Caracterização nutricional e funcional da farinha de chia (Salvia ...

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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Caracterização nutricional e funcional da farinha de chia (Salvia hispanica) e sua aplicação no desenvolvimento de pães Tânia Rachel Baroni Ferreira Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestra em Ciências. Área de concentração: Ciência e Tecnologia de Alimentos Piracicaba 2013

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  • Universidade de So Paulo

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Caracterizao nutricional e funcional da farinha de chia (Salvia hispanica)

    e sua aplicao no desenvolvimento de pes

    Tnia Rachel Baroni Ferreira

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de

    Mestra em Cincias. rea de concentrao: Cincia e

    Tecnologia de Alimentos

    Piracicaba

    2013

  • Tnia Rachel Baroni Ferreira

    Bacharel em Cincias dos Alimentos

    Caracterizao nutricional e funcional da farinha de chia (Salvia hispanica)

    e sua aplicao no desenvolvimento de pes

    Orientadora:

    Profa. Dra. JOCELEM MASTRODI SALGADO

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de

    Mestra em Cincias. rea de concentrao: Cincia

    e Tecnologia de Alimentos

    Piracicaba

    2013

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao DIVISO DE BIBLIOTECA - DIBD/ESALQ/USP

    Ferreira, Tnia Rachel Baroni Caracterizao nutricional e funcional da farinha de chia (Salvia hispanica) e

    sua aplicao no desenvolvimento de pes / Tnia Rachel Baroni Ferreira.- - Piracicaba, 2013.

    112 p: il.

    Dissertao (Mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2013.

    1. Alimentos funcionais 2. Semente de chia 3. Fibras alimentares 4. mega 3 5. Clcio 6. Po Funcional I. Ttulo

    CDD 664.752 F383c

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte -O autor

  • 3

    Dedico este trabalho a todos que me incentivaram,

    apoiaram e acreditaram que o mesmo seria possvel. Em

    especial, dedico Profa Jocelem Mastrodi Salgado e

    Andrea Frias, minhas tutoras e grandes amigas, e

    tambm Silvana, Natal, Valter, Leonardo e Joo

    Henrique, meus pilares e motivos das minhas lutas

    dirias.

    Muito obrigada!

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    A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltar ao seu tamanho original. Albert Einstein

    http://pensador.uol.com.br/autor/albert_einstein/

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  • 7

    SUMRIO

    RESUMO .................................................................................................................................. 9

    ABSTRACT............................................................................................................................. 11

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 13

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................................ 15

    2.1 Alimentos funcionais ........................................................................................................ 15

    2.1.1 Fibras alimentares .......................................................................................................... 18

    2.1.1.1 Benefcios sade........................................................................................................ 20

    2.1.2 cidos graxos mega 3.................................................................................................. 22

    2.1.2.1 Benefcios sade........................................................................................................ 26

    2.2 Semente de chia................................................................................................................. 29

    2.2.1 Semente de chia e legislao brasileira .......................................................................... 33

    2.3 Pes ................................................................................................................................... 35

    3 MATERIAL E MTODOS ................................................................................................. 39

    3.1 Caracterizao da matria prima........................................................................................ 39

    3.1.1 Composio centesimal.................................................................................................. 40

    3.1.2 Aminocidos................................................................................................................... 41

    3.1.3 cidos graxos................................................................................................................. 42

    3.1.4 Minerais.......................................................................................................................... 42

    3.1.5 Compostos bioativos....................................................................................................... 43

    3.1.6 Micotoxinas..................................................................................................................... 44

    3.2 Desenvolvimento do produto............................................................................................. 44

    3.2.1 Farinha de semente de chia no desenvolvimento de pes funcionais............................. 44

    3.2.2 Produo dos pes funcionais......................................................................................... 44

    3.2.3 Anlises dos pes ........................................................................................................... 46

    3.2.3.1 Anlises microbiolgicas ............................................................................................ 46

    3.2.3.2 Clculo do valor calrico ............................................................................................ 47

    3.2.3.3 Digestibilidade in vitro ................................................................................................ 47

    3.2.3.4 Avaliao Sensorial de aceitao ................................................................................ 48

    3.3 Precificao dos produtos desenvolvidos ......................................................................... 50

    3.4 Anlise estatstica............................................................................................................... 50

    4 RESULTADOS E DISCUSSO.......................................................................................... 51

    4.1 Matria prima..................................................................................................................... 51

  • 8

    4.1.1 Composio centesimal......................................................................................... 51

    4.1.2 Aminocidos.......................................................................................................... 53

    4.1.3 cidos graxos........................................................................................................ 57

    4.1.4 Minerais................................................................................................................. 59

    4.1.5 Compostos bioativos.............................................................................................. 60

    4.1.6 Micotoxinas........................................................................................................... 63

    4.2 Pes Funcionais........................................................................................................ 64

    4.2.1 Anlises microbiolgicas ...................................................................................... 67

    4.2.2 Composio centesimal ........................................................................................ 67

    4.2.3 Aminocidos.......................................................................................................... 72

    4.2.4 cidos graxos........................................................................................................ 74

    4.2.5 Minerais................................................................................................................. 77

    4.2.6 Compostos bioativos.............................................................................................. 79

    4.2.7 Valor calrico e digestibilidade............................................................................. 80

    4.2.8 Anlise sensorial de aceitao .............................................................................. 82

    4.2.8.1 Caracterizao dos provadores........................................................................... 82

    4.2.8.2 Anlise sensorial de cor, odor, sabor, textura..................................................... 84

    4.2.8.3 Inteno de compra............................................................................................. 86

    4.2.8.4 Precificao dos produtos desenvolvidos........................................................... 87

    5 CONCLUSES .......................................................................................................... 89

    REFERNCIAS ............................................................................................................ 91

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    RESUMO

    Caracterizao nutricional e funcional da farinha de chia (Salvia hispanica) e sua

    aplicao no desenvolvimento de pes

    Os alimentos funcionais vm despertando o interesse de governos, indstrias e

    principalmente dos consumidores, devido importncia que os mesmos representam para a

    sade da populao. A semente de chia, um alimento pouco conhecido pela populao

    brasileira, apresenta uma composio nutricional rica em macro e micronutrientes essenciais

    sade humana, podendo auxiliar na preveno de diversas enfermidades relacionadas ao

    elevado consumo de gordura saturada e baixa ingesto de fibras. Com base nisso, o presente

    trabalho teve como objetivos caracterizar a semente de chia e desenvolver pes funcionais

    elaborados com adio da farinha dessa semente (FSC) em detrimento farinha de trigo em

    diferentes concentraes (0%, 3%, 6% e 9%). Tanto a semente de chia quanto os pes foram

    analisados quanto composio centesimal e funcional. Os pes tambm foram avaliados

    microbiologicamente e atravs de anlise sensorial. A semente de chia apresentou elevado

    teor de fibras, protena e cidos graxos poliinsaturados, sendo aproximadamente 70% desta

    frao composta por cido linolnico (mega-3). Apresentou tambm timo perfil de

    aminocidos, sendo comparvel ao da soja. Os resultados mostraram tambm elevados teores

    de fsforo, potssio, magnsio e principalmente clcio, alm de baixo teor de sdio. De

    acordo com os dados obtidos, a semente de chia apresenta atividade antioxidante mensurada

    pelo EC50 do DPPH de 15,3, enquanto que o leo apresenta um teor de 54,9. Os compostos

    fenlicos tambm apresentaram maior teor no leo em relao semente. Quanto aos taninos

    e cido ftico, ambos apresentaram maior concentrao na farinha do que no leo. Os pes

    funcionais apresentaram composies centesimais semelhantes entre si e o padro (sem FSC),

    exceto pelo aumento gradativo no teor de fibras alimentares em detrimento ao teor de

    carboidrato, e maior teor proteico conforme maior adio de FSC. Os pes com 3% e 6% de

    FSC, segundo a legislao brasileira, podem ser considerados como fonte de fibras e os

    pes com 9% como rico/alto teor de fibras alimentares. O gradativo aumento de adio de

    FSC apresentou maiores teores de atividade antioxidante, compostos fenlicos, taninos e

    cido ftico, alm de proporcionar diminuio no valor calrico dos pes em relao ao padro

    e melhor digestibilidade protica in vitro. Os pes apresentaram elevados teores de cidos

    graxos n-9 e n-6 principalmente, e n-3, o qual apresentou maiores nveis conforme maior

    adio de FSC. Quanto aos minerais, todos os pes desenvolvidos apresentaram excelentes

    teores dos minerais avaliados quando comparados a outras fontes vegetais, sendo que o sdio

    diminuiu conforme se aumentou a adio de FSC e o clcio aumentou conforme maior

    concentrao de FSC nas formulaes. Todos os pes encontram-se de acordo com a

    legislao vigente em relao salmonela e coliformes totais. Para o teste de aceitabilidade,

    constatou-se que 70% consomem pes diariamente, sendo que 31% consomem pes integrais.

    Os pes no se diferiram significativamente ente si quanto aos parmetros sensoriais, ou seja,

    apesar da maioria (40,4%) indicar o po com 6% de FSC como mais saboroso, os resultados

    mostraram que todos os pes seriam adquiridos e consumidos por 100% dos provadores.

    Palavras-chave: Alimentos funcionais; Semente de chia; Fibras alimentares; mega 3; Clcio;

    Po Funcional

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  • 11

    ABSTRACT

    Nutritional and functional characterization of the chia flour (Salvia hispanica) and

    application on bread development.

    Functional foods are attracting the interest of governments, industries and consumers,

    mainly due to the importance that they represent in population`s health. The chia seed, a food

    almost unknown by Brazilians, has a distinctive nutritional composition rich in macro and

    micronutrients essential to human health, and may help in the prevention of several diseases

    related to high consumption of saturated fat and low fiber intake. Based on that, the present

    study aimed to characterize the chia seed and develop functional breads produced with the

    addition of chia seed flour (FSC) substituting the flour wheat in different concentrations (0 %,

    3 %, 6% and 9 % ). Both the chia seed and the bread were analyzed for nutritional and

    functional composition. The bread was also evaluated microbiologically and through sensorial

    analysis. The chia seeds presented high fiber, protein and polyunsaturated fatty acids

    concentration, with approximately 70% of this fraction composed of linoleic acid (omega-3).

    It also presented great amino acid profile, comparable to the levels found in soybeans. The

    results also showed high levels of phosphorus, potassium, magnesium and particularly

    calcium, beyond low levels of sodium. According to the data obtained, chia seeds present

    antioxidant activity measured by EC50 of DPPH of 15.3, while the oil presents a level of

    54.9. The phenolic compounds also presented a higher concentration in oil compared to the

    levels found in the seeds. Whereas tannins and phytic acid were in higher concentration in

    flour compared to oil. The functional breads presented similar percentage compositions

    between themselves and the standard bread (without FSC), except for a gradual increase of

    dietary fibers levels compared to the carbohydrate, and higher protein content as a result of

    FSC addition. Breads with 3% and 6% of FSC, according to Brazilian legislation, can be

    considered a "source of fiber" and the breads with 9% as a "rich/high content of dietary fiber".

    The gradual increase of FSC resulted in higher antioxidant activities, phenolic compounds,

    tannins and phytic acid levels, reducing bread caloric values and better protein digestibility in

    vitro compared to standard bread. The functional breads presented high levels of fatty acids,

    mainly n-9 and n-6, while the levels of n-3 were increased with the addition of FSC. All

    formulations showed good mineral contents, the levels of sodium decreased with more

    addition of FSC and the calcium present in the developed breads increased with higher

    concentration of FSC. All breads are in accordance with the legislation in referring to micro-

    organisms. For the acceptability test data showed that 70% eat bread daily, and 31% eating

    whole-wheat bread. The functional breads did not differ significantly among themselves

    regarding the sensory parameters, i.e. , even though the majority (40.4 %) indicated bread

    with 6% of FSC as the most tasty, the results showed that all breads would be purchased and

    consumed by 100% of participants.

    Keywords: Functional Foods; Chia Seed; Dietary Fiber; Omega 3; Calcium; Functional Bread

  • 12

  • 13

    1 INTRODUO

    O aumento do consumo de alimentos mais saudveis e com propriedades funcionais no

    Brasil uma prerrogativa para que efetivamente seja possvel consolidar uma alimentao

    saudvel e segura em vrias regies do pas. A semente de chia foi selecionada para o

    presente estudo por apresentar amplo crescimento de consumo, apesar dos poucos trabalhos

    cientficos disponveis que apresentam sua caracterizao nutricional e aplicao da mesma

    em produtos alimentcios. Maiores estudos/comprovaes cientficas so necessrios para que

    essa rica semente seja aprovada como alimento seguro para consumo pela Agncia Nacional

    de Vigilncia Sanitria. J o po foi selecionado por ser um alimento amplamente consumido

    no mundo todo, por ser fonte de energia, carboidrato, protenas e apresentar elevada aceitao

    por todas as faixas etrias. A utilizao de farinhas mistas em produtos de panificao

    objetiva substituir parcialmente a farinha de trigo para oferecer aos consumidores alimentos

    diversificados com melhor qualidade nutricional. Por este motivo, a incluso da farinha de

    semente de chia em detrimento farinha de trigo foi utilizada na formulao do presente

    trabalho, visando a oferta de um novo produto aos consumidores com melhor perfil

    nutricional, rico em mega 3, fibras e clcio.

    A chia (Salvia hispnica L.), tambm conhecida como salvia espanhola, artemisa

    espanhola, chia mexicana ou chia negra, uma planta herbcea, da famlia

    das lamiceas, originaria das reas montanhosas do oeste e centro de Mxico. Apesar de ser

    consumida desde a antiguidade pelos Astecas, nos ltimos anos essa semente ganhou elevada

    notabilidade por suas caractersticas nutricionais, sendo rica em fibras, protenas, minerais e

    cidos graxos, os quais podem ser responsveis pela diminuio do risco de doenas

    cardiovasculares. Alm disso, seu consumo passou a ser relacionado amplamente com a perda

    de peso, o que aumentou ainda mais o interesse por essa matria prima. Apesar da elevada

    procura pela chia, poucos estudos apresentam sua caracterizao nutricional, ou aplicao da

    mesma em produtos viveis para consumo. Por este motivo, a presente pesquisa teve como

    objetivos caracterizar a semente de chia quanto aos seus parmetros nutricionais,

    micotoxicolgicos e de compostos bioativos; desenvolver pes funcionais com adio de

    diferentes percentuais de farinha de semente de chia em detrimento farinha de trigo;

    caracterizar os produtos desenvolvidos quanto aos teores nutricionais, microbiolgicos e

    compostos bioativos; comparar os teores nutricionais de cada produto com o po padro

    desenvolvido e calcular seu preo terico; submeter os pes anlise sensorial de

    aceitabilidades pelos consumidores, visando determinar a concentrao aceitvel de

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Lamiaceae

  • 14

    substituio de farinha de trigo pela farinha de semente de chia e fornecer literatura

    cientfica apoio para comprovao dos benefcios nutricionais da semente de chia, auxiliando

    sua aprovao perante a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria como alimento seguro para

    consumo por toda populao brasileira.

  • 15

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 Alimentos Funcionais

    A globalizao e industrializao proporcionaram populao mundial facilidades

    alimentares que, apesar de toda praticidade, acarretaram alguns malefcios sade do

    consumidor. Produtos industrializados, ricos em conservantes, gorduras, sdio, entre outros,

    so facilmente encontrados e consumidos, visando um estilo de vida cada vez mais prtico

    (LAMOUNIER et al, 2007). Isso acarreta em quadros nutricionais inadequados e antagnicos

    por toda populao mundial, pois atualmente mais de 2 bilhes de pessoas apresentam

    deficincias de micronutrientes, 870 milhes tm ingesto energtica inadequada e 783

    milhes de pessoas no tm acesso a gua potvel (NORDIN et al, 2013). Enquanto isso,

    progressivamente crescente ocorrncia de obesidade mundial, a qual atinge atualmente cerca

    de 10% dos homens e 14% das mulheres, perfazendo um total de aproximadamente meio

    bilho de pessoas obesas no mundo (WHO, 2012). No Brasil, a obesidade atinge cerca 15,8%

    da populao, de acordo com MINISTRIO DA SADE, 2012.

    A obesidade uma das principais responsveis pela ocorrncia de diversas

    enfermidades, como dislipidemias, diabetes, doenas respiratrias, distrbios dermatolgicos,

    distrbios alimentares e, principalmente, as relacionadas com complicaes cardiovasculares

    (FABBRO E FOSS, 2008; MELO et al, 2009; SANKHLA et al, 2013). Esses agravos

    ilustram a importncia e o impacto das doenas no mbito individual e coletivo, tendo em

    vista que dados publicados recentemente apontam que se gasta cerca de R$3,8 bilhes em

    ambulatrios e R$3,7 bilhes com internao relacionada a doenas crnicas no

    transmissveis. Isso totaliza aproximadamente R$7,5 bilhes/ano em gastos do setor pblico

    com essas doenas, proveniente do governo via Sistema nico de Sade (MINISTRIO DA

    SADE, 2005; ABIA, 2005; MALTA et al, 2006), sendo, portanto, de extrema importncia a

    busca por alternativas que possam prevenir os quadros de enfermidades citados acima. Uma

    das principais tendncias a preveno pela adoo de hbito de vida mais saudvel,

    incluindo atividades fsicas e alimentao adequada, onde os principais e mais efetivos grupos

    de alimentos so os chamados alimentos funcionais.

    O termo alimentos funcionais recebe diversas denominaes, mas no Brasil, a

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) o define como todo aquele alimento ou

    ingrediente que, alm das funes metablicas normais bsicas, quando consumido como

    parte da dieta usual, produza efeitos metablicos e/ou fisiolgicos e/ou efeitos benficos

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    sade, devendo ser seguro para consumo sem superviso medica (BRASIL, 1999(a)). Esse

    termo surgiu no Japo na dcada de 80, sendo definido como alimentos similares em

    aparncia aos convencionais, utilizados como parte de uma dieta comum, e que apresentam

    benefcios fisiolgicos e/ou reduzem o risco de doenas crnicas, alm de suas funes

    bsicas nutricionais (ROSS, 2000). J amplamente disseminado pela literatura cientfica que

    a ingesto regular desses alimentos pode reduzir riscos de enfermidades como cncer, doenas

    cardiovasculares, osteoporose, problemas intestinais, entre outros (ALISSA E FERNS, 2012;

    HALFORD E HARROLD, 2012; KANG et al, 2013).

    Diversos so os compostos bioativos presentes nesses alimentos que lhes fornecem

    caractersticas benficas de auxlio na manuteno da sade e preveno de doenas

    (SALGADO, 2000). A Tabela 1 exemplifica alguns compostos, suas fontes alimentares e os

    benefcios ocasionados pelos mesmos no metabolismo humano. Esses alimentos, conforme j

    citado anteriormente, devem ter, como componentes ativos, substncias naturais que

    apresentem seus efeitos bsicos nutritivos e outros efeitos benficos que promovem e

    potencializam o bem estar e a sade de quem os consume (SALGADO, 2000). Essas

    substncias podem ser naturalmente encontradas nos alimentos ou ingredientes adicionados

    ao produto final para potencializar uma caracterstica funcional desejada. Alm disso, esses

    alimentos devem ser consumidos como parte de uma dieta usual e constante (ROBERFROID,

    2002). Com o aumento da expectativa de vida conjuntamente prevalncia de doenas

    crnicas (obesidade, hipertenso, osteoporose, diabetes e cncer), crescente a preocupao e

    busca por uma alimentao funcional, devido ao conceito de que este tipo alimento pode

    reduzir riscos de doenas e aumentar a qualidade de vida de quem os consome, de acordo com

    a Associao Brasileira da Indstria da Alimentao (ABIA, 2005).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Ferns%20GA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22570771

  • 17

    Tabela 1 - Alimentos funcionais, suas fontes e benefcios ao organismo humano

    Composto Ativo Fontes Alimentares Benefcios sade

    cidos Graxos/ mega 3

    Peixes de aguas frias com alto

    teor de gordura; leos vegetais

    (linhaa, etc)

    Preveno doenas cardiovasculares, doenas

    autoimunes inflamatrias.

    Esteris/estanis vegetais Milho, soja, trigo e leos

    vegetais

    Reduo do risco de doenas cardiovasculares,

    diminuio da absoro de colesterol.

    Flavonoides

    Uva, amora, framboesa, frutas

    ctricas, brcolis, repolho, ch

    verde

    Efeito antioxidante, ao sobre formao de

    radicais livres e diminuio dos niveis de LDL

    Antocianinas

    Frutas vermelhas escuras e

    roxas

    Preveno doenas cardiovasculares e cncer

    Catequinas Uva, morango, ch verde, ch

    preto

    Atividade antioxidante e inibio da formao de

    ateromas; preveno de certos tipos de cncer

    Limonides Frutas ctricas

    Estmulo produo de enzimas protetoras contra

    o cncer, reduo do colesterol.

    Lutena e zeaxantina Folhas verdes (lutena), pequi e

    milho (zeaxantina). Proteo contra degenerao macular

    Sulfetos allicos Alhos e cebolas

    Reduo do risco de doenas cardiovasculares,

    estmulo produo de enzimas protetoras contra

    cncer gstrico.

    Resveratrol e quercitina Casca de uva, vinho tinto,

    ma.

    Reduo do risco de doenas cardiovasculares,

    inibio da formao de carcingenos, cogulos e

    inflamaes.

    Isoflavonas Soja, leguminosas, amendoim,

    ervilha.

    Alvio dos sintomas de menopausa; Reduo do

    risco de doenas cardiovasculares e osteoporose,

    reduo do risco de cncer de mama e prstata.

    Betaglucana Aveia, cevada, legumes. Controle da glicemia e do colesterol srico

    Isocianatos e indol Brcolis, repolho, couve-flor,

    rabanete, folha de mostarda.

    Aumento da atividade de enzimas tipo 2

    protetoras contra carcinognese

    Licopeno Tomate, goiaba, melancia.

    Atividade antioxidante, Reduo do risco de

    doenas cardiovasculares, proteo contra o

    cncer, principalmente prstata.

    Lignana Linhaa Inibio de tumores hormnio dependente

    Fibras/ Prebitico Gros integrais, frutas e

    vegetais em geral.

    Melhora da sade intestinal, reduo do risco de

    cncer do clon, controle do colesterol.

    Probiticos Leites fermentados, iogurtes.

    Melhora da sade intestinal; Reduo do risco de

    cncer de clon e melhora da intolerncia

    lactose.

    Fontes: SALGADO, 2000; OZEN et al, 2012; PHILLIPS E RIMMER, 2013.

  • 18

    A importncia deste mercado evidenciada em levantamento realizado pela ABIA, que

    mostra que o setor de alimentos funcionais cresceu por volta de 14% ao ano no mundo,

    enquanto as vendas de alimentos convencionais registram ndices de 4% e, no Brasil, o setor

    registrou um crescimento de 81% entre 2004 e 2009, passando de R$ 15 bilhes para R$ 27,2

    bilhes faturados (ABIA 2011). Deste modo, visvel a importncia deste segmento perante

    a populao, o que justifica investimentos de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos

    que acompanham essa tendncia, os quais devem conter em sua composio quantidades

    adequadas de componentes benficos, como fibras, protenas, cidos graxos poli-insaturados,

    entre outros.

    2.1.1 Fibras Alimentares

    No Brasil, as fibras alimentares so definidas como qualquer material comestvel que

    no seja hidrolisado pelas enzimas endgenas do trato digestivo de humanos, de acordo

    com a ANVISA (BRASIL, 2001). Esta Agncia reconhece algumas fibras alimentares

    (glucanas, dextrina resistente, frutooligossacardeos, goma guar parcialmente hidrolisada,

    inulina, lactulose, polidextrose, psillium e quitosana) como fibras funcionais, ou seja,

    empresas que seguem as exigncias dessa classe de alimentos podem apresentar em seu rtulo

    o seguinte claim (alegao) de alimento funcional no rtulo: As fibras alimentares auxiliam

    o funcionamento do intestino. Seu consumo deve estar associado a uma alimentao

    equilibrada e hbitos de vida saudveis (BRASIL, 2008). Para isso, o produto pronto para

    consumo (poro) deve apresentar 3 g.100 g-1 (base integral) para alimentos slidos e 1,5

    g.100 mL-1 (base integral) para lquidos. Essa Agncia tambm permite o uso como

    informao nutricional complementar, a qual abrange todas as fibras alimentares e no precisa

    de registro como alimento funcional. Para essa categoria, o claim descrito acima no

    permitido no rtulo, e sim apenas a alegao fonte de fibras quando o mesmo fornece as

    mesmas 3 g.100 g-1

    para alimentos slidos e 1,5 g.100 mL-1

    para lquidos. Caso apresente o

    dobro deste contedo considerado um alimento com elevado teor de fibra alimentar, e pode

    apresentar no rtulo a denominao rico em fibras alimentares (BRASIL, 2012a)

    Fisiologicamente as fibras so consideradas substncias de origem vegetal que auxiliam

    no aumento do volume do bolo fecal e diminuem o tempo do mesmo do transito intestinal

    (SCHROEDER, 2013). Elas pertencem a uma ampla categoria dos carboidratos, podendo ser

    fermentveis ou no fermentveis, ainda divididas quanto s suas caractersticas estruturais,

    em polissacardeos estruturais e no estruturais (SAAD, 2006). Os primeiros so constitudos

    de componentes da parede celular das plantas, como celulose, hemiceluloses, pectinas, dentre

  • 19

    outras. Os no-estruturais incluem as gomas, derivados das algas e mucilagens e os

    compostos no polissacardeos incluem a lignina como principal representante (SALINAS,

    2002). Porm, a forma mais utilizada em pesquisas para classificar as fibras alimentares est

    relacionada com a solubilidade das mesmas: as fibras solveis e insolveis (BELITZ E

    GROSCH, 2000). Ambas no so absorvidas pelo intestino delgado, chegam ao intestino

    grosso sem se degradar e apresentam diversos benefcios sade, como preveno do cncer

    de intestino, diabetes, hiperteno e doenas cardiovasculares, auxlio na eliminao gorduras

    prejudiciais e toxinas do organismo, contribuio para a reduo da obesidade por induzirem

    a saciedade e, consequentemente menor ingesto calrica (PIMENTEL et al 2005;

    POSSAMAI, 2005). Estudos apontam que as fibras solveis aumentam o tempo de trnsito

    intestinal, controlam a absoro de glicose e reduzem a velocidade de absoro, enquanto

    fibras insolveis reduzem o tempo de trnsito e aumentam a capacidade de reteno de gua

    (MONTAGNE et al, 2003; BAZZANO, 2008).

    As fibras solveis so compostas principalmente pela pectina, amido resistente, gomas e

    mucilagem e so encontradas na aveia, gros, nozes, sementes, frutas e leguminosas. Essas

    fibras apresentam maior solubilidade em meio aquoso, capacidade significativa de absoro

    de gua e aumento da massa microbiana, sofrem fermentao pelas bactrias intestinais e

    posteriormente so degradadas no clon (POSSAMAI, 2005). Essas substncias, quando

    aliadas a uma dieta pobre em gorduras, so capazes de diminuir o colesterol sanguneo, alm

    de regular o nvel de acar sanguneo (glicemia), sendo essencial a ingesto das mesmas em

    quantidades adequadas por pessoas com diabetes ou taxas de colesterol inadequadas

    (FARIAS, 2004).

    J as fibras insolveis apresentam em seu grupo as celuloses, ligninas, e algumas

    hemiceluloses, encontradas em vegetais crus, gros de cereais como o milho, soja e gro-de-

    bico, alm de frutas consumidas com casca, como ma, pra e ameixa (DE ANGELIS,

    2001). Essas fibras auxiliam no tratamento/preveno de hemorroidas, constipao, doena

    diverticular, cncer e outras enfermidades intestinais, pois apresentam efeito mais

    pronunciado no aumento do bolo fecal, por manterem sua estrutura no clon (POSSAMAI,

    2005). A Tabela 2 apresenta a classificao das principais fibras para cada alimento e seus

    efeitos sade.

  • 20

    Tabela 2 - Fontes de fibras alimentares e seus benefcios sade

    FIBRA ALIMENTAR FONTES BENEFCIOS SAUDE

    Celulose Trigo integral, centeio

    integral, mas, peras,

    feijes, ervilhas,

    verduras de raiz, tomates

    frescos, soja.

    Reduz nvel de glicemia e as exigncias de insulina no

    diabetes. Estimula peristaltismo, aumenta volume do

    bolo fecal, proporciona saciedade, atua na preveno e

    tratamento da obesidade e constipao, etc.

    Pectinas

    Mas, frutas ctricas,

    frutas silvestres, feijes

    de vagem, cenouras,

    cascas de frutas.

    Liga-se ao colesterol e cidos biliares, previne doenas

    cardiovasculares, reduzindo nveis de triglicerdeos e

    colesterol.

    Gomas

    Farinha de aveia, feijes

    secos, gomas vegetais.

    Retarda tempo de esvaziamento gstrico, fornece

    material fermentvel para as bactrias colnicas com a

    produo de cidos graxos volteis e gs, previne

    obesidade, diabetes e doenas cardiovasculares.

    Lignina

    Trigo integral, centeio

    integral, morangos,

    pssegos, peras, ameixas,

    verduras.

    Antioxidante, liga-se aos cidos biliares e aos metais.

    Previne obesidade, diabetes, doenas cardiovasculares,

    alguns tipos de cncer e outras doenas

    gastrointestinais.

    Polissacardeos

    (quitosana)

    Carapaas de crustceos

    Diminui nvel de LDL no sangue, auxilia no tratamento

    da obesidade e tratamento de algumas doenas crnicas

    degenerativas como cncer e cardiovasculares.

    Fonte: WILLIAMS, 1997.

    2.1.1.1 Benefcios sade humana

    Os efeitos metablicos benficos das fibras alimentares no organismo humano incluem

    ainda a diminuio da efetividade e teores de absoro de nutrientes como a glicose

    (MLLER et al, 2013), lipdeos e colesterol (MUMFORD et al, 2011), alm de atuar na

    moderao da resposta dos nveis de insulina ps-prandial (HOSSEINPOUR-NIAZI et al,

    2011; GEMEN et al, 2011), regulao do apetite (MATTES, 2007; IBRGGER et al, 2012),

    reduo dos riscos de surgimento de doenas cardiovasculares (BAZZANO, 2008; SATIJA E

    HU, 2012; KACZMARCZYK et al, 2012) e reduo da absoro de metais pesados e

    compostos txicos (ABDEL-SALAM et al, 2008).

    Os principais benefcios atribudos a ingesto de fibras relacionam-se com as funes do

    trato gastrointestinal, o qual apresenta de 300 a 500 diferentes espcies de bactrias e que

    pode sofrer alteraes endgenas e exgenas (uso de antibacterianos, mudanas alimentares e

    estresse, entre outros), reduzindo significativamente suas funes fisiolgicas e protetoras

    (PENNA et al, 2000; BRANDT et al, 2006; SAAD, 2006). As fibras atingem o clon intactas

  • 21

    (no sofrem digesto) e so ento fermentadas total ou parcialmente. Essa fermentao resulta

    em metablitos como o lactato, piruvato, etanol, metano, hidrognio, cidos orgnicos

    (fumrico, ltico e acetato) e os cidos graxos de cadeia curta, os AGCC (propionato e

    butirato) (TEITELBAUM, 2011). Esses ltimos so responsveis pela diminuio do pH do

    lmen intestinal, aumento da absoro de vitaminas e minerais e estmulo ao peristaltismo

    intestinal, ocasionando efeitos benficos sob o colesterol srico, maior proteo contra

    incidncia de cncer e diminuindo o estabelecimento de bactrias patognicas (SAAD, 2006).

    Esses efeitos so relacionados aos efeitos bifidognicos e osmticos ocasionados pela

    fermentao no intestino, a qual estimula as bactrias a metabolizar substratos, aumentar

    energia e crescimento dos microrganismos benficos. Os ACGC apresentam tambm o efeito

    de retardar o crescimento de clulas cancergenas e aumentar a apoptose das mesmas, por

    meio da capacidade de modulao da atividade de acetilao de histonas e,

    consequentemente, da transcrio dos genes que ocasionam as modificaes celulares

    tumorosas (KIEFER et al, 2006; THIRABUNYANON E HONGWITTAYAKORN, 2013)

    Outro benefcio atribudo as fibras a diminuio da absoro de glicose no intestino

    delgado, ocasionando a reduo desta no plasma, a qual ocorre devido ao tempo decorrido at

    o esvaziamento estomacal, que maior quando h ingesto de fibras (MAKI et al, 2007). Esse

    maior tempo prejudica o contato do alimento com as enzimas digestivas no estmago e no

    intestino delgado, retardando assim o transporte da glicose para a superfcie de absoro

    intestinal, reabsoro dos cidos biliares no intestino delgado. Alm disso auxilia na formao

    de uma camada na superfcie intestinal, a qual dificulta a difuso da glicose e tambm do

    colesterol na corrente sangunea (NSOR-ATINDANA et al, 2012; GATO et al, 2013). Isso

    acarreta em menores picos e reas das curvas de glicose no sangue , as quais esto associadas

    diminuio da resposta de insulina ps-prandial (BROCKMAN et al, 2012; ROBERTSON

    et al, 2012). A ingesto de quantidades adequadas de fibras alimentares tambm dificulta a

    emulsificao e a hidrlise dos lipdeos, resultando no aumento de gordura eliminada pelas

    fezes, sendo que as fibras alimentares tambm apresentam efeito sobre a saciedade, pois

    ocasionam distenso no estmago aumentando a secreo do hormnio intestinal

    colecistoquinina, o qual diminui a velocidade do esvaziamento gstrico (HOWARTH, 2001;

    PAREJA, 2003).

    A Organizao Mundial de Sade (OMS), citado por PACHECO E SGARBIERI,

    2001, preconiza que o consumo de fibras seja entre 27 a 40 g/dia. A Food and Agriculture

    Organization (FAO, 2002) estabeleceu, por meio da Dietary Reference Intake (DRI), que a

    ingesto adequada (AI) para as fibras de 38 g para homens adultos e 25 g para mulheres

    http://www.fao.org/http://www.fao.org/

  • 22

    adultas, valores esses baseados nos riscos de incidncia de doenas cardiovasculares. O

    consumo excessivo de fibras pode ocasionar desconfortos fisiolgicos, como flatulncias,

    diarreia e estufamento, os quais tambm podem ocorrer quando o consumo de fibras no

    acompanhado por uma ingesto adequada de gua e lquidos, como chs e sucos de frutas

    naturais (GWEE, 2010). No Brasil, a ANVISA preconiza a ingesto de 25g/dia de fibras

    alimentares diariamente (BRASIL, 2003).

    2.1.2 cidos graxos mega 3

    Os cidos graxos (AG) so compostos de cadeias lineares de hidrocarbonetos que

    apresentam um grupo carboxila em uma extremidade e um grupo metila na outra. So

    compostos por carbonos, os quais podem variar de 4 a 22 em sua estrutura, e so classificados

    de acordo com seu grau de insaturao (saturados, monoinsaturados ou poli-insaturados)

    (OETTERER et al, 2006). A diferena entre tamanho, grau e posio da insaturao nessas

    molculas fornecem propriedades distintas quanto s caractersticas fsicas, qumicas e

    nutricionais das mesmas (BELITZ E GROSCH, 2000). Os cidos graxos podem ser

    classificados como de cadeia curta (SCFA, do ingls Short-Chain Fatty Acids, com cauda

    aliftica de menos de 6 tomos de carbono); cadeia mdia (MCFA, Medium-Chain Fatty

    Acids, com cauda aliftica de 6 a 12 carbonos); cadeia longa (LCFA, Long-Chain Fatty Acids)

    com cauda aliftica de mais de 12 carbonos e de cadeia muito longa (VLCFA, Very-Long-

    Chain Fatty Acids) com cauda aliftica contendo mais de 22 tomos de carbono (OETTERER

    et al, 2006).

    Esses compostos podem ser classificados tambm quanto essencialidade para o

    organismo humano, sendo que cidos graxos essenciais so aqueles que o organismo humano

    no consegue sintetizar, ou seja, devem ser adquiridos exclusivamente da dieta (PUPE et al,

    2003; LANDS, 2012). Essa essencialidade ocorre pela incapacidade do metabolismo humano

    em produzir as enzimas 12 e 15 dessaturase, responsveis pela sntese dos respectivos

    cidos graxos essenciais (cido linoleico e cido linolnico, respectivamente)

    (NAKAMURA E NARA, 2004). As alongases so responsveis por adicionar dois tomos de

    carbono parte inicial da cadeia e as dessaturases atuam na oxigenao de dois carbonos da

    cadeia, originando uma dupla ligao com a conFigurao cis (MARTIN et al, 2006). Os

    cidos graxos essenciais esto divididos em dois grandes grupos, que so os cidos graxos da

    famlia mega 3 (n-3) e mega 6 (n-6). Os primeiros podem ser encontrados abundantemente

    em determinadas plantas e em leo de peixe, enquanto que os mega 6 so encontrados

    principalmente em leos vegetais (GIBSON E MAKRIDES, 2000; DE ANGELIS, 2001). Os

  • 23

    precursores desses lipdeos (cido linoleico e alfa-linolnico) encontram-se exemplificados na

    Figura 1.

    Figura 1 - Estruturas dos mega 6 (a) e mega 3 (b); Fonte: NAKAMURA E NARA, 2004; MARTIN et al,

    2006.

    Um cido graxo pode ser denominado mega 3, que tem como precursor o cido -

    linolnico (18:3) ou mega 6, cujo precursor o cido linoleico (18:2). Essa denominao

    depende da localizao da primeira insaturao: quando est localizada no terceiro carbono a

    partir do radical metil (CH3), denominado mega 3 e quando est localizada no sexto

    carbono a partir do mesmo radical, denominado mega 6 (OETTERER et al, 2006). Os AG

    n-3 e n-6 apresentam afinidade pelas mesmas enzimas (alongase e dessaturase), e por esta

    razo competem pelas mesmas para sintetizar seus derivados, que incluem os cidos

    eicosapentaenico (EPA, 20:5 n-3), docosapentaenico (DPA, 22:5 n-3) e docosahexaenico

    (DHA, 22:6 n-3) e cido araquidnico (AA, 20:4 n-6) (BISTRIAN, 2003). A Figura 2

    demonstra o metabolismo dos cidos graxos da famlia mega 3 e mega 6.

  • 24

    Figura 2 - Representao do metabolismo dos cidos graxos das famlias mega 3 e mega -6; Fonte: SALEM,

    1999; INNIS, 2003

    Conforme j mencionado anteriormente, a enzima dessaturase apresenta afinidade por

    ambos cidos graxos AG n-3 e n-6, porem, tem maior especificidade pelos cidos graxos n-3.

  • 25

    Por este motivo, necessita-se de uma menor quantidade de n-3 em relao aos AG n-6 para

    sintetizar a mesma quantidade de AG derivados (MADSEM et al, 1999).

    Devido a essa competio pelas mesmas enzimas, essencial que haja um equilbrio

    entre os AG dessas famlias para a manuteno adequada do metabolismo, pois um elevado

    consumo de cido linoleico favorece o aumento do contedo de cido araquidnico (AA) nos

    fosfolipdios das membranas celulares (BISTRIAN, 2003). Esse elevado teor de AA eleva a

    presena de eicosanoides no metabolismo, cuja famlia composta por prostaglandinas (PGs),

    tromboxanos (TXs) e prostaciclinas (PCI), os quais so denominados de prostanides, bem

    como dos leucotrienos (LTs), lipoxinas (LXs), cidos hidroperoxieicosatetraenico

    (HPETEs), e cidos hidroxieicosatetraenico (HETEs) (SIMOPOULOS, 2002;

    SIMOPOULOS, 2003). Os eicosanoides tambm podem ser derivados do cido

    eicosapentaenoico, conforme observado na Figura 3 (MOREIRA et al,2002; SIMOPOULOS,

    2006).

    Figura 3 - Biossntese dos eicosanides derivados do AA e do EPA; Fonte: MOREIRA et al., (2002);

    SIMOPOULOS (2006)

    Sendo que: LOX = lipooxigenases; COX = ciclooxigenases; PGs = prostaglandinas;

    TXs = tromboxanos; LTs = leucotrienos; LXs = lipoxinas; HETESs = cidos

    hidroxieicosatetraenico

    Os eicosanides derivados do AA (srie par, sendo os principais a PGE2, LTB4, TX,

    etc.) apresentam-se biologicamente ativos quando presentes em pequenas quantidades no

    organismo, sendo que a PEG2, por exemplo, apresenta potencial imunossupressor e inibe a

  • 26

    produo do fator de necrose tumoral e interleucinas 1, apresentando, portanto, caractersticas

    anti-inflamatrias (FERRERI et al, 2012). Porm, o elevado teor desses mesmos compostos

    no metabolismo humano, ocasionados pela elevada ingesto de AG n-6, apresenta

    caractersticas pr-trombticas e pr-inflamatrias, ocasionando trombose, ateromas,

    transtornos alrgicos e inflamatrios (KELLEY, 2001; CALDER 2002; CALDER E

    GRIMBLE, 2002), alm de agregao plaquetria, adeso leucocitria e contrao da

    musculatura lisa (SIMOPOULOS, 2006).

    Por outro lado, o elevado teor de AG n-3 potencializa a sntese de eicosanides da srie

    mpar (PGE3, TXA3 e LTB5, etc), os quais possuem caractersticas anti-inflamatrias

    independente da quantidade que se encontram no metabolismo humano. Torna-se, portanto,

    visivelmente essencial o equilbrio entre a ingesto de AG n-3 e n-6 para que haja menor

    formao de mediadores pr-inflamatrios e efeitos imunossupressores (MOREIRA et al,

    2002; CALDER, 2003; ANDRADE E CARMO, 2006; KIECOLT-GLASER JK et al, 2012).

    2.1.2.1 Benefcios sade humana

    Durante a ocorrncia de doenas inflamatrias ocorre aumento do metabolismo do cido

    araquidnico, o que resulta na produo de leucotrienos B4 (LTB4). Esses, por sua vez,

    potencializam significativamente os processos de inflamao crnica e aumento da

    permeabilidade vascular (FAN et al, 2013). O consumo de cido graxo mega 3 pode atenuar

    esses processos inflamatrios por competir pelas mesmas vias enzimticas (COX e LOX),

    promover a formao de PGE3, em vez de PGE2, e LTB5, em vez de LTB4, que so

    mediadores anti-inflamatrios (JAMES et al, 2000; KELLEY 2001; KIECOLT-GLASER et

    al, 2012) e tambm apresentar benfico aos pacientes infectados pelo vrus HIV por diminuir

    a produo de citocinas e eicosanides pr-inflamatrios. (PIMENTEL et al, 2005; PETERS

    et al, 2012).

    Alm disso, o mega 3 atua diretamente evitando a formao de trombos, tendo em

    vista que esse AG compete com o cido araquidnico como substrato para a enzima

    ciclooxigenase, inibindo a formao de tromboxano A2, que um importante agente

    vasoconstritor e agregante plaquetrio. Com a diminuio de tromboxano A2 formados,

    ocorre diminuio da agregao plaquetria, evitando assim a formao de cogulo,

    importante causa de infartos do miocrdio e aterosclerose (DE CATERINA E ZAMPOLLI,

    2007; VEDTOFTE et al, 2012).

    Diversos estudos apontam tambm que os hbitos alimentares esto diretamente

    relacionados com transtornos de humor, inclusive depresso, devido ao um balano

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Kiecolt-Glaser%20JK%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22640930http://pt.wikipedia.org/wiki/Inflama%C3%A7%C3%A3o

  • 27

    desequilibrado entre os cidos graxos n-6 e n-3 no interior da estrutura fosfolipdica (ZEMAN

    et al, 2013). O elevado consumo de mega 3 auxilia na preveno desses transtornos, por

    alterar as estruturas e funcionalidade da membrana fosfolipdica, ocasionando uma maior

    fluidez da membrana celular (KIECOLT-GLASER et al, 2007). Isso acarreta em uma maior

    mobilidade das protenas favorecendo maior troca de sinais de transduo, interao

    hormnio-receptor e transporte de substratos entre os meios intra e extracelular (FREEMAN

    E RAPAPORT 2011; LESPERANCE et al, 2011; BLOCH E HANNESTAD, 2012).

    O consumo de mega 3 pode tambm ocasionar a diminuio da presso arterial, sendo

    que a intensidade dessa reduo varia proporcionalmente ao nvel de ingesto de sdio e da

    dose de cidos graxos mega 3 administrados, particularmente o cido docosahexanico

    (CICERO ET AL, 2009). Esse mecanismo de reduo deve-se, provavelmente ao desvio da

    produo de eicosanoides da srie 2, derivados do cido araquidnico, para a srie 3, derivado

    do cido eicosapentanico, que competem pelas mesmas enzimas, conforme j citado

    anteriormente. Consequentemente ocorre uma atividade mais vasodilatora e anti-agregante,as

    quais acarretam em menores ndices de doenas cardiovasculares (ZIBOH et al, 2000; LIU et

    al, 2011).

    Esse AG da famlia n-3 pode tambm atuar beneficamente na reduo dos nveis de

    triglicrides plasmticos, devido a sua capacidade de inibir a secreo heptica de VLDL e

    por diminuir a atividade de vrias enzimas hepticas responsveis pela sntese de triglicrides.

    Por esse motivo, desde que a ingesto calrica seja adequadamente controlada, os cidos

    graxos mega 3 podem exercer efeitos benficos no perfil de risco cardiovascular em

    pacientes com diabetes (DJOUSS et al, 2011; ZHUKOVS'KA et al, 2012; MALEKSHAHI

    MOGHADAM et al, 2013; JEPPENSEN et al, 2013; SU et al, 2013). Outro beneficio

    atribudo a ingesto de AG n-3 a deformao dos eritrcitos e diminuio da viscosidade do

    sangue, por facilitar a microcirculao e possibilitar maior oxigenao dos tecidos, mesmo

    com baixas doses de consumo. Esse AG tambm impede a ativao da protena C quinase,

    diminuindo, assim, a produo de fatores responsveis pela leso cutnea da psorase,

    melhorando o eritema, infiltrao e descamao (PIMENTEL et al 2005; BALBAS et al,

    2011).

    A relao de consumo de AG n-6:n-3 em populaes ocidentais de aproximadamente

    15:1 a 17:1, sendo que a proporo adequada para se obter os benefcios da ingesto de AG

    por volta de 2-5:1 (SIMOPOULOS, 2008; STRANDVIK, 2011), sendo que a Organiza

    Mundial da Sade (WHO) preconiza uma relao de at 5-10:1 (WHO1995). Em uma dieta

    Norte Americana tpica, por exemplo, consome-se cerca de 89% do total de cidos graxos

  • 28

    poli-insaturados como cido linoleico e apenas 9% como cido linolnico (AGENCY...,

    2005). Isso se deve ao elevado consumo de fontes de AG n-6, como leos de milho, girassol e

    soja e baixo consumo de fontes de cidos graxos n-3, como peixe, linhaa, chia, canola, entre

    outros (AYERZA et al, 2002; SOCCOL E OETTERER 2003). Quanto maior a proporo de

    cidos graxos mega-6/mega-3, maior a taxa de morte por doenas cardiovasculares,

    cncer, doenas inflamatrias e autoimunes, ao passo que nveis elevados de mega-3 (menor

    relao n-6/n-3), exercem efeitos inibidores dessas enfermidades (SIMOPOULOS, 2008;

    SIMOPOULOS, 2011). Considerando ainda que essas duas famlias de cidos graxos

    competem pelas mesmas enzimas, conforme j citado anteriormente, o equilbrio entre n-6:n-

    3 na dieta de extrema importncia, tendo em vista que, na era paleoltica, essa relao era de

    aproximadamente 1:1 a 1:2, enquanto que o padro atual (dieta ocidental) apresenta uma

    relao de 17:1 (FRST, 2002, WHO/FAO, 2003).

    No Brasil, preconizado pela Agencia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) que

    produtos com alegao de propriedade funcional para mega trs devem fornecer, no

    mnimo, 0,1 de EPA e/ou DHA na poro em 100g ou 100mL do produto pronto para

    consumo, caso a poro seja superior a 100g ou 100mL (BRASIL, 2008). Pases como

    Canad, Sucia, Reino Unido, Austrlia, Japo e as organizaes das Naes Unidas

    recomendam de 0,3 a 0,5 g/dia de EPA + DHA e 0,8 de 1,1 g/dia de alfa-linolnico, sendo

    que indivduos com incidncia de doenas cardiovasculares devem elevar o consumo de EPA

    e DHA para 1 g/dia (KRIS-ETHERTON et al, 2002). A Tabela 3 demonstra a quantidade de

    n-3 recomendado para homens e mulheres, em diferentes faixas etrias.

  • 29

    Tabela 3 - Teores de n-3 recomendado para homens e mulheres

    Idade (anos) mega 3 (gramas/dias)

    Homens

    9 a 13 1,2

    14 a 18 1,6

    19 a 30 1,6

    31 a 50 1,6

    50 a 70 1,6

    >70 1,6

    Mulheres

    9 a 13 1,0

    14 a 18 1,1

    19 a 30 1,1

    31 a 50 1,1

    50 a 70 1,1

    >70 1,1

    Fonte: FOOD AND NUTRITION INFORMATION CENTER, 2005; THE NATIONL ACADEMY PRESS,

    2006.

    2.2 Semente de chia

    A semente de chia (Salvia hispanica L.) uma oleaginosa nativa do sul do Mxico e

    norte da Guatemala. Seu nome deriva do nahuatl chian (que significa "oleoso") e sua cultura

    foi expandida at a Amrica do Sul, sendo comprovadamente consumida h sculos pelas

    civilizaes Maias e Astecas. Mas apenas h pouco tempo ressurgiu o interesse por esta

    semente, por ser considerado um alimento com significativo valor nutricional. (AYERZA,

    2005; JIN et al, 2012). Ela rica em diversos micros e macronutrientes essenciais sade

    humana, como clcio (456mg/100g), protena (24g/100g), fibra (30g/100g) e cidos graxos

    poli-insaturados (23g/100g) (CAHILL, 2003; AYERZA E COATES, 2007; AYERZA, 2009;

    JIN et al, 2012; VZQUES-OVANO et al, 2013). Esses teores apresentam-se satisfatrios

    quando comparados a outras fontes de nutrientes j conhecidas, conforme Tabela 4.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_n%C3%A1uatle

  • 30

    Tabela 4 - Valores aproximados de nutrientes na semente de chia e em outros alimentos

    Composto Benefcios Teor na Chia Teor em outros alimentos

    Clcio

    Formao de ossos e

    dentes, participao no

    crescimento, cofator/

    regulador de reaes

    bioqumicas, auxlio na

    coagulao sangunea, etc.

    500mg/

    100g

    200mg/100g (linhaa)

    150mg/100g(amaranto)

    90mg/100g (quinoa)

    Fibras

    Ao hipoglicemiante,

    hipocolesterolmica,

    hipotri-gliceridemica,

    aumenta bolo fecal,

    previne contra

    constipao, diverticulite,

    etc.

    30%

    14%(linhaa)

    9% (amaranto)

    5% (Quinoa)

    Protenas

    Um dos maiores

    constituintes no

    organismo. Atua

    beneficamente na

    coagulao sangunea,

    catalisao de reaes

    qumicas, formao de

    tecidos, etc.

    24%

    26% (linhaa)

    16% (amaranto)

    18% (quinoa)

    mega 3

    Ao antiinflamatria,

    inibio da formao de

    trombos, diminuio da

    presso arterial, atuao

    benfica em

    neurotransmissores, etc.

    23%

    20% (linhaa)

    9% (amaranto)

    6% (quinoa)

    Fontes: MARQUES, 2008; LI et al, 2010; MALPELI et al, 2012; ESCUDERO et al, 2012; VILCHE et al, 2013;

    COSTA, BORGES, 2005; BORGES et al, 2010;

    O principal interesse nessa semente refere-se ao teor de cidos graxos poli-insaturados

    cido alfa-linolnico (18:3 n-3, LNA), e cido linoleico (18:2 n-6, LA) (AYERZA, 2009;

    MOHD et al, 2012), tendo em vista que esses compostos auxiliam as funes imunolgicas,

    inibem a proliferao de linfcitos e citocinas pr-inflamatrias, atuam na preveno de

    incidncia de doenas cardiovasculares e mantm a integridade das membranas celulares e

    dos neurotransmissores (YAO et al, 2012; LUDWIG et al, 2013).

    Estudos com a semente de chia ainda so raros, sendo poucas as pesquisas disponveis

    que avaliaram essa matria prima. Alguns autores, entretanto, realizaram estudos visando

    comprovar os diversos efeitos benficos que essa semente pode oferecer sade humana. JIN

    ET AL, 2012 observaram em seu estudo que a ingesto de 25g/dia da semente de chia durante

    sete semanas elevou os nveis plasmticos de cido -linolnico (ALA) e cido

    eicosapentaenoico (EPA) em mulheres ps-menopausa, em 138 e 30%, respectivamente.

    Outra pesquisa concluiu que a ingesto dessa mesma quantidade de semente de chia durante

  • 31

    10 semanas por 62 mulheres com sobrepeso tambm elevou os nveis de ALA, quando

    comparado com o grupo de mulheres que no consumiram a respectiva semente (NIEMAN et

    al, 2012).

    Um estudo randomizado, duplo-cego com11 indivduos saudveis, mostrou que aps

    120 minutos da ingesto de 50g de po branco contendo diferentes concentraes de semente

    de chia reduziu a glicemia ps-prandial (VUKSAN et al, 2010). VUKSAN et al, 2007

    tambm avaliaram, em 20 pacientes, o consumo de 37g/dia de semente de chia ou farelo de

    trigo durante 12 semanas, em um estudo cross-over duplo-cego em indivduos com diabetes

    tipo 2 controlado. Os resultados mostraram que o consumo de chia elevou os nveis

    plasmticos de cidos graxos poli-insaturados ALA e EPA, alm de reduzir a presso arterial

    em cerca de 6,3 mmHg, elevar a sensibilidade protena c-reativa (PCR - biomarcador

    relacionado inflamaes) em cerca de 40% e ao fator de vonWillebrand (vWF - doena

    hemorrgica) em cerca de 21%, em comparao com grupo que consumiu farelo de trigo, ou

    seja, a suplementao com semente de chia pode ser um importante fator contra o risco de

    doenas cardiovasculares e fatores emergentes (hs-CRP e vWF), mantendo controle

    satisfatrio no ndice glicmico e no perfil lipdico em pessoas com diabetes tipo 2. Esse

    resultado tambm foi encontrado por POUDYAL et al, 2012, os quais concluram que a

    suplementao com 5% de sementes de chia durante 8 semanas atenuaram os sinais

    metablicos de ratos, havendo melhora nos parmetros de sensibilidade insulina e tolerncia

    glicose, reduo da adiposidade visceral, diminuio da esteatose heptica e reduo da

    inflamao cardaca e heptica.

    HERNNDEZ-VIVEROS et al, 2012 tambm avaliaram a associao de fontes

    vegetais (protena de soja, semente de chia e aveia) com a sndrome metablica, que um

    problema de sade em todo o mundo e est associado a doenas cardiovasculares e diabetes.

    Os autores observaram que todos os participantes apresentaram reduo de peso, IMC e

    circunferncia da cintura nos 2 meses de tratamento, mas apenas no grupo controle houve

    reduo nos nveis de triglicerdeos plasmticos, protena C-reativa (PCR) e intolerncia

    glicose esse estudo. Segundo os autores, apresentou tambm importantes resultados para

    facilitar o desenvolvimento de estratgias personalizadas dietticas para indivduos com

    sndrome metablica, os quais apresentam elevados risco de desenvolver diabetes e doenas

    cardiovasculares.

    Estudos com durao de oito semanas tambm apontam o efeito benfico do uso tpico

    de leo de chia 4%, onde cinco pacientes saudveis com prurido e cinco pacientes com

    insuficincia renal terminal ou com diabetes, tambm com prurido, relataram melhora dos

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Nieman%20DC%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=22830971

  • 32

    sintomas, incluindo maior hidratao da pele e permeabilidade da mesma pelos pacientes que

    utilizaram o leo de chia, sendo que nenhum participante relatou efeitos adversos a esse

    tratamento com leo de chia (JEONG et al, 2010).

    Alm desses benefcios, iniciou-se uma propagao por todas as mdias de que a

    semente de chia poderia auxiliar em dietas de emagrecimento, devido ao poder saciante

    relacionado ao elevado teor de fibras e tambm pelo gel que se forma ao hidratar essa semente

    (AYERZA et al, 2002), conforme observado na Figura 4. Apesar do aumento do consumo da

    chia visando esse benefcio, poucos estudos discorrem sobre o efeito da mesma relacionada

    perda de peso, sendo que a maioria das pesquisas disponveis aponta para a ineficincia de c

    comprovao cientifica suficiente para esse beneficio (NIEMAN et al, 2009; ULBRICHT et

    al, 2009 ; EGRAS et al, 2011).

    Figura 4 - Semente de chia hidratada

  • 33

    2.2.1 Semente de chia e legislao brasileira

    Apesar de todos os benefcios dos compostos presentes na semente de chia

    demonstrados pela literatura internacional, ela ainda no reconhecida como um alimento

    seguro para comercializao pela legislao brasileira, devido escassez de pesquisas

    relacionando a caracterizao desta semente e seus benefcios sade humana. Para que a

    ANVISA reconhea a mesma como segura, deve-se enviar uma solicitao de registro como

    Novo Alimento, pois esta Agncia compreende que, alimentos sem tradio de consumo no

    pas devem ser avaliados pela mesma antes de serem comercializados (BRASIL, 1999 (b);

    BRASIL, 1999 (c)). Alguns alimentos j aprovados pela ANVISA, e que no necessitam de

    registro de novo alimento para comercializao esto descritos na Tabela 5.

    Tabela 5 - Alimentos j aprovados pela ANVISA e seus requisitos na rotulagem

    Fonte: (BRASIL, 1999b).

    Ingrediente Requisitos

    Amido resistente com alto teor de amilose Declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra alimentar.

    Beta-glucana de levedo de cerveja -

    Saccahromyces cerevisiae

    Rotulagem:Especificar a fonte da beta-glucana (Saccahromyces cerevisiae)

    junto declarao da mesma na lista de ingredientes do rtulo

    Colgeno Hidrolisado/gelatina hidrolisada Sem requisito adicional.

    Frutooligossacardeo - FOS - declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra.

    Goma accia (Goma Arbica) - declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra alimentar

    Goma guar parcialmente hidrolisada - declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra alimentar.

    Inulina - declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra alimentar.

    Inulo-oligossacardeos - declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra alimentar.

    Polidextrose - declarar na Tabela de informao nutricional como fibra alimentar. No

    permitido especific-la abaixo do valor de fibra. A recomendao diria de

    consumo do produto no deve resultar na ingesto de polidextrose acima de

    90g ou cuja poro nica de consumo resulte em ingesto de polidextrose

    superior a 50g.

    Trealose Rotulagem: incluir a seguinte informao: "Este produto pode ter efeito

    laxativo", para os alimentos cuja poro nica de consumo resulte em ingesto

    de trealose superior a 50 g.

  • 34

    O processo de registro para novo alimento, no entanto, extremamente burocrtico e

    demanda elevado custo, pois a empresa/instituio a qual deseja obt-lo para comercializao

    como novo alimento deve apresentaras seguinte documentao (BRASIL 2008):

    denominao do produto;

    origem ou fonte de obteno;

    finalidade de uso;

    recomendao de consumo;

    histrico de uso, bem como sua forma de consumo em outros pases;

    especificao da origem do produto e ou do novo ingrediente, ou seja, a espcie

    botnica ou a espcie animal ou a fonte mineral, quando for o caso;

    composio qumica do novo ingrediente, quando se tratar de uma substncia

    desconhecida ou uma modificao da estrutura qumica de um ingrediente conhecido;

    processo de fabricao do produto;

    laudo de anlise que comprove a quantidade do ingrediente ou substncia no produto;

    laudo de anlise de contaminantes no produto, como por exemplo, metais pesados,

    micotoxinas, resduos de agrotxicos ou de drogas veterinrias, dependendo da origem do

    produto;

    descrio da metodologia analtica para avaliao do novo ingrediente ou substncia

    no alimento;

    evidncias cientficas aplicveis comprovao de segurana de uso:

    - ensaios nutricionais e ou fisiolgicos e ou toxicolgicos em animais;

    - ensaios bioqumicos;

    - estudos epidemiolgicos;

    - ensaios clnicos;

    - comprovao de uso tradicional, observado na populao, sem danos sade;

    - evidncias abrangentes da literatura cientfica, organismos internacionais de sade e

    legislao internacionalmente reconhecida sobre as caractersticas do alimento ou ingrediente.

    H ainda de se realizar o pagamento de uma taxa que varia de acordo com o porte da

    empresa e aguardar o aval da Agncia, que pode ser negado caso a mesma conclua que no h

    evidencias suficientes para liberao do produto para consumo (BRASIL, 1999(d)). Para a

    maioria das indstrias, esse tramite torna-se invivel, pois, mesmo que haja aprovao da

    ANVISA para comercializao do alimento requerido, a empresa detentora do registro no

  • 35

    pode fazer nenhuma alegao de benefcio sade/preveno de doenas no rtulo do

    produto.

    Por este motivo, essencial que mais estudos sejam realizados com a semente de chia

    para fornecer suporte ANVISA, a fim de viabilizar a comercializao deste alimento sem

    restrio no Brasil, assim como diversas outras sementes/gros/cereais j o so (exemplo:

    aveia, linhaa, etc).

    2.3 Pes

    Historiadores relatam que os primeiros pes foram produzidos por volta de 10.000 anos

    a.C, com uma formulao mais rudimentar que a conhecida atualmente, composta por cereais

    selvagens e gua, os quais eram cozidos ao sol (PHILIPPI, 2003). Por volta de 2600 a.C., os

    egpcios descobriram o processo fermentativo ao misturar gua e farinha, deixando-as ao sol

    at que se formassem bolhas, que eram ento assadas entre pedras aquecidas (JACOB, 2003).

    Atualmente cada regio possui seu tipo caracterstico, sendo poucas as culturas que no o

    consomem. Esse um alimento rico em carboidratos e protenas, mas pobre em fibras e com

    elevado ndice glicmico (BURTON et al, 2011).

    No Brasil, a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) define po como todo

    produto obtido pela coco, em condies tcnicas adequadas, de massa preparada com

    farinha de trigo, fermento biolgico, gua e sal, podendo conter outras substncias

    alimentcias aprovadas (BRASIL, 2000), sendo que a farinha de trigo o principal ingrediente

    da formulao. Essa matria prima responsvel pelo fornecimento de protenas que atuam

    na formao da rede de glten que, juntamente com gua, conferem estrutura elstica

    caracterstica desses produtos. As quantidades de todas as outras matrias primas so

    calculadas em relao farinha de trigo, a qual corresponde a uma base de 100% (MATUDA,

    2004).

    A produo de pes consiste basicamente em homogeneizar, solubilizar e hidratar

    adequadamente os ingredientes da massa em uma masseira destinada a essa finalidade e

    posterior assamento, o qual tem seu tempo determinado pelo tipo de forno utilizado e pelo

    tipo de po a ser produzido (CARR E TADINI, 2003). A qualidade de uma massa pode ser

    mensurada por sua habilidade de reter o gs e por suas propriedades visco elsticas, as quais

    definem o volume final, auxiliam na expanso adequada durante a fermentao e atuam nas

    etapas que antecedem o assamento (PATIENT E AINSWORTH, 1994). Para a

    homogeneizao da massa, empregado um trabalho mecnico que normalmente realizado

    em duas etapas, sendo a primeira em uma velocidade mais reduzida, para garantir a

  • 36

    incorporao da gua pela farinha de trigo, e a segunda em velocidade mais acelerada, na qual

    se formam as estrutura das redes de glten, que acontecem em estgios distintos: na fase

    inicial, as molculas de protena so hidratadas e as suas fibrilas se aderem umas s outras

    formando uma rede desorganizada de fios espessos (Figura 5a) (STAUFER, 1998). No

    estgio seguinte, a ao mecnica contnua torna os fios mais finos e organizados, facilitando

    a interao entre eles (Figura 5b) e, na fase final, o pico de consistncia formado. Nessa

    etapa, o dimetro das fibrilas de protenas reduzido significativamente, resultando em uma

    massa que pode ser estendida em forma de filme contnuo, conforme observado na Figura 5c

    (PATIENT E AINSWORTH, 1994; STAUFER, 1998). Essa ultima etapa fundamental no

    processo produtivo dos pes, pois, caso a mistura continue sendo homogeneizada aps a

    formao do pico de resistncia, a massa pode se tornar mole, menos resistente e ter sua

    capacidade de reter gs durante a fermentao comprometida (STAUFER, 1998).

    Figura 5 - Rede de glten em diferentes estgios de mistura; (a) incio do processo de mistura, hidratao parcial;

    (b) massa parcialmente misturada; (c) massa no estgio de desenvolvimento mximo. Fonte:

    STAUFER, 1998

    Alm da farinha de trigo, outros ingredientes bsicos so utilizados na produo de

    pes, entre eles o acar (substrato para fermentao, confere maior maciez e participa das

    reaes de Maillard, acarretando na colorao caracterstica no produto final), gua (auxilia

    na homogeneizao dos ingredientes e na formao da rede de glten), fermento (metaboliza

    acares sob condies anaerbias, resultando na produo de gs carbnico (CO2), o qual

    essencial para o crescimento da massa e obteno dos compostos aromticos caractersticos

    deste alimento) (LAAKSONEN, 2001; CAUVAIN E YOUNG, 2009), etc. O sal tambm

    um componente essencial na fabricao de pes por atuar diretamente na formao da rede de

    glten, controlar a fermentao (que depende tambm dos ingredientes e aditivos utilizados,

    quantidade de levedura, da temperatura e umidade local) e, principalmente, fornecer sabor ao

  • 37

    produto (pouco sal torna o alimento inspido, enquanto que o excesso de fermentao tende a

    fornecer um sabor cido) e garantir melhor palatabilidade ao mesmo (CARR E TADINI,

    2003). No entanto, a ANVISA divulgou em 2012 um documento estabelecendo metas da

    reduo deste composto no po francs: segundo essa Agncia, foi determinado que a adio

    de sal ao produto seja progressivamente reduzida de 2% para 1,8% at o final de 2014, o que

    representar uma reduo de 10% na quantidade de sdio no produto final. Por exemplo: uma

    unidade de po francs (50g) que em 2011 apresentava em mdia 320 mg de sdio, ter

    aproximadamente 289 mg em 2014 (BRASIL, 2012; DAUGIRDAS 2013).

    Segundo a Associao Brasileira da Indstria de Panificao e Confeitaria (ABIP), esse

    setor alcanou um faturamento de aproximadamente 63 bilhes de reais em 2011, um

    crescimento de cerca de 12% em relao ao ano de 2010, quando o faturamento foi de 56

    bilhes (ABIP, 2012). Os empregos gerados tambm apresentaram aumento no ano de 2011

    (2,8% em relao a 2010), o que representa 21 mil novos funcionrios atuando no setor de

    panificao, que emprega diretamente 780 mil pessoas, e mais 1,8 milhes de forma indireta

    (ABIP, 2012). Apesar disso, o consumo per capita brasileiro (30kg/habitante/ano) bem

    abaixo do estipulado pela ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE (OMS), que de

    60kg/habitante/ano e de outros pases da Amrica Latina, conforme Tabela 6 (ABIP, 2011).

    Tabela 6 - Consumo de po (kg/habitante/ano) em pases da Amrica Latina

    PAS QUILOS/HABITANTE

    Chile 98

    Argentina 82,5

    Uruguai 55

    Costa Rica 52

    Brasil 33,5

    Mxico 32,5

    Colmbia 24

    Honduras 18,1

    Fonte: ABIP, 2011.

    A produo de pes que incorporam sua formulao ingredientes diferenciados, como

    fibras, gros, multigros, etc, tem aumentado progressivamente, vide as vrias opes

    disponveis comercialmente. Esse aumento deve-se principalmente ao crescente interesse da

    populao em adquirir alimentos que tragam benefcios sade, aliando a reduo do

    consumo de carboidratos simples, gorduras e sdio diminuio do risco de doenas como

  • 38

    obesidade e diabetes mellitus (SIVAM et al, 2010; SALGADO et al, 2011; MERAL E

    DOAN, 2012; MONTONEN et al, 2012). As modificaes na frmula dos pes,

    acrescentando outros ingredientes em detrimento farinha de trigo, acar ou gordura pode

    levar a diluio das protenas formadoras de glten, afetando a caracterstica da massa

    (absoro de gua e tempo de fermentao), uma vez que o produto final pode ter seu volume

    especfico diminudo alm de outras modificaes, como aumento da firmeza do miolo,

    aparncia mais escura e textura modificada (WANG et al, 2002; GOMEZ et al, 2003,

    BARTKIENE et al, 2012).

    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Meral%20R%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=23113647

  • 39

    3 MATERIAL E MTODOS

    As anlises foram realizadas na semente de chia em forma de farinha (FSC) e nos

    produtos desenvolvidos (po tradicional e pes enriquecidos com FSC em diferentes

    concentraes). A caracterizao centesimal e de compostos bioativos foram efetuadas em

    triplicata no Laboratrio de Bromatologia e Nutrio Experimental, pertencente ao

    Departamento de Agroindstria, Alimentos e Nutrio da Escola Superior de Agricultura

    Luiz de Queiroz (ESALQ) /USP, em Piracicaba/SP. As anlises de micotoxinas foram

    realizadas no Laboratrio de Micotoxinas, e as anlises microbiolgicas dos pes destinados

    anlise sensorial foram feitas no Laboratrio de Microbiologia de Alimentos, pertencentes ao

    mesmo departamento e Instituio. As anlises de minerais foram realizadas no Laboratrio

    de Nutrio Mineral de Plantas do Departamento de Cincias dos Solos e os cidos graxos

    foram determinados no laboratrio de Bromatologia do Departamento de Zootecnia, ambos

    pertencentes Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ)/USP. As anlises

    de aminograma foram realizadas no Laboratrio de Fontes Proteicas, pertencente ao

    Departamento de Alimentos e Nutrio da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

    3.1 Caracterizao da matria prima

    A semente de chia foi adquirida no mercado municipal da cidade de Piracicaba/SP,

    sendo transportada do estabelecimento comercial at o laboratrio em caixa climatizada, a fim

    de se evitar danos/degradao de qualquer componente desses insumos. Ao chegar ao

    Laboratrio de Bromatologia e Nutrio Experimental, a semente foi moda e transformada

    em farinha, conforme indicado na Figura 6.

    Figura 6 - Semente de chia ntegra (a) e moda, na forma de farinha (b)

  • 40

    A farinha foi ento armazenada em plsticos de polietileno, sendo seladas e armazenada

    sob refrigerao (4C) at o momento das respectivas anlises. A semente de chia foi

    quantificada quanto a sua composio centesimal, teor de cidos graxos, aminograma,

    micotoxinas e compostos ativos, cujos mtodos esto detalhados a seguir:

    3.1.1 Composio Centesimal

    Matria seca - A matria seca foi determinada por diferena de peso das amostras

    previamente pesada em cadinhos, as quais foram submetidas a aquecimento em estufa por

    105C durante 24h, segundo metodologia sugerida pela AOAC, 2005.

    Matria mineral - Os teores de matria mineral foram obtidos por diferena de peso

    obtida pela incinerao da matria orgnica das amostras, submetidas a aquecimento (550C)

    em mufla por 4h (AOAC, 2005).

    Protena bruta - A extrao e quantificao de protenas foram realizadas de acordo

    com mtodo Kkjeldahl (metodologia 920.152, AOAC, 2005), que consiste na digesto da

    amostra em bloco aquecido a 350C, destilao (destilador modelo TE-636/1 Tecnal) com

    NaOH 11N em cido brico e soluo indicadora de verde de bromocrezol e vermelho de

    metila e titulao com cido sulfrico 0,02N, utilizando o fator 6,25 para converso do

    nitrognio, sendo possvel quantificar o teor proteico de cada amostra. Foi realizada tambm

    anlise de protena do resduo resultante da anlise de fibras (solvel e insolvel). Essa etapa

    necessria para que sejam posteriormente realizados os clculos de fibras solveis,

    insolveis e totais, conforme metodologia descrita abaixo.

    Extrato etreo - A extrao e quantificao de extrato etreo foram realizadas pelo

    mtodo da AOAC, 2005, sendo o teor de gordura total de cada amostra determinado atravs

    de extrao com ter etlico no Extrator Soxlet Micro e calculado por diferena de peso.

    Carboidratos - O contedo de carboidratos foi realizado por excluso do valor obtido

    pela somatria dos valores das anlises do extrato etreo, resduo mineral (cinzas), fibras

    totais, umidade e protena (PREGNOLATTO E PREGNOLATTO, 1985; BRASIL, 2003),

    conforme frmula abaixo:

    % carboidratos = 100 (% umidade + % cinzas + %extrato etreo + % fibras totais + % protena)

  • 41

    Fibras - A extrao e quantificao do teor de fibras foram realizadas segundo

    metodologia que envolve digesto enzimtica das amostras com -amilase para promover a

    hidrlise do amido e pepsina, seguidas de pancreatina para a degradao da protena e

    posterior filtragem em cadinhos porosos com celite, alm de precipitao com lcool etlico

    95%, obtendo-se desta maneira, as fraes insolveis e solveis (ASP et al, 1983). Foi

    utilizado o seguinte clculo para a determinao da porcentagem de fibras das amostras:

    % fibra total (FT) = FI + FS

    Sendo que:

    W = peso amostra (g);

    D = peso aps secar (g);

    I = peso aps incinerar (g);

    B = branco

    3.1.2 Aminocidos

    O perfil de aminocidos foi determinado de acordo com mtodo cromatogrfico descrito

    por White Et al, 1986, o qual consiste na hidrlise por 24 horas a 110C em cido clordrico

    (HCl) 6N, com fenol, seguida de filtrao, secagem e derivatizao. Posteriormente as

    amostras foram transferidas para frasco de injeo com uma pipeta descartvel e foram

    quantificadas, de acordo com respectivos padres, quanto ao perfil de aminocidos em

    cromatgrafo lquido previamente condicionado equipado com coluna Luna C18 100 5u,

    250 x 4.6mm 00G-4252-EQ (PHENOMENEX - USA Torrance, CA.), vlvula de injeo

    Rheodyne Forno Thermasphere TS-130 HPLC (PHENOMENEX - USA Torrance, CA),

    modulo de deteco UV SPECTRA SYSTEM UV 2000 (Thermo Separation Products), pela

    absortividade UV em 254nm.

  • 42

    3.1.3 cidos graxos

    Para a determinao de cidos graxos, os lipdios da semente de chia foram extrados e

    esterificados de acordo com a metodologia descrita por HARTMAN E LAGO, 1983, sendo

    pesados de 1g de amostra e adicionados 5 mL de soluo de NaOH 0,5 mol/L em metanol e a

    mistura foi levada para aquecimento por 5 minutos. Posteriormente, foram adicionados 15 mL

    do reagente de esterificao (preparado a partir da mistura de 2 g de cloreto de amnio, 60 mL

    de metanol e 3 mL de cido sulfrico concentrado, aquecida por aproximadamente 15

    minutos) e a mistura foi aquecida por mais 3 minutos e, em seguida, foi transferida para um

    funil de separao juntamente com 25 mL de ter de petrleo e 50 mL de gua deionizada.

    Aps agitao e separao das fases, descartou-se a fase aquosa. Adicionou-se 25 mL de gua

    deionizada fase orgnica, agitou-se e aps a separao das fases, a aquosa foi descartada e o

    procedimento repetido. A fase orgnica foi coletada, o solvente evaporado em evaporador

    rotativo e o resduo foi removido sob fluxo de nitrognio. Os steres metlicos foram

    solubilizados em n-heptano para posterior injeo no cromatgrafo gasoso (marca Shimadzu

    modelo GC-14 B, equipado com detector por ionizao em chama, injetor do tipo split, coluna

    capilar de slica fundida -50 m de comprimento x 0,22 mm de dimetro interno, Shimadzu-

    Hicap, Austrlia). As condies cromatogrficas foram: temperatura da coluna em 180C

    (isotrmica); gs de arraste, hidrognio numa vazo de 1,05 mL/minuto; temperatura do

    detector e do injetor de 250C.

    3.1.4 Minerais

    Para determinao dos teores dos minerais presentes nos pes desenvolvidos, foi pesado

    0,5g de amostra em tubos de digesto, e adicionados 10mL de cido ntrico, sendo esses

    armazenados em capela por 12h. Aps esse perodo, as amostras foram digeridas em bloco

    digestor com variao de temperatura crescente at 150C. Aps o resfriamento das amostras,

    foi adicionado 1mL de cido perclrico e as mesmas foram novamente levadas ao bloco

    digestor a 150C, elevando-se a temperatura at 250C. Aps o resfriamento da segunda etapa

    de digesto, as amostras foram transferidas para frascos apropriados e completado volume at

    25mL com gua destilada. Por fim, cada amostra foi transferida para frascos de absorbncia

    em espectrofotmetro de absoro atmica (Perkim Elmer, 3110), e lidas a 248,3nm, obtendo-

    se assim a determinao de clcio, cobre, ferro, fsforo, magnsio, mangans, potssio, zinco,

    enxofre e sdio (SARRUGE E HAAG, 1974).

  • 43

    3.1.5 Compostos bioativos

    Atividade antioxidante (DPPH)

    O teor de atividade antioxidante foi realizado na semente de chia na forma de farinha

    desengordurada e no oleo da semente de chia (os lipideos foram separados pelo mtodo

    Soxlet, previamente citado), a fim de estabelecer a comparaao entre o potencial antioxidante

    de cada forma dessas materias primas. Foi utlizada a metodologia que avalia a atividade

    antioxidante de componentes atravs do sequestro do radical DPPH (1,1- diphenyl- 2- picryl-

    hydrazy), ou seja, o mtodo DPPH tem como base a reduo da absorbncia por

    antioxidantes na regio visvel de comprimento de onda de 517 nm do radical DPPH. Para

    isso, as amostras foram homogeneizadas e, aps extrao com metanol 80% (acetato de etila

    para anlise do leo), foram mantidas por 40 minutos em local escuro, temperatura

    ambiente. Posteriormente foi realizada leitura da absorbncia em espectrofotmetro a 517 nm

    (BRAND-WILLIAMS et al, 1995).

    Compostos fenlicos

    A determinao dos contedos de compostos fenlicos totais foi realizada de acordo

    com o mtodo que consiste na extrao desses compostos com metanol (SWAIN E HILLIS,

    1959) e acetato de etila e/ou tolueno para anlise do leo. Essa metodologia utiliza o reagente

    de Folin-Ciocalteau como agente redutor, e a catequina para construo da curva- padro. As

    amostras e a catequina foram diludas em soluo hidroalcolica a 80% e posteriormente

    determinadas por leitura em espectrofotmetro a 660 nm.

    Taninos

    A determinao do teor de taninos foi realizada por metodologia de extrao em

    metanol (acetato de etila para anlise do leo), reao colorimtrica com soluo de vanilina a

    1% em metanol 8% de HCl em metanol, na proporo 1:1, e subsequente repouso a 30C por

    20 minutos. Posteriormente foi realizada leitura em espectrofotmetro a 500 nm. A

    concentrao de taninos foi obtida a partir de uma curva padro de catequina, sendo os

    resultados expressos em mEq de catequina/g de amostra (PRICE et al, 1980).

    cido ftico

    O teor de cido ftico foi determinado por metodologia sugerida por GRYNSPAN E

    CHERYAN, 1989. 0,5g de amostra foram digeridos em 10mL de soluo de HCl 0,65N, com

    posterior agitao e centrifugao a 300 rpm durante 10 minutos. Aps isso, foram pipetados

  • 44

    2mL do sobrenadante em balo volumtrico de 25 mL, sendo esse volume completado com

    gua destilada. Pipetou-se 10mL dessa soluo para bureta contendo resina, controlando o

    fluxo de gotejamento a um a velocidade de 1 gota/segundo. Em seguida, foram pipetados 15

    mL de soluo NaCl 0,1M na bureta e logo aps, mais 15 mL de soluo NaCl 0,7M, sendo o

    eludo recolhido em bquer. Alquotas de 5mL foram pipetadas em tubos de ensaio,

    adicionando 1mL de reagente Wade, sob agitao. A leitura da absorbncia foi realizada aps

    15 minutos, em espectrofotmetro (DU 640, Beckman) a 500 nm. Para anlise no leo, foi

    utilizado acetato de etila como substituto dos reagentes no lipoflicos.

    3.1.6 Micotoxinas

    As anlises de micotoxinas foram realizadas visando avaliar a presena de componentes

    toxicolgicos nas sementes de chia utilizadas nessa pesquisa. A avaliao de micotoxinas

    consistiu na deteco de aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2), zearalenona e ocratoxina A, as quais

    foram realizadas por cromatografia em camada delgada (CCD) utilizando extrao com

    MeOH:KCl (9:1) e posterior quantificao em CCD de slica por comparao da

    fluorescncia da amostra com padres conhecidos de micotoxinas, segundo procedimentos

    preconizados por SOARES E RODRIGUEZ-AMAYA (1989).

    3.2 Desenvolvimento do produto

    3.2.1 Farinha de semente de chia no desenvolvimento de pes funcionais

    A FSC utilizada para a produo dos pes funcionais foi obtida a partir da triturao da

    semente em moinho, sendo selada logo aps a triturao e armazenada em saco de polietileno

    laminado sob refrigerao 4C at o momento de sua utilizao.

    3.2.2 Produo dos pes funcionais

    A FSC foi utilizada na composio do desenvolvimento do po funcional em detrimento

    farinha de trigo, na proporo de 3%, 6% e 9%. Foi desenvolvida tambm uma amostra

    controle apenas com adio de farinha de trigo, conforme demonstrado na Tabela 7.

  • 45

    Tabela 7 - Composio percentual de ingredientes dos pes desenvolvidos

    Ingredientes Adio de Semente de Chia

    0% 3% 6% 9%

    Farinha de trigo (g) 1000 970 940 910

    Semente de chia(g) 0 30 60 90

    Acar refinado (g) 100 100 100 100

    Sal refinado (g) 15 15 15 15

    Ovos (g) 5 5 5 5

    Margarina (g) 82 82 82 82

    Fermento biolgico (g) 50 50 50 50

    Melhorador (g) 20 20 20 20

    gua (mL) 200 200 200 200

    Para o preparo das quatro formulaes, todos os ingredientes foram inicialmente

    pesados e separados. Primeiramente, homogeneizou-se apenas a farinha de semente de chia e

    a farinha de trigo, quando aplicvel. Em seguida, todos os demais ingredientes foram

    adicionados e homogeneizados em amassadeira espiral (marca Superfecta, modelo AE 15E)

    at se desenvolver a rede de glten (ponto de vu), por aproximadamente 15-20 minutos. A

    massa foi dividida e cortada em pedaos de 80g, boleadas, modeladas, untadas com leo de

    soja e farinha de trigo, e disposta em assadeiras retangulares, as quais foram inseridas em

    cmaras de fermentao com temperatura e umidade controladas (37C e 90%,

    respectivamente), durante 90 minutos.

    Aps esse perodo, os pes foram assados em forno turbo (Tedesco, Flex FTF 08G) a

    145C por 15 minutos e quando retirados, foram resfriados em temperatura ambiente,

    amostrados e adequadamente embalados e lacrados em sacos de polietileno. Essas amostras

    foram destinadas a anlise fsico-qumica, microbiolgica e sensorial, visando avaliar a

    percepo dos consumidores pelo teste de aceitabilidade por escala hednica. A Figura 7

    representa o fluxograma da produo dos respectivos pes.

  • 46

    Figura 7 - Fluxograma simplificado da produo dos pes funcionais; Fonte: BRASIL, 2000

    3.2.3 Anlises dos pes

    No total, foram fabricados cerca de 30 pes de cada formulao (0, 3, 6 e 9% de FSC)

    na primeira fornada, os quais foram destinados s anlises de caracterizao fsico-qumicas e

    funcionais. Aps a finalizao dessas anlises, foi produzida uma nova fornada (30 pes) a

    qual foi destinada anlise sensorial, sendo que todos os pes desenvolvidos foram

    submetidos anlise microbiolgica para garantia da inocuidade dos produtos.

    As anlises de composio centesimal, aminograma, cidos graxos minerais e

    compostos bioativ