CAPÍTULO 8 – MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA Colégio Cor Jesu –...

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CAPÍTULO 8 – MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA Colégio Cor Jesu – professora Suelene - Filosofia

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CAPÍTULO 8 – MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE EXPLICAÇÃO SOCIOLÓGICA

Colégio Cor Jesu – professora Suelene - Filosofia

• É a interdisciplinaridade que tem revolucionado o conhecimento científico da atualidade.• A sociologia se aproxima das demais ciências

humanas, e se afasta das exatas e biológicas.• Além disso, as teorias sociológicas desenvolvidas

no século XX procuraram resolver a oposição entre sociedade e indivíduo, perceptível nos modelos clássicos.• Necessidade de o pesquisador ouvir e interpretar as

formas simbólicas e linguísticas.

A CRISE DOS PARADIGMAS NA SOCIOLOGIA ATUAL

• A Sociologia é fruto das condições históricas que se criaram como consequência da expansão do capitalismo no Ocidente, do desenvolvimento da urbanização e da produção em massa.

• A necessidade de planejamento, a revolução tecnológica e o desenvolvimento das ciências físicas e naturais foram elementos decisivos para que uma nova concepção da sociedade se formulasse entre cientistas, filósofos e intelectuais, dando origem a teorias que procuraram explicar a realidade social e o comportamento coletivo.

Os novos acontecimentos do século xx

• A sociologia contemporânea desenvolveu-se na segunda metade do século XX, quando transformações sociais modificaram a maneira de pensar a vida coletiva.

• A emergência de novas potências no mundo – Estados Unidos e União Soviética -, o declínio da hegemonia europeia, as migrações de grandes levas populacionais pelo planeta, a emancipação das colônias na África e na Ásia, a industrialização levada a cabo em diversas regiões, antes predominantemente agrícolas, e a revolução tecnológica modificaram a geopolítica, abalaram as instituições e reorganizaram as formas de poder e o equilíbrio internacional.

• Nesse novo cenário, foi preciso rediscutir a vida coletiva.• Fez-se uma releitura e atualização dos modelos de

explicação sociológica até então vigentes, especialmente o modelo de Karl Marx, cujas ideias foram vistas como inspiradoras do regime político da União Soviética, que se desmembrou em 1991, da China e de países da América Latina, como Cuba.

• Por outro lado, a produção em massa, o desenvolvimento crescente das comunicações e o inusitado desenvolvimento da chamada Terceira Revolução Tecnológica exigiram que novos conceitos fossem propostos.

Sociologia contemporânea

• As propostas surgiram na Europa e nos Estados Unidos, mas influenciaram os estudos sociais em todo o mundo.

• É um período em que a sociologia é influenciada pelo desenvolvimento de outras disciplinas, como a psicologia, a psicanálise, a linguística e a semiótica, e marcado pelo interesse em desvendar os mecanismos mentais do pensamento, da cognição, da motivação e da expressão humanas.

• A sociologia se torna mais interdisciplinar.

O indivíduo e a sociedade

• Max Weber considerava relevante a análise das representações com as quais os diversos agentes interpretavam as realidades sociais vividas.

• Mas também tinha dificuldade em harmonizar indivíduo e sociedade.

• Norbert Elias contestou esse posicionamento, afirmando ser necessário deixar claro que as concepções que põem o indivíduo fora da sociedade e as que põem a sociedade fora dos indivíduos são inadequadas.

• Privilegiar o indivíduo, suas motivações e suas formas cognitivas, mais até do que seu comportamento, implica recortes metodológicos reduzidos, desenvolvimento de teorias de menor abrangência e maior profundidade, além de métodos de pesquisa mais interpretativos, históricos e qualitativos.

• Essa opção é pouco atrativa para organizações interessadas em uma sociologia dedicada ao estudo das populações.

• Para tais políticas, continua sendo imprescindível uma pesquisa sociológica abrangente, fornecendo informações a curto prazo (uso de metodologias quantitativas).

• Muitos sociólogos contemporâneos optaram pelo estudo científico voltado para a intervenção na sociedade, buscando solucionar conflitos como criminalidade, violência e discriminação.• A metodologia mais utilizada para esse fim inclui

procedimentos qualitativos e análise interpretativa, valendo-se de ferramentas como história oral e análise de correspondências pessoais, numa valorização dos processos simbólicos e expressivos.

Escola de Chicago

• Os Estados Unidos, na passagem do séc. XIX para o XX, receberam grande contingente de imigrantes que deixavam seus países e culturas de origem para fugir às perseguições políticas e religiosas que varriam a Europa na época.

• Desenraizados e sem as referências de suas sociedades de origem, os imigrantes e seus descendentes encontraram dificuldades para se adaptar a um país novo, de valores muito diferentes dos europeus e em plena expansão industrial.

• A maioria acabou se integrando. Alguns, no entanto, se marginalizaram, formando gangues e se dedicando ao crime organizado, como a máfia.

• Por outro lado, o grande surto industrial norte-americano que teve início no século XX também era fonte de conflitos sociais que geravam preconceito e perseguições que adquiriram contornos étnicos e raciais.

• Os ex-escravos e seus descendentes encontravam dificuldades para se integrar ao trabalho livre, transformando-se em uma minoria vítima da violência e do racismo.

• Esses conflitos tendiam a ser resolvidos com o emprego da força policial.

• O cenário estimulava o desenvolvimento de estudos sociais, cujo apogeu se deu na Universidade de Chicago, em 1915 e 1940.

• Era a chamada Escola de Chicago, constituída de professores e pesquisadores que procuravam estudar a cidade numa atitude pragmática e intervencionista.

• Uma vez que as instituições públicas – o Congresso e os partidos políticos – estavam comprometidas com a razão instrumental, cabia aos meios de comunicação promover o diálogo, a interação e a cidadania.

• As pesquisas resultavam em relatórios pormenorizados e propostas exequíveis de intervenção, que propunham formas eficientes de controle e fiscalização como também medidas socioeducativas que efetivamente foram colocadas em prática.

Mudanças de abordagem

• A Escola de Chicago começou a perdeu seu brilho quando essa geração de sociólogos empiristas foi substituída por uma outra, voltada principalmente para as pesquisas quantitativas, que visavam ao levantamento de tendências eleitorais ou da preferência da audiência dos meios de comunicação.

• Sem patrocínio para pesquisas mais demoradas e menos utilitárias, os sociólogos acabaram por substituir as técnicas qualitativas pelas quantitativas, trazendo de volta toda uma contestada postura positivista.

A Escola de Frankfurt

• No início da século XX, a Europa passava por grandes convulsões políticas: a industrialização da Itália e da Alemanha, a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e, imediatamente, a instalação do governo autoritário de Stalin.

• Na Alemanha, durante a república de Weimar (1919-1933), ocorreram grandes conflitos entre a mobilizada classe operária e o governo.

• Nesse clima, foi fundado o Instituto para a Pesquisa Social, em 1924, ligado à Universidade de Frankfurt.

• Uniu-se a ele um grupo de intelectuais, entre os quais se destacaram Max Horkheimer, Friedrick Pollock, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Theodor W. Adorno e Eric Fromm.

• Os autores elaboravam uma releitura dos filósofos clássicos, cujos trabalhos foram reunidos sob o nome de Teoria Crítica da sociedade, doutrina cética que procurava estudar os insucessos do movimento operário na Alemanha.

• Nos primeiros anos, o Instituto foi financiado com recursos doados por seus fundadores judeus, mas a ascensão do nazismo colocou em risco a continuidade de seus trabalhos.

• Durante o regime nazista e a Segunda Guerra Mundial, os pesquisadores do Instituto passaram a trabalhar em anexos instalados fora da Alemanha.

• Derrotado o nazismo, alguns frankfurtianos voltaram às suas aulas em Frankfurt.

• A Escola de Frankfurt sucedeu a 100 anos de tradição do pensamento social na Alemanha revendo principais autores da sociologia.

• A atuação de seus membros foi mais acadêmica e teórica do que político-partidária, mas repercute até os dias de hoje.

• Na França, a Teoria Crítica conquistou vários adeptos, dentre os quais Jean Baudrillard.

• Baudrillard foi um ácido questionador da sociedade voltada para o consumo e para uma realidade proposta pelos meios de comunicação de massa e pela publicidade.

• Já, Guy Debord propôs conceito importante para definir a sociedade contemporânea - o conceito de sociedade do espetáculo – pautada pela contradição entre uma interpretação midiática da realidade e a vida concreta vivida pelos espectadores.

• Uma realidade invertida, formada e divulgada pela mídia e que aliena o público de forma inexorável.

• De maneira geral, as teorias desenvolvidas pela Escola de Frankfurt procuraram rever os princípios marxistas, incorporando conceitos importantes da sociologia do conhecimento e da psicanálise.

• Tinham por objeto de pesquisa a ação revolucionária e a análise da mercantilização das relações sociais e da produção cultural.

• Realizaram a análise e a denúncia dos meios de comunicação, aos quais atribuíam o sucesso da doutrina nazista na Alemanha.

• Nome de relevo da Teoria Crítica é o de Jürgen Habermas.

• Habermas pertence a uma outra geração, que não passou pelo exílio nem compartilhou os conflitos na Alemanha promovidos pelas lutas operárias e pela ascensão do nazismo.

• Suas preocupações estão centradas nas dimensões ideológicas do conhecimento e na identificação de seus múltiplos condicionamentos.

• Desenvolve a teoria dos interesses cognitivos, por meio do qual demonstra a impossibilidade da neutralidade científica proposta por muitos sociólogos.

• Nesse trabalho, Habermas já mostra o papel central da comunicação em sua pesquisa.

• Elabora o conceito de ação comunicativa – as pessoas interagem por meio da linguagem, buscando se organizar socialmente pelo consenso, sem se submeter a coações internas e externas.

• Identifica dois tipos de razão na cultura humana: a razão instrumental – voltada para o domínio da natureza e a superação dos limites humanos; e a razão comunicativa – voltada para a realização e a libertação humanas.

• A primeira é característica da indústria e das ciências exatas; a outra, das ciências hermenêuticas.

• A grande crítica que tece em relação à sociedade contemporânea é a prevalência da razão instrumental sobre a razão comunicativa.

Sociologia francesa: Pierre Bourdieu

• O nazismo e a ocupação alemã na França abalaram a pesquisa e estudo da sociologia.

• Desenvolveu-se uma sociologia monográfica voltada para a releitura do marxismo e para a crítica do positivismo.

• O nome que mais se distinguiu na sociologia francesa contemporânea foi o de Pierre Bordieu, titular da cátedra de sociologia no Collège de France, que iniciou sua pesquisa pela análise da educação e do patrimônio cultural das famílias.

• Boudieu se dedicou ao que chamou de “construtivismo estruturalista”.

• Construtivismo dizia respeito aos esquemas mentais de percepção, pensamento e ação que caracterizam o comportamento dos indivíduos e que ele chamou de habitus.

• Por outro lado, o conceito de estruturalismo implicava o reconhecimento da existência de formações sistêmicas que agem sobre os agentes sem que eles tenham consciência ou possam nelas intervir.

• Essas formações constituíam o que ele chamou de campo.

• O habitus primário consiste em disposições internas do sujeito – que internalizam padrões de vida social – herdadas da família e estruturadas pela experiência individual e pela educação.

• Transformam-se ao longo da vida, a partir da experiência da vida adulta, em habitus secundário.

• Essas formações, assim como programas de computador, fornecem múltiplas possibilidades de ação aos sujeitos.

• Uma das mais importantes contribuições de Pierre Bourdieu para a sociologia, porém, foi a noção de campo pela qual ele designava esferas autônomas da vida social, historicamente constituídas, envolvendo relações sociais e de produção próprias, sistemas hierárquicos e de dominação, além de instituições particulares.

• Estudioso das formas simbólicas, Bourdieu apontou para as possibilidades da ação social efetiva por meio da comunicação.

• A apropriação da linguagem e dos diversos códigos simbólicos depende de instituições como a família e a escola.

• Essas instituições, no entanto, reproduzem as desigualdades sociais e as diferenças de capital simbólico herdadas de acordo com nossa posição social.

Norbert Elias e a civilização

• Judeu, alemão, nascido em 1897, Norbert Elias exilou-se na França e depois, durante o nazismo, na Inglaterra.

• Ficou conhecido como o sociólogo do processo civilizador e da vida social na corte.

• Elias concebia a sociedade como um tecido que liga os indivíduos numa teia de interdependência em permanente mudança e movimento – a cada ação numa direção, todo o tecido se reorganiza.

• Mas a ideia desse tecido não se assemelha ao conceito de estrutura social, pois se trata de um processo sócio-histórico constituído por seres que atuam de forma consciente, por meio de representações abstratas e simbólicas que elaboram a respeito de si e da situação da qual participam.

• O tecido social é formado do entrecruzamento de inúmeras relações intersubjetivas que funcional de acordo com o princípio da reciprocidade, embora nem sempre tenhamos consciência disso.

• Essa reciprocidade não significa igualdade nem equilíbrio nas relações entre os indivíduos.

• Elias percebe uma marcante desigualdade nas relações humanas resultantes de diferentes graus de dependência entre indivíduos e grupos, a partir dos quais quem é menos dependente domina.

Manuel Castells e a sociedade em rede

• Manuel Castells é espanhol e dedicou-se ao estudo da sociedade pós-moderna, na qual predominam as redes informáticas de comunicação.

• Não alimenta o pessimismo de autores que veem na comunicação a distância um recrudescimento da alienação humana ante a tecnologia e os meios de comunicação, mas também não se associa ao ufanismo de muitos dos autores otimistas em relação às potencialidades das mídias digitais.

• Castells procura adaptar os conceitos da economia política marxista às novas trocas econômicas e simbólicas que ocorrem na comunicação mediada por computadores.

• Procura mostrar a revolução promovida pela informática nas relações econômicas, nas relações de trabalho, no mercado e nas relações nacionais e internacionais.

• Outros autores trabalharam na mesma vertente.• Pierre Lévy, autor de inúmeros livros sobre as

transformações introduzidas pela sociedade mediada por computadores, mantém uma postura otimista.

• Já Paul Virillio, ao contrário, acredita estarmos vivendo profunda desumanização das relações societárias e interpessoais promovida pela revolução tecnológica.