Caracterização da Educação Física Escolar no Ensino ... · também é o Esporte. Segundo...

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Universidade de Brasília ADILSON MÁRCIO DE CASTRO Caracterização da Educação Física Escolar no Ensino Fundamental (7ª série e 8ª série) na Perspectiva de Promoção da Saúde: Possíveis contribuições para posterior estilo de vida ativo. Belo Horizonte 2007

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Universidade de Brasília

ADILSON MÁRCIO DE CASTRO

Caracterização da Educação Física Escolar no Ensino Fundamental

(7ª série e 8ª série) na Perspectiva de Promoção da Saúde: Possíveis contribuições para posterior estilo de vida ativo.

Belo Horizonte

2007

ADILSON MÁRCIO DE CASTRO

Caracterização da Educação Física Escolar no Ensino Fundamental

(7ª série e 8ª série) na Perspectiva de Promoção da Saúde: Possíveis contribuições para posterior estilo de vida ativo.

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profº. Ms. Luiz Henrique Porto Vilani

Belo Horizonte 2007

CASTRO, Adilson Márcio de

Caracterização da Educação Física Escolar no Ensino Fundamental (7ª série e 8ª série)

na Perspectiva de Promoção da Saúde. Belo Horizonte, 2007.

40 p.

Monografia Especialização Esporte Escolar – Universidade de Brasília. Centro de Ensino

a Distância, 2007.

1. Educação Física Escolar 2. Promoção de Saúde.

ADILSON MÁRCIO DE CASTRO

Caracterização da Educação Física Escolar no Ensino Fundamental

(7ª série e 8ª série) na Perspectiva de Promoção da Saúde: Possíveis contribuições para posterior estilo de vida ativo.

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.pela Comissão formada pelos professores:

Professor Mestre LUIZ HENRIQUE PORTO VILANI Universidade Federal de Minas Gerais

Professora Mestre

Belo Horizonte / MG, de Setembro de 2007.

A Deus, meu Norte. A Liliane, minha amada esposa,

Matheus e Amanda razões de meu viver.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, direta ou indiretamente contribuíram para elaboração desta

monografia e, em especial ao professor e amigo Luiz Henrique (KIKI), Petter

companheiro de trabalho e à Liliane, minha esposa.

“O sábio valoriza o que tem,

o estulto valoriza o que lhe falta.”

Augusto Cury.

RESUMO

A caracterização das aulas de Educação Física nas duas últimas séries do ensino

fundamental (7ª e 8ª séries) e do Programa Segundo Tempo dentro da perspectiva

da promoção da saúde, revela que temas relacionados com a saúde tem sido pouco

difundidos no âmbito escolar e no Programa Segundo Tempo. A hegemonia de

conteúdos esportivos, sobretudo a prática, constitui uma realidade que pode ser

estendida também ao Programa Segundo Tempo, cujo conteúdo mais difundido

também é o Esporte.

Segundo alguns autores, a aderência à prática de atividade física parece estar

relacionada a decisões pessoais e a apropriação de conhecimentos relativos aos

benefícios, ao prazer e ao bem estar alcançados com essa prática.

As bibliografias pesquisadas e o processo de observação apontam para um quadro

em que as adolescentes parecem ser menos ativas que os adolescentes. Os

conhecimentos a cerca dos benefícios da atividade física regular (estilo de vida

ativo) não parece vir das aulas de Educação Física ou do Programa Segundo

Tempo, visto que temas ligados à promoção de saúde e atividade física são pouco

trabalhados nessas aulas.

PALAVRAS CHAVES: Educação Física Escolar; Promoção da Saúde;

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura - 1 - Relação entre atividade física, aptidão física e saúde............................................. 18

Figura - 2 Componentes da Aptidão Física relacionada à saúde............................................... 19

Quadro 1 - Mecanismos pelos quais a atividade física pode reduzir a ocorrência..................... 20

ou a gravidade da doença cardíaca coronariana

Quadro 2 - Objetivos para um programa de exercícios, de acordo com a faixa etária.............. 23

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO..........................................................................11 1.1 - Descrição do Problema 1.2 - Objetivos 1.3 - Justificativa 1.4 - Hipóteses 1.5 - Delimitação 1.6 - Definição de Termos 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................16 3 – METODOLOGIA......................................................................36 4 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................................36 5 – CONCLUSÃO............................................................................38 REFERENCIAS APÊNDICES E ANEXOS

11 1 – INTRODUÇÃO

Atualmente podemos perceber uma crescente preocupação com o corpo e a

saúde. A população jovem, principalmente, busca cada dia mais a atividade física

como forma de melhorar a sua estética e a qualidade de vida.

Ainda assim observa-se no Brasil um aumento nos índices de mortalidade

por doenças de origem hipocinéticas e coronarianas. Dados epidemiológicos

(Brasil, 1993) mostram a coexistência, no país, de doenças ligadas ao

subdesenvolvimento (doenças infecto-contagiosas e parasitárias), doenças

relacionadas ao processo de industrialização e doenças crônico-degenerativas. Os

dados mostram nos últimos anos, um crescimento de doenças que parecem estar

relacionadas à vida sedentária, ao reduzido gasto energético (estilo de vida

inativo), ao sobrepeso e a obesidade (Brasil, 1993; Brasil, 1995; Dishman, 1998;

Guedes, 1994; Guedes & Guedes, 1995; Leite, 1986, 1990; Nahas, 1989 apud

Barros et al. 1997).

A partir desses dados podemos entender a importância de se incluir

conteúdos relacionados com a promoção de saúde nas escolas e da adoção de um

estilo de vida ativo. Nos propomos realizar o presente estudo, buscando

caracterizar as aulas de Educação Física nos dois últimos anos do ensino

fundamental e comparar os conteúdos das aulas regulares com os do Programa

Segundo Tempo.

12 1.1 - DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

Atualmente observamos uma grande incidência de doenças coronarianas,

crônico-degenerativas e obesidade, assim como um crescente índice de

sedentarismo, seja pelas condições de trabalho atuais, pelo desconhecimento ou

pela falta de tempo para o lazer e cuidado com o corpo.

Cabe à Educação Física escolar, procurar desenvolver hábitos saudáveis e

difundir os benefícios da atividade física regular proporcionando um aumento da

qualidade de vida e posterior combate ao sedentarismo.

1.2 - OBJETIVOS

* Caracterizar e determinar através da observação as aulas de Educação

Física e do Programa Segundo Tempo;

* Relacionar Educação Física, Programa Segundo Tempo e promoção de

saúde;

1.3 - JUSTIFICATIVA

Esse trabalho se justifica face à crescente discussão sobre o papel da

Educação Física Escolar, crescimento dos índices de sedentarismo, obesidade e

incidência de coronariopatias. Torna-se relevante também uma comparação com

programa Segundo Tempo do governo federal hoje implantado em várias escolas

do Brasil.

13 1.4 - HIPÓTESES

As aulas de Educação Física e o Programa Segundo Tempo contribuem ou

influenciam positivamente a prática da atividade física e adoção de um estilo de

vida ativo capaz de melhorar a qualidade de vida.

As aulas de Educação Física e o Programa Segundo Tempo não contribuem

ou influenciam positivamente a prática da atividade física e adoção de um estilo de

vida ativo capaz de melhorar a qualidade de vida

1.5 - DELIMITAÇÃO Foram observadas quatro (4) turmas de 7ª e 8ª séries, compostas por alunos

do gênero masculino e feminino, com idade entre 13 e 15 anos. O objetivo

foi caracterizar as aulas de Educação Física e do Programa Segundo Tempo

e verificar se os conteúdos relacionados à promoção da saúde eram

trabalhados ao longo das aulas.

14 1.6 - DEFINIÇÃO DE TERMOS

SAÚDE

A palavra SAÚDE deriva do latim SALUTE que quer dizer salvação,

conservação da vida. (Brasil, 1998)

“Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) à saúde representa o

bem estar bio-psico-social de um indivíduo, ou seja, uma pessoa para ser

considerada saudável deve estar bem fisicamente (bio), bem consigo mesma

(psico) e sentir-se bem com as outras pessoas (social)” (DIAS, 1995 apud

Silva, 1996)

“Condição humana com dimensões física, social e psicológica, cada uma

caracterizada por um “continuum” com pólos negativos e positivos”

(Guedes & Guedes, 1995 apud Barros 1997)

ESTILO DE VIDA ATIVO

Com relação ao significado de um ESTILO DE VIDA ATIVO, não foi

encontrada uma definição propriamente dita. Entende-se por Estilo de Vida

Ativo a prática de exercícios físicos ou atividade física regular e contínua.

Status ocupacional fisicamente mais ativo, ou seja, o hábito do exercício

mantido regularmente ao longo de toda a vida. (POLLOCK, 1993)

ATIVIDADE FÍSICA

“Qualquer movimento corporal produzido por músculos e que resulta em

maior dispêndio de energia” (McArdle at al., 1992)

“Atividade Física é entendida como movimento corporal intencional

envolvendo atividades específicas para manutenção da saúde, tais como

corrida, caminhadas, exercícios físicos, atividades esportivas e outros.”

(FERREIRA, 1997)

15 APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE

“Componentes da aptidão física que estão associados a algum aspecto da

saúde. Esses fatores importantes na aptidão relacionada à saúde incluem

endurance (resistência) cardiorrespiratória, endurance muscular, força

muscular, composição corporal e flexibilidade articular.

(McArdle, et al.1992)

“Um estado caracterizado por:

a) a capacidade de realizar atividades diárias com vigor, e

b) demonstração de traços e capacidades que estão relacionados com um

baixo risco de desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas (isto é,

doenças relacionadas com a inatividade física.” (PATE, 1988 apud

LAZZOLI, 1996)

SEDENTARISMO

SEDENTÁRIO - adj. que está quase sempre sentado; que anda ou se

exercita pouco; inativo. (MODERNO DICIONÁRIO INTERNACIONAL

DE LÍNGUAS, 1986)

Estado de inatividade física, proporcionado por uma vida cada vez mais

facilitada, do ponto de vista da conservação dos esforços e energias

humanas. (POLLOCK, 1993)

16 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

“A relação aptidão física-exercício físico habitual-saúde é complexa, com sérias

repercussões sobre a saúde pública e precisa ser amplamente discutida na

população, possivelmente através da educação formal, ou seja, por meio da

escolarização. A aderência (fixação) a um estilo de vida ativo parece resultar, entre

diversos fatores, de decisões pessoais em função do conhecimento adquirido e da

possibilidade de perceber satisfação, prazer e autocompetência nas atividades

praticadas, não apenas “exercitamento corporal” (Nahas & Corbin, 1992b apud

Barros et al., 1997).

Considerando que entre outros conteúdos, a prática de atividades físicas e o

movimento, constituem conteúdo da Educação Física, cabe ao profissional da área

escolar orientar e conscientizar o aluno da importância de se praticar atividades

físicas e adotar um estilo de vida ativo, mostrando os reais benefícios do

complexo: exercício físico-aptidão física-saúde. Sabemos que a duração e o

número de aulas de Educação Física na grade Curricular das escolas não são

capazes de promover melhorias do ponto de vista fisiológico/cardiorespiratório.

Face a essa realidade o Programa Segundo Tempo vem de encontro com a

proposta de inclusão de temas voltados para a promoção da Saúde.

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO O Segundo Tempo é um programa do Ministério do Esporte cujo público-alvo são

crianças, adolescentes e jovens matriculados no Ensino Fundamental e Médio dos

estabelecimentos públicos de educação do Brasil, localizados em áreas de risco

social, bem como aqueles que estão fora da escola, de forma a oportunizar o

acesso à prática esportiva e sua inclusão no ensino formal. As atividades

esportivas e de lazer são realizadas no contra-turno escolar e as escolas devem

estar localizadas prioritariamente em áreas de risco social, cumprindo a finalidade

17 de colaborar para a inclusão social, bem-estar físico, promoção da saúde e

desenvolvimento intelectual e humano, e assegurar o exercício da cidadania.

O Programa caracteriza-se por oferecer diversas atividades e modalidades

esportivas (individuais e coletivas), assim como ações complementares,

desenvolvidas em espaços físicos da escola ou em espaços comunitários, tendo

como enfoque principal o esporte educacional.

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: OBJETIVOS PRINCIPAIS • Promover a difusão do conhecimento e conteúdos do esporte

• Oferecer prática esportiva de qualidade

• Garantir o acesso às diversas atividades oferecidas pelo núcleo de esporte

• Democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte como instrumento

educacional

• Despertar a consciência da prática esportiva como atividade necessária ao bem

estar individual e coletivo

• Contribuir para o desenvolvimento humano, em busca de qualidade de vida

• Contribuir para o processo de inclusão educacional e social

• Garantir recursos humanos qualificados e permanentes para coordenar e

ministrar as atividades esportivas

• Promover hábitos saudáveis para crianças, adolescentes e familiares.

• Estimular crianças e adolescentes a manter uma interação efetiva em torno de

práticas esportivas saudáveis, direcionadas ao processo de desenvolvimento da

cidadania.

• Contribuir para a ampliação da atividade educacional, visando oferecer

educação permanente e integral por meio do esporte

• Contribuir para a redução da exposição de crianças e adolescentes às situações

de risco social

• Apoiar as ações de erradicação do trabalho infantil

18 • Contribuir para a diminuição dos índices de evasão e repetência escolar da

criança e do adolescente

• Apoiar a geração de emprego e renda através da mobilização do mercado

esportivo

nacional

• Implementar indicadores de acompanhamento e avaliação do esporte

educacional

• Obter reconhecimento nacional e internacional do Programa

(Ministério do Esporte, 2006)

PROGRAMA SEGUNDO TEMPO: RESULTADOS ESPERADOS IMPACTOS DIRETOS:

* Melhoria nas capacidades e habilidades motoras dos participantes

* Melhoria no rendimento escolar dos alunos envolvidos

* Diminuição da evasão escolar nas escolas atendidas

* Melhoria da qualificação de professores e estagiários de educação física

envolvidos

* Melhoria da auto-estima dos participantes

* Melhoria das condições de saúde dos participantes

IMPACTOS INDIRETOS:

* Diminuição no enfrentamento de riscos sociais pelos participantes

* Geração de novos empregos no setor de educação física/ esporte nos locais de

abrangência do Programa

* Melhoria da infra-estrutura esportiva no sistema de ensino público do país.

* Diminuição nos índices de busca dos serviços de saúde pelos participantes

(Ministério do Esporte, 2006)

19 APTIDÃO FÍSICA RELACIONADA À SAÚDE

Ultimamente, se verifica uma grande procura e estudos da prática de

atividades físicas com fins à manutenção da saúde. A Educação Física é a área

responsável por promover o desenvolvimento da atividade física, uma vez que sua

contribuição educacional permite o desenvolvimento motor e a aptidão física,

cabendo ao profissional uma atenção maior ao bem estar e à saúde.

As atividades físicas e aptidão física são necessárias e importantes para

todas as pessoas, em todas as faixas etárias e principalmente para sedentários,

melhorando sua qualidade de vida.

A prática da atividade física influência os índices de aptidão física e vice

versa como ilustra a figura:

APTIDÃO FÍSICA

ATIVIDADE FÍSICA SAÚDE Fig. 1 - Relação entre atividade física, aptidão física e saúde. Como se vê uma pessoa, ao se envolver em programas regulares de

atividades físicas, tende a apresentar melhores índices de aptidão física e, com o

aumento nos índices desta, provavelmente tornar-se-á mais ativo. Nota-se pela

figura que os índices de aptidão física estão relacionados ao estado de saúde de

maneira recíproca, sendo assim o estado geral de saúde influencia e é influenciado

pelos índices de aptidão física. Contudo devem-se considerar aspectos voltados à

hereditariedade, estilo de vida, condições ambientais e atributos pessoais que

podem afetar a inter-relação atividade física, aptidão física e saúde tornando o

20 modelo da figura mais complexo uma vez que envolve fatores intrínsecos de cada

indivíduo.

Aptidão Física

Relacionada à saúde

Dimensão Dimensão Dimensão Dimensão Morfológica Funcional-Motora Fisiológica Comporta- mental - Composição - Função - Pressão -Tole- Corporal Cardiorespiratória Sangüínea rância - Tolerância ao - Distribuição Consumo Máximo à Glicose e Estress da Gordura de Oxigênio Sensibilidade Corporal Insulínica Função Músculo-Esquelético Oxidação de Força/Resistência Substratos Muscular Flexibilidade Níveis de Lipídios Sangüíneos e Perfil das Lipoproteínas

Fig. - 2 Componentes da Aptidão Física relacionada à saúde. Os programas direcionados a atenderem aos componentes da aptidão física

relacionada à saúde seguramente se constituem em mecanismos imprescindíveis

na medida em que contribuem para que se possa inibir o aparecimento dos fatores

de risco que mais tarde venham a contribuir para o surgimento de sintomas

relacionados às disfunções de caráter crônico-degenerativo, mediante maior

proteção contra problemas e distúrbios associados às doenças hipocinéticas, isto é,

aquelas relacionadas ou causadas pela falta de atividade física.

Os mecanismos pelos quais a atividade física pode reduzir ocorrência ou a

gravidade da coronariopatia incluem aumentos na eficiência cardiovascular e

redução nos lipídios sangüíneos e na pressão arterial. Sendo a prescrição dos

21 exercícios baseados na avaliação médica e análise da freqüência, intensidade e

duração do treinamento, assim como da modalidade do exercício.

3.2 - Efeitos do Exercício e do Treinamento Sobre a Saúde e a Aptidão Os benefícios da atividade física podem não estar limitados à prevenção

primária da coronariopatia, as pessoas que exercitam apresentam também uma

incidência mais baixa de apoplexia, de doenças respiratórias, de todos os canceres

e de mortes por todas as causas do que as pessoas que não se exercitam.

Mecanismos pelos quais a atividade física pode reduzir a ocorrência ou a gravidade da doença cardíaca coronariana (Quadro 1) AUMENTO REDUÇÃO Vascularização colateral coronariana Níveis séricos de lipídios Dimensões dos vasos Triglicerídios Eficiência miocárdica Colesterol Eficiência da distribuição ou do retorno periférico

Intolerância à glicose

Capacidade de transporte de elétrons Obesidade-adiposidade Capacidade fibrinolítica Adesividade das plaquetas Massa de hemácias e volume sangüíneo Pressão arterial Função da tireóide Freqüência cardíaca Produção de hormônio do crescimento Vulnerabilidade às disritmias Tolerância ao estresse Reação neuro-hormonal excessiva Hábitos de vida sadios Joie de vive (“alegria de viver”).

“Pressão” associada ao “estresse” (tensão) psíquico

• VASCULARIZAÇÃO COLATERAL CORONARIANA

Alguns estudos confirmam indiretamente um aumento na vascularização

colateral coronariana em resposta aos exercícios do treinamento, contudo antes de

tirar quaisquer conclusões é necessário mais pesquisa no assunto.

22 • DIMENSÃO DOS VASOS SANGÜÍNEOS Hoje se têm apenas evidências de que o exercício físico regular induza um

aumento nas dimensões dos vasos em seres humanos. Sabe-se que em ratos há

aumento na dimensão dos vasos sangüíneos coronarianos em virtude de programas

regulares de exercícios, o que facilita o fluxo sangüíneo.

• CAPACIDADE DA COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA A coagulação do sangue consiste numa série complicada de reações

químicas, cujo início é desencadeado por tecido danificado ou traumatizado, o

alojamento desse coágulo numa artéria pode causar um ataque cardíaco. Foi

demonstrado que o exercício acelera tanto a coagulação sangüínea quanto a

velocidade da fibrinólise (tempo necessário para dissolver o coágulo). Essas

alterações produzem efeitos opostos e, se forem iguais em magnitude, se

neutralizam. Nessas condições, parece que o exercício não exerce qualquer efeito

benéfico sobre a formação do coágulo sangüíneo.

• NÍVEIS SANGÜÍNEOS DE COLESTEROL (lipídios) Pesquisas recentes mostraram que o exercício não reduz apenas o colesterol

sangüíneo total, mas que induz também um aumento na fração do colesterol

conhecida como lipoproteínas de alta densidade (LAD-HDL) e uma redução na

fração lipoprotéica de baixa densidade (LBD-LDL). Sabe-se que o colesterol HDL

protege contra a doença cardíaca coronariana enquanto o colesterol LDL não

fornece essa proteção. Vários estudos recentes mostraram que o treinamento com

exercícios gera reduções no colesterol, nos triglicerídios e nas concentrações de

LDL, assim como um aumento no colesterol HDL tanto em homens quanto em

mulheres. Contudo deve-se considerar o fato de os efeitos do treinamento

poderem ocorrer somente como conseqüência de modificações na estrutura

corporal, na dieta, no fumo, na ingestão de álcool e no uso de medicações.

Obs.: Alterações favoráveis com exercícios de endurance ou resistência.

23 • PRESSÃO ARTERIAL O treinamento com exercícios causa redução na pressão arterial,

particularmente nas pessoas hipertensas.

Observando os efeitos do exercício sobre a pressão arterial pode-se

concluir:

♦ Em levantamento epidemiológico, os homens com ocupações fisicamente

ativas tinham pressões sistólicas e diastólicas mais baixas do que aqueles

que exerciam trabalhos sedentários;

♦ Os indivíduos hipertensos têm suas pressões arteriais reduzidas com

exercícios isométricos por um período de 05 a 08 semanas de duração e

atividades aeróbias por um período de 03 a 08 meses. Desta forma na

maioria dos programas terapêuticos deve-se incluir exercícios destinados

a controlar a enfermidade.

• VULNERABILIDADE ÀS DISRITMIAS CARDÍACAS O exercício regular tende a reduzir a suscetibilidade do coração aos

distúrbios do ritmo do coração, o mecanismo fisiológico implicado não é claro, no

entanto pode estar relacionado com uma menor produção de adrenalina e de outras

catecolaminas.

24 Objetivos para Saúde/Aptidão

O quadro a seguir descreve alguns objetivos para um programa de

exercícios, de acordo com a faixa etária. (Quadro 2)

Objetivos de saúde-aptidão

Crianças (1-14 anos) • Crescimento e desenvolvimento físicos ideais • Boa ajustagem psicológica • Desenvolver o interesse e as perícias para um

estilo de vida ativo como adulto • Redução nos fatores de risco de

coronariopatia Adultos jovens (15-24 anos)

• Crescimento e desenvolvimento físicos ideais • Boa ajustagem psicológica • Redução da coronariopatia • Desenvolver o interesse e as perícias para um

estilo de vida como adulto Sabendo dos efeitos do exercício sobre a saúde e considerando que o

tamanho e a capacidade funcional dos órgãos importantes para a capacidade de

desempenho corporal dependem cerca de 30 - 40% da quantidade e qualidade da

exigência específica, apenas com exigência muscular apropriada, podem-se

desenvolver por completo as potencialidades do organismo infantil e jovem.

Segundo WEINECK (1991), cada órgão reage à sub-exigência não só com

uma diminuição da capacidade de desempenho, no sentido de processos de atrofia,

mas torna-se, paralelamente, mais susceptível a doenças e cada vez mais limitado

em sua capacidade de compensação. Condições de inatividade, portanto,

representam um grande problema, principalmente para o organismo em

crescimento.

De acordo com estatísticas, 50 - 65% de todos os alunos e alunas entre 8 e

18 anos mostram falhas ou deficiências de postura, mais de 30% têm excesso de

peso, 20 - 25% apresentam circulação deficiente ou distúrbios na regulação

circulatória (Hollmann/Hettinger 1980, 596; Wasmund-Bodenstedt/Braun 1983,

16 - 18 apud Weineck, 1991). As crianças e jovens desenvolvem um estilo de vida

25 e lazer nocivos ao desenvolvimento corporal geral saudável; no lugar dos

movimentos diários, instalam-se principalmente atividades “passivas”-- nos

escolares de 11 até 12 anos, até 22 horas de televisão por semana

(Peters/Pahlke/Wurster 1981,685 apud Weineck, 1991) --, que estimulam a

formação de doenças hipocinéticas e formam a base inicial para grande quantidade

de doenças cárdio-circulatórias degenerativas.

Segundo pesquisas de Armstrong/Davies (1980, 5) citado por Weineck

(1991), devido aos hábitos de vida e de atitudes alterados, instalam-se, já nas

crianças, os fatores de risco que são característicos para o aparecimento de

doenças cárdio-circulatórias degenerativas.

Embora existam evidências de que melhores índices de aptidão física e

saúde estão associados a opção por um estilo de vida mais ativo, tem-se

demonstrado que a adoção de hábitos e atitudes quanto a prática de exercícios

físicos regular depende da apropriação de conhecimentos que conduzam a

autonomia e capacidade crítica em relação ao exercício físico-saúde, o que pode

ser concretizado a partir de uma ação pedagógica politicamente orientada e

sistematizada em nosso processo de ensino formal (escola).

UM CONCEITO MAIS AMPLO DE SAÚDE

Vimos como a atividade física pode influenciar fisiologicamente o

organismo, contribuindo para a prevenção de doenças e manutenção da saúde.

Contudo não podemos esquecer que saúde não se limita a ausência de doenças e

nem mesmo a aspectos puramente fisiológicos.

Falar de saúde , portanto, envolve componentes aparentemente tão distintos

como a qualidade da água que se consome e do ar que se respira, as condições de

fabricação e uso de equipamentos nucleares ou bélicos, o consumismo desenfreado

e a miséria, a degradação social e a desnutrição, os estilos de vida pessoais e as

formas de inserção das diferentes parcelas da população no mundo do trabalho.

A Educação Física escolar deve então ter em mente os inúmeros fatores que

condicionam a saúde, entre os quais incluem os condicionantes biológicos (sexo,

26 idade, características genéticas), o meio físico (condições geográficas, condições

de habitação, qualidade da alimentação), o meio socioeconômico e cultural, que

expressa os níveis de ocupação e renda, o acesso à educação formal e ao lazer, os

hábitos de relacionamento interpessoal, a possibilidade de acesso a serviços e

informações voltados para a promoção e recuperação de saúde.

No início da vida escolar, as crianças trazem consigo a valorização de

comportamentos relativos à saúde oriundos da família, de outros grupos de relação

mais direta ou da mídia. Durante a infância e a adolescência, épocas decisivas para

a construção de condutas, a escola passa a assumir papel destacado por sua

potencialidade para o desenvolvimento de um trabalho sistematizado e contínuo,

constituindo um referencial para esses jovens, devendo se contrapor à mídia que

permanece como norteadora de comportamentos.

Os conteúdos relacionados à saúde incluídos no ensino fundamental devem

permitir ao aluno compreender e utilizar formas de intervenção sobre os fatores

desfavoráveis à saúde presentes na realidade em que vive, agindo com

responsabilidade em relação à sua saúde e da coletividade; responsabilizar-se

pessoalmente pela própria saúde, adotando hábitos de autocuidado, respeitando as

possibilidades e limites do próprio corpo; dotar o aluno de conhecimentos

teóricos/práticos a fim de que sejam capazes de terem autonomia e possam adotar

um estilo de vida ativo.

Para Nahas & Corbin (1992), a Educação Física é a profissão que tem

maior responsabilidade de prestar serviços relacionados com atividade física e

desenvolvimento humano. Particularmente nas escolas, a Educação Física tem

uma contribuição educacional relevante para todos os indivíduos relacionada com

o desenvolvimento motor e a aptidão física para o bem estar e a saúde.

Mesmo que o trabalho se fundamente na atividade física, será necessário

que alcance as três dimensões da aprendizagem (cogno-afetivo-psicomotor) para

que promova uma melhora do nível de qualidade de vida da pessoa.

27 REPENSANDO A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

Araújo citado por Barros et al. (1997) destaca a necessidade de repensar os

currículos em Educação Física, propondo um compromisso de educar para a saúde

em oposição ao adestramento de “atividades físicas”. Bem & Nahas citado por

Barros et al. (1997), identificaram uma forte receptividade por parte de professores

e alunos em relação a uma proposta curricular com conteúdos teórico-práticos

relacionados a saúde. Igualmente Guedes & Guedes também citado por Barros et

al. (1997), vem apresentando subsídios para implementação de programas de

Educação Física relacionada a promoção da saúde baseados no grande índice de

desinformação que ocorre na população em geral com relação a este assunto,

inicialmente pela proposição de um projeto amplo de atividade física relacionada a

saúde; em seguida, pela indicação de subsídios e sugestão de conteúdos para os

programas de Educação Física escolar. Contudo alguns autores criticam os

programas de Educação Física escolar que visam o desenvolvimento da aptidão

física, é o caso de Colquhoun, 1992 citado por Barros et al. (1997) que aponta a

forte tendência sanitarista/biologiscista e de medicalização da Educação Física;

Soares et al. (1992) apud Barros et al. (1997) enfatiza a associação histórica dessa

perspectiva com a defesa dos interesses das classes de poder.

Mas deve-se considerar que a acentuada esportivização das aulas ligada a

perspectiva da Educação Física escolar relacionada ao desenvolvimento da aptidão

física, tem definido um quadro de prática de exercícios corporais dissociado das

reais necessidades dos alunos. Guedes & Guedes citado por Barros et al. (1997)

alerta que “... a promoção de saúde num sentido exclusivamente biológico deverá

inibir o domínio e o encorajamento de atitudes favoráveis a própria saúde, não

permitindo que novos conhecimentos sejam incorporados de forma integrada e

duradoura em direção a uma auto-independência em termos de decisões quanto a

adoção de um estilo de vida saudável...”

Segundo Nahas & Corbin, citado por Silva (1996), a Educação Física

escolar pode representar o ambiente ideal para a aprendizagem de conceitos

28 importantes para toda a vida. A Educação Física é o melhor meio para reunir

informações, atitudes e ações associadas com comportamentos saudáveis.

RELAÇÃO HISTÓRICA: EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

Segundo Paulo Ghiraldelli Júnior (1992), citado por Devide (1996), “a

Educação Física, em todas as tendências, é encarada como atividade capaz de

assegurar a aquisição e a manutenção do status de saúde individual”. Também

Medina,1992 no já citado Devide (1996) ao classificar a Educação Física em três

concepções (Convencional, Modernizadora e Revolucionária) parece compartilhar

dos aspectos biológicos relacionados a saúde, uma vez que as duas primeiras

classificações enfatizam o desenvolvimento da aptidão física e da saúde dos

indivíduos, ignorando os aspectos sociais que influenciam nessas situações.

Adroaldo Gaya, 1989 apud Devide (1996) acredita que na busca de um

corpo teórico, a Educação Física agrega-se a outros sistemas (no caso a saúde),

passando a parasitar corpos de conhecimento já estruturados, desta maneira

transformando-se em um subsistema, no qual perde seu papel social. Esse autor

defende a necessidade de a Educação Física reconhecer a sua totalidade, evitando

a separação entre ciências humanas e biológicas que constituem seu corpus

teórico. Contesta ainda a prática pedagógica do professor de Educação Física, o

qual contradiz os pressupostos de promoção de saúde e de educação ao

supervalorizar os bem dotados fisicamente em detrimento dos menos habilidosos;

ao preocupar-se com a vitória independente dos meios de alcançá-la; ao

desconsiderar as individualidades, as vivências e as expectativas dos alunos e ao

hipertrofiar sinergias musculares com o intuito de proporcionar maior rendimento.

A relação entre Educação Física e saúde aparece freqüentemente associado

à melhoria da aptidão física. Realmente o treinamento adequado da aptidão física

proporciona benefícios para a saúde prevenindo o aparecimento de hipocinesias.

Entretanto a ênfase dada aos benefícios orgânicos e psicológicos oriundos da

prática regular de exercícios físicos acaba por difundir a noção de causalidade

entre exercício e saúde. È de fato na influência benéfica do exercício para a saúde

29 que aptidão física se apoia, contudo entender a relação Educação Física/saúde,

exclusivamente através dos benefícios orgânicos da aptidão física é um

reducionismo do conceito de saúde e da própria profissão.

DETERMINANTES DA BUSCA PELA ATIVIDADE FÍSICA

A melhoria na aptidão física e o aprimoramento de sua saúde são as

principais raízes da busca por um estilo de vida ativo. Uma pesquisa realizada nos

Estados Unidos mostrou que a porcentagem de adultos que iniciam programas de

exercícios físicos vigorosos e regulares tem aumentado nas últimas duas décadas,

passando de 18% da população em 1978 para 24% em 1989 (Aldana, Stone, 1990

apud Aldana, Stone, 1991) citado por Devide, 1996.

No Brasil, segundo Storchi e Nahas (1991) citado por Devide (1996),

71,6% dos praticantes de atividades físicas em Florianópolis apontam a

manutenção da saúde individual como objetivo determinante da prática regular de

exercícios. Outro agente que influencia e determina o aumento do número de

pessoas que buscam a prática regular de exercícios é a mídia, que estabelece uma

relação exercício físico/saúde bastante clara, com o fim de promover e vender seus

produtos.

Sabemos entretanto que um alto nível de aptidão física não significa

necessariamente uma boa saúde, o que pode ser comprovado através das

freqüentes lesões causadas pelo treinamento em atletas de alto nível. Para Haskell,

Montoye e Oreinstein (1985) citado por Devide (1996), “o alto nível de aptidão

física é associado à saúde, mas a melhoria de aptidão física não aumenta a

resistência à doença; alguns doentes podem melhorar a sua aptidão, sem melhorar

a severidade da doença; e a melhoria da saúde pode ser devida a mudanças

biológicas diferentes das responsáveis pela melhoria da aptidão física. Desta forma

entendermos a relação causal entre Educação Física e saúde é limitar a ação do

profissional de Educação Física, desconsiderando o caráter de multifatoriedade da

saúde.

30 UM IDEÁRIO DA PROMOÇÃO DE SAÚDE

Faria Júnior citado por Devide & Ferreira (1997), aponta “a promoção de

saúde como um ideário capaz de ampliar a relação de compromisso da Educação

Física com a saúde, uma vez que busca integrar os aspectos políticos, econômicos

e sócio-culturais da vida humana sem, no entanto, desconsiderar a aptidão física.”

O ideário da promoção de saúde possui quatro pressupostos principais, os

quais são: a desmedicalização da saúde; a educação para a saúde; o envolvimento

comunitário e a multifatoriedade.

De acordo com a OMS (1984) citado por Faria Júnior (1991) o ideário da

promoção de saúde está baseado em cinco princípios básicos assim citados:

A Promoção da Saúde deve focalizar a população como um todo e não

apenas os grupos de risco;

A ação deve ser voltada para muitos fatores que influenciam a saúde de

modo a assegurar que no meio ambiente total que se encontra por trás

dos indivíduos conduza à saúde;

A Promoção da Saúde requer a participação de toda a comunidade,

alguma coisa que envolva a aquisição - individual e coletiva - de estilos

de vida;

A Promoção da Saúde deve envolver uma ampla variedade de

estratégias e agências - ... comunicação, educação, legislação, medidas

fiscais, mudanças organizacionais, desenvolvimento comunitário e

atividades espontâneas locais, contra os azares da saúde;

Profissionais da saúde têm parte a desempenhar no processo de tornar

viável a Promoção da Saúde através de sua defesa e educação.

Segundo Devide (1996) a transmissão de conhecimentos sobre a saúde

contribui para que a comunidade tenha responsabilidade sobre sua saúde,

explicitando seus problemas, reivindicando e sugerindo soluções. O trabalho

conjunto dos diversos profissionais da saúde deve ter como objetivo “educar” as

31 pessoas a adotar práticas que otimize a sua saúde e a de sua comunidade,

constituindo, com isso, o terceiro princípio que é a educação para a saúde. Para

Bento (1991) citado por Farinatti (1994) a educação para a saúde incorpora a

saúde como uma questão didático-pedagógica. O que indica a importância de os

conhecimentos da educação para a saúde serem transmitidos na escola ou

comunidade, a fim de possibilitar que as pessoas assumam atitudes que levem a

uma melhor qualidade de vida (Ferreira, 1993 apud Devide, 1996).

A desmedicalização da saúde encara a saúde como um problema que

envolve diversos campos de conhecimento, como a medicina, as ciências sociais,

as ciências do desporto, reunindo, portanto, o esforço dos diversos profissionais,

como médicos, enfermeiros, assistentes sociais, professores, sociólogos,

psicólogos, nutricionistas entre outros. Atualmente, infelizmente não se vê uma

cooperação entre esses profissionais, sendo a palavra final de um médico que não

é um educador físico. (Faria Júnior, 1991)

Ainda segundo Faria Júnior (1991), “a participação da comunidade amplia a

concepção de estilos de vida do nível individual para o coletivo, e exige da

educação física novas responsabilidades, papel e ações interativas.”

PROMOÇÃO DA SAÚDE E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

A Promoção de saúde na Educação Física escolar deve levar os alunos a se

exercitar, desenvolvendo, além dos conhecimentos necessários à prática, a

consciência de sua importância e de seus benefícios para o seu bem-estar. Deve

ainda possibilitar que os alunos identifiquem os inúmeros fatores que os impedem,

muitas vezes, de praticar exercícios regularmente.

Trabalhar os conteúdos da Promoção da Saúde no âmbito da Educação

Física escolar não significa deixar de atuar na busca de outros objetivos ou

concepções, mas que assuma um compromisso maior com o ideário da Promoção

da Saúde. A relação de compromisso da Educação Física com a promoção da

saúde pressupõe a reavaliação de seus papéis e compromissos. Sem ter como

objetivo principal a obtenção de altos rendimentos e a formação de físicos

32 esculturais, a Educação Física não deve, no entanto desconsiderar a importância da

aptidão física.

Segundo Devide (1996), “o professor deve despertar nos alunos a vontade e

o prazer pela prática de exercícios físicos que podem não ser os mesmos para

todos, fazendo com que o ato motor realizado tenha significado para o

executante.” Ao discutir com os alunos os diversos fatores, além dos exercícios

físicos, que influenciam no seu status de saúde (a falta de espaços públicos para a

prática, a dificuldade de acesso ao lazer, as más condições de trabalho, transporte,

educação etc), o professor estará contribuindo para a desmitificação da relação

causal entre exercício físico e saúde, e ampliando a relação de compromisso da

Educação Física com a saúde.

A aprendizagem dos conteúdos da Educação Física para a promoção de

saúde seria significativa a partir do momento que o aluno compreendesse os

benefícios que a prática regular de exercícios traz para a sua saúde. Seria

significativa quando o aluno sentisse motivação e prazer na prática de exercícios e,

ao mesmo tempo, tivesse autonomia para escolher concientemente seu exercício,

programando e avaliando seus resultados com base nos objetivos traçados.

Nesse sentido a escola parece ser o lugar mais indicado para se criar um

estilo de vida ativo que posteriormente será mantido. De acordo com Jo Harris

citado por Devide (1996), as pessoas jovens podem aprender a reconhecer o valor

do exercício no seu estilo de vida; a ter consciência de algumas barreiras para a

participação no exercício (sociais, de tempo, econômicas, de meio-ambiente,

conhecimento de facilidades, acesso); a traçar estratégias para desafiá-las e a

incorporar esquemas de exercícios regulares no seu dia-a-dia. O que reforça a

importância da escola no processo de construção de conceitos e atitudes. Há

também pesquisas que apontam que as crianças ativas tendem a levar esse

comportamento para a vida adulta.

Contudo simplesmente ressaltar os benefícios orgânicos da prática de

exercícios físicos pode ser pouco eficaz para que os alunos adotem estilos de vida

ativos, é importante dotar os alunos de conhecimentos que possibilitem ao final

33 dos anos escolares, eles tenham autonomia e conhecimento suficiente para

programar e avaliar seus próprios esquemas de exercícios. Conteúdos como lesões

causadas pelo excesso de exercício (sobrecarga), noções básicas de fisiologia,

anatomia, a importância, bem como os mecanismos que possibilitam a

manutenção da saúde.

BREVE CARACTERIZAÇÃO ETÁRIA

Segundo Freire e Barros citado por Oliveira (1995) a partir dos 12 anos a

criança entra no período Hipotético-Dedutivo, onde ela rompe as barreiras da

realidade concreta, da prática atual e se interessa por problemas hipotéticos.

Para Barros (1986:86) citado por Oliveira (1995), assim como no

desenvolvimento físico, moral e emocional, também ocorrem com o intelecto

períodos sensíveis (ou de prontidão). Em se tratando da Educação Física, é

importante o aspecto lúdico inserido nas aulas, porém, o professor deve ser capaz

de conhecer e prever os efeitos das atividades propostas para o desenvolvimento

integral das crianças.

Le Boulch (1988: 37) citado por Oliveira (1995) “cita como fator de grande

importância no bom desenvolvimento do processo de socialização de uma criança,

a descoberta e o conhecimento da imagem corporal, uma imagem que lhe traga

prazer e satisfação. A partir da construção desta conscientização corporal

equilibrada, ela será um membro ativo e cooperador dentro de um grupo.”

Na adolescência verificam-se várias mudanças fisiológicas, que acarretam

alterações emocionais, especialmente o aumento das emoções negativas tais como:

mau humor, ansiedade, desprezo, tensão e outras formas de comportamento

comuns nesse período. (Oliveira, 1995).

Segundo Wallon (1992: 85) citado por Oliveira (1995), “a afetividade (dimensão

afetiva) ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa

quanto do conhecimento.”

Faz-se importante lembrarmos que o corpo (no sentido mais amplo)

constitui objeto de trabalho da Educação Física, sofre ação direta da emoção.

34 Conhecer estas emoções e a forma de ação nas pessoas torna-se primordial para o

profissional de Educação Física.

UMA PROPOSTA DE ENSINO

Segundo Cyrino (1997), a Educação Física escolar deve estabelecer

prioridades de acordo com a faixa etária ou série, sendo assim propõe que no

ensino fundamental o conteúdo da Educação Física se volte para a aprendizagem

do movimento, oferecendo às crianças a oportunidade de vivenciar o maior

número de experiências motoras possíveis. No ensino fundamental Cyrino (1997)

propõe a aprendizagem de conceitos e informações sobre o movimento humano

consciente, de forma que valorize o domínio cognitivo e que possibilite, através

desses conhecimentos, as discussões e reflexões necessárias sobre a importância

da prática da atividade física regular na sociedade atual.

“O objetivo principal deverá ser ensinar os conceitos básicos da relação

atividade física/aptidão física/saúde, no sentido de influenciar o

comportamento futuro dos alunos, levando-os a optarem por hábitos de vida

que incluam a prática de exercícios físicos regulares”

A partir da apropriação desses conhecimentos, o indivíduo poderá por si só

julgar e optar por um estilo de vida que melhor se adapte à sua realidade, às

suas necessidades, aos seus anseios propiciando durante os anos uma boa

qualidade de vida. (Cyrino, 1997).

Contudo Cyrino (1997) parece não desconsiderar as outras dimensões do

ser humano e a multifatoriedade da Educação Física o que se evidência ao dizer

que o conteúdo deve privilegiar os aspectos anatomo-fisiológicos, sociais e

culturais relativos ao movimento humano. Um dos objetivos da Educação Física

deve ser proporcionar independência (auto-avaliação, escolha de atividades e

programas) em termos de aptidão física relacionada à saúde, como forma de

oportunizar experiências de atividades físicas variadas, agradáveis, estimulantes e

35 que não exijam uma grande habilidade motora; observando as características,

necessidades e interesses dos alunos, permitindo assim a prática continuada,

dentro e fora do ambiente escolar.

Para Nahas & Corbin (1992) uma proposta de ensino que englobe atividade

física, saúde e aptidão física para toda a vida está relacionado com:

“Os objetivos da educação física relacionados à aptidão física se

estendem além dos anos escolares”. É necessário enfatizar atividades

físicas por toda a vida, pois os benefícios não se mantêm sem a prática

regular;

Os programas de educação física (incluindo os objetivos de aptidão

física) devem ser para todos os indivíduos, independentemente do

potencial genético individual ou grau de habilidades motoras;

A maior atenção deve ser dirigida àqueles que mais precisam

(indivíduos menos aptos, sedentários, menos habilidosos, obesos);

Os testes de aptidão física devem servir para melhorar a auto-estima, não

destruí-la. O propósito dos testes deve ser diagnosticar deficiências e

avaliar o progresso individual. Não deve haver comparação entre alunos

e os resultados dos testes não devem servir para atribuir notas;

Experiências em atividades que dêem satisfação e a compreensão dos

conceitos relacionados à prática de atividades físicas durante os anos

escolares ajudarão os indivíduos a escolherem hábitos de vida ativos

quando adultos;

Deve-se enfatizar mais o processo (atividades físicas) do que o produto

(aptidão física). O produto seguirá o processo, na medida possível do

potencial genético individual e do grau de maturação;

o desenvolvimento de habilidades motoras ajuda a desenvolver a

percepção de autocompetência - o que está associado à motivação para a

prática de atividades físicas.”

36 3 – METODOLOGIA

Neste estudo foi realizado uma revisão de literatura e observação passiva de

aulas do Programa Segundo Tempo e Educação Física em uma escola Municipal

de Belo Horizonte.

O estudo foi baseado na análise da bibliografia levantada e na observação

das aulas de Educação Física realizadas ao longo do segundo semestre do ano de

2006.

4 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Pudemos verificar que Jogos e Esportes são os principais conteúdos da

Educação Física Regular e do Programa Segundo Tempo, principalmente na 7ª

série, onde esse item “sempre” ou “freqüentemente” era realizado nas aulas, com

destaque para a prática do Futsal.

Pôde-se observar então pouca diversidade de conteúdos ao longo do

período estudado, sendo que os esportes Basquetebol e Handebol, sobretudo nas

aulas do Programa Segundo Tempo, não foram trabalhados.

Os adolescentes do sexo masculino demonstravam maior interesse e

satisfação durante as aulas em comparação com seus pares femininos,

principalmente quando observamos as aulas de Educação Física.

Uma questão a ser levantada: Será que o Programa Segundo Tempo está

atingindo os objetivos? As observações realizadas sugerem que o Programa

Segundo Tempo não está sendo capaz de atingir a maior parte de seus objetivos,

assim como a Educação Física regular. No que tange transmitir conhecimentos

relativos à promoção da saúde não foi verificado nenhum espaço durante as aulas

para discutir esse tema. Sabemos que o número de aulas de Educação Física da

grade curricular (2 aulas de 50 min.) não são suficientes para um desenvolvimento

dos aspectos cardiorespiratórios (do ponto de vista fisiológico) e a não inclusão de

37 temas relativos a promoção da saúde contribui para a falta de conscientização dos

alunos da importância de se praticar atividade física regularmente.

Desta forma o padrão de vida sedentário existente entre adolescentes e

adultos pode ser em parte explicado por essa lacuna existente na Educação Física

Escolar e que vêm se repetindo no Programa Segundo Tempo. A partir dessa

análise percebe-se a necessidade da reformulação das aulas de Educação Física

Escolar e do Programa Segundo Tempo.

Sugerimos a inclusão de conteúdos relacionados à saúde e qualidade de

vida e uma maior diversidade dos conteúdos, como indica os PCN’s e os Temas

Transversais, dentro de uma política de intersetorialidade.

38 5 - CONCLUSÃO

Os esportes constituem o conteúdo hegemônico das aulas do Programa

Segundo Tempo e de Educação Física ao longo das duas séries escolares estudadas

(7ª e 8ª), o que acreditamos contribuir para uma desmotivação dos adolescentes.

Conteúdos relacionados aos benefícios da atividade física para saúde e

melhoria da qualidade de vida são pouco ou nada relacionados nas aulas de

Educação Física e, sobretudo no Programa Segundo Tempo. Tais conhecimentos

de fundamental importância para a melhoria da qualidade de vida, sendo

negligenciado, deixam os adolescentes a mercê das informações da mídia, sem a

possibilidade de questionamentos mais consistentes.

A adoção de um estilo de vida ativo quando adulto está relacionada com o

conhecimento e apropriação pelos alunos da importância da atividade física

regular para a saúde, suas implicações e sobretudo o prazer proporcionado pela

prática. Conclui-se enfim que as aulas de Educação Física e o Programa Segundo

para contribuir ou influenciar positivamente a prática da atividade física e adoção

de um estilo de vida ativo capaz de melhorar a qualidade de vida só será possível

se esses adolescentes tiverem contato com os conceitos da promoção da saúde ao

longo dos anos escolares.

Relacionando as aulas de Educação Física e o Programa segundo tempo

pudemos perceber que há uma superposição de atividades, ou seja, os mesmos

conteúdos desenvolvidos tanto na Escola como no Programa são praticamente os

mesmos. De acordo com os objetivos propostos para o Programa Segundo Tempo,

acreditamos que o programa teria muito mais a contribuir com a formação dos

adolescentes, seja na perspectiva da promoção da saúde, em termos de cidadania

ou na garantia do acesso às diversas atividades a serem oferecidas pelo núcleo de

esporte.

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