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117 Capítulo 1 - Educação Élio Nicolau Fritzen - SESA Idalino Pietsch - SEED Terezinha Macena de Freitas - SEED Rosana Katia Nazzari - UNIOESTE 1 Introdução A principal conseqüência das transformações tecnológicas e do processo de globalização é a alteração do perfil da produção e do consumo que, por um lado, acelerou sobremaneira o consumo em massa de produtos industrializados e a expansão dos mercados, e, por outro lado, levou à deteriorização das condições de trabalho e da qualidade de vida das pessoas. As transformações tecnológicas e científicas presentes na cadeia produtiva vigente no planeta acabaram se intensificando com o processo de globalização no Brasil. “Essas transformações acabaram por gerar grandes deficiências, tais como a vulnerabilidade da economia, a fragmentação do tecido social, a exclusão e o desemprego, o aumento das desigualdades regionais”, e problemas ambientais graves, segundo NAZZARI (2006, p. 29). Segundo CAPRA (2005, p. 2), a globalização se caracteriza no capitalismo em uma situação do sistema econômico, a competitividade pela qual chamamos de construção do conhecimento. O capitalismo global tem causado um aumento da pobreza e desigualdade social. O capitalismo global não é benéfico porque está sendo ameaçado pelo aumento da pobreza indicando a necessidade de soluções globais e locais. O movimento de justiça social baseado na sustentabilidade, organizada e contundente, precisa desenhar o desafio da nova política: [...] nossa tecnologia da agricultura e o novo ponto de vista ecológico, ter uma comunidade sustentável, sem diminuir os frutos, lembramos da nossa responsabilidade de como construir uma sociedade. O neoliberalismo é fraudado para que não faça nada disso, leva ao desaparecimento de terra boa para plantar, causa destruição ambiental e nos últimos cinco anos tem sido um dos pontos de entendimento da vida real funcional entre diversos processos (CAPRA, 2005, p 2). Sabe-se que a desigualdade social no País é uma das maiores do mundo, ocorrendo que a maioria da população não possui perspectiva para ampliar o seu bem-estar social e ter a oportunidade de melhorar a sua qualidade de vida. Diante disto, observa-se que ficam em segundo plano os dilemas da preservação ambiental do Brasil, priorizando as políticas de desenvolvimento humano em função da exclusão social e miséria. Nesta direção, pode-se destacar-se que políticas públicas de incentivo à preservação ambiental e de punição para as transgressões ampliaram o seu alcance e colaboraram para amenizar a questão. Essas políticas não têm resolvido, porém, de forma consistente, os problemas relacionados ao meio ambiente, e muito menos têm ampliado a participação da sociedade civil. Nesse contexto, o capital social apresenta-se como alternativa para a consolidação da cooperação entre as pessoas para as questões ligadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. Assim, o capital social age como teia imaginária interligando as comunidades em ações cooperativas que promovam a integração destes em projetos de preservação ambiental e ampliação da qualidade de vida das pessoas. Nesta direção, o envolvimento das escolas é fundamental, para preparar os estudantes para o desenvolvimento humano e ambiental. O objetivo primeiro do desenvolvimento é sempre social e se baseia em princípios de ética e de solidariedade. Nesta perspectiva, apenas o conceito deve estar em conexão com os condicionantes CAPITAL SOCIAL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FERRAMENTAS DE TECNOLOGIA SOCIAL PARA EDUCADORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NO PARANÁ

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117Capítulo 1 - Educação

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Élio Nicolau Fritzen - SESAIdalino Pietsch - SEED

Terezinha Macena de Freitas - SEEDRosana Katia Nazzari - UNIOESTE

1 Introdução

A principal conseqüência das transformações tecnológicas e do processo de globalização é a alteração do perfil da produção e do consumo que, por um lado, acelerou sobremaneira o consumo em massa de produtos industrializados e a expansão dos mercados, e, por outro lado, levou à deteriorização das condições de trabalho e da qualidade de vida das pessoas. As transformações tecnológicas e científicas presentes na cadeia produtiva vigente no planeta acabaram se intensificando com o processo de globalização no Brasil. “Essas transformações acabaram por gerar grandes deficiências, tais como a vulnerabilidade da economia, a fragmentação do tecido social, a exclusão e o desemprego, o aumento das desigualdades regionais”, e problemas ambientais graves, segundo NAzzARI (2006, p. 29).

Segundo CaPra (2005, p. 2), a globalização se caracteriza no capitalismo em uma situação do sistema econômico, a competitividade pela qual chamamos de construção do conhecimento. O capitalismo global tem causado um aumento da pobreza e desigualdade social. O capitalismo global não é benéfico porque está sendo ameaçado pelo aumento da pobreza indicando a necessidade de soluções globais e locais. O movimento de justiça social baseado na sustentabilidade, organizada e contundente, precisa desenhar o desafio da nova política:

[...] nossa tecnologia da agricultura e o novo ponto de vista ecológico, ter uma comunidade sustentável, sem diminuir os frutos, lembramos da nossa responsabilidade de como construir uma sociedade. O neoliberalismo é fraudado para que

não faça nada disso, leva ao desaparecimento de terra boa para plantar, causa destruição ambiental e nos últimos cinco anos tem sido um dos pontos de entendimento da vida real funcional entre diversos processos (CAPRA, 2005, p 2).

Sabe-se que a desigualdade social no País é uma das maiores do mundo, ocorrendo que a maioria da população não possui perspectiva para ampliar o seu bem-estar social e ter a oportunidade de melhorar a sua qualidade de vida. Diante disto, observa-se que ficam em segundo plano os dilemas da preservação ambiental do Brasil, priorizando as políticas de desenvolvimento humano em função da exclusão social e miséria.

Nesta direção, pode-se destacar-se que políticas públicas de incentivo à preservação ambiental e de punição para as transgressões ampliaram o seu alcance e colaboraram para amenizar a questão. Essas políticas não têm resolvido, porém, de forma consistente, os problemas relacionados ao meio ambiente, e muito menos têm ampliado a participação da sociedade civil. Nesse contexto, o capital social apresenta-se como alternativa para a consolidação da cooperação entre as pessoas para as questões ligadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável. assim, o capital social age como teia imaginária interligando as comunidades em ações cooperativas que promovam a integração destes em projetos de preservação ambiental e ampliação da qualidade de vida das pessoas. Nesta direção, o envolvimento das escolas é fundamental, para preparar os estudantes para o desenvolvimento humano e ambiental.

O objetivo primeiro do desenvolvimento é sempre social e se baseia em princípios de ética e de solidariedade. Nesta perspectiva, apenas o conceito deve estar em conexão com os condicionantes

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FUNDAMENTAL E MÉDIO NO PARANÁ

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ecológicos e com as garantias de viabilidade econômica será possível construir um projeto de futuro com ampliação do desenvolvimento social, econômico e ambiental.

Sabe-se que, sem resolver os graves problemas socioeconômicos, pouco se poderá fazer pelo meio ambiente. Por isto, precisa-se, com urgência, solucionar estes problemas de distribuição de renda. Para isto as pessoas devem se organizar e ampliar os estoques de capital social das comunidades, mas principalmente a educação tem papel fundamental. Observa-se que, por meio de uma educação humana e igualitária, como coloca FrEirE (1987), pode-se ampliar e potencializar a educação ambiental e contribuir para solucionar o desafio mundial e nacional de avançar rumo à civilização moderna.

apesar dos inúmeros estudos sobre meio ambiente e sustentabilidade, são observadas lacunas relacionadas ao tema de educação ambiental. Não basta desenvolver comemorações nas escolas, comemorações tais como: a “Semana do Meio ambiente” ou “Plante uma árvore”, mas tem-se cada vez mais que incentivar pesquisas que enfatizem a necessidade de desenvolvimento ambiental e a sua importância para a vida na Terra.

Para tal, deve-se dar evidência ao tema do meio ambiente na escola, e envolver a sociedade, o Estado, as ONGs e a mídia, na promoção de amplo debate sobre o tema de desenvolvimento humano e ambiental. assim, é importante promover eventos contínuos e atividades cotidianas para chamar a atenção das pessoas para a importância do assunto e renovar os compromissos com a proteção do meio ambiente.

a preocupação em preservar o ambiente não vale só para florestas, matas, rios e lugares distantes. Vale sim, para tudo o que cerca os seres vivos. Pode ser desde uma nação indígena, uma mata, um deserto, uma praia, a cidade, a casa e principalmente a escola, por ser a mais importante agência de socialização coletiva.

Normalmente e scutam-se d i s cur sos relacionados à preservação de grandes locais, tais como a amazônia, Mata atlântica, Parque iguaçu, porém existe uma lacuna de estudos no plano micro, em instituições locais. assim, envolver os alunos e os professores em discussões

do cotidiano pode colaborar para promover a sensibilização para os pequenos e os grandes espaços de preservação e cuidado ecológico. Por isto o projeto visa à implantação de um Programa de Educação ambiental na escola, conjuntamente podendo colaborar para conter o avanço da degradação ambiental. Faz-se necessário implantar, por meio da conscientização pública, uma cultura ambientalista em todos os setores e seguimentos da sociedade estudantil, ruralista, empresarial e enfim na população em geral. Diante destes fatores, busca-se verificar os seguintes objetivos: propor uma ferramenta de gestão pública na área de Educação ambiental para os colégios estaduais do Paraná. Mais especificamente,

a) promover a integração dos seguintes conceitos: desenvolvimento sustentável, meio ambiente, capital social e educação ambiental;

b) orientar a construção de metodologia para a atualização dos professores formadores educacionais ambientais, após adesão espontânea dos mestres nos grupos e nas discussões no ambiente escolar;

c) capacitar alunos líderes ambientais que, sob orientação de professores previamente designados na escola e em seu entorno, desenvolvam projetos e atividades ambientais.

d) aplicar ferramenta (piloto) de gestão pública, como modelo de verificação da performance da metodologia relacionada a Educação ambiental no Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone.

Tendo em vista estes objetivos, procura-se, por meio de metodologia específica, a elaboração de um programa de conscientização, sensibilização e capacitação para professores do ensino fundamental e ensino médio do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone.

2 Metodologia

O presente trabalho visa à interação entre a universidade, a escola e a comunidade estudantil, na identificação dos problemas de educação ambiental, saúde e cidadania na proposição de

medidas de intervenção para a diminuição dos

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impactos ambientais. a equipe multidisciplinar é composta pelos professores do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone, agentes da Secretaria Municipal de Saúde, com apoio técnico-administrativo de consultores e colaboradores acadêmicos bolsistas de iniciação científica PiBiC/CNPq e Extensão/ UNiOESTE/ Campus de Cascavel/Pr. Na perspectiva multidisciplinar, tem parceria com Núcleo regional de Educação - Cascavel/Pr.

Nesta direção, a reflexão crítica deste estudo será efetuada em três dimensões. Uma dimensão de natureza teórica e qualitativa, com o aprofundamento dos conceitos: desenvolvimento local sustentável, capital social e educação ambiental.

Outra segunda dimensão de natureza quantitativa e explicativa, por meio da análise dos dados estatísticos das figuras e tabelas que mostram a percepção dos alunos sobre a questão da preservação ambiental.

a terceira dimensão é participativa e interativa, ou seja, relaciona-se à interação dos professores na construção do Programa de Educação ambiental. Para tal, foi feito um diagnóstico do perfil qualitativo dos professores sobre o tema. a metodologia desenvolvida por MariGa (2004, p. 76), feita para condomínios residenciais foi adaptada para os colégios, seguindo as quatro fases

básicas sugeridas pela autora, que são:

A exploratória, a elaboração do programa, a implementação do programa e a análise e interpretação dos resultados. Nesta fase faz-se a revisão da bibliografia existente sobre as questões ambientais, iniciando-se pela evolução do pensamento ambiental, movimentos ambientais mundiais e brasileiros, legislação ambiental, resíduos sólidos e meio ambiente urbano;

A elaboração do programa: Na referida fase e, baseando-se no referencial teórico estudado, elabora-se o programa adequado ao que se propõe o presente estudo, de acordo com as condições e tendências ambientais e a competência diferencial da escola;

Implementação do programa proposto: Esta fase é a mais difícil e a que merece maior cuidado e dedicação, pois os passos do programa devem ser seguidos à risca, sob pena de abortar ou

ser necessário retornar em algum ponto do processo;

Análise e interpretação dos resultados: No presente estudos não foram levantados dados quantitativos do material segregado. A análise de resultado se deu através de questionário aplicado aos servidores e alunos do Colégio cujas respostas proporcionarão o indicativo dos resultados obtidos, pela implementação do programa.

inicialmente apresenta-se uma análise dos estudos sobre capital social e educação ambiental e os debates das propostas dos governos e instituições sobre desenvolvimento sustentável no Brasil, baseado em referências bibliográficas.

Na seqüência, discutir-se-á o impacto das transformações tecnológicas no meio ambiente nas últimas décadas do século XX e o papel das políticas públicas no desenvolvimento sustentável local.

Utilizam-se artigos atuais sobre o assunto, como pesquisas de instituições técnicas e científicas, tais como: MMa - Ministério do Meio ambiente (2006); iBaMa - instituto Brasileiro do Meio ambiente dos recursos Naturais e renováveis (2006); MEC - Mistério da Educação (2006), SEED - Secretaria de Estado de Educação do Paraná (2006) e iTaiPU BiNaCiONaL (2006), entre outros. além disso, com base no material apresentado, far-se-á uma análise da gestão dos recursos naturais brasileiros e a necessidade de novas políticas institucionais pertinentes ao tema, diante da economia moderna e globalizada.

O estudo piloto foi realizado no Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone, no município de Cascavel, pertencente ao Núcleo regional de Educação de Cascavel/Pr, que possui uma população de 2.120 estudantes e 120 professores e auxiliares, divididos nos três turnos: matutino, vespertino e noturno; correspondendo ao ensino fundamental e médio. O Colégio atende também o EJa (Educação de Jovens e adultos) e o SaS (Serviço de apoio Social), que atende menores em situação de vulnerabilidade social.

Na dimensão quantitativa serão utilizados os resultados da pesquisa realizada em 2006 no Colégio. O instrumento survey era de 20 questões abertas e fechadas. Foi aplicado em 201 entrevistas nos períodos matutino e noturno, do ensino médio, por amostragem aleatória. E, também foi feita uma

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pesquisa com os educadores e servidores, para saber a percepção destes sobre educação ambiental. Este diagnóstico é necessário para avaliar as pessoas envolvidas, pois o programa constitui-se de duas fases: planejamento, implementação e manutenção.

Como se observa, para o alinhamento das etapas do programa deve-se possuir ferramentas de gestão públicas adequadas à realidade da escola pública no Estado do Paraná, para superar os obstáculos com eficácia e se for necessário alteração dos planos propostos inicialmente, para isto deve-se ter uma gestão estratégica para agilizar a comunicação e a coordenação de atividades. assim sendo,

[...] Para que esse programa, centrado na estratégia “investigação-ação educacional” tenha sucesso, é necessário que todos os envolvidos compreendam e internalizem sua concepção e, a partir daí, conduzam seus hábitos e atitudes de modo a contribuir para o seu êxito. Isso não é determinado ao indivíduo, mas, sim, um processo que o motive, segundo seus valores pessoais e mudança conceitual. Essa mudança será traduzida nas atitudes cotidianas, ou seja, a estratégia é, neste caso, uma reeducação do indivíduo. Converter a estratégia em processo contínuo: Segundo KAPlAN e NORTON (2000, p. 25), “estratégia é tarefa de todos”, ou seja, todos os envolvidos devem ter conhecimento necessário para executar sua parte. Assim sendo, o programa deve ter seu gerenciamento voltado para sua estratégia, de forma contínua e ininterrupta. Deve haver motivação e abordagem própria no processo de implementação e manutenção do projeto, protegendo-se da sabotatização de iniciativas não implementadas ou adiadas que podem ocorrer durante o processo. Implementar reuniões simples e periódicas para avaliar a estratégia é importantíssimo e cria uma motivação mais vibrante e o feedback dá respaldo a esse processo. Esse processo, na verdade, propicia um aprendizado e a conseqüente adaptação da estratégia ao longo do tempo, bem como propicia identificar novas oportunidades estratégicas, constituindo-se num processo contínuo de aprendizado e surgimento de novas idéias (MARIGA, 2004, p. 81).

Neste sentido, o primeiro passo é um esforço de cooperação, isto requer fomentar mecanismos de empoderamento e cidadania e elevar os

estoques de capital social positivos. a cooperação leva a mobilização e a participação efetiva dos professores, dirigentes, servidores e estudantes na criação do impulso para desencadear o processo de educação ambiental Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone. assim, no sentido de envolver a comunidade do município de Cascavel, com o intuito de difundir e agregar os novos valores culturais adquiridos durante o processo, tendo em vista a ampliação da qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável.

3 Educação Ambiental na Escola

O desenvolvimento de ações preventivas e educativas relacionadas ao meio ambiente requer a multidisciplinaridade e interação entre as disciplinas lecionadas nas escolas. a educação ambiental propicia a transformação das condições de vida. assim, pode-se destacar que a preservação ambiental está relacionada à educação ambiental e aos estoques de capital social de uma comunidade para a preservação das coisas públicas e dos benefícios coletivos presentes e futuros. Na área da saúde, pode-se destacar:

[...] a morbimortalidade causada por meio de vetores e da veiculação hídrica coexiste com doenças advindas de fatores como a poluição ambiental e a má qualidade dos alimentos. A melhoria nas condições de saneamento básico ajuda a evitar uma série de doenças infecciosas e parasitárias todas responsáveis pelo aumento da mortalidade infantil (NAzzARI et alli, 2004, p. 2).

a contaminação do ambiente pelo lixo, a falta de saneamento básico e as doenças como a malária, cólera, dengue, leptospirose, chagas, dentre outras, afetam a população que vive na periferia da cidade, a qual é carente dos serviços de saneamento básico. “A situação exposta se verifica mais nos cinturões de miséria, onde se aglomeram multidões em espaços mínimos de precárias condições higiene” (BraSiL, 2001, p. 16). Os fatores que contribuem para a poluição da água são provocados pela própria população, como os resíduos domésticos que freqüentemente são lançados em rios que abastecem as cidades. isto também normalmente está associado à destruição das matas ciliares, fatores que intensificam a deterioração da qualidade de água para as populações urbanas.

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O aumento da população exigiu o aumento da distribuição da água, aumento da coleta de lixo, aumento dos desmatamentos, das queimadas, dos problemas com resíduo, da poluição dos rios e dos lagos, todos os fatores que deterioram progressivamente o meio ambiente (BraSiL, 2001). Considerando-se que a educação é um processo contínuo, e que a população não deve ignorar os problemas resultantes do desequilíbrio entre o homem e o ambiente, tornou-se necessário sensibilizar a comunidade para a importância da relação entre a economia, a educação, a saúde, e o ambiente, promovendo a sua associação com conceitos de qualidade de vida.

Diante deste cenário, a educação é fundamental para modificar a atitude das pessoas, para que tenham capacidade de avaliar os problemas relativos ao ambiente e abordá-los (BraSiL, 2001). a agenda 21 (1997, p. 9), a partir da construção social do desenvolvimento sustentável, propôs a dimensão ética de que o equilíbrio ecológico é um padrão de organização da sociedade que deve incluir a sobrevivência das gerações futuras. impôs também a dimensão temporal que determina a necessidade de planejar em longo prazo, e romper com a lógica imediata, e estabelecer o princípio da precaução. Propôs a dimensão social, que apregoa o consenso de que só uma sociedade menos desigual, e com pluralismo político, pode produzir o desenvolvimento sustentável. E, enfim, propôs a dimensão prática de que é necessário adotar coletivamente mudanças de hábitos de consumo e de comportamento. Nesta direção, a escola apresenta-se como vetor importante. Segundo MEDiNa (2001, p. 16), a educação ambiental é

[...] um processo que consiste na compreensão crítica e global do meio ambiente, para elucidar valores e desenvolver atitudes que lhe permitam adotar uma posição crítica e participativa a respeito das questões relacionadas com a conservação e adequada utilização dos recursos naturais, para melhoria da qualidade de vida e eliminação da pobreza extrema e do consumismo desenfreado. Visando à construção de relações sociais, econômicas e culturais capazes de respeitar e incorporar as diferenças (minorias étnicas, populações tradicionais), a perspectiva da mulher e a liberdade para decidir caminhos alternativos de desenvolvimento.

Na educação ambiental, importante se faz pensar qual é a abordagem educacional a ser utilizada. Segundo SaiTO (2001), ao pensar em estratégia, é necessário levar em consideração os aspectos: (1) da construção e vivência participativa, (2) da busca do conhecimento sobre as demandas e capacidades ou disponibilidades do meio-ambiente, e (3) da ação concreta sobre a realidade local e da região, no sentido de resolver os problemas, transformando o modo de vida das comunidades. Sendo assim, a abordagem a ser adotada na educação ambiental será a concepção da “investigação-ação educacional” descrita por (SaiTO, 2001, p. 44), que leva em consideração a construção e a vivência participativa. a ação concreta sobre a realidade local, correspondendo a uma “forma de ação social voltada para a promoção da racionalidade e da justiça nas práticas sociais e sua transformação pelos próprios envolvidos, a partir da compreensão dos fundamentos destas práticas e das situações em que eles, os envolvidos, se encontram”.

Nesta concepção de investigação-ação, todo o processo de busca da realidade ambiental deve estar baseado numa ação intencional que estimule a curiosidade, a busca de informações técnico-científicas e a compreensão das externalidades socioeconômicas. Bem como, a sistematização dessas informações de forma a criar uma espécie de círculos de ciência e cultura, onde os interessados desvendem o desconhecido e optem por transformar a realidade na perspectiva da sustentabilidade. A busca desse conhecimento cabe aos próprios interessados, sendo que a própria ação destes, sobre a realidade, e sua avaliação, exige a busca de novos conhecimentos, desta forma, estabelece-se um processo contínuo de investigação e avaliação (MARIGA, 2004, p. 76).

Segundo MariGa (2004), a concepção da teoria investigação-ação educacional, descrita por SaiTO (2001), está calcada em dois pilares centrais que apóiam todo o processo - a busca do conhecimento e a vivência do processo de ação coletiva.

No primeiro pilar, a busca do conhecimento está relacionada com investigação, ou seja, que a aquisição do conhecimento capacite os indivíduos a uma atuação crítica, consciente, confiante e autônoma na realidade social, para que exerçam plenamente a cidadania. O segundo pilar, a vivência do processo de ação coletiva e

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colaborativa no conhecimento e transformação da realidade, objetiva fazer com que os participantes do processo se tornem sujeitos-ativos da própria história, e não aqueles que apenas a contemplam e a descrevem. Não adianta apenas conhecer os fatos, e não tomar iniciativas para melhorar a realidade em benefício de todos. Considerando-se essas características, pode-se dizer que essa concepção contém um componente crítico e transformador da realidade. “O conjunto articulado de conhecimento e vivência da ação pode viabilizar a construção da cidadania e, é por estas razões que a investigação-ação está sendo apresentada como uma estratégia educacional capaz de atender as necessidades” [...] de educação ambiental (SAITO citado por MARIGA, 2004, p. 76).

O programa adequado a cada realidade exige, no entanto, um pré-conhecimento do ambiente, das necessidades e oportunidades, bem como dos recursos necessários e, então, após uma análise criteriosa, estabelecer a melhor opção e estratégia de abordagem. O programa proposto carrega uma característica própria que, dependendo do interesse dos servidores e dos alunos, os resíduos sólidos podem ou não ser comercializados pelo próprio colégio. Outra questão é a importância da sensibilização para a responsabilidade com a preservação ambiental, seja por meio dos hábitos cotidianos, propostas coletivas ou problemas climáticos mundiais. Para isso, algumas ações incluídas neste programa podem ou não ser implementadas.

Nesta direção e tendo como pano de fundo que os objetivos do projeto são desenvolver ações de educação ambiental, faz-se um diagnóstico junto aos professores e técnicos do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone, para verificar a percepção dos mesmos em relação à questão do meio ambiente. Neste sentido, interagir para a construção de uma ferramenta metodologia para a educação ambiental nas escolas estaduais públicas de rede estadual de ensino no Paraná.

3.1 A Percepção dos Professores sobre o Papel da Educação para o Meio Ambiente

3.1.1 A Educação Ambiental na Ótica dos Servidores Públicos

Segundo a agenda 21 (2001), hoje um novo consenso mundial coloca a educação e

o professor no centro das atenções, diante da necessidade premente de se implementar ações ambientalmente e culturalmente corretas para o desenvolvimento sustentável.

O que realmente importa para a educação é o professor, professores que devem ter o status que merecem, professores que devem ter periodicamente treinamento e atualização, professores que são respeitados. Este é o pilar de sustentação para que possamos construir um desenvolvimento sustável. Não é com computadores e “alta tecnologia” (high tech) que nós vamos mudar o mundo, mas com “alto toque” (high touch), com o elevado toque humano, com o toque da mãe, da família, e com o toque dos professores neste processo de aprendizado contínuo por toda vida. A Educação é muito mais do que informação, muito mais do que conhecimento. A Educação fornece a todas as mulheres e homens do mundo a capacidade de gerir as suas próprias vidas, e de reter a sua capacidade pessoal (MAYOR, 1997, p. 5).

Constata-se que tem sido dada pouca importância para a educação ambiental. Necessita-se, portanto, somar esforços para corrigir tal situação, revitalizando e re-orientando os cursos de formação e treinamento de professores, propiciando a todos os profissionais do magistério novas oportunidades para aperfeiçoar seus conhecimentos, com estratégias da educação ambiental e dentro de uma visão inter-trans e multidisciplinar para um futuro sustentável. Para isso faz-se urgente a adequação dos cursos e treinamento dos professores de nível médio (MAYOR, 1997).

Educação para o ambiente visa promover a boa vontade e a habilidade para se adotar estilos de vida compatíveis com o uso inteligente dos recursos ambientais, e para a busca de soluções. Assim, se somarmos estes componentes aos atributos da “educação no ambiente” e “educação sobre o ambiente”, estaremos construindo um elevado senso de responsabilidade para com o meio ambiente através da ética ambiental, da motivação consciente e das habilidades necessárias para a implantação de soluções e alternativas sadias para a melhoria da qualidade de vida (FIEN citado por AGENDA 21, 2001, p. 17).

Neste sentido, os professores do Colégio Padre Carmelo Perrone foram questionados sobre tópicos

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relacionados à sustentabilidade e à educação ambiental, conforme resultados da avaliação qualitativa a seguir:

a) Quais os conteúdos propostos para a educação ambiental nas séries que você leciona? Entre os conteúdos assinalados com mais freqüência pode-se destacar: 1) o uso racional da água (tratamento da água e do esgoto); 2) a coleta seletiva do lixo, o controle e condicionamento de resíduos; 3) contaminação do solo e dos rios. Em menor escala assinalaram: a ausência do projeto ambiental relacionado ao pedagógico e a falta de cálculos estatísticos para demonstrar os impactos biológico, econômico e social da destruição do meio ambiente. assinalou também as questões de mercado, o consumo ético, com ênfase nos padrões de produção e consumo. Os professores acreditam que em todas as disciplinas devem ser passados conteúdos de educação ambiental (Ea). Textos literários em português e inglês. Também destacaram a necessidade de verificar a poluição e a contaminação por meio dos produtos químicos utilizados na indústria e na agricultura.

b) Existe algum programa ou projeto que está sento desenvolvido pela sua escola? Qual? a agenda 21 está na pauta da escola e cada professor procurou adaptar a sua disciplina implementando propostas tais como: Que ações podemos fazer? Que ambiente queremos para a escola? Que mundo queremos? Foi citado Projeto Bairro Limpo, em conjunto com plantio e monitoramento de árvores urbanas. Salientou-se a participação dos alunos em gincanas implementadas no Projeto Ecocidadão (período matutino e vespertino). Destacou-se, porém, que ações isoladas e desconexas não representam um trabalho coletivo e contínuo de Educação ambiental.

c) Se existir, de que forma está sendo trabalhado? O projeto está sendo executado com mais freqüência pelos professores de ciências com apoio de profissionais de outras áreas. as ciências fazem o elo de ligação com toda a escola, no resgate humano

e ambiental. incentiva-se a educação ambiental em técnicas feitas, tais como: a) gincanas junto ao ecolixo; b) vale do saber; c) árvore dos sonhos em sala de aula. Conta-se com o apoio dos acadêmicos de biologia da FaG, nas salas de aula ao longo do ano. Observa-se, porém, que o tema é abordado principalmente na disciplina de ciências. Pode-se destacar, entretanto, que as atividades são fragmentadas e desconexas, com várias atividades isoladas, sem princípio comum e participação regular e continuada.

d) Em sua opinião, a educação ambiental está sendo trabalhada de acordo com os temas transversais? Por quê? Existem três visões: a primeira é positiva e destaca que os temas são transversais, abrangem todas as áreas e enfatizam o cotidiano, a cidadania, a solidariedade e o respeito. E que se tem buscado a interdisciplinaridade e que o conteúdo já faz parte das áreas. a segunda salienta que o tema ecológico é abordado parcialmente, porque não ocorre o envolvimento de todos. a terceira é negativa. Diz que o tema não foi trabalhado nos PCNs, a escola trabalha com material pedagógico de gabinete sem conexão com as vivências e práticas dos alunos, e necessárias para o aprimoramento das questões de meio ambiente.

e) Colégio que atua, o tema educação ambiental é trabalhado somente pelos professores de ciências, ou existe uma interação com as outras disciplinas? a maioria assinalou que existe interação com as disciplinas relacionadas ao tema do meio ambiente. Com a ressalva de que as disciplinas enfáticas do tema são as ciências biológicas e as artes. E que todos se envolvem na educação ambiental. Outros colocaram que o envolvimento é parcial e que deveria existir um projeto nas escolas com efetiva participação dos alunos, professores, funcionários e direção, para exercitar atividades, no cotidiano, tais como: separação de lixo e cursos de formação ética.

f) Em sua opinião, as escolas são responsáveis pela formação da “consciência ecológica”

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de seus alunos? Justifique. a maioria colocou que as escolas são responsáveis pela formação da consciência ecológica dos alunos, que o aprendizado na escola é levado para as famílias, que podem mudar seus hábitos relacionados ao meio ambiente. alguns colocaram que existem outras agências socializadoras responsáveis pela sensibilização ambiental, tais como: família, mídia e comunidade. Outros destacaram que não existem ações efetivas dos cidadãos nem coletivamente, nem consciência individual. Destacou-se, também, a necessidade de políticas públicas eficazes nesta área. O governo é responsável por implementar propostas e projetos tais como: arborização, saneamento, reciclagem e aproveitamento de energia.

g) Diante da realidade de sua escola, em qual aspecto existe maior dificuldade na Ea? Falta conscientização de que as nossas atitudes e os nossos comportamentos no presente se refletem no futuro. assim, é necessário sensibilizar com ações práticas, daí a dificuldade de mudanças de hábitos. “a informação demora em se incorporar nos hábitos cotidianos”. Está ausente na escola um projeto global, com equipe administrativa e pedagógica para agregar os procedimentos isolados, estender o projeto

para as turmas da noite. Bem como falta uma interação maior das vivências dos professores das escolas com o governo e a Secretaria de Estado de Educação, que deveria dar mais atenção para elaborar um programa eficaz e importante de educação ambiental.

3.1.2 A Visão dos Estudantes sobre a Educação Ambiental e os Índices de Capital Social

Entre os 201 estudantes dos períodos diurno e noturno entrevistados, 45% são trabalhadores e 54% não trabalham. a faixa etária é de 15 a 17 anos, período de mudança da adolescência. Dos 201 estudantes, 59% são meninas e 41% são meninos, 91% são solteiros e a maioria (91%) é do ensino médio incompleto. Os entrevistados assinalaram ter renda familiar 34,8% (3 salários mínimos), 27% (2 salários mínimos), 22% (4 ou mais salários mínimos). Sobre os principais problemas enfrentados pelo Brasil, 22% assinalaram o desemprego; 16%, a corrupção; 12%, a segurança; 11%, o meio ambiente e 8%, a crise econômica. Diante deste perfil de jovens do ensino médio do Colégio Estadual Padre Carmelo Perrone pode-se destacar que a metade (48,2%) não sabe o que é proteção ambiental, como se destaca na Figura 1 a seguir:

Figura 1 – Percepção sobre proteção ambiental

Fonte: dados da investigação dos autores (2006)

Neste sentido, pode-se observar que ainda são necessários esforços no sentido de informar os estudantes sobre a necessidade de respeitar

o meio ambiente. Para tal, na Figura 2 foram questionados sobre seu interesse por assuntos ambientais.

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Figura 2 – interesse por assuntos ambientais

Fonte: dados da investigação dos autores (2006).

Entre os entrevistados, 89% não encontram dificuldade em entender o assunto, 62% tem interesse por assuntos ambientais, 71% gostariam

Figura 3 – informações sobre os problemas ambientais

Fonte: dados da investigação dos autores (2006).

a televisão é a principal fonte de informação, seguida pela escola e depois pelo jornal e pela internet. Quando consultados se os professores estão formando os alunos de maneira satisfatória, 55% assinalaram que sim, enquanto 42%

de saber mais, enquanto 37% não se interessam. isto demonstra que os jovens são motivados para saber mais sobre meio ambiente.

assinalaram que não e 3% NS/Nr, como destaca a Figura 4 a seguir, relacionada à pergunta: Seus professores estão formando os alunos de maneira satisfatória em relação aos temas e problemas ambientais?

Figura 4 – informações pelos professores sobre temas ambientais

Fonte: dados da investigação dos autores (2006).

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Para que um programa de educação ambiental possa ter sucesso, são necessários estoques de capital social positivos na escola. assim, os alunos

Figura 5 – Índices de capital social (%)

Fonte: dados da investigação dos autores (2006).

CONFIA MUITO

CONFIA POUCO

NÃO CONFIA

NS/NR

Congresso Nacional 1,0 40,3 57,2 1,5 Governo Federal 2,0 36,3 60,2 1,5 Assembléia 3,0 36,3 60,0 1,5 Governo Estadual 2,5 41,3 54,7 1,5 Câmara Municipal 2,5 45,3 50,7 1,5 Governo Municipal 6,5 42,2 49,7 1,5 Judiciário 16,0 48,3 33,3 2,5 Partidos políticos 0,5 24,8 72,1 2,5 Polícia 9,0 65,0 23,3 2,5 Igreja 68,0 24,3 5,5 2,0 Família 91,0 4,5 3,0 1,5 Vizinhos 15,0 65,0 18,0 2,0 Associações 10,5 54,7 32,8 2,0 Sindicatos 8,5 38,3 51,2 2,0 Meios de Comunicação

26,8 54,7 16,4 2,0

foram questionados sobre suas doses de confiança, como destaca a Figura 5 a seguir:

a maioria (64%) assinalou que não se pode confiar nas pessoas, 10% apresentaram índices positivos, 25% não sabem e 1% não respondeu. Estes dados mostram os baixos índices de confiança, portanto apontam para futuras dificuldades na cooperação e na participação em programas de educação ambiental no colégio pesquisado.

Os entrevistados apontaram a família (70,0%) como agência primeira de cooperação, seguida pelo trabalho (33,0%) e de forma mediana pela escola (60,2%). a maioria apresentou índices baixos e medianos em relação à cooperação na comunidade

e com estranhos, isto é, a coletividade, o que dificulta a implantação do programa de educação ambiental, que é reconhecidamente um direito coletivo. Percebe-se que os índices de cooperação e de confiança maiores dos alunos apontam à família. Diante deste quadro, percebe-se a necessidade de trabalhar com os pais em palestras, participação em oficinas voltadas para mudanças de atitudes e comportamentos relacionados com a natureza, formando uma rede conectada à família e aos parentes mais próximos, como se destaca na Figura 6 a seguir, que aponta 91% de confiança na família.

Figura 6 – Confiança interpessoal, social e institucional (%)

Fonte: dados da investigação dos autores (2006).

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a confiança interpessoal é alta (91,0 %) confiam muito na família, confiam pouco na polícia (65%), pouco nos vizinhos (65%) e medianamente nos meios de comunicação (54%). a confiança nas instituições políticas é baixa, partidos (72,1%) e governo federal (60,2%) são exemplos de ausência de confiança. a instituição com maior credibilidade é a igreja (68,0%), depois vêm os meios de comunicação com 26,8%, o Judiciário (16%) e a seguir os vizinhos (15%). a confiança social é baixa e mediana e aponta para a fragilidade das instituições e das relações que poderiam incentivar ações coletivas para proteção ambiental o que leva a pouco envolvimento e participação nos projetos coletivos que envolvem a proteção ambiental.

4 Considerações e Resultados Esperados

Este projeto fornece elementos para reflexão sobre uma das formas mais promissoras de pensar na função educativa da escola. Visto que o problema levaria ao acúmulo de novas catástrofes sociais, podem-se implantar ações concretas que possibilitem aos jovens aquisição de conhecimentos, valores e formação de atitudes sociais que sustentam suas progressivas inserções nas práticas, lugar de exercício e cidadania.

O terceiro milênio está repleto de previsões de vários acontecimentos que anunciam o eloqüente sinal da falha histórica que relaciona a crise ambiental à reconstrução social. Desta feita, a transição para a sustentabilidade implica a necessidade de superar a idéia, satisfazendo as necessidades básicas e o acesso ao reino da liberdade. a crise ambiental limita os potenciais da natureza e da cultura e a sustentabilidade reconstrói o mundo a partir de diversos projetos de civilização inseridos em uma sociedade ambientalista e consciente. Sabe-se que a consciência ecológica é inseparável da consciência social, como a luta pela natureza é inseparável da luta pela realização da condição humana.

Tendo em vista estas questões, pode-se destacar, nos estudos realizados, que a escola desenvolve a consciência crítica dos alunos, age como elemento de transformação, conscientização e sensibilização. Por isto é que se devem ensinar os jovens a terem uma postura de consciência ambiental. Por isto a relevância de projeto de educadores ambientais se faz mister, por envolver as crianças, os estudantes

que estão iniciando a vida coletiva, para que tenham mais carinho e respeito pelas coisas que os estão circundando, a começar pela sua casa, pela comunidade e, principalmente, pela escola, que é onde eles e elas passam um terço do seu tempo ativo diariamente.

a ecologia como área de conhecimento, é importante agremiadora de capital social, e vem há muito tempo estudando nosso planeta, o sistema vivo e mesmo o vegetativo, tudo de forma científica. isto é praticado em pequenas e grandes escalas de pensadores, em colégios e universidades, e em outros centros dos saberes. assim, é essencial o envolvimento comunitário, principalmente a interação das escolas para se entender e criar estratégias para os problemas ambientais. Precisa-se corrigir a pouca importância dada pelos governos nas décadas passadas e somar esforços. as escolas e comunidades, professores e alunos podem, portanto, colaborar para proporcionar uma melhor qualidade de vida. Para tal, precisa-se repensar ao desenvolvimento, sim, o desenvolvimento sustentável, e isto requer uma educação contínua, para haver a transformação necessária, através de ações e comportamento dentro de um padrão aceitável.

No projeto destacou-se a necessidade de se incentivar a solidariedade e a ajuda mútua no colégio. acredita-se que o Projeto Educação ambiental possa agregar crenças e valores que norteiem uma proposta coletiva de amadurecimento e ampliar os índices de capital social na instituição e na comunidade. Todos envolvidos em uma conquista pública, isto pode ser um aprendizado para uma convivência em rede.

O programa depende da colaboração das ações comunitárias e institucionais para promover as possibilidades futuras, principalmente de sua irreversibilidade. Para Mariga (2004), a potencialidade do programa, considerando-se o crescente aumento de novos materiais recicláveis introduzidos no mercado consumidor e que, por sua vez, deverão ser desviados dos aterros sanitários, aterros controlados ou lixões, depende muito da vontade política dos responsáveis tanto no setor público como no privado. Estes programas devem ter pontos de apoio, que envolvem a eficácia informacional, por meio da educação ambiental e da mobilização dos professores, técnico-administrativos e estudantes

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

das escolas para sua efetiva operacionalização. Deve promover o desenvolvimento humano e colaborar para dar suporte e dignidade às pessoas que reciclam e coletam o material separado. Por isto deve ser pensado como uma rede de capital social que começa com a separação dos produtos, recepção desse material (pública ou privada) que de fato pague o preço justo sem exploração de mão-de-obra. Tem-se visto, no entanto, manchetes de jornais, dos vários segmentos, anunciando desastres ambientais criminosos e que estão vinculados à ganância e às estruturas de mercados conservadores e a comportamentos individualistas. Destacam-se notícias tais como: caminhões tombando com cargas perigosas, trens descarrilando e navios “rachando”, vazando óleos e outros produtos danosos ao ambiente. indústrias e residências despejando dejetos em rios e córregos, quando não diretamente no oceano. Este é o desenvolvimento que se quer? É isto que se vai deixar de herança para as futuras gerações?

4.1 Roteiro para Implantação da Ferramenta de Educação Ambiental nas Escolas Públicas do Paraná

Segundo MariGa (2004), na primeira fase, o planejamento de cada ação deve ser pensado de forma criteriosa, para que eventuais erros de avaliação sejam identificados antes ou, no máximo, na implantação do Programa de Educação ambiental. Neste momento, deve-se ter claro o diagnóstico ambiental onde se pretende intervir, bem como devem estar definidos os recursos disponíveis que serão utilizados.

Na primeira etapa, pode-se usar ou adaptar o seguinte roteiro:

• Pré-avaliação dos problemas quanto àprodução e disposição dos resíduos sólidos, em função das características da escola.

• Conhecerasinstalaçõesfísicasdaescola.

• Conheceredotarasinstalaçõesfísicasdecondições adequadas ao armazenamento dos resíduos sólidos.

• Conhecer omercado dos recicláveis emrelação aos preços praticados para os diferentes tipos de resíduos sólidos.

• Conhecer os possíveis compradores ou agentes ecológicos no caso de doações;

• Determinar a freqüência da coleta.

• Conhecer o lixo gerado em relação àquantidade diária em peso ou volume;

• Os tipos demateriais que compõem osresíduos sólidos e suas relativas proporções (quanto de papel, alumínio, plásticos, outros metais, vidro etc.).

• Comoseráfeitaàseparaçãodosresíduossólidos pelas escolas.

• Recursosmateriaisnecessários:oqueprecisaser comprado, adaptado ou reformado.

• Definirasfonteserecursosdisponíveis.

No anexo i do questionário contempla-se as seguintes variáveis: a) perfil dos estudantes (perguntas de 1 a 7); b) o diagnóstico socioeconômico da percepção de sensibilização dos gestores e alunos relacionados ao meio ambiente (perguntas de 8 a 15); c) medir os índices de capital social para verificar cooperação sistêmica existentes na escola (perguntas de 16 a 19);

Na segunda etapa, temos as ações de educação ambiental. Nesta fase da implementação serão tratadas as questões mais subjetivas da Ferramenta de Gestão Pública para Educação ambiental, este enfoque se constitui em fator essencial para o sucesso do projeto. as ações de educação ambiental devem ser abordadas em duas frentes:

1) uma para a população adulta (incluem-se nessa fase também os servidores públicos professores e técnico-administrativos);

2) outra para a população infantil, adolescente e jovens estudantes.

Nesta dimensão estatística aplicam-se dois instrumentos survey, com perspectiva qualitativa e quantitativa. O primeiro com os alunos (21 perguntas abertas e fechadas) e outro com os servidores (7 perguntas abertas e qualitativas) para verificar a percepção dos mesmos sobre educação ambiental objetivando avaliar o nível de conhecimento e de conscientização dos problemas ambientais.

Do resultado das variáveis dos instrumentos pode-se indicar uma estratégia de abordagem e as ações a serem desenvolvidas na escola relacionadas às questões didático-pedagógicas da educação

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ambiental. Segundo MariGa (2004, p. 79-80), “[...] as ações devem ser tratadas de forma diferenciada, considerando-se a linguagem a ser utilizada com essas diferentes populações”, principalmente, podem promover e envolver:

a) informações de todas as disciplinas para a conscientização, sensibilização, capacitação e mobilização de todos os envolvidos;

b) Palestras, reuniões e visitas às áreas degradadas e de proteção ambiental, fixação de cartazes, orientando sobre os tipos de resíduos sólidos e os benefícios que a reciclagem traz ao meio ambiente;

c) Kits educativos, cartilhas, panfletos, informativos e outros;

d) acompanhar e assessorar os servidores e estudantes da escola na separação e disposição dos resíduos nos vasilhames previamente destinados;

e) Estabelecer, junto aos agentes ecológicos ou compradores, formas de controle dos resíduos sólidos (tipo, quantidade, pesagem etc.);

f) Estabelecer, conjuntamente aos dirigentes do colégio, professores e estudantes qual o funcionário responsável pela entrega e comercialização aos agentes ecológicos ou compradores, as formas de acesso aos resíduos, mediante organização de cronograma de coleta.

a terceira fase, segundo MariGa (2004, p. 80), refere-se à manutenção. Esta fase “constitui-se de permanente exercício de observação dos problemas, construção de propostas de intervenção e avaliação dos erros e acertos.” As ações devem estar encadeadas e relacionadas conjuntamente. “Enquanto se pensam os problemas, ações vão sendo tomadas concomitantes com a avaliação e a reavaliação dessas ações que, articuladas

com o planejamento, vão construindo os resultados que se espera”.

a) gestão e acompanhamento da coleta, do armazenamento à venda ou doação dos resíduos sólidos;

b) as formas de sensibilização por meio de informações devem ser adequadas e contínuas, bem como, as estratégias de motivação e incentivo entre os envolvidos;

c) devem ser promovidas sistematicamente palestras, reuniões e fixação de cartazes, orientando sobre os tipos de resíduos e os benefícios que a reciclagem traz ao meio ambiente;

d) deve haver acompanhamento e assessoria as escolas e aos funcionários públicos, professores e alunos, bem como aos colaboradores no manuseio, separação e disposição dos resíduos nos vasilhames previamente destinados;

e) Lembrar freqüentemente os objetivos propostos pela ferramenta de gestão pública para as escolas do Paraná na área de educação ambiental, bem como, repassar as escolas e secretarias regionais o andamento e os resultados auferidos.

Nesta fase, deve-se fazer uma nova avaliação e aplicação de instrumento survey para medir os índices de informações e conscientização, para, caso seja necessário, aprimorar e alterar as estratégias de educação ambiental. Porém, para a gestão do programa de educação ambiental na escola deve-se estar focado nos objetivos propostos, principalmente a conscientização e a posterior implementação. Sem a construção teórica e a informação por meio da comunicação em todas as disciplinas não se pode pensar a eficácia do programa.

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

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