Durante algum tempo dormiu todas as noites até de manhã sem

sobressaltos.

Mas, numa madrugada quente em que os edredons de pluma pareciam

pesar sobre seu corpo, acordando todo suado viu que o quarto real estava invadido

por dezenas de beija-flores e que um enxame de abelhas se agrupava na cabeceira.

Depressa cobriu a cabeça com o lençol e debaixo daquela espécie de mortalha

atravessou as horas que ainda o separavam do dia. Só ao perceber o primeiro

espreguiçar-se da rainha, emergiu de dentro da cama, contando-lhe da bicharada.

Linguagem oral

1. Você percebeu alguma diferença entre a estrutura do texto acima e do anterior?

2. Em que momento pode-se perceber a fala dos personagens?

3. Os personagens e suas ações são descritos pelo narrador?

4. Destaque neste texto os trechos que representam a fala dos personagens.

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Leia a continuação do conto da autora citada acima:

- É que dormindo ao seu lado, meu caro esposo, cada vez mais doces e mais

floridos se fazem meus sonhos – explicou ela sorrindo com ternura.

E ele, desvanecido com tanto amor, pousou-lhe um beijo na testa.

Muitos meses se foram tranqüilos...

- Perplexo, saiu para o terraço, fechou rapidamente as portas envidraçadas e

encolhido num canto esperou que a manhã lhe permitisse interpelar a rainha.

- É a montanada da minha imaginação – escusou-se ela – Leva meus sonhos lá

onde eu não tenha acesso. Galopa a noite inteira sem que eu lhe tenha controle.

Galoparam a noite toda. Mas antes que o sol nascesse , quando a escuridão apenas

começava a derreter-se no horizonte, os cascos pousaram no mármore. E a cabeça

real deitou-se no travesseiro.

- Sonhei que vossa majestade fugia com a montanada da minha imaginação – disse

a rainha ao esposo, de manhã. – Mas estou contente de vê-lo agora aqui do meu

lado – acrescentou numa reverência.

O rei, porém, mal conseguia esperar pelo fim do dia. Tão rica e vasta havia sido a

viagem, que só desejava montar novamente aquele dorso e, azul no ar azul,

descobrir novos rumos.

Linguagem oral

1. Os enunciados que compõem este texto refletem somente a fala dos

personagens?

2. Em que momento se manifesta a voz do narrador?

3. Considerando que a voz dada aos personagens movimenta o texto, atribui vida e

aproxima o leitor, sublinhe os trechos que este fato ocorre.

4. Como percebe-se no trecho há interlocução,isto é, diálogo. Que relação pode-se

observar entre os personagens?

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5. Que diferenças há entre as estruturas dos trechos acima no que refere-se à

apresentação dos personagens ?

AVALIAÇÃO

A avaliação é um processo contínuo e diagnóstico, ou seja, todas

atividades servirão para observar o envolvimento dos alunos em todas fases do

projeto e todas essas atividades terão como fito um único destino: a produção de

narrativas retratando a história de vida e das práticas de leitura dos idosos

descendentes de eslavos. Em seguida todos os textos serão elencados para

posterior encadernação e devolução à comunidade escolar disponibilizando-os na

biblioteca e à sociedade em geral que venha se interessar por eles. Certamente o

trabalho marcará o início da construção, do resgate e da escrita de parte da história

dos povos que tanto fizeram para o desenvolvimento de nossa região, estado e país.

REFERÊNCIAS:

AMADO, J. e FERREIRA M.. Usos e abusos da História Oral. 8. Ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas , 2006.

BAKHTIN, M.. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BENJAMIN, W.. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.

BOSI, E. Memória e Sociedade – Lembranças de Velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1994.

BURKE, P.. A escrita da história. São Paulo: Unesp, 1991.

CAVALLO, G. e CHARTIER, R. História da Leitura no Mundo Ocidental. São Paulo: Ática, 1998, volumes 01 e 02

CHAUÍ, M. Cultura e Democracia- o discurso competente e outras falas. São Paulo: CORTEZ Editora, 2007

CUNHA, C. e CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: editora Lexicon, 2008.

FARACO, C. E. Linguagem e Interação. 1. Ed. São Paulo: Ática, 2009

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FIORIN, J. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.

FUNADAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Boletim Informativo da Casa Romário Martins – Volume 22 – Nº 108 Ctba. 1995.

KOZLINSKI, D. e MURAN, S. Boletim do Centenário da Paróquia Sagrado Coração De Jesus – Mallet –Pr S/D

LAROCCA, J. J. LAROCCA, P. L., LIMA, A.C. Casa Eslavo- Paranaense: Arquitetura de madeira dos colonos poloneses e ucranianos do Sul do Paraná. 1.ed. Ponta Grossa – Pr. 2008

MARCUSCHI, L .A. Da fala para a escrita. São Paulo: Cortez, 2001.

MASSARANDUBA, E. CHINELLATO M.T. NARRAÇÃO - TEORIAS E TEXTOS, Disponível em www.mundovestibular.com.br/articles/4202/1/NARRACAO---TEORIAS-E-TEXTOS/Paacutegina1.html acesso em 28/07/2011.

OSATCHUK, E. Figuras da tradição Ucraniana. 2006 a 2010. Rio Azul. Ed. Própria

PARANÁ: Diretrizes Curriculares Estaduais. Curitiba, 2008.

SAVIOLI PLATÃO, F.. Para Entender o Texto. São Paulo: Ática, 1991

ZILBERMAN, R. e SILVA, E. T. LEITURA: Perspectivas Interdisciplinares. São Paulo: Ática, 2005.

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