CAPÍTULO I DAS ORIGENS tuída de muitas dimensões que se...

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CAPÍTULO I DAS ORIGENS 3. Vistaaérea da cidade de Pirassununga, escala aproximada: 1 :25.000 tuída de muitas dimensões que seentre cruzaramao longo do tempo - final do século XIX e todo o século XX -, e em múltiplos espaços, desde as ocupações dos tupis-guaranis nas corredeiras onde os peixes fazem barulho, atéasrotas do açúcar paraGoiás, nasidas e vindas dos garimpeiros, passando a lestepor Mogi-Mirim e Mogi-Guaçu, encontrando a bacia do Rio Piracicaba, grande entreposto de trocasdesde o século XVIII e base do desenvolvimento da cafeicultu- ra e da imigração européia no século XIX. Nessas rotas,a leveza dos pés descalços dos nativ~ aspicadas abertas pelosgolpesrudesdos facões dos bandeirantes metamorfosearam diversas culturas:a nativa,a dosco- lonizadores portugueses e a dos demais imigrantes,que seespalharam por todo o interior de São Pauloem levas originárias de diferentes paí- ses, fazendo com que a cidade de Pirassununga tenhahoje, em razãoda diversidade dasorigens,muitos desses elementos em seucotidiano.

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CAPÍTULO I

DAS ORIGENS

3. Vista aérea da cidade de

Pirassununga, escala

aproximada: 1 :25.000

tuída de muitas dimensões que se entre cruzaram aolongo do tempo - final do século XIX e todo o século XX -, e

em múltiplos espaços, desde as ocupações dos tupis-guaranis nascorredeiras onde os peixes fazem barulho, até as rotas do açúcar para Goiás,nas idas e vindas dos garimpeiros, passando a leste por Mogi-Mirim eMogi-Guaçu, encontrando a bacia do Rio Piracicaba, grande entrepostode trocas desde o século XVIII e base do desenvolvimento da cafeicultu-ra e da imigração européia no século XIX. Nessas rotas, a leveza dos pésdescalços dos nativ~ as picadas abertas pelos golpes rudes dos facõesdos bandeirantes metamorfosearam diversas culturas: a nativa, a dos co-lonizadores portugueses e a dos demais imigrantes, que se espalharampor todo o interior de São Paulo em levas originárias de diferentes paí-ses, fazendo com que a cidade de Pirassununga tenha hoje, em razão dadiversidade das origens, muitos desses elementos em seu cotidiano.

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Muitas lendas permitem a recuperação de frag-

ment5}s desse passado, num contar e recontar his-

tórias que se mantêm na tradição oral, como pode

ser observado abaixo:

Em "Origem do Mogi" relata-se que um chefe-guerrei-

ro enamorou-se de duas formosas índias. O regime mono-

gâmico da tribo o impedia de casar com ambas e ele não sa-bia como decidir. Até que numa noite teve um sonho:

deveria propor um torneio de flechas entre as duas amadas

e aquela que melhor acertasse o alvo seria a sua esposa. Toda

a aldeia se reuniu para assistir à disputa e perdeu a índia

Obirici, dentre as duas, aquela que mais amava o índio-

guerreiro. Tendo perdido o seu amor, Obirici se refugiou emuma mata e pediu a Monã, o deus supremo, que lhe desse

a maior dor e esta veio em forma de lágrimas, pela primeira

vez entre os índios. Obirici chorou dias e noites seguidos e

suas lágrimas banharam o seu corpo, correram pelos seus pés

e formaram um pequeno regato, que deu origem ao Mogi-

Guaçu. Mas Obirici continuou a chorar e naquele êxtase dedor Monã veio buscá-Ia. Ela, porém, quis ficar nesta terra,

perto dos seus, e seu corpo, por inteiro, se transformounuma montanha - a Maan tiquira (coisa que verte), a Man-

tiqueira de hoje - que continua a chorar, formando as ver-

tentes que correm para Minas Gerais e São Paulo 4.

O . d "O ' das I "li aln a, a ngem estre as :

Conta-se que há muito tempo um velho pajé sentiu quea morte o queria levar para a Terra de Trovão, onde havia

muita caça, frutos e formosas índias. No firmamento exis-

tiam apenas o sol e a lua. .. e nenhuma estrela. Durante a lua

4. Capitanias de São Paulo e Minas Geraes no século XVIII. Reconstituição feita por

Manoel Pereira de Godoy em 1968

4. Manoel Pereira de Godoy, Contribuição à História Natural e

Geral de Pirassununga, vol. 1, p. 204.

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1!ItR~DAS ORIGr~NS 25

nova, quando as noites eram escuras como carvão, os índi-os ficavam amedrontados e tristes, pois a luz não aparecia enão havia nenhum sinal no céu - havia somente o lamento

dos índios e dos animais. Foi na época da lua nova que o

velho pajé deixou esta terra para ir morar na Terra de Trovão.

Porém, como era bondoso para com todos e desejando ca-

minhar por uma estrada cheia de luzes após a morte e dissi-

par o medo de todos por ocasião da lua nova, o velho pajé,

nos seus últimos instantes, numa noite escura, levantou-se

de sua rede e se dirigiu a um pântano próximo, onde havia

muitos vaga-lumes. Apanhou-os eos atirou um a um para

o céu, onde ficaram pregados para sempre, iluminando, com

seu cintilar, todas as noites do mundo, sobretudo por oca-

sião da lua nova. Desde então os homens volvem os seus

olhos para o céu, em todas as noites, para contemplar os

vaga-lumes do velho pajé de Pirassununga5.

na Corte. M~ avaliava que o ensino era deficiente

em educação técnica? Essas novas necessidades de

diferentes perfis profissionais indicam profunda al-

teração na estrutura social constituída por senho-

res e escravos. Um novo conjunto de seguimentos

se interpunha no seio da classe dominante, que se

ampliava para além dos senhores de engenho e dos

barões do café. Com~rciantes, homens de negóci-

os, banqueiros, engenheiros e demais técnicos exi-

giam ensino especializado. No pólo antagônico, um

número elevado de atividades urbanas, industriais

e rurais abria caminho para um proletariado mais

preparado para enfrentar as noy:as necessidades da

produção. Entre eles, desenvolvia-se uma classe mé-

dia composta por profissionais liberais, funcioná-

rios públicos, pequenos comerciantes e artesãos,

que ocuparam diferentes funções, tanto na capital

como nas demais cidades que cresciam, deixando

5. Idem, p. 206.6. Em 1812 foi criado por Carta Régia o primeiro curso agrí-

cola da Bahia, modificado pelo Decreto n2 5.957 de 1875;

em 1814 foi a vez do Rio de Janeiro; em 1859, foi criado

um estabelecimento para aprendizes agrícolas no Maranhão;e em 1860, no Pará, preferencialmente para meninos órfãos

e pobres.

7. Um instituto agrícola em Pernambuco, um asilo agrícola em

Minas Gerais, além dos já criados pelo Marquês de Pombal

e D. João VI. Rui Barbosa propôs em seu substitutivo de

Reforma Educacional que o Colégio D. Pedro 11 deveria ter,além do bacharelado, seis cursos entre os quais o de agrimen-

sura e o de direção de trabalhos agrícolas. In: Rum Kunzli,

Emino Agricola e Vida Rural no Sudoeste Paulista: A Escola

Prdtica de Agricultura de Presidente Prudente (Um Ertudo de

Caso), p. 21.

Múltiplas formas de viver e pensar. Pirassunun-

ga é, portanto, parte singular da transformação de

São Paulo. &te processo foi, ao longo do século XX,

entremeado de indecisões da classe dominante sobre

a estrutura produtiva, predominantemente agrária

ou industrial. Em meados do século XIX, o governo

imperial decidiu criar cursos técnicos de agricultura

para absorver no mercado de trabalho os negros es-

cravos ou libertos, os órfãos e os operários agrícolas

que apareciam nas representações do poder, ou mes-

mo dos fazendeiros, sem preparo para o trabalho nas

lavouras de café, ocupadas por imigrantes, conside-

rados superiores6.

Em 1878, Rui Barbosa informou ao governo

imperial que o ensino primário possuía cinco mil

alunos e esc~las para atender a demanda, enquan-

to o ensino profissional se reduzia a dezessete esta-

belecimentos, sendo treze nas províncias e quatro

,.~~.~f(ll-.lE26 ,t.jl

trabalho9. Mesmo aqueles que haviam recebido co-

lonos imigrantes para trabalhar nas terras compor-

tavam-se do mesmo modo, já que a mentalidade

escravista estava consolidada.

Em 11 de maio de 1892, em São Paulo, foi

aprovada a lei n2 26, que criou a Escola Superior

de Agricultura em Piracicaba e Luiz Vicente de

Souza Queiroz resolveu doar ao Estado a própria

fazenda, chamada São João da Montanha para que

se instalasse a Escola Agrícola Prática de Piracicaba.

A conjuntura exigia atualização do ensino pro-

fissional e, paradoxalmente, esta ocorreu no ensi-

no superior: em 1875 foi criado o Instituto Impe-

rial Baiano de Agricultura; em 1878, a Escola de

Agronomia de Pelotas; em 1906, criado e sancio-

nado o Ministério da Agricultura, com base no

modelo francês, e o ensino agronômico no país1o;

em 1901 foi fundada a Escola Superior de Agro-

nomia de Piracicaba, hoje Escola Superior de Agri-

cultura Luiz de Queiroz (Esalq), em homenagem

a seu benemérito. A Escola estava ligada à Secreta-

ria de Agricultura e a implementação de cursos foi

mínima. Quando o processo republicano se con-

solidou com a vitória do agrarismo, estimularam-

se cursos superiores de agronomia e engenharia,

para formar a elite proprietária de terras, dando um

para trás as cidades sagradas, coloniais, e dando

lugar às cidades profanas, vinculadas aos ditames

do capitals.

Por volta de 1890, residia em Piracicaba o

paulista Luiz Vicente de Souza Queiroz, fazendei-

ro, plantador de algodão, que, tendo viajado pela

Europa, aprendeu técnicas de cultivo, de adubação

e de conservação do solo que tornavam as culturas

mais produtivas. Decidiu que Piracicaba deveria ter

uma escola para ensinar segredos do solo, das plan-

tas, do meio ambiente. Como este interferia na

agricultura, as várias técnicas de cultivo de diver-

sas plantas e as relações entre o solo, a planta e o

animal deveriam ser estudadas. Percebeu Queiroz

que todo este acervo de conhecimentos faria parte

de disciplinas que comporiam uma Escola e deci-

diu fundar uma casa de ensino. Mas não foi bem-

sucedido na tarefa, dada as numerosas dificuldades

que encontrou.

Em primeiro lugar, para que a escola funcionas-

se, Souza Queiroz precisaria contar com a aprova-

ção dos governos Imperial e da Província. Depois,

receber a adesão dos fazendeiros que deveriam li-

berar os jovens trabalhadores e as crianças para se-

rem capacitados ao trabalho agrícola moderno.

Como se sabe, os interesses dos senhores rurais

voltavam-se para um vivido de opulência, de lucro

rápido, uma mentalidade imediatista, fruto da exis-

tência da escravidão. Como o preço do escravo

havia subido muito depois do fim do tráfico (1850),

vários deles preferiam explorar seus trabalhadores

ao máximo, de um lado temendo a rebeldia e, de

outro, na certeza do fim próximo desse regime de

8. Murilo Marx, Nosso Chão: do Sagrado ao Profano.

9. Ver: Sidney Chalhoub, Visões da Liberdade; e Agostinho Mar-

ques Perdigão Malheiros, A Escravidão no Brasil.10. Ver: Oriowaldo Queda & Tomás Szmrecsányi (orgs.), Vida

Rural e Mudança Social.

r;~R1:ttrn27

interrompida" já que a indústria dos países belige-rantes acabou adaptada à produção bélica. De ou-tro lado, autores como Wilson Cano, Caio PradoJr. e Celso Furtado negam a tese de Dean, com osargumentos centrados na diminuição da concor-rência. Já Suely Queiroz aponta que os resultadosdo período dos dois conflitos mundiais são clara-mente demonstrativos da relação entre o cresci-mento industrial e a guerra:

FÁBRICASANO OPERÁRIOS

1940

1950

14.225

24.519

272.865484.844

Fonte: Queiroz, Suely Robles Reis de. São Paulo. Madrid,Editiorial MAPFRE, 1992, p. 205 (Colección Ciudades delberoarnerica)

Com a crise de 1929 a situação da lavoura

cafeeira agravou-se, em razão da queda dos preços

do produto no mercado mundial e da impossibili-

dade "de se obter créditos externos para financiar

a política de retenção dos estoques que vinha sen-

do seguidà'll. No momento em que a moderniza-

ção ocorria no período entre guerras, o desenvol-

vimento passou a exigir novas formas de

organização dos espaços e das cidades, bases de

apoio dos complexos industriais. As cidades ganha-

ram maior projeção, permitindo a articulação de

brilho acadêmico aos donos do poder. Entretanto,

em 1898 deu-se a reforma econômica de Joaquim

Murtinho, ministro do governo Campos Salles,

com a reafirmação da vocação agrdria do Brasil. Nos

momentos decisivos das crises do capitalismo e seus

desdobramentos nos países periféricos, as velhas

estruturas impedem transformações que abalem a

hierarquia social dominante.

Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial,

em 1914, alterou-se, de certo modo, a hegemonia

do agrarismo, especialmente porque a pouca elas-

ticidade do mercado do café, um produto para de-

pois da sobremesa, permitiu- a expansão do peque-

no parque industrial que operava de modo ocioso.

Indústrias de alimentos, tecidos e calçados passa-

ram a ganhar o mercado exportador devido à guer-

ra e contingentes de trabalhadores em êxodo rural

foram deslocados como exército de reserva, incre-

mentando o processo de urbanização, incipiente até

então. Alterava-se o cotidiano das cidades centra-

das no flaneurismo, nos passeios tradicionais, na

boemia coletiva, dos clubes literários, da retórica

periodista, para a vida regrada, centrada no traba-

lho, no apito da fábrica e nos negócios. Evidente-

mente as necessidades técnicas passaram a ser mais

prementes.Entretanto, a influência da guerra na industri-

alização do Brasil é uma questão polêmica. De um

lado, autores como o brasilianista Warren Dean

afirmam que pelo menos na Primeira Guerra Mun-

dial a indústria sobreviveu de investimentos ante-

riores, especialmente porque diminuíram as inver-

sões no setor e a importação de máquinas foi11. José Carlos Pereira, Expansão e Est1Utura da Indústria em São

Paulo, D. 13.

.~~~.~nlEUNUNGA 111\ USP : MI28

interesses entre os setores rurais e urbanos que se

movimentaram contra o grupo "café com leite"12.

Esse processo de crise do capitalismo liberal atin-

giu, nos países periféricos, as estruturas produtivas

centradas na preponderância da exportação de pro-

dutos primários e na hegemonia oligárquica.

Assim, quando Getúlio Vargas, ao assumir o go-

verno provisório do Brasil em 1930, apoiado pela

burguesia nacional, encampou a política de comple-

mentaridade entre o modelo primário exportador e

o modelo de substituição das importações, teve a

difícil tarefa de equilibrar os interesses dos setores

agrário e industrial, de um lado, e, de outro, conter

e controlar os trabalhadores rurais e urbanos em suas

demandas por autonomia, poder e direitos. Os libe-

rais de São Paulo opuseram-se ao projeto varguista e

iniciaram as lutas na Revolução de 1932. Ao perde-

rem a guerra, os paulistas passaram a disputar o co-

nhecimento. Procurou-se equilibrar a contenda am-

pliando o espaço cultural para as elites e, em 1934,

o projeto de Armando de Salles Oliveira tornou-se

realidade: efetivou-se a criação da Universidade de

São Paulo pelo Decreto n2 6.283 de 25.01.193413.

A agricultura passava a exigir medidas de prote-

ção mais amplas e novos padrões técnicos decorren-

tes do desenvolvimento de insumos para proteger a

produção das intempéries e das pestes. Foram cria-

dos institutos nacionais de planejamento, controle

e proteção que contavam com políticas específicas

por áreas de interesses, articulação regional e poten-

cialidade produtiva e exportadora 14. As indústrias

receberam isenção de impostos para importação de

máquinas e equipamentos e, com a ampliação da

política: trabalhista do governo, além do controle

que se pretendia impor sobre o operariado, o cres-

cimento do mercado interno tomou-se realidadel5.

A vida cotidiana sofrera nos últimos anos pro-

funda alteração, tanto para as classes médias como

para a classe operária. Estas passaram, na capital de

12. Articulação do grupo dos cafeicultores paulistas com os mi-

neiros, além de produtores pecuaristas, para controlar a po-

lítica nacional. Dominavam o PRP e o PRM e detinham o

controle sobre o Partido Republicano Federal.13. Quando, em 1934, foi criada a Universidade de São Paulo,

as escolas já existentes incorporaram-se ao projeto que cria-

va a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Foram elas a

Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina, a Faculdade

de Farmácia e Odontologia, a Escola Politécnica, o Instituto

de Educação Caetano de Campos, o Instituto de Ciências

Econômicas e Comerciais, a Escola de Medicina Veteriná-

ria, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)

e a Escola de Belas-Artes. Além dessas, incorporaram-se ain-

da o Instituto Biológico, o Instituto de Higiene, o Instituto

Butantã, o Instituto AgronÔmico de Campinas, o Instituto

Astronômico e Geográfico, o Museu Paulista e o Serviço Flo-

restal.

14. Uma das preocupações de Getúlio foi controlar o sistema

produtivo. Para isso criou um conjunto de Institutos Nacio-

nais para a economia agrícola e o extrativismo, tais como o

Instituto Nacional do Café, do Açúcar e do Alcool, da Juta,

do Anil, da Erva Mate, entre outros. Era preciso esrabelecer

controle de preços e proteção, uma vez que desses setores ex-portadores obtinham-se divisas para importar máquinas eequipamentos, fundamentais para modernizar o parque in-

dustrial.

15. Sobre o tema ver Thomas E. Skidmore, De Getúlio Va~as a

Castelo Branco (1930-1964); Caio Prado Jr., História Econ6-

mica do Brasil; Octavio Ianni, Estado e Planejamento Econ6-

mico no Brasil (1930-1970).

20

Lobato, na Bahia; a 111 de setembro Adolf Hider, estadista

alemão, ao invadir a Polônia com forças militares, desenca-

deia a 11 Guerra Mundial, que terminou somente em 1945,

quando a estimativa de mortes alcançou de quarenta a cin-

qüenta milhões de vítimas; nossa cantora Carmen Miranda,

"a pequena notável", foi para os Estados Unidos, com os

componentes do conjunto Banda da Lua, e lá na terra "doTio Sam" fez enorme sucesso nos teatros e clubes noturnos.

Antes de viajar ela prometeu colocar tempero brasileiro no

paladar dos americanos com dendê, pimenta, vatapá, caruru

e mungunzá.

Mas, esse cosmopolitismo não eliminava a ne-

cessidade de se manter a ordem social. Era preciso

alterar o grau de autonomia e de liberdade do mo-

vimento sindical, mudando o perfil da força de tra-

balho. Assim, o governo reprimiu os libertários, so-

cialistas e comunistas, com o apoio da polícia

política criada em 1924, e aliou-se à Igreja, que

passou a organizar os Círculos Operários nos bair-

ros, para impedir os trabalhadores de freqüentarem

os sindicatos. Além disso, Getúlio tratou de esti-

mular um grande deslocamento de migrantes nor-

destinos, através da Hospedaria dos Imigrantes,

para ocuparem postos de trabalho na agricultura,nas fábricas e olarias que se criavam em diferentes

regiões do Estadol6. Mas a medida mais eficaz foi

a imposição aos empregadores nacionais do cum-

primento das leis trabalhistas conseguidas ao lon-

São Paulo, a ser periferizadas em bairros como Brás,

Lapa, Ipiranga, ou Moóca, ficando o centro da ci-

dade de São Paulo para os negócios, e as elites ins-

talavam-se nos Campos Elíseos ou em Higienópolis.

As cidades do interior disputavam melhor inserção

nos negócios do país e um certo cosmopolitismo

tornou-se real, com a diversidade de imigrantes. Va-

riavam-se as vestimentas, os hábitos alimentares, as

notícias e os meios de comunicação, tais como o

rádio e os jornais, estes distribuídos pelas extensas

malhas ferroviárias construídas no período anterior,

e as projeções de filmes com a chegada dos cine-

matógrafos.Dr. Noé Masotti destacou o cosmopolitismo do

período, em manuscritos deixados para a história

do campus de Pirassununga:

Em setembro de 1937, foi inaugurada a estação da Rá-

dio Tupi de São Paulo; em maio morreu Noel Rosa (Noel

de Medeiros Rosa, Rio de Janeiro 1910-1937) nascido e

criado no bairro de Vila Isabel, cognominado o "poeta da

vilã', tendo composto sambas, marchas e canções: "Com

que Roupa", "Conversa de Botequim", "Fita Amarelà',

"Palpite Infeliz", "Feitiço da Vila" e outras. Instalou-se em1937, no Brasil, um novo sistema de governo, o Estado

Novo, modelo de ditadura do Presidente Getúlio Dornelles

Vargas. Na Copa do Mundo de Futebol, realizada na Eu-

ropa, o Brasil conquistou o ~ lugar. Armando de Salles

Oliveira, governador do Estado de São Paulo, decretou a

fundação da Universidade de São Paulo (USP) no dia 25

de janeiro de 1934 através do Decreto n" 6.283; posterior-

mente foi preso e confinado em Ouro Velho, para depois

ser exilado na Europa.

Em 1939, no dia 22 de janeiro, surgiu a estrondosa

notícia de que jorrou petróleo no poço número 163, emVer Odair da Cruz Paiva, Caminhos CruMdos: Migração e

Comtrução do Brasil Moderno (1930-1950J.

~R1Tü:JCAM.I'US DE P1RASSUNUNGA DA USP: MI10

veira devido à nomeação de interventores para os

estados. Abriu-se um processo de negociação entre

as elites paulistas e VargaS. Cabia ao presidente da

República a função de nomear os governantes para

os estados, já que o país vivia um regime ditatori-

al. Foi em junho de 1941 que o dr. Fernando de

Souza Costa!7, assumiu a Interventoria do Estado

de São Paulo, depois de Pedro de Toledo e Adhe-

mar de Barros.

Seus profícuos trabalhos à frente do Instituto

Brasileiro do Café e do Ministério da Agricultura

o recomendaram para tal posto. O presidente Ge-

túlio, ao indicá-Io disse: "eu perco um ótimo mi-

nistro mas São Paulo ganha um ótimo governante".

Ao longo desse período difundira-se a ideologia

do Brasil grande e Vargas tentava aproveitar as cam-

go da República Velha, resultado das lutas dos tra-

balhadores, que organizaram amplo movimento

paredista entre 1905 e 1919, no processo de for-

mação da classe operária brasileira. A legislação tra-

balhista foi consolidada e imposta aos patrões, mas

foi também eliminada a autonomia operária. Es-

tavam proibidas as greves e foi criado o imposto

sindical obrigatório, equivalente a um dia de salá-

rio recolhido anualmente de cada trabalhador e re-

metido ao Estado. Para que os sindicatos pudes-

sem dispor desses recursos, o governo deveria

aprovar a carta sindical e a diretoria eleita. O go-

verno criava a Justiça do Trabalho, mediação en-

tre empregado e patrão como função estatal. Este

foi o centro das ambigüidades nas relações entre o

Estado e a sociedade, dando ao governo a figura

de um ditador típico do paternalismo, base do

populismo do período.

Por isso, em 1940, com a criação do saláriomínimo em I!! de maio - em São Paulo estabele-cido em 220 mil réis por mês -, a disciplina dotrabalhador era, ao mesmo tempo, vitória da classe

dominante e do Estado e, ganho das lutas operá-

rias pretéritas. O certo é que a partir desta data a

classe operária passou a ser considerada fundamen-

tal ao destino político dos governantes, como se

pôde observar pelo interesse de Getúlio Vargas em

formar o Partido Trabalhista Brasileiro. Depois, no

pós-1964, este papel foi assumido pelas classes

médias, pólo de sustentação do regime militar.

Este processo de modernização autoritária foi a

base do Estado Novo instaurado em 1937, frus-tr:lndn n~ ~nnhn~ liherai~ de Armando de Salles Oli-

17. Fernando de Souza Costa nasceu na cidade de São Paulo aos

10 de junho de 1886, filho do Coronel Cherubim Febelianoda Costa (nascido em Sorocaba a 19 de dezembro de 1857,

filho de Serafim Febeliano da Costa, natural de Ribeiradio,

em Portugal, e de Carolina Maria das Dores, nascida em

Sorocaba) e de Augusta de Lima Costa (filha do Capitão JoséMarçal de Souza, nascido em Porto Feliz, e de Augusta Alves

de Almeida Lima). Foi na paulicéia que realiwu os cursos

primário e secundário, no Liceu Coração de Jesus, institui-

ção da Ordem dos Salesianos. Transferindo a residência para

a cidade de Piracicaba e prosseguindo seus estudos, decidiu-

se pela carreira de professor, matriculando-se, para isso, na

Escola Complementar de Piracicaba, onde pretendia fazer o

curso inicial para o magistério. Mas, posteriormente, sentin-do forte vocação pela agricultura, matriculou-se na Escola

Agrícola Prática, sem, no entanto, deixar de ministrar aulas

na Escola Primária Noturna mantida pela Sociedade Iguali-rária de Pit:lcicaha.

~R~31

já no início de 1942 o Brasil havia firmado acordo

comercial com os americanos, cedendo-lhes bases

militares no Nordestel9. No ano' de 1942, quando

ocorreu o afundamento de navios brasileiros, o go-

verno limitou as atividades de cidadãos estrangeiros

e confiscou seus bens. Navios ancorados em portos

do País foram incorporados ao patrimônio da União

e seus integrantes foram presos. O caso do navio ale-

mão Windhuk é exemplar e será analisado no pró-

ximo capítulo. A posição do governo era insustentá-

vel e os movimentos exigindo o fim da neutralidade

se intensificaram. Com a declaração de estado de

guerra em 31 de agosto de 1942 e com o rompimen-

to de relações diplomáticas com Itália, Alemanha e

Japão (Países do Eixo) abria-se espaço para o ques-

tionamento do regime.

Em dezembro deste mesmo ano os japoneses

bombardearam a base americana de Pearl Harbor,

no Havaí, e os Estados Unidos da América do Norte

ingressaram na guerra.

Com dificuldades para a importação de petró-

leo, os meios de transportes chegaram ao colapso,

levando o país a procurar combustíveis alternati-

vos. Foram desenvolvidos estudos e criados os pri-

meiros veículos providos de um aparelho produ-

tor de gás combustível a partir da queima de carvão

panhas de mídia para aproximar-se dos alemães.

Pretendia obter financiamentos para a criação de

uma base industrial de bens de capital, aproveitan-

do as jazidas de ferro para suprir as necessidades da

siderurgia e liberar o país dos vultosos custos das

importações de máquinas e equipamentos. Quan-

do em 1939, eclodiu a Segunda Guerra, o governo

tentou repetir a posição brasileira de 1914, man-

tendo a neutralidade e aproveitando-se das possibi-

lidades oferecidas pelo mercado exportador de ali-

mentos, calçados e fardamentos para os países

beligerantes. Mas fatores internos e externos força-ram o governo a alterar sua posição.

Muitos funcionários do governo expressavam

publicamente sua admiração pelo III Reich e a che-

fia de polícia perseguia os comunistas judeus com

o objetivo de deportá-los para o serviço secreto de

Hitler. a caso mais conhecido foi o de alga

Benário, presa em 1936 acusada de ter participa-

do, juntamente com Luiz Carlos Prestes e outros,

do Levante Revolucionário de 193518. Entretanto,

inúmeros intelectuais, jornalistas, líderes sindicais

manifestaram-se em defesa dos aliados, que naquele

momento representavam a bandeira da democra-

cia contra o nazi-fascismo. Deste modo, a Guerra

auxiliava as oposições ao Estado Novo a ganharem

espaço público para o protesto.A situação se complicou entre 1 SI de setembro de

1940 e o dia 8 do mesmo mês de 1943. Submarinos

alemães e italianos combatiam no Atlântico Norte e

provocaram o afundamento de navios mercantes

brasileiros que transportavam produtos estratégicos

e mercadorias para os Estados Unidos, uma vez que

18. Zilda Márcia Grícoli Iokoi, Into/erdncia e Resisdncia: A Saga

dos Judeus entre a Po/ônia, a Palestina e o Brasil.

19. Ver Ricardo Antônio Silva Seitenfus, O Brasil de GetúlioVargas e a Formação dos Blocos - 1930-1942: O Processo de

Envolvimento Brasileiro na 11 Guerra, D. 409.

32d~~~J

CAMPUS DE PIRASSUNUNGA DA USP: MF.MÓRIA E HI",()RIA

do o Ministério da Aeronáutica e organizada a For-

ça Area Brasileira. Também fundou-se a Escola de

Aeronáutica, uma vez que as medidas anteriores

exigiam novo processo de preparação de quadros

administrativos e técnicos, voltando ao debate a

necessidade de reformas educacionais. A situação

do país se agravava devido ao racionamento de tri-

go e de combustíveis. O custo de vida se elevou, as

importações e o comércio exterior foram suspensos.

Foi justamente neste período que Fernando

Costa assinou o decreto-lei n2 12.742 de 3.6.1942,

criando dez Escolas Práticas de Agricultura nas se-

guintes cidades do Estado de São Paulo: Amparo,

Araçatuba, Bauru, Guaratinguetá, Itapetininga,Marília, Presidente Prudente, Pirassununga, Ribei-

rão Preto e São José do Rio Preto.

denominado gasogênio. Cada nova dificuldade in-tensificava a necessidade de desenvolvimento téc-nico e de ingresso na produção industrial. Era ine-vitável que nesse período personagens comoFernando Costa ganhassem prestígio e também ad-versários.

No início de 1941 foi fundada a CompanhiaSiderúrgica Nacional, em Volta Redonda; foi cria-

5. Fernando Costa

o PAPEL DE FERNANDO COSTA

NO DESENVOLVIMENTO

DO ENSINO TÉCNICO

Ao historiador cabe, em seu trabalho de pesqui-

sa, empreender esforço para dar voz aos sujeitos da

história. Cabe, também, criticar a história que se

assenta sobre o papel dos pioneiros, dos fundado-

res, em geral uma historiografia heróica ou apolo-

gética contada a partir do ponto de vista do ven-

cedor. No presente caso, entretanto, é impossível

percorrer o caminho de reconstrução da história

desta região sem considerar a vida e a obra de dois

de seus personagens: Luiz de Queiroz e Fernando

Costa. Neste texto trataremos do papel deste últi-

mo, dada a sua centralidade no processo de cria-

~

constituídas de lentes da escola. Verificou-se que

no processo seletivo daquele período eram realiza-

dos exames em matérias preparatórias, tais como

Geografia, História do Brasil e Inglês, nas quais o

aluno deveria ser aprovado. Mesmo o candidato ao

curso técnico deveria ter formação histórica e co-

nhecer a língua e a cultura do país e da humanida-

de, 'para que pudesse posicionar-se no mundo.

Fernando Costa concluiu o curso de Agrono-

mia em novembro de 1907 e sua colação de grau

realizou-se em 14 de novembro do mesmo ano. A

turma precursora, da qual fazia parte Luiz de

Queiroz, recebeu O" diploma em 1903 e era consti-

tuída por sete formandos. A turma de 1907, além

de Fernando Costa, era formada por mais quatro

alunos: Antônio Lomardo, João da Silveira Prado,

José do Amaral Campos e Marcílio Penteado.

Após a formatura, Costa interessou-se pelo jor-

nalismo e exerceu a diretoria da tradicional Gazeta

de Piracicaba. Em 1908 casou-se com a pirassunun-

guense Annita da Silveira Mello, filha do engenhei-

ro Joaquim da Silveira Mello e de Amélia Corrêa

Pacheco da Silveira, passando a residir na cidade

de sua esposa20, onde assumiu a gerência da Fecu-

:0. Do casamento nascetam Lygia, que se casou com Henrique

da Rocha Lima; Layt, que se casou com Nelson Luiz do Rego;

Gilda, que se casou com Henrique Villaboim; e Femando

Costa Filho que contraiu núpcias com Lilia Betgallo (Lilita),

tendo as filhas Lilia e Annita. Posteriotmente, com o faleci-mento de Lilia Bergallo Costa, Femando da Costa Filho ca-

sou-se, em segundas núpcias, com Zélia de Araújo, com

quem teve dois filhos: Femanda de Cássia Araújo Costa epp..n~n..ln rno'~ Np'n

ção das Escolas Práticas de Agricultura, origem do

campus de Pirassununga.

Na terra curimbatá Fernando Costa ganhou

admiradores e amigos, de tal maneira que foi elei-

to vereador, cargo em que permaneceu por apenas

trinta dias, pois logo após, em 15.1.1913, foi elei-

to prefeito municipal, função que exerceu até 1927.

Em 1918 candidatou-se e foi eleito para o cargo

de deputado estadual, cumulativamente com o de

prefeito. Dedicou-se com grande entusiasmo e per-

severança aos interesses do Estado de São Paulo.

Em 1927, atendendo a convite do governador

do Estado Júlio Prestes de Albuquerque, aceitou o

cargo de secretário da agricultura, indústria e co-

mércio, no qual demonstrou sua capacidade de tra-

balho e acumulou dezenas de realizações.

Entre 1930 e 1937 Fernando Costa afastou-se

dos meios políticos e administrativos, dedicando-

se à família, à sua fazenda, às margens do rio Jaguari,

e à fábrica de tecidos (hoje Fiação e Tecelagem de

Pirassununga S/A). Retomou à política em 1937

como ministro da agricultura e depois como inter-ventor em São Paulo. Essa trajetória - cheia de en-

tusiasmo, conflitos e determinação - confunde-se

com a história de duas cidades paulistas, Piracicaba

e Pirassununga, nas quais teve influência decisiva

no desenvolvimento da agricultura e da pesquisa.

Esta saga faz parte do processo de entendimento da

política nacional, estadual e local.

Costa havia freqüentado a Escola de Agricultu-

ra, matriculando-se em fevereiro de 1901, tendo

se submetido e sido aprovado nos exames de ad-mj~~5n nrp~t"~rln~ npr~nt"p h~nr~~ pv"mjn~rlnr"~

I!:if!Rk;::r34:

laria Pirassununga e dedicou-se, simultaneamente,

ao exercício da agronomia e da agrimensura.

Dada a sua personalidade, simpatia pessoal e

demonstração pública de grande interesse pelos pro-

blemas da cidade, projetou-se na comunidade ga-

nhando numerosos amigos e simpatizantes. Por es-

sas qualidades, em 1912 venceu as eleições para

substituir o intendente municipal e vereador Tenen-

te Coronel Manoel Franco da Silveira, que faleceu

no exercício do cargo. Aproximadamente mil elei-

tores votaram, dos quais ele obteve mais de quinhen-

tos votos, assumindo assim o seu primeiro cargo po-

lítico, o de vereador da Câmara Municipal de

Pirassununga21. Entusiasmado com a possibilidade

de trabalhar em benefício da comunidade que o re-

cebeu e do Estado onde nasceu, e com a aproxima-

ção da época das eleições para a renovação do Con-

gresso Legislativo (Assembléia Legislativa Estadual),inscreveu-se como candidato avulso a um dos car-

gos. Foi eleito deputado por numerosos chefes do

SQ Distrito Eleitoral, que tinha como sede a cidade

de Limeira e contava com o apoio de outros impor-

tantes municípios, como Piracicaba e Rio Claro.

Seu trabalho na Câmara Legislativa teve início

em 14 de agosto de 1919 e durante duas legislatu-

ras abordou numerosos assuntos e sugeriu medidas

a serem adotadas. Alguns dos problemas econômi-

cos, rurais e sociais que interessavam aos paulistas,

independentemente de partido político, segundo

Fernando Costa, eram o reflorestamento contra as

queimadas, assunto esquecido. Estudou suas cau-

sas e sugeriu meios corretivos; sugeriu o crédito agrí-

cola para amparar o pequeno produtor; a prática

da irrigação, para que o homem do campo, na agri-

cultura e na pecuária não dependesse das chuvas; e

a revitalização das terras do Vale do Paraíba, esgo-

tadas pela lavoura cafeeira, mas que poderiam ser

revigoradas com o trabalho adequado do solo, fa-

vorecendo seu enriquecimento e sua proteção.

Em Congresso de Estradas de Rodagem realiza-

do em São Paulo em 1917, mostrou, através do seu

trabalho, o que deveria ser feito para que o Estado

fosse cortado por redes de estradas de rodagem e

de ferrovias, as quais proporcionariam progressos rá-

pidos para a agricultura, a pecuária e a indústria.

Sua preocupação com a formação dos jovens ia além

da questão técnica e profissional. Foi por isso que

propôs assistência dentária gratuita às crianças nas

escolas, anexando gabinetes dentários aos grupos

escolares; ainda na área da saúde lançou campanha

de proteção e tratamento ao homem portador da

lepra ou mal de hansen; mais tarde, como recom-

pensa por sua preocupação, viu Sales Gomes Júnior

organizar o Serviço de Proteção ao Leproso.

Ainda como parte de suas atividades parlamen-

tares, Fernando Costa propôs a criação da Direto-

ria de Indústria Animal, constituída de seções téc-

nicas de Defesa Sanitária Animal, Zootecnia,

Veterinária, Caça e Pesca, tendo como complemen-

tos os estabelecimentos pastoris e agrícolas: a fazen-

da modelo de Nova Odessa; o Haras de Pindamo-

nhangaba; o Posto Zootécnico de São Paulo; outras

fazendas para o estudo da criação de ovinos, capri-

21. Manoel Pereira de Godoy, op. cit., voto 2, p. 215.

~J!1R1!m:;:r35

Lei n!! 2.223 de 31.12.1927, também anexo à Di-retoria de Indústria Animal, com as atribuições de

conservação e preservação das matas, de defesa con-

tra incêndios e pragas, de exploração racional dos

recursos madeireiros e de ensino e divulgação de

práticas da silvicultura. Fundou hortos florestais nas

cidades de Bauru, Mairinque, Mogi-Mirim e, ao re-

formar o horto de São Paulo, instalou o Museu de

Silvicultura. A Comissão Geográfica e Geológica

teve seus serviços ampliados pela Lei n!! 2.219 de

9.12.1927 no sentido de estudar minas e jazidas.

O Serviço de Sericicultura foi criado pelo Decreto-

Lei n!! 12.359 de 1.12.1929 a partir da Seção de

Sericicultura do Departamento de Indústria Ani-

mal, pois, por volta de 1929, a propaganda a favor

da criação do bicho da seda passou a ser uma preo-

cupação do governo, uma vez que essa atividade

poderia ser uma alternativa, tendo-se verificado em

São Paulo a possibilidade de se obter mais de uma

colheita de fios por ciclo produtor. Em Campinas,

Limeira e Pindamonhangaba foram criados insti-

tutos experimentais para o estudo desta criação.

O ensino da medicina veterinária teve origem

no Instituto de Medicina Veterinária, repartição

criada pela Lei n!! 1.597 de 31 de dezembro de

1917, subordinado à Secretaria da Agricultura. Em

1919 iniciou-se o curso de Veterinária, que funcio-

nava no Instituto Butantã e teve pouca procura. Em

31 de dezembro de 1928 a Lei n!! 2.354, sanciona-

da pelo Presidente do Estado de São Paulo, dr. Jú-

lio Prestes de Albuquerque, quando Fernando Costa

era secretário da agricultura, criou a Escola de Me-

dicina Veterinária. Em 1931 a Escola ficou subor-

nos, suínos, bovinos e eqüinos e para o estabeleci-

mento de planos de cruzamentos de bovinos; par-

ques de estudos da ovicultura; campus experimen-

tais de forrageiras; e postos de monta, onde machos

de raça (cavalos, touros) eram utilizados para cobri-

rem fêmeas comuns e proporcionarem filhos me-

lhores em comparação com as mães. Foram tam-

bém importados bovinos das raças jersey, guernsey

flamenga, schwz ou suíça, red polI, hereford, sussex

e poll-angus para serem estudados em relação à sua

adaptação ao clima brasileiro.

Em 1928 foi criada a Escola de Pesca, cujo cur-

so técnico incluía aulas de marinheiros e barcos de

pesca. Estudava-se a costa brasileira e sua navega-

ção, os processos de pesca, a conservação do pesca-

do etc.

As propostas de Fernando Costa contemplavam

vários campos de interesse do conhecimento. Preo-

cupado com a necessidade de desenvolvimento da

ciência e da tecnologia para apoiar os projetos go-

vernamentais, conseguiu a aprovação de diversas

divisões de serviços. A Diretoria do Serviço Meteo-

rológico e Astronômico do Estado de São Paulo,

que, pela Lei n.2 2.261 de 31.12.1927, recebeu no-

vas atribuições, transferindo-se para o Observató-

rio Astronômico e Meteorológico da Capital, sub-

dividiu o Estado em oito zonas correspondentes às

principais bacias hidrográficas dos rios Tietê e

Piracicaba, do Tietê até a foz do rio Paraná, dos rios

do Peixe e Aguapei, dos rios Paranapanema e

Itararé, vertente Atlântica do rio Parnaíba, dos rios

Pardo e Mogi-Guaçu e dos rios Turvo, Preto e São

José dos Dourados. O Serviço Florestal, criado pela

~1t:R1rI!JJNUNGA DA USP: MI36

dinada à Diretoria da Indústria Animal, instalan-

do-se no Parque da Água Branca, hoje Parque dr.

Fernando Costa.

Até 1929, o Estado de São Paulo viveu a mono-

cultura do café, que trouxe prosperidade e abun-

dância às oligarquias e renda para o Estado. Mas a

derrocada financeira de 1929 mostrou que, enquan-

to nosso café era cotado em 34 d61ares cada 10

quilos, o café da Venezuela, da Guatemala e da

Colômbia obtinha entre 39 e 63 d61ares para me-

dida idêntica. Técnicos da Secretaria de Agricultu-

ra passaram a visitar fazendas de café, dando ins-

truções para habilitar proprietários e empregados a

produzirem café para exportação. Lançou-se, então,

uma campanha de auxílio às terras já cansadas pela

monocultura, principalmente na área de plantio do

café, cujo pé é capaz de durar até cinqüenta anos

em produção, se incentivados cuidados com o "solo

cansado e lavado", que causa erosão.

Fernando Costa passou a enfatizar a necessidade

da policulrura e mostrou, junto com os técnicos, a

vantagem de se obterem cafés superiores, que alcan-

çavam melhor cotação no mercado internacional.

Com a campanha dos cafés finos, o Secretário apro-

veitou a oportunidade para lembrar que São Paulo

tinha sido um grande produtor de algodão, mas en-

contrava-se em baixa produtividade. Para recomen-

dar ao agricultor que cultivasse o algodão de forma

mais adequada, entregou ao Instituto Agronômico

de Campinas a incumbência de melhorar a planta

em todos os seus aspectos. Os resultados foram pro-

missores, uma vez que a produção deu um salto de

vinte para trezentos milhões de quilos. Incentivan-

do a produção agrícola e preconizando a policultu-

Ta, Fernando Costa instalou "Casas de Laranjà' em

algumas cidades do Estado, as quais prestaram ex-

celentes serviços aos citricultores e incentivaram o

aumento do número de pomares. Para oferecer uma

alternativa a outros produtores, projetou uma cam-

panha estimulando a cultura do fumo.

O Secretário tratou então de vencer a mentali-

dade dos lavradores e implantar o enriquecimento

do solo com nutrientes e assim evitar a erosão com

o terraceamento. Lembrou-se então da antiga Real

Fábrica de Ferro Ipanema, em São João do Ipane-

ma, município de Iperó, na região de Sorocaba,

onde, no século XIX, havia uma pequena explora-

ção de ferro. A fundição parara suas atividades no

tempo do Império, e nela o Secretário foi buscar a

apatita, mineral de fosfato de cálcio contendo flúor

e cloro encontrado nas rochas da região, retirando

desse antigo território o adubo para "revigorar as

terras cansadas".O líder de Pirassununga - vereador, prefeito e

deputado estadual, secretário da agricultura, minis-tro, interventor e diretor de empresa - tornou-se

um nome conhecido em todo o território nacional.

Seus projetos repercutiram de maneira muito satis-

fatória e, por isso, Júlio Prestes de Albuquerque, ao

assumir a presidência do Estado de São Paul022,

22. Até 1930 o cargo majoritário no governo dos estados era o

de presidente do Estado e no poder legislativo existia o

bicoronelismo estadual, ou seja, Senado e Câmara dos De-putados. Ver: Zilda Márcia Grícoli Iokoi, O Legis/ativo na

Comtituição da República.

~R~37

decidiu convidá-lo para exercer o cargo de secretá-

rio da agricultura.

Em declaração à imprensa, manifestou sua opi-

nião sobre o desenvolvimento e o progresso do

Estado. Impunha-se, segundo ele, o desdobramen-

to da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras

Públicas em duas pastas: a primeira seria a Secreta-

ria de Estado dos Negócios de Agricultura, Indús-

tria e Comércio e a segunda, a Secretaria dos Ne-

gócios da Viação e Obras Públicas.

Fernando Costa, à frente da Secretaria da Agri-

cultura, criou e reformulou diversos órgãos respon-

sáveis pela produção e geração de riquezas, centros

de pesquisas nas áreas vegetal, animal e mineral e

outros serviços de interesse. Talvez uma de suas

primeiras providências tenha sido a de atender, em

1927, uma solicitação do dr. Rodolfo von Ihering

de que se designasse uma comissão de estudos da

piracema, por ele chefiada, para investigações no rio

Mogi-Guaçu. A comissão foi constituída pelos pro-

fessores Lauro Travassos, Clemente Pereira e Zefe-

rino Vaz, entre outros acadêmicos e técnicos.

Em 1930 o Brasil atravessou mais um período

conturbado da sua história, fruto de uma série de

conflitos que envolvia os novos interesses da classe

dominante ligada à industrialização do país; as de-

mandas das classes médias, representadas pela agen-

da de moralização dos costumes encampada pelo

movimento tenentista; e o acirramento da crise que

teve início com o desastre financeiro na Bolsa de

Nova York, no final de outubro de 192923.

Primeiramente, o preço do café caiu nas cota-

ções internacionais, passando de 200 mil réis para

20 mil réis a saca. Sem possibilidades de sobrevi-

vência nesse cenário, as empresas fecharam suas

portas e ocorreram demissões em "massa. Um enor-

me êxodo rural ameaçava a vida urbana.

Em seguida iniciou-se uma crise política inter-

na. O presidente da República, o paulista Washing-

ton Luiz Pereira de Souza, que governou de no-

vembro de 1926 a outubro de 1930, lançou o

nome de Júlio Prestes para sucedê-Io na presidên-

cia, provocando reação contrária do grupo políti-co que o sustentava, a chamada aliança do café com

leite. O processo legal se desenvolvia, mas nos bas-

tidores preparava-se a reação da Aliança Liberal, da

qual faziam parte o ex-ministro da fazenda, Getú-

lio Vargas, o presidente do Estado de Minas Ge-

rais, Antônio Carlos, e as demais dissidências do

Partido Republicano Paulista, além do Partido De-

mocrático Nacional, liderado por Júlio de Mesqui-

ta Filho. Formara-se um grupo estratégico contra

o situacionismo. Júlio Prestes foi eleito, mas não

assumiu o governo, porque ocorreu a autonomeada

Revolução de 1930, com a instituição do governo

provisório de Getúlio Dornelles Vargas, em 3 de

novembro de 1930.

Com a marcha militar que levou Vargas ao po-

der, São Paulo passou a ser dirigido por um interven-

tor federal. Fernando Costa afastou-se do governo

até 1937, passando a residir em Pirassununga e a

23. Ver: Celso FUrtado, Formação Econômica do Brasil; Caio Pra-

do Jr., História Econômica do Brasil; Wilson Cano, Algumas

Medidas de Pol/rica Econômica Relacionadas à Industrializa-

cão Brasileira (1874-1970): entre outros.

,.~ ~.-;~nJEJ38

do para nada. Mas quando ele foi chamado pelo Getúliopara assumir o governo, fizeram uma fila em paracumprimentá-Io, para levar presenterS

cuidar da sua Fazenda Rancho Palmeiras, como re-ferido anteriormente24.

No início de 1937, o dr. Fernando foi convida-do a encontrar-se com Getúlio Vargas na cidade dePoços de Caldas, estância hidromineral de MinasGerais, onde o presidente se encontrava em tem-porada de repouso. Foi então proposto a ele assu-mir a presidência do Departamento Nacional doCafé. Neste órgão desenvolveu atividades por seismeses e, lembrando-se do trabalho na Secretaria daAgricultura de São Paulo, promoveu campanha deprodução de cafés finos, reativou o seu entusiasmoe estendeu a nova campanha a todo o território na-cional a fim de readquirir credibilidade para o cafébrasileiro no mercado internacional. Novamentedeixava seus interesses pessoais para dedicar-se àvida pública, agora em nível nacional.

Em depoimento, Fernando Costa Neto reme-mora as histórias contadas por seu pai sobre essemomento da vida do avô:

A nação havia sido agitada com a notícia da

instalação do novo regime implantado por Getúlio

Vargas, o Estado Novo. Foram fechados o Congres-

so e os partidos políticos e nomeados interventores.

As oposições demoraram para perceber que se tra-

tava de uma ditadura. Em São Paulo, entretanto,

seus antigos aliados voltavam-se contra ele.

Mas Getúlio Vargas não se deixou impressionar.

Convidou Fernando Costa para o Ministério da

Agricultura, e ele se transformou em pessoa de con-

fiança do presidente, junto a quem tinha grande

prestígio. Dr. José Masotti, em anotações para a

história do campus, afirmou que José Aparecido

Caruso Neto assim se referiu ao Ministro, no Ve-

lho Almanaque 98:

Para começar, viajou pelo Brasil todo para conhecer, de

perto, os variados espaços em que a atividade agrícola e

pecuária se realiza. De norte a sul, estribado no seu extraor-

dinário vigor físico de homem que desconhecia o cansaço,

esteve em toda a parte [...] Indagava dos problemas locais,das necessidades do ambiente, dos elementos empíricos de

Antes de assumir o Ministério da Agricultura, meu avô

ficou um tempo afastado da política. Ele veio para Piras-

sununga cuidar dos negócios, porque tinha uma indústria

de farinha de mandioca, uma indústria grande, e também

uma fábrica de tecidos junto com uns sócios de São Paulo,

fábrica que existe até hoje, a Tecelagem de Pirassununga.

Então ele voltou para a cidade, ficou um tempo e foi cha-

mado para assumir o Ministério. É curioso, porque, como

ele foi prefeito por dezessete anos em Pirassununga e se-

cretário da agricultura, ele tinha muitos amigos, mas na

época em que ele ficou afastado da política sumiu tudoquanto era amigo - o papai sempre falava isso - ninguém

mais o visitava, ninguém ia à fazenda, ele não era convida-

24. Em 1931 foi erguido, em homenagem ao "insigne Secretá-

rio da Agricultura", um pedestal com o busto de Fernando

Costa, por iniciativa da Comissão de Agrônomos, na praçaFemando Costa que ficava em frente à sua residência, hoje

rua Siqueira Campos, em frente ao Clube Pirassununga.

25. Depoimento de Femando Costa Neto para Teresa CristinaTeles em 24 de abril de 2002.

~~~:;j39

que se valia a população local, das técnicas aplicadas aos pro-

blemas da terra [...] Tudo isso, somado aos seus conheci-

mentos sempre atualizados, à sua cultura e experiência, o

levava a conclusões firmes, sínteses claras e lógicas que lhes

permitiram criar alguns setores de serviço [...].

as suas atividades complementam e ampliam atividades

antes iniciadas, sem embatgo de novas iniciativas e de

novas realizações na proporção em que o desenvolvimen-

to do país e o seu progresso o exigissem.

o Ministro da Agricultura foi desenvolvendo

trabalhos para aumentar e melhorar a produtivida-

de em diversas áreas da agricultura e da pecuária:

campanha nacional do trigo; estações experimentais

e de fomento à produção no sul do Estado de São

Paulo, no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Gran-

de do Sul; incentivo à sericicultura, que repercutiu

favoravelmente com o aumento da produção; reor-

ganização do setor da pesca, tanto marítima como

fluvial; além de combate à erosão e incentivo à irri-

gação, pontos do seu programa de conservação e me-

lhoramento do solo para se obter boas colheitas.

Uma grande realização foi a construção da Es-

cola Nacional de Agronomia, localizada no quilô-

metro 47 da Rodovia Rio-São Paulo, hoje Via

Dutra, destinada também a abrigar o Centro Naci-

onal de Estudos Agrônomos. Data da mesma épo-

ca a criação do Instituto Agrônomo do Norte, lo-

calizado em Belém do Pará, para pesquisa, estudo e

fomento da agricultura na Amazônia.

Caruso Neto, no Velho Almanaque 101, escre-

Nomeado interventor de São Paulo, pois Vargas

pretendia acomodar as tensões locais, Fernando

Costa prosseguiu seu programa. Neste cargo, a par-

tir de 1941, distribuiu milhões de cruzeiros em se-

mentes selecionadas; muitos quilogramas de ovos

do bicho da seda, acompanhados de estacas sele-

cionadas e mudas de amoreiras para alimentação do

Bombix mori; e repartiu mais de dez milhões de

sacos de sementes selecionadas de algodão, arroz,

milho, amendoim, mamona e outros vegetais. E

este esforço foi acompanhado de projetos de crédi-

to agrícola, sem o que não haveria possibilidade de

um grande avanço na produção de cana, açúcar,

algodão e cafés finos.

Na produção animal, tendo a seu lado Paulo de

Lima Corrêa, secretário da agricultura, iniciou suas

atividades dividindo o Estado em onze distritos,

com sedes nas cidades de Araçatuba, Bauru,

Botucatu, Campinas, Colina, ltapetininga, Pinda-

monhangaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto,

Rio Preto e São João da Boa Vista. Nestes postos

difundiram-se ensinamentos wotécnicos e agronô-

micos; promoveram-se vendas de reprodutores e em

postos de monta instalados; utilizaram-se reprodu-

tores de ótima origem para melhoramento dos re-

banhos; realizaram-se exposições de animais e cur-

sos rápidos para fazendeiros, técnicos e capatazes; e

formaram-se .guias de transporte de animais.

veu:

A política de Fernando Costa no Ministério da Agri-

cultura foi, assim, um prolongamento do espaço conquis-

tado em suas atividades anteriores a de Deputado Esta-

dual e de secretário da Agricultura do Governo de São

Paulo, somado ao esquema administrativo traçado para o

Departamento Nacional do Café, depois de 1930. Todas

40~Rl!üJ

CAMPUS DI, PIRASSUNlfNGA DA USP: M]'~MÓRIA E HISTÓRIA

Diversos decretos criaram ou reformularam ser-

viços: o serviço de sericicultura de Campinas, cria-

do em 1924, teve um grande incentivo através de

créditos, maior produção de casulos e aumento da

plantação de amoreiras para proporcionar maior

produção de seda para consumo interno e para ex-

portação; o mesmo pode ser escrito sobre os me-

lhoramentos do Serviço Florestal, do Instituto Bio-

lógico e sobre a instalação do Instituto de Botânica

e do Departamento de Produção Animal, entre

outros.

Outro assunto não esquecido foi o desenvolvi-

mento da rede de estradas de ferro eletrificadas,

principalmente a Estrada de Ferro Sorocabana. O

desejo era de estender a linha de São Paulo a Soro-

caba e daí até Itararé para, em seguida, chegar às

margens do rio Paraná.

Na Secretaria da Educação, pelo Decreto-Lei n!!

12.427 de 23 de dezembro de 1941, foram dados

novos rumos à carreira de professor, com reclassifi-

cação das unidades, remodelação do concurso de

ingresso, remoção e promoção dos professores pri-

mários, mudanças no ingresso na classe dos direto-

res, organização de museus escolares, além de ou-

tras inúmeras atividades ligadas ao ensino técnico

de agricultura, como veremos a seguir.

DE VILA A CIDADE

A região onde hoje se encontra Pirassununga era

ocupada pelos índios tupis-guaranis, especialmente

o local denominado cachoeira das Emas, uma gran-

de corredeira, ou a topava chamada Pirassununga,

6. Planta da Freguesia de Pirassununga em 22.4.1865, quando da sua elevação à

categoria de Vila, com base em diversos documentos. Reconstituição feita por

Manoel Pereira de Godoy em 12.11.1974

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7. Planta da Vila de Pirassununga - 1868.

Manoel Pereira de Godoy em 12.11.1974

.~--.~l~CAMPUS DE PIRASSUNUNGA DA USP : Mr,MÓRIA F.42

8. Chegada da Comitiva Oficial, em trem especial, em 16.11.1911, para inauguração

oficial da Escola Normal

nome que significa lugar onde o peixe faz barulho.

Localizada a 220 de latitude sul e 47,250 de longi-

tude oeste, a nove quilômetros da margem esquer-

da do rio Iguaçu, a cachoeira pertence à fisiografia

do rio Piracicaba.

A fundação de Pirassununga data de 6 de agos-

to de 1823, quando Inácio Pereira Bueno e Manoel

Leme terminaram a construção da Capela do Se-

nhor Bom Jesus dos Aflitos, mas este é apenas um

marco, pois naquele período já moravam ali algu-

mas centenas de pessoas, e existiam algumas deze-

nas de casas26. Em 4 de março de 1842, foi elevada

à condição de freguesia.

A freguesia de Pirassununga, por sua vez, foi ele-

vada à categoria de vila pela Lei Provincial nl! 76,

de 22 de abril de 1865, passando a pertencer à

Comarca de Araraquara.

Na condição de vila o núcleo passou a ter estru-

turas governamentais, como, por exemplo, Câmara

de Vereadores, juízes municipais e Corpo de Jurados,

e ganhou maior prestígio na Província de São Pau-

lo. Entre 1874 e 1877, em razão da importância da

Fazenda Cresciumal, do Comendador Francisco An-

tônio de Souza Queiroz, a Companhia Paulista de

Vias Férreas e Fluviais estendeu o caminho de ferro

entre Pirassununga e Leme, construindo a Estação

Souza Queiroz e garantindo maior movimento eco-

nômico e cultural para o desenvolvimento local.

Foi construído, nesse período, um cemitério para

o enterro de escravos e colonos. A região havia sido

desbravada com milhões de cafezais que vicejavam

graças ao trabalho de escravos, cujos registros da-

tam de 1809 a 1888, 79 anos do trabalho dos es-

cravos27 e dos seus descendentes, além de colonosbrasileiros, portugueses, espanhóis e italianos quechegaram também no século XIX

Nos bairros ~o Capão da Onça e do Rio das Pe-dras, além dos trabalhadores rurais, vivia um nú-mero significativo de pescadores. A cachoeira das

26. Jurandyr Pires Ferreira, Enciclopédia dos Municipios Brasilei-

ros, pp. 317-321.27. Manoel Pereira de Godoy, em op. cit., vol. 2, pp. 77-80, re-

lata inúmeros processos-crime contra escravos acusados de

assassinar seus senhores, mas as confissões eram sempre ob-

tidas sob castigo de açoite e tronco. A pena de dois réus

condenados num caso de assassinato da patroa foi também

açoite: duzentas chibaradas recebidas na sala da cadeia, asSis-

tidas pelo Juiz Municipal em exercício e pelo escrivão interi-

no do Júri.

43

44~R~

CAMPlIS DE PIRASSUNUN(;A nA USP ,\1r'MÓRrA F. HISTÓRIA

Emas ainda representa um belo local a ser destaca-do na cidade. A ponte de madeira ali construídacom verba do poder público, com porteira emambos os lados da estrada, permitia o controle dosveículos e impedia a passagem dos animais soltos.Ficou ativa até fins de janeiro de 1929, quando foidestruída com uma enchente do rio Mogi-Guaçu.

Em 1868 foi criado o serviço de correio, quefuncionava numa casa particular situada na antigarua Nova do Comércio, como conseqüência doacesso garantido pelo movimento ferroviário, quefez crescer o fluxo de negócios, de notícias e depessoas na vila.

Este foi também o ano em que a vila conheceu

o seu primeiro médico, o francês Jacques Depuis.

Os historiadores locais sempre se questionaram so-

bre as razões dessa presença, sem respostas. Há re-

gistros da participação do dr. Depuis nos proces-

sos-crime ocorridos na vila envolvendo escravos,

como autoridade médica a indicar a possibilidade

dos açoites, pena geralmente atribuída aos conde-

nados.

Antes da chegada da ferrovia, a vila recebeu a

visita de D. Pedro 11, que se hospedou na casa do

Major Francisco Soares de Araujo e na casa do pre-

sidente do Partido Conservador Local, o Capitão

Ponte de madeira sobre o

Rio Mogi-Guassu, em

Cachoeira, construída por

volta de 1865 e

reconstruída em 1903

~ItR~DAS OR1Gf;NS 45

Antiga tulha de café da Fazenda Bela Aliança.

construída por volta de 1880 pela Família Petry-

Guiguer. fundadora da fazenda

Fazenda S. Benedito, construída pelo proprietá-

rio-fundador, Antonio de Mello, no ano de 1900

~:R&iDCAMPUS DE PIRASStTNlfNGA DA USP: Ml:MÓRIA E46

mais de duas décadas para fazer crescer a produ-ção local e o desenvolvimento das funções urba-nas. Também naquele ano', imigrantes americanosfugidos da Guerra de Secessão passaram a traba-lhar nas fazendas de café, introduzindo o uso domoderno arado de aiveca, que revolucionou aspráticas de manuseio do solo, melhorando o culti-vo e a produção agrícola. Outros trouxeram a prá-tica do armazém no comércio a varejo e ainda háregistro da criação de um bar-dançante de tiposaloon por esses imigrantes.

Joaquim Manuel de Azevedo Antunes, alternativaencontrada para conciliar as disputas entre os dois.Essa presença estava vinculada às homenagens quea Loja Maçônica Cruzeiro do Sul pretendia prestarao Imperador, em razão do processo de moderni-zação, de desenvolvimento científico e técnico quetanto o interessava, tendo estimulado a criação dacadeira feminina de primeiras letras.

Em 31 de março de 1879, a vila foi elevada àcategoria de cidade pela Lei Provincial n!! 20, ten-do sido contemplados os esforços realizados em

13. Encerramento do ano

letivo em 2.12.1897 na

Escola do Povo, classe do

prot. Antonio Zeterino do

Prado, visto em meio a

seus alunos

'.~~~ ~,n~!)AS OR1"T'NS 47

Os conflitos entre liberais e conservadores foram

muito intensos entre 1884 e 1886, havendo regis-

tros de tiros e tentativas de morte, o que indica que

desde 1870, quando parte dos liberais aderiram ao

movimento dos convencionais de Itú, já havia, en-

tre eles, grupos republicanos.

Em 1885, graças aos esforços de Manoel Jacin-

tho Vieira de Moraes, Joaquim da Silveira Mello,

José Peixoto da Motta J únior e João de Lacerda

Franco, foi construído o edifício da Escola do Povo,

primeiro estabelecimento de ensino primário e gra-

tuito da cidade. Os professores eram pagos pelos

fundadores e o material escolar doado por Manoel

Jacintho. Foi nesse período que nasceu Paulo do

Valle Júnior, que mais tarde seria o grande artista

plástico da cidade.

Por volta de 1892, a cidade era iluminada por 110 lam-

piões a querosene e, em 1896, foi assinado um contrato

para a construção de uma usina aproveitando uma queda

d'água no córrego do Bebedouro, localizado em proprie-

dade do major Joaquim Bezerra de Campos28.

14. O pintor Paulo do Valle Júnior em sua sala de cintura em São PauloNa descrição de historiadores do período repu-

blicano, Pirassununga era um aglomerado de casas

e muros de taipa, ruas sem calçamento, sem guias e

sem sarjetas, por onde transitavam carroças e car-

ros de boi. A água usada nas casas era despejada nas

ruas. O comércio era limitado, a indústria pratica-

mente não existia, a zona rural constituía-se de pro-

priedades com terras maltratadas e animais comuns.

A arrecadação do município era irrisória. Para

muitos, esta visão parte de um movimento cujo

objetivo era destacar a figura de Fernando Costa,

prefeito entre 1913 e 1927. De fato, o prefeito deu

vigoroso impulso ao desenvolvimento regional que,

pouco a pouco, foi transformando o "aglomerado

de casas" numa encantadora e limpa cidade.

28. Anotações de Noé Masotti,

48~:R1!IiJ

CAMI'US DE PIRASSVNVNGA DA USP: Mr:MÓRIA E HISTÓRIA

15. Usina - casa de máquinas e tubulações

J(duplas) da carga d'água da .Companhia

de Luz Electrica de Pirassununga. em

1897

16. Detalhes das duas turbinas geradoras de

eletricidade no interior da casa de

máquinas

.~~~f(~_JEDAS OI{IG]'~NS 49

17 e 18. Casas construídas entre 1823 e 1855 na então Rua do Commercio, foto de 15.8.1964

Em 1909 foi criado o 222 Grupo da Linha de

Tiro, tendo como patrono o seu fundador, Tenen-

te Coronel Manoel Franco da Silveira, entusiasta e

incentivador de suas atividades. A Linha objetivava

dar preparo militar aos jovens da cidade e consti-

tuir contingente de reservistas para o exército bra-

sileiro. Em 1910, o 222 foi convidado a participar

do desfile de 7 de setembro, no Rio de Janeiro. Lá

recebeu cumprimentos especiais pela perfeição da

apresentação e elegância de seus membros. No re-

gresso, o 222 socorreu os feridos de um acidente de

trem na Central do Brasil, tendo seus feitos desta-

cados pelo Correio Paulistano nos seguintes termos:

[...] foi notada a humanidade dos atiradores, auxilian-

do a remoção dos mortos, o curativo dos feridos e o auxilio

ao pessoal da Estrada de Ferro, na desobstrução da linha.

O médico do Tiro de Pirassununga, Lauro Montenegro

Villela, que momentos depois [do desastre] passava com obatalhão a que pertence, prestou-se gentilmente a cuidar dos

feridos, recebendo por isto muitos cumprimentos de todos

que no local se achavam29.

A Linha de Tiro desfrutou de crescente prestí-gio, o que posteriormente incentivou o prefeitoFernando Costa a insistir, com um trabalho inten-

29. O Correio Paulistano, 12.9.1910, apud Manoel Pereira deGodoy, op. cit., p. 237.

5° Ii:mrRk;:rCAMPUS Dk: PIRASSUNUNGA DA USP Mk:MÓRlA E HISTÓRIA

Linha de Tiro 22A, 1910

ciado nas salas de aula da Escola da Sociedade Igua-

litária de Piracicaba, levou-o a cuidar do ensino

rural. Reconstruiu estradas rurais para proporcio-

nar mais conforto ao homem do campo e facilitar

o transporte de seus produtos e mercadorias, que

eram vendidos no comércio local, e o transporte de

crianças. Tratou de instalar uma usina elétrica, ne-

cessária ao conforto do povo e ao progresso do

município.

30. O 2' Regimento de Cavalaria Divisionária (2' RCD), atUal17' Regimento de Cavalaria Mecanizado - "RegimentoS61on Ribeiro", originou-se do 9' Regimento de Cavalaria

Ligeira (9' RCL), com sede em Ouro Preto-MG, cr~ado em18 de agosto de 1888. Em 1908, extinguiu-se o 9' RCL e

criou-se o 13' Regimento de Cavalaria (13' RC), que em

1919 passou a denominar-se 2' Regimento de Cavalaria

Divisionária (2' RCD), com sede em Pirassununga. Em 1946o 2' RCD foi extinto e criou-se o 17' Regimento de Cavala-

ria (17' RC), sendo transferido, em 1970, para a cidade de

Amambai-MS.

sivo, para a instalação, na terra curimbatá, do 211 Re-

gimento de Cavalaria Divisionária (RCD)3O, pois o

Ministério da Guerra pretendia instalá-lo em outro

município. Mas, pela tradição dos bons serviços

prestados pelos cidadãos de Pirassununga e pela atu-

ação diplomática e persuasiva de Fernando Costa,

oferecendo vantagens e facilidades, a cidade conse-

guiu o regimento. As terras onde hoje está construí-

do o quartel custaram ao Governo Federal 100

contos de réis e em março de 1921 iniciou-se a

construção, já que nos meses finais do ano de 1920,

a li Turma do 211 Regimento, que havia sido trans-

ferida para Pirassununga, ficara alojada no Posto

Zootécnico Municipal, conhecido como Posto de

Monta.

Logo ao assumir o cargo de prefeito, Fernando

Costa cuidou de reformar ruas, projetar praças e

ampliar as redes de água e esgoto já instaladas des-

de 1896-1898. Seu prazer pelo conhecimento, ini-

1902 e1912 21. Praça Principal

1920. As professoras são cedidas pela Prefeitura, as

monitoras por órgãos públicos e há ainda empre-

gados contratados pelo próprio 1ar32.

O prefeito iniciou também a construção dos pré-

dios do Fórum, da Cadeia Pública e da Escola Nor-

mal de Pirassununga que, instalada oficialmente em

junho de 1911, passou a chamar-se Instituto de

Educação de Pirassununga, hoje Escola de Primei-

ro e Segundo Graus de Pirassununga. A cidade re-

cebia alunos de todo o vale do rio Mogi-Guaçu. Em

1913, mandou erigir um busto em bronze do Te-

nente-Coronel Manoel Franco da Silveira, mostran-

do a gratidão do povo ao político e ex-prefeito por

seu esforço para dotar a cidade de uma Escola Com-

plementar.

Fundou e construiu o Asilo de Velhice e Men-

dicidade. Em 1934, por iniciativa do Padre Fran-

cisco Cruz, criou a Associação de São Vicente de

Pauta, a qual recebeu, posteriormente, um terreno

que viria a ser a Vila São Vicente31.

O Lar das Crianças teve sua origem no ano de

1918, quando era vigário da Paróquia Bom Jesus

dos Aflitos o cônego Luiz Gonzaga de Almeida, que

tomou a si a tarefa de fundar o Pensionato, Orfa-

nato e Colégio Menino Deus. Para conseguir seu

propósito, entendeu-se com o prefeito Fernando

Costa, proprietário de um terreno adequado ao em-

preendimento, e iniciou a construção. Ficou resol-

vido que uma parte seria adquirida pelo interessa-

do e a outra seria doada para completar a obra.

Atualmente, o lar abriga crianças de quatro a

doze anos de idade que são atendidas pelas religio-

sas da Congregação Irmãs Franciscanas da Imacu-

lada Conceição, instaladas em Pirassununga desde

31. Jornal da Cidade, 19.8.95, s.p, acervo documental de NoéMasotti.

32. Jornal da Cidade, 25.3.95, S.P.

22. Igreja Matriz e Instituto de Educação, década de 1950

Entre as preocupações do governo com a agri-cultura estavam as pragas que haviam atingidogrande quantidade de cafezais e abalavam a eco-nomia do País desde 192433. Como resultado dostrabalhos da Comissão de Estudos e Debelação daPraga Cafeeira, foi criado, pela Lei n2 2.243 de26.12.1927, o Instituto Biológico de Defesa Agrí-cola e Animal, em São Paulo. A repartição conta-

23. Praça principal

33. A crise de 1924 provocou a política de defesa e valorização

do café, com a criação do Icesp (Instituto do Café do Estado

de São Paulo), que controlaria, a partir daquela data, as co-

tas de exportação por produtor e o pagamento dos impostos

de circulação de mercadoria dos estados produtores.

~:RbDAS ORl(;ENS 53

Instituto de Educação de

Pirassununga. década de 1950

Inauguração do busto do Ten.

Ceio Manoel Franco da Silveira.

Da esquerda para direita: ?;

Capo Filippo Dei Nero, vereador;

Francisco José Vieira, vereador e

presidente da Câmara

Municipal; Ten. Ceio Guilherme

Theodoro MacCann, vereador;

Mário Tavares, deputado

estadual; ?;Fernando de Souza

Costa, prefeito; Senador

Antonio de Lacerda Franco, do

Congresso Estadual

~:RlTm:iJ.rNUNGA DA USP : MI54

Em 1935, pelo Decreto nl! 7.311, o Instituto

passou a chamar-se Instituto Biológico e associou-

se ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC)34.

Em parceria os institutos agregavam infra-estrutu-

ra para o desenvolvimento agrícola e animal do

Estado de São Paulo, com reflexos positivos para

cidades como Piracicaba e Pirassununga. O IAC foi

reorganizado em 1935-1936, através do Decreto nl!

7.955, quando novas seções foram introduzidas:

café, cereais, leguminosas, raizes, fumo e outras deestudos básicos.

A cidade de Pirassununga tornara-se um labo-

ratório para Costa. Estimulado pelos estudos hí-

dricos realizados na cachoeira das Emas, acompa-

nhou um dos interessantes trabalhos que se

iniciavam: o estudo das águas residuais das fazen-

das e seu aproveitamento agrícola, mostrando a

preocupação de evitar a poluição ambiental que os

diversos resíduos poderiam provocar. Já naquele

período havia manifestado grande preocupação

com a defesa dos recursos hídricos de São Paulo e,

para ele, tornara-se urgente formular uma legisla-

ção protetora do meio-ambiente. Assim, junto com

va com as seções de botânica, agronomia, quími-

ca, entomologia e parasitologia animal, anatomia

patológica e museu. Sua atribuição era a de efetu-

ar estudos técnicos e práticos das questões relacio-

nadas à defesa agrícola e animal, investigando de-

fensivos, fiscalizando os produtos usados na

agricultura e na pecuária, bem como o comércio

de sementes e mudas, e promovendo o ensino.

Também deveria contribuir ajudando os cursos

práticos oferecidos aos agricultores e criadores. O

Biológico, como passou a ser chamado, organizou

pesquisas e o currículo de cursos e formou técni-

cos que passaram a atuar junto com os agentes go-

vernamentais em defesa da qualidade da produção

agrícola. A cidade de Pirassununga foi se benefici-

ando desse corpo de profissionais e fortalecendo a

idéia da importância de investimentos educacio-

nais para a formação de jovens. Estavam criadas as

condições para o desenvolvimento de pesquisas, as

quais passaram a alimentar os cursos práticos das

escolas rurais.

Após a criação do Instituto, iniciaram-se estudos

para a escolha da localização e a construção do seu

prédio. Posteriormente o Biológico recebeu novasseções - Fisiologia, Entomologia, Zoologia, Patolo-

gia etc. - e Pass9u a ministrar cursos para veteriná-

rios e agrônomos, crescendo e projetando o seu

nome, tendo prestado à lavoura e à pecuária nacio-

nal extraordinários serviços, que ajudaram a debe-

lar as pragas. Note-se que a preponderância da agri-

cultura se fazia com apoio dos altos investimentos

em pesquisa básica e em tecnologia, diferentemente

do que ocorria na tímida expansão da indústria.

34. O IAC doi fundado por D. Pedro II em junho de 1887 para

o "esrudo dos fatores de produção agrícola e da vida e, me-

lhoramento das plantas cultivadas" (Lei 2.227-A de

19.12.1927), e sua estrutura era constituída das seções de

fiscalização, química, horticultura, genética, botinica, ento-mologia, bacteriologia e indústrias de fermentação. Tendosido criada a seção de química e tecnologia agrícolas, os téc-nicos passaram a efetuar análises de terra, água, leite, man-

teiga, vinho, plantas e seus produtos.

~R~~55

Pirassununga é integrada pelo traçado da Com-

panhia Paulista de Estradas de Ferro e está distante

189 km, em linha reta, da capital paulista. Assen-

ta-se sobre suave planície, o que lhe dá um aspecto

de tabuleiro, às vezes disfarçado pela presença de

pequenos morros. Inicialmente calçada com para-

lelepípedos, a partir da década de 1950 passou a

receber asfalto, fruto das transformações urbanas

oriundas dos processos industriais que se alteraram

no pós-Guerra, com a produção de petróleo e o

apoio ao sistema rodoviário.

As atividades econômicas da cidade centram-se

modernamente na produção de cana de açúcar e de

seus derivados: aguardente, açúcar cristal e álcool.

Entretanto, na trajetória de vila a cidade, a econo-

mia de Pirassununga foi muito diversificada e ex-

tremamente favorecida, tanto pela figura de Fernan-

do Costa como pelo desenvolvimento da Escola

Prática de Agricultura, pela presença do Instituto

de Zootecnia e Indústrias Pecuárias e pelo campus

da USPA cidade é um pólo na região leste de São Paulo

e conta com os seguintes indicadores de desenvolvi-

mento: área de 727 km2; população de 64.864 ha-

bitantes entre os quais 31.971 homens e 32.893 mu-

lheres; 13.515 postos de trabalho, sendo 11.066 com

carteira de trabalho assinada35. A população escolar

é de 2.224 crianças freqüentando a pré-escola; 9.629

no Ensino Fundamental; e 3.709 no Ensino Médio.

O campus de Pirassununga atende 784 alunos.

os pesquisadores do IAC e do Instituto Biológico,

esforçou-se neste sentido, organizando seminários,

debatendo na Câmara dos Vereadores e na Assem-

bléia Legislativa.

O desenvolvimento da medicina também foi

uma preocupação da cidade. Novas necessidades de

equipamentos, novas condições de higiene e novas

especialidades terapêuticas e propedêuticas exigiram

a remodelação da Santa Casa de Misericórdia, da

qual Costa foi provedor durante quinze anos, já que

para esse homem interessado na ciência tudo depen-

dia da saúde do povo para que a cidade pudesse

apresentar saldos positivos, econômicos e cultUrais.

Como iniciativa particular, que muito contribuiu

para a renda do município, foi instalada a Fábrica

de Fiação e Tecelagem Pirassununga, hoje Fiação e

Tecelagem de Pirassununga S/A. Noé Masotti en-

tusiasta do trabalho do prefeito assim registrou seus

feitos: "E após o trabalho cheio de fé e coragem do

povo daqueles tempos, estamos vivendo nesta for-mosa cidade - Terra Curimbatá, cognominada a

Cidade Simpatià'.

Em conseqüência desses trabalhos, em 1938 foi

estabelecida pelo Governo Federal a compra de 110

alqueires de terras pertence~tes à Fazenda Graciosa,

no valor de 160 contos de réis, para a instalação da

Estação de Piscicultura, distante 800 metros da

Cachoeira das Emas. Em 1939 ela foi inaugurada

com um granito comemorativo em seus jardins,

onde se lê: "Primeira estação experimental de pisci-

cultura inaugurada no país, sendo Presidente da Re-

pública Dr. Getúlio Vargas e Ministro da Agricultu-

ra, Dr. Fernando Costà'. 35. Dados do IBGE (2000).

~:R:trüJAMPUS Df, P1RAss\rN\INGA DA USP: MJ,:MÓR1A E Hl~'TÓRlA56

26. Cachoeira de Emas, década de 1950

27. Cachoeira de Emas

~Rl:tI!TDAS ORJ(;)'~N5 57

28 e 29. Estação Experimental de Biologia e Piscicultura de Pirassununga (Cachoeira de Emas), 1940

30. Centro Nacional de Pesquisa de Peixes Tropicais - Cepta/lbama

~~~58

Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos - USP

CURSos ALUNOS..

i 178

11.7

PROFESSORES*

Zootecnia

Engenhariade Alimentos

400Medicina Veterinária49

da Veterinária

Pós-graduaçãoem Zootecnia,nível de Mestrado

Totais 784

Fonte: www.usp.br/fzea (2003). (*) Dos professores, 97% possui titUlação de doutor.

89

~()

A partir desses dados conclui-se que há espaçona cidade e no campus para a abertura de novasunidades da USp, com o que seria possível atendera demanda de ensino superior público tanto de Pi-rassununga como das cidades em seu entorno. Ob-

servando-se os dados do ensino superior na cidadepercebe-se que ainda há necessidades em outrasáreas de conhecimento, que estão sendo providaspor outras instituições de ensino, algumas contan-do com a cooperação do campus.

Outras instituições de ensino superior de Pirassununga

CURSos"

Engenharia de AgrimensuraGraduação e pós-graduação emEngenharia de Segurança do Trabalho

ALUNOS PROFESSORES.;

Faculdade de Engenhariade Agrimensura de Pirassununga

17921*'

41

Academia da Forca Aérea 53814765

66AviadorIntendênciaInfantaria

Letras 2562947530

36**'PedagogiaEngenharia de Produção MeclnicaPós-graduação em Psicopedagogia--

Faculdades de Educação eEngenharia de Pirassununga

(Faculdades IntegradasAnhangüera - FIAN)

Totais 1 625 123

Fontes: Instituições mencionadas no quadro; abril de 2001. (**) Professores com titulação em pós-graduação, mestrado e doutorado,

mínima de doutor. (***) Titulações de mestrado e doutorado.

~1tR~DAS 01{IG~:NS 59

As histórias do campus e da cidade reproduzem

tendências estruturais que se apresentam em outros

espaços regionais. Não é por acaso que os interes-

ses manifestados por muitos dos entrevistados des-

te trabalho indicam que a área de humanidades está

sendo atendida pela rede privada e local, sem a par-

ticipação da USp, e, por isso, consideram a abertu-

ra de cursos da USP nessas áreas do conhecimento

importante para o desenvolvimento cultural dos

alunos do campus e da cidade como um todo. Li-

teratura, música, cinema, artes plásticas, turismo,história e geografia são considerados cursos que po-

deriam dinamizar a vida na cidade, oferecendo pers-

pectivas educacionais, de conhecimento e lazer.