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Notas de aula Física II; Profs Ricardo e Amauri Calor e Primeira Lei 1 CALOR E PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA Calor é a energia transferida de um corpo para outro em virtude, basicamente, de uma diferença de temperatura. 1 Capacidade Calorífica e Calor Específico A quantidade de calor necessária para alterar a temperatura de um corpo de massa m é dada pela seguinte equação: Q = m c T , (1) onde c é o calor específico e T é a variação de temperatura sofrida pelo corpo. A unidade de calor é o Joule (SI), representada pela letra J. Da Eq. (1) podemos concluir que o calor Q é negativo se o corpo esfria ou positivo se aquece. Para isto é necessário que calor saia do corpo ou entre nele. A capacidade calorífica, que significa a quantidade necessária de calor para elevar de um grau a temperatura do corpo, é definida da seguinte maneira: C = m c. (2) Levando (2) em (1), obtemos que Q = CT. A unidade de capacidade calorífica é J/K ou J/°C. O calor específico, por outro lado, é J/kg.K. Em muitos livros é comum a utilização da caloria (cal) como unidade de medida para o calor. 1 cal = 4,184 J. Por último temos a capacidade calorífica por mol, denominada de Capacidade Calorífica Molar, definida da seguinte maneira: C m = M c , (3) onde M é a massa molecular da substância. Sendo c agua > c areia , explique porque durante o dia o vento vem do oceano para o continente e a noite faz o caminho inverso. A Tabela 1 mostra algumas substâncias com seus respectivos calores específicos. Substância c (kJ/kg.K) Substância c (kJ/kg.K) Alumínio 0,900 Prata 0,233 Chumbo 0,128 Tungstênio 0,134 Cobre 0,386 Água 4,18 Gelo 2,05 Álcool etílico 2,4 Ouro 0,126 Mercúrio 0,14

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Notas de aula – Física II; Profs Ricardo e Amauri

Calor e Primeira Lei 1

CALOR E PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

Calor – é a energia transferida de um corpo para outro em virtude, basicamente, de uma

diferença de temperatura.

1 – Capacidade Calorífica e Calor Específico

A quantidade de calor necessária para alterar a temperatura de um corpo de massa m é dada pela

seguinte equação:

Q = m c T , (1)

onde c é o calor específico e T é a variação de temperatura sofrida pelo corpo. A unidade de

calor é o Joule (SI), representada pela letra J.

Da Eq. (1) podemos concluir que o calor Q é negativo se o corpo esfria ou positivo se aquece.

Para isto é necessário que calor saia do corpo ou entre nele.

A capacidade calorífica, que significa a quantidade necessária de calor para elevar de um grau a

temperatura do corpo, é definida da seguinte maneira:

C = m c. (2)

Levando (2) em (1), obtemos que Q = CT.

A unidade de capacidade calorífica é J/K ou J/°C. O calor específico, por outro lado, é J/kg.K.

Em muitos livros é comum a utilização da caloria (cal) como unidade de medida para o calor.

1 cal = 4,184 J.

Por último temos a capacidade calorífica por mol, denominada de Capacidade Calorífica Molar,

definida da seguinte maneira:

Cm = M c , (3)

onde M é a massa molecular da substância.

Sendo cagua > careia, explique porque durante o dia o vento vem do oceano para o continente e a

noite faz o caminho inverso.

A Tabela 1 mostra algumas substâncias com seus respectivos calores específicos.

Substância c (kJ/kg.K) Substância c (kJ/kg.K)

Alumínio 0,900 Prata 0,233

Chumbo 0,128 Tungstênio 0,134

Cobre 0,386 Água 4,18

Gelo 2,05 Álcool etílico 2,4

Ouro 0,126 Mercúrio 0,14

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Calor e Primeira Lei 2

2 – Mudança de fase e calor latente.

Mudança de fase – é a mudança de um estado físico de uma substância. Nesta mudança, o corpo

não altera sua temperatura, pois toda energia recebida pelo corpo está sendo utilizada para

reordenar as moléculas que forma a substância.

O calor necessário para que ocorra a mudança de fase de uma substância de massa m é:

Qf, v =m.Lf, v. (5)

Lf e Lv é o calor latente relacionado com a fusão e de vaporização, respectivamente. Lembrando

que a vaporização pode ser lenta (evaporação pode ocorrer a temperatura mesmo abaixo de

100ºC) ou rápida (ebulição ocorre quando as bolhas são formadas no interior do líquido e quando

a pressão dessas fica maior que a atmosfera elas se expandem e estouram na superfície.

Calorímetro – é um equipamento utilizado para determinar o calor específico de uma

substância. Ele consiste simplesmente de um recipiente isolado termicamente.

Considere um corpo de massa m e temperatura inicial Ti. Este corpo é colocado num calorímetro

(Figura 1) de massa mc e temperatura inicial Tci contendo uma quantidade de água de massa ma a

uma temperatura inicial Tai. Vamos calcular a temperatura final que todos os corpos ficam após

atingir o equilíbrio termodinâmico considerando que Ti > Tci = Tai.

Fig. 1 – Corpo de massa m numa temperatura Ti é colocado dentro de um calorímetro com uma temperatura

menor. O corpo cederá calor ao calorímetro até que estes fiquem com uma temperatura final de equilíbrio Tf.

O calor que o corpo cede (adotado como negativo) a água e ao calorímetro até atingir a

temperatura final Tf é:

| Qced |= mc(Ti – Tf ). Veja que aqui utilizamos Ti – Tf para que o módulo do calor cedido seja

positivo.

Este calor é igual àquele que o sistema calorímetro + água recebe (calor positivo), ou seja:

Qrec = maca(Tf - Tai) + mccc(Tf - Tci).

Como |Qced| = Qrec, obtemos:

)()()( cifccaifaafi TTcmTTcmTTmc . (4)

Da Eq. (4) podemos obter o valor de c.

água

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Calor e Primeira Lei 3

Nota: Podemos dizer que Qrec + Qced = 0. Aqui podemos fazer sempre a temperatura final –

temperatura inicial. O resultado é também a equação (4). Mas cuidado. Faça o exemplo abaixo e

veja se você entendeu.

Exemplo 1: Calcule a temperatura final de equilíbrio quando 100 g de vapor a 120ºC é colocado

em 5 kg de água a 20ºC. Todo o sistema está isolado.

1º método: Qrec = | Qced|. O módulo de Qced se aplica a todos os termos do calor cedido.

)100()100120()20( favvvvvfaa TcmLmcmTcm

CTTT fff º3,32)100(41801,022570001,0)100120(18401,0)20(41805

2º método: Qrec + Qced = 0.

0)()()20( v

ffavvv

v

i

v

fvvfaa TTcmLmTTcmTcm

0)100()120100()20( favvvvvfaa TcmLmcmTcm ; colocando os respectivos valores

dos parâmetros na equação, obtemos, mais uma vez, Tf = 32,3ºC

Exemplo 2: Um pedaço de gelo de 200g a 0°C foi colocado em 500g de água a 20°C. O sistema

está num vaso que tem capacidade calorífica desprezível e está termicamente isolado. (a) qual a

temperatura final de equilíbrio e (b) quanto gelo foi derretido?

Solução: Antes é necessário saber se a quantidade de gelo é capaz de derreter completamente. Se

sim, então ele chegou a 0°C, pelo menos!

Quantidade necessária de calor para o gelo derreter a 0°C.

Q1 = m.Lf = 0,2.333,5x103 = 66700J.

O calor recebido pelo gelo foi fornecido pela água. Se este não for suficiente para derreter todo

gelo, então, já podemos dizer que a temperatura final é 0°C.

Quantidade de calor necessário para a água chegar a 0°C.

Q2 = ma.ca.(Ti – Tf) = 0,5.4180.(20 – 0) = 41800 J.

Como Q2 < Q1, então o gelo não será completamente derretido e a temperatura de equilíbrio é

0°C! Então

41800 = m.Lf m = 41800/333500 = 0,125 kg ou 125 g é a quantidade de gelo derretido.

Quais as outras possibilidades que poderíamos ter para este tipo de problema?

Observação: No Exemplo 1 consideramos que o vapor d’água se transforma em água numa

temperatura igual ou abaixo de 100ºC. Como você pode garantir isso?

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Calor e Primeira Lei 4

Curiosidade: Fases da água (http://www.physicalgeography.net/fundamentals/8a.html)

A única forma

das moléculas de

água se unirem.

água no estado

sólido(forma

ordenada)

água no estado

líquido (forma

semi-ordenada)

água no estado

de vapor

3 – A Primeira Lei da Termodinâmica

O calor líquido (Q) adicionado a um sistema é igual à variação de energia interna (U) do

sistema mais o trabalho (W) realizado pelo sistema. Esta Lei é uma lei de conservação de

energia. Matematicamente ela é dada por:

Q = U + W . (6)

U > 0 normalmente está relacionada com o aumento de temperatura e/ou mudança de fase.

U < 0 decréscimo de temperatura.

W > 0 o sistema realiza trabalho – um gás se expandindo e empurrando um pistão é um ótimo

exemplo.

W < 0 trabalho realizado sobre o sistema – um gás sendo comprimido.

Q > 0 calor entra no sistema.

Q < 0 calor sai do sistema.

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Calor e Primeira Lei 5

A variação de energia interna só depende do estado final e do estado inicial (por isto é

considerada uma função de estado assim como P, V e T), porém, Q e W dependem do caminho

tomado para sair de um estado e ir para outro, logo não são consideradas funções de estado.

Se escrevermos

dQ = dU + dW, (7)

podemos dizer que dU é uma diferencial mas dQ e dW são apenas quantidades infinitesimais

adicionadas ao sistema. Isso se deve ao fato dU depender apenas da temperatura.

4 – A Energia Interna de um Gás

A energia cinética total de um gás é: K = 3nRT/2.

Se esta é a única energia do gás, então

U = 3nRT/2.

Isto só é possível se considerarmos que o gás é formado por átomos. Caso o gás seja composto

por moléculas, então a rotação destas deve ser considera no cálculo da energia cinética. Devemos

ter em mente que a energia interna só depende da temperatura que o gás se encontra. Assim, se

existe uma variação de temperatura, a variação da energia interna só depende destas

temperaturas e não do caminho como estas temperaturas foram variadas.

Expansão livre adiabática

A energia interna depende ou não do volume que ele ocupa?

Na expansão livre, o gás não troca calor com o ambiente, logo Q = 0. Também, como o vácuo no

lado direito (Figura 2) não oferece qualquer resistência a sua expansão, temos W = 0. Logo, U

= 0, ou seja, não ocorre qualquer variação de temperatura. Isto vale quando a pressão dentro do

vasilhame é pequena.

Na expansão, espera-se que a energia potencial de interação aumente pois a distância entre as

moléculas aumentam, conseqüentemente, a energia cinètica diminui, logo a temperatura também.

Para um gás ideal, isto não foi verificado.

Fig. 2 – Quando a torneira for aberta o gás se expandirá rapidamente até ocupar os dois compartimentos sob a

mesma pressão.

Vácuo Gás

parede abiabática

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Calor e Primeira Lei 6

5 – Trabalho e Diagrama PV de um Gás

Aplicações da 1a Lei da Termodinâmica.

Suponha um gás confinado num cilindro. Se o gás se expande, o trabalho realizado por ele sobre

o pistão de área A é:

dW = F.dx = PA.dx = PdV. (8)

Nota: o trabalho é o produto interno entre a força e o deslocamento de um corpo F.dx. Se o

deslocamento não está no mesmo sentido da força, então o trabalho é negativo.

Da Eq. (8), podemos escrever que o trabalho é dado por:

f

i

V

VPdVW (9).

O que é fundamental para se calcular o trabalho a partir da Eq. (9) é saber como a pressão varia

com V! Veja também que o trabalho é igual à área sob a curva de P contra V.

Exemplos:

Processo isobárico (Figura 4, caminho 1 2 ou 4 3): Se o volume do gás aumenta a pressão

constante de um volume V1 para um volume V2, a temperatura aumenta pois saímos o gás sai de

uma isotérmica para outra e para que isto ocorra, calor é adicionado. Então

Q > 0 e U > 0.

).( 12

2

1

VVPPdVWV

V > 0.

Fig. 3 – Quando o pistão se move

para direita, o volume aumenta de

um valor dV = A dx, onde dx é o

deslocamento infinitesil do pistão e

A é a sua área

Fig. 4 – O gráfico mostra 3 situações distintas

para um gás sair do estado 1 para o estado 3

diretamente (processo isotérmico) ou via os

estados 2 ou 4. Como o trabalho é igual a área

sob a curva, então em cada um dos caminhos, o

trabalho é diferente.

VOLUME

PR

ES

O

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Calor e Primeira Lei 7

Processo isocórico (Figura 4, caminho 1 4 ou 2 3):

Como V é constante, dV = 0 e conseqüentemente o trabalho também o é. Outro motivo é que não

existe qualquer área sob esta curva. (Figura 4). Assim, pela 1a Lei, Q = U.

W = 0 J;

Q = U.

Processo isotérmico (Figura 4, caminho 1 3): T constante.

.ln1

22

1

2

1 V

VnRTdV

V

nRTPdVW

V

V

V

V

W = Q, pois Uf – Ui = 0.

Ciclo Completo

Se o ciclo for inverso, o W < 0.

No caso de uma variação que não esteja incluído nos processos acima, faz-se necessário

determinar como é a função de P em relação à V e aplicar na Eq. 8. Outra maneira, é calcular a

área sob a curva se o ciclo não é completo ou a área da figura que é limitada pelas curvas para

um ciclo completo. Este último, na realidade, não passar de uma integração.

Exemplo:

Suponha que um litro de um gás está a 1 atm e sofre uma expansão até o volume de 3l e pressão

de 2atm. Em seguida, a pressão é reduzida para 1 atm porém com volume igual a 6l. Calcule o

trabalho total realizado por este gás.

Este problema será resolvido de duas formas, uma por

integração, outra por simples cálculo direto da área sob

a curva. Veja que estes dois estágios não se enquadram

em quaisquer daqueles processos apresentados

anteriormente.

1 2 3

V (l) 1 3 6

P (atm) 1 2 1

WT = W12 + W23 + W34 + W41

WT = P1.(V2 – V1) + 0 + P3.(V4 – V3) + 0

WT = (P1 – P3).(V2 – V1).

Que é a área do retângulo. Aqui, usamos do

fato que V4 = V1, V2 = V3, P4 = P3 e P2 = P1.

1

WT

V

P

2

3 4

P1

P3

V2 V1

0 1 2 3 4 5 6 7

Volume (l)

0

1

2

3

Pre

ssã

o (

atm

)

1

2

3

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Calor e Primeira Lei 8

Vemos que entre 1 e 2 e entre 2 e 3, a variação da pressão com o volume se dá através de duas

retas. Assim, é necessário determinar as equações das retas.

Entre 1 e 2: A reta que descreve o processo entre 1 e 2 é dada pela seguinte equação:

P12(V) = ½ V + ½ = ½(V + 1) .

Cálculo do trabalho:

atmlWVVdVV

WdVVPW .322

12

1)( 12

3

1

23

112

2

112

Para o processo entre 2 e 3, temos a seguinte equação que relaciona P e V: P(V) = - V/3 +3.

Assim, o trabalho entre 2 e 3 é obtido da seguinte forma:

atmlWVVdVVWdVVPW .5,4.36

33

)( 23

6

3

26

323

3

223

Assim, o trabalho total realizado pelo gás é a soma de cada um dos trabalhos, ou seja, 7,5 l.atm.

Cálculo do trabalho via cálculo da área sob a curva.

Neste caso, os processos entre 1 e 2 e entre 2 e 3 compreendem dois trapézios. A área do

primeiro trapézio que corresponde ao primeiro processo é obtido pela seguinte equação:

atmlW .3)13(2

)21(12

Para o processo entre 2 e 3, temos:

atmlW .5,4)36(2

)12(23

Logo, o trabalho total, como era de se esperar, vale 7,5 l.atm.

6 – Capacidades Calorifícas e Teorema da Equipartição da Energia

Até agora não fizemos qualquer menção com relação à capacidade calorífica de um corpo. Se um

gás é aquecido até uma temperatura T a volume constante, todo calor fornecido a este gás é

transformado em energia interna, pois o trabalho realizado pelo gás é zero. Porém, ao ser

aquecido até T isobaricamente, mais calor é necessário pois, simultaneamente, será realizado

trabalho. Logo, podemos dizer que C a volume constante (CV) é menor que C a pressão

constante (CP).

CP > CV.

Matematicamente podemos escrever que:

QV = CV T = U (10)

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Calor e Primeira Lei 9

ou dU = CV dT CV = dU/dT (11)

Para P constante, temos:

VPUTCQ PP

ou

PdVdUdTCP (12)

da Eq. (4), temos que V = nRT/P e consequentemente (Supondo P e n constantes) podemos

derivar a seguinte equação:

dV/dT = nR/P. (13)

Levando Eq. (13) na Eq. (12) e usando a Eq. (11), obtemos:

nRCCnRdTdTCdTC VPVP . (14)

A Eq. (14) relaciona as duas capacidades caloríficas. Veja, que CP – CV = nR .

Para um gás monoatômico,

U = 3nRT/2.

Utilizando Eq. (11) e (14), obtemos:

CV = 3nR/2 e CP = 5nR/2.

Preste atenção: Variação de energia interna é igual a Cv(Tf – Ti),

independente do processo !!!!!!

Teorema da Eqüipartição da Energia

Quando uma substância estiver em equilíbrio, a energia média associada a cada grau de liberdade

da molécula é kT/2 por molécula ou RT/2 por mol.

No caso de um gás formado por uma molécula diatômica, podemos dizer que, além dos três

graus de liberdade (translacional em x, y e z) que ela tem, podemos agora acrescentar mais 2

relacionados com a rotação da molécula em torno de dois eixos (x´ e y´) perpendiculares ao eixo

da molécula z´.

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Calor e Primeira Lei 10

y

x

Centro de massa

Para 5 graus de liberdade, temos:

CV = 5nR/2 e CP = 7nR/2

Para um sólido, na maior parte deles, a capacidade calorífica molar (Cm = C/n) obedece a Lei de

Dulong-Pepit, ou seja:

Cm = 3R = 24,9 J/mol.K

Isto equivale a 6 graus de liberdade!

7 – A Expansão Adiabática Quase-Estática de um Gás

Neste caso o gás se expande adiabaticamente de um ponto (P1, V1) até um ponto (P2, V2) sem

realizar troca de calor com a vizinhança. Neste processo o gás esfria-se ao transformar sua

energia interna U completamente em trabalho, pois o Q = 0. Este processo está representado na

Figura 6. O cálculo do trabalho realizado pelo gás é obtido a partir da Eq. (9).

Da 1a Lei da Termodinâmica, temos:

dQ = CV dT + PdV, ou

0 , dividindo por

0

V V

V

dVC dT nRT T C

V

dT nR dV

T C V

. (15)

Levando CP – CV = nR na Eq. (15). obtemos:

010

V

dV

C

C

T

dT

V

dV

C

CC

T

dT

V

P

V

VP . (16)

Integrando a Eq. (16), obtemos:

Fig. 5 – Modelo de um halter rígido de uma molécula

diatômica de um gás. Não é considerada rotação em

torno do eixo da molécula, pois, para isto seria

necessário considera-la rugosa para que num choque

com outra molécula, acontecer a rotação.

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Calor e Primeira Lei 11

cteVTcteVT ).ln(ln)1(ln 1 , (17)

onde = CP/CV.. Podemos reescrever a Eq. (17) da seguinte maneira:

TV -1

=cte . (18) mas,

ctePVcteVnR

PV 1 . (19)

Fig. 6 – As linhas mais finas representam as isotermas T1 e T2. A curva mais grossa representa o processo

adiabático. O trabalho no processo adiabático é igual a área sob a curva adiabática que liga 1 a 2.

Com relação a cte da Eq. (19), podemos dizer que ela é igual a:

...2211 VPVPPV = cte

Exercício: obter a equação envolvendo a temperatura e a pressão.

Uma maneira de obter o trabalho adiabático é levar a Eq. (19) na Eq. (9) e resolver a integral.

Outra maneira é resolver a seguinte equação:

dW = PdV = -CV dT, pois dQ = 0,

ou

TCWdTCPdVW VadVad , (20)

onde admitimos que a capacidade calorífica a volume constante é constante.

Um detalhe sobre a Eq. (20) é que, numa expansão adiabática, Tfinal < Tinicial o que resulta num

trabalho positivo e um conseqüente esfriamento deste.

VOLUME

PR

ES

O

T1

T2

(P , V )

(P , V )W

Adiabática entre os pontos 1 e 2

Comportamento de P com relação a V para

um processo adiabático

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Calor e Primeira Lei 12

Podemos abrir a Eq. (20) para obter o Wad em função de P e V. Da Lei dos Gases Ideais e da

Eq. (20), temos:

22112211

12 VPVPCC

C

nR

VP

nR

VPCTTCW

VP

VVVad

1

1 22112211

VPVPWVPVP

C

CCW ad

V

VPad (21)

A equação (21) pode ser obtida, de uma forma mais complicada, a partir da integração direta da

definição de trabalho e fazendo uso da equação (19), ou seja:

11

2211

1 2

1

2

1

2

1

VPVPVcte

VdVctePdVW

V

V

V

V

V

Vad

Para chegar na equação acima, fizemos uso do fato que 2211 VPVPcte .

Exercícios:

1) Um grama de água se transforma em 1671 cm3 quando ocorre o processo de ebulição a uma

pressão constante de 1 atm. Calcule a) o trabalho realizado pela água quando ela se transforma

em vapor e b) o aumento da sua energia interna.

Resposta: a) 169 J; b) 2087 J.

2) Um gás realiza dois processos. No primeiro, o volume permanece constante a 0,200 m3 e a

pressão cresce de 2,00 x105 Pa até 5,00 x10

5 Pa. O segundo processo é uma compressão até o

volume 0,120 m3 sob pressão constante de 5,00 x10

5 Pa. a) Desenhe um diagrama PV mostrando

estes dois processos e b) calcule o trabalho total realizado pelo gás nos dois processos.

Resposta: a) 0 J; b) –4,00 x 104 J.

....aproveite e obtenha o calor e a variação de energia em cada processo!

3) Um mol de um gás ideal inicialmente a 4,00 atm e 350 K sofre uma expansão adiabática até

1,50 vezes seu volume inicial. Calcule a temperatura e a pressão no estado final sabendo que o

gás é a) monoatômico; b) diatômico com CV = 2,5R.

Resposta: a) 267,8 K e 2,03 atm; b) 298 K e 2,27 atm.

4) Qual a variação da energia interna do gás monoatômico e o trabalho para o exercício acima?

Resposta: -1025 J e 1025 J.