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Saúde Coletivacadernos

N E S C • U F R J

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Catalogação na fonte – Biblioteca do CCS / UFRJ

C a d e r n o s S a ú d e C o l e t i v a / U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o R i o d e J a n e i r o ,

N ú c l e o d e E s t u d o s d e S a ú d e C o l e t i v a , v . X I V , n . 3 ( J u l . s e t 2 0 0 6 ) .

R i o d e J a n e i r o : U F R J / N E S C , 1 9 8 7 - .

T r i m e s t r a l

I S S N 1 4 1 4 - 4 6 2 X

1 . S a ú d e P ú b l i c a - P e r i ó d i c o s . I I . N ú c l e o d e E s t u d o s d e S a ú d e C o l e t i v a / U F R J .

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ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E COMUNIDADE

Physical activity, health and community

Yara M. Carvalho1, Fabiana Fernandes de Freitas2

RESUMO

Este trabalho tem o propósito de discutir o cuidado com o corpo que se orientapelos princípios do acolhimento, da integralidade e da interdisciplinaridade e, emparticular, a relação entre atividade física e saúde, a partir de um projeto de EducaçãoFísica para a comunidade implementado no Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa– USP. O objetivo foi propor uma experiência que enfatizasse a dimensão docoletivo, do público e do social, ou seja, que provocasse e garantisse o envolvimentodas pessoas na implementação e no desenvolvimento das práticas corporais, emencontros semanais. Participaram dele mulheres e homens de diferentes faixas etárias,portadores e não-portadores de doenças como diabetes, hipertensão arterial edepressão, com e sem experiência de práticas corporais orientadas. Os sujeitos dapesquisa foram definidos por demanda espontânea com base em duas referências: oencaminhamento do médico, por ocasião do atendimento, e a divulgação dasatividades nas salas de espera do serviço. Os procedimentos metodológicos qualitativosforam determinados a partir da obra de Minayo (1993) e os instrumentos de pesquisautilizados foram o questionário individual semi-estruturado e a observação participante.Destaca-se o alto número de participantes que não tinham realizado atividade físicacom acompanhamento; a carência de informação e conhecimento relativo ao conteúdoda educação física; o serviço público de saúde como espaço importante de atuaçãopara o profissional específico; e a necessidade de incluir no serviço de saúde saberese práticas relativos ao ser humano em movimento voltados para a população carentee para os que se dedicam ao seu cuidado, os profissionais do campo da saúde.Entretanto, o cuidado pressupõe um ato pedagógico, para além do tempo e espaçodo encontro das atividades. Nesse sentido, não é suficiente “passar” informação, nocaso, sobre atividade física e saúde, mas possibilitar, ao longo do processo deconstrução de um programa ou projeto que intervém sobre o corpo, a produção deuma experiência sintonizada com os interesses, necessidades e, sobretudo, com osvalores da comunidade.

PALAVRAS-CHAVE

Educação Física, atividade física, saúde, comunidade, serviço de saúde

1 Pós-doutorado em “Ciências Humanas e Saúde” – IMS/UERJ. Professora da Universidade de SãoPaulo – e-mail: [email protected]

2 Mestre em Educação Física – EEFE-USP.

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ABSTRACT

The objective of this paper is to discuss the care with the body as guided by theprinciples of carefulness, integrality and interdisciplinarity, and, in particular, therelationship between physical activity and health, from a project of Physical Educationfor the community undertaken by the Centro de Saúde Escola Samuel Pessoa –USP. The goal of the project was to propose an experience that emphasized collective,public and social dimensions, that is, that provoked and guaranteed people’sinvolvement in the implementation and in the development of body practices, inweekly meetings. Took part in the project women and men of different ages, havingor not diseases such as diabetes, hypertension and depression and with or withoutexperience in oriented bodily practices. The study participants were recruited byspontaneous demand upon physician’s prescription or advertisement of the activitiesin the waiting room of the health service. The methodological procedures used werequalitative and oriented by the work of Minayo (1993) and the research instrumentsemployed were an individual semi-structured questionnaire and participant observation.From the results we highlight the high number of participants that had not experiencedguided physical activity; the lack of information and knowledge concerning thecontents of physical education; the health public service as an important locus forthe intervention; and the need for inclusion in the health public service the knowledgeand practices regarding the moving human being guided to the underprivilegedpopulation and for those dedicated to their care, the health professionals. However,care means a pedagogical act beyond the time and space of the activities meeting.In this sense, it is not enough to “transmit” information, in this case about physicalactivity and health, but to allow, all along the process of construction of a programor project that acts upon the body, the production of an experience connected to theinterests, needs and values of the community.

KEY WORDS

Physical education, physical activity, health, community, health services

1. INTRODUÇÃO

Ao elegermos a questão relativa aos cuidados com o corpo, o recorteatividade física e saúde merece destaque, haja vista a preocupação dos organismosinternacionais – Organização Mundial da Saúde, Organização Panamericana deSaúde – e nacionais – governos, sociedade civil – com as doenças associadas aosedentarismo, assim como o modo pelo qual a comunidade compreende e incorporao cuidado, no âmbito da Saúde Coletiva e da Educação Física. Se partirmos doprincípio de que a atividade física tem um papel importante para a promoção dasaúde, nos parece fundamental estudarmos como este tipo de atividade pode seraplicado de modo eficaz junto à população compondo com o cuidado em saúde.Nossa hipótese é a de que, para que a atividade física signifique saúde para aqueleque a pratica, é preciso ir além dos dados físicos e biológicos e considerar tambéma dimensão afetiva e subjetiva dos grupos na relação com esse tipo de cuidado.De pouco adianta as pessoas em geral saberem que a atividade física favorece a

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saúde se a sociedade não se preocupa em favorecer a prática e não garantecondições para uma atividade física orientada, adequada e responsável. Sistemati-zamos para este fim uma proposta de intervenção que foi desenvolvida noCentro de Saúde Escola Samuel Pessoa (CSE), unidade vinculada à Universidadede São Paulo (USP), durante um ano, de modo que se privilegiasse os aspectoscoletivo, público e social, no sentido de promover o envolvimento e a co-responsabilidade do grupo no projeto, o espaço público como um espaço aser ocupado e privilegiado com intuito de ressaltar os diferentes elementos docotidiano que determinam as práticas sociais.

O que pretendemos enfatizar neste trabalho é a compreensão relativa àatividade física e saúde que prevalece no meio acadêmico e na comunidade –atividade física como fazer exercício e que, por si só, produz saúde, independentede outros fatores (socioeconômicos, geográficos etc.) – o contraponto que sepode propor a partir da experiência com comunidades carentes de informação,conhecimento e orientação.

Nesse sentido, apresentaremos, inicialmente, uma revisão de literatura com acontribuição de autores que se vêm dedicando aos temas “cuidado com o corpo”e “atividade física e saúde”. Em seguida, apresentaremos questões de naturezaconceitual, tendências das práticas de consumo, bem como das condições desaúde da sociedade brasileira. E, num terceiro momento, detalharemos osprocedimentos metodológicos, método (de trabalho e de pesquisa) e os resultadosda intervenção realizada no CSE com um grupo de pessoas adultas, denominada“Práticas Corporais e Comunidade”. Por fim, buscaremos articular o que vemprevalecendo no cotidiano no que se refere à produção de conhecimento relativaà atividade física e saúde e o que pôde ser observado na experiência, no que dizrespeito aos cuidados com o corpo.

2. CUIDADOS COM O CORPO

O estudo das questões que envolvem o cuidado1 com o corpo muitas vezesencontra barreiras em virtude de preconceitos e constrangimentos relativos aopretenso caráter “supérfluo” dessa preocupação (Boltanski, 1989; Porter, 1992),

1 Sugerimos a leitura dos textos de José Ricardo C. Ayres para aprofundamento do tema“cuidado”, especialmente o artigo ‘Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde’, publicadona Ciência & Saúde Coletiva. v. 6, n. 1, 2001. O que importa destacar aqui é que de modogeral, o profissional da saúde e o da educação física, em particular, não são identificadoscomo cuidadores. Desse fato decorre que as práticas profissionais do campo específico,ainda que das ciências da saúde, não incorporam saberes e práticas compreendidas comocuidado pelas pessoas e comunidade. O cuidado, para as pessoas e grupos, ainda estáassociado ao espaço doméstico, privado, à dimensão da intimidade.

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diante da miséria que vive grande parte da população do planeta. Entretanto,partir do pressuposto de que há outros problemas mais importantes do que osrelativos ao cuidado com o corpo é fundamentar-se em uma visão linear, gradativae cumulativa no que se refere às relações e aos diversos setores que compõem asociedade, tanto na dimensão econômica quanto na social. É acreditar que épossível priorizar, por exemplo, educação em detrimento da saúde, ou vice-versa.

As mudanças tecnológicas, a Saúde Pública e a política de mercado delegamao indivíduo a responsabilidade do cuidado com o corpo. Sugerem as maisvariadas estratégias de combate à sua deterioração. A indústria cultural e a dabeleza, especialmente, exercem papel fundamental nesse processo, uma vez quetransmitem a destruição de determinados valores relacionados ao corpo e, aomesmo tempo, fornecem os novos (da cultura de consumo), que irão substituir ostradicionais (Carvalho, 2001).

Com relação a esses novos valores, mesmo a parcela da sociedade destituídade poder aquisitivo incorpora também tal estilo de vida consumista, por meio deconsumo das imagens “em si” (Featherstone, 1991)2. Isso acontece de váriasformas, por exemplo na relação entre telespectador e programas televisivos(novelas, seriados) e entre leitor e revistas como Cláudia, Saúde, Nova, Boa Forma,vendidas em bancas de jornais. As pessoas projetam se na personagem, no modelo.Projetam necessidades e desejos.

No que se refere ao corpo, uma senhora, assalariada, obesa e baixa diantedos padrões de corpo estabelecidos socialmente ao não ter acesso a clube ouacademia de ginástica, por falta de condições econômicas, ou geográficas, ou detempo, ou ainda de vontade, acaba também incorporando esse modelo de corpoe tudo o que ele exige para se apresentar “em forma”: cosméticos, equipamentosde ginástica, “remédios”, por meio das imagens – impressas e televisivas –, ou daindústria cultural. A pessoa não tem condições de acesso a um profissional capacitadopara a tarefa de orientá la no cuidado com o corpo3 e acaba “resolvendo” essacarência por meio de subterfúgios veiculados pelos meios de comunicaçãode massa, como os produtos de beleza, que muitas vezes prometem milagres(emagrecer com pouco esforço, acabar com a celulite) que nunca se realizam.Podem ser exemplos os produtos mais acessíveis no mercado, como o creme e ogel. Na maioria das vezes são estratégias de atenção ao corpo que acabam nãointerferindo na causa do problema, mas apenas remediando a solução. E, quase

2 M. Featherstone, além de autor de vários trabalhos, é também editor da coleção “Sociologiado Corpo” da Editora Sage, de Londres.3 É importante ressaltar que o acesso ao serviço não pressupõe qualidade, ou seja, há quempaga personal, academia, clínica e não é orientado de modo adequado, responsável.

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sempre, os resultados do uso de produtos e equipamentos oferecidos pelo merca-do não condizem com as promessas.

Vivemos uma época “neurotizada” pela idéia de uma suposta necessidade deatenção ao corpo __ o corpo externo __ associada à beleza estética como únicocaminho para o sucesso, para a felicidade e para o dinheiro. Estética é consideradasinônimo de boa forma que, por sua vez, tornou se sinônimo de saúde. E o consumode atividade física, de determinados alimentos, de vitaminas, de equipamentos,de material cada vez mais sofisticado faz eco à lógica da sociedade de consumo.

Assim, nessa discussão não se pode perder de vista a necessidade de considerar,por exemplo, o dia-a-dia do trabalho, do desemprego, da correria, da dificuldadede locomoção, do que é viver na cidade, condições que muitas vezes inviabilizam aatenção que as pessoas dedicam ao corpo.

Com base no pressuposto de que “[o] homem contemporâneo perdeu a harmonia entre

ele e o ambiente onde vive, e superar essa desarmonia é uma tarefa árdua...” (Calvino, 1994: p. 141),há que se compreender de que modo as pessoas superam ou não essa dissonânciaindivíduo/ambiente. A expressão os cuidados com o corpo é compreendida comoreferência por meio da qual as relações sociais são construídas e ganham sentidona vida cotidiana. Assim, em uma cidade como São Paulo, lugar de multiplicidade,diversidade, integração e exclusão, há elementos mais do que suficientes paradiscutir este tema. Trata se de uma metrópole industrial, espaço de trabalho,lazer, obrigações, correrias e prazeres de milhares de pessoas, nas mais variadascondições de vida. Empregadas domésticas, assalariados, desempregados, carre-gadores, empresários, universitários e profissionais liberais, dentre outros, estãoexpostos aos formadores de opinião (TV, jornais, esteticistas, médicos, políticos,artistas, professores) que têm o corpo como tema de interesse e intervenção.

Como escreveu Vigarello (1978, p. 9): “o corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto

marca a criança, ele é o primeiro espaço onde se impõem os limites sociais e psicológicos que foram dados a

sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem inscrever seus signos como também seus brasões”. É nessesentido que se entende o elo entre relações sociais __ instituição familiar, instituiçãoescolar, instituição acadêmica, amigos, trabalho e valores do corpo com determinadopadrão de beleza estabelecido socialmente que podem gerar conseqüências irreversíveis.É cada vez mais freqüente nos depararmos com reportagens e manchetes alertandopara a anorexia, deformações estéticas ocasionadas por produtos de beleza, paraos remédios que promovem o emagrecimento rápido e sem necessidade de dietas.

De fato, como afirma Foucault (1986, p. 80):

“[o] controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela consciência ou

pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico, no somático, no corporal

que antes de tudo investiu a sociedade capitalista. O corpo é uma realidade biopolítica”.

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Hoje a sociedade, e de modo notável a brasileira, exibe um padrão de corpoque é o magro, esbelto, o que significa para adultos e adolescentes, profissionaisda moda, TV, ou não, dispostos a alcançar ou se aproximar desse padrão debeleza, submeterem-se a regimes cruéis, a ponto de comprometer a vida emnome dessa conquista estética, em nome da sua inserção em determinadogrupo social. Os estudos sobre “racionalidades médicas e atividades corporais”4,desenvolvidos por Luz (2005), confirmam essa tendência no que se refere àspráticas, representações e valores culturais na sociedade contemporânea.

Os pesquisadores das áreas Educação Física e Saúde Coletiva têm dedicadopouca atenção ao tema do corpo analisado do ponto de vista da crítica social queele contém e da realidade social que o contém5. O cuidado com o corpo fala denós mesmos, do nosso modo de viver e dos nossos conflitos. Assim, pode revelar,na dimensão do gesto, do vestuário, da palavra, do estético, da expressão e domovimento, o quanto somos tolhidos e mutilados no dia-a-dia. Por essa razão éque interessa refletir sobre o motivo pelo qual as pessoas interpretam as própriasatitudes e reflexões relativas ao próprio corpo e também ao alheio.

3. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE

A expressão “atividade física” é definida, com poucas variações, comoqualquer movimento corporal que resulta em substancial aumento do gastoenergético acima dos níveis de repouso (Bouchard, 1994; Manifesto, 2003;Shephard, 1995). Entretanto, quando falamos aqui em atividade física, estamosnos referindo a uma prática corporal que privilegia o movimentar-se como formade manifestação, de expressão, por meio do corpo, de interesses, necessidadese desejos de homens e mulheres. Trata-se, portanto, de uma definição quetranscende a dimensão física na interpretação, compreensão e intervenção nocorpo6, pois há valores, sentidos e significados para cada uma das ações.

Hoje proliferam, na mídia impressa e televisiva, as mais diversas sugestõesrelativas às práticas corporais, mas há uma tendência “nova” que se torna cadavez mais presente, que diz respeito às práticas que se disseminam na sociedadecivil e não necessariamente nas instituições médicas ou nas academias. São práticasde saúde porque são ações coletivas voltadas para o “modo de andar a vida”, quedeterminam a melhora das condições de existência das pessoas, não demandam

4 Estes estudos estão apresentados no livro Novos saberes e práticas em saúde coletiva: estudo sobre

racionalidades médicas e atividades corporais, de Madel T. Luz, Hucitec, 2005, 2. ed. rev.5 Uma exceção se encontra no livro O “mito” da atividade física e saúde, de Yara M. Carvalho,Hucitec, 2001, 3. ed.6 Os estudos a respeito do corpo na área da Educação Física, de modo geral, priorizam oolhar biológico/fisiológico.

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intervenção externa (medicamentos, exames, consultas) e possibilitam transformaçõesrelativas a valores, sentidos e significados. E cabe ressaltar que são opções distintasdas propostas de saúde alternativas “individualizantes” das classes média e alta. Assaídas que as classes populares encontram “para a fazer a vida melhor” sãodesencadeadas a partir das suas condições de vida.

Seguindo a mesma lógica para o âmbito da saúde, encontrou-se uma contradiçãorelativa a esse setor no Brasil: há nítida queda da qualidade de vida nas classespopulares, mas a tal realidade se contrapõem as tecnologias que contribuem paraque menos crianças morram antes de completar um ano e que mais pessoasultrapassem a idade de 65 anos. E porque as condições de higiene e alimentaçãosão mínimas, os problemas de saúde oneram ainda mais os recursos disponíveispara a saúde pública. No Brasil, o quadro é agravado por causa dos baixos saláriose das precárias condições de trabalho oferecidas aos profissionais de saúde,ocasionando o abandono do serviço público, no caso do setor saúde.

Assim,

“[a] pobreza e [a] miséria a que as classes populares estavam sujeitas antes do aparecimento

do processo de mundialização vêm se agravando depois do reajuste. O intenso incentivo a

consumir faz com que se busque uma saída: ou pelo consumo simbólico, seja pela

televisão e vídeo, seja pelos jogos ou drogas, seja pelas práticas e ritos mágico-religiosos...”

(Valla, 2000, p. 48).

Acrescentaríamos, à discussão de Valla, as alternativas às práticas corporaisque pessoas e comunidades encontram, uma vez que essas práticas podempromover e viabilizar a construção de determinados valores e princípios comosolidariedade, fraternidade, vínculo e co-responsabilidade que não são caracte-rísticas marcantes das opções disseminadas pelos veículos de comunicação demassa; portanto, uma noção ampliada da saúde, que diz respeito à vida, emcontraponto à visão biomédica, que privilegia a doença, e à medicina, que tratado adoecimento e sofrimento. Isso não significa negar a doença, mas considerarque a saúde como:

“... questão humana e existencial é uma problemática compartilhada indistintamente por

todos os segmentos sociais. Porém, as condições de vida e de trabalho qualificam de forma

diferenciada a maneira pela qual as classes e seus segmentos pensam, sentem e agem a

respeito dela” (Minayo, 1993, p. 15).

As práticas corporais e a atividade física, em particular, podem serdesencadeadoras de necessidades, interesses e desejos relativos à melhoria das

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condições de vida, no plano individual e coletivo. As leituras até aqui e aexperiência com a comunidade, descrita a seguir, nos dão elementos paraconfirmar a importância da ação do profissional específico.

4. O TRABALHO COM A COMUNIDADE

Diante de uma proposta diferenciada de pensar a relação atividade física esaúde, vamos tentar responder à seguinte questão: como intervir, com base emnovos saberes e práticas em saúde, no atendimento à comunidade?

Desde já afirmamos que não há modelo a seguir. Essa proposta é apenas umapossibilidade. Parte-se do princípio de que os caminhos e as experiências têm vidaprópria e por isso estão determinados pelas pessoas que os constroem. Assim,cada grupo é um grupo que vai construir percursos os mais diversos. O “êxito” deuma experiência está determinado, portanto, pela disponibilidade de criar erecriar com base no que se acredita ser o melhor.

4.1 A EXPERIÊNCIA NO CENTRO DE SAÚDE ESCOLA SAMUEL PESSOA (CSE):O PROJETO “PRÁTICAS CORPORAIS E COMUNIDADE”

Há um grupo de pessoas, vizinhas da USP, que são atendidas no Centro SaúdeEscola da Universidade. O centro é um posto de atendimento que oferece àpopulação de sua área de abrangência atividades programáticas dirigidas paragrupos e problemas mais relevantes e pronto-atendimento às condições de urgênciaou emergência, procurando articular esta modalidade de atendimento à organizaçãoprogramática. Ademais, este centro também é uma unidade de ensino, pesquisa eextensão, vinculado à Faculdade de Medicina da USP, particularmente aos depar-tamentos de Medicina Preventiva, Pediatria e Fonoaudiologia. Recebe demanda dequinze mil pessoas, moradoras dos distritos mais próximos (Butantã e Rio Pequeno).As informações do serviço de estatística do Centro de Saúde mostram que a áreade abrangência é heterogênea, compreendendo alguns bairros com alto poderaquisitivo, contracenando com vários núcleos de favela, como São Remo e SãoDomingos. A população predominante pode ser caracterizada como de classe média;no entanto, os grupos mais desfavorecidos estão mais representados na clientela aten-dida. O Centro Saúde Escola da USP atende pessoas de todas as faixas etárias, desdeque sejam moradoras da região; fica ao lado do Instituto Butantã e é um posto desaúde “modelo”. Em seu serviço atuam médicos, residentes, enfermeiros, psicólogos,uma pedagoga e, desde 2000, alunos da Escola de Educação Física da USP.

A idéia de levar os alunos ao encontro da comunidade nasceu na disciplina“Educação Física na Idade Adulta”, no ano de 1999, disciplina denominada de“síntese” na grade curricular, para alunos matriculados no quarto ano da graduaçãoem Educação Física.

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Seu programa foi dividido em duas fases: na primeira, os alunos ficaramresponsáveis por organizar/planejar um programa de Educação Física dirigido aadultos e, num segundo momento, pô-lo em prática. Foi preciso buscar parceriase espaço para intervenção; ocorreu então a idéia de contatar a coordenadora doprojeto Avizinhar. Trata-se de iniciativa conjunta de vários departamentos daUSP de São Paulo com intuito de aproximar a universidade da comunidadevizinha do campus, de modo que eles também usufruam do espaço da universidadepara sua formação. As iniciativas são variadas: curso de informática, escolinha deesportes, entre outras.

Foi por meio desse projeto que conhecemos o Centro de Saúde Escola SamuelPessoa. Inicialmente expusemos a necessidade que tínhamos de desenvolver umtrabalho com aproximadamente quarenta alunos fora da universidade e de queforma poderíamos dar nossa contribuição. Depois de alguns encontros ficoucombinado que os alunos iriam desenvolver um programa durante cinco semanas,às quartas-feiras.

Eles organizaram cinco aulas: uma aula/palestra tratando de vários tópicos(noções básicas de saúde, alimentação e atividade física); uma aula sobre postura;outra sobre ginástica; outra de dança e a última de caráter recreativo. Aulas deaproximadamente uma hora e meia, uma vez por semana, portanto durante cincosemanas. Íamos todos para o Centro de Saúde e dávamos as aulas, previamentepreparadas pelos alunos organizados em cinco grupos.

Esse trabalho foi realizado no primeiro semestre. Depois de terminadas asaulas, o diretor do Centro Saúde Escola nos chamou para dar continuidade aoprojeto. No segundo semestre um grupo de quatro alunos que haviam participadoda experiência iria dar continuidade à nossa parceria. Eles compuseram doisgrupos de estudo, pesquisa e intervenção no centro: o primeiro diz respeito aoautocuidado no processo de envelhecimento e o segundo trata das dores lombares.Cada dois alunos ficaram com um grupo e cada grupo era formado por profissionaisde origens diferentes.

O trabalho foi interrompido por causa da falta de recursos, técnicos efinanceiros, que possibilitassem a manutenção dos alunos no desenvolvimento dasatividades. No entanto, a demanda no serviço de casos nos quais o atendimentodo educador físico era pertinente continuou a existir, assim como a necessidadede pensarmos no Centro de Saúde como espaço de intervenção do profissionalespecífico e de aproximação com a comunidade, que ainda precisa ser estruturado,fizeram com que retornássemos ao serviço.

Voltamos ao Centro de Saúde, agora desenvolvendo, além da intervenção e davivência para alunos da graduação, atividades de pesquisa. Em um primeiromomento, privilegiamos o estudo do serviço, identificando a comunidade atendida.

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O atendimento teve algumas modificações: passou a ser contínuo, e não mais umprograma de cinco semanas. As aulas continuaram incluindo temas como postura,cuidados com as práticas de atividade física, entre outros, mas agora as discussõesaconteceram na primeira parte da aula e, depois, desenvolvemos atividadesvariadas como caminhada, alongamento, recreação e relaxamento. Os temas dasaulas também passaram a ser dirigidos pelas pessoas participantes, uma vez que oprograma tornara-se contínuo, possibilitando-lhes espaço maior e estímulo paramesclar o que a comunidade sabia, do que gostava, o que queria e/ou de queprecisava e com o que o educador físico pôde oferecer de sua formação eexperiência profissional; dessa forma, o programa foi construído coletivamente, eos sujeitos envolvidos tiveram papel mais ativo, que não se resumiu a fazer umaatividade física ou simplesmente receber informações.

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 O PROJETO

A atividade física é uma prática não-médica que pode ser proposta na área dasaúde visando a melhora da vida. Nessa direção, o método de trabalho do projeto,que aqui descrevemos, não foi “ministrar aulas de atividade física” com intuito demedir e avaliar diferentes capacidades físicas, aplicar cargas de peso, demonstrartécnicas de movimento, assim como não pretendíamos aferir melhoras no ren-dimento físico, ou no aspecto estético, mas enfatizar, na orientação relativa aoscuidados com o corpo, saberes e práticas elementares e, ao mesmo tempo, propiciarum espaço que favorecesse a troca de experiências e vivências relacionadas àspráticas corporais de modo que valorizasse todas as pessoas envolvidas nesse processo(os usuários, os profissionais do CSE e a profissional responsável pelo projeto).

A proposta didático-pedagógica que fundamentou o projeto “PráticasCorporais e Comunidade” também considerou o espaço em que se realizou. OsCentros de Saúde Escola são voltados, predominantemente, para a prevenção epromoção da saúde, e, nesse sentido, é recomendado um acolhimento que não secaracterize como “tratamento” mas como lugar para vivenciar os cuidados como corpo, de modo geral, o que pode complementar o cuidado com patologias. Apromoção, por sua vez, pode concretizar-se no que há de educativo na relaçãoeducador físico e comunidade, na participação do grupo nos encontros, nosdesdobramentos que se manifestam no cotidiano das vidas em outros espaços –na conquista da autonomia, na capacidade de modificar o que incomoda e napossibilidade de pensar e realizar outros cuidados de si e do coletivo.

Nesse sentido, um problema individual pode ser partilhado com os demaiscom intuito de favorecer o aprendizado para alguns, a prevenção para outros, ou

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ainda potencializar um cuidado pessoal por meio do respaldo do grupo, comoalgumas vezes aconteceu nessa experiência. Afinal, “como alguém se constituiria em

Sujeito sem a produção de ‘Obras’ que materializassem sua humanidade? Como sobreviver sem (...)

sentir-se útil e querido? Como desenvolver-se sem sair de si mesmo?” (Campos, 2000, p. 53).

5.2 OS INSTRUMENTOS DA PESQUISA

Foram utilizados nesse trabalho dois tipos de instrumento de pesquisa: um decaráter quantitativo e outro de caráter qualitativo.

O primeiro refere-se a um questionário semi-estruturado, que conteveinformações como: data de nascimento, número de matrícula no serviço e questõesque traçaram um perfil do grupo atendido, relativas aos problemas de saúde e àsexperiências com a prática de atividade física. O questionário foi aplicado ao finaldas aulas com cada aluno novo. Ao final desse período todos os questionáriospreenchidos foram analisados e submetidos a uma avaliação estatística descritiva.

O segundo instrumento refere-se à observação participante. Ela foi utilizadauma vez que nosso trabalho envolveu o contato regular com as pessoas queparticiparam do projeto, assim como com a rotina do CSE, de modo que tivemosum vínculo direto com o ambiente de pesquisa. Minayo (1993) trata da observaçãoparticipante, fundamentalmente, com base no método de Malinowski (1975).

Assim, dos cuidados relacionados à observação participante, o primeiro serefere à necessidade de se aproximar da realidade da pesquisa, mas ao mesmotempo dominar o referencial teórico-científico. Significa abertura para o grupo,sensibilidade para sua lógica e sua cultura, lembrando que a interação social fazparte da condição e da situação de pesquisa. O segundo trata da questão domodo pelo qual o pesquisador se coloca no contexto da pesquisa empírica. Aautora destaca: “... mais do que a definição a priori do tipo de pesquisador que se deseja ser no

campo, é preciso considerar a observação participante como um processo que é construído duplamente

pelo pesquisador e pelos sujeitos envolvidos” (Minayo, 1993, p. 143). O último pontorefere-se aos cuidados acerca da seleção, coleta e manipulação dos dados. Oregistro dos dados deve ser feito por meio de observação minuciosa e detalhadano diário de campo, do registro de declarações, das narrativas, das expressões eoutros elementos que compõem o ambiente da observação.

No caso dessa pesquisa, a coleta de dados foi realizada da seguinte forma:num primeiro momento, descrevemos os acontecimentos do encontro – oque acontecia antes de começar a atividade, como e quais atividades foramdesenvolvidas, participações, intervenções e comentários das pessoas, imprevistose, de forma especial, como se dava a interação entre as pessoas do grupo, incluindoaqui a participação do profissional. Em um segundo momento, destacávamosalgumas observações que, de certa forma, chamavam mais a atenção, desde algumas

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falas, relacionadas a melhoras percebidas (diminuição de dores, de doses deremédio, bem-estar, entre outros), ao grupo, às atividades, até comentários sobreo ambiente humano (amizade, descontração, solidariedade, entre outros) e físico(menções ao espaço da sala, aos materiais e ao espaço externo do Instituto Butantã).Por fim, anotávamos os dados referentes ao número de pessoas presentes,participação de outros profissionais e sugestões, quando ocorriam, para a próximaaula. As informações foram registradas no Diário de Campo, ao final de cada aula.

Para a análise das observações, todo o material escrito foi retomado elido. Com base nas leituras, separamos dados sobre: o desenvolvimento doprojeto (tipos de atividades, variações, número de pessoas participantes, entreoutros); informações sobre o coletivo (a convivência em grupo, as relaçõesestabelecidas, as reações e participações); e, por último, informações individuais(comentários pessoais sobre problemas de saúde, possíveis melhoras, problemasfamiliares, entre outros).

Com base nos dados analisados, passamos a construir redes entre a experiênciado grupo durante os encontros, os dados dos questionários, e as discussõesapresentadas na revisão de literatura, para cruzarmos dados que secomplementavam, se afirmavam ou se contrapunham. Depois articulamos o quefoi vivido pelas pesquisadoras: a experiência do projeto, o contato com as pessoasda comunidade e com os profissionais do CSE, buscando estabelecer um diálogoentre a vivência das pesquisadoras, a literatura e as contribuições dos sujeitosenvolvidos na pesquisa, conduzindo a construção de uma discussão que nosauxiliasse na tarefa de responder o objetivo deste trabalho, qual seja, discutir oscuidados com o corpo e, em particular, a relação entre atividade física e saúdecom base no projeto “Práticas Corporais e Comunidade”, uma intervençãodesenvolvida por uma profissional de Educação Física junto à comunidade atendidano Centro de Saúde Escola da USP.

Apresentamos, a seguir, o resultado verificado nos questionários no que serefere às características do grupo para experiências anteriores com atividade físicae principais problemas de saúde e, na seqüência, a análise dos principais pontosidentificados nos relatórios de observação, associando-a a considerações finais.

6. RESULTADOS: CONHECENDO A POPULAÇÃO

Os resultados obtidos, com base nas informações dos questionários individuais,deram um perfil da demanda que chega ao serviço e que era encaminhada aoatendimento de Educação Física. Eles foram utilizados tanto para pensar e prepararos temas e conteúdos das aulas práticas e de discussão, como na forma de conduziras atividades. Os dados apresentados referem-se ao período de março de 2002a março de 2003, quando passaram pelo atendimento do grupo de Educação

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Física quarenta e quatro pessoas, na maioria mulheres (38) e 6 homens, commédia de idade de 58 anos.

As características do grupo relativas aos problemas de doença eram hetero-gêneas, com destaque para hipertensão, diabetes e dores musculares. Desânimo,isolamento social e cansaço também foram sintomas identificados, que chamamosde “sofrimento difuso”, um mal-estar generalizado na dimensão social: falta desegurança nas ruas, impossibilidade de acesso a bens e serviços básicos (saúde eeducação, entre outros) e falta de perspectivas podem ser exemplos.

Figura 1Experiências do grupo relacionadas à prática de atividades físicas.

* Refere-se às pessoas que disseram ter realizado caminhada associada com outra atividade: natação,tai chi chuan ou ginástica.

A experiência no CSE nos revelou outros aspectos só percebidos na convivênciacom a comunidade, com o modo de ser de cada um, com a reação do grupo anteas atividades, com o modo de lidar com os problemas de saúde, citados nosquestionários, como a experiência, ou não, com a atividade física encaminhou odesenvolvimento das atividades no grupo; enfim, como essas característicasindividuais se compõem na convivência em grupo e no trabalho coletivo diantedos conteúdos da Educação Física. Assim, ressaltamos várias questões relacionadasà experiência no CSE, segundo os relatórios de observação, que foramregistrados em Diário de Campo, após o término de cada encontro: os preconceitos(a dificuldade em lidar com o diferente, com o carente de acesso à informação,o carente de emprego, o carente de atenção); a “ignorância”, de modo geral,sobre orientações básicas relativas ao corpo; o encontro de realidades diversas;a aprendizagem mútua, relativa ao trabalho com pessoas; o conhecimento

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produzido e o cotidiano das pessoas desta cidade (o desafio de produzirconhecimento e intervir no dia-a-dia das pessoas); a relação universidade e sociedade;o trabalho de caráter coletivo (os estudos e a intervenção planejada e desenvolvidaem grupo, de natureza interdisciplinar, formado por alunos e profissionais dediferentes áreas).

Figura 2Número de ocorrências de doenças e distúrbios identificados nos questionários.

* Problemas respiratórios: asma e bronquite; problemas mentais: depressão e distúrbio bipolar. 54% daspessoas disseram ter mais de um problema de saúde, num total de oitenta e duas ocorrências.

7. DISCUSSÃO: EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Acreditamos que os espaços voltados para a saúde podem ser interessantespara o formado em Educação Física desde que ele esteja integrado à equipe doserviço de saúde. É uma categoria formada com base em conteúdo específicoe que, junto com o médico, com o psicólogo, com o fisioterapeuta e com oenfermeiro, pode contribuir para a melhoria das condições de vida das pessoas.

Nesse espaço de intervenção há respeito mútuo entre os profissionais demodo que cada um se dispõe a aprender e trocar com o outro. Há uma hierarquiadeterminada pelas tarefas e responsabilidades de cada área, mas, em nenhummomento, visando desqualificar ou subestimar o conhecimento, a experiência dooutro, e sim com o intuito de poder apreendê-la.

Diante da experiência vivida, o Centro de Saúde mostrou-se um espaço deintervenção para o profissional de Educação Física e de acesso à comunidade aos

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conteúdos da área. No entanto, este é um espaço que precisa ser conquistado,orientado, há necessidade de maior reflexão acerca das funções e do papel doprofissional em um serviço público de saúde dessa categoria. No entanto, foipossível tecer algumas considerações como: as questões pertinentes aos cuidadoscom o corpo, à atividade física, à saúde e à relação entre elas precisam serconstruídas com a comunidade, na realidade em que vive; os valores da indústriacultural e da beleza precisam ser discutidos e não reproduzidos no grupo – nossasobservações mostraram que as preocupações estavam mais voltadas à saúde, àconvivência em grupo, a construção de vínculos, do que à conquista dos valoresimpostos por elas; o papel de educador nas aulas se sobressaiu ao de instrutor deatividades, levando a uma participação mais ativa do grupo.

Percebemos, pelos resultados dos questionários, que é significativo o númerode pessoas que não têm experiência com a atividade física; elas representam 30%do grupo, mas, se considerarmos também as pessoas que disseram só ter contatocom a caminhada que, apesar de ser uma atividade física, não é uma atividadeestruturada, e é desvinculada de espaço e de profissional específicos, a representaçãopassa a ser de 50% do grupo. Estes dados se juntam aos resultados das observaçõesque mostram a carência de conhecimentos específicos da área e de orientaçõesbásicas relativas aos cuidados com o corpo. No entanto, estas mesmas pessoas sedeparam no dia-a-dia, diante da TV, das revistas, do consultório médico, com anecessidade de praticar atividades físicas para pôr o corpo em “forma”, melhorara saúde e prevenir doenças, mas que pouco encontram oportunidades reais queas aproximem de espaços de educação para sua prática, que considerem suascondições de vida.

As características do grupo mostraram-se heterogêneas quanto aos problemasde saúde, com destaque para hipertensão, dores musculares e diabetes, que juntosrepresentaram 59,6% dos casos. Estes dados nos orientaram a pensar na preparaçãodas atividades e nas discussões, já que, na maioria dos casos, a atividade físicapôde contribuir com o tratamento, na melhora física, social ou mental dessaspessoas, segundo os relatos registrados no Diário de Campo realizados pelosfreqüentadores do programa, assim como por outros profissionais do serviço queatendiam as mesmas pessoas em outras especialidades do CSE.

Além dos cuidados profissionais exigidos diante de um grupo heterogêneocomo este, as doenças representaram a pluralidade de dificuldades que a comunidadeenfrenta no âmbito da saúde que, neste caso, não foram tratadas como limitaçãoou diferença diante do outro, mas como conhecimento, história, condição que, éclaro, implica cuidados, mas que foi partilhada como uma forma de as pessoasaprenderem com a experiência do outro. Trabalhamos, portanto, com a inclusão,sem restrição diante da condição de saúde-doença, nesse caso.

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Concluindo, esta experiência com a comunidade atendida pelo Centro deSaúde Escola chama a atenção para a forma como o profissional de EducaçãoFísica tem desempenhado sua função de profissional de saúde; ela nos leva arefletir acerca das possibilidades efetivas que o trabalho coletivo e o conhecimentoda comunidade têm representado quando a questão é atividade física e saúde e,de certo modo, aponta como um “novo” caminho no campo das “novas práticasem saúde coletiva”, denominado assim, por Luz (2005).

R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

AYRES, J. R. C. M. Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde. Ciência &

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BOLTANSKI, L. As classes sociais e o corpo. Rio de Janeiro: Graal, 1989. 179p.

CALVINO, I. Marcovaldo ou as estações na cidade. São Paulo: Companhia das Letras,1994. 144p.

CAMPOS, G. W. S. Um método para análise e co-gestão de coletivos. São Paulo: Hucitec,2000. 236p.

CARVALHO, Y. M. O “mito” da atividade física e saúde. 3. ed. São Paulo: Hucitec,2001. 177p.

FEATHERSTONE, M. Consumer culture and postmodernism. Londres: Sage, 1991.

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LUZ, M. T. Novos saberes e práticas em saúde coletiva: estudo sobre racionalidades médicas e

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MALINOWSKI, B. Uma teoria científica da cultura. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

MANIFESTO de São Paulo para a promoção da atividade física nas Américas. SãoPaulo. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. São Paulo, v. 1, n. 1, 2003.

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VALLA, V. V. Redes sociais, poder e saúde à luz das classes populares numaconjuntura de crise. Interface – Comunicação, Saúde, Educação. São Paulo, v. 4, n. 7,p. 37 - 56, 2000.

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INSTRUÇÕES PARA OS COLABORADORES

Os Cadernos Saúde Coletiva publicam trabalhos inéditos consideradosrelevantes para a área de Saúde Coletiva.

SERÃO ACEITOS TRABALHOS PARA AS SEGUINTES SEÇÕES:Artigos (resultantes de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual,

ou ensaios teóricos e/ou de revisão bibliográfica crítica sobre um tema específico; máximode 25 páginas); Debate (a partir de apresentações orais em eventos científicos, transcritos esintetizados; máximo de 20 páginas); Notas (relatando resultados preliminares ou parciaisde pesquisas em andamento; máximo de 5 páginas); Opiniões (opiniões sobre temasligados à área da Saúde Coletiva, de responsabilidade dos autores, não necessariamenterefletindo a opinião dos editores; máximo 5 páginas); Cartas (curtas, com críticas a artigospublicados em números anteriores; máximo de 2 páginas); Resenhas (resenhas críticas delivros ligados à Saúde Coletiva; máximo de 5 páginas); Teses (resumo de trabalho finalde Mestrado, Doutorado ou Livre-Docência, defendidos nos últimos dois anos; com nomedo orientador, instituição, ano de conclusão, palavras-chave, título em inglês, abstract ekey words; máximo 2 páginas).

APRESENTAÇÃO DOS MANUSCRITOS:Serão aceitos trabalhos em português, espanhol, inglês ou francês. Os originais

devem ser submetidos em três vias em papel, juntamente com o respectivo disquete(formato .doc ou .rtf), com as páginas numeradas. Em uma folha de rosto deve constar:Título em português e em inglês, nome(s) do(s) autor(es) e respectiva qualificação(vinculação institucional e título mais recente), endereço completo do primeiro autor(com CEP, telefone e e-mail) e data do encaminhamento. O artigo deve conter título dotrabalho em português, título em inglês, resumo e abstract, com palavras-chave e keywords. As informações constantes na folha de rosto não devem aparecer no artigo.Sugere-se que o artigo seja dividido em sub-itens. Os artigos serão submetidos a nomínimo dois pareceristas, membros do Conselho Científico dos Cadernos ou eventual-mente ad hoc. O Conselho Editorial dos Cadernos Saúde Coletiva enviará carta respostainformando da aceitação ou não do trabalho.

A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos autorais depublicação nesta revista, a qual terá exclusividade de publicá-los em primeira mão. Oautor continuará a deter os direitos autorais para publicações posteriores.

Caso a pesquisa que der origem ao artigo encaminhado aos Cadernos tenha sidorealizada em seres humanos, será exigido que esta tenha obtido parecer favorável de umComitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, devendo o artigo conter a referência aeste consentimento, estando citado qual CEP o concedeu, e cabendo a responsabilidadepela veracidade desta informação exclusivamente ao autor do artigo.

• Formatação: Os trabalhos devem estar formatados em folha A4, espaço duplo,fonte Arial 12, com margens: esq. 3,0 cm, dir. 2,0 cm, sup. e inf. 2,5 cm. Apenas aprimeira página interna deverá conter o título do trabalho; o título deve vir em negrito eos subtítulos em versalete (PEQUENAS CAPITAIS) e numerados; palavras estrangeiras e o quese quiser destacar devem vir em itálico; notas explicativas, caso existam, deverão vir no péde página; as citações literais com menos de 3 linhas deverão vir entre aspas dentro docorpo do texto; as citações literais mais longas deverão vir em outro parágrafo, com recuode margem de 3 cm à esquerda e espaço simples. Todas as citações deverão vir seguidasdas respectivas referências.

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• Ilustrações: o número de quadros e/ou figuras (gráficos, mapas etc.) deverá sermínimo (máximo de 5 por artigo, salvo exceções, que deverão ser justificadas por escritoem anexo à folha de rosto). As figuras poderão ser apresentadas em nanquim ou produzi-das em impressão de alta qualidade, e devem ser enviadas em folhas separadas e emformato .tif. As legendas deverão vir em separado, obedecendo à numeração das ilustra-ções. Os gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados emsua elaboração, na forma de tabela. As equações deverão vir centralizadas e numeradasseqüencialmente, com os números entre parênteses, alinhados à direita.

• Resumo: todos os artigos submetidos em português ou espanhol deverão ter resu-mo na língua principal (Resumo ou Resumen, de 100 a 200 palavras) e sua tradução eminglês (Abstract); os artigos em francês deverão ter resumo na língua principal (Résumé) eem português e inglês. Deverão também trazer um mínimo de 3 e um máximo de 5palavras-chave, traduzidas em cada língua (key words, palabras clave, mots clés), dando-sepreferência aos Descritores para as Ciências da Saúde, DeCS (a serem obtidos napágina http://decs.bvs.br/).

• Referências: deverão seguir a Norma NBR 6023 AGO 2000 da ABNT. No corpodo texto, citar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação, seguido da páginano caso de citações (Sobrenome, ano: página). No caso de mais de dois autores, somenteo sobrenome do primeiro deverá aparecer, seguido da expressão latina ‘et al.’. Todas asreferências citadas no texto deverão constar nas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ao final doartigo, em ordem alfabética, alinhadas somente à esquerda, pulando-se uma linha deuma referência para outra, constando-se o nome de todos os autores. No caso de maisde uma obra do mesmo autor, este deve ser substituído nas referências seguintes àprimeira por um traço e ponto. Não devem ser abreviados títulos de periódicos, livros,locais, editoras e instituições.

Seguem exemplos de, respectivamente, artigo de revista científica impressa e veicula-do via internet, livro, tese, capítulo de livro e trabalho publicado em anais de congresso(em casos omissos ou dúvidas, referir-se ao documento original da Norma adotada):

ESCOSTEGUY, C. C.; MEDRONHO, R. A.; PORTELA, M. C. Avaliação da letalidade hospitalar doinfarto agudo de miocárdio do Estado do Rio de Janeiro através do uso do Sistema de Informa-ções Hospitalares/SUS. Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 39-59, jan./jul. 1999.

PINHEIRO, R.; TRAVASSOS, C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde poridosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,v.15, n.3, set. 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/cgi-bin/wxis.exe/iah/>.Acesso em: 2 jan. 2005.

ROSEN, G. Uma história da Saúde Pública. Rio de Janeiro: Abrasco. 1994. 400p.

TURA, L. F. R. Os jovens e a prevenção da AIDS no Rio de Janeiro. 1997. 183p. Tese (Doutoradoem Medicina) - Faculdade de Medicina. UFRJ, Rio de Janeiro.

BASTOS, F. I. P.; CASTIEL, L. D. Epidemiologia e saúde mental no campo científico con-temporâneo: labirintos que se entrecruzam? In: AMARANTE, P. (Org.) Psiquiatria social e

reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 97-112.

GARRAFA, V.; OSELKA, G.; DINIZ, D. Saúde Pública, bioética e equidade. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 5., 1997, Águas de Lindóia. Anais. Rio de Janeiro:Abrasco, 1997. p. 59-67.

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