Caracterização macro- e microscópica dos ovários do bagre ...

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Rev. bras. oceanogr., 46(2):171-185,1998 Caracterização macro- e microscópica dos ovários do bagre amarelo, Cathoropsspixii (Agassiz, 1829), durante o ciclo reprodutivo (Macro- and microscopic characterization ofyellow-catfish Cathorops spixii (Agassis, 1829) ovaries during reproductive cycle) Jodir Pereira da Silval; Alfredo Martins Paiva Filhol & Norair Salviano dos Reis2 Ilnstituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (Caixa Postal 66149, 05315-970, São Paulo, SP, Brasil) 2lnstituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas Departamento de Histologia e Embriologia (Caixa Postal 6109, 13081-970, Campinas, SP, Brasil) . Abstract: This study is based on the analysis of macroscopic anatomy and histological structure of 452 ovaries fiom females of Cathorops spixii caught in the "Pai Matos" islands (Cananéia-Iguape lagoonal-estuarine region - 24°59'42"S 47°54'27"W), São Paulo, Brazil. Six phases of oocyte development are considered, based on cytological characteristics of the germinative cells during the maturation process, and seven ovarian maturity stages, determined by histological structure of ovaries and by the occurrence and relative fTequency of the six oocyte phases: "A"(immature), "Bi"(initial maturation), "Bf'(advanced maturation), "Ci"(partially mature), "Cf'(mature), "D"(spent) and "R"(recuperation). The presence of a single patch of oocytes clustered during the spawn by an acellular adhesive substance, suggests total spawning, and the oocyte development is classified as synchronic in groups. The examined ovarian macroscopic anatomy and histological structure are characteristic of the cistovarian type. . Resumo: Este estudo é baseado na análise da anatomia macroscópica e da estrutura histológica de 452 ovários de fêmeas de Cathorops spixii coletadas nas Ilhas Pai Matos (região estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape - 24°59'42"S 47°54'27"W), São Paulo, Brasil. Foram consideradas seis fases de desenvolvimento ovocitário, com base nas características citológicas das células germinativas durante o processo de maturação, e sete estádios de maturação ovarianos, determinados pela estrutura histológica dos ovários e pela ocorrência e fteqüência relativa das seis fases ovocitárias: "A"(imaturo), "Bi" (em maturação inicial), "Bf'(em maturação final), "Ci"(parcialmente maduro), "Cf'(maduro), "D"(esvaziado) e "R"(em recuperação). A presença de apenas um lote ovocitário, unido durante a desova por uma substância adesiva acelular, sugere desova total, e o desenvolvimento ovocitário é classificado como sincrônico em grupos. A anatomia ovariana macroscópica e a estrutura histológica verificadas são características do tipo cistovariano. . Descriptors: Marine catfish, Fish reproduction, Gonads, Histology, Cathorops spixii, Reproductive cycle. . Descritores: Bagre marinho, Reprodução de peixes, Gônadas, Histologia, Cathorops spixii, Ciclo reprodutivo. Contr. n° 819 do Inst. oceanogr. da Usp.

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Rev. bras. oceanogr., 46(2):171-185,1998

Caracterização macro- e microscópica dos ovários do bagre amarelo,Cathoropsspixii (Agassiz, 1829), durante o ciclo reprodutivo

(Macro- and microscopic characterization ofyellow-catfish Cathorops spixii (Agassis, 1829)ovaries during reproductive cycle)

Jodir Pereira da Silval; Alfredo Martins Paiva Filhol & Norair Salviano dos Reis2

Ilnstituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo(Caixa Postal 66149, 05315-970, São Paulo, SP, Brasil)

2lnstituto de Biologia da Universidade Estadual de CampinasDepartamento de Histologia e Embriologia

(Caixa Postal 6109, 13081-970, Campinas, SP, Brasil)

. Abstract: This study is based on the analysis of macroscopic anatomy andhistological structure of 452 ovaries fiom females of Cathorops spixii caught in the"Pai Matos" islands (Cananéia-Iguape lagoonal-estuarine region - 24°59'42"S47°54'27"W), São Paulo, Brazil. Six phases of oocyte development are considered,based on cytological characteristics of the germinative cells during the maturationprocess, and seven ovarian maturity stages, determined by histological structure ofovaries and by the occurrence and relative fTequency of the six oocyte phases:"A"(immature), "Bi"(initial maturation), "Bf'(advanced maturation), "Ci"(partiallymature), "Cf'(mature), "D"(spent) and "R"(recuperation). The presence of a singlepatch of oocytes clustered during the spawn by an acellular adhesive substance,suggests total spawning, and the oocyte development is classified as synchronic ingroups. The examined ovarian macroscopic anatomy and histological structure arecharacteristic of the cistovarian type.

. Resumo: Este estudo é baseado na análise da anatomia macroscópica e da estruturahistológica de 452 ovários de fêmeas de Cathorops spixii coletadas nas Ilhas PaiMatos (região estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape - 24°59'42"S 47°54'27"W),São Paulo, Brasil. Foram consideradas seis fases de desenvolvimento ovocitário,com base nas características citológicas das células germinativas durante o processode maturação, e sete estádios de maturação ovarianos, determinados pela estruturahistológica dos ovários e pela ocorrência e fteqüência relativa das seis fasesovocitárias: "A"(imaturo), "Bi" (em maturação inicial), "Bf'(em maturação final),"Ci"(parcialmente maduro), "Cf'(maduro), "D"(esvaziado) e "R"(em recuperação).A presença de apenas um lote ovocitário, unido durante a desova por uma substânciaadesiva acelular, sugere desova total, e o desenvolvimento ovocitário é classificadocomo sincrônico em grupos. A anatomia ovariana macroscópica e a estruturahistológica verificadas são características do tipo cistovariano.

. Descriptors: Marine catfish, Fish reproduction, Gonads, Histology, Cathoropsspixii, Reproductive cycle.

. Descritores: Bagre marinho, Reprodução de peixes, Gônadas, Histologia, Cathoropsspixii, Ciclo reprodutivo.

Contr. n° 819 do Inst. oceanogr. da Usp.

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Introdução

o bagre amarelo ou bagre-congo, como éconhecida popularmente a espécie Cathorops spixii,parece ser o bagre marinho mais comum do litoralbrasileiro, ocorrendo em ambientes dulcícolas,marinhos e estuarinos, sendo nestes mais abundante(Yáfíez-Arancibia & Sanchez-Gil, 1988; Cervigón,1966; Figueiredo & Menezes, 1978).

Esta espécie é referida como de importânciaeconômica por Cervigón (op. eit.), Amaral et ai.(1988), Aguirre (1939) e Figueiredo & Menezes (op.eit.).

A identificação, a caracterização e afteqüência das células germinativas nos diferentesestádios durante o ciclo reprodutivo, bem como oconhecimento da estrutura geral das gônadas, sãofundamentais para a determinação do grau dedesenvolvimento ovariano e o tipo de desova daespécie (Alexandrino et ai., 1985 e Lima et aI.,1991; Monteros & Labarta, 1987).

Tais estudos sobre a biologia reprodutiva depeixes constituem a base para pesquisas sobreanálises da atividade hormonal no processoreprodutivo e piscicultura, contribuindo, deste modo,para o desenvolvimento da administração pesqueira epreservação da espécie (Alexandrino et ai., op. eit.,Lima et ai., 1991; Monteros & Labarta, op. eit.,Peres-Rios, 1995).

Inexistem até o momento trabalhos sobre a

caracterização macro- e microscópica dos ovários deCathorops spixii durante o ciclo reprodutivo.

Este trabalho tem por objetivo caracterizarmacro- e microscopicamente a morfologia dosovários de C. spixii, e descrever, através de estudomicroscópico, o desenvolvimento dos tipos celularesgerminativos ovarianos.

Material e métodos

Os ovários foram obtidos de 452 espécimesde Cathorops spixii, os quais foram coletadosmensalmente entre janeiro de 1994 e janeiro de 1995nas Ilhas Pai Matos (24°59'42"S 47°54'27"W),região estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape, nolitoral sul do estado de São Paulo. Foram utilizadas

redes de arrasto de portas do tipo "otter-trawl", com12 m de boca, malhagem de 30 mm no corpo emanga e de 25 mm no sacador com portas pesando40 kg cada, tendo sido operadas com o Barco dePesquisas "Albacora" do Instituto Oceanográfico daUniversidade de São Paulo, à velocidade de cerca de2 nós e duração de 1Ominutos.

Rev. bras. oceanogr., 46(2), 1998

Os peixes foram identificados com o auxílioda chave de identificação de Figueiredo & Menezes(1978), pesados (peso total em g), medidos(comprimento total em mm), e posteriormentesubmetidos a incisão ventro-longitudinal para que,após a retirada do trato digestivo, fossemfotografados os ovários ainda na cavidade abdominal,quando foram medidas suas dimensões decomprimento e largura (mm) com auxílio depaquímetro. Após medidos, os ovários foramretirados da cavidade abdominal, pesados (g) efixados por um período prévio de uma hora, sendoretirados posteriormente ftagmentos de espessuramenor que 5 mm das porções média, do quartoanterior e posterior dos ovários, os quais foramfixados em solução de formalina a 10% pelo tempomínimo de 24 horas, sendo depois submetidos àinclusão e microtomia em parafina e às coloraçõesrotineiras (hematoxilina-eosina e tricrômico deMasson), além de métodos histoquímicos (Método dePerls contracorado com solução aquosa de vermelhoneutro a 10% e PAS contracorado comhematoxilina), para que se realizasse a observação àmicroscopia de luz. Nos ovários com ovócitos demaior diâmetro, ftagmentos subseqüentes fixadosforam submetidos à microtomia de cortes seriados, demodo a obter preparações permanentes dos ovárioscontendo diferentes porções do mesmo ovócito.

De acordo com a presença e fteqüência(classificada como rara, pouco fteqüente e muitofteqüente) das diferentes fases de desenvolvimentodas células germinativas ovarianas, descritas segundoo padrão de denominação sugerido por West (1990),e diagnosticados pela observação das preparaçõespermanentes dos ovários, foi elaborada uma escalados estádios de maturidade gonadal em 7 estádios: A(imaturo), Bi (em maturação inicial), Bf (emmaturação final), Ci (parcialmente maduro, contendoalguns ovócitos prontos para serem desovados), Cf(totalmente maduro, contendo praticamente todos osovócitos prontos para serem desovados), D(desovado) e R (em recuperação). Para cada estádiode maturidade gonadal foram efetuadas as desctiçõesdos aspectos macro- e microscópicos, além de teremsido realizadas fotografias e fotomicrografias.

Resultados

Anatomia macroscópica dos ovários

Os ovários de Cathorops spixii compõem-sede estruturas pares, localizadas ventralmente aosrins, encontrando-se ligadas ao revestimento daparede dorsal do celoma através do mesovário. Cadaovário é uma estrutura alongada, de secção circular,

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com a extremidade anterior livre, e a extremidadeposterior ou caudal contínua com o oviduto. Ambosovidutos fundem-se em um ducto comum, abrindo-separa o meio externo pelo poro genital.

O tamanho, forma, coloração e avascularização dos ovários sofrem modificações deacordo com o grau de desenvolvimento gonadal e asvariações destas características possibilitaram aelaboração da escala de maturação gonadal proposta.

Análises microscópicas do ovário

Organização estrutural

O ovário apresenta sua parede compostapor três camadas distintas, denominadas túnicas(Fig. 1). A camada externa é a túnica serosa, que écomposta por tecido conjuntivo fibroso coberto pormesotélio, caracterizado por apresentar-se comoum tecido epitelial pavimentoso simples,apresentando-se contínuo com o tecido epitelialpavimentoso simples do mesovário. O tecidoconjuntivo da túnica serosa é contínuo com o tecidoconjuntivo do mesovário e com o da túnicasubjacente, denominada albugínea.

A túnica albugínea é a que se apresenta maisdesenvolvida na parede do ovário, apresentandogrande quantidade de feixes de fibras musculareslisas dispostas em várias camadas que se alternamnos planos longitudinal e transversal. Entre ascamadas de músculo liso ocorre tecido conjuntivofrouxo, apresentando diferentes graus devascularização, variando de acordo com o estádio dematuridade e com a localização, uma vez que avascularização parece ser mais intensa na porçãointerna desta camada.

A túnica mais interna da parede ovarianaconstitui-se de epitélio variando de cúbico simples apavimentoso simples apoiado sobre uma fina camadade tecido conjuntivo frouxo, contínuo com o datúnica albugínea.

Da túnica ovariana interna projetam-se, nosovários em estádios iniciais de desenvolvimento,septos que originam as lamelas em direção ao lúmendo ovário (Fig. 2). Tais estruturas variam emtamanho e podem apresentar ramificações (Fig. 2).Nas lamelas encontram-se ovócitos em diferentes

estágios de desenvolvimento, circundados porenvoltórios celulares que formam os folículos,estando estes também envoltos por tecido conjuntivocontínuo com o das Iamelas ovarianas.

Fases de desenvolvimento das células germinativasovarianas:

Ovogônias - São originadas ao longo davida, ocorrendo isoladamente ou em grupos("ninhos") associados ao revestimento do lúmenovariano (Fig. 3A). São as menores células dalinhagem germinativa ovariana, apresentandocitoplasma escasso pouco corado ou moderadamentebasófilo, núcleo grande e central, com cromatinadispersa e nucléolo central. Geralmente não sãoobservadas células pré-foliculares ao redor daovogônia.

Ovócitos avitelogênicos:

Ovócitos em estádio cromatina-nuc\eolar -

São encontrados próximo às ovogônias, a partir dasquais são originados, após a fase de proliferação eenvolvimento por células pré-foliculares. Possuem,aparentemente, tamanho semelhante ao dasovogônias e aparecem grupadas em "ninhos" defolículos primordiais junto ao epitélio derevestimento do lúmen ovariano. Tais folículos

contém ovócitos exibindo citoplasma escasso claroe moderadamente basófilo, núcleo grande, poucocorado, com nuc\éolo central associado a feixes dematerial cromatínico em disposição radial (Fig. 3B).

Ovócitos perinucleolares:

Iniciais - São células germinativas com

volume aumentado em relação à fase anterior,possuindo formas poliédricas, citoplasma fortementebasófilo, núcleo volumoso e central, onde seencontram, em localização periférica, múltiplosnucléolos pequenos, ,arredondados e justapostos àcarioteca (Fig. 4). O ovócito nesta fase dedesenvolvimento encontra-se envolvido por umacamada única de células foliculares pavimentosas.

Tardios - No período tardio os ovócitospassam a apresentar citoplasma menos basófilo,com presença de uma inclusão geralmente próximaao núcleo, o núcleo de vitelo ou corpo de Balbiani(Fig. 5). No núcleo aumentado e basófilo adisposição periférica dos nucléolos é mantida, osquais podem possuir tamanhos variados e formaovalada ou esférica. Cabe ressaltar, nesta fase, parafins de diagnóstico, a presença de uma ou duascamadas de células foliculares pavimentosas emtorno do ovócito.

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Fig. L Corte transversal do ovário de CathoTopS spixii, evidenciando a parede ovariana. LTúnica serosa; 2. Túnica albuglnea; 3. Túnica interna. Tricrômico de Masson. lOOX

Fig. 2. Corte transversal dos ovários de C. spixii, evidenciando a presença de lamelasovarianas (L) projetadas em direção ao lúmen ovariano (LO). HE. 20X.

Fig. 3. Cortes transversais dos ovários de C. spixii. A Ovogônias em grupos (O). HE.1280X B. Ovócito em estádio cromatina-nucleolar (CN). HE. 1440X

Fig. 4. Corte transversal de ovário de C. spixii. Ovócito em estádio perinucleolar inicialcom vários nucléolos dispostos na porção periférica do núcleo (setas). Nota-se a

presença de camada única de células foliculares pavimentosas. HE. 960X.

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Sll.,V A et ai.: Caracterização de ovários do bagre-amarelo 175

Ovócitos em vitelogênese:

Ovócitos em estádio cortical-alveolar:

Iniciais - Este período caracteriza-se pelaformação de alvéolos citoplasmáticos corticais, quenão se apresentaram corados nas técnicas decoloração utilizadas neste trabalho (Fig. 6A). Alémda presença dos alvéolos corticais, o ovócito cortical-alveolar inicial apresenta núcleo ftacamente coradocontendo os nucléolos periféricos basófilos. Nestafase de desenvolvimento ovocitário geralmente nãose verifica a presença dos corpos de Balbiani e ascélulas foliculares que envolvem o ovócitoapresentam-se em dupla camada, inicialmentepavimentosas e, tardiamente, a camada pavimentosaem contato com o ovócito tendem à forma cúbica.Entre o ovócito e as células foliculares inicia-se aformação de uma camada acelular eosinófila (Fig.6B) e PAS positiva acumulada inicialmente empontos isolados -a membrana vitelina.

Tardios - O citoplasma moderadamenteacidófilo é totalmente ocupado na sua periferia poralvéolos aumentados em número e tamanho,conferindo-lhe aspecto reticulado ou alveolado (Fig.7A). A membrana vitelina toma-se mais espessa e,portanto, evidente, enquanto que o envoltóriofolicular apresenta uma camada de células cúbicasenvolvidas por células pavimentosas (Fig. 7B). Noovócito cortical-alveolar tardio é possível observar apresença da teca com vasos sangUíneos de pequenocalibre.

Ovócitos vitelogênicos - Após a formaçãodos alvéolos corticais, ocorre a formação de glóbulosde vitelo, que ocupam, na fase inicial, a porçãocentral da célula. Devido à intensificação davitelogênese, o ovócito apresenta volumecitoplasmático aumentado. Não foi verificada apresença do núcleo em ovócitos nesta fase nos cortesexaminados. A membrana vitelina passa a apresentarestriaçôes transversais devido à formação demicrovilos, projetados da membrana plasmática doovócito (Fig. 8). As células foliculares alteram-semorfologicamente, tomando-se colunares eapresentando basofilia basal, citoplasma comvesículas moderadamente basófilas e PAS positivas.A teca apresenta-se com vasos sangüíneos depequeno a médio calibre, maiores do que na faseanteriormente descrita.

Ovócitos em maturação final - Os ovócitosnesta fase caracterizam-se pelo aumento acentuadodo volume citoplasmático, resultante dopreenchimento de todo o citoplasma por glóbulos devitelo que, após fusionarem-se, formam uma massacontínua de vitelo. A membrana vitelina espessaapresenta estriações transversais marcantes, devido à

ocupação por microvilos relativamente grandes enumerosos, e que, por isso, representam importantefator de diagnóstico desta fase de desenvolvimentoovocitário (Fig. 9). Em contato com os microvilosdesta membrana ocorrem as células foliculares

colunares que mantém as características de célulasem ativa síntese proteica, envolvidas pela tecaricamente vascularizada, contendo vasos de grandecalibre.

Ovócitos atrésicos - São ovócitoscaracterizados pela intensa desorganização celular(Fig. 10). Pode haver enrugamento e distorção dofolículo, dobra e quebra da membrana vitelina,desorganização do vitelo e citoplasma e liquefaçãodos grânulos vitelínicos, infiltração de células da tecae sangue. A membrana vitelina mantém-se íntegramorfologicamente durante absorção dos ovócitosatrésicos, sendo uma das últimas estruturas a seremdegradadas no folículo. Após a degradação doovócito e do foHculoque o contém, ocorre a absorçãodestes por macrófagos, que podem ser diagnosticadospela presença em seu citoplasma de pigmentoshemossideróticos resultantes da fagocitose deeritrócitos e resíduos eritrocitários. Tais pigmentossão facilmente diagnosticados pela reação de Perls,onde os pigmentos hemossideróticos são corados emazul e o restante das estruturas celulares emvermelho (Fig. 11). Uma vez completa a absorção dofoHculo contendo o ovócito atrésico, inicia-se opreenchimento deste por fibras colágenas, formandouma estrutura denominada como corpo residual, queorigina nódulos fibrosos (Fig. 12).

Embora a atresia possa ocorrer empraticamente todos os estádios de desenvolvimentodos ovócitos, este processo parece ser mais comumnos ovócitos vitelogênicos nesta espécie.

Folículos pós-ovulatÓTios - Após amaturação final dos ovócitos, ocorre a expulsão dosmesmos dos folículos, originando os folículos pós-ovulatórios (Fig. 13). Estes folículos desenvolvem-se,originando estruturas algumas vezes denominadascomo corpos Iúteos pós-ovulatÓTios(Fig. 14). Nestes,as células foliculares softem hipertrofia eaparentemente assumem função na absorção e naprodução de hormônios.

Da mesma maneira que nos ovócitosatrésicos, nos foHculos pós-ovulatórios ocorreinfiltração de sangue, posteriormente absorvido pelascélulas foliculares e por macrófagos.

Após a absorção no interior do foHculo, esteé preenchido por fibras colágenas, formando nódulosfibrosos (referidos, às vezes, na literaturaespecializada, como corpo albicans) semelhantes aosocorrentes após absorção de ovócitos atrésicos (Fig.15).

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Fig. 5. Corte transversal de ovário de C. spixií. Ovócito em estádio perinucleolar tardio comnucléolos na periferia do núcleo e corpo de Balbiani (seta). Nota-se a presença deduas camadas de células foliculares pavimentosas envolvendo o ovócito. HE. 240X.

Fig. 6. Corte transversal de ovário de C. spixii. A. Ovócito em estádio cortical-alveolarinicial contendo os. alvéolos corticais na periferia do ovoplasma (*). HE. IOOX. B.Detalhe da formação da membrana vitelina (seta), disposta entre as célulasfoliculares cúbicas e o ovócito. HE. 240X.

Fig. 7. Corte transversal de ovário de C. spixii. A. Ovócito em estádio cortical-alveolartardio com o ovoplasma apresentando aspecto alveolado. HE.IOOX. B. Detalheevidenciando a presença da membrana vitelina mais espessa, entre as célulasfoliculares e o ovócito. HE. 240X.

Fig. 8. Ovócito em estado vitelogênico, no qual se verifica a presença da membranavitelina (C ) mais espessa, com e striação transversal devida à formação demicrovilos. As células foliculares (CF) possuem forma colunar, ao redor das quaisa teca apresenta-se mais vascularizada (*). HE. 640X.

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Fig. 9. Ovócito em maturação fmal, com a presença de membrana vitelina (C) ainda maisespessa e estriação transversal marcante devida à presença de microvitosrelativamente grandes e numerosos. Células fuliculares (CF) colunares evascularizaçio acentuada (*). TM. 960X.

Fig. 10. Corte transversal do ovário de C. spixii. Eliminação de ovócito em maturação fmal,evidenciando o inicio da formação do foliculo pós-ovulatório (F) e a presença deovócitos atrésicos (A). HE. 2SX.

Fig. 11. Cortes transversais de uma mesma região do ovário de C. spixii. A. Macrófàgos(M) contendo pigmentos hemossideróticos. Reação de Perls. B. Macrófàgos (M)contendo pigmentos hemossideróticos. HE. 38SX.

Fig. 12.Corte transversal do ovário de C. spixii. NÓdl\Ios fibrosos (N). HE. 20X.

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--"0 _ *Fig. 13. Corte transversal do ovário de C. spixii. Folículo pós-ovulatório (FPO). HE. 2SX

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Fig. IS. Esquema do ciclo de desenvolvimento dos tipos celulares germinativos ovarianosde C. spixii. Ovogônias (1), ovócito em estádio cromatina-nucleolar (2), ovócitosperinucleolares inicial (3) e tardio (4), ovócitos em estádio cortical- alveolarinicial (S) e tardio (6), ovócito vitelogênico (7) e em maturação fmal (8), folículopós-ovulatório (9), corpo lúteo recém formado (10) e em regressão (11), nódulofibroso (12) e ovócito atrésico (*). Não foram respeitadas as proporções dasdimensões entre os diferentes tipos celulares.

Fig. 14. Cortes transversais de ovários de C. spixii. A Corpo lúteo (CL). HE. 20X B.Corpo lúteo (CL) em processo de regressão. HE. 2SX

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A seqüência de desenvolvimento dosdiversos tipos celulares germinativos ovarianosacima descrito encontra-se ilustrada na Figura 15.

Escala de maturidade dos ovários:

A partir do diagnóstico da presença efreqüência dos tipos germinativos ovarianos,associado à descrição da estrutura dos ovários,determinaram-se sete estádios de desenvolvimentoovariano, dos quais também encontram-se descritas aseguir as características observadasmacroscopicamente:

Estádio A (imaturo): Os ovários recémdiferenciados ocupam menos de um terço dacavidade corporal, apresentam coloração branca arósea e forma alongada, de secção circular a ovóide(Fig. 16). Macroscopicamente não se visualizam 'osov6citos em desenvolvimento.

Microscopicamente observa-se fina paredeovariana, da qual projetam-se para o lúmen ovarianomuitas Iamelas ovarianas, nas quais verifica-se apresença de ovogônias e ov6citos em estágiocromatina-nucleolar pouco freqüentes e ov6citosperinucleolares iniciais e tardios muito freqüentes(Tab. 1).

Estádio Bi (em maturação inicial): Nesteestádio os ovários mantém o tamanho pequeno, acoloração e a forma descritos no ovário imaturo (Fig.17). Contudo, nos ovários em maturação inicial já épossível a visualização, a nível macroscópico, dosovócitos em desenvolvimento.

A nível de microscopia de luz, verifica-semenor freqüência de lamelas ovarianas, contendoraras ovogônias e ovócitos em estádio cromatina-nucleolar, ovócitos perinucleolares iniciais e tardiospouco freqüentes e ov6citos em estágio cortical-alveolar inicial muito freqüentes (Tab. 1).

Estádio Bf (em maturação final): Namaturação final os ovários apresentam aumento emvolume, que passam a ocupar pouco menos dametade do comprimento da cavidade corporal,possuem coloração branco-amarelada, compontuações de coloração castanha, sendo maisevidente macroscopicamente a presença dos ovócitosem desenvolvimento (Fig. 18).

A observação microscópica dos ovários emmaturação final possibilita a visualização da paredeovariana em início de vascularização e ligeiramenteespessada em relação ao estádio anterior aondeevidencia-se a presença, junto dos ovócitos emdesenvolvimento, de agrupamentos de macrófagoscontendo no seu interior pigmento hemossideróticode coloração castanha, diagnosticados pela reaçãohistoquímica de Perls. Nesta fase do desenvolvimento

ovariano verifica-se a presença de raras ovogônias eov6citos em estádio cromatina-nucleolar, ov6citosperinucleolares iniciais, tardios e ovócitos em estádiocortical-alveolar iniciais pouco freqüentes e ovócitosem estádio cortical-alveolar tardios muito freqüentes(Tab. I).

Estádio Ci (parcialmente maduro, comalguns ov6citos prontos a serem desovados): Nestafase de desenvolvimento, o ovário, mais volumoso, jáocupa mais da metade do comprimento da cavidadecorporal e as suas paredes tomam-se translúcidas(Fig. 19).

A microscopia toma evidente o aumento davascularização da porção interna da parede ovariana,bem como a diminuição da espessura desta. Além deraras ovogônias e ovócitos em estádio cromatinanucleolar e ov6citos perinucleolares e em estádiocortical-alveolar pouco freqüentes, observa-se apresença de ovócitos vitelogênicos muito freqüentes eraros ov6citos em maturação final (Tab. 1).

Estádio Cf(maduro, com praticamente todosos ovócitos prontos para a desova): O ovário nesteestádio passa a ocupar mais de dois terços dacavidade corporal, apresentando seu maior volume,devido a presença de ovócitos muito grandes, que sãofacilmente visualizados, graças à transparência daparede ovariana. Com isso, o ovário, translúcido,passa a ter coloração amarelada, característica devidoà presença dos ov6citos contendo abundantequantidade de vitelo no seu interior (Fig. 20). Taisovócitos às vezes apresentam-se unidos por umasubstância adesiva, de coloração esbranquiçada,visível a olho nú.

Microscopicamente, a fina parede ovarianaapresenta intensa vascularização na túnica interna.Tais vasos sangüíneos ramificam-se, irrigando aregião da teca dos ovócitos nos estádios finais dedesenvolvimento. A presença muito freqüente deov6citos em maturação final é característicadesta fase, embora ainda sejam encontradosov6citos vitelogênicos pouco fteqüentes e os demaistipos germinativos ovarianos com ocorrência rara.Entre os ovócitos em maturação final evidencia-se, àsvezes, a presença da substância que os mantémunidos, eosinófila, aceIular e PAS positiva (Fig. 21 eTab. I).

Estádio D (desovado): Os ováriosapresentam-se completamente esvaziados, comcoloração rósea e aparência flácida e hemorrágica(Fig. 22). A análise microscópica dos ováriosdesovados mostra a presença de folículos pós-ovulatórios muito freqüentes, que caracterizam estafase do ciclo ovariano, ov6citos atrésicos poucofreqüentes e ovogônias, ovócitos em estádiocromatina-nucleolar e ov6citos perinucleoIares raros.

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Fig. 16. Fêmea de C. spixii eviscerada com ovários imaturos (O) dispostos ventralmenteaos rins (R). Escala em centímetros.

Fig. 17. Fêmea de C. spixií eviscerada com ovários em maturação inicial (O) dispostosventralmente aos rins (R). Notar a presença de ov6citos em desenvolvimentodiagnosticados macroscopicamente (seta). Escala em centímetros.

Fig. 18. Fêmea de C. spixii eviscerada com ovários em maturação final (O) dispostosventralmente aos rins (R) e bexiga natatória (BN). Notar a presença mais evidentede ov6citos em desenvolvimento diagnosticados macroscopicamente, bem comode pontuações de coloração castanha (seta). Escala em centimetros.

Fig. 19. Fêmea de C. spixii eviscerada com ovários parcialmente maduros (O) dispostosventralmente aos rins e bexiga natatória (BN). Escala em centímetros.

-00o

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Diagnosticou-se a formação do folículo pós-ovulatório em um dos ovários analisados nesteestádio, verificando-se a expulsão de um ovócito emmaturação final pela aparente constrição das célulasfoliculares e da teca (Tab. I e Fig. 10).

Estádio R (em recuperação): Nesta fase osovários ocupam menos de metade do comprimento dacavidade corporal, possuem coloração rósea amarrom clara, apresentando inúmeras pontuaçõescastanhas e sendo possível verificarmacroscopicamente a formação de ovócitos emdesenvolvimento (Fig. 23).

A nível microscópico esta fase écaracterizada pela presença de muitos nódulosfibrosos, resultantes do processo de absorção dosfolículos pós-ovulatórios, agrupamentos muitofreqüentes de macrófagos contendo pigmentoshemossideróticos de coloração castanha (em .

colorações rotineiras como HE), que correspondemàs pontuações observadas macroscopicamente,ovogÔl1ias,ovócitos em estádio cromatina-nucleolar,ovócitos perinucleolares pouco freqüentes, ovócitoscortical-alveolares muito freqüentes e raros ov6citosatrésicos (Tab. 1).

Discussão

o aspecto macroscópico dos ovários deCathorops spixii é semelhante ao descritoanteriormente por Tucker (1985) para Icta/uruspunctatus, por Lima et aI. (1991) para Piaraetusmesopotamieus e por Reis (1986) para Netumabarba, apresentando estrutura anatõmica que permiteclassificá-lo no tipo "cistovariano" proposto porHibiya (1982), uma vez que verifica-se a presença dolúmen ovariano contínuo com o oviduto.

Embora tenham sido realizados algunstrabalhos da biologia reprodutiva de arídeos, os quaisutilizaram o diagnóstico microscópico de maturidadegonadal, neste trabalho foi possível observarparticularidades sem descrição anterior na literaturaespecializada, relativas à estrutura das diferentesfases das células germinativas ovarianas, bem comoda estrutura microscópica dos ovários, destacando-seas variações verificadas pelas células foliculares,úteis para o diagnóstico dos tipos germinativosovarianos, devidas a alterações funcionais dasmesmas; processos de regeneração verificados emovários em recuperação; formação da membranavitelina, observada em ovócitos em processo devitelogênese, na qual, tardiamente constata-se apresença de estriação transversal marcante devida àpresença de inúmeros microvilos, envolvidos noprocesso de vitelogênese.

A presença de uma ou duas camadas decélulas foliculares pavimentosas observadas em tomode alguns ovócitos perinucleolares tardios,

mencionada anteriormente como fator de diagnósticodeste estádio de desenvolvimento ovocitário, pareceser uma estrutura transitória, onde o epitélio foliculardeve tomar-se novamente monoestratificado àmedida que o ov6cito cresce. Tal evento é justificadopor Guraya (1986) como uma condição depseudoestratificação que reflete uma reserva celular aser utilizada durante o crescimento rápido do ovócito,verificado também neste trabalho, aonde a variaçãode tamanho dos diferentes estádios dedesenvolvimento dos ov6citos é considerável.

A vitelogênese em tele6steos, segundoNarahara (1991), tem componentes endógenos ouex6genos, de acordo com o local em que se inicia oprocesso de vitelogênese, podendo ocorrer apenas avitelogênese endógena nos ovócitos em início dedesenvolvimento, ou a ocorrência simultânea devitelogênese endógena e exógena em ovócitos emestádios mais avançados de desenvolvimento.

A vitelogênese endógena ocorre em ov6citosvitelogênicos em início de desenvolvimento (cortical-alveolares), enquanto que o predomínio davitelogênese exógena sobre a endógena ocorre emovócitos vitelogênicos propriamente ditos até omomento da ovulação (Narahara, op. eit., Tucker,1985). A vitelogênese exógena parece ser a que maiscontribui para o crescimento acentuado do ovócitoque, nesta fase, começa a adquirir material pormicropinocitose, através dos microvilos, formando osgrânulos de vitelo que, à medida que vão migrandoao interjor do ovoplasma, deslocam as vesículasprecursoras dos alvéolos corticais para a periferia doovócito (Monteros & Labarta, 1987).

Nos ovócitos em estádio cortical-alveolar deCathorops spixii provavelmente ocorrapredominantemente vitelogênese endógena de vitelo,uma vez que até esta fase de desenvolvimento não seobservou a presença dos microvilos, que otimizam oprocesso de vitelogênese exógena. Cabe citar que osalvéolos cortjcajs, típjcos desta fase das célulasgerminativas ovarianas, são, às vezes, denominadoserroneamente como vesículas de vitelo uma vez que,segundo West (1990), o conteúdo de tais alvéolos ouvesículas não terá função na nutrição do embrião,visto que, no momento da fertilização, o conteúdodestas estruturas é liberado no espaço perivitelínicoentre a membrana vitelina e o protoplasma, visandoimpedir a polispermja. Portanto, a uHlização dotermo ovócito cortical-alveolar, proposto por West(op. eU.), é mais adequado do que o termo ovócito emvitelogênese lipídica, às vezes empregado para estafase de desenvolvimento ovocitário, além decolaborar com a iniciativa do mesmo autor de

padronizar a utilização de uma terminologia comum,o que facilitaria a comparação dos dados obtidosentre as diferentes espécies de peixes.

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Fig. 20. Fêmea de C. spixii eviscerada com ovários maduros (O) dispostos ventralmente aosrins e bexiga natatória (BN). Notar a transparência da parede ovariana, quepermite evidenciar a presença de ovócitos volumosos, contendo abundantequantidade de vitelo no seu interior. Escala em centímetros.

Fig. 21. Corte transversal de ovário de C. spixii. Oócitos em maturação final (O), notando-se entre as células foliculares (CF) de ambos a presença de substância acelular(seta). PAS +Hematoxilina. 240X

Fig. 22. Fêmea de C. spixii eviscerada com ovários desovados (O) de aparência flácida ehemorrágica dispostos ventralmente aos rins e bexiga natatória (BN). Escala emcentímetros.

Fig. 23. Fêmea de C. spixii eviscerada com ovários em recuperação (O) dispostosventralmente aos rins (R) e bexiga natatória (BN). Notar a presença depontuações de coloração castanha nos ovários. Escala em centímetros.

-ocN

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Tab. I. Classificação dos estádios de maturidade ovarianos de acordo com a presença e fi-eqüência de estruturas e dos tiposcelulares germinativos ovarianos

(- Ausente; + Raro; ++ Pouco Freqüente; +++ Muito Freqüente) (Oog -ovogônias, OCN -ovócito em estádio cromatina-nucleolar,OPi - ovócito emestádio perinucleolar inicial, OPt - ovócito em estádio perinucleolar tardio, OCAi - ovócito em estádio cortical-alveolar inicial, OCAt - ovócito em

estádio cortical-alveolar tardio, OVit - ovócito vitelogênico propriamente dito, OMf - ovócito em maturação final, OAtr - ovócito atrésico, FPO -folículo pás-ovulatório, nódulos fibrosos, Mac -macrófugos, LO -Iamelas ovarianas e vascularização da parede ovariana).

As características de células em ativa sínteseproteica das células foliculares dos ovócitos emmaturação final e a vascularização da teca por nósrelatados para Cathorops spixii evidenciam aocorrência simultânea de vitelogêneserespectivamente endógena e exógena, que ocorremnesta fase, e corroboram a observação de ocorrênciamais expressiva, entre ambas, da exógena, queexplicaria o aumento acentuado do volume dosovócitos neste estágio de desenvolvimento. Apresença nos ovócitos em maturação final demicrovilos numerosos e relativamente grandes, quepossuem função na absorção, no estádio Cf(caracterizado pela presença de ovócitos emmaturação final) reforçam a observação acimaproposta.

A presença de um único lote de ovócitos emmaturação final resulta em desova total, confirmadapela ausência de ovócitos em maturação finalresiduais, bem como de qualquer outro ovócito emprocesso de vitelogênese em ovários desovados (Tab.1). A presença da substância adesiva, visualizadamacroscopicamente em ovários maduros, comcoloração esbranquiçada e comprovadamicroscopicamente como uma substância acelulareosínófila e PAS positiva, parece ser produzida pelascélulas foliculares, e assim como verificado emoutros arídeos por Rimmer & Merrick (1983),assume a função de manter os ovócitos desovadosaderidos até o momento da fecundação destes pelomacho, contribuindo, deste modo, para a ocorrênciada desova do lote único de ov6citos, e facilitando,deste modo, a fecundação dos mesmos pelosespermatozóides.

A presença de tal substância apenas emparte dos ovários maduros, com praticamente todosos ovócitos prontos a serem desovados aparentementeé devida à produção desta pouco antes do momentoda desova, para garantir que o maior número possívelde ovócitos maduros seja por ela envolvido,

mantendo o lote único de ovócitos maduros aderidospara otimizar o processo de fecundação.

As evidências acima descritas, associadas àpresença, em todos os estádios de desenvolvimento,de ovogônias, ov6citos em estádio Ctomatina-nucleolar e ovócitos perinucleolares (Tab. I), queindicam que esta espécie desova periodicamentedurante a sua vida, e que, a cada período apenas umlote de ovócitos é eliminado, permitem classificar omecanismo de desenvolvimento ovocitário da espéciecomo "sincrônico em dois grupos" (Vazzoler, 1996).

Cabe ressaltar que a utilização do termo"ovários parcialmente maduros" objetiva esclarecerque, apesar de conter alguns ovócitos em maturaçãofinal, o ovário não está apto a desovar, já que osdemais ovócitos. predominantemente vitelogênicosestão em processo final de maturação, e portantoinaptos para a fertilização. Também não foiencontrada, entre eles, a substância acelular adesiva,bem como não foi observada em nenhum ovário

diagnosticado como totalmente maduro a presença defolículos pós-ovulatórios, ou mesmo a presença deovócitos em maturação final em ováriosdiagnosticados como desovados, que poderiamcaracterizar uma desova parcelada.

Embora deva ocorrer a presença damicrópila na membrana vitelina dos ovócitos emmaturação final, envolvidos pela substância adesivamencionada, não Se verificou a presença de talestrutura.

A presença das Iamelas ovarianas, notadaapenas nos ovários nos estádios iniciais dedesenvolvimento, e que aumentam a superficie dorevestimento interno do órgão, não foi notada nosovários dos peixes que haviam se reproduzido aomenos uma vez, e que, passaram pelo estádio "R"(em recuperação). Aparentemente tal ausênciapoderia ser compensada pela presença dos nódulosfibrosos, formados a partir do processo de absorçãode folículos atrésicos e de corpos lúteos pós-

Estádiosde Estruturas e Tip:>sCelulares GerminativosOvarianosMaturidade Coe OCN OPi OPt OCAi OCAt OVit OMf OAtr FPO NF Mac LO Vascularização Parede

A ++ ++ +++ +++ - - - - - - - - +++ inícioBi + + ++ ++ +++ - - - - - - - ++Bf + + ++ ++ ++ +++ - - - - - ++ -Ci + + ++ ++ ++ ++ +++ + - - - - - aumentadaCf + + + + + + ++ +++ - - - - - intensa del28daD + + + + - - - - ++ +++ - - -R ++ ++ ++ ++ +++ +++ - - + - +++ +++ -

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ovulatórios, que promoveriam um aumento dasuperficie do revestimento interno do ovário.

Apesar da morfologia microscópica dostipos germinativos ovarianos ser semelhante a dosdescritos na literatura para teleósteos, em Cathoropsspixii nota-se a presença de estruturas que permitemdiagnosticar um número maior de estádios dedesenvolvimento ovocitário. Entre elas encontram-seas lamelas ovarianas, macrófagos, folículos pós-ovulatórios, células foliculares com variaçõesmorfológicas decorrentes de alterações funcionais,entre estas variações destaca-se a presença demicrovilos em número e tamanho nunca antes

descritos, além da grande variação em tamanho eforma dos ovócitos, bem como de suas característicascitológicas (núcleo, nucléolos, corpo de Balbiani,basofilia ou acidofilia citoplasmática). Por isso foipossível classificar o desenvolvimento ovarianü emsete estádios, enquanto Mishima & Tanji (1983) ,analisando o desenvolvimento ovariano através decaracterísticas macrosc6picas do grau de maturidadepela escala de Kubo & Yoshinara (1972),diagnosticaram apenas quatro estádios.

A análise da ocorrência e fteqüência relativade estruturas e das fases de desenvolvimento dascélulas germinativas ovarianas leva a crer que taisestádios sigam a escala descrita no ciclo dedesenvolvimento do estado reprodutivo a seguir:

A~Bi~Bf~Ci~Cft ,l.R f- D

Conclusões

As variações das características citológicasapresentadas pelos tipos celulares germinativosovarianos em crescimento de Cathorops spixiipermitiram a obtenção de seis diferentes fases dedesenvolvimento ovocitário: ovogônia, ovócito emestádio cromatina-nucleolar, ovócito perinucleolar,ovócito cortical-alveolar, ovócito vitelogênico,ovócito em maturação final.

A estrutura dos ovários e as característicasdas diferentes fases de desenvolvimento dos tiposcelulares germinativos e das células folicularespresentes, revelados pela análise microscópicadurante o seu desenvolvimento, permitem classificá-10 no tipo cistovariano, com uma escala dematuridade ovariana composta por sete estádios:imaturo (A), em maturação inicial (Bi), emmaturação final (Bt), parcialmente maduro (Ci),maduro (Ct), desovado (D) e em recuperação (R).

A presença de um lote único de ovócitosresulta em desova total e permite a classificação dodesenvolvimento ovocitário da espécie comosincrônico em dois grupos.

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