CARACTERIZAÇÃO POR CROMATOGRAFIA GASOSA DO ÓLEO DE MAMONA VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL...

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XI CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DE POÇOS DE CALDAS 21 A 23 DE MAIO DE 2014 – POÇOS DE CALDAS – MINAS GERAIS CARACTERIZAÇÃO POR CROMATOGRAFIA GASOSA DO ÓLEO DE MAMONA VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL Lays Camila de Sousa 1 , Elisiane Dantas Rocha 2 , Rayanna Pinheiro Cunha 3 , Christiane Pereira Rocha 4. 1 Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, e- mail:[email protected] 2 Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitária,e-mail: [email protected] 3 Graduanda em Engenharia Química, e-mail: [email protected] 4 Mestre em Engenharia Química pela Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: [email protected] Centro Universitário de Formiga – UNIFOR, Rua Dr. Arnaldo de Senna, 328 - Água Vermelha- Formiga - MG, www.uniformg.edu.br, [email protected]: (37) 3329-1400. RESUMO O biodiesel, quimicamente definido como ésteres monoalquílicos de ácidos graxos, tem como processo mais comumente empregado para a sua produção a transesterificação alcalina utilizando como matérias primas óleos vegetais ou gorduras animais. Ele surge como alternativa aos combustíveis derivados do petróleo e cria uma perspectiva de geração de energia renovável direcionando aspectos econômicos, sociais e ambientais para o desenvolvimento sustentável. O presente estudo teve por objetivo estabelecer os perfis de ácidos graxos, por cromatografia, gasosa do óleo de Mamona. Atualmente, a mamona é uma das culturas mais encontradas em todo o país. Os resultados demonstraram que no óleo de mamona, os principais ácidos encontrados são os poli-insaturados (45,2%) e monoinsaturados (34,7%). Aliado a presença significativa de ácidos graxos saturados (19,2%), espera-se que o biodiesel obtido desse óleo apresente boa estabilidade oxidativa e boas propriedades de fluxo,

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XI CONGRESSO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DE POÇOS DE CALDAS

21 A 23 DE MAIO DE 2014 – POÇOS DE CALDAS – MINAS GERAIS

CARACTERIZAÇÃO POR CROMATOGRAFIA GASOSA DO ÓLEO DE MAMONA VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Lays Camila de Sousa1, Elisiane Dantas Rocha2, Rayanna Pinheiro Cunha3, Christiane Pereira Rocha4.

1Graduanda em Engenharia Ambiental e Sanitária, e-mail:[email protected] em Engenharia Ambiental e Sanitária,e-mail: [email protected]

3Graduanda em Engenharia Química, e-mail: [email protected] em Engenharia Química pela Universidade Federal de Uberlândia, e-mail:

[email protected] Universitário de Formiga – UNIFOR, Rua Dr. Arnaldo de Senna, 328 - Água Vermelha-

Formiga - MG, www.uniformg.edu.br, [email protected]: (37) 3329-1400.

RESUMO

O biodiesel, quimicamente definido como ésteres monoalquílicos de ácidos graxos, tem como processo mais comumente empregado para a sua produção a transesterificação alcalina utilizando como matérias primas óleos vegetais ou gorduras animais. Ele surge como alternativa aos combustíveis derivados do petróleo e cria uma perspectiva de geração de energia renovável direcionando aspectos econômicos, sociais e ambientais para o desenvolvimento sustentável. O presente estudo teve por objetivo estabelecer os perfis de ácidos graxos, por cromatografia, gasosa do óleo de Mamona. Atualmente, a mamona é uma das culturas mais encontradas em todo o país. Os resultados demonstraram que no óleo de mamona, os principais ácidos encontrados são os poli-insaturados (45,2%) e monoinsaturados (34,7%). Aliado a presença significativa de ácidos graxos saturados (19,2%), espera-se que o biodiesel obtido desse óleo apresente boa estabilidade oxidativa e boas propriedades de fluxo, características relacionadas ao bom desempenho como combustível.

Palavras-chave: biodiesel, cromatografia gasosa, mamona

INTRODUÇÂO

A mamona (Ricinus communis L.) é uma cultura industrial explorada no Brasil em função do óleo contido em suas sementes. Seu óleo serve de matéria prima para uma grande quantidade de aplicações, tais como: alimentação, química têxtil, papéis, plásticos e borrachas, perfumaria, cosméticos, farmácia, eletroeletrônicos e telecomunicações, tintas e adesivos, lubrificantes, etc. (AMORIM, 2005). Ao ser transformado em biodiesel, comporta-se como combustível e comburente, e é muito menos poluidor da atmosfera, do que o diesel mineral derivado diretamente do petróleo. (GALVÃO, 2007)

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Os óleos e gorduras são formados, principalmente, por triglicerídeos ou triacilgliceróis, resultante da combinação entre três moléculas de ácidos graxos e uma molécula de glicerol, mas possuem também outros constituintes minoritários, tais como: monoacilglicerídeos, diacilglicerídeos, tocoferóis, esteróis, fosfolipídios, ácidos graxos livres, cerídeos e carotenóides. (SANTOS, 2010)

Os ácidos graxos presentes nos óleos e gorduras são constituídos, geralmente, por ácidos carboxílicos que contêm de 4 a 30 átomos de carbono na sua cadeia molecular, as quais podem ser saturadas ou insaturadas. (SANTOS, 2010)

Os principais ácidos graxos encontrados na maioria dos óleos e gorduras são os ácidos graxos saturados, como láurico (C12), mirístico (C14), palmítico (C16) e esteárico (C18), os ácidos graxos poli-insaturados, como os ácidos linoleico (C18:2) e linolênico (C18:3) e o mono-insaturado, oleico (C18:1-9). De uma forma geral, triacilglicerídeos constituídos predominantemente por ácidos graxos saturados são sólidos e os óleos, são constituídos em maior proporção por triglicerídeos formados em maior quantidade por ácidos graxos insaturados.

A qualidade dos óleos, para produção de um biodiesel eficaz, é determinada pela quantidade e qualidade dos ácidos graxos insaturados que os compõem, por isso é importante conhecer sua composição.

A técnica mais utilizada para análise do perfil em ácidos graxos dos lipídios é a cromatografia gasosa (CG) (Lima e Abdalla, 2002).

Na cromatografia gasosa são utilizadas colunas capilares de 50 a 100 m de comprimento para que o número de pratos teóricos seja suficiente para promover resolução cromatográfica adequada para separar misturas complexas de ésteres metílicos de ácidos graxos, permitindo a aplicação da técnica analítica em análises de rotina em laboratórios de cromatografia (Ackman, 1972, Seppanen-Laakso et al., 2002).

A separação dos ésteres metílicos de ácidos graxos pode ser realizada em três diferentes tipos de coluna, com fase estacionária apolar, polar e muito polar (Christie, 1989), sendo mais utilizada as colunas de alta polaridade (quimicamente ligadas) devido a maior resistência mecânica da fase estacionária e maior estabilidade térmica, resultando no aumento do tempo de vida útil da coluna (Peene et al., 2003).

A cromatografia gasosa permite a identificação dos componentes da amostra através da comparação dos tempos de retenção dos compostos com aqueles obtidos através da injeção de padrões contendo as substâncias a serem analisadas.

Assim, o presente estudo teve por objetivo estabelecer os perfis de ácidos graxos por cromatografia gasosa do óleo de mamona.

MATERIAIS E MÉTODOS

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Esta pesquisa foi feita em laboratório, pois é um método de investigação que envolve a manipulação de tratamentos na tentativa de estabelecer relações de causa-efeito nas variáveis investigadas, além de contar com pesquisas bibliográficas para obtenção de informações que subsidiaram a análise e discussão dos resultados.

O óleo bruto da Mamona foi adquirido na empresa Cromoline Química Fina Ltda. As análises cromatográficas foram realizadas na empresa Eurofins do Brasil Análises de Alimentos Ltda, na cidade de Indaiatuba, SP. A mesma foi realizada pelo método da ISO 12966-2 und ISO 5508, que mostra o percentual de ácidos graxos presentes nos óleos por cromatografia gasosa.

A FIGURA 1 demostra um esquema cromatográfico onde a amostra é injetada numa câmara aquecida, onde se evapora antes de ser transferida para a coluna. Um gás sob-pressão, normalmente hidrogênio, hélio, nitrogênio ou argônio, transporta a amostra pela coluna. O fluxo de gás passa pela coluna empacotada através da qual os componentes da amostra se deslocam a velocidades influenciadas pelo grau de interação de cada componente com a fase estacionária não volátil. As substâncias que têm a maior interação com a fase estacionária são retidas por mais tempo e, por tanto, separadas daquelas de menor interação. À medida que as substâncias eluem da coluna, os vários componentes são enviados a um detector sensível que os quantifica.

Figura 1 – Esquema Cromatográfico

Fonte: ATKINS, 2001

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Onde:

1. Reservatório de Gás e Controle de Vazão/Pressão

2. Injetor (Vaporizador) da amostra.

3. Coluna Cromatográfica e Forno da Coluna

4. Detector

5. Eletrônica de tratamento (amplificador) de sinal.

6. Registro de sinal (Registrador ou Computador)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a cromatografia realizada, os ácidos graxos predominantes no óleo de mamona são os monoinsaturados (34,7) e poli-insaturados (45,2). A cromatografia gasosa além de mostrar a porcentagem dos ácidos saturados, trans, monoinsaturados e poli-insaturados, quantifica cada tipo de ácido graxo presente na amostra. No óleo de mamona, os principais ácidos encontrados de acordo com a TAB. 1 foram os ácidos palmítico (C 16:0), linoleico (C 18:2) e oleico (C 18:1-9).

Tabela 1 – Perfil dos ácidos graxos presentes no óleo de Mamona.

Ácido Composição (%) Óleo demamona

Ácido Mirístico C 14:0 -Ácido Palmítico C 16:0 9,9

Ácido Palmitoleico C 16:1 0,2Ácido Margárico C 17:0 0,2

Ácido Heptadecenóico C 17:1 -Ácido Esteárico C 18:0 8,3

Ácido Elaídico (trans) C 18:1 0,1Ácido Vacênico C 18:1-11 3,813-Ácido Oléico C 18:1-9 27,2Ácido linoleico C 18:2 38,4

Ácido linolênico 9,12,15 alfa C 18:3 6,4Ácido eicosanóico C 20:1 3,3

Ácido Eicosodienóico C 20:2 0,3

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Os ácidos graxos insaturados, principalmente o linoleico e oleico, são facilmente oxidados e polimerizados, o que pode causar um aumento da viscosidade do biodiesel, formando materiais insolúveis que podem entupir os filtros ou até corroer os componentes do sistema de injeção do combustível.

A presença de uma maior concentração de ácidos graxos saturados, como láurico, palmítico e esteárico, na amostra é vantajosa devido a dois fatores, que são: esses compostos tem alto número de cetano, o que promovem uma boa qualidade de combustão e eles são menos propensos à oxidação e polimerização que os insaturados. Entretanto, os ácidos graxos saturados apresentam uma tendência a cristalizar em temperaturas baixas, o que pode limitar o uso desses biocombustíveis em áreas de clima frio.

Os ácidos graxos saturados e poli-insaturados possuem alguns inconvenientes, o que acarreta algumas características indesejáveis no biodiesel produzido com essa matéria-prima, mas, se esses ácidos estiverem combinados, juntamente com os monoinsaturados, espera-se que o biodiesel obtido desse óleo apresente características relacionadas ao bom desempenho como combustível, como boa estabilidade oxidativa e boas propriedades de fluxo.

No óleo de mamona predomina praticamente um único ácido graxo, o ricinoléico, com as peculiaridades de apenas uma dupla ligação, conjugada com uma singela hidroxilação, o que torna o óleo mais viscoso, mais denso e de ponto de ebulição mais alto. Os ácidos graxos secundários são os ácidos oléico e linoléico, especiais para a biodieselização. Tais propriedades fazem do óleo de mamona objeto de diferentes aplicações industriais e de maior valor agregado. (FONTANA, 2011). A quantidade total de ácidos graxos insaturados, incluindo o ricinoléico, responde por cerca de 97% ou mais. Ácidos graxos saturados constam nas sementes, na concentração de 2,3 a 3,6%. Ocorre, também, uma notável correlação negativa entre a quantidade de ácido ricinoléico e o conteúdo de óleo das sementes (EMPRAPA, 2014).

CONCLUSÃO

Através da cromatografia gasosa realizada no óleo de Mamona nota-se que ele possue uma maior constituição de ácidos graxos insaturados, mas aliados com ácidos graxos saturados produzem um biodiesel com um bom desempenho como combustível. O óleo da mamona é singular na natureza, possuindo propriedades químicas e físicas únicas, por ter um ácido graxo peculiar, o ricinoleico, que tem mais oxigênio do que os demais, devido a ter uma hidroxila (OH) no carbono 12, além de ter uma dupla ligação estrategicamente posicionada no carbono 9 de sua cadeia de 18 carbonos. Estas particularidades permitem que o óleo da mamona seja o mais denso e viscoso de todos os óleos. Assim o óleo de mamona está numa faixa aceitável

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como matéria-prima para obtenção do biodiesel, não comprometendo a utilização do mesmo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pela bolsa de estudo e ao UNIFOR pelos recursos disponibilizados.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ackman, R. G. (1972). The analysis of fatty acids and related materials by gas-liquid chromatography. Progress in the Chemistry of Fats and Other Lipids, 167-269.

AMORIM, R.J. Análise do aumento da razão volumétrica de compressão de um motor flexível multicombustível visando melhoria de desempenho. Belo Horizonte: Dissertação de Mestrado, Engenharia Mecânica, UFMG, 2005

Christie, W. W. (1989). Gas chromatography and Lipids: A practical guide. Dundee: The oily Press Ltd.

FONTANA, J. D. Biodiesel: para leitores de 9 a 90 anos. Curitiba, PR: Editora UFPR, 2011.

GALVÃO. L.P.F.C. Avaliação termoanalítica da eficiência de antioxidantes na estabilidade oxidativa do biodiesel de mamona. 2007. 158 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007.

Lima, E. S.; Abdalla, D. S. P. (2002). High-performance liquid chromatography of fatty acids in biological samples. Analytica Chimica Acta, 465, 81-91.

SANTOS, Anne Gabriella Dias. Avaliação da estabilidade térmica e oxidativa do biodiesel de algodão, girassol, dendê e sebo bovino. 2010. 183 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, 2010.

Peene, J.; Zeeuw, J.; Biermans, F.; Joziasse, L. (2003). Disponível em: http://www.varianinc.com/image/vimage/docs/products/consum/gccolumns/select/shared/Pitt2003_300_8P_FAME.pdf. Acesso em: 04/07/2006.

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Seppanen-Laakso, T.; Laakso, I.; Hiltunen, R. (2002). Analysis of fatty acids by gas chromatography, and its relevance to research on health and nutrition. Analytica Chimica Acta, 465, 39-62.