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Capítulo 6 – Medidores de Grandezas Elétricas Periódicas – Prof. Fábio Bertequini Leão / Sérgio Kurokawa
1
Capítulo 6 - Medidores de Grandezas Elétricas Periódicas
6.1 – Introdução
Neste capítulo será estudado o princípio de funcionamento dos instrumentos utilizados
para medir grandezas (tensões e correntes) periódicas.
Em circuitos cujas tensões e correntes são variáveis no tempo e periódicas, é necessário
conhecer os valores eficazes (ou RMS) destas grandezas.
Basicamente existem dois tipos de medidores de valor RMS de grandezas elétricas
(correntes e tensões) que são:
- Medidores de Falso Valor RMS;
- Medidores de Verdadeiro Valor RMS.
Os medidores de Falso Valor RMS são construídos a partir de medidores DC e somente
fornecem o valor RMS de grandezas senoidais, enquanto que os medidores de Verdadeiro Valor
RMS podem ser utilizados para medir o valor RMS de qualquer grandeza periódica.
6.2 – Valor RMS de Correntes e Tensões
Considere um circuito resistivo, alimentado por uma tensão periódica v(t) genérica,
conforme mostra a Figura 6.1.
Figura 6.1: Circuito com resistência R.
A corrente i(t) no circuito mostrado na Figura 6.1 é dada por:
( )( )
v ti t
R= (6.1)
A potência instantânea p(t) fornecida para a resistência R é dada por:
( ) ( ) ( )p t v t i t= ⋅ (6.2)
A potência média fornecida para a resistência R é calculada como sendo:
i(t)
R v(t)
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2
0 0 0
1 1 1 ( )( ) ( ) ( ) ( )
T T T v tP p t dt v t i t dt v t dt
T T T R= = ⋅ = ⋅ ⇒∫ ∫ ∫
2
0
1 1( )
T
P v t dtR T
= ⋅
∫ (6.3)
Em (6.3) T é o período da tensão v(t).
A expressão (6.3) pode ser escrita, resumidamente, como sendo:
2RMSV
PR
= (6.4)
Em (6.4) o termo VRMS é denominado Root Mean Square ou valor RMS ou valor eficaz
da tensão v(t). Este termo é escrito como:
2
0
1( )
T
RMSV v t dtT
= ∫ (6.5)
O valor RMS de v(t) dado por (6.5) pode ser definido como uma tensão constante que
causaria uma dissipação de potência P no resistor R igual à causada por um valor constante de
tensão dado por v(t)=V volts.
A potência p(t) também pode ser escrita como sendo:
2( ) ( )p t R i t= ⋅ (6.6)
Calculando a potência média fornecida para a carga a partir de (6.6) teremos:
2
0 0
1 1( ) ( )
T T
P p t dt R i t dtT T
= = ⋅ ⇒∫ ∫
2
0
1( )
T
P R i t dtT
=
∫ (6.7)
A expressão (6.7) pode ser escrita, resumidamente, como sendo:
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3
2RMSP R I= ⋅ (6.8)
Em (6.8) o termo IRMS é denominado Root Mean Square ou valor RMS ou valor eficaz da
corrente i(t). Este termo é escrito como:
2
0
1( )
T
RMSI i t dtT
= ∫ (6.9)
As equações (6.4) e (6.8) mostram que os valores RMS de v(t) e i(t) são necessários para
que seja possível calcular a potência média ou potência ativa fornecida por uma carga. Deste
modo, torna-se necessário o desenvolvimento de instrumentos capazes de medir o valor RMS
das tensões e correntes variáveis no tempo.
6.3 – Análise de um Galvanômetro submetido a uma Corrente Variável no Tempo e
Periódica
Considere um galvanômetro inserido em um circuito, conforme mostra a Figura 6.2.
Considerando que a tensão v(t) é uma tensão periódica genérica, a mesma pode ser
representada por meio de uma série de Fourier, ou seja:
( ) ( )1
( ) cos seno n o n on
v t V a n t b n tω ω∞
=
= + ⋅ ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ ⋅ ∑ (6.10)
Sendo:
Vo: Valor médio de v(t);
an e bn: Coeficientes de Fourier;
2o
rad
T s
πω =
: Frequência angular da fundamental;
Rm
G
Ri(t)
v(t) Galvanômetro
Figura 6.2: Circuito resistivo com a inserção do galvanômetro.
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Na equação (6.10) Vo é dado por:
0
1( ) ( )
T
oV v t d tT
= ∫ (6.11)
Sendo:
T: Período da fundamental da função v(t).
A corrente i(t) no circuito mostrado na Figura 6.2 é dada por:
( )( )
v ti t
R Rm=
+ (6.12)
Sabe-se que a posição angular Ɵ do ponteiro de um galvanômetro de bobina móvel é
descrito por meio da seguinte equação diferencial:
2
2
( )( )( ) ( )
( ) ( )( ) ( )
rn a
a
T tT tT t T t
t t SJ D S t i t
t t K
θ θ θ∂ ∂+ ⋅ + ⋅ = ⋅∂ ∂ ���
�������� �����
(6.13)
Sendo:
Tn(t): Torque resultante no núcleo;
Ta(t) Torque produzido devido ao atrito do núcleo do galvanômetro com o ar;
Tr(t): Torque restaurador produzido pela mola;
T(t): Torque devido a interação entre o campo magnético e a corrente na bobina;
J: Momento de inércia do núcleo do galvanômetro;
Da: Coeficiente de arrasto do ar;
S: Constante da mola;
SK
N B L W=
⋅ ⋅ ⋅: Coeficiente do instrumento sendo LW=Área da bobina;
Substituindo (6.12) em (6.13) teremos:
( )2
2
( )( ) ( )
( ) ( ) ( )( )
rn a
a
T tT t T t
t t S v tJ D S t
t t K R Rm
θ θ θ∂ ∂+ ⋅ + ⋅ = ⋅∂ ∂ +���
����� �����
(6.14)
Aplicando a Transformada de Laplace em (6.14), temos:
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( )2 ( ) ( ) ( ) ( )a
SJ s s D s s S s v s
K R Rmθ θ θ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ + ⋅ = ⋅ ⇒
+
( ) ( )2( ) ( )
a
Ss v s
K R Rm J s D s Sθ = ⋅
+ ⋅ ⋅ + ⋅ + (6.15)
Na expressão (6.15) v(s) é a Transformada de Laplace de v(t) e é escrita como sendo:
( ) ( )2 22 21
( ) o on n
n o o
V s nv s a b
s s n s n
ωω ω
∞
=
⋅= + ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅
∑ (6.16)
Substituindo (6.16) em (6.15) vem:
( ) ( ) ( ) ( )2 22 2 21
( ) o on n
na o o
S V s ns a b
sK R Rm J s D s S s n s n
ωθω ω
∞
=
⋅ = ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ ⋅ + ⋅ + + ⋅ + ⋅ ∑ (6.17)
Sabemos que a posição angular do ponteiro, em regime permanente, pode ser obtida por
meio do teorema do valor final, ou seja:
0lim ( ) lim ( )
t sss t s sθ θ θ
→∞ →= = ⋅ (6.18)
Sendo:
ssθ : Valor de Ɵ em regime permanente.
Aplicando o teorema do valor final na equação (6.17) temos:
( ) ( ) ( ) ( )
( ) ( ) ( ) ( )
( )
2 22 2 201
2
2 22 2 201
lim
lim
o on n
sna o o
oo n n
sna o o
S V s nss s a b
sK R Rm J s D s S s n s n
S s s nss V a b
K R Rm J s D s S s n s n
Sss
K R Rm
ωθω ω
ωθω ω
θ
∞
→ =
∞
→=
⋅ = ⋅ ⋅ + ⋅ + ⋅ ⇒ + ⋅ ⋅ + ⋅ + + ⋅ + ⋅
⋅ ⋅ = ⋅ + ⋅ + ⋅ ⇒ + ⋅ ⋅ + ⋅ + + ⋅ + ⋅
=+
∑
∑
( )1
o oV VS K R Rm
⋅ = ⋅ ⇒ ⋅ +
1 oVss
K R Rmθ = ⋅ +
(6.19)
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Na expressão (6.19) Vo é o valor médio da tensão v(t). Portanto o termo oV
R Rm +
é o
valor médio da corrente que circula no galvanômetro. Então a equação (6.19) pode ser escrita
como sendo:
1oss I
Kθ = ⋅ (6.20)
Sendo Io o valor médio da corrente que circula no galvanômetro dado por:
0
1( ) ( )
T
oI i t d tT
= ∫ (6.20-a)
A expressão (6.20) mostra que quando um galvanômetro é submetido a uma corrente
periódica i(t), o ponteiro do instrumento irá sofrer um deslocamento angular que é proporcional
ao valor médio da corrente que percorre o instrumento (Figura 6.3).
Figura 6.3: Representação da bobina e deslocamento do ponteiro do galvanômetro para uma corrente i(t)
periódica.
Portanto, conclui-se que o galvanômetro mostra o valor médio da corrente que circula no
mesmo. Consequentemente, um amperímetro de bobina móvel irá mostrar o valor médio da
corrente que circula no mesmo e um voltímetro de bobina móvel mostrará o valor médio da
tensão aplicada em seus terminais.
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6.4 – Medidores de Falso Valor RMS
6.4.1 – Amperímetro de Falso Valor RMS
Considere um amperímetro de bobina móvel ideal, acoplado a um retificador de onda
completa, conforme mostra a Figura 6.4.
Figura 6.4: Amperímetro de bobina móvel acoplado a um retificador de onda completa.
Considere agora o circuito mostrado na Figura 6.5.
( )( )v t Vp sen tω= ⋅ ⋅
Figura 6.5: Circuito resistivo com tensão senoidal.
A corrente i(t) na Figura 6.5 é dada por:
( )( )( ) ( )
v t Vpi t i t sen t
R Rω= ⇒ = ⋅ ⋅ (6.21)
A Figura 6.6 ilustra a forma de onda da corrente i(t) na resistência R.
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8
i(t)Vp
R
πω
2πω t
Vp
R−
T
Figura 6.6: Corrente i(t) na resistência R.
Inserindo o conjunto amperímetro/retificador no circuito mostrado na Figura 6.5 temos a
Figura 6.7.
Figura 6.7: Conjunto amperímetro retificador inserido no circuito da Figura 6.5.
No semiciclo positivo de v(t) da Figura 6.7 teremos:
- Diodos D1 e D4 conduzindo;
- Diodos D2 e D3 bloqueados.
Portanto, no semiciclo positivo o circuito mostrado na Figura 6.7 torna-se:
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Figura 6.8: Circuito da Figura 6.7 no semiciclo positivo de v(t).
No semiciclo negativo de v(t), D2 e D3 estão conduzindo, enquanto D1 e D4 estão
bloqueados. Então no semiciclo negativo, teremos o circuito mostrado na Figura 6.9.
Figura 6.9: Circuito da Figura 6.7 no semiciclo negativo de v(t).
Observando as Figuras 6.8 e 6.9 verifica-se que a corrente na carga (resistência R) é
positiva no semiciclo positivo e negativa no semiciclo negativo de v(t) (observe a Figura 6.6).
Quanto a corrente iA(t) no amperímetro, verifica-se que a mesma está sempre “entrando” no
ponto C ou seja, possui sempre o mesmo sentido. A Figura 6.10 mostra a forma de onda da
corrente retificada iA(t) no amperímetro.
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10
Vp
R
πω
2πω
Figura 6.10: Forma de onda de i(t) retificada.
Com base nas Figuras 6.6 e 6.10 conclui-se que:
- A presença do conjunto retificador/amperímetro não altera a corrente i(t) na carga;
- O amperímetro ficará submetido à corrente da carga. No entanto esta corrente é
retificada pela ponte de diodos.
A análise foi feita para uma corrente senoidal. No entanto, independente da forma de
onda de i(t), o amperímetro estará submetido à corrente i(t) retificada.
Uma vez que um amperímetro de bobina móvel mostra o valor médio da corrente i(t) que
circula em sua bobina, conclui-se que na Figura 6.7 o amperímetro irá mostrar o valor médio de
i(t) retificada.
Se o valor mostrado pelo amperímetro da Figura 6.4 for multiplicado pelo Fator de Forma
da corrente que circula no mesmo, o conjunto retificador/amperímetro pode ser utilizado como
um amperímetro que mede o valor RMS da corrente que circula no mesmo. Denomina-se fator
de forma da corrente iA(t) no amperímetro, à seguinte relação:
RMSIF
I= (6.22)
Sendo:
RMSI : Valor RMS da corrente iA(t);
I : Valor médio da corrente iA(t).
Da equação (6.22) obtemos:
RMSI F I= ⋅ (6.22-a)
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Devido ao fato de que este instrumento mede o valor RMS a partir da definição do Fator
de Forma da corrente que circula no amperímetro, e não da definição de valor RMS, o mesmo é
denominado Amperímetro de Falso Valor RMS.
A Figura 6.11 mostra a representação esquemática de um amperímetro de falso valor
RMS.
Figura 6.11: Representação esquemática de um amperímetro de falso valor RMS.
Observe que ILIDO será o valor RMS de iA(t) no amperímetro. No entanto, sabe-se que os
valores RMS de i(t) e iA(t) são iguais (observe as Figuras 6.6 e 6.10 e a equação 6.9). Deste
modo podemos afirmar que o valor ILIDO na Figura 6.11 corresponde ao valor RMS de i(t). Um
instrumento de Falso Valor RMS geralmente é construído para medir grandezas senoidais, cujo
Fator de Forma é 2 2
Fπ= .
Exemplo 1: Determine o valor mostrado pelo amperímetro da Figura 6.7, considerando
v(t) como sendo:
a) ( )( ) ov t V sen tω= ⋅ ⋅
b) A seguinte forma de onda:
oV
2 ot
2oV−
5 ot
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Exemplo 2: Considere o circuito mostrado a seguir:
( )( ) ov t V sen tω= ⋅ ⋅
a) Calcule o valor RMS da corrente i(t);
b) Determine o valor mostrado por um amperímetro de Falso Valor RMS que é utilizado
para medir a corrente i(t). Considere que o instrumento é ideal.
Exemplo 3: Repita o exemplo 2, considerando que v(t) é dada por:
v(t)
oV
2 ott
5 ot 7 ot
T
A partir dos exemplos 2 e 3 você deve chegar as seguintes conclusões:
a) Um amperímetro de Falso Valor RMS mostra o valor RMS de correntes senoidais;
b) Para o caso de correntes não senoidais, o instrumento retifica esta corrente, em
seguida calcula o valor médio da corrente retificada e, para finalizar, multiplica o
valor médio obtido pelo Fator de Forma da onda senoidal (2 2
Fπ= ).
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6.4.2 – Voltímetros de Falso Valor RMS
Um voltímetro de Falso Valor RMS é construído à partir do circuito mostrado na Figura
6.12.
Figura 6.12: Voltímetro de bobina móvel acoplado a um retificador de onda completa.
Aplicando uma tensão ( )( ) ov t V sen tω= ⋅ ⋅ nos pontos A e B do circuito da Figura 6.12 e
considerando que a tensão medida pelo voltímetro DC é v1(t) temos as formas de onda das
tensões v(t) e v1(t) apresentadas nas Figuras 6.13(a) e 6.13(b), respectivamente.
oV
πω
2πω
oV−
πω
2πω
oV
Figura 6.13: a) Forma de onda da tensão v(t) sem retificação; b) forma de onda da tensão v1(t) (v(t)
retificada).
Portanto é possível concluir que a tensão no voltímetro é a tensão v(t) retificada. Deste
modo, o voltímetro irá mostrar o valor médio de v(t) retificada. Analogamente ao que foi
estudado no item 6.4.1, pode-se obter um Voltímetro de Falso Valor RMS a partir do conjunto
mostrado na Figura 6.12 considerando a Figura 6.11 para tensão. Desta forma, se v(t) for uma
tensão senoidal, VLIDO será o valor médio de v(t) retificado multiplicado por 2 2
Fπ= .
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Exemplo 4: Considere o circuito mostrado em seguida:
( )( ) ov t V sen tω= ⋅ ⋅
a) Calcule o valor RMS de v2(t);
b) Meça a tensão v2(t) utilizando um voltímetro de Falso Valor RMS ideal.
Exemplo 5: Repita o exemplo 4 considerando v(t) dado pela forma de onda a seguir:
oV
2 ot 3 ot
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6.5 - Medidores De Valor RMS Verdadeiro
6.5.1 - Intrumentos de ferro móvel
Um instrumento de ferro móvel é, basicamente, constituído de uma bobina fixa, de
um núcleo de ferro que pode mover-se no interior da bobina e de uma mola cuja função é
fornecer o torque restaurador. A Figura 6.14 mostra um instrumento de ferro móvel.
Figura 6.14: Instrumento de ferro móvel
Quando uma corrente i percorre a bobina fixa do sistema mostrado na Figura 6.14, o
campo magnético produzido pela bobina fixa armazena uma energia W dada por:
21
2W Li= (6.23)
Nestas condições, o núcleo de ferro fica submetido a uma força f�
e sofrerá um
deslocamento angular θ para o interior da bobina até que o torque produzido pela força f�
seja
igual ao torque restaurador produzido pela mola.
O torque T devido à ação da força f�
é dado por:
21
2
W LT T i
θ θ∂ ∂ = ⇒ = ∂ ∂
(6.24)
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Um instrumento de ferro móvel possui características construtivas tais que o termo
L
θ∂∂
seja constante. Deste modo, a equação 6.24 torna-se:
21T i
K= (6.25)
Na posição de equilíbrio, teremos:
2 21 1RT T i S i
K K Sθ θ= ⇒ ⋅ = ⋅ ⇒ = ⋅
⋅ (6.26)
A expressão (6.26) mostra a posição angular instantânea do ponteiro quando uma
corrente i percorre a bobina do instrumento.
Considerando que a corrente i é uma função periódica, sabe-se que o ponteiro irá
estacionar em uma posição angular que corresponde ao valor médio de θ e a partir de (6.26)
temos:
2
0 0
1 1 1T T
AV AVdt i dtT K S T
θ θ θ
= ⇒ = ⋅ ∫ ∫ (6.27)
Na equação (6.27) o termo 2
0
1 T
i dtT ∫ corresponde a IRMS
2, sendo que IRMS é o valor
RMS da corrente i. Então, conclui-se que:
( )21AV RMSI
K Sθ =
⋅ (6.28)
A equação (6.28) mostra que o deslocamento angular do ponteiro do sistema
mostrado na Figura 6.14 é proporcional ao valor RMS da corrente i elevado ao quadrado.
Observe que esta afirmação pode ser feita independentemente da forma de onda da corrente i.
Portanto, o sistema mostrado na Figura 6.14 pode ser utilizado para construir amperímetros e
voltímetros que medem o valor RMS de qualquer forma de onda periódica.
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Portanto quando uma corrente periódica i(t) circula em um amperímetro de ferro
móvel, o mesmo mostrará o seguinte valor:
2
0
1 ( )
T
LidoI i t dtT
= ∫ (6.29)
Na equação (6.29) ILido é o valor mostrado pelo amperímetro e T é o período da
corrente i(t).
Analogamente, quando uma tensão v(t) periódica é aplicada nos terminais de um
voltímetro de ferro móvel, o valor mostrado pelo instrumento será:
2
0
1 ( )
T
LidoV v t dtT
= ∫ (6.30)
Na equação (6.30) VLido é o valor mostrado pelo voltímetro e T é o período da tensão
v(t).
Exemplo 6: Considere o circuito e a forma de onda mostrados em seguida:
( )v t
oV
3 ot 5 ot 8 ot
a) Meça a tensão sobre R2, utilizando um voltímetro de ferro móvel ideal;
b) Meça a corrente i(t) utilizando um amperímetro de ferro móvel ideal.
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Revisão do Capítulo
Valor Médio de Potência e Valor Eficaz ou RMS de Correntes e Tensões
2
0 0 0 0
1 1 1 ( ) 1 1( ) ( ) ( ) ( ) ( )
T T T Tv tP p t dt v t i t dt v t dt v t dt
T T T R R T
= = ⋅ = ⋅ = ⋅
∫ ∫ ∫ ∫
2RMSV
PR
⇒ = 2
0
1( )
T
RMSV v t dtT
⇔ = ∫ 2
0
1( )
T
RMSI i t dtT
⇔ = ∫2
RMSP R I= ⋅( )v t
Amperímetros e Voltímetros de Bobina Móvel
0
1 1( ) ( )
Tss i t d t
K Tθ = ⋅
∫
(constante)S
KN B L W
=⋅ ⋅ ⋅
0
1 1( ) ( )
Tss v t d t
K Tθ = ⋅
∫
Amperímetros e Voltímetros de Falso Valor RMS
A FEscala ou
Display
i(t) iA(t) I LIDOI
Retificador/AmperímetroFator de Forma
de iA(t)
Amperímetro de Falso Valor RMS
(Fator de Forma)RMSIF
I= (Ondas puramente senoidais)
2 2F
π=
Nota: Devido ao fato de que este instrumento mede o valor RMS a partir da definição do Fator de Forma
da corrente que circula no amperímetro, e não da definição de valor RMS, o mesmo é denominado
amperímetro/voltímetro de Falso Valor RMS.
Amperímetros e Voltímetros de Ferro Móvel ou Valor RMS verdadeiro (True RMS)
( )22
0
1 1 1( )
T
RMSss i t dt IK S T K S
θ
= = ⋅ ⋅ ∫
1 1 (constante)
2
L
K θ∂ = ∂
( )22
0
1 1 1( )
T
RMSss v t dt VK S T K S
θ
= = ⋅ ⋅ ∫
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Anexos
Tabela de Transformadas de Laplace
TABELA: Derivadas, Integrais
e Identidades Trigonometricas
• Derivadas
Sejam u e v funcoes derivaveis de x e n con-stante.
1. y = un ⇒ y′ = nun−1u′.2. y = uv ⇒ y′ = u′v + v′u.3. y = u
v ⇒ y′ = u′v−v′uv2 .
4. y = au ⇒ y′ = au(ln a) u′, (a > 0, a 6= 1).5. y = eu ⇒ y′ = euu′.6. y = loga u ⇒ y′ = u′
u loga e.7. y = lnu ⇒ y′ = 1
uu′.8. y = uv ⇒ y′ = v uv−1 u′ + uv(lnu) v′.9. y = sen u ⇒ y′ = u′ cos u.10. y = cos u ⇒ y′ = −u′sen u.11. y = tg u ⇒ y′ = u′ sec2 u.12. y = cotg u ⇒ y′ = −u′cosec2u.13. y = sec u ⇒ y′ = u′ sec u tg u.14. y = cosec u ⇒ y′ = −u′cosec u cotg u.15. y = arc sen u ⇒ y′ = u′√
1−u2.
16. y = arc cos u ⇒ y′ = −u′√1−u2
.
17. y = arc tg u ⇒ y′ = u′1+u2 .
18. y = arc cot g u ⇒ −u′1+u2 .
19. y = arc sec u, |u| > 1⇒ y′ = u′
|u|√u2−1, |u| > 1.
20. y = arc cosec u, |u| > 1⇒ y′ = −u′
|u|√u2−1, |u| > 1.
• Identidades Trigonometricas
1. sen2x + cos2 x = 1.2. 1 + tg2x = sec2 x.3. 1 + cotg2x = cosec2x.4. sen2x = 1−cos 2x
2 .5. cos2 x = 1+cos 2x
2 .6. sen 2x = 2 sen x cos x.7. 2 sen x cos y = sen (x− y) + sen (x + y).8. 2 sen x sen y = cos (x− y)− cos (x + y).9. 2 cos x cos y = cos (x− y) + cos (x + y).10. 1± sen x = 1± cos
(π2 − x
).
• Integrais
1.∫
du = u + c.2.
∫undu = un+1
n+1 + c, n 6= −1.3.
∫duu = ln |u|+ c.
4.∫
audu = au
ln a + c, a > 0, a 6= 1.5.
∫eudu = eu + c.
6.∫
sen u du = − cos u + c.7.
∫cos u du = sen u + c.
8.∫
tg u du = ln |sec u|+ c.9.
∫cotg u du = ln |sen u|+ c.
10.∫
sec u du = ln |sec u + tg u|+ c.11.
∫cosec u du = ln |cosec u− cotg u|+ c.
12.∫
sec u tg u du = sec u + c.13.
∫cosec u cotg u du = −cosec u + c.
14.∫
sec2 u du = tg u + c.15.
∫cosec2u du = −cotg u + c.
16.∫
duu2+a2 = 1
aarc tgua + c.
17.∫
duu2−a2 = 1
2a ln∣∣∣u−au+a
∣∣∣ + c, u2 > a2.
18.∫
du√u2+a2
= ln∣∣∣u +
√u2 + a2
∣∣∣ + c.
19.∫
du√u2−a2
= ln∣∣∣u +
√u2 − a2
∣∣∣ + c.
20.∫
du√a2−u2
= arc senua + c, u2 < a2.
21.∫
duu√
u2−a2= 1
aarc sec∣∣ua
∣∣ + c.
• Formulas de Recorrencia
1.∫
sennau du = − senn−1au cos auan
+(
n−1n
) ∫senn−2au du.
2.∫
cosn au du = sen au cosn−1 auan
+(
n−1n
) ∫cosn−2 au du.
3.∫
tgnau du = tgn−1aua(n−1) −
∫tgn−2au du.
4.∫
cotgnau du = − cotgn−1aua(n−1) −∫
cotgn−2au du.
5.∫
secn au du = secn−2 au tg aua(n−1)
+(
n−2n−1
) ∫secn−2 au du.
6.∫
cosecnau du = − cosecn−2au cotg aua(n−1)
+(
n−2n−1
) ∫cosecn−2au du.
Medidas Elétricas – Material complementar ao capítulo 6 1
1 Introdução O conhecimento do princípio de funcionamento do galvanômetro em regime permanente é útil mas não representa um completo entendimento do instrumento, uma vez que para que tenhamos uma visão completa do mesmo devemos analisar também o seu comportamento em regime transitório. 2 Equações diferenciais do galvanômetro Considere o circuito mostrado na figura 1, onde é mostrado um galvanômetro de bobina móvel, cuja resistência interna é Rm, alimentado através de uma fonte de tensão constante de valor E. A resistência R tem a função de limitar a corrente no galvanômetro.
Figura 1 – Circuito para análise da resposta transitória do galvanômetro
Na figura 1, inicialmente a chave está aberta e o ponteiro do galvanômetro está em repouso na posição angular θ = 0. No tempo t = 0 a chave é fechada e uma corrente começa a circular no circuito, fazendo com que o ponteiro alcance uma posição final θs em regime permanente. Para que possamos descrever matematicamente o movimento angular do ponteiro do galvanômetro em regime transitório, devemos inicialmente obter as equações diferenciais do instrumento e em seguida procurar soluções para estas equações. As equações diferenciais serão obtidas a partir das leis da mecânica clássica e das leis básicas de circuitos elétricos. A equação básica de um corpo rígido é escrita como sendo:
∑=
=n
k
k dt
)t(dH)t(T
1
(1)
Na equação 1 Tk(t) é um dos n torques externos que atuam no corpo rígido e H(t) é o movimento angular deste corpo. Uma vez que o galvanômetro possui somente um grau de liberdade, o momento angular é calculado como sendo:
dt
)t(dJ)t(H
θ= (2)
Na equação 2 J é o momento de inércia do núcleo do galvanômetro e θ(t) é a posição angular do ponteiro (em função do tempo) que está preso ao núcleo. O torque externo que atua no núcleo pode ser decomposto em 3 componentes que são: a) Torque T, resultante da iteração entre o campo magnético, produzido pelo imã permanente, e a corrente que circula na bobina. No caso do galvanômetro de campo radial, foi mostrado no capítulo 2 que o torque no núcleo é dado por:
)t(iABN)t(T = (3)
Na equação 3 N é o número de espiras da bobina, B é a intensidade do campo magnético do imã permanente e A é a área da bobina que está inserida no campo magnético do imã. b) Torque restaurador Tr produzido pela mola, que é descrito através de:
)t(S)t(Tr θ= (4)
Na expressão 4 S é a constante da mola. c) Torque Ta produzido pelo atrito do núcleo do galvanômetro com o ar, sendo que este torque é escrito como sendo:
dt
)t(dD)t(T aa
θ= (5)
Portanto, o torque resultante no núcleo é expresso como sendo:
dt
)t(dH)t(T)t(T)t(TT ar
k
k =−−=∑=
3
1
(6)
Substituindo as expressões 3-5 na equação 6 obtém-se:
dt
)t(dH
dt
)t(dD)t(S)t(iABN a =θ−θ− (7)
Capítulo 6 - Dinâmica do galvanômetro
Medidas Elétricas – Material complementar ao capítulo 6 2
Substituindo a expressão 2 na equação 7, temos:
2
2
dt
)t(dJ
dt
)t(dD)t(S)t(iABN a
θ=θ−θ− (8)
No capítulo 2 foi mostrado que:
ABNK
S = (9)
Substituindo a expressão 9 na equação 8 obtém-se:
2
2
dt
)t(dJ
dt
)t(dD)t(S)t(i
K
Sa
θ=θ−θ− (10)
Manipulando a expressão 10, temos:
)t(iK
S)t(S
dt
)t(dD
dt
)t(dJ a =θ+θ+θ
2
2
(11)
A equação 11 relaciona a posição angular θ(t) e a corrente i(t) que circula na bobina do galvanômetro. Portanto, devemos determinar também uma equação diferencial para a corrente i(t). A partir da solução da equação (11), pode-se verificar que movimento do ponteiro poderá ser sobreamortecido, criticamente amortecido ou subamortecido, conforme mostra a Figura 2. O tipo de movimento desenvolvido pelo ponteiro é função das constantes J, Da, S e K do instrumento.
Figura 2 - Movimento angular do ponteiro do galvanômetro
De acordo com a Figura 2, o movimento angular do
ponteiro, antes de alcançar a posição de regime permanente θs pode ser do tipo:
a) Lento e gradual (movimento sobreamortecido); b) Rápido, de modo que o ponteiro não ultrapasse a
posição θs (movimento criticamente amortecido);
c) Oscilatório, de modo que o ponteiro oscile durante um intervalo de tempo em torno da posição de regime permanente θs (movimento subamortecido).
A figura 2 mostra que independentemente do tipo de movimento que o ponteiro descreve (a, b ou c) o mesmo alcançará em regime permanente a posição θs e, nesta condição, a corrente Is que circulará na bobina do galvanômetro pode ser obtida diretamente do circuito mostrado na figura 1 como sendo:
ms RR
EI
+= (12)