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CCG319 - INFLUÊNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NO ENGAJAMENTO DO FUNCIONÁRIO MEDIADO PELA IDENTIFICAÇÃO ORGANIZACIONAL AUTORIA EDICREIA ANDRADE DOS SANTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA SIMONE SOARES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE - UNICENTRO JONATAS DUTRA SALLABERRY UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CARLOS ALBERTO MARCAL GONZAGA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE Resumo Este estudo teve por objetivo verificar em que medida as percepções dos funcionários de um grupo de empresas acerca das práticas de responsabilidade social corporativa (RSC) mediada pela identificação organizacional afeta no engajamento do indivíduo. Para alcançar este objetivo, foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário no qual obteve-se 189 respostas válidas, aplicado a funcionários de diversas funções de um grupo de empresas localizadas na região centro sul do estado do Paraná. Para analisar as três hipóteses formuladas, utilizou-se de Modelagem de Equações Estruturais utilizando-se do software SmartPLS. Os resultados indicam que há uma relação positiva e significativa entre as percepções dos funcionários sobre RSC no engajamento dos funcionários, além de confirmar também a identificação organizacional como um potencial mediador desta relação. Esses achados sugerem que a RSC percebida tem o impacto mais forte sobre os funcionários quando eles se sentem mais identificados com a organização. Com isso, este estudo contribui para as recomendações evidenciadas na literatura para a necessidade de se investigar a RSC sob um panorama mais completo, isto é, com a inclusão do nível individual de análise dado que pesquisas anteriores da temática enfatizam predominantemente os nos níveis macro e institucional.

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CCG319 - INFLUÊNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA NO ENGAJAMENTO DO FUNCIONÁRIO MEDIADO

PELA IDENTIFICAÇÃO ORGANIZACIONAL

AUTORIA

EDICREIA ANDRADE DOS SANTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

SIMONE SOARES UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE - UNICENTRO

JONATAS DUTRA SALLABERRY UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CARLOS ALBERTO MARCAL GONZAGA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE

Resumo Este estudo teve por objetivo verificar em que medida as percepções dos funcionários de um grupo

de empresas acerca das práticas de responsabilidade social corporativa (RSC) mediada pela

identificação organizacional afeta no engajamento do indivíduo. Para alcançar este objetivo, foi

utilizado como instrumento de pesquisa um questionário no qual obteve-se 189 respostas válidas,

aplicado a funcionários de diversas funções de um grupo de empresas localizadas na região centro

sul do estado do Paraná. Para analisar as três hipóteses formuladas, utilizou-se de Modelagem de

Equações Estruturais utilizando-se do software SmartPLS. Os resultados indicam que há uma relação

positiva e significativa entre as percepções dos funcionários sobre RSC no engajamento dos

funcionários, além de confirmar também a identificação organizacional como um potencial mediador

desta relação. Esses achados sugerem que a RSC percebida tem o impacto mais forte sobre os

funcionários quando eles se sentem mais identificados com a organização. Com isso, este estudo

contribui para as recomendações evidenciadas na literatura para a necessidade de se investigar a RSC

sob um panorama mais completo, isto é, com a inclusão do nível individual de análise dado que

pesquisas anteriores da temática enfatizam predominantemente os nos níveis macro e institucional.

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INFLUÊNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NO

ENGAJAMENTO DO FUNCIONÁRIO MEDIADO PELA IDENTIFICAÇÃO

ORGANIZACIONAL

RESUMO

Este estudo teve por objetivo verificar em que medida as percepções dos funcionários de um

grupo de empresas acerca das práticas de responsabilidade social corporativa (RSC) mediada

pela identificação organizacional afeta no engajamento do indivíduo. Para alcançar este

objetivo, foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário no qual obteve-se 189

respostas válidas, aplicado a funcionários de diversas funções de um grupo de empresas

localizadas na região centro sul do estado do Paraná. Para analisar as três hipóteses

formuladas, utilizou-se de Modelagem de Equações Estruturais utilizando-se do software

SmartPLS. Os resultados indicam que há uma relação positiva e significativa entre as

percepções dos funcionários sobre RSC no engajamento dos funcionários, além de confirmar

também a identificação organizacional como um potencial mediador desta relação. Esses

achados sugerem que a RSC percebida tem o impacto mais forte sobre os funcionários quando

eles se sentem mais identificados com a organização. Com isso, este estudo contribui para as

recomendações evidenciadas na literatura para a necessidade de se investigar a RSC sob um

panorama mais completo, isto é, com a inclusão do nível individual de análise dado que

pesquisas anteriores da temática enfatizam predominantemente os nos níveis macro e

institucional.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa (RSC); Engajamento no Trabalho;

Identificação Organizacional.

1 INTRODUÇÃO

A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) tornou-se um dos temas mais

importantes para a agenda do século XXI e teve um aumento considerável de pesquisas

principalmente a partir dos anos 1990 (Souza & Ribeiro, 2013; Azim, 2016). De acordo com

Turker (2009) esse tema está relacionado diretamente à criação de impactos positivos para as

organizações e para os seus stakeholders. Em geral, a RSC é vinculada ao desempenho

empresarial percebido pelos stakeholders (Carroll, 1991), pois quanto mais envolvida a

empresa for com a parte social, maior o fortalecimento da sua relação com seus usuários

(Freguete, Nossa, & Funchal, 2015).

Neste sentido, poucos estudos consideraram o engajamento do funcionário como um

resultado do desempenho de RSC da empresa (Tahlil, 2016). Albdour e Altarawneh (2012)

realizaram um estudo sobre a RSC interna e o engajamento do funcionário e concluíram que o

ele é um bom preditor dos resultados do funcionário, do sucesso organizacional e do

desempenho financeiro.

O engajamento no trabalho é algo positivo, que está relacionado ao bem-estar ou a

uma satisfação caracterizada por um alto nível de energia e uma forte identificação com o

próprio trabalho (Bakker & Leiter, 2010). A pesquisa de Bakker (2011) mostra que

trabalhadores engajados são fisicamente, cognitivamente e emocionalmente conectados com

seus papéis de trabalho. Ademais, evidencia que engajamento é um importante indicador de

bem-estar ocupacional e os próprios gestores podem colaborar com o envolvimento de seus

empregados e da identificação com a organização.

A identificação organizacional é apenas uma das possíveis formas de identificação

social, ou seja, os indivíduos passam a se autodefinirem como membros de uma organização

(Ashforth & Mael, 1989; Dutton, Dukerich, & Harquail, 1994). Portanto, um indivíduo sente-

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se identificado com a organização da qual faz parte quando incorpora os atributos desta em

seu autoconceito.

A noção de identificação possui forte natureza cognitiva, diferenciando-se de outros

conceitos mais associáveis a comportamentos ou posicionamentos afetivos, tais como, a

dedicação e a lealdade. Ashforth e Mael (1989) fazem distinção entre os conceitos de

identificação social e internalização. No primeiro, o indivíduo se referenciaria em termos de

categorias sociais (eu sou), enquanto no segundo levaria em conta a incorporação de valores,

atitudes e outros atributos de alta significação que constituem os seus princípios de vida (eu

acredito). Essa distinção sugere que a aceitação de determinada classificação social para a

formação do autoconceito não necessariamente implica a tácita concordância do indivíduo

com todos os valores ou atitudes de um grupo (Ashforth & Mael, 1989).

A organização, entendida como categoria social, é vista como possuidora de um

conjunto de atributos ou características que seus membros internalizam como seus, criando

um importante vínculo dos empregados com a organização (Marra, Fonseca, & Marques,

2013). Uma maior identificação com a organização implica comportamentos mais alinhados

com as crenças, normas e valores (Ashforth & Mael, 1989), o que explica a importância deste

construto para entender a percepção do funcionário junto aos projetos de RSC da organização.

Com base no exposto, este estudo pretende responder a seguinte questão: em que

medida a responsabilidade social corporativa mediada pela identificação organizacional

influencia na no engajamento dos funcionários? Assim, o estudo objetiva verificar em que

medida a responsabilidade social corporativa mediada pela identificação organizacional

influencia na no engajamento dos funcionários de um grupo de empresas localizadas na região

centro sul do estado do Paraná.

De acordo com a literatura as percepções positivas dos funcionários sobre a RSC de

sua organização afeta no seu engajamento no trabalho, porém os estudos ainda são incipientes

(Glavas & Piderit, 2009; Glavas, 2016). Glavas (2012) propuseram que uma razão para o

relacionamento positivo entre RSC e engajamento é que os funcionários encontram maior

significado e valores congruentes no trabalho. Isso porque as práticas de RSC permite que as

empresas vão além das declarações de valores formais, ou seja, saem do discurso para

realmente viver esses valores. Isso, por sua vez, sinaliza aos funcionários sobre os valores da

empresa, e que pode também influenciar no aumento da identificação organizacional do

funcionário.

Nesse entendimento, este estudo contribui teoricamente ao considerar as

recomendações de Aguinis e Glavas (2012), que destacaram a necessidade de se investigar a

RSC sob um panorama mais completo, isto é, com a inclusão do nível individual de análise

dado que pesquisas anteriores da temática enfatizam predominantemente os nos níveis macro

e institucional (Lee, 2008; Wood, 2010; Glavas, 2016). Ademais, contribui empiricamente por

aplicar a pesquisa com funcionários de um grupo de empresas que são socialmente

responsáveis com seus stakeholders e que tem causas sociais específicas de atendimento.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Responsabilidade Social Corporativa (RSC)

As primeiras definições dos ideais da responsabilidade social se iniciaram com os

conceitos de Carrol (1979), e essas ações diz respeito às expectativas econômicas, legais,

éticas e sociais que a sociedade espera que as empresas atendam num determinado período de

tempo. Partindo deste ponto, as empresas estariam acompanhando anseios sociais

determinados, talvez pelo contexto econômico ou mesmo pelo próprio mercado, porém

algumas necessidades da sociedade não mudam com o tempo, são permanentes (Carrol,

1979). Aragão e Karkotli (2005), apresentaram uma definição mais sucinta e objetiva

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destacando que a RSC, em sentido estrito, deve ser entendida como uma responsabilidade que

a organização tem em responder por ações próprias ou de quem a ela esteja ligada.

A RSC não apresenta um consenso teórico, assim alguns autores se concentraram nas

responsabilidades corporativas para com os grupos de stakeholders (Serpa & Fourneau,

2007). Stakeholders são definidos por Freeman (1984, p. 46) como “qualquer grupo ou

indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelos objetivos organizacionais”. De outra forma,

sabe-se que os stakeholders influenciam e são influenciados pelas decisões das organizações,

e assim, impactam na sua sobrevivência, o que demanda dos gestores empenho em

desenvolver metas que os satisfaçam (Savage et al., 1991).

Os funcionários formam o grupo de stakeholders mais envolvido na implementação de

um comportamento responsável (Collier & Esteban, 2007), e as práticas de RSC dependem

em grande parte, do comprometimento deles para serem desempenhadas. Por outro lado, a

identificação com a postura socialmente responsável de uma empresa ao estabelecer políticas

de práticas de RSC podem exercer um efeito positivo sobre o comprometimento dos

empregados com a organização que eles trabalham (Peterson, 2004). Rios (2009), enfatiza que

os investimentos no capital humano consistem em uma estratégia corporativa eficaz para

acompanhar essas imposições, o que instiga estudos a respeito do comportamento

organizacional e assuntos correlatos, como engajamento, satisfação, vínculos com o trabalho e

outros índices, como o tempo de serviço prestado às organizações.

A RSC é pesquisada de diferentes formas. Werlang (2003), constatou que o

desenvolvimento de ações tanto internas quanto externas geram maior comprometimento e

engajamento dos funcionários, alguns chegaram a apontar melhoras nos resultados de

pesquisas de clima, referentes à imagem da organização e desejo de permanecer trabalhando

nela. Melo Neto e Froes (2004) dividem a RSC em três estágios, sendo elas: gestão social

interna, gestão social externa e gestão cidadã. A primeira é o principal fator de alavancagem

da cidadania corporativa. Uma empresa inicia o seu processo de RSC a partir da sua

capacidade de administrar o seu relacionamento com os empregados (Melo Neto & Brennand,

2004). Para Hanashiro (2008) a RSC perante o ambiente interno é compreendida em grande

parte pela relação entre os gestores e colaboradores, e assim como pelas políticas de recursos

humanos desenvolvidas pela empresa.

Nessa linha o Instituto Ethos (2013) desenvolveu indicadores para avaliação das ações

praticadas pelas empresas com foco no público interno. A motivação, fidelidade e

participação ativa de seus colaboradores poderá constituir uma vantagem competitiva de

mercado, fortalecendo a imagem da organização. Os indicadores Ethos de Responsabilidade

Social, constitui uma ferramenta necessária à gestão para mensurar o grau de responsabilidade

de uma organização e os resultados que tal prática proporciona no ambiente organizacional

(Ethos, 2013). Nesta perspectiva, a responsabilidade social pode ser introduzida na

organização por meio de métodos que abrangem os seguintes temas: diálogo e participação,

respeito ao indivíduo e trabalho decente, assim as organizações que almejam ser socialmente

responsáveis devem utilizar como estratégia inicial o seu público interno (Ethos, 2013).

2.2 Engajamento do Funcionário

Inúmeras definições de engajamento no trabalho podem ser encontradas na literatura.

Em comum, existe a ideia de que o engajamento é uma condição desejável que favorece o

desempenho individual e organizacional (Oliveira & Costa Rocha, 2017). Empregados

engajados são aqueles que estão físicas, cognitiva e emocionalmente conectados com seus

papéis no trabalho (Kahn, 1990). Um empregado desengajado teria comportamentos

exatamente opostos aos de um empregado engajado, ou seja, estaria em estado de retirada ou

defesa, seja física, emocional ou cognitiva no decorrer do desempenho de suas tarefas (Saks,

2006).

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Schaufeli, Salanova, Gonzalez-Rom e Bakker (2002, p. 92), definem o engajamento

do funcionário “como um estado mental positivo e satisfatório relacionado ao trabalho que é

caracterizado pelo vigor, dedicação e absorção”. Eles também mantêm que não é um estado

momentâneo e específico, mas sim “um estado cognitivo persistente e disseminado que não

está focado em qualquer objeto, evento, indivíduo ou comportamento em particular”

(Schaufeli, et al, 2002, p. 92).

Saks (2006) esclarece que o foco do engajamento é o desempenho formal da função,

em vez de comportamentos extra função e voluntários. Paralelo com as funções que os

funcionários exercem em uma organização, dois tipos de engajamento são identificados:

engajamento com o trabalho (ET) e engajamento com a organização (EO) (Saks, 2006). O

engajamento com o trabalho se refere à presença psicológica de um indivíduo em sua função

relacionada ao trabalho e engajamento com a organização representa o engajamento de um

funcionário na realização de sua função como membro da organização (Kahn, 1990).

Bakker e Leiter (2010) definem engajamento no trabalho como algo positivo, que está

relacionado ao bem-estar ou a uma satisfação caracterizada por um alto nível de energia e

uma forte identificação com o próprio trabalho. Alguns estudos recentes, como Bakker,

Albrecht e Leiter (2011), apontam que o engajamento abrange um comprometimento e

alinhamento a partir de visão e interesses comuns. Para atingir o engajamento, os

colaboradores e as empresas precisam construir uma relação positiva, confiante, civil,

respeitosa e mutuamente benéfica, na qual ambas as partes acreditem que existe um potencial

para equidade, justiça, oportunidade e crescimento significativo no sistema. Os autores

sugerem seis áreas potenciais na vida do trabalho úteis para promover o clima de

engajamento, são: carga de trabalho, controle, recompensa, comunidade, justiça e valores.

Uma equipe de trabalho engajada pode influenciar o desempenho do trabalhador

individualmente (Bakker, Albrecht, & Leiter, 2011).

Com base no exposto, este estudo evidencia a seguinte hipótese:

H1: Existe uma relação positiva entre a responsabilidade social corporativa (RSC) e o

engajamento dos funcionários.

2.3 Identificação Organizacional

Identificação organizacional foi reconhecido há muito tempo como um construto

crítico na literatura sobre comportamento organizacional, afetando tanto a satisfação do

indivíduo e a eficácia (Lee, 1971; O'Reilly & Chatman, 1986; Patchen, 1970).

De acordo com a Teoria da Identidade Social (TIS), as pessoas tendem a classificar-se

e outras em várias categorias sociais, como membros organizacionais, afiliação religiosa,

gênero e coorte de idade (Tajfel & Turner, 1985). Como sugerem esses exemplos, as pessoas

podem ser classificadas em várias categorias, e diferentes indivíduos podem utilizar diferentes

esquemas de descriminação. As categorias são definidas por características prototípicas

extraídas dos membros (Turner, 1985). Portanto, a identificação organizacional é uma forma

específica de identificação social (Azim, 2016).

Araújo e Melo (2015), concluem que a identificação organizacional seria uma das

formas mais importantes de ligação dos empregados à organização. Portanto, a identificação

organizacional gera uma produtividade acentuada devido ao empenho do profissional, que

sente orgulho de trabalhar na empresa e encontra nela uma visão alinhada aos seus princípios

(Araújo e Melo, 2015). Assim evidencia-se a seguinte hipótese:

H2: Existe uma relação positiva entre identificação organizacional e o engajamento

Tavares (2001) destaca que identificação organizacional tem sido vista como um

construto fundamental para a compreensão da identidade dos indivíduos e para a explicação

das suas atitudes e comportamentos em contexto laboral. Peterson (2004), argumenta que a

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identificação com a postura socialmente responsável de uma empresa ao estabelecer políticas

de práticas de RSC podem exercer um efeito positivo sobre o comprometimento dos

empregados com a organização.

Riketta (2005) comenta que existem vários conceitos acerca da identificação

organizacional, contudo todos se baseiam no fato de que o membro da organização está ligado

a ela de forma cognitiva, ou seja, este sente-se parte e interiorizar os seus valores, e ainda

sentir o desejo de continuar a pertencer a empresa. Ainda de acordo com o autor os estudos

que assim mensuraram a identificação organizacional, ela se revelou um preditor mais forte

do que o comprometimento do envolvimento com o trabalho e do desempenho contextual.

Jenkins (2005), destaca que ao identificar-se o indivíduo absorve as crenças sobre a

organização em sua própria identidade – seu autoconceito incorporaria características que

para aquele indivíduo definem a organização como um grupo social, passando a compor

aquilo que a pessoa é, ou seja, fazendo parte de seu próprio eu. Assim, em síntese

identificação organizacional está positivamente correlacionada com o engajamento, a

satisfação no trabalho, o envolvimento com o trabalho e a lealdade organizacional. Estudiosos

referem ainda que os laços pessoais de apego estão ligados a construção de identidade e nesse

sentido destacam a importância das relações sociais na identificação organizacional

(Brickson, 2005). Assim, evidencia-se a seguinte hipótese:

H3: A identificação organizacional atua como mediadora no aumento do engajamento do

funcionário ao perceber maior responsabilidade social corporativa (RSC) da empresa.

Com base no descrito e nas hipóteses destacadas, evidencia-se na Figura 1 o modelo

teórico proposto para esta pesquisa.

Figura 1. Modelo conceitual da Pesquisa Fonte: Autores (2019)

A proposta desta pesquisa é de que quanto maior a RSC de uma organização e que

ela seja percebida pelos funcionários, maior será o engajamento deles para com o trabalho e

com sua função além de também maior identificação organizacional.

3 METODOLOGIA

3.1 Seleção da amostra e coleta de dados

A população desta pesquisa é constituída por 442 funcionários de um grupo de

empresas geridas por uma mesma família e dos quais obteve-se 289 questionários. Todavia

utilizou-se como critério que os funcionários deveriam ter no mínimo 6 meses de empresa

pelo fato de estarem socializados com a cultura e valores organizacionais. Assim, dos 289

questionários excluiu-se 55 deles por atendimento deste critério. Também houve a

necessidade desconsiderar outros 45 questionários pelo fato de estarem incompletos. Ao final,

resultou em 189 respostas válidas.

Para validar o tamanho da amostra necessária e o poder estatístico, a aplicação do

software G*Power (Faul, Erdefelder & Lang, 2009), considerando o efeito total de 2 variáveis

preditoras (Responsabilidade Social Corporativa e Identificação Organizacional) sobre a

variável dependente (Engajamento do Indivíduo), ao nível de significância de 5%, e um poder

estatístico de 0,95, exigiu amostra mínima superior a 90 respostas válidas.

Responsabilidade Social

Corporativa

Identificação

Organizacional Engajamento do

individuo

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O instrumento de pesquisa foi aplicado presencialmente aos funcionários por um dos

autores deste trabalho no período de 7 a 15 de janeiro de 2019. No instrumento foram listados

oito assertivas de dados demográficos; o construto Responsabilidade Social Corporativa

(RSC) quatro para partes interessadas sociais e não sociais (RSC.PI), cinco para os

funcionários (RSC.FUNC) e três para clientes (RSC.C); o construto Engajamento (EI) com 12

assertivas, e o construto Identificação Organizacional (IO) com seis assertivas.

Tabela 1. Construtos e assertivas do instrumento da pesquisa.

Construto Variáveis Assertivas

Responsabilida

de Social

Corporativa

(adaptado de

Turker, 2009)

RSC para

partes

interessadas

sociais e não

sociais

(RSC.PI)

1_A minha empresa apoia as organizações não governamentais que

trabalham nas áreas problemáticas (Ex. ANAPCI)

2_A minha empresa participa nas atividades que visam proteger e melhorar

a qualidade da comunidade na qual está inserida

3_A minha empresa implementa programas especiais para minimizar seu

impacto negativo no meio ambiente (descarte correto dos lixos, papelões,

etc.)

4_A minha empresa contribui para as campanhas e projetos que promovem

o bem-estar da sociedade (Ex.: X solidário)

RSC para os

funcionários

(RSC.FUNC)

1_A minha empresa incentiva seus funcionários a participarem

voluntariamente das atividades sociais.

2_As políticas da nossa empresa incentivam os funcionários a desenvolver

suas habilidades e carreiras.

3_A minha empresa implementa políticas flexíveis para proporcionar um

bom equilíbrio entre vida e trabalho a seus funcionários.

4_As decisões gerenciais relacionadas com os empregados são geralmente

justas.

5_A minha empresa apoia funcionários que desejam adquirir educação

adicional.

RSC para

clientes

(RSC.C)

1_A minha empresa protege os direitos do consumidor além dos requisitos

legais.

2_A minha empresa fornece informações completas e precisas sobre seus

produtos para seus clientes.

3_A satisfação do cliente é muito importante para a minha empresa.

Engajamento

(EI)

(adaptado de

Tsourvakas e

Yfantidou,

2018)

- 1_Eu falo muito bem desta empresa para meus amigos.

2_Ficaria feliz por minha família e meus amigos usarem os produtos ou

serviços desta empresa.

3_Esta empresa é conhecida na comunidade como um bom empregador.

4_Esta empresa tem uma boa reputação.

5_Tenho orgulho de dizer aos outros que faço parte desta empresa.

6_Esta empresa realmente inspirou o que há de melhor em mim no

desempenho do meu trabalho.

7_Eu acho que meus valores e os da empresa são muito semelhantes.

8_Eu sempre faço mais que é realmente necessário.

9_Eu tento ajudar os outros colegas nesta empresa sempre que posso.

10_Eu tento me manter a par dos novos conhecimentos na minha

área/função sempre que posso.

11_Sou voluntário para coisas fora do meu trabalho que contribuem para os

objetivos da empresa.

12_Eu frequentemente faço sugestões para melhorar o trabalho da minha

equipe /setor.

Identificação

Organizacional

(IO)

(adaptado de

Mael e

Ashforth, 1992)

- 1_Quando alguém critica a empresa, sinto isso como um insulto pessoal.

2_Eu estou verdadeiramente interessado no que os outros pensam acerca

desta empresa.

3_Quando falo desta empresa, digo mais vezes “nós” do que “eles”.

4_O sucesso desta empresa é o meu sucesso.

5_Quando alguém elogia a empresa, sinto isso como um elogio pessoal.

6_Se uma história nos meios de comunicação social criticasse a empresa

sentir-me-ia mal.

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Fonte: Dados da Pesquisa (2019).

Em resposta às assertivas, exceto o bloco de dados demográficos, foi solicitado aos

respondentes a indicar seu grau de concordância com estas assertivas, considerando a escala

tipo Likert de cinco pontos, sendo de concordo totalmente (1) a discordo totalmente (5).

Antes da aplicação do instrumento de pesquisa realizaram-se os procedimentos de back-

translation (Brislin, 1970) com dois profissionais e um pré-teste com vistas à validação

externa (Yin, 1994). O pré-teste foi com um dos proprietários da empresa e 3 funcionários. A

partir do pré-teste algumas questões dos instrumentos originais foram excluídas e outras

questões tiveram suas redações adequadas.

3.2 Procedimentos de análise dos dados

A análise dos dados foi realizada a partir da técnica de modelagem de equações

estruturais (SEM) estimada a partir dos Mínimos Quadrados Parciais (Partial Least Squares –

PLS), desenvolvido por Wold (1982, apud Ringle, Wende, & Becker, 2015). A técnica

possibilita estimar uma série de equações de regressão múltiplas separadas, mas

interdependentes, de forma simultânea, pela especificação do modelo estrutural (Hair Jr.,

Hult, Ringle, & Sarstedt, 2016).

Para a análise, realizou-se a avaliação do modelo de mensuração e do modelo

estrutural. Também se realizou o teste de mediação, a qual é entendida como um mecanismo

pela qual a variável independente influencia a variável dependente, por meio da transmissão

de efeitos da variável mediadora (Baron & Kenny, 1986). As validações decorreram de

análises no bootstrapping (PLS) que consistem na melhor alternativa para se testar as

hipóteses de mediação e fornecem um teste rigoroso da importância dos efeitos indiretos,

avaliando e comparando os efeitos indiretos em modelos de mediação (MacKinnon,

Lockwood, & Williams, 2004).

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Perfil dos respondentes

A análise descritiva dos dados permite conhecer as características da amostra da

pesquisa. Assim apresenta-se na Tabela 2 os dados demográficos dos respondentes desta

pesquisa.

Tabela 2. Dados dos Respondentes

Gênero N (%) Escolaridade N (%)

Feminino 96 50,8% Ensino Fundamental Incompleto 5 2,7%

Ensino Fundamental 31 16,5%

Ensino Médio 130 69,1%

Masculino 93 49,2% Ensino Superior 23 11,7%

Total 189 100% Total 189 100%

Tempo de Empresa N (%) Idade N (%)

Acima de 6 meses a 3 anos 73 38,8% De 18 a 21 anos 40 21,4%

Acima de 3 anos a 7 anos 67 35,6% de 22 a 30 anos 80 42,8%

Acima de 7 anos 49 25,5% Acima de 30 anos 69 35,8%

Total 189 100% Total 189 100%

Fonte: Dados da Pesquisa (2019).

Observa-se a partir dos dados demográficos que a amostra é bem diversa, sendo 50,8%

dos respondentes do gênero feminino (n= 96) e 49,2% do gênero masculino (n= 93).

Predominam colaboradores jovens, sendo que até 30 anos estão 64,2% dos respondentes, com

formação predominante em até o nível de ensino médio completo em 88,3% da amostra.

Somente 11,7% dos colaboradores alcançaram o ensino de nível superior completo. A

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experiência no grupo é mediana, haja vista que como critério da amostragem foram

desconsiderados colaboradores com até seis meses, restando 38,8% na faixa de até 3 anos de

experiência. O restante, com experiência no profissional no grupo superior a 3 anos é de

61,1% da amostra.

4.2 Modelo de Mensuração

A análise dos dados com o emprego da técnica estatística de equações estruturadas, foi

realizada por meio do software SmartPLS3.2.8. Para a avaliação da validade dos construtos,

foram observadas a validade discriminante e a validade convergente. A validade

discriminante foi a primeira a ser verificada, sendo que dos 30 indicadores iniciais constantes

do instrumento de pesquisa, todos demonstraram-se satisfatórios, com a maior carga no

construto indicado. No entanto, decorrente da análise da validade convergente, percebeu-se

alguns construtos com cargas fatoriais menores do que o previsto, e com isso algumas

variáveis precisaram ser excluídas, resultando no emprego de 21 variáveis observáveis

restantes. As variáveis excluídas foram: engajamento do funcionário (EF8, EF9, EF10, EF11,

EF12) e RSC (RSC.C2, RSC.C3, RSC.FUNC1, e RSC.PI4).

Os coeficientes da validade convergente, da Confiabilidade Composta (CC), do Alfa

de Cronbach apresentaram valores satisfatório, respectivamente a partir de 0,5, 0,7 e 0,7

(Fornell & Larcker, 1981), evidenciados na Tabela 3. Da mesma forma também é apresentado

o valor de R² para enriquecer as análises, sendo que não possui ponto de corte, embora o

desejado seja o maior possível.

Tabela 3. Validades do Modelo

Construtos Alfa de

Cronbach

Fiabilidade

composta

Variância Média

Extraída (AVE)

R

quadrado

Fornell-Larcker

EI IO RSC

EI 0,903 0,924 0,636 0,720 0,798

IO 0,861 0,896 0,590 0,334 0,730 0,768

RSC 0,858 0,890 0,504 - 0,774 0,578 0,780

Fonte: Dados da Pesquisa (2019).

A análise da Tabela 3 evidencia que todas as cargas para a AVE mostraram-se

estatisticamente significativas, isto é, com valores iguais ou superiores a 0,5 (Fornell &

Larcker, 1981). O indicador da Confiabilidade Composta atendeu aos valores limítrofes

considerados satisfatórios da mesma forma que os valores do Alfa de Cronbach todos acima

de 0,7 para as variáveis latentes.

Os indicadores de Confiabilidade Composta e Alfa de Cronbach satisfatórios

sinalizam que a amostra está teoricamente livre de vieses e que o instrumento de coleta de

dados empregado é confiável (Hair Jr. et al., 2016). A apuração do alfa de Cronbach é

empregada para verificar a consistência interna dos resultados de cada variável latente (VL),

que estabelece a expectativa de erro da medida feita, e quanto mais próximo de 1,00, menor a

expectativa de erro e maior a confiabilidade do instrumento (Hair Jr. et al., 2016). Na presente

amostra, os resultados do Alfa de Cronbach apresentaram um grau de fidelidade aceitável.

Muito importante para a análise do resultado, revelando sua relevância, é a

identificação e apropriação dos coeficientes de determinação (R2) para as variáveis, que

indica o quanto o modelo explica determinada variável. No presente estudo, foi demonstrado

que o modelo explica 72% da variação da Engajamento do Indivíduo e 33% da variação da

Identificação Organizacional.

O passo seguinte de análise da validade discriminante é a verificação das variáveis

latentes do modelo, que de acordo com Fornell e Larcker (1981), é confirmada quando o valor

da raiz quadrada da AVE (Average Variance Extracted) é maior que os valores absolutos das

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correlações com as demais variáveis latentes. Ou seja, a diagonal principal precisa apresentar

valores superiores do que para as demais variáveis latentes, sendo que nesse teste, decorrente

de valores insatisfatórios foi necessário realizar a exclusão das nove variáveis observáveis do

modelo.

4.3 Modelo estrutural

A análise do modelo estrutural permite validar estatisticamente as relações entre os

construtos e as conexões construídas segundo estrutura de um diagrama de caminhos em base

teórica (Hair Jr et al., 2016). Para avaliar a validade do modelo estrutural são analisados os

critérios de (i) o tamanho e significância dos coeficientes de caminho e (ii) coeficientes de

determinação de Pearson (R²) por meio da técnica de Bootstrapping, e (iii) a Relevância

Preditiva (Q²) na plataforma blindfolding, além dos (iv) tamanhos do efeito (F²) (Hair Jr et al.,

2016).

No bootstrapping, as subamostras são criadas com observações retiradas

aleatoriamente do conjunto original de dados (com substituição) e depois é usada para estimar

o modelo de caminhos do PLS. Neste caso foi gerado N = 5.000 sub-amostras diferentes,

como recomendado por Hair Jr et al. (2016), cujos resultados são apresentados na Tabela 4.

O valor de Q² do Stone-Geisser (Stone, 1974; Geisser, 1974) é um critério de

relevância preditiva. O valor de Q² das variáveis latentes é obtido por meio do procedimento

blindfolding. Segundo Ringle, Wende, e Becker (2015), o Blindfolding é uma técnica de

reutilização da amostra, que sistematicamente exclui pontos de dados e fornece um

prognóstico dos seus valores originais, o que exige a atribuição de uma distância de omissão

"D" (D = 8).

A técnica preconiza que no PLS-SEM quando há relevância preditiva, prediz

adequadamente os valores dos indicadores. Quando o valor de Q² maior que zero para a

variável latente endógena, sinaliza que o modelo tem relevância preditiva para esse

constructo. Nesta pesquisa os valores foram validados haja vista que em ambas variáveis o

resultado superou o zero.

Tabela 4. Efeitos entre os construtos

Relação Estrutural Coef. p-valor Hipótese

Responsabilidade Social Corporativa -> Engajamento dos Funcionários 0,529 0,000*** H1

Identificação Organizacional -> Engajamento dos Funcionários 0,424 0,000*** H1

Responsabilidade Social Corporativa -> Identificação Organizacional ->

Engajamento do Funcionário 0,578 0,000*** H3

Nota: N = 189. *** p < 0,001.

Q2 = Identificação Organizacional (0,416); Engajamento dos Funcionários (0,176).

F2= Identificação Organizacional (0,665); Engajamento dos Funcionários (0,503).

Fonte: Dados da Pesquisa (2019).

A Tabela 4 também revela os coeficientes de caminhos (path coefficients), com as

hipóteses da pesquisa testadas a partir do teste t de Student. Observa-se que valores dos

coeficientes de caminho foram considerados significantes a níveis de 1%. A ilustração do

modelo empírico com os coeficientes de caminho pode ser verificada na Figura 2.

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Figura 2. Modelo da Pesquisa

Fonte: SmartPLS.

No próximo tópico são destacadas as discussões dos resultados do estudo.

4.3 Resultados

A partir dos resultados obtidos verificou-se identificação organizacional (42%) e

engajamento dos funcionários (53%) o que evidencia que por meio do modelo proposto tem-

se 72% de explicação pelos construtos do estudo, tendo por referência os coeficientes de

determinação de Pearson (R²), um efeito grande.

O F² é uma medida que avalia se existe um impacto substancial sobre o construto

dependente, quando um construto independente é omitido do modelo. Considerando os

valores para f² sugeridos por Hair Jr et al. (2016), percebe-se grande efeito do modelo, assim,

com a omissão do construto dependente (engajamento dos funcionários), haveria um impacto

grande nos construtos de engajamento dos funcionários e responsabilidade social corporativa.

O critério de Q² evidencia quanto o modelo se aproxima do esperado dele na predição

do modelo. Conforme Hair Jr et al. (2016) os valores devem ser maiores que zero e um

modelo perfeito teria um igual a 1. Conforme os valores dos construtos para este critério

depreendem-se que existe conformidade no modelo ajustado.

Em relação as hipóteses de pesquisa confirmam-se pelos resultados apresentados na

Tabela 4 que todas foram corroboradas. A primeira hipótese (H1) buscou testar se existe uma

relação positiva entre a RSC e o engajamento do indivíduo o que foi confirmado a um nível

de significância de 1% (β = 0,529, t = 9,417, p <0,01).

Estes resultados evidenciam o engajamento do funcionário como um resultado do

desempenho de RSC da empresa (Tahlil, 2016) além de também estar alinhados com os

achados de Albdour e Altarawneh (2012) que confirmaram que a RSC é um bom preditor dos

resultados do funcionário, do sucesso organizacional e do desempenho financeiro.

A premissa teórica testada de que há relação positiva entre identificação

organizacional e o engajamento do indivíduo é que se norteou a investigação da segunda

hipótese. A relação foi suportada, positiva e estatisticamente significante (β = 0,424, t =

6,808, p <0,01). Esses resultados indicam que quanto maior a identificação do indivíduo com

a organização, maior é o seu engajamento aplicado nas suas atividades.

Na última hipótese o interesse foi entender se a identificação organizacional atua como

mediadora no aumento da vantagem competitiva por meio do engajamento dos funcionários, e

a por meio dos resultados (β de 0,578, p-valor<0,01) confirmou-se tal relação.

Esse achado complementa está em linha o colocado por Kahn (1990) de que o

engajamento é influenciado por três mecanismos subjacentes, sendo: (i) relacionado ao

conteúdo do trabalho em que os funcionários estão mais engajados quando são capazes de

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realizar um trabalho que seja fiel a eles mesmos; (ii) refere-se as condições de trabalho que

são um fator-chave em que o engajamento é influenciado pela segurança psicológica que

representa as condições que permitem que um funcionário se doe por inteiro no trabalho, e;

(iii) relacionado aos traços do indivíduo que é a disponibilidade psicológica, que está mais

intimamente relacionada à autoeficácia e se um funcionário tem a capacidade de realizar

aspectos de todo o seu ser no trabalho. Com exceção desse último mecanismo os outros são

relacionados a RSC estão confirmados neste trabalho pelo fato dos funcionários serem

capazes de desenvolver seu trabalho (primeiro mecanismo) e por serem identificados com a

organização a partir de sua configuração (segundo mecanismo).

5 CONCLUSÕES

5.1 Implicações teóricas e práticas

Neste estudo, evidenciou-se uma relação positiva e significativa entre as percepções

dos funcionários sobre RSC no engajamento dos funcionários, além de confirmar também a

identificação organizacional como um potencial mediador desta relação. Esses achados

sugerem que a RSC percebida tem o impacto mais forte sobre os funcionários quando eles se

sentem mais identificados com a organização. Com isso, este estudo contribui para as

recomendações de Aguinis e Glavas (2012), que destacaram a necessidade de se investigar a

RSC sob um panorama mais completo, isto é, com a inclusão do nível individual de análise

dado que pesquisas anteriores da temática enfatizam predominantemente os nos níveis macro

e institucional (Lee, 2008; Wood, 2010).

Conforme previsto pelo suporte teórico do engajamento (Kahn, 1990; Rich et al.,

2010), a identificação mediou a relação entre RSC e engajamento. Isso tem implicações

importantes para a RSC e para a psicologia organizacional, pois permite refletir como os

modelos (top-down ou bottom-up) pode afetar nas percepções dos indivíduos sobre a RSC.

Desse modo, essas descobertas têm implicações para a teoria de RSC, que construiu

principalmente modelos baseados na estratégia e nas políticas de uma organização sem levar

em consideração se é como a RSC está incorporada nos empregos dos funcionários além de

não buscar entender as percepções destes a respeito das práticas de RSC da organização

(Aguinis & Glavas, 2013).

A RSC deve ser incorporada na prática tanto quanto possível. A RSC pode ser

incorporada em toda a organização (Aguinis & Glavas, 2013), de tal forma que faz parte da

estratégia, produtos e serviços de uma organização. Por isso é interessante conhecer as

práticas de RSC das organizações e como isso é incorporado pelos funcionários em seu

próprio trabalho.

5.2 Pesquisas Futuras e Limitações

Pesquisas futuras também podem explorar por que, como e quando os funcionários são

afetados positiva e negativamente pela RSC, quais variáveis individuais podem ser

consideradas, etc.

Por fim, existem limitações que se aplicam a este estudo que podem ser superadas com

pesquisas futuras. Por exemplo, o desenho transversal deste estudo poderia ser tratado com

estudos como aqueles que incluem outras avaliações, experimentais e/ou longitudinais. Além

disso, como esse estudo foi feito em um único grupo de empresas, outras pesquisas poderiam

ser realizadas em várias empresas (de tamanho variável), indústrias e estados. Por exemplo, os

resultados aqui obtidos podem diferir em mais populações de funcionários, se é natureza

familiar ou não. Além disso, seria interessante comparar as descobertas com dados de

empresas nas quais a RSC é altamente incorporada.

Agradecimentos

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Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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