CAP_24_-_INDUSTRIALIZAÇÃO_BRASILEIRA_I

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INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA I

A estrutura industrial brasileiraPara entendermos como o Brasil chegou a seu atual estágio industrial e conjuntura econômica, temos de

conhecer um pouco do contexto histórico do processo de industrialização do país. Em 1919, as fábricas de tecidos, roupas, alimentos, bebidas e fumo eram responsáveis por 70% da produção

industrial brasileira. Em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, essa porcentagem havia se reduzido para 58% por causa do aumento da participação de outros produtos, como aço, máquinas e material elétrico, mas a industrialização brasileira ainda contava, predominantemente, com a instalação de indústrias de bens de consumo não-duráveis e investimentos de capital privado nacional.

Em 1942, teve início um período de investimentos estatais em indústrias de base e nos setores de infra-estrutura, como energia e transportes. Com a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (1956-60), concretizada em seu Plano de Metas, instalaram-se no país filiais de indústrias multinacionais de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Todas essas fases fizeram parte de uma política de substituição de importações que perdurou até o começo da década de 1970,

A associação de capitais privados, nacionais e estrangeiros, com investimentos estatais levou à formação, no Brasil, de um parque industrial complexo nos setores de bens de consumo, de produção e de capital. Contudo o volume de produtos fabricados nas indústrias de bens de capital e de produção é, até os dias de hoje, insuficiente para abastecer as necessidades de nosso parque industrial. Conseqüentemente, ainda é preciso importar máquinas, equipamentos e alguns produtos siderúrgicos especiais não fabricados no país.

Atualmente, a atividade industrial é responsável por cerca de 25% do PIB brasileiro. Os setores predominantes são as indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, mecânicas, elétricas, química e petroquímica, de veículos, de alimentos e bebidas, têxteis, de confecções, de calçados, de papel e de celulose. Em conjunto, esses setores são responsáveis por mais de 80% do produto industrial do país. Porém vem crescendo bastante o investimento em indústrias ligadas às novas tecnologias, como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicações, mecânica de precisão e biotecnologia. Por exemplo, segundo a Pesquisa Industrial Anual do IBGE, entre 1998 e 2001, os telefones celulares passaram da 138ª para a 10ª posição dos produtos industrializados brasileiros vendidos no mercado interno e da 86ª para a 12ª posição no mercado externo. De acordo com essa pesquisa, os aviões produzidos pela Embraer foram o principal produto de exportação, ficando com a 20ª posição no valor das vendas internas.

Entre os aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira, podemos destacar o grande potencial de expansão no mercado interno (caso ele se fortaleça por meio de uma política de distribuição de renda), os aumentos nos volumes absoluto e relativo nas exportações de produtos industrializados, o aumento na produtividade, a melhora da qualidade dos produtos e uma maior dispersão espacial dos estabelecimentos industriais em regiões historicamente marginalizadas. A redução relativa da participação do Sudeste e o aumento das demais regiões no valor da produção industrial.

Porém a indústria ainda enfrenta vários problemas que aumentam os custos e dificultam uma maior participação no mercado externo: deficiências e altos preços nos transportes, baixos investimentos públicos e privados em desenvolvimento tecnológico, baixa qualificação da força de trabalho e barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas por outros países à importação de produtos brasileiros.

A abertura da economia brasileira na década de 1990 facilitou a entrada de muitos produtos importados, forçando as empresas nacionais a se modernizarem e a incorporarem novas tecnologias ao processo produtivo para concorrerem com as empresas estrangeiras. Assim, embora a produção industrial tenha crescido 24,8% no período 1994-2002 (segundo o Anuário Estatístico do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), reduziu-se a necessidade de mão-de-obra nas fábricas, favorecendo o desemprego estrutural.

Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infra-estrutura de energia e transportes, entre outros, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando.

Distribuição espacial da indústria brasileiraEmbora desde o início do século XX o eixo São Paulo-Rio de Janeiro fosse responsável por mais de metade do

valor da produção industrial brasileira, até a década de 1930 a organização espacial das atividades econômicas era dispersa. As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase totalmente autônoma. A região Sudeste, onde se desenvolvia o ciclo do café, quase não interferia ou sofria interferência das atividades econômicas que se desenvolviam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou no Sul (carne, indústria têxtil e pequenas agroindústrias de origem familiar). As indústrias de bens de consumo, a maioria ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam a maior parte da sua produção apenas em escala regional. Somente um pequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição entre as indústrias instaladas nas diferentes regiões do país, consideradas até então arquipélagos econômicos regionais.

Com a crise do café e o início da industrialização, comandada pelo Sudeste, esse quadro se alterou. A oligarquia

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agrária do setor cafeeiro deslocou investimentos para o setor industrial, implantando, principalmente em São Paulo, fábricas modernas para os padrões da época. O governo federal, presidido por Getúlio Vargas, promoveu a instalação de um sistema de transportes integrando os arquipélagos econômicos regionais. Houve uma invasão de produtos industriais do Sudeste nas demais regiões do país, o que levou muitas indústrias, principalmente nordesti-nas, à falência. Assim, com a crise do café, iniciou-se o processo de integração dos mercados regionais, comandado pelo centro econômico mais dinâmico do país, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro.

Além de terem se iniciado com mais força no Sudeste, as atividades industriais tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois fatores básicos: a complementaridade industrial as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às automobilísticas, as petroquímicas, próximo às refinarias etc. - e a concentração de investimentos públicos no setor de infra-estrutura industrial - pressionados pelos detentores do poder econômico, os governantes costumam atender às suas reivindicações. O governo gastaria menos concentrando investimentos em determinada região em vez de espalhá-los pelo território nacional, sobretudo no início do processo de industrialização, quando os recursos eram mais escassos.

Essa concentração das atividades econômicas perdurou até o final da década de 1970 e início da seguinte, quando começaram a ser inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste - Tucuruí, no Rio Tocantins; Sobradinho, no Rio São Francisco; Boa Esperança, no Rio Parnaíba. Quando o governo passou a atender ao menos parte das necessidades de infra-estrutura das regiões historicamente marginalizadas, começou a haver um processo de dispersão do parque industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas regional.

Além da alocação de infra-estrutura, ao longo da década de 1990, as indústrias passaram a se dispersar em busca de mão-de-obra barata e politicamente desorganizada, provocando a intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem impostos e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas.

Mesmo no estado de São Paulo, o mais equipado do país quanto à infra-estrutura de energia e de transportes, historicamente houve maior concentração de indústrias na Região Metropolitana de São Paulo.

Atualmente, seguindo uma tendência já verificada nos países desenvolvidos, ocorre um processo de deslocamento das indústrias em direção às cidades médias do interior, que apresentam índices de crescimento econômico superiores aos da Grande São Paulo. Isso é possível graças ao grande desenvolvimento e à modernização da infra-estrutura de produção de energia, de transportes, de comunicações e de informatização, criando condições de especialização produtiva por intermédio da integração regional. As regiões tendem, atualmente, a se especializar em poucos setores da atividade econômica e a buscar em outros mercados (do Brasil ou do exterior) as mercadorias que satisfaçam as necessidades diárias de consumo da população.

Atividades1- Explique os recentes processos de concentração e dispersão do parque industrial brasileiro e paulista.2- Qual a influência do ciclo do café no processo de industrialização brasileiro?