capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

253

Transcript of capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Page 1: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

capa 15x21 orelha 5x21

Page 2: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

capa 15x21 orelha 5x21

Page 3: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

1Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

1ª EdiçãoBotucatu, SP1972 - 2012

Page 4: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras2

Organização:Revisão

CapaDiagramação e impressão

Apoio

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasCarmem Lúcia Ebúrneo da SilvaProfessores: José Celso VieiraCarmen Sílvia Martin GuimarãesCarmem Lúcia Ebúrneo da SilvaAntônio Evaldo KlarCláudia Bassetto / Paula ÂngeloDiagrama Gráfica e Editora

Prefeitura Municipal de BotucatuSÉTIMA DIRETORIA - Período 2011 a 2013PRESIDENTE PERPÉTUO .................... Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE EMÉRITO ....................... José Celso Soares VieiraPRESIDENTE.......................................... Antônio Evaldo Klar1º VICE-PRESIDENTE ........................... Carmen Sílvia Martin Guimarães2º VICE- PRESIDENTE .......................... Maria Helena Blasi Trevisani1ª SECRETÁRIA ..................................... Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva 2ª SECRETÁRIA................... .................. Maria da Glória Guimarães Dinucci Venditto1ª TESOUREIRA ..................................... José Sebastião Pires Mendes2º TESOUREIRO .................................... Márcia Furrier Guedelha Blasi1ª BIBLIOTECÁRIA ............................... Maria Amélia Blasi de Toledo Piza2ª BIBLIOTECÁRIA ............................... Leda Galvão de Avellar Pires FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO – SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - UNESP - FCA - LAGEADO - BOTUCATU (SP) C694 Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras : 1972-2012 / Organização: Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva ; revisão: José Celso Vieira, Carmen Sílvia Martin Guimarães, Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva ; prefácio: Antonio Evaldo Klar. – Botucatu : ABL, 2012 249 p. : il., retrs. Inclui bibliografia ISBN 978-85-67008-00-4 1. Academia Botucatuense de Letras - História. 2. Academia Botucatuense de Letras – Aniversários, etc. 3. Botucatu (SP) – História. 4. Academia Botucatuense de Letras – Poesia. 5. Escritores brasileiros – Biografia. 6. Instituições e sociedades culturais. I. Silva, Carmem Lúcia Ebúrneo da. II. Vieira, José Celso. III. Guimarães, Carmen Sílvia Martin. IV. Klar, Antonio Evaldo. CDD 23.ed. (068.8161)

Page 5: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

3Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasSUMÁRIO

Prefácio ............................................................................................................................ 05Apreciações ...................................................................................................................... 09Apresentação ................................................................................................................... 11Aécio de Souza Salvador .................................................................................................. 13 Aleixo Delmanto ................................................................................................................ 16Álvaro José de Souza ........................................................................................................ 20Antonio Evaldo Klar .......................................................................................................... 23Antonio Gabriel Marão ...................................................................................................... 27 Antonio Maria Mucciolo .................................................................................................... 29 Antonio Oscar Guimarães ................................................................................................. 31Antonio Pires de Campos ................................................................................................. 33Antonio Tílio Júnior............................................................................................................ 40Arlete Bravo Nogueira ...................................................................................................... 43Armando Jesus Barbieri .................................................................................................... 46Armando Moraes Delmanto .............................................................................................. 49Arnaldo Moreira Reis ........................................................................................................ 52Bahige Fadel ..................................................................................................................... 55Benedicto Vinício Aloise .................................................................................................... 57Carlos Antônio de Rosa .................................................................................................... 61Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva ....................................................................................... 64Carmen Sílvia Martin Guimarães ....................................................................................... 67Celina Simionato Chamma ................................................................................................. 70Cláudia Basseto Jesuíno ................................................................................................... 72Dinorah Silva Alvarez ........................................................................................................ 75Domingos Alves Meira ...................................................................................................... 77Domingos Scarpelini ......................................................................................................... 80Edson Geraldo Luis Lopes ................................................................................................ 83Elda Moscogliato .............................................................................................................. 85Eugênio Monteferrante Neto ............................................................................................ 88Evanil Pires de Campos .................................................................................................... 94Francisco Guedelha .......................................................................................................... 97Francisco Habermann ...................................................................................................... 99Francisco Marins............................................................................................................. 102Hernâni Donato .............................................................................................................. 108Hugo de Avellar Pires ..................................................................................................... 112Ignácio Loyola Vieira Novelli ........................................................................................... 115João Carlos Figueiroa ..................................................................................................... 118

Page 6: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras4Joel Spadaro ................................................................................................................... 122José Ângelo Potiens ........................................................................................................ 124José Antonio Sartori ....................................................................................................... 127José Celso Soares Vieira ................................................................................................. 134José Pedretti Neto .......................................................................................................... 136José Sebastião Pires Mendes ......................................................................................... 139Laurival Antônio de Lucca .............................................................................................. 142Leda Galvão de Avellar Pires .......................................................................................... 144Luiz Peres ....................................................................................................................... 147Márcia Furrier Guedelha Blasi ........................................................................................ 151Marcos Luciano Corsatto ................................................................................................ 154Maria Amélia Blasi de Toledo Piza .................................................................................. 159Maria Anna Moscogliato ................................................................................................. 162Maria da Glória Guimarães Dinucci Venditto ................................................................... 165Maria Helena Blasi Trevisani........................................................................................... 168Maria José Del Papa Zacharias ....................................................................................... 173Maria Lúcia Dal Farra ..................................................................................................... 176Milton Marianno .............................................................................................................. 178Mozart de Morais ........................................................................................................... 181Newton Colenci ............................................................................................................... 185Olavo Pinheiro Godoy ..................................................................................................... 187Olívio Stersa.................................................................................................................... 190Omar Abujamra Júnior .................................................................................................... 193Osmar Delmanto ............................................................................................................. 196Oswaldo Minicucci ........................................................................................................... 199Raymundo Marcolino da Luz Cintra ................................................................................ 202Rosa Aparecida Innocenti Dinhane ................................................................................. 204Rosa Nepomuceno ......................................................................................................... 208Rubens Rodrigues Torres ............................................................................................... 209Ruth Mariano .................................................................................................................. 213Sebastião da Rocha Lima ............................................................................................... 216Sebastião de Almeida Pinto ............................................................................................ 220Trajano Pupo Júnior ........................................................................................................ 223Valdir Gonzalez Paixão Júnior ......................................................................................... 225Vanice de Andrade Camargo Alves ................................................................................. 228Vicente Marchetti Zioni ................................................................................................... 232Posfácio .......................................................................................................................... 237Diretoria da ABL ............................................................................................................. 239Cadeiras e Acadêmicos Efetivos, Honorários e Correspondentes da ABL .....................243

Page 7: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

5Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

PREFÁCIOAntonio Evaldo Klar

QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRASNo dia 10 de agosto de 2012, na Câmara Municipal de Botucatu, foi realizada a cerimônia de abertura das comemorações dos quarenta anos de fundação da Academia Botucatuense de Letras. Foi um evento marcante, com presença de autoridades, coral, concessão de honrarias, mostrando a proe-minência que tem pautado a entidade neste e nos anos passados, realçando o respeito merecido por todos, o que nos conduziu a pesquisar a ABL desde seus primórdios históricos.A primeira tentativa de fundação de uma Academia de Letras ocorreu em 1936, quando o Dr. Homero Vaz do Amaral fez a proposta a professores e intelectuais de então. A ideia não prosperou. Na década de 60, houve nova tentativa e, de novo, o sonho emudeceu. Mas, em 1972, o Dr. Antonio Gabriel Marão, Juiz da Comarca de Botucatu, sempre conectado às letras, lançou novamente a ideia, e a ABL foi fundada no dia 09 de julho daquele ano, data alusiva à Revolução de 1932. A entidade logo se sedimentou com intelec-tuais como Francisco Marins, Hernâni Donato, Elda Moscogliato, Oswaldo Minicucci e outros, como os que hoje abrilhantam suas hostes acadêmicas e a tornou imprescindível aos mais diferentes segmentos de nossa sociedade.Empossados durante as comemorações do trigésimo aniversário da entidade, os últimos dez anos se tornaram mais presentes para nós e, se nos permitirem, rememoraremos alguns fatos que nos marcaram, como um irre-versível caminho de conexão à ABL.Em 1968, éramos professor na ESALQ-USP, recém-doutorado, e fomos convidados a exercer as funções de Professor Regente para auxiliar na implantação do Curso de Engenharia Agronômica da Faculdade de Ci-ências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB). Após 3 meses, fomos

Page 8: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras6eleitos Supervisor do Curso, constituído de apenas 3 salas, 11 docentes, 5 funcionários e nada mais. Assustador para quem vinha da tradicional USP. Consequentemente, teríamos de descascar um novelo imenso. Mas, o desafio estava feito, e procuramos o necessário respaldo e ele veio. Fomos indicados para duas comissões, a de Obras e a de Orçamento. Conseguimos, ainda, o auxílio imprescindível do Dr. Marcelo Moura Campos, então Coordenador da CESESP (atual Reitoria), que amainou as preocupações, comprometendo-se a cumprir as metas solicitadas. Trabalhos diuturnos e contatos vários fizeram com que, após dois anos, o curso passasse a ter 53 docentes em tempo inte-gral, novos funcionários e um prédio para abrigar parte deste contingente. Em seguida, fomos nomeados Diretor das Fazendas Experimentais, o que auxiliou nos trabalhos a campo, imprescindíveis para a formação de nossos alunos. Atualmente o Campus da UNESP é um dos mais importantes da en-tidade, com as várias Faculdades, proeminentes até o exterior, o que muito envaidece nossa cidade. A vida também corria fora dos limites do Campus, quando sentimos o quanto Botucatu é acolhedora. Convites para palestras e reuniões eram constantes e, numa destas, tive a honra de conhecer o Dr. Antonio Gabriel Marão, que abriu as portas do Lions Clube, deixando-nos deveras lisonjeados. Mais uns meses e parecia que aqui morávamos há décadas. Novas indústrias chegavam e esta nova realidade nos preocupava. Assim, solicitamos Dr. Adolpho Dinucci um espaço para abordar o assunto na Gazeta de Botucatu. Com a inerente simpatia, acedeu e convidou para continuarmos a enviar artigos que já ultrapassaram as duas centenas. Sentindo a aceitação, outros jornais e revistas não científicas também publicaram nossos artigos e crôni-cas. Indiretamente, tais escritos estavam nos adentrando à ABL, onde jamais imaginamos ter assento, por não nos sentirmos devidamente aptos e em vista das atividades mais ligadas às lides científicas. Imprevisivelmente, como se um conto fosse, fomos indicados pelo Confrade Evanil Pires de Campos, e ora ocupamos a Cadeira cujo patrono é José Martiniano de Alencar, nosso romancista maior. A ABL passou a ser uma referência nas andanças pela curta passagem por este planetinha. Vice-Presidente por três vezes e, em seguida, nos coube a honra de ser o Presidente, justamente nas comemorações dos 40 anos de sua fundação.O histórico da ABL mostra que ela sempre procurou divulgar as manifestações culturais da cidade, com tendência a se acoplar às entidades citadinas, como as merecidas homenagens dos 20 anos de fundação do Diário da Serra e dos 55 anos da Gazeta de Botucatu. As autoridades municipais também sempre caminharam conjuntamente com as atividades da ABL e esta sempre colaborou com participações constantes em diferentes eventos

Page 9: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

7Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasda municipalidade.Os membros da entidade, sejam Patronos, Membros Efetivos, Hono-rários, ou Correspondentes, mostram-se envaidecidos em terem seus nomes gravados na ABL, hoje ultrapassando os limites de nossa cidade, como bem demonstrou o convite para participar de um conjunto de academias de letras do Estado de São Paulo, justamente na comemoração deste aniversário de 40 anos, mostrando que o verbo crescer, de há muito, faz parte importante de sua existência. Em retrospecto das atividades da instituição, há constante produtividade nos que, em conjunto a compõem, mostrando uma dinâmica constante. No ano que passou, cinco livros literários e um científico, de acadêmicos, foram publicados. Um Acadêmico Correspondente recebeu o Prêmio Internacional Emmy de Telenovela e uma patrona recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia. A presente coletânea é uma amostra qualitativa que marcará indelevelmente as festividades do quadragésimo aniversário de fundação da Academia Bo-tucatuense de Letras pois, além dos artigos e crônicas dos atuais membros, foram buscados trabalhos oriundos do arcabouço, cuidadosamente inserido na biblioteca da ABL, abrilhantando sobremaneira esta obra.

Antonio Evaldo Klar Presidente da ABL e Prof. Emérito da FCA/UNESP

Page 10: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras8

Page 11: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

9Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

APRECIAÇÕESA honra de escrever em um livro que agrupa nomes de autores renoma-dos de nossa cidade, mescla-se com a preocupação em me perder com apre-ciações discretas e simplistas frente à magnitude de todos. Portanto, centrarei a minha atenção a momentos que foram próximos à atuação da educação, as ações globais que a ABL – Academia Botucatuense de Letras desenvolveu com o intuito do agigantamento da educação municipal.Há muito tempo a ABL realiza, em parceria com a Prefeitura Muni-cipal de Botucatu, através de diversas secretarias, concursos de redação nos quais se incentiva a leitura e a escrita; desenvolve palestras, depoimentos de

leitores; discursos históricos e de aprendizagens significativas para quem os ouve. Destaco aqui os relatos dos Atos Cívicos; - luta pela biblioteca, gerida e protegida por esse grupo, pois ela é histórica e direcionada para pesquisadores, especialistas e colecionadores da história de nosso município; oportunizam em média três (3) publicações anuais aos leitores botucatuenses na ânsia da valorização e reconhecimento dos mesmos.Aprendemos com os 70 autores desse livro que “ um mundo diferente não pode ser construído por pessoas indiferentes”, conforme Peter Marshall. Desejo que a leitura desse livro desperte em nós a reflexão sobre nossas atitudes e ações proativas em nossa querida Botucatu, bem como o interesse em conhecer mais profundamente autores da Academia.

Alessandra Lucchesi OliveiraSecretária da Educação do Município

Page 12: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras10

Page 13: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

11Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

APRESENTAÇÃOA “Coletânea dos 40 anos da Academia Botucatuense de Letras” é o registro das estações de vidas dos imortais, que através de suas idéias, em pa-lavras, permitem-nos enxergar além do visível aos olhos, o cerne da existência.Tivemos várias etapas na organização dos arquivos – durante o último semestre de 2012- após divulgação na mídia em geral e encaminhamento

de convites, via e-mail e pessoalmente, com a finalidade de compilarmos biografias e textos, inéditos ou não, com tema livre, de Acadêmicos atuais e de ex-Acadêmicos, pois muitos já habitam planos superiores. Solicitamos que fossem encaminhados ao nosso e-mail pessoal o mate-rial e mantivemos contatos diretos com familiares dos que participaram desde a fundação da entidade... E o conjunto: Acadêmicos atuais, antecessores e fundadores pode estar aqui representado e nos presentear nesta produção.O maior objetivo deste livro foi juntar talentos para serem vistos pela posteridade e, assim, externarmos nosso agradecimento pela oportunidade de que o rito de passagem de um a um dê maior sentido à nossa vida.Cerca de 70 autores que nos envolvem, ensinando, entre outras lições, que há novos horizontes e esperanças ao nos integrarmos à Família ABL, elo da Cultura, ao qual todo artista aspira.

Carmem Lúcia Ebúrneo da SilvaSecretária da Academia Botucatuense de LetrasBiênio 2011/2013Organizadora do livro.

Page 14: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras12

Page 15: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

13Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

AÉCIO DE SOUZA SALVADORFLORILÉGIO MUSICAL“Quis Deus que a música do tempo fosse como que um prelúdio que revelasse os hinos grandiosos da música da eternidade”. (Dr. Francisco de Paula Rodrigues). “Não se pode duvidar que a música contém o germe de todas as virtu-des. É dom de Deus e a mais íntima aliada da teologia” (Martinho Lutero).Honoré de Balzac, afirmava: “ A música é outra vida em nossa vida”.Apenas como curiosidade registramos o absurdo juízo do poeta e escritor inglês Walter Savage Landor (Sec. XVIII – XIX) : “ Hoje em dia a música é a pior praga da humanidade.”Do homem que não sente a música, Shakespeare dizia na voz dum seu personagem do “ O Mercador de Veneza”: “ os instintos de sua alma são escuros como a noite.”O pensador Décio Valente assim se expressou :“ Há música poesia e amorEm tudo que no mundo vive.Só não há música e poesiaNum coração sem amor!François Guizot (XVIII-XIX), homem de Estado e historiador francês: “A música dá à alma verdadeira cultura interior e faz parte da educação do povo.”Platão ensinava: “Ginástica para o corpo e Música para a alma”.W. Goethe (sec. XVIII – XIX) : “Os maus nunca tiveram canções”.O mais lindo conceito de música temo-lo nos admiráveis alexandrinos do poeta patrício Carlos Augusto Ferreira (sec. XIX-XX)A MÚSICAMúsica encantadora! Encantadora arteQue enches os corações de paz e de alegria!

Page 16: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras14 O teu vasto poder domina em toda a parte,Oh! Sublime expressão da mágica poesia!De Orfeu e de Anfion, as liras sublimadas,Feras venceram sim, e feras mil bravias,A força de carícias, a golpes de harmonias,Ao bendito clarão de inspirações sagradas.Artistas! Vós sois reis, vós tendes os segredosDe arrebatar a ideia às lúcidas esferas.Só vós sabeis cantar os mil poemas ledosDa alvorada, do amor, do sol das primaveras!Divina Arte dos Sons! Um teu simples arpejoTraduz o enigma do imenso, o enigma do universo!Quando eu o escuto, sonho, eu quando sonho, vejoEm cada flor um hino, e em cada estrela, um verso!”Heitor Villa Lobos, o genial patrício, comentava: “A Música, através do Canto Orfeônico é fator preponderante de Civismo, Arte e Disciplina”.Luigi Chiaffarelli, mestre inolvidável que pontificou no primeiro quartel deste século, no ensino do piano na São Paulo de então, deixou este maravilhoso pensamento:“A divina arte dos sons é pródiga de seus tesouros; para todos tem um lenitivo, uma consolação, uma alegria. Felizes os que a amam, os que a podem cultivar, os que a adoram compreendendo-a.”: Biografia

AÉCIO DE SOUZA SALVADOR nasceu em São Paulo – capital – filho de Carlos Salvador e Jovina Pereira de Souza.Casado com a Profa Maria Zanotto Salvador, tem três filhas: Isis, Clêo e Cynthia.Aécio de Souza Salvador estudou piano, inicialmente, com sua mãe, prosseguindo no Conservatório Dramático e Músical de São Paulo. Diplomou--se na classe do Maestro Agostinho Cantú. Durante seis anos, foi discípulo do grande mestre da harmonia Savino de Benedictis e, em seguida, do regente Ernesto Melich.Fez o Curso de Canto Orfeônico na Academia Musical de São Paulo.Ingressou mediante concurso de títulos e provas no Ensino Secundá-rio e Normal, em 1944. Foi estagiário no Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no Rio de Janeiro.

Page 17: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

15Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasExerceu o magistério nas cidades de Itapeva, Botucatu e Santos. Nesta última cidade, organizou concentrações orfeônicas e fez parte da Banca Exa-minadora do Concurso para provimento de cargos de Professores de Canto Orfeônico das Escolas municipais da cidade praiana.Antes de seu ingresso no ensino oficial, durante muitos anos, lecionou piano nesta cidade.Publicou, na Editora Vitale, peças para piano, canto e coro misto. Dentre as suas composições, destaca-se o melodioso “Canto de Natal”, sobre versos do poeta botucatuense José Pedretti Netto. É autor de trabalhos inéditos e do Andante e Marcha escritos em homenagem ao Centenário de Botucatu (1955).Lecionou matérias teóricas na Faculdade de Música Pio XII, em Bauru, durante 10 anos e, na faculdade de Música Santa Marcelina. Foi regente do Coral da Igreja Presbiteriana.Fundou com o musicista Vicente Moscogliato, grande flautista, o Conjunto Orquestral Botucatuense. Foi colaborador da “Folha de Botucatu”.Cidadão Botucatuense pelo Decreto Legislativo n. 38, de 12 de Março de 1975.Membro da Academia Botucatuense de Letras, Cadeira 10 – Patrono Humberto de Campos.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 18: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras16

ALEIXO DELMANTONELLO PEDRETTI“. . . All’ombra de cipressiE dentro l’urne, confortate di pianto,É forse Il sonno della morte men duro?” Ugo FoscoloPoucos dias depois de um enterro modesto, uma pobre mulher cons-ternada, encaminhava-se para a necrópole de uma grande cidade. Procurou, com passo vacilante, a sepultura do marido. Não encontrou um indício sequer. Topou, por acaso, com a choça do zelador.- O senhor poderá me dizer – perguntou com voz trêmula – onde foi enterrado meu marido? Chamava-se Mozart.- Mozart? Respondeu o zelador.Nunca ouvi falar nesse nome.Nas grandes cidades, mesmo o nome de um gigante da música pode-ria passar despercebido. Nas pequenas, não. Elas conservam, em virtude de fatores e prerrogativas especiais, o culto, a tradição de seus mais humildes nomes populares, que a lembrança dos habitantes e os jornais da terra, como entre nós, reverenciam cada tanto em suas folhas saudosas. . .Nello Pedretti, o inesquecível e jovial amigo de todas as horas, pertence ao rol exíguo desses nomes populares. É, porém, um nome de elite.Culto, inteligente, sagaz, de uma verve extraordinária, lépido e zom-beteiro, no grande coração de seu corpo pequeno conjugava o mais alto grau

de bondade e filantropia com a ironia mais sutil.Como as mãos consumadas e perfeitas de um artista do teclado, passa-va, com desenvoltura soberba, do sarcasmo mais terrível à pilheria chistosa, da anedota picante ao mais sisudo conselho de amigo, sempre temperado de bom humor.Era bem conhecido de todos, esse seu fino humorismo: À fleuma satí-rica de Bernard Shaw aliada à argúcia maliciosa de um Pitigrilli – à moda e tempero italianos. . . Todos bem o sabiam, homens e mulheres.

Page 19: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

17Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasPor isso, em gozo espiritual o atiçavam, sempre de surpresa, com des-treza apurada. Ninguém, contudo, o levava de vencida!Nello era um cérebro privilegiado, de rápidas investidas, de respostas argutas “ao pé da letra”, ajustadas a um insuperável domínio e tensão de espírito, capazes de eletrocutar, em segundos, o mais ferrenho contendor.Na Itália, onde residira longos anos e como voluntário da Grande Guerra de 1918, tornara-se célebre pelo seu humorismo, piadas e anedotas. Era admirável como, num relâmpago, sabia aproveitar o duplo sentido da palavra do próprio adversário, para amordaçá-lo elegantemente.Pecado que, tão próximos de tão grave luto, não possamos relembrar fa-tos e acontecimentos ultra-cômicos de sua vida, e piadas do grande humorista.Fino e pródigo “blagueur”, temperamento folgazão e zombeteiro, não poderia armazenar com tão vasto repertório de pilhérias mordazes e ironias

finíssimas, o “vil metal” ou inimigos semelhantes.Não teve, ao que parece, e por motivos bem antigos, senão um único inimigo – se assim se possa chamar quem, há mais de vinte anos, não o cumprimentava mais. E até esse antigo inimigo – fato inédito e digno de louvores – no dia “mesto” e chuvoso de seu cortejo fúnebre, esteve presente, acompanhando seus restos mortais ao derradeiro abrigo...-“O nosso inimigo único, dizia-lhe repetidamente o popular Colosso, é o dinheiro!... Unicamente o dinheiro!”Para que o vil metal a um boêmio de espírito e de coração?Contava-me, comovido, ontem à noite, seu velho amigo Malatrasi, que, de uma feita, quando viajante, se encontrou com o Nello num bar de uma cidade da Noroeste, onde suas amizades se comparavam a um gigantesco mapa mural do Estado de São Paulo, salpicado de centenas de bandeirinhas verde-amarelas, ora, funebremente, à meia haste.Foi-lhe apresentado um tipógrafo daquela localidade. Após inúmeras trocas efusivas de saudações, seguidas do tinir de copos rapidamente esva-ziados, o Nello, sempre cheio de prodigalidades, não só quis pagar, com o bondoso calor de seu coração o refrigério do estômago alheio, mas, também, insistiu e conseguiu mandar à tipografia do recém-conhecido uma dúzia de cerveja gelada!...“Como, perguntou-lhe intrigado o amigo – não ganhaste para isso, hoje!” E ele, com sua fleuma habitual e com a desenvoltura de uma Scarlett O’Hara: - “Pensarei amanhã...”

E assim pensando, o vento o levou pobre, mas altivo, filantropo.Quando não trazia consigo a pasta costumeira, repleta de papéis brancos, em perfeito contraste com sua face rosada e risonha, carregava uma pesada bengala, “ o sinal da pobreza”, e “o cavalo de São Francisco”, como frisava,

Page 20: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras18apontando para as crianças despreocupadas e alegres que galopavam sobre um rústico bastão, levantando pequenas nuvens de pó.Mas quando um graúdo soberbo, avizinhando o seu auto ruidoso da sarjeta, levantava uma golfada de poeira, ele respondia, altivo e sereno, com baforadas lentas e mordazes de seu longo charuto.Disse-me um dia: “É para afugentar de noite os pernilongos e de dia os tubarões... Ambos são sugadores da humanidade”...Humorista e pródigo, Nello deveria ser, por lógica, e de fato o era, um perfeito gastrônomo e um cozinheiro de mão cheia... embora os bolsos, às vezes, estivessem vazios.Como nos tempos boêmios de Honoré de Balzac ou das repúblicas estudantinas da velha Paulicéia – em sua casa modesta reunia-se a fina flor dos apreciadores da boa mesa.A “clientela”, atraída pela fama, aumentava cada vez mais.Entre os mais constantes habituée destacava-se Raphael de Moura Campos, Jurandir Trench, Jorge Lavras, Aleixo Delmanto, Trajano Pupo, Francisco Fucciolo, Renato de Barros, Thomaz Mariano, João Leopardi, José Simões, etc, etc...Quando de sua visita a esta cidade, o Dr. Antonio de Souza Noschese, grande industrial paulista e vice-presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, apreciando o sabor inigualável de suas iguarias e notando o material de cozinha insuficiente para tantos adeptos, prontificou-se mandar-lhe (e de fato enviou-lhe) um vasilhame gigantesco, especial para conter dezenas de litros dos maravilhosos “minestrone”, que ninguém mais saberá preparar com tanta fé e sabedoria culinária.Homens como o Nello não deveriam faltar para a alegria de nosso espírito e bem-estar material de nosso corpo atribulado...

À sombra mística da ampla e obscura cozinha de sua residência, ele, amigo, procurava uma fresta e luz solar para acalentar a mágoa do presente e esquecer o passado... A luz do sol é, para seus convivas, uma triste lembrança na treva tormentosa destes dias chuvosos.Foi-se assim... Boêmio, brincalhão, pródigo e gastrônomo ilustre. E depois, - como no “Livro das Tradições” – a água virgem ribombos surdos da serrania longínqua... afogando as plantas num abraço frio e envolvente...Não, não o esqueçamos jamais!“As sombras dos ciprestes e dentro das urnas, confortadas pelo pranto, é talvez o sono menos duro do que a morte?”Como Nello, que deixou tanta herança de afetos e amizades sinceras”, condizem esses versos do grande poeta de sua terra, na qual sempre pensava com infinita nostalgia.

Page 21: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

19Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasSomente nessas breves e solitárias ocasiões, via-se desaparecer, como por encanto, o seu sorriso jovial e duas trêmulas lágrimas de saudade rolarem pela face...“Não a verei jamais, prezado, dizia-me e ele com voz trêmula – nunca mais”... E continuava depois novamente alegre,lépido, sereno, irônico e burlão.Burlou, com ironia, até a própria morte : - “dizia-me comovido Carlos Gonzaga. Quase: A morte precisou colhê-lo de surpresa, durante o sono, re-

pentinamente, para que ele não soltasse a derradeira pilhéria, a piada final”.Adeus, grande e inesquecível amigo!... Que Deus o proteja em sua infinita e misericordiosa bondade!(Folha de Botucatu, n. 1407 de 02 de março de 1946)

: Biografia

É botucatuense nato, muito embora tenha formação cultural italiana, pois descende de italianos e foi educado na Itália, para onde partiu aos 9 anos, tendo regressado com 24 anos. Inteligência invulgar, senhor de vastíssima cultura humanística, Aleixo Delmanto, médico de projeção nacional, foi be-letrista, músico, artista. A Literatura clássica lhe era familiar, castiço, como em italiano e francês.Possuidor de incrível capacidade mnemônica, Aleixo Delmanto, com 84 anos de idade, era capaz, após uma simples leitura, recitar de cor, um poema. Admirador de Trilussa, Aleixo traduziu a maior parte das poesias do grande vate italiano.Conferencista, articulista, crítico de arte, colaborou em todos os jornais botucatuenses. Foi colaborador do “Fanfulla” e o “Pasquim Colonial”. Estudante, dirigiu o Teatro estudantil da Universidade, quando então divulgou a música brasileira.Suas teses médicas, os muitos trabalhos de Medicina de sua autoria, foram transcritos em revistas especializadas, destacando-se, entre elas, pu-blicações russas, de caráter internacional.Médico especialista em moléstias do aparelho digestivo. Foi Diretor da Casa de Saúde “Sul Paulista” (1928/1934).Membro Efetivo da ABL - Cadeira nº 5 - Patrono: Castro Alves.Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 22: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras20

ÁLVARO JOSÉ DE SOUZA A CUESTA DE BOTUCATU Já na década de 60, manuais elaborados sobre BOTUCATU mencio-navam a expressão “CUESTA” para designar aquilo que se conhecia popu-larmente como a ‘SERRA DE BOTUCATU’.No entanto, a existência de um relevo de “cuestas” no Estado de São Paulo e, evidentemente, em nossa região, era mencionada na década de 20,

em trabalhos do Instituto Geográfico e Geológico do Estado, muito antes de se começar a falar na “Cuesta de Botucatu”.Mas, afinal de contas, o que é uma “cuesta” e o que esta denominação designa, diferentemente de uma “serra”?Na verdade, a expressão “Serra”, bastante utilizada no Brasil, refere-se a qualquer acidente de relevo que implique numa espécie de muralha, com diferenças de altitude variada em relação às terras vizinhas. Falando de ma-neira simples, poder-se-ia dizer que uma “serra” verdadeira implicaria uma subida íngreme, de um dos lados dessa saliência do relevo, compensada por outra descida íngreme de outro lado. No Brasil, entretanto, essa situação é rara e, por isso, muita coisa chamada de “serra” não corresponde à realida-de. Na “cuesta”, a subida íngreme existe em um dos lados; o lado contrário (chamado reverso) corresponde a uma descida suave e normalmente longa. É o típico caso do relevo de nossa região: imagine-se, quem vem de São Paulo pela Rodovia Castelo Branco ou pela Rodovia Marechal Rondon, subindo, na altura de Conchas ou Bofete, quase 300 metros, passando de altitudes de 400 metros para mais de 700. Se continuar, entretanto, caminhando para o oeste, vai encontrar uma descida suave, que só vai se completar a mais de 500 quilômetros, na altura da calha do Rio Paraná. E é todo esse conjunto que compõe a “cuesta”.Essa denominação, aparentemente estranha, devemos ao geógrafo francês Emmanuel de Martonne que, na defesa de sua tese de doutorado junto a uma Universidade Francesa, estudou essa forma de relevo no Nordeste da Espanha; subida íngreme, voltada para o litoral, sugeria a visão da costa litorânea, ao que os locais denominavam “La Cuesta”. Esta denominação

Page 23: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

21Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letraspassou a ser oficializada para designar essa forma característica de relevo.Esse mesmo geógrafo francês fez parte do grupo de professores res-ponsáveis pela implantação do curso de Geografia na Universidade de São Paulo. No final da década de 30, De Martonne realizou algumas viagens pela nossa região, em busca de elementos para sua tese no Brasil, sobre o Brasil Tropical Atlântico e sua Geomorfologia. Ao penetrar nesta área, utilizando a então Estrada de Ferro Sorocabana, verificou que, a partir de Botucatu, se delineava o mesmo tipo de relevo que houvera estudado na França: chamou a esta unidade de relevo de “Cuesta de Botucatu”. Na realidade, grande parte do setor oeste do Estado de São Paulo integra o conjunto de um relevo de “cuestas”. No entanto, além de o geógrafo De Martonne ter posto em destaque a região de Botucatu, a imponência desta forma de relevo na nossa região justifica plenamente que este nome seja utilizado para todo o setor ocupado por esta unidade de relevo. O trabalho de De Martonne foi publicado na “Revista Brasileira de Geografia”, do IBGE, em 1943 e a unidade de relevo desta área do Estado de São Paulo foi efetivamente chamada de “Cuesta de Botucatu”.O relevo de “cuestas” no Brasil é muito mais extenso, abrangendo se-tores dos Estados vizinhos de Minas Gerais e Paraná. Além deste e da região inicialmente estudada por De Martonne, no Nordeste da Espanha e Noroeste da França, temos áreas de relevo de “cuestas” na África do Sul, no Canadá e na Austrália. A de Botucatu, entretanto, ressalta algumas peculiaridades que a tornam absolutamente especial:1 – a muralha de cerca de 300 metros que separa o Planalto da Baixada ostenta um panorama de inegável beleza, capaz de atrair o passageiro ou o viajante que a transpõe, pois, do seu topo descortina-se uma ampla área cortada por rios e ponteada por cidades e áreas rurais de rara beleza;2 – a linha de separação entre o topo da “cuesta” e a Baixada estende-se por mais de 80 km, constituindo-se, por isso mesmo, na mais extensa área de contato entre o topo e o front da cuesta em todo o mundo;3 – recoberta originalmente por uma vegetação de mata, em parte ainda preservada, pela pequena presença humana nas áreas mais íngremes, a “Cuesta de Botucatu” apresenta uma riqueza paisagística praticamente inigualável, mesmo porque a diversidade da flora das matas tropicais é uma realidade presente no ambiente do front da cuesta de Botucatu que, no entanto, não é registrado em nenhuma das formações de cuestas em qualquer local do mundo.Finalmente, é importante lembrar que, embora a “cuesta” correspon-da a todo um território que se inicia nos limites do município de Botucatu e se estenda até o extremo-oeste do Estado de São Paulo, continuando em situação invertida mesmo no Estado de Mato Grosso do Sul, a importância

Page 24: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras22estratégica de sua área frontal é tão grande que é o nome de “Cuesta de Bo-tucatu” que prevalece na literatura especializada para designar esta formação. É portanto, indiscutivelmente, um patrimônio natural de grande valia para nosso município. (Publicado no jornal A Gazeta de Botucatu em 12 de abril de 2002)

: Biografia

ÁLVARO JOSÉ DE SOUZA nasceu em Lorena - SP em 16/11/1944. Casou-se com a Profª Rosa Eufêmica Pescatori de Souza. Formação Superior: Curso de Bacharelado e Licenciatura em Geografia – Universidade Católica de São Paulo – FFCL São Bento.

Pós-Graduação em Geografia Humana: Área de concentração: Geo-grafia Urbana – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.Membro da Associação dos Geógrafos Brasileiros.

Presidente da União Paulista dos Estudantes de Geografia – São PauloLivro Publicado: Geografia Linguística – Dominação e Liberdade –

série: Repensando a Geografia – Editora Contexto São Paulo.Fundador e coordenador da Revista “Ciências Geográficas – Ensino - Pesquisa - Método” –Editada pela Associação dos Geógrafos Brasileiros.Fundador em 1984 do Centro de Estudos, Desenvolvimento e Experi-

mentação do Ensino de Geografia – UNIFAC Botucatu.Foi membro da equipe que elaborou as Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacional do Ensino Médio.Atuou como geógrafo no Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo.Lecionou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras São Bento – PUC

São Paulo; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu; Faculdade de Ciências e Letras de Avaré; Escola Pública do Estado de São Paulo e atuou como Assistente Técnico Pedagógico, junto à Oficina Pedagógica da Diretoria de Ensino – região de Botucatu.Tomou posse na Academia Botucatuense de Letras no dia 28/08/1999, na Cadeira nº 21 – Patrono: Vicente de Carvalho.Recebeu o título de Cidadão Botucatuense em 12/11/1996.

Page 25: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

23Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ANTONIO EVALDO KLAR A EDUCAÇÃO AQUI E ACOLÁMorávamos numa pequena cidade a cerca de 30 km de Londres, Har-penden, com paisagens tipicamente inglesas, inclusive um bonito e grande jardim central. Os que trabalhavam na capital tomavam o trem, deixando os carros ao lado da estação. Amiúde fazíamos o mesmo trajeto e admirávamos a limpeza e a conservação dos vagões, com assentos sem traços de vandalis-mo, tanto nos de primeira como nos de segunda classe, apesar de antigos e confeccionados com discreto pano azulado.Na rua onde morávamos, as casas eram similares, com os jardins interligados e separados por linhas de roseiras. Nós éramos responsáveis pela linha de cima e do pequeno jardim em frente. A casa assobradada era confortável, com quatro quartos, duas garagens, etc. A sala tinha duas janelas

com grandes vidraças e cortinas duplas. Um cortinado fixo vedava as duas placas de vidro da porta de entrada que era fechada com uma só lingueta e a chave só servia para acioná-la de fora, não havendo nem a outra lingueta, o que nos deixava apreensivos pela vulnerabilidade. Comparada com as casas do nosso país, fortificadas, com alarmes, cercas elétricas e outras pretensas defesas, a apreensão era justificada. Porém, paulatinamente, a adaptação tornava a preocupação cada vez mais apequenada.Numa manhã, minha esposa viu, na nossa linha de roseiras, duas lindas rosas vermelhas e não teve dúvidas, pegou a tesoura e ao apanhar a primeira flor, o carteiro parou e, com ar sério, disse de maneira algo ríspida: “Estas rosas não são suas e sim da comunidade. Se quiser colher rosas, poderá plantá-las no quintal, sem interferir na paisagem da rua”. Cabisbaixa, minha esposa virou-se e voltou para dentro sem saber o que poderia responder, nem mesmo como fazê-lo, face a esta demonstração de respeito à comunidade. Sabendo do ocorrido, só tive uma resposta: “Temos de nos adaptar aos costu-mes de um povo civilizado”. Transportando-nos ao nosso país, qual resposta o carteiro receberia?...Na Inglaterra, eu era pesquisador na Rothamsted Exp. Sta. e lá comentei este episódio das rosas com um senhor inglês, com quem já tinha alguma liberdade, concluindo: “Penso que estamos atrasados uns 50 anos em cida-

Page 26: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras24dania”. O inglês não titubeou: “É difícil mudar a índole de um povo, pode durar gerações. Se a educação formal, em todos os níveis, não for aplicada de maneira intensa e séria, passarão até séculos sem alterar a situação. A coletividade, se não bem tratada, poderá produzir revoltas e até revoluções”. E completou: “Será que são só 50 anos? Não seriam 500?”.Aquelas palavras martelavam na minha mente e fui recompondo nossa maneira geral de ser e sempre me decepcionando com os descuidos de nossos governantes pela educação fundamental, cada vez pior por razões sobejamente conhecidas. Sabemos que a coletividade nunca foi prioridade para a maioria de nossos políticos, oriundos da própria comunidade que assim também se comporta e os elege. Nossas mais de cinco décadas de docência mostram, tacitamente, que a qualidade do ensino básico dos alunos que chegam à uni-versidade está em queda paulatina, com concordância quase unânime dos demais professores. O Ministro dos Esportes atual relatou, recentemente, que há mais de 10 mil escolas sem luz e água. É uma lástima! A massificação do ensino superior, criando faculdades de qualidade duvidosa para as demandas de mercado, muitas vezes incipientes, produz alunos frustrados, fazendo-os perder a melhor parte de suas vidas. Porém, comentar este assunto é como falar aos ventos alísios.Em meados do século XIX, o governo japonês houve por bem incentivar a educação com o intuito de melhorar a qualidade de vida do povo. Houve um planejamento cuidadoso, adaptado às características inerentes à índole deste laborioso povo, como disciplina, respeito às hierarquias, inclusive as familiares, perseverança e outras qualidades. Atualmente, o Japão está entre os primeiros países do mundo em todos os segmentos. Mas não precisamos ir tão distantes no tempo. A Coréia do Sul, na década de 50 do século pas-sado, tinha uma “renda per capita” baixa, menor que a do Brasil de então. Hoje é uma potência econômica, produzindo o maior número de patentes por milhão de habitantes do mundo. Como? Maciços investimentos na educação em todos os níveis. A Suíça, com cerca de 7 milhões de habitantes e índice de desemprego de 2,9%, produziu 21 prêmios Nobel. Como? A base desta receita de excelência está na educação e, ainda assim, o país discute como melhorá-la. Quando chegaremos a este patamar? Será que o inglês acima citado está certo ou exagerou?Será que assunto tão sério seguirá novos rumos, sem alterar o compor-tamento da maioria de nossos políticos, eleitos por um povo sem a educação requerida para bem escolhê-los? Nossa história, ao longo dos anos, mostra a ineficiência e desleixo com que a educação foi tratada e chegou a um nível lastimável, cujos detalhes esbarram não na arrecadação orçamentária e sim na incompetência na destinação, além de outros fatores que o espaço não

Page 27: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

25Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letraspermite alinhavar.“Será que um dia teremos um “Prêmio Nobel”?

Antonio Evaldo KlarProfessor Emérito - FCA/UNESP - Membro Efetivo da ABL

: Biografia

ANTONIO EVALDO KLAR, Pesquisador Científico nível 1 do CNPq – Bolsa desde 1985. Graduação em Engenharia Agronômica, Magister Scientiae em Solos e Doutorado em Irrigação e Drenagem pela USP. Livre--Docente, Adjunto e Titular pela UNESP. Professor na ESALQ-USP por 8 anos e desde 1968 na UNESP. Atualmente é Prof. Voluntário da UNESP. “Temporary Researcher” na Rothamsted Exp. Sta., Inglaterra. “Research Associate” na California University, Davis, USA, Pesquisador no Instituto de Edafologia y Biologia, Salamanca, Espanha. É o fundador do Programa de Pós-Graduação em Irrigação e Drenagem na FCA/UNESP em 1988 e da revista científica “IRRIGA: Journal of Irrigation and Drainage” em 1996, da qual foi Editor por 13 anos. Editor e fundador da revista “Engenharia Agrícola” da SBEA por 10 anos e Diretor da revista “Científica” (UNESP) por 3 anos. Diretor das Fazendas Experimentais (UNESP) e Supervisor do Curso de Agronomia (UNESP). Na Reitoria da UNESP: 6 anos na Comissão Permanente de Regime de Trabalho (CPRT) e 2 anos na Comissão Perma-nente de Avaliação (CPA). Na FCA, várias gestões: Conselho Setorial e Congregação, Conselhos do Departamento de Engenharia Rural, do PG de Irrigação e Drenagem. Membro de comitês e comissões no CNPq, na CAPES, na FINEP e na Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. Chefe do Dep. de Engenharia Rural por 3 mandatos e Coordenador do Programa de PG em Irrigação e Drenagem por 4 gestões. Foi Presidente do XV CONBEA (Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola) realizado no palácio de Con-venções do Anhembi - São Paulo. PROFESSOR EMÉRITO pela Congregação da FCA/UNESP. Foi o Homenageado da SBEA, no Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, realizado em Canoas (RS) em 2005, pelos relevantes serviços prestados à entidade. Atual presidente da Academia Botucatuense de Letras (ABL), ocupando a Cadeira nº11, Patrono: José de Alencar. Recebeu o honroso título de “Cidadão Botucatuense” em 2002. Membro do Conselho Superior e do Conselho Fiscal da ABEM, destinada à assistência a crianças e idosos. Possui mais de uma centena de artigos em revistas científicas nacionais

Page 28: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras26e internacionais; mais de duas centenas em congressos científicos nacionais e internacionais, quatro livros e capítulos de livros, 32 orientados de dou-torado e 27 de Mestrado. Autor de cinco hinos para entidades de Botucatu e de Campinas. Jornalista, Mtb 36.754, com centenas de artigos e crônicas em jornais e revistas.

Page 29: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

27Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ANTONIO GABRIEL MARÃO MARIA SOFIA DE JESUSExistia, há uns 50 anos, em Belo Horizonte, uma certa Maria Sofia de Jesus. Muito popular. Muito conhecida nos meios bancários. Não que fosse capitalista. Ou grande proprietária de imóveis. Ou que tivesse vulto-sos depósitos. Não. Nada disso. Entretanto, não havia um único banco de Belo Horizonte que não recebesse, logo pela manhã, com uma pontualidade invejável, a sua visita.E o que faz ela? Simplesmente isto: dirige-se aos guichês e pergunta ao Caixa, se os seus capitais estão bem guardados. O empregado responde que

sim. Maria Sofia de Jesus agradece. E vai repetir a mesma pergunta ao jovem do guichê de outro estabelecimento, para ouvir a resposta tranquilizadora.Às vezes, manifesta o desejo de retirar determinada importância. Para comprar uma Fazenda. Um arranha-céu. Os bondes da cidade. Algum cliente do Banco, todo solicito, rasga uma fórmula. Rabisca qualquer coisa. E entrega o papel à “milionária”.É o “cheque”. Ela o apresenta ao “Caixa”, que para não ser perturbado

em seu serviço, garatuja o papel. Está legalizado o cheque. Maria Sofia de Jesus, com esse papel, vai ao proprietário de uma casa e se propõe comprá-la.O proprietário sorri. Recebe o papel e efetiva a venda...Maria Sofia de Jesus é uma mulher inteiramente feliz. Julga-se a mais rica de Minas. Dona de Belo Horizonte.Apesar de o Estado possuir um serviço bem orientado de assistência

a psicopatas, ninguém pensa em recolher a inofensiva Maria Sofia de Jesus.Recolhê-la por quê? E para quê? É mulher tranquila. Não se altera nun-ca. Não insulta. Quando muito, um resmungo, e isso mesmo quando algum funcionário do Banco deixa de dar-lhe a atenção a que tem direito, como a maior fortuna da cidade. Por que interná-la? Seria uma desumanidade, de vez que, seu único desequilíbrio consistiria em considerar-se milionária. Mas, uma milionária diferente. Sem arrogâncias. Sem orgulhos. Não se valendo de sua fortuna para provocar craques de competidores. Ou se prevalecendo do seu prestígio para eliminar adversários. Maria Sofia de Jesus é toda doçura. Simplicidade. Democracia.

Page 30: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras28 Sempre muito limpa. Vestida de chita. Calçando alpercatas. Um guarda--chuva sob o braço. Bolsa cheia de papéis. Sim, de retalhos de jornais. São os seus valiosos títulos e documentos.Vê-la e ouvi-la é ter a sensação de ver-se de perto a Felicidade.: Biografia

ANTONIO GABRIEL MARÃO nasceu em Taquaritinga, aos 04 de julho de 1911. Filho do Sr. Gabriel Marão e Dna. Emilia Guri Marão. Foi Professor de matemática nos Ginásios Oficiais de Taquaritinga, Itápolis, Pereira Barreto, Catanduva e Botucatu. Diplomou-se em Direito, em 1937, pela Faculdade do Largo de São Francisco. Por concurso, exerceu as funções de Juiz de Direito em Pereira Barreto, Catanduva, Botucatu e Bauru, onde se aposentou. Vereador em Botucatu, por 13 anos. Foi declarado, pelos tra-balhos realizados, “Vereador do Ano de 1974”, pela Tribuna Municipalista. Foi cidadão, por resolução legislativa, de Pereira Barreto e de Botucatu. Foi Conselheiro da Associação Paulista dos Municípios, Presidente da Comissão Central de Esportes de Botucatu, Presidente de entidades literárias e recre-ativas de Taquaritinga, Itápolis, Pereira Barreto e Botucatu, e, Presidente - fundador da Academia Botucatuense de Letras, Membro Efetivo, Cadeira nº 07, Patrono: Guilherme de Almeida e Membro Efetivo da Academia Pira-cicabana de Letras. Participou ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932, o mais estupendo movimento de civismo de nossa história. Foi Presidente do MMDC. Ingressou no Lions de Bauru em 13 de dezembro de 1961. Posteriormente transferiu-se para Botucatu. Ocupou diversos cargos na Diretoria e no Distrito L-12. Vinte e três anos de leonismo, com frequência 100%. Foi sócio-chave. Possui os prêmios de Extensão por ter fundado os Lions de São Manuel, Conchas, Avaré e Cerqueira César. Fez juz a numerosos diplomas, medalhas e troféus, inclusive o de Governador, nas vezes em que exerceu as funções de Governador do Lions por quatro vezes. Acontecimento excepcional. Recorde internacional (150 países). É possuidor das medalhas “Vital Brazil”, “MMDC”, “Constituição”.

Colaboração de Olavo Godoy

Page 31: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

29Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ANTONIO MARIA MUCCIOLO QUARENTA ANOS DA ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRASA pedido médico, encontro-me em São Paulo, mas acompanho tudo que se passa na querida cidade e Arquidiocese de Botucatu.Recebo os dois jornais dessa cidade: “O Diário da Serra” e “A Gazeta”.Logo que entrarmos no verão, irei a Botucatu.Felicito a gloriosa Academia Botucatuense de Letras pelos seus 40 anos de existência.Quantas pessoas ilustres passaram por ela e quantos literatos nela se encontram.Aqui em São Paulo pertenço também à Academia Crtistã de Letras e

ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.Dedico-me atualmente à Televisão Rede Vida e tenho um programa exibido às sextas-feiras, às 21 horas, e agora, com o horário político, o pro-grama será exibido às 21h 30.Com 12 anos de idade, morando em Sorocaba, e não havendo Semi-nário, o saudoso Bispo Dom José Carlos de Aguirre enviou-me a estudar em Botucatu, em 1937. Novos seminaristas, éramos 18, mas só se ordenaram sacerdotes, 5, inclusive o Monsenhor Claudino do Nascimento.Permaneci estudando em Botucatu todo o curso ginasial, e o colegial o fiz em Sorocaba, pois Dom Aguirre havia construído o Seminário.Fui muito amigo de Dom Henrique Gollant Trindade e do saudoso Dom Vicente Marchetti Zioni. Quando tomei posse da Arquidiocese de Botucatu, em 1989, a alegria de Dom Zioni foi tanta que pegou um automóvel e foi visitar-me no mesmo dia em Barretos, onde permaneci 12 anos e tive a oportunidade de construir um Centro de Espiritualidade e uma casa de encontros com 52 apartamen-tos, e quando o Cardeal Agnelo Rossi visitou essa obra, disse-me: “Felicito Barretos porque nunca vi uma obra como essa, nem na Itália, nem no Brasil”. Esse mesmo conceito foi reafirmado quando o Cardeal Dom Paulo Evaristo

Page 32: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras30visitou Barretos.Dom Zioni e eu éramos verdadeiros amigos.Visitava-o semanalmente e nunca lhe deixei faltar nada e comprava para ele, em Roma, os livros de que ele necessitava.Mas, voltando a falar da Academia, devo felicitá-la mais uma vez e dizer-lhe que elevou cada vez mais a cultura botucatuense pelos nomes que nela passaram e pelos atuais.De fato, Botucatu merece aquele slogan “Cidade das Boas Escolas e dos Bons Ares”.Vou pedir à gloriosa Santana, padroeira da Arquidiocese, que continue a abençoar a querida Academia Botucatuense de Letras.Saudando a todos os acadêmicos nesses 40 anos, envio-lhes uma bên-ção de pastor.+ DOM ANTONIO MARIA MUCCIOLOArcebispo Emérito de Botucatu - SP Presidente da Televisão REDEVIDAMembro Efetivo da ABL - Cadeira nº 22Patrono: Dom Aquino Corrêa

Page 33: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

31Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ANTÔNIO OSCAR GUIMARÃESDOM HENRIQUE, MEU PADRINHO E AMIGO Quando caiu a tarde lânguida e mornaPor sobre a Botucatu sofrida,Passou pela rua cortejo de dor,Tal qual a procissão do Senhor!Quando caiu a tarde deste dia 7 de novembro de 1974,Cerrou-se o ciclo de uma época de ouro.Findou-se a vida de um homem total,Que a todos impressionou,Que a todos estendeu a sua santa mão!Quando caiu a tarde lânguida e mornaPor sobre a Botucatu sofrida,Esta passou depressa como todas as tardes,Mas muito triste e pesadaPara os nossos corações...Eis que na mensagemDolente que agasalhava o arE o semblante de toda uma população,Se via, tão somente, a triste,Mas sublime figura do filho maior que partiu...E... quando em nossos coraçõesCair lânguida e mornaA tarde da existência,Lembremos deste nosso grande amigo,Com saudade, com carinho e muito amor,Pois foi apenas, com amizade, com humildadeE com muito amor,Que Dom Henrique construiu sua vidaDe Sacerdote, de Bispo, de Arcebispo! São Paulo, novembro de 1974

Page 34: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras32: Biografia

ANTÔNIO OSCAR GUIMARÃES nasceu em Botucatu (SP), aos 25 de junho de 1926, filho do Dr. José Procópio Teixeira Guimarães e de Da. Maria França Ramos Teixeira Guimarães. Formado em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio “Nossa Senhora de Lourdes” de Botucatu, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie de São Paulo. A partir de 1946 até 1967, foi escriturário, exercendo funções na Secretaria de Saúde. Como Advogado, exerceu atividade de 1963 a 1968, quando por concurso público, passou a exercer as funções de Delegado de Polícia. Foi Fiscal de Rendas, cargo que deixou de exercer por livre opção, quando assumiu funções junto à Secretaria de Segurança Pública. Aposentou--se como Delegado de Polícia “Classe Especial”, em maio de 1990. Outras atividades: Membro Correspondente da Academia Botucatuense de Letras. Em Botucatu, fez parte do grupo denominado “Embaixada Lítero-Musical Agostinho Minicucci”, em 1944. Diplomado pela Escola Superior de Guerra (ADESG), no ano de 1972. Comendador, agraciado em 1972, pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalhística”, com a medalha cultural e cívica - “José Bonifácio de Andrada e Silva - O Patriarca”. Membro da Academia de Ciências, Artes e Letras da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo, desde 1971. Conselheiro do “São Paulo Futebol Clube” a partir de 1969. Poeta. Bibliografia : “Sinfonia de Momentos” (poesia) 1996 e traba-lhos publicados em diversas revistas e jornais como “ A Gazeta Esportiva”, “Crônica” (editada em Nova York); “O Barcelense” de Barcellos-Portugal; “Monitor Diocesano”, “Democracia”, “Folha de Botucatu”, “Correio de Bo-tucatu”, “Vanguarda de Botucatu”, revista “Peabiru”, “Diário de São Paulo”, “Gazeta Esportiva”, “Popular da Tarde”,”Folha do Servidor Público” entre outros... Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 35: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

33Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ANTONIO PIRES DE CAMPOSO MÉDICO E O INTELECTUALAo transpor os umbrais desta “Casa de Operário”, e olhando para aquela

placa com a inscrição do meu nome, fiquei a pensar, envolvido todo meu ser por uma emoção tamanha e profunda, fiquei mesmo a pensar como aqueles antigos lutadores do ideal, que repetem no seu íntimo, como a Antógine de Sófocles, que não nasceram para mal querer... senão para amar!Amar, como se ama o belo,Amar, como se ama o bem,Amar, como se ama a virtude.Amar, como se deve amar o dever. Amar, como todos estes requisitos, a Medicina, como sempre amei : crianças desta Terra, desde o primeiro dia em que abri meu consultório nesta cidade e examinei meu primeiro cliente pequenino, até o dia de hoje em que, com uma longa caminhada de 25 anos de Clinica Pediátrica e Neurológica, posso festejar ao vosso lado, com esta Homenagem que me prestais, embo-ra, sinceramente falando, eu não a mereça, pois são poucos os méritos que possuo para bem merecê-la, minhas Bodas de Prata no exercício de minha Clínica Infantil.Dissera Aluizio de Castro que, para ser bom médico, é preciso ter duas cousas : - Cultura e Coração.

Cultura é ciência, é arte, é moral, é filosofia, é religião. Se não a tenho em extensão e profundidade, como desejara, procurei adquiri-la em grau suficiente, com os mestres que tive e no convívio constante com os meus livros, meus grandes companheiros de todas as noites.Quanto ao meu coração, vós todos o conheceis. Sendo o “músculo oco do ser humano”, Deus o fizera assim para que as vicissitudes da própria existência humana possam nele instilar o doce fluido da bondade, do amor, do devotamento, da renúncia, do sacrifício, virtudes essas indispensáveis a todo aquele cujo mister consiste em suavizar um sofrimento, aliviar uma dor física ou moral, levar uma esperança sempre que uma sombra qualquer ameace interceptar o sol de uma vida.

Page 36: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras34 E que é nossa vida, se não uma luta constante entre dois estados de alma: o prazer e a dor?... E a vida é um patrimônio eterno de que somos os efêmeros depositários!Li, não sei onde, que nem sempre é dado ao lavrador ver brotar das entranhas da terra a semente que a ela atirou.Posso dizer-vos hoje que fui mais feliz. Meu destino prodigalizou-me esta grande ventura: esta homenagem tão bela com que me honrais, repre-senta a gratidão de todos aqueles que me rodeiam, pelos frutos e pelas flores resultantes da semente que minhas mãos lançaram, durante estes 25 anos de minha profissão, nesta Terra fecunda e benfazeja.Em comemorando este ano minhas Bodas de Prata, que simbolizam 25 anos de luta constante no terreno da Clínica de crianças, somente em Botucatu, formei uma geração inteira nesta longa jornada.Formei-a, não com aquela sabedoria, talvez, dos grandes mestres e doutores, mas com aquela sabedoria simples e modesta, que é a sabedoria do Bem, como a definira Francisco de Castro. Sabedoria do Bem, que todo médico deve incluir em sua terapêutica e nos seus conselhos de todos os dias. Cuidar do corpo sem esquecer o espírito.Este é o segredo dos que procuram vencer no exercício da Medicina, com dignidade e com respeito à criatura humana. Medicina e Humanismo devem caminhar paralelamente. Sem este critério, a Medicina vai perdendo pouco a pouco seu caráter de sacerdócio para se transformar no triste “balcão de vendas de receitas” como bem afirmara o Prof. Jairo Ramos, numa recente oração de paraninfo... e Dom Vicente Sherer – arcebispo de Porto Alegre.Dissera, certa vez, um pensador oriental, que nossa vida é uma ânfora sagrada como um símbolo e humana pelo que vai conservando da vida de cada um de nós, à medida que vamos sendo arrastados pela correnteza do destino. E, numa tarde, que pode ser alegre ou triste, quando a prata dos nossos cabelos forma um contraste com as cores de um crepúsculo que se aproxima, com que emoção evocativa vamos retirando dessa ânfora tudo aquilo que fomos nela depositando, durante o perpassar dos meses e dos anos, como imagens do passado a se projetarem no presente.

Sonhos. Esperanças. Alegrias. Sonhos dos que se iniciam na profissão médica. Esperança que nos conduzem, como um bordão de viagem, pelos caminhos nem sempre suaves, que vamos palmilhando (com amor, com devotamento, com sacrifício), para que nossa medicina sempre conservasse o mesmo gesto de nobreza e de altruísmo, tanto ao nos abeirarmos do leito de uma criança de gente humilde e pobre, como do leito de uma criança protegida pela fortuna.-“Nenhum mister mais peregrino e mais nobre do que esse de atender

Page 37: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

35Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasao sofrimento humano”, assim o definira Fernando Magalhães.

Posso afirmar-vos, assim, sem exagero e sem vaidade alguma, que, se bem pensei, melhor cumpri, nesta cidade, todos os meus deveres profissio-nais, quer em minha Clínica particular, quer como Pediatra responsável pelos serviços de Clínica Infantil, tanto no Ambulatório como na Enfermaria de crianças da Misericórdia Botucatuense.Ali, em nosso primeiro Hospital, fundado pelo grande médico Dr. Anto-nio José da Costa Leite, posso orgulhar-me de um serviço que durou perto de vinte anos, dando à criança pobre e humilde desta cidade tudo quanto me foi possível fazer em sua defesa, com amor, com devotamento, com abnegação, mesmo porque, por essa época, o governo estadual não havia criado ainda os centros de Puericultura, que hoje existem em quase todas as cidades de nosso Estado como órgãos de assistência à criança cujas famílias não recebem um salário auto-suficiente para bem protegê-las e defendê-las contra a gravidade de certas enfermidades.Assim, enquanto não vieram os serviços assistenciais do Estado, coube--me, naquele Hospital, a tarefa de cuidar de todas as crianças que vinham ao nosso ambulatório ou eram internadas na enfermaria para tratamento dos casos que exigiam maior soma de cuidados. E eu realizei esse trabalho árduo, sem esmorecimento, sem interrupção, porque era preciso que assim fizesse para bem cumprir meus deveres para com as crianças desta grande região. E tudo isso fora feito com os poucos recursos de que dispunha nossa Misericórdia Botucatuense naquela ocasião. Trabalhei durante esse longo período, como também o fizeram meus colegas do Hospital: sem nenhum salário pago pelo Estado ou pelo Município. Tudo era feito sem visar a dinheiro ou recompensa. Era a medicina que se exerce com o coração, com altruísmo, com caridade. A única recompensa se resumia na moeda da gratidão de todos os pais e de todas as mães. Para minha filosofia de médico, era essa a melhor recompensa.Porque, no cumprimento dos meus atos de médico, nunca deixei de fazer o que recomendam aquelas maravilhosas palavras de George Duhamel: - “O ato médico é um ato singular, de homem para homem, ato de consciência que não admite intervenção alheia”.

Saibamos preservar, dissera George Duhamel, na prática da profissão médica, que requer tantos heroísmos, o lado espiritual, tão necessário à te-rapêutica do corpo e da alma, essa recíproca atitude psicológica do doente e do que ele escolhe para médico. Não façam deste um homem sem alma, simples peça de máquina, nem se transforme o doente de pessoa em coisa. Que o médico penetre o fundo das almas e dê sempre ao que sofre, e para ele apelou, mais do que a técnica de sua arte, a força afetiva, o calor do seu próprio coração.”

Page 38: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras36 Belíssimas palavras estas, encerrando o melhor e o mais útil dos con-selhos aos que exercem a profissão médica.

E esta será sempre a minha Bíblia, posso afirmar-vos hoje, sem o menor receio de um ato de vaidade, durante minha passagem por aquele Hospital e mesmo no desempenho de minha clínica privada. Teve razão nosso grande Rui Barbosa, quando, ao descrever o perfil do insigne mestre da Medicina Brasileira, Francisco de Castro, assinalara com ênfase aquela personalidade exemplar, com estas palavras:- “A Antiguidade pôs entre os seus deuses a invenção da arte de curar. Preza-se Apolo de havê--la imaginado: inventum medicinae meum est”... Daí a cruz que todo médico deve saber carregar, como insígnia do seu sacerdócio, a lembrar-lhe sempre a responsabilidade dos seus encargos. Porque é preciso saber servir com bondade e sabedoria onde quer que ronde a sinistra ceifadora das vidas humanas.Carreguei também e ainda continuarei a carregar minha cruz por

todos os caminhos de minha vida profissional. Fui e continuarei sendo fiel aos encargos assumidos.Neste momento em que me prestais esta Homenagem, grande demais para quem fora humilde e simples demais, há uma confissão muito íntima que desejo extrair do fundo do meu coração para fazer a todos os que me ouvem, nesta pausa momentânea de minha vida, em que recebo de todos vós o maior dentre todos os prêmios que um médico pode ambicionar: a gratidão. Sim! A gratidão! Pelo Bem que sempre procurei fazer, nesta cidade, cuidando como cuidei e defendendo como sempre defendi, com amor, com devotamento e com patriotismo, a criança desta generosa terra e deste nobre povo de Botucatu.Se hoje, em toda esta vasta região da Sorocabana, meu nome se tornou conhecido de tal modo que adquiriu alguma auréola de prestígio e de respeito, confesso, neste momento, diante de vós, que foram os braços dessa geração nova, plasmada, em sua maioria pela minha Clínica, que me elevaram a essas alturas!E essa gratidão, que é a alma desta homenagem, está demonstrando, por si mesma, que existe um pouco de minha arte e de minha ciência nos corpos robustos da maioria desta mocidade que passou por minhas mãos, numa distante aurora da vida em que o Sol acordou para ir beijar-lhes as faces pequeninas.

Se muito trabalhei e muito fiz pela criança desta cidade e desta imensa região da Sorocabana, realizando mesmo em várias cidades, a convite da Legião Brasileira de Assistência, palestras e conferências sobre o magno problema da assistência à infância, mostrando a todos os que

Page 39: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

37Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasme ouviam nas diversas cidades que visitei como convidado, as elevadas cifras de mortalidade infantil que representaram e ainda representam uma sangria constante a diminuir o sagrado patrimônio populacional brasileiro, soube cumprir meu dever de pediatra, amando na criança de hoje a Pátria de Amanhã. Porque o futuro de uma nação, que deseja ser grande e poderosa, repousa na defesa que soubermos fazer da criança de hoje – que será o homem de amanhã.E o homem não é somente uma realização biológica “corpo e alma” mas, sim, uma trajetória no tempo, uma parte dinâmica da existência, como no-lo diz e ensina Ortega y Gasset.Agradeço-vos, assim, com o coração de joelhos, esta homenagem que me prestais. Guardá-la-ei no fundo do meu coração como o melhor de todos os presentes do povo desta Terra. Esta Homenagem representa para mim não só uma imensa alegria como uma felicidade para o íntimo de minha alma. E a Felicidade, como a cantara um poeta, em se tratando de médicos principalmente, “nem sempre está no muito, se não no muito bem!”E minha felicidade está justamente no muito bem que pude distribuir entre as crianças desta cidade e desta região, crianças que hoje formam esta geração da qual vos falei. Por isso, aí fora, nas cidades e nas vilas, nas aldeias e nos campos, nas escolas em que se forma e plasma a inteligência e o caráter, nas oficinas em que o trabalho produz riquezas, vive e palpita essa nova geração brotada daquela semente que nestes 25 anos lancei como um modesto semeador da moderna Puericultura e da moderna Pediatria.

Ao finalizar este meu agradecimento, quero lembrar-vos apenas umas palavras de Anatole France: “Mas, não procureis a verdade, diz ele, na palavra dos médicos, buscai somente o consolo. Aos médicos e aos caçadores se reserva o direito de mentir... desencadeadamente...”Que gostoso paradoxo este de Anatole em seu livro “Vida em Flor”, quando põe a pergunta se a “linguagem humana” poderá servir à expressão da verdade e conclui ele pela negativa. Talvez tivesse ele razão.Miguel Couto, por exemplo, era exímio na piedade das suas menti-ras... pois chegava a convencer da cura ao mais desenganado... Porque é doce aceitar por verdade o que nos agrada ou nos conforta. Vós, que não sois médicos nem caçadores, não vos atinge este paradoxo do grande escritor. Esta Homenagem com que me honrais simboliza, isto sim, um grande privilégio: o privilégio dos que reúnem ao saber o encanto pessoal, o privilégio dos que fazem do seu idealismo e da sua bondade uma bandeira de luta em benefício de uma comunidade ou de uma classe social, como é a classe dos operários, legítimos e admiráveis construtores

Page 40: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras38do Brasil de amanhã.Agradeço esta homenagem porque sei e sinto que ela vem do fun-do dos vossos corações. Se a mereço, direi então, como dissera Andrew Clark:- “ oi porque trabalhei 10 anos para o meu pão de cada dia, mais 10 anos, para o pão e a manteiga, e mais 5 anos, para o biscoito e o vinho...E este vinho sagrado de minhas “Bodas de Prata” de tal maneira me alegra a alma de médico sentimental, que me faz dizer, diante de vós, estes versos de Bilac, oferecendo a todos um pedaço do meu coração:“Operário modesto, abelha pobre,De vós e para vós o mel fabricoE abençoo a colmeia que nos cobre.Só do labor geral me glorifico:-Por ser de minha gente é que sou nobre!-Por ser de minha Terra é que sou rico!”: Biografia

ANTONIO PIRES DE CAMPOS nasceu em Botucatu em 13 de junho de 1903 e faleceu na mesma cidade aos 09 de fevereiro de 1977. Médico, farmacêutico, químico, professor, jornalista e conferencista. Como médico pediatra, a fama de sua eficiência centrifugou uma vasta região deste e dos Estados sulinos. Nenhum bebê de berço ou criança manhosa da primeira infância escapou de suas mãos macias e de seus ouvidos apurados. Consciencioso e estudioso. Em janeiro de 1936, ini-ciou sua clínica nesta cidade de Botucatu. Organizou e dirigiu durante 20 anos os serviços de Pediatria na Misericórdia Botucatuense, onde criou o primeiro berçário e a primeira enfermaria de crianças. Suas importantes observações consubstanciaram-se em teses de grande alcance. A “Medalha Imperatriz Leopoldina” foi-lhe concedida por seu amor à causa infantil brasileira. Admirado como conferencista, nenhum tema lhe foi adverso. Nos áureos tempos em que a Cúria Diocesana era um cenáculo, fez conferências brilhantes. Poeta dos mais admirados, colabo-rou nos jornais locais : Folha de Botucatu, Correio de Botucatu, Gazeta de Botucatu, etc... no tempo em que a nossa imprensa trazia três idiomas à leitura diária: português, francês e inglês, sem contar ainda o italiano.Pertenceu aos melhores círculos literários onde lideravam Levy Thomaz de Almeida, João Thomaz de Almeida e Pedro Chiaradia. Como Presidente do Centro Cultural de Botucatu, trouxe intelectuais de renome

Page 41: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

39Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letraspara conferências e recitais. Colaborou no jornalismo carioca, enquanto estudava medicina no Rio de Janeiro. Serviu a revolução Constituciona-lista de 1932 como voluntário botucatuense. Serviu no Setor Sul, sob o comando do General Taborda. Coube-lhe na Academia Botucatuense de Letras, a primeira brilhante conferência. Ocupava a Cadeira nº 10 – Patrono: Humberto de Campos.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 42: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras40

ANTONIO TÍLIO JUNIORO Último Artigo de Antônio Tílio Júnior“52 ANOS” (DE A GAZETA) Eu diria,”Seo” Souza, tratar-se do momento ou data fora do comum. Aliás, assim se deveria entender normalmente quando se cuida do registro de alguma coisa. Desnecessário dizer que tal enfoque inicial colocou de imediato

“Seo” Souza perfilado auditivamente e com o semblante riscando os traços de surpresa. Entretanto “Seo” Souza, ou se referem superficialmente, ou não se lembram mesmo.- Geo... você está me encurralando. Solte logo!- Pois bem, caro amigo.- Como você encara a criação ou data de aniversário de fundação de um jornal?- Epa! Essa é tiro certeiro Geo... Confesso que jamais atinei com ideias dessas. Do hábito de ler cotidianamente o “matutino” ou “periódico”, notícias dessas poderão ser vistas. Olhe, poderão para não dizer que a gente possa passar por cima.- Aí está “Seo” Souza, se se tratasse daquele noticiário de ordem política, daquela entrevista com o “Deputado tal”, etc o que você diria?- Geo... você está me encurralando demais!- Não é esse o propósito. Prezo-lhe bastante a amizade. É que você exemplifica e justifica o sentido destas linhas, incorporando-se a uma legião de pessoas de proceder idêntico.

- Atente: ontem, 19 de novembro, é data de um significado carinhoso e indescritível, sobretudo para este escriba que busca semanalmente amontoar palavras com a pretensão que se lhes batizem como artigo ou crônica.Dia 19 de novembro – Dia da Bandeira- fundou-se realmente um jornal como se aquele grupo de amigos – Milton Marianno, Osmar Delmanto, Luiz Caloi, Sylvio Mattos, José Pedretti Neto e este escrevinhador – estivesse hasteando uma bandeira no topo da serra. O jornal, por sua origem e pelo aconchego das mãos que o envolveram, nasceu identificando-se de fato com

Page 43: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

41Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasa sua gente e sua terra. Não se postou meramente como ereto e disciplinado soldado, mas como uma coluna miliciana, já que desde o primeiro número, até os dias de hoje, traduzem suas páginas trincheiras abertas ao bom e fiel combate.

Dificilmente longe ou ausente às conquistas e às reivindicações do seu povo, é justo que se diga: com pouco mais de meio século de existência não se lhe pode negar que já é história da História desta cidade quase bicentenária.- Geo...- interrompeu “Seo” Souza. Não aguce mais a curiosidade. A que está se referindo?- Referindo... Não é bem referência, “Seo” Souza. É memória. É evo-cação.- Ontem, pois, a “Gazeta” entrou no 52º. ano de existência. E confesso que senti aquele ímpeto de, a plenos pulmões, poder gritar: É “A Gazeta”! É a minha, a nossa “A Gazeta”, vitoriosa no transcorrer de todos estes anos, devendo-se também, ainda, de justiça, parabenizarem-se seus atuais diretores, na pessoa do amigo Adolpho Dinucci Venditto.- Geo... você me faz orgulhoso neste momento, ouvindo esse seu relato.- Permita-me: faça o meu também.Com o costumeiro aperto de mãos, separaram-se os amigos.: Biografia

ANTONIO TÍLIO JUNIOR, nascido em 4 de setembro de 1928, em Botucatu, formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, Universidade de São Paulo.Foi Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Subseção Botucatu em 1973 e 1974. Foi vereador pelo Partido da União Democrática Nacional entre 1960 e 1963. Na época, não aceitou substituir, por 90 dias, o Prefeito Municipal de Botucatu, Plínio Paganini, que teve que se afastar do cargo para ser candidato à reeleição.Atuou como jornalista no jornal Folha de Botucatu e foi um dos fun-dadores de “A Gazeta”, onde permaneceu escrevendo artigos semanais, até a última edição do jornal, de 20 de novembro de 2009. Era um dos mais antigos membros da Loja Maçônica Guia Regeneradora, onde exerceu o cargo de Venerável Mestre (Presidente).Foi Membro Honorário da Academia Botucatuense de Letras (ABL).Faleceu no dia 23 de novembro de 2009, em Botucatu.Na edição nº.2 de “A Gazeta de Botucatu”, em 26 de novembro de 1957,

Page 44: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras42Antônio Tílio entrevistou o então prefeito de Botucatu, Dr. João Queiroz Reis. Logo no início da matéria, enfatizou o intuito da fundação do jornal:“Julgamos, desde logo, indispensável trazer para as colunas desta folha a palavra do chefe do Poder Executivo de nossa terra. Sobretudo, quando nos propomos a ser, notoriamente falando, um informativo, de fato. Julgamos, mesmo, não andaríamos bem se não procurássemos um dos poderes consti-tuídos de nossa cidade nesse começo de vida.”Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 45: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

43Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ARLETE BRAVO NOGUEIRA O MENINO DO RETRATO Zulmira, minha mãe, ganhou do meu irmão Levy, certa vez, um álbum para fo-

tografias o qual guardo até hoje. Um álbum grande, medindo 43cm por 30cm. Capa marrom, sendo mais escuro nas bordas e, no centro dele, há um ramalhete com flores brancas cujos detalhes, em azul e vermelho, ajudam a definir melhor cada pétala. As flores possuem miolinhos redondos, pintados em tons de amarelo e alaranjado. Contornando esse arranjo floral, aparecem folhas verdes, parecidas com as da roseira, mas as flores não são rosas! Esse álbum sempre guardou fotos preciosas para a minha família.Havia, também, uma caixa de papelão quase cheia de retratos antigos e atuais e mais uma outra caixa de camisa onde ficavam as fo-tos de tamanho maior, as que foram oferecidas aos meus pais por seus irmãos, sobrinhos e filhos, como lembrança do dia do seu casamento. Outras fotos emolduradas ficavam dependuradas nas paredes da salinha de minha casa.

Ver fotografias era um passatempo e uma diversão que todos de casa apreciávamos. As reuniões para comemorarmos o aniversário de minha mãe ou de meu pai eram uma festa! A casa ficava cheia de gente e de alegria. Após termos saboreado um delicioso almoço feito com amor e esmero pela matriarca da casa, onde o franguinho ao molho nunca faltou, e com tudo já limpo e arrumado, trazíamos para a mesa da cozinha o álbum e as caixas com os retratos e, ali ficávamos passeando pelo tempo através das fotografias, pois ouvíamos as histórias relacionadas àquela pessoa e a sua família, seus hábitos, suas amizades, sua maneira de falar, se gostava de pescar ou caçar, como construía uma armadilha para pegar uma paca, quais eram os valores

Page 46: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras44morais e espirituais que norteavam a sua vida... Ah! Quanta conversa! Quanto aprendizado! E toda essa prosa fortalecia, cada vez mais, os nossos laços fami-liares e nos deixava próximos de pessoas e lugares que nunca havíamos visto.Meu pai sempre foi muito carinhoso com todas as pessoas e as tratava com respeito e educação. Era muito querido pelos parentes e amigos, por isso, era comum recebermos visitas com frequência. Na sua mocidade, nutria uma grande amizade por sua prima, em segundo grau, a Altina, que se casou com o Mário de Araújo.Tiveram vários filhos. Eles frequentavam a Igreja Metodista onde o ato do batismo infantil se realiza, até hoje, na presença de duas testemunhas. Então, quando foram batizar o filhinho Alceu, provavel-mente no ano de 1914, convidaram meu pai, o “Tio Brasil” para ser uma das testemunhas. Daí em diante, passaram a chamá-lo de “padrinho”.Em 1918, houve o primeiro sorteio em âmbito nacional para que os jovens nascidos em 1896 prestassem o Serviço Militar. Meu pai foi sorteado. Assentou Praça no 43º. Batalhão de Caçadores, em São Paulo, onde chegou em fevereiro daquele ano. Logo no mês seguinte, recebeu a visita de seus queridos amigos: Mário, Altina, seu filho, o pequeno Alceu, tio João de Souza, seu cunhado e o senhor Virgílio Maynard, pai de Altina. Registraram esse feliz encontro numa bela foto tirada no Jardim da Luz. Todos estavam elegantemente trajados!

Uma outra fotografia guardada sempre com todo cuidado, foi tirada no Foto Rocha, em 1918. É de um garotinho vestindo terninho cáqui, estilo militar, calçando botinas e perneiras pretas e um quepe na cabeça. Logo atrás dele, há uma cadeira, tipo recamier, para compor o cenário. O garoto é bonito, seu semblante parece sereno e compenetrado. No verso dessa foto, podemos ler: “Ao meu querido padrinho Brasil: Alceu offerece a sua photographia em signal de amizade. Btu.25/7/18.Alceu nascido no dia 21 de Dezembro de 1913.” (grafia da época)Tive a felicidade de conhecer esse menino em 17 de março de 1973, na “Sessão de Instalação Solene e Posse dos primeiros Acadêmicos” da Academia Botucatuense de Letras. Ele já era um ilustre senhor de quase sessenta anos, considerado um dos maiores folcloristas do país, professor, escritor consagrado, advogado, sociólogo, Membro da Academia Paulista de Letras, e, ingressava, naquele recinto festivo como Patrono da Cadeira nº.2 da Academia Botucatuense de Letras.Que privilégio o meu de estar ali e poder vê-lo! Eu queria abraçá-lo, conversar com ele e dizer-lhe de quem era filha. E isso eu fiz, assim que a Sessão Solene terminou. Após conversarmos um pouco, marcamos para o dia seguinte, no sítio do Dr. Francisco Marins, o encontro dele, Alceu, com seu padrinho, Brasil.

Page 47: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

45Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasEsse momento foi muito lindo! Um forte e demorado abraço, repleto de emoções sinceras, e uma alegria estampada na face daqueles dois homens, marcaram esse reencontro inesquecível. O botucatuense célebre – Alceu Maynard Araújo – é o Menino do Retrato!: Biografia

ARLETE BRAVO NOGUEIRA, nascida em Botucatu, estudou no Instituto de Educação “Cardoso de Almeida”, do Jardim da Infância ao Curso de Formação de Professores Primários (1963). Pela Faculdade de Ciências e Letras de Botucatu é licenciada em Ciências Sociais (1967) e na Faculdade de Música “Santa Marcelina” de Botucatu, concluiu o Curso de Graduação em Instrumento - Piano (1971), de Licenciatura em Música (1972) e de Li-cenciatura em Educação Artística (1976).No Magistério Público Estadual, ministrou aulas de Matemática, His-tória, Música e Educação Artística. Efetivou-se, em 1980, como Professora III, em Educação Artística, por Concurso Público do Estado.Dedicou-se ao ensino da Música, também, através do Canto Coral, formando e regendo vários corais na cidade, sendo os mais conhecidos: “Coral Purencanto” (infantojuvenil) e Conjunto de Vozes Masculinas, na Igreja Presbiteriana Independente (IPI); Coral Municipal “Cidade de Botu-catu”; Coral “Lageado em Canto”, na Faculdade de Ciências Agronômicas; Coral “Reviver”, no Centro de Lazer “Nova Aurora” e Coral da AFRAPE, Associação Fraternal Pelicano. Regeu, também, o Coral da IPI.Para melhorar o seu desempenho no trabalho do Canto Coral, buscou sempre atualizar, ampliar e aperfeiçoar seus conhecimentos, frequentando cursos com renomados maestros brasileiros e estrangeiros.Recebeu da Academia Botucatuense de Letras - ABL: Certificado de Reconhecimento (28-09-1985) e Diploma de Honra ao Mérito (05-07-2002),Tomou posse como Membro Honorário da ABL em 31-10-2008.

Page 48: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras46

ARMANDO JESUS BARBIERIACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS(40 ANOS DE GLÓRIAS)Ao rever tua memóriaConsta em toda tua históriaAs proezas do passadoDas letras bem traçadasEntre tempos diferentesMas nunca ficou ausenteIndo até mais adianteA lembrar os escritores passantesBotucatu do PeabiruOnde Hernâni Donato escreveuTens um ponto de glóriaUnido nos contos teusComo médico e escritorAmigo e grande doutorTemos imortal Olívio StersaUm exemplo de amorEntre estes que se foramNão podemos esquecerSentimos também o VinícioEsse desenhista querido com lembrança reviverDom Antonio, Dom VicenteEstão no Céu eternamenteLeda Galvão sempre amigaEterna poetisa e queridaTambém deixou em nosso coração

Page 49: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

47Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasRecordações para toda vidaAssim caminhamos nósCompletando 40 com grande emoção: Biografia

ARMANDO JESUS BARBIERI nasceu em 19/04/1935. É ferrovário aposentado nas funções de Inspetor de Condução de Trens.Escritor contista, escreveu 2 livros e 1 pronto e editado para lançamento em fevereiro de 2013. Poeta com 22 antologias da A.P.E.B., Taba Cultural R.J. e Almanaque de História e Cultura Dimensão Alluminatus de Anthemo Feliciano.Declarado Cidadão Botucatuense pelo dec 257 de 09/09/2009.Membro Honorário da “Academia Botucatuense de Letras” - A.B.L. desde 1º de agosto de 2008. Membro do Conselho Deliberativo do Centro Cultural de Botucatu, Membro do Conselho Municipal do Idoso. Membro da Pastoral Educação da Arquidiocese de Botucatu, faz parte do Conselho Fiscal da A.P.E.B. e S.A.B.E.P.Obras: 1) 1992 - Secretaria da Cultura da Prefeitura Municipal – Antologia 22) 1999 - A.P.E.B. nº 3 Antologia3) 2000- A.P.E.B. nº 4 Antologia4) 2001- A.P.E.B. nº 5 Antologia5) 2002- A.P.E.B. nº 6 Antologia6) 2011 - A.P.E.B. nº 7 Antologia7) 2006 - Revista Poética – Anthemo Feliciano8) 2012- Almanaque 2 Dimensão – Anthemo9) 2012- Almanaque 3 Dimensão - Anthemo10) 2012 - Almanaque 4 Dimensão – Anthemo11) 2002 - Livro- O Último Escravo – O Matuto do Sertão12) 2000 - Dicionário Poetas e Escritores Pagina 2913) 2012 - Seleta Coletânea da A.P.E.B. lançada 22/11/201214) 2000 - Coletânea da Taba Cultural Editora Rio de Janeiro15) 2001 - Letras do Brasil – Poesia e Prosa _ Taba Cultural R.J.16) 2005 - Seleta – Poesia e Prosa – Taba Cultural R.J.17) 2007 - Letras do Brasil – Antologia – Taba Cultural R.J.18) 2007 - Poesia e Prosa de Verão – Antologia – Taba Cultural R.J.19) 2008 - O Lugar da Poesia e da Prosa – 2º) Lugar entre 25 Poetas

Page 50: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras48do Brasil20) 2009 - Livro- Assassinato aos Domingos – Homenagem à Polícia21) 2010- Escritores da Década – Antologia – Taba Cultural R.J.22) 2009- Nossa Terra Nossa Gente – Antologia – Taba Cultural R.J.23) 2012- A Flor da Pele – Antologia – Taba Cultural R.J.24) 2012 - Livro – 2º volume de Assassinato aos Domingos com o título de Um Assassino a Espreita, 160 páginas, a ser lançado em Fevereiro de 2013, Taba Cultural R.J.25) 2012- Cidade do Rio de Janeiro – Antologia – Taba Cultural.Total 3 livros e 22 Antologias.

Page 51: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

49Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ARMANDO MORAES DELMANTO VIVA ALESSINO!Os imigrantes italianos que vieram para Botucatu no final do século retrasado (1887) chegaram carregados de esperanças e com uma só deter-minação: serem vencedores na nova pátria. Assim foi com meu avô paterno, Pedro Delmanto (Pietro Del Manto). Viera para o Brasil construir um sonho e, como os outros, com muito entusiasmo...Começou com uma oficina de calçados, chegou a ter a sua fábrica com loja no comércio. Não satisfeito, montou curtume especialmente para o preparo de couro para a fabricação de calçados. Curtume, Fábrica e Loja: completava o ciclo produtivo. Com modernas máquinas alemãs, exportava seus produtos para a Europa. Vencera o imigrante sonhador... Mas seu sonho

maior era outro: queria que todos os seus filhos estudassem, completassem um curso superior, ou como se dizia antigamente, que virassem “doutor”...Ele trabalhara com afinco para que seus filhos tivessem um horizonte mais florido e uma caminhada mais segura...Com esse pensamento, mandou o seu primogênito de apenas 9 anos de idade para a Itália junto com seus primos, filhos de Francisco Botti. Ima-ginem um menino de 9 anos... Lá, Aleixo fez seus estudo em Parma onde acabou curando Medicina, com especialização em Radiologia na tradicional Universidade de Bolonha. Lá, casou-se com Rina (Arthurina) Cantoni. E voltou para Botucatu como o primeiro “oriundo” formado em Medicina. Foi uma vitória da família e, com toda a certeza, de toda a numerosa colônia italiana de Botucatu. No seu regresso, Aleixo implantou o primeiro serviço de Radiologia da região. Era um avanço. Primeiramente, na Casa de Saúde Sul Paulista e depois na Misericórdia Botucatuense (por 40 anos), Aleixo se dedicou à medicina, chegando a completar 60 anos de efetivo exercício profissional. Nos primeiros anos de nossa Faculdade de Medicina, pôde co-laborar com seus ensinamentos em radiologia para o engrandecimento dessa modelar instituição.Comunicativo e extrovertido, Aleixo participou sempre das atividades da colônia italiana e das atividades culturais da cidade. Traduziu os clássicos

Page 52: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras50italianos, escreveu as letras de muitas músicas, inclusive, a letra do Hino de Botucatu, foi um dos fundadores do TAENCA e da Academia Botucatuense de Letras (a atual e a anterior). Enfim, foi um cidadão prestante. Seus filhos Rubens Aleixo (médico) e Glória (professora), deixaram-lhe netos e bisnetos.Em carta datada de 08 de fevereiro de 1914, meu pai, Antônio Delmanto, deixava expressa toda a felicidade e todo o orgulho que a família e amigos tinham do jovem Aleixo:“...ti faccio sappere Che sono pasatto nella scuola Botucatuense per podere imparare anche La língua Portoghese ma Il babbo me disse che da qui 2 anni vengo anch’io in Itália per poterme imparare como se deve, qui noi tutti stiamo bene... Riceve um baccio dal tuo fratello, Antonio Delmanto”.E termina, com letras maiores:“Viva Alessio,Viva Alessino!”Mais de um Centenário (nasceu em 16/10/1901)! Uma Vida!Saudades, caríssimo Tio Aleixo! Saudades!: Biografia

ARMANDO MORAES DELMANTO nasceu na cidade de Botucatu/SP, em 22 de abril de 1945. Filho de Antônio Delmanto e Rita (Fióca) Moraes Delmanto. Estudou no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida”, no Liceu Coração de Jesus, na Capital, e no Colégio La Salle, em Botucatu. Cursou as Faculdades de Sociologia e Política e de Direito (USP), tendo começado a trabalhar ainda calouro universitário.No jornalismo, teve seu primeiro jornal no ano de 1963, quando fundou o “Tribuna do Estudante”, órgão oficial do Colégio La Salle. Em 1966, fun-dava o jornal “A Realidade”, na Faculdade Sociologia e Política. Em 1970, lançava, em Botucatu, o jornal “Vanguarda”. Em 1980, lançava o “Jornal de Botucatu”. Em 1988, reedita a 2ª. versão da “Folha de Botucatu” e, em 2004, lança o moderno “Jornal da Cuesta”, editado a cores nas rotativas do “Jornal da Cidade, de Bauru. Publicou os seguintes livros: “A Juventude: Participação ou Omissão” (1970); “Crônicas da Minha Cidade” (1976); “Constituinte” (1981); “O Sonho Não Acabou” (1988); “Memórias de Botucatu” (1990); “Memórias de Botucatu 2” (1993); “Memórias de Botucatu 3” (2000); “Consolidação das Leis do Trabalho (1997); “História da Vitória Política Paulista – 1934” (2010). Desde 1997, publica a “PEABIRU - Revista Botucatuense de Cultura”.

Page 53: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

51Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasCasado com a socióloga, Maria Elisabeth Nogueira Delmanto, tem

dois filhos: Marcelo Delmanto (advogado) e Armando Delmanto (médico), casado com a médica Lucia Regina Gomes Delmanto com quem tem os filhos Laura e Neto Delmanto. Com experiência na política, exerceu a vereança em Botucatu (1977/82) e em 1994 elegeu-se 3º suplente de Deputado Federal. Trabalhou na adminis-tração direta e indireta do Estado, como advogado e como executivo. Em 1982 é indicado e eleito para a Academia Botucatuense de Le-tras- ABL. Cadeira nº 02, Patrono: Alceu Maynard Araújo, pelo médico e historiador Dr. Sebastião de Almeida Pinto. Tomando posse, em 1983, teve atuação efetiva como Membro, Vice-Presidente e Presidente em exercício.

Page 54: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras52

ARNALDO MOREIRA REISAS GRANDEZAS DO BRASIL Há povos que não possuem monumento de qualquer arte para simbo-lizar suas manifestações capazes de atrair o turista, mas, as empresas acham meios de fascinação na sua natureza. As alegrias dos esportes, como os dos Alpes suíços, as das praias como as das Ilhas dos Mares do Sul, Mônaco, Nice, as da pesca como o Canadá, a Islândia, e tantos outros. Mas, nada se compara com a natureza que marca com sua grandeza povos como o japonês com o seu belo Fujiiama, e o brasileiro, com o seu Pão de Açúcar.O viajor, que se acosta ao Brasil, o mar imenso esverdeando-se e o palmeiral em colunatas sombreando as praias por todo o Nordeste, já na Bahia, encontra a montanha limitando o mar, estreitando a praia, e na Cidade de Salvador erguendo o casario em presépio, e abordando o Rio de Janeiro os contrafortes da Serra do Mar, culminando com o Pão de Açúcar à entrada da Guanabara. O bondinho leva-e-traz, e escarpa lisa, embaixo a espuma dos vagalhões. Mas, tem mais. Logo o mais curioso surgindo da névoa seca, um vulto enorme, um gigante, do qual o Pão de Açúcar é o pé. Não é nenhum Adamastor, como o do Canto de Camões em Os Lusíadas: “...uma figura ...robusta e válida; De disforme e grandíssima estatura; O rosto, carregado, a barba esquálida; Os olhos encovados, a postura, Medonha e má, e a cor, terrena e pálida; Cheios de terra e crespos, os cabelos; A boca negra, os dentes amarelos”. Era enorme, a figura, talvez mesmo maior do que o Gi gante camoniano das tempestades; era, todavia menos rude, menos aterrador, porque era um gigante deitado. No Brasil dizem-no o Gigante que Dorme. Tem cerca de vinte quilômetros em linha reta, e sua espessura colossal atinge a altura de 700 metros. Fixando-se o melhor surge mais para terra adentro uma outra

figura. Formam o enorme Gigante todos os morros da Guanabara: os da

Page 55: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

53Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasTijuca formam o rosto, o dos Dois Irmãos, o peito amplo, os contrafortes do Corcovado o tronco e as pernas, e por fim, o Pão de Açúcar, os pés.Canta-o Gonçalves Dias, como o fez Camões ao cabo das Tormentas, mas no seu lirismo musical: “Gigante orgulhoso, de fero semblante, Num leito de pedra lá jaz, a dormir! Em duro granito repousa o gigante, Que os raios somente puderam fundir. Dormindo, atalaia, no cerro empinado, Devera cuidoso, sanhudo, velar. O raio, passando, o deixou fulminado E a aurora que surge, não há de acordar! Com os braços no peito cruzados, nervosos, Mais alto que as nuvens, os céus a encarar, Seu corpo se estende por montes fragosos Seus pés sobranceiros se elevam do mar!” Luc Durtain, em seu “Imagens do Brasil e do Pampa”, escreve, fas-cinado que, “ante as massas graníticas que circundam a barra, é impossível escapar à fascinante aparência de um gigante deitado... Tal é, em verdade, o colosso brasileiro. Essa visão, todavia, não evoca somente a sua grandeza geográfica. Ela corresponde à sua história, cujos traços o acaso também reu-niu; história que reflete, nas vicissitudes essenciais, os movimentos de larga superfície do planeta”.O Pão de Açúcar, logo, porém, domina todo o cenário: está de pé calvo, escorreito como uma coluna e pórtico. Perpassa-o e lá se abre a baía de Guanabara como uma vasta laguna, e já os arranha-céus, e enquadrando tudo isto os morros.

No Rio, o morro tem um significado próprio, é o miolo da cidade, e o mais pujante “melting-pot” brasileiro. Apesar de ali habitar muitos negros, não é nenhum Harlem, ou ghetto, é um formigueiro humano, fervilhando ao sol tropical numa imagem do povo.O brasileiro do Norte ao Sul admira o morro carioca como expressão popular, e para muitos é a genetriz da alma alegre do “bon-viveur”, que canta e sofre de olhos fitos no céu e deitado como o Gigante de Pedra, imaginando sempre trabalho, sem trabalhar.

Page 56: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras54: Biografia

ARNALDO MOREIRA REIS nasceu no Recife (PE) a 03 de janeiro de 1896. Filho de Manoel Moreira Reis e Armênia Vieira Moreira Reis. Ca-sado com a Sra. Orminda Lisboa de Carvalho Moreira Reis, teve os filhos: Margarida, Professora, e Marília, Funcionária Pública. Sua infância, passou-a no Engenho Piranga, de seus avós, sendo esta fortemente marcada assim como sua adolescência, pela influência de seu tio Carlos, Bacharel em Direito, que lhe serviu de amigo e mestre em humanidades. Estudou Física, Química e História Natural no Ginásio Carneiro Leão. Diplomou-se em Ciências Médico--Cirúrgicas, defendendo tese para o Doutorado a 15 de dezembro de 1919 sobre Higiene do Solo Urbano, a qual teve grande repercussão pelo ineditis-mo. Médico sanitarista, ocupou altos cargos no Ministério da Saúde, Setor de Inspetoria de Saneamento e profilaxia Rural. Premiado por dedicação ao serviço pelo Decreto 13.538 devido ao êxito da profilaxia rural. Conhecedor dos problemas nordestinos, Arnaldo Moreira Reis, iniciou-se no jornalismo colaborando em jornais de Recife.Já no Estado do Rio de Janeiro, colaborou no “Diário Nacional”, da Capital. Em Botucatu, colaborou no “Diário da Sorocabana”, na “Folha de Botucatu”. Ali discorreu sobre clínica, crônicas médico-sociais, crítica lite-rária, política, etc...Dedicou-se especialmente à Filologia e à Linguística, assuntos espe-cialmente publicados na revista “Ilustração Nossa Estrada” da Estrada de Ferro Sorocabana. Depois da profissão e da família, era o Centro Cultural de Botucatu o que mais amava. Os livros preenchiam sua vida. A eles dedicou-se durante toda a sua longa existência. Desenvolveu a Biblioteca da entidade ao lado de Sebastião da Rocha Lima, dando a Botucatu um patrimônio cultural de elevada importância. Pesquisador tenaz, rebuscador de arquivos, dedicou--se ao estudo histórico dos Sumérios e da expansão da cultura desse povo, especialmente no terreno linguístico.Este pendor pela Filologia aproximou-o de Frei Fidélis tornando-se amigo particular do grande historiador. Membro destacado da Academia Bo-tucatuense de Letras, foi um de seus fundadores e segundo Vice-Presidente, ocupando a Cadeira nº 12 - Patrono: João Guimarães Rosa.O Dr. Arnaldo Moreira Reis faleceu em Botucatu, aos 10 de junho de1987.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 57: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

55Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

BAHIGE FADEL LENDA DE BOTUCATUEra uma vez um deus que se cansara da vida de deus e resolveu deixar o Olimpo, para conhecer outros lugares. Era YBITU, o deus dos ares.Esperançoso e aventureiro, iniciou sua aventura. Em cada lugar que conhecia ganhava uma nova decepção. Tudo era diferente do que imaginava.

Às vezes, o lugar era sujo ou a terra era árida ou o clima era ruim. Ybitu, então, seguia para outro lugar.Quando encontrava uma terra conforme imaginara, eram as pessoas ruins ou desonestas ou interesseiras. Nada era perfeito.Ybitu ficou muito triste. Estava quase arrependido de ter deixado o Olimpo para conhecer outros lugares.- Para que conhecer tanto lugar ruim?! – dizia – E tantas pessoas ruins?! -acrescentava.Como todo sonhador, no entanto, quis tentar mais uma vez. O deus dos ares usou seus poderes e ordenou ao vento que, num sopro, o levasse para um lugar distante.O vento obedeceu e, com força, lançou Ybitu bem longe. Era um lugar maravilhoso! Parecia um sonho. Os campos verdes harmonizavam-se com o azul-claro do céu. Algumas nuvens brancas, querendo fazer parte desse quadro, surgiam meninas brincando no anil. Tudo isso, ao som colorido da orquestra de pássaros, que salpicavam o verde da paisagem.- É mais bonito que o Olimpo! – exclamou Ybitu.Depois, temendo ser castigado por Júpiter, corrigiu:- É quase tão bonito como o Olimpo!Tão logo conheceu o lugar, quis conhecer seus habitantes. Afinal, só pessoas maravilhosas poderiam viver num lugar tão próximo da perfeição.Foi procurar.Não demorou muito, encontrou uma menina, quase moça. Era linda como uma manhã de sol. De beleza incomum. Nada parecido. Nem no Olimpo. Precisava conhecê-la melhor.- Como você se chama?

Page 58: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras56 - Katu. – disse a moça timidamente.Ybitu riu. Achara engraçado. Onde se viu alguém chamar-se Katu? Mas que nome tão estranho!- E o que você faz? – perguntou Ybitu.- Eu sou uma princesa. Sou a Princesa da Bondade. Tudo de bom que você viu nesta terra tem a minha vontade.- Tudo?!- Tudo. Aquilo que é ruim eu transformo em bom. Para viver aqui, tem que ser bom.Katu olhou para Ybitu e lhe perguntou:- Você é bom?Ybitu ficou sem jeito. Respirou fundo e disse:- Sou um deus. Vim do Olimpo para conhecer outros lugares. Este foi o melhor que achei.- Que bom! – exclamou Katu, com brilho nos olhos.O tempo passou e Ybitu nunca mais deixou aquele lugar. Ybitu e Katu

se casaram. E a cerimônia foi presenciada por toda a natureza. O céu ficou mais azul, mas não desprezou as pequenas nuvens brancas que brincavam por ali. O verde do campo serviu como tapete para o casal passar. E os pássaros, todos, entoaram a mais linda canção de amor para festejar o acontecimento.Desse casamento nasceu um filho. Já nasceu bonito e forte. Tinha um pouco da mãe e um pouco do pai. Era saudável e cresceu rápido. Criado com carinho, tornou-se grande e bom. O pai, orgulhoso, dizia a todos que o

filho era como qualquer deus do Olimpo. A mãe estava certa de que o filho havia herdado a sua bondade.Até hoje, o filho de Ybitu e Katu é admirado e respeitado por todos. Seu nome é BOTUCATU!..: Biografia

BAHIGE FADEL, professor, brasileiro naturalizado, nascido em Hamat-Líbano, em 11/10/1947.

Page 59: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

57Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

BENEDICTO VINÍCIO ALOISE(Último desenho feito por Mestre Viní-cio, para o livro “Familiando... em Prosa e em Verso”, da Acadêmica Carmen Sílvia Martin Guimarães)UMA HISTÓRIA DESENHADAA ti, Mestre Benedicto Vinício Aloise “O teu começo vem de longe”... (Cecília Meireles) É “Uma História Desenhada.” Vem de 27 de setembro de 1932, em Botucatu nascido, filho de Lígia Paes de Camargo Aloyse e de Raimundo Luís Aloyse, o “Tio Dé”. Foste recebido nesta Cuesta com muito amor e muita fé. A tua infância foi embalada Nos dias e nas noites do antigo Alambari, atual Piapara, Pelo carinho do avô – chefe de Estação de trem E pela instrução da avó - professora. Ali, com cinco anos, já rabiscavas A vida rural que tanto amavas. A tua vida estudantil vem de longe... Curso Primário na Escola Estadual Cardoso de Almeida - o “Cardo-sinho”, Curso Secundário na Escola Nossa Senhora de Lourdes – atual La Salle, Curso de Professor Normalista na vizinha São Manuel – Instituto de Educação Estadual E Curso Técnico de Desenho a Distância. A tua vida profissional vem de longe... Professor primário, professor secundário de Desenho,

Membro honorário da Academia Botucatuense de Letras

Page 60: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras58 Em escolas públicas de Botucatu e no La Salle. Em 1963, a convite do Dr. Lett, passaste a trabalhar como Desenhista, no Departamento de Morfologia da Faculdade de Ciências Médicas e Bio-lógicas de Botucatu. Nesse período, teu primeiro livro foi lançado: “Atlas de Anatomia Humana”, Em parceria com o Dr. Neivo Luiz Zorzetto. No Centro de Treinamento da CESP, foste ilustrador de empenho, Dando vida e cor às apostilas confeccionadas para a área pedagógica. Ficaste lá de 1974 até tua aposentadoria. A tua vida familiar vem de longe... Num curso de Educação Física, no IECA, conheceste teu grande amor: Maria de Lourdes. Lecionava essa jovenzinha na Fazenda Nova América. E bem rapidamente, tu desenhaste “uma professorinha assustada, correndo no meio do pasto, com medo das vacas”. Com Maria de Lourdes tu casaste, Tiveram dois filhos para o lar adornar. Ganharam duas filhas que não tinham E três netos para a vida alegrar. A tua arte vem de longe... Desenho em bico de pena elaborado, Ilustrando detalhes inatingíveis, Deixando-nos todos encantados! O teu espírito observador vem de longe... E crias caricaturas dos colegas e amigos. De modo alegre e descontraído desenhas As feições, os gestos, até dos inimigos! O teu bom humor vem de longe... É fonte de grande amizade. Perto de ti, nenhum lance é perdido E toda piada é de muita risada! Esse teu dom, que vem de longe, faz-nos crer Que nas linhas traçadas por tão nobres mãos Está o artista, o pai, o esposo, o profissional,

Page 61: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

59Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras O sempre amigo de grande coração. A tua saudade vem de longe... 2 de setembro de 2011... É toque de mágica que não se cala, É o passado revivido no presente, É o futuro resguardado numa fala.VAMOS AGORA RIR COM ALGUNS “TROCADILHOS DO VINÍCIO”Trecho do artigo “Os Benditos” de José Sebastião Pires Mendes Publicado no Jornal Diário da Serra de 09/09/11 (...) “O terceiro bendito eu já conhecia de longa data, desde 1962, quando eu ainda era um estudante de Seminário. O ano estava terminando, e resolveu-se fazer uma apresentação teatral. Nessa época, o arcebispo era dom Henrique, que tinha temperamento artístico e nos incentivava. Mas o nosso diretor, padre Gusson, disse que eu seria um detetive, na hora certa entraria em cena apenas para apontar alguém e dizer: ‘Assassino!’ E assim fiz, com toda boa vontade que pude reunir. Entrei no palco e gritei a plenos pulmões: “Assassino!” Bem, a peça acabou, os convidados de Dom Henrique se achegaram para cumprimentar os ‘atores’, e alguém me disse: — ‘Puxa vida, eu pensei que íamos ter algum churrasco de sino, pois você ordenou com toda a fúria ‘ASSA SINO! ASSA SINO!’ E foi só risada. Acho que já sabem de quem se trata, não? Benedicto Vinício Aloise que nos deixou há tão poucos dias”.Olavo Godoy“O querido Prof. Vinício era um especialista em trocadilhos...Certa vez disse ao Carlos de Rosa : -‘ Carlos, sabia que no Pardinho não existem brancos nem negros. - Por quê? Perguntou Carlos. - Porque lá só tem pardinho’.”“Sempre que ele se encontrava comigo, dizia: -‘ Olá vinho!’‘(Sabedor que era, da minha preferência pelo vinho.)” Celso Guimarães Júnior“Prof. Vinício era muito amigo dos alunos. Eles o entendiam e admi-

Page 62: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras60ravam seu espírito brincalhão. Certa vez, ele chamou um aluno e lhe disse:— ‘Fulano, dê um pulinho até a lousa.O aluno gozador sai do seu lugar aos pulinhos e vai até a lousa.E o professor diz:— Mas o que é isso?E o aluno:— Ué, o senhor não mandou eu dar um pulinho até a lousa? Pois é, estou pulando!Foi só risada!’ ”“Prof. Vinício ligava sempre para minha esposa Carmen Sílvia, que, na época, era a Secretária da Academia Botucatuense de Letras, para saber

notícias da entidade ou para justificar suas ausências em eventos. Eu atendia ao telefone e ele logo dizia:— ‘Olá, Celsinho, tudo bem? A digníssima esposa está? Ela está dis-ponível ou fazendo ginástica?’— Como assim, fazendo ginástica??— ‘Ué, ela não está na Academia?’ ” “Certa vez, disse a mim que a mulher do Olavo Godoy mandava o

marido lavar a cozinha e, então, o Olavo ficava na dúvida:— ‘Lavo o não Lavo?’ ”“Sobre o José Carlos Batista, funcionário da CESP, Mestre Vinício(como era chamado carinhosamente pelos funcionários e amigos da CESP), dizia:— ‘É o único batista que é católico!’ ”

Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 63: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

61Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

CARLOS ANTÔNIO DE ROSASÃO FRANCISCO DE SALES E A BOA IMPRENSANão sendo jornalista, o ponto de vista sobre Francisco de Sales será evidentemente como lei-go, isto é, daquele que apenas lê o que se publica na imprensa. A livraria São Francisco de Sales completou 53 anos de atividade, abriu as portas para receber a todos que aqui vieram para propor-cionar, incentivar e disseminar a boa imprensa. A livraria vibra e aplaude Francisco como padroeiro desta casa. Por esse motivo, traçar-se-ão breves pinceladas sobre a vida e obra deste padroeiro dos escritores.Francisco de Sales, segundo a Liturgia das Horas, nasceu na Saboia em 1567. Ordenado sacerdote, trabalhou muito pela restauração da fé católica em sua pátria. Eleito bispo de Genebra,

mostrou-se um verdadeiro pastor de seu clero e de seus fieis, instruindo-os com seus escritos e obras, tornando-se modelo para todos. Morreu em Lião a 28 de dezembro de 1622, mas foi sepultado definitivamente em Annecy, a 24 de janeiro do ano seguinte (cf. p. 1204). Conta-se, no meio popular, que a pena com a qual Francisco de Sales escrevia, num certo dia, quebrou na ponta. Ele a encostou no seu coração e ela voltou a escrever bem. Este epi-sódio pode ser considerado como símbolo dos seus escritos.Na obra de Francisco de Sales, Filoteia ou Da Introdução à Vida De-vota, do ano 1608, ele afirma: “A abelha extrai seu mel das flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como encontrou. Todavia, a verdadeira devoção age melhor ainda, porque não somente não prejudica a qualquer espécie de vocação ou tarefa, mas ainda as engrandece e embeleza” (cf. Liturgia das Horas, p. 1205).No ano 1616, Francisco de Sales publica o Tratado do Amor de Deus.

Page 64: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras62Ele diz novamente sobre a metáfora da abelha: “A abelha vai voando aqui e acolá, na primavera, sobre as flores, não a esmo, mas de propósito; não apenas para se recrear em ver a alegre variedade da paisagem, mas para procurar o mel achado, o qual suga e dele se carrega; depois, levando-o à sua colmeia, acomoda-o artisticamente, separando dele a cera, e fazendo desta o favo, no qual reserva o mel para o inverno seguinte” (p. 293). Tal passagem citada, lembra o texto bíblico do Salmo 138 (139), sobretudo, os versículos primeiro e segundo: “Iahweh, tu me sondas e conheces: conheces meu sentar e meu levantar, de longe penetras o meu pensamento; examinas meu andar e meu deitar, meus caminhos todos são familiares a todos”. Faz-se importante o cuidado na busca de Deus, no testemunho a ser dado como cristão autêntico e fervoroso.Francisco de Sales fez um combate com armas espirituais aplicadas em seus sermões. Ilustra-se, nesse sentido, o sermão pronunciado por ele em dezembro de 1593 a respeito da caridade e citado na obra de Champagne: “É pela caridade que é preciso abalar as muralhas de Genebra, pela caridade que é preciso invadi-la, pela caridade que é preciso reconquistá-la [...] Que vosso partido seja partido de Deus” (p. 65). Assim, a caridade envolve cada cristão no desejo de melhor amar a Deus.Dodin, no seu livro Francisco de Sales e Vicente de Paulo realça a amizade entre eles. Vicente de Paulo, que era amigo de Francisco de Sales, descreve-o como servo de Deus: “O servo de Deus amava o Senhor com amor ardente [...] Levado por um amor divino, cuja doçura ele conhecia, publicou esta obra imortal e absolutamente especial: Do amor de Deus, esse livro admirável, que tem tantas testemunhas da suavidade de seu autor, quanto leitores” (p. 23). Desse modo, o cristão hodierno necessita desse amor ardente, capaz de exercitar a fraternidade na casa, no trabalho, no esporte e em todas as dimensões da vida humana.A partir das informações apresentadas acerca de Francisco de Sales, nota-se a relevância do cristão diante dos desafios da sociedade consumista. A fé cristã necessita da caridade, expressa em cada ato realizado com profundo amor. A Epístola de São Tiago no capítulo segundo, versículo 14, mostra a ligação entre fé e obra: “Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitara isso? Acaso a fé poderá salvá-lo?”. Por essa razão, recordar a imagem de Francisco de Sales, como santo, serve para refletir no papel a ser desempenhado como cristão.

Page 65: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

63Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras: Biografia

CARLOS ANTÔNIO DE ROSA. Destacam-se a seguir as principais atuações: Foi dirigente da JOC “Juventude Operária Católica” pela Diocese de Botucatu, na época de Dom Henrique Golland Trindade. Foi convocado por ele para ir a Roma, como representante da JOC, cujo lema era: ver, julgar e agir.Em seguida, realizou vários cursos de formação sobre a valorização dos empregados de fábricas, atuando na conscientização dos cuidados aos operários.Participou do Cursilho de Cristandade. Mais tarde, juntamente com a esposa Odilla Renófio de Rosa, realizou o Curso OVISA “Orientação de Vi-vência Sacramental” sob orientação do casal leigo Witzler, durante oito anos.Fez curso de capacitação para o trabalho em livraria, na Editora Agir, em São Paulo.Vale mencionar que é comerciante, livreiro há 53 anos, onde dedica seu trabalho na Livraria São Francisco de Sales.Membro Honorário da Academia Botucatuense de Letras. Foi um dos organizadores do livro “Sursum Corda – A vida de Dom Henrique”, Editora Pauliceia - 1994.Atua na Catedral Sant’Ana como comentarista das missas dominicais das 7h30, transmitidas pela P.R.F.8, Rádio Emissora de Botucatu.REFERÊNCIASBÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Vozes, 2008.CHAMPAGNE, R. Francisco de Sales: a paixão pelo outro. São Paulo: Paulinas, 2003.DODIN, A. Francisco de Sales e Vicente de Paulo: dois amigos. São Paulo: Loyola, 1990.LITURGIA DAS HORAS. São Paulo: Ave-Maria, Paulinas, Paulus e Paulinas, 1996. V. III.SÃO FRANCISCO DE SALES. Tratado do amor de Deus. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

Page 66: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras64

CARMEM LÚCIA EBÚRNEO DA SILVA O PRAZER DO COORDENAR O EMBRIÃO-LIVROMinha mente senteEm todos os sentidosA Botucatu das LetrasDando-me chancesMudando a vida de antes:Casada, divorciada, solteira,Mãe, educadora, envolvida em voluntariado...Na alma as lembranças da féMarcadas pela infância e família,Com a casa cheia ou vazia...Encontro de valores e harmonia.Dividida nos compromissos materiais e espirituaisResponsabilidade par entre os demais.O percurso da vida leva à ABLMais laços de ligação...Oportunidades de crescer em outra dimensãoSe “Ela” faz quarenta, a cada um que nela se insira, sustentaTranscendental no valor do conhecimentoConviver com os Acadêmicos é fortalecer-se a cada momentoNa experiência do coordenar o projeto desta ColetâneaExpectadora no palco...Melhor drama é ler cada textoTudo faz sentido ao arquivar o embrião-livroEm páginas, oficina das ideiasRecíproca afeição com os coautoresCrepúsculo ao findar as leiturasÀ semelhança de uma gestação...Ao adormecer inseminada Com o crescendo da matéria... já lapidada.

Page 67: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

65Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras: Biografia

CARMEM LÚCIA EBÚRNEO DA SILVA nascida em Bofete, SP, em 06/05/1961. Realizou os estudos básicos na terra natal, na Escola Estadual Anselmo Bertoncini, e - posteriormente - formou-se em Letras e Pedagogia com espe-cialização em Supervisão Escolar na UNIFAC, em Botucatu, e Psicopedago-gia na Uni Sant`Anna, em São Paulo. Cursou Inglês no Brasil e estágio em Oxford, na Inglaterra. Leciona Português em escola estadual, em Botucatu, além de escrever diariamente algum texto ao elaborar ou transformar o que vivencie, imagine ou crie.Primeira publicação: Jornal “Correio da Serra” em 19/06/1995, com o pseudônimo”A ROSA”, incentivada por Stefano Garzezi Cassetari.Autora dos livros:1- O Toque- lançado em março de 2001, em Botucatu, esgotando no lançamento e tendo sua segunda edição lançada em dezembro do mesmo ano, em Bofete.2- Perfil. 20073- Reflexões sobre Machado de Assis: Leitura Auricular. 2008 e 2ª edição-2010. Autora da peça:- Defesa da Capitu (ver youtube: Defesa da Capitú).Faz assessoria psicopedagógica.Autora do Método: Learn is Fun (Ensino de Inglês para crianças de 03 a 5 anos)Participa das Antologias da APEB (Associação de Poetas e Escritores de Botucatu), desde 2001, com textos em poesia e prosa.É membro do Poetas Del Mundo desde 2010.Participa do Festival Internacional de Poesias de Dois Córregos desde 2008. (site: www.usinadesonhos.org.br)Revisa livros, teses de mestrado e doutorado e ministra aulas particu-lares de redação e inglês.Realiza-se ao ler, escrever e ensinar...Colabora com os Jornais Locais - em Botucatu.Faz parte de um projeto da escola EECA, em Botucatu, no site: www.ybytucatu.net.br Coordenadora da publicação do livro: 1º Sarau Lítero - Musical da

Page 68: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras66EECA, lançado em 2007. Coordenadora da publicação do livro: “Centenário da Escola Normal- Memórias da EECA”, lançado em 20/05/11.Escreve em seu blog: http://fachoseacasos.blogspot.com/2011/01/os--sentidos-da-mae.htmlMembro Efetivo da Academia Botucatuense de Letras desde 17/08/2007, ocupando a Caderia nº13, Patrono: Machado de Assis e atual Secretária no biênio 2011 – 2013.Coordenadora da publicação do Livro: Coletânea dos 40 anos da Aca-demia Botucatuense de Letras.Sente-se filha de duas terras: - Bofete - que a formou, alimentando seu coração e alma de crente e - Botucatu - que a acolhe, dando oportunidades de se enraizar, desenvolver talentos e praticá-los.Diretora da OCASS (Orquestra de Cordas Aécio de Souza Salvador).Voluntária da AOSA (Associação Oncológica Santo Agostinho).Organiza e atua em Cerimoniais, Formaturas, Festivais, Concursos.Participa de Comissões julgadoras nos Concursos Literários de Botu-catu e Região.‘Mãe’ de Fernando Elias Biral e Renato Elias Biral.

Page 69: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

67Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

CARMEN SÍLVIA MARTIN GUIMARÃESACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS – UM SONHO DE MAMÃEAnos 80. Morávamos em Promissão. Numa de nossas vindas para visitar os familiares e a nossa saudosa Botucatu, resolvi trazer meu Diário. Nele estavam textos em prosa e em verso, estavam momentos de minha vida desde 1966, estava uma ansiedade que eu guardava há tempo - queria abri-lo e entregá-lo a duas pessoas : Dona Elda Moscogliato, que tinha sido minha professora de Português no Curso de Admissão e Dr. Trajano Pupo, poeta que eu aprendera a admirar através de meus familiares. Ambos eram membros da Academia Botucatuense de Letras e as suas opiniões críticas sobre meus textos ser-me-iam muito importantes.Acolheram-me com carinho. Demoraram, mas leram os textos, coloca-ram suas opiniões, suas ressalvas, até sugestões para melhoria do ritmo e da musicalidade.Tenho até hoje as anotações, amarelecidas pelo tempo, que Dr. Trajano datilografou e colou ao lado de algumas de minhas poesias. D.Elda escreveu um artigo na Gazeta de Botucatu sobre “uma poetisa em biscuit”. Fiquei muito feliz e orgulhosa. Tinham lido e conhecido minha vida a fundo!Meu esposo Celso foi transferido para a CESP de Botucatu e eu con-segui uma remoção. Fui lecionar na Escola Estadual Angelino de Oliveira, substituindo o professor José Celso Soares Vieira que atuava como Diretor do estabelecimento. Desenvolvemos lá, com apoio dele e com a inegável parceria dos colegas, inesquecíveis trabalhos com os alunos. Certa feita, Celso chegou a mim e me disse:- Quero convidá-la para fazer parte da Academia Botucatuense de Letras.- Eu? Que é isso, Celso!Ele insistiu, explicou-me como era o processo eleitoral, enfim animou--me a concorrer. Conversei com o pessoal lá em casa e todos me animaram também. Em 1992, abriram-se vagas para três cadeiras. Candidatei-me, jun-tamente de Maria Helena Blasi Trevisani e Francisco Habermann. Indiquei

Page 70: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras68a Cadeira 9, cujo Patrono era quem eu tanto admirava desde a adolescência: Hernâni Donato.O processo de avaliação do curriculum vitae, da documentação com-probatória relativa aos textos publicados, dos diplomas e títulos foi entregue a uma comissão que só muito mais tarde eu fui saber por quem era formada: Elda Moscogliato, Maria José Dal Papa Zacharias e Dom Vicente Marchetti Zioni. Dom Zioni analisou tudo de minha vida e riu muito comigo quando disse que ... “até o Curso de Alimentação da Walita a senhora anexou ao currículo!”Houve, depois, aquele tempo de espera... o “estágio de ficar no limbo”... aguardando a passagem ou a negativa da passagem para a ABL. Resultado: fui aprovada!Alegria e temor!Ansiedade e emoção!Mamãe ficou muito mais feliz do que eu, até assustei! Disse-me ela, no dia de minha posse, naquele 2 de outubro de 1993, dia dos Santos Anjos, no salão nobre do Colégio Santa Marcelina, quando muito forte me abraçou, após ter interpretado a canção “Quem sabe?” de Carlos Gomes e tendo sido acompanhada ao piano pela confreira Maria Helena Blasi Trevisani :“-Filha, que orgulho ver você na Academia Botucatuense de Letras! Sempre pedi a Jesus, no silêncio do meu coração, que você, um dia, e se fosse vontade Dele, chegasse até lá. Eu achava que você merecia. Parabéns

e minhas bênçãos, filha.”.E papai ao também me abraçar, completou: “-Filha, é demais a emoção para meu coração!”Dentro da ABL, ocupei o cargo de Secretária “ad hoc”, substituindo Dona Elda em sua doença e após seu falecimento, 1ª. Secretária nas gestões de José Celso Soares Vieira, Maria Amélia Blasi de Toledo Piza e na pri-meira gestão de Newton Colenci. Atualmente, na Sétima Diretoria, ocupo o cargo de 1ª. Vice-Presidente. Diria que de tantos momentos trabalhosos, maravilhosos e marcantes que vivi e convivi com os senhores Acadêmicos, dois cito como intensos: a noite de minha posse e a vinda da Academia Pau-lista de Letras em visita à nossa Academia. Fato inédito para Botucatu: pela primeira vez, em sua história, a Academia Paulista de Letra se locomovia da Capital para visitar uma filha do interior. Isso tudo devido a um convite do Patrono Francisco Marins. Na sessão magna, realizada no Teatro Municipal “Camilo Fernandes Dinucci”, eu, a 1ª. Secretária da gestão do confrade José Celso Soares Vieira, fui a única mulher a sentar-se na mesa das autoridades e bem ao lado do grande Miguel Reale, com quem muito conversei e até ri, descontraindo-me naquela solene sessão!Os que partiram, um a um, tempo a tempo, deixaram marcado, forte-mente no compasso de nossos corações, o eco de sua existência acadêmica

Page 71: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

69Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasagora perene - “Non omnis moriar”!Muitos risos ainda ressoam em nós ao relembrar os casos e os “cau-sos” anedóticos contados por eles - Olívio Stersa, José Antônio Sartori, Elda Moscogliato, Benedicto Vinício Aloise, Dom Vicente Marchetti Zioni! Haja coração! Que saudade!Cá estou, pois, papai e mamãe, na ABL, como a senhora sonhou em “seu santo orgulho” e orou. Procuro desfilar honrando seu nome e o de pa-pai, enaltecendo a herança literária que vocês me legaram e, principalmente, honrando Botucatu, ao participar deste núcleo seleto de amigos da Cultura, da Sensibilidade e do Saber que compõem os Membros Efetivos, Honorários e Correspondentes e os Homenageados com diploma de Honra ao Mérito da Academia Botucatuense de Letras.

: Biografia

CARMEN SÍLVIA MARTIN GUIMARÃES, filha de Sylvio Mar-tin e Carmen da Silva Paes Martin, nasceu em Botucatu, em 7 de fevereiro de 1949. É casada com Celso Guimarães Júnior e, dessa união, nasceram Marcelo e Fabiana.Sempre se dedicou ao Magistério público e particular, atuando como Professor Primário, Professor Secundário, Coordenador, Diretor de Escola e Supervisor de Ensino.Possui muitos textos em prosa e em verso ainda não publicados e ou-tros já publicados em jornais, revistas de Botucatu e em coletâneas da ABL (Academia Botucatuense de Letras) e da APEB (Associação dos Poetas e Escritores de Botucatu). Lançou, em 2111, seu livro “Familiando... em Prosa e em Verso”.Atualmente, professora aposentada, voluntariamente ministra aulas de Técnicas de Redação no Seminário São José de Botucatu. É a 1ª Vice- Presidente da Academia Botucatuense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 9, Patrono: Hernâni Donato.Possui um lema de vida literária: “Busco um som que ainda não criei.”

Page 72: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras70

CELINA SIMIONATO CHAMMAARTISTA E A INOCÊNCIA DE UMA CRIANÇA O artista transpõe na tela As emoções que afetam a alma A criança move-se com cautela Ignorando o abismo com plena calma O artista é um ser vivido Abstraindo o encanto de sua experiência A criança é um ser libido Suportando do mundo: a incoerência O artista vê a luz colorida Com sua tela mesmo ferida Com sua criação nervosa Com pinceladas tremidas A criança enxerga o mundo Envolto de cores cambiantes Olvidando o drama profundo O futuro de dias fustigantes O artista sensivelmente se desarma Ante a chocante problemática De que a vida nos anima Refugiando numa perspicaz sistemática A criança empolgada pela quadra encantada Dominada por ilusões fantásticas Sente o aspecto deslumbrada No reflorir dos gerânios, violetas entusiásticas... Artistas fazei de sua arte Um lema de Amor e Oração Dotando de Caridade, sincera o coração Tendo como emblema, a paz em seu estandarte.

Page 73: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

71Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras: Biografia

CELINA SIMIONATO CHAMMA nasceu em Piracicaba. Filha do aviador Antonio Simionato e da Profa. Henriqueta Campos Simionato. Formação: Ciências Sociais, Geografia, Artes Plásticas, Relações Humanas, Liderança e Comunicação.Artista Plástica dirige o GAP (Grupo de Artistas Plásticos de Botucatu) desde 1983. Exposições locais: Estados do Brasil e exterior, expondo no Cen-tenário da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Como poetisa participou da antologia de Brasília, Piracicaba e de Antologias da APEB. É Membro Honorário da ABL. Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 74: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras72

CLÁUDIA BASSETTO JESUÍNOO OLHAR DA CIDADENum mundo onde tudo se mostra ao olhar, tudo é produzido para ser visto, como voltar os olhos para a paisagem? Como é possível reco-nhecer e perceber a paisagem urbana em meio à quantidade e velocidade de imagens surgidas a cada instante?A cidade contemporânea se transforma com a proliferação das ima-

gens modificando a nossa maneira de ver e perceber um horizonte sem fim. Não é mais possível ver o horizonte como fazia o pintor, com seu cavalete armado no alto de uma colina. Ver não significa mais olhar, mas penetrar na imagem ou fazer parte dela.O olhar na paisagem urbana vagueia displicente, procurando coi-sas ou encontrando sem procurar o instante certo, que registre mais um momento.Tudo parece invisível, na velocidade e quantidade de imagens que passam, nos encontram, nos absorvem. É preciso saber ver aquilo que muitas vezes nos escapa.A percepção da cidade, tradução do espaço do cidadão, o seu lugar comum ou muitas vezes incomum. A velocidade que a cidade impõe no seu cotidiano, sem deixar perceber as imagens que a circundam, que circulam, que voam. Ela é um processo em constante desenvolvimento, mutante, uma dinâmica de símbolos e imagens cada vez mais rápidas, absorve o olhar e por ele é absorvida.Ser a paisagem ou fazer parte dela, não se pode saber a diferença. Os sons, os odores, as cores são flashes a registrar as imagens do cotidiano, dos caminhos, da memória. A atmosfera está presente em cada céu, em cada fragmento da paisagem. A cor emerge desse clima, dessa multidão de formas tonalizantes.O preto, o branco, o cinza, talvez?Ela é multicor, depende do olhar, da maneira de ver, do jeito de estar.Pode parecer igual, se a visão achatar as imagens que correm aos nossos olhos, mas será diferente se olharmos o entorno, o interno.

A impressão não pode ser a primeira que fica ou que passa, pois

Page 75: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

73Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasnesse anuviado e pesado céu envolvente de colinas e construções, somos apenas peregrinos, catadores de mensagens, imagens, instantes.As imagens da cidade nas mãos dos artistas transformam-se em gostos e sensibilidades reveladoras, de preocupações formalizantes, de tendências sociais, reivindicatórias, de caricaturas da sociedade; exploram o subcons-ciente fantástico, figurativo ou abstrato, um universo de formas e sentidos.

: Biografia

CLAUDIA BASSETTO, São Manuel – SP- 1961. Artista plásti-ca formada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e mestrado em Poéticas Visuais, pela Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação da UNESP em 2002, com a pesquisa Impressões Urbanas que mostra a interferência da imagem urbana no fazer artístico. Em São Paulo, desenvolveu atividades educacionais, ministrando o curso de desenho artístico e publicitário na Escola Nacional de Desenho. Depois de participar da Semana de Arte e Ensino da ECA – USP, atuou como arte-educadora no Colégio Arquidiocesano de São Paulo e ministrou cursos para professores de escolas estaduais. Desenvolveu em Botucatu, as Oficinas de Expressão e Criativida-de para alunos da rede estadual e municipal de ensino e, para adultos e adolescentes, nos Centros comunitários da periferia, com o objetivo de estimular o lúdico e o criativo através do uso dos materiais artísticos. Na universidade, apresentou módulos nos cursos de aperfeiçoa-mento do Serviço Social e Psicopedagogia da UNIFAC sobre cultura e arte-educação, assim como ministrou a disciplina de história da arte na FAAC/ UNESP de Bauru.Desde 1991, dedica-se ao seu trabalho individual em desenho, pin-

tura e fotografia, participando de Salões de arte, exposições individuais e coletivas, dos quais tem recebido premiações. Participa também, como jurada de exposições em Botucatu e região. Para aprimorar a sua lingua-gem artística, pesquisa vários materiais e técnicas que possam expressar a sua liberdade criativa. Atualmente, participa da equipe de trabalho da Secretaria Muni-cipal de Cultura, atuando principalmente na organização de exposições e eventos relacionados às artes visuais, produzindo textos e artigos para as exposições. Em 2007, organizou o livro Vinício Aloise, uma história desenhada,

Page 76: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras74que reúne o talento do exímio desenhista e professor Benedicto Vinício Aloise. E em 2011, o livro Operação Botucatu X Alaska de Armando Ângelo Cruzolini, sobre a aventura de três jovens botucatuenses que via-jaram 80 mil quilômetros até o Alaska em um jeep. Desde 2009 é membro efetivo da Academia Botucatuense de Letras ocupando a Cadeira nº 26 - Patrona: Elda Moscogliato.Casada com Paulo Jesuino há 30 anos com quem compartilha a felicidade dos filhos Daniel, biólogo e Aline estudante de medicina.

Page 77: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

75Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

DINORAH SILVA ALVAREZNasce em Botucatu, em 15 de janeiro de 1904, Dinorah Levy Silva ,

filha de João Silva, (natural de São Francisco do Sul - Santa Catarina, des-cendente de portugueses) e de Iracema Grhomann Levy (de origem alemã pela mãe e francesa, pelo pai- judeu francês alsaciano.)Casou-se em 30 de janeiro de 1945 com Américo Alvarez Rodrigues, espanhol naturalizado brasileiro. O casal não teve filhos.Fez o curso Primário no Grupo Escolar Cardoso de Almeida, o Curso de Normalista na Escola Normal de Botucatu. Inicia o magistério, como professora primária, na Fazenda Conceição de Monte Alegre, passando por várias escolas rurais até se aposentar no Grupo Escolar José Gomes Pinhei-ro. Além das aulas de música e piano, tinha como professor particular de português e literatura Aluísio de Azevedo Marques que muito influiu na sua formação intelectual.Escreveu contos, poesias dramatizações escolares sendo que alguns desses trabalhos foram publicados na revista “Cruzada”, no livro “Letras Bo-tucatuenses”, nos jornais “A Cidade”,“Nossa Estrada”, Correio de Botucatu, sendo que neste último, aconteceu a publicação do conto “Pobre Filho” que foi classificado em concurso.O falecimento da irmã Diva e do seu querido esposo Américo causam--lhe muita dor e ela apela para Deus no poema “Meus Reis”! “Meu Deus, Minha fé Meu passado Minhas recordações Meu respeito Ao silêncio Dos meus mortos Tão queridos!

De vocês todos Espero receber A força indomável Para continuar, Para esquecer...

Page 78: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras76 Por vocês quero agarrar Bravamente, Desesperadamente Os milagres da renovação Que a vida oferece. Meu Deus! Meus Reis! Minha Fé!”Lúcida, personalidade firme, falante, alegre e marcante até o derradeiro momento, orientou seu advogado e amigo, Dr. Ricardo Pereira Leite, como desejaria tudo após sua morte. Não sofreu doença grave. Morreu de velhice... uma chama que se apagou suavemente... no dia 5 de maio de 1992.Como última exigência, fez com que seu advogado lhe jurasse não dizer sua real idade a ninguém. Última vaidade feminina cumprida e respeitada.Descanse em paz, Dinorah! Agora eternamente Acadêmica Imortal!Cadeira nº9 - Patrono: Hernâni Donato.

Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 79: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

77Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

DOMINGOS ALVES MEIRA SERVIÇO DE AMBULATÓRIOS ESPECIALIZADOS E HOSPITAL DIA “DOMINGOS ALVES MEIRA”: UMA INICIATIVA QUE VALEU A PENA!A aids se fez presente em Botucatu em 25 de agosto de 1985, com a internação do primeiro doente na Enfermaria de Doenças Infecciosas e Parasitárias, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina - UNESP. Chegou, trazendo consigo o trágico espectro da temível epidemia: gravidade dos casos, disseminação veloz e morte inexorável. Nos primeiros dez anos, considerável proporção de pacientes necessitava de internação hospitalar, sendo que, muitos, por diversas vezes.No final de 1996, com a implantação do tratamento antirretroviral combinado e potente, pelo Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde, observaram-se mudanças na atenção aos indivíduos com infecção pelo HIV/aids. Assim, houve redução progressiva da necessidade de interna-ções hospitalares dos doentes, ao mesmo tempo em que cresceu a demanda do atendimento ambulatorial. Esse panorama levou o Ministério da Saúde a sugerir o Hospital Dia como modelo de instituição para atendimento dos pacientes com HIV/aids.Naquela ocasião, a sugestão nos pareceu promissora e abraçamos a proposta desde a primeira hora. Para sua concretização, após a aprovação do Conselho Municipal de Saúde de Botucatu (1997), várias ações foram desen-cadeadas: cessão de terreno com 5.330 m2, pela FAMESP, para a construção do prédio; criação da Fundação Bons Ares- III Setor; concessão de recursos pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo; apoio da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo; doações de empresários e de entidades benemerentes do Estado de São Paulo. Os recursos aplicados na constru-ção, instalação e manutenção dessa unidade foram provenientes das fontes supracitadas, sem que houvesse a transferência de verbas da Universidade.Assim, nasceu o SAE/HD - Serviço de Ambulatórios Especializados

Page 80: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras78e Hospital-Dia “Domingos Alves Meira”, em nove de setembro de 2004. A edificação tem concepção arquitetônica de casa térrea, com telhas vermelhas, de fácil acesso, rodeada por jardim, com flores e frutas, o que dá aos doentes a sensação de ser o hospital um prolongamento de seus lares. A assistência prestada é ambulatorial, com consultas individualizadas nas diferentes espe-cialidades lá atuantes. A equipe é multiprofissional e interprofissional, sendo que o paciente não é atendido exclusivamente por um médico, mas, sim, por vários profissionais, de diferentes especialidades, que atuam com espírito de cooperação: infectologia, psiquiatria, psicologia, terapia ocupacional, odon-tologia, farmácia, fisioterapia, enfermagem, ginecologia, cirurgia plástica, nutrição, proctologia e cardiologia. Precedendo as consultas, são realizadas reuniões de grupo com a psicóloga, a assistente social, o médico e a enfermei-ra, com a participação voluntária dos pacientes. Essas reuniões constituem a primeira atividade para reinserção social dos pacientes, comumente vítimas de preconceito, discriminação e do estigma da doença.Por isso, eles se excluem da comunidade, isolam-se, perdem a autoesti-ma e entram em depressão. A terapia ocupacional é, também, responsável pela reinserção social desses doentes, que muitas vezes desenvolvem uma nova aptidão profissional, o que lhes abre perspectivas de retorno ao trabalho. Vale dizer que, de discriminados, excluídos da comunidade e dependentes da ação governamental e da caridade, voltam até a contribuir para o PIB nacional !Como corolário de tudo o que foi referido, no Hospital Dia, os pacientes têm o conforto e a privacidade que lhes confere maior confiança e segurança, o que tem levado a expressivo aumento no número de consultas, a maior adesão ao tratamento, com a consequente e impressionante diminuição no número de óbitos. Do mesmo modo, o absenteísmo, antes frequente, deixou de existir no Hospital Dia, talvez até pela possibilidade de menor intervalo de tempo entre as consultas.Os resultados obtidos no Hospital Dia, lugar em que se pratica assis-tência e tratamento humanizados, são altamente significativos e engrande-cem o trabalho ali desenvolvido. E é por tudo isso que concluo, com grande entusiasmo, que a criação do Hospital Dia valeu a pena !: Biografia

DOMINGOS ALVES MEIRA nasceu em São Paulo, em 11 de Junho de 1932. Graduou-se em Medicina, em 1958, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, instituição em que também obteve o título de

Page 81: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

79Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasDoutor em Doenças Tropicais e Infecciosas, em 1965 e o de Livre Docente, em concurso de títulos e provas, em 1967.Em novembro desse ano, tomou posse na Faculdade de Ciências Médi-cas e Biológicas de Botucatu (FCMBB). Em 1968, organizou a Disciplina de Moléstias Infecciosas e Parasitárias e foi indicado para ser o primeiro Diretor do Hospital das Clínicas da instituição. Foi Diretor da FCMBB, de 1970 a 1974. Em 1975, obteve o título de Professor Adjunto, por concurso de títulos. Em 1977, conquistou o cargo de Professor Titular da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), por concurso de títulos e provas.Em 1978, criou e organizou a residência médica de Moléstias Infeccio-sas e Parasitárias da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).Foi Diretor da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), de 1980 a 1984 e criou a Fundação para o Desenvolvimento Médico e Hospitalar (FAMESP), em 1982.Em 1992, criou o Curso de Pós - Graduação em Doenças Tropicais, do qual foi Coordenador , Vice-Coordenador, orientador e responsável por disciplinas.Em 2003, recebeu o Título de Professor Emérito da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).Foi, ainda, Consultor da Organização Mundial da Saúde, em 1972; Pre-sidente da Comissão Técnico-Científica de DST/aids do Estado de São Paulo, de 1993 a 1995; Presidente do Comitê de Vacinas anti-HIV/aids do Estado de São Paulo, de 1994 a 2000. De 1994 a 2003, foi membro da Comissão Nacio-nal de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids, do Ministério da Saúde.Em 2004, inaugurou o Serviço de Ambulatórios Especializados e Hos-pital Dia “Domingos Alves Meira” (FAMESP), nele atuando como Diretor--Técnico e médico, desde a inauguração até sua morte.Participou da formação de quase 4.000 médicos e de cerca de 70 especialistas em infectologia. Teve 86 trabalhos publicados em revistas na-cionais e estrangeiras, 45 capítulos em livros, tendo organizado dois livros da especialidade.Membro Efetivo da ABL, Cadeira nº 20 - Patrono: Rubião Meira.Faleceu em Botucatu, SP, em 22 de junho de 2012.

Page 82: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras80

DOMINGOS SCARPELINIACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRASComemorando os 40 anos de nossa Academia Botucatuense de Letras, quero aqui gravar algumas palavras sobre ela e seus Membros Acadêmicos e também relembrar alguns fatos importantes.Preliminarmente, quero me manifestar sobre o nosso saudoso e querido Acadêmico RAIMUNDO CINTRA, que usando de seu profundo conheci-mento do Latim preconizou a expressão:- “Non omnis moriar”, e que tem alto

significado de que, “Não morrerei totalmente”, e é o lema de nossa Academia, que não é só de Letras como também é de Artes e Ciências.Irei aqui relembrar alguns fatos de personagens de nossa Academia que muito a enalteceram no campo cultural e que através de seus 40 anos de existência vêm espargindo cultura em seu mais alto nível, por intermédio de seus mais cultos Membros. Dentre os inúmeros de nossa Academia, vivos e mortos, quero, como foi dito, dizer que, “não morreremos jamais’, pois que a morte não existe, porque somos a imagem e semelhança do Eterno e portanto, à Eternidade pertencemos.Aliás, seria uma coisa mais que absurda imaginar-se que depois de tanto viver, sofrer e amar, a criatura humana simplesmente desaparecesse.Mas com relação aos Acadêmicos que se encontram hoje no Oriente Eterno, quero referir-me a três deles, com os quais tive maior amizade, co-nhecimento e até profunda fraternidade.Assim é que primeiramente falarei da Professora ELDA MOSCOGLIA-TO, que muito engrandeceu a cultura de nossa cidade.Era realmente pessoa de alto conhecimento cultural e social, de total integridade moral e muito colaborou com a Imprensa escrita e Revistas culturais, onde periodicamente apresentava seus trabalhos, lidos por todos aqueles que tiveram a alegria de tomar conhecimento. Seus escritos a respeito de temas diversos, muitos faziam referências aos velhos imigrantes italianos que para aqui vieram nos fins Século XVIII e início do Século XIX, também ela era descendente de uma dessas famílias.Com relação ao Acadêmico IGNÁCIO VIEIRA NOVELLI, de vastíssi-

Page 83: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

81Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasma cultura em sua época, uma das maiores de Botucatu, foi também brilhante professor, agricultor, Bacharel em Direito, poeta, escritor, membro de nossa Academia de Letras e que exerceu com eficiência ímpar o cargo de Escrivão de Júri, até o dia de sua morte. Foi realmente merecedor de elogios sobre sua preciosa contribuição à vida cultural de nossa cidade.Outro brilhante Acadêmico de saudosa memória foi ANTONIO GA-BRIEL MARÃO, que veio para Botucatu como Magistrado e que aqui acabou se radicando, mesmo após sua aposentadoria. Homem de grande cultura, foi um dos fundadores de nossa Academia, exercendo por mais de uma vez, a presidência da mesma. Foi indubitavelmente, além de brilhante Magistrado, Governador e Fundador do Lions Clube de Botucatu, também vereador, escritor, poeta, homem de conduta ilibada, sóbrio, culto, competente, ético e que muito engrandeceu não só nossa Academia, como o campo da cultura.Aliás, nossa Academia de Letras, que é também de Artes e Ciências, sempre contou e conta com brilhantes e cultos vultos, e que através de seus atuais Membros Efetivos, Honorários e Correspondentes dos próximos futu-ros continuem espargindo todo o saber cultural, ainda por muitos mais anos.De notar-se também que nossa Academia de Letras tem, e muito, divul-gado a cultura em geral, lembrando que a exerce na grande formação de um povo, quer como elemento de expressão, quer como parâmetro de evolução. Relevante, é preciso que se diga, o aspecto de lazer que ela proporciona, às vezes como única alternativa, para uma grande maioria da população.Lembrar-se também, do momento mais histórico de nossa Academia. Foi no início do Ano 2001, quando da realização da sessão conjunta das Academias Botucatuense de Letras e Paulista de Letras, quando esta, pela primeira vez realizou uma Sessão Ordinária fora de sua Sede na Capital do Estado, para realizá-la nesta cidade de Botucatu. Foi realmente um momento histórico sempre lembrado.Que o Grande Arquiteto do Universo, que é DEUS, continue espalhando pelo mundo seus grandes princípios imortais a nós transmitidos por inter-médio do Cristianismo que, como portentoso facho vem iluminando todos os caminhos para o apostólico mandamento do “Amai-vos uns aos outros” mesmo porque Ele sempre foi e será eternamente a esperança de todas as nossas esperanças.

PARABÉNS, ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS, PELOS SEUS 40 ANOS DE FUNDAÇÃO!

Page 84: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras82: Biografia

DOMINGOS SCARPELINI nasceu na zona rural do Distrito de Vi-toriana, município de Botucatu-SP, filho de pais imigrantes italianos. Passou sua infância na zona rural até os 13 anos de idade, quando ficou órfão de pai, vindo, após o ocorrido, com a família residir em Botucatu.Teve seu primeiro emprego a partir de 1937, em serviços da Indústria e Comércio de Botucatu. Logo após, a partir de 30/08/1938, passou a fazer parte da Família Forense de Botucatu até o ano de 1993 quando se aposentou por limite de idade. Durante esse período, exerceu todas as funções em Cartórios Judiciais e Extrajudiciais, a maioria dos quais junto ao 1º Cartório de Notas e Ofício de Justiça. Paralelamente participou de diversos atos como:- Escrivão Interino do Cartório de Registro Civil e Anexos do Município de Pardinho, durante 20 anos; Juiz de Paz em alguns casamentos; sócio fundador e seu primeiro Presidente da Associação da Família Forense de Botucatu; Corres-pondente Consular da Itália a partir de abril de 1979 até 2009; fundador do Centro Brasil Itália, anteriormente Sociedade Italiana de Beneficência – Casa D’Itália e Presidente de sua Diretoria desde 1974 até 2013, tendo sido eleito e reeleito de 2 em 2 anos;- Possui diploma de Professor e também diploma de Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Carlos; exerceu a função de Escrivão Eleitoral durante 15 anos, quando a função não tinha nenhuma remuneração; Título de Exame da OAB, secção de São Paulo; advogado, inscrito na OAB sob nº 144236; Membro Efetivo da Academia Botucatuense de Letras de Botucatu, ocupando a Cadeira nº3 - Patrono: Amadeu Amaral; Portador de inúmeros Diplomas de Honra ao Mérito, ou-torgados pela Câmara Municipal de Botucatu; pelos “Lions Clube”; Centro Brasil Itália, Ordem dos Advogados do Brasil; Academia Botucatuense de Letras; Titulo de “Cidadão Pardinhense”, pelos relevantes serviços prestados ao Município de Pardinho; Diploma de Sócio fundador do Centro de Inter-câmbio e Estudos de Trânsito na cidade; é portador de Certificado fornecido pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, sobre Ciclo de Conferências de Segurança Nacional e Desenvolvimento; participou da Diretoria da Misericórdia Botucatuense por duas gestões; e de muitos outros Certificados, Diplomas e Atestados. Publicou inúmeros Trabalhos na Revista Peabiru e nos Jornais da cidade. Em via de lançamento do Livro de sua autoria “História da Colônia Italiana em Botucatu e Região, Substituindo o Trabalho Escravo”, do qual consta relato autobiográfico, artigos, crônicas e outros escritos.

Page 85: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

83Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

EDSON GERALDO LUIS LOPES PÁSSAROSPrimeiro foram as andorinhas. Duas apenas. Acercaram-se da casa, rodearam-na com volteios amistosos, até que ganharam a minha amizade. Fizeram ninho na vigota da cumeeira. Veio outra geração. Mais três. Uma delas salvei, ao cair do ninho. Veio outra geração: mais duas. Ainda me visi-tavam, mas não com muita frequência. Talvez tivessem medo do cachorro, ou de mim, sem motivo. Cheguei a fotografá-las.Veio o bem-te-vi. Mais de longe. Ficava sozinho, no alto da antena de televisão, árvore metálica que modernamente substitui as naturais, não sei se com vantagem. Não derrubam folhas: derrubam apenas imagens em nossas salas. Bem-te-vi estridente, bem mais que a televisão.Começou, então, o canto do sabiá. Sabiá invisível. Nem na cumeeira, nem na antena. Apenas um canto lânguido, prolongado. Triste, diria, pela saudade da mata.Descobri-o em uma gaiola, no quintal de um vizinho. Saudade da mata. Triste, diriam.Eu não. Não há canto triste de pássaro. Tristes ficamos nós, presos na gaiola da vida, feita dos arames das nossas circunstâncias e limitações.Certa manhã, a surpresa: cinco passarinhos exatamente iguais. Negros “como a noite que não tem luar”, cantava a moda sertaneja da minha infância.Saudade. “Chupins”, disseram. Não eram. Eram menores. “Vira--bostas”, talvez.Estavam no fio telefônico. Não cantaram. Pouco ficaram. Eram turistas.Agora é – imaginem – um sanhaço. Esse canta, como todos os sanha-ços. Fica em uma árvore da rua, em frente da minha casa. Não sei qual é o atrativo, pois não há mamão, nem laranja, nem banana, nem abacate, nem amora. Lindo. Tão bonito, que tenta se esconder entre as ramagens. Peito cinza, asas azuis. Mas é um azul maravilhoso, só conseguido pelas mãos do Artista Supremo.Nesta manhã, vieram. Misturaram seus cantos, logo que surgiu a aurora.Andorinhas... o sabiá... o bem-te-vi e o sanhaço. O que quereriam

eles? Não tenho frutas, não tenho flores, não tenho sequer um quintal digno

Page 86: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras84de acolher passarinhos.Desejariam apenas me dizer alguma coisa? Nem sei se sabem que eu existo... Mas ouço-os com o maior respeito. Cantam. Despedida?Acho que querem apenas dar bom-dia à saudade que terei quando um de nós se for definitivamente...

: Biografia

EDSON GERALDO LUIS LOPES nasceu em Bernardino de Cam-pos, São Paulo, em 1943. Formou-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu (ITE), em Português e Inglês, em 1970. Efetivou-se em Português em 1977. Foi professor em Bofete (SP) e em Botucatu: “Cevila”, Prof. Pedro Torres, Dom Lúcio, Unifac (Curso de Letras), La Salle e Curso Objetivo. É colaborador do Jornal “A Gazeta de Botucatu” desde 1978, onde publica crônicas e poesias. É membro efetivo da Academia Botucatuense de Letras Cadeira nº 14 - Patrono: Manuel Bandeira.

Page 87: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

85Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

ELDA MOSCOGLIATO FABER LIGNARIUSNo tempo do cronista José Tavares de Miranda na “Folha”, havia em São Paulo uma sociedade simpática a que pertenciam todos os Josés de boa vontade, dedicados ao culto do último Patriarca. Com estatutos próprios, sócios alegres, solidários, cumpriam um ritual rigoroso com missa todo dia 19 do mês e em Março, mês de São José, uma programação caprichosa com, inclusive, almoço de confraternização à qual ninguém faltava.A Associação era rigorosa: era só dos Josés. Podia ser José simples ou composto: Luiz José, José Carlos, Pedro José, assim por diante. Outros nomes não tinham vez.Tavares de Miranda morreu e perdemos notícia dessa interessantíssima agremiação. Bom seria que aqui em Botucatu surgisse uma entidade dessa que, além do caráter religioso tivesse também sua parte sociocultural.A propósito, um abraço cordial ao Prof. José Maria Leonel, pelo dia do seu onomástico, logo mais 19 – Dia de São José . Tributamos-lhe respei-tosa estima pelo seu vulto exemplar de cidadão, mestre e radialista muito apreciado. Parabéns!Estamos portanto, em Março, inteiramente dedicado a São José, se-gundo o calendário romano. Ele vinha de estirpe nobre, embora decadente.

Lucas tece-lhe um perfil palhetinado em ouro : descendente de Davi, tinha nos traços fisionômicos a beleza da raça; na postura, no discreto conversar, o exemplo admirável de inteireza e probidade.Seus biógrafos chamam-no “faber lignarius” que se traduz por carpin-teiro e marceneiro. Trabalho diligente, perfeito, confiável, nem ganancioso, nem interesseiro; era justo. Justo ainda, na acepção nobre da palavra. Por isso, foi escolhido pelo Altíssimo, para criar-lhe o Filho Unigênito feito Homem.

A taumaturga Josefina é riquíssima de milagres pois José, dignitário na Corte Celeste, goza de imenso prestígio junto ao Filho de Deus, e por isso, esparge por sobre a terra, a mancheias, suas bênçãos e graças mil.Um de seus mais convincentes milagres merece ser aqui recontado, pois que a façanha maravilhosa se concretiza numa capela de estilo neogótico – à imitação da Sainte Chapelle de Paris – anexa a um colégio de meninas, regido

Page 88: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras86pelas Revmas. Irmãs de Nossa Sra. de Loreto, na cidade de Santa Fé – México.Lá sobrevive até hoje, à disposição dos céticos que queiram comprovar--lhe a autenticidade.O curioso dessa Capela é que ela possui uma escada em espiral, de madeira preciosa inexistente naquela região, dando duas voltas de 360 graus e chama a atenção porque ela não tem eixo de apoio. Desafia a técnica cons-trutora de todos os tempos e nenhum engenheiro ou arquiteto saberia explicar sua feitura, pois os trinta e três degraus que a compõem não se apoiam na parede. Nela não há pregos e nem parafusos. Apenas tarugos de madeira nas partes onde existe junção das peças. Para os técnicos no assunto é um fato inexplicável. Para os leigos que a visitam é uma maravilha dentre as muitas que a Capela possui.Sua história é singularíssima. Remonta a 1874, data em que chegou a Santa Fé, a Congregação das Irmãs Educadoras”. Ali instaladas, puseram-se elas à obra da construção do colégio.Doações, ofertas polpudas,ex-votos, verbas oficiais, tudo contribuiu para o rápido erguimento do vasto e belo educandário. As obras estavam já por acabar, restando como previamente se cogitara, a construção da Capela, deixada para o final, como importante obra de arte. Por sua vez, começavam a escassear os recursos, quando falece o engenheiro responsável, deixando desnorteado o mestre de obras.Grande dor, profunda e amarga, dominou a Superiora. Agora, na Ca-pela – um encanto de colunas torneadas e clássicas – faltava a escada que leva ao Coro.

Confiantes em Deus, entregaram-se as Irmãs à oração, realizando fervorosa Novena a São José. Decorriam os dias, sem novidades. A angústia crescia, porém, mais do que ela, a Fé alimentava a Esperança.Um dia, bateu-lhes à porta, um senhor de aspecto simples, respeitável.Dizia-se sabedor do problema e propunha-se a construir a escada porque era também, carpinteiro. Não discutiu orçamento, porém, propôs, se aceito, uma só condição: durante o seu trabalho não admitiria a presença de ninguém no recinto.Sem outra alternativa, a Superiora aceitou a proposta.Passaram-se três meses, findos os quais, o estranho obreiro chamou a

Superiora e toda a Congregação para a entrega dos serviços. À vista maravi-lhosa da obra, quedaram-se as Irmãs comovidas e encantadas. Prostraram-se imediatamente de joelhos entre soluços e murmúrio de oração. Era a ação de graças.Quando se levantaram, não mais viram o carpinteiro.- Retornará, disse-lhes a Superiora, para o ajuste das contas.Ele, porém, nunca mais voltou.

Page 89: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

87Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasNa longa meditação do fato, chegaram ao Evangelho. Jesus, feito Ho-mem, tem por Pai adotivo a São José. Ora, São José era Carpinteiro!

(A Gazeta de Botucatu – 14/03/1997)

: Biografia

ELDA MOSCOGLIATO nasceu em Botucatu -SP- Filha de Vicente Moscogliato e Ida Varoli Moscogliato. Formou-se Professora-Normalista pela antiga Escola Normal Oficial de Botucatu. Funcionária Pública Federal, ingressou na Diretoria dos Correios e Telégrafos de Botucatu por Concurso Público, obtendo o 1º lugar na classificação homologada pelo DASP.Dos 35 anos de serviço, foi, durante 27 anos ininterruptos, Chefe da 1ª Secção, cargo não gratificado, equivalendo a Assessoria de Gabinete. Louvada em Portaria Especial da Diretoria Geral, o antigo DCT, pelo cabal e pleno desempenho das funções.Professora do Ensino Particular, foi Diretora-Proprietária do Curso Preparatório da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Após, con-tinuou como Professora - preparadora de candidatos a concursos públicos, lecionando Português, Literatura, Conhecimentos Gerais e Francês.Iniciou-se no jornalismo a convite de Eulico Mascarenhas de Queiroz (poesia) e Pedro Chiaradia (prosa) de quem mereceu, como mestre, a seguinte interferência:- “É a única colaboração que passa, sem ressalvas, da mesa do Diretor, para a composição gráfica”.Colaborou com todos os jornais citadinos : “Jornal de Notícias”, “Folha de Botucatu”, “Monitor Diocesano”, “Vanguarda” e “Gazeta de Botucatu”. No Estado: No a “Cidade de Ribeirão Preto”, a convite de Orestes Lopes de Camargo, ocupando a coluna “Sociais”; “Suplemento Literário Feminino de “O Estado de São Paulo”; “A Imprensa” órgão paulino da Capital. Tese: Representante da Juventude Estudantil Feminina no I Congresso Eucarístico Diocesano (Bispo Dom Frei Luiz Maria de Santana), com a tese: “Eucaristia”. Prêmios : Menção Honrosa, em trabalho monográfico sobre Paulo Setúbal. Cinco vezes premiada em Concurso Permanente mantido pela Revista “Al-terosa”, de Belo Horizonte. Cronista da Gazeta de Botucatu durante 30 anos. Membro fundador da Academia Botucatuense de Letras, Cadeira nº11- Patrono: José de Alencar.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 90: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras88

EUGÊNIO MONTEFERRANTE NETO DOM HENRIQUE, O ARQUITETODom Henrique chegou a Botucatu em 15 de agosto de 1948.Na grande praça – denominada “Dom Frei Maria de Sant’Ana”, seu antecessor, falecido em 5 de maio de 1946 -, mesmo emocionado e atento às manifestações da multidão, contemplou, com olhos de arquiteto, a Catedral. Achou-a grandiosa, apesar de inacabada exteriormente; notou suas linhas fortes e puras, com arcos lanceolados, característicos do estilo gótico. Ava-liou a sua implantação com relação à grande praça e seus prolongamentos, e considerou-a correta, pois a destacava como centro espiritual da cidade e da diocese.Informaram-no, de antemão, estar o interior da Catedral, praticamen-te, acabado, e representar a concretização de um ideal de uma comunidade liderada por Dom Frei Luiz Maria de Sant’Ana.Cumprido o ritual externo, preparou-se, espiritualmente, para entrar na Catedral para as cerimônias de posse e entronização, bem como para receber

as primeiras impressões do interior da mesma, ciente de que ficariam gravadas na sua memória para sempre.Contemplou suas naves e seus suntuosos ornamentos litúrgicos. O im-pacto das primeiras impressões não correspondeu às suas convicções sobre a “ambiência dos lugares litúrgicos” que, de há muito, proclamava. Sem deixar transparecer qualquer emoção, dirigiu-se à Capela do Santíssimo Sacramento, onde fez breve oração e observou o altar executado num misto de mármore e estuque-lustre imitando mármore. A seguir, encaminhou-se para o altar-mor, onde fez novas orações. Observou ser o altar-mor inteiro de mármore, colo-cado sob enorme baldaquino com acabamento em estuque-lustre imitando mármore, que, também, abrigava uma grande estátua de Sant’Ana, padroeira da cidade, executada em gesso e pintada em várias cores.Notou que esse conjunto foi localizado no fundo da nave central, invadindo parte do espaço da abside, a exemplo de certas igrejas antigas que atribuíam a esse espaço o simbolismo do paraíso. Constatou que essa localização dificultava a visão e a participação dos fiéis nos atos litúrgicos.

Page 91: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

89Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasNa qualidade de Bispo Diocesano de Botucatu, iniciou seu aposto-

lado com os mesmos ideais e procedimento com que se houve em Bonfim, adaptando-os, constantemente, às circunstâncias da nova diocese. Não mediu sacrifícios pessoais para “trazer um pouco do céu à terra” e, fiel ao seu lema SURSUM CORDA, “elevar um pouco a terra para o céu”, na certeza do que de grande poderia realizar.Sem descuidar de preparar, com segurança, os destinos espirituais de seus diocesanos, de imediato elaborou um plano de ação para adequar as obras de seus antecessores às novas imposições litúrgicas e funcionais, bem como criar “lugares litúrgicos” de alcance religioso e social.Contratou arquitetos para projetá-los, sempre orientando-os na com-posição e funcionalidade dos ambientes litúrgicos em seus detalhes, e não mediu esforços para angariar recursos para contratar a mão de obra necessária e artistas para executá-los.

Em poucos anos, realizou várias obras significativas, que contribuíram para justificar o merecido título de Cidadão Botucatuense, aprovado pela Câmara Municipal em 14 de agosto de 1956 e que lhe fora entregue em 26 de outubro de 1957. Outras obras, de maior vulto, somente foram realizadas durante o fecundo exercício de suas funções como 1º Arcebispo Metropo-litano de Botucatu, dignidade a que fora preconizado pelo Santo Padre Pio XII que, em 31 de maio de 1958, elevou a Diocese de Botucatu à categoria de Arquidiocese.Realizou, entre outras, as seguintes obras:- Restauração, reforma e ampliação do Seminário São José;- Construção da Capela da Santíssima Trindade – idealizada em seu coração para o “coração do Seminário” – magnífica pela sua implantação e arquitetura autêntica, “ sem artifícios e imitações baratas, fruto de orações e recolhida em sua simplicidade”, ostentando excelente pintura de Henrique Oswald e de sua esposa Jacira, tomando toda a superfície da cúpula da abside da capela;- Execução do revestimento das faces externas das paredes da catedral com “sirex” término das agulhas das duas torres em estrutura de madeira revestida com chapas articuladas de alumínio, encimadas por enormes cruzes;- Instalação de quatro sinos de bronze – os Sinos do Centenário de Bo-tucatu – e respectivo controle elétrico; vitrais e a grande rosácea da fachada principal da Catedral, por ocasião do Cinquentenário da Diocese.Construção da Igreja do Menino Deus, no Bairro Alto;- Reforma interna da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, na Vila dos Lavradores, decorada com pintura do casal Henrique Oswald;

Page 92: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras90 - Construção da Igreja Matriz de São Benedito;- Reforma do Convento das Servas do Senhor e construção da Capela Votiva de Nossa Senhora das Dores;- Construção do corpo principal da Casa Santo Ignácio em Rubião Junior;- Execução do loteamento do Jardim Bom Pastor e Construção da Vila dos Meninos “Sagrada Família”, nos altos do Jardim Bom Pastor.No entanto, nutria a esperança de realizar outra grande obra, arquite-tada em seu íntimo desde que recebera, de forma desfavorável, as primeiras impressões do interior da Catedral no dia de sua posse. Durante mais de dez anos, manteve, resignadamente, inalterado o interior da Catedral, em respeito a seu antecessor e à comunidade – clero, fiéis, doadores, construtores e ar-tistas, que não mediram esforços para erigi-lo em homenagem ao Altíssimo e à senhora Sant’Ana.No começo de 1959, reconhecendo, com lealdade e clarividência, não mais ser possível manter a situação interna da Catedral, tomou a decisão de dar os primeiros passos no sentido de reformá-la. Com auxílio de arquiteto, consolidou suas ideias em projetos arquitetônicos. Submeteu-os à apreciação do Núncio Apostólico no Brasil, o Arcebispo Dom Armando Lombardi, quan-do de sua estada em Botucatu, para proceder a instalação da Arquidiocese, em 12 de abril de 1959, que os aprovou e abençoou.Arquitetou a estratégia para assegurar o bom êxito da reforma, ciente de que iria enfrentar dificuldades, principalmente as criadas pelas pessoas afeiçoadas àquela composição interna.De início, entendeu-se, pessoalmente, com vários benfeitores da Ca-tedral, expondo-lhes o sentido e o alcance da reforma, e de todos recebeu palavras de aprovação e encorajamento. Em seguida, com muita diplomacia, estabeleceu um procedimento contínuo de “pregação sobre ambiência litúr-gica”, para a todos conscientizar da suprema razão de adequar o interior da Catedral, aos legítimos anseios de renovação espiritual, proclamando-a como “ a volta ao autêntico espírito litúrgico de participação mais ativa dos fiéis, em pleno contato com o celebrante e não como meros espectadores mudos e informes do Santo Sacrifício”. Em outras palavras, “ não se tratava de deixar a Catedral mais bonita, mas sim, de deixá-la mais ampla, sóbria, litúrgica e funcional”. Divulgou seu propósito de não pedir auxílio financeiro a seus fiéis, atitude que os induziu a colaborarem espontaneamente.Sob sua orientação, as obras da reforma foram iniciadas em maio de 1961. Dos ornamentos litúrgicos, apenas o altar-mor e a mesa da comunhão, por terem sido construídos em mármore legítimo e constituírem preciosidades, foram, cuidadosamente, desmontados, para posterior reconstrução na Capela

Page 93: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

91Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasdo Santíssimo Sacramento. Os demais ornamentos – baldaquino, altares e púlpitos – foram totalmente demolidos em razão de suas inadequadas loca-lizações e da artificialidade de suas suntuosas confecções, de elevado padrão artesanal, mas sem nenhum valor artístico. Os pisos e estruturas de concreto, existentes entre o início do cruzeiro e o fundo da abside, foram totalmente demolidos.Removidos os entulhos, contemplou a grandiosidade dos espaços e em cada um deles visualizou o seu ideal de como ocupá-los : sob a cúpula seria colocado o novo Altar-Mor, que seria, também, o Altar das Relíquias dos Santos Mártires – Urbano, Mansueto e Pacífico; o baldaquino seria a própria cúpula sustentada pelos quatro pilares principais do templo; do segundo arco do cruzeiro, de frente para a porta de entrada, penderia um grande Crucifi-cado de madeira; na parede principal do fundo da abside, seria construído um modesto nicho para abrigar a artística e veneranda imagem da senhora Sant’Ana, de origem portuguesa e esculpida em madeira; logo abaixo e à frente desse nicho estaria o Altar de Sant’Ana; entre o cruzeiro e o início da abside, seriam construídas as estalas do cabido; as pinturas das paredes seriam na cor branca e a das colunas e arcos na cor de tijolo; as colunas do baldaquino seriam pintadas na cor cinza, para destacá-las do conjunto; na Capela do Santíssimo seriam reconstruídos o altar-mor e a mesa de comunhão, retirados da abside; a sacristia seria valorizada como espaço litúrgico; junto à sacristia seriam construídas pequenas capelas para São José e Nossa Senhora Aparecida; a balaustrada do coro seria toda de madeira, colocada no sentido vertical; os vitrais seriam compostos apenas com vidros coloridos para criar a ambiência que convida à oração e ao recolhimento; os vitrais redondos, próximos da cúpula seriam compostos com vidros nas cores natural e âmbar para transmitirem mais luz sobre o altar-mor, valorizando-o como “Mesa do Senhor entre os Homens”; as imagens dos santos e da Via Sacra seriam pintadas na cor de tijolo, transmitindo a ideia de despojamento e escondendo “o mau gosto das figuras pintadas em cores berrantes, com corpos e trajes respingados de tinta imitando sangue...”Prontos em seu íntimo, restava-lhe transformá-los em realidade. Para tanto, não mediu esforços e sacrifícios. Coordenou todas as atividades dos construtores, artistas ecolaboradores, e sempre controlou seus desenhos, mesmo de longe, quando participava do Concílio Ecumênico Vaticano II. Em tudo fez prevalecer a busca constante da arte, através da simplicidade e da autenticidade dos materiais empregados, afirmando: “ferro é ferro, madeira é madeira, pedra é pedra, tijolo é tijolo, nada de imitações baratas”. Esclarecia aos fiéis sobre o andamento das obras, ao mesmo tempo em que agradecia as contribuições espontâneas, através de publicações quinzenais no jornal

Page 94: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras92“Monitor Diocesano”.Com a coragem da continuidade e das adaptações constantes às novas circunstâncias, concluiu a reforma da Catedral, cuja composição agradou a todos e antecipou, em muitos pontos, as decisões litúrgicas proclamadas pelo Concílio.Cumpriu o que prometeu: fazer a reforma interna da Catedral de modo a torná-la Digna, Sóbria, Litúrgica e Funcional.Preparou-se para receber a SAGRAÇÃO, que ocorreu aos 30 de agos-to de 1964, pelas mãos do Núncio Apostólico no Brasil, o Arcebispo Dom Sebastião Baggio.Solicitou ao Santo Padre Paulo VI a elevação da Catedral à dignidade de Basílica Menor, no que foi atendido em 27 de novembro de 1965, sendo a primeira do Brasil dedicada à Senhora Sant’ana.Continuou suas atividades eclesiásticas até 18 de abril de 1968, quando, espontaneamente, renunciou ao múnus da Arquidiocese, sendo substituído pelo Arcebispo Metropolitano Dom Vicente Marchetti Zioni, empossado aos 12 de abril de 1969.Recolheu-se, como Arcebispo Resignatário, na Casa dos Meninos “Sagrada Família”, onde, no alegre convívio com seus orfãozinhos queridos e assistidos pelas Irmãs das Servas do Senhor, permaneceu até os últimos dias de sua santa vida.Faleceu no Convento das Servas do Senhor aos 6 de novembro de 1974. Foi sepultado na cripta de sua querida Catedral Basílica Menor de Sant’Ana. A divina providência reservou-o para Botucatu para todo o sempre...: Biografia

EUGÊNIO MONTEFERRANTE NETO nasceu em Botucatu aos 17 de dezembro de 1932. Filho de Levino Monteferrante e Adelina Blasi Monte-ferrante. Estudou no Grupo Escolar “José Gomes Pinheiro”. Cursou ginasial e científico na Escola Normal “Dr. Cardoso de Almeida” e Colégio Estadual Presidente Roosevelt, no Parque Dom Pedro II – São Paulo – bacharelou-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1953/1957).Arquiteto de renome na comunidade botucatuense, possui diversos cursos de aperfeiçoamento e especialização na área.Participou de diversas comissões técnicas, tais como: Vice-Presidente da Comissão do Plano Diretor do Município de Botucatu, na qualidade de

Page 95: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

93Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasrepresentante da Associação de Engenharia de Botucatu, no período de 1965 a 1968; Presidente Executivo da Comissão do Plano Diretor de Desenvolvi-mento Integrado do Município de Botucatu, no período de 1970 a 1972; parti-cipação no IV Congresso de Engenheiros e Arquitetos da região de Botucatu, com o tema “A Participação do Arquiteto no Planejamento Municipal” abril e maio de 1977- Coordenador do Concurso de Ideias para o novo Brasão e Bandeira de Botucatu” – 1983 –Atividades Relevantes: Vice-Prefeito Munici-pal de Botucatu - Mandato efetivo de 01 de janeiro de 1977 a 31 de janeiro de 1981, com prorrogação até 31 de janeiro de 1983. Assessor de Planejamento da Prefeitura Municipal de Botucatu no período de 01 de janeiro de 1977 a 21 de Outubro de 1977. Membro da Academia Botucatuense de Letras – Cadeira nº 15 – Patrono: Martins Fontes. Inspetor- Chefe do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA – São Paulo – no período de 1982 a março de 1985. Vereador à Câmara Municipal de Botucatu no período de 1977/2000. Título Especial: “Profissional do Ano de 1984” conferido pela Associação de Engenharia de Botucatu, em 11 de dezembro de 1984.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 96: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras94

EVANIL PIRES DE CAMPOSO LOBO DA ESTEPE E O ESPELHOHERMAN HESSE divaga sobre o tratado do lobo da estepe e, de acordo com ele, só para loucos; certo de que andava sobre duas pernas, usava roupas e era um homem, mas não obstante, era também um lobo da estepe. Havia aprendido uma boa parte de tudo quanto as pessoas de bom entendimento podem aprender, e era também bastante ponderado. O que não havia aprendido, entretanto, era o seguinte: estar contente consigo mesmo e, com sua própria vida. Era incapaz disso, daí ser um homem descontente. Isso provinha, decerto, do fato de que, no fundo de seu coração, sabia sempre (ou julgava saber) que não era realmente um homem e sim, um lobo. Seria um homem lobo ou um lobo homem? Um homem dotado de alma de lobo ou por ela dominado: Seria imaginação? Estado patológico? Existem duas ou mais almas no ser humano.Supõem-se, portanto que o homem possui o ser homem e o ser ani-mal no caso presente lobo. O lobo responde pelas reações mais esdrúxulas, exóticas humanas: como agressividade, vaidade, maldade, a inveja e o mal.Seria, entretanto, mimetizar o conceito emitido por MACHADO DE ASSIS em O Espelho: o ser que vê de fora para dentro e o que vê de dentro para fora: surgirá ou levará ao equilíbrio.Eles se completam. Os módulos cerebrais, vindos da base encefálica, ao atingir a córtex interagem e geram as ações conscientes, enquanto que a imagem corporal é, no íntimo, uma arquitetura criada, elaborada transmitida com sucesso pelo instinto e ou pela genética.Ao se olhar de dentro para fora os fatores tanto quanto os preceitos inatos e/ou instintivos auxiliam e reforçam nossa percepção na cognição ao conceber, reconhecer, diferenciar. Ao passo que, quando se olha de fora para dentro a visão precisa ou

necessita se adaptar, captar a nuance, matizes naturais e artificiais a fim de expressar, imprimir sua desejada, almejada e/ou concepção na intenção, na atitude e na ação. O sono deve e pode eliminar a necessidade de uma alma exterior, enquanto que ao se acordar o balanço reaparece e advém o conflito

Page 97: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

95Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasentre a alma interna e a externa. Existiriam, portanto duas almas: Não deve haver desequilíbrio. Deve-se buscar e integrar dentro de si e fora de si o equilíbrio de sua natureza humana: - Ser, ter e ao se conceber, conhecer e, mais ainda, se apoiar na percep-ção quando se olha de dentro e/ou de fora para dentro.

Por exemplo: ao olhar no espelho, a imagem não condiz com o perfil e com nosso ser externo. Há um conflito entre ser e a imagem especular, cujos motivos, de fato, são múltiplos. Alojar no inconsciente, várias e diversas ideações as quais não se tra-duzem de modo preciso com suas intenções e vontade. Como sanar algumas vezes uma sandice que deseja nos perturbar; como desalojá-la, expulsá-la ou bani-la do fundo de nossa mente pensante e do inconsciente. É necessário perceber antes de conceber.

No entanto, é preciso reconhecer que o ser humano ora flutua para o homem e ora para o lobo. É difícil prever, sempre entender ou compreender o senso humano diante de suas ações, atitudes e intenções, visto que cada ser é peculiar dentro da verdade, da mentira que expressa ou tenta enunciar. No amor, na dor, na paixão, na ofensa, na agressão, na inveja, no suposto bem ou no mal que emana e deseja emitir. Desse modo, desejo revelar que quando infiro, analiso e deduzo, certa-mente, advém e origina do meu íntimo, portanto do meu ser humano-animal. Poderá ser meu conceito agradável ou não, na dependência da formação moral, educacional e ética do leitor.: Biografia

EVANIL PIRES DE CAMPOS formou-se na Faculdade de Medici-na de Botucatu- UNESP. Residência Clínica Médica, Professor Assistente em1970. Doutorado em 1974 e Livre Docência em 1980. Intercâmbio Cul-tural com a Universidade de Benin-Togo (1975). Estagiou na London School of Hygine and Tropical Medicine - Universidade de Londres – Inglaterra (1981) e em Madrid Espanha (1988). Implantou a Residência de Moléstias Infecciosas na Faculdade de Medicina de Botucatu e Federal de Campo Grande – MS. Aposentou-se em 1995 como Professor Adjunto. Consultor “Ad Hoc” do CNPq, por 10 anos. Emérito da Academia Paulista de Medici-na. Apresentou Trabalhos Científicos em inúmeros Congressos no Brasil e Exterior. Trabalho selecionado entre 5.000 periódicos, de Livros e Revistas;

Page 98: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras96publicado Cambridge Scientific Abstracts of Bacteriology, vol.23, 1988. Hóspede de Honra da Universidade de Lomé-Togo. Professor Homenageado, 1988- Botucatu e 1990-Unitau. Escreveu Livros Didáticos: 1.“Penicilinas Semi Sintéticas” Livro Antibióticos do Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz, em 1975; 2. “Paracoccidioidomicose na Infância”: Livro do Prof.Kalil Farah em 1993. Academia Botucatuense de Letras, Cadeira nº19, Patrono: Paulo Setúbal, desde 1987. Ingressou na Sobrames em 1999 e na ABRAMES em 2000, Cadeira nº 47 - Patrono: Dr. Cláudio Souza. Participou das Pizzas Li-terárias; Jornadas da Sobrames São Paulo, Congressos da Sobrames Nacional e Trabalhos publicados nos Anais. Livros publicados: 1. Florilégio Poético e Crônicas Seletas (2000): Poesias e Crônicas e Versos publicadas nos Jor-nais de Botucatu–SP: Sobre a vida cotidiana, Educação e Médico-Social. 2. Sonhos que Vivi (2002) - relatam os folguedos, atribulações ou fantasias de uma rica infância. 3.Versos Controversos (2004): motivações sentimentais: éticas, místicas e filosóficas, sonhadoras. 4. Considerações sobre a Obra de Machado de Assis (2006): Relatou algumas obras como: Dom Casmurro, Memórias Póstuma de Brás Cubas, etc. 5. Analogia e Reflexão sobre a Obra Machadiana (2008): Foram realizadas analogias dos textos diante da Literatura mundial seguidas de reflexão (prêmio 2009). 6. Textos de Machado de Assis -Visão Intuitiva (2010): frente aos conceitos literários de diversos autores vistos de modo intuitivo. 7. Versos em Versos Controversos (2012): Ampliou os Versos Controversos respeitando os critérios: Românticos, Sonhos. Honra ao Mérito da Sergipanidade – pela CIRLAP, 2012.

Page 99: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

97Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

FRANCISCO GUEDELHA A ESTRELA DE BELÉM(dezembro de 1962)Linda estrela resplendente,Por que vieste do OrienteCintilar no céu hebreu?Porventura o OnipotenteIncumbiu-te especialmenteDe alegrar o povo Seu?Talvez tu levas avante,No teu vulto cintilanteAlguma nova do além.Dize-me, estrela radiante,Que fato alegre, importante,Acontece hoje em Belém?O astro – um mimo de candura,Numa voz brilhante e pura,Dest’arte me respondeu:Glória a Deus na excelsa altura!O Messias da EscrituraEm Belém apareceu!Dize a César, que dominaEsta velha Palestina,Que é nascido o Rei dos Reis.E tu, a este povo ensinaA buscar a paz divina,Que virá de suas leis.Dize à pobre humanidadeQue, sem pompa e sem vaidade,Lá nasceu o Redentor.Ele surge da humildade,Mas é o Rei da Eternidade,Do universo é o Criador.

Page 100: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras98 E a meiga estrela brilhanteSumiu-se naquele instante,Deixando um rastro de luz.E agora eu digo exultante:Salve noite fascinante!Viva o Natal de Jesus!RELIGIOSO OU CRISTÃOSer religioso é uma coisa,Ser cristão é muito mais;Ser religioso é ver no céu as estrelasSer cristão é ver nelas a mão de Deus; Ser religioso é dar em retribuiçãoSer cristão é se doar sem nada esperar;Ser religioso é sorrir quando se tem saúde,Ser cristão é louvar a Deus mesmo na doença;Ser religioso é exaltar aquele que nos faz o bem,Ser cristão é amar também aquele que nos faz o mal;Ser religioso é procurar a própria salvação,Ser cristão é procurar salvar os outros;Ser religioso é prestar culto apenas na igreja,Ser cristão é adorar a Deus sempre em qualquer lugar;Ser religioso é esperar enquanto há esperança,Ser cristão é esperar quando todos já se desesperaram;Ser religioso é uma coisa,Ser cristão é muito mais.: Biografia

FRANCISCO GUEDELHA Ministro Evangélico, professor, orador e conferencista. Membro Efetivo da Academia Botucatuense de Letras, Cadeira nº 17 - Patrono: Othoniel Motta.

Page 101: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

99Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

FRANCISCO HABERMANN DISCÍPULOS NAS ACADEMIAS BOTUCATUENSES50 anos da fundação do Jornal “O ESTILETE” e 40 anos da ABLAs atividades científicas e culturais sempre se expressaram em con-junto. Houve um tempo, nesta Faculdade de Medicina que ainda se chamava Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu – FCMBB (1963), onde a voz dos estudantes era não só ouvida, mas sempre esperada. Ouvida porque ela se impunha, exigia, como principal interessada; esperada pois era também partícipe do processo penoso da instalação de uma Escola nova, onde tudo estava por se fazer. Nem dava para ser diferente. Que seria do nosso futuro, como alunos, se não se partisse para a luta, exigindo e contribuindo com ideias, iniciativas, propostas? Nunca houve, entretanto, desânimo. E isso, todos nós das primeiras turmas da FCMBB, devemos aos brilhantes professores desbravadores, aqueles da primeira hora, capitaneados pelo ines-quecível pioneiro, Prof. Mário Rubens Montenegro. Todos eles abraçaram a causa maior, isto é, a formação do principal produto de uma escola: o aluno, no caso, o médico. Esta postura conquistou o ânimo do corpo discente e este passou a lutar junto pela implantação do que é agora, como a conhecemos, a Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP. Líderes estudantis de então se destacaram, muitos sofrendo na carne os rebates do autoritarismo vigente, na luta pelo objetivo maior que era a construção de uma instituição grandiosa. A eles todos, professores e líderes estudantis, devemos aquilo que moderna-mente esta Faculdade de Medicina representa na região, no estado e no país. No ano do cinquentenário da aula inaugural (22 de abril de 1963) deste Curso de Medicina, é mais que imperiosa a atuação permanente dos alunos junto a esta Instituição, bem como a contínua presença viva de seu veículo de divulgação estudantil, o Jornal “O Esteto & Pé de Atleta”. Vale recordar que este jornal, então denominado “O Estilete”, fundado em 1963, foi sempre o porta-voz dos acadêmicos de Medicina daqui. Recentemente, foi matéria de

premiado trabalho apresentado em congresso científico. Ele precisa receber estímulos de conteúdos críticos e permanentes para continuar refletindo a

Page 102: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras100pujança e o brilho dos alunos, bem como reafirmar (ou redescobrir) seu alto potencial de intervenção construtiva. Este é o momento histórico onde sua presença, sua voz, a participação ampla acadêmica e suas reivindicações não podem dar tréguas nem sofrer desânimo. Sua continuidade é imperiosa para todos nós, os atuais continuadores valentes e os remanescentes de sua história gloriosa. Especialmente agora quando a Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP completa, festivamente, seu Jubileu em 2013 e a Academia Botucatuense de Letras comemora seus 40 anos de atividade. Seus discípulos continuam atuantes em ambas as Academias. Seus meios de comunicação também. Parabéns a todos.: Biografia

FRANCISCO HABERMANN nasceu em Leme, Estado de S.Paulo, em 1942. Realizou seus estudos básicos naquela cidade, sempre em escolas públicas. Preparou-se para prestar exames vestibulares de Medicina em Ri-beirão Preto-SP e ingressou na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu-SP – FCMBB, em 1963, na primeira turma de alunos desta Faculdade. Concluído o curso médico e residência em Clínica Médica, foi convidado a integrar o corpo docente da FCMBB, mais tarde denominada Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP. Integrou a Disciplina de Ne-frologia, dedicando-se em tempo integral e dedicação exclusiva ao ensino, assistência, administração e pesquisa. Desenvolveu trabalhos experimentais e clínicos que resultaram em tese de doutoramento, outras pesquisas, orientações de mestrados e doutorados, publicações em periódicos e livros, nacionais e internacionais, prêmios da Academia Nacional de Medicina, apresentações destacadas em congressos científicos nacionais e estrangeiros, aulas, con-ferências, entrevistas e outras atuações diversas científicas ou de interesse na saúde populacional. Integrou equipe que realizou a primeira sessão de Hemodiálise do HC-UNESP-Botucatu (31-10-1981); fundou o Centro de Hipertensão Arterial-HC-UNESP de Botucatu – C.H.A.(1985); coordenou e ministrou a Disciplina de ‘Epidemiologia da Hipertensão Arterial’ do Curso de Pós-Graduação ‘Fisiopatologia em Clínica Médica’ (desde 1981); fundou e preside a Associação Botucatuense de Assistência ao Hipertenso – ABAH (2008); eleito presidente da Federação Nacional das Associações de Portadores de Hipertensão Arterial – FENAPHA (2011). Aposentou-se compulsoriamen-te ao completar 70 anos, em agosto de 2012, atuando ainda, por efeito de mandato, na Comissão de Arte e Cultura e na Comissão de Documentação

Page 103: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

101Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrase Memória de FMB-UNESP. Como médico, continua atendendo no Ambu-latório Médico de Convênios do HC-UNESP. Paralelamente à sua trajetória universitária, participou continuamente do Movimento Espírita Municipal e Estadual; de atividades culturais em Botucatu, assinando coluna semanal nos jornais locais e regionais; das atividades musicais locais, integrando grupo de pianistas amadores de Botucatu; das Conferências de Cultura, sendo elei-to Membro do Conselho Municipal de Cultura do Município de Botucatu; permanece como Membro Correspondente da Academia Botucatuense de Letras -ABL. Ref.: Curriculum Lattes - CAPES (atualizado, disponível na internet, em dezembro de 2012)- [http://lattes.cnpq.br/8144678005643035] Correspondência: [email protected] .Francisco Habermann – Docente da FMB-UNESP e ex-aluno da Turma Pioneira(1963) Membro Correspondente da ABL.

Page 104: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras102

FRANCISCO MARINS “BOTUCATU – MORADA DA INTELIGÊNCIA!”Palavras que afloraram no discurso de César Salgado, quando da Co-memoração do 15.º ano da Academia Botucatuense de LetrasNa data de 8 de agosto de 1987, comemorou a A.B.L. seu 15.º aniver-sário e o acadêmico Francisco Marins, ex-Presidente da Academia Paulista de Letras e atual Presidente Emérito, convidou o grande tribuno da Revolução Paulista – César Salgado, para vir a Botucatu.Para maior glória dessa reunião, nela estiveram presentes os patronos vivos da entidade cultural – o grande folclorista Alceu Maynard Araújo, Hernâni Donato e o próprio Francisco Marins.A saudação inicial foi feita por este último e da qual se transcrevem alguns trechos:É para nós motivo de justo orgulho estarmos presentes, nesta noite de gala da Academia Botucatuense de Letras – em que as nossas autoridades e a melhor sociedade se representam; ao som das interpretações musicais, do Coral Municipal para, em conjunto, entregarmos prêmios aos vencedores do II Concurso de Contos do Sudameris e comemorarmos o décimo quinto aniversário de nossa nobre instituição, voltada para o amanho das letras e o incentivo cultural.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -Ambas as cerimônias merecem louvores e considerações especiais.Quanto ao concurso: é realmente importante que um certame de âmbito nacional tenha sido instituído a partir de Botucatu e empolgado milhares de concorrentes, em duas disputas, em vários Estados brasileiros. Quanto ao primeiro, que atraiu 1.200 candidatos, teve o mérito de despertar vocações e estimular novos escritores e, ainda, divulgar, em volume, os trabalhos pre-

Page 105: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

103Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasmiados, levando-os a todo o país e tornando duradoura a conquista literária – “escripta manent” – já diziam os latinos!- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Realizações como essas mostram a grande distância que se estabelece entre empresas que apoiaram alguns festivais de juventude do Rio de Janeiro, há algum tempo, de duvidoso gosto artístico, onde ocorreram mortes de ado-lescentes; ou, ainda, de recente visita de um grupo de roqueiros, assistida por enorme público, que se comprimiu no amplo auditório do Anhembi! Mas, tal espetáculo público recebeu críticas severas e o repúdio da sociedade.- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Felizmente não foram os diretores do Sudameris, que concorreram para tais extravagâncias. É que, nessa instituição, temos a presença do botucatuense Milton Marianno, uma das mais belas figuras humanas que conhecemos e que colocou sua personalidade e inteligência a serviço de ideais mais alevantados, entre os quais o que se configura no concurso ora realizado e, ainda, pela publicação de numerosos livros, tais como nova edição de “Achegas” – de Hernani Donato e de primorosos volumes sobre as artes e técnicas nacionais... - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

A data do aniversário – quinze anos da Academia Botucatuense de Letras – poderia causar admiração! Uma instituição cultural a resistir ga-lhardamente ao tempo!Fato realmente inusitado!Nesta oportunidade, porém, sem vanglorias, desejamos recapitular que Botucatu pode ostentar algumas conquistas que a distinguem e a elevam no campo das publicações: letras, artes, educação, técnicas, ciência! O nosso CONVIVIUM, além de sua rica biblioteca, possui uma es-tante em que estão reunidos atores do passado e do presente e vale a pena conhecermos a extensão e a qualidade de tantos trabalhos, dados a lume ao longo dos anos.E, ainda, relembramos: que, há quarenta e quatro anos, existe aqui um Centro Cultural; que desde o final e princípios do século, entre nós, se exercitou um jornalismo atuante, através de dezenas de órgãos da imprensa; que – duas emissoras de rádios marcaram sua presença, numa época de pre-domínio da comunicação falada; que uma biblioteca pública, com o nome do

Page 106: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras104inesquecível Prefeito Emílio Peduti, está a serviço da leitura, desde 1955; isto sem nos referirmos à permanente e significativa atuação das escolas leigas e religiosas, através dos tempos, na formação de nossa juventude.Não é surpresa, pois, que a A.B.L. comemore 15 anos idos e vividos!- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

No dia 9 de julho de 1972, reuniram-se os seus membros efetivos, para ocuparem 21 cadeiras. (Desde logo e, sabidamente, para evitar brigas que já haviam marcado a vida da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista – inspiradoras das academias regionais, acolhia, a botucatuense, duas ilustres acadêmicas, representantes do belo sexo).Sob a batuta de seu dedicado Presidente – Antonio Gabriel Marão, tenta-se reproduzir, agora, a solenidade e a pompa peculiares às instituições, suas inspiradores, estas sempre, ciosas de vestimenta adequada, medalhas, colares, ritual típico, estatuto e projetos ambiciosos.- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

E quis a instituição nascente, homenagear três botucatuenses, membros titulares da Academia Paulista de Letras – fato que se apresentava como incomum, pois nenhuma cidade do interior paulista conseguira assento para três de seus filhos, entre os só quarenta acadêmicos, da maior instituição cultural de São Paulo. (Este número havia de subir para quatro, quando da eleição de Ibiapaba Martins).Convidou-os, então, a agremiação nascente, para assumirem, como patronos vivos, circunstância originalíssima, três das suas cadeiras.Naquela noite, Alceu Maynard Araújo, Hernâni Donato e quem vos fala, sentamos orgulhosos ao lado dos membros efetivos. Mas estávamos algo constrangidos, como que colocados em verdadeiros pedestais, quando não passávamos de meros discípulos, de nossos antigos mestres da Escola Normal ou do jornalismo botucatuense.Curvávamos, entretanto, sem ostentação, às circunstâncias de fato, certos de que o tempo, inexoravelmente, iria repor as coisas nos seus devidos lugares e, assim, diminuiria as distâncias que só as aparências separavam. Éramos vivos e, embora as academias teimem em chamar seus membros de “imortais”, a realidade, a cada dia, desmentia aquela assertiva e nos aponta-va para a frágil condição humana. Primeiro levou-nos o inesquecível Alceu Maynard Araújo, cheio de entusiasmo e de vitalidade, arrebatado inesperada-mente ainda em pleno exercício do talento criador, após o lançamento do seu

Page 107: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

105Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasalentado “Folclore Nacional”, obra fundamental do gênero, entre nós. Perdas irreparáveis teve a seguir a instituição, ao longo dos anos: Raymundo Cintra – o grande mestre latinista, que completaria hoje cem anos; Rocha Lima e Arnaldo Reis – ligados à fundação do Centro Cultural; Novelli – um talento que partiu cedo; Pires de Campos – conhecedor de nossas letras; Sebastião de Almeida Pinto – o cronista da cidade; Hugo Pires – o retratista das suas figuras; Trajano Junior – o poeta, o último a partir.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -José Augusto César Salgado, tribuno da Revolução Paulista, figura de escol da intelectualidade brasileira, encantou a numerosa plateia daquela

noite, com seu verbo inflamado e, num rasgo feliz de oratória, deixou-nos uma frase que iria se perpetuar: “Botucatu morada da inteligência!”. César Salgado também se foi e merece ser lembrado pelo tom de otimismo e esperança com que acenou para o sentido utópico que podem ter as agremiações de belas letras, ao lado de gestos práticos e generosos. Uns e outros podem conduzi-las ao futuro, pois se a vida é curta a arte é permanente – “ars longa vita brevis”: assim, a Academia Francesa, nascida sob Luiz XIII, mãe e protótipo de quase todas as academias, subsiste até hoje; a Academia Brasileira de Letras é de 1896, conhecida como a casa de Machado de Assis; a Academia Paulista de Letras nasceu em 1909. Estas duas em plena floração, a perseguirem seus objetivos: a defesa e o aprimoramento do idioma nacional, fonte principal da comunicação humana e da elevação da palavra à categoria de arte, para exprimir os grandes sentimentos do homem!Os gestos utópicos podem se confundir com os heroicos, como há centenas de anos o do soldado grego, que correu do campo de maratona para anunciar a vitória dos gregos sobre os persas. O seu frágil corpo pereceu ao final da corrida, mas o gesto se eternizou!Num dia distante do passado, no jardim de Academo, na acrópole, frente à estatua de Atena – deusa da sabedoria, plantaram-se doze oliveiras. À sua sombra descansou Platão e, ao seu redor, andaram Aristóteles e seus discípulos peripatéticos. O lugar e os mestres inspiraram sonhadores de todos os tempos. Muitos buscam refúgio no recinto das academias, e cultivam o belo como fonte de inspiração pessoal. Outros procuram colocar as letras a serviço de ideais mais nobres e até no cumprimento de missões sociais, filosóficas e espirituais.Há quase dois mil anos, no sermão da montanha, Cristo serviu-se de palavras e frases, portanto, de um discurso. Este sobreviveria aos impérios e reinos, através dos milênios, depois que o escreveram. As oliveiras do Jardim

Page 108: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras106de Atenas foram derrubadas mais tarde por um truculento imperador – Silas─ para, com seu lenho, constituírem-se vasos de guerra! Jamais, porém, os ideais nascidos à sombra daquelas árvores feneceram, porque foram inspiradoras de evasão, de esperança e otimismo, inseparáveis dos grandes sonhos e dos gestos heroicos da humanidade.Vieram tormentas e hecatombes – populações se digladiaram e se destruíram, povos emergiam ou desapareciam – obras gigantescas foram executadas! De tudo, pouco, porém, chegou aos nossos dias. Mas as frágeis palavras pronunciadas na montanha ou à sombra das oliveiras, inspiradoras – uns dos sentidos espirituais da vida e, outras, dos seus fundamentos filosóficos e artísticos, - para sempre permanecem!E, todos aqueles que, pelos tempos em fora, procuram beber ou se exercitar, naqueles ensinamentos e ideais, embora modestamente, estarão se aproximando das mais puras e verdadeiras fontes da sabedoria da vida!: Biografia

FRANCISCO MARINS natural de Pratânia, S.P., descendente de tropeiros, boiadeiros e pequenos plantadores de café, Francisco Marins pas-sou a infância em contato com a vida rural, na qual colheu inspiração para seus livros.Os livros das séries Taquara-Póca, Roteiro dos Martírios e o Homem e a Terra, traduzidos em quinze idiomas, alcançam, com centenas de edições, cinco milhões de exemplares.Francisco Marins foi editor das Edições Melhoramentos, membro da Comissão Estadual de Cultura e Presidente da Câmara Brasileira do Livro, tendo se batido pela divulgação e valorização do livro.Criou na cidade de Botucatu o “Convivium – Espaço Cultural Francisco Marins”, o “Clubinho Taquara-Póca”, que visam promover o amor pela vida rural, natureza e eco-sistema. Interessante que o primeiro presidente deste clubinho foi o jovem e hoje famoso piloto Felipe Massa.Em Pratânia, S.P., onde existe biblioteca com seu nome, desenvolveu amplo projeto cultural: “Taquara-Póca e Prata Antiga”, o qual procura es-timular entre os jovens o conhecimento das atividades rurais, bem como o estudo do folclore e das tradições nacionais.Francisco Marins, também, através de sua saga infantil divulgou pela primeira vez o mito do Curupira.

Page 109: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

107Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasEscritor – é Membro Titular da Academia Paulista de Letras seu Pre-sidente em duas gestões e atual Presidente Emérito.Recebeu prêmios e distinções literárias: Indicação ao prêmio interna-cional Hans Cristian Andersen; Prêmios Academia Brasileira de Letras; União Brasileira de Escritores; Prefeitura Municipal de São Paulo; Jabuti; Pen Club de São Paulo; Calipso e “Lourenço Filho”.Tem seu nome incluído na Coleção europeia – Delphin, clássicos de literatura para a juventude e em verbete da “Oxford Children’s Literature”.Recentemente instalou no Vale do Sol/Botucatu – Tempo e Memória –Biblioteca e Arquivo, composta de 25.000 volumes, 10.000 documentos sobre a região, ilustrações e pinturas culturais.Em várias cidades do país existem bibliotecas com o nome do escritor.26-03-2008.

Page 110: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras108

HERNÂNI DONATO ERA SÓ O QUE FALTAVAComeçou em um jardim: o de Academus. Na Atenas dos tempos de Platão. Chamaram-no assim por ostentar, ao meio, estatua do cidadão dono do lugar. Do bosque e da cidade clássica passou à perenidade pelo uso de circularem por suas aleias ouvintes e preletores que se propunham questões

filosóficas. Passaram então essas pessoas a serem referidas como acadêmicos. Em tradução simples: aqueles da turma do jardim. Título com o qual foram ornados ao longo da geografia e do tempo.

Botucatu teve o seu jardim e a turma do mesmo. Nos decênios finais dos anos oitocentos e no primeiro quartel dos novecentos a cidade foi refe-rencial para vasta área paulista, paranaense, sul-mato-grossense. Disseram--na, mesmo, Atenas cabocla. Isso por suas escolas, sua imprensa, atividades nas diversas artes praticadas especialmente pela ampla e variada colônia de imigrantes. E pelos talentos nela viventes.Entre os rios Tiete e Paranapanema e até o rio Paraná, nada contestava essa situação. O nome e os realizadores da cidade constituíam menção fre-quente país afora. Em Exposição Nacional de Trabalhos Tipográficos realizada no Rio de Janeiro os expositores botucatuenses mereceram a Medalha de Prata; quatro vice-consulados (Espanha, França, Itália, Portugal) buscavam, até competitivamente, prolongar na serrania os valores culturais da pátria europeia, esforço que proporcionou à cidade artistas de palco, de pincel, de música, de mármore; confederados americanos buscando a paz depois da derrota em seu país introduziram o protestantismo, o ensino e autores em inglês; um político local amenizou o ardor republicano na Convenção de Itu, criando e interpretando cenas teatrais; familiares de um dos três grandes poetas da Inconfidência Mineira, Alvarenga Peixoto, incomodados na cida-de em que sua grei padecia a maldição da rainha, lançada sobre Tiradentes, exilaram-se na Botucatu de 1864 trazendo a biblioteca do avô que pode ter sido a primeira estante particular da região; na margem do Lava-pés, nasceu Zalina Rolim que iria introduzir no país a literatura infantil e assinaria os quatro versos mais recitados nas festas escolares do Brasil afora durante mais de meio século (“Eu tenho um gatinho chamado Cetim,/Alegre e mansinho

Page 111: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

109Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasque gosta de mim.”); o primeiro clube social quis ser primeiro Literário e só depois Recreativo; uma senhora atrevidamente modernista, da sua vivenda no espigão da cidade, fez editar pelo menos onze livros de sua autoria e convocou confrades para tertúlias literárias; outra mulher talentosa, brilhante quanto modesta ao ponto de colocar o nome do marido como assinatura de seus livros (Senhora Leandro Dupré), destacou-se de forma prestigiosa no cenário literário da metade do século XX; o crítico Wilson Martins revelou em sua famosa “História da Inteligência Brasileira” que no crescer do século somente quatro cidades paulistas imprimiam livros:São Paulo, Ribeirão Preto, Santos e Botucatu; nesta, em suas escolas e redações irrompiam vocações para o magistério, o sacerdócio, o esmero social, os ritos devocionais do existir cultural. E a cidade cedeu à do Rio de Janeiro o ver morrer, aos dezenove anos de idade, do mal que então ainda matava poetas o seu esperançoso versejador: Mário Nogueira.E havia jardins. Especialmente o do alto da cidade. Coroando-o, um coreto. Cintando-o uma verdadeira cidadela cultural: Escola Normal, Catedral, Seminário, Ginásio Diocesano, Colégio das Marcelinas, Palácio do Bispado. Ampla Ágora que não ficaria mal nem na velha Atenas.Conjunto raro e frequentemente mencionado. Além desse conjunto, aqui e acolá talentos exercitando criatividade e esperando um tipo hábil de congregação.Narra uma crônica do tempo aludindo ao Jardim da Matriz: “Ali, aos domingos reuniam-se num redondel de bancos, vários professores, clérigos, advogados, todos assíduos no ler e frequentes no escrever para as colunas da imprensa local”. O professor Cintra, participe nos informa que: “O culto à gramática e ao bom estilo clássico dominava o ritual, estando no altar o ícone Rui Barbosa”. O mais interessante desse depoimento foi o seguinte: “A um canto, jovens intelectuais procediam a tertúlias predominando a apresen-tação de poesias e crônicas, levando-as aos mestres dos quais diziam serem acadêmicos pelo seu saber e suas práticas”.Chegara pois o tempo de reuni-los numa academia. Dos comentários do jardim para a materialidade da estrutura final, o calendário chegou a 1936 com a tentativa pioneira. Mas a rotina sufocou o empenho. Antes do segundo aniversário a generosa tentativa apagou-se no desentusiasmo. (Teria faltado o charme do jardim domingueiro, a praça, a banda, o cerco dos jovens ou a seleção de apenas vinte e dois participantes masculinos estatutários é que fez esmorecer o entusiasmo ao redor da entidade?).

Mas a atividade cultural não esmoreceu. Por fim, desafiando o futuro e evitando o precedente(com tantas mulheres talentosas e operosas vivendo e atuando na cidade, a tentativa de1936 não tenha se consolidado por constituir-

Page 112: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras110-se apenas com homens) ao anunciar em seu lema – Non omnis moriar, a nove de julho de 1972 os sucessores do Gabinete Literário de 1881, da Sociedade Dramática de 1981, da Cruzada Botucatuense, da pouca sabida Sociedade Literária de 1913; das literatas do Clube das Amantes das Belas-Artes, de 1916, dos corajosos inovadores de O Sorriso, de 1918; dos talentos anôni-mos e dos nomes prestigiados do Clube do Jardim; dos pioneiros de 1936; dos fundadores e dos até agora integrantes do respeitável Centro Cultural de Botucatu, surgido em 1942, da União Cultural Negra de 1979. Todas estas instituições convocando talentos femininos exponenciais deram estrutura àquilo que faltava: a Academia Botucatuense de Letras. Supera quarenta anos e ousadamente promete: não morreremos. Assim seja!: Biografia

HERNÂNI DONATO nasceu em Botucatu, dia 12 de outubro de 1922 na casa nº 6 da Rua do Colégio, atual Major Leônidas Cardoso. Nas brinca-deiras de rua contava estórias. Passou a inventá-las. Continua.O Livro das Tradições – Primeiro de outros mais de cinqüenta títulos entre romances, biografias, históricos, infantis e até um policial – historiou e estoriou gentes e fatos da vida local. Versões de seus textos correm em idio-mas espanhol, italiano, polonês, romeno, chinês, tcheco, japonês e no sistema braile (numa antologia tcheca o seu conto Predvoanzeleská akusenat (Expe-riência pré-matrimonial)). Figura ao lado de escritos por Isaac Asimov, Rey Bradbury, (o que lhe dá certo orgulho embora não comova o caixa bancário).Eleito para a Academia Paulista de Letras, Academia de Letras do Brasil (a de Brasília), Academia Paulista de História, Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil, Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes, Academia Luso- Brasileira (RJ), Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Academia Militar Terrestre do Brasil (Rezende), Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (do qual foi Presidente e é Presidente de Honra),da Sociedade Geográfica Brasileira, dos Institutos Históricos do Distrito Federal, do Rio de janeiro, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (RJ).Presidiu (1999) o Encontro Internacional Nóbrega-Anchieta promovido pelas Universidades de São Paulo (USP), Coimbra e La Laguna, a Comissão de Literatura do Estado, a Comissão Municipal de São Paulo para o Centenário da Abolição da Escravatura. É Vice-Presidente do Conselho de Honrarias e Méritos do Estado.

Page 113: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

111Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasTraduziu a Divina Comédia e o De Monarchia de Dante Alighieri; e obras de Bocaccio, Moravia, Bandello e outros.Disseram de sua literatura:“Os Sertões, Populações Meridionais do Brasil, Casagrande e Senzala e Chão Bruto são marcos miliares da sociologia brasileira”. Pedro Vergara, Procurador Geral da República; “Chão Bruto é a maior criação novelística quea inteligência de São Paulo deu até agora ao Brasil” e “Filhos do Destino é o mais importante romance paulista dos últimos tempos”. Menotti del Picchia, “A Gazeta”, São Paulo.“... a sua força romanesca, ao talento de movimentar as massas una-nimistas, como um Zola sem a obsessão do naturalismo”. Wilson Martins na História da Inteligência Brasileira. “... de alto poder comunicativo, obra de grande valor humanístico, Selva Trágica constituiu um dos mais altos momentos da novelística de conteúdo social do Brasil”, Fábio Lucas. “Selva Trágica, romance documento como poucos na história da Literatura Brasileira” Adelto Gonçalves, Revista Literatas, Maputo, Moçambique.Prêmios: da Academia Brasileira de Letras, Prêmio Afonso Arinos (1977) para o livro de contos “Babel” e Prêmio Joaquim Nabuco (1988) pelo “Dicionário das Batalhas Brasileiras” trabalho este objeto de quatro outras premiações. O autor tem estima especial pelo prêmio “Flor Roxa de Taquarapoca” do Espaço Cultural Francisco Marins.Outras premiações. O autor tem estima especial pelo prêmio “Flor Roxa de Taquarapoca” do Espaço Cultural Francisco Marins.Foi um dos maiores incentivadores da Fundação da ABL, da qual é patrono da Cadeira nº 9.

Page 114: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras112

HUGO DE AVELLAR PIRESNOITE SEM ESTRELAS Dá-lhe a mãozinha ingênua a sua “Pequenita”. E ele - pai - que nada vê tão contente fica... tão contente... Oh! pelos olhos da filha é que ele vai, mal andando nas ruas, mal andando, incerto, dentro da noite sem estrelas em que seu ser se move... E é pela mãozinha dela, pura como as serenas pétalas de neve, que seus olhos veem... a mãozinha ingênua da sua “Pequenita”! E ele, na treva imensa que o rodeia, sente qual uma luz incompreendida, quão verde e sonora é a folhagem das árvores, lindas e variadas as flores dos jardins... azul o céu... as águas dos arroios plácidos... Sente, mais ainda que tudo, os grandes olhos da filha, olhos cor de esperança... e o loiro dos cabelos dela, o sorriso, a perfeição do rosto, a graça natural do corpo... A mesma claridade indefinível do sol, e o brilho das estrelas, ele cego - o sabe... Oh! as níveas, liriais mãozinhas da sua “Pequenita”!

Page 115: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

113Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras Mas... o que ele não sabe e não o saiba nunca! nunca! é duns olhos outros, cheios de amor e de malícia, que não tardam roubar-lhe, impiedosos e tredos, os lindos, mansos, verdes olhos de sua “Pequenita” que é todo o seu coração, a sua luz, a sua própria vida. Ai! não sabe... que irá ficar cego para sempre... cego...: Biografia

HUGO DE AVELLAR PIRES nasceu em Botucatu, aos 19 de maio de 1897. Filho de José Arnould Paulino Pires e Adelaide da Silva Pires. Cursou o “Dr. Cardoso de Almeida” e o “Colégio Botucatuense”. De 1915 a 1919 frequentou a Escola Normal, diplomando-se Professor, e a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em Botucatu, exerceu o magistério secundário como Professor de Desenho e foi Inspetor Auxiliar de Desenho no Estado de São Paulo. Em 1928, foi efetivado ao cargo de Professor de Desenho, mas também exerceu atividades variadas, como preparador de física e química da Escola Normal. Em 1937, foi lecionar em Penápolis, e quis o destino que rumasse para Tatuí, onde deixou muitas saudades como Professor de Desenho. Mas não foi sua modesta carreira profissional que o notabilizou, e sim sua verdadeira obra, como jornalista, poeta e retratista. Desde 1917, Hugo Pires sobressaía em certames e exposições de belas-artes locais, onde agradava a todos com as famosas caricaturas de figuras populares. Sua obra está presente em Botucatu, no Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida”, com a “Galeria de Músicos Brasileiros”; no Centro Cultural de Botucatu, “Galeria de poetas e escritores brasileiros”; no Instituto Santa Marcelina, no antigo Ginásio Diocesano, no Museu de Botucatu, no Centro-Brasil-Itália, no Grupo Escolar Angelino de Oliveira. Em Tatuí, diversas obras, como os retratos de Carlos Gomes, Paulo Setubal, Dom Pedro I, Santos Dumont, Dom José Carlos Aguirre, etc. Também existem obras suas em Indaiabuba, Conchas e outros municípios do interior do Estado. Em São Paulo, retratos do Padre

Page 116: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras114Anchieta, do Maestro Souza Lima, etc. Nas letras, Hugo Pires começou cedo. Já em 1910, fez surgir na cidade um jornalzinho manuscrito em forma de revista do qual era o tipógrafo e ilustrador. Hugo Pires participou com suas notas e comentários de alegre humor, com seus sonetos e crônicas, em vários jornais locais, como o “Cidade de Botucatu”, de 1920; a “Folha” de 1922; “A Cruzada” de 1923, revista literária e órgão da Sociedade Cívico-Educadora fundada pelo ilustre Padre Euclides Carneiro. Em 1933, “O Momento”, com rodapés “Beijos e Petelecos”, no “Jornal de Notícias” e “ O Apóstolo”, com “Recreio Charadístico”. Em 1937, na “Folha de Botucatu” externava seu amor à vida em seções como “Canto Boêmio”, “Sombrinhas Chinesas”, nas quais exibia seu talento em alegres sonetos sobre personalidades botucatuenses. Em outras cidades, seu nome jornalístico também se fez presente, como em Penápolis, com “Bosquejos”; em Tatuí, “Pastéis de Vento”, sonetos humo-rísticos, quando também exerceu o cargo de redator da “Folha de Tatuí”. Como escritor e poeta, Hugo Pires externou seu amor pelo torrão natal, com a publicação do livro “Fênix -Memórias de um Botucudo Engravatado”, sua homenagem a Botucatu pelo centenário, em 1955. Em 1958, com “Suruiadas”, o Professor de Desenho homenageava seus colegas tatuienses em agradável coletânea de sonetos. Sob os pseudônimos de Bruno Góes, Macedo Soares e Rosalina Muniz, Hugo Pires alegrou e enalteceu os ânimos das pessoas de seu tempo com prosa, contos e sonetos. Autor, juntamente com Reis e Almeida, da letra da marcha-hino “Canto à Minha Terra”. A música é de Salim Kalil e a partitura para piano do Prof. Aécio de Souza Salvador. Como todo artista, não escondia sua vocação boêmia, típica da época de sua juventude, quando conheceu e conviveu com personalidades como Angelino de Oliveira, Vital Brazil, Lima Barreto e outros. Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 117: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

115Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

IGNÁCIO LOYOLA VIEIRA NOVELLI A MÃO DIREITA Duas são as mãos, duas as funções, duas as responsabilidades, dife-rentes os serviços prestados, diferentes os galardões recebidos, diferente a falta que fazem.Ninguém poderá solicitar à mão esquerda que faça o trabalho da di-reita, nem pedir à direita que se ocupe das humildes atribuições da esquerda. Ambas são necessárias, imprescindíveis mesmo, mas cada uma trabalha de seu lado, com sua própria força, com seus recursos, em seus setores, e nada pode fazê-las mudar de posição. É questão de lado e de costume.Nem poderá a mão direita se vangloriar de seu trabalho, nem a esquerda se sentir deprimida pela sua menor utilidade. Se a direita martela, a esquerda é que segura o prego; se a direita usa a faca, a esquerda é que segura o garfo e com ele o bife sumarento e macio; se a direita conta o dinheiro, a esquerda é que segura o maço; risca a direita o fósforo, se a esquerda segurar a caixa, bem como normalmente a esquerda faz a cobertura do boxador, enquanto a direita assenta os mais valentes e fulminantes murros.E digam lá à senhora mão esquerda que é pouca sua função, pequena sua serventia? Quem poderá prescindir da mão esquerda? Somente quem não a tiver, está visto.Regala-se a mão direita em levar aos lábios sedentos o copo de água límpida e fresca, ou a taça de champanha espumante, ou o cálice do licor capitoso e denso, e a ela sem dúvida somos gratos pelo serviço e pela ser-ventia, dependendo naturalmente da qualidade da bebida, do seu sabor, de sua delicadeza, o que independe inteiramente da mão. Mas, que fará a mão direita ocupada nesse saboroso mister, se a esquerda não estiver a postos para afugentar algum intruso, espantar algum intrometido, defender o bebedor de-satento, imerso nas doçuras que lhe propicia a mão direita? E que mão levou aos lábios ressequidos de Sócrates, a famosa taça de cicuta, quem enterrou no vasto ventre de Cesar o punhal de Brutus, quem ateou o primeiro fogo de Nero à sonolenta Roma? A mão direita, sem dúvida, a não ser que todos no caso fossem canhotos, o que seria muito de espantar.Regala-se a mão direita em apertos, carícias, saudações, adeuses, repri-

Page 118: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras116mendas, enquanto a esquerda lá se fica tombada, escorrida e inútil, sem saber onde se enfiar, esperando vaza para se manifestar e entrar com seu joguinho. A mão direita sentam-se os convidados de mais categoria, do lado direito caminha a esposa ou o mais nobre personagem, embora o coração tenha sua tendenciazinha para o lado esquerdo.Com a mão direita opera o cirurgião, escreve o poeta, combate o es-padachim, vai o alimento à boca, esmaga-se o inseto importuno, segura-se a criança que vai cair, levanta-se o homem tombado, ergue-se a bandeira em seu mastro, aplica-se ao atrevido o bofetão adequado, sendo que em seu dedo anular ostentam garbosa e enfaticamente os noivos, o anel de sua felicidade conjugal, de simbolizar uma união perene e indestrutível? Mistério das mãos.Com a mão direita prega-se uma tábua ou se ferra uma mula, mas a esquerda é que segura o cravo ou aguenta a pata da teimosa. Com a mão direita absolve o sacerdote, abençoa o pai, açoita o algoz, gesticula o orador, mata o assassino, capeia o toureiro, com ela se abraça o par dançante, en-quanto a esquerda, coitadinha, lá se fica à espera de intervir, auxiliar, reforçar, enterrar, confirmar, ou não fazer nada. Com a direita traça o arquiteto seus planos e suas plantas, risca seus desenhos, enquanto a esquerda se contenta em segurar a régua, manusear algum compêndio, segurar o mapa, sempre à inteira disposição de sua senhora e rainha, a direita.Raramente se junta a mão direita à esquerda, mãos postas em oração, se entrelaçando e contorcendo em momentos de desespero, se esfregando satisfeitas em horas de prazer, se unindo num ato de vandalismo, num esfor-ço desmedido, para soerguer, para derrubar, para estrangular, para defender ou para destruir. Unidas também e cruzadas levam-nas os que vão para o descanso eterno.Normalmente trabalham separadas, mas em ritmo coordenado. Que seria de nós, se a mão esquerda resolvesse agir a seu gosto ou em oposição à direita?... Talvez surgisse um palhaço no circo ou um demente em agitação furiosa, dificilmente um ser comedido e normal, um homem em sua atitude natural.E que faria a direita sem a esquerda? É fácil imaginar, difícil realizar, impossível concretizar. Se a esquerda é menos forte, mais delicada, menos entendida, não se pode negar que também é menos pecaminosa, mais conser-vada, menos violenta, mais recatada, mais discreta, menos intrometida, mais galante sem dúvida. Assim concluímos que ambas as mãos são, não apenas úteis, mas estritamente necessárias, cada qual em sua função.Não se vanglorie a direita de suas atribuições e capacidades, nem se envergonhe a esquerda de suas omissões e incompetências. Venturosos devem

Page 119: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

117Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasser os ambidestros, raríssimos e excepcionais. Correm o risco de confundir as mãos.O importante é cada mão se contentar com sua função. Percebe-se, porém, que todos desejamos erguer a mão direita.: Biografia

IGNÁCIO LOYOLA VIEIRA NOVELLI nasceu em Itu - SP - em 03 de fevereiro de 1912. Filho de Luiz Gonzaga Novelli - de origem italiana - e Da. Vicentina Bueno de Camargo Vieira Novelli. Realizou os primeiros estudos na cidade natal. Foi Seminarista em Nova Friburgo (RJ) onde se especializou em latim, grego, francês.Transferiu-se para Botucatu em 1945, onde exerceu atividade de car-torário durante muitos anos. Foi Professor do Instituto Santa Marcelina e do Colégio Arquidiocesano “La Salle”. Bacharelou-se em Direito pela Instituição Toledo de Ensino de Bauru. Foi professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu, onde lecionou Introdução à Filosofia e Ciência Política.Integrando-se à sociedade botucatuense, Vieira Novelli aqui consor-ciou-se com a Profª Maria Lúcia Villas Boas, com quem teve o filho José Luís. Escritor genuíno, jornalista nato, condensou em rodapés famosos de nossa imprensa sua crônica semanal.

No “Monitor Diocesano”, deixou sua profissão de fé que encontrou no berço e lhe guiou a existência exemplar. Na “Gazeta de Botucatu”, colheu em crônicas, a versatilidade alegre, jocosa, filtrando no rendilhado da frase, na perfeição da forma, sua riquíssima herança clássica. Faleceu em 1978.Professor universitário, jornalista, escritor e conferencista.Membro Efetivo da ABL-Cadeira nº 19, Patrono: Paulo Setúbal.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 120: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras118

JOÃO CARLOS FIGUEIROAAlguns escritores perseguem um tema pela vida toda. Foi assim, também, com o grande historiador, romancista e escritor Hernâni Donato, falecido recentemente. Apaixonado pela história da Revolução Constitucionalista de 1932, Hernâni Donato é considerado um dos maiores conhecedores do tema. Lembro-me de um debate realizado na Assembleia Legislativa, sob o pa-trocínio desta, e transmitido pela TV Assembleia, em que ele debateu em defesa do movimento, com professores da Universidade de São Paulo e da Federal Fluminense. Então, do alto dos seus 80 e tantos anos, conversou de igual para igual, com alguns moços, muito moços ainda, confrontando teses

que desqualificam o esforço paulista e colocam dúvidas na sua sinceridade de propósitos, bombardeando o seu caráter revolucionário.Sereno, seguro, sóbrio, Hernâni “esgrimou” lentamente e desmontou cada argumento. Fez do debate um marco no estudo daquele momento cívico dos paulistas e dos brasileiros em geral. Deixou com cara de “ah... é?” seus contendores quando lembrou que o movimento não havia sido restrito a S. Paulo, e que a adesão de outros Estados dependeu de circunstâncias que foram se apresentando e fazendo-os entregar os pontos antes da hora. Mas, acentuou, as adesões existiram e foram várias. Não fora um movimento dos cafeicultores paulistas, pura e simplesmente e, como afirmam, exclusiva-mente. As circunstâncias nos dois primeiros anos de poder do movimento de 1930, agregaram várias camadas de classes, classes e categorias sociais, profissionais e de vertentes as mais variadas, urbanas ou rurais, insatisfeitas com os rumos que estavam sendo delineados pelo regime instituído. Foi uma aula, dada ao lado de jovens, muito jovens professores universitários, cujas categorias de análise atribuem papeis cristalizados e irremovíveis para cada segmento social, diante de um movimento típico como aquele. Ou seja: os comportamentos de afronta a um poder que viera remover as velhas classes políticas da primeira república, “não poderiam ser explicados por outra forma, a não ser como manifestação contrarrevolucionária e, portanto, conservadora, das classes produtoras paulistas”. Hernâni não se deu por vencido: lembrou o papel da juventude engajada na luta pela legalidade constitucional, no Largo S. Francisco, e na passeata que culminou com o 23 de maio; lembrou do papel dos professores universitários de Direito, apegados também à legalidade não

Page 121: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

119Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasrestabelecida e lembrou o engajamento espontâneo da população, que afluiu em massa aos postos de alistamento voluntário. Teriam sido contrarrevolu-cionários todos eles?Mas houve um outro assunto que empolgou o coração de Hernâni e revela o historiador por inteiro. Este assunto, vale dizer, o Caminho Pea-biru, foi perseguido por Hernâni e o perseguiu também, por toda a vida. Reencontraram-se várias vezes. E, um não se cansava do outro. Descreveu o Peabiru em várias publicações, inclusive nas quatro fantásticas edições do seu Achegas para a História de Botucatu, onde, na última versão, de 2008, à página 35 do primeiro tomo, resume toda pesquisa de uma vida, sobre o tema.Ligou o Peabiru ao povoamento deste rincão onde nasceu, descrevendo a teia de caminhos que se emaranhavam pelas colinas dos morros-testemunho das franjas da Serra de Botucatu, modernamente chamada Cuesta. Meteu-se, na juventude, por eles e buscou desvendar seus segredos, como ainda hoje o fazem os jovens de todas as gerações.Repetiu séculos de lendas brotadas das Três Pedras e seu Gigante; especulou profundamente com as hipóteses para o desaparecimento de São Bom Jesus do Ribeirão Grande; buscou em seu contemporâneo, o também historiador de Sorocaba, mons. Lourenço Castanho, as razões para isso. Mas foi imbatível em retornar ao mesmo tema, sempre, o velho Caminho Peabiru.Ainda nos anos 90 frequentei um lançamento de livro, onde Hernâni trouxe para Botucatu o editor de uma outra pérola da historiografia: “Sumé e o Peabiru”, um livro resumo de suas teses, onde, como já era de seu gosto, Hernâni costurou um nexo entre os fenômenos sociais do passado mitológico brasileiro, cujo personagem Sumé, que povoava e povoa ainda hoje o ima-ginário dos nossos ancestrais indígenas, palmilhava o legendário Caminho Peabiru. Apaixonado, tentou entender as teses de Frei Fidelis, comentou-as, procurou dar sentido a algumas delas e deu forma à maneira que gostaria fosse entendido o repertório de mitos e lendas botucatuenses. Valorizou, so-bremaneira, os mitos autóctones, porque via neles uma forma legítima para explicar o povoamento do interior. Enfim.Não estava satisfeito, porém. Perseguia, nos últimos tempos, esperançoso por uma volta ao interior, o velho tema. Em seu velório, conversei com um seu próximo amigo, do Colégio Santo Ivo. Hernâni ensaiara voltar a Botucatu e Pratânia para lançar a mais recente reimpressão do romance “Selva Trágica”, um épico do povoamento violento dos sertões mato-grossenses. Sua ideia, que o empolgou ainda neste ano, muito, era arrumar um helicóptero e sobrevoar as Três Pedras , na esperança de encontrar sobrevivências dos velhos caminhos brasileiros e, quem sabe, identificar um segmento do Peabiru por terras que ele tanto amou. A longa e profícua vida, porém, não lhe deu tempo para isso.

Page 122: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras120: Biografia

JOÃO CARLOS FIGUEIROA nasceu em Botucatu a 20 de agosto de 1944, sendo filho de Felix Figueiroa e Thereza Luiza Paganini Figueiroa. Cursou o pré-primário no Colégio Santa Marcelina e o primeiro ciclo do Ensi-no Fundamental (antigo primário) na Escola de Ensino Fundamental Cardoso de Almeida (Cardosinho), hoje municipalizada. Em seguida, transferiu-se para o Colégio Diocesano, onde concluiu, em 1960, o ciclo ginasial (atual 2º ciclo do Fundamental). Fez o Ensino Médio na Escola Estadual Cardoso de Almeida, obtendo o certificado de professor primário (denominação antiga), em 1963. Com esse certificado, ministrou aulas para a classe mista do bairro de Cocaia, em Parelheiros, subordinada à antiga Delegacia de Ensino de Santo Amaro, São Paulo.

Começou a sua vida profissional na atividade de radialista na Rádio PRF-8, ainda em 1956, tendo desempenhado todas as funções de repórter esportivo, noticiarista, produtor de programas e publicitário. Combinou essas atividades com a de aprendiz e depois redator do jornal O Correio de Botucatu, da firma Correios Associados, empresa consorciada com a Rádio Emissora de Botucatu.Transferiu-se para S. Paulo em 1964, onde, paralelamente às atividades de professor, foi funcionário do Banco Moreira Salles e a partir de 1965, funcionário público concursado, na função de redator, adjunto ao Gabinete do Secretário de Governo, ainda quando a sede do governo paulista residia nos Campos Elíseos.Em São Paulo, deu continuidade aos estudos das Ciências Sociais, que havia iniciado em Botucatu, na antiga Faculdade de Ciências e Letras da Instituição Toledo de Ensino (atual UNIFAC).Transferindo-se para Botucatu, teve nova passagem pelos órgãos de imprensa locais, escrevendo reportagens sobre política e esporte nos peri-ódicos O Correio de Botucatu, A Gazeta de Botucatu e Folha da Estrada. Eventualmente, a pedido do correspondente local, elaborou matérias para o jornal A FOLHA DE SÃO PAULO. Continuou a fazer rádio, pela PRF-8, durante todos os anos 1970.Em sua terceira volta a Botucatu, e aos órgãos da imprensa local, de-senvolveu o gosto pela história da cidade e passou a escrever sobre o tema, a partir dos anos 1980, nos jornais A Cidade, O Correio da Serra, Gazeta de Botucatu e o Diário da Serra.

Tem uma infinidade de artigos especiais construídos sob medida para

Page 123: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

121Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasdatas festivas da cidade, jornais e instituições. Desenvolveu, juntamente com o escritor Hernâni Donato, a quarta edição do livro clássico ACHEGAS PARA A HISTÓRIA DE BOTUCATU (2005/2008). Escreveu e coordenou a edição do livro BOTUCATU, Conto, canto e encanto com a minha história”, trabalhando para a Editora Noovha América (2007/2008). Fez especial em-penho na edição do livro do ex-deputado Braz de Assis Nogueira, seu amigo pessoal, livro de memórias com o título “Do Ford Bigode ao Google Earth”. Recebeu o título de Cidadão Emérito da Câmara Municipal de Botu-catu, sob indicação do vereador e atual vice-prefeito Antonio Luiz Caldas Junior e desempenhou o cargo de Secretário Municipal de Descentralização e Participação Comunitária do primeiro governo do prefeito João Cury Neto. Atualmente é presidente do Centro Cultural de Botucatu, entidade fundada em 1942. Foi reeleito para o terceiro mandato. É Membro Honorário da ABL.

Page 124: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras122

JOEL SPADARO OS CINQUENTA ANOS DA FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATUSeria lugar comum dizer que o tempo passa rapidamente. Mas, em

relação à nossa Escola Médica, por seu perfil majestático e por sua trajetória épica e inspiradora, poderíamos dizer que esse período foi curto; surpreendente mesmo. Foi em abril de 1963 que tudo começou, como FCMBB. No ano que vem, completaremos cinqüenta anos! Nosso patrono, prof. Montenegro, dizia que nossa história tinha “aura de lenda”. Palavras sábias do Mestre. O imenso H, que dava os contornos de nosso prédio, já sinalizava que, ali, ho-mens sonhadores e práticos ergueriam uma instituição vibrante e produtiva, capaz de transformar nossa região em referência de ensino e de atendimento médico. Faria história, portanto. E assim se fez: nossos egressos têm forma-ção profissional onde predominam critérios técnicos, éticos e humanísticos. É o que se espera para nosso País. Nossa grade curricular permite interação com as unidades de saúde do município, ampliando nossa meta de extensão universitária, um dos pilares da escola médica pública e gratuita. A grande procura por vaga em nossa Faculdade, nos vestibulares, é um bom indicador de qualidade da Escola.Na área de ensino, há preocupação com práticas formativas, quer seja em salas de aula, enfermarias, ambulatórios e serviços de urgência, no sentido de dar aos futuros médicos as ferramentas necessárias para a prática médica consolidada em princípios básicos da formação profissional, onde o estudante é treinado para pensar e assumir responsabilidades, como centro de seu processo formador.Nosso corpo docente desenvolve atividades de ensino, pesquisa e ex-tensão. Estas habilidades proporcionam consolidação e evolução na carreira. Nossa pós-graduação é bastante ativa, abrindo possibilidades para formação de mestres e de doutores de ampla região de nosso Estado.

Atividades científicas: estágios no exterior, como pós-doutorado (para docentes), publicações em periódicos nacionais e internacionais, bem como participação em congressos nesses níveis, dão experiência a docentes, resi-dentes, pós-graduandos e consolidam a Instituição como centro de produção

Page 125: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

123Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrascientífica de boa qualidade.Nosso hospital tem abrangência regional, com atendimento médico primário, secundário e terciário: atende pacientes com doenças de fácil identificação e orientação, até casos complexos como neurocirurgia, cirurgia cardíaca, transplantes de órgãos...

A grande procura por nossos serviços médicos atesta o enorme fluxo de pacientes que passa por nossos ambulatórios, e por crescente número de atendimentos em nosso pronto-socorro. Neste, nos últimos anos, conseguiu-se ampliação de leitos e infraestrutura comparável a hospitais de primeira linha.Assim, de forma resumida, quisemos mostrar que, no ano que vem, no cinquentenário da hoje Faculdade de Medicina de Botucatu, da UNESP, teremos muito a comemorar. Poderemos reviver, por exemplo, as lutas e con-quistas da FCMBB, de 1963. Sob regime militar, sem medo, o alunado fez a Operação Andarilho, em 1967. São grandes histórias de uma Instituição que, instalada em cidade pequena do interior, soube ultrapassar seu isolamento científico para se tornar centro irradiador de conhecimento e de ciência. Tive orgulho de viver, plenamente, essa história.: Biografia

JOEL SPADARO nasceu em Botucatu, em 21 de março de 1939. Estudou em Escola Pública, desde o Grupo Escolar “Dom Lúcio Antunes de Souza”, passando pela Escola Normal Dr. Cardoso de Almeida. Formou-se em Medicina pela Faculdade Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB) em 1968.Fez carreira acadêmica plena, incluído Pós-Doutorado em Harvard (USA), de 1977 a 1979.Aposentou-se em 2009, como Professor Titular de Cardiologia.Foi vice-prefeito de Botucatu no período de 1983 a 1988 e também prefeito de 1989 a 1992.Foi vice-diretor e diretor da Faculdade de Medicina de Botucatu da qual é Professor Emérito .É Membro Honorário da ABL.Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 126: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras124

JOSÉ ANGELO POTIENS E TUDO COMEÇOU COM UMA VACAPois é. Tudo começou com uma vaca. Não era o animal ao vivo e em cores que se avista nos pastos. A vaca estava em um cartaz, junto com outros bichos rurais, placidamente parada sobre um prado verde. Outros elementos completavam a paisagem de uma fazenda. O cartaz era uma peça pedagógica e a professora pediu que os alunos do segundo ano do Grupo Escolar Rafael

de Moura Campos olhassem para ele e fizessem uma dissertação.Dissertação continua para mim uma estranha palavra. Das tantas com que me deparei ao longo da vida. Da professora, uma substituta por alguns dias, não guardei o nome. E a vaca? Bem, não sei se foi exatamente ela ou o conjunto daquela quadricomia que me fez viajar além do que mostrava aquela pintura.O que dissertei não sei. Inventei alguma coisa que minha imaginação me ditava, orquestrando uma ligação entre a vaca e o que a circundava. Tal-vez tenha posto pensamentos na cabecinha da ruminante. Talvez tenha posto cores que não figuravam naquela cena.A jovem mestra gostou, leu a preciosidade para a classe e, a partir desse momento, senti que podia voar. Senti que não precisava ficar preso ao que costumamos chamar de realidade. Podia escrever, enfim, o que bem viesse à minha cachola.Essa sensação de liberdade voltaria a me fazer cócegas nas provas de redação quando cursei o ginasial no IECA. E voei além da escola. Artiguinhos meus foram publicados na Folha de Botucatu, quando eu gozava da euforia de ter 13 anos.Nunca mais me libertei dessa liberdade. No colegial, meus textos eram elogiados, lidos pelo professor de Português para meus colegas. E, no último ano em que morei em minha cidade natal, as páginas do Correio de Botucatu se abriram para minhas curtas crônicas.Depois, o vento que nos varre me depositou em São Paulo. Fiel ao que meus instintos diziam, abanquei-me como redator de anúncios e comerciais. Escrever era e é a única coisa que sei fazer, aos trancos e aos barrancos.

O tempo foi voando, nos fluxos do vento. Quando vi, estava também

Page 127: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

125Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasrabiscando roteiros para histórias em quadrinhos, vídeos para empresas e programas de televisão. Em alguns casos, até ganhando prêmios.E a literatura? Ah, Botucatu! Aqui nasci e aqui ganhei meu primeiro laurel literário. Desmemórias foi selecionado para Quem Conta Um Conto, livro publicado em 1985 graças ao apoio da Academia Botucatuense de Letras.

Vieram depois outros galardões. Estão registrados em minha biografia. Entre eles, para Praias de Botucatu, crônica que conquistou o primeiro lugar na categoria Público Geral no concurso dos 150 anos da cidade. Ah, IECA! Com Na grande Via Láctea reverenciei, reconhecido, a escola que me deu régua, compasso e o ritmo dos meus passos. Está em Centenário da Escola Normal – Memórias da EECA, livro comemorativo dos seus 100 anos.O mesmo vento que espalha e recolhe me fez publicar O Evangelho de Marte e Canalha no fio da navalha. Livros em que exercitei minha obsessão pela liberdade, não só de escrever. Liberdade para ver, interpretar e interagir com o que denominamos vida.O vento, então, cuja missão é ventar, trouxe-me um convite generoso. Virar Membro Correspondente da Academia de Letras da cidade em que meu pai Bruno Potiens e minha mãe Carmen Peres Potiens geraram este humilde narcisista. A eles devo minha vida e o incentivo que sempre me deram para es-crever.

À Academia Botucatuense de Letras devo a sorte por ter sido descoberto em São Paulo e a honra pelo convite que me fez.Parabéns, ABL, por seus 40 anos!Quanto a mim, o que posso dizer? Na falta de algo inteligente, só repito o título desta crônica:E tudo começou com uma vaca.: Biografia

JOSÉ ANGELO POTIENS nasceu em Botucatu (SP), filho de Bruno Potiens e Carmen Peres Potiens. Passou infância e juventude em sua terra natal, onde colaborou para os jornais Folha de Botucatu e Correio de Botu-catu. Em São Paulo, foi redator em várias agências de publicidade, atuando também no Planejamento e na Produção de Rádio-TV-Cinema. Criou peças e campanhas para os mais diversos clientes, como Electrolux, Coca-Cola, Toyota, Citizen e Yakult. A convite de uma empresa de eventos, fez tradu-

Page 128: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras126ções para a New York University e a University at Buffalo. Foi roteirista freelancer de HQ, vídeos empresariais e programas de TV. Entre estes, um documentário sobre turismo transmitido por um canal de Dallas, nos Estados Unidos e os programas Boa Noite Amiguinhos e TV Tutti Frutti (Prêmio As-sociação Paulista de Críticos de Arte), exibidos nos anos de 1980 pela Rede Bandeirantes de Televisão. Promovendo feiras de negócios, teve comerciais veiculados em Portugal, Israel e Japão. Trabalhos com sua participação foram premiados na área de marketing. Sua monografia Tabus do Meio Jornal foi finalista do Prêmio de Mídia Estadão 2003. É escritor premiado nos gêneros conto, crônica e poesia, com textos publicados nos livros Quem Conta Um Conto (Sudameris e Academia Botucatuense de Letras), Crônicas: São Paulo 450 Anos (1º Prêmio Biblioteca Municipal Mário de Andrade de Literatura de 2004), Coletânea Osman Lins de Contos 2005 (Prêmio da Secretaria de Cultura da Prefeitura do Recife), A Palavra em Prisma (Prêmio de Poesia da Secretaria de Cultura de Guarulhos 2007). Com a crônica Praias de Botucatu conquistou, em 2005, o primeiro lugar na categoria Público Geral no concur-so dos 150 anos da cidade. Através de uma cooperativa de autores, lançou Encontro Pontual na Bienal Internacional do Livro de São Paulo 2010. Está no Dicionário dos Escritores Botucatuenses de Olavo Pinheiro Godoy. Sua crônica Na grande Via Láctea figura no livro Centenário da Escola Normal – Memórias da EECA, comemorativo dos 100 anos da escola. Publicou em 2011 O Evangelho de Marte. Em 2012 lançou Canalha no fio da navalha na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Seus inéditos Papo de Anjo, Os dragões do doutor Pereira e O assassinato de Ricardo Cardosin estão sendo negociados com editoras.

Page 129: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

127Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

JOSÉ ANTÔNIO SARTORIFEIRAS DE CIÊNCIAS EM BOTUCATUFeira é uma atividade comunitária e integradora. A Feira de Ciências é

uma mostra científica que se caracteriza pelo aspecto dinâmico.É comunitária e integradora porque conta com a participação de insti-tuições educacionais, científicas e industriais, como por exemplo, em Botu-catu: Escolas do 1º e 2º graus, Faculdades (UNESP), Faculdade de Filosofia (UNIFAC), Instituto Butantã, Instituto Adolfo Lutz, IBECC, USIS, SHELL, Departamento de Ensino, Empresa Teatral Peduti, Aeronáutica Neiva, Dep. de Turismo da Prefeitura, Imprensa, Rádio, TV, etc.Dinâmica – Equipes de alunos-monitores, previamente treinados, uni-formizados, tendo na lapela o crachá (com nome do aluno, estabelecimento e curso), demonstraram ao público, ávido de atualidades científicas:

a) Experimentos que verificam leis e princípios aprendidos em aula;b) Funcionamento de aparelhos por eles projetados e elaborados;c) Peculiaridades de coleções botânicas, zoológicas, etc.d) Painéis com projetos diversos: ciclo evolutivo do sapo, mosca e outros;e) Modelos de átomos, máquinas, aviões, foguetes, etc.A feira é um certame cultural e educativo que desenvolve a criatividade, forma atitude científica (observar, experimentar, interpretar, conceber, impro-visar), promove a emulação entre alunos, desenvolve o espírito de trabalho em equipe e dinamiza o ensino em bases renovadoras e modernas. Serve para formar ou ampliar o laboratório de Ciências na Escola. Inspirados pelo IBECC (Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura), fomos os pioneiros na realização de Feiras de Ciências no interior do Estado de São Paulo com a finalidade de substituir os obsoletos métodos de ensino pela observação direta dos fatos, pela experiência convincente e pelo raciocínio lógico. Com a colaboração de professores e alunos, Depar-tamentos de Ensino Oficial, Escolas, Comércio, Indústria e todos os meios de comunicação, liderados pelos Professores João Queiroz Marques e José Antonio Sartori, promoveram e realizaram : Feiras de Ciências nos anos de 1962, 1963, 1964 e 1969.

Page 130: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras128I FEIRA DE CIÊNCIAS DE BOTUCATUA primeira Feira de Ciências de Botucatu, a pioneira do interior do Estado, revestiu-se de grande êxito. Instituto de Educação, Escola Industrial, Instituto Santa Marcelina, Ginásio Estadual da Vila dos Lavradores, Colégio Arquidiocesano e Escola Senac – participaram desse certame. Época: 26 a 28 de outubro de 1962.Frequência: Cerca de 6.300 pessoas observaram admirados mais de 600 trabalhos e painéis. Local: Foi instalada em amplo Salão do Hotel Paulista (atual Hotel Botucatu, na Rua Amando de Barros).Na tarde de sexta-feira, dia 26 de outubro, foi aberta à visitação pública com a presença, na sessão inaugural, do Sr. Emilio Peduti, Prefeito Municipal, Plínio Paganini – Vice-Prefeito, representantes do Ensino Oficial e Particular, da imprensa falada e escrita.

À frente dessa iniciativa, estiveram os Professores João Queiroz Mar-ques, José Antonio Sartori e Clovis Nunes da Silva contando com a preciosa colaboração de outros colegas com seus alunos.Ultrapassando nossas expectativas, a Feira recebeu caravanas de es-tudantes de Conchas, São Manoel, Itatinga e a visita do Deputado Federal Carvalho Sobrinho.Vários aspectos da Feira, filmados pela Cia Cinematográfica Primo Carbonari, fazem parte do Complemento Nacional n. 352, que foi exibido nos cinemas em diversas cidades do país.As fotos tiradas pelos saudosos amigos e fotógrafos Caricati e Satake, observadas atentamente por professores de um curso pedagógico em Goiás,

frutificaram Feiras de Ciências em Porto Nacional (Tocantins), Morrinhos (Goiás), Brasília (DF), todas realizadas nos moldes da 1ª Feira de Ciências de Botucatu. Os melhores trabalhos desta mostra foram selecionados para formar um “stand” de Botucatu na IV Feira de Ciências promovida pelo IBECC, em 1963, em São Paulo.II FEIRA DE CIÊNCIAS DE BOTUCATUPatrono: Emílio PedutiAlcançou o mais amplo sucesso a II Feira de Ciências de Botucatu.

Através de caravanas ou de representantes, fizeram-se presentes as seguintes cidades: Ourinhos, Bauru, Descalvado, Itatinga, Pereiras, Itapeva, Conchas, Tupã, Campinas, Jaú, São Manuel, Agudos, Lençóis Paulista, Bernardino de Campos, Ipauçu, Pardinho, Manduri, Anhembi, Bofete, Paranapanema, Pompeia e São Paulo.Época: 13 a 16 de junho de 1963.Frequência : 17.675 pessoas adentraram os salões do Ginásio de es-

Page 131: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

129Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasportes do BTC, demonstrando o grande interesse pela exposição científica, prova da capacidade e do idealismo de nossos estudantes.A inauguração da II Feira ocorreu solenemente na noite do dia 13 de junho tendo comparecido autoridades civis, militares e eclesiásticas.Em seu discurso, o Prof. Marques salientou : “ Em Botucatu, a ideia surgiu há menos de um ano. Era tímida, esboçada com medo de naturais in-sucessos pelo seu ineditismo. Firmou-se, porém, de modo definitivo, depois de receber de Emílio Peduti, colaboração necessária e valiosa. O saudoso prefeito sentiu a significação cultural desse certame e o que ele representa para Botucatu. Eis por que essa Feira Regional leva como patrono Emílio Peduti. Em sua honra, há três painéis : o 1º da cidade que ele tanto amou; o 2º da Faculdade de Ciências Médicas que foi o seu sonho; o último da 1ª Feira de Ciências que sem sua cooperação não teria saído do terreno das conjecturas”.A feira atraiu pelo seu conteúdo e organização. As pessoas circulavam facilmente observando painéis alusivos às pesquisas sobre a Conquista do Espaço, Ciclo Evolutivo das Borboletas, Animais Marinhos, Lepra, Petróleo em Bofete, Avião Paulistinha, Anatomia Humana etcNos “stands”, uma diversidade de aparelhos eletro-eletrônicos, ópti-cos, acústicos, etc., em funcionamento ou em projeto. Com experimentos realizados, os monitores transformaram essa mostra dinâmica numa imensa sala de aula, onde cada visitante saiu com uma noção a mais no seu acervo cultural e com renovada confiança no espírito criativo de nossa adolescência.No livro de presença, várias personalidades deixaram impressões da Feira: “A de Mr. Magnus Hannaford, Educador inglês, em missão no Consulado Britânico: “A most impressive exhibition. Congratulation to the organizers and students.”Madre Irany Bastos, Diretora do Ginásio “Dom Barreto”, de Campinas: “ Trouxemos nossas alunas e professores para que aprendam, com os estudantes desta terra hospitaleira, o entusiasmo e o amor à verdadeira Ciência que, infalivelmente, nos leva a Deus.”

III FEIRA REGIONAL DE CIÊNCIAS “EMÍLIO PEDUTI”Realizada nos dias 13,14 e 15 de novembro de 1964, sob orientação geral e coordenação do Prof. José Antonio Sartori e colaboração do prof. João Queiroz Marques congregou Escolas subordinadas às Inspetorias de Ensino Secundário e Industrial : Industriais de Avaré, Ipauçu, Ourinhos, Marília, Garça, Jaú, Piracicaba, Assis e Casa Branca. Escolas Secundárias de Bofete, Cerquilho, Tietê, Laranjal Paulista, Conchas, Lençóis Paulista, São Manuel, Avaré, Santa Cruz, Itatinga e Itaí e todos os estabelecimentos educacionais de Botucatu.A solenidade de inauguração deu-se às 20 horas do dia 13, domingo,

Page 132: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras130com a presença de autoridades e grande público. Presente o Sr. Prefeito Municipal, Joaquim Amaral Amando de Barros, Profs. Amilcar R. Potiens, Benedito Pires de Almeida, Jorge Pinheiro Machado e outros.Após o discurso do Prof. Sartori, a fita simbólica foi cortada pela Sra. Maria do Carmo Torres Peduti, abrindo a mostra à visitação pública. As “borboletas” na entrada do Botucatu Tênis Clube – local da mostra – registraram o expressivo número de 20.425 visitantes nos três dias do evento.Dezenas de ônibus chegaram em nossa cidade conduzindo caravanas de estudantes liderados por professores de Ciências e Botucatu transformou--se no celeiro intelectual da Média Sorocabana, graças à III Feira que reuniu 2.000 trabalhos executados por escolares dessa região.Os trabalhos expostos mais apreciados pelos visitantes: demonstrações realizadas pelos estudantes da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu:a) observação da pulsação do coração de um sapo registrada em um aparelho de confecção própria;b) dissecação de um cão para estudo de seus órgãos;c) verificação da pressão arterial e recenseamento do tipo de sangue.Cinema educativo e científico – projeção de filmes das filmotecas SHELL e da USIS. “Stand” alusivo à Conquista do Espaço com modelos

de foguetes e satélites com recentes fotografias da Lua tiradas pelo último satélite americano.O cérebro eletrônico, uma criatividade dos alunos do Prof. Hélio Fazzio do I.E. de Avaré, e o canhão de salvas elaborado pelos estudantes da Escola Industrial de Jaú.Na saudação enviada aos promotores da mostra pelo Sr. José Reis, Diretor da “Folha de São Paulo”, ele enaltece professores e estudantes que promoveram essas feiras: “... não apenas para mostrar o que sabemos o que podem fazer, mas também para estimular iniciativas em outros pontos do Estado e do País...”“ ... Botucatu realiza a sua terceira Feira de Ciências. Isto mostra seu espírito de pioneirismo e de constância, tão bem assinalado no Curso de Jornalismo ministrado pela Folha nessa cidade e que chega ao término. É um exemplo magnífico de fé na Ciência e na inteligência de seus cidadãos”.

IV FEIRA REGIONAL DE CIÊNCIAS “EMÍLIO PEDUTI”Promoção: 8ª Inspetoria Regional do Ensino Secundário e Normal, 8ª Inspetoria Regional de Ensino Técnico, departamento Municipal de Turismo e Ginásio de esportes do BTC.

Page 133: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

131Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasCoordenação Geral do Prof. João Queiroz Marques, com a colaboração do Prof. José Antonio Sartori.Apoio: Consulado americano (gemini VI); Instituto Biológico (formi-

gueiro artificial); Instituto Butantã (Vital Brazil) e café Tesouro. Eletrônica Jussara de São Manuel (circuito fechado de televisão).Aero Clube de Botucatu (revoada de aviões).Herbert Richers (filmagem para o complemento nacional).Participação: faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu;

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Emílio Peduti”; todas as escolas oficiais e particulares subordinadas às Inspetorias acima citadas.

Às 17 horas do dia 23 de outubro de 1969, realizou-se a solenidade inaugural da IV Feira Regional de Ciências com a presença de convidados especiais: Luiz Aparecido da Silveira – Prefeito Municipal -; o Arcebispo Dom Vicente Marchetti Zioni; Professores Benedito Pires de Almeida, Waldir Danziato, José Antonio e Valdemar Sartori, João Queiroz Marques e outros.O comparecimento à Feira de 54.200 pessoas, de 23 a 26 de outubro, foi uma manifestação ruidosa da curiosidade, interesse e admiração pelas inovações e conquistas dos estudantes no mundo das Ciências.Relação dos principais trabalhos, por ordem, no circuito interno da Feira. Ginásios Industriais Estaduais:Presidente Prudente: Estudo da célula; Botucatu: Uso da lâmpada queimada: criatividade; Assis: Globo terrestre; Casa Branca: Reator de Gás; Piracicaba: Destilação da Aguardente; Marília: Máquina à Vapor; Ourinhos: Painel sobre o Corpo Humano; Franca: Bomba D’Água; Ipauçu: Elevador Hidráulico.Ginásios Estaduais e outras escolas:Pardinho: Colméia; Porto Feliz: Taxedermia; Anhembi: Exposição de uma cascavel; Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas: radioscopia, Microscopia de Cromossomos, de Bacilos da tuberculose, Cultura de mi-cróbios, etc. . .I.E. Cardoso de Almeida: Homenagem a Santos Dumont. Lançamen-to de foguetes (grupo CAESD); I.E. São Manoel: Sistema de Alarme; I.E. Avaré: Maquete do trevo da Castelo Branco; Colégio La Salle Botucatu : Órgão Elétrico; faculdade de Filosofia, Ciências e Letras: gramofone; Colégio Santa Marcelina: Radio Galena, Cápsula Espacial Gemini VI; Escola Senac de Botucatu: Eletrólise; G.E. Prof. Euclides de Carvalho Campos: Cérebro Eletrônico; G.E. Pedro Torres: Barômetro; I.E. Conchas: Molécula de DNA; Instituto Biológico: Formigueiro in vitro.O êxito dessas memoráveis Feiras de Ciências perdura para sempre

Page 134: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras132na lembrança daqueles que dela participaram e principalmente do povo que as visitou curioso, crítico e admirado com o progresso das Ciências num processo de ensino realizado, bem acabado.Todos os jovens que se dedicaram às Feiras de Ciências mereceram aplausos pelo “BUM” alcançado e, seus abnegados mestres pelo dever cum-prido, o reconhecimento espontâneo, plasmado na admiração de seus alunos e na aclamação de autoridades superiores.: Biografia

JOSÉ ANTONIO SARTORI, filho de imigrantes italianos que aqui se radicaram desde a última década do século passado, nasceu no dia 25 de maio de 1921. Fez os cursos primário, secundário (ginasial) e depois o Normal, na Escola Normal Oficial de Botucatu, diplomando-se Professor Normalista em 1941. Foi o orador oficial de sua turma na solenidade de formatura.Ingressou no magistério lecionando no curso primário (admissão) do Ginásio Diocesano Nossa Senhora de Lourdes. Mais tarde, passou a lecionar Matemática e Ciências Físicas e Biológicas no Ginásio Diocesano, Escola Técnica de Comércio, Seminário Arquidiocesano, Escola Normal Dr. Cardoso de Almeida, Escola Industrial “Dr. Armando Salles Oliveira”, Escola Senac, Curso Auxiliar de Enfermagem da Misericórdia Botucatuense, EEPG “Eu-clides de Carvalho Campos”, EEPG Prof. José Pedretti Neto e EEPG Dom Lúcio Antunes de Souza, todas em Botucatu. Lecionou também no Ateneu Botucatuense e no curso de Madureza que organizou com o Prof. Agostinho Minicucci e Carlos Bauer Filho. Foi Professor efetivo III na cadeira de Ci-ências Físicas e Biológicas, na Escola Industrial de Botucatu.Escreveu, juntamente com o Prof. João Queirós Marques, a série de livros didáticos: “Iniciação Científica” destinada ao ensino dinâmico de Ci-ências no Curso Ginasial, composta de três volumes. Inspirados pelo IBECC (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura) foram os pioneiros na realização das feiras de Ciências, no interior do Estado de São Paulo.Jornalista desde os bancos escolares, escreveu no “O Fundamentalista” e no “O Estudante” (1939), jornal do qual era um dos diretores com Hernâni Donato e Francisco Marins. Publicou o jornal “Iniciação Científica” com tiragem de 12.000 exemplares e distribuição gratuita a todos os professores de Ciências do Brasil.Recebeu o título de Professor do Ano em 1967. Recebeu o Prêmio nacional conferido pelo Concurso “Cientistas do Amanhã”, organizado pelo

Page 135: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

133Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasIBECC-UNESCO e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.Em 1972, escreveu a série “Vamos Estudar Ciências”, com 1º e 2º volumes para as primeiras séries do curso primário. Até 1978, a Companhia Editora Nacional vendeu mais de 2.000.000 de livros didáticos dos autores Marques e Sartori, para todo o Brasil.Em Sessão Ordinária realizada no dia 21 de outubro de 1980, o Legis-lativo Municipal aprovou por unanimidade, Projeto de Decreto Legislativo outorgando-lhe o título de “Botucatuense Emérito”. Casou-se com a Pro-fessora Nair Peres Sartori, com a qual teve os filhos: Maria Tereza, Sérgio Francisco, Maria Salete e Maria Beatriz.É Membro-Fundador da Academia Botucatuense de Letras, Cadeira nº 16 – Patrono: Monteiro Lobato.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 136: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras134

JOSÉ CELSO SOARES VIEIRA O AMIGO SACISaci tem uma perna só? Qual? Direita ou esquerda? Saci tem capuz vermelho com pompom branco? Saci assobia? Saci dá nó em rabo de cavalo? Ah! O saci!Moro num lugar a que chamam de terra do saci e seus admiradores até já criaram uma associação nacional dos criadores desse ente. Ora direis, criar sacis. Folclore, sonho, realidade... tudo se mistura.Não, não acredito em saci. Fada, lobisomem, mula-sem-cabeça, mãe-d´água, cobra grande, caipora, tudo isso me leva à perdida infância. Então a gente entrava no mistério do faz-de-conta, montava no caipora, esporeava a mula sem cabeça, ria com as estripulias do saci. Hoje, depois de tantos anos passados, não me arrependo de sonhar de olhos abertos com esses tempos e repetir aquele jargão espanhol─ Acreditas em bruxas?─ Não muito, mas que existem, existem!É, não convém duvidar. Eu mesmo já tive experiência com a existência ou inexistência do saci. Nos meses de agosto, dedicados ao folclore (22, dia nacional do folclore), nas aulas de redação, provocava os alunos, sondando--os sobre o saci. Sempre surgiam histórias que envolviam alguém da família ou um amigo que tinha visto saci. E não é que, para surpresa minha e dos alunos, em uma escola particular onde a condição socioeconômica e cultural é melhor do que na escola pública, uma menina do terceiro colegial se pôs a falar sobre criação de sacis. Pasme! Os entes eram criados em cativeiros – gaiolas – e estavam à vista de todos. Ela jurava com os dois dedos da mão

em cruz. Mentira? Verdade? A aula ficou um pavor e choveram perguntas à criadora de sacis.─ É possível fotografá-los? Inquiriu um aluno.─ Não, eles têm medo e fogem.Aí foi uma vaia só e a pobre criadora cada vez mais “ensacizada”, possuída pela entidade, tentava convencer os colegas com a veracidade do relato. Pobre, ninguém acreditou.Na festa do saci, atendendo a pedido de meu filho, minha esposa comprou um lindo enfeite de plástico transparente com uma miniatura de

Page 137: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

135Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrassacizinho dentro. Ele deu de presente a um funcionário da repartição em que trabalhava, fanático seguidor de sacis. Desde então não teve mais sossego: portas se fechavam, chaves sumiam, vento somente dentro da casa, roupas torcidas. Não aguentando os desafios, resolveu dar outro destino ao negrinho de uma perna só, sem, contudo, ousar ofendê-lo. Dirigiu-se a uma mata, fora da cidade, e soltou o sacizinho dentro de um canudo de bambu. Bendita liberdade perdida.Minha esposa, durante muitos anos, foi professora do ensino funda-mental. Naquele tempo, os alunos da zona rural não se deslocavam para as escolas da cidade. Ao contrário, professores se deslocavam para lá e até residiam temporariamente em casas – nada confortáveis – de colonos e de administradores das fazendas. Foi então que ela experimentou, junto à filha do ausente casal, a presença do saci. Primeiramente, ouviram barulho no teto, depois caiu um pozinho que sujou o chão. Batidas, surdas batidas vinham do alto. Era noite. Não havia TV. A mocinha, muito medrosa e crente, encolheu-se toda, acocorando-se em um canto da sala. A professora pedia-lhe calma, pois não acreditava em duendes. Mas eis que o saci resolve aparecer e cai do forro. Quatro perninhas, focinho comprido, rabinho balouçante, negrinho. Então se apavoraram mesmo: era um ratinho. Saci travestido de rato?! : Biografia

JOSÉ CELSO SOARES VIEIRA nasceu em Conchas, SP, 20/8/1934. É filho de Luiz Carlos Vieira e Judith Soares Vieira, irmão do coronel Amaury e do Arcebispo Dom Luiz. Casado com a profa. Neide Ricchini Leite Vieira é pai de José Luís, Marcos Paulo e Ana Carolina. Avô do adolescente Régis. Articulista de longa data dos principais jornais da terra: “Folha de Botucatu”, “Diário da Serra” e “A Gazeta de Botucatu”. Neste semanário, por cerca de quatro anos, assinou a coluna sobre música com o pseudônimo de Jocel. Escreveu, também, para a revista “Peabiru”, dirigida pelo jorna-lista e historiador, Dr. Armando Delmanto. Organizou e coordenou o livro “Sursum Corda – A vida de Dom Henrique”, primeiro Arcebispo Arquidio-cesano de Botucatu, Editora Pauliceia, São Paulo – 1994 e “Gigante – Guia de Botucatu, 1982, Editora Montanha. Pertence à Academia Botucatuense de Letras da qual é Presidente Emérito, ocupando a Cadeira nº 8 - Patrono: Guimarães Rosa. Professor por vocação, está aposentado da rede pública do Estado e particular, onde lecionou Português e Música Também exerceu o magistério superior na Faculdade de Filosofia, curso de letras, na UNIFAC. Especializado em redação.

Page 138: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras136

JOSÉ PEDRETTI NETO O FIM DE CHICUTANa fazenda Boa Vista, distante 11 quilômetros de Ezequiel Ramos e 18 de Avaré, onde hoje se situa a Estação de Juca Novais, propriedade de José Girardi e onde meu pai teve um armazém perdido em um incêndio e depois meu tio João Vendito montou outra casa de negócios e onde – Ah! Saudade de minha infância! – passava minhas férias de estudante, ali, na paz do am-biente, revendo, hoje, mentalmente, a capelinha de São José, guardada pelos coqueiros defronte ao areal que se perdia de vista, foi ali que ouvi, de várias

pessoas a notícia do fim de Chicuta, o marido de Ana Rosa.Quem primeiro me contou foi o queridíssimo Nego da Joana, ou me-lhor, Benedito Pereira de Carvalho, fazendeiro e que, aqui em Botucatu, se tornou conhecido como aquele negro brincalhão e popular que se integrara na Associação Atlética Botucatuense, como amigo particular que foi de Antônio Delmanto; depois, de Quitéria, a velha lavadeira de minha tia, dentes em pros-pecção como limpa-trilhos de uma 1020 e que todos os sábados, equilibrando a mala de roupas na cabeça, chegava à cozinha de casa e emborcava logo, em um estalo de alegria, o meio copo de pinga que eu lhe trazia “pra refrescá o calo”; depois, do João Candiano, negro sisudo, o oposto do irmão, o Zé Can-diano, e ainda do Cuta, que possuía um cavalo branco excepcional e que, em 1932, pagou 2 contos de reis para que jagunços de João Francisco, passando por ali quando da derrota paulista, não lhe levassem o animal precioso.E todos contaram a mesma coisa.Chicuta, após o crime, refugiara-se pelas bandas do Rio Novo.Ali trabalhava quando um dia, no areal, um carro de bois empacara. De nada adianta a chuchada com as varas protegidas de ferro pontiagudo; de que nada valem os berros do carreiro; nada consegue remover o carro do lugar. Os bois recebem os castigos e se postam estáticos, não andam, nem se movem. Todos dão palpite, investigam, examinam o carro até que Chicuta diz que deve haver qualquer coisa nos cocões. Deita-se na areia e quando examina o carro, por baixo, sem que ninguém falasse, nem castigasse, os bois se locomovem, o carro anda, separa a cabeça de Chicuta do tronco...De que valera a velha Canciana esconder Chicuta na sua farinheira,

Page 139: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

137Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasmesmo sabendo do crime, se a mão de Deus ali se manifestara.Essa é a história que eu ouvi.: Biografia

JOSÉ PEDRETTI NETO nasceu em Botucatu, em 12 de julho de 1920. Educador - Iniciou seus estudos na Scuola Italiana Dante Alighieri. Cursou a antiga Escola Normal, formando-se professor, em 1939. Foi lá que iniciou sua carreira de professor, em 1942, lecionando História Geral e História do Brasil. Em 1947, tornou-se professor da cadeira de Educação. De 1959 a 1964 foi diretor daquela escola. Lecionou História do Comércio no antigo Ginásio Nossa Senhora de Lourdes, atual Colégio La Salle e Psicologia e Filosofia no Instituto Santa Marcelina, em Botucatu.Escritor – Pela vasta obra literária que deixou, Pedretti Neto tornou-se patrono da Cadeira nº 23 da Academia Botucatuense de Letras.Livros: O Morro da Divisa (1949) - obra inacabada e Minha Terra, Minha Gente (1967), publicado em 1998Obras didáticas: Teoria e Prática do Ensino Primário (1967), 5 volumes.

Tradução do italiano: • Il Primo Libro di Susana – Edições Melhoramen-tos – 1953; • Il Secondo Libro di Susana – Edições Melhoramentos – 1953; • O Soldado Valente (Lenda russa de Grigorieff) – Rede Latina Editora (1949)Em 1952, adaptou para a juventude o livro Dom Quixote de La Man-cha, de Miguel de Cervantes Saavedra, com ilustrações de Gustave Dore .Música – Pedretti Neto escreveu as letras das seguintes músicas: Teus Olhos – música do Professor Aécio S. Salvador (1949) – Irmãos Vitale Edi-tores;

• Canto de Natal – música do Professor Aécio S. Salvador (1955) – Irmãos Vitale Editores;• Hino do antigo Conservatório Musical de Santa Marcelina, em Bo-tucatu – música do maestro Túlio Collaciopo (20/09/1960).Jornalista - Pedretti Neto foi, antes de tudo, jornalista. Começou nessa carreira aos 14 anos, no jornal de seu próprio pai: Jornal de Notícias. Traba-lhou no Jornal de Botucatu, no Correio de Botucatu, na Gazeta de Botucatu e na Folha de Botucatu.Foi correspondente, por vinte anos (1948/1968), do jornal O Estado de São Paulo.Foi vencedor, por diversas oportunidades, de concursos literários e

Page 140: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras138fotográficos promovidos por aquele matutino, com a apresentação, entre outras, das crônicas A tomada de Porta Pia (1949); Botucatu e a... Inglaterra (1950) e Rinha, galos e “galistas” de Botucatu (1952) e da foto Piscina de pobre (1958).Em 28 de abril de 1965, recebeu do Governo do Estado de São Paulo a Comenda “Vital Brazil”, pelos estudos e pesquisas realizados sobre o grande cientista e pelas crônicas publicadas em O Estado de São Paulo (1950 e 1962) e em A Gazeta de Botucatu (1964).Pedretti Neto faleceu em Botucatu, aos 4 de maio de 1968.

Page 141: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

139Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

JOSÉ SEBASTIÃO PIRES MENDES OS SENHORES DO ULTRATEMPO(Conto de José Sebastião Pires Mendes-1977)Há um tempo para tudo. Há mesmo um tempo para que os tempos se reencontrem. Por isso é preciso dar tempo ao tempo...Havia tempo que eu não ia à ermida. Suas paredes de pedra e cal já não abrigavam mais o sopro da noite quando o vento assobiava em suas cornijas. Nem eu sentia mais a atmosfera medieval, quando, deitado no catre e olhando para o teto, ia contando as vigas que sustentavam o telhado envelhecido.Não havia mais tempo. Há muito que eu me tornara senhor do tempo

e resolvera colocá-lo ao meu inteiro dispor. Eu o fizera trabalhar para mim computando juros e dividendos, e cumprir à risca a célebre máxima “time is money”. É, eu enriquecera. Os segundos se passaram, multiplicados em minutos, que verteram horas rechonchudas, prenhes, as quais no devido tempo pariram dias, noites, meses e anos a fio.

E cada parcela desse tempo imenso, eu a multiplicara e fizera render pelo trabalho exaustivo de toda uma vida dedicada ao lucro. É por isso que eu me lembro do tempo longínquo de criança. Do tempo em que o tempo não contava e até nem existia.A grande construção abandonada, moradia dos morcegos solitários, atraía-me qual pirilampo vagando na noite. E a ausência da vigilância ma-terna me proporcionava emendar a noite com o dia, de tal forma que minhas traquinagens preenchiam o exíguo espaço de tempo entre uma visita e outra. Atraía-me sobretudo o eco de seus sombrios corredores. Já ninguém se apro-ximava da ermida sem primeiro esconjurar possíveis espíritos de monges tenebrosos. Mas na infância o tempo é claro, e as noites são brancas. Por isso, não temia perder tempo gritando palavras sem sentido para que suas paredes m´as devolvessem cheias de argumentação sobre o longínquo tempo em que haviam sido construídas. Gostava de contar seus tijolos e imaginar quantas mãos tiveram que compô-los, amassá-los, cosê-los, segurá-los, para enfim, no devido tempo serem constituídos na sólida construção que agora enfrentava o tempo.Era a velhice nova da antiga juventude que resplandecia, como fênix renascida, a meus olhares. Ali brotavam infinitas fontes de suor, pelas gotas

Page 142: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras140derramadas sob um sol causticante, pedra sobre pedra, areia, cal, argamassa, e a estrutura se levanta benfazeja, pronta para abrigar os seres que nunca morrem.Na monotonia do dia a dia, suas brancas barbas varreram livros em-poeirados, miríades de letras que revelavam frases, períodos e capítulos de uma doutrina que atravessava milênios. Era uma sucessão sucessiva de fatos e coisas que se multiplicavam e não cessavam.Agora estava eu ali, tentando obstar de alguma forma a corrente do pensamento, que no fluxo do tempo trazia à minha mente todo o desespero da multiplicidade infinita!Estaria enlouquecendo? Todas as coisas me pareciam temporais. E por temporais eu entendia quantidade, unidade sobre unidade, somatória, deri-vação, multiplicação, explosão a lançar para os confins do cosmo e limites do tempo a infinita gama de variedades de seres que no tempo e no espaço se acasalavam e tornavam a se multiplicar.Milhares de mãos vieram atingir-me, alcançar-me, cada uma com cinco dedos disformes e catorze nós de ossos sob uma epiderme macilenta, como nas páginas esquecidas. A própria escuridão se dividia e desfazia em muitos milhares de cintilantes pontos em que a tênue luz da lua se reverberava e decompunha.A multidão esquecida! Os seres, cujas vidas estiveram ligadas por tanto tempo de alguma forma àquele local, estavam agora cobrando de mim o imperdoável esquecimento.Senti-me ligado a eles em todas as partes do meu ser. Eu era eles. Em meus átomos, o tempo construíra a aglutinação de um todo, que agora perten-cia a eles, e pelo qual se esforçavam por possuir, já que ligamentos invisíveis quais tentáculos magnéticos me uniam a eles. Eu era a pilha cuja voltagem tinha sido carregada através de um tempo usurpado em loucas correrias em busca de um lucro infame.Eu era agora o que eles cobravam de mim: o ponto de convergência em que toda a quantidade se diluía numa qualidade representativa. Foram clarões de mil sóis passados que me fizeram voltar no tempo e repor a ordem das coisas na implosão fatal do ultratempo!

: Biografia

JOSÉ SEBASTIÃO PIRES MENDES, brasileiro, natural de Avaré, nascido em 29 01 41, filho de Benedicto Mello Mendes (farmacêutico) e Maria

Page 143: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

141Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasIgnácia Pires Mendes (professora), casado com Maria Terezinha Tortorella, tem três filhos: Jovano Tortorella Mendes, cir. dentista e empresário – Tatiana Tortorella Mendes, psicóloga, e Josiana Tortorella Mendes, relações públicas da Esquadrilha da Fumaça (FAB).

FORMAÇÃO ACADÊMICA:1950 – Escola primária no Grupo Escolar Matilde Veira de Avaré; 1955 – Curso ginasial Instituto de Ensino Sedes Sapientiae de Avaré; 1962 – Formação humanística no Seminário São José de Botucatu (curso clássico); 1966 – Cursou o Liceu de Artes e Ofícios da Pinacoteca do Estado de São Paulo; 1970 – Licenciado em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia de Botucatu (ITE).

ATIVIDADES:Ingressou como Membro Efetivo da Academia Botucatuense de Letras em 31-10-2008, ocupando a Cadeira nº 22. Patrono: Dom Aquino Correia. É membro atuante do Centro Cultural de Botucatu Artista plástico, obteve o primeiro lugar no I Salão de Artes Plásticas de 1999 (categoria acadêmica) promovido pela Secretaria Municipal de Cultura de Botucatu. É aposentado pelo BANESPA (Banco do Estado de São Paulo S.A.).Como professor, lecionou História e Sociologia nos seguintes estabele-cimentos: Instituto Santa Marcelina, Seminário São José, Núcleo Assistencial Joanna de Ângelis.Atualmente é professor voluntário no Centro Cultural, de francês e la-tim. Ministra palestras sobre sindonologia e temas filosóficos e humanísticos.É autor do livro de memórias “Fogo, Incenso e Catadupa”, lançado em 2011.É colaborador dos jornais “Diário da Serra”, “A Gazeta de Botucatu” e “Mais Botucatu”.Exerce atividade artística de restauro e encadernação de livros.

CONTATO: Avenida Vital Brazil, 1242, Vila dos Médicos - Botucatu telefone: 3882-2691

Page 144: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras142

LAURIVAL ANTÔNIO DE LUCAMEUS ÚLTIMOS PEDIDOSA tumba já é punição. Fria, impessoal, escura, silenciosa. Pagarei caro pelos meus pecados, porque não mais ouvirei o cantar da pequena corruíra

no meu jardim. Acabou-se o perfume das laranjeiras floridas.Não alisarei mais a pele macia da minha amada naquelas tardes de amor. Não tornarei a ver meus velhos amigos nem o bairro de minha infância. Isso tudo não chega como castigo? Não me façam pagar além do necessário. Afastem as carpideiras. Deixem longe os mimadores de viúvas. Não me vistam de preto com camisa branca nem me calcem sapatos lustrosos. Não quero gravata. Nenhum defunto se ajeita bem, o laço sempre fica torto. S e há simpatia pelo que fui, me vistam coma velha calça junto com a camisa macia e poda com as quais, ao cair da tarde, eu percorria a campina. Quem sabe, uma mortalha azul como era o céu da minha meninice. Seria castigo maior do que poderia suportar se eu fosse depositado naqueles velórios de paredes nuas, que têm um crucifixo velho, de ferro, e pequenos vitrôs retangulares, abrindo-se para pátios sujos de lixo. Os velórios deveriam ser rodeados de árvores frondosas, repuxos e flores, muitas flores. Odeio a burocracia daqueles livros de assinaturas. Por que confirmar presença? Cartões de agradecimento pela última visita ao meu corpo. Tem cabimento? Não quero ser alvo de olhares curiosos nem de conversas banais. Deixem longe os desconhecidos decrépitos que fazem o sinal da cruz e, ainda por cima, não resistem à tentação de tocar minha testa fria. Não desejo ninguém exalando minhas virtudes - que não foram muitas – nem fila de condolências para aqueles que amei em vida. Deixem a viúva em paz, já lhe é suficiente a falta do meu calor. Esperemos cumprimentos para quando ela casar outra vez. Se eu for para o céu, tanto melhor; se meu destino é o inferno, aceitá--lo-ei Arderão comigo, para sempre, os egoístas, os injustos, os falsos, os corruptos e todos os degenerados. No meu enterro, quero pouca gente; só os amigos de verdade, desde que não fiquem a lamentar minha morte. Queria, sim, a me acompanhar de volta à terra, uma sonata de Vivaldi, e não sendo possível, um samba dolente de Ataulfo Alves.

Page 145: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

143Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras: Biografia

LAURIVAL ANTÔNIO DE LUCA, Médico catedrático – UNESP- Botucatu, Cadeira nº 3- Patrono: Amadeu Amaral.Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 146: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras144

LEDA GALVÃO DE AVELLAR PIRES ‘PISE FIRME, QUE ESTE CHÃO É NOSSO’Sinceramente não acreditava muito que meu marido, Raphael Augusto de Campos Avellar Pires (Prof. Rapha), que adorava sua cidade natal Botu-catu, para cá retornasse, mesmo citando sempre que o faria. Tendo lecionado Inglês em ótimos colégios de São Paulo, tais como Liceu Coração de Jesus, Colégio Rio Branco, Liceu Pasteur e Mackenzie, ao aposentar-se passou a dedicar-se a Botucatu, no setor da Educação. E foi isso exatamente o que aconteceu: aposentou-se e voltou para a “terrinha”. Nessa época, eu trabalhava na Divisão de Difusão Cultural da Universidade de São Paulo – USP – e vir comissionada para a Unesp era algo quase que impossível. Acontece, porém, que sendo ele amigo da Maria Esther de Figueiredo Ferraz, Secretária da Educação e primo do Marcelo de Moura Campos e, ainda, tendo a ideia sido aceita pelo Prof. Dr. Domingos Alves Meira, Diretor da Faculdade de Medicina, lá vim eu para trabalhar na Secretaria da FMB. De repente, não mais que de repente, o Prof. Dr. Laurival Antonio De Luca, que estava organizando o Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, soube da vinda de uma funcionária da USP e... me “sequestrou”.Nessa época, eram docentes do Departamento as doutoras Irene e Marilza e os doutores Delcides, Ibrahim, Paulo Traiman e Geraldo Nunes.A sala da Secretaria ficava no hall de entrada do prédio, logo depois da segunda escada. Na sala, havia uma porta interna que dava para um pequeno

banheiro. Já para entrar na sala da Chefia, entretanto, era necessário passar pela enfermaria. Foi então que pedimos que fosse aberta uma porta entre o hall do banheirinho e a sala da Chefia. Naquela época, não se mexia de forma alguma na estrutura do prédio, mas como tínhamos razão, Dr. Meira veio pessoalmente junto com o José Vicente Fortes a fim de ver o que poderia ser feito. Ao sair, Dr. Meira com seu jeito irônico, simplesmente disse: - Vocês querem que seja colocada também uma daquelas cortininhas de barbante?O principal é que nos dávamos muito bem. Nossa sala foi a primeira

Page 147: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

145Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasa ser acarpetada – carpete vermelho – de toda a Faculdade de Medicina, tínhamos a segunda máquina elétrica IBM, enfim, passamos a ser uma pe-quena família. Bem... como nem tudo é perfeito, uma tarde, deveria ser umas quatro horas, a Dra Irene entrou na sala e me disse: - Estou indo para Humaitá, no Amazonas, com uma pequena equipe, a fim de ver se a Medicina poderá atuar lá, pelo Projeto Rondon. A Adelina – enfermeira – é que iria, mas não pode mais. Se quiser ir no lugar dela, esteja em frente ao Paratodos, às 21 horas. Iremos com o ônibus da Faculdade até Campo Grande e de lá, até Porto Velho, Rondônia, de avião. Depois pegaremos um ônibus para Humaitá.Não pensei duas vezes: escrevi um bilhete para o Dr. Laurival – ele jamais me perdoou por isso – dizendo que faltaria durante uma semana e contando o porquê. Depois, fui para casa. Chegando lá, disse ao meu marido: - Vou pedir uma coisa que você não vai deixar, mas que irei fazer. Quando disse o que era, ele simplesmente me olhou e saiu, indo para a casa de minha filha Thaís.Depois dessa minha ida que julguei fosse a primeira e a última, no ano seguinte a convite do Dr. Tietê, passei a ser Assessora de Recursos Humanos do GTUNESP – Grupo de Trabalho da Unesp – Fundação Projeto Rondon.Durante quase dez anos, preparei equipes multidisciplinares para atua-rem no Campus Avançado de Humaitá – AM. Essas equipes eram formadas por alunos universitários e, algumas vezes, iam alguns docentes. Eu mesma fui cinco vezes. Desse tempo todo, guardo ótimas lembranças. Uma delas, porém, não me esqueço. Fazia parte da equipe a Denise Pompiani, de Botucatu. Fomos fazer atendimento em um dos povoados do beiradão – margens do Rio Madeira. Carapanatuba – pelo nome, podem imaginar o que havia ali de carapanãs, malvados mosquitinhos que não res-peitavam nem mesmo nossas calças jeans, picando-nos sem dó.Fomos de barco – seis horas tanto como para ir como para voltar. Che-gamos a Humaitá super cansados. Mal o barco parou, Denise desceu com tudo – ela é alta e... forte – gritando: “Pise firme que este chão é nooosso”. O chão era mole e sua perna afundou. Demoramos em arrancá-la dali, pois ríamos sem parar.Bem... em 1983, o Projeto Rondon acabou, um erro total, pois sem preparação alguma, tudo foi deixado ao Deus dará...

Dezesseis anos depois voltei, a fim de escrever meu TCC – trabalho de conclusão da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Taubaté – Unitau, e quase nada encontrei de tudo que havíamos deixado lá: consultórios den-tários, biblioteca, laboratórios, etc.Agora, parece-me que o Projeto Rondon está voltando, certamente es-

Page 148: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras146quematizado de outras formas. O principal, porém, é que desejo que, apesar de tudo, possamos “Pisar firme, que este chão é nosso!”.

: Biografia

LEDA GALVÃO DE AVELLAR PIRES é natural de Lavrinhas, SP. Formou-se na Escola Normal Oficial de Botucatu, exercendo por dois anos essa profissão. Concursada, passou a trabalhar na Divisão de Difusão Cultural da Universidade de São Paulo. Comissionada, veio trabalhar na Universidade Estadual Paulista – Unesp – onde, entre outras atividades exerceu a função de Assessora de Recursos Humanos do GTUnesp – Fundação Projeto Rondon. Desta, resultaram dois trabalhos: “Radiografia de um Campus – Campus Avançado de Humaitá –AM-1970-1979” e seu TCC da Faculdade de Jorna-lismo da Universidade de Taubaté – Unitau. Exerceu as seguintes atividades socioculturais: Grupo Convivência, liderado por Elvira Bandeira de Mello Marins; Sócia efetiva da União Brasileira de Escritores – São Paulo e da Associação de Escritores do Ama-zonas. Ocupou a Cadeira nº 4 – Patrono: Casimiro de Abreu - da Academia Botucatuense de Letras. Foi Vice-Presidente da Associação de Escritores de Botucatu – Apeb. Pela Internet, participava do Grupo Luna e Amigos – www.lunaeamigos.com.br e da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores – [email protected] publicados: “Quatro Tempos de Poesia” e “Uma Família Paulista-Memórias diversas e fuga na Revolução de 32”.

Colaboração de Beatriz Galvão

Page 149: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

147Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

LUIZ PERES SÃO FRANCISCO DE SALES E A BOA IMPRENSANasceu em 1567, no castelo de Sales, diocese de Genebra. Teve berço

nobre, filho do Conde de Sales e de Francisco Sionnaz, dos quais recebeu esmerada educação familiar, com os exemplos da retidão e da piedade, atri-butos estes que serviram de infraestrutura na formação do seu caráter. Iniciou os estudos em Annecy e os concluiu em Paris, com os Jesuítas, dos quais aprendeu retórica, filosofia e tecnologia. Em 1588, seguiu para a Universidade de Pádua, onde se doutorou em Direito Canônico. Regressando a sua pátria, por insistência de sua família, foi advogar em Chambéry. Surgiu logo uma proposta vantajosa de casamento, muito ao gosto de seus pais, que, entretanto, foi recusada pelo jovem Francisco. Ingressando, então, na vida eclesiástica, tão logo se fez diácono, começou a pregar com grande sucesso.Ordenou-se padre em 1593, fundando, por esse tempo, a Confraria da Cruz, destinada à instrução dos pobres.Dedicou-se, então, à difícil tarefa de reconduzir ao Catolicismo os protestantes da província de Chablais. Infortunadamente, a princípio, não se saiu bem nessa espinhosa missão. Mas, nem por isso esmoreceu; continuou a vida de apostolado e, redobrando os esforços, ao cabo de alguns anos, as conversões foram surgindo, multiplicando-se e, pouco a pouco, a totalidade da população, antes Calvinista, foi convertida ao Catolicismo. Por essa rea-lização, cujo eco ultrapassou as fronteiras de sua província, o bispo Cláudio Grainer nomeou-o coadjutor da Diocese de Genebra contra a vontade de Francisco. Homologando-se esse ato, o Papa Clemente VIII quis examiná-lo em presença do Sacro Colégio. O brilhantismo com que Francisco se conduziu nesse exame fez com que o Sumo Pontífice exclamasse: “ Nenhum dos que temos examinado até esta data nos satisfez de maneira tão completa.”Falecendo o bispo Cláudio Grainer em 1602, Francisco de Sales foi sagrado bispo da Diocese de Genebra. A nova fase de sua vida eclesiástica teve início com a intensificação do catecismo para crianças e adultos, que o mesmo instituiu em suas paróquias. Fundou, com Santa Joana de Chantal,

Page 150: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras148o Instituo de Visitação de Santa Maria, destinado a receber as viúvas com vocação para a vida religiosa, sem os rigores das demais ordens de então. A vida intensiva de trabalhos e preocupações abreviou a existência brilhante e necessária de Francisco de Sales. Assim, aos 55 anos de idade, quando viajava para Lyon, foi vitimado por um ataque apoplético, vindo a falecer naquela cidade. Já naquela época, o santo, pensador e literato, pagava tributo às doenças dos intelectuais...Foi beatificado em 1661 e canonizado em 1665 por Alexandre VII. Pio IX o proclamou Doutor da Igreja, em 1877 e Pio X teve a honra de o declarar Patrono Celeste de todos os escritores católicos.Não podemos deixar de incluir neste esboço biográfico as palavras de Bossuet quando, em 1660, fazia o panegírico do grande Francisco de Sales: “Três coisas principalmente deram a Francisco de Sales muito esplendor no mundo: a Ciência, como doutor e pregador, a Autoridade, como Bispo e a Conduta, como condutor de almas.” E mais adiante, nessa mesma oração, continua: “A sua ciência, cheia de unção, enternece os corações; sua modéstia

na autoridade inflama os homens na virtude e sua doçura na direção os pune no amor de Nosso Senhor”.A sua obra literária não pode ser apartada da ação direta nas demais coisas de sua trabalhosa missão. Usou da pena na luta contra os protestantes, publicando os seus sermões em panfletos que ele mesmo depositava à noite, por debaixo das portas dos hereges. Ao resultado obtido, já nos referimos no início deste trabalho. Desde então, a sua pena jamais descansou na defesa da fé e não o fez com menos felicidade que um Santo Agostinho ou um Santo Ambrósio.Foi um dos maiores escritores de seu tempo, deixando numerosa ba-gagem literária, da qual devemos destacar:“Introdução à vida devota; Tratado de amor a Deus; Entretenimentos espirituais; Cartas” (chegava a escrever e a responder cerca de 50 cartas ao dia). O estilo desse extraordinário Francisco de Sales era encantador, amável e simples, como a sua alma, encerrando, contudo, a firmeza e a disciplina da doutrina católica. Com esses atributos privilegiados, não poderia ter sido mais acertada a sua escolha para Patrono da Boa Imprensa.Protetor celeste dos escritores católicos, padroeiro da Boa Imprensa, orientador da imprensa verdadeira e honesta na intenção, pura e correta na forma, discreta e moderada no modo, íntegra e coerente na atitude... Da imprensa, meus senhores, quer seja jornal ou magazine, livro ou revista, da imprensa, enfim, que tenha livre ingresso em todos os lares, que possa ser

Page 151: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

149Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letraslida por todos os membros da família, sem que tenhamos receio de um mau ensinamento ou de um exemplo pernicioso.

Quanta dificuldade, meus senhores, nos tempos que correm, reside na escolha de um bom livro, de um jornal correto, de uma revista séria, de uma publicação enfim nos moldes apontados... E como é triste e desalentador verificar-se que grande parte do que se publica, é abjeta e indigna de ser lida.Infortunadamente, ao que estamos assistindo diariamente é o reverso da medalha, é o diametralmente oposto as nossas aspirações. As bancas de jornais e revistas, as prateleiras das livrarias estão abarrotadas de uma variedade enorme de publicações que constituem (com algumas exceções, é verdade) um atestado veemente da licenciosidade dos nossos tempos, do superficial sensacionalismo da maioria dos leitores, do animalesco sensua-lismo de muitos, do retorno, enfim, ao materialismo degradante, que rebaixa o homem e ofende a Deus.: Biografia

LUIZ PERES, (1917-1991), nasceu em Salto, Estado de São Paulo, filho de Antonio Peres e Maria da Silva Peres. Cursou o primário na cidade natal e o secundário no Colégio Arquidiocesano de Botucatu. Realizou o curso Universitário na Faculdade nacional de medicina do Rio de Janeiro.Médico, formado em 07 de dezembro de 1944. Livre Docente em Or-topedia e traumatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, por concurso, em 1966. Doutor em Medicina pela faculdade de Medicina da Universidade federal Fluminense em 1966.Radicado desde 1949 na cidade de Botucatu, SP, o Dr. Luiz Peres é CIDADÃO BOTUCATUENSE pela Lei Municipal N. 02/66, desde 1967, por indicação unanime aprovada do Vereador Dr. Antonio Delmanto. No ambiente social local, é personalidade grada pelos seus incontáveis méritos de médico humanitário conceituadíssimo, distinguindo-se pela sua invulgar capacidade Chefia, orientação e direção nos estabelecimentos em que atuou.Seu riquíssimo Curriculum Vitae endossa-lhe atributos de cultura vastíssima, sendo exímio orador, qualidade essa que desenvolveu desde os tempos estudantis, prolongando-a na sociedade, sempre disputado pelos dons oratórios.Desde estudante, colaborou nos jornais locais, salientando-se pela

Page 152: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras150sobriedade e seriedade dos temas desenvolvidos.Jornalista, poeta e orador colaborou com suas crônicas nos jornais estudantis, na Tribuna Acadêmica e na Folha de Botucatu. Além de inúme-ras teses cientificas, possui muitas palestras, discursos e conferências sobre assuntos botucatuenses, destacando-se, já impressas: Vida e Obra de São Francisco de Sales e muitos discursos proferidos em solenidades oficiais na sociedade-cívico-religiosa de Botucatu.Membro Titular da Cadeira nº 1 - Patrono: Afrânio Peixoto da Acade-mia Botucatuense de Letras e Membro Emérito da Academia de Medicina de São Paulo.O Dr. Luiz Peres faleceu em Botucatu no dia 10/03/1991.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 153: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

151Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

MÁRCIA FURRIER GUEDELHA BLASI ANIVERSÁRIOA comemoração de um aniversário sempre é uma festa. É um dia feliz, é um dia de alegria, é um dia de felicidades. É um dia em que podemos rever o livro escrito pela nossa vida.Neste ano, em que comemoramos o aniversário da ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS, vem-me à lembrança a sessão solene de sua instalação, quando os primeiros acadêmicos receberam o medalhão, o diploma e o bóton.Foi uma linda festa realizada na Câmara Municipal de Botucatu.O recinto estava lotado, com muitos convidados de pé. Eu tenho a honra de dizer que estive lá, não só para assistir, mas para participar, pois o coral que cantou naquela noite era da Igreja Presbiteriana Independente Central de Botucatu, regido por mim. Meu pai era um dos acadêmicos efetivos que tomaram posse naquela noite. O presidente, Dr. Antonio Gabriel Marão, o idealizador da ABL e, com ele, 18 membros efetivos, 9 membros honorários e 7 membros corresponden-tes tomaram posse. Havia representantes de outras academias, inclusive da Academia Paulista de Letras, além de Francisco Marins e Hernâni Donato, escritores botucatuenses e patronos vivos da ABL.Quarenta anos de atividades ininterruptas voltadas à cultura de nossa cidade já se passaram. Fico feliz e emocionada por ver que o sonho se tornou realidade, cres-ceu e, hoje, tenho a honra de fazer parte dela como membro efetivo e usar o mesmo medalhão entregue ao meu pai, naquela noite, em 1972.Ao revermos o livro escrito pela Academia Botucatuense de Letras, lembrando dos dias passados, recordamos a dedicação de nossos antecessores em manter viva essa instituição que, hoje, é conhecida e respeitada.A ABL é uma família e, como tal, se mantém unida nos ideais e na cooperação para o trabalho em prol da cultura. Cumprimento os Membros Efetivos, Honorários e Correspondentes de

Page 154: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras152nossa ABL e desejo que, juntos, continuemos lutando pelos ideais de nossos fundadores, para que possamos transmitir às crianças e jovens de nossa cidade o amor à literatura, às ciências e às artes. Em homenagem aos confrades e confreiras, deixo um poema do poeta espanhol José Marti. A ROSA BRANCACultivo uma rosa branca,Em julho como em janeiro,Para o amigo sinceroQue me dá sua mão franca.E para o cruel que me arrancaO coração com que vivo,Não cultivo espinho nem urtiga:Cultivo a rosa branca: Biografia

MÁRCIA FURRIER GUEDELHA BLASI, formada em Educação Musical, Piano, Educação Artística e Letras.Professora aposentada de Inglês da rede estadual de ensino.Membro efetivo da Academia Botucatuense de Letras, ocupando a cadeira nº 10, Patrono: Humberto de Campos.Cursos de que participou:Seminários de Música Sacra cursando: regência e técnica vocal com Umberto Cantoni, flauta doce e História da Música Sacra com Ruy Wanderley e órgão com Samuel Kerr.Duas vezes bolsista do Festival de Inverno de Campos de Jordão sendo aluna de regência com Hugh Ross e Hans Kast; música antiga com Roberto de Regina, técnica vocal com Bruno Wizuj.Clínicas Musicais do Movimento Coral do Estado em Sorocaba e Bauru.Congressos de Músicos da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, IV Curso Internacional de Regência Coral com os maestros Paul Oakley e Alberto Grau.I Workshop Internacional de Regência com o maestro Henry Leck.Workshops com Abel Rocha, Martha Herr e Carlos Alberto Figueiredo.I Congresso de Regentes Corais realizado pela APARC na cidade de Santos.

Page 155: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

153Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasEstudou canto com a professora Eloisa Baldin, cantora lírica do Teatro Municipal de São Paulo.É regente do Coral “Reverendo Francisco Guedelha”, do Coral Canaã, ambos da Igreja Presbiteriana Independente de Botucatu e do Coral Municipal “Cidade de Botucatu”.Dos concertos que participou como cantora, constam:1996: Árias de óperas antigas1997: Trechos da Ópera “A Flauta Mágica” de Wolfgang Amadeus Mozart, no papel da 2ª Dama.1998: Trechos da Ópera “L’Italiana in Algeri” de G. Rossini, no papel de Zulma.2000: Ópera “As Bodas de Fígaro” de Wolfgang Amadeus Mozart, no papel de Marcelina.

Page 156: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras154

MARCOS LUCIANO CORSATTO NON OMNIS MORIAREis a palavra que nos mata a fome e a sede e aplaca nossa insaciedade de saber e conhecer mais e mais.Eis a palavra inverídica que mata e ataca e destrói e corrói nossa lite-ratura de vida e de encontro.Eis a palavra que nos expira e inspira a pronunciar, expressar, dizer, escrever, pintar e calar jamais.E apesar de tudo, não morreremos de todo! Viveremos bem mais!Temos morrido um pouco a cada dia, imortais morríveis, mas nos refazemos na mesma proporção.Temos sofrido a cada momento, mas temos a esperança e a ânsia de refazer e de retornar em cura.Temos encontrado amargura, armadura, palavra dura e temos nos tornado arma, escudo e brasão,Porque sabemos que não morreremos de todo! Não morreremos, não!Vemos o tempo passando lentamente rápido pelos nossos olhos, que, além de ver, querem enxergar.Vemos o vento soprando na costa, na cuesta, na frente, no front, nos lados, em toda nossa etérea gente.Vemos o invisível fio que une a todos aqueles que ainda acreditam no que vale a pena acreditar,Pois, sim, não morreremos de todo! Nosso destino é ventar.Diz o hino, diz a terra, diz o vento que devemos progredir, embora nós soframos muito pela cultura.Diz a terra, diz o tempo que a passagem é a brincadeira da vida e que passar sem viver faz chorar.Diz a poesia, diz a prosa boa dos causos de dantes, d’agora, de sempre, que a vida não é pura nem dura.Sempre cantaremos, pois não morreremos de todo! Ao coro! Cantar!

Page 157: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

155Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasA incompreensão bate de frente em nosso rosto e nos acaba aos poucos, num derretimento astuto.A indiferença corrói as boas relações estabelecidas sobre bases baseadas em nada seguro ou palpável.O sofrimento se espreita em cada gesto e em cada fala e se transforma em nosso camaleão oculto.Mas lutamos e não morreremos de todo! Não vestiremos luto!Sentimos o cheiro doce de bolo de fubá ou de milho e comemos nossa fatia que a faca vem cortar.Sentimos arrepio e frio e os pelos dos nossos braços se elevam para avisar que ainda sentimos, e muito.Sentimos a presença dos nossos ausentes vivos e encontramos sua essência em palavras: ressuscitar!Porque essa é nossa sina e não morreremos de todo! Viver! Revisitar!Respeitamos quem é diferente e aparentemente mente por aceitar o que difere de nós e é pó do chão.Respeitamos quem não gosta de ler poesia, desde que consiga se sur-preender e sonhar com a prosa.Respeitamos quem nos enfrenta, nos castiga, nos isola, nos oprime e nos deixa sem palavras e ação.O momento é um momento, mas não morreremos de todo! Eis nosso medalhão!Escrevemos no Facebook, usuários de e-mail, adoramos a web e acre-ditamos na comunicação viral.Escrevemos nosso blog diário com palavras de vida e alma em nosso inconsciente, bagunçado e certo.Escrevemos com lápis e penas em nossos PCs e estranhamos a lingua-gem nova que nos faz bem e mal.Trememos e sonhamos, mas não morreremos de todo!Todo sonho é real!Perdemos a certeza e ganhamos a inconstância, lamentando o que o passado levou de nossas mãos.Perdemos o presente nos lamentos pelo passado, embora estejamos construindo a realidade vindoura.Perderemos os ventos acadêmicos, se não respirarmos e se não nos olharmos como verdadeiros irmãos.Que seja um aviso, mas não morreremos de todo!Juntemos as mãos!

Page 158: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras156Queremos a novidade erudita, a arte da sabedoria contemporânea em que a cultura ora se fundamenta.Queremos provocar, evocar, cavoucar e construir pontes seguras de ligação sublime e inesquecível.Queremos remover o óbvio e evitar os chavões, mas relembrar alegres que a vida começa aos quarenta.Multipliquemo-nos, pois não morreremos de todo! A gente se reinventa!Amamos um quadro pintado, diante da força digital da criatividade que se expressa de forma tão boa?E como não sorver um solo de violino nas mãos de um músico apai-xonado, sem iPod, vivo e ao vivo?Ainda idolatramos a vida, a tecnologia servindo o coração humano, com a arte transformando a pessoa.Somos gente e não morreremos de todo! Nosso grito ressoa.Discursamos com palavras de efeitos, supostamente sem defeitos, para ouvintes afeitos à oratória.Publicamos livros, artigos, ensaios, todos inéditos e antigos, de palavras renovadas e novas recicladas.Trabalhamos a palavra com suor, doçura, para publicar, pois o exibi-cionismo léxico é a nossa glória.E é por isso que não morreremos de todo! Vitória! Vitória! Vitória!Não somos melhores que ninguém nem piores que outrem, apenas recusamos só nascer e morrer.A sequência natural da vida não nos basta e não nos preenche e então construímos nossa imortalidade.Imortais ingênuos, de linhagem miscigenada, nosso desejo orgulhoso e contido é sempre existir e ser.Daí o resultado: não morreremos de todo! Sempre vamos viver!Este é um delírio poético, derretido em nossas formas literárias, qua-driculadas rimantes, de um amigo.Assustam-me a aceitação boa e a compreensão fraterna de confrades e confreiras de sorrisos e abraços.Destes quarenta acadêmicos anos, bem vivi alguns, e agradeço por me encantarem e delirarem comigo:Juntos, não morreremos de todo! Porque nascemos laços!

Page 159: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

157Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

: Biografia

MARCOS LUCIANO CORSATTO.Escrever a própria biografia é engraçado: a gente só conta o que quer... Parece uma brincadeira de esconde-esconde, concentrada num determinado limite. Pois bem, então, vamos ao breve relato da minha vida.Meus pais, Áulida e Jurandi, se casaram em dezembro de 1967. Por

volta do final de fevereiro de 1968, eles resolveram me fazer...Nasci no Dia da Bandeira de 1968, na Misericórdia Botucatuense. Depois fui morar na Rua Castro Alves, na Vila Antártica.Em 1975, ingressei no mundo acadêmico e me senti importante! Era numa pré-escola municipal, que funcionava na Igreja Metodista da Vila An-tártica. Nesse mesmo ano, em maio, nasceu minha irmã, Líria.Em 1976, comecei o Primeiro Grau na Escola Estadual Angelino de Oliveira. Em 1979, comecei cursar a então quarta série no Colégio La Salle.Durante minha vida escolar fui um aluno estudioso e era sempre eleito representante de turma. Ironicamente, adorava as letras e os números: Portu-guês e Matemática me encantavam.Sempre tive apoio e incentivo dos vários Irmãos Lassalistas que pas-saram pelo colégio. Já mais crescidinho, de altura, me envolvi com o grêmio estudantil até sair da escola. Em 1986, concluí o Segundo Grau no Colégio La Salle.Em 1987 quis tentar viver como os Irmãos Lassalistas e me mudei para Curitiba. Nos dois anos que lá estive, morei no Centro de Formação e cursei Ciências Catequéticas. Em 1989 me tornei noviço lassalista e lá fui eu para Porto Alegre, para nova fase de formação. Na metade desse ano, decidi que queria ser educador lassalista, mas não Irmão. Mudei o rumo da minha vida, voltei a Botucatu e iniciei meu Curso de Letras. Fui contratado pelo Colégio La Salle, onde estou até hoje.Exerço o cargo de Supervisor Educacional e trabalho com uma equipe dedicada e competente. Fiz vários cursos de aperfeiçoamento e de reciclagem, todos na área de Educação. Participo dos grupos responsáveis pela formação de professores da Rede La Salle de Educação.Mas voltemos à minha vida, lá no ano de 1998, quando entrei em contato com a nossa Academia. Em maio desse ano, fui convidado pelo Acadêmico Edson Lopes para entrar na ABL.Em junho, conheci Elda Moscogliato, que, em sua casa, me orientou

Page 160: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras158a formalizar o pedido de ingresso. No dia 6 de agosto, fui aceito, em ofício do então Presidente José Celso Soares Vieira. Aos 25 de setembro, recebi o medalhão das mãos do escritor Francisco Marins. Era a Sessão Solene Co-memorativa dos 25 anos da ABL. No dia 15 de setembro de 2000, aconteceu minha Sessão Solene de Posse na ABL.Teve dança, ao som de Pérola Negra, numa gravação remixada de Daniela Mercury... Nessa ocasião, apresentei minha tese acadêmica, denomi-nada Flutuantes. Passei a ocupar a Cadeira número 5 da ABL, cujo patrono é Castro Alves... Aquele mesmo, poeta, da rua, em que depois de nascer, fui começar a viver e a me fazer imortal...

Page 161: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

159Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

MARIA AMÉLIA BLASI TOLEDO PIZA A FAMOSA HISTÓRIA DA BRANCA DA GAMA(conto)Minha avó portuguesa contava uma história antiga, que se passara com uma amiga dela, por volta do ano 1900. Era uma jovem, Maria, já entrada em anos (naquele tempo, quando uma moça atravessava o dígito de vinte

anos ainda solteira, era sinal seguro que ficaria para tia.) Pois é, “entrada em anos” significava que já estava no final da carreira dos vinte. Não era muito bonita, talvez um pouco pesada. Porém, com a morte dos pais – e era filha única - havia se tornado a herdeira da bela casa em que vivia, em Lisboa, e alguns rendimentos polpudos num banco inglês. Apareceu um apaixonado, o Gonçalo, um rapaz que viajava pelas cidades portuguesas representando lojas comerciais, e pediu-a em casamento. A festa foi muito linda, e Maria estava quase bela em seu traje de noiva.O marido sempre se apresentava muito afetuoso, e como era costume, tornou-se o senhor dos negócios da esposa, a quem só cabia assinar as folhas mensais dos rendimentos para liberá-los a seu favor. Depois de algum tempo, as viagens cada vez mais constantes do marido deixavam Maria muito soli-tária. Mas... eram necessidades dos negócios, era preciso ser compreensiva.Um dia uma das amigas que a visitavam constantemente, amenizando sua solidão, trouxe-lhe um recorte de jornal. E, à mesa do chá ela leu: “Ca-valheiro de fino trato procura companhia feminina jovem e de boa aparência para tratar negócios na Espanha, durante o próximo mês. Entrevistas com Gonçalo Neves, no Hotel X, às... horas na próxima segunda- feira.” Maria olhou interrogativamente para a amiga. “É teu marido”, disse a amiga, com pena de estar desferindo tal golpe numa inocente. “Não posso acreditar”, murmurou a pobre Maria. No entanto, em sua mente, e era bastante inte-ligente, foram se encaixando as peças do doloroso quebra-cabeças. Todo aquele dinheiro, sumindo inexplicavelmente ... “Maus negócios”, dizia ele. E ela sentia pena, era tão esforçado! Mas, tão ausente era o Gonçalo, que não conhecia sua amiga Teresa, que lhe abria agora os olhos.As duas amigas confabularam cuidadosamente.

Page 162: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras160No dia marcado, Gonçalo compareceu ao Hotel X, procurando no bal-cão de atendimento a esperada correspondência. “Sim”, disse o atendente. “A Senhorita Branca da Gama o aguarda na suíte 32, para a entrevista marcada”.Gonçalo subiu, lépido, as escadas até a porta indicada, e bateu. Abriu a porta uma bela mulher (Teresa) que lhe disse: “Meu nome é Branca da Gama, e desejo saber o que o senhor me propõe”.Depois de alguns cumprimentos cerimoniosos, sentaram-se nas poltro-nas da saleta, e Gonçalo explicou como se sentia solitário nestas viagens que devia fazer, e que procurava suavizar as asperezas do trabalho hospedando-se em bons hotéis, aproveitando belos teatros, a vida noturna de cada cidade, os lugares elegantes para jantar. O ideal seria levar uma acompanhante que lhe faria companhia graciosa e amorosa nestes momentos. Estaria a Senhora Branca da Gama disposta a acompanhá-lo?“É tentador este programa! Que o senhor permita consultar alguém antes de decidir. Pode me dar licença?”E a formosa Branca da Gama levantou-se e correu uma cortina que ocultava uma parte do aposento, onde estava Maria, de pé, ao lado de um senhor pequenino e calvo, segurando uma pasta preta.“ E então, senhor Gonçalo,” disse ela em voz forte: “eu não lhe sirvo? Muito menos a herança de meus pais! Queira assinar os documentos que aqui traz o tabelião, abrindo mão de seus direitos. E roguemos a Deus que não ocorra uma desgraça.”Com a mãozinha enluvada em renda, abriu a bolsinha e tirou uma pequena pistola.E Gonçalo, o boa-vida, sentado à mesinha florida, assinou sua abdicação ao mais belo passeio que já havia planejado.Com um fru-fru de sedas as duas damas retiraram-se em silêncio, e quem fechou cuidadosamente a porta foi o tabelião.: Biografia

MARIA AMÉLIA BLASI DE TOLEDO PIZA nasceu em Botucatu a 8 de junho de 1937, filha de Francisco Blasi e Maria Emilia Mendes Blasi. Realizou os estudos fundamentais no Instituto Santa Marcelina, transferindo--se para a Escola Normal “Dr.Cardoso de Almeida” onde concluiu o Curso Normal em 1954. Em São Paulo formou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1957. Em 1958 diplomou-se pela Escola de Belas Artes Santa Marcelina.

Page 163: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

161Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasEm 1959 ingressou no corpo docente do recém fundado Conservató-rio Santa Marcelina em Botucatu, onde passou a ministrar aulas de Piano, História da Música, Estética e Folclore. Em 1968 foi contratada para aulas de Desenho Pedagógico, Desenho Geométrico e Geometria Descritiva para o segundo grau, do agora Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida”, permanecendo nesta função até 1978. Fez parte do corpo docente da Faculdade de Artes Práticas Santa Marcelina de 1975 a 1979.De 1963 a 1978 foi assistente do Museu Histórico “Pe. Vicente Pires da Motta”, assumindo sua direção “Ad Honorem” de 1980 a 1988, quando ele foi municipalizado, tomando o nome de “Museu Histórico Francisco Blasi”, em homenagem a seu fundador.Em 1982 assumiu o Setor de Difusão Cultural da Prefeitura Municipal de Botucatu, que veio a se desenvolver e se transformar na Secretaria de Cultura .Organizou os fundamentos do Museu de Arte Contemporânea “Itajahy Martins” e da Orquestra Sinfônica Municipal, permanecendo nestas funções até 1988.Em seu Atelier particular ministrou aulas de pintura e desenho até 1995, quando ingressou no programa de pós-graduação em Artes, promovido pela Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP Bauru. Em 1997 obteve o Mestrado e em 2004 o Doutorado em Arte Brasileira, pela mesma instituição.Atualmente realiza séries de pesquisas em Artes Plásticas, apresentan-do seus trabalhos em exposições realizadas em diversos países. Tem obtido Menções Honrosas e prêmios no Brasil e no exterior.Dedica-se também à escrita como cronista, memorialista e historiadora de arte, tendo publicado vários livros:2008“Zalina Rolim, poetisa e educadora” biografia. Editora“Na Borda das Nuvens” – Poemas. Ottoni, Itu.2004- “A Luz na Obra de Carlos Oswald” Tese de Doutorado2003- “Por que amo Botucatu”. Crônicas. 175 pgs.São Paulo, Editora Scortecci: 2003.1997 –“O Mural da Santíssima Trindade no Seminário de Botucatu”Dissertação de Mestrado.Inéditos: “Torre de Cristal” (Poemas); “Contos de Cidades pequenas”(Contos); “Notas Musicais de Botucatu” (Memorial comentado);

“Nossos Músicos: algumas biografias”; “ Neocubismo como fonte criativa” (Manual Técnico).”A Construção Estética e Espiritual do Mural da SSma.Trindade”(Manual Técnico).Ocupa a Cadeira nº 5 - Patrono: Francisco Marins.

Page 164: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras162

MARIA ANNA MOSCOGLIATO EU E A ACADEMIAJustificando o título acima:Aos 9 anos de idade, ouvia, do meu inesquecível primo, José Pedretti Neto, falar, em minha casa, para meus pais e meus irmãos, sobre o belíssimo plano de instalar – em Botucatu – uma Academia de Letras. Infantil, não atinava o profundo sentido da conversa; mas deduzia tratar de assunto muito importante para a cidade, pelo entusiasmo verve com que o meu querido primo expunha o assunto e o caloroso aplauso de quem o escutava.Um sonho grandioso que não conseguiu se concretizar, na época, por um grupo de intelectuais.Aos 46 anos, vem um ilustre juiz de Direito que, ao constatar o pano-

rama belíssimo da intelectualidade em Botucatu, faz aflorar o surgimento da Academia Botucatuense de Letras.Como minha irmã Elda teve o privilégio de ser convidada para pensar em integrar o primeiro grupo escolhido pelo Dr. Marão, o citado juiz, eu, como acompanhante eterna de minha irmã, presenciei todo o processo da concretização desse sonho antigo de Pedretti Neto e de seus companheiros.As reuniões eram feitas na residência do Dr.Marão e em minha casa e participei, silenciosamente, sempre ao lado da esposa de Dr. Marão, Dona Lídia, de todas as reuniões.É indizível em palavras o trabalho gigantesco e histórico - da trajetória desta Academia - como instituição cultural.A apoteose da inauguração e as solenidades, com a tarefa de cada Acadêmico, falando de seus Patronos, enobreceu data a data todos os acon-tecimentos.Há grandes marcas em minha memória e dentre elas: - As duas grandes ocasiões em que a Academia instituiu o concurso pa-trocinado pelo Sudameris, na pessoa do Acadêmico Milton Mariano - “Quem conta um conto”- no Brasil todo, e os premiados do país vinham receber a premiação em Botucatu.- A sessão solene da “ Flor Roxa”, do Patrono Francisco Marins, troféu atribuído a grandes personalidades da cidade de Botucatu.

Page 165: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

163Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasE, para ilustrar ainda mais o brilho da ABL, a Sessão Magna da Aca-demia Paulista de Letras em Botucatu, por um dia inteiro, em festa.Jamais deixarei fora das lembranças os renomados conferencistas botucatuenses e convidados de outras cidades nos eventos promovidos pela Academia.Após o falecimento de minha irmã, Elda, passei a ser menos assídua nas Cerimônias, mas, à distância, acompanho vibrantes informações da ABL, em sua essência literária e, agradecida, tive a honra de receber o Título de Membro Honorário pela participação mínima de cidadania na comunidade botucatuense, com o objetivo de resgatar a cultura e doar o que tenho aos arquivos da Biblioteca da ABL, considerada uma Biblioteca para Colecio-nadores e pesquisadores.Para terminar este singelo relato, aspiro a que a glória da ABL, nascida para enobrecer a Cultura de Botucatu, seja perene.Sugiro à ABL atual transformar em livros todo o noticiário sobre ela escrito na imprensa local e mais a transcrição das atas para que se registre a grandiosidade do percurso da Academia Botucatuense de Letras.Botucatu, 27 de setembro de 2012.: Biografia

MARIA ANNA MOSCOGLIATO nasceu em Botucatu em 23 de julho de 1926, filha de Vicente Moscogliato e Ida Varoli Moscogliato. Tradicional família de imigrantes italianos.Estudou as primeiras letras no grupo escolar “Dr. Cardoso de Almeida” e, posteriormente, cursou o ginásio, formando-se professora pela tradicional Escola Normal Oficial de Botucatu.

Lecionou história e geografia, juntamente com suas irmãs Mercedes e Elda Moscogliato na Escola Preparatória de Admissão ao Ginásio. Esta escola funcionava na residência Moscogliato e preparava alunos para ingresso ao ginásio, ministrava aulas de reforço escolar, preparação para exames vesti-bulares e concursos públicos.Maria Ana ingressou, por concurso, no serviço público, onde foi fun-cionária da Fazenda do Estado. Católica fervorosa, após sua aposentadoria, dedicou-se, por largos anos, como voluntária junto à Cúria de Botucatu.Muito estudiosa das tradições botucatuenses, conseguiu organizar extenso arquivo sobre a história de Botucatu: recortes de jornais, crônicas familiares, notícias diversas e uma bem organizada coleção de fotografias

Page 166: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras164antigas das famílias, residências e monumentos que compõem a história da cidade dos bons ares.Filatelista, Maria Ana Moscogliato pertence ao Centro Cultural de Botucatu, onde atua no Departamento Filatélico e Numismático. É Membro Honorário da Academia Botucatuense de Letras.Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy e Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva

Page 167: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

165Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

AMIZADE“Amigo é o irmão que a gente escolhe”

Saint – Exupéry disse: “Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante”.Eu digo que é o tempo que ganhamos com cada amigo que faz cada amigo tão importante. Porque tempo gasto com os amigos é tempo ganho, aproveitado, vivido, único, inesquecível.Amizade, palavra que designa vários sentimentos e não pode ser tro-cada por meras coisas materiais, pois a verdadeira amizade nunca pede nada em troca.A cumplicidade, o carinho, a compreensão que podem acontecer entre as pessoas são as coisas mais importantes que somos capazes de alcançar.Os verdadeiros amigos ficam para sempre em nossas lembranças, nos nossos hábitos, nas nossas fotos, nos nossos guardados...Amigo é aquele que, a cada vez, nos faz entrever a meta e percorre conosco um trecho do caminho.Há amizades que são feitas de risos e dores compartilhados; outros

nascem da convivência na lida profissional; há, ainda, aquelas que nascem e a gente nem sabe de quê, mas estão presentes.Talvez sejam feitas de silêncios compreendidos ou de simpatia mútua, sem explicação.Amigos são os que compartilham de nossas alegrias, aplaudem nossas vitórias e com os quais podemos contar em nossos momentos difíceis.Estão sempre prontos a nos escutar, apoiar, animar, partilhar tristezas e celebrar êxitos.Quero amigos sinceros que façam da realidade sua fonte de aprendi-zagem, mas, lutem para que o sonho e a fantasia não desapareçam nunca.Talvez a glória da amizade não seja a mão estendida, nem o sorriso

MARIA DA GLÓRIA GUIMARÃES DINUCCI VENDITTO

Page 168: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras166carinhoso, nem mesmo o prazer da companhia, mas seja a inspiração espiritual que vem quando descobrimos que alguém acredita e confia em nós.Tenho vários amigos que enriquecem a minha vida e se encaixam no meu conceito de “pessoas especiais”.

Amigo, enfim, é aquele que chega quando todos já se foram...Aos meus amigos que vierem a ler estas linhas, para aqueles mais pró-ximos ou que estão mais distantes, digo: a vida fica mais bonita por causa da amizade. E quem me ensinou isto foram vocês: Meus amigos.

: Biografia

MARIA DA GLÓRIA GUIMARÃES DINUCCI VENDITTO Nas-ceu em Botucatu, no dia 3 de setembro, filha de Álvaro Guimarães e Eugênia Vitti Guimarães.

Casada com o empresário Dr. Adolpho Dinucci Venditto, tem uma filha, Professora Carmem Teresa Dinucci, uma neta, Advogada Camilla Dinucci Querido e uma bisneta, Antonella Dinucci Querido.Estudou, desde a pré-escola até a Faculdade no Colégio Santa Marceli-na. Formou-se, inicialmente, professora. Diplomou-se no Curso Superior de Instrumento (piano), Extensão Musical e Regência Coral no Conservatório Santa Marcelina. Também formou-se em Educação Artística na Faculdade de Artes, do mesmo educandário.Fez curso de Jornalismo, com diploma reconhecido pela USC – Uni-versidade Sagrado Coração, de Bauru.Inicialmente, deu aulas de piano no Santa Marcelina e, durante 35 anos (de 1970 a 2005), educou gerações lecionando Educação Musical e Artística, no Colégio La Salle de Botucatu.No campo do jornalismo, publicou seu primeiro trabalho no jornal “A Gazeta de Botucatu”, na edição de 26/09/1962, na coluna “Cine Gazeta”, assinado M. Glória. Em 1972 lançou a coluna “A Gazeta na Sociedade”, as-sinando Glorinha Dinucci, sendo pioneira desse tipo de colunismo na cidade.Participou da primeira edição do jornal “A Gazeta de Botucatu” im-presso em “Off-Set”, em 24/10/1986. Glorinha Dinucci escreve “A Gazeta na Sociedade” até os dias atuais, portanto, há mais de 40 anos.Nos dias de hoje, além de sua coluna social e cultural, exerce no jornal os cargos de cronista e revisora.

Page 169: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

167Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasEm 2001 publicou o livro “Pra começo de conversa”, uma coletânea de crônicas publicadas em “A Gazeta”.Pertence ao Lions Clube de Botucatu e é Sócia Honorária do Rotary Club de Botucatu e membro da AFROB (Associação das Famílias de Rota-rianos do Rotary Club de Botucatu).É membro efetivo da Academia Botucatuense de Letras, ocupando a Cadeira 21, cujo Patrono é o poeta Vicente de Carvalho.Na área social participou como voluntária de vários movimentos be-

neficentes e, por mais de 20 anos, foi presidente da AAMI – Associação de Assistência à Maternidade e Infância – Creche da Vila dos Lavradores.

Page 170: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras168

MARIA HELENA BLASI TREVISANI PARA O ANIVERSÁRIO DE BOTUCATU (14/04/2002)SaudaçõesSr. Prefeito MunicipalExmas. Autoridades presentes, Senhores e Senhoras.Nascemos nesta terra...Não apenas os que aqui tiveram seu berço natal, mas todos os que a amaram e dedicaram suas vidas para que ela se tornasse o que é hoje, fazem aniversário.Com emoção e orgulho, agradecemos a honrosa oportunidade em que, nesta alegre festa cívica, a Academia Botucatuense de Letras mais uma vez se faz presente, para saudar não só Botucatu, mas a todos, pois todos somos dignos de cumprimentos na festa da terra que nos acolhe. Enchemo-nos de júbilo pela nossa data!Nossa Academia Botucatuense de Letras, cujo lema é:“NON OMNIS MORIAR”, que quer dizer: ”Não morrerei de todo”, tem um grande compromisso com a preservação e cultivo de nossa língua e literatura, bem como o estímulo às artes e às ciências.Um certo orgulho pelos cumprimentos e o carinho nos braços de “pa-rabéns, Botucatu”!Sou Acadêmica, sou da Música, e como gostaria que minhas próximas palavras se transformassem em melodias de perfeita harmonia. Ora meigas, delicadas originalmente, mas que em um progressivo crescendo musical in-vadissem o nosso espaço, com brilhantes e heroicos acordes, impulsionando nossas lideranças e nossa população rumo a grandes acordes em ritmo de civilização e progresso.“Todos devemos ter um horizonte para alcançar”.Pioneiro:R: Aquele que abre caminho a outros.R: O que primeiro abre ou descobre um caminho através de região desconhecida ou inexplorada.

Page 171: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

169Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasR: Precursor, aquele que chega antes.Foram, pois pioneiros os que aqui chegaram precedidos pelos índios, os donos da terra, os jesuítas, já aqui estavam, quando com a abertura da imigração, chegaram grandes levas de italianos, seguidos pelos espanhóis, árabes, alemães, norte-americanos e, posteriormente, pelos japoneses e belgas.As mudanças foram ocorrendo conforme as tradições de cada grupo que aqui aportou.Foi-se delineando, desde cedo, um desenvolvimento agrícola, industrial,

comercial, religioso, científico e cultural.Caminhava-se para o futuro. Dedicavam-se os pioneiros ao trabalho com as fortes mãos e cérebros conjugados, empurrando para frente o cresci-mento pessoal e, consequentemente, Social.Nada pode evoluir se for contido em limites intransponíveis.Pouco a pouco, seus hábitos, seus costumes, seu linguajar e sua cultura foram se amoldando às necessidades da nova vida, do clima e da topografia regional.Amaram profundamente a terra que os acolheu.Eram quase todas as pessoas simples, mas que entendiam a necessidade do estudo para a melhoria de seus empreendimentos.

De forma firme e lúcida, apoiaram a vinda de escolas religiosas e ofi-ciais que se tornaram, bem logo, luminárias da cultura interiorana no setor do ensino.Valorizaram a instrução para seus filhos. Quantos deles, durante dé-cadas, se tornaram, grandes expoentes na música, nas letras, ciências, nas indústrias, e ainda hoje projetando o nome de Botucatu, atravessando nossas fronteiras!Nós, aqui nascidos, muito temos de que nos orgulhar!Sabemos que hoje, mesmo com toda tecnologia e rapidez nas infor-mações e divulgações, pouco se nota, pouco se mostra, pouco se conhece da força hercúlea que foi necessária aos pioneiros que aqui aportaram no início da colonização desta região, e quantas condições adversas aqui encontraram, e apesar de tudo, conseguiram levantar os alicerces sólidos da Botucatu de hoje.Será que nós sabemos o custo pessoal de tudo isso?Seremos nós corajosos, fortes e desafiadores para continuarmos esse trabalho?- Nada deve parar. Cada geração, que foi sucedendo aos primeiros, leva a responsabilidade de não deixar perder o que já foi conquistado.Cada um de nós, aqui nascido, e cada um dos novos imigrantes que a todo dia continuaram a chegar, também será um pioneiro.

Page 172: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras170Sim, a cada dia surgem novas propostas, novas oportunidades fundamentadas em nossa história, isto é,em tudo que nos precedeu,e devemos,portanto,sustentar e edificar sobre ela mais progresso.Nunca deixar que se percam no esquecimento, as vitórias que nossa cidade já conseguiu!Cabe às autoridades, à sociedade, em geral, e a cada cidadão enaltecer tudo que possuímos em abundância. Nosso solo, nossa água, nossas matas, a luz do nosso sol, o ar que respiramos, a beleza de nossa “Cuesta”.E para não nos perdermos num falso ufanismo, temos obrigação de preservar, proteger, ampliar esse patrimônio natural que Deus nos deu gra-tuitamente, e tirar dele os melhores frutos.Necessário é que cresça dentro de nós o: -amor pátrio:-amor ao lar;-amor à cidade;-amor ao país.Não estacionemos nossos corações neste “berço esplêndido”, nem mes-mo deixemos que, em nome do progresso e dos avanços culturais, científicos e industriais, se abafem a beleza e a seriedade da vida.Todos nós, um a um, crianças, jovens e adultos devemos continuar a ser sempre “pioneiros” na melhor acepção da palavra.Levantar bandeiras, mantê-las sempre para o alto, desfraldando ao vento um conteúdo sadio, a força do espírito, a preservação da cultura e a ampliação do saber, eis nossa missão.Que venha o progresso sim, mas com prudência e ciência para que não se deteriore o que de bom já alcançamos.Sempre com vigor e entusiasmo, coloquemos um passo à frente de outro em ritmo regular e constante, objetivando alcançar a própria meta pessoal, e, com isso, contribuir para que as gerações futuras obtenham bons frutos.- Quando eu cresço integralmente saudável, sou fermento para o cres-cimento social. Preservar as tradições não deve ser sinônimo de atraso ou estagnação, mas deve ser o sólido alicerce sobre o qual elevaremos nossas estruturas.Saibamos ser abertos, atentos, e, sem egoísmo, doando-nos com sabe-doria dar continuidade aos projetos que estão demonstrando bons resultados. Aperfeiçoá-los sim, mas não interrompê-los, porque isso seria retroceder.Conscientize-se cada cidadão, do mais humilde ao mais eminente, de que cada qual tem sua responsabilidade, dentro de suas possibilidades, de

Page 173: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

171Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasmelhorar ou se desenvolver.Estimule-se em nossas crianças e jovens o respeito, o amor à nossa bandeira, ao nosso hino nacional, às nossas cores, para que os valores reais sejam preservados, educando o cidadão do futuro.Que eles se conscientizam de que a escola os instrui, mas a educação é um complexo que engloba muitas exigências de melhoria comportamental.- O nosso Brasil é formado por muitas cidades como Botucatu; e, para tanto, é necessário Civilidade, palavra esquecida, desprezada, mas básica, para o aperfeiçoamento nos relacionamentos entre as pessoas em qualquer nível social.Cada um de nós é responsável pela nossa história, pelos nossos ante-passados, por suas ambições e por suas conquistas.Devemos ser os guardiões dessa história. Isso será o grande presente que poderemos oferecer a cada um de nós, que, somados, hoje formamos Botucatu e comemoramos os seus 147 anos.Somente com essa sensibilidade, se sentirmos como foi, e vivermos como é, poderemos passar para nossos filhos, que serão nossos sucessores, o poder da continuidade em crescer.Sabemos de nossas riquezas em potencial, mas tenhamos humildade e sabedoria para delas usufruirmos.- Que o azul de nosso céu iluminado, seja a transferência de nossas decisões...

- Que a cor e firmeza de nosso solo sejam a energia com que caminha-remos com segurança...- Que a grandiosidade de nossa água oculta seja a fonte que nos alimenta e nos anima a preservar.- Que o canto de nossos pássaros seja a música de embalar nosso repouso...- Que o verde de nossas matas seja a força da esperança a nos impul-sionar para o horizonte do crescimento, do sucesso, da fraternidade e da paz.- Que os braços do Senhor, logo ali no alto da Catedral, imensos, em seu divino amor de Pai, acolham todos que aqui agradecem com uma vida de bons trabalhos, o dom de termos em nossos corações a nossa Botucatu.Ao nosso povo, aos que aqui nasceram ou aqui estão depositando suas esperanças de um futuro risonho, Nossos Parabéns!

Page 174: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras172: Biografia

MARIA HELENA BLASI TREVISANI nasceu em Botucatu SP, em 29 de maio de 1937, filha de Brasil Blasi e Elza Fernandes Leite Blasi. Fez os estudos regulamentares no Instituto Santa Marcelina de Botucatu desde o Curso Primário até completar o Curso de Formação Profissional do Professor, na Escola Normal, desta mesma escola, em 1955.Completou o Curso Superior de Piano no Instituto Musical Santa Marcelina de São Paulo, em 1957. Ministrou aulas de Educação Musical no Ginásio Estadual Prof. José Pedretti Neto, em Botucatu, em 1972, e na Es-cola Prof. Euclides de Carvalho Campos, em 1973. Participou da instalação e funcionamento do Conservatório Santa Marcelina de Botucatu, integrando o primeiro corpo docente como professora de Piano, em 1959. Atualmente continua nas lides do ensino de piano na mesma escola, perfazendo mais de 50 anos de ensino. É membro da Academia Botucatuense de Letras, ocupando a cadeira nº 1 - Patrono: Afrânio Peixoto. Participou da Orquestra Sinfônica de Botucatu na estante dos violoncelos. É organista e regente, tendo desempe-nhado estas funções na Igreja Santuário de Lourdes por muitos anos. Ministra aulas de piano em sua residência, privilegiando alunos em aperfeiçoamento de concertistas. Participa do Grupo de Pianistas de Botucatu, liderado pelo Dr. Luigi Vercesi, tendo se apresentado em vários recitais.Como cronista participa constantemente na imprensa local. Entre as obras literárias destacam-se: “Os 75 anos das Marcelinas no Brasil” (1987); “Saudação a D. Vicente Marchetti Zioni” por ocasião das Comemorações de seu Jubileu Episcopal (1980). É casada com Antonio Trevisani, e o casal tem uma filha, Marília Blasi Trevisani Nunes.

Page 175: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

173Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

MARIA JOSÉ DEL PAPA ZACHARIASO leigo na estrutura da Igreja Tradicional sempre foi algo secundário.Após o Vaticano II houve a participação crescente dos leigos nas ati-vidades do mundo e da Igreja.A visão do mundo é diferente para cada tipo de leigo: - Adulto, jovem - Masculino, feminino- Da cidade, do campo- Ricos, pobresA primeira dificuldade da Igreja é ver o que é igual para todos.Há um conflito, mas para manter a unidade nessa grande diversidade a missão é igual para todos: “ Reino de Deus”.Cada leigo vê a Igreja com a sua realidade.LEIGO: aquele que não tem ordens sacras, não eclesiástico, mas por determinação própria se coloca a serviço da Igreja e da comunidade.Os leigos procuram espaço para partilharem e trabalharem a Espiritua-lidade, conforme Santo Inácio de Loyola, procurando maior intimidade com Deus e propõem, como meio de atuarem mais onde estão inseridos:- Disciplina, - Oração pessoal, - Exame de consciência, - Orientação espiritual, - Partilha comunitária.Os exercícios espirituais levam a pessoa despojada a sentir vontade de

seguir Jesus, ficando mais perto ou se identificando com Ele.Colocar a vida à disposição de Deus para que Ele nos chame onde quiser é o Viver o Evangelho.Há de se destacar o Trabalho da Pastoral da Juventude, que é um espaço onde o jovem pode se engajar e como 60% da população brasileira é de menos de 30 anos, precisa-se, para isso grande trabalho. A Pastoral da Juventude deve atender a realidade específica de cada seguimento: estudante, universitário, meio rural, meio popular.O jovem deve tomar consciência da classe a que pertence, onde vive e para, a partir daí, construir sua história, fazendo parte da Igreja.

O grande desafio é manter acesa, no jovem, a chama da fé para que o leve a caminhar na direção do bem. É fundamental entrosar o jovem na

Page 176: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras174catequese cristã.Nem sempre os jovens são vistos como devem ser vistos. Precisam ter deveres e sentirem que são parte integrante nos momentos de mudar rumos na Igreja e na sociedade. É muito importante que o jovem mantenha o espírito ativo a fim de saber levar seu projeto de vida até onde queira chegar e sua formação deve ser integral no lado místico, político e afetivo.Assumir seu papel em todas as instâncias da sociedade e da Igreja e a cada dia renovar-se ao alimentar a fé, pois só ela lapida essa caminhada.Orientar o jovem a sempre ler a Bíblia, pois ela nos conta histórias de luta e acima de tudo lembrá-lo de “ Ser fermento, luz e serviço onde estiver!”.

Colaboração de Maria Helena Blasi Trevisani.

NATAL NA PRIMAVERASe a “experiência é ato ou efeito de experimentar” e se “experimentar é pôr à prova, conhecer, avaliar, sentir, sofrer...”, era imperioso que os Francis-canos Seculares de Brasil que participaram da Experiência Assis/92, não só

refletissem, mas sobretudo, procurassem sentir e avaliar as emoções vividas pelo Seráfico Pai São Francisco ao “ preparar um presépio no dia de Natal” para celebrar com unção a “humildade da encarnação do Menino Jesus”(Celi).É sabido que, três anos antes de sua morte, Francisco de Assis, no povoado de Greccio, na região de Rieti, no centro da Itália, declarou a um certo João, “homem de boa fama e vida melhor”: - “quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio e ver com os meus próprios olhos como ficou em cima da palha entre o boi e o burro”.(Cel. I)Por isso, no dia 13 de maio, logo pela manhã, deixamos o convento Santo Antônio em direção a Greccio. Celebraríamos o Natal do Deus Menino em belíssima manhã de primavera! Durante o pequeno percurso, pudemos louvar a Deus pelo esplendor da natureza que cobria os campos de flores e enfeitava as casas dos povoados com exuberância das rosas multicores.A subida ao Santuário não foi das mais penosas... Hoje temos boas estradas... certamente São Francisco enfrentou maiores dificuldades, sem falar do tempo e suas agruras em estação hibernal. Vista magnífica! Estrada sinuosa, amplidão do vale, beleza das encostas e rochedos escarpados. “Lou-vado sejas, meu Senhor, pela natureza em festa e pela manhã de primavera!”Ao chegarmos, visitamos, inicialmente, a gruta onde, pela primeira vez,

Page 177: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

175Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasse celebrou o Natal... Abstraídos de tudo, nos colocamos em clima de Natal... Já não era primavera e nem manhã... não estávamos na Itália central, mas na Palestina, em Belém de Judá... era noite fria... e naquela gruta fria, na pedra nua... realizar-se-ia o milagre do Amor de Deus que se fez homem, nascendo como pobre criança, frágil, indefesa para redimir a humanidade pecadora. Em silêncio, visitamos também, a gruta em que Francisco se reco-lhia para rezar e meditar sobre o mistério do Deus “pobre, despojado”, por Amor. Passamos pelas celas dos primeiros frades e a de São Bernardino de Sena. Dirigimo-nos ao Santuário da Imaculada Conceição. Aí teve início a celebração Eucarística do Natal. Após as leituras, em procissão, levando palhas secas nas mãos e raminhos de oliveira, nos encaminhamos à Gruta do Presépio. Em oferta silenciosa, com a alma contrita e o coração inundado de emoção, cobrimos a pedra onde seria colocado o Menino Jesus. Para nós, já era meia noite... sentíamos que o dia era 25 de dezembro... o Céu se abriria e Deus Vivo e Verdadeiro, nasceria, ali, no meio de nós... Quanta unção! Fora, naquela Gruta, que Francisco “vivera e sentira o Cristo pobre desde o seu nascimento”. (Celi) Fora em Greccio que “ele demonstrara a sua ternura, o seu amor e sua fé no Verbo Encarnado. Fora naquele penhasco que Francisco experimentara, no real da vida, a pobreza, o despojamento, o nu material de Cristo ao vir habitar entre nós”. (F. João de Deus) “ Sentir o frio do clima nas montanhas e do inverno em Greccio, bem como o calor e o aconchego dos pobres e da gente simples dessa pequena aldeia, como os pastores de Belém ( F. João de Deus), essa foi a experiência de Francisco há oitocentos anos! Naquele instante, éramos nós que deveríamos demonstrar com fé todo o nosso amor, toda a nossa ternura e nossa adesão total a Jesus. “A grandeza, a beleza, a alegria e a doçura que Francisco experi-mentou no seguimento de Cristo, depois dessa Experiência, nós deveremos testemunhar, em nossa época, em nossa vida, no nosso dia a dia, em nossa Pátria”, (F. João de Deus) para que o mistério de Amor se repita o ano todo!: Biografia

MARIA JOSÉ DEL PAPA ZACHARIAS, Promotora Pública apo-sentada, líder franciscana, jornalista, conferencista e escritora. Cadeira nº.23- Patrono José Pedretti Neto.Colaboração de Carmen Sílvia Martins Guimarães

Page 178: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras176

MARIA LÚCIA DAL FARRA AS GUARDIÃSÀ memória de Elda Moscogliato

Elas são apenas duas - Elda e Inhá - mas quanta gente vive nelas! O piano de castiçais de Seu Moscogliato barra (com seu móvel) os anos e impede (com esse muro) o curso obsediante do tempo. Zela pelo que ouço delas: as dezessete bandas de Pedrinho Tortorella, os brilhantes de Isabel Maffei (pra sempre incrustados nas ingratas pernas do Agostinho), o calvário do ruivo primo Rizzo. João Pulinho passa de casa em casa e ata com seus saltos (e sem lapsos de memória) toda a Rua Curuzu, enquanto Horácio (manso e demente) fecha as portas das moradas: - que a Morte não se adentre! Infensa ao tempo nada temo: tudo se rende ao doce encanto das manas. Por mais alto acastelado (na torre da Catedral)

Page 179: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

177Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras o Canhão de 24 ou mesmo seu sucedâneo (o imperioso futuro) nunca jamais hão de ameaçar a nossa ininterrupta Rua!

Lajes Velha, 27 de julho de 2012.

MARIA LÚCIA DAL FARRA, (Botucatu, SP, 14/10/1944) foi pro-fessora da USP (onde defendeu seu Mestrado e Doutorado), da UNICAMP (onde defendeu Livre-Docência), da Universidade da Califórnia (Berkeley) e se aposentou como Titular concursada da Universidade Federal de Sergipe (onde foi Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa). Continua trabalhando como Pesquisadora do CNPq e tem publicados mais de centena de textos. Dentre estes, diversos volumes de ensaios: sobre Fernando Pessoa, As pessoas de uma incógnita (Lisboa: Junta Distrital de Lisboa, 1979); sobre Vergílio Ferreira, O narrador ensimesmado (SP: Ática, 1978), sobre Herberto Helder, A alquimia da linguagem (Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1986), além de sete volumes sobre Florbela Espanca: Trocando olhares (Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1994), Poemas de Florbela Espanca (SP: Martins Fontes, 1996), Florbela Espanca (Rio de Janeiro: Agir, 1996), Afinado desconcerto (São Paulo: Iluminuras, 2002; 2ª. ed. 2012); À margem dum soneto/O resto é perfume (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007), Perdidamente. Correspondência amorosa de Florbela Espanca 1920-1925 (Porto: Quasi, 2008), Sempre tua (SP: Iluminuras, 2012). Tem um livro de ficções, Inquili-na do intervalo (2004) e outros de poemas: Livro de auras (1994), Livro de possuídos (2002) e Alumbramentos (2011) - todos editados pela Iluminuras de São Paulo.

Page 180: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras178

MILTON MARIANNOOÃRAMNaquele tempo em que os árabes achavam que os sentimentos afetivos estavam no fígado e não no coração, naquele tempo em que as mulheres eram chamadas costelas, fazendo juz ao relato bíblico de que EVA, a primeira mulher, fora criada por Deus tirando uma costela de Adão, e tendo o homem

ficado sem uma de suas costelas é obrigado, para completar-se, a ter uma costela do lado dele; naquele tempo viveu OÃRAM, cuja história o escriba Notlim Onnariam quis conhecer, consultando, para tanto, Ablam Mahat, o maior pesquisador no Lisarb das lendas e contos orientais.Do primeiro colóquio entre o escriba e o historiador, ficou claro que, para se narrar a vida de Oãram, seria necessário escrever um livro de mil e

duas páginas. Como, porém, o interessado Notlim Onnariam se fixava mais no aspecto cultural, afetivo e espiritual de Oãram, Ablam houve por bem resumir o que se passou desde quando Oãram chegou a Utac – Utob.É necessário que se diga: Utac-Utob era e ainda é uma cidade aberta aos estrangeiros que a ela demandam. Não poderia ser de outra forma com as famílias árabes. Bem acolhidas, seus membros puderam realizar boa parte de seus sonhos. Em Utac-Utob há descendentes de árabes que se distinguiram pelo seu amor ao trabalho, pelos seus conhecimentos técnicos, pela sua cul-tura em geral. Esses dotes lhes valeram grande prestígio o que lhes permitiu ocupar cargos e posições de relevo na sociedade e na vida pública.Por duas vezes foi eleito Califa de Utac-Utob o jovem Limaj Yruc, conhecedor de matemática, física, especialista em cálculo integral, perito em estruturas. Nos dias atuais, ele seria classificado como engenheiro. Seus méritos políticos, técnicos e administrativos ultrapassaram os limites de Utac-Utob, sendo chamado pelo Califa Mor Oriam Savoc para ocupar alto cargo na Asred, órgão responsável por parte dos transportes terrestres de todos os califados.

A lista de descendentes árabes que triunfaram não tem fim; o próprio Ablam Mahat confessou-se incapaz de lembrar de todos os nomes. Como citar todas as famílias de médicos, dentistas, comerciantes, agricultores, pro-fessores, pecuaristas? Num esforço de memória, ablam citou alguns nomes,

Page 181: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

179Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasressaltando porém que nesses nomes ele homenageava toda comunidade árabe de Utac-Utob. O escriba Notlim Onnariam tomou nota de alguns: Abilas, Samach, Egrof, Ordep, Ebas, Irugahc, Noslen, Edaas, Olenga, Idua, Zef Sairaheaz, Emian Sairachaz e o poeta Egihab Ledaf.Quando Oãram se transferiu de Avudnatac para Utac-Utob, a popula-ção daquela localidade, tendo à frente suas maiores autoridades, fez de tudo para que Oãram não aceitasse a transferência. E das palavras aos fatos foi oferecida a Oãram e sua querida costela Aidil uma elegante moradia na parte residencial da cidade.Mesmo com o fígado congestionado de tanta emoção, Oãram não aceitou o convite e passou a morar em Utac-Utob, procurando desde logo interessar-se pelas coisas locais, inteirando-se dos usos e costumes do povo. Em pouco tempo, tornou-se uma figura estimada. Foi reconhecido como juiz que se inspirava na sabedoria e na justiça de Salomão.Dada sua conduta aberta e democrática, chegou a ser eleito membro do Conselho de Utac-Utob, onde seus méritos de homem público foram notórios.Sendo Utac-Utob, como fez questão de frisar Ablam Mahat, um centro que espargia cultura para uma vasta região, não poderia deixar de ter, a exem-plo das grandes urbes da Grécia Antiga, de Bagdá e de Alexandria, uma Aca-demia de Ciências e Letras, que realmente era um sodalício que se impunha pelo saber de seus membros. Em dada época, os luminares que a compunham, escolheram para seu presidente Oãram, fato que repercutiu favoravelmente por toda a cidade. Desde sempre, Oãram mostrou-se atuante, mas foi depois de sua aposentadoria como magistrado que se entregou de fígado e alma no desempenho de suas funções acadêmicas. Graças a sua reconhecida eficiência e espírito de luta, foi reeleito por diversas vezes para o cargo.Coração aberto e não sabendo dizer não aos que o procuravam, atendia a todos os desejos de ouvir uma palavra sua nas solenidades que promoviam. A exemplo dos grandes mestres do Oriente. Oãram ilustrava sua fala com uma história ou uma lenda, deixando claro o recado ou ensinamento que desejava transmitir. Anos após anos, ouvia-se com atenção e agrado a lenda que ele reservava para cada ocasião.Assim decorreu a vida de Oãram. Um homem jovial que prestava sua colaboração onde fosse necessária o que lhe valeu ocupar a presidência do Snoyl Bulc, organização conhecida no Oriente e no Ocidente dedicada a prestar serviços

Infelizmente os imortais deste mundo também morrem fisicamente. E, assim, chegou o dia cinzento e triste da marte de Oãram. Ao lado de sua costela, a querida e bela Aidil, companheira de muitos anos, o povo chorou a perda de um amigo que, um dia, veio de longe e fez de Utac-Utob a morada

Page 182: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras180do seu fígado.Após sua morte, o órgão de comunicação Atezag publicou cerca de oitenta artigos deixados por Oãram como mensagens póstuma do bom humor que o caracterizou.Passado tanto tempo, Ablam Mahat afirma que Oãram não morreu. Ele apenas teria deixado o mundo físico para se tornar uma lenda que o povo de Utac-Utob jamais esquecerá.: Biografia

MILTON MARIANNO nasceu em Botucatu, aos 21 de março de 1921. Filho de Thomaz Marianno Barbosa e Emma Vitti. Formou-se Profes-sor pela Escola Normal de Botucatu. Chef d’ Entreprise – CAD – São Paulo – conjugado c/ Paris. Economista Profissional –Ordem dos Economistas do Estado de São Paulo – 1962 –Cursos: Marketing Financeiro – Universidade de Nova York- 1975; es-tudo s/ Pequena e Média Empresa – Buenos Ayres e Punta Deleste – Uruguai. Curso s/Desenvolvimento da Economia Brasileira-Conjugado-Ordem dos Economistas a USP- São Paulo. Atividade Profissional: Professor no Ginásio Diocesano de Botucatu; Professor no Seminário Menor São José – Botucatu (português); Professor Contratado (Curso do Pré-Normal na Escola Normal de Botucatu (português). Diretor da Escola SENAC de Botucatu. Gerente do Banco Francês e Italiano para a América do Sul S/A; Gerente do mesmo Banco na filial do Recife; Diretor Superintendente do Banco Aliança de São Paulo (Banco filiado ao Banco Francês e Italiano); Diretor Executivo do Banco Sudaméris Brasil. Título Honorífico : Cavalheiro do Ordem de São Gregório Magno – concedido pelo Papa João XXIII. Jornalismo: Redator--Chefe do “Monitor Diocesano” Botucatu; Diretor-Fundador de “A Gazeta de Botucatu”; Diretor da revista “Cidade Nova”; Colaborador do jornal “A Gazeta de Botucatu”, Presidente da “Boa Imprensa” órgão do Arcebispado Recife; Membro da Academia Botucatuense de Letras, ocupando a Cadeira nº 12, Patrono: Júlio Mesquita.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 183: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

181Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

MOZART MORAIS PROFESSOR MOZART MORAIS“O professor baixou o olhar e se pôs a caminhar.”Do livro “Sobradinho – Início de um Bom Trabalho”, de Mozart Morais.“Nossa caminhada está a relembrar a época das dificuldades que a

profissão exigia através das normas administrativas e dos locais aonde iría-mos lecionar. (...) Cada acontecimento era um sobressalto em nossa vivência. A lu-cidez, a vontade de vencer e a certeza de que educar era o mais importante, nos consolava em tudo, até com os novos valores que começavam a interferir em nossas atividades do dia a dia.(...) Reminiscências... ainda vivas no coração deste professor que já concluiu sua jornada.(...) Nova escola... a pensão... ora a pensão... de uma família humil-de... a comida... uma receita típica brasileira: arroz, feijão, ovo, carne. Aos domingos, macarronada. Herança italiana.(...) Remoção.Todo dia, o ano inteiro, curtir as tardes de verão, conversar, ler, imaginar em sonhos os desejos dessas crianças.(...) Remoção... mas tantas foram que quando minha mulher se punha a arrumar as malas para a partida, as galinhas alvoroçavam. O primeiro que deitava com as pernas para cima era o galo; logo, as galinhas e os pintos estariam de pernas para o ar. Era só amarrá-los e colocá-los no engradado.Ninguém acreditaria, faria tudo de novo”.Tive a felicidade de ter esse seu Mozart como meu primeiro diretor, na EE José Gomes Pinheiro, hoje Diretoria de Ensino. Exigente e pai! Pedagogo e amigo! Presente sempre; brincando, ensinava-nos. Suas experiências nos enriqueceram muito!A metodologia de Mozart visava a “uma distribuição racionalizada dos alunos nas classes, novas técnicas de alfabetização, solução de problemas,

Page 184: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras182melhoria no entrosamento entre as séries, implemento da disciplina democrá-tica com soluções firmes, visitação às classes, premiação do bom professor, incentivo à leitura, ao jornal mural, ao crescimento gradativo do vocabulário. Seu slogan era: “Esta Escola é uma Rosa!”Na página 44 do seu livro Sobradinho, ele narra um fato ocorrido na EE Cardoso de Almeida (no Cardosinho).“O professor fazia visita às classes. Entrou numa sala de 1ª série e conversou com os alunos, com sua professora (que estava preocupada com sua presença).Sentou-se numa carteira ao lado dos alunos e mostrou-lhes a gravura de um navio e lhes perguntou:— Leia você: Ca... ca... canoaO aluno, perplexo, nada dizia, repetia:— Canoa... canoa...

Assim continuou com a mesma firmeza. Mas, como sempre, os espertos não conseguiram se intimidar. O próximo a ser chamado apenas viu a gravura e ouviu a voz do professor:— Ca... Ca... canoa!O moleque sorriu, pegou a gravura, olhou novamente e resoluto leu:— Navio... navio... O senhor não sabe ler?A classe ficou surpresa com a coragem do colega em discordar do visitante, e a professora bateu palmas!”“O professor baixou o olhar e se pôs a caminhar”.Mozart se diplomou como professor primário na Escola Normal de Suruí,Tatuí, em 1948. No antigo IEECA (hoje EECA), fez o curso de Admi-

nistração Escolar, em 1967. Cursou Pedagogia na Fac. de Filosofia Ciências e Letras de Mogi das Cruzes, Administração Escolar na Fac. de Filosofia Ciências e Letras de Botucatu (Unifac) e Supervisão Escolar na Fac. de Filosofia Ciências e Letras de Avaré.Participou de inúmeros cursos voltados para as diferentes áreas do magistério. Ministrou cursos, proferiu palestras, sempre tendo como tema a Educação.Sua primeira escola como professor primário foi a Escola Masculina do Bairro de Sobradinho, município de Pompeia. Viajou por Presidente Pru-dente, Óleo, Panorama, Junqueirópolis, Ipauçu, Santa Cruz do Rio Pardo até aportar em Botucatu, em 1964, para ser diretor da EE José Gomes Pinheiro.Em 1974, remove-se para a EE Dr. Cardoso de Almeida (o Cardosinho) e, em 1984, aposenta-se.Mozart Morais nasceu em Pereiras, no dia 16 de novembro de 1926. Filho de Antônio Morais e de Rosa Muccini, uniu em sua alma as duas raças

Page 185: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

183Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasformadoras de Pereiras: a brasileira e a italiana. É casado com dona Terezinha Terni de Morais, companheira de sempre, e têm dois filhos: Mozart e Acácio.Pertenceu ao Clube dos Escritores de Piracicaba. Escreveu alguns livros em parceria com seu irmão Carlos de Morais (este que é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba) livros voltados ao magistério, à imigra-ção italiana e à história de Pereiras. Entre algumas de suas produções temos: Imigração Italiana –Sua influência na Gênese e Desenvolvimento da Cidade de Pereiras, 1978; A Velha República e a Imigração Italiana, 2003; Grupo Escolar de Pereiras, 2005; Lembranças, 2006; Magia da Linguagem, 1978; Leitura e Escrita, 1993. Há, ainda, as obras de autoria somente do Mozart: Sobradinho- Início de um bom Caminho, 2005; Histórias de Vida na Escola, 2005; Contando Versos no Tempo, 2001.No livro “Imigração Italiana” está escrito sobre os dois irmãos:Mozart e Carlos“Peregrinos no caminho da Educação.

Ambulantes da Geografia interiorana paulista.Camelôs da instrução e do conhecimento.Vendedores de sonhos e quimeras.Romeiros em busca idílica de um paraíso.Passageiros das variadas situações educacionais.Errantes a espalhar poesia, afetividade e amor.Viajantes à procura da Pasárgada para as crianças.Canoeiros que não cobram passagem pela travessia do rio da vida.Ainda que afastados das lides educacionais e pedagógicas, continuam [Mercadores de ilusões!”Frases de Mozart: “Educação conserta-se na sala de aula das escolas que aí estão.Melhor tentar fazer o possível do que contentar-se com utopias im-possíveis.Lemos para sonhar, saber, refletir.Esta Escola é uma rosa!E o professor baixou o olhar e se pôs a caminhar.”Mozart Poeta AMOR Esta união duradoura e silenciosa, Não tem fim. É como os amanhãs da vida, Sempre sublimes!

Page 186: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras184 É como o cair das tardes, Sempre aconchegantes! Humilde e bela, Como as longas noites de amor. Os nossos olhos têm de ser Um do outro. Eu e você. Eternamente!Professor Mozart partiu em 22 de novembro de 2011 e nos deixou um legado de... ESPERANÇA Não existe vida sem retorno às lutas! Não existe vida sem correr riscos das derrotas! A labuta, o trabalho, a lida e o esforço fortalecem a personalidade e a vontade; formam o caráter e o temperamento; enxugam normas e atitudes; selecionam amizades e descobrem novas formas de vida! Por isso, a porta se abre sempre a quem nunca se deixa roubar seus sonhos, as suas ilusões e as perspectivas de um novo alvorecer!Professor Mozart, pai, esposo e amigo, Poeta da Vida e da Educação, a ABL se sente muito honrada em poder prestar-lhe esta homenagem nesta noite, de 31 de outubro de 2008, acolhendo-o como Membro Honorário.

Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 187: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

185Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

NEWTON COLENCI ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRAS-QUARENTA ANOS DE EXISTÊNCIA. ERA UMA VEZ...Assim começam algumas estórias. A fórmula tradicional nos remete à infância e aos contos trazidos por nossos pais ou livros. Mas, sempre, eram histórias que encerravam um conteúdo moral, de bons costumes,

ética,procedimento adequado, de luta do bem contra o mal. Enfim, conti-nham algo do espírito humano, numa época em que nem sabíamos existir a Academia Botucatuense de Letras.Mas com o título do artigo não pretendi chamar-lhes apenas a atenção para suas reminiscências. Ele serve também de gancho para a estória que vou contar.Era uma vez um sábio chinês e seu discípulo em cujas andanças avista-ram um casebre de extrema pobreza onde vivia uma família e uma vaquinha magra e cansada. Com fome e sede, o sábio e o discípulo pediram abrigo e foram recebidos. O sábio perguntou como conseguiam sobreviver na pobreza e longe de tudo, ao que o dono da casa respondeu que a vaquinha lhes dava leite para beber, fazer queijos e coalhada. As sobras trocavam por outros alimentos na cidade.O sábio agradeceu e partiu com o discípulo. Nem bem fizeram a primeira curva, ordenou ao discípulo tomasse a vaquinha e a atirasse num precipício. Indignado, porém resignado, o discípulo assim fez. Alguns anos se passaram e o discípulo sempre com remorso. Certo dia, moído pela culpa, abandonou o sábio e decidiu voltar àquele lugar, e em vez do casebre desmazelado en-controu um belo sítio. O coração do discípulo gelou. Decerto, vencida pela fome, aquela família fora obrigada a vender o terreno e ir embora. Devem estar mendigando na rua, pensou.Aproximando-se do caseiro, perguntou-lhe se sabia o paradeiro da família que havia morado lá. Claro que sei. Você está olhando para ela. Espan-tado, perguntou-lhe o que acontecera, já que anos antes aquele era um lugar

Page 188: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras186miserável, onde não havia nada. O homem olhou para o discípulo, sorriu e respondeu: “Nós tínhamos uma vaquinha, de onde tirávamos o nosso sustento. Era tudo o que possuíamos, mas um dia ela caiu no precipício e morreu. Para sobreviver, tivemos de fazer outras coisas, desenvolver habilidades que nem sabíamos ter. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes.Esta pequena estória se aplica a vários aspectos da vida, e nos alerta para a acomodação e seus riscos. É claro que, como acadêmicos(as), nosso nível de acomodação é bem diverso da família do conto, mas ele certamente existe.Quantos vezes “desistimos” de ensinar a maneira adequada de se exe-cutar uma tarefa por julgar que não adianta, porque as pessoas simplesmente não querem assumir nenhuma responsabilidade. Em muitos casos,nos acomo-damos no conforto do conhecimento já adquirido, com a obtenção do título ou, até mesmo de um reconhecimento passado. Não buscamos outras coisas a fazer, quando não maneiras novas de fazer a mesma coisa. Ou, deixamos de discutir algum assunto, porque “já conhecemos” os argumentos do outro, sem considerar a imensa capacidade humana de aprender a cada dia e evoluir.Em poucas palavras, nos sedimentamos, nos acomodamos com a situação, até porque o equilíbrio é uma busca-quando não um imperativo.Quarenta anos de atividades. Sobrevive a nossa ABL, sempre repleta de atividades, de participações, proporcionando alegrias e reconhecimentos.Um aniversário é sempre um momento oportuno para rememorar e ali-nhar os fatos e as realizações que marcaram a nossa ABL dentro da comunida-de botucatuense, sempre respeitando os poderes instituídos, as manifestações religiosas ou políticas, numa ênfase de difusão do civismo, propagando o amor à pátria, numa exaltação dos símbolos nacionais, especialmente o hino e a bandeira brasileira, como também desenvolve ao longo dos anos, apoio às letras e ás artes. Este compartilhamento é fruto do conhecimento, da ex-periência e dedicação dos Acadêmicos (as) que integram os quadros da ABL.Para finalizar, a Academia Botucatuense de Letras sobrevive e, cer-tamente sobreviverá por mais tempo, graças ao dinamismo e empenho de seus Membros Efetivos, Honorários e Correspondentes, pois sem sombra de dúvida, todos, irmanados e com os corações abertos sempre exercitarão a prática da proposição bíblica, “E VERÃO AS VOSSAS BOAS OBRAS E GLORIFICARÃO AO NOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS”, eis que somos todos tão somente cooperadores do Reino, que é Deus.Newton Colenci é Membro Efetivo da Academia Botucatuense de Le-tras, Cadeira nº 17, Patrono: Othoniel Mota,

Page 189: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

187Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

OLAVO PINHEIRO GODOY DR. JAGUARIBE E OS PRIMÓRDIOS DENOSSA LITERATURA HISTÓRICA Mozart Monteiro vivia afirmando que “a história procura a verdade no passado humano. Essa verdade deve encontrar-se em documentos – no amplo sentido deste termo e, onde não há documentos, não há verdade histórica.” Historiar os acontecimentos é situá-los na vida e no tempo. A história de nossa

cidade fluiu em complexo encadeamento, circunscrita ao horizonte do espaço e irradiou-se através dos horizontes do tempo. A imprensa escrita foi a fonte primordial dessa história. Editais, anúncios, notícias e artigos compunham a gama de documentos que iriam “abastecer” os historiadores de hoje.Buscando a verdade, para revelá-la, o Dr. João Nogueira Jaguaribe despontou, nos primórdios deste século, publicando artigos que falavam sobre a favorável posição geográfica do município, o crescimento de sua eco-nomia e, consequentemente, de sua população. Natural de Fortaleza, Ceará, onde nasceu em 4 de julho de 1864, era filho do Visconde e Viscondessa de Jaguaribe. Hábil Advogado, formado pela Faculdade de Direito do Recife, corretíssimo no modo de proceder, conquistou, desde logo, a confiança pú-blica. Promotor Público de Tietê e Juiz Municipal daquela Comarca, cargo que exerceu de 1887 a 1889, ele foi também Juiz de Tatuí, exonerando-se em 1890, ano em que transferiu sua residência para a vizinha São Manuel, onde abriu escritório de advocacia.Embora sendo político, ligado ao PRP (Partido Republicano Paulista) nos diversos cargos que ocupou, sempre se portou com o maior critério e independência, deixando em todos os seus atos o brilho do seu talento e a nobreza de seu caráter. Casou-se com Salomé, filha do Coronel Raphael Au-gusto de Moura Campos – “líder político e Vereador em Botucatu por várias legislaturas de 1902 a 1913” – Foi membro da Intendência de São Manuel do Paraíso em 1891, Vereador em 1894 e de 1898 a 1903.Em 1900, devido a seus méritos e reais serviços prestados, foi incluído na chapa para Deputado à legislatura de 1901 a 1903. No Congresso do Estado, destacou-se na defesa dos interesses públicos, fazendo parte das Comissões de Obras Públicas e Justiça, sendo presidente desta última Comissão em 1903.

Page 190: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras188Quando da criação da Escola Normal de Botucatu contribuiu, sobremaneira, ao lado do Coronel Raphael de Moura Campos, com seus substanciosos arti-gos no “Correio de Botucatu” e sua influência e amizade nas altas esferas da política para a conquista de tão importante estabelecimento de ensino; fato este registrado pelo historiador Dr. Sebastião de Almeida Pinto in “Tempo de Dante, Gente de Hoje”.Entusiasta por natureza, João Nogueira Jaguaribe consagrava culto quase que religioso a todas as grandes ideias e a todos elevados sentimen-tos. Seus amigos viam em torno de sua pessoa uma espécie de magia que infundia o respeito a seus semelhantes, quando o encontravam. Maçom, foi o presidente da Comissão que restaurou a maçonaria em Botucatu, após 2 anos de interrupção provocado pelo assassinato do Juiz José Gonçalves Pa-checo. Como historiador, investigou a verdade, onde quer que se ocultasse, tornando-a pública através das páginas do tradicional “Correio de Botucatu”. Nesse órgão, fez história nos primeiros 20 anos desse século. Os seus artigos “Botucatu – A Freguesia” (1915- 9 artigos); “Botucatu – Homens e Coisas” (15 artigos) foram referenciais para a nossa história, tão magistralmente registrados pelo historiador Hernâni Donato in “Achegas para a História de Botucatu”. Falecido, encontram-se seus restos mortais, sepultados em mausoléu da família Moura Campos, no Cemitério “Portal das Cruzes”. Em passado remoto, a cidade de Botucatu homenageou-o dando o nome de “Dr. Jaguaribe” à Avenida de acesso à Vila dos Lavradores.Aos infatigáveis pesquisadores – para os quais os arquivos são as únicas fontes puras da História – a presença do Dr. João Nogueira Jaguaribe contribuiu com a grandeza do glorioso passado de Botucatu!: Biografia

OLAVO PINHEIRO GODOY nasceu em Piraju, SP. Logo após seu nascimento, a família fixou residência em Botucatu, cidade que adotou e reside há mais de 50 anos.Aqui cresceu, estudou, constituiu família, considerando-se, portanto, botucatuense de corpo e alma.Estudou no grupo Escolar “ José Gomes Pinheiro”, na Escola Industrial, no Colégio Arquidiocesano La Salle cursando Técnico em Contabilidade.Foi funcionário da Cia Paulista de Força e Luz, empresa em que se aposentou. É casado com a Sra. Maria José de Fátima Godoy e pai de Aurélio Pinheiro Godoy graduado em Letras.

Page 191: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

189Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasComeçou a escrever impulsionado pelo inesquecível Prof. Oswaldo Minicucci, lente da cadeira de português e grande incentivador dos “literatos” da época. Pode-se dizer que por suas mãos passou, o hoje escritor, Professor Haroldo Ramanzini.Colaborou em diversos jornais como “Correio de Botucatu”, “A Gazeta de Botucatu”, “ O Lutador” de Manhumirim – MG – Revista “Ilustração Nossa Estrada” da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, “Novo Centro” do Centro Cultural de Botucatu, REVISTA “PEABIRU” “Antologia de Poetas Botucatuenses”, jornal “Mais Botucatu” “Diário da Serra” de Botucatu, “Cante em Verso e Conte em Prosa” da Fundação CESP e diversas antologias.Publicou os livros : “Contos da Cidade Serrana”, “Dicionário dos Escritores Botucatuenses”, “Subsídios para a História de Pardinho”, “ A História do Capitão José Gomes Pinheiro” e “ Poetas Botucatuenses”, “Bo-tucatu: Cidade das Boas Indústrias”, “Crônica dos Presidentes da Câmara

Municipal de Botucatu”, “Registro Biográfico dos Prefeitos de Botucatu”, “ Ruas Botucatuenses” e o romance “O Triângulo”.Ajudou a organizar a “Pequena Antologia de Poetas Botucatuenses”, e diversas outras antologias que se publicaram em Botucatu.É sócio do Centro Cultural de Botucatu desde 1970, ocupando, por 17 anos, a diretoria dessa casa de cultura. Pertence à União Brasileira de Trovadores.É membro fundador da Academia Botucatuense de Letras.

Page 192: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras190

OLÍVIO STERSA “CUMPADRE É PRA ISSO MERMO”Naquela manha de junho geladíssima, às cinco horas da manhã, fui pedi-do para comparecer à maternidade da misericórdia botucatuense para atender

uma parturiente que tivera o parto em casa e ficara com a placenta retida.Ato continuo, pedi que a levassem junto ao recém-nascido para ficar internada onde eu iria atendê-la.Ela chegando, ao examiná-la, notei que de fato a placenta ficara retida, mas também havia um terceiro feto.E assim, nasceram três bebês indo todos para o berçário onde perma-neceram por alguns dias.Chegando a data de levá-los para a residência, o pai deles que era um vendedor de verduras, chegando a mim diz: ̀ `Dotô, mecê dexa eu chamá um dos menino de Olívio, hein? Ansim eu posso chamá mecê de cumpadre?!´´.Ouvindo bem e analisando a conversa, percebi que o mesmo queria tirar alguma lasquinha dessa situação.Eu morava nessa época na Rua General Telles, na casa de meu cunhado, que era de esquina com a rua Visconde do Rio Branco. Um dia, ao chegar lá, encontrei meu futuro compadre vendedor de ver-duras, que acabara de vender uma melancia a meu cunhado. Quando entrei, meu cunhado me mostrou uma bela melancia pela qual pagara cinquenta réis. Então o meu compadre me dissera: “Olha, compadre, que bela melancia que eu reservei pra mecê.” , esfregando a mão na mesma . “Óia que beleza!”Então eu perguntei o quanto pagaria; eu não soubera do preço da anterior mas, para meu cunhado ele vendera por 50 mil réis e para mim ia vender por 65 mil réis. Lembrando a historia da conversa que tivéramos na misericórdia Botucatuense, cheguei à conclusão de que ele, aproveitando a situação, cumpriu o que dissera naquela vez: “cumpadre é pra isso mermo, pra ser aproveitado quando dé´´.Quando a faculdade de medicina de Botucatu foi criada, não tinha pro-fessor de anatomia e foi convidado um professor italiano para reger a cadeira. Ele dava aulas para o primeiro e segundo anos de medicina.

Page 193: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

191Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasNa turma do primeiro ano, havia duas moças que caçoavam dos mo-dos do professor, rindo dele, andando como ele andava e de modo quase incomodativo.No fim desse ano, houve para classificação de série um exame oral para toda a turma do primeiro e segundo ano e também estavam incluídas na primeira turma as referidas moças.Então o professor disse: ”você que caçoava de mim no meu falar, no meu andar e no que eu sei como rido io. Vamos saber se você sabe como eu sei. Aqui vai sua nota e para a segunda bambina que ride como rido io.É finato lo examine, esperando uma melhore producione.

: Biografia

OLÍVIO STERSA é natural de Santa Cruz do Rio Pardo-SP. Filho de Guilherme Stersa e Josefina Stersa. Casado com Maria Eneida Gomes de Mattos com quem teve três filhos: Luiz Guilherme, médico (já falecido), Roberto, médico (cirurgião plástico em Campinas) e Maria Helena, cirurgiã--dentista. Com a idade de dois anos, sua família mudou-se para Itatinga, onde passou sua infância até os onze anos. Fez o curso primário no Grupo Escolar de Itatinga, formando-se em 1936. Curso fundamental feito como aluno interno do Ginásio Diocesano Nossa Senhora de Lourdes (atual Colégio La Salle) em Botucatu, concluído em 1941. Após, foi para São Paulo, onde fez o primeiro colegial no Liceu Rio Branco e o segundo colegial no Colégio Universitário da Faculdade de Medicina. Ingressou na Faculdade de Medi-cina da Universidade de São Paulo em 1944. Formou-se médico em 13 de dezembro de 1949. Fez residência no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina e, após sua conclusão, mudou-se para Botucatu a 06 de janeiro de 1951 onde permaneceu até a sua morte no ano de 2011. Começou sua vida profissional, como médico dos Ferroviários da Sorocabana, onde se aposentou no cargo de Chefe do Serviço de Medicina Social do INAMPS. Foi Diretor Clínico do Hospital Misericórdia Botucatuense, onde trabalhou durante 50 anos como cirurgião das enfermarias. Durante 45 anos, foi o encarregado do centro cirúrgico. Foi assistente voluntário da cadeira de ginecologia e obste-trícia da Faculdade de Medicina da UNESP, no período de 1966 a 1968. Com o auxílio de colegas e irmãs da Consolata, criou um curso para Auxiliares de Enfermagem, ministrado nos próprios espaços da Misericórdia nos anos de 1958 a 1962, onde se diplomaram 84 alunos. De rara inteligência, médico voltado inteiramente à profissão, é especialista em ginecologia e obstetrícia,

Page 194: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras192sendo inclusive clínico geral, mercê de seus belíssimos títulos acumulados entre cursos ministrados, cursos frequentados, aulas de iniciação científica a alunos do quinto ano da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, em 1972. Escreveu vários livros, entre eles “Memórias da Mise-ricórdia Botucatuense”, “Diagnóstico Diferencial das Hemorragias Gineco-lógicas”, “Higiene Industrial e Psicologia do Trabalho” e publicou também um trabalho intitulado “Tétano Pós-Aborto”, encartado na Revista Paulista de Medicina – Vol. 38. No ano de 2011, completou 64 anos de formação médica e 84 anos de idade.Membro Efetivo da ABL, ocupando a Cadeira nº 18, Patrono: Paulo Queiroz.

Page 195: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

193Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

OMAR ABUJAMRA JÚNIOR ÉTICA, MORAL, IMORAL E AMORAL No princípio era a filosofia fonte de todo conhecimento. Depois vieram as ciências, que cresceram e se multiplicaram, dando origem a inúmeros campos de estudo e de aplicação. Com o passar do tempo, as inteligentes ciências deram as costas para

sua mãe, a sábia filosofia, e, associando-se à técnica, esqueceram do porquê e do para que fim, ficando com o como, quando e onde.

O mundo nunca teve tanto cientista para tão pouco filósofo. A ciência passou a inspirar leis morais; e, na corrida pela descoberta científica, a ética ficou para trás. O que não é bom. A palavra Ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter). Pode ser definida como um conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garan-tindo, dessa forma, o bem-estar social. É, ainda, uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital na produção da realidade social.É a forma como o homem deve se comportar no seu meio social. Pode também significar o que é bom para o individuo e para a sociedade. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção e inteligên-cia. Está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros, relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas ideias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

A Ética é teórica e reflexiva, enquanto a Moral é eminentemente prá-tica. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o agir são indissociáveis. Busca explicar e justificar os costumes de uma determinada sociedade e fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns.A ética é julgamento do caráter moral de uma determinada pessoa, portanto, na sua dimensão filosófica, oferece a reflexão sobre o significado e finalidade da existência humana, buscando definir a moralidade.

Page 196: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras194Já a Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes, e, possui caráter obrigatório. É um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior a própria sociedade. Esta sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos.A moral pode então ser entendida como o conjunto das práticas crista-lizadas pelos costumes e convenções histórico-sociais. Cada sociedade tem sido caracterizada por seus conjuntos de normas, valores e regras. São as prescrições e proibições do tipo “não matarás”, “não roubarás”, de cumpri-mento obrigatório. Muitas vezes essas práticas são até mesmo incompatíveis com os avanços e conhecimentos das ciências naturais e sociais.Ainda tem um forte caráter social, estando apoiada na tríade: cultura, história e natureza humana. É algo adquirido como herança e preservado pela comunidade.Moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza, seres sociais, assim percebe-se que a Moral também é um em-preendimento social. Ainda, podemos entender a moral como:(...) sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regu-lamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comu-nidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal. (VASQUEZ, 1998)Em suma, o ato moral supõe a solidariedade, a reciprocidade com aqueles com os quais nos comprometemos (não é um ato solitário e sim solidário). A contra sensu temos o Imoral, que é ser contrário a tudo que for moral; é ser contra regras e princípios de dada sociedade.Por fim, o Amoral é o ato realizado à margem de qualquer considera-ção a respeito das normas. É aquela que não tem o senso de moral de uma determinada comunidade (moral é sempre ligado aos costumes de um povo

específico - ex: o que é dentro da moral para o índio, como andar nu, não o é para os “civilizados”). É desconhecer o padrão de moral de dada sociedade.Hoje, vive-se uma crise moral sem precedentes, alimentada pela rapidez do avanço científico, cultivada pela convivência diversificada e conflitiva dos sistemas de valores.

As pessoas perderam seus valores, não conseguem definir o que é moral e ético fazendo com que atrocidades ocorram em nosso meio sem se

Page 197: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

195Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasindignarem.Discute-se política sem escrúpulos, sem respeito aos princípios e às pessoas. Nunca se soube tanto sobre a pessoa humana, suas funções biológicas, sua história, sua cultura, suas linguagens, seus sistemas sociais, suas funções psicológicas, seus processos cognitivos e afetivos.Nossos valores, nossas condutas, nossos princípios necessitam ser revistos urgentemente se quisermos um mundo melhor para os nossos filhos.

: Biografia

OMAR ABUJAMRA JÚNIOR, médico ginecologista /obstetra, nascido em Araçatuba em 24 de junho de 1954, filho de Omar Abujamra e Adelina Gottardi Abujamra. Casado com Ana Teresa Barros Peduti Abuja-mra, tem 03 filhos: Ana Carolina Peduti Abujamra, Omar Abujamra Neto e Vitor Peduti Abujamra. Reside em Botucatu, cidade que adotou, desde 1973 quando ingressou no Curso de Medicina (FCMBB). Dedica sua vida à Família e à Medicina (clínica de ginecologia/obstetrícia desde 1981), bem como à administração de Serviços de Saúde. Na área de Gestão em Saúde, procurou se aprimorar estudando em Boston na Harvard Medical School (1999), na Filadélfia na “Warthon–University of Pennsylvania (2002) e na Philadelphia International Medicine (2005). Tem pós- graduação em Gestão Empresarial (FAAP- 2000) e MBA em Gestão de Serviços de Saúde (FAAP -Fundação Armando Alvares Penteado-2003). Diretor da Unimed Botucatu, Federação Centro-Oeste Paulista, Federação Estadual das Unimeds do Estado de São Paulo e membro do Conselho Confederativo da Unimed do Brasil há vários anos. Dedicou-se também a atividades associativas; foi diretor de defesa profissional da Associação Paulista de Medicina (1987 a 1990), delegado do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (1988/1993) e Diretor Clínico do Hospital Regional da ABHS (1985 a 1987). Em 23 de agosto de 2011, teve a honra de ser reconhecido e empossado como Membro Honorário da Academia Botucatuense de Letras.

Page 198: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras196

OSMAR DELMANTO O ENSINO DO LATIMDepois de ter permanecido por vários anos sob as cinzas, voltou a crepitar a antiga brasa acesa pelos antilatinistas.Deixando de lado o curso secundário, desta feita, os inimigos do ensino do latim nas escolas brasileiras rebelam-se contra a exigência de prestação de exames de Latim, nos vestibulares das Faculdades de Direito.Como é sabido, pela legislação que atualmente rege os exames de habilitação aos cursos jurídicos estes constam de três matérias: Português, Inglês (ou francês) e Latim.Antigamente os exames vestibulares referiam-se às seguintes disci-

plinas: Literatura (Mundial), Latim, Geografia Humana, Higiene, Filosofia e Sociologia.Para quem está afeito às coisas do Direito, desde logo salta à vista a infelicidade da reforma. Além de excluir importantíssimas matérias que são verdadeiramente indispensáveis à formação do bacharel em Direito, tal como a Filosofia, a Sociologia e a Literatura Mundial, - a reforma introduziu, embora optativamente, o Francês e o Inglês.Ora, se bem que não pode ser negada a importância da língua inglesa nos tempos modernos, é fora de dúvida que, para o direito brasileiro, é ela dispensável e até mesmo inútil. Na verdade, com exceção de alguns aspectos do Direito Constitucional e do Direito Penitenciário, a literatura jurídica dos países anglo-saxões pouco ou nada influi nos estudos jurídicos.Seria preferível e de muito mais valia para os alunos que tencionam seguir a carreira de advogado, que, ao lado do Francês, se lhes concedessem o direito de optar ou pelo Espanhol ou pelo Italiano, pois notadamente na Itália o nosso Direito foi buscar a maioria de seus princípios.Nessa reforma, por todos os títulos infeliz, restou apenas de bom a exigência, ao lado do português, do Latim, nos exames de habilitação.Pois agora até mesmo o Latim querem afastar...Já é doloroso ver-se no atual sistema, um advogado recém-formado que muitas vezes tem grandes conhecimentos da língua inglesa, mas que não tem a mínima noção do que seja Filosofia, Lógica ou Psicologia. É mais

Page 199: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

197Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasprofissional que frequentemente desconhece as mais rudimentares noções de Sociologia ou Geografia Humana.Se muitos daqueles que se formaram pela legislação antiga e pela atual, ainda escrevem “ad juditia”, ao invés de “ad judicia”, o que não acontecerá com os futuros bacharéis da geração “antilatinista”?!Tradição é tradição. Costume é costume. Na própria medicina e nas pesquisas médicas as denominações latinas são numerosas. No Direito, idem. Não é com uma simples reforma do ensino que se passará uma esponja sobre as infindáveis alocuções latinas usadas tradicionalmente no Direito de todo o mundo. Assim continuarão os “jus in re”, os juízes “a quo e ad quem”, a “finium regundorum”, as “ad perpetuam rei memoriam”, os “de pleno jure”, os “juris tantum”, os “ab initio” ou “ab ovo”, o “iter criminis”, os “habeas corpus”, os “ex nunc” e “ex tunc”, os “jus ad usucapionem”, e tantas e tantas outras, isto para citar só as mais comuns.

E, assim mesmo, analisando-se somente o mais superficial dos aspectos dos grandes prejuízos da supressão do ensino do Latim e da exigência do respectivo exame para o ingresso nos cursos jurídicos.O que não se dizer então da consequência última e mais grave que é o desprezar-se e relegar aos esquecimentos os grandes monumentos da Legis-lação romana, o “corpus juris civile” e as grandes instituições jurídicas de Roma, fonte do nosso Direito?E tudo isso por quê? O que alegam contra o Latim?Simplesmente que essa matéria é grande obstáculo nos exames e grande responsável pelas reprovações em massa.Convenhamos que o argumento é muito insignificante em face da mag-nitude e da importância da cultura e da língua latina no Direito Brasileiro.

24 de junho de 1958: Biografia

OSMAR DELMANTO, natural de São Manuel, Estado de São Paulo, dia 6 de fevereiro de 1923.Filho de Pedro Delmanto Sobrinho e Alice Moratelli Delmanto. Fez o Curso Primário no Grupo Escolar anexo à Escola Normal de Botucatu e o Ginasial no Ginásio Diocesano Nossa Senhora de Lourdes, atual La Salle.Completou o curso Colegial no Colégio Universitário anexo à Facul-

Page 200: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras198dade de Direito da Universidade de São Paulo, a tradicional escola do Largo São Francisco, pela qual se diplomou, fazendo parte da turma de 1948.Logo no ano seguinte, passou a exercer a Advocacia mantendo escri-tório sempre nesta cidade.Nos anos de 1950 e 1951, exerceu interinamente o cargo de Promotor Público desta Comarca e posteriormente, durante nove anos, o de Procurador Municipal e Diretor da Assistência Jurídica do Município, sendo também Assessor Jurídico da Câmara Municipal.Foi eleito Vereador e colaborou com o desenrolar da Lei Orgânica do Município, participação essa devido à sua vasta experiência.Começou a militar no jornalismo botucatuense em 1939, como diretor e redator de “O Ginasiano”, periódico que, juntamente com o “Estudante”, publicado pelos alunos da Escola Normal, do qual responsável por numero-sas vocações literárias, como o caso do grande escritor Francisco Martins e Hernâni Donato, membros da Academia Paulista de Letras.Por muitos anos, convidado pelo Prof. José Pedreti Neto, ministrou aulas de Latim no Ateneu Botucatuense.No Magistério Superior, desde 1970 foi professor da Faculdade de Economia e Administração da Unifac.Lecionou também Legislação Tributária como professor titular apro-vado pelo MEC, Direito Comercial e Administrativo e Social.Integrou a Academia Botucatuense de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 12, Patrono: Júlio Mesquita, símbolo da grande imprensa nacional.Colaborou no Diário Latino, jornal que se publicava em língua italiana. Escrevia na Folha de Botucatu, dirigida pelo mestre Pedro Chiaradia. Foi por muito tempo redator do jornal Democracia.Em 1957, formou com muitos amigos, o jornal A Gazeta de Botucatu, do qual seu fundador foi o Prof. Milton Mariano, escritor e orador de grandes méritos, colaborando até nossos dias.Foi sociofundador do Centro Cultural de Botucatu, da Academia de Letras, do Lions Clube de Botucatu.Ex-Presidente do Clube 24 de Maio, do Tênis Clube e da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil.Casou-se com a Profa. Zélia de Meira Coelho Delmanto em 29 de Julho de 1951. Tiveram seis filhos, doze netos e quatro bisnetos.Faleceu em 5 de julho de 1996, em Botucatu.

Page 201: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

199Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

OSWALDO MINICUCCI ADEUS A DOIS AMIGOS Eles se foram . . . O primeiro foi nosso MESTRE, na então Escola Nor-mal de Botucatu, lecionando Latim. Colocamos com letra maiúscula a palavra Mestre porque o Prof. RAYMUNDO MARCOLINO DA LUZ CINTRA foi, realmente, um autêntico Professor, um formador de gerações, dando suas aulas com aquela seriedade característica de um burilador de talentos. Enérgico e amigo, ao mesmo tempo, criou uma forma própria de ensinar e aqueles que, um dia, tiveram a ventura de tê-lo como Professor, atestam isso. Escritor, jornalista foi, antes - acima de tudo, um homem dedicado aos problemas desta terra. Nacionalista extremado, participou da Revolução Constitucionalista de 1932 e dedicava-se à sua família com grande apego, educando-os todos, hoje autênticos seguidores da obra de seu progenitor. É um amigo que parte... Sua obra, de seus trabalhos, as gerações formadas fazem-no presente entre nós. Profundamente dedicado às coisas de Deus, tinha uma formação religiosa sólida. Neste instante, nosso querido MESTRE Raymundo Cintra estará, por certo, junto ao Mestre dos Mestres, num descanso merecido, após longos anos de labor em prol de muita gente . . .O segundo, cuja morte ocorreu, quando estávamos fora de Botucatu, nos abalou profundamente, o HUMBERTO POPOLO, o sempre querido CHIBÉ, que se tornou conhecido não apenas por sua dedicação aos velhinhos

da Casa dos Velhinhos, mas por sua fidalguia, por seu desprendimento, por sua facilidade de bem servir os outros. Como comerciante, era uma pessoa que sabia relacionar-se. Como chefe de família, era um indivíduo exemplar, dada a dedicação para com seus familiares. Sabíamos de sua saúde abalada, mas não esperávamos que tão cedo deixasse o nosso convívio, nós que pre-závamos demais sua amizade. Sua legião de amigos atesta o quão querido era na comunidade botucatuense, onde funcionou como Juiz de Paz, realizando uma infinidade de casamentos. E o CHIBÊ também nos deixou, provocando um vácuo muito grande entre seus amigos, familiares e todos quantos por ele foram atendidos de um modo ou de outro...Daí o adeus a dois amigos... EM VIDA, NÓS OS ESTIMÁVAMOS MUITO POR TUDO QUANTO OS DOIS REPRESENTAVAM PARA

Page 202: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras200BOTUCATU E POR SUA GENTE. Após a morte, o nosso sentimento de tristeza, as lágrimas que afluem aos nossos olhos e a certeza de que os vere-mos sempre naquilo que realizaram, numa perpetuação que somente ocorre com as pessoas que, em vida, realizam algo de útil e bom em prol dos outros.: Biografia

OSWALDO MINICUCCI nasceu em Botucatu a 13 de setembro de 1920. Filho de Domingos Minicucci e Emília Molini Minicucci. Cursou o primário no Grupo Escolar “ Dr. Cardoso de Almeida” onde foi aluno da Profa. Josefina Pinheiro Machado. Cursou o ginásio e formou-se Professor pela Escola Normal de Botucatu em 1938. Foi inicialmente Professor do curso primário e de admissão do Ginásio Diocesano “Nossa Senhora de Lourdes”. Depois foi para a Escola Profissional Secundária Mista, atual Escola Téc-nica Industrial, como escriturário substituto, depois como responsável pela secretaria. Sempre gostou de ler e escrever. No curso primário, era sempre requisitado para declamar nas festas escolares. No curso ginasial, já escrevia nos jornais escolares e começou a publicar os seus trabalhos na “Folha de Botucatu” e no “Jornal de Botucatu”.Sempre gostou de crônica. Talvez o seu acendrado amor por Botucatu enveredou-o para esse setor literário que oferece margem para tecer maiores considerações sobre os fatos que dizem respeito à terra natal. Professor de português da Escola Industrial de Botucatu “Dr. Armando Salles de Oliveira” e da Escola “Prof. Euclides de Carvalho Campos”, Instituto Santa Marcelina e Ginásio Diocesano “Nossa Senhora de Lourdes”. Durante um ano, lecionou aulas de Didática Especial de Português para os alunos do curso de Letras da Faculdade de Filosofia de Botucatu, de Direito de Bauru e de Direito de Presidente Prudente. Foi membro do corpo docente da CADES (Campanha de Difusão do Ensino Secundário), patrocinada pelo Ministério da Educação e Cultura. Nessa qualidade, deu aulas em Marília e em Botucatu. Foi designado pelo Ministério de Educação e Cultura para orientar o Curso da CADES em Goiânia, em 1962. Foi Vice-Presidente do Centro de Integração Empresa / Escola, órgão de grande utilidade para os estudantes do ensino superior. Por solicitação do então Prefeito Municipal de Botucatu, Sr. Luiz Aparecido da Silveira, instalou a Comissão Municipal do MOBRAL de Botucatu (Movi-mento Brasileiro de Alfabetização). Foi, por dois anos, Coordenador Geral do citado movimento. Foi Membro e Presidente do Rotary Clube de Botucatu. Diretor de Esportes, Secretário Geral e Presidente do Conselho Deliberativo

Page 203: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

201Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasdo Botucatu Tênis Clube. Foi eleito, em 1969, Vereador à Câmara Municipal de Botucatu. Como tal, exerceu, no primeiro ano, as funções de Vice-Presi-dente, assumindo, logo a seguir, a Presidência, em virtude do licenciamento do Presidente titular. Foi Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara e participou da Comissão de Finanças. Em 1972, foi Presidente eleito da Edilidade. Durante muito tempo foi cronista radiofônico da Rádio Municipalista de Botucatu onde, entre outras, criou “Promessas Literárias Botucatuenses”, com a finalidade de estimular os talentos jovens para as letras. Membro-fundador da Academia Botucatuense de Letras e Presidente do Conselho Municipal de Educação. Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 204: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras202

RAYMUNDO MARCOLINO DA LUZ CINTRAATÉ AS PEDRAS SE ENCONTRAMEste romance tem finalidade literária e leva em mira um trabalho his-tórico, regional. Os duros episódios da Serra de Paranapiacaba, vividos numa época remota, ressurgem como marcos da gente bandeirante.Seu eixo central gira em torno de jovens de formação invejável, ena-morados, que, após dramáticas provações, se uniram por amor sublime. O jovem cultuava o sentido intrépido do “arrieiro” paulista.Era o tempo em que o transporte de mercadorias entre a Pauliceia e o porto de Santos se fazia em lombos de burros, e as tropas carregadas, resfo-legantes, trilhavam por entre as veredas da Serra.O inolvidável Visconde de Mauá, pioneiro da unidade econômica nacio-nal, avaliando a justa bravura dos tropeiros do caminho do mar, projetou uma via férrea entre Santos e Jundiaí e técnicos em plano inclinado realizaram os estudos. Por motivos que não vale a pena mencionar, o projeto não vingou...Os arrieiros, esses heróis ignorados e esquecidos, foram lembrados e homenageados no centenário de nossa independência pelo então Presidente do Estado, Dr. Washington Luis Pereira de Souza, com a inauguração dum Monumento, com marcos históricos, na serra de Paranapiacaba.Foi orador principal e oficial dessa memorável solenidade o Deputado e estadista Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, que pronunciou uma comovedora apologia dos arrieiros – “ por cujas mãos honradas passou toda a riqueza que entrava e saía de São Paulo”.Em seu discurso “NA SERRA DE PARANAPIACABA”, o orador enal-teceu a coragem desses bandeirantes anônimos, como exemplo de lidadores às gerações futuras. Essa oração como tributo de gratidão e justiça apenas adormeceu no seu subconsciente.Figuram neste trabalho alguns “casos” folclóricos, que meu avô,

também arrieiro, contou a seus filhos, casos em que se nota a influência de miscigenação das raças.Será lido este despretensioso trabalho, nesta época, em que a cultura li-terária parece empolgada por um “frisson” agnóstico, impiedoso e irreverente?Mas perseguir um ideal não é agradável e honroso?

Page 205: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

203Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasNOTA : Quando meu saudoso amigo, Dr. Macedo Soares, esteve em Botucatu, como paraninfo duma turma de professorandos, alentou-me no sentido de escrever uma obra sobre Visconde de Mauá, franqueando-me sua

magnífica biblioteca. Porém, alguns contratempos me impediram de realizar esse empreendimento.: Biografia

RAYMUNDO MARCOLINO DA LUZ CINTRA, (1887-1978), Itua-no de nascimento. Aprendeu a ler, escrever e contar com seu pai, Luis Manoel da Luz Cintra, fundador do primeiro grupo escolar de São Paulo. Fez o ginásio de humanidades no Colégio São Luís dessa cidade e no Seminário Menor de Pirapora. Fez o curso trienal de Filosofia na Faculdade Metropolitana, anexa à Universidade Gregoriana de Roma. Em 1912, foi Professor do Seminário de Botucatu e Professor do Colégio Santa Marcelina. Em 1914, casou-se com a desenhista e pintora Leopoldina Pinheiro Cintra e nessa época iniciou seu trabalho jornalístico. Fundou, em Botucatu, o “Correio do Sul” e no ano seguinte, em Itapetininga, “O Diário” e “A Notícia”, ao mesmo tempo em que lecionava português, latim, e literatura na Escola Normal desta cidade.

Em 1926, fundou o Liceu de Botucatu, oficializando o primeiro gi-násio na zona Sorocabana. Em 1930, fundou “O Jornal” e logo em seguida dirigiu o “Correio de Botucatu”. Foi um dos fundadores do Centro Cultural de Botucatu e Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Botucatu. Membro--Fundador da Academia Botucatuense de Letras. Colaborou nessa época para a “Folha da Manhã” e “Correio Paulistano” de São Paulo, e para jornais de Itu e Itapetininga. Sempre esteve ligado à filosofia e ao jornalismo, às obras sociais e cristãs. Pelas suas atividades jornalísticas recebeu em 1962 medalha de mérito dada pela Associação Paulista de Imprensa de São Paulo e, o título de Cidadão Botucatuense. Membro da Academia Botucatuense de Letras – fundador da Cadeira 03, cujo patrono é Amadeu Amaral.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 206: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras204

ROSA APARECIDA INNOCENTI DINHANEDuas poesias do livro “Trilha Inquieta”-1997, autoria de Rosa A.Innocenti DinhaneNÓSEstou em vocêvocê está em mim sem vocêsou ninguémsem mim, acreditoninguémtambémhá de servocê.Você está em mimEu estou em vocêSe não, por queestaria euestaria vocêestaríamos nósplenitude essa tão bela assim que se vê?CANTIGA DA CUMPLICIDADEÀ hora de chorarnão deixa meu choro um chorosozinho... chora comigo

Page 207: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

205Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasComigo canta.O meu cantarnão deixa sozinhoquando eu canto... canta comigo.Anda comigoO meu caminhosabe sempre de amigopra mim, ajeitarno seu eu um cantinho.Não me deixa o andarum andar pobresozinho:comigo chora amigoamigo canta comigo.AO MEU PAINão mais a minha mão sobre a tua, mais fria a minha, mais quente a tua, no leito do hospital que ao teu sofrer assistiu.Não mais o médico, os enfermeiros, as irmãs e nós – teus familiares- solícitos a querer arrancar-te da morte, também tremendamente solícita, na sua luta vitoriosa.Não mais o soro, o oxigênio e a terapêutica toda a traçar oásis de vida no deserto imenso da morte que alargava fronteiras e do qual te queríamos arrebatar.Não mais teus lábios clamando por água, tua voz lançando bênçãos, tua fala dizendo preces.Não mais a minha mão sobre a tua, quente a minha, já fria a tua, na fria urna que para a terra te levou.Já agora, apenas imagens das cenas passadas. Das cenas que chegam e

vão, mas voltam e voltam e voltam e, alta a noite, desfilam constantes.Meu Pai!Como, sereno, me pedias que a mim mesma te ajudasse a reconhecer, eis que a moléstia o cérebro te confundiu, ajuda-me agora.

Page 208: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras206Ajuda-me a não ver tua ausência tão penetrante em nosso lar mutilado. Ajuda-me a olvidar tua presença tão só sob uma laje tão fria. Ajuda-me, sim, eis que a dor da tua morte os sentimentos embaralhou-me, ajuda-me a ver-te, e só assim, e muito assim a te ver: entre os justos e os bons a guiar-nos, na glória de Deus a esperar-nos. 12/05/1968: Biografia

ROSA APARECIDA INNOCENTI DINHANE, Filha de italianos, Primo Innocenti e de Angelina Sivestre Innocenti, nascida aos 6 de outubro de 1926, em São Manuel,SP, casada com Genésio Dinhane, tendo os filhos Kandir Genésio Innocenti Dinhane e Rosamara Innocenti Dinhane Vicente.PRIMEIROS ESTUDOS no Grupo Escolar “Dr.Augusto Reis”, depois Normalista, na E. E. “Dr. Manuel José Chaves”, onde, devido a diplomar-se em primeiro lugar, foi beneficiada por uma “Cadeira –Prêmio”. Fez Cursos Superiores, de Licenciatura Plena em Letras, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu –SP-ITE e de Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade do Sagrado Coração de Bauru-SPMAGISTÉRIO público primário e secundário por 30 anos, bem como após concurso, função de Diretora Escolar por mais 7 anos. Após aposenta-doria, Diretora Voluntária da área de Educação Especial, na APAE de São Manuel, por mais 13 anos.ATIVIDADE JORNALÍSTICA, desde 1950, na imprensa falada (Rádio Clube de São Manuel e Rádio Nova) e escrita (Jornal O Tempo), tornando-se membro da API (Associação Paulista de Imprensa) onde falava ou escrevia crônicas periodicamente, com ênfase em assuntos da mulher, da criança e dos portadores de deficiências.AUTORIA E PUBLICAÇÃO DE LIVROS:VIDA VIVIDA- 1978 com prefácio de Francisco Marins, da Academia Paulista de Letras; ESPA-ÇO-1982, com prefácio de Sólon Borges dos Reis, da Academia Paulista de Letras; NAS ILHAS DO MEU MAR-1990, com prefácio de Caio Porfírio Carneiro, da União Brasileira de Escritores; O HOMEM À BEIRA DE SUAS ESTRADAS-1993, e TRILHA INQUIETA- 1997, ambos com prefácio de Hernâni Donato, da Academia Paulista de Letras.VEREADORA por dois mandatos gratuitos, de 1963 a 1968 e de 1969 a 1972, e um remunerado, de 1983 a 1988, ocupando funções de primeira secretária nos três mandatos, e foi até esta data, ano de 2012, a única mulher

Page 209: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

207Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasa eleger-se vereadora no Município de São Manuel. Participou, da Ovepresp, Organização das Vereadoras e Prefeitas do Estado de São Paulo, que prestou relevantes serviços principalmente no encaminhamento de sugestões aos Constituintes, para a Carta Magna de 1988.Falecida em 15 de outubro de 2008.Membro Correspondente da ABL.

(Do livro “VIDA VIVIDA”- 1978, autoria de Rosa A. Innocenti Dinhane)

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 210: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras208

ROSA NEPOMUCENOFLORES PARA BOTUCATULadeiras e céu azul, inesquecíveis. Árvores de flores alaranjadas na Rua General Teles, e de copas acolhedoras nos jardins da Catedral, da Igreja de Lourdes, do Bosque.Só quem passou as manhãs da infância brincando à sombra das árvores daquele pequeno oásis verde em frente ao Cine Paratodos sabe como era bonito, modesto, natural. Nunca me conformei com sua transformação na-quele espaço de concreto, mesmo entendendo que uma cidade musical, como Botucatu, merecia ter sua Concha Acústica - moda, na época, nas cidades do

interior, assim como o foram as fontes luminosas. Que árvore magnífica era aquela, do jardim bem em frente à Catedral - forrava os paralelepípedos da praça com suas flores roxas. Será que ela ainda está lá, vencendo o tempo?Os jardins, com suas árvores, sombras e cores são a alma das cidades. Espero que na querida Botucatu, plantada no alto de uma serra formada por rochas, matas verdes e cachoeiras, sob um céu magnífico, o poder público e a população mantenham viçosos seus jardins, preservem sua natureza e plantem mais árvores, fazendo com que se enraíze profundamente nas novas gerações o zelo por esse patrimônio inestimável, da mesma forma como cultivamos o amor à nossa terra natal. Texto escrito em 2000: Biografia

ROSA NEPOMUCENO, Jornalista e escritora radicada no Rio de Janeiro há 35 anos. É autora de ‘Música Caipira da Roça ao Rodeio’ (Ed. 34, Prêmio Clio de História da Academia Paulistana de História em 2000), ‘Viagem ao fabuloso mundo das especiarias ‘(Ed. José Olympio, 2001), ‘O Brasil na rota das especiarias’(Ed. José Olympio, 2003), ‘O Jardim de D. João’ (Ed. Casa da Palavra, 2007) e ‘Um Fio de Azeite’ (Eds. SENAC e Casa da Palavra, 2010). Especializou-se em gastronomia e condimentos, é consultora de empresas dessa área e colabora com revistas especializadas.Membro Correspondente da ABL.

Page 211: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

209Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

RUBENS RODRIGUES TORRES... NO CENTENÁRIO DE BOTUCATU Salve Botucatu, cidade dos meus amores; terra de meus pais; berço

de meus filhos; minha terra. “Em todos os tempos e para todos os povos foi sublime e sagrado o dulcíssimo nome de pátria. Pátria, terra-pátria! eis o ímã que prende todos os espíritos, o nome que adoram todos os corações. Rendemos-lhe o mais lídimo dos cultos - o culto da consciência. Devotamos-lhe o mais constante dos amores - o amor-próprio. Não sei que encanto tem para nós este fragmento de solo onde vertemos a primeira lágrima, e este pedaço de céu d’donde bebemos a primeira luz. Não sei que enlevo nos despertam esses lares onde tentamos os primeiros passos, e esses lugares onde balbuciamos as primeiras preces. Não sei que emoção, que inefável e suavíssima emoção - ora alegre como a esperança - ora melancólica como a saudade nos comunicam magicamente estes sítios, que abrigaram o nosso berço ou que abrigam as cinzas de nossos pais. Parece que os seus átomos se distendem por nossos ossos, que a sua mesma selva circula por nossas veias, que seu mesmo calor sustenta a nossa vida; parece que o granito da sua história compõe o nosso caráter, e que até o disco de seus astros resplende em nossas faculdades; parece que das suas entranhas irrompe a nossa existência; que no seu seio mergulha a raiz do nosso ser. E assim identificados com a pátria, unidos à pátria como a alma ao corpo, repetimos sentidamente, entusiasticamente, esta interrogação de BYRON : “ Não fazem estes céus, águas e serras, uma parte de mim, e eu parte delas?” Desejando falar, nesta oportunidade, sobre o amor ao torrão natal, fui encontrar a melhor expressão desse sentimento nas palavras do grande orador português ALVES MENDES, que tomei a liberdade de agora repetir:“Exatidão de conceito; precisão de forma; delicadeza de enunciação.” Sublime é o sentimento do amor à pátria. Nenhum outro eu conheço que possa mais comover peitos sensíveis, excitar palpitações mais doces,

Page 212: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras210produzir lágrimas mais ternas e provocar arroubos de maior entusiasmo. Mas, este amor não tem a simplicidade que parece aparentar. É ele ao contrário, bastante complexo. Atualizando conceito de Joaquim Manoel de Macedo, pode-se dizer que há nesse santo amor uma escala ascendente, que vai do lar doméstico à cidade, da cidade ao município, do município à Comarca, da Comarca ao Estado e do Estado à Nação: ama-se o todo porque se ama cada uma de suas partes. Nós botucatuenses, ligados indestrutivelmente à terra do nascimento, podemos afirmar que amamos o Brasil porque queremos bem a São Paulo e queremos bem a São Paulo porque estamos sempre apaixonados por Botucatu. Outras terras por certo podem existir boas, belas e dadivosas. Nenhu-ma haver, porém, melhor, mais bela e mais dadivosa do que a de Botucatu. Repito com GONÇALVES DIAS : “Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorgeiam, Não gorgeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques tem mais vida, Nossa vida mais amores”. Cem anos faz que o município de Botucatu foi criado. Um século. Mas, um século pouco representa na vida das cidades, fadadas a perdurarem pelos séculos em fora.Botucatu é ainda uma cidade menina, tem muito a desenvolver, tem muito a crescer e tem muito, também, a esperar do trabalho e da dedicação de seus filhos.Entretanto, a efeméride de hoje é grandiosa e aqui encontramos para comemorá-la. A cidade está em festa. Os botucatuenses se rejubilam. O mo-mento é propício às evocações históricas e às recordações a que a saudade dá colorido.Conta a história que, vindos de Sorocaba, Tietê e Itapetininga, os pri-meiros botucatuenses abriram uma clareira na mataria inclemente, na região de Ybiticatu, e plantaram uma pequena povoação no alto da serra.A povoação cresceu e foi, mais tarde, erigida em freguesia com a de-nominação de Nossa Senhora das Dores de Cima da Serra. Já com o nome de Botucatu, foi o município criado a 14 de abril de 1855, e, em seguida, a sede respectiva foi elevada à categoria de cidade.

Page 213: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

211Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasAtraídos pela fertilidade da terra nova, outros elementos demandaram Botucatu e a mata virgem foi sendo derrubada e queimada, cedendo lugar às vastas plantações de café, o célebre café amarelo - café de Botucatu.Assim, as encostas serranas cobriram-se de extensos cafezais, que,

enfileirados como soldados em dia de parada (velha imagem descritiva, que me pareceu tão nova ao vê-la usada por meu filho em recente descrição...), passaram a servir de base à economia municipal.O progresso de Botucatu no entanto, não adveiu apenas das fazendas abertas, mas também das atividades industriais e comerciais que aqui se desenvolveram. E estas foram desempenhadas quase sempre por elementos estrangeiros, em sua maioria naturais da grande e velha Itália. A eles que, radicados em nosso meio e mais bairristas de que nós mesmos, demonstrando excepcional capacidade de trabalho e incrível visão realizadora, se constitui-ram nos principais artífices do engrandecimento desta terra, não posso deixar de prestar agora nas minhas homenagens. Quase todos esses homens são hoje desaparecidos, mas as suas obras aqui ficaram atestando seus méritos e seus filhos também aqui permanecem enriquecendo a sociedade botucatuense.Cria-se, logo mais, a Comarca de Botucatu, e a justiça, distribuida no local, dá à cidade novo impulso progressista.

Aproximando-se o fim do século passado, chegam ao alto da serra os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, possibilitando melhor escoamento para a produção municipal.Criado, também, o Bispado de Botucatu, observa-se a sensível projeção da cidade no cenário estadual, estendida a sua influência moral e espiritual sobre grande zona territorial do Estado.Instala-se, em seguida, a Escola Normal de Botucatu, hoje Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida”, marco indelével e imperecível na ascendência citadina, “ meiga Escola na grande via-láctea, que ilumina o caminho do bem, és estrela tão viva que penso, outra igual este estado não tem” (Do Hino à Escola Normal) Talvez tenha sido este o melhor serviço prestado pela nossa cidade ao Estado e à Nação. Sem egoísmos e sem restrições, os botucatuenses se espa-lharam pelo Estado, difundindo conhecimentos e criando novas cidades. E chega Botucatu, por esta forma ao mais adiantado estágio de seu crescimento,

Page 214: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras212passando a constituir verdadeira “célula mater” da alta e média Sorocabana.De resto, pode-se bem dizer que Botucatu é atualmente uma perfeita colmeia, onde todos os botucatuenses, de nascimento e de adoção, dão o melhor de seus esforços para o engrandecimento da comunidade. Entre estes, não é possível destacar nomes, sob pena de incorrer-se em injustificáveis omissões. Apesar deste risco, porém, peço vênia à assembléia para pôr em relevo um nome. Trata-se do nome de um botucatuense que tem ido até ao sacrifício pessoal para servir a esta terra; do nome de um homem que tem dado a Botucatu o máximo que a cidade poderia aspirar de um dirigente; do nome de um batalhador que tem se revelado o maior administrador que a cidade já teve, do nome daquele que tanto tem para o abrilhantamento desta festa, do nome do Prefeito do Primeiro Centenário: Emílio Peduti.Feliz é a nossa terra. Há aqui superabundância do bem e, consequen-temente, aqui não vicejará o mal.Salve Botucatu, cidade dos meus amores; terra de meus pais; berço de meus filhos; minha terra.Membro Efetivo da ABL, Cadeira nº 14, Patrono: Manuel Bandeira.

Botucatu, 14 de abril de 1955Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 215: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

213Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

RUTH MARIANNOO SIMBOLISMO NO POEMA DUAS ALMAS DE ALCEU WAMOSYAntes de fazer a minha leitura do poema, ocorre-me lembrar a presença da Escola Simbolista na literatura brasileira.Apareceu no final do século XIX, quando o romantismo ditava os cânones da construção literária, como uma voz negativista ao realismo buscado pelos poetas desse tempo, bem como oposição à frieza medida do Parnasianismo.Confirma o retorno à Natureza professado pelo Romantismo, privilegia a paisagem, enfatiza-lhe os tons, a comunhão entre os seres do Universo e a natureza. O poeta simbolista é tocado pelo êxtase diante do mistério da Criação, explora as profundezas do subconsciente, a linguagem onírica, as imagens dos sonhos. Para expressar seus pensamentos, suas impressões, a

reflexão sobre a alma das coisas, suas descobertas, se serve dos símbolos, das metáforas que os explicam. Estabelecem as relações correspondentes. Assim os poetas procuram nos comunicar, fazer entender a verdade de suas intenções, de seus sentimentos e emoções. Procuram criar, em nós, a visão seja de uma presença, seja de uma ausência.Dominados por impulsos estéticos semelhantes, surgem, nesse entarde-cer do século XIX, em pintura, o impressionismo com Monet e seu Amanhecer luxuriante de luz na tela “Impression, soleil, levant”; na música são notáveis as inovações de Debussy com suas composições ponteístas.Passo, agora, a fazer a minha análise dos elementos simbólicos do poema: O autor, Alceu Wamosy nasceu no Rio Grande do Sul, em 1895, vindo a falecer em 1923. No poema “Duas Almas”, vamos encontrar as pegadas da inspiração simbolista, conforme foi mencionado no início deste trabalho.A ação da poesia se passa no tempo da consciência, na temporalidade, o que significa dizer, numa realidade psicológica que não tem nada com o tempo do relógio. É o tempo da atividade espiritual, do devaneio do qual não fixamos os limites. Ele vem imprevistamente e, imprevistamente, se esvai.

Page 216: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras214É nessas condições que o poema oferece a sua realidade. Ela está na consciência do autor:“Ó tu que vens de longe, ó tu que vens cansada, entra, e sob este teto encontrarás carinho.Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.Vives sozinha sempre e nunca foste amada...” . . .“... e a minha alcova (seu íntimo, seu interior) tem a tepidez de um ninho.Entra, ao menos até que as curvas do caminho se banhem no esplendor nascente da alvorada.” Estes versos descrevem um novo estado de sua vida interior, o renas-cer de uma outra paisagem envolvida em luz do sol, dourada: “ ... até que as curvas do caminho se banhem no esplendor ...”Temos, aqui, a expressão de um desejo, de um sonho. A alma é invocada, chamada e não se sabe de onde, a não ser que ela “vem de longe”, de algum espaço indeterminado. Pede que ela entre: Isto é, que habite sua solidão: “... entra, sob este teto encontrarás carinho”. É o desejo de ter alguém para amar: “Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho.Vives sozinha sempre e nunca foste amada.”São duas almas solitárias e vazias de afeto. Não tiveram a vivência do amor.Na segunda estrofe se depreende a metáfora da idade que está passando.“A neve (cabelos brancos) anda a branquear lividamente a estrada” (a estrada da vida).Entretanto, ainda no coração do poeta o calor da juventude, a busca do afeto, do carinho que o verso esconde: “E a minha alcova tem a tepidez de um ninho”. A alcova é o interior da casa, agasalha, protege, conforta.Encontramos a expressão da plenitude desse encontro:“... até que as curvas do caminho se banhem no esplendor nascente da alvorada.” Alvorada, começo de um novo dia, simbolizando o início de uma vida renascida naquela experiência de amorE amanhã quando a luz do Sol dourar radiosaEssa estrada sem fim, horrenda e nuaPodes partir de novo, ó nômade formosa.Já não serei tão só, nem irás sozinha:Há de ficar comigo uma saudade tua...Hás de levar contigo uma saudade minha...Temos aqui as duas últimas estrofes do soneto de Alceu Wamosy. Esse

Page 217: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

215Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasmomento de devaneio trouxe alento e bem-estar ao coração do poeta. Então aquela que “veio de longe” agora pode partir, isto é, ele não precisa mais sonhar. Uma luz entrou em sua vida: “ ... amanhã quando a luz do Sol dourar radiosa”. Ela pode partir. Sua imagem ficou na memória. Ficará a saudade daquele momento, que teve seu final com o despertar da temporalidade que tomava o campo da consciência para penetrar no tempo real. No entanto, as duas almas hão de ficar marcadas pela experiência do amor, essa marca será a saudade no sentimento das duas.

Da emoção vivida reciprocamente pelas duas almas, ficará uma saudade para preencher o vazio daquelas vidas solitárias:“Já não serei tão só, nem serás tão sozinha ...” É a evocação contínua de uma atividade espiritual vivida, que se repete.Membro Correspondente da ABL.

Colaboração de Maria da Glória Dinucci Venditto

Page 218: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras216

SEBASTIÃO DA ROCHA LIMACULTIVEMOS NOSSOS JARDINSDepois de inúmeros percalços pela vida afora, Cândido chega à conclu-

são de que devemos cultivar nossos jardins. Com essa frase, finaliza Voltaire a sua novela –“CÂNDIDO OU O OTIMISTA”, uma tremenda sátira contra a filosofia uma harmonia preestabelecida de Leibnitz. Ao cultivar o seu jardim, deixava o personagem criado por Voltaire, para traz, todas as suas desventuras. E sentia-se feliz ao cultivar o seu jardim, ao curvar-se para tratar das flores que esplendiam pelos canteiros, numa variedade caleidoscópica de cores exuberantes. Pareceu-me verdadeira falta de senso o que uma senhora, que se achava a cuidar do jardim de sua casa, me falou:- De que conversa com as flores longamente. Ora, somente quem tem um jardim, por modesto que seja, e o cultiva com devoção, já teve experiências como as daquela senhora... Esta planta me fala de sicrano, esta outra de uma parente distante, aquela roseira me relembra uma pessoa querida, acolá um craveiro, todo rubro, diz-me coisas de uma bela cidadezinha nas margens do Tietê e de sua boa gente.

E como é repousante o aconchego das flores... A um amigo que mora em Belo Horizonte, manifestei meu encanto pelo meu pequenino jardim: “ tenho distraído extraordinariamente com o jardim aqui da casa. O quintal estava dividido em jardim, galinheiro e horta... pois o jardim vai avançando para o lado da horta, e as plantas ornamentais vão ocupando aos poucos os lugares das hortaliças. Junto aos muros, os hibiscos montam sentinelas com flores coloridas nas pontas das baionetas; debaixo de um estaleiro de maracujá, as samambaias verdejantes atapizam o chão; e na divisa entre o galinheiro e o jardim, as roseiras trepadeiras pendem seus galhos oferecendo-nos lindos ramalhetes de rosas brancas, de rosas vermelhas...E quem cultiva seu jardim dará razão a Afonso Schmidt: “A jardinagem, por pouquinho que seja, clareia a inteligência, desanuvia o espírito, enrijece o ânimo, e alevanta o coração.Um homem que cultiva o seu canteiro não se parece com outro homem que não se entrega a esse exercício de belezas.”

Page 219: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

217Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasFerreira de Castro que viveu longo tempo nas matas do Amazonas, entre seringueiros, atirado ali por uns parentes que o consideravam indesejável, não pôs termo à vida, tal era o sofrimento, porque a Natureza vegetal lhe dava in-centivos para viver, a Natureza vegetal com seus insonoros diálogos é que nos preservou o famoso romancista de “A SELVA”, traduzido em muitas línguas.Topamos na Bíblia com inúmeras referências a flores e plantas, e no Sermão da Montanha lá está uma comparação divina: “E para que vos preo-cupareis com o vestuário? Considerai os lírios dos campos, como crescem;

não trabalham, nem fiam. Digo-vos, porém, nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles”.O lírio a que se refere Jesus era uma flor que vicejava nos extensos vales da Palestina e cultivado nos jardins, de um perfume semelhante a mirra. Segundo alguns, a palavra lírio, nos textos sagrados, se refere a uma grande

classe de flores parecidas com o lírio – a tulipa, a Íris, o jacinto, a palma de Santa Rita e outras.É a flor que nos encanta a vida, não podia, de maneira alguma, de ser também cultivada por esse extraordinário jardineiro dos sentimentos, que é o Poeta :“As violetas são com certeza as ametistas dos jardineiros.” Luiz Gui-marães Filho“As rosas, irmãs, na terra, das estrelas, são mais lindas nos olhos que nas mãos” Álvaro Moreira.“A vida é um milagre,Cada flor,Com sua forma, sua cor, seu aroma,Cada flor é um milagre.” Manuel Bandeira.Quando Platão resolveu fundar sua escola de filosofia, colocou-a no centro de um jardim e, em homenagem ao herói Academus e daí a origem de Academia.Nesse jardim, viveu Platão com seus discípulos. E ali surgiram grandes

primores da filosofia o “Banquete”, “Ménon”, “Fédon” e muitos outros. No fascinante setor da mitologia, descobrimos o famoso Jardim das Hespérides, famoso principalmente pelas suas macieiras de frutos de ouro. Hespérides, filhas de Héspero, possuidoras dos jardins de valiosas maçãs de ouro.

No meu pequenino jardim, quando me indagam o nome de uma flor, que exibe graciosamente sua cor viva, de pétalas artisticamente feitas, a perfumar o ambiente, com esse condão de nos fazer esquecer tristezas e contrariedades, e que não sei responder prontamente, às vezes por esquecimento, e outras por ignorância, sinto-me envergonhado e pequenino. Mas, tenho a consolação de me livrar de algum jardineiro “científico”, como aquele que arreliou um

Page 220: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras218modesto admirador das flores. Quando este mostrava entusiasmo – veja que linda palma de Santa Rita; vinha o outro de dedo em riste – não é palma de Santa Rita e sim gladíolo; e acolá está um belo cachimbo”, e logo o cientista atalhava – não é cachimbo é gloxínia; e que tal aquela açafate? – Ora, meu amigo, não é açafate –trata-se de alyssum. Até Boca de Leão mudou de nome – e vejam só no que deu – Majus Maximum!A erudição muitas vezes estraga o encanto poético da vida, da vida simples que é mais agradável de ser vivida. Dessa vida que é um milagre e que cada flor, com sua forma, sua cor, seu aroma é um milagre.

: Biografia

ROCHA LIMA, Sebastião da Rocha Lima, natural de Alambari, SP., Filho de José e Escolástica Rocha Lima. Foi casado com a Profa. Evan Ro-drigues Alves Rocha Lima, da tradição de nossa cidade. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar “Dr. Cardoso de Almeida” e prosseguiu-os nas Escolas Reunidas de Piramboia, para onde se transferiram seus pais.Tornou-se na juventude um autodidata autêntico, o que lhe valeu para os anos em fora, a grande e profunda cultura humanística que lhe aureolou o título de intelectual. Funcionário da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, na Chefia da 3ª Divisão em Botucatu, e no seio da grande família ferroviária, gozou da legitimidade de grandes amigos.Sebastião Rocha Lima foi grande ensaísta, prosador, crítico literário e cronista. Colaborou em grandes revistas e jornais, quer do interior, da capital, do Rio de Janeiro e de Portugal. Destacamos aqui, alguns desses nomes: de São Paulo: “Unitas”, “O Expoente”, “Gazeta do Braz”, “Gazeta Magazine” de Santos; do Exterior: “Correio de Portugal”, “Revista de Guimarães”, “O Mundo Literário” de Lisboa, “Boletim das Edições Atlântida” de Coimbra. No Rio de Janeiro, colaborou na grande revista “Carioca”.Foi assíduo colaborador e correspondente de “Ilustração Nossa Estra-da”, órgão da família sorocabana. O interior recebeu suas preciosas colabo-rações através da “Gazeta” e “Suplemento Literário” de Limeira. A imprensa local pôde contar sempre com suas colaborações através do “Correio de Botucatu” (desde 1921), “Folha de Botucatu”, “Jornal de Botucatu”, “A Gazeta de Botucatu”.Teve atuação destacada à frente do Centro Cultural de Botucatu. Foi quem iniciou a organização da Biblioteca da entidade que, após 70 anos, ainda perdura. Missivista, manteve intensa correspondência com escritores

Page 221: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

219Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasde todo o Brasil, em toda a América Latina e Europa.Sebastião da Rocha Lima foi membro-fundador da Academia Botuca-tuense de Letras, onde ocupou a cadeira 14, cujo patrono é Manuel Bandeira. Pertenceu à União Brasileira de Escritores - secção São Paulo.

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 222: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras220

SEBASTIÃO DE ALMEIDA PINTO RETALHO DA HISTÓRIA BOTUCATUENSE Dizem os estudiosos e historiadores que, em 1766, o barbudo e tru-culento Simão Barbosa Franco, fundando a freguesia de Nossa Senhora das Dores de Cima da Serra, plantou o marco inicial da nossa querida cidade. Um período longo de obscurantismo caiu sobre a vida do lugarejo, que, em 1779, tinha apenas 7 fogos ou casas, com 48 moradores, incluindo-se os

chefes de família, suas mulheres, filhos, agregados e escravos. A fazenda dos Jesuítas, no Santo Inácio, era muito mais importante.Em 1835, com o aparecimento por aqui, do sertanista Joaquim Costa, que resolveu POSSEAR o Ribeirão que ficou conhecido como “dos Costas”, hoje Ribeirão Lava-pés, é que começou de fato a crescer o burgo sertanejo. Costa e sua gente construíram algumas casas, sem alinhamento, no local onde é a atual Praça Coronel Moura. Em 1843, surgiu um litígio, questões de terra, entre Costa e o Capitão José Gomes Pinheiro, fazendeiro na região, terminando a questão por um acordo. O Cap. José Gomes Pinheiro, de acordo com o combinado, doou os terrenos em causa, para o patrimônio de uma freguesia que seria fundada, sob o Orago de Sant’Ana, numa delicada homenagem a sua Exma. esposa, Da. Anna Florisbela Machado Pinheiro. Esta freguesia foi elevada a Distrito em 1846 e absorveu, logo, a antiga freguesia de Nossa Senhora das Dores de Cima da Serra.Em 14 de abril de 1855, a freguesia de Sant’Ana foi elevada a cate-goria de Vila, cujo centenário estamos comemorando (1955). Em 1859, a antiga paróquia de Sant’Ana teve o seu primeiro vigário. Foi ele o Padre Joaquim Gonçalves Pacheco, que realizou o primeiro batizado na antiga Matriz, pequena igreja posteriormente demolida e depois reconstruída no alto da cidade (já demolida também). Nessa igreja, como era de costume naquele tempo, foram feitos vários sepultamentos.Em 1866, Botucatu, foi elevada à Comarca, separando-se da de Itapetininga, da qual era Termo. Em 1876, pela Lei n. 18 de 20 de mar-ço daquele ano, a vila foi elevada à cidade, com todas as suas honras e privilégios. A velha Sant’Ana de Botucatu, de então para cá, continuou

Page 223: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

221Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrasno ritmo ascendente, ininterrupto, de progresso e civilização. Segundo um velho recenceamento, existente nos arquivos do Estado, em 1886 a cidade já contava com 10.000 habitantes. A meu ver, essa população devia ser do município e não da cidade.A cidade cresceu, sua gente civilizou-se. Mas o espírito dos pioneiros ainda continua a dominar, impulsionando a terra dos bons ares para os seus altos destinos.: Biografia

SEBASTIÃO DE ALMEIDA PINTO, Nascido aos 25/09/1902, filho de Sebastião Pinto Conceição e Amélia Paes de Almeida Conceição, de tradicionais famílias botucatuenses, fundadoras e pioneiras desta cidade.

Formado Professor pela Escola Normal Oficial de Botucatu, ali exerceu os cargos de Professor de Biologia, secretário e Diretor desse estabelecimento de ensino. Formado em Farmácia, pela Escola de Pin-damonhangaba, em 1919.Formado Médico, dedicou quase cinquenta anos do seu profícuo trabalho à Santa Casa de Misericórdia Botucatuense, onde foi durante muito tempo o responsável pela enfermaria de homens daquele nosocômio.Jornalista, um dos primeiros membros da Academia Paulista de Imprensa, publicou trabalhos durante toda a sua existência, em vários jor-nais desta cidade, no Pulso (órgão noticioso da APM) e jornais da região. Através desses relatos, pode-se conhecer praticamente toda a história de Botucatu e suas famílias.Historiador, publicou dois livros significativos no estudo da for-mação dos botucatuenses. “No Velho Botucatu” e “Botucatu no Setor Sul”, onde relata episódios da Revolução de 1932, da qual participou na qualidade de Tenente-Médico do Batalhão Universitário Fernão Salles.Por seus méritos como historiador e folclorista, foi condecorado com as comendas: “Vital Brazil”, do Governo do Estado de São Paulo,

“Brigadeiro Couto de Magalhães”, da Sociedade Geográfica Brasileira, e “Veteranos da Revolução de 1932”, da Sociedade MMDC.Membro fundador da Academia Botucatuense de Letras, cuja Ca-deira nº 2, tem por patrono Alceu Maynard de Araújo, que foi seu aluno e grande amigo.Professor Emérito do Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida” e Instituto Santa Marcelina.

Page 224: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras222Fundador do Aero Clube de Botucatu, que lhe prestou significativa homenagem durante seus funerais, com aviões sobrevoando o séquito.Vereador por muitos anos, na Câmara Municipal de Botucatu, onde exerceu sua Presidência.Presidente de Honra do Teatro Amador da Escola Normal de Botucatu e um dos homens que erigiram o prédio próprio da instituição.Sócio-fundador do Centro Cultural de Botucatu e do Botucatu Tênis--Clube, onde exerceu durante muito tempo a função de médico. Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 225: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

223Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

TRAJANO PUPO JUNIOR CABELOS BRANCOS Com que carinhoconstantemente alinhoesta minha cabeleira branca,Cabeleira onde cada fioque se branquejou ao passar dos anos,marcou em minha vida, alguma cousa. Cabelos brancos,sinal de alguém que já viveu a vida,com horas amargas, como tanta gente,mas, que viveu, também, horas felizes. Cabelos brancos, sinal de mocidadeque ficou lá longe,cantando uma canção algumas vezes,vezes outras acalentando um sonho. Cabelos brancos, sinal de uma vidaque se viveu, enfim.Sonhando, amando, sem levar em conta,o caminhar do tempo. Quem não sabe envelhecer sorrindo,querendo bem os seus cabelos brancos.Quem não sabe envelhecer amando,Quem não sabe envelhecer sonhando,acabará, por certo,por envelhecer chorando.

Page 226: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras224: Biografia

TRAJANO PUPO JUNIOR nasceu em Piracicaba (SP) aos 22 de maio de 1904 e faleceu em Botucatu em 14 de julho de 1987. Filho de Trajano Pupo e Elisa Diehi Pupo. Diplomado em Farmácia e Odontologia pela Universidade de São Paulo - USP - com posterior especialização em Análises Clínicas pelo Instituto de Higiene. Ex-Professor de Química do antigo Ginásio Diocesano “Nossa Senhora de Lourdes” de Botucatu, Ex-Professor da Escola Normal Oficial de Botucatu, Ex-Assistente Voluntário do Serviço de Microbiologia do Dispensário “Clemente Ferreira” de São Paulo. Ex-Estagiário do Serviço de Análises Clínicas do Prof. Carini (Laboratório Paulista de Biologia) e Ex-estagiário do Laboratório de Análises do Prof. Ficker. Especialista em Análises Clínicas pela Sociedade Nacional de Patologia Clinica. O acadêmico Trajano Pupo Jr., sempre participou ativamente de todos os eventos culturais de Botucatu e região. Seus reais dotes poéticos fizeram-no dono de vastíssima cultura literária. Foi ardoroso cultor da música de Angelino de Oliveira, de quem foi amigo. Deixou livros prontos para o prelo, sobre poesia. Colaborou intensamente na imprensa botucatuense. Os jornais “Jornal de Botucatu”, “Correio de Botucatu”, “Folha de Botucatu”, “Gazeta de Botucatu”, entre outros, estampam o seu fecundo trabalho poético.Membro Efetivo da ABL, Cadeira nº 21, Patrono: Vicente de Carvalho.

Page 227: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

225Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

VALDIR GONZALEZ PAIXÃO JUNIOR SOLA SCRIPTURAFoi há pouco, numa prosa, dessas que do nada vai se estendendo e acaba por nos deixar com a mente entretida. Estava eu com um jovem doutor e professor trocando algumas ideias sobre o escrever. É que meu amigo das lides magisteriais não se conforma com o fato de ter gente que escreve por atacado. O que, de fato, dele não posso discordar.Tenho comigo que escrever é exercício de fermentação. Boa fermen-tação não acontece da noite para o dia. Assim são as ideias, para que sejam boas, necessitam ser fermentadas nos odres do nosso pensamento. Meditatio: escrever como fruto da fermentação de ideias e essas quanto mais curtidas melhores nos darão dos seus frutos. Sinceramente, acho que há um excesso de trash literário no mercado. Quando a literatura subjaz à lógica consumista-mercadológica do tempo presente, o que nos resta são volumes de publicações e não produção de conhecimentos. As produções de ideias obedecem a uma lógica não econômica, nascem de uma exigência estética: ideias são “arte-sanais”. Assim desejava Neruda, que sua poesia fosse uma obra de arte. Dizia o poeta: “desejava sempre que minha poesia fosse artesanal, antilivresca, porque até os sonhos nascem das mãos”. Escritor, artesão que talha no preciso golpe de seu cinzel-caneta sua obra de arte e de vida. Digo de vida porque o próprio Deus virou artista e

escreveu com sua própria vida o que significa “ter vida”: “... e a palavra se fez carne e habitou entre nós...”. Há uma fagulha do Deus-artista em todo poeta, em todo escritor.Ideias são como filhas que na fertilidade da vida se dá à luz. A boa literatura não nasce numa linha de produção, mas num exercício obstétrico. Maiêutica: ideias que foram gestadas no útero do pensamento e que, no devido tempo, metamorfosearam-se em escritura. Toda escritura é um parir de ideias.É por isso que o bom escritor não é aquele que muito escreve: escrever é libido, não compulsão. O bom escritor é aquele que bem gesta e concebe as suas ideias. Não seria por isso – e não por dever de ofício – que sempre

Page 228: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras226retomamos os inesquecíveis clássicos literários? Posso discordar dos mesmos, mas não posso negar-lhes a fermentação de ideias. Que me desculpem os meus leitores a maluquice, mas, tenho comigo que todo tecido literário só faz sentido como meio. A boa literatura tem uma sacrossanta virtude de mediação. Ela nos vale é pelo que não diz, pelo que deixou em suspenso, pelas viagens que nos despertou, pelos mundos que nos fez percorrer... pela fermentação que em nós proporcionou. Toda escritura deveria valer mais pelas entrelinhas do que por suas linhas (a sabedoria da Adélia Prado nos ensina que “as palavras só contam o que se sabe”). É que as linhas descansam no papel, as entrelinhas armam suas redes em nosso pensamento. As linhas vão a óbito, as ideias colocam seus pés na eternidade (frustração da Inquisição: queimam-se os livros, mas não se mata o pensamento, nem a liberdade de pensar!). Entendo o que a Lispector quis trazer à tona quando disse: “Tudo acaba mas o que te escrevo continua. O que é bom, muito bom. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas”.É isto! Nas entrelinhas se encontra o melhor daquilo que sentimos com a imaginação. Foi o Fernando Pessoa que disse que escrever é coisa da imaginação, não do coração: “Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração”.Vou assim, na fermentação de minhas ideias, brincando com as pala-vras, esperando que num dia qualquer estas se façam tecido, se encarnem como escritura. Não quero livro, almejo escritura [há algo de nostálgico na escritura que não se encontra no livro e que desperta em mim saudades não sei do que e que sempre me escapa de explicação].Assim vou, usando “lispectorianamente” a palavra como isca: “Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa se escreveu. Uma vez que se pegou a entre-linha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí, cessa a analogia: a não palavra, ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente”.É professor, você tinha razão!

Page 229: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

227Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras: Biografia

VALDIR GONZALEZ PAIXÃO JUNIOR, Nasci em São Miguel Paulista no terceiro dia do mês de dezembro de 1966. Ainda criança, cheguei a esta Terra de bons ares e boas escolas e fiz da Amando, em trecho do Lava--pés, a minha moradia, em casa de avó materna. Ali, pisei ruas, teci sonhos e construí amizades, vendo o tempo passar e a vida amadurecer.

De Botucatu não sou visitante, sou filho. Fiz meus estudos primário e ginasial na “Rafael de Moura Campos” e na recém-inaugurada escola “Prof. Pedro Torres”, de onde trago memórias e agradecimentos sem fim aos mes-tres que colaboraram com minha formação. Passei pela Escola Técnica de Comércio “Nossa Senhora de Lourdes” e, no princípio de minha juventude, daqui parti para os meus estudos superiores.

Teólogo por prazer, filósofo por opção, pedagogo por devoção, assim foi se construindo meu percurso acadêmico e, foi assim também, que aprendi a amar a Deus, a sabedoria e a educação.Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista de Arara-quara. Fui professor no Ensino Fundamental e Médio, em escolas públicas e privadas, orientador pedagógico na Secretaria Municipal de Educação de Botucatu e coordenador pedagógico na EE Francisco Guedelha de Botucatu. Professor na FATEC – Botucatu e UNIFAC, onde exerço, também, a função de coordenador do Curso de Pedagogia. Supervisor de Ensino da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo e, atualmente, nomeado Dirigente Regional de Ensino.Membro da Cadeira n° 25 da Academia Botucatuense de Letras, que leva o nome da escritora botucatuense Maria Lúcia Dal Farra, por quem cultivo grande estima e admiração. Tenho nos meus filhos, na minha esposa e na minha devoção minha razão de viver.

Page 230: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras228

VANICE DE ANDRADE CAMARGO ALVES Página escrita para ser lida na inauguração da Academia Botucatuense de Letras, no ano de 1973. Com permissão do Sr. Presidente da Academia Botucatuense de Letras, Dr. Antônio Gabriel Marão e do Presidente da Câmara Municipal de BotucatuNo tumulto das coisas plantareis a vida e ela subsistirá. Não à margem, mas, dentro da luta de nossos dias, assim nasce hoje a Academia Botucatuense de Letras.Já se disse: “É preciso ordenar o caos. Não há razão para buscardes a Verdade se ela não vos atrai”. E nós aqui nos reunimos porque pretendemos amar a Verdade pela verdade e a Beleza pela sua própria essência.Os homens que conheceram a Vida nas fontes de seu nascimento não

aspiraram à recompensa e nem à gloria porque eram suficientemente fortes para serem livres.Escolhi para vos ler uma página simples com que me apresento a este recinto.Amar a Terra e as pessoas...Botucatu... 1936.Eu estava no vestíbulo da vida e ainda não havia transposto o limiar.Acima, muito céu e abaixo, terra porque essa é a rota dos homens. Casas, pessoas, tudo se confunde. Há tempos deixei a imagem. Só o coração está pulsando contrações de dor e esquecimento até que o amor arrebate, finalmente.Em criança, não, não fui criança. A maturidade surpreendeu-me quando mal a alma sustinha em corpo frágil e as minhas mãos se abaixavam e pega-vam a terra: - Não fujas terra, em ti está a seiva; quando os galhos balançam há perfume no ar, quando os pássaros cantam os livros emudecem. Mas, eu não havia nascido para as auroras e só as sombras descreveriam, daí para a frente, o meu caminho.E eu não vi mais as árvores e nem os homens crescerem. Havia golpes na paz com que as coisas amadureciam.Então ouvi o cântico da Vida. E o canto que me embalava era a Poesia.E ela chamava-me para longe e a dor, para perto. Apenas os anos não trouxeram

Page 231: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

229Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letraspara o coração a decrepitude.Ser de novo criança.Amar a terra e as pessoas.

Assim quero ficar me lembrando de ti, Botucatu.

Manhã de InvernoA natureza, caprichosa, ostentaO vestido nevado da estação.E a madrugada fulva e macilenta,Como as manhãs geladas de São João,Faz lembrar velha trêmula e friorentaCom as alvíssimas cãs da cerração,Que do frio cortante se afugentaNo xale escasso da vegetação...Já de vida a manhã vai palpitandoEstrelada de lágrimas de orvalhoComo se cada enxada repicando,Ou cada som monótono do malho,Fosse um toque de sino convidandoA campesina missa do trabalho! Hino a BotucatuÀ cidade que hoje faço minha, no dia em que seu povo lhe entrega sua nova Bandeira e BrasãoSobre a página aberta da História,Desfraldada num cântico audaz,Tua bandeira balouça em sua glória,Descerrando a cortina da paz. Teu Brasão, bem à frente, seguraEssa forte presença do escudo;Que relembra o valor da cultura,Que te fez para a força do estudo.

Page 232: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras230Essas portas abertas e francas,No mural secular da cidade;De azul se tornaram mais brancas;Pelo sonho da hospitalidade.A fulgir, nesse fuso de prata,Pelo ideal de uma paz mais humana,A beleza do amor se desata,Sob a bênção maior de Sant’Ana.Nessa hora de luta e engodos,Tu me inspiras um canto de fé.Vejo os homens saudando-se todos,A brindar teu dourado café.Há uma águia sangrando o teu povo,Da janela do grande porvir;E eu me sinto criança de novo,Pra mais perto de ti me sentir.Se dos ventos do céu, o mais puro,Coroou-te, ó Princesa da Serra,Nele sobes aos céus do futuro.Salve!Ó Botucatu, minha terra!

Jornal de Botucatu- 23/11/1983: Biografia

VANICE DE ANDRADE CAMARGO ALVES, “Vanice é uma figura romântica, como o seu nome, que sugere vento e meiguice. Seu corpo fino já diz de sua leveza e da sua suavidade. Mas seus olhos finalmente dizem tudo. Não só da leveza e da suavidade, mas da inquietação das descobertas e dos atropelos do pensamento.Os olhos traduzem toda sua angústia existencial e brilham quando ela diz, com voz baixa, que quer continuar evoluindo eter-namente e que para isso a morte não será uma barreira”(Diário Popular- 26-09-1971).

Page 233: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

231Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasNasceu na cidade de São Paulo, em 5 de maio de 1923.Aos nove anos, publicou os primeiros versos em um jornal paulista. Aos quatorze, tornou-se colaboradora da “Folha de Botucatu”, cidade onde passou a residir, e também escreveu em outros jornais e revistas de outras cidades do interior.Frequentou o Ginásio e o Curso de Normalista na Escola Normal de Botucatu, diplomando-se aos 20 anos, em 1943.Criou e manteve com outros colegas o Programa Literário na Rádio Emissora de Botucatu. Participou da reunião de fundação do Centro Cultural de Botucatu e dos primeiros ensaios para a fundação da Academia Botuca-tuense de Letras. Seu primeiro livro, “Primícias”, foi uma surpresa para ela, que se formava no curso Normal. As amigas da Legião Brasileira de Assistência de Botucatu coletaram seus poemas e lançaram o livro. Publicou poesias na Coletânea de Autores Botucatuenses - “Letras Botucatuenses”. Em 1972, em São Paulo, lançou o livro de poesias “Gesto Humano”.Viúva de Antônio Alves, com o qual teve quatro filhos, vive atualmente na cidade de Botucatu.Membro Correspondente da ABL.

Colaboração de Carmen Sílvia Martin Guimarães

Page 234: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras232

VICENTE MARCHETTI ZIONINOSSAS REMOTAS ORIGENS ECLESIÁSTICASA movimentada história da Igreja Católica em Botucatu comporta vários e interessantes capítulos que, para serem melhor compreendidos, su-põem uma visão retrospectiva de alto nível, capaz de levar o Estudioso aos primórdios da Hierarquia Eclesiástica do Brasil, pesquisada a partir da sua primeira origem portuguesa.Os dados históricos mais remotos sobre os Bispos que regeram a Diocese de Lisboa, a “Felicitas Júlia” no dizer dos Romanos, remontam ao

ano 357 da nossa era. Referem-se a POTÂMIO, (sem outro qualificativo), primeiro Bispo de Lisboa, falecido em 360 (1).Outros nomes só os conhecemos através das “Listas” dos Participantes de Concílios Regionais. Por isso, torna-se quase impossível montar a série completa de todos os Bispos Diocesanos de Lisboa.De personalidade discutida, POTÂMIO – conforme se conclui dos seus escritos – foi de “intocável ortodoxia”, em que pesem outras opiniões que o consideram militante do Arianismo, como Danielou que chegou a escrever:“... desde a esquerda arianizante com Potômio, primeiro Bispo de Lis-boa” (2). Aliás, o historiador eclesiástico B. Lorca, sj, referindo-se à Igreja na Península Ibérica, afirmou: “ Finalmente, convém notar aqui POTÂMIO DE LISBOA, grande defensor do Arianismo na Espanha, antes da invasão dos Visigodos. Dele se conservam alguns Discursos e uma carta a Santo Atanásio” (3).Sabe-se, ademais, que em 1121, o Papa Calixto II (1119-1124), tendo elevado a Diocese de Compostela, na Espanha, à categoria de Arquidiocese Metropolitana, determinou ficasse a de Lisboa sob a sua dependência, na qualidade de sufragânea. Este fato originou o célebre dissídio entre a Sé de Braga, em Portugal, e a Sé Metropolitana de Compostela.Quando, depois de um desastroso domínio sarraceno, Afonso Henrique se tornou Rei de Portugal, vencendo os Mouros em 1147, e sendo, como tal, reconhecido pelo Tratado de Zamorra, a Sé episcopal de Lisboa foi restaurada

Page 235: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

233Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letrase, 250 anos depois, elevada pelo Papa Bonifácio IX (1389-1404), com Bula “In eminentissimae dignitatis” de 10 de Novembro de 1394, à dignidade de Arquidiocese Metropolitana, tendo como território, todas as Terras de Além--Mar, e como sufragâneas, 4 Dioceses no Continente.A descoberta do Brasil, em 1500, aumentou ainda mais a importância da Metrópole, graças à incorporação deste nosso imenso País ao território arquidiocesano de Lisboa.Em consequência, o Arcebispo de Lisboa se tornou, canonicamente, a primeira autoridade eclesiástica do Brasil, dada sua plena jurisdição direta sobre todas as Ilhas e Terras descobertas ou conquistadas pelos portugueses em ultramar.

FUNCHALPreocupado com o sempre maior bem espiritual e material das cristan-dades que se sucediam à ação civilizadora e missionária dos Portugueses, o Papa Leão X (1513 – 1512) decidiu separar do território metropolitano de Lisboa das Terras Ultramarinas, e constituir, com todas elas, uma nova dio-cese sufragânea de Lisboa, com sede episcopal na cidade de Funchal, capital da Ilha da Madeira, através da Bula “Pro Excellenti Praeminetia”, de 12 de Janeiro de 1514.O Brasil se tornou, então, parte integrante do território da nova Diocese, cujo primeiro Bispo (de Funchal) foi Dom Diogo Pinheiro, passando à direta jurisdição dos Bispos diocesanos de Funchal e indiretamente à Metrópole de Lisboa, a cuja Província eclesiástica, Funchal deveu pertencer com todo o seu território, incluído o Brasil.Dom Diogo Pinheiro tornou-se, então, de direito e de fato, cronologica-mente, a Segunda verdadeira Autoridade eclesiástica a exercer plena e direta jurisdição sobre todo o Brasil. Esta situação perdurou até 31 de Janeiro de 1533 (19 anos), até à elevação de Funchal à Arquidiocese, capital de provín-cia, através do Breve Pontifício de Clemente VII (1523-1534). Com a morte do Pontífice, sem que tivessem sido estabelecidos os limites territoriais da recém-criada Arquidiocese de Funchal, seu Sucessor, Paulo III (1534-1549) o fez ao nomear o sucessor de Dom Diogo Pinheiro, a saber, durante o gover-no arquidiocesano de Dom Martinho de Portugal, estendendo os limites da nova Arquidiocese a todos os territórios descobertos ou conquistados pelos portugueses. O Brasil, então, passou a ser, canônica e diretamente, território da Arquidiocese de Funchal pelo tempo de 17 anos.O surto de desenvolvimento previsto para o Brasil, nova colônia portu-guesa na América, a presença de degredados, os imperativos da evangelização dos Índios a exigirem uma atividade apostólico-pastoral ajustada às novas

Page 236: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras234situações, bem como o trabalho dos Escravos vindos da África, levaram a Santa Sé a pensar em novos desmembramentos e em novas Dioceses.Posto que, em 31 de julho de 1550, o Rei de Portugal, Dom João III, já enviara ao Papa Júlio III (1550 – 1555) e ao seu Embaixador em Roma, Balta-zar de Faria, cartas régias sugerindo e solicitando a criação de mais Bispados em terras ultramarinas, a Santa Sé houve por bem desmembrar do território da Arquidiocese de Funchal, em 25 de fevereiro de 1551, todo o território brasileiro, criando a primeira Diocese no Brasil, em São Salvador da Bahia.Poucos meses depois – acontecimento incomum – a Arquidiocese de Funchal baixou, novamente, à condição de simples Bispado sufragâneo de Lisboa em 3 de julho de 1551 e a nova diocese brasileira de São Salvador da Bahia passou a ser novamente sufragânea direta da Arquidiocese de Lisboa, integrando, ao lado de Funchal e das Dioceses continentais de Portugal, a Província Eclesiástica de Lisboa.Dom Pedro Fernandes Sardinha, clérigo da Diocese de Évora e bacharel em teologia, foi o primeiro Bispo Diocesano no Brasil, e a Quarta Autoridade diocesana a exercer jurisdição em nossa Pátria.Com a criação do Bispado da Bahia, começou a primeira Linha gene-alógica de Dioceses Brasileiras, abrangendo todas as que dimanaram dessa mesma fonte, visto como 120 anos depois, a 16 de novembro de 1676, o Papa Inocêncio XI (1676-1689) elevou, através da Bula “ Inter Pastoralis Officii Curas”, a Diocese de Salvador à categoria de Arquidiocese Metropolitana, dela desmembrando, outrossim, as suas duas primeiras sufragâneas : Olinda, em Pernambuco, e São Sebastião, no Rio de Janeiro.Com esta caminhada de certos avanços e recuos, conseguimos nos apro-ximar, lentamente, embora, das nossas primeiras origens histórico-religiosas, pois do desmembramento do território de São Sebastião nasceram as dioceses gêmeas de Mariana e de São Paulo, além das prelazias de Cuiabá e Goiás.No ano seguinte à criação da primeira Diocese no Brasil, o mesmo Ro-mano Pontífice criou a Diocese de São Luís do Maranhão, desmembrando-a de São Salvador, porém subordinando-a diretamente à de agosto de 1677.Esta curiosa situação se manteve até 1827, quando o Papa Leão XII (1823 – 1829), através da Bula “Romanorum Pontificum Vigilantia”, de 5 de julho de 1827, integrou São Luís do Maranhão à Arquidiocese do Salvador na Bahia.Aqui encerro este meu primeiro estudo sobre nossas origens remotas, deixando aberto espaço para o estudo da evolução da vastíssima Diocese de São Paulo, em 1747, então abrangendo parte do Sul de Minas, e todos os Estados do Sul do País: Paraná, Santa Catarina, Rio grande do Sul.

Botucatu, 12 de Março de 1997

Page 237: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

235Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras: Biografia

DOM VICENTE MARCHETTI ZIONI, nasceu em São Paulo, SP, filho de José Zioni e Maria Marchetti Zioni. Realizou os estudos de 1º e 2º graus no Ginásio Nossa Senhora do Carmo e Seminário Menor de Pi-rapora do Bom Jesus, em São Paulo, SP (1919/1928). Filosofia e Teologia no Seminário Maior da Freguesia do Ó, em São Paulo, SP (1929/1933). Licenciatura em Teologia e Direito Canônico, na Pontífica Universidade Gregoriana, em Roma, Itália (1935/1938). Antes do Episcopado : Professor e Reitor do Seminário Central do Ipiranga (1938/1955); Reitor do Seminário e Diretor Administrativo da Faculdade Teológica (1947/1955); Vigário Geral da Arquidiocese (1947/1955); Encarregado das Religiosas (1945/1955); Co--Fundador do Secretariado Nacional da Defesa da Fé (1939/1950); Diretor Arquidiocesano do Apostolado da Oração; Responsável pela Administração dos Seminários da Arquidiocese até 1955. Como Bispo: Bispo Auxiliar de São Paulo (1955/1964); Arcebispo Metropolitano de Botucatu-SP- desde 1968; Fundador da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção; Fundador da Congregação Diocesana das Irmãs Franciscanas da Divina Providência; Fundador do Seminário de Vocações de Adultos santo Cura D’Ars, da Fre-guesia do Ó, em São Paulo; membro das Com. Pré-Conciliares e Concilia-dores do vaticano II que preparam o Decreto “Optatam Totius” e Declaração “Gravissimum Educationis”; Delegado à Conferência Latino-Americana de Medellin; Participante e Presidente da Reunião de FOMEQUE, Na Colombia; Participante do I Congresso Internacional de Vocações Sacerdotais em Roma; Fundador do Seminário Nossa Senhora da Assunção, em Bauru – SP (1965) e do Seminário Complementar João XXIII, em Botucatu (1974); Restaura-dor do Seminário Arquidiocesano São José, de Botucatu (1976); Fundador da revista Cadernos Vocacionais, do “Boletim Pastoral” da Arquidiocese de Botucatu; Diretor do Jornal “A Fé” de Bauru; Membro da Associação dos Jornalistas Católicos.Membro Efetivo da ABL, ocupando a cadeira nº 22, Patrono: Dom Aquino Correia

Colaboração de Olavo Pinheiro Godoy

Page 238: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras236

Page 239: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

237Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

POSFÁCIO José Celso Soares Vieira

“Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,E ao beber nem recordaQue já bebeu na vida,Para quem tudo é novoE imarcescível sempre.” (Fernando Pessoa –Odes de Ricardo Reis)Como num conto de fadas, busquei desvendar os segredos da vida humana em sua complexidade por meio da literatura, que tem sido solidária amiga. Confesso que não perdi, mas ganhei horas e todo o tempo vivido até aqui na leitura de inúmeras obras escritas por grandes artistas da palavra. Nem tudo entendi, nem tudo senti, nem tudo criei, contudo perdoei-me nas próprias limitações. Sim, o leitor é também um criador da obra lida, da qual participa modifi-cando personagens, inovando no enredo, delineando novos clímax,dialogando

e altercando-se, infindáveis vezes, com o escritor – a quem não vê – , quiçá para sugerir-lhe novo final. Impossível? O mundo do Faz de conta contém o condão da magia por meio do qual fugimos da realidade da vida e buscamos ansiosamente a suprarrealidade dos sonhos. Viver é fugir. Que mal há nisso? Não sei se tenho sido um bom leitor, mas de uma coisa estou certo: leio com voracidade.Ler esta coletânea de textos, das mais variadas estruturas e de varie-gados autores, levou-me a imaginar o mundo das letras como um enorme tapete – quem sabe, persa – multicolorido que, em sua urdidura irregular e de diferentes desenhos, conduz seus leitores aos pontos mais distantes e inimagináveis. Cada pedacinho, ao menor toque, se abre sem cerimônia e nos conduz “Por mares nunca de antes navegados...” Clica-se o mouse nos pequenos adereços e uma surpresa se nos aproxima de um novo rito, cativante e envolvente tal qual uma sinfonia que não queremos vê-la terminar, moto contínuo indescritível e contrastante de luz e sombra.Terceira revista literária da ABL, que, nas duas anteriores teve a chan-

Page 240: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras238cela de acadêmicos como Dr. Marão, Dr. Sebastião, Elda Moscogliato, José Antônio Sartori, Arnaldo Reis, Rocha Lima, Armando Delmanto, Cintra, Fadel, Edson Lopes,Leda, Maria Amélia, Maria Helena, Carmen Sílvia, hoje desponta com textos de Klar, Carmem Lúcia, Sebastião Mendes, Valdir Paixão, para citar apenas alguns, sem demérito dos demais. Para os velhos e os novos escritores, o mundo é um grande e imutável espetáculo. Saber beber da água das vertentes da literatura é dessedentar a secura do real e transpassar o limite dos sonhos. E isto está delineado com clareza nesta coletânea.Pois bem, como transportar imagens figurativas reais para o mundo das letras, se a literatura não trabalha com o pictórico, sendo-lhe impossível essa criatividade? Como imagino a beleza de Capitu e a sonsice de Bentinho, em “Dom Casmurro”, de Machado de Assis? Como seria a caravela de Vasco da Gama? Como imaginar as beldades das Nereidas, presente de Vênus aos intrépidos marinheiros portugueses na Ilha dos Amores, em “Os Lusíadas”, de Camões? O mundo não pode ser apenas um espetáculo do qual vemos os rojões riscarem os céus em noites estreladas. Essa imagem real e incandescente pode ser traduzida por palavras de tal forma que o mundo virtual interage com o leitor e lhe provoca a sensação do ver e do sentir esse estranhamento artístico. Posfácio é a advertência que se coloca no fim de um livro. E foi o que me propus fazer ao fechar esta belíssima coletânea da ABL. A leitura diletante dos textos não substitui a função crítica que se lhe deve ser atribuída: Ler sim, mas saber tirar bom proveito de cada linha, de cada palavra. Por trás de um pensamento há sempre uma imagem, diversa para o escritor e para o leitor, porém instigante. Aí reside, talvez, o mistério da arte, o inferno de Dante Alighieri, ou o Auto da Barca da Glória, (do Paraíso) de Gil Vicente. Não vivemos num mundo de contrastes onde tudo busca certa individualidade que se contradiz? Não há um Deus que se opõe ao diabo, o céu ao inferno, o homem à mulher, o mar à terra, o sadio ao doente? E que oníricos pensamentos e imagens fazemos de amor e ódio? A literatura, como a música, a pintura, a escultura etc procura mostrar aos leitores a tentativa da decifração do mistério da vida e da morte. Consegue? Cabe a cada leitor desta coletânea dar o seu veredicto que se constitui no imperscrutável caminho e descaminho da existência.

Page 241: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

239Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras

DIRETORIAS DA ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRASPRIMEIRA DIRETORIA - FUNDAÇÃO: 9 de julho de 1972Períodos: 1973-75, 1975-78, 1978-81, 1981-84, 1984-87PRESIDENTE.............................. Antonio Gabriel Marão1º VICE PRESIDENTE ............. Trajano Pupo Junior2º VICE PRESIDENTE ............. Arnaldo Reis1º SECRETÁRIO ......................... Bahige Fadel2º SECRETÁRIA ......................... Elda Moscogliato1º TESOUREIRO ........................ José Antonio Sartori2º TESOUREIRO ........................ Olavo Godoy/1974 Luiz PeresBIBLIOTECÁRIO ....................... Sebastião Rocha LimaPRIMEIRA DIRETORIA – SEGUNDA FASE21 de maio de 1987Períodos: 1987-90, 1990-93PRESIDENTE.............................. Antonio Gabriel Marão1º VICE -PRESIDENTE .............. Luiz Peres/ 1991 José Celso Soares Vieira2º VICE - PRESIDENTE ............. Olívio Stersa1º SECRETÁRIO ......................... Edson Lopes2º SECRETÁRIA ......................... Elda Moscogliato1º TESOUREIRO ........................ José Antonio Sartori2º TESOUREIRO ........................ Eugênio MonteferranteBIBLIOTECÁRIA ....................... Leda Galvão Avellar PiresSEGUNDA DIRETORIA27 de junho de 1993 Períodos 1993-1996 , 1996 a 1999 PRESIDENTE PERPÉTUO ........ Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE.............................. José Celso Soares Vieira1º VICE - PRESIDENTE ............. Maria José Del Papa Zacharias

Page 242: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras2402º VICE - PRESIDENTE ............. Olívio Stersa1º SECRETÁRIO ......................... Edson Geraldo Luís Lopes2º SECRETÁRIA ......................... Elda Moscogliato1º TESOUREIRO ........................ José Antonio Sartori2º TESOUREIRO ........................ Eugênio MonteferranteBIBLIOTECÁRIO ....................... Leda Galvão Avelar PiresSEGUNDA DIRETORIA – SEGUNDA FASE - Período 1999-2002 PRESIDENTE PERPÉTUO ........ Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE.............................. José Celso Soares Vieira1º VICE - PRESIDENTE ............. Olívio Stersa2º VICE - PRESIDENTE ............. Maria José Del Papa Zacharias1ª SECRETÁRIA ......................... Carmen Sílvia Martin Guimarães2ª SECRETÁRIA ......................... Maria Helena Blasi Trevisani1º TESOUREIRO ........................ José Antonio Sartori2º TESOUREIRO ........................ Eugênio MonteferranteBIBLIOTECÁRIO ....................... Leda Galvão Avelar PiresTERCEIRA DIRETORIA2 de agosto de 2002 Período: 2002 a 2005PRESIDENTE PERPÉTUO ........ Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE HONORÁRIO..... José Celso Soares VieiraPRESIDENTE.............................. Maria Amélia Blasi de Toledo Piza1º VICE - PRESIDENTE ............. Armando Moraes Delmanto2º VICE - PRESIDENTE ............. Newton Colenci1º SECRETÁRIO ......................... Marcos Luciano Corsatto/vaga2º SECRETÁRIA ......................... Leda Galvão de Avelar Pires/vaga1º TESOUREIRO ........................ Olívio Stersa2º TESOUREIRO ........................ Eugênio Monteferrante NetoBIBLIOTECÁRIA........Leda Galvão / Solange Zacharias Rivas Alves/vaga

Page 243: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

241Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasQUARTA DIRETORIA29 de junho de 2005Período: 2005 a 2007PRESIDENTE PERPÉTUO ........ Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE EMÉRITO .......... José Celso Soares VieiraPRESIDENTE.............................. Evanil Pires de Campos1º VICE - PRESIDENTE ............. Newton Colenci2º VICE - PRESIDENTE ............. Antonio Evaldo Klar1º SECRETÁRIO ......................... Maria Amélia B. Toledo Piza2º SECRETÁRIA ......................... Márcia Furrier Guedelha Blasi1º TESOUREIRO ........................ Eugênio Monteferrante Neto2º TESOUREIRO ........................ Olívio Stersa1ª BIBLIOTECÁRIA ................... Leda Galvão A . Pires/vaga 2ª BIBLIOTECÁRIA ................... Carmen Sílvia M. GuimarãesQUINTA DIRETORIA - 29 de junho de 2007Período: 2007 a 2009PRESIDENTE PERPÉTUO ........ Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE EMÉRITO .......... José Celso Soares VieiraPRESIDENTE.............................. Newton Colenci1º VICE - PRESIDENTE ............. Evanil Pires de Campos2º VICE - PRESIDENTE ............. Antônio Evaldo Klar1º SECRETÁRIA ......................... Carmen Sílvia Martin Guimarães2º SECRETÁRIO ......................... Marcos Luciano Corsatto 1º TESOUREIRO ........................ Márcia Furrier Guedelha Blasi2º TESOUREIRO ........................ Domingos Scarpelini1ª BIBLIOTECÁRIA ................... Maria Helena Blasi Trevisani 2ª BIBLIOTECÁRIA ................... Maria Amélia Blasi de Toledo PizaCOMUNICAÇÕES...................... Maria da Glória Guimarães VendittoSEXTA DIRETORIA - 26 de junho de 2009Período 2009 a 2011PRESIDENTE PERPÉTUO ........ Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE EMÉRITO ........... José Celso Soares VieiraPRESIDENTE.............................. Newton Colenci1º VICE-PRESIDENTE ............... Antônio Evaldo Klar2º VICE- PRESIDENTE .............. Marcos Luciano Corsatto1ª SECRETÁRIA.................. .. Maria da Glória Guimarães Dinucci Venditto

Page 244: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras2422ª SECRETÁRIA .................... Carmen Sílvia Martin Guimarães 1ª TESOUREIRA .................... Márcia Furrier Guedelha Blasi2º TESOUREIRO ................... Domingos Scarpelini1ª BIBLIOTECÁRIA .............. Maria Helena Blasi Trevisani 2ª BIBLIOTECÁRIA .............. Maria Amélia Blasi de Toledo Piza3º BIBLIOTECÁRIO .............. Flávio Baccari JúniorCOMUNICAÇÕES..................Maria da Glória Guimarães Dinucci Venditto Dom Antônio Maria MuccioloSÉTIMA DIRETORIA – 09 de julho de 2011Período 2011 a 2013PRESIDENTE PERPÉTUO ... Antonio Gabriel MarãoPRESIDENTE EMÉRITO ...... José Celso Soares VieiraPRESIDENTE......................... Antônio Evaldo Klar1º VICE-PRESIDENTE .......... Carmen Sílvia Martin Guimarães2º VICE- PRESIDENTE ......... Maria Helena Blasi Trevisani1ª SECRETÁRIA .................... Carmem Lúcia Ebúrneo da Silva 2ª SECRETÁRIA................... . Maria da Glória Guimarães Dinucci Venditto1ª TESOUREIRA .................... José Sebastião Pires Mendes2º TESOUREIRO ................... Márcia Furrier Guedelha Blasi1ª BIBLIOTECÁRIA .............. Maria Amélia Blasi de Toledo Piza2ª BIBLIOTECÁRIA .............. Leda Galvão de Avellar Pires

Page 245: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

243Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasLISTAGEM DAS CADEIRAS E ACADÊMICOS EFETIVOS, HONORÁRIOS E CORRESPONDENTES DA ACADEMIA BOTUCATUENSE DE LETRASAcadêmicos EfetivosCadeira número 1Patrono: Afrânio PeixotoAntecessor: Luiz PeresAcadêmica: Maria Helena Blasi Trevisani Cadeira número 2Patrono: Alceu Maynard AraújoAntecessor: Sebastião de Almeida PintoAcadêmico: Armando Moraes DelmantoCadeira número 3Patrono: Amadeu AmaralAntecessor: Laurival Antônio De LucaAcadêmico: Domingos ScarpeliniCadeira número 4Patrono: Casimiro de AbreuAcadêmica: Leda Galvão de Avelar PiresCadeira número 5Patrono: Castro AlvesAntecessor: Aleixo DelmantoAcadêmico: Marcos Luciano CorsattoCadeira número 6Patrono: Francisco MarinsAcadêmica: Maria Amélia Blasi de Toledo Piza

Page 246: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras244Cadeira número 7Patrono: Guilherme de AlmeidaAntecessor: Antônio Gabriel MarãoAcadêmico: Dom Antonio Maria Mucciolo Cadeira número 8Patrono: Guimarães RosaAntecessor: Arnaldo Moreira ReisAcadêmico: José Celso Soares VieiraCadeira número 9Patrono: Hernâni DonatoAntecessor: Dinorah Silva e AlvarezAcadêmica: Carmen Sílvia Martin GuimarãesCadeira número 10Patrono: Humberto de CamposAntecessores: Antônio Pires de Campos e Aécio de Souza SalvadorAcadêmica: Márcia Furrier Guedelha BlasiCadeira número 11Patrono: José de AlencarAntecessor: Elda MoscogliatoAcadêmico: Antonio Evaldo KlarCadeira número 12Patrono: Julio MesquitaAntecessor: Osmar DelmantoAcadêmico: Milton MariannoCadeira número 13Patrono: Machado de AssisAntecessor: Bahige FadelAcadêmica: Carmem Lúcia Ebúrneo da SilvaCadeira número 14Patrono: Manuel BandeiraAntecessores: Sebastião da Rocha Lima e Rubens Rodrigues TorresAcadêmico: Edson Geraldo Luiz LopesCadeira número 15

Page 247: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

245Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasPatrono: Martins FontesAcadêmico: Eugênio Monteferrante NettoCadeira número 16Patrono: Monteiro LobatoAntecessor: José Antônio SartoriAcadêmica: Solange Zacharias Rivas AlvesCadeira número 17Patrono: Othoniel MottaAntecessor: Francisco GuedelhaAcadêmico: Newton ColenciCadeira número 18 Patrono: Paulo EiróAcadêmico: Olívio StersaCadeira número 19Patrono: Paulo SetubalAntecessor: Ignácio L. Vieira NovelliAcadêmico: Evanil Pires de CamposCadeira número 20 Patrono: Rubião MeiraAcadêmico: Domingos Alves MeiraCadeira número 21Patrono: Vicente de CarvalhoAntecessores: Trajano Pupo Júnior e Álvaro José de SouzaAcadêmica: Maria da Glória Guimarães VendittoCadeira número 22 Patrono: Dom Aquino CorrêaAntecessor: Dom Vicente Marchetti ZioniAcadêmico: José Sebastião Pires Mendes Cadeira número 23Patrono: José Pedretti NetoAcadêmica: Maria José Del Papa Zacharias

Page 248: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras246Cadeira número 24 Patrona: Maria José DupréAcadêmico: Flávio Baccari JúniorCadeira número 25 Patrona: Maria Lúcia Dal FarraAcadêmico: Valdir Gonzáles Paixão Júnior Cadeira número 26Patrona: Elda MoscogliatoAcadêmica : Cláudia Maria Bassetto Jesuíno

Cadeiras Recém Criadas Cadeira número 27Patrona: Zalina RolimCadeira número 28Patrono: Pedro Chiaradia Cadeira número 29Patrono: Sebastião de Almeida PintoCadeira número 30Patrono: João da Cruz e SouzaCadeira número 31Patrono: Cornélio PiresCadeira número 32Patrono: Mário Quintana

Page 249: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

247Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasOutras Cadeiras Recém CriadasCadeira 33Vital BrazilCadeira 34Heitor Villa-LobosCadeira 35Angelino de OliveiraCadeira 36Djanira Motta e SilvaCadeira 37Cândido PortinariCadeira 38 Oswaldo Arthur BratkeCadeira 39Rui BarbosaCadeira 40Cecília MeirellesAcadêmicos HonoráriosAdolpho Dinucci VendittoAntonio Coíne Antônio Mário de Paula Ferreira IeloArlete Bravo NogueiraArmando Jesus BarbieriBahige FadelCelina Simionato ChammaElvira Bandeira de Mello MarinsJoão Carlos FigueiroaJoel Spadaro

Page 250: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras248Maria Anna Moscogliato Maria Cristina Fumie Iwama de Mattos Márcia Guidolin Veiga KlarMarcos Luís GaritaOlavo Pinheiro GodoyOmar Abujamra JúniorRoberto Antonio ColenciTrajano Carlos de Figueiredo PupoAcadêmicos Honorários FalecidosAntônio Tílio JúniorBenedicto Vinício AloíseCarlos Antonio de RosaCarlos Drummond de AndradeGenaro Lobo Dom Henrique Golland Trindade Hugo PiresMalba TahanMaria José DupréMarina PassosMozart MoraisPedro ChiaradiaRosa Aparecida Innocenti DinhaneAcadêmicos CorrespondentesAlcides Nogueira PintoAntonio Oscar GuimarãesEdmilson José ZaninFrancisco HabermannJosé Ângelo PotiensLeilah Assumpção AppleRosa Maria Cintra Nepomuceno Ruth Camargo Leopardi MariannoVanice de Andrade Camargo Alves

Page 251: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

249Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de LetrasAcadêmicos Correspondentes falecidosAgostinho MinicucciEunice Almeida PintoJosé Fabri MoscogliatoDom José Melhado de CamposPaulo VieiraPatronos vivosFrancisco MarinsMaria Lúcia Dal FarraMãe Fundadora da ABLLídia Menon Marão

Page 252: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br

Coletânea 40 anos da Academia Botucatuense de Letras250

Page 253: capa 15x21 orelha 5x21 - historiadebotucatu.com.br