CAPÍTULO 2 biocel

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  • CAPTULO 2 NOES DE TICA

    2.1 O QUE TICA?

    Os conhecimentos a respeito da tica remontam aos primrdios da atividade

    filosfica. O pensamento de Scrates (470-399 a.C.) marca o nascimento da

    filosofia clssica e, foi, posteriormente desenvolvido por Plato e Aristteles.

    Neste perodo comeou-se a questionar as aes humanas e os valores

    subjacentes a elas. Sculos mais tarde, durante a Revoluo Francesa,

    filsofos como Immanuel Kant (1724-1804) comeam a analisar princpios da

    conscincia moral. Podemos ainda citar nomes importantes como Hobbes,

    Maquiavel, Locke e Rousseau que apostavam no exerccio da crtica como a

    nica forma de ser livre. Mas aqui vamos ser mais diretos.

    Etimologicamente a palavra tica vem do grego ethos que significa modo de

    ser ou carter. A tica pode ser definida como a parte da filosofia que se

    ocupa com a reflexo a respeito das noes e dos princpios que fundamentam

    a vida moral. Na verdade, mesmo com uma linguagem bastante simples

    difcil formular e justificar uma definio real sobre a tica, mas podemos

    resumir dizendo que falar de tica falar da conduta humana.

    Em outras palavras, a tica est baseada em valores morais que norteiam o

    comportamento do ser humano em sociedade. Por exemplo: a inteno da vida

    no bem e, consequentemente, agir segundo o bem, que leva a vida melhor ou

    mais feliz, sendo que o bem deve ser realizado, embora no pela coao, mas

    pela persuaso, onde esses termos da tradicional moral grega implicam em

    seu contedo semntico o conceito fundamental de bem, eixo conceitual em

    torno do qual se construram os grandes sistemas ticos da tradio ocidental.

    A propsito, podemos dizer que tica e moral so a mesma coisa? No

    exatamente. Apesar de serem usados muitas vezes como sinnimos essas

    palavras tm conceitos diferentes, geralmente o conceito de tica se confunde

    com o de moral. A palavra moral vem do latim mos que significa maneira de

    se comportar regulada pelo uso. A moral corresponde ao conjunto de

    costumes e juzos morais de um indivduo ou de uma sociedade que possui

    carter normativo (regras de comportamento das pessoas no grupo). Segundo

    Adolfo Snchez Vsquez, tanto ethos como mos indicam um tipo de

  • comportamento propriamente humano que no natural, o homem no nasce

    com ele como se fosse um instinto, mas que adquirido ou conquistado por

    hbito.

    A moral tem um papel social, afinal, o conjunto de regras que determinam

    como deve ser o comportamento dos indivduos em grupo, mas, ademais,

    preciso ressaltar que ela tambm est relacionada com a livre e consciente

    aceitao das normas. J a tica a parte da filosofia que se ocupa com a

    reflexo a respeito das noes e princpios que fundamentam a vida moral. Eu

    sei parece confuso, mas basta termos em mente que uma coisa est vinculada

    a outra e que estes conceitos regem a forma como lidamos com o outro e como

    vivemos em sociedade.

    Apesar de serem etimologicamente semelhantes, a moral e a tica so

    distintas, tendo a moral um carter prtico imediato e restrito, visto que

    corresponde a um conjunto de normas que regem a vida do indivduo e,

    consequentemente, da sociedade, apontando o que bom e o que mal,

    influenciando os juzos de valores e as opinies. Em contrapartida, a tica

    caracteriza-se como uma reflexo filosfica de carter universalista sobre a

    moral, a fim de analisar os princpios, as causas, mas, tambm as

    consequncias das aes dos indivduos para a sociedade.

  • tica x Moral

    Um exemplo famoso o de Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955, na cidade de

    Montgomery, no Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu regra existente de que a

    maioria dos lugares dos nibus era reservada para pessoas brancas. J com certa idade, farta

    daquela humilhao moralmente oficial, Rosa se recusou a levantar para um branco sentar. O

    motorista chamou a polcia, que prendeu a mulher e a multou em dez dlares. O acontecimento

    provocou um movimento nacional de boicote aos nibus e foi a gota dgua de que precisava o

    jovem pastor Martin Luther King para liderar a luta pela igualdade dos direitos civis.

    No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam certos quanto a isso.

    Na verdade, a regra moral vigente que estava errada, a moral que era estpida. A partir da

    sua reflexo tica a respeito, Rosa pde deliberada e publicamente desobedecer quela regra

    moral.

    Entretanto, comum confundir os termos tica e moral, como se fossem a mesma coisa.

    Muitas vezes se confunde tica com esprito de corpo, que tem tudo a ver com moral mas nada

    com tica. Um mdico seguiria a tica da sua profisso se, por exemplo, no dedurasse um

    colega que cometesse um erro grave e assim matasse um paciente. Um soldado seguiria a

    tica da sua profisso se, por exemplo, no dedurasse um colega que torturasse o inimigo.

    Nesses casos, o tal do esprito de corpo tem nada a ver com tica e tudo a ver com

    cumplicidade no erro ou no crime.

    Diante de variadas definies e conceitos sobre a tica, percebemos que o

    homem no vive sozinho, pois, como ser humano, coexiste com seus hbitos,

    costumes, tradies, sonhos, trabalhos etc, dentro de uma ordem moral, onde

    os seus atos, desde que visem o bem, so tidos como ticos. Portanto, a tica

    est relacionada a regras estabelecidas por meio de leis que regulam o modo

    de vida da populao de um pas.

    Sabendo que uma sociedade construda baseada em valores histricos e

    culturais, percebemos que cada sociedade tem seus prprios cdigos de tica,

    fazendo com que o agir eticamente implique em transpor desafios e obstculos

    comuns na vida em vista de uma melhor socializao.

    Logo, todos os atos humanos devem se alicerar em atos ticos, com

    princpios que a torne real para que possa exteriorizar o seu comportamento

    moral em um comportamento moral tico, que necessrio para que melhore a

    convivncia social.

    Desta forma, as aes ticas acontecem quando os valores como a igualdade,

    a justia, a dignidade da pessoa, a democracia, a solidariedade, o

  • desenvolvimento integral de cada um e de todos respeitado e garantido de

    forma plena e eficaz para a formao de uma sociedade mais equilibrada e

    justa.

    LEITURA COMPLEMENTAR:

    http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/cultura/o-dilema-de-ensinar-

    etica-aos-filhos-no-brasil/

    2.2 TICA E INTEGRIDADE NA PRTICA CIENTFICA

    A expresso integridade da pesquisa (research integrity) vem sendo utilizada

    para demarcar um campo particular no interior da tica profissional do cientista,

    entendida como a esfera total dos deveres ticos a que o cientista est

    submetido ao realizar suas atividades propriamente cientficas. No interior

    dessa esfera, pode-se distinguir, por um lado, o conjunto dos deveres

    derivados de valores ticos mais universais que os especificamente cientficos.

    So dessa natureza aqueles que compem o campo da chamada Biotica,

    derivados, por exemplo, do valor (no especificamente cientfico) que o

    respeito integridade fsica, psicolgica e moral dos seres humanos e do

    proibido (no especificamente cientfico) de submeter animais a tratamento

    cruel. enquanto pesquisador que um cientista se relaciona com os sujeitos e

    as cobaias de seus experimentos, mas no por ser um pesquisador que ele

    deve preservar os direitos dos sujeitos de seus experimentos ou deve

    ponderar, no planejamento desses experimentos, o possvel sofrimento de

    suas cobaias.

    Por outro lado, a tica profissional do cientista inclui um conjunto de

    deveres derivados de valores ticos especificamente cientficos, isto , valores

    que se impem ao cientista em virtude de seu compromisso com a prpria

    finalidade de sua profisso: a construo coletiva da cincia como um

    patrimnio coletivo. O princpio desse campo particular da tica profissional :

    ao exercer suas atividades cientficas, um pesquisador deve sempre visar a

    contribuir para a construo coletiva da cincia como um patrimnio coletivo,

    deve abster-se de agir, intencionalmente ou por negligncia, de modo a impedir

    ou prejudicar o trabalho coletivo de construo da cincia e a apropriao

  • coletiva de seus resultados. a essa parte da tica profissional do cientista

    que remete a expresso integridade da pesquisa.

    Relatrio da Comisso de Integridade de Pesquisa do CNPq

    A comisso instituda pela portaria PO-085/2011 de 5 de maio de 2011,

    constituda pelos pesquisadores Alaor Silvrio Chaves, Gilberto Cardoso Alves

    Velho, Jalson Bittencourt de Andrade, Walter Colli e coordenada pelo Dr.

    Paulo Srgio Lacerda Beiro, diretor de Cincias Agrrias, Biolgicas e da

    Sade do CNPq, vem apresentar seu relatrio final

    Introduo

    A necessidade de boas condutas na pesquisa cientfica e tecnolgica tem sido

    motivo de preocupao crescente da comunidade internacional e no Brasil no

    diferente. A m conduta no fenmeno recente, haja vista os vrios

    exemplos que a histria nos d de fraudes e falsificao de resultados. As

    publicaes pressupem a veracidade e idoneidade daquilo que os autores

    registram em seus artigos, uma vez que no h verificao a priori dessa

    veracidade. A Cincia tem mecanismos de correo, porque tudo o que

    publicado sujeito verificao por outros, independentemente da autoridade

    de quem publicou.

    Como ilustrao, podemos citar alguns exemplos emblemticos, como o

    chamado Homem de Piltdown - uma montagem de ossos humanos e de

    orangotango convenientemente manipulados, que alegadamente seria o elo

    perdido na evoluo da humanidade. Embora adequada para as ideias ento

    vigentes, a farsa foi desmascarada quando foi conferida com novos mtodos

    de datao com carbono radioativo. Outros exemplos podem ainda ser citados,

    como o da criao de uma falsa linhagem de clulas-tronco embrionrias

    humanas que deu origem a duas importantes publicaes na revista Science

    em 2004 e 2005. Por esse feito, o autor principal foi considerado o mais

    importante pesquisador de 2004. O que seria um feito extraordinrio mostrou

    ser uma fraude e resultou na demisso desse pesquisador e na excluso

    desses artigos da revista.

  • Essa autocorreo, no entanto, no suficiente para impedir os efeitos

    danosos advindos da fraude, seja por atrasar o avano do conhecimento ou

    mesmo por consequncias econmicas e sociais resultantes do falso

    conhecimento. Um caso exemplar das consequncias danosas que podem ser

    causadas por fraudes cientficas foi a rejeio dos princpios da gentica, por

    meio da manipulao de dados e informaes com objetivos ideolgicos e

    polticos, feita pelo ento presidente da Academia Sovitica de Cincias, Trofim

    Lysenko. Essa falsificao, mesmo sendo posteriormente contestada

    cientificamente, trouxe grande atraso na produo agrcola da ento Unio

    Sovitica, o que contribuiu sobremaneira para a deteriorao econmica e

    sustentabilidade do regime sovitico.

    Esses casos mostram que resultados falsos ou errados podem atrasar

    acentuadamente o avano do conhecimento, sem contar com o custo,

    financeiro e humano, envolvido na correo dos desvios. Mais difceis de

    serem corrigidos so os problemas advindos de plgios, onde o verdadeiro

    autor, seja de descobertas ou de textos, pode ter seu mrito subtrado com

    possveis prejuzos profissionais.

    A falsificao de dados pode ser caracterizada quando as manipulaes

    introduzidas alteram o significado dos resultados obtidos. Por exemplo,

    introduzir ou apagar imagens em figuras podem alterar a interpretao dos

    resultados. Algumas situaes so consideradas legtimas, como, por exemplo,

    o emprego de software de aumento de contraste usado por astrnomos pode

    revelar objetos celestes dificilmente identificveis de outra maneira. Alteraes

    de contraste ou brilho para melhorar a qualidade global de uma imagem so

    consideradas legtimas se aplicadas a toda a imagem e descritas na

    publicao. Nesses casos a imagem original deve ser mantida, e publicada

    como informao suplementar quando possvel.

    Alm das referidas consequncias danosas da falsificao e do plgio, essas

    prticas podem favorecer indevidamente seus autores para conseguirem

    vantagens em suas carreiras e na obteno de auxlios financeiros. Em relao

    a isso, surge tambm como significativa a prtica crescente de autoplgio. Em

    um ambiente de competio para a obteno de auxlios financeiros, isso pode

    significar o investimento em pessoas e projetos imerecidos, em detrimento

    daqueles que efetivamente so capazes de produzir avanos do conhecimento.

  • A existncia de software capaz de identificar trechos j publicados de

    manuscritos submetidos tem facilitado a preveno de plgio e de autoplgio.

    Por todas essas razes as ms condutas na pesquisa so assunto de interesse

    das agncias de financiamento, que devem zelar pela boa aplicao de seus

    recursos em pessoas que sejam capazes de produzir avanos efetivos (isto ,

    confiveis) do conhecimento. Isso significa instituir mecanismos que permitam

    identificar e desestimular as prticas fraudulentas na pesquisa, e estimular a

    integridade na produo e publicao dos resultados de pesquisa.

    Para lidar com esses problemas, a comisso recomenda que o CNPq tenha

    duas linhas de ao: 1) aes preventivas e pedaggicas e 2) aes de

    desestmulo a ms condutas, inclusive de natureza punitiva.

    Com relao s aes preventivas, importante atuar pedagogicamente para

    orientar, principalmente os jovens, nas boas prticas. tambm importante

    definir as prticas que no so consideradas aceitveis pelo ponto de vista do

    CNPq. Como parte das aes preventivas, o CNPq deve estimular que

    disciplinas com contedo tico e de integridade de pesquisa sejam oferecidas

    nos cursos de ps-graduao e de graduao. Tambm a produo de material

    com esses contedos em lngua portuguesa deve ser estimulada e

    disponibilizada nas pginas do CNPq. Como ponto de partida, algumas

    diretrizes orientadoras das boas prticas nas publicaes cientficas, inclusive

    nos seus aspectos metodolgicos, devem ser imediatamente publicadas,

    podendo ser aperfeioadas com contribuies subsequentes. H que se

    salientar nessa direo a importncia dos orientadores acadmicos.

    Com relao s atitudes corretivas e punitivas, recomenda-se a instituio de

    uma comisso permanente pelo Conselho Deliberativo do CNPq, constituda de

    membros de alta respeitabilidade e originados de diferentes reas do

    conhecimento. Dever caber a esta comisso examinar situaes em que

    surjam dvidas fundamentadas quanto integridade da pesquisa realizada ou

    publicada por pesquisadores do CNPq - detentores de bolsa de produtividade

    ou auxilio a pesquisa. Com relao a denncias, de se cuidar para no

    estimular denncias falsas ou infundadas. Caber a essa comisso examinar

    os fatos apresentados e decidir preliminarmente se h fundamentao que

    justifique uma investigao especfica, a ser realizada por especialistas da rea

    nomeados ad hoc. Caber tambm a essa comisso, a partir dos pareceres

  • dos especialistas, propor Diretoria Executiva do CNPq os desdobramentos

    adequados. Ser tambm incumbncia dessa comisso avaliar a qualidade do

    material disponvel sobre tica e integridade de pesquisa, a ser publicado nas

    pginas do CNPq.

    Definies

    Podem-se identificar as seguintes modalidades de fraude ou m conduta em

    publicaes:

    Fabricao ou inveno de dados - consiste na apresentao de dados ou

    resultados inverdicos.

    Falsificao: consiste na manipulao fraudulenta de resultados obtidos de

    forma a alterar-lhes o significado, sua interpretao ou mesmo sua

    confiabilidade. Cabe tambm nessa definio a apresentao de resultados

    reais como se tivessem sido obtidos em condies diversas daquelas

    efetivamente utilizadas.

    Plgio: consiste na apresentao, como se fosse de sua autoria, de resultados

    ou concluses anteriormente obtidos por outro autor, bem como de textos

    integrais ou de parte substancial de textos alheios sem os cuidados detalhados

    nas Diretrizes. Comete igualmente plgio quem se utiliza de ideias ou dados

    obtidos em anlises de projetos ou manuscritos no publicados aos quais teve

    acesso como consultor, revisor, editor, ou assemelhado.

    Autoplgio: consiste na apresentao total ou parcial de textos j publicados

    pelo mesmo autor, sem as devidas referncias aos trabalhos anteriores.

    Leitura complementar:

    http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010340142014000100016&script=sci_arttext

    http://www.memoria.cnpq.br/normas/lei_po_085_11.htm

    http://www.fapesp.br/boaspraticas/

  • 2.3 PROBLEMAS TICOS E A CINCIA DE HOJE

    Ao iniciarmos um empreendimento cientifico, assumimos questes ticas e

    morais, como por exemplo de que forma a vida deve ser vivida ou o bem e o

    mal, o justo e o injusto. Isto acontece de forma simultnea no somente ao

    momento temporal, mas proposta filosfica de que tica e moral se

    constituem mutuamente, na medida em que a busca por compreender o que

    viver nos leva ao terreno prtico de como tratamos o outro, e o debate entre o

    justo e o injusto leva-nos reflexo sobre justia como tal.

    A combinao do termo tica com o campo cientfico, que soaria estranha para

    os fundadores as Sociedade Real de Londres, no ano de 1660. O lema desse

    restrito grupo nullius in verba (afirma a vontade de estabelecer a verdade no

    domnio dos fatos, baseando-se somente na experincia cientfica, e jamais na

    palavra de alguma autoridade) a determinao de verificar proposies

    cientficas com base no apelo aos fatos, que para eles eram externos e

    pertencentes natureza. tica da atividade cientfica era presumida como

    natural porque, tal como os demais saberes (prticos, tecnolgicos, sociais ou

    artesanais) era feita, em grande parte, por pessoas honestas e sinceras que

    gostavam do que faziam, que aceitavam os limites da negociao da verdade e

    reagiam contra proposies que consideravam insustentveis.

    essa prtica de lidar com questes ticas e morais como parte do cotidiano

    que est sendo questionada hoje, como atestam os diversos cdigos de

    conduta para pesquisa e publicao cientfica produzidos nos ltimos anos.

    Somente em 2011, no Brasil, tivemos o cdigo de Boas Prticas Cientficas da

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp), o relatrio

    e recomendaes da Comisso de Integridade de Pesquisa do Conselho

    Nacional de Pesquisa Cientfica (CNPq) e a conduta pblica sobre a reviso da

    Resoluo 196/1996 do Conselho Nacional de Sade, que trata da tica em

    pesquisa em seres humanos.

    Ao ler esses e outros documentos de mbito internacionais, parece que, de

    maneiras distintas, pesquisadores, gestores, editores, usurios e financiadores

    esto chegando concluso de que a catica cultura democrtica e coletiva

    que sustentava as diferentes comunidades cientficas e garantia a circulao

    do saber est com srias dificuldades de enfrentar questes fundamentadas na

    integridade.

  • A integridade da pesquisa deve ser um valor absoluto tanto para os

    pesquisadores individuais como para as instituies envolvidas com essas

    atividades. Questes de m conduta como as especificaes de prticas

    cientficas apropriadas baseiam-se em princpios de integridade cientfica.

    Estes devem ser observados por pesquisadores individuais, nas relaes entre

    pesquisadores e nas relaes com o ambiente externo. So princpios gerais:

    I Honestidade na apresentao, execuo e descrio de mtodos e

    procedimentos da pesquisa e na interpretao dos resultados.

    II Confiabilidade na execuo da pesquisa e na comunicao de suas

    concluses.

    III Objetividade na coleta e no tratamento de dados e informaes, na

    apresentao de provas e evidncias e na interpretao de resultados.

    IV Imparcialidade na execuo da pesquisa, na comunicao e no

    julgamento das contribuies de outros.

    V Cuidado na coleta, armazenamento e tratamento de dados e informaes.

    VI Respeito por participantes de objetos do trabalho de pesquisa, sejam

    seres humanos, animais, o meio ambiente ou objetos culturais.

    VII Veracidade na atribuio dos crditos a trabalhos de outros.

    VIII Responsabilidade na formao e na superviso do trabalho de jovens

    cientistas.

    Estes princpios devem ser seguidos pela equipe de pesquisadores desde o

    estabelecimento dos mtodos que sero utilizados na pesquisa at a

    publicao dos resultados. A avaliao tica de um projeto de pesquisa em

    sade baseia-se na qualificao do projeto de pesquisa, na equipe de

    pesquisadores envolvidos, na avaliao do risco-benefcio, no consentimento

    informado e tambm na prvia avaliao realizada por um comit de tica.

    Em todos os tipos de pesquisa clnica, o pesquisador principal quem deve

    garantir o cumprimento dos processos ticos, das boas prticas clnicas,

    garantir o cuidado aos pacientes, ser responsvel pelos dados da pesquisa e

    da equipe profissional envolvida como um todo. E como a publicao cientfica

    o produto final de toda a pesquisa realizada, ele o responsvel pela autoria

    e co-autoria da publicao cientfica.

  • Tambm devemos destacar os aspectos jurdicos dessa questo. Os autores e

    co-autores de trabalhos cientficos tambm assumem a responsabilidade

    profissional, pblica, tica e social da publicao de acordo com a Lei do

    Direito Autoral. Responsabilidades estas tambm compartilhada com os

    editores das revistas cientficas e so considerados co-responsveis pela

    publicao.

    2.4 DIRETRIZES DE PRTICAS CIENTFICAS

    1. O autor deve sempre dar crdito a todas as fontes que fundamentam

    diretamente seu trabalho.

    2. Toda citao in verbis de outro autor deve ser colocada entre aspas.

    3. Quando se resume um texto alheio, o autor deve procurar reproduzir o

    significado exato das ideias ou fatos apresentados pelo autor original, que deve

    ser citado.

    4. Quando em dvida se um conceito ou fato de conhecimento comum, no

    se deve deixar de fazer as citaes adequadas.

    5. Quando se submete um manuscrito para publicao contendo informaes,

    concluses ou dados que j foram disseminados de forma significativa (p.ex.

    apresentado em conferncia, divulgado na internet), o autor deve indicar

    claramente aos editores e leitores a existncia da divulgao prvia da

    informao.

    6. se os resultados de um estudo nico complexo podem ser apresentados

    como um todo coesivo, no considerado tico que eles sejam fragmentados

    em manuscritos individuais.

    7. Para evitar qualquer caracterizao de autoplgio, o uso de textos e

    trabalhos anteriores do prprio autor deve ser assinalado, com as devidas

    referncias e citaes.

    8. O autor deve assegurar-se da correo de cada citao e que cada citao

    na bibliografia corresponda a uma citao no texto do manuscrito. O autor deve

    dar crdito tambm aos autores que primeiro relataram a observao ou ideia

    que est sendo apresentada.

  • 9. Quando estiver descrevendo o trabalho de outros, o autor no deve confiar

    em resumo secundrio desse trabalho, o que pode levar a uma descrio falha

    do trabalho citado. Sempre que possvel consultar a literatura original.

    10. Se um autor tiver necessidade de citar uma fonte secundria (p.ex. uma

    reviso) para descrever o contedo de uma fonte primria (p. ex. um artigo

    emprico de um peridico), ele deve certificar-se da sua correo e sempre

    indicar a fonte original da informao que est sendo relatada.

    11. A incluso intencional de referncias de relevncia questionvel com a

    finalidade de manipular fatores de impacto ou aumentar a probabilidade de

    aceitao do manuscrito prtica eticamente inaceitvel.

    12. Quando for necessrio utilizar informaes de outra fonte, o autor deve

    escrever de tal modo que fique claro aos leitores quais ideias so suas e quais

    so oriundas das fontes consultadas.

    13. O autor tem a responsabilidade tica de relatar evidncias que contrariem

    seu ponto de vista, sempre que existirem. Ademais, as evidncias usadas em

    apoio a suas posies devem ser metodologicamente slidas. Quando for

    necessrio recorrer a estudos que apresentem deficincias metodolgicas,

    estatsticas ou outras, tais defeitos devem ser claramente apontados aos

    leitores.

    14. O autor tem a obrigao tica de relatar todos os aspectos do estudo que

    possam ser importantes para a reprodutibilidade independente de sua

    pesquisa.

    15. Qualquer alterao dos resultados iniciais obtidos, como a eliminao de

    discrepncias ou o uso de mtodos estatsticos alternativos, deve ser

    claramente descrita junto com uma justificativa racional para o emprego de tais

    procedimentos.

    16. A incluso de autores no manuscrito deve ser discutida antes de comear a

    colaborao e deve se fundamentar em orientaes j estabelecidas, tais como

    as do International Committee of Medical Journal Editors.

    17. Somente as pessoas que emprestaram contribuio significativa ao

    trabalho merecem autoria em um manuscrito. Por contribuio significativa

    entende-se realizao de experimentos, participao na elaborao do

    planejamento experimental, anlise de resultados ou elaborao do corpo do

  • manuscrito. Emprstimo de equipamentos, obteno de financiamento ou

    superviso geral, por si s no justificam a incluso de novos autores, que

    devem ser objeto de agradecimento.

    18. A colaborao entre docentes e estudantes deve seguir os mesmos

    critrios. Os supervisores devem cuidar para que no se incluam na autoria

    estudantes com pequena ou nenhuma contribuio nem excluir aqueles que

    efetivamente participaram do trabalho. Autoria fantasma em Cincia

    eticamente inaceitvel.

    19. Todos os autores de um trabalho so responsveis pela veracidade e

    idoneidade do trabalho, cabendo ao primeiro autor e ao autor correspondente

    responsabilidade integral, e aos demais autores responsabilidade pelas suas

    contribuies individuais.

    20. Os autores devem ser capazes de descrever, quando solicitados, a sua

    contribuio pessoal ao trabalho.

    21. Todo trabalho de pesquisa deve ser conduzido dentro de padres ticos na

    sua execuo, seja com animais ou com seres humanos.