Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

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Ana Carolina Caliman Sório Palmeira Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta PROJETO DE GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA Programa de Graduação em Engenharia Mecânica Rio de Janeiro Dezembro de 2015

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Ana Carolina Caliman Sório Palmeira

Caracterização dos Sistemas

Mecânicos em uma Bicicleta

PROJETO DE GRADUAÇÃO

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

MECÂNICA

Programa de Graduação em

Engenharia Mecânica

Rio de Janeiro

Dezembro de 2015

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I

Ana Carolina Caliman Sório Palmeira

Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

PROJETO DE GRADUÇÃO

Projeto apresentado como requisito para obtenção de

grau de Bacharel pelo Programa de

Graduação em Engenharia Mecânica do

Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio.

Orientador

Mauro Speranza Neto

Rio de Janeiro,

Dezembro de 2015

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II

Agradecimentos

Ao meu orientador, Prof. Mauro Speranza Neto, e ao aluno de Doutorado, Allan N. de

Albuquerque, primeiramente pela disponibilidade, incentivo e orientação desde o início do projeto

e, também pelos conselhos e teorias, sempre de grande ajuda.

Aos meus pais, Kátia Caliman Sório e Luiz Cláudio F. Palmeira, que sempre me

incentivaram, prezaram pelos estudos e se preocuparam comigo durante todo esse tempo.

A meu namorado, Antônio Cabral C. Fontes, pelo apoio e motivação durante todo esse

tempo juntos.

Aos meus amigos do Laboratório de Desenvolvimento de Controle, Lucas Ribeiro, Caio

Cavalcante e Marilia Assad, que me fizeram seguir em frente, sempre me apoiando e ajudando no

que eu precisasse.

Aos amigos de curso da PUC-Rio, que me apoiaram e fizeram parte da minha formação

е que vão continuar presentes em minha vida.

A Deus por ter me dado forças e coragem para continuar e concluir este meu sonho.

Ana Carolina Caliman Sório Palmeira

Page 4: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

III

Resumo

Esse projeto de graduação visa a identificação e a determinação de parâmetros físicos de

uma bicicleta genérica para ser utilizado como base de estudos futuros sobre a dinâmica da mesma.

Foram utilizados instrumentos de medição para a determinação das características geométricas, e

foram desenvolvidos testes para a determinação de distribuição de massa, valores inerciais,

transmissão de potência e de frenagem para uma bicicleta convencional.

Este trabalho demonstra de forma simplificada e breve a dinâmica (lateral e longitudinal)

de uma bicicleta, para mostrar a aplicação dos parâmetros que serão obtidos e estudados, e

descreve objetivamente seus cinco subsistemas: transmissão, frenagem, direção, suspensão e

estrutura, onde os parâmetros significativos de cada subsistema são medidos e/ou calculados.

Para uma melhor análise dos resultados obtidos nos testes de medição do centro de

gravidade e de momento de inercia, um modelo detalhado em CAD da bicicleta em estudo foi feito

para se obter valores que possam ser comparados com os obtidos nos testes experimentais.

Palavras-chave: bicicleta, caracterização experimental, modelo computacional

Page 5: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

IV

Abstract

This graduation project is aimed at the identification and determination of physical

parameters of a generic bicycle to be used as a basis for future studies on the dynamics of such a

bicycle. Measuring instruments were used for determining geometric characteristics and tests were

developed for determining mass distribution, inertia values, power transmission and braking

parameters of a conventional bicycle.

This study displays the dynamics of a bicycle (laterally and longitudinally) in a simplified

and concise fashion as well as the application of the parameters that are to be obtained and studied.

It also objectively describes the five subsystems involved: transmission, braking, steering,

suspension and structure, where significant parameters of each subsystem are measured and/or

calculated.

For a better analysis of the results obtained from the measuring tests of both the center of

gravity and the moment of inertia, a detailed CAD model of the bicycle was made in order to

obtain values that can be compared with those obtained from the experimental tests.

Keywords: bicycle, experimental characterization, computational model

Page 6: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

V

Índice

1. Introdução .............................................................................................................................. 10

1.1 Objetivo ............................................................................................................................... 10

1.2 Motivação ............................................................................................................................ 10

1.3 Descrição do problema ........................................................................................................ 11

1.4 Organização do trabalho ...................................................................................................... 13

2 Dinâmica longitudinal e lateral .............................................................................................. 15

2.1 Introdução ............................................................................................................................ 15

2.2 Dinâmica lateral ................................................................................................................... 15

2.2.1 Apresentação dos parâmetros ....................................................................................... 16

2.2.2 Modelo cinemático ........................................................................................................ 18

2.3 Dinâmica longitudinal .......................................................................................................... 20

2.3.1 Apresentação dos parâmetros ....................................................................................... 20

2.3.2 Modelo cinemático ........................................................................................................ 22

3 Descrição da geometria dos sistemas mecânicos ................................................................... 24

3.1 Introdução ............................................................................................................................ 24

3.2 Sistema de transmissão ........................................................................................................ 24

3.2.1 Descrição dos componentes .......................................................................................... 25

3.2.2 Medição dos parâmetros significativos ......................................................................... 26

3.3 Sistema de frenagem ............................................................................................................ 28

3.3.1 Descrição dos componentes .......................................................................................... 28

3.3.2 Medição dos parâmetros significativos ......................................................................... 29

3.4 Outros sistemas .................................................................................................................... 31

3.5 Modelagem em CAD ........................................................................................................... 34

4 Caracterização dos sistemas mecânicos ................................................................................. 41

4.1 Introdução ............................................................................................................................ 41

4.2 Obtenção das coordenadas do centro de gravidade ............................................................. 41

4.2.1 Descrição do procedimento ........................................................................................... 41

4.2.2 Resultados experimentais .............................................................................................. 45

4.2.3 Análise de incerteza dos resultados .............................................................................. 48

4.3 Obtenção dos momentos de inércia ..................................................................................... 52

4.3.1 Descrição do procedimento ........................................................................................... 55

Page 7: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

VI

4.3.2 Momento de inércia de arfagem ................................................................................... 58

4.3.3 Momento de inércia de rolagem ................................................................................... 61

4.4 Caracterização do sistema de transmissão ........................................................................... 63

4.5 Caracterização do sistema de frenagem ............................................................................... 64

4.5.1 Descrição do procedimento ........................................................................................... 64

5 Conclusão e trabalhos futuros ................................................................................................ 67

5.1 Conclusão ............................................................................................................................. 67

5.2 Trabalhos futuros ................................................................................................................. 68

Page 8: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

VII

Índice de Figuras

Figura 1.1 - Evolução da bicicleta ................................................................................................. 11

Figura 1.2 - Esquema representativo da dinâmica de uma bicicleta ............................................. 12

Figura 1.3 - Problema de medição. ............................................................................................... 13

Figura 2.1 - Sistemas de coordenadas geral .................................................................................. 16

Figura 2.2 - Sistema de coordenadas a) horizontal e b) vertical ................................................... 17

Figura 2.3 - Cinemática lateral de uma bicicleta em curva ........................................................... 19

Figura 2.4 - Sistema de referência, parâmetros geométricos e forças aplicadas na bicicleta. a)

Tração e b) Frenagem .................................................................................................................... 21

Figura 3.1 - Componentes do sistema de transmissão. ................................................................. 25

Figura 3.2 - Conjuntos de engrenagens. a) Traseira (Cassete) e b) Dianteira (Coroa) ................. 27

Figura 3.3 - Tipos de freio. a) Cantilevers, b)V-Brake e c) Hidráulico ......................................... 29

Figura 3.4 - Freios a disco da bicicleta em estudo. a) Dianteiro e b) Traseiro .............................. 30

Figura 3.5 - Tipos de estrutura de quadros. ................................................................................... 32

Figura 3.6 - Nome de cada seguimento do quadro da bicicleta. ................................................... 32

Figura 3.7 - Principais medidas características da bicicleta. ......................................................... 33

Figura 3.8 - Garfo da bicicleta. ..................................................................................................... 34

Figura 3.9 - Guidão da bicicleta com manetes. ............................................................................. 35

Figura 3.10 - Roda dianteira com disco do freio. .......................................................................... 35

Figura 3.11 - Roda traseira com disco de freio e cassete. ............................................................. 36

Figura 3.12 - Bateria. ..................................................................................................................... 36

Figura 3.13 - Quadro da bicicleta. ................................................................................................. 37

Figura 3.14 - Modelagem do quadro da bicicleta. ......................................................................... 37

Figura 3.15 - Selim. ....................................................................................................................... 38

Figura 3.16 - Modelagem do selim da bicicleta. ........................................................................... 38

Figura 3.17 - Conjunto pedivela com movimento central e coroa e conjunto pedal. .................... 39

Figura 3.18 - Montagem da bicicleta completa 1. ......................................................................... 39

Figura 3.19 - Montagem da bicicleta completa 2. ......................................................................... 40

Figura 4.1 - Esquema de forças. .................................................................................................... 42

Figura 4.2 - Esquema de forças com uma das rodas erguidas. ...................................................... 43

Figura 4.3 - Geometria da bicicleta com roda erguida em detalhe. .............................................. 44

Figura 4.4 - Teste 1 ....................................................................................................................... 46

Figura 4.5 - Teste 2 a) Reação roda traseira e b) Reação roda dianteira ....................................... 47

Figura 4.6 - Medição da projeção da distância entre eixos ........................................................... 47

Figura 4.7 - Pêndulo composto ..................................................................................................... 53

Figura 4.8 - Avião e aparato de sustentação dispostos para a determinação dos momentos

de inércia. a) Momento de Inércia em X (Ixx) e b) Momento de Inércia em Y (Iyy). .................. 56

Figura 4.9 - Avião e aparato de sustentação dispostos para a determinação do momento

de inércia em Z (Izz). ..................................................................................................................... 57

Figura 4.10 - Aparato de sustentação desenvolvido para auxiliar na obtenção dos

momentos de inércia de rolagem e de arfagem. ............................................................................ 58

Figura 4.11 - Teste realizado para se obter o período para o cálculo do momento

de inércia Iyy. ................................................................................................................................ 59

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VIII

Figura 4.12 - Momentos Iyy (pitch) e Izz (yaw) obtidos no SolidWorks. ........................................ 60

Figura 4.13 - Teste realizado para se obter o período para o cálculo do momento

de inércia Ixx. ................................................................................................................................ 62

Figura 4.14 - Momento Ixx (roll) obtido no SolidWorks. ............................................................... 63

Figura 4.15 - Manetes instrumentadas. ......................................................................................... 65

Figura 4.16 - Microcontrolador. .................................................................................................... 66

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IX

Índice de Tabelas

Tabela 2.1 - Parâmetros do modelo dinâmico lateral da bicicleta. ............................................... 18

Tabela 2.2 - Listagem parcial dos parâmetros empregados no modelo dinâmico do sistema

bicicleta. ........................................................................................................................................ 21

Tabela 3.1 - Informações importantes de cada engrenagem ......................................................... 27

Tabela 4.1 - Medidas relevantes para o teste 1 ............................................................................. 46

Tabela 4.2 - Medidas relevantes para o teste 2 ............................................................................. 48

Tabela 4.3 - Resultados obtidos através dos testes 1 e 2 ............................................................... 48

Tabela 4.4 - Incertezas tipo B ........................................................................................................ 50

Tabela 4.5 - Resultados das incertezas de y .................................................................................. 52

Tabela 4.6 - Resultados finais com incertezas .............................................................................. 52

Tabela 4.7 - Medidas obtidas através do teste para momento de inércia Iyy. ............................... 59

Tabela 4.8 - Resultados obtidos no cálculo experimental do momento de inércia Iyy. ................ 60

Tabela 4.9 - Medidas obtidas através do teste para momento de inércia Ixx. ............................... 61

Tabela 4.10 - Resultados obtidos no cálculo experimental do momento de inércia I’xx. ............. 62

Tabela 4.11 - Relações de transmissão possíveis na bicicleta tratada ........................................... 64

Tabela 5.1 - Parâmetros adquiridos do modelo dinâmico lateral da bicicleta. .............................. 67

Tabela 5.2 - Listagem parcial preenchida com os parâmetros que são empregados no

modelo dinâmico do sistema bicicleta. ......................................................................................... 68

Tabela 5.3 - Parâmetros que serão obtidos através dos testes dinâmicos. .................................... 69

Page 11: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

10

1. Introdução

1.1 Objetivo

Neste trabalho foi estudado o sistema mecânico bicicleta, no qual as entradas são os

ângulos de esterçamento do guidão, o torque recebido pelos pedais, a força aplicada nas manetes

de freio, ângulo de deriva e a inclinação do terreno. Suas dinâmicas são: lateral, longitudinal e

vertical e seus subsistemas são: direção, suspensão, transmissão e freios, que por sua vez possuem

vários componentes: eixos, amortecedores, mecanismos, engrenagens, corrente, pneus, rodas e

outros. Estes, são compostos por elementos básicos como inércias, efeitos de flexibilidade, atritos

e outros.

O objetivo deste trabalho é a identificação de parâmetros físicos de uma bicicleta

genérica, usando como base o modelo Brazil Electric (E-bike confort super 350W 24V15Ah),

visando auxiliar no trabalho de doutorado de Assad, M. M. com testes eficazes e consistentes.

1.2 Motivação

As bicicletas apareceram em meados do século XIX e desde então vem sendo estudadas

e aperfeiçoadas, sendo utilizadas em todos os lugares do mundo para transporte, exercício e

diversão. A evolução da bicicleta ao longo do tempo tem sido um produto de diferentes

necessidades, tais como praticidade, facilidade, agilidade e performance. Um bom exemplo são as

bicicletas elétricas, que surgiram da necessidade de suplantação dos problemas de mobilidade

urbana dentro das grandes cidades, e também do forte apelo por meios de transporte eco-friendly,

ou seja, que não geram gases do efeito estufa prejudicando o meio ambiente.

Page 12: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

11

Figura 1.1 - Evolução da bicicleta

Analisando a bicicleta com um olhar mais voltado para engenharia, pode-se dizer que a

partir dela o estudo de outros veículos mais complexos se torna mais simples, didático e intuitivo.

Tornando-a assim um objeto coringa para estudos de várias disciplinas contidas nos cursos de

engenharia mecânica e de controle e automação, como dinâmica, modelagem, controle, elementos

mecânicos e seus sistemas e muitos outros.

Acredita-se que o estudo teórico junto com a prática se torna mais prazeroso, dinâmico e

atrativo para o estudante, principalmente quando se trata de um objeto tão presente no dia a dia.

1.3 Descrição do problema

Um esquema representativo da dinâmica de uma bicicleta encontra-se representado na

Figura 1.2. Nele pode-se observar as entradas do sistema, que são as variáveis de controle, como

ângulo de esterçamento e outros que já foram citados na Seção 1.1 e as saídas deste que são:

velocidade longitudinal, vertical (bouce) e lateral (sideslip), as inclinações do corpo da bicicleta:

rolagem (roll), guinada (yaw) e frenagem e aceleração (pitch).

Page 13: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

12

Figura 1.2 - Esquema representativo da dinâmica de uma bicicleta

Alguns problemas básicos podem ser encontrados durante o procedimento de modelagem

e uma dificuldade que geralmente acompanha esse procedimento é a determinação dos valores

numéricos ou dos próprios modelos que determinam os parâmetros na representação matemática

dos sistemas dinâmicos. A identificação pode ajudar na determinação de certos coeficientes, porém

a necessidade de se ter um modelo em escala, o protótipo ou o sistema real, para que se possa

realizar testes sobre eles é de suma importância.

A identificação pode ser separada em identificação estrutural ou em identificação

paramétrica. A identificação estrutural trata da obtenção da topologia do modelo e a identificação

paramétrica, que é um dos focos do trabalho, permite determinar os coeficientes destas matrizes a

partir de uma estrutura já estabelecida. Este problema é ilustrado na Figura 1.3.

Page 14: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

13

Figura 1.3 - Problema da identificação paramétrica.

Outro problema que também será tratado no texto é o de medição ou instrumentação,

esquematizado na Figura 1.4, que permite determinar a entrada, conhecendo-se o sistema e a saída.

Uma prática que deve sempre ser empregada por quem realiza medições é utilizar os conceitos da

análise de sistemas dinâmicos para compensar possíveis incorreções no sistema de medidas. Por

exemplo, conhecidas as distorções provocadas por um determinado instrumento do sistema de

medidas, pode-se trabalhar fora da faixa de utilização determinada pelo fabricante com uma boa

margem de segurança. (Speranza Neto, M. et al,2005)

Figura 1.3 - Problema de medição.

1.4 Organização do trabalho

No Capítulo 2 há uma breve descrição das dinâmicas lateral e longitudinal como forma

de mostrar a necessidade da obtenção de certos parâmetros que serão obtidos no decorrer do

trabalho. No Capítulo 3 estão descritos todos os sistemas mecânicos e componentes essenciais para

Page 15: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

14

o funcionamento da bicicleta e uma modelagem desta foi feita em CAD, para uma melhor análise

dos resultados. No Capítulo 4 são descritos os testes realizados, mostrando seus resultados para

determinação experimental de parâmetros e, no Capítulo 5, são apresentadas as sugestões para

trabalhos futuros e as conclusões do trabalho.

Page 16: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

15

2 Dinâmica longitudinal e lateral

2.1 Introdução

Um modelo dinâmico detalhado de uma bicicleta é complexo, devido à alguns aspectos

que podem ser levados em consideração. A decisão de quais componentes devem ser incluídos no

modelo, como se deve tratar a dinâmica de interação entre a roda e o solo e a complexidade que

deve ser dada ao modelo do ciclista vai de acordo com o objetivo do estudo.

O objetivo do Capítulo é apresentar de forma simplificada e breve a dinâmica de uma

bicicleta, para mostrar a importância dos parâmetros que serão obtidos e estudados neste trabalho.

Para isso, algumas premissas terão que ser definidas.

2.2 Dinâmica lateral

Um modelo matemático será apresentado nesta Seção visando a análise do

comportamento da bicicleta no plano horizontal, considerando-se suficiente tratar o deslocamento

lateral do veículo através de sua cinemática no plano XY, sem deixar de representar as principais

características do movimento em curva. É possível perceber a presença do deslocamento

longitudinal nesse caso, devido ao movimento ‘para frente’ da bicicleta, porém esse tipo de

deslocamento será considerado como parte natural da dinâmica lateral.

Será considerado que a bicicleta consiste de duas partes rígidas: roda dianteira + garfo +

guidão e quadro + roda traseira. A influência de outras partes do veículo, como pedais, corrente,

amortecedor e freio serão desprezadas. Além disso, considera-se que os pneus não se deformam

nem derrapam em suas trajetórias.

Page 17: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

16

2.2.1 Apresentação dos parâmetros

Usando o que foi mostrado em Assad, M. M. (2014), o modelo matemático que descreve

a dinâmica de uma bicicleta compreende a equação de movimento no plano horizontal e seu

equilíbrio no plano vertical, expostas na Figura 2.1 e em mais detalhes na Figura 2.2. As variáveis

do modelo incluem o ângulo de esterçamento dianteiro (𝛿) do garfo; o ângulo de guinada (𝜓) e os

ângulos de rolagem do centro de massa (𝜑), além de outros parâmetros descritos na Tabela 2.1.

Figura 2.1 - Sistemas de coordenadas geral

Page 18: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

17

a) b)

Figura 2.2 - Sistema de coordenadas a) horizontal e b) vertical

Ainda sobre o que Assad, M. M. (2014) descreveu, o sistema de coordenadas inercial tem

eixos X, Y e Z e origem em O; o sistema embarcado de eixos 𝑥, 𝑦 e 𝑧 tem origem no ponto de

contato entre a roda traseira e o eixo horizontal. A orientação do plano da roda traseira é definida

pelo ângulo de guinada (𝜓), que relaciona os eixos X e 𝑥; o eixo 𝑧 está na vertical e 𝑦 é

perpendicular a 𝑥, com sentido positivo para a esquerda da bicicleta.

O ângulo de rolagem da roda traseira, 𝜑, é positivo quando o veículo se encontra inclinado

para a direita, conforme mostrado na Figura 2.2 b. O ângulo de rolagem 𝜑𝑓 da roda dianteira é

distinto da traseira devido a inclinação do guidão; considera-se que o ângulo do centro de massa é

o mesmo da roda traseira.

Por fim, o ângulo de esterçamento dianteiro do garfo (𝛿), fornecido pelo ciclista, é o

ângulo formado na interseção entre os planos das rodas traseira e dianteira e é considerado positivo

Page 19: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

18

quando o veículo está realizando a curva para a esquerda – ver Figura 2.2 a. A Tabela 2.1 traz um

resumo das variáveis utilizadas no modelo.

Tabela 2.1 - Parâmetros do modelo dinâmico lateral da bicicleta.

Parâmetro Símbolo

Massa da bicicleta 𝑚

Distância entre as rodas (eixos) 𝑙

Altura do centro de massa ℎ

Distância entre a roda traseira e o centro de massa 𝑙𝑡

Distância entre a roda dianteira e o centro de massa 𝑙𝑑

Momento de inércia em torno do eixo 𝑥 𝐽𝑥

Gravidade 𝑔

Ângulo de esterçamento 𝛿

Ângulo de guinada 𝜓

Ângulo de rolagem 𝜑

Velocidade longitudinal da roda traseira 𝑣

2.2.2 Modelo cinemático

Segundo Astrom, K. J. (2005), é possível representar a movimentação dinâmica da

bicicleta através de um modelo de segunda ordem. Adicionam-se às considerações feitas no Item

2.2.1 que o deslocamento do veículo se dá em um plano horizontal sem ondulações e que a

velocidade 𝑣 da roda traseira é constante. Será usado como variável de controle o ângulo de

esterçamento 𝛿 realizado pelo ciclista e assume-se que todos os ângulos são pequenos o suficiente

tal que as equações diferenciais possam ser linearizadas. A Figura 2.3 traz as variáveis adotadas

no equacionamento apresentado na Equação 3.1.

Page 20: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

19

Figura 2.3 - Cinemática lateral de uma bicicleta em curva

O ângulo de guinada 𝜓 e o deslocamento lateral global do centro de massa da bicicleta 𝑌

podem ser determinados geometricamente. A Equação 2.1 traz o modelo de movimento horizontal

já linearizado, ou seja, os cossenos dos ângulos são aproximadamente 1 e o seno pode ser

considerado igual ao próprio ângulo; a Equação 2.2 mostra o resultado das equações linearizadas.

{

𝑠𝑒𝑛(𝜓) =

𝑌𝑑−𝑌𝑡

𝑙𝑌−𝑌𝑡

𝑙𝑡=𝑌𝑑−𝑌𝑡

𝑙

��𝑑 =𝑣

𝑐𝑜𝑠𝛿𝑠𝑒𝑛(𝛿 + 𝜓)

𝑌�� = 𝑣 𝑠𝑒𝑛(𝜓)

𝑠𝑒𝑛(𝛿)=𝛿cos(𝛿)=1

𝑠𝑒𝑛(𝜓)=𝜓

cos(𝜓)=1 →

{

𝜓 =

𝑌𝑑−𝑌𝑡

𝑙

𝑌 =𝑌𝑑𝑙𝑡+𝑌𝑡𝑙𝑑

𝑙

��𝑑 = 𝑣(𝛿 + 𝜓)

𝑌�� = 𝑣𝜓

(2.1)

{�� =

��𝑑−��𝑡

𝑙=𝑣

𝑙𝛿

�� =��𝑑𝑙𝑡+��𝑡𝑙𝑑

𝑙=𝑣𝑙𝑡

𝑙𝛿 + 𝑣𝜓

(2.2)

Page 21: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

20

2.3 Dinâmica longitudinal

Assim como na dinâmica lateral, na longitudinal também será apresentado um modelo

matemático. Visando a análise do comportamento da bicicleta durante sua variação de aceleração,

velocidade e deslocamento ao longo do tempo. Speranza Neto, M. (2013) propôs um modelo

matemático no qual estão incluídos todos os componentes e efeitos fundamentais para análise que

se deseja realizar. As hipóteses consideradas nesse modelo encontram-se listadas:

bicicleta equilibrada (verticalmente estável);

movimento ocorre em terreno perfeitamente liso, sem qualquer perturbação;

todos os eixos do sistema de transmissão cabos do sistema de freios são rígidos;

não há deslizamento no contato do pneu traseiro com o solo na tração;

não há travamento das rodas durante a frenagem;

não há perda de contato do pneu com o solo durante a frenagem ou tração;

sistema de freios representado de forma simplificada.

2.3.1 Apresentação dos parâmetros

De acordo com o que Speranza Neto, M. (2013) fez, nas condições de tração Figura 2.4

a e de frenagem Figura 2.4 b, considerando nos eixos Z e Y apenas o equilíbrio estático, ou seja,

quando não há dinâmica envolvida - as forças normais são “instantâneas”. Como se pode observar

na Figura 2.4, as constantes do modelo que precisam ser pré-definidas incluem as coordenadas do

centro de massa, distância entre eixos, coeficiente de atrito e muitos outros. A Tabela 2.2 descreve

a maioria dos parâmetros (com a simbologia adotada) em unidade SI empregados no modelo

desenvolvido, cujo os valores numéricos são necessários para a resolução e análise da dinâmica

longitudinal do sistema bicicleta.

Page 22: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

21

Tabela 2.2 - Listagem parcial dos parâmetros empregados no modelo dinâmico do sistema

bicicleta.

Parâmetro Símbolo

Massa (quadro, rodas-pneus-etc + condutor) 𝑚

Massa do conjunto roda-pneu dianteiro 𝑚𝑑

Massa do conjunto roda-pneu traseiro 𝑚𝑡

Raio efetivo pneu-roda dianteiro (contato com o solo) 𝑟𝑑

Raio efetivo pneu-roda traseiro (contato com o solo) 𝑟𝑡

Raio efetivo dos pedais 𝑟𝑝

Relações de transmissão coroa-pinhão (i = marchas) 𝑁𝑖 , 𝑖=1,…,𝑁

Eficiência do sistema de transmissão η

Distância do eixo dianteiro ao CM (bicicleta + condutor) 𝑙𝑑

Distância do eixo traseiro ao CM (bicicleta + condutor) 𝑙𝑡

Altura do CM (bicicleta + condutor) em relação ao solo ℎ

Coeficiente de resistência ao rolamento nos pneus 𝜇𝑅

Coeficiente de atrito estático pneu-solo (limite de aderência) 𝜇

Coeficiente de dissipação no mancal da roda dianteira 𝑏𝑑

Área de seção reta do condutor (em uma posição) 𝑆

Coeficiente de arrasto do corpo do condutor (em uma posição) 𝐶𝐷

Massa específica do ar (ao nível do mar) 𝜌

Aceleração da gravidade 𝑔

a) b)

Figura 2.4 - Sistema de referência, parâmetros geométricos e forças aplicadas na bicicleta.

a) Tração e b) Frenagem

Page 23: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

22

2.3.2 Modelo cinemático

Ainda sobre Speranza Neto, M. (2013), as equações que regem o comportamento de

frenagem da bicicleta são as encontradas na Equação 2.3, de modo a satisfazer a hipótese de

sistema de freios simplificado. Onde 𝛿𝑑 e 𝛿𝑡 são, respectivamente, os comandos dos freios

dianteiro e traseiro dados pelo condutor, e responsáveis pelas forças de frenagem nas rodas. Outros

parâmetros envolvidos neste equacionamento que anteriormente não foram citados são 𝑁𝑑 e 𝑁𝑡,

que ,respectivamente, são as normais dianteira e traseira no contato do pneu com o solo. Neste

caso, os comandos 𝛿𝑑 e 𝛿𝑡 podem variar entre 0 e 1, de acordo com a hipótese de não travamento

das rodas ou a de não perda do contato pneu com solo, e qualquer valor que assumam não deve

levar à ultrapassagem do limite.

{𝐹𝐹𝑑 = (𝜇.𝑁𝑑)𝛿𝑑

𝐹𝐹𝑡 = (𝜇.𝑁𝑡)𝛿𝑡

(2.3)

Supondo que o torque 𝑇𝑝 é dado (ou conhecido), de acordo com as hipóteses de sistema

de transmissão e freios rígidos e não deslizamento no contato pneu-solo, e considerando as

respectivas inércias (dos pedais, engrenagens, e roda traseira) e efeitos de dissipação nos mancais,

chega-se a Equação 2.4. E, de acordo com o sistema de referências e relações geométricas

mostradas na Figura 2.4 as relações que regem o comportamento da bicicleta se encontram

descritas na Equação 2.5. As forças de resistência ao movimento que compõe a força 𝐹𝑅

encontram-se descritas na Equação 2.6.

𝐹𝑇 = 1

𝑟𝑡[𝑁𝑖𝑇𝑝 −

��

𝑟𝑡(𝐽𝑝𝑁𝑖

2 + 𝐽𝑡) −𝑣

𝑟𝑡(𝑏𝑝𝑁𝑖

2 − 𝑏𝑡)] (2.4)

Page 24: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

23

{

∑𝐹𝑥 = 𝑚. ��∑𝐹𝑦 = 0

∑ 𝐹𝑧 = 0

∴ {

𝑚. �� = 𝐹𝑇 − 𝐹𝑅 − 𝐹𝐹𝑡 − 𝐹𝐹

𝑑 𝑁𝑡 + 𝑁𝑑 −𝑚.𝑔. cos 𝜃 = 0

𝑁𝑡𝑙𝑡 − 𝑁𝑑𝑙𝑑 + (𝐹𝐹𝑡 + 𝐹𝐹

𝑑 − 𝐹𝑇 − 𝐹𝑎𝑒𝑟𝑜 − 𝐹𝑎𝑐𝑙). ℎ = 0

(2.5)

𝐹𝑅 = 𝐹𝑎𝑒𝑟𝑜 + 𝐹𝑟𝑒𝑠𝑡. 𝑎𝑜 𝑟𝑜𝑙𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + 𝐹𝑎𝑐𝑙𝑖𝑣𝑒 + 𝐹𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑟𝑜𝑑𝑎 𝑑𝑖𝑎𝑛𝑡𝑒𝑖𝑟𝑎

= 1

2 𝜌𝐶𝐷𝑆𝑣

2 + 𝜇𝑟(𝑁𝐷 + 𝑁𝑡) + 𝑚𝑔 sin 𝜃 +1

𝑟𝑑(𝐽𝑑

1

𝑟𝑑�� + 𝑏𝑑

1

𝑟𝑑𝑣) (2.6)

Assim, manipulando-se as relações apresentadas nas Equações 2.4 a 2.6, chega-se a um

modelo matemático que caracteriza a dinâmica longitudinal da bicicleta, tendo como entradas o

torque imposto pelo condutor nos pedais e os comandos nos manetes dos freios, e saídas a

aceleração, velocidade e deslocamento do veículo. Esse modelo é apresentado na Equação 2.7,

onde 𝑚𝐸, 𝑏𝐸, 𝑁𝑡 e 𝑁𝑑 encontram-se descritos na Equação 2.8.

{

𝑑𝑣

𝑑𝑡=

1

𝑚𝐸 (𝑁𝑖

𝑟𝑡𝑇𝑝 − 𝑏𝐸𝑣 −

1

2𝜌𝐶𝐷𝑆𝑣

2 − (𝜇𝑟 + 𝜇𝛿𝑑)𝑁𝑑 − (𝜇𝑟 + 𝜇𝛿𝑡)𝑁𝑡 −𝑚𝑔 sin 𝜃)

𝑑𝑥

𝑑𝑡= 𝑣

(2.7)

{

𝑚𝐸=𝑚+

𝑁𝑖2

𝑟𝑡2𝐽𝑝+

1

𝑟𝑡2𝐽𝑡+

1

𝑟𝑑2𝐽𝑑

𝑏𝐸=𝑁𝑖𝑁𝑖

𝑟𝑡2 𝐽𝑝+

𝑁𝑖2

𝑟𝑡2𝑏𝑝+

1

𝑟𝑡2𝑏𝑡+

1

𝑟𝑑2𝑏𝑑

𝑁𝑑(𝑡)=𝑚𝑔(cos𝜃(𝑙𝑡+𝜇𝛿𝑡ℎ)−sin𝜃 ℎ)−

𝑁𝑖𝑟𝑡𝑇𝑝 ℎ−

12𝜌𝐶𝐷𝐴𝑣

2ℎ

(𝑙𝑡+𝑙𝑑+𝜇(𝛿𝑡−𝛿𝑑) ℎ)

𝑁𝑡(𝑡)=𝑚𝑔(cos𝜃(𝑙𝑑+𝜇𝛿𝑑ℎ)−sin𝜃 ℎ)−

𝑁𝑖𝑟𝑡𝑇𝑝 ℎ−

12𝜌𝐶𝐷𝐴𝑣

2ℎ

(𝑙𝑡+𝑙𝑑+𝜇(𝛿𝑡−𝛿𝑑) ℎ)

(2.8)

Page 25: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

24

3 Descrição da geometria dos sistemas mecânicos

3.1 Introdução

Uma bicicleta é tipicamente formada por cinco subsistemas: transmissão, frenagem,

direção, suspensão e estrutura. O sistema de transmissão é composto por um conjunto de

componentes responsáveis por conduzir um veículo. A força que o ciclista faz no pedal é

transformada no torque recebido pelas rodas da bicicleta fazendo assim com que esta saia da

inercia. Já o sistema de frenagem é composto por um conjunto de componentes responsáveis pela

parada ou redução da velocidade.

Além desses principais sistemas também existem outros três, o sistema de suspensão, o

sistema de direção e a estrutura que serão descritos na Seção 3.4. Neste Capítulo será apresentada

uma breve descrição dos sistemas presentes em uma bicicleta ordinária e seus componentes.

3.2 Sistema de transmissão

Uma transmissão tradicional é composta por alavanca de troca de marcha, cabos de

aço, movimento central, conjunto de engrenagens dianteira e traseira, pedivela, pedal, corrente,

câmbio dianteiro e câmbio traseiro. No caso da bicicleta em questão, há um conjunto de

motorização elétrica que envolve os seguintes componentes: um motor de corrente AC, uma

engrenagem solidária ao lado do conjunto de engrenagens dianteiras originais e uma corrente que

liga o motor a esta engrenagem solidária. Todo esse conjunto que faz parte da motorização elétrica

não será analisado no projeto, dado que o objetivo é caracterizar uma bicicleta comum.

Page 26: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

25

3.2.1 Descrição dos componentes

O movimento central fica localizado na parte central inferior do quadro (Figura 3.1 nº 9).

O movimento central é uma peça que une um eixo e dois rolamentos, aos quais é acoplada a

pedivela (Figura 3.1 nº 6), que por sua vez são braços onde ficam presos os pedais e o conjunto de

engrenagens dianteira da bicicleta, conhecido como coroa. A pedivela pode ter diferentes

comprimentos, quanto maior o braço, maior será o momento passado para a coroa na pedalada.

Esse tamanho vai de acordo com o tamanho das coroas e das características físicas do ciclista. Já

os pedais são um suporte para o pé do ciclista e é também onde se aplica a força para fazer a

bicicleta andar.

Figura 3.1 - Componentes do sistema de transmissão.

Page 27: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

26

A coroa que pode ser vista na Figura 3.1 nº 3, é composta por engrenagens presas à

pedivela, que é responsável pela transmissão de potência para a corrente. A corrente, Figura 3.1

n° 1, liga a coroa ao conjunto de engrenagens traseira, mais conhecido como cassete e faz a

transferência de torque entre engrenagens traseiras e dianteiras. O cassete ilustrado na Figura 3.1

nº 7, fica preso no cubo traseiro e pode possuir até 11 engrenagens, sendo os mais populares os de

7 a 10 engrenagens. Uma maior quantidade de engrenagem resulta numa maior possibilidade de

combinações com a coroa, que normalmente tem 1, 2 ou 3 engrenagens.

Os câmbios traseiro e dianteiro são responsáveis pela troca de marchas na bicicleta. O

câmbio traseiro (Figura 3.1 nº5) fica localizado embaixo do cassete e preso ao final do quadro da

bicicleta, enquanto o dianteiro (Figura 3.1 nº4), fica preso ao tubo vertical do quadro, logo acima

da coroa. Para o acionamento dos câmbios são utilizadas alavancas de marcha (Figura 3.1 nº8)

posicionadas no guidão, que ao serem pressionadas movimentam os câmbios por meio de cabos

de aço.

3.2.2 Medição dos parâmetros significativos

Os parâmetros significativos são aqueles que irão influenciar diretamente no sistema de

transmissão da bicicleta como o tamanho do braço do pedivela o número de engrenagens da coroa

e do cassete, o número de dentes das engrenagens de cada conjunto e o diâmetro externo de cada

engrenagem.

Uma imagem do cassete e da coroa da bicicleta em questão encontram-se na Figura 3.2.a

e b respectivamente. Através das figuras pode-se observar a presença de 7 engrenagens no conjunto

traseiro e de 2 engrenagens no conjunto dianteiro.

Page 28: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

27

a) b)

Figura 3.2 - Conjuntos de engrenagens. a) Traseira (Cassete) e b) Dianteira (Coroa)

O número de dentes e o diâmetro externo de cada engrenagem também foi obtido e

encontram-se na Tabela 3.1, na qual, nomeou-se cada engrenagem para uma melhor identificação.

Na Figura 3.2, E1a é a engrenagem de maior diâmetro que pode ser encontrada no cassete e E2a é

a engrenagem de maior diâmetro que pode ser encontrada na coroa. O comprimento da pedivela

foi medido e é de 172 mm.

Tabela 3.1 - Informações importantes de cada engrenagem

Cassete N° dentes Dext (mm) Coroa N° dentes Dext (mm)

E1a 28 114 E2a 44 180

E2a 24 98 E2b 32 133

E3a 22 90

E4a 20 82

E5a 18 74

E6a 16 66

E7a 14 58

Page 29: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

28

3.3 Sistema de frenagem

Os freios são parte essencial de uma bicicleta. São compostos por alavancas (manetes),

cabos de aço ou componente hidráulico, calipers (pinças) e pastilhas. Existem vários tipos de

sistemas de freio, entre eles os cantilevers, V-Brakes, freios hidráulicos e os freios a disco.

3.3.1 Descrição dos componentes

As manetes são alavancas que ficam presas ao guidão e são as interfaces que o ciclista

possui para acionar todos os outros componentes do sistema de freio. Esse comando passa pelos

cabos de aço e seguem para a pinça de freio que pressiona o aro da bicicleta ou o disco, isso vai

depender do tipo de sistema de freio. Essas pinças possuem pastilhas que possuem determinadas

propriedades que também dependem do tipo de sistema, estas pastilhas em contato com outra

superfície geram atrito suficiente para parar a bicicleta.

Como foi citado na Seção 3.3, existem diversos tipos de sistemas de frenagem. O mais

antigo deles são os freios cantilevers (Figura 3.3.a) que já caíram em desuso, mas ainda podem ser

encontrados. O sistema dele é bem simples, um cabo de aço é ligado a outro cabo fazendo uma

estrutura em "Y" onde cada lado aciona uma das pastilhas. Já os freios V-Brakes (Figura 3.3.b) são

a evolução dos cantilevers e são mais eficientes. O cabo de aço que sai do manete aciona

diretamente os dois braços da pastilha, puxando um lado e empurrando o outro ao mesmo tempo.

É um freio bastante utilizado, já que funciona bem e possui baixo custo.

Os freios hidráulicos (Figura 3.3.c) são parecidos com os V-Brakes, porém não oferecem

muitas vantagens sobre os discos. Eles são um pouco mais pesados que os V-Brakes, precisam de

um pouco mais de manutenção por serem hidráulicos e o preço é mais alto.

Page 30: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

29

a) b) c)

Figura 3.3 - Tipos de freio. a) Cantilevers, b)V-Brake e c) Hidráulico

Os freios a disco seguem um sistema que é considerado o mais eficiente atualmente, é

também utilizado em motocicletas. As pinças do freio dianteiro são fixadas na suspensão da

bicicleta ou no garfo, e os traseiros no quadro. As pinças abrigam os pistões que têm como função

pressionar as pastilhas contra os discos. Sua principal vantagem é que os freios não entram em

contato com o aro, portando se algo acontecer com o aro, o freio não será prejudicado.

3.3.2 Medição dos parâmetros significativos

A bicicleta em análise neste projeto possui um sistema de freio a disco mecânico, onde o

acionamento do freio é feito através de cabos de aço. Esse sistema de freio a disco pode ser

observado na Figura 3.4.a e Figura 3.4.b.

Os parâmetros significativos neste sistema são: diâmetro externo e interno dos discos,

espessura e propriedades do material da pastilha de freio. Com estes parâmetros é possível

determinar a eficiência da frenagem e a vida útil do sistema. O diâmetro externo é de 160 mm, o

diâmetro interno é de 63,3 mm e a espessura é de 2 mm.

Page 31: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

30

a) b)

Figura 3.4 - Freios a disco da bicicleta em estudo. a) Dianteiro e b) Traseiro

Os principais parâmetros que são estudados durante o dimensionamento de um freio são

o torque requerido e a força de atuação das pinças de freio (função do tipo e da geometria do

elemento e do coeficiente de atrito nas faces deslizantes). Também é importante calcular ou estimar

os aumentos de temperatura associados aos ciclos operacionais (função da energia dissipada, dos

tempos de atuação e de repouso e das características do meio ambiente e das superfícies de troca

de calor).

Durante o transiente de velocidade, os freios transformam energia cinética em calor

através do atrito entre suas superfícies em deslizamento relativo. Logo, os materiais das pastilhas

e das superfícies de frenagem têm que resistir ao desgaste e aos ciclos térmicos de aquecimento e

arrefecimento, mantendo tanto quanto possível o coeficiente de atrito constante durante todos os

seus ciclos operacionais.

Page 32: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

31

Os freios a disco possuem furos para aumentar a sua capacidade de arrefecimento, como

pode ser visto na Figura 3.4. Uma análise do freio a disco da bicicleta em estudo pode ser feita

supondo desgaste ou pressão uniforme nas sapatas (pinças de freio), para se obter parâmetros

importantes de funcionamento do sistema de frenagem. Esses parâmetros foram calculados através

de um programa (MATLAB), o código utilizado e os resultados obtidos encontram-se no Anexo

1 deste trabalho.

3.4 Outros sistemas

O sistema de direção é formado pelo conjunto de mecanismos, uniões entre outros

componentes mecânicos que permite que a bicicleta siga uma trajetória determinada. A direção é

composta pela roda dianteira, garfo, mesa e guidão. O garfo é a peça que conecta o guidão e a

mesa à roda dianteira, passando pelo quadro da bicicleta. Esse pode conter um amortecedor

(dianteiro) ou não, e a mesa é responsável pelo movimento de rotação do guidão.

Já o sistema de suspensão conecta a bicicleta às rodas permitindo o movimento relativo

entre os dois. Ela é responsável por absorver as irregularidades do terreno, evitando que os

impactos recebidos pela roda sejam transmitidos para o ciclista. Esse sistema é composto pelo

amortecedor que é um conjunto de elementos que permite a suavização das irregularidades do

terreno. No caso da suspensão dianteira das bicicletas, o amortecedor pode ser um cartucho de ar/

hidráulico, molas ou elastômeros. Este se encontra normalmente acoplado ao garfo da bicicleta.

Outro sistema é a estrutura, que é composta por tubos que conectados formam o quadro

da bicicleta. Essa estrutura pode ter diversos formatos e tamanhos, conforme mostrado na Figura

3.5. Sejam esses tubos circulares, ovais, elípticos ou hidroformados, utilizam a mesma

nomenclatura, independentemente do tipo ou modelo de bicicleta. A Figura 3.6 apresenta o nome

de cada seguimento do quadro.

Page 33: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

32

Figura 3.5 - Tipos de estrutura de quadros.

Figura 3.6 - Nome de cada seguimento do quadro da bicicleta.

O tamanho e a inclinação de cada seguimento influenciam diretamente na performance

da bicicleta. Um exemplo disso é o ângulo formado entre o solo e a caixa de direção, ângulo de

Page 34: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

33

cáster, que influencia diretamente a manobrabilidade e a estabilidade da bicicleta. A distância entre

eixos é um outro parâmetro importante, que influencia diretamente na estabilidade em altas

velocidades. Quanto maior a distância, maior a estabilidade e menor a arrancada, e o desvio do

garfo (offset) influencia também diretamente na estabilidade, quanto maior o offset mais estável

será a bicicleta. A Figura 3.7 apresenta as principais características da estrutura da bicicleta.

O tipo de material também é uma característica importante para se levar em consideração

na estrutura da bicicleta. Os materiais mais utilizados na confecção da estrutura são aço, alumínio

e fibra de carbono. Hoje, as bicicletas de alumínio estão substituindo aos poucos as de aço devido

ao seu peso reduzido e sua durabilidade (corrosão/oxidação com o tempo) em comparação com as

de aço.

Figura 3.7 - Principais medidas características da bicicleta.

Page 35: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

34

3.5 Modelagem em CAD

CAD (do inglês: computer aided design) é um nome genérico para softwares utilizados

principalmente pela engenharia para facilitar a criação/desenvolvimento de projetos, neste trabalho

o software utilizado foi o SolidWorks. Esse programa possui ferramentas de simulação que tem

como saída parâmetros importantes que serão obtidos e comparados com os resultados

provenientes dos testes experimentais. A bicicleta em estudo foi modelada de forma a se

assemelhar o máximo possível com a real para melhorar a confiabilidade dos resultados

fornecidos.

Neste capítulo serão encontrados renders dos componentes da bicicleta em estudo,

organizados em conjuntos pré-definidos e especificados nas Figuras 3.8 a 3.19.

Figura 3.8 - Garfo da bicicleta.

Page 36: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

35

Figura 3.9 - Guidão da bicicleta com manetes.

Figura 3.10 - Roda dianteira com disco do freio.

Page 37: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

36

Figura 3.11 - Roda traseira com disco de freio e cassete.

Figura 3.12 - Bateria.

Page 38: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

37

Figura 3.13 - Quadro da bicicleta.

Para a modelagem do quadro da bicicleta e do selim, foi necessário usar uma técnica onde

há a inserção de uma foto do componente para auxiliar no desenho, devido à dificuldade de se

medir a geometria com instrumentos convencionais. As Figuras 3.14 e 3.16 ilustram essa prática.

Figura 3.14 - Modelagem do quadro da bicicleta.

Page 39: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

38

Figura 3.15 - Selim.

Figura 3.16 - Modelagem do selim da bicicleta.

Page 40: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

39

Figura 3.17 - Conjunto pedivela com movimento central e coroa e conjunto pedal.

Figura 3.18 - Montagem da bicicleta completa 1.

Page 41: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

40

Figura 3.19 - Montagem da bicicleta completa 2.

Após a modelagem de cada conjunto/componente foi definido o tipo de material para

cada parte, de forma a deixar o modelo mais próximo do real. Além disso, cada

conjunto/componente teve seu peso medido e registrado no modelo.

Os resultados encontrados com a modelagem da bicicleta serão expostos no Capítulo 4 e

comparados com os resultados obtidos experimentalmente.

Page 42: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

41

4 Caracterização dos sistemas mecânicos

4.1 Introdução

Neste capítulo serão descritas com detalhe as metodologias usadas na obtenção das

coordenadas do centro de gravidade e dos momentos de inércia da bicicleta em estudo.

Primeiramente, serão apresentados os modelos analíticos que relacionam as grandezas diretamente

mensuráveis com as grandezas calculadas. Em seguida, é descrito o procedimento experimental e

são mostrados os resultados. Com isso, uma análise de incertezas é feita para avaliar a qualidade

destas estimativas. No caso do momento de inércia, os resultados ainda são comparados com os

obtidos através do modelo em CAD.

4.2 Obtenção das coordenadas do centro de gravidade

O centro de massa (CM) é utilizado para facilitar o estudo do movimento dos corpos

rígidos, trata-se de um ponto em que toda a massa do corpo pode ser considerada como

concentrada, facilitando o cálculo de vários efeitos. E o centro de gravidade (CG) representa o

ponto onde todas as forças relacionadas a gravidade se concentram, ou seja, onde o peso do corpo

atua. Nesse caso, da bicicleta, o CM e o CG são considerados pontos coincidentes. O cálculo dessa

coordenada para a bicicleta tratada será demostrado e apresentado no Item 4.2.1.

4.2.1 Descrição do procedimento

Considerando as rodas dianteira e traseira com mesmo diâmetro e a bicicleta em repouso

e apoiada no solo com um sistema de referência conforme mostrado na Figura 4.1, pode-se tirar

Page 43: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

42

as equações de equilíbrio que se encontram representadas nas Equações 4.1 a 4.3. Logo

manipulando-se a Equação 4.3 chega-se a Equação 4.4.

Figura 4.1 - Esquema de forças.

∑𝐹𝑥 ∶ 𝑚. 𝑎 = 𝑓. 𝑅𝑡1 + 𝑓. 𝑅𝑑1 (4.1)

∑𝐹𝑦 ∶ 𝑚. 𝑔 = 𝑅𝑡1 + 𝑅𝑑1 (4.2)

∑𝑀𝑜 ∶ 𝑚. 𝑔. 𝑥𝐶𝐺 = 𝑅𝑑1. 𝑑𝑒 (4.3)

𝑥𝐶𝐺 = 𝑅𝑑1.𝑑𝑒

𝑅𝑡1+𝑅𝑑1 (4.4)

Page 44: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

43

Elevando-se a roda dianteira da bicicleta a uma altura h, como mostrado na Figura 4.1,

chega-se às relações descritas nas Equações 4.5 a 4.7.

Figura 4.2 - Esquema de forças com uma das rodas erguidas.

∑𝐹𝑥 ∶ 𝑚. 𝑎 = 𝑓𝑅𝑡2 + 𝑓𝑅𝑑2 (4.5)

∑𝐹𝑦 ∶ 𝑚. 𝑔 = 𝑅𝑡2 + 𝑅𝑑2 (4.6)

∑𝑀𝑜 ∶ 𝑚. 𝑔. 𝑥𝐶𝐺′ = 𝑅𝑑2. 𝑑𝑒

′ (4.7)

Page 45: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

44

Onde 𝑥𝐶𝐺′ e 𝑑𝑒

′ são, respectivamente, as projeções do centro de massa e da distância

entre eixos no eixo x e 𝑦𝐶𝐺′, a projeção do centro de massa no eixo y. Novamente, como foi

considerado, a bicicleta se encontra em repouso então temos que m.a =0 .Manipulando-se a

Equação 4.7, chega-se a Equação 4.8. E na Figura 4.3 são apresentadas outras relações geométricas

e, a partir destas chega-se a Equação 4.9.

𝑥𝐶𝐺′ =

𝑅𝑑2.𝑑𝑒′

𝑅𝑡2+𝑅𝑑2 (4.8)

Figura 4.3 - Geometria da bicicleta com roda erguida em detalhe.

Page 46: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

45

𝑦𝐶𝐺 = 𝑥𝐶𝐺 cos𝜃−𝑥𝐶𝐺

sin𝜃 (4.9)

Substituindo a Equação 4.8 na Equação 4.9, chega-se a Equação 4.10 e, usando as

relações descritas na Equação 4.11, além da Equação 4.6, chega-se a Equação 4.12, que é a

equação que define a localização da posição y do centro de gravidade.

𝑦𝐶𝐺 = 𝑥𝐶𝐺 cos𝜃

sin𝜃−

1

sin𝜃 (𝑅𝑑2.𝑑𝑒

𝑅𝑡2+𝑅𝑑2) (4.10)

{

𝑠𝑖𝑛 𝜃 =

𝑑𝑒

𝑐𝑜𝑠 𝜃 =𝑑𝑒′

𝑑𝑒

𝑡𝑎𝑛 𝜃 =ℎ

𝑑𝑒′

(4.11)

𝑦𝐶𝐺 = 𝑑𝑒′𝑑𝑒(𝑅𝑑1−𝑅𝑑2)

(𝑅𝑡2+𝑅𝑑2).ℎ (4.12)

4.2.2 Resultados experimentais

Para obtenção da reação da roda traseira e dianteira, de acordo com o procedimento

descrito, usou-se uma balança e uma base de madeira para as rodas ficarem na mesma altura. O

primeiro teste encontra-se ilustrado na Figura 4.4.

Page 47: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

46

Figura 4.4 - Teste 1

Em seguida, os parâmetros como raio da roda e distância entre eixos foram medidos. Os

resultados desse primeiro teste encontram-se na Tabela 4.1.

Na segunda parte do teste, para a obtenção da coordenada y do centro de gravidade, três

alturas foram utilizadas para uma melhor estimativa. A roda erguida em todos os testes foi a da

dianteira, já que o centro da roda traseira serviu de referência. Nos três procedimentos, a balança

foi posicionada de forma que as reações pudessem ser obtidas. As Figuras 4.5 a e 4.5.b ilustram o

procedimento.

Tabela 4.1 - Medidas relevantes para o teste 1

Teste 1 Medição da reação da roda traseira e dianteira na balança

e medição da distância entre eixos

Reação da roda dianteira 15,8 kg

Reação da roda traseira 15,2 kg

Distância entre eixos 1120 mm

Raio das rodas 331,00 mm

Page 48: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

47

a. b)

Figura 4.5 - Teste 2 a) Reação roda traseira e b) Reação roda dianteira

O procedimento para a medição da projeção da distância entre eixos pode ser observado

na Figura 4.6 e os resultados obtidos no teste 2 para as três alturas encontram-se na Tabela

4.2.Utilizando a Equação 4.4 para o cálculo o 𝑥𝐶𝐺 e a Equação 4.12 para o cálculo do 𝑦𝐶𝐺, chega-

se aos resultados mostrados na Tabela 4.3.

Figura 4.6 - Medição da projeção da distância entre eixos

Page 49: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

48

Tabela 4.2 - Medidas relevantes para o teste 2

Teste 2 Medição da reação da roda traseira e dianteira com uma das rodas

elevadas (3 alturas diferentes) e medição da distância entre eixos

Dianteira levantada

h [mm] = 255

Reação da roda dianteira 14,6 kg

Reação da roda traseira 15,4 kg

Distância entre eixos 1095 mm

h [mm] = 495

Reação da roda dianteira 13,2 kg

Reação da roda traseira 17,19 kg

Distância entre eixos 1010 mm

h [mm] = 700

Reação da roda dianteira 11,2 kg

Reação da roda traseira = 19,5 kg

Distância entre eixos = 855 mm

Tabela 4.3 - Resultados obtidos através dos testes 1 e 2

Cálculo

1

Coordenada x do centro de massa (zero no centro da roda

traseira)

Coordenada x do CG 571 mm

Cálculo

2

Coordenada y do centro de massa (zero no centro da roda

traseira)

Coordenada y do CG 1 186 mm

Coordenada y do CG 2 192 mm

Coordenada y do CG 3 203 mm

4.2.3 Análise de incerteza dos resultados

Com a responsabilidade de apresentar uma medida de confiabilidade dos dados, uma

análise de incerteza foi feita para se definir uma faixa onde se estima estar localizado o valor da

grandeza medida. Em geral o resultado de uma medição é apenas uma estimativa do valor

Page 50: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

49

verdadeiro de uma grandeza física. Sendo assim, o resultado da medição só é completo quando

acompanhado do valor de incerteza.

Os instrumentos utilizados na medição do centro de massa foram balança e trena. Suas

resoluções são de respectivamente 0,1 quilogramas e 0,001 metros. Foram feitas 3 medições para

cada medida durante o teste e em todas essas três medições não houve diferença na medida. Sendo

assim, a incerteza do tipo A é nula.

Segundo o Guia de Medição de Incertezas (GUM, 2008), a incerteza do tipo A é obtida a

partir de um conjunto de amostras, usando estimadores amostrais para a média e para o desvio

padrão. Nada mais é do que a incerteza das medidas, dado pela variação destas quando uma mesma

medição é feita.

Já a incerteza do tipo B é obtida por qualquer outro meio, tal como informação prévia

fornecida pelo fabricante; aproximações conservadoras baseadas em experiência prévia com

instrumentos similares; modelo matemático formal do processo de medição específico como um

processo estocástico, valores da bibliografia, etc. Resumindo, é a incerteza dos instrumentos de

medição. A incerteza dessa medição não pode ser zero, dado que existe uma limitação de leitura

da variação do sinal devido à resolução do instrumento.

Considerando a resolução do instrumento como sendo r, pode-se assumir uma

distribuição retangular com limites ± r/2. Logo, a expressão para a incerteza padrão encontra-se

descrita na Equação 4.13 e os resultados obtidos através dessa equação encontram -se na Tabela

4.4.

𝑢𝑖𝑛𝑠𝑡. =(𝑟 2⁄ )

√3=

𝑟

√12 (4.13)

Page 51: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

50

Tabela 4.4 - Incertezas tipo B

ubalança 0,02887 mm

utrena 0,000289 mm

Em seguida, aplicando-se a expressão de propagação das incertezas que se encontra

descrita na Equação 4.14 e derivando-se parcialmente a Equação 4.4 em relação a cada um dos

parâmetros como foi mostrado na Equação 4.14, chega-se ao conjunto de expressões descritos na

Equação 4.15.

𝑢𝑥2 = (

𝜕𝑥

𝜕𝑅𝑑1. 𝑢𝑝𝑒𝑠𝑜)

2

+ (𝜕𝑥

𝜕𝑅𝑑1. 𝑢𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑎)

2

+ (𝜕𝑥

𝜕𝑑𝑒. 𝑢𝑐𝑜𝑚𝑝)

2

+ (𝜕𝑥

𝜕𝑑𝑒. 𝑢𝑡𝑟𝑒𝑛𝑎)

2

+

(𝜕𝑥

𝜕𝑅𝑡1. 𝑢𝑝𝑒𝑠𝑜)

2

+ (𝜕𝑥

𝜕𝑅𝑡1. 𝑢𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑎)

2

(4.14)

{

𝜕𝑥

𝜕𝑅𝑑1=

𝑑𝑒.𝑅𝑡1

(𝑅𝑡1+𝑅𝑑1)2

𝜕𝑥

𝜕𝑑𝑒=

𝑅𝑑1

𝑅𝑡1+𝑅𝑑1𝜕𝑥

𝜕𝑅𝑡1= −

𝑅𝑑1.𝑑𝑒

(𝑅𝑡1+𝑅𝑑1)2

(4.15)

Substituindo-se os valores encontrados na Tabela 4.1 junto aos valores obtidos através

das equações que compõe o conjunto da Equação 4.15, chega-se a um valor de incerteza para a

coordenada x do centro de gravidade, 𝑢𝑥 = 0,00075 𝑚. Como só existem incertezas do Tipo B,

o número de graus de liberdade tende a infinito, então k = 1,96 para um intervalo de confiança de

95% (tabela T-Student). Com isto, a equação para o cálculo da incerteza padrão para a medida do

xCG se encontra descrita na Equação 4.16.

Page 52: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

51

𝑈𝑥 = 𝑘 . 𝑢𝑥 (4.16)

Substituindo os valores encontrados em cada uma das variáveis, chega-se ao valor de 1,47

mm de incerteza. Logo, a coordenada xCG será igual a 571 ± 1,47 mm. O mesmo procedimento

usado para o xCG será usado na obtenção do yCG,. Como três medidas foram obtidas para a

coordenada y (três alturas diferentes), o cálculo da incerteza será o mesmo para cada um deles.

Aplica-se a expressão de propagação das incertezas que se encontra descrita na Equação 4.17,

sendo os termos que envolvem as incertezas do tipo A são nulos.

𝑢𝑦2 = (

𝜕𝑦

𝜕𝑅𝑑1. 𝑢𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑎)

2

+ (𝜕𝑦

𝜕𝑑𝑒. 𝑢𝑡𝑟𝑒𝑛𝑎)

2

+ (𝜕𝑦

𝜕𝑅𝑑2. 𝑢𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑎)

2

+ (𝜕𝑦

𝜕𝑑𝑒′. 𝑢𝑡𝑟𝑒𝑛𝑎)

2

+

(𝜕𝑦

𝜕𝑅𝑡2. 𝑢𝑏𝑎𝑙𝑎𝑛ç𝑎)

2

+ (𝜕𝑦

𝜕ℎ. 𝑢𝑡𝑟𝑒𝑛𝑎)

2

(4.17)

Derivando-se parcialmente a Equação 4.12 em relação a cada um dos parâmetros como

foi mostrado na Equação 4.17, chega-se ao conjunto de expressões descritos na Equação 4.18. Os

valores de 𝑢𝑦 , já calculados, encontram-se na Tabela 4.5 para cada uma das três alturas utilizadas

no teste.

{

𝜕𝑦

𝜕𝑑𝑒=

𝑑𝑒′(𝑅𝑑1−𝑅𝑑2)

ℎ(𝑅𝑡2+𝑅𝑑2)

𝜕𝑦

𝜕𝑅𝑑2= −

𝑑𝑒.𝑑𝑒′(𝑅𝑑1−𝑅𝑑2)

ℎ(𝑅𝑡2+𝑅𝑑2)

𝜕𝑦

𝜕𝑑𝑒′= −

𝑑𝑒(𝑅𝑑1−𝑅𝑑2)

ℎ(𝑅𝑡2+𝑅𝑑2)

𝜕𝑦

𝜕𝑅𝑡2= −

𝑑𝑒.𝑑𝑒′(𝑅𝑑1−𝑅𝑑2)

ℎ(𝑅𝑡2+𝑅𝑑2)2

(4.18)

Page 53: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

52

Tabela 4.5 - Resultados das incertezas de y

h = 300mm h = 495mm h = 700mm

u_y 0,00668 m 0,00321 m 0,00197 m

Como só existem incertezas do Tipo B, o número de graus de liberdade tende a infinito,

então k = 1,96 para um intervalo de confiança de 95% (tabela T-Student). Logo, chega-se aos

valores para o yCG, esses valores encontram-se na Tabela 4.6. Pode-se observar na Tabela 4.6 que

quanto maior o valor de h, menor será a incerteza relacionada e isso se deve ao fato de que na

Equação 4.17 o valor da incerteza é inversamente proporcional ao valor de h.

Tabela 4.6 - Resultados finais com incertezas

yCG

h = 300 mm 186 ± 13,10 mm

h = 495 mm 192 ± 6,15 mm

h = 700 mm 203 ± 3,87 mm

4.3 Obtenção dos momentos de inércia

O momento de inércia de massa é a resistência imposta por um corpo em rotação a uma

mudança em sua velocidade de giro. Ele depende da massa do corpo e da distância da massa ao

seu eixo de rotação, desempenhando na rotação um papel equivalente ao da massa no movimento

linear. O momento de inércia de um corpo não é uma quantidade única e fixa. Se um objeto é

girado em torno de eixos diferentes, também terá momentos de inércia diferentes, uma vez que a

distribuição de sua massa em relação ao novo eixo é normalmente distinta do que era no anterior.

O equacionamento de um exemplo simples muito parecido com o que será apresentado

no Item 4.3.1 é o do pêndulo composto. O pêndulo composto é um sólido em rotação ao redor de

um eixo fixo. Quando é deslocado de um ângulo 𝜃 da posição de equilíbrio e é solto, sobre este

Page 54: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

53

sólido irá atuar o momento da força peso, que tem sinal contrário ao deslocamento. A

decomposição da força peso do corpo (considerada no centro de gravidade) encontra-se na Figura

4.7 e, a partir do somatório de torques, chega-se ao modelo apresentado na Equação 4.19

Figura 4.7 - Pêndulo composto

∑𝜏 = 𝐼𝑜 . 𝛼 + 𝑚. 𝑔. ℎ. sin 𝜃 (4.19)

Para ângulos pequenos pode-se considerar que sen 𝜃 ~ 𝜃 , e como o corpo é apenas solto

a partir do repouso, pode-se considerar também que ∑𝜏 = 0. Logo, manipulando-se a Equação

4.19 é possível chegar na equação da dinâmica de rotação do corpo (Equação 4.20).

𝛼 = 𝜃 ~ 𝑚.𝑔.ℎ.𝜃

𝐼𝑜 (4.20)

Page 55: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

54

Onde h é a distância entre o centro de massa e o centro de oscilação O , 𝐼𝑜 é o momento

de inércia do corpo relativo ao eixo de rotação que passa por O. Logo, a equação diferencial da

dinâmica de rotação do corpo em questão encontra-se na Equação 4.21. E da solução da equação

diferencial apresentada na Equação 4.21 obtém-se a frequência natural do sistema, que se encontra

na Equação 4.22, onde 𝜔 é a frequência angular do sistema. O período de oscilação do pêndulo é

apresentado na Equação 4.23.

𝑑𝜃2

𝑑𝑡2+𝑚.𝑔.ℎ.𝜃

𝐼𝑜= 0 (4.21)

𝜔2 =𝑚.𝑔.ℎ

𝐼𝑜 (4.22)

𝑇 =1

𝑓=2𝜋

𝜔= √

𝐼𝑜

𝑚.𝑔.ℎ (4.23)

O cálculo do momento de inércia de um objeto em relação a um eixo que não é o seu eixo

de simetria, pode ser bem complexo. O Teorema de Steiner foi criado para auxiliar nesse tipo de

cálculo. Ele diz que, se o momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo centro de massa

pode ser conhecido, então pode-se conhecer o momento de inércia em relação a qualquer outro

eixo paralelo ao primeiro que se encontra a uma distância d. A equação de Steiner encontra-se

Page 56: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

55

explícita na Equação 4.24, onde 𝐼𝑐 é o momento de inércia relativo ao ponto C da Figura 4.7 e d

é distância.

𝐼𝑜 = 𝐼𝐶 +𝑚. 𝑑2 (4.24)

O procedimento utilizado tem como referência uma nota técnica da NACA - National

Advisory Committee for Aeronautics. A necessidade de se obter medições precisas de momentos

de inércia de aviões tornou-se evidente pela primeira vez por volta de 1926. Em resposta a esta

necessidade, a NACA desenvolveu um método experimental em que um avião foi balançado como

um pêndulo. Algum tempo depois, a importância dos efeitos do “ambiente ar” sobre os momentos

de inércia foi reconhecida e um procedimento para a avaliação destes efeitos foi desenvolvido

(Gracey, W., 1948). Nesta Seção foi adotado o procedimento descrito nesta nota, porém, não foi

levado em consideração o efeito da resistência do ar.

4.3.1 Descrição do procedimento

De acordo com Gracey, W. (1948), os momentos de inércia de um avião são determinados

em torno de três eixos definidos no corpo: o eixo X que é paralelo à força de propulsão no plano

de simetria, o eixo Y que é perpendicular ao plano de simetria e o eixo Z que é perpendicular à

força de propulsão no plano de simetria. Os momentos de inércia em torno dos eixos X e Y são

obtidos pela oscilação do avião como um pêndulo composto; já o momento de inércia em torno do

eixo de Z é obtido por suspensão do avião como um pêndulo de torção bifilar (arranjo de dois

filamentos, Figura 4.9). No caso da bicicleta, os eixos de rotação em Y e Z são os mesmos do que

Page 57: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

56

os de um avião, porém, o eixo de rolagem X em uma bicicleta é o eixo paralelo ao eixo X que

passa pelos pontos de contato dos pneus com o solo. Nas Figuras 4.8.a, 4.8 b e 4.9 são apresentados

os esquemas de ensaio para a obtenção de cada um dos momentos de inércia (em relação aos eixos

X, Y e Z, respectivamente) de um avião, conforme o procedimento NACA.

a) b)

Figura 4.8 - Avião e aparato de sustentação dispostos para a determinação dos momentos

de inércia. a) Momento de Inércia em X (Ixx) e b) Momento de Inércia em Y (Iyy).

Page 58: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

57

Figura 4.9 - Avião e aparato de sustentação dispostos para a determinação do momento de

inércia em Z (Izz).

Assim como o avião, a bicicleta foi balançada e tratada como se fosse um pêndulo

composto. O estudo de onde esse aparato, de sustentação e balanço, deveria se localizar e como

ele deveria ser, foi feito. O aparato de balanço e sustentação usado na medição dos momentos de

inércia de arfagem e rolagem se encontra na Figura 4.10. O aparato usado na medição do momento

de inércia de guinada não foi construído.

Os dados experimentais obtidos nos testes de oscilação proporcionam uma medida de

momento de inércia do pêndulo completo, que consiste na bicicleta e seu equipamento auxiliar

para promover o movimento oscilatório, em torno do eixo de rotação. O momento de inércia da

bicicleta em relação ao eixo de rotação é então obtido subtraindo-se o momento de inércia do

equipamento auxiliar em torno deste eixo.

Page 59: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

58

Figura 4.10 - Aparato de sustentação desenvolvido para auxiliar na obtenção dos

momentos de inércia de rolagem e de arfagem.

4.3.2 Momento de inércia de arfagem

O movimento de arfagem (pitch), é o movimento que a bicicleta realiza quando uma

aceleração ou uma frenagem é realizada. Esse movimento ocorre em torno do eixo Y. O momento

de inércia de arfagem (Iyy) pode ser calculado usando o Teorema dos Eixos Paralelos com a

distância h do pivô ao centro de massa da bicicleta e o período T para este teste. A expressão para

o cálculo desse momento de inércia se encontra na Equação 4.25 e a Figura 4.11 ilustra este teste.

𝐼𝑦𝑦 =𝑚.𝑔.ℎ

4𝜋2 𝑇𝑦

2 −𝑚. ℎ2 (4.25)

A bicicleta saiu do repouso em uma condição inicial na qual o ângulo das barras de

sustentação com o solo era de 5º e, assim, foi medido o tempo de 20 oscilações. A Tabela 4.7

Page 60: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

59

apresenta os resultados obtidos durante as 6 medições e seus respectivos períodos. E na Tabela 4.8

encontram-se os resultados obtidos para a primeira parcela da Equação 4.25 que se refere ao

momento de inércia do corpo em relação ao centro do rolamento (Io) e a segunda parcela que se

refere a transposição do eixo de rotação para o centro de massa (IS).

Tabela 4.7 - Medidas obtidas através do teste para momento de inércia Iyy.

Lateral (Iyy) - (L=0,99685m) T (s)

20 42,96 43,17 43,12 43,18 43,21 43,08 2,1560

Figura 4.11 - Teste realizado para se obter o período para o cálculo do momento de inércia

Iyy.

Page 61: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

60

Tabela 4.8 - Resultados obtidos no cálculo experimental do momento de inércia Iyy.

Cálculo (Iyy) - (L=0,99685m)

Iyy 4,877 kg/m²

Is 30,805 kg/m²

Io 35,682 kg/m²

Uma análise de incerteza para esse momento de inércia foi feita seguindo o que foi

descrito no Item 4.2.3. Sabendo-se a Equação 4.25 e, seguindo os passos descritos, chega-se a uma

incerteza de ± 3,07 kg/m² para Iyy.

Comparando o resultado obtido experimentalmente com o obtido através do software

SolidWorks, que se encontra na Figura 4.12, chega-se à conclusão de que o método funcionou e

foi bastante preciso mesmo a incerteza do teste sendo muito grande, devido ao tempo de reação da

pessoa ao cronometrar o tempo de oscilação.

Figura 4.12 - Momentos Iyy (pitch) e Izz (yaw) obtidos no SolidWorks.

Page 62: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

61

4.3.3 Momento de inércia de rolagem

O mesmo procedimento usado no cálculo do momento de inércia de arfagem se aplica no

cálculo de Ixx, porém, após a obtenção deste valor, o Teorema de Steiner deve ser aplicado

novamente para a obtenção do momento de inércia de rolagem Ixx’, pois o eixo de rolagem da

bicicleta passa pelos pontos de contato do pneu com o solo (Equação 4.26) e a Figura 4.12 ilustra

este teste.

Ixx′ = I

xx+𝑚. (𝑅 + 𝑦𝐶𝐺)

2 =𝑚.𝑔.ℎ

4.𝜋2𝑇𝑥2 −𝑚. ℎ2 +𝑚. (𝑅 + 𝑦𝐶𝐺)

2 (4.26)

, onde R é o raio da roda da bicicleta.

Assim como no Item 4.3.2, a bicicleta saiu do repouso em uma condição inicial na qual o

ângulo das barras de sustentação com o solo era de 5º e, assim, foi medido o tempo de 20

oscilações.

Tabela 4.9 - Medidas obtidas através do teste para momento de inércia Ixx.

Lateral (Ixx) - (L=0,99685m) T (s)

20 40,96 41,02 40,79 40,89 40,82 40,94 2,0452

A Tabela 4.9 apresenta os resultados obtidos durante as 6 medições e seus respectivos

períodos. E na Tabela 4.10 encontram-se os resultados obtidos para a primeira parcela da Equação

4.26 que se refere ao momento de inércia do corpo em relação ao centro do rolamento (Io) e a

segunda parcela que se refere a transposição do eixo de rotação para o eixo de rolagem (IS).

Page 63: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

62

Figura 4.13 - Teste realizado para se obter o período para o cálculo do momento de inércia

Ixx.

Uma análise de incerteza para esse momento de inércia foi feita seguindo o que foi

descrito no Item 4.2.3. Sabendo-se a Equação 4.26 e, seguindo os passos descritos, chega-se a uma

incerteza de ± 3,59 kg/m² para Ixx′.

Tabela 4.10 - Resultados obtidos no cálculo experimental do momento de inércia I’xx.

Cálculo (I’xx) - (L=0,99685m)

Ic 10,143 kg/m²

Is 30,805 kg/m²

Io 40,948 kg/m²

Page 64: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

63

Comparando o resultado obtido experimentalmente com o obtido através do software

SolidWorks, que se encontra na Figura 4.13, chega-se à conclusão de que o método funcionou e

foi bastante preciso mesmo a incerteza do teste sendo muito grande, devido ao tempo de reação da

pessoa ao cronometrar o tempo de oscilação.

Figura 4.14 - Momento Ixx (roll) obtido no SolidWorks.

4.4 Caracterização do sistema de transmissão

Por meio da relação de marcha, a transmissão de uma bicicleta deve permitir a mudança

na relação de torque fornecido pelo ciclista bem como na alteração de velocidade da bicicleta. O

torque pode ser definido conceitualmente como a tendência rotacional que a aplicação de uma

força exerce em um objeto sobre um eixo. Matematicamente, torque é a relação direta de uma

Page 65: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

64

multiplicação do vetor de força pelo vetor da distância do ponto onde a força é aplicada em relação

ao centro do eixo de giro do objeto que sofre o esforço.

A bicicleta em questão é composta por 14 marchas, isso significa que a transmissão desse

veículo possui 14 associações de engrenagens, que realizam a função de transferência de torque

para gerar a rotação das rodas. A relação entre engrenagem movida e engrenagem motora é

chamada de relação de transmissão e pode ser calculada através da divisão da quantidade de dentes

presentes na engrenagem movida pelo número de dentes presentes na engrenagem motora. Na

Tabela 4.11 pode-se observar as relações de transmissão presentes na bicicleta em estudo.

Tabela 4.11 - Relações de transmissão possíveis na bicicleta tratada

Relações Possíveis

E1a E2a 0,636 E1a E2b 0,875

E2a E2a 0,545 E2a E2b 0,750

E3a E2a 0,500 E3a E2b 0,688

E4a E2a 0,455 E4a E2b 0,625

E5a E2a 0,409 E5a E2b 0,563

E6a E2a 0,364 E6a E2b 0,500

E7a E2a 0,318 E7a E2b 0,438

4.5 Caracterização do sistema de frenagem

Com a intenção de se estudar as principais características de comportamento associados

às dinâmicas longitudinal e lateral de uma bicicleta convencional com propulsão humana, foram

desenvolvidos testes dinâmicos a partir de aparatos específicos (test rigs).

4.5.1 Descrição do procedimento

Para a aquisição de dados neste teste, foi necessária uma instrumentação onde dois

transdutores e um microcontrolador foram instalados na bicicleta. Os transdutores utilizados foram

Page 66: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

65

potenciômetros de 10 kΩ que tem como entrada o ângulo de atuação feito pelo ciclista nas manetes

de freio e como saída uma variação de tensão obtida através da variação de resistência do

potenciômetro. As diferentes tensões são processadas pelo microcontrolador que fornece valores

referentes ao deslocamento angular das manetes.

O microcontrolador utilizado foi o Atmel 328P associado a plataforma de prototipagem

Arduino. Ele é responsável por fazer a leitura e o processamento dos dados, além de salvar os

mesmos em um cartão SD para análise dos dados em um computador.

Após a instalação, foi feita a calibração do transdutor considerando as diferentes posições

de atuação e a tensão de saída do sensor para cada posição. Dessa forma, é possível se obter a

porcentagem de atuação das manetes e, consequentemente, das pastilhas de freio durante os testes.

A Figura 4.15 mostra como foi feita a instalação dos potenciômetros e na Figura 4.16 pode-se

observar o microcontrolador utilizado no teste.

Figura 4.15 - Manetes instrumentadas.

Page 67: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

66

Figura 4.16 - Microcontrolador.

Para a obtenção de parâmetros relativos ao comportamento do sistema de freio da

bicicleta, foram desenvolvidos três tipos de testes dinâmicos, são esses:

Velocidade e aceleração tangencial (tração e frenagem) máximas, atingidas em uma

distância limite permitida na pista, para diferentes relações de marcha;

Distância de frenagem com solicitações distintas das pinças de freio;

Descida de ladeira com frenagem para diferentes solicitações da pinça de freio.

O procedimento para instrumentação da bicicleta e os testes que deverão ser realizados

para obtenção dos parâmetros, foram explicados e listados. Em um futuro trabalho será estudado

este comportamento dinâmico da bicicleta.

Page 68: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

67

5 Conclusão e trabalhos futuros

5.1 Conclusão

Neste trabalho foi feita uma breve análise de todos os sistemas da bicicleta e de suas

dinâmicas, lateral e longitudinal. Alguns parâmetros foram obtidos através de experimentos, como

coordenadas do centro de gravidade e momentos de inércia de arfagem e rolagem; e uma análise

de incerteza para cada valor obtido também foi feito como forma de se obter valores experimentais

validos e mais precisos.

Um modelo em CAD detalhado foi desenvolvido para uma comparação dos resultados

obtidos experimentalmente. Com esses dois resultados foi possível concluir que os testes foram

bastante satisfatórios e conclusivos. Além de uma caracterização de alguns parâmetros associados

aos sistemas de transmissão e de frenagem. Nas Tabelas 5.1 e 5.2, encontram-se alguns valores

que foram medidos e encontrados durante este trabalho.

Tabela 5.1 - Parâmetros adquiridos do modelo dinâmico lateral da bicicleta.

Parâmetro Símbolo

Massa da bicicleta 31 kg

Distância entre as rodas (eixos) 1,12 m

Altura do centro de massa 0,534 m

Distância entre a roda traseira e o centro de massa 0,571 m

Distância entre a roda dianteira e o centro de massa 0,549 m

Momento de inércia em torno do eixo 𝑥 10,14 kg/m²

Page 69: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

68

Tabela 5.2 - Listagem parcial preenchida com os parâmetros que são empregados no

modelo dinâmico do sistema bicicleta.

Parâmetro Símbolo

Massa (quadro, rodas-pneus-etc + condutor) 101 kg

Massa do conjunto roda-pneu dianteiro 2,56 kg

Massa do conjunto roda-pneu traseiro 3,03 kg

Raio efetivo pneu-roda dianteiro (contato com o solo) 0,331 m

Raio efetivo pneu-roda traseiro (contato com o solo) 0,331 m

Raio efetivo dos pedais 0,168 m

Relações de transmissão coroa-pinhão (i = marchas) Tabela 4.11

Momento de inércia em torno do eixo y 4,88 kg/m²

Momento de inércia em torno do eixo z 3,67 kg/m²

5.2 Trabalhos futuros

Os próximos trabalhos envolvem a caracterização dos outros sistemas da bicicleta, como

o sistema de direção, por exemplo, além da complementação dos resultados adquiridos neste

trabalho.

A caracterização do sistema de freios deve ser complementada com testes dinâmicos,

usando o que foi proposto na Seção 4.5, um exemplo é o teste de distância de frenagem com

diferentes solicitações da pinça de freio e outros. A caracterização do sistema de transmissão

também depende da instalação de um medidor de potência no conjunto pedivela-coroa da bicicleta,

que está em andamento. Alguns parâmetros que deverão ser obtidos através dos testes dinâmicos

encontram-se na Tabela 5.3.

Com relação à medição dos momentos de inércia, deve-se construir e realizar os testes

para obtenção do momento de inércia de guinada (Izz) e também, calcular os momentos de inércia

de todos os acessórios usados nos experimentos para anular a influência deles na resposta final,

diminuindo assim os erros obtidos.

Page 70: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

69

Tabela 5.3 - Parâmetros que serão obtidos através dos testes dinâmicos.

Parâmetro Símbolo

Eficiência do sistema de transmissão η

Distância do eixo dianteiro ao CM (bicicleta + condutor) 𝑙𝑑

Distância do eixo traseiro ao CM (bicicleta + condutor) 𝑙𝑡

Altura do CM (bicicleta + condutor) em relação ao solo ℎ

Coeficiente de resistência ao rolamento nos pneus 𝜇𝑅

Coeficiente de atrito estático pneu-solo (limite de aderência) 𝜇

Coeficiente de dissipação no mancal da roda dianteira 𝑏𝑑

Área de seção reta do condutor (em uma posição) 𝑆

Coeficiente de arrasto do corpo do condutor (em uma posição) 𝐶𝐷

Page 71: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

70

Referências Bibliográficas

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estabilização e acompanhamento de trajetórias de motocicletas autônomas.

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Janeiro. Proposta de Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, Brasil. Março de 2015.

ASTROM, K. J., KLEIN, R. E., LENNARTSSON, A. Bycicle dynamics and control – Adapted

bicycles for education and research. IEE Control Systems Magazine. Agosto de 2005.

GRACY, W. The experimental determination of the moments of inertia of airplanes by a

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Aeronautics (NACA). Langley Memorial Aeronautical Laboratory. Langley Field,

Va.Technical Note No. 1626. Washington, USA. Junho de 1948. ]

Avaliação de dados de medição - Guia para a expressão de incerteza de medição – GUM

2008. Inmetro. 1ª Edição Brasileira da 1ª Edição do BIPM de 2008. Rio de Janeiro, Brasil.

2012.

SHIGLEY, J. E. Elementos de máquinas. Livros Técnicos e Científicos Editora S. A. 1984

SPERANZA NETO, M. Modelos de bicicletas e motocicletas para análise, simulação e síntese

do controle de estabilidade e de trajetória. Departamento de Engenharia mecânica,

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. Julho de 2011

(revisão em Agosto de 2013).

SPERANZA NETO, M. Modelos para a análise da dinâmica longitudinal de bicicletas.

Departamento de Engenharia mecânica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro. Notas de aula. Rio de Janeiro, Brasil. Maio de 2013.

WILSON, D. G. Bycicling Science. The MIT Press. Third Edition. ISBN 0-262-73154-1. London,

England. 2004.

Page 72: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

71

Anexo 1

%%%%%%%%%%% Freios a disco %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %%%%%%Dados%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

dist_ee = 1.12; % Distancia entre eixos(m) d_CG = 0.549; % Distancia do eixo dianteiro ao CG (m) t_CG = 0.571; % Distancia do eixo traseiro ao CG (m) y_CG = 0.534; % Distancia do solo ao CG (m) m = 31; % Massa da bicicleta (kg) Dr = 0.662; % Diametro da roda (m) re = 0.08; % Raio externo do disco (m) ri = 0.0633; % Raio interno do disco (m) fr_s = 0.9; % atrito pneu-solo v = 10; % velocidade (m/s) g = 9.80665; % aceleração da gravidade (m/s)

rel = ri/re

% Supomos pastilha de amianto rigido moldado thetap = 60; % Angulo do setor circular da pinça f = 0.31; % Coef. de atrito do material da pastilha Pad = 75; % Pressão admissivel pela pastilha(Padm/10 ->tabela)

%Forças de Reação (traseira e dianteira)

Rt = ((d_CG*m*g) - (y_CG*m*fr_s*g))/dist_ee Rd = (m*g) - Rt

%Torques (traseiro e dianteiro)

Td = (Dr/2)*fr_s*Rd Tt = (Dr/2)*fr_s*Rt

%%%% Hipotese de Desgaste Uniforme %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

Tmax_1 = (thetap*pi*Pad*6.9*f*ri*(re^2-ri^2)*10^3)/180

%%%% Hipotese de Pressão Uniforme %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

Tmax_2 = (2/3*thetap*pi*Pad*6.9*f*(re^3-ri^3)*10^3)/180

%%%% t_min %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% %Sepondo enenergia de frenagem dissipada adiabaticamente %%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%% rho = 7.8*10^-6; % (kg/m^3) delta_theta = 400; % Incremento de temperatura cp = 500; % (J/kgK)

deltaQ = (m*(v/3.6)^2)/2

Page 73: Caracterização dos Sistemas Mecânicos em uma Bicicleta

72

Resultados

Rt = 18.5661

Rd = 285.4401

Td = 85.0326

Tt = 5.5308

Tmax_1 = 25.4488

Tmax_2 = 28.9362

deltaQ = 119.5988