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279 XVIII Jornada le Iniciação Científica PIBIC C Pq/FAPEAM/INPA Manaus - 2009 CARACTERIZAÇÃO CROMOSSÔMICA DE ESPÉCIES AMAZÔNICAS DE CUÍCAS-LANOSAS DO GÊNERO CALUROMYS (DIDELPHIMORPHIAi DIDELPHIDAE) Érica Martinha Silva de SOUZA1; Carlos Eduardo Faresin e SILVA 2 ; Maria Nazareth Ferreira DA SILVA 3 ; Eliana FELDBERG 4 'Botsísta PIBICjFAPEAMjINPA; 2Co-orientador GCBEVjINPA; 3Colaborador ColeçõesjINPA; "Orientador CPBAj INPA 1. Introdução Atualmente são conhecidas 270 espécies de marsupiais, o que corresponde a 7% das espécies de mamíferos do mundo (Nowak, 1991; Patterson, 2000). Para a família Didelphidae, ordem Didelphimophia, são descritas 89 espécies, sendo que todas são restritas ao continente americano (Albuja & Patterson, 1996; Gardner, 2005). Especificamente na Amazônia 12 gêneros são conhecidos (da Silva et ai., 2001). A citogenética tem se tornado uma ferramenta particularmente útil no estudo de pequenos mamíferos não voadores, devido à existência de convergências e homoplasias morfológicas, que geram inúmeras controvérsias taxonômicas (Bonvicino et ai., 2005). Caluromys (Allen,1990) está entre os gêneros de marsupiais também presentes na Amazônia e é conhecido popularmente como cuíca-Ianosa. Possui três espécies das quais apenas duas ocorrem no território brasileiro: C. philander e C. lanatus. O número diplóide encontrado para as espécies deste gênero é igual a 14 cromossomos e entre os marsupiais americanos, apenas mais dois números diplóides são encontrados: 2n=18 e 2n=22. Isto tem levado vários autores a sugerir que este grupo é conservado cariotipicamente. Entretanto, ainda não se conhece com certeza o número diplóide ancestral deste grupo. Diversas hipóteses foram propostas a partir do emprego de diversas técnicas, buscando descobrir o caminho da radiação dos marsupiais. Atualmente 2n=14 cromossomos é tido como o número diplóide ancestral para o grupo (Svartman & Vianna-Morgante, 1998). Desta maneira, estudos cariotípicos das espécies do gênero Caluromys da região amazônica poderá permitir uma melhor compreensão sobre a evolução cromossômica do grupo. 2. Material e métodos Foram analisados 11 indivíduos de C. philander de dois locais, sendo 10 do fragmento florestal da Refinaria de ManausjAM (REMAN) e uma fêmea do Vale do Jarí e um macho de C. lanatus do médio AripuanãjAM. Os cromossomos mitóticos foram obtidos pelo método in vivo segundo Ford & Harmerton (1956). Para determinar o padrão da região organizadora de nucléolo (RON) utilizou-se o protocolo de Howell & Black (1980); para determinar o padrão da heterocromatina constitutiva (banda C) o de Sumner (1972) com alterações na concentração e no tempo de ação do hidróxido de Bário para 2,5% e 12 a 14 segundos. Para determinar o padrão de banda G, vários protocolos foram testados, sendo que aquele descrito por Gold et ai. (1990) foi o que apresentou melhores resultados. A classificação dos cromossomos seguiu Levan et al, (1964). 3. Resultados e discussão Foram analisadas 383 células para a determinação do número diplóide, que foi igual a 14 cromossomos para C. philander e C. lanatus, sendo a fórmula cromossômica: 2m+6sm+4st+XXjXY e NFa= 24 (Figura 1a e 2a). No par sexual de C. lanatus o X apresentou-se como um pequeno submetacêntrico e o Y puntiforme. (Figura 1a). Em C. philander o par sexual apresentou uma variação quanto à morfologia do cromossomo X nos indivíduos da REMAN, sendo que aproximadamente a metade dos indivíduos analisados possui X acrocêntrico e a outra metade X submetacêntrico com Y puntiforme, para ambos os casos (Figura 2a). O cariótipo de Caluromys philander já é conhecido na literatura, no entanto pequenas variações puderam ser vistas. A princípio notou-se um alto grau de variação quanto à morfologia de um dos pares autossômicos, que até então havia sido classificado como acrocêntrico, observando-se que esta variação ocorria dentro de um mesmo indivíduo. Com a aplicação da técnica seqüencial Giemsa-RON, foi possível verificar a RON no braço curto do par 6, sendo que quando corado convencionalmente este braço ora era visível, e o cromossomo assumia a morfologia de subtelocêntrico, e ora não era visível, sendo o cromossomo considerado acrocêntrico. Esta variação de morfologia cromossômica está relacionada à anfiplastia, que se refere ao fato da constrição secundária apresentar-se corada com Giemsa ou não, dependendo do grau de condensação da RON (Pikaard, 2000; Pontes, 2003). A marcação da heterocromatina constitutiva em C. philander e C.lanatus foi positiva para RON, seus automossomos apresentaram pequenos blocos na região centromérica com uma leve marcação nos telômeros dos pares submetacêntricos. O cromossomo X mostrou-se marcado apenas na região

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XVIII Jornada le Iniciação Científica PIBIC C Pq/FAPEAM/INPA Manaus - 2009

CARACTERIZAÇÃO CROMOSSÔMICA DE ESPÉCIES AMAZÔNICAS DECUÍCAS-LANOSAS DO GÊNERO CALUROMYS (DIDELPHIMORPHIAiDIDELPHIDAE)

Érica Martinha Silva de SOUZA1; Carlos Eduardo Faresin e SILVA2; Maria Nazareth Ferreira DASILVA3; Eliana FELDBERG4

'Botsísta PIBICjFAPEAMjINPA; 2Co-orientador GCBEVjINPA; 3Colaborador ColeçõesjINPA;"Orientador CPBAj INPA

1. IntroduçãoAtualmente são conhecidas 270 espécies de marsupiais, o que corresponde a 7% das espécies demamíferos do mundo (Nowak, 1991; Patterson, 2000). Para a família Didelphidae, ordemDidelphimophia, são descritas 89 espécies, sendo que todas são restritas ao continente americano(Albuja & Patterson, 1996; Gardner, 2005). Especificamente na Amazônia 12 gêneros sãoconhecidos (da Silva et ai., 2001). A citogenética tem se tornado uma ferramenta particularmenteútil no estudo de pequenos mamíferos não voadores, devido à existência de convergências ehomoplasias morfológicas, que geram inúmeras controvérsias taxonômicas (Bonvicino et ai.,2005). Caluromys (Allen,1990) está entre os gêneros de marsupiais também presentes naAmazônia e é conhecido popularmente como cuíca-Ianosa. Possui três espécies das quais apenasduas ocorrem no território brasileiro: C. philander e C. lanatus. O número diplóide encontrado paraas espécies deste gênero é igual a 14 cromossomos e entre os marsupiais americanos, apenasmais dois números diplóides são encontrados: 2n=18 e 2n=22. Isto tem levado vários autores asugerir que este grupo é conservado cariotipicamente. Entretanto, ainda não se conhece comcerteza o número diplóide ancestral deste grupo. Diversas hipóteses foram propostas a partir doemprego de diversas técnicas, buscando descobrir o caminho da radiação dos marsupiais.Atualmente 2n=14 cromossomos é tido como o número diplóide ancestral para o grupo (Svartman& Vianna-Morgante, 1998).Desta maneira, estudos cariotípicos das espécies do gênero Caluromys da região amazônica poderápermitir uma melhor compreensão sobre a evolução cromossômica do grupo.

2. Material e métodosForam analisados 11 indivíduos de C. philander de dois locais, sendo 10 do fragmento florestal daRefinaria de ManausjAM (REMAN) e uma fêmea do Vale do Jarí e um macho de C. lanatus do médioAripuanãjAM. Os cromossomos mitóticos foram obtidos pelo método in vivo segundo Ford &Harmerton (1956). Para determinar o padrão da região organizadora de nucléolo (RON) utilizou-seo protocolo de Howell & Black (1980); para determinar o padrão da heterocromatina constitutiva(banda C) o de Sumner (1972) com alterações na concentração e no tempo de ação do hidróxidode Bário para 2,5% e 12 a 14 segundos. Para determinar o padrão de banda G, vários protocolosforam testados, sendo que aquele descrito por Gold et ai. (1990) foi o que apresentou melhoresresultados. A classificação dos cromossomos seguiu Levan et al, (1964).

3. Resultados e discussãoForam analisadas 383 células para a determinação do número diplóide, que foi igual a 14cromossomos para C. philander e C. lanatus, sendo a fórmula cromossômica: 2m+6sm+4st+XXjXYe NFa= 24 (Figura 1a e 2a). No par sexual de C. lanatus o X apresentou-se como um pequenosubmetacêntrico e o Y puntiforme. (Figura 1a). Em C. philander o par sexual apresentou umavariação quanto à morfologia do cromossomo X nos indivíduos da REMAN, sendo queaproximadamente a metade dos indivíduos analisados possui X acrocêntrico e a outra metade Xsubmetacêntrico com Y puntiforme, para ambos os casos (Figura 2a). O cariótipo de Caluromysphilander já é conhecido na literatura, no entanto pequenas variações puderam ser vistas. Aprincípio notou-se um alto grau de variação quanto à morfologia de um dos pares autossômicos,que até então havia sido classificado como acrocêntrico, observando-se que esta variação ocorriadentro de um mesmo indivíduo. Com a aplicação da técnica seqüencial Giemsa-RON, foi possívelverificar a RON no braço curto do par 6, sendo que quando corado convencionalmente este braçoora era visível, e o cromossomo assumia a morfologia de subtelocêntrico, e ora não era visível,sendo o cromossomo considerado acrocêntrico. Esta variação de morfologia cromossômica estárelacionada à anfiplastia, que se refere ao fato da constrição secundária apresentar-se corada comGiemsa ou não, dependendo do grau de condensação da RON (Pikaard, 2000; Pontes, 2003). Amarcação da heterocromatina constitutiva em C. philander e C.lanatus foi positiva para RON, seusautomossomos apresentaram pequenos blocos na região centromérica com uma leve marcação nostelômeros dos pares submetacêntricos. O cromossomo X mostrou-se marcado apenas na região

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centromérica e o Y completamente heterocromatinizado. A técnica de bandeamento G permitiuemparelhar os pares cromossômicos assim como confirmar a presença ou não de um rearranjo noscromossomos X dos indivíduos da REMAN.O bandeamento G foi obtido apenas para os indivíduosde C. philander onde foi confirmada uma grande inversão pericêntrica no cromossomo X,explicando assim a variação quanto à sua morfologia nos indivíduos da REMAN.

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Figura 2. Cariótipo de Caluromys philander: a) em coloração convencional; b) regiõesorganizadoras de nucléolo, após impregnação por nitrato de prata; c) após bandeamento c,; d)após banda G, Em a), c) e d) ressalta-se as diferentes formas do cromossomos X.

4. ConclusãoEmbora as duas especres estudadas tenham apresentado 2n= 14, pequenas variaçõescromossômicas foram evidenciadas pelas técnicas clássicas de bandeamento cromossômico,ressaltando a variação na morfologia do par 6 de Caluromys philander a qual pôde ser relacionadaà anfiplastia, que se refere ao fato da constrição secundária apresentar-se corada ou não comGiemsa, dependendo do grau de condensação da RON. Ainda duas morfologias foram detectadaspara o cromossomo X de C. philander, que foi devido a uma inversão pericêntrica, mudando suamorfologia de acrocêntrico para subtelocêntrico.

5. ReferênciasAlbuja, L.V.; Patterson, B.O. 1996, A new species of northern shrew-opossum (Paucituberculata:Caenolestidae) from the Cordillera dei Condor, Ecuador. Journal of Mammalogy, 77: 41-56.

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