Canto do Sabiá 2a edição (capa)

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Este livro não possui um formato uniforme, e nem é sua pretensão. Nele não se encontrará uma linha mestra teórica ou uma homogenei- dade interpretativa dada por algum ponto de vista. Pelo contrário, esta obra coletiva se pretende heterogênea, tal como o universo aqui analisado. O único elemento a articular as contribuições deste livro, a existência dos povos indígenas no Ceará, organiza os diferentes textos aqui presentes na forma de um caleidoscópio, onde a cada mudança no girar do objeto, as configurações visí- veis se alteram. Assim é que os diferentes artigos, ensaios e depoimentos aqui reunidos podem ser lidos. Cada um em relação múltipla com todos os outros. Se iniciarmos nossas leituras pelos textos dos historiado- res, veremos uma interação conflituosa e dinâmica cons- tante entre os indígenas e o Estado, quer seja ele colo- nial, imperial ou republicano. Se prestarmos atenção nas narrativas contidas na seção dos depoimentos poderemos perceber “uma frágil força messiânica” a estimular o Os quatorze artigos que ora se contemplam, juntos aos depoimentos e ao ensaio fotográfico, reportam a uma diversidade de povos, temas e nuanças da história e da vida cotidiana dos mesmos. Temas como as retomadas, índios urbanos, perambula- ções, pajelanças e escolas indígenas lançam inquie- tantes reflexões, ao lado de temas já consagrados e que agora são investigados no Ceará, tais que os processos de etnicização, núcleos familiares, prá- ticas culturais e museológicas. Ademais inovado- res estudos históricos que desvelam as ações polí- ticas das populações nativas nos seus encontros e confrontos com os conquistadores. Esse conjunto traz um rico material etnográfico e historiográfico afinado com as mais modernas teorias da histó- ria e da antropologia. Depois desta coletânea, que não se escute mais que não há índios no Ceará. Isabelle Braz Peixoto da Silva NA MATA DO SABIÁ Contribuições sobre a presença indígena no Ceará ORGANIZAÇÃO Estêvão Martins Palitot ORGANIZAÇÃO Estêvão Martins Palitot NA MATA DO SABIÁ Contribuições sobre a presença indígena no Ceará exercício narrativo indígena atualizado sob a mediação de agências missionárias. Ao nos aproximarmos dos textos mais etnográficos, teremos um quadro complexo onde a luta pela afirmação identi- tária e territorial rearticula as dimensões do cotidiano desses povos, reescrevendo suas histórias em função da afirmação de uma cidadania diferenciada, garantida a duras penas. O objetivo do livro, portanto, é apresentar um instantâneo da situação indígena no Ceará. Como uma fotografia tirada de algo em movimento, obviamente, terá algumas margens bor- radas e pontos desfocados. Aqui, indígenas e missioná- rios, graduandos e doutores, apresentam seus pontos de vista sobre essa realidade multifacetada. O que contou como critério para a seleção dos textos foi em grande parte o ineditismo, seja de pontos de vista, seja de te- mas e grupos abordados. Agora, convido os leitores a se acercarem da nossa foto- grafia, borrada, mas de um colorido intenso. Estêvão Martins Palitot 2 a Edição

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Page 1: Canto do Sabiá 2a edição (capa)

Este livro não possui um

formato uniforme, e nem é

sua pretensão. Nele não se

encontrará uma linha mestra

teórica ou uma homogenei-

dade interpretativa dada por

algum ponto de vista. Pelo

contrário, esta obra coletiva

se pretende heterogênea,

tal como o universo aqui

analisado. O único elemento

a articular as contribuições

deste livro, a existência dos

povos indígenas no Ceará,

organiza os diferentes textos

aqui presentes na forma de

um caleidoscópio, onde a

cada mudança no girar do

objeto, as configurações visí-

veis se alteram. Assim é que

os diferentes artigos, ensaios

e depoimentos aqui reunidos

podem ser lidos. Cada um

em relação múltipla com

todos os outros.

Se iniciarmos nossas leituras

pelos textos dos historiado-

res, veremos uma interação

conflituosa e dinâmica cons-

tante entre os indígenas e o

Estado, quer seja ele colo-

nial, imperial ou republicano.

Se prestarmos atenção nas

narrativas contidas na seção

dos depoimentos poderemos

perceber “uma frágil força

messiânica” a estimular o

Os quatorze artigos que ora se contemplam, juntos

aos depoimentos e ao ensaio fotográfico, reportam

a uma diversidade de povos, temas e nuanças da

história e da vida cotidiana dos mesmos. Temas

como as retomadas, índios urbanos, perambula-

ções, pajelanças e escolas indígenas lançam inquie-

tantes reflexões, ao lado de temas já consagrados

e que agora são investigados no Ceará, tais que os

processos de etnicização, núcleos familiares, prá-

ticas culturais e museológicas. Ademais inovado-

res estudos históricos que desvelam as ações polí-

ticas das populações nativas nos seus encontros e

confrontos com os conquistadores. Esse conjunto

traz um rico material etnográfico e historiográfico

afinado com as mais modernas teorias da histó-

ria e da antropologia. Depois desta coletânea, que

não se escute mais que não há índios no Ceará.

Isabelle Braz Peixoto da Silva

NA

MATA

DO

SABIÁ

Contribuições sobre a presença indígena no Ceará

ORG

AN

IZAÇÃ

OEstêvão M

artins Palitot

ORGANIZAÇÃOEstêvão Martins Palitot

NA MATA DO SABIÁContribuições sobre a presença indígena no Ceará

exercício narrativo indígena

atualizado sob a mediação

de agências missionárias. Ao

nos aproximarmos dos textos

mais etnográficos, teremos

um quadro complexo onde

a luta pela afirmação identi-

tária e territorial rearticula

as dimensões do cotidiano

desses povos, reescrevendo

suas histórias em função da

afirmação de uma cidadania

diferenciada, garantida a

duras penas. O objetivo do

livro, portanto, é apresentar

um instantâneo da situação

indígena no Ceará. Como

uma fotografia tirada de algo

em movimento, obviamente,

terá algumas margens bor-

radas e pontos desfocados.

Aqui, indígenas e missioná-

rios, graduandos e doutores,

apresentam seus pontos de

vista sobre essa realidade

multifacetada. O que contou

como critério para a seleção

dos textos foi em grande

parte o ineditismo, seja de

pontos de vista, seja de te-

mas e grupos abordados.

Agora, convido os leitores a

se acercarem da nossa foto-

grafia, borrada, mas de um

colorido intenso.

Estêvão Martins Palitot2a Edição