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1 CARACTERIZAÇÃO DOS MANGUEZAIS EM TRÊS DIFERENTES AMBIENTES MORFOLÓGICOS COSTEIROS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO VALE, C. C. DO 1 1 Departamento de Geografia, Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo identificar diferentes tipologias de desembocaduras margeadas por manguezais, distribuídas ao longo da costa do Espírito Santo, baseado na Teoria Geral dos Sistemas, postulada por Ludwig von Bertalanffy (1975), que abriu caminho para um pensamento científico integrador. Soma-se a este pressuposto teórico-metodológico a proposta de Thom (1982; 1984) referente à perspectiva geomorfológica sobre o papel exercido pelos fatores geofísicos, geomórficos e biológicos responsáveis pela distribuição, desenvolvimento e manutenção dos manguezais. Associada às duas perspectivas acima citadas, utiliza-se a estrutura hierárquica idealizada por Schaeffer-Novelli et al. (2000), cujo enfoque é a preocupação com a definição de escalas espaciais e temporais utilizadas nos estudos sobre os manguezais. O Espírito Santo apresenta diversidade geomorfológica costeira que possibilita o desenvolvimento dos manguezais, desde o norte até o sul do estado. Tal diversidade permite destacar, entre tantas outras, três diferentes áreas que foram escolhidas como objeto de estudo, sob o paradigma da Teoria Geral dos Sistemas, aplicado à Geografia. Procura-se, desse modo, caracterizar fitossociologicamente os manguezais do estuário do rio Mariricu, os do delta do rio Santa Maria da Vitória e os do estuário do rio Benevente, bem como analisar a interação destas características com a bacia hidrográfica de cada um dos rios acima citados. Palavras-chave: manguezal, geomorfologia costeira, Teoria Geral dos Sistemas, Espírito Santo. INTRODUÇÃO Pesquisas sobre a linha de costa sob diferentes enfoques, bem como sobre seus ecossistemas associados, tais como manguezais, dunas, marismas, restingas, lagunas, recifes de corais, entre outros, tornam-se cada vez mais freqüentes. Segundo Moraes (1999), a zona costeira se trata de um “lugar” diferenciado que apresenta características naturais que lhe são inerentes. A interface com o mar possibilita usos quase exclusivos da costa, tais como a exploração dos próprios recursos marinhos, a alocação dos portos terminais, vias de contato com a hinterlândia, a apropriação cultural que a transforma em espaço de inigualável lazer, o crescente turismo litorâneo, a alocação de segundas residências notadamente de veraneio, entre muitos outros. Por outro lado, a zona costeira, quando comparada com o restante das terras emersas do mundo, é um espaço reduzido, constituindo-se numa estreita faixa de terras finitas e relativamente escassas. A despeito desta finitude espacial, dois terços da humanidade habitam em zonas costeiras, onde se localiza a maioria das metrópoles atuais. A preocupação em planejar de forma coerente a ocupação e o uso do espaço costeiro é recente no Brasil. Os constantes problemas resultantes de interferência, direta e indireta, no balanço de sedimentos costeiros, do avanço da urbanização sobre áreas que deveriam ser preservadas, mostram que ainda é longo o caminho entre intenção e realização de planejar o uso e a ocupação desse espaço. Considerando que um planejamento regional de qualquer zona costeira demanda a compreensão de uma extensão mais ampla que apenas a costa, esse caminho torna-se ainda mais longo.

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CARACTERIZAÇÃO DOS MANGUEZAIS EM TRÊS DIFERENTES

AMBIENTES MORFOLÓGICOS COSTEIROS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

VALE, C. C. DO 1

1Departamento de Geografia, Universidade Federal do Espírito Santo [email protected]

RESUMO Este trabalho tem por objetivo identificar diferentes tipologias de desembocaduras margeadas por manguezais, distribuídas ao longo da costa do Espírito Santo, baseado na Teoria Geral dos Sistemas, postulada por Ludwig von Bertalanffy (1975), que abriu caminho para um pensamento científico integrador. Soma-se a este pressuposto teórico-metodológico a proposta de Thom (1982; 1984) referente à perspectiva geomorfológica sobre o papel exercido pelos fatores geofísicos, geomórficos e biológicos responsáveis pela distribuição, desenvolvimento e manutenção dos manguezais. Associada às duas perspectivas acima citadas, utiliza-se a estrutura hierárquica idealizada por Schaeffer-Novelli et al. (2000), cujo enfoque é a preocupação com a definição de escalas espaciais e temporais utilizadas nos estudos sobre os manguezais. O Espírito Santo apresenta diversidade geomorfológica costeira que possibilita o desenvolvimento dos manguezais, desde o norte até o sul do estado. Tal diversidade permite destacar, entre tantas outras, três diferentes áreas que foram escolhidas como objeto de estudo, sob o paradigma da Teoria Geral dos Sistemas, aplicado à Geografia. Procura-se, desse modo, caracterizar fitossociologicamente os manguezais do estuário do rio Mariricu, os do delta do rio Santa Maria da Vitória e os do estuário do rio Benevente, bem como analisar a interação destas características com a bacia hidrográfica de cada um dos rios acima citados. Palavras-chave: manguezal, geomorfologia costeira, Teoria Geral dos Sistemas, Espírito Santo. INTRODUÇÃO

Pesquisas sobre a linha de costa sob diferentes enfoques, bem como sobre seus ecossistemas associados, tais como manguezais, dunas, marismas, restingas, lagunas, recifes de corais, entre outros, tornam-se cada vez mais freqüentes.

Segundo Moraes (1999), a zona costeira se trata de um “lugar” diferenciado que apresenta características naturais que lhe são inerentes. A interface com o mar possibilita usos quase exclusivos da costa, tais como a exploração dos próprios recursos marinhos, a alocação dos portos terminais, vias de contato com a hinterlândia, a apropriação cultural que a transforma em espaço de inigualável lazer, o crescente turismo litorâneo, a alocação de segundas residências notadamente de veraneio, entre muitos outros.

Por outro lado, a zona costeira, quando comparada com o restante das terras emersas do mundo, é um espaço reduzido, constituindo-se numa estreita faixa de terras finitas e relativamente escassas. A despeito desta finitude espacial, dois terços da humanidade habitam em zonas costeiras, onde se localiza a maioria das metrópoles atuais.

A preocupação em planejar de forma coerente a ocupação e o uso do espaço costeiro é recente no Brasil. Os constantes problemas resultantes de interferência, direta e indireta, no balanço de sedimentos costeiros, do avanço da urbanização sobre áreas que deveriam ser preservadas, mostram que ainda é longo o caminho entre intenção e realização de planejar o uso e a ocupação desse espaço. Considerando que um planejamento regional de qualquer zona costeira demanda a compreensão de uma extensão mais ampla que apenas a costa, esse caminho torna-se ainda mais longo.

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Esta pesquisa tem como proposição identificar, ao longo da costa do Espírito Santo, tipologias de desembocaduras margeadas por manguezais e compara-las às séries propostas por Thom (1982). Nas desembocaduras visa a conhecer o comportamento dos manguezais em cada tipologia identificada, por meio do estudo fitossociológico, assim como pelas correlações com vários fatores abióticos. ÁREAS EM ESTUDO

A costa do estado do Espírito Santo apresenta características geológico-geomorfológicas bem variadas. A escolha das áreas para esta pesquisa baseou-se nestas diferentes características e estão localizadas ao longo da costa capixaba, mais especificamente no norte, no estuário do rio Mariricu, no centro-sul, no delta do rio Santa Maria da Vitória e no sul, no estuário do rio Benevente (Figura 01). METODOLOGIA

As primeiras atividades estiveram relacionadas com levantamento bibliográfico para o embasamento teórico e conceitual da pesquisa. Posteriormente foram definidos os três níveis de análise para a abordagem sistêmica. Foram realizados trabalhos de campo para levantamento fitossociológico segundo a metodologia de Schaeffer-Novelli & Cintron (1986) e coleta de sedimentos nos manguezais. Foram realizados ainda trabalhos de campo para reconhecimento do uso da terra na bacia dos rios já citados.

O tratamento dos dados referente à vegetação foi realizado segundo a metodologia de Schaeffer-Novelli & Cintron (1986), onde foi calculada a área basal dos bosques amostrados, a densidade de indivíduos por ha, a dominância e a altura dos indivíduos. Além dos dados bióticos, foram coletados dados abióticos, tais como salinidade superficial e intersticial da água. Para a coleta e o tratamento das amostras de sedimentos utilizou-se a metodologia de Suguio (1973).

A compilação e a análise dos dados levantados e/ou obtidos em campo e em laboratório foram apresentadas por meio de mapas temáticos, tabelas, gráficos e pela redação final da pesquisa. Os principais resultados estão parcialmente apresentados nos dados abaixo.

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RESULTADOS

No transecto 1, realizado no estuário do rio Mariricu, Laguncularia racemosa predominou com 96,1% dos indivíduos, seguido por Rhizophora mangle com 3,8% e com poucos indivíduos de Avicennia schaueriana, 0,1%. A área basal por espécie ao longo do transecto está apresentada em percentuais e números absolutos. Rhizophora mangle contribuiu com 24,5% ou 1,5175 m²/0.1ha; Laguncularia racemosa com 75,37% ou 4,6721 m²/0.1ha e Avicennia schaueriana com 0,13% ou 0,008 m²/0.1ha.

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP ao longo do transecto 1 de Rhizophora mangle foi de 3,6 troncos na classe inferior, 46,4 na intermediária e 48,8 na superior; de Laguncularia racemosa foi de 750,1 na inferior, 1.762,4 na intermediária e 72,7 na superior e de Avicennia schaueriana foi de 1,8 na intermediária e 3,6 na superior.

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO) encontrados nas amostras dos sedimentos coletadas serão apresentados por parcela. Na parcela 1, o predomínio foi de MO com 46,36%, seguido por silte com 30,3%, areia com 22,24% e apenas 1,1% de argila. A parcela 2 apresentou os seguintes percentuais: 39,38% de areia, 31,4 de silte, 26,62 de MO e 2,6% de argila. Na parcela 3, o predomínio foi de silte com 40,0%, seguido por MO com 28,76%, areia com 18,94% e argila com 12,3%. No que se refere à leitura da salinidade da água superficial e intersticial, esta foi realizada apenas durante a realização da coleta dos dados fitossociológicos, ou seja, foi uma coleta pontual. Leituras não periódicas parecem não conceder respostas fitossociológicas significativas.

Na parcela 1 observa-se valores iguais para ambas as salinidades e o predomínio de troncos de R. mangle (95%) seguida por L. racemosa com apenas 5% da porcentagem de troncos existentes. Na parcela 2, onde tanto a salinidade superficial quanto a intersticial são maiores verifica-se a ocorrência de A. schaueriana. Mesmo sendo um dado isolado, isto é, de apenas uma coleta, parece justificar a ocorrência dessa espécie apenas na parcela 2, uma vez que ela é a que mais se adapta a maiores teores de salinidade. Na parcela 3 L. racemosa predomina com 98,5% de sua ocorrência sendo verificada, ao longo do transecto, nesta parcela (Fig. 02).

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Figura 2 – Ambientes ou séries ambientais propostas por Thom (1982) nas quais os manguezais podem se desenvolver. Os cinco primeiros ambientes apresentam sedimentação terrígena e o último, sedimentação carbonática. Fonte: Woodroffe, 1992 – modificada.

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Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécie

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salinidade superf icial

salinidade intersticial

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Fig. 03 – Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 1, realizado nos manguezais às margens do rio Mariricu. Fonte e elaboração: dados de campo, Vale, 2004.

No transecto 2, realizado no estuário do rio Mariricu, Rhizophora mangle predominou com 92,5% dos indivíduos, seguido por Laguncularia racemosa com 7,5%. A área basal de Rhizophora mangle ao longo do transecto, em percentuais e números absolutos foi 98,8% ou 2,5061 m²/0.1ha e de Laguncularia racemosa foi 1,2% ou 0,0311 m²/0.1ha.

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP, ao longo do transecto 2, de Rhizophora mangle foi de 1,7 troncos na classe inferior, 13,8 na intermediária e 52 na superior; de Laguncularia racemosa foi de 1,7 na inferior, 2,6 na intermediária e 0,8 na superior.

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO) encontrados nas amostras dos sedimentos, coletadas na parcela, foram os seguintes: 46,48% de MO, seguido por silte com 37,4%, areia com 8,62% e 7,5% de argila.

Quanto à salinidade, observa-se que a superficial está mais alta que a intersticial (Fig. 03). Conforme foi mencionado para o transecto 1, a resposta pontual da leitura da salinidade realizada sem uma periodização de pelo menos 1 ano ininterrupto, não concede boas respostas fitossociológicas. Todavia, a leitura foi realizada durante o período de estiagem e durante a baixa-mar.

No transecto 3, realizado no canal de maré do estuário do rio Mariricu, Laguncularia racemosa predominou com 77,5% dos indivíduos, seguido por Rhizophora mangle com 22,5%. A área basal de Laguncularia racemosa, em percentuais e números absolutos, foi 57,8% ou 1,7899 m²/0.1ha e de Rhizophora mangle 42,2% ou 1,308 m²/0.1ha.

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP, ao longo do transecto 3, de Rhizophora mangle foi de 57,5 na intermediária e 82,5 na superior; de Laguncularia racemosa foi de 270 na inferior, 332,5 na intermediária e 67,5 na superior (8,3%).

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO) encontrados nas amostras dos sedimentos coletadas na parcela 1 foram: 96,78% de areia e 3,22% de silte. Na parcela 2, areia predominou com 98,2% seguido por apenas 1,8% de MO. A parcela 3 apresentou os seguintes percentuais: 22,28% de areia, 57,8% de silte, 16,92% de MO e 3,0% de argila.

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Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécie

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salinidade superficial

salinidade intersticial

Rm (%)Lr (%)

Fig. 04 - Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 2, realizado nos manguezais localizado às margens do rio Mariricu. Fonte e elaboração: dados de campo, Vale, 2004.

Quanto à salinidade mensurada ao longo do transecto, observa-se na parcela 1 que tanto a

salinidade superficial quanto à intersticial foram de 22‰. Talvez a salinidade mais baixa na parcela 1 esteja relacionada com a descarga de água doce lançada para o canal de maré. Os maiores valores de salinidade foram encontrados na parcela 2 com 33‰ e 29‰ para a superficial e intersticial, respectivamente. Na parcela 3, os valores da salinidade da água superficial e intersticial foram de 25‰ e 23‰.

Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécie

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parcela 1 parcela 2 parcela 3

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Tron

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salinidade superficial

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Rm (%)Lr (%)

Fig. 05 - Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 3, realizado nos manguezais localizados às margens do canal de maré do estuário do rio Mariricu. Fonte e elaboração: dados de campo, Vale, 2004.

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Para o delta do rio Santa Maria da Vitória, Ferreira (1989) escolheu cinco pontos para a realização dos transectos, dos quais foram utilizados, por esta pesquisa, quatro deles, cujos dados estão apresentados da mesma forma que a autora os apresentou.

O transecto 4 foi realizado no alto delta e Avicennia germinans predominou com 100% dos indivíduos. A contribuição de área basal da espécie no transecto foi de 6,62 m²/0.1ha (100%).

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP ao longo do transecto 4 foi representada por 120 troncos/0.1ha de Avicennia germinans na classe superior (100%).

Os percentuais de areia, silte/argila e MO na parcela do transecto 4 foram de 6,29%, 27,0% e 66,71%, respectivamente.

Quanto à salinidade, Ferreira (1989), utilizando o mesmo tipo de coleta e leitura da água, encontrou no transecto 4, salinidades superficial e intersticial de 20‰ e 12‰, respectivamente. Para o alto delta, salinidades tão baixas são esperadas, sobretudo por se tratar de um delta estuarino, no qual a penetração da água ocorre pela subida da maré, sob forma de cunha salina.

A presença de A. germinans pode parecer uma contradição, já que essa é uma das espécies que suportam maior teor de salinidade. Todavia, as marés de sizígias e as equinociais atingem o alto delta, depositando sal sobre o substrato, que lá permanece por mais tempo, ou seja, até a próxima maré mais alta, fato que não acontece nos locais mais lavados, onde o sal é depositado e retirado a cada maré.

Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécies

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Ag (%)

Fig. 06 – Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 4, realizado às margens do delta do rio Santa Maria. Fonte: Ferreira, 1989; elaboração: Vale, 2004.

No transecto 6, Rhizophora mangle predominou com 74,4% dos indivíduos e Laguncularia racemosa com 23,6%. Rhizophora mangle e Laguncularia racemosa contribuíram em área basal, em percentuais e números absolutos, na parcela 1 com 76,4% e 2,20 m²/0.1ha e 23,6% e 0,68 m²/0.1ha, respectivamente. Nas parcelas 2, 3 e 4 predominou Rhizophora mangle, cuja contribuição em valores absolutos de área basal foi de 2,04 m²/0.1ha, 1,84 m²/0.1ha e 1,98 m²/0.1ha, respectivamente. A área basal (%) está dividida nas classes intermediária e superior de DAP. Nas parcelas 1, 2, 3 e 4, na classe intermediária, os percentuais foram de 16%, 24,4%,

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39,6% e 34,3%, respectivamente. Na classe superior, os percentuais nas parcelas de 1 a 4 foram de 84%, 76,6%, 60,4% e 65,7%.

A densidade absoluta de troncos por parcela por espécies encontrada ao longo do transecto foi de 159,8 troncos/0.1ha de Rhizophora mangle e 80,2 troncos/0.1ha na parcela 1. Nas parcelas 2, 3 e 4 predominaram apenas troncos de Rhizophora mangle, com 280, 270 e 250 troncos/0.1ha, respectivamente.

Os percentuais de areia, silte/argila e MO na parcela 1 do transecto 6 foram de 3,39%, 23,27% e 73,34%, respectivamente. Na parcela 2, os percentuais foram os seguintes: 63,58% de MO, 30,92% de silte/argila e 5,5% de areia. Na parcela 3, areia predominou com 70,03%, seguida por silte/argila, com 18,71% e 11,26% de MO. Na última parcela os percentuais foram: 80,32% de silte/argila, 11,36% de MO e 8,29% de areia.

No que se refere à salinidade, em todas as parcelas, a salinidade superficial foi superior à intersticial, conforme pode ser observado na figura 138. A salinidade superficial variou entre 32‰ e 34‰, enquanto a superficial ficou abaixo desse valor, entre 29‰ e 30‰.

Salinidade superficial e intersticial (ppm)e % de troncos por espécies

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parcela 1 parcela 2 parcela 3 parcela 4

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salinidade superficial

salinidade intersticial

Rm (%)Lr (%)

Fig. 07 - Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 6, realizado nos manguezais do delta do rio Santa Maria. Fonte: Ferreira, 1989; elaboração: Vale, 2004.

No transecto 7, Rhizophora mangle predominou com 100% dos indivíduos. A

contribuição em área basal na parcela 1 foi de 1,05 m²/0.1ha, 59,3% e na parcela 2 foi 0,72 m²/0.1ha, 40,7%.

A área basal de Rhizophora mangle está dividida em percentuais nas classes intermediária e superior de DAP. Nas parcelas 1 e 2, na classe intermediária, os percentuais de área basal foram de 39,5% e 61,12%, respectivamente. Na classe diamétrica superior, os percentuais de área basal nas parcelas 1 e 2 foram respectivamente de 60,5%, e 38,88%.

A densidade absoluta de troncos ao longo do transecto é de 640 troncos/0.1ha. Os percentuais de areia, silte/argila e matéria orgânica (MO) encontrados nas amostras

dos sedimentos coletadas na parcela 1, foram: 10,94% de areia, 54,72% de silte/argila e 34,34% de MO. A parcela 2 apresentou os seguintes percentuais: 36,95% de areia, 40,19% de silte/argila e 22,86% de MO.

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A salinidade superficial e intersticial na parcela 1, foram ambas de 30‰, enquanto na parcela 2, a salinidade superficial estava um pouco mais elevada que a intersticial, cujos valores são 33‰ e 32‰ (Fig. 07).

Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécies

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salinidade superficial

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Rm (%)

Fig. 08 - Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 7, realizado nos manguezais do delta do rio Santa Maria.

Fonte: Ferreira, 1989; elaboração: Vale, 2004.

No transecto 8, Rhizophora mangle predominou nas três parcelas, com 100% de

dominância. A área basal, em percentuais e valores absolutos, na primeira parcela foi de 34,4% e 3,04 m²/0.1ha; na segunda de 37,7% e 3,33 m²/0.1ha e na terceira de 27,9% e 2,46 m²/0.1ha, respectivamente. A área basal (%) está dividida nas classes de DAP intermediária e superior. Nas parcelas 1, 2 e 3, na classe intermediária, os percentuais foram de 6,2%, 14,4% e 18,7%, respectivamente. Na classe diamétrica superior os percentuais nas parcelas de 1 a 3 foram de 93,8%, 85,6% e 81,3%.

A densidade absoluta de troncos por parcela encontrada ao longo do transecto foi de 270, 320 e 320 troncos/0.1ha, nas parcelas 1, 2 e 3, respectivamente.

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO) encontrados nas amostras dos sedimentos coletadas na parcela 1, foram: 25,08% de areia, 36,12% de silte/argila e 38,3 de MO. Na parcela 2, silte/argila predominaram com 93,4%, seguidos por apenas 3,35% de areia e 3,25% de MO. A parcela 3 apresentou os seguintes percentuais: 90,62% de silte/argila, 5,01% de areia, 4,37% de MO.

O gradiente de salinidade não variou muito ao longo do transecto, tanto no que se refere à salinidade superficial quanto à intersticial. A salinidade superficial nas parcelas 1, 2 e 3 foram respectivamente de 29‰, 32‰ e 29‰; enquanto a intersticial, na mesma ordem foi de 28‰, 30‰ e 29‰ (Fig. 09).

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Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécies

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salinidade superficial

salinidade intersticial

Rm (%)

Fig. 09 – Salinidade da água superficial e intersticial ao longo do transecto 8, realizado nos manguezais de uma ilha do delta do rio Santa Maria. Fonte: Ferreira, 1989; elaboração: Vale, 2004.

No transecto 1, realizado no estuário do rio Benevente, Avicennia schaueriana

predominou com 65,6% dos indivíduos, seguido por Rhizophora mangle com 32,3% com poucos indivíduos de Laguncularia racemosa, 2,1%. A contribuição em área basal por espécie, ao longo do transecto, em percentuais e números absolutos, de Rhizophora mangle foi de 59,96% ou 4,7004 m²/0.1ha; para Avicennia schaueriana 40,0% ou 3,1362 m²/0.1ha e para Laguncularia racemosa 0,04% ou 0,0009 m²/0.1ha.

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP ao longo do transecto 1 de Rhizophora mangle foi de 5 troncos na classe inferior, 17,6 na intermediária e 124 na superior; de Avicennia schaueriana foi de 30 na inferior, 172 na intermediária e 110,4 na superior e de Laguncularia racemosa foi de 9,4 na inferior.

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO) na parcela 1 foram: 25,0% de areia, 53,4% de silte, 20,5% de MO e 1,1% de argila. Na parcela 2, silte predominou com 61,6%, seguido por 27,26% de areia, 10,44% de MO e 0,7% de argila. A parcela 3 apresentou os seguintes percentuais: 9,78% de areia, 4,0% de silte, 21,02% de MO e 65,2% de argila.

A salinidade da água superficial e intersticial coletada nos transectos realizados nos manguezais do rio Benevente foi colhida durante o Verão, portanto na estação chuvosa. As salinidades superficiais apresentaram valores de 18‰, 28‰ e 26‰, enquanto as intersticiais mostraram valores de 28‰, 26‰ e 25‰ (Fig. 09).

Conforme já foi dito para os transectos anteriores, salinidades pontuais, coletadas apenas durante uma estação do ano, não concedem boas respostas fito-ecológicas.

No transecto 2, realizado no estuário do rio Benevente, Avicennia schaueriana predominou com 74,6% dos indivíduos, seguido por Rhizophora mangle com 25,4%. A contribuição em área basal por espécie ao longo do transecto, em percentuais e números absolutos, de Avicennia schaueriana foi de 81,9% ou 7,3649 m²/0.1ha e de Rhizophora mangle 18,1% ou 1,632 m²/0.1ha.

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Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécie

1828 2628 25

26

0102030405060708090

100

parcela 1 parcela 2 parcela 3

Salin

idad

e (s

up. e

int.

- ppm

)

0102030405060708090100

Tron

cos

por e

spéc

ie (%

)

salinidade superficial

salinidade intersticial

Rm (%)Lr (%)Av (%)

Fig. 10 – Salinidade da água superficial e intersticial coletada ao longo do transecto 1, realizado nos manguezais às margens do rio Benevente. Fonte e elaboração: Dados de campo, Vale, 2004.

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP ao longo do transecto 1 de Rhizophora mangle foi de 10 troncos na classe intermediária e 106,6 na superior; de Avicennia schaueriana foi de 13 na inferior, 199,56 na intermediária e 124,55 na superior.

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO), na parcela 1, foram: 55,7% de silte, 33,48% de MO, 10,82% de areia e 0,4% de argila. Na parcela 2, silte predominou com 73,2%, seguido por 16,78% de MO, 7,62% de areia e apenas 2,4% de argila. A parcela 3 apresentou os seguintes percentuais: 72,9% de silte, 12,08% de areia, 13,82% de MO e 1,2% de argila.

A salinidade superficial elevou-se a partir da parcela 1 em direção a parcela 3, sendo de 19‰ na parcela 1, 23‰ na 2 e 24‰ na 3. A salinidade intersticial nas parcela 1 e 3 foi de 31‰ e na parcela 2 foi de 21‰. Tal comportamento confirma a ineficácia de dados pontuais com relação à salinidade, uma vez que a parcela 2, em função de ser um bosque do tipo fisiográfico bacia e apresentar o predomínio da espécie que mais se adapta a maiores teores de salinidade, A. schaueriana, apresentou a menor salinidade intersticial. Por outro lado, é válido relembrar que a coleta realizou-se com chuva e tais valores podem ser comuns durante o Verão.

No transecto 3, realizado na ilha do Papagaio, no estuário do rio Benevente, Laguncularia racemosa predominou com 67,3% dos indivíduos e Avicennia schaueriana com 26,4% , seguido por poucos indivíduos de Rhizophora mangle, 6,4%. Quanto à área basal por espécie ao longo do transecto, em percentuais e números absolutos, Rhizophora mangle contribuiu com 11,3% ou 0,6186 m²/0.1ha; Avicennia schaueriana com 59,6% ou 1,5885 m²/0.1ha e Laguncularia racemosa com 29,1% ou 3,2496 m²/0.1ha.

A densidade absoluta de troncos por espécie por classe de DAP ao longo do transecto 1 de Rhizophora mangle foi de 33,3 na intermediária e 40 na superior; de Avicennia schaueriana foi de 86,6 na inferior 166,6 na intermediária e 80 na superior e de Laguncularia racemosa foi de 10 na inferior, 636,6 na intermediária e 60 na superior.

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Salinidade superficial e intersticial (ppm) e % de troncos por espécie

19 23 2431

2131

0

10

20

30

40

5060

70

80

90

100

parcela 1 parcela 2 parcela 3

Salin

idad

e (s

up. e

int.

- ppm

)

0

20

40

60

80

100

120

Tron

cos

por e

spéc

ie (%

)

salinidade superficial

salinidade intersticial

Rm (%)Av (%)

Fig. 11- Salinidade da água superficial e intersticial coletada ao longo do transecto 2, realizado nos manguezais às margens do rio Benevente. Fonte e elaboração: Dados de campo, Vale, 2004.

Os percentuais de areia, silte, argila e matéria orgânica (MO) na parcela 1 foram de

55,3% de silte, 22,5% de areia, 20,5% de MO e 1,7% de argila. Na parcela 2, silte novamente predominou com 72,12%, seguido por 13,6% de areia, 10,4% de MO e apenas 2,9% de argila. A parcela 3 apresentou 56,4% de silte, 10,16% de areia, 32,44% de MO e 1,0% de argila.

A salinidade da água superficial e intersticial das amostras mensuradas nas parcelas pode ser visualizada no Fig. 12.

Salinidade superficial e intersticial (ppm)e % de troncos por espécie

22 1911

28 25 33

0102030405060708090

100

parcela 1 parcela 2 parcela 3

Salin

idad

e (s

up. e

int.

- ppm

)

0102030405060708090100

Tron

cos

por e

spéc

ie (%

)

salinidade superficial

salinidade intersticial

Rm (%)Lr (%)Av (%)

Fig. 12 - Salinidade da água superficial e intersticial coletada ao longo do transecto 3, realizado nos manguezais da ilha do Papagaio no estuário do rio Benevente. Fonte e elaboração: Dados de campo, Vale, 2004.

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DISCUSSÃO

Os valores dos parâmetros obtidos durante a execução da pesquisa descrevem o comportamento do sistema, por meio de diversos atributos analisados tanto isoladamente, bem como por meio da correlação entre eles.

A proposta teórico-metodológica, a partir da qual buscou-se compreender o comportamento dos manguezais nas diferentes tipologias de desembocaduras da costa do Espírito Santo, mostrou-se coerente. A análise em três recortes de diferentes escalas espaciais, não só proporcionou a compreensão do encadeamento das relações entre tais recortes, como também esclareceu a impossibilidade de uma análise isolada do comportamento dos manguezais.

Os níveis hierárquicos definidos por Schaeffer-Novelli et al. (2000) para a pesquisa sobre os manguezais, bem como os ambientes geomórficos propostos por Thom (1982) para o crescimento e desenvolvimento dos manguezais (figura 2), corroboram o principio hierárquico da Teoria Geral dos Sistemas concebida por Bertalanffy (1975). Nesse sentido, os três pressupostos teórico-metodológicos apresentam-se como referencial unificador, que busca a compreensão dos sistemas, a partir de escalas espaciais e temporais superiores, perpassando por vários níveis de análise, até alcançar o objeto final desta – neste caso, o manguezal.

Ao longo da costa do Espírito Santo distinguem-se diferentes tipologias de desembocaduras, todas resultantes dos fatores geofísicos e geomórficos ocorrentes não apenas na costa, mas também no território brasileiro e no sul-americano como um todo. As desembocaduras escolhidas como áreas experimentais para a pesquisa, o estuário do rio Mariricu, o delta do rio Santa Maria da Vitória e o estuário do rio Benevente, localizam-se em setores geológico-geomorfológicos distintos, segundo Martin et al. (1997) e, portanto, diferentes entre si.

A foz do estuário do rio Mariricu localiza-se no setor da costa capixaba que faz parte da planície costeira do rio Doce, onde há o predomínio dos sedimentos quaternários sobre os sedimentos terciários, estando distante do relevo esculpido nas rochas do pré-Cambriano. Do ponto de vista morfológico, o estuário do rio Mariricu aproxima-se do ambiente IV de Thom (1982), pois apresenta barra fluvial e cordões arenosos, além de apresentar bancos de sedimentação na laguna costeira, feição típica deste ambiente. Entretanto, do ponto de vista hidrodinâmico, o estuário enquadra-se em um ambiente intermediário entre os ambientes III e IV (Figura 2).

O delta do rio Santa Maria enquadra-se entre os ambientes I e III. A descarga de água doce do rio Santa Maria e de sedimentos fluviais favorece o crescimento de formas deposicionais terrígenas, compostas por areia, silte e argila, como ocorre no ambiente I e, desse modo, cobertas por manguezais em função da mistura da água doce com a água salgada da baía. Entretanto, como o rio deságua na baía de Vitória, não há condições para formação de cordões praiais nem para a configuração de uma linha de costa crenulada, feições presentes no ambiente I, proposto por Thom (1982). Pelo fato de o rio estar encaixado entre os sedimentos terciários no seu baixo curso, não apresenta distributários abandonados. A aproximação com o ambiente III justifica-se apenas do ponto de vista da ação reduzida de ondas e marés, uma vez que o delta deságua em um corpo hídrico semi-confinado.

O estuário do rio Benevente enquadra-se no ambiente V de Thom (1982), pois constitui um vale afogado. Entretanto, ao contrário do que afirma o autor com relação às características desse ambiente, este estuário está preenchido por sedimentos predominantemente terrígenos continentais, inclusive em função da morfologia nas áreas adjacentes à foz, que o protegem da

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ação das ondas e marés e, portanto, da entrada de sedimentos costeiros. Dessa forma, em comparação com o ambiente V de Thom (op.cit.), no estuário do rio Benevente os manguezais encontram excelentes habitats para seu desenvolvimento, uma vez que a ação das ondas e marés é menos efetiva quando comparada à ação dos processos fluviais, modificando o padrão de ocorrência dos mangues, estabelecido por Thom (op.cit.), para o ambiente V.

Portanto, em um sistema hierárquico de análise, ou seja, com diferentes recortes espaciais, todos eles devem ser considerados, pois, para entender o comportamento dos manguezais em um nível de detalhe, há que se buscar explicações em unidades espaciais maiores, em um nível hierárquico acima e assim sucessivamente. Nesse sentido a bacia hidrográfica constitui unidade espacial a partir da qual podem ser iniciados estudos e amarrações com níveis espaciais menores.

Os transectos realizados a partir da metodologia de Schaeffer-Novelli & Cintrón (1986) possibilitaram caracterizar os bosques de mangues nas áreas escolhidas, quanto à densidade de indivíduos por espécie, à área basal por espécie, à dominância em densidade por troncos nas três classes de DAP (inferior, intermediária e superior), ao estresse dos indivíduos por espécie por parcela, à altura média do bosque, à correlação entre altura e DAP dos indivíduos ao longo do transecto. A partir de tais dados, bem como da relação deles com dados abióticos (salinidade, porcentagem de componentes minerais e porcentagem de matéria orgânica) que serão apresentados, foi possível a análise estrutural dos bosques, bem como a análise do comportamento dos manguezais quanto à composição florística, à zonação e à distribuição da vegetação.

Desse modo, os dados fitossociológicos foram levantados visando a compreender como as forças externas atuam para a configuração da morfologia das áreas em estudo e as respostas delas refletidas nos mangues, possibilitando a melhor aproximação aos ambientes propostos por Thom (1982). REFERÊNCIAS FERREIRA, R. D. 1989. Os manguezais da Baía de Vitória (ES): um estudo de Geografia Física Integrada. São Paulo, 302f. Tese (Doutoramento em Geografia) Universidade de São Paulo. BERTALANFFY, L.V. 1975. Teoria Geral dos Sistemas. 2ª ed. Petrópolis, Vozes. MARTIN ET AL. 1997. Geologia do Quaternário Costeiro do litoral norte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Belo Horizonte. CPRM/FAPESP. MORAES, A.C.R. 1999. Contribuições para a gestão da zona costeira do Brasil. São Paulo. HUCITEC/EDUSP. SCHAEFFER-NOVELLI, Y e CINTRÓN-MOLERO, G. 1986. Guia para estudo de áreas de manguezal: estrutura, função e flora. Caribbean Ecological Research, São Paulo. SCHAEFFER-NOVELLI, Y.; CINTRON-MOLERO, G E TOGNELA-DE ROSA, M. 2000. Brazilian Mangroves. Aquatic Ecosystem Health and Management Society. Elsevier, n.3 p.561-570. SUGUIO, K. 1973. Introdução à sedimentologia. 1ª ed. São Paulo. EDUSP. THOM, B.G. 1982. Mangrove ecology: a geomorphological perspective. Mangrove Ecosystems in Australia: structure, function and management. Camberra: B.F. Clough Australian National University Press.

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VALE, C.C. 2004. Séries geomórficas costeiras do estado do Espírito Santo e os habitats para o desenvolvimento dos manguezais: uma visão sistêmica. São Paulo, 386f. Tese (Doutoramento em Geografia) Universidade de São Paulo. WOODROFFE, C.D. 1992. Mangroves sediments and geomorphology. In: ROBERTSON,A.I. & ALONGI, D.M. (Eds.). Tropical Mangrove Ecosystems. Washington, D.C.: American Geophisycal Union, 1992, p. 7-42.