Capítulo 146 Vertedores de pequena barragem - PlinioTomaz · Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril...

19
Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected] 146-1 Capítulo 146 Vertedores de pequena barragem

Transcript of Capítulo 146 Vertedores de pequena barragem - PlinioTomaz · Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril...

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-1

Capítulo 146 Vertedores de pequena barragem

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-2

Capítulo 146- Vertedores de pequena barragem

146.1 Introdução

Existem três tipos básicos de vertedores fixos usados em pequenas barragens:

1. Vertedor de soleira espessa (mais usado) 2. Vertedor de soleira delgada (menos usado) 3. Vertedor ogee (usado em obras maiores e segundo Khasturia, 2005 é o

mais usado no mundo) Para cada vertedor podemos separar basicamente o seguinte:

Vazão máxima (m3/s) Coeficiente de descarga Cd ou C

Nota: O DAEE considera somente os vertedores de soleira espessa e o Creager que é um vertedor ogee. Não considera o vertedor de soleira delgada. Nota: podemos usar a palavra vertedor, extravasor ou vertedouro como sinônimos e que em Portugal se utilizam da palavra Descarregador. Lembremos ainda que em Portugal usa-se a palavra Albufeira para dizer Represa. Em inglês vertedor é chamado de Spillways. 146.2 Vertedor de soleira espessa (broad em inglês) Na Figura (146.1) temos esquema de vertedor de soleira espessa

Figura 146.1- Esquema de vertedor de soleira espessa conforme Chanson, 2010 mostrando em b) vertedor de soleira espessa ondular.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-3

Figura 146.2- Vertedor de soleira espessa

Conforme Chanson, 2010 o vertedor é chamado de soleira espessa quando obedece a seguinte relação:

Lcrista/ (H1 -∆z) > 1,5 a 3,0 Sendo: Lcrista= largura da crista do vertedor (m) H1= altura do nivel máximo maximorum da água a montante do vertedor (m) ∆z= altura do barramento (m) A largura deve ser suficiente para que as linhas de fluxo sejam paralelas e

foram muitos usados para medição da água. Foram muito estudados no século XIX e XX. O vertedor de soleira espessa foi muito usado para medir vazão, pois, teremos praticamente a altura crítica sobre o mesmo em uma altura constante.

Quando a altura do nível de água no vertedor é menor que 10% da largura teremos escoamento ondular que deve ser evitado, pois as mesmas podem se propagar a jusante do canal.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-4

Vazão de projeto para vertedor de soleira espessa Q= L. Cd (2/3) [(2/3) .g (H1-∆z)3] 0,5 Sendo: Q= vazão de projeto (m3/s) L= largura do vertedor (m) Cd= coeficiente de descarga =0,95 conforme Akers, et al 1978 in Chanson, 2010. g= aceleração da gravidade =9,81m/s2 H1=altura do nivel maximo maximorum (m) ∆z= altura do barramento (m) Nota: Chanson, 2010 sugere que seja verificado o comportamento do vertedor para a vazão de projeto e para vazões 0,1Q e Qmax>Qprojeto. Nota: O DAEE considera Q= 1,55 x L xH (3/2) sendo L=largura do vertedor e H= altura do nível de água contando da soleira do vertedor. Chanson, 2010 recomenda que se evite o movimento ondular no escoamento no vertedor de soleira espessa e o criteiro usado para que tenhamos movimento ondular é que:

(H1-∆z)/ Lcrista < 0,1 Dica: deve ser evitado o movimento ondular no vertedor, pois, as ondas se propagaração a jusante.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-5

146.2 Vertedor (weir em inglês) de soleira delgada (sharp em inglês) A soleira delgada muitas vezes é entendida como aquela caracteristica por um vertedor muito fino conforme Figura (146.3).

Figura 146.3- Esquema de vertedor de soleira delgada conforme

Chanson, 2010.

The crest shape should be knife sharp, with a 2 mm horizontal crest, and 45o downstream bevelling.

• In order to inhibit the scale effects due to viscosity and surface tension, the head on the weir should be:

• H≥ 100 mm, and the height of the weir, W ≥ 2Hmax

• Then, the effects of approach velocity are insignificant.

H

W

45o

2 mm

Figura 146.4- Esquema de vertedor de soleira delgada

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-6

Figura 146.5- Vertedor de soleira delgada

Para derimir estas dúvidas Gupta, 2008 fez um gráfico de onde podemos definir se teremos soleira espessa ou delgada conforme Figura (146.3). Temos que entrar no gráfico com os parâmetros h/b que está na figura do proprio gráfico e parâmetros h/P

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-7

Figura 146.6- Como distinguir que tipo de soleira temos: espessa ou delgada. Fonte: Gupta, 2008 Vazão de projeto para vertedor de soleira delgada Q= L. C . (2/3) [(2 .g (d1-∆z)3] 0,5 Sendo: Q= vazão de projeto (m3/s) L= largura do vertedor (m) C= coeficiente de descarga C= 0,611 + 0,08 (d1-∆z)/∆z g= aceleração da gravidade =9,81m/s2 d1=altura do nivel máximo maximorum (m) ∆z= altura do barramento (m) Nota: sempre supomos que haja ventilação no vertedor de soleira delgada para o perfeito funcionamento. A ventilação é feita pelas laterais. Para vazões muito baixas Chanson, 2010 sugere a equação: Q≈ 1,803 . L (d1-∆z) (3/2)

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-8

146.3 Vertedor Ogee Ogee é uma curva em forma de “S” conforme Figura (146.7).

Figura 146-7- Curva em forma de “S” denomina Ogee em uma porta na Alemanha.

Um esquema de vertedor muito usado desde o seculo XIX é o vertedor Ogee, sendo que existem vários tipos, sendo o mais usual o denominado perfil Creager da Figura (146.8) e (146.9).

Figura 146.8- Esquema típico do vertedor de perfil Ogee

Fonte: Chanson, 2010.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-9

Figura 146.9- Esquema típico do vertedor de perfil Ogee

Existem cinco formas de vertedor ogee feitas para se evitar a cavitação e fazer com a água execute um sucionamento na superficie, sendo a mais conhecida a denominada Perfil Creager feita em 1917.

Y= 0,47. X 1,80/ (Hdes-Δz) 0,80 Sendo: Y= coordenada (m) X= abscissa (m) Hdes= altura do nível de água da barragem (m) Δz= altura da barragem Vazão de projeto para vertedor Ogee Q= L. C. (2/3) [g ((Hdes-∆z)/0,89)3] 0,5 Sendo: Q= vazão de projeto (m3/s) L= largura do vertedor (m) C= coeficiente de descarga g= aceleração da gravidade =9,81m/s2 Hdes=altura do nivel máximo maximorum (m) ∆z= altura do barramento (m) Na prática temos outra apresentação: Q= L. Cdes(Hdes-∆z)3/2 Cdes é dado pela Tabela (146.1) conforme Chanson, 2010.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-10

Tabela 146.1- Valores de Cdes em função de ∆z/(Hdes-∆z).

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-11

146.4 Perfil Creager Os perfis Ogee conhecidos são cinco: Perfil Creager, 1917 (mais usado) Perfil Scimemi, 1930 Perfil Knapp, 1960 Perfil Hager, 1991 Perfil Montes, 1992 Na Figura (146.10) podemos ver três tipos de perfis que são muito semelhantes. Chanson, 2010 recomenda o perfil Creager.

Figura 146.10- Perfis de vários vertedores: Creagmer, Scimemi e Montes Fonte: Chanson, 2010

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-12

Uma maneira prática de se achar o perfil Creager de um vertedor é usar os valores da Tabela (146.1) conforme Azevedo Netto et al, 1998.

Tabela 146.1- Valores de x e de y para vertedor Creager com altura de 1,00m. Para altura maiores multiplicar as coordenadas pelo novo valor de H.

Valores de x para H=1,00m Valores de y para H=1,00m

0 0,126 0,1 0,036 0,2 0,007 0,3 0,000 0,4 0,007 0,6 0,060 0,8 0,142 1,0 0,257 1,2 0,397 1,4 0,565 1,7 0,870 2,0 1,220 2,5 1,960 3,0 2,820 3,5 3,820

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-13

Figura 146.11 Perfil Creager com os eixos X e Y conforme Azeveto Netto et al,1998.

Eixo X

Eixo Y

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-14

Exemplo 146.1- Traçar o perfil Creager supondo H=1,50m.

Multiplicamos todas as coordenadas da Tabela (146.1) por H=1,50m e obtemos a Tabela (146.2) e a Figura (146.1).

Tabela 146.2- Coordenadas X e Y do perfil Creager

X Y 

0,00 0,19 0,15 0,05 0,30 0,01 0,45 0,00 0,60 0,01 0,90 0,09 1,20 0,21 1,50 0,39 1,80 0,60 2,10 0,85 2,55 1,31 3,00 1,83 3,75 2,94 4,50 4,23

5,25 5,73

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-15

0

1

2

3

4

5

6

7

0 1 2 3 4 5 6

Figura 146.12- Perfil Creager com os eixos X e Y conforme Azeveto Netto et al,1998 considerando a carga de H=1,50m. O valor de y foi calculado usando (5,73-y)

No pé do vertedor Ogee No pé do vertedor Ogee vamos seguir as recomendações de Khatsuria, 2005 devendo o raio R > 3x profundidade da água no pé. Tudo isto é feito para que a alta velocidade mude de direção suavemente.

Figura 146.13- Curva no pé da base do vertedor

Fonte: Khatsuria, 2005

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-16

146.5 Subramanya, 2009 Vamos apresentar algumas informações de Subramanya, 2009 usadas na India para a classificação de vertedores conforme Figura (146.13).

Figura 146.14- Esquema de vertedor.

Fonte: Subramanya, 2009

Subramanya, 2009 classifica os vertedores em quatro tipos básicos:

a) Vertedores de soleira espessa longos b) Vertedores de soleira espessa propriamente dito c) Vertedor de soleira estreita d) Vertedor de soleira delgada

A classificação de Subramanya, 2009 é baseada na relação H1/ Bw conforme mostra a Figura (146.14), sendo Bw a largura da crista do vertedor e H1 a carga no vertedor.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-17

a) Vertedores de soleira espessa longos

Quando H1/BW ≤ 0,1 um vertedor de soleira espessa longo que é pouco usado e segundo Chanson, 2010 deve ser evitado devido a formação de ondas a jusante. Neste caso o coeficiente de descarga Cd é calculado: Cd=0,561 (H1/Bw) 0,022

b) Vertedores de soleira espessa propriamente dito Quando 0,1 ≤ H1/Bw ≤ 0,35 (0,4) teremos o verdadeiro vertedor de soleira espessa. Neste caso Cd=0,028(H1/Bw )+ 0,521

c) Vertedor de soleira estreita Quando 0,35 ≤ H1/Bw ≤ 1,5. Neste caso a superficie da água será curvilinea em todo o vertedor e o vertedor é chamado de soleira estreita. Neste caso o coeficiente de descarga Cd é calculado: Cd=0,120 (H1/Bw) + 0,492

d) Vertedor de soleira delgada Quando H1/Bw >1,5 e neste caso a superficie de escoamento é bastante curva.

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-18

146.6 Vão quando há pilares e consideramos a perda de carga localizada nos encontros. Conforme Khatsuria, 2005 quando a abertura do vertedor é muito grande temos que colocar pilares no meio e isto causa contração no fluxo de água e para levar em consideração estas perdas de cargas localizadas aproveitamos também para levar em conta a perda de carga nos encontros da soleira.

L´= L – 2 (N.Kp + Ka) He Sendo: L´= comprimento efetivo do vertedor para dimensionamento (m) L= comprimento total (m) N= número de pilares Kp= coeficiente de perda de carga localizada do pilar Ka= coeficiente de perda de carga nos encontros do vertedor He= carga no vertedor= Ho + Vo2/2g (m) Nota: como Vo é muito pequeno então podemos supor que He ≈Ho. Tabela 146.3- Coeficientes Kp do pilar. Fonte: Khatsuria, 2005. Ordem Forma do pilar Coeficiente Kp

do pilar 1 Pilar com frente quadrada e cantos

arredondados igual a 0,1 da espessura do pilar 0,02

2 Pilar com nariz arredondado 0,01 3 Pilar com nariz pontudo 0,00

Tabela 146.4- Coeficientes Ka dos encontros do vertedor sendo Ho a

altura da água no vertedor. Fonte: Khatsuria, 2005. Ordem Forma do encontro Coeficiente Ka do

encontro 1 Encontro de forma quadrada com parede a

90⁰ na direção do fluxo 0,20

2 Encontro arredondado com parede a 90 ⁰ na direção do fluxo raio arrendondado nos cantos entre 0,5Ho a 0,15 Ho

0,10

3 Encontro arredondado com raios maiores que 0,5Ho e parede não mais de 45⁰na direção do fluxo

0,00

Curso de Manejo de águas pluviais Capitulo 146- Vertedor de pequena barragem

Engenheiro Plínio Tomaz 25 de abril de 2014 [email protected]

146-19

146.7 Bibliografia e livros consultados -CHANSON, HUBERT. The hydraulics of open channel flow: an introduction. 2a ed. 585 páginas. Elsevier, 2010 ISBN 978-0-7506-5978-9. -DAEE (DEPARTAMENTO DE ÁGUA E ENERGIA ELETRICA DO ESTADO DE SÃO PAULO). Manual de pequenas barragens. São Paulo, 2006, 124 páginas. -EPUSP (ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO). Estravasores. PROFESSORES: Kokei Uehara, Luiz Roberto Barreti e Luiz Wagner Angeli. -GUPTA, RAM S. Hydrology and hydraulic Systems. 3a ed. Editora Waveland, 2008, ISBN 1-57766-455-8, USA, 896 páginas. -KHATSURIA, R.M. Hydraulics os Spillway and Energy Dissipators, New York, 2005, ISBN 0-8247-5789-0 com 649 páginas. -SUBRAMANYA, K. Flow in open channels. 3a ed. Tata McGraw-Hill, New Delhi, 2009, 548 páginas, ISBN 0-07-069966-6.