Campus nº. 375
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CAMPUS
POR AÍ, ESPERANDO A NOVA CEU
DISTORCENDO A REALIDADESites de notícias fictícias conquistam brasileiros
POLÍTICA
CAMPUS
Foto: Mariana Pizarro
GDF ÀS ESCURASVeja os problemas do portal da transparência
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UNIVERSIDADE
Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB
De 22 a 28 de novembro de 2011, ano 41, edição 375
Tensão que marcou retirada dos estudantes da moradia universitária ficou para trás
Brasília vive mais uma vez um momento de tensão política. O governador Agnelo Queiroz, eleito com 66,10% dos votos no segundo turno, é o persona-
gem principal de um novo escândalo, que envolve gra-na e fatos bem confusos. Acho que o mais importante não é dizer quem comprou quem, quem é o ponto cen-tral de uma grande circunferência de corrupção que en-volve as deputadas Celina Leão e Eliana Pedrosa, além do próprio governador. Mas destacar o quanto nossa querida cidade é jogada aos diversos nomes da politi-cagem que nos cerca. Joaquim Roriz, José Roberto Ar-ruda, Agnelo Queiroz, talvez por falta de opção melhor.
Na última eleição ou era Weslian Roriz ou Agnelo. Acabou ganhando o, digamos, menos pior, o que rou-ba mas faz, o que tem um pouco mais de inteligên-cia. Quando na verdade o critério que deveria contar é o histórico político, a competência e a capacidade de cumprir o que promete. Mas não havia escolha. E ago-ra vem à tona o que todos temiam. Uma nova rodada de propinas que ainda tem muito para ser esclarecida.
Se por um acaso da justiça, ou injustiça, o gover-nador cair, quem assume é Tadeu Filipelli. Já foi bra-ço direito de Roriz, passou pelo governo de Arruda e hoje é vice-governador. Só para se ter ideia foi o ex-governador Joaquim Roriz que lançou Filipelli na política. O pupilo traiu o mestre. Em 2006 apoiou o go-verno Arruda, contrariando Roriz e companhia, como uma vingança da não indicação a vice-governador na chapa então liderada por Maria de Lourdes Abadia.
Uma desconfi ança e falta de fé na política tomam maiores proporções. A impressão que fi ca é a que, mesmo com algumas mudanças importantes como, por exemplo, a prisão de Arruda, nada de fato se mo-difi ca. As manobras e artimanhas políticas vão nos ilu-dindo, se adaptando a qualquer manifestação que te-nhamos. Uma maior transparência de como as coisas são feitas, não só da questão fi nanceira, mas de toda arquitetura política, nos pouparia de tanto arrependi-mento e talvez motivasse pessoas com melhores inten-ções a mudar essa tal política que afunda nosso país.
CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade deComunicação da Universidade de Brasília
Editor-chefe Dalai Solino Secretária de Redação Isabella de Andrade Diretora de Arte e Fotografi a Nayara Machado Editores
Dalai Solino (p. 1 e 2), Larissa de Castro (p. 3, 4 e 5), Paula Bittar (p. 6 e 7) e Isabella de Andrade (p. 8)
Diagramadoras Ana Paula Matos e Juliana EspanholFotógrafos Laura Chaer e Mariana Pizarro
Projeto Gráfi co Bárbara Cabral, Dandara Lima, Emerson Fraga e Mariana Pizarro Repórteres Dandara Lima, João Paulo Mariano,
Mariana Fagundes, Nádia Mendes e Pedro Augusto CorreiaMonitores Alexandre Bastos e Júlia Libório
Jornalista José Luiz Silva Professores Sérgio de Sá e Solano Nascimento ISSN 2237-1850Brasília/DF - Campus Darcy RibeiroFaculdade de Comunicação - ICC Ala NorteCEP 70.910-900 Telefones 61 3107.6498/6501E-mail [email protected]áfi ca Palavra ComunicaçãoTiragem 4 mil exemplares
POLÍTICA CHEIA DE VOLTASDalai Solino – editor-chefe
O recém-diagnosticado câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou em pauta o debate sobre a saúde pública no Brasil. A questão é que Lula está se tratando no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, um dos melhores da rede privada. Há quem defenda que o ex-presidente deveria se tratar no Sistema Único de Saú-de (SUS), já que não só teve oito anos como presidente para melhorar a estrutura do serviço, como também elo-giou o sistema. O Campus foi ao Hospital de Base saber a opinião de quem esperava na fila por atendimento, gente que não tem condição de pagar um plano de saúde.
NA FILAdo hospital
OPINIÃO
“Se ele tem condições, deve se tratar no particular. Vai fazer o que aqui no SUS, que tá tudo quebrado? Ele tá certo, mas devia melhorar o SUS também.”
Primeiro, os pontos positivos da penúltima edi-ção do Campus. A reportagem Dentro das vidas que passam pelo vício é excelente. O
tema, tratado com extrema sensibilidade, é ao mes-mo tempo intrigante e relevante. A pauta foi bem realizada pelo repórter, o que resulta em um texto prazeroso e com bastante estilo. O Por trás da re-portagem mostra como é longa a apuração de ma-térias assim e mostra que o autor sabe do que fala.
O perfi l compartilha das mesmas qualidades. O perso-nagem, surpreendente (como deve ser), foi um achado que o texto soube ressaltar. E aqui vai um elogio para esse e todos os outros. Nesse tipo de texto, a procura de outras fontes é fundamental e isso tem sido feito.
Os brasilienses mais distantes dos médicos é re-levante e escrito corretamente. Mas sobram pergun-tas. Por que o médico requisitado pelo Ministério da Saúde não foi substituído (somos apenas informados
que ele foi e ninguém veio)? O programa Saúde na Família tem um planejamento? Afi nal, a solução pode sair amanhã ou ano que vem, segundo o entre-vistado. O orçamento tem que prever isso (já previa para 2011?). O programa vai ter mais dinheiro? No fi m, dúvida que fi ca pro leitor é dúvida que tam-bém está no jornalista, o que não pode acontecer.
Por fi m, a evolução entre a primeira e a últi-ma edição da turma A do Campus mostra uma melhora signifi cativa. Humildade é qualidade es-sencial para o jornalismo. Os erros foram corri-gidos e é bom que ainda sobrem alguns. A pre-guiça é que deve ser eliminada. No fi m, parabéns pelos erros sinceros e pelos acertos honestos.
REFAZENDALucas Marchesini
OMBUDSMAN
EXPEDIENTE
ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE
Laura Chaer
Jaber de Oliveira, 55, militar
“Ele tem direito a se tratar como qual-quer outro, mas devia ser no SUS. Ele não melhorou os hospitais públicos e agora vai para o particular? Aí não.”
2 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 22 a 28 de novembro de 2011
“Ele pode estar onde tem condição de pagar. Não é porque ele foi presidente que é obrigado a se tratar no SUS.”
Rosa Gomes, 37, pastora
“Teria que ser tratado pelo SUS. A gente quer tratamento pela rede
pública e não tem, principalmente câncer. Ele devia estar junto com o
povo para ver como é.”
Marinete Araújo, 43, dona de casa
Termo sueco que significa “provedor de justiça”, o ombudsman discute a produção dos jornalistas
a partir da perspectiva do leitor.
Josué Pereira, 30, marmoreiro
POLÍTICA
O difícil acesso aos gastos do Governo do DF
Pedro Augusto Correia
CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 22 a 28 de novembro de 2011 3
Portal da Transparência complica a vida do cidadão que pretende analisar prestações de contas do Executivo. Confuso de navegar, site não possui ferramentas eficientes de pesquisa
O cidadão que quiser se aventurar como fiscal do Governo do Distri-to Federal (GDF) ficará frustrado.
Com sérios problemas de usabilidade e falta de conteúdo, o Portal da Transpa-rência do GDF dificulta o controle social dos gastos governamentais.
Em julho do ano passado, a ONG Con-tas Abertas divulgou relatório que apon-tava detalhadamente os erros do site. À época, o portal recebeu nota 4,8 e ficou apenas em 15º lugar, contando as 27 uni-dades da federação e o governo federal. O Portal da Transparência da União, que ficou em 1º lugar no ranking, recebeu nota 7,56. “Um bom portal precisa ter vasto conteúdo, atualização frequente, série histórica ampla e facilidade de na-vegação”, explica Gil Castelo Branco, di-retor do Contas Abertas.
Quase um ano e meio depois, a maior parte dos problemas permanece. Não é possível, por exemplo, pesquisar se um determinado CPF ou CNPJ recebeu di-nheiro do governo. A procura tem que ser feita em cada unidade orçamentária. Da mesma forma, não há como pesquisar o nome de uma pessoa para saber se ela é funcionária do GDF. Nesse caso, é ne-cessário verificar em cada órgão do go-verno até encontrar o objeto da pesquisa.
Essas duas dificuldades do site se tor-nam um entrave para quem tenta inves-tigar uma denúncia, já que o processo se torna excessivamente longo. “O uso
intensivo dos diversos portais de trans-parência governamental pela mídia é a mais clara demonstração da utilidade dessa ferramenta como um instrumen-to de controle da corrupção”, afirma Mário Vinícius Spinelli, secretário de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas da Controladoria-Geral da União (CGU).
A principal reclamação dos especialis-tas em análise de dados governamentais ainda não foi atendida: não é possível fa-zer download do banco de dados do site.
Além disso, não existe nenhum tipo de informação sobre convênios, contratos de repasse e termos de parceria.
A pequena quantidade de filtros de pesquisa é outro limitador para os visi-tantes do portal, que também não vão encontrar a descrição aprofundada dos gastos, o que poderia revelar detalhes
dos materiais comprados pela adminis-tração pública. E para quem quiser re-clamar de tudo isso ou simplesmente tirar uma dúvida, o site não disponibili-za telefone de contato ou uma seção de perguntas frequentes.
O GDF promete para dezembro um novo portal que poderia resolver a maior parte desses problemas. Uma das novida-des anunciadas é a possibilidade de fazer download de todos os dados. “O site vai ter uma linguagem mais acessível e fácil navegação”, afirma a subsecretária de Transparência, Cláudia Taya.
A secretária admite que há problemas na atual plataforma e revela que o novo modelo também precisará ser melhora-do. “O site não está adequado mesmo, mas estamos melhorando. Ainda vamos trazer novas ferramentas no ano que vem e queremos ouvir a sociedade para que ela diga o que gostaria de encontrar no nosso portal”, explica Cláudia Taya.
O presidente da Ordem dos Advoga-dos do Brasil no Distrito Federal (OAB--DF), Francisco Caputo, lembra que a transparência é um dever do Executivo, garantido na Constituição Federal pelo princípio da publicidade. “É assegurado ao cidadão o direito de saber absoluta-mente tudo que o GDF faz com o dinheiro arrecadado com os impostos. Qualquer governo que se diz democrático deve ter a transparência como princípio nortea-dor de suas ações”, afirma Caputo.
O que são dados abertos?Em um governo transparente, o conte-
údo das contas públicas é divulgado na internet tendo como base o conceito de dados abertos. Nesse modelo, as informa-ções governamentais são disponibilizadas em um formato que a sociedade possa reutilizá-las, misturá-las com outros da-dos e processá-las a fim de produzir no-vas informações e serviços. “Se antes o governo era o único agente a decidir o que, como e quando publicar informa-ções, agora o cidadão passa a ser o outro agente, que também pode publicar infor-mações e serviços de interesse público”, explica Vagner Diniz, membro do Instituto de Estudos de Tecnologias para Inovação na Gestão Pública.
Dois exemplos de aplicativos criados na internet são o Jogo da Vida do Proces-so Legislativo e o Vote na Web. O primeiro oferece informações não divulgadas pelos sites da Câmara dos Deputados e do Se-nado Federal, como, por exemplo, o tem-po que um projeto de lei está parado.
O outro permite que a sociedade se manifeste sobre processos em tramita-ção no Legislativo Federal e oferece uma visão que os congressistas não têm, isto é, a opinião dos eleitores. Além disso, é possível acessar um histórico de como os parlamentares votaram em cada projeto e comparar com a forma como os cidadãos se posicionaram.
O Brasil é um dos 46 países signatá-rios do Open Government Partnership, ou Parceria Governo Aberto. Segundo afirma Mário Vinícius Spinelli, a adoção de dados abertos, ponto principal do acordo assina-do pelo Brasil, é uma das diretrizes do go-verno para os próximos anos. “O proprie-tário da informação pública é o cidadão. Por isso, nós temos que fornecê-la em um formato que lhe permita usar da maneira que melhor entender.”
Para Gil Castelo Branco, o controle social sobre os gastos públicos no Brasil precisa amadurecer. O grande problema é a pequena quantidade de entidades que se dedicam à análise dos gastos gover-namentais, o que faz com que apenas le-vantamentos genéricos sejam feitos. “Se cada organização acompanhasse sempre um mesmo tema, a análise seria mais pro-funda”, resume.
O diretor da ONG Contas Abertas lem-bra que a disponibilidade do Estado em aumentar sua transparência ainda está muito aquém do desejável e não deve se resumir aos portais do Executivo.
“Qualquer governo que se diz democrático deve ter a transparência
como princípio norteador de suas ações”
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EDUCAÇÃO
6 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 22 a 28 de novembro de 2011
Nádia Mendes
Mariana Pizarro
Estudante protagonista da aprendizagem
Qual é o som que a girafa faz?
CURIOSIDADES
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Diferentemente do cachorro do vizinho que nunca para de latir, as girafas são animais tímidos e difi cilmente vocalizam, mesmo possuindo pregas vocais e todos os demais órgãos fonadores. A maior parte de seus ruídos são infrassons (ondas sonoras com frequência menor que 20 Hz), portanto inaudíveis ao ou-vido humano. De acordo com o biólogo Tiago Carpi, do Jardim Zoológico de Brasília, são três as situações em que é mais provável que elas produzam sons audíveis: em perigo extremo, durante a comunicação com os fi lhotes e no aca-salamento. Mesmo nessas ocasiões não é comum escutar a voz das pescoçudas. “Elas utilizam outras técnicas de sedução, se acariciando no namoro, e apro-veitam o tamanho para ter uma visão avantajada da savana e localizar o perigo antes das outras presas”, explica Carpi. Até na disputa por fêmeas e territórios esses mamíferos preferem resolver tudo no muque – ou, melhor, no pescoço – em uma briga exclusivamente física.
Embora silenciosas, as pescoçudas não são mudas e podem emitir grunhidos em ocasiões especiais
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Em crescimento vertiginoso no país, ensino superior a distância supera preconceitos e se fi rma como opção mais barata de formação. Democratização da tecnologia é fator essencial para o acesso
Na primeira década do século 21, o ensino superior a distância no Brasil cresceu de maneira consi-
derável. O Ministério da Educação (MEC) divulgou no último dia 7 censo que reve-la que o número de matrículas saltou de 5.359 em 2001 para 930.179 em 2010. A modalidade representa 14,6% do total de matrículas no ensino superior realizadas no ano passado.
No Distrito Federal, 27 faculdades e universidades com sedes em diferentes estados mantêm polos de apoio em que o aluno tem a tutoria presencial e a in-fraestrutura necessária para o bom an-damento do curso, bibliotecas e laborató-rios, por exemplo. É no polo, também, que acontecem as tele-aulas, pro-vas e avaliações de aprendizagem. No DF, existem 72 polos presen-ciais credencia-dos pelo MEC em diversas regiões administrativas. O diploma vale tanto quanto o de um curso presencial.
A maioria das atividades é feita pelos alunos quan-do estão sozinhos. Trabalhos e exercí-cios de verificação de aprendizagem são entregues na plataforma virtual e corrigidas pelos tutores de educa-
ção a distância. Coordenador acadêmico do polo de São Sebastião da Faculdade Anhanguera, Werley Bispo Coelho salien-ta a importância do autoestudo. “Quem estuda sozinho, se planeja, se organiza. O aluno faz o ensino, depende da dedicação de cada um. E é o mercado que seleciona.”
Em instituições privadas que oferecem essa modalidade, o preço da mensalidade é mais baixo do que o dos cursos presen-ciais. Somado a isso, o fato de não preci-sar ir à sala de aula todos os dias é fator que motiva estudantes a escolher cursar a distância uma faculdade. Fabiana Fernan-des da Silva se formou há um ano em Ad-ministração e trabalha na área. “Escolhi o ensino a distância por causa do preço e
da facilidade de acesso. Só tinha aula duas vezes na semana, nos outros dias estu-dava sozinha.”
Escolhe fazer essa modalidade de ensino, princi-palmente, quem não teve condi-ções de começar uma graduação logo que ter-minou o ensino médio. É o caso de Maria Eunice de Araujo Silva, que trabalhou a vida toda como faxineira e re-solveu, em 2009, investir em um curso superior
em Administração: “Como eu trabalhava de segunda a sábado, ter aulas dois dias na semana era o ideal. E a mensalidade cabia no meu orçamento”. No começo deste ano, ela começou dois estágios na área e parou de fazer faxina: “Minha vida melhorou muito. E o que eu aprendo no estágio me ajuda na faculdade. Acredito que quando eu me formar não terei difi-culdade em arrumar emprego, já que es-tou tendo experiência na área e faço cur-sos para complementar”.
CONEXÃO NECESSÁRIANo último ano, o ensino a distância teve
quase 100 mil matrículas a mais que em 2009. Apesar de estar em ascensão, esse sistema ainda apresenta dificuldades. A professora da Faculdade de Educação da UnB Leda Fiorentini destaca alguns pontos que ainda precisam ser superados. “O tu-tor a distância desencadeia a relação entre aluno e o conteúdo ministrado pelo pro-fessor da disciplina. Ele deve ter a mesma formação do professor, o que não acontece muitas vezes. O papel do tutor é essencial, é ele que dá o retorno e que faz o acompa-nhamento do desempenho do aluno.”
Leda, especialista em didática e tec-
Na primeira quinzena de julho de 1995 o Campus falou sobre um projeto de tele-educação que levaria TV educativa às esco-las públicas do Plano Piloto, por meio de um canal interativo. Os programas seriam distribuídos nas escolas e os alunos po-deriam ligar para os professores para tirar dúvidas. O projeto previa que até o ano 2000, quando seria a fase final, 500 escolas teriam acesso às aulas. Se tudo desse certo, seria possível inte-ração total entre alunos e professores, que poderiam conversar através do vídeo e fazer teleconferências.
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nologias, ressalta que ainda é preciso evoluir no conhecimento das ferramentas utilizadas no processo do ensino a distân-cia. “Professores, tutores, alunos e gesto-res precisam superar as dificuldades no manuseio da tecnologia. Ela deve ajudar e não ser um obstáculo na aprendizagem. Para uma melhoria na qualidade do ensino a distância é preciso superar o modelo da transmissão de conhecimento. O estudan-te deve construir o próprio conhecimento por meio da informação oferecida pelo professor. É uma responsabilidade muito grande do aluno.”
Alguns conselhos de classe, como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e o Conselho Federal de Bio-logia (CFBio) não são favoráveis à gra-duação a distância. O CFBio impediu o registro profissional até 2010 e o CFESS promoveu, este ano, uma campanha na internet comparando os cursos com ali-mentação fast-food. A Justiça Federal suspendeu as duas ações. A conselhei-ra em recursos humanos Rita Brum, da Rhaiz Consultoria, afirma que no mer-cado essa distinção não aparece. “Ne-nhuma empresa recusa graduados nessa modalidade”, garante.
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Maria Eunice aproveita o tempo livre para fazer as ativi-dades no ambiente virtual
EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE
João Paulo Mariano
O que será que existe depois da CEU?Com a Casa do Estudante em reforma, universitários se viram com as alternativas oferecidas pela UnB. Há quem prefira morar fora do campus, mesmo com problemas no transporte e eventuais atrasos do auxílio financeiro
CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 22 a 28 de novembro de 2011 7
A retirada dos moradores da Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade de Brasília
(UnB) no início deste ano foi contur-bada. Teve embates entre alunos que não tinham para onde ir e a Universi-dade, que propôs resoluções que não agradaram parte dos universitários. Depois das primeiras complicações, 463 estudantes passaram a morar em apartamentos do Plano Piloto e alguns em regiões administrativas. A mudan-ça gerou diferenças: para uns está melhor, mas para outros nem tanto.
A construção de 1972 tinha capa-cidade para abrigar 368 estudantes e recebia um número variado de alunos por semestre. Eles eram encaminhados pela Diretoria de Desenvolvimento So-cial (DDS), que é a responsável na Uni-versidade por esses processos. A quan-tidade de alunos que entra por semestre é incerta, mas há estudantes que per-manecem na CEU de forma “ilegal” até a finalização do processo de moradia.
“Morar na Asa Norte é melhor do que na CEU devido a ônibus e super-mercado. Lá era muito difícil nisso”, conta a diamantinense Gleysiele Bar-bosa, do 3º semestre da Física. Atual-mente, ela mora em um apartamento de três quartos, sala, cozinha e dois banheiros, na 406 Norte. A universi-tária divide o apartamento – alugado diretamente pela Fundação Universi-dade de Brasília (FUB) – com mais três
colegas e se considera sortuda por ter ficado em um apartamento bom. Ela fez parte do movimento “Fica CEU”, que reivindicava a permanência no pré-dio dos estudantes para a garantia de direitos aos que saíam do local e tam-bém melhorias à assistência estudantil.
“Eu prefiro mil vezes a CEU do que o apartamento. O clima é diferente”, diz a colega de república de Gleysiele, Alline Diógenes, do 3º semestre de Engenha-ria Florestal. “A gente aqui é mal vis-to. Nos sentimos inferiores”, completa.
Aurílio Cordeiro era morador da ci-dade goiana de Ipameri, conseguiu o auxílio em outubro deste ano. E recebe os R$ 510 por mês. “Para a Asa Norte, é bem pouca essa quantia, mas no Gua-rá dá. É mais barato”, afirma o ipame-rense que cursa Engenharia Florestal e paga um aluguel de R$ 455, incluídos condomínio, luz e gás. “O chato do Gua-rá é que tem pouco ônibus da UnB para lá, principalmente à tarde. E, ainda, demora muito pra chegar”, completa.
O aluno Hailton Martins, que veio de Campos Belos (GO) e está no 8º semestre de Química, divide um apartamento em Águas Claras com mais quatro amigos. Os gastos com o aluguel vão de R$ 1,7 mil a R$ 1,8 mil. “É um lugar bom. É mais bara-to e em conta, mas sinto falta da CEU. Era uma comunidade. Era mais cômodo”, diz.
COMO FICOU A MORADIAOs estudantes que saíram da CEU têm
direito a mo-radia de duas formas. A pri-meira, em um local alugado di-retamente pela FUB. A Univer-sidade arca com as necessida-des de reparo da casa e com água. O resto é por conta do locatário. A se-gunda opção é receber R$ 510 na conta bancá-ria e alugar por conta própria. Nos dois casos, os estudantes recebem bolsa-
-permanente de R$ 465 e vale-alimenta-ção de R$ 15 nos domingos, feriados e em dias da semana em que não tenham aula.
São 32 estudantes morando em apar-tamentos alugados pela FUB, 415 rece-bendo R$ 510 – dos três campi – e 16 na Casa do Estudante alugada pela UnB para alunos de Planaltina. Segundo a di-retora do DDS, Maria Tereza Cristina, o aluno é livre para escolher onde morar. “Nós respeitamos o aluno nesse sentido. Ele alugará o que melhor atender as de-mandas dele”, afirma Maria Tereza.
Os calouros não têm direito a assis-tência estudantil até estarem com toda documentação acertada com o DDS. Isso acaba fazendo com que estudantes, como Paulo Bastos do 1º semestre do curso de Gestão de Agronegócio, passem por problemas para encontrar moradia. Segundo ele, a burocracia demorou três meses e, durante esse tempo, ele morou de aluguel em Samambaia com o dinhei-ro de um empréstimo que a mãe fez. “Quando consegui me mudar, o dinheiro e o tempo que eu poderia ficar no local haviam acabado. Isso só aconteceu por volta do dia 7 de outubro”, afirma o paraense Paulo, que está morando em um apartamento alugado pela FUB na 416 Norte.
TRANSTORNOS DO ATRASO“A bolsa não tem dia certo para cair.
Antes era até o dia 13, depois todo dia 22, agora até o quinto dia útil. A gente nunca sabe se cairá. Fica difícil contar com esse dinheiro”, afirma Alexandre de Oliveira, estudante do 3º semestre de Química. Alline Diógenes afirma que já teve vários problemas burocráticos: “Fiz nove mudanças desde fevereiro e resolver as coisas no DDS é complica-do. Sempre dá algum problema na mi-nha bolsa. Ou é o numero da conta ou o CPF”. Algumas mudanças ocorreram por incompatibilidade com colegas de quarto e outras, por problemas mais graves, como falta de segurança.
A diretora Maria Tereza garante que o pagamento é feito sempre até o quinto dia útil do mês. Ela desconhece atrasos desde março. “Se houver algum proble-ma no pagamento, é pontual e o estu-dante pode nos procurar para resolver o problema. Se for erro institucional, nós pagamos qualquer multa referente a atrasos no aluguel, mas se for por causa de falta de algum documento do aluno, nós não podemos fazer nada.”
Sobre o valor pago por estudante para o aluguel de imóvel, a diretora diz que houve um levantamento do preço do aluguel feito pela diretoria e por representantes da Associação dos Moradores da CEU (AMCEU) nas qua-dras 202 a 210 Norte e nas 402 a 410 Norte. “Achamos o preço médio de R$ 450 e resolvemos aumentar para R$ 510”, complementa a diretora.
Conversar com os estudantes a res-peito da situação em que eles estão foi surpreendente. Parecia, que mes-mo depois de inúmeras matérias nos mais diversos jornais, ainda ninguém lhes tinha perguntado sobre como ti-nha sido a correria para sair da CEU e como se viraram para arranjar um local. Os que se disponibilizaram a falar comigo não se importaram em contar as dificuldades: Eles desabafa-ram. Porém, foi perceptível que ainda acontecerão muitos enfrentamentos até a reforma da Casa do Estudante.
Vitor, Alline, Gleysiele e Alexandre dividem apartamento alugado pela FUB na 406 Norte: nem todos preferem a nova situação de moradia
Fotos: Mariana Pizarro
Reforma da CEU começa no próximo mês e está prevista para terminar em um ano
POR TRÁS DAREPORTAGEM
PERFIL: Seu Pereira
“Não tenho medo da morte (...)
porque ela existe”
8 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 22 a 28 de novembro de 2011
M e M ó r i a v i v ad e u M p a í s
Da pequena cidade sergipana de Pro-priá até a capital da República, João Pereira do Santos guarda mais me-
mórias do que consegue suportar o espaço oferecido nesta página. Com 97 anos, o Seu Pereira é considerado por amigos e familia-res como uma “enciclopédia viva”. O amigo Epitácio Durão Filho resume: “Muitos jovens não têm essa inteligência e memória, é in-vejável, ele tem um computador na cabeça”.
Tantas memórias podem ser conferidas na área privativa do Ministério da Justiça (MJ). É no balcão de entrada que Seu Pereira aguarda ami-gos importantes, diplomatas, deputados, senadores. Ele os recebe e até dá conselhos. Ao chegar na pequena sala de café destinada aos funcionários, Seu Pereira me cumprimenta, em japonês, com um elogio sutil quebrando o gelo de imediato. Se fala japonês? “Não, eu só acho bonito”, responde. Mas o assunto que Seu Pereira domina é história e geografia do Brasil. Vaidoso, me critica quando eu digo que não sei a quantidade de municípios que existem em Mi-nas Gerais, minha terra natal. “Se você quer ver o colosso do mundo, visite os 27 estados brasi-leiros que encontrará. Deus nasceu no Brasil.”
A história do país com Seu Pereira come-çou em 1914. A vida o colocou sempre muito perto dos principais acontecimentos sociais e políticos brasileiros. Criado com seis irmãos pela mãe solteira, o ingresso no Exército que possibilitou uma situação melhor para toda a família. Após ser transferido para Niterói, a mando do general Eurico Gaspar Dutra, foi selecionado para trabalhar na subdiretoria de cavalaria. Aproximou-se da família Vargas, tra-balhou na Central do Brasil e, em 1947, conse-
Dandara Lima
guiu um cargo na Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro. Foi condecorado com o Mérito Getúlio Vargas e, dez dias depois da inaugura-ção de Brasília, transferido para o Planalto Cen-tral. Em Brasília, Seu Pereira criou e viu crescer os quatro filhos, voltou a estudar, casou-se pela segunda vez e se aposentou, em 1968.
No entanto, não conseguiu ficar parado: “A minha mulher me disse ‘você não diz que co-nhece tanta gente importante? Então vai arru-mar um emprego’”. Um dos filhos, João Dino, adianta que o trabalho talvez seja o maior segredo da longevidade do pai. Em 1977, em
plena ditadura militar, Seu Pe-reira foi convidado para traba-lhar na portaria privativa do MJ, então sob o comando de Armando Falcão, conhecido por sancionar a Lei de Segurança Nacional que pôs fim à pena de morte e prisão perpétua. Pelas contas de Seu Pereira,
desde que chegou ao ministério, 26 ministros passaram pelo local. Se houve um preferido? Ele desconversa. “Mas o Tarso Genro possibili-tou que eu conhecesse um dos grandes presi-dentes desse país, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi ele que projetou o meu Brasil para o mundo.”
De acordo com Seu Pereira, o país já deveria fazer parte do primeiro mundo há mais de 300 anos e isso só não aconteceu porque o povo brasileiro lê pouco e falta honestidade à maio-ria dos políticos. “Se o dinheiro não fosse des-viado, nossos profissionais ganhariam melhor. Eu, por exemplo, dirijo um Mercedes. Mas isso porque eu guardei e comprei com o meu di-nheiro, nunca tive que tirar nada de ninguém.” O sergipano tem uma biblioteca particular de 500 livros. João Dino ressalta que a paixão que Seu Pereira tem pela leitura é inexplicável e
vem de longa data. “Ele tem a quarta série pri-mária, mas desde muito cedo explicava que, se nós quiséssemos ser alguém na vida, devería-mos estudar. Até hoje ele lê mais do que eu.”
VIVER É MUITO PERIGOSOMas o trabalho e a leitura não são os úni-
cos combustíveis que mantêm Seu Pereira na estrada. Antes de sentar à minha frente, me entrega vários papéis, fotos do aniversário de 97 anos e um que estava dobrado dentro do bolso, com o nome, a trajetória e o sucesso de cada um dos quatro filhos. “Todos muito inteligentes.” O que é comemorado pelo filho João Dino: “Quem tem um pai como eu te-nho, tem a obrigação de buscar o sucesso”. Já quanto à esposa, Dona Teresinha, com quem é casado há mais de 30 anos, João Batista, co-lega no MJ, explica que, “para ela, ele é Deus. Às vezes ele chega chateado dizendo que ela o tratou como um menino. É uma graça”.
Ele nunca fumou, bebeu, usou drogas, ba-teu o carro ou quebrou um osso. “O ‘cuida-do’”, diz, categórico, “é o maior segredo para a longevidade”. Fora isso, exercícios muscu-lares diariamente, mastigação e alimentação saudáveis. “E amamentação. Todos os meus irmãos viveram mais de oitenta anos porque foram amamentados até os dois anos de ida-de.” Quando lhe pergunto se tem medo da morte, diz que não. Depois de um breve silên-cio, “porque ela existe”.
Da esquerda para a direita1 – Seu Pereira e o possante. 2 – Junto com os amigos de trabalho, João e Epitácio. 3 – Na missa de come-moração dos 97 anos, com a mulher, Dona Terezinha. 4 – Na sala de café, Seu Pereira sorri ao se lembrar de tantas histórias. 5 – Com o filho Mário Jorge.
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