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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Ciências Biomédicas Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas Caracterização diferencial das cardiomiopatias – Distribuição dos componentes da MEC (fibronectina, colágeno I e III ) e transglutaminase nas cardiomiopatias em humanos. Ana Patrícia Cabral de Lima Orientadora: Profa. Dra. Christina Maeda Takiya 2007 Ana Patrícia Cabral de Lima

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Ciências Biomédicas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas

Caracterização diferencial das cardiomiopatias – Distribuição dos componentes da MEC

(fibronectina, colágeno I e III ) e transglutaminase nas cardiomiopatias em humanos.

Ana Patrícia Cabral de Lima

Orientadora: Profa. Dra. Christina Maeda Takiya

2007 Ana Patrícia Cabral de Lima

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Caracterização diferencial das cardiomiopatias – Distribuição dos componentes da MEC

(fibronectina, colágeno I e III) e da transglutaminase nas cardiomiopatias em

humanos.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Morfológicas.

Orientador: Profª. Drª. Christina Maeda Takiya

Rio de Janeiro Fevereiro / 2007

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Caracterização diferencial das cardiomiopatias – Distribuição dos componentes da MEC( fibronectina,

colágeno I e III )e da transglutaminase nas cardiomiopatias em humanos.

Ana Patrícia Cabral de LIma

Orientador: Profa. Drª. Christina Maeda Takiya

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Morfológicas.

Examinadores:

__________________________________________ Prof. Dr. Claúdia Mermelstein – Departamento de Histologia e Embriologia-UFRJ _________________________________________ Prof. Dr. Evandro Tinoco Mesquita - UFF _________________________________________ Prof. Dr. Nazareth S. L. Meirelles – FIOCRUZ _________________________________________ Prof. Dr. Maria Eugênia Leite Duarte (Revisora e Membro suplente) Departamento de Histologia e Embriologia-UFRJ _________________________________________ Prof. Dr. Regina C. S. Goldenberg ( Membro suplente) Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho-UFRJ _________________________________________ Prof. Dr.Vivaldo Moura Neto - Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas-UFRJ

Rio de Janeiro Fevereiro / 2007

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Lima,Ana Patrícia Caracterização diferencial das cardiomiopatias – Distribuição dos componentes da MEC( fibronectina, colágeno I e III )e da transglutaminase nas cardiomiopatias em humanos / Ana Patrícia Cabral de Lima. Rio de Janeiro, 2007. 91 p. Dissertação – (Mestrado em Ciências Morfológicas) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Ciências Biomédicas, 2007. Orientador: Christina Maeda Takiya 1.Cardiomiopatia. 2. MEC 3. Transglutaminase. – Teses. I. Takiya, Christina Maeda (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pós-Graduação em Ciências Morfológicas. III. Título.

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À Regina, minha mãe.

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AGRADECIMENTOS

____________________________

A Deus, não só por ter estado ao meu lado como também por ter me carregado em seus braços em muitos momentos de minha vida.

À Minha família ( Regina, Fernando, Cristina, Francisco, Lenilde, Clara e Lívia) pelo amor, credibilidade e suporte ao longo de toda minha vida.

À Professora Christina Takiya, minha orientadora e responsável pelo meu conhecimento científico e por ter me acolhido em seu laboratório. Ao Professor Radovan Borojevic por ter recebido no laboratório.

Aos amigos Priscila Frazão, Isabella de Assis, Bernardo Oliveira Pascarelli, Leonardo Monção, Vivian Y. Samoto, Aline Cavaliere e Leandro Miranda por toda a ajuda, paciência e pelo enorme carinho oferecido a mim durante esses anos.

Á Professora e amiga Maria Eugênia Leite Duarte, não só pela revisão deste trabalho, como também pela dedicação e carinho nestas últimas semanas.

Aos amigos Cecília Vianna, Luciana Freitas, Fabiana , Fernanda, Cláudio Monteiro, Cristiane, Auxiliadora , Eliane Pedra, Maisa, Claudia e Rita Lauria por todo o apoio e incentivo.

Aos colegas de laboratório Túlio, Silvana, Guilherme, Daniel, Leonardo, Luciene, Lorena, Edna, Michel, Alex que compartilharam comigo meus momentos de alegria e tristeza.

Ao professor Luis Eurico Nasciutti por toda a ajuda e compreensão a mim dedicada neste trabalho.

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RESUMO

As cardiomiopatias compreendem um grupo de doenças cujo diagnóstico é

inespecífico e seu prognóstico é, predominantemente, baseado na clínica

dos pacientes e secundariamente nas alterações morfológicas do tecido

cardíaco. Nosso estudo verificou a distribuição diferencial dos elementos da

matriz extracelular (fibronectina e colágenos I e III) e da transglutaminase

(tTG) em biópsias de pacientes com cardiomiopatias dilatada (n=4) e

inflamatória (n=3), comparando-as com casos de miocardite (n=10), e com

um grupo controle (n=4) de pacientes sem doenças cardíacas. Sendo

utilizado o Picro Sírius Red para a identificação do colágeno, e a técnica de

imunoperoxidase para a identificação dos componentes da matriz e

transglutaminase. Foi observada maior reatividade para a transglutaminase

acompanhando a fibronectina no grupo das miocardites, seguida pelo grupo

das cardiomiopatias e pelo grupo controle (p<0,05). O colágeno total foi

maior no grupo das cardiomiopatias em relação ao grupo das miocardites

(p<0,05), com predominância do colágeno III. Não houve diferenças

significativas na distribuição e quantidade destes componentes entre os

grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória. A presença de maiores

quantidades de tTG e a fibronectina nos casos de miocardite seguido pela

cardiomiopatia, reflete sua íntima ligação e confirma seu papel no processo

inflamatório e fibrose.

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ABSTRACT

Cardiomyopathy encompasses a group of diseases wich the diagnosis is

unspecific and the prognosis is mainly based on the clinical picture and in a

second instance on the morphological changes from the myocardial tissue.

In this study we aimed to verify the differential distribution of ECM

elements (fibronectin, types I and III collagen) and transglutaminase (tTG)

in endomyocardial biopsies from patients with dilated (n=4) and

inflammatory (n=3) cardiomyopathy. We also compare these findings with

myocarditis cases (n=10) and a control group (n=4)with normal heart

function. Histological sections were stained with Picro Sírius Red for

collagen detection and were immunostained for transglutaminase and ECM

components. It was observed a major reactivity for transglutaminase and for

fibronectin in the myocarditis group, followed by the cardiomyopathy and

control group (p<0,05) respectively. The amount of total collagen was

increased in the cardiomyopathy group in comparison with the myocarditis

group (p<0,05) due to an increase in type III collagen. Also, we didn’t

observe significant differences in the distribution and in the amount of these

components between the groups of dilated and inflammatory

cardiomyopathy. The presence of high amounts of tTG and fibronectin in

the myocarditis reflect their close connection and ensure their roles in the

inflammatory process and fibrosis.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E DE TABELAS Figura 1- Representação anatômica e histológica do coração normal ........................05 Figura 2- Células e fibras presentes na matriz extracelular intersticial.....................17 Figura 3- Distribuição estrutural de fibras colágenas................................................24 Figura 4- Prancha da apresentação histológica através da técnica de Hematoxilina-Eosina dos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia ..............................................50 Figura 5- Prancha da identificação do colágeno total através da técnica de Picro Sírius Red nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia...................................................52 Figura 6- Prancha da reatividade do anticorpo anti-HLA-DR nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia............................................................................................54 Figura 7- Prancha da reatividade do anticorpo anti-transglutaminase nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.............................................................................56 Figura 8- Prancha da reatividade do anticorpo anti-fibronectina nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia............................................................................................58 Figura 9- Prancha da reatividade do anticorpo anti-colágeno I nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia............................................................................................60 Figura 10- Prancha da reatividade do anticorpo anti-colágeno III nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia............................................................................................62 Figura 11- Gráfico da distribuição da transglutaminase nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia............................................................................................64 Figura 12- Gráfico da distribuição do colágeno I nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.................................................................................................................64 Figura 13- Gráfico da distribuição do colágeno III nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.................................................................................................................65 Figura 14- Gráfico da distribuição da fibronectina nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.................................................................................................................65 Figura 15- Gráfico da distribuição da transglutaminase nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................66 Figura 16- Gráfico da distribuição do colágeno I nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................66 Figura 17- Gráfico da distribuição do colágeno III nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................67 Figura 18- Gráfico da distribuição da fibronectina nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................67 Figura 19- Gráfico da concentração do colágeno total nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia..............................................................................................................68 Figura 20- Gráfico da concentração do colágeno I nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.................................................................................................................69 Figura 21- Gráfico da concentração da colágeno III nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.................................................................................................................70 Figura 22- Gráfico da concentração da transglutaminase nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia...........................................................................................71 Figura 23- Gráfico da concentração da fibronectina nos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia.................................................................................................................72 Figura 24- Gráfico da concentração da transglutaminase nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................73

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Figura 25- Gráfico da concentração da fibronectina nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................74 Figura 26- Gráfico da concentração do colágeno total nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................74 Figura 27- Gráfico da concentração do colágeno I nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................75 Figura 28- Gráfico da concentração do colágeno III nos grupos de cardiomiopatia dilatada e inflamatória.....................................................................................................75 Tabela 1- Classificação de Dallas para a miocardite...................................................10 Tabela 2- Características dos anticorpos utilizados ....................................................44 .

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SUMÁRIO

1- Introdução ......................................................................................01 2- Revisão da literatura.......................................................................03 2.1- Anatomia e histologia do coração.........................................03 2.2- Miocardite e cardiomiopatia .................................................05 2.2.1- Miocardite .......................................................................05 2.2.2- A imunidade na miocardite.............................................07 2.2.3- Aspectos morfológicos na miocardite ............................11 2.2.4- Cardiomiopatias ..............................................................12 2.2.5- Aspectos morfológicos da CMD ....................................14 2.3- Cardiomiopatia secundária à miocardite ...............................15 2.4- A matriz extracelular .............................................................17 2.4.1- A MEC e seus principais componentes no sistema cardiovascular .....................................................................................18 2.4.2- A MEC na reação inflamatória e na remodulação cardiovascular......................................................................................21 2.5- Colágenos tipo I e tipo III .......................................................23 2.5.1- Estrutura............................................................................23 2.5.2- Secreção ............................................................................24 2.5.3- O colágeno e o coração.....................................................26 2.5.4- O colágeno nas cardiopatias .............................................27 2.6- Fibronectina ............................................................................28 2.6.1- Fibronectina nas cardiopatias ...........................................30 2.7- Transglutaminase tecidual ......................................................31 2.7.1- A tTG na resposta inflamatória ........................................33 2.7.2- A tTG na cicatrização .......................................................34 2.7.3- Interação MMPs e tTG na cicatrização ............................35 2.7.4- A tTG e o tecido cardíaco .................................................36 3- Objetivos ........................................................................................38 4- Material e métodos........................................................................39 4.1- Obtenção das amostras de miocárdio .....................................39 4.2- Processamento das amostras...................................................40 4.3- Analise histopatológica...........................................................40 4.4- Imunohistoquímica .................................................................42 4.4.1- Protocolo ..............................................................................42 4.5- Análise descritiva da distribuição das proteínas transglutaminase, fibronectina, colágenos tipos I e III.....................................................45 4.6- Histomorfometria....................................................................45 4.7- Análise estatística ..................................................................45 5- Resultados ......................................................................................46 5.1- Análise histopatólogica...........................................................46 5.2- Análise qualitativa da imuno-marcação..................................47

5.2.1- HLA-DR...........................................................................47

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5.2.2- Proteínas da matriz e transglutaminase............................47 5.3- Estudo histomorfométrico.......................................................68 6- Discussão........................................................................................76 7- Conclusões .....................................................................................84 8- Perspectivas....................................................................................85 Referências bibliográficas ...................................................................86

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LISTA DE ABREVIAÇÕES 1 - ANOVA ............................................................Análise de variância 2 - CMD............................................................Cardiomiopatia dilatada 3 - CM.............................................................................Cardiomiopatia 4 - CTRL................................................................................... Controle 5 - DP............................................................................... Desvio padrão 6 - ECM ....................................................................Matriz extracelular 7 - HE.................................................................... Hematoxilina-Eosina 8 - HLA-DR.............................Antígeno leucocitário humano região D 9 - IL-1.............................................................................. Interleucina 1 10 - IL-2 ........................................................................... Interleucina 2 11 - MEC ..................................................................Matriz extracelular 12 - MHC..............................Complexo de histocompatibilidade maior 13 - MIOC .............................................................................Miocardite 14 - MMP ....................................................................Metaloproteinase 15 - mRNA ........................................... Ácido ribonucléico mensageiro 16 - OMS ............................................... Organização mundial de saúde 17 - OP............................................................................... Osteopontina 18 - TGF-β..........................................Fator de crescimento tumoral - β 19 - TIMP ....................................Inibidor tecidual de metaloproteinase 20 - TNF- α .................................................... Fator de necrose tumoral 21 - tTG ........................................................ Transglutaminase tecidual

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1- INTRODUÇÃO:

Mesmo nos dias atuais ainda existe uma grande dificuldade no

diagnóstico da miocardite, principalmente a de origem viral. Pela

inexistência de métodos moleculares para uso clínico, o diagnóstico é feito

por exclusão com outras causas de miocardites. Além disso, mesmo com a

realização de biópsias endomiocárdicas com fins diagnósticos, as análises

destas nem sempre são conclusivas pelo fato das miocardites serem lesões

multifocais, nem sempre representadas nos fragmentos examinados. Soma-

se a isto o fato de que o diagnóstico histopatológico deste tipo de material é

bastante subjetivo mesmo com a utilização de critérios já consagrados como

a classificação de Dallas. A associação de métodos imunohistoquímicos que

visam verificar a distribuição de proteínas do complexo de

histocompatibilidade maior do tipo II como o HLA-DR, tem servido como

adjuvante na caracterização da ativação celular inflamatória e de

autoimunidade (WOJNICZ e cols., 1998).

Estudos experimentais levam a crer que a miocardite inflamatória ou

não, pode se apresentar ou evoluir para uma cardiomiopatia crônica.

Pretendemos com o presente trabalho verificar tanto do ponto de vista

qualitativo como quantitativo a presença e distribuição dos componentes da

matriz extracelular cardíaca (fibronectina, colágenos tipo I e tipo III) e da

transglutaminase tecidual. Estas proteínas foram selecionadas por

desempenhar um papel importante na cicatrização pós-inflamatória e

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conseqüente fibrose que se estabelece na miocardite e cardiomiopatias,

caracterizando o perfil de cada uma delas.

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2- REVISÃO DE LITERATURA 2.1 - Anatomia e histologia do coração

O coração normal pesa aproximandamente 250 a 350g, com

espessura da parede livre do ventrículo esquerdo com 1,3 a 1,5 cm

(KUMAR e cols., 2005). Ele é constituído por quatro câmaras, os átrios

direito e esquerdo e ventrículos direito e esquerdo, através das quais o

sangue é bombeado. A saída das câmaras é guardada pelas valvas cardíacas

e os septos interatrial e interventricular separam o lado direito do lado

esquerdo do coração. O átrio direito recebe o sangue proveniente da

circulação através das veias cavas superior e inferior. O ventrículo direito

recebe o sangue do átrio direito e o envia para os pulmões. O átrio esquerdo

recebe o sangue proveniente dos pulmões através das veias pulmonares e o

ventrículo esquerdo recebe o sangue do átrio esquerdo e o envia para a aorta

(Figura 1A).

A parede cardíaca é constituída pelo músculo cardíaco, esqueleto

fibroso e um sistema de impulso-condução, sendo dividida em três camadas.

A camada mais externa é denominada epicárdio e é constituída por células

mesoteliais sobrepostas ao tecido conjuntivo. Nesta camada se encontram os

vasos sangüíneos e nervos, que são circundados por tecido adiposo. O

miocárdio representa a camada intermediária e é constituído pelo músculo

cardíaco, que representa o principal componente do coração. A terceira

camada é representada pelo endocárdio e é constituída por endotélio e

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tecido conjuntivo subendotelial, uma camada média de tecido conjuntivo e

células musculares lisas e uma camada mais profunda de tecido conjuntivo,

contínua com o tecido conjuntivo do miocárdio. As valvas são estruturas

vasculares composta de tecido conjuntivo com endocárdio suprajacente

(ROSS e cols., 2005).

O miocárdio, que representa o principal componente do coração, é

composto por feixes de células musculares estriadas, os chamados

cardiomiócitos. Estes exibem cinco componentes principais: membrana

celular (sarcolema) e túbulos; retículo sarcoplasmático; elementos

contráteis; mitocôndrias e núcleo. A integração funcional dos

cardiomiócitos é feita através dos discos intercalares, estruturas que ligam

as células entre si através de junções intercelulares especializadas que

permitem o acoplamento mecânico e iônico (KUMAR e cols., 2005) (Figura

1B).

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2.2- Miocardite e cardiomiopatia

2.2.1- Miocardite

A doença cardíaca é a causa mais prevalente de morbidade e

mortalidade em países ricos (PENNINGER e cols., 2000). A miocardite,

definida como um processo inflamatório do miocárdio, que resulta no dano

dos cardiomiócitos (KUMAR e cols., 2005), nos últimos anos tem

despertado grande interesse dentre as cardiopatias, principalmente quanto a

sua terapêutica. Entretanto, para definição de um tratamento adequado, é

necessário que a patogênese seja bem definida e é, neste ponto, que se

Figura 1. (A) Representação anatômica do coração através de um corte coronal expondo suas câmaras e vasos principais. (B) Fotomicrografia de um corte longitudinal do miocárdio. Observar as fibras musculares (seta), o núcleo central (N) e discos intercalares (I). (Figuras retiradas do site www.corpohumano.hpg.tg.com.br (A) e página starklab.slu.edu/physio/circulation.htm (B)).

A B

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encontra um dos maiores obstáculos, devido à existência de pontos obscuros

na sua fisiopatologia.

A miocardite é uma doença insidiosa, em geral assintomática, onde

informações importantes sobre sua epidemiologia são dadas através de

estudos de necrópsias (FELDMAN e McNAMARA, 2000). Ela está

relacionada predominantemente a infecções, embora possa ocorrer devido a

reações alérgicas e doenças sistêmicas. Nas infecções o agente biológico

causaria o dano no coração segundo uma seqüência de eventos: invasão do

miocárdio, produção de toxinas e lesão mediada imunologicamente.

Acredita-se que esta última etapa seja o principal mecanismo, pois já foi

observado que a disfunção cardíaca por vezes aumenta após a erradicação

do agente que iniciou o processo (BRAWNWALD, 1992). Entretanto, a

resposta imune específica que leva ao dano miocárdico, não está

completamente definida (FUSTER e cols., 2001).

A seqüência de eventos e as bases moleculares da patogenia da

miocardite foram definidas em modelos murinos, utilizando na maioria

desses estudos o citomegalovirus B3. Os resultados mostraram que o

aparecimento da doença depende do painel genético, da idade e do sexo do

hospedeiro, do estado imunológico e nutricional e da resposta imunológica

(inata) à infecção (COOPER, 2003).

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2.2.2-A imunidade na miocardite

A evidência de que a auto-imunidade ocorre em muitas miocardites é

forte, e isto implica num número relativo de auto-antígenos, como miosina e

actina cardíaca, moléculas da membrana de células endoteliais, laminina e

glicoproteínas da matriz extracelular. O mimetismo molecular entre

moléculas do hospedeiro e dos agentes infecciosos contribui para o processo

patológico e pode ser dominante em alguns pacientes. O começo da

infecção pode ser por um processo de auto-sensibilização, através da

liberação de antígenos armazenados no coração. Por sua vez, este

mecanismo estimularia o reconhecimento de vírus e auto-antígenos por

células dendríticas, e posteriormente promoveria a apresentação do antígeno

no tecido linfóide secundário (COOPER, 2003). As células dendríticas

desempenham um papel importante nas miocardites auto-imunes, iniciando

e provocando a inflamação (YOKOYAMA, 2000). Entretanto, a maioria

desses estudos foram realizados em miocárdio de ratos, não tendo ficado

esclarecido se as células dendríticas são tão importantes na resposta imune

humana como nos roedores.

As células dendríticas são originadas na medula óssea e expressam

moléculas de complexo de histocompatibilidade maior (MHC) classe II,

sendo as células apresentadoras de antígenos mais potentes e as únicas

capazes de estimular as células T naive. Existem vários subtipos de células

dendríticas, mas dois tipos são bem reconhecidos até o presente momento:

uma subpopulação derivada da linhagem mielóide e outra da linhagem

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linfóide, podendo se apresentar sob as formas madura e imatura. A forma

imatura captura de forma eficiente antígenos, mas tem capacidade de

processamento e de apresentação deficientes. Durante o processo de

maturação, desencadeado por um sinal inflamatório por patógenos ou por

dano tecidual, ela sofre alterações que a torna eficiente na apresentação de

antígenos capturados durante sua ativação, permanecendo inativa para o

processamento de antígenos encontrados posteriormente. No entanto os

mecanismos que levam a essas alterações são controversos (WILSON e

cols., 2003). Sabe-se que as células apresentadoras de antígeno no

miocárdio são o alvo principal das células T auto-reativas durante a fase

inicial da doença cardíaca auto-imune. Além disso, o aumento da expressão

do MHC classe II nas células intersticiais cardíacas precede a infiltração

celular de linfócitos T, com importantes conseqüências na patogênese da

reposta auto-imune no miocárdio (PENNINGER e BACHMAIER, 2000) .

A identificação das células dendríticas no coração é extremamente

difícil com a aplicação dos métodos de rotina. Mesmo com técnicas de

imunohistoquímica não é possível caracterizar este tipo celular em material

pós-fixado em formaldeído. Além disso, ainda não há um consenso quanto

aos marcadores ideais para serem utilizados em biópsias endomiocárdicas

humanas (BENVENUTI e cols,. 2000). Aparentemente a morfologia das

células dendríticas cardíacas é um pouco diferente das demais, assim como

sua marcação imunohistoquímica, variando inclusive dentro das fases aguda

e subaguda da miocardite (YOKOYAMA, 2000).

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WOJNICK e cols. (1998), baseados no fato da expressão do

complexo de histocompatibilidade maior (MHC) ser evidente em biópsias

endomiocárdicas de pacientes com suspeita clínica de miocardite,

realizaram um estudo que visava caracterizar nestes pacientes o aumento da

expressão do MHC classe I (HLA-ABC) e classe II (HLA-DR). A hipótese

para o estudo se baseou no fato das células dendríticas e endoteliais serem

reconhecidas por exibir no coração normal marcação mais intensa para

MHC e pelo fato da sua expressão estar aumentada nos pacientes com

miocardite e cardiomiopatia inflamatória. Na avaliação imunohistoquímica

da expressão do MHC classe I e classe II, utilizando como marcadores os

anticorpos HLA-ABC e HLA-DR, foi estabelecido um sistema de avaliação

semiquantitativo (0 a 4+) para a avaliar a expressão dos antígenos. O score

0 correspondia a ausência de marcação ou marcação fraca de células

endoteliais e intersticiais e o score 4+ correspondia a marcação difusa de

células endoteliais e de miócitos. Neste estudo os graus de expressão 3+ e

4+ foram considerados como tendo uma inflamação mediada

imunologicamente. Atualmente, o critério de avaliação mais utilizado nas

biópsias endomiocárdicas, com suspeita de miocardite, é o critério de Dallas

(ARETZ, 1987), Tabela 1.

Nesta classificação é feita uma avaliação subjetiva de uma primeira

biópsia e posteriormente de biópsias subseqüentes levando em consideração

a presença de infiltrado inflamatório descrito como leve, moderado ou

severo, e ainda focal, confluente ou difuso, do dano ao cardiomiócito

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xxiii

(miocitólise) relacionado ao infiltrado inflamatório e da fibrose, que quando

presente deve ser descrita como intersticial, endocárdica ou de substituição

e também como leve, moderada e severa. A identificação e quantificação de

células inflamatórias no interstício cardíaco, assim como a identificação de

focos de miocitólise são altamente dependentes da experiência do

observador. Alem disso a lesão tem ainda um caráter multifocal, o que faz

com que esta classificação seja considerada de baixa sensibilidade e alta

variabilidade diagnóstica, levando a necessidade de se estabelecer uma

forma de avaliação mais precisa.

Tabela 1: Classificação de Dallas (ARETZ, 1987)

Critérios Miocardite Miocardite Borderline

Ausência de Miocardite

Miocitólise Presente Ausente Ausente

Infiltrado inflamatório

Linfocitário presente

Linfocitário Esparso

Ausente

Fibrose Presente ou não

Presente ou não

Presente ou não

Ao contrário da investigação histológica, os marcadores imunológicos da

inflamação, como por exemplo o HLA-DR, estão amplamente distribuídos

no miocárdio. A utilização deste marcador possivelmente reduziria a

margem de erro e justificaria o seu uso como método adjuvante para a

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xxiv

caracterização do processo inflamatório no miocárdio (WOJNICK e cols.,

1998).

2.2.3- Aspectos morfológicos da miocardite

O curso clínico dos pacientes com miocardite é extremamente

variável e depende da extensão do envolvimento miocárdico (WINTERS e

cols.,2001). LIEBERMAN e cols. (1993) propuseram uma classificação

clínica na qual são identificados quatro subgrupos distintos de miocardite:

fulminante, aguda, crônica ativa e crônica persistente.

Na fase aguda, o aspecto macroscópico pode ser normal mas em geral

o coração está globalmente aumentado de volume e com dilatação de todas

as câmaras, principalmente dos ventrículos. As lesões nesta fase podem ser

difusas ou focais. O miocárdio dos ventrículos é flácido e permeado por

focos pálidos ou por diminutas lesões hemorrágicas. Trombos murais

podem ser encontrados, sobretudo no ápice dos ventrículos e nas aurículas

(KUMAR e cols., 2005).

O aspecto histológico varia segundo o agente etiológico, sendo

comum a presença de células inflamatórias mononucleares, tais como

monócitos, macrófagos e granulócitos, e degeneração ou necrose das

células, que tem aspecto diferente da lesão isquêmica ou miocitólise. Este

tipo de lesão tem, em geral distribuição focal, o que explica a negatividade

da biópsia endomiocárdica, mesmo em casos de doença ativa. A miocardite

aguda pode se curar sem deixar seqüelas ou resultar em focos de fibrose

(BOGLIOLO, 2000; CHEUNG e cols., 2006).

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xxv

2.2.4-Cardiomiopatias

As cardiomiopatias constituem um grupo heterogêneo de doenças,

que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) são definidas hoje em

dia como doenças primárias do miocárdio associadas com disfunção

cardíaca (THIENE e cols., 2005). Elas são classificadas com base nos

aspectos fisiopatológicos e hemodinâmicos ou, quando possível, pelos

fatores etiopatogenéticos em: cardiomiopatia dilatada (congestiva),

cardiomiopatia hipertrófica, cardiomiopatia restritiva, arritmogênica do

ventrículo direito, não classificadas e específicas também denominadas

secundárias (RICHARDSON e cols., 1996). Entretanto BARRY e cols

(2006) propuseram um nova classificação que divide as cardiomiopatias em

dois grandes grupos: primárias (genéticas, não genéticas e adquiridas) e

secundárias (infiltrativa, de acúmulo, por toxicidade, endócrina, e

neuromuscular entre outras). Esta classificação segue uma orientação

basicamente genética e molecular, não sendo ainda amplamente utilizada.

O diagnóstico da cardiomiopatia dilatada (CMD) é inespecífico,

podendo se associar com aumento do volume cardíaco, sintomas e sinais de

insuficiência cardíaca congestiva e disfunção sistólica. O aspecto

dominante, dilatação de um ou de ambos os ventrículos pode ter diversas

causas, e este aspecto de dilatação bi-ventricular pode representar o estágio

final da doença, com conseqüente insuficiência cardíaca (CHEITLIN e

cols., 1996). Clinicamente, em 50% dos pacientes com insuficiência

cardíaca de etiologia desconhecida, não será demonstrada nenhuma causa

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específica após a investigação, inclusive biópsia endomiocárdica. Nos 50%

restantes a investigação clínica revelará outros agentes, tornando adequado

o uso desta terminologia de forma ampla. Em geral a doença acomete

prioritariamente homens (3:1), negros entre 20 e 60 anos. O principal

critério diagnóstico é a fração de ejeção menor que 45% - 55% e dilatação

ventricular. Os sintomas mais comuns são dispnéia e fadiga relacionadas à

insuficiência cardíaca. O prognóstico é variável, mas existe uma taxa de

sobrevida em 5 anos de cerca de 35% e em 10 anos de 15% (VIRMANI e

cols., 2001).

Segundo a OMS, dentro das cardiomiopatias específicas o termo

cardiomiopatia inflamatória está relacionado aos casos de miocardite

associada à disfunção cardíaca (THIENE e cols., 2005; MAISCH e cols.,

2005; RICHARDSON e cols., 1996). Entretanto, PAUSCHINGER e

colaboradores (1998) demonstraram que em metade dos pacientes com o

diagnóstico clínico de CMD foi evidenciado aumento no número de

linfócitos e macrófagos no intersticio cardíaco, sendo que nenhum deles

exibia miocardite aguda ou lesão borderline, segundo o critério de Dallas.

Por essa razão esses pacientes foram classificados como portadores de

cardiomiopatia inflamatória. Nos demais pacientes, com exame

histopatólogico negativo para inflamação, o diagnóstico foi de

cardiomiopatia dilatada idiopática.

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2.2.5- Aspectos morfológicos da CMD

O coração está aumentado de volume, pesando em torno 500-600g,

tem forma globosa e geralmente se encontra livre no saco pericárdico, que

pode conter quantidade aumentada de líquido. O achado dominante é a

dilatação das quatro câmaras, principalmente do ventrículo esquerdo, que

pode estar acompanhada de certo grau de hipertrofia. Em alguns casos, em

virtude da grande dilatação das cavidades, a espessura da parede está

diminuída podendo ser observadas também finas traves de fibrose

miocárdica. Os trombos murais são freqüentes especialmente no ápice dos

ventrículos, e pode haver ainda a formação de placas fibrosas endocárdicas

pós-cicatriciais e espessamento discreto das cúspides, sem fusão das

comissuras (BOGLIOLO, 2000). As artérias coronárias podem apresentar

até 75% de obstrução da luz. Histologicamente as alterações são

inespecíficas e pouco esclarecedoras consistindo-se de hipertrofia / atrofia

do cardiomiócito e fibrose intersticial em graus variáveis (VIRMANI e

cols., 2001). As fibras cardíacas exibem distribuição com arranjo

predominantemente regular podendo estar alongadas em função da dilatação

ventricular e apresentar diferentes graus de hipertrofia, caracterizada por

núcleos volumosos e hipercromáticos. Além dessas alterações a fibra pode

apresentar degeneração, hipotrofia, necrose ou apoptose focal. O infiltrado

intersticial é variável, constituído principalmente por macrófagos e

linfócitos e não está em contato com os cardiomiócitos (BOGLIOLO, 2000;

VASILJEVIC e cols., 1990).

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A fibrose é tipicamente intersticial podendo haver ainda fibrose de

substituição e perda de miócitos, e ela tende a aumentar do epicárdio para o

endocárdio, sendo maior no lado esquerdo do septo ventricular. A fibrose da

cardiomiopatia está associada com aumento seletivo do colágeno tipo I

(MANABE e cols., 2002; VIRMANI e cols., 2001).

2.3 Cardiomiopatia secundária à miocardite

Estudos experimentais demonstraram a possível evolução de

miocardite para um quadro caracterizado por fibrose intersticial e hipertrofia

do cardiomiócito, na ausência de inflamação miocárdica ou de miocitólise

(NEUMANN e cols., 1993). Existem indícios de que a cardiomiopatia

dilatada está relacionada com um episódio prévio de miocardite viral uma

vez que a sua prevalência na população geral é de 0,005% e nos pacientes

com história de miocardite viral é entre 4% e 9%. Esta possibilidade é

confirmada através da detecção por hibridização in situ, em 18-50% dos

pacientes, do RNA específico de enterovírus nas células miocárdicas

(CHEITLIN e cols., 1996), pela detecção por imunofluorescência do

antígeno viral (VASILJEVIC e cols., 1990) ou pela identificação por PCR

do RNA viral em lesões experimentais em camundongo, 90 dias após a

inoculação do vírus (KAVAI, 1999).

No caso da cardiomiopatia dilatada é improvável que esta seja

secundária à miocardite crônica. Provavelmente ela se origina de alterações

deflagradas pela miocardite viral (CHEITLIN e cols., 1996). A miocardite

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xxix

induzida pelo vírus coxsackie B3 leva a alterações progressivas no

interstício cardíaco sugerindo que o processo autoimune possa contribuir

para a lesão do tecido conjuntivo (NEUMANN e cols., 1993). Alterações

tanto da imunidade celular quanto da imunidade humoral, em pacientes com

cardiomiopatia, confirmam o mecanismo imunológico como a base da lesão

(CHEITLIN e cols., 1996 ).

Algumas citocinas como o fator de necrose tumoral e interleucina-1

são capazes de regular a síntese e degradação do colágeno tendo sido

sugerido por alguns autores que a secreção local dessas citocinas no

miocárdio poderia contribuir para a seqüela auto-imune da miocardite viral

e também para alterações fibróticas associadas à cardiomiopatia

(NEUMANN e cols., 1993).

SPOTNITZ e LESCH (2006) propõem que a CMD seja uma

complicação da miocardite viral, já que componentes do genoma viral

infectante permanecem hibernados no miocárdio. Estes, quando ativados

codificam ou re-expressam enzimas intracelulares capazes de alterar a

função de proteínas do citoesqueleto. Assim, a disfunção dessas proteínas,

por um mecanismo de modificação pós-traducional resultante de processos

bioquímicos intracelulares específicos, se iniciam em resposta à ativação do

material genético hibernado. Além disso, deve-se levar em conta a

variabilidade genética do hospedeiro em relação à sua suscetibilidade à

persistência do genoma viral hibernante no miocárdio. Isto explicaria por

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xxx

que apenas alguns pacientes com miocardite viral desenvolvem CMD

(SPOTNITZ e LESCH, 2006).

2.4 – A matriz extracelular

Uma porção substancial dos tecidos é constituída pelo espaço

extracelular, que é preenchido por uma rede de macromoléculas

denominada matriz extracelular (MEC). Esta MEC é constituída por uma

variedade de proteínas fibrosas e polissacarídeos, secretados localmente e

que se apresentam em associação com a superfície das células que os

produzem (ALBERTS e cols., 2002) (Figura 2). A MEC modula a estrutura,

fisiologia e a biomecânica dos tecidos em conjunto com os fatores de

crescimento e seus respectivos receptores, contribuindo assim para o

crescimento e diferenciação celular (CORDA e cols., 2000).

Figura 2. Células e fibras presentes na Matriz Extracelular Intersticial. Figura retirada da página www.histocitologia.com.br .

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2.4.1 - A MEC e seus principais componentes no sistema cardiovascular O interstício cardíaco é constituído por um sistema de componentes

diversos da MEC, organizados em uma rede tridimensional que circunda e

fornece suporte aos componentes celulares. A interação dos componentes

celulares com o interstício é dinâmica e ocorre em resposta a sinais

fisiológicos durante o desenvolvimento, homeostase normal e em estados

patológicos (KANEKAIR e cols., 1998).

A MEC cardíaca é constituída principalmente por proteínas

estruturais, como o colágeno e elastina; proteínas adesivas, como a

laminina, fibronectina e colágeno tipo IV; proteínas anti-adesivas, como

tenascina, trombospondina e osteopontina e proteoglicanos. O colágeno e

as proteínas de adesão se ligam a membrana celular através de uma família

de receptores transmembranares, denominadas integrinas. A interação entre

as proteínas de adesão e os receptores de membrana celular asseguram uma

comunicação entre os microambientes extracelular e intracelular. Os

proteoglicanos contribuem para a arquitetura da MEC, ligando fatores de

crescimento e promovendo o remodelamento tecidual e a migração celular

(CORDA e cols., 2000).

Os fibroblastos e as células musculares lisas produzem e liberam

colágeno tipo I e III e fibronectina, sendo que os fibroblastos são os

principais responsáveis pela produção dos colágenos tipo I e III, que vão

conectar os componentes celulares do coração. Miócitos e células

endoteliais produzem colágeno tipo IV. Já a laminina é produzida por

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células musculares lisas, cardiomiócitos e células endoteliais (KANEKAIR

e cols., 1998).

O colágeno é a proteína mais abundante dentre as proteínas

estruturais presentes no interstício cardíaco. A manutenção da estrutura

tecidual e a prevenção da deformação dos vasos sanguíneos é exercida pelos

colágenos tipos I e III, que representam mais de 90% do colágeno total

(CORDA e cols., 2000). Em estados fisiológicos, o turnover do colágeno na

MEC é de 5% a 9%, e sua síntese é mais lenta do que a síntese de proteínas

não colágenas. Já os colágenos tipos IV e VI são componentes da lâmina

basal, que expressam moléculas que permitem a interação com receptores

de membrana tais como integrina (RUTSCHOW e cols., 2005).

A fibronectina é uma glicoproteína extracelular de adesão, encontrada

sob a forma solúvel, sintetizada pelos hepatócitos e presente na circulação

sanguínea. A forma insolúvel, secretada no compartimento extracelular do

coração está associada à lâmina basal e componentes da matriz extracelular.

A osteopontina (OP) é um dos componentes não adesivos da MEC,

que se liga ao cálcio originando um complexo com os colágenos tipo I, II,

III e IV e integrinas além de induzir a síntese de proteínas da MEC por

fibroblastos, participando, assim, da fibrose. A OP, sintetizada por

fibroblastos e células musculares lisas, participa da adesão celular, controle

do crescimento e migração celulares (CORDA e cols., 2000). Algumas

destas células, como o fibroblasto, parecem responder também ao aumento

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de contração (pressão), sintetizando e depositando elementos da MEC,

como o colágeno (KANEKAIR e cols., 1998).

Estudos recentes sugerem que as células intersticiais cardíacas

produzem fatores de crescimento que influenciam o desenvolvimento e o

crescimento de cardiomiócitos imaturos. Esses fatores atuam como

provedores dos sinais de diferenciação e agem nas células produzindo uma

variedade de reações incluindo migração e adesão celular, síntese de

colágeno, produção de metaloproteinases e expressão de integrinas

(KANEKAIR e cols., 1998).

As metaloproteases da matriz (MMPs) constituem uma família de

proteínas que participam tanto do remodelamento tecidual normal quanto

patológico. Também atuam como moléculas reguladoras, funcionando como

enzimas e, através do processamento de proteínas da MEC, citocinas e

fatores de crescimento produzem moléculas com diferentes efeitos

biológicos. Elas são responsáveis pela clivagem dos colágenos assim como

degradação de outras moléculas como a fibronectina. A maioria das MMPs

são enzimas secretadas sob a forma inativa, que atuam após ativação no

meio extracelular (CORDA e cols., 2000).

A constituição da MEC cardíaca sofre alterações tanto durante o

desenvolvimento normal como na resposta a determinadas doenças,

resultando em alterações da forma das células cardíacas e,

conseqüentemente, na sua função. Manipulações da MEC afetam a

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xxxiv

expressão dos colágenos, integrinas e MMPs levando a fenótipos diferentes

(KANEKAIR e cols., 1998).

2.4.2 – A MEC na reação inflamatória e na remodelação cardiovascular

Tanto a matriz extracelular como o citoesqueleto, desempenham um

papel de grande importância na manutenção da integridade celular e função

miocárdica. A inflamação e a indução de fibrose cardíaca são mediadas por

citocinas e fatores de crescimento derivados de fibroblastos ativados e da

ação de células B e T. Uma possível via de indução da fibrose é a

apresentação de antígenos miocárdicos ao sistema imune e sua resposta

celular e humoral auto-reativa subseqüente. Vários auto-anticorpos contra:

antígenos sarcolemais, laminina, proteínas da MEC, colágenos e miofibrilas

foram demonstrados tanto em biópsias endomiocárdicas, como também sob

a forma de auto-anticorpos circulantes no sangue periférico. A presença de

auto-anticorpos contra componentes do citoesqueleto e da MEC como a

beta-tubulina, fibronectina, laminina, desmina, vimentina e colágeno, já está

bem estabelecido na miocardite e o seu papel fisiopatológico é bem definido

assim como a alteração ou aumento de alguns destes componentes na

cardiomiopatia dilatada (WILKE e cols., 1995).

Na fase inicial da miocardite a principal modificação da MEC é

causada por alterações qualitativas na rede de colágeno. Há um

desequilíbrio no sistema de degradação da matriz à favor da degradação de

proteínas. Isso leva a redução da integridade da matriz e rompimento da

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rede tridimensional de colágeno, através da clivagem das ligações cruzadas

entre as moléculas de colágeno levando a disfunção e dilatação ventriculares

(RUTSCHOW e cols., 2005).

A hipertrofia e o remodelamento miocárdico patológicos resultam

tanto do crescimento adaptativo dos cardiomiócitos como da proliferação de

fibroblastos cardíacos. Este processo é acompanhado por alterações da

estrutura da MEC que modificam especificamente a morfogênese, a função,

proliferação, diferenciação e o processo de migração celulares. Entretanto,

tanto os efeitos de fatores de crescimento como dos componentes da MEC e

suas interações na hipertrofia e remodelamento cardíaco tem sido descritos

in vitro, mas ainda não são bem conhecidos in vivo (CORDA e cols., 2000).

O remodelamento cardíaco resulta do balanço entre a proliferação,

hipertrofia e perda celular por apoptose. Este processo envolve alterações na

expressão de vários genes, entre eles aqueles que codificam proteínas da

MEC, resultando em um aumento difuso da síntese e acúmulo de proteínas

da MEC e fibrose cardíaca. O acúmulo destes componentes, tanto no

coração como nos vasos sanguíneos contribui para a insuficiência cardíaca.

Por sua vez, o aumento de fatores de crescimento como o fator de

crescimento tumoral-β (TGF- β) pode estar relacionado com o aumento da

síntese de colágeno e fibronectina e, consequentemente, na deposição da

MEC (CORDA e cols., 2000).

O TGF-β regula o acúmulo de proteínas da MEC através da

modulação da expressão de proteínas constitutivas, tais como o colágeno,

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fibronectina e metaloproteinases. Em estudos experimentais se verificou que

o aumento dos níveis de TGF-β, fibronectina e colágeno, em geral ocorre

paralelamente com o desenvolvimento da insuficiência cardíaca. O TGF-β

e o fator de crescimento fibroblástico (FGF) estimulam a expressão pelos

fibroblastos de outras proteínas da MEC como osteopontina e seus

receptores (integrinas) (CORDA e cols., 2000).

2.5- Colágenos tipo I e tipo III

2.5.1-Estrutura

As proteínas que constituem a família dos colágenos são os principais

componentes fibrilares dos tecidos conjuntivos e as principais proteínas

extracelulares do organismo humano. O protótipo dos colágenos é o tipo I,

que é o mais abundante em todos os tecidos conjuntivos. A molécula do

colágeno tipo I tem massa molecular de 290 kDa e é composta por três

cadeias de polipeptideos, conhecidas como cadeias α , cuja a apresentação,

confere à molécula do colágeno estrutura em tripla-hélice (Figura 3). Essa

conformação é responsável por muitas de suas propriedades específicas e é

essencial para a fibrilogênese normal. Mutações que afetam essa formação

impedem o colágeno de formar fibras, resultando em sérios defeitos da

função do tecido conectivo (FREEDBERG e cols., 2004).

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De acordo com a arquitetura das fibras no tecido, os colágenos podem

ser divididos em duas grandes classes diferentes: os colágenos formadores

de fibrilas (I, II, III, V e XI) e os colágenos formadores de microfibrilas (VI

e VII) (ALBERTS e cols, 2002).

2.5.2- Secreção

O pró-colágeno tem um processo de síntese que passa pelo complexo

de Golgi, retículo endoplasmático rugoso e vesículas de secreção, e que

varia de acordo com o tipo de colágeno. Uma vez secretado no espaço

extracelular, o pró-colágeno é convertido por proteólise em colágeno. A

conversão do pró-colágeno I em colágeno I é catalisada por duas enzimas, a

proteinase–N e a proteinase-C, que removem a porção terminal amino e a

Figura 3. Elétronmicrografia monstrando a distribuição estrutural de fibras colágenas e suas estriações. No detalhe observa-se representação esquemática da estrutura em tripla-hélice da molécula de colágeno. Figura retirada da página bifi.unizar.es/.../6protfibrosas.htm.

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xxxviii

porção terminal carboxil respectivamente. Assim, o processo de conversão

do pró-colágeno em colágeno é complexo e cuidadosamente controlado. A

ausência da remoção dessas porções terminais implica no prejuízo das

forças de tensão das fibras colágenas. Após essa remoção realizada no

espaço extracelular, as moléculas de colágeno se alinham espontaneamente

para formar as fibras. Essas fibras, no entanto, só passam a ter a força de

tensão necessária quando as moléculas se ligam entre si através de ligações

covalentes especificas conhecidas como cross-links. As formas mais

comuns de cross-links no colágeno são derivadas da lisina e hidroxilisina

(FREEDBERG e cols., 2004).

O acúmulo de colágeno nos tecidos pode ser controlado em diferentes

níveis de biossíntese e degradação. Os possíveis sítios de controle incluem:

controle na transcrição e na pós-transcrição da formação de moléculas de

mRNA de pró-colágeno; controle dos índices de montagem dos

polipeptídeos através da tradução de mRNA; controle pós-traducional da

formação, secreção e conversão das formas precursoras de colágeno,

degradação de pró-cadeias α recém sintetizadas e remoção de fibras

colágenas extracelulares (ALBERTS e cols., 2002).

Um dos mais poderosos moduladores da expressão dos genes de

tecido conjuntivo é o TGF-β, que aumenta expressão de vários genes de

proteínas da matriz extracelular, incluindo aqueles que codificam os

colágenos tipo I, III, IV, V, VI e VII (FREEDBERG e cols., 2004).

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2.5.3- O colágeno e o coração

O interstício do miocárdio inclui o tecido conjuntivo fibrilar, várias

células como fibroblastos, glicosaminoglicanos e glicoproteínas. Os

colágenos tipo I e tipo III são os componentes dominantes do tecido

conjuntivo fibrilar e tem como função: fornecer uma base de suporte para os

cardiomiócitos e vasos sanguíneos; funcionar como conexões laterais entre

as células e os feixes musculares determinando a arquitetura e distribuição

de forças e prover força de tensão e elasticidade para evitar a deformação

miocárdica (WEBER, 1989).

A matriz extracelular cardíaca é dividida em três componentes: o

epimísio, o perimísio e o endomísio. O epimísio é o colágeno que circunda

o miocárdio e que fica logo abaixo do endotélio tanto do endocárdio como

do epicárdio. O perimísio consiste em extensões do epimísio que se

ramificam agregando os miócitos em miofibras. Ele está localizado nos

espaços existentes entre os feixes musculares. O colágeno endomisial

consiste de fibrilas que conectam os miócitos entre si e aos capilares

vizinhos e a uma rede de fibrilas que circundam os miócitos

individualmente. No interior da célula elas se comunicam com o

citoesqueleto fornecendo suporte ao aparato contrátil actina-miosina que

pode influenciar a força tensil do cardiomiócito (WEBER, 1989).

O colágeno tipo I representa cerca de 80% - 85% e o tipo III

representa 11%- 20% do colágeno total (FEDAK e cols., 2005;

PAUSHINGER e cols., 1998; WEBER e cols., 1988). O colágeno tipo I

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xl

normalmente se agrega em fibras densas, enquanto o tipo III forma fibras

delgadas. Estudos imunohistoquímicos revelaram que a trama endomisial é

composta tanto por colágeno tipo I quanto tipo III (WEBER e cols., 1988).

No coração a síntese de colágeno é feita pelos fibroblastos e não pelos

miócitos. Sua síntese é relativamente mais baixa do que a das proteínas não

colágenas e sua meia vida é dez vezes mais longa. Um outro aspecto é que,

sendo o fibroblasto uma célula quiescente para regular sua proliferação é

necessária a interação entre fatores de crescimento e receptores de superfície

(WEBER, 1989).

A degradação do colágeno no miocárdio parece ser equivalente a sua

síntese, dada a estabilidade de sua concentração e pelo fato dos fibroblastos

serem as células responsáveis pela sua secreção (WEBER, 1989) sendo que

as MMPs e os inibidores teciduais das metaloproteases (TIMPs) são os

principais reguladores da sua degradação (LI e cols., 2002). Outra

possibilidade é que pelo fato da colagenase ter sido identificada como

residente do perimísio e endomísio, é sugerido que ela permaneça no

miocárdio numa forma latente (WEBER e cols., 1988).

2.5.4- O colágeno nas cardiopatias

Na vigência de cardiopatias, a MEC também sofre alterações que

podem levar à disfunções cardíacas. LI e colaboradores (2002), não

observaram alterações significativas na quantidade de mRNA do colágeno

tipo I na fase inicial (1-10 dias) da miocardite, mas não podem descartá-lo

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xli

na fase tardia. Já foi relatado o aumento no número e na espessura das fibras

de colágeno nos estágios finais de CMD e que esse aumento está

relacionado com as concentrações absolutas dos colágenos tipos I e III. Os

autores afirmam ainda que a razão entre o colágeno III e colágeno I é

diferente na CMD e na CMI, sendo a razão maior na CMD (PAUSHINGER

e cols., 1998).

O aumento do colágeno tipo I na CMD já foi demonstrado em vários

estudos, mas o aumento do colágeno tipo III ainda é controverso. A

dificuldade na detecção de colágeno tipo III, por técnicas de

imunohistoquimica, pode ser explicado pela disponibilidade dos epítopos

para anticorpos, uma vez que as fibras de colágeno tipo III são recobertas

pelas fibras de colágeno tipo I (PAUSHINGER e cols., 1998). No entanto,

WEBER e colaboradores (1988) também demonstraram que o aumento de

colágeno na CMD se deve ao colágeno tipo III.

2.6- Fibronectina

Já foi demonstrado em modelos experimentais que infecções virais

levam a respostas específicas que culminam com o desenvolvimento tardio

de fibrose miocárdica, embora o mecanismo responsável por essa lesão seja

desconhecido. Em diversos processos patológicos que resultam em fibrose,

como a cicatrização e produção de estroma tumoral, os depósitos

extravasculares de fibrina e fibronectina precedem a formação de colágeno e

de fibrose. Nesses processos o gel de fibrina-fibronectina funciona como

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xlii

matriz para angiogênese, adesão de células inflamatórias, migração de

fibroblastos e, conseqüentemente, fibrose (KISHIMOTO e cols.,1998).

A fibronectina é uma proteína extracelular de adesão amplamente

distribuída pelos tecidos, e é composta por um dímero com duas cadeias

unidas por pontes s-s. Cada cadeia possui várias unidades globulares ligadas

entre si por seqüências flexíveis. As cadeias são constituídas por 3 tipos de

módulos homólogos - tipos I, II e III - que se repetem. O módulo tipo II

está exclusivamente envolvido com a ligação do colágeno tipo I (BRIGGS,

2005). A fibronectina possui sítios de ligação com receptores celulares

(integrinas), colágeno, fibrina e heparina, sendo importante na organização

da matriz e deslocamento das células no interstício, como a migração de

fibroblastos (CLARK e cols., 2003). A molécula de fibronectina existe sob

duas formas principais: na matriz extracelular como glicoproteína insolúvel

e no plasma sanguíneo na forma solúvel (BRIGGS, 2005). Na forma

tecidual ela forma agregados fibrilares através de interações diretas com

receptores de superfície, sendo importante para o crescimento e adesão

celular normais e na cicatrização (MAO e SCHWARZBAUER, 2005). A

forma plasmática se liga a fibrina, formando um coágulo sanguíneo que

preenche espaços vazios e serve como substrato para deposição de matriz

(KUMAR e cols, 2005).

As funções da fibronectina estão intimamente relacionadas à sua

estrutura molecular. De uma forma geral suas principais funções são a

29

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xliii

mediação da adesão celular, migração celular como realizado pelos

fibroblastos (CLARK e cols., 2003), quimiotaxia de monócitos e regulação

do crescimento celular e expressão gênica (BRIGGS, 2005). Tanto a

expressão diminuída como a degradação elevada de fibronectina tem sido

responsabilizada por algumas alterações morfológicas observadas em

tumores e linhagens celulares derivadas de tumores (MAO e

SCHWARZBAUER, 2005).

A fibronectina é codificada por um único gene que contêm múltiplos

exons que são processados de forma a gerar suas duas isoformas. A forma

plasmática é secretada por hepatócitos e enriquecida no sangue e a segunda

é secretada principalmente por fibroblastos e células endoteliais, é

relativamente estável, tem baixo turnover e é incorporada na forma de

matriz fibrilar na superfície da célula. A produção de fibronectina na matriz

é um processo complexo, regulado por vias de sinalização intracelular. A

ligação com integrinas, organização do citoesqueleto, estimulação da

contratilidade celular e a ativação da cascada de quinases, contribuem no

processo de produção (MAO e SCHWARZBAUER, 2005).

2.6.1- Fibronectina nas cardiopatias

A fibronectina é responsável pela formação de pontes entre as células

e a trama de colágeno intersticial. O aumento da deposição de fibronectina

no coração precede a deposição de colágeno tipo I e contribui para a adesão

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xliv

célula-matriz extracelular no remodelamento. Além disso, a fibronectina

funciona como base para a deposição de colágeno durante o reparo na

inflamação (AMMARGUELLAT e cols., 2002). KISHIMOTO e cols.

(1998) observaram em seu modelo murino de miocardite viral, que a

deposição do complexo fibrina-fibronectina no interstício, resultava da

necrose dos cardiomiócitos induzida pelo vírus e mediada por linfócitos T.

O aumento do colágeno miocárdico no estágio crônico seria indicativo de

fibrose miocárdica. O conjunto dos resultados permitiu sugerir que a

deposição de fibrina e fibronectina associada com um processo inflamatório

mediado por células T, precede a fibrose intersticial e alterações na rede de

reticulina na miocardite. A deposição de colágeno e fibronectina pode

comprometer ainda mais a força de tensão e contratilidade cardíacas

(AMMARGUELLAT e cols., 2002). Fatores mecânicos e fatores locais,

como o TGF-β, ativam a expressão do gene da fibronectina. Na

insuficiência cardíaca humana, os níveis de mRNA de fibronectina

encontram-se aumentados, precedendo a deposição de colágeno tipo I e III

nas áreas de fibrose (JANE-LISE e cols., 2000).

2.7- Transglutaminase tecidual

Como dito anteriormente a cicatrização das feridas é caracterizada por

três fases interrelacionadas e concomitantes: inflamação, formação

/estabilização tecidual e remodelamento. Participam destes processos fatores

de crescimento e citocinas que controlam e regulam o remodelamento

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xlv

coordenado da matriz extracelular e o reparo da lesão. Várias

metaloproteases matriciais e TIMPs são expressas durante a cicatrização de

feridas. Elas são responsáveis pelo remodelamento da matriz através da

degradação da matriz preexistente no interior e ao redor dos bordos da

ferida e também criando uma via para a migração de células enquanto a

nova matriz é depositada (VERDERIO e cols., 2004).

Um outro componente da resposta celular/tecidual ao dano e estresse

celular é a transglutaminase tecidual (tTG). Ela é uma proteína

multifuncional que modula interações matriz-célula, fornece estabilidade

tecidual e uma variedade de funções celulares. A tTG é uma enzima que

catalisa a modificação pós-traducional de proteínas (GRIFFIN e cols., 2002)

e foi o primeiro membro descrito de uma família multigênica de enzimas

que realizam transaminação dependente do cálcio e modificam cadeias de

glutamil em proteínas (ZEMSKOV e cols., 2006). A família das

transglutaminases humanas, inclui atualmente oito membros (WU e ZERN,

2004).

A tTG é expressa ubiquamente e seus níveis dependem do tipo do

tecido. Altos níveis de tTG podem ser encontrados naturalmente em células

submetidas à injúria tais como células endoteliais e mesangiais. Ela está

localizada nos três principais compartimentos celulares (citosol, membrana

plasmática e núcleo) sendo secretada e depositada na matriz extracelular.

Sua liberação está dramaticamente exarcerbada em situações de dano e

estresse celular, quando então se acumula na MEC inicialmente formando

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xlvi

complexos com a fibronectina. Devido as suas múltiplas atividades e

distribuição celular, a tTG pode potencialmente atingir o processo de reparo

tecidual em vários níveis e muitas de suas atividades envolvidas no reparo

dependem de sua interação com a fibronectina. Após a liberação celular, a

tTG forma um complexo com a fibronectina, por ligação de alta afinidade.

Este tipo de ligação, protege a tTG da degradação proteolítica (VERDERIO

e cols., 2004).

A função da tTG não é apenas estabilizar as proteínas, aumentando a

resistência mecânica, química e proteolítica, mas também facilitar a adesão

e motilidade celular. Como a tTG funciona como co-receptor para

fibronectina para ligação e adesão com integrinas, essa função parece ser

importante não somente para a adesão mas também para a produção de

fibronectina (GRIFFIN e cols., 2002). Ela participa de interações matriz-

célula, fundamentais para a adesão, distribuição e motilidade de células

como os fibroblastos. Estudos in vitro demonstraram que o colágeno I

quando ligado a tTG, na presença ou ausência de fibronectina, aumenta a

estabilidade da matriz. Além do colágeno I, a tTG se liga também a outros

tipos de colágeno (II, III, V, XI), assim como a outras proteínas da MEC

(VERDERIO e cols., 2004).

2.7.1- A tTg na resposta inflamatória

O antígeno da tTG foi encontrado expresso particularmente em

macrófagos e recentemente foi descrito que a falta de tTG em macrófagos

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impede a fagocitose eficaz de células mortas. A ligação cruzada de proteínas

intracelulares, que ocorre se a lesão promover perda da homeostase do

cálcio, pode também ser significativa para evitar o vazamento e a lise de

células lesadas irreversivelmente. Desta forma a integridade estrutural é

mantida no tecido onde as células lesadas estão morrendo, favorecendo a

contenção da reposta inflamatória (VERDERIO e cols., 2004). Em um

modelo experimental utilizando camundongos transgênicos foi verificado

que a superexpressão da tTg em miócitos ventriculares leva a um aumento

da cicloxigenase-2 (COX-2), síntese de tromboxano (TxS) e resulta em

insuficiência cardíaca (VERDERIO e cols., 2004).

2.7.2- A tTG na cicatrização

Se a agressão é mantida ou parte da resposta de resolução falha

inicialmente, sucede um período de cronificação que pode levar a cicatriz

progressiva e fibrose. A lesão tecidual, seguida do acúmulo de tTG,

possibilita maior formação de ligações cruzadas intermoleculares de muitos

componentes da MEC, especialmente colágeno e fibronectina,

provavelmente numa maior velocidade de deposição (VERDERIO e cols.,

2004).

Em órgãos nobres como o fígado, coração e rins essa cicatrização

progressiva, em mais de 95% dos casos, é a principal causa de disfunção

orgânica e falência do órgão (VERDERIO e cols., 2004). A observação de

que a tTG poderia estar envolvida na cicatrização progressiva foi primeiro

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descrita no pulmão, embora observações similares tenham sido descritas

posteriormente no fígado, coração, vasos sanguíneos e rins (GRIFFIN e

cols., 2002).

O mecanismo pelo qual a inibição da tTG leva a redução da

cicatrização, representada pela redução da deposição de colágeno seguida de

remodelamento tecidual, ainda não está esclarecido. É possível que a tTG

modifique o padrão de deposição do colágeno, que pode ser crucial para o

processo de cicatrização já que 95% das moléculas de colágeno são

degradadas antes da sua deposição. Assim, qualquer fator que altere o

equilíbrio da deposição de matriz, como essa provável ação da tTG, é

considerado como tendo uma grande influência na homeostase da MEC

(VERDERIO e cols., 2004).

2.7.3- Interação MMPs e tTG na cicatrização

Com a agressão tecidual, há acúmulo de tTG na matriz das áreas

circunjacentes, parecendo ocorrer ligação cruzada intermolecular de muitos

componentes da MEC, que provavelmente tem a sua deposição acelerada.

Além disso, a tTG extracelular pode controlar o armazenamento de TGF-β1,

influenciando sua ativação, que além de ser o principal fator na resposta

inflamatória, é crucial na regulação da homeostase da MEC regulando a

síntese de MMPs e TIMPs. Se a agressão ao tecido é mantida, ocorre

acúmulo maciço de tTG tanto no meio intracelular como extracelular, na

tentativa de preservação da integridade do tecido. Assim, haverá maior

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xlix

deposição de colágeno e aumento do cross-linking levando ao acúmulo da

MEC e cicatrização tecidual excessiva (VERDERIO e cols., 2004).

2.7.4- A tTG e o tecido cardíaco

Através de estudos por imunofluorescência indireta foi verificado que

a distribuição extracelular da tTG ocorre principalmente em tecidos ricos

em fibras colágenas, como a adventícia vascular e o perimísio no coração.

Essa observação dá relevância ao fato que o colágeno III é um substrato in

vitro para a tTG. Além disso, a co-distribuição da tTG com a fibronectina

também é vista de forma particularmente clara na matriz peri-celular do

músculo cardíaco (AESCHLIMANN e PAULSSON, 1991).

A atividade da tTG está aumentada em várias condições

inflamatórias, inclusive nas miocardites (VERDERIO e cols., 2004).

SMALL e colaboradores (1999) demonstraram em camundongos

transgênicos com expressão cardíaca aumentada de tTG, o desenvolvimento

de cardiomiopatia. Recentemente, a superexpressão de tTG foi observada

em modelos experimentais em estágios finais de insuficiência cardíaca,

como também a ativação de tTG cardíaca em casos de isquemia miocárdica

ou em lesão por reperfusão. Alguns estudos preliminares sugerem ainda o

envolvimento da tTG na apoptose de cardiomiócitos (PERACCHI e cols.,

2002).

As cardiomiopatias constituem objeto de estudo de vários trabalhos

nos dias atuais devido à dificuldade no diagnóstico morfológico. Na

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l

maioria dos casos o diagnóstico se baseia mais em critérios clínicos do que

morfológicos. Muitos casos definidos como cardiomiopatia dilatada podem

exibir um componente inflamatório, sem, no entanto, preencher critérios

para a miocardite. Devido à importância no prognóstico e tratamento das

cardiomiopatias dos elementos da MEC, visamos neste estudo caracterizar a

distribuição diferencial de proteínas da MEC cardíaca e da transglutaminase

tecidual utilizando estes padrões de distribuição no tecido como elementos

adjuvantes no diagnóstico morfológico.

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3- OBJETIVOS:

A- Geral

Caracterizar a distribuição da transglutaminase, fibronectina, colágeno

tipo I, colágeno tipo III, comparativamente na miocardite e

cardiomiopatias humanas, verificando a associação destas proteínas com

os perfis histopatológicos.

B- Específicos

• Caracterização histopatológica de miocardite utilizando a associação

da classificação de Dallas (ARETZ, 1987) e o perfil de distribuição

da HLA-DR por imunohistoquímica (WOJNICZ e cols., 1998);

• Caracterização histopatológica das cardiomiopatias inflamatória e

dilatada;

• Distribuição e quantificação histomorfométrica da transglutaminase

verificada através de métodos imunohistoquímicos;

• Distribuição e quantificação histomorfométrica do colágeno tipo I

verificada através de métodos imunohistoquímicos;

• Distribuição e quantificação histomorfométrica do colágeno tipo III

verificada através de métodos imunohistoquímicos;

• Distribuição e quantificação histomorfométrica da fibronectina

verificada através de métodos imunohistoquímicos.

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4- MATERIAL E MÉTODOS

4.1- Obtenção das amostras de miocárdio

As amostras constituídas por biópsias endomiocárdicas do ventrículo

direito foram obtidas de 10 pacientes com suspeita clínica de miocardite e

de 07 pacientes com cardiomiopatia dilatada (ambos os sexos e com idade

variando de 40-60 anos). Todas as biópsias foram realizadas no Hospital

Pró-Cardíaco ou na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, com o

paciente sob efeito de anestesia local e com o objetivo de definição

diagnóstica e terapêutica.

O grupo controle foi constituído por amostras de miocárdio retiradas

do ventrículo direito durante a necrópsia de quatro pacientes (ambos os

sexos e com idade variando de 50-70 anos) livres de doença cardiovascular,

alterações metabólicas ou de doença auto-imune. Foram excluídos do estudo

pacientes cujo diagnóstico histopatológico não confirmou o quadro de

miocardite aplicando-se o critério de Dallas (ARETZ, 1987) e pacientes

cujas biópsias eram constituídas por pequena quantidade de tecido que não

permitiam a avaliação precisa de imuno-marcações.

Este projeto foi realizado segundo o estabelecido na resolução de №

196/96 e suas complementares para estudo em humanos.

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liii

4.2- Processamento das amostras

Os fragmentos de miocárdio obtidos por biópsia ou por necrópsia

foram fixados em solução de formaldeído tamponado a 10% por 12 a 24

horas e posteriormente desidratados e incluídos em parafina. Cortes de 5 µm

foram obtidos em micrótomo rotatório e corados pelo método de

hematoxilna e eosina (HE) e Picro-Sirius Red modificado (DOLBER e

SPACH, 1993).

4.3 – Análise histopatológica

Todo o material foi observado por dois patologistas de forma

independente e sem o conhecimento prévio da procedência da amostra. Nos

casos em que houve discordância entre os diagnósticos, foi feita uma

reavaliação e definição conjunta.

Para a definição do diagnóstico histopatológico das miocardite foi

utilizado o critério de Dallas que avalia as alterações dos miócitos, a

presença de infiltrado inflamatório e de fibrose. Esta classificação define

três categorias de miocardite: presente, ausente ou lesão borderline

(ARETZ, 1987).

A avaliação do anticorpo anti- HLA-DR foi feita utilizando-se a

classificação proposta por WOJNICZ e cols. (1998). O índice de reatividade

foi baseado no padrão da positividade ao HLA-DR segundo o escore

abaixo:

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Grau 0- Ausência ou reatividade fraca de células endoteliais e

intersticiais;

Grau 1- Reatividade focal em células endoteliais e outras células

intersticiais;

Grau 2- Coloração multifocal restrita a células intersticiais;

Grau 3- Reatividade em células endoteliais associada à reatividade focal

em cardiomiócitos;

Grau 4- Reatividade endotelial e cardiomiocitária difusas

Apenas os pacientes classificados como graus 3 e 4 foram

considerados portadores de miocardite.

Para a classificação das cardiomiopatias inflamatórias foi utilizada a

metodologia definida por PAUSCHINGER e cols. (1998) no qual o

diagnóstico de inflamação é baseado na presença de mais de dois linfócitos

por campo de maior aumento (40x) e/ou pelo aumento do infiltrado

macrofágico com contagem superior a 1,5 células por campo de maior

aumento (40x).

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4.4- Imunohistoquímica

4.4.1- Protocolo

Foram feitas as seguintes imunomarcações para a identificação dos

componentes da matriz extracelular e o marcador de ativação (HLA-DR),

segundo o protocolo descrito a seguir:

I-Desparafinização e hidratação dos cortes;

II-Lavagem com tampão PBS, pH 7,4 (3 vezes, por 5 minutos);

III-Recuperação antigênica:

Tratamento das lâminas com solução de hialuronidase 0,2% (H3506,

Sigma) em PBS pH = 7,4 por 3 horas em estufa á 37°C.(para anticorpo

anti-colágeno I e III)

Tratamento das lâminas na panela a vapor, em tampão citrato pH6, por

20 minutos na temperatura de 96 °C (para anticorpo anti-fibronectina,

anti-transglutaminase e anti-HLA-DR);

IV-Lavagem com tampão PBS, pH 7,4 (3 vezes, por 5 minutos);

V-Incubação com PBS-BSA 5%, por 1 hora, para inibir as ligações

inespecíficas dos anticorpos;

VI-Incubação com anticorpo primário diluído em PBS-BSA 3% com

0,5% de soro normal de cabra, durante a noite, em câmara úmida. As

lâminas de controle negativo foram mantidas com a solução de soro

normal de cabra (para os anticorpos anti-colágeno I e III) ou em PBS-

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BSA 1% (para os anticorpos anti-fibronectina, anti-transglutaminase e

anti-HLA-DR);

VII-Lavagem com tampão PBS, pH 7,4 (3 vezes, por 5 minutos cada);

VIII-Inibição da peroxidase endógena com solução de H2O2 a 70% em

metanol, por 10 à 20 minutos;

IX-Lavagem com tampão PBS, pH 7,4 (3 vezes, por 5 minutos cada};

X-Incubação com anticorpo secundário, Kit Envision-HRP (DAKO) por

1 hora para colágeno I, colágeno III e transglutaminase. Para a

fibronectina e HLA-DR foi utilizado o Kit LSAB (DAKO) por 2 horas;

XI-Lavagem com tampão PBS-Tween 0,25%, pH 7,4 por 5 minutos;

XII-Lavagem com tampão Tris-HCl, pH 7,6 (2 vezes, por 5 minutos);

XIII-Revelação com a DAB (DAB líquida, DAKO, Carpinteria, CA,

USA) de 10 a 20 minutos; ou AEC (DAKO), por 20 minutos (HLA-DR);

XIV-Lavagem com tampão PBS-Tween 0,25%, pH 7,4 (2 vezes, por 5

minutos);

XV-Lavagem com água destilada, 3 vezes, por 5 minutos cada;

XVI-Contracoloração com Hematoxilina de Harris e de Mayer, somente

para o HLA-DR;

XVII-Azular em água corrente por 5 minutos;

XVIII-Diferenciação na água ácida (solução de HCl 0,5%);

XIX-Lavagem em água destilada por 5 minutos;

XX-Passagem em soluções crescentes de álcool e xileno para

desidratação;

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XXI- Montagem em Entellan® (Merck, Alemanha) e em Aquatex®

(Merck, Alemanha), somente para o HLA-DR.

Nota: Todas as lâminas foram previamente tratadas com poly-l-lysina.

As características dos anticorpos utilizados se encontram na Tabela 2.

Tabela 2: Características dos anticorpos

Especificidade Clone Isotipo Diluição Origem

Fibronectina (A0245)

Policlonal Coelho 1:100 Dako

Colágeno I (20151)

Policlonal Coelho 1:500 Novotec

Colágeno III (60311)

Policlonal Camundongo 1:500 Novotec

Transglutaminase (AP9003)

Monoclonal Camundongo 1:100 Neomarkers

HLA-DR (M0746)

Monoclonal Rato 1:30 Dako

Foram utilizados como controles positivo e negativo pele humana

para as reações de colágeno I e III, tecido renal de camundongo com

inflamação para a fibronectina e tecido miocárdico humano com fibrose

para a transglutaminase. Em todos os controles negativos foi omitido o

anticorpo primário.

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4.5 – Análise descritiva da distribuição das proteínas transglutaminase,

fibronectina, colágenos tipos I e III.

A análise descritiva das proteínas da MEC e da transglutaminase

levou em consideração a sua distribuição no interstício sendo que para tTG

foi considerada também a distribuição nos cardiomiócitos e no endotélio.

Cada um dos dois observadores avaliou individualmente a distribuição e a

intensidade da marcação de cada um dos anticorpos. O resultado das

análises semiquantitativas foi representado graficamente.

4.6 - Histomorfometria

Para o estudo quantitativo foi utilizado o programa de análise de

imagens Image-Pro Plus (Media Cybernetics, Houston, TX, USA)

quantificando a densidade da superfície de reatividade dos anticorpos

estudados (PECLY e cols., 2006). Para a análise de densidade foram

capturadas 10 imagens de cada corte histológico (Câmera Evolution VF,

acoplada ao microscópio Eclipse E800, Nikon, Japão), de forma aleatória

utilizando o aumento de 40X.

4.7– Análise estatística

Os resultados foram descritos sob a forma de média ± desvio padrão.

A verificação das diferenças entre os grupos foi detectada pelo teste

ANOVA seguido do teste t de Student para a comparação entre duas

amostras, considerando significativo os valores com p <0,05 (Sigma Stat 3).

45

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lix

5-RESULTADOS

5.1 - Análise histopatológica

A análise histopatológica realizada nos cortes histológicos, na

coloração pela H&E, das amostras do grupo controle demonstrou que

nenhum dos pacientes preenchia os critérios diagnósticos de miocardite

segundo a classificação de Dallas (Figs. 4A e 4B). Entre os 10 casos com

diagnóstico clínico de miocardite, 9 foram classificados como miocardite

aguda moderada e 1 como miocardite aguda acentuada sendo esta

classificação baseada na presença de miocitólise e infiltrado inflamatório

tecidual (Figs. 4C e 4D).

Os pacientes diagnosticados como portadores de cardiomiopatia

(Figs. 4E e 4F) foram subdivididos em duas categorias de acordo com a

presença de infiltrado inflamatório mononuclear (linfócitos e macrófagos)

porém, sem preencher os critérios para miocardite de acordo com a

classificação de Dallas. O grupo que apresentava estas características foi

denominado cardiomiopatia inflamatória (n=3) enquanto o grupo que não

exibia inflamação recebeu a designação de cardiomiopatia dilatada (n=4).

Na avaliação da distribuição do colágeno, utilizando a técnica do

Picro Sírius Red, foi observado em duas amostras do grupo controle fibrose

discreta e focal localizada em região perivascular (Figs. 5A e 5B). Nos

pacientes com diagnóstico de miocardite foi observada fibrose leve e focal

de localização intersticial e perivascular em 9 casos e fibrose moderada em

46

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lx

uma amostra (Figs. 5C e 5D). Na cardiomiopatia, a fibrose era difusa sendo

moderada em 5 casos (Figura 5E) e acentuada em 2 casos (Figura 5F).

5.2 –Análise qualitativa da imuno-marcação

5.2.1 - HLA-DR

Todos as amostras do grupo controle foram negativas para marcação

de HLA-DR e foram classificadas como grau 0 (Figs. 6A e 6B). Nas

amostras diagnosticadas como miocardite foi evidenciado positividade em 6

casos sendo um deles (miocardite acentuada) classificado como grau 4. Os 5

casos positivos restantes se apresentaram como grau 3 (Figs. 6C e 6D). Nas

cardiomiopatias todos os casos foram classificados como negativos com a

graduação oscilando entre 0 e 2 (Figs. 6E e 6F).

5.2.2 - Proteínas da Matriz e Transglutaminase

Grupo Controle (n=4)

Foi verificado reatividade para a transglutaminase em três casos do

grupo controle. A positividade para este anticorpo foi observada somente

em células endoteliais (Figs. 7A e 7B). Foi observada marcação intersticial

difusa e uniforme para colágeno I (Figs. 9A e 9B) e fibronectina (Figs. 8A

e 8B) em 4 dos casos estudados. O colágeno III foi observado difusamente

no interstício em três casos (Figs. 10A e 10B).

47

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lxi

Grupo Miocardite (n=10)

A reatividade para transglutaminase foi intensa no interstício (n=7),

endotélio (n=8) e nos cardiomiócitos (n=10) (Figs. 7C e 7D). A marcação

para o colágeno tipo I foi uniforme e moderada (n=10) (Figs 9C e 9D). A

marcação da fibronectina foi uniforme e intensa (n=10) (Figs. 8C e 8D).

O padrão de marcação do colágeno tipo III foi intersticial, não uniforme e

geralmente moderada (n=7). Os demais casos (n=3) foram negativos para

este anticorpo (Figs. 10C e 10D).

Grupo Cardiomiopatia (n=7)

A transglutaminase foi fortemente positiva no interstício (n=6),

endotélio (n=5) e cardiomiócitos (n=7) (Figs. 7E e 7F). Para o colágeno

tipo I (Figs. 9E e 9F) foi observado reatividade intersticial fraca e focal

(n=4) e negatividade para os demais casos (n=3). A marcação da

fibronectina foi moderada (Figs. 8E e 8F) e o colágeno tipo III foi

acentuada. Em ambos a marcação foi intersticial e difusa em todos os casos

(Figs. 10E e 10F).

A distribuição das proteínas nos três grupos estudados está

representada graficamente nas Figuras 11-14.

48

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lxii

Cardiomiopatia inflamatória (n=3) A marcação para transglutaminase foi evidenciada em localização

intersticial e endotelial (n=2) e foi negativa no outro caso. Todos os casos

exibiram positividade em cardiomiócitos (Figura 15). Para o colágeno tipo

I não houve marcação em um caso sendo observada marcação intersticial

nos demais casos (n=2) (Figura 16). O mesmo padrão de distribuição

intersticial foi vista em todos os casos para a colágeno tipo III (Figura 17) e

fibronectina (Figura 18).

Cardiomiopatia dilatada (n=4)

A positividade para transglutaminase em cardiomiócitos e no

interstício estava presente em todos os casos (n=4) e foi observada no

endotélio em três das amostras (Figura 15). O colágeno tipo I exibiu

reatividade intersticial em 2 casos (Figura 16). Tanto o colágeno tipo III

(Figura 17) como a fibronectina (Figura 18) foram identificadas em todas

as amostras (n=4).

49

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lxiii

FIGURA 4- Fotomicrografia dos grupos controle, miocardite e cardiomiopatia. Fig.4A e Fig.4B: Tecido miocárdico normal no grupo controle. Observa-se cardiomócitos sem alterações em detalhe (cabeça de seta). Fig.4C: Visão geral do tecido miocárdico em caso de miocardite. Fig.4D: Infiltrado inflamatório mononuclear em relação com miocitólise (cabeças de seta). Fig.4E: Hipertrofia difusa do miocárdio na cardiomiopatia. Fig.4F: Cardiomiócitos exibindo aumento do volume e irregularidade nuclear, sem inflamação associada (cabeças de seta). Coloração: Hematoxilina-eosina. Barras: A, C e E- 100µm, B, D e F - 30µm.

50

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lxiv

51

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lxv

FIGURA 5 – Tecido miocárdico dos 3 grupos estudados corados pela técnica de Picro sírius red para dectecção do colágeno total. Fig.5A e 5B: Caso do grupo controle exibindo distribuição intersticial habitual do colágeno. Fig.5C e 5D: Casos de miocardite com fibrose leve em localização intersticial (cabeça de seta) e perivascular (seta). Fig.5E: Fibrose moderada intersticial e perivascular na cardiomiopatia. Fig.5F: Fibrose intersticial acentuada no maior aumento em cardiomiopatia (cabeças de seta). Barras: A, C e E- 100µm, B, D e F - 30µm.

52

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lxvi

53

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lxvii

FIGURA 6 – Imunomarcação para HLA-DR. Fig.6Ae 6B: Ausência de reatividade para HLA-DR no grupo controle. Fig.6C: Marcação difusa endotelial e em cardiomiócitos na miocardite. Fig.6D: Reatividade endotelial (seta) e em células intersticiais na miocardite (cabeça de seta). Fig.6E: Tecido miocárdico de um caso de cardiomiopatia exibindo marcação multifocal endotelial e em células intersticiais. Fig.6F: detalhe da marcação para HLA-DR da figura 6E(seta-vaso, cabeça de seta- intersticial). Barras: A, C e E- 100µm, B, D e F - 30µm.

54

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lxviii

55

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lxix

Figura 7 – Imunomarcação da transglutaminase. Fig.7A: Miocárdio do grupo controle exibindo marcação endotelial (cabeça de seta). Fig.7B: vaso exibindo células endoteliais reativas para tTG no grupo controle. Fig.7C: Marcação difusa em cardiomiócitos (cabeça de seta), endotelial (seta) e intersticial na miocardite. Fig.7D: Marcação em cardiomiócitos na miocardite. Fig.5E: Marcação difusa em cardiomiócitos na cardiomiopatia (cabeça de seta). Fig.5F: Presença de marcação para transglutaminase de localização endotelial e em cardiomiócitos. Fig.7G: Controle negativo da reação imunohistoquímica para transglutaminase em tecido cardíaco com fibrose. Nota-se a ausência de marcação tecidual. Fig.7H: Controle positivo da reação imunohistoquímica para transglutaminase em tecido cardíaco com fibrose, exibindo marcação intensa em cardiomiócitos e interstício. Barras: A, C, E, G e H - 100µm, B, D e F - 30µm.

56

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lxx

57

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lxxi

Figura 8 – Imunomarcação para fibronectina. Fig.8A: Distribuição intersticial e em área perivascular da fibronectina no tecido miocardico do grupo controle. Fig.8B: Detalhe da marcação perivascular e intersticial no grupo controle. Fig.8C: Presença de intensa marcação para fibronectina no interstício e perivascular em caso de miocardite. Fig.8D: Imunomarcação intersticial na miocardite (cabeça de seta). Fig.8E: Marcação moderada e difusa intersticial na cardiomiopatia. Fig.8F: Detalhe da marcação intersticial (cabeças de seta) na cardiomiopatia. Fig.8G: Controle negativo da reação imunohistoquímica para fibronectina em tecido renal. Observa-se a ausência de marcação tecidual. Fig.8H: Controle positivo da reação imunohistoquímica para fibronectina em tecido renal. Presença de intensa marcação intersticial difusa. Barras: A, C, E, G e H - 100µm, B, D e F - 30µm.

58

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lxxii

59

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lxxiii

Figura 9 – Imunomarcação para colágeno I. Fig.9A: Marcação intensa em área perivascular e intersticial no grupo controle. Fig. 9B: Detalhe da marcação intersticial da fig.7A (cabeças de seta). Fig.9C: Marcação difusa e moderada em localização intersticial na miocardite. Fig.9D: Visualização em maior aumento da marcação intersticial para colágeno I na miocardite (cabeça de seta). Fig.9E: Reatividade discreta para colágeno I em localização intersticial na cardiomiopatia. Fig.9F: Marcação perivascular (seta) e intersticial (cabeça de seta) na cardiomiopatia em maior aumento. Fig.9G: Controle negativo da reação imunohistoquímica para colágeno I em cortes histológicos de pele exibindo ausência de marcação tecidual. Fig.9H: Controle positivo da reação imunohistoquímica para colágeno I em cortes histológicos de pele. Nota-se a marcação positiva para fibras colágenas presentes no derma superficial. Barras: A, C, E, G e H - 100µm, B, D e F - 30µm.

60

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lxxiv

61

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lxxv

Figura 10 – Imunomarcação para colágeno III. Fig.10A: Área focal de positividade para colágeno III em região perivascular (cabeça de seta) e intersticial no grupo controle. Fig.10B: Detalhe da marcação perivascular para colágeno III. Fig.10C e D: Marcação intersticial na miocardite (cabeça de seta). Fig.10E e F: caso de cardiomiopatia exibindo reatividade intersticial intensa e difusa para colágeno III (cabeças de seta). Fig.10G: Controle negativo da reação imunohistoquímica para colágeno III em cortes histológicos de pele exibindo ausência de marcação tecidual. Fig.10H: Controle positivo da reação imunohistoquímica para colágeno III em cortes histológicos de pele. Observa-se marcação positiva intersticial e em parede de estruturas vasculares no derma. Barras: A, C, E, G e H - 100µm, B, D e F - 30µm.

62

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lxxvi

63

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lxxvii

Marcação para Transglutaminase

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3

Grupos CTRL=1; CM=2; MIOC=3

Núm

eros

de

caso

s

IntesrtícioEndotélioCardiomiócitos

Marcação para Colágeno I

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3

Grupos CTRL=1; CM=2; MIOC=3

Núm

eros

de

caso

s

Interstício

Figura 11: Gráfico da distribuição da transglutaminase no tecido miocárdico dos três grupos estudados (CTRL: Controle, CM: Cardiomiopatia e MIOC: Miocardite).

Figura 12: Gráfico da distribuição do colágeno I no tecido miocárdico dos três grupos estudados (CTRL: Controle, CM: Cardiomiopatia e MIOC: Miocardite).

64

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lxxviii

Marcação para Colágeno III

012345678

1 2 3

Grupos CTRL=1; CM=2; MIOC=3

Núm

ero

de c

asos

Interstício

Marcação para Fibronectina

0

2

4

6

8

10

12

1 2 3

Grupos CTRL=1; CM=2; MIOC=3

Núm

ero

de c

asos

Interstício

Figura 13: Gráfico da distribuição do colágeno III no tecido miocárdico dos três grupos estudados (CTRL: Controle, CM: Cardiomiopatia e MIOC: Miocardite).

Figura 14: Gráfico da distribuição da fibronectina no tecido miocárdico dos três grupos estudados (CTRL: Controle, CM: Cardiomiopatia e MIOC: Miocardite).

65

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lxxix

Marcação para Transglutaminase Cardiomiopatia

0

1

2

3

4

5

1 2

Grupos Inflamatória= 1; Dilatada= 2

Núm

ero

de c

asos

interstícioendotéliocardiomiócitos

Marcação para Colágeno I Cardiomiopatia

0

0,5

1

1,5

2

2,5

1 2

Grupos Inflamatória= 1; Dilatada= 2

Núm

ero

de c

asos

interstício

Figura 15: Gráfico da distribuição da transglutaminase no tecido miocárdico dos dois grupos estudados.

FFigura 16: Gráfico da distribuição do colágeno I no tecido miocárdico dos dois grupos estudados.

66

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lxxx

Marcação para Colágeno III Cardiomiopatia

0

1

2

3

4

5

1 2

Grupos Inflamatória= 1; Dilatada= 2

Núm

ero

de c

asos

interstício

Marcação para Fibronectina Cardiomiopatia

0

1

2

3

4

5

1 2

Grupos Inflamatória=1; Dilatada= 2

Núm

ero

de c

asos

interstício

Figura 17: Gráfico da distribuição do colágeno III no tecido miocárdico dos dois grupos estudados.

Figura 18: Gráfico da distribuição da fibronectina no tecido miocárdico dos dois grupos estudados.

67

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lxxxi

5.3 – Estudo histomorfométrico

Na análise histomorfométrica da distribuição de colágeno total nos

cortes corados pela técnica do Picro Sírios Red foi evidenciada maior

quantidade de colágeno no grupo de cardiomiopatia em relação aos demais

grupos (Figura 19). Entretanto, somente foi observada diferença

significativa entre os grupos de cardiomiopatia e miocardite (p<0.05).

X Data

CONT4 CMD4 MIOCARD4

Y D

ata

0

10

20

30

40

50

Figura 19: Representação gráfica da concentração do colágeno total nos grupos controle, cardiomiopatia (CM) e miocardite. A quantidade de colágeno total foi maior (*=p<0.05) no grupo CM em relação ao grupo Miocardite. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP.

*

Controle CM Miocardite

M É D I A

68

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lxxxii

A quantidade de colágeno tipo I foi maior no grupo controle em

relação aos demais grupos (p<0.05), com a menor reatividade observada no

grupo com cardiomiopatia. Não houve diferença significativa entre os

grupos com miocardite e com cardiomiopatia (Figura 20).

Figura 20: Representação gráfica da concentração colágeno tipo I nos

grupos controle, cardiomiopatia (CM) e miocardite. A quantidade de colágeno tipo I foi maior no grupo controle (p<0.05) em relação aos demais grupos. Não houve diferença entre os dois grupos de pacientes com CM e miocardite. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP. *p<0.05

X Data

CONT2 CMD2 MIOCARD2

Y D

ata

0

5

10

15

20

25

30

35

Controle CM Miocardite

*

M É D I A

69

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lxxxiii

A quantidade de colágeno tipo III foi maior no grupo de

cardiomiopatia tanto em relação ao grupo controle (p<0.05) como em

relação ao grupo com miocardite (p<0.01). Não houve diferença

significativa entre os grupos controle e com miocardite (Figura 21).

Figura 21: Representação gráfica da concentração colágeno tipo III nos grupos controle, cardiomiopatia (CM) e miocardite. A quantidade de colágeno tipo III foi maior no grupo CM em relação aos outros dois grupos. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP.*p<0.05 vs controle, **p<0.01 vs miocardite

X Data

con col III CMD col III MIO col III

Y D

ata

0

5

10

15

20

25

30

Controle CM Miocardite

M É D I A

*,**

70

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lxxxiv

A avaliação da marcação da transglutaminase mostrou a maior

reatividade no grupo com miocardite, sendo esta progressivamente menor

nos grupos com cardiomiopatia e no grupo controle respectivamente. Nos

dois grupos de pacientes (CM e miocardite) a reatividade foi

significativamente maior (p< 0.001) do que no grupo controle. A

comparação entre os grupos de pacientes (miocardite vs cardiomiopatia)

também evidenciou diferença estatisticamente significativa (p <0.05)

(Figura 22).

Figura 22: Representação gráfica da concentração de transglutaminase nos grupos controle, cardiomiopatia (CM) e miocardite. A quantidade de transglutaminase foi maior nos pacientes com CM e miocardite em relação ao grupo controle (p<0.001). A comparação entre os dois grupos de pacientes mostrou maior reatividade nos portadores de miocardite (p<0.05). Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP. * p<0.001, **p<0.05

X Data

cont CMD miocard

Y D

ata

0

10

20

30

40

50

Control CM Miocardite

M É D I A

*

*,**

71

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lxxxv

Para a fibronectina foi evidenciado um aumento crescente de sua

reatividade nos grupos controle, cardiomiopatia e miocardite, com diferença

significativa entre o grupo miocardite e os grupos controle (p<0.005) e

cardiomiopatia (p<0.01). Não houve diferença significativa entre os grupos

cardiomiopatia e controle (Figura 23).

Figura 23: Representação gráfica da concentração de fibronectina nos

grupos controle, cardiomiopatia (CM) e miocardite. A quantidade de fibronectina foi maior no grupo miocardite em relação aos outros dois grupos. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP. *p<0.005 vs controle, **p<0.01 vs CM.

X Data

CONT1 CMD1 MIOCAR1

Y D

ata

0

10

20

30

40

Controle CM Miocardite

M É D I A

*,**

72

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lxxxvi

Avaliando-se separadamente os grupos de cardiomiopatia dilatada e

cardiomiopatia inflamatória não se observou diferença significativa

(p>0.05) entre os dois grupos na quantidade da transglutaminase,

fibronectina, colágeno total, colágeno I, colágeno III (Figs. 24 a 28).

Figura 24: Representação gráfica da concentração de transglutaminase nos grupos cardiomiopatia (CM) inflamatória e dilatada. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP.

X Data

CMD ID CMD IN

Y D

ata

0

10

20

30

40

50

Dilatada Inflamatória

M É D I A

73

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Figura 25: Representação gráfica da concentração de fibronectina nos

grupos cardiomiopatia (CM) inflamatória e dilatada. Os valores foram

expressos sob a forma de média ± DP.

Figura 26: Representação gráfica da concentração de colágeno total nos

grupos cardiomiopatia (CM) inflamatória e dilatada. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP.

X Data

CMD ID f CMD IN f

Y D

ata

0

5

10

15

20

25

30

Dilatada Inflamatória

M É D I A

X Data

CMD ID PS CMD IN PS

Y D

ata

0

10

20

30

40

50

Dilatada Inflamatória

M É D I A

74

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Figura 27: Representação gráfica da concentração de colágeno tipo I nos

grupos cardiomiopatia (CM) inflamatória e dilatada. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP.

Figura 28: Representação gráfica da concentração de colágeno tipo III nos

grupos cardiomiopatia (CM) inflamatória e dilatada. Os valores foram expressos sob a forma de média ± DP.

CMD ID CI CMD IN CI

Y D

ata

0

5

10

15

20

25

Dilatada Inflamatória

M É D I A

X Data

CMD ID CIII CMD IN CIII

Y D

ata

0

5

10

15

20

25

30

35

Dilatada Inflamatória

M É D I A

75

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6 - DISCUSSÃO

Sabe-se que independente da origem, qualquer agressão ao tecido

miocárdico pode desencadear respostas celulares diversas que levarão a

alteração da MEC cardíaca e, se a agressão é sustentada, irá culminar em

um processo de remodelamento patológico do miocárdio (MANABE e

cols., 2002).

A MEC desempenha um papel ativo na regulação do

comportamento das células na miocardite e em outras doenças miocárdicas

como as cardiomiopatias (KISCHIMOTO e cols., 1998), pois sua

homeostase determina a integridade estrutural do coração (RUTSCHOW e

cols., 2005). Alterações na síntese e degradação da MEC cardíaca

prejudicam a função ventricular, característica clínica observada tanto na

miocardite quanto na cardiomiopatia inflamatória. Dentre as alterações

vistas na matriz, o turnover patológico do colágeno é observado em

associação com a perda da integridade estrutural do coração e disfunção

ventricular (RUTSCHOW e cols., 2005).

A maioria dos estudos realizados até hoje determina que no coração

há uma predominância do colágeno tipo I sobre o colágeno tipo III

(WEBER, 1989; PAUSCHINGER e cols., 1998; MANABE e cols., 2002,

PETROVIC, 2004; FEDAK, e cols., 2005). Nas cardiomiopatias há um

aumento da quantidade do colágeno total, devido ao aumento absoluto nas

concentrações de colágenos tipos I e III, com predominância do colágeno

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xc

tipo I sobre o colágeno tipo III (MANABE e cols., 2002; PAUSCHINGER

e cols., 1999; 1990; MARIJIANOWSKI e cols., 1995; BRUCKNER e

cols., 2001). LI e cols. (2002), demonstraram em seu estudo, através da

quantificação por imunohistoquímica, que não havia diferença significativa

na expressão do colágeno tipo I em camundongos com miocardite quando

comparados com o grupo controle.

Em nosso estudo, a análise do colágeno total através do Picro Sírius

Red não mostrou alteração significativa entre o grupo da miocardite e o

grupo controle, sendo que neste último grupo a distribuição, embora não

significativa, foi discretamente maior. Para tentar explicar este resultado

podemos levantar uma hipótese baseada na informação de que no processo

inflamatório do miocárdio a perda de colágeno e o aumento das MMPs se

inicia logo após o início da injúria (MANABE e cols., 2002). Como não

dispomos das informações referentes à evolução clínica desses pacientes,

não podemos afirmar em qual fase do remodelamento estes tecidos se

encontravam. A possibilidade de que MMPs possam estar atuando na

miocardite, promovendo maior degradação do colágeno, aliado ao fato de

que sua síntese ocorre de forma mais lenta do que as outras proteínas não

colágenas (WEBER, 1989), poderia explicar a menor deposição na MEC

cardíaca na miocardite.

O aumento do colágeno total na cardiomiopatia em relação aos

demais grupos, embora com significância apenas em relação ao grupo

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miocardite, está de acordo com a literatura (PAUSCHINGER e cols.,

1999). É provável que o aumento da expressão de TGF-β1 e TFG- β2 na

cardiomiopatia seja responsável pela maior síntese de colágeno. Outra

possibilidade, oriunda da observação em modelos murinos de miocardite,

que poderia ser responsável pelo remodelamento patológico do colágeno

seria o aumento da expressão de IL-1 β, fator de necrose tumoral α(TNF-

α), TGF-β1 e IL-4 associada ao aumento das MMPs e redução das TIPMs

(LI e cols., 2002).

Analisando a constituição do colágeno total intersticial através do

estudo imunohistoquímico na cardiomiopatia, evidenciamos que sua maior

distribuição ocorreu pelo aumento do colágeno III. Este padrão não foi

identificado nos demais grupos, onde colágeno I se encontrava em uma

proporção maior que o colágeno III. Entretanto a maior distribuição de

colágeno I foi evidenciada no grupo controle em relação a miocardite.

Estes resultados diferem de alguns autores (MANABE e cols., 2002;

PAUSCHINGER e cols., 1999; MARIJIANOWSKI e cols., 1995;

BRUCKNER e cols., 2001). Em outros estudos, cujos resultados estão de

acordo com o nosso estudo, verificou-se aumento do colágeno III em

relação ao colágeno I nas cardiomiopatias de várias etiologias, tais como

cardiomiopatia dilatada, hipertrófica e isquêmica (PAUSCHINGER e cols.,

1998; WEBER, 1989; LOMBARDI e cols., 2003; HERPEL e cols., 2005)

e diminuição do colágeno tipo I (WEBER e cols., 1988; LOMBARDI e

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cols., 2003 ). A maioria destes autores não foi capaz de justificar ou sugerir

uma hipótese para essa inversão de padrão de deposição de colágeno.

HERPEL e cols. (2006) tentaram explicar o padrão, com predomínio do

colágeno tipo III, pelo fato da quantificação, como no nosso estudo, ter

sido realizada na fibrose intersticial. Nos trabalhos onde se observou o

predomínio do colágeno tipo I, a quantificação foi feita tanto na fibrose

intersticial como na fibrose segmentar e de substituição (cicatriz).

Sabe-se que o processo de remodelamento do colágeno se inicia

com a sua degradação seguida de síntese, três a cinco dias depois.

Inicialmente ocorre aumento do colágeno tipo III que, ao final de alguns

meses, é substituído pelo colágeno tipo I (WEBER, 1989). No presente

trabalho não foi possível determinar o tempo de evolução desse processo de

remodelamento em condições patológicas e os fatores clínicos que

pudessem influenciar ou confrontar com os dados obtidos.

Ao compararmos a distribuição da fibronectina nos três grupos

observamos maior deposição no grupo com miocardite em relação aos

demais grupos. Entre os grupos cardiomiopatia e controle não houve

diferença significativa. O aumento da quantidade de fibronectina observado

no nosso estudo nos pacientes com miocardite está de acordo com os

achados da literatura. O aumento inicial e sustentado da deposição de

fibronectina no coração está relacionado e pode preceder, à deposição de

colágeno contribuindo também para a ligação matriz-célula no

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remodelamento (AMMARGUELLAT e cols., 2002; KISHIMOTO e cols.,

1998). Também já foi evidenciado que há deposição de fibronectina no

interstício em áreas de miocardite ativa persistente. Esta deposição persiste

em áreas sem fibrose até 30 dias após o início do processo, podendo ser

observada tardiamente, até 60 dias, nas em áreas com fibrose

(KISHIMOTO e cols., 1998).

A deposição de fibronectina associada com células inflamatórias

precede o desenvolvimento da fibrose intersticial na miocardite e o

infiltrado inflamatório está intimamente relacionado à fibrose miocárdica

que se desenvolve posteriormente (KISHIMOTO e cols., 1998). Este

mecanismo pode explicar o maior acúmulo de fibronectina observado nos

pacientes com miocardite em relação aos demais grupos.

A associação da fibronectina com a tTG forma um complexo muito

importante necessário para que esta enzima exerça seu papel no

remodelamento tecidual. Esta ligação protege a tTG da degradação

proteolítica como também altera sua atividade de transaminação. A TGt

também colabora com integrinas para a produção de fibronectina da matriz

e promove ligação cruzada com colágenos tipos I, II, III, V e XI

(VERDERIO e cols., 2004).

A função da tTG dependente estritamente da associação com a

fibronectina. A tTG está aumentada em várias condições inflamatórias

podendo estar envolvida no processo de fibrose cardíaca, já tendo sido

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observado o aumento de sua expressão no miocárdio de camundongos com

cardiomiopatia (VERDERIO e cols., 2004). Isto justifica no nosso estudo o

seu aumento no grupo da miocardite, seguido pelo grupo de cardiomiopatia

e grupo controle respectivamente, acompanhando respectivamente a

distribuição da fibronectina.

VERDERIO e cols. (2004) sugeriram em seu estudo que a tTG é

capaz de modificar o mecanismo causal da deposição do colágeno. Seu

acúmulo leva à ligações cruzadas com elementos da matriz, especialmente

colágeno e fibronectina, resultando na sua deposição acelerada. Somando-

se a estes resultados, LARRETA-GARDE e BERRY (2002) afirmam que a

influência da tTG na MEC parece ser o inverso da ação das proteinases,

tornando o colágeno mais resistente à sua ação. No nosso estudo foi

evidenciado que o aumento da tTG e fibronectina estava associado ao

aumento do colágeno total no grupo das cardiomiopatias. Entretanto, a

maior deposição da tTG acompanhada da fibronectina, foi observada na

miocardite, grupo no qual foi detectada a menor deposição de colágeno

total. Entretanto sabe-se que a tTG também participa do processo

inflamatório, limitando a resposta inflamatória através da indução da

apoptose. Este mecanismo poderia explicar a nossa observação de aumento

de tTG no grupo com miocardite.

A persistência da agressão estimula a manutenção dos níveis

elevados de tTG que levam ao acúmulo excessivo de MEC e fibrose

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(VERDERIO e cols., 2004). Nos pacientes com cardiomiopatia este

mecanismo pode ter sido responsável pelo aumento do colágeno total,

secundário ao aumento de tTG. Mais uma vez seria necessário estabelecer a

fase do remodelamento na qual o tecido cardíaco desses pacientes se

encontrava para determinar uma correlação definitiva com nossos dados.

A tentativa de comparar a distribuição dos componentes da MEC e

transglutaminase nos dois grupos de pacientes originados pela subdivisão

do grupo de cardiomiopatia - cardiomiopatia dilatada e cardiomiopatia

inflamatória - não mostrou diferença na distribuição destes elementos.

Apesar da falta de significância estatística, consideramos que há uma

tendência a maior deposição de colágeno total no grupo com

cardiomiopatia dilatada em relação a cardiomiopatia inflamatória, com

predomínio de colágeno tipo III nos dois grupos estudados em relação ao

colágeno I.

Nossos resultados concordam parcialmente com os achados de

PAUCHINGER e cols. (1998). Estes autores demonstraram diferença na

razão do colágeno tipo III / colágeno tipo I nestas duas cardiomiopatias,

sendo essa razão maior na cardiomiopatia dilatada. No entanto, a maior

distribuição do colágeno III em relação ao colágeno I nos dois grupos está

de acordo com os nossos resultados. Uma das razões que podemos levar em

consideração para justificar nossos resultados é o pequeno tamanho da

amostra em ambos os grupos.

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Na avaliação da transglutaminase e da fibronectina observamos

discreta elevação de ambas no grupo da cardiomiopatia inflamatória, porém

sem diferença significativa. Mais uma vez o tamanho da amostra poderia

explicar estes resultados.

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7 - CONCLUSÕES 1. O presente estudo identificou a distribuição dos componentes da MEC

cardíaca (colágeno I, colágeno III e fibronectina) e da transglutaminase, na

miocardite e cardiomiopatias em biopsias endomiocárdicas.

2. Foi detectado aumento da distribuição intersticial do colágeno tipo III e

diminuição do colágeno I nas cardiomiopatias em relação a miocardite.

3. A deposição tanto da fibronectina como da transglutaminase é maior na

miocardite em relação as cardiomiopatias.

4. Não houve correlação entre a distribuição do colágeno total com as

proteínas fibronectina e tTG nas cardiomiopatias. A transglutaminase

seguiu o padrão de apresentação da fibronectina.

5. Não foram observadas diferenças na distribuição dos componentes da

MEC e tTG entre as cardiomiopatias dilatada e inflamatória.

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8 – PERSPECTIVAS FUTURAS

● Tentar estabelecer uma correlação entre os achados morfológicos e o

quadro clínico nas miocardites e cardiomiopatias.

● Reproduzir este estudo numa maior amostra de pacientes, na tentativa de

identificar perfis diferentes de distribuição desses componentes na doença

dilatada e inflamatória.

● Acrescentar ao estudo a identificação e caracterização da distribuição de

MMPs nos grupos estudados, visando obter informações quanto a

degradação dos colágenos nestes casos.

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