Carta Aberta A Uma Nação Cristã De Sam Harris (Avaliação) - Claudio Theron

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A Moralidade Bíblica Sam Harris, como era de se esperar, faz menção as "atrocidades" veterotestamentárias na tentativa de desqualificar a Bíblia como um guia moral. Umas das questões colocadas é sobre a escravidão que é mencionada na Bíblia, e os escravos incentivados a obedecerem seus patrões. É claro que a escravidão como nós a conhecemos é um ato imoral, mas diferentemente da escravidão que nós temos em mente, os escravos dos tempos bíblicos não eram escolhidos por sua raça, mas sim por rendição em caso de guerra ou por dívida, quando alguém não tinha como pagar suas dívidas se vendia como escravo. E muitos dos escravos eram muito bem tratados, podendo até gerir negócios e ganhar o seu próprio dinheiro, muitos deles escolhiam por vontade própria permanecer até o fim da vida com seus senhores, pois, não tinham onde conseguir moradia e sustento que seus senhores o concediam. Além disso, no ano do Jubileu todos os escravos tinham de ser libertados. Sam Harris também faz uma critica aos 10 mandamentos principalmente pelo fato dos quatro primeiros mandamentos (aparentemente) nada têm a ver com moral mas sim com religião como "Não terás outros deuseus além de mim", o que ele esquece é que naquela época a adoração a outros deuses muitas vezes implicava em imoralidades como o sacrificio de crianças, e para que o mal pudesse ser cortado pela raiz mandamentos como esses se faziam necessários, até porque, como Feurbach e Freud disseram outrora, muitas vezes deus não passa de uma projeção de nossos desejos primitivos e recalcados. Imaginem como seriam os tempos do Velho Testamento se cada um moldasse deus de acordo com seus impulsos mais sombrios? Certamente muito pior do que as histórias de terror narradas no V.T. O que faz a Bíblia o melhor dos guias morais é que ela foca na raiz de todo mal, a natureza humana, e por isso ela nos ensina que devemos nascer de novo, e nos despojar desse natureza pecaminosa que habita em nós. Se nós tomassemos ciência do egoísmo que nos domina e vivessemos o ideal altruista cristão certamente o mundo seria muito mais moral. Consequências do Ateísmo

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A Moralidade Bíblica

Sam Harris, como era de se esperar, faz menção as "atrocidades" veterotestamentárias na tentativa de desqualificar a Bíblia como um guia moral. Umas das questões colocadas é sobre a escravidão que é mencionada na Bíblia, e os escravos incentivados a obedecerem seus patrões. É claro que a escravidão como nós a conhecemos é um ato imoral, mas diferentemente da escravidão que nós temos em mente, os escravos dos tempos bíblicos não eram escolhidos por sua raça, mas sim por rendição em caso de guerra ou por dívida, quando alguém não tinha como pagar suas dívidas se vendia como escravo. E muitos dos escravos eram muito bem tratados, podendo até gerir negócios e ganhar o seu próprio dinheiro, muitos deles escolhiam por vontade própria permanecer até o fim da vida com seus senhores, pois, não tinham onde conseguir moradia e sustento que seus senhores o concediam. Além disso, no ano do Jubileu todos os escravos tinham de ser libertados. Sam Harris também faz uma critica aos 10 mandamentos principalmente pelo fato dos quatro primeiros mandamentos (aparentemente) nada têm a ver com moral mas sim com religião como "Não terás outros deuseus além de mim", o que ele esquece é que naquela época a adoração a outros deuses muitas vezes implicava em imoralidades como o sacrificio de crianças, e para que o mal pudesse ser cortado pela raiz mandamentos como esses se faziam necessários, até porque, como Feurbach e Freud disseram outrora, muitas vezes deus não passa de uma projeção de nossos desejos primitivos e recalcados. Imaginem como seriam os tempos do Velho Testamento se cada um moldasse deus de acordo com seus impulsos mais sombrios? Certamente muito pior do que as histórias de terror narradas no V.T.O que faz a Bíblia o melhor dos guias morais é que ela foca na raiz de todo mal, a natureza humana, e por isso ela nos ensina que devemos nascer de novo, e nos despojar desse natureza pecaminosa que habita em nós. Se nós tomassemos ciência do egoísmo que nos domina e vivessemos o ideal altruista cristão certamente o mundo seria muito mais moral.

Consequências do Ateísmo

O fato de que as maiores atrocidades do século XX foram cometidas por ateus e movidas pelo ateísmo são diminuidas de forma covarde. Parece que o autor ignora que movidos pelo ateísmo Stálin e Mao Tse Tung lutaram violentamente contra a religião, destruindo Igrejas e matando sacerdotes. Harris tenta justificar tais atos dizendo que esses homens não eram racionais, ora, se isso serve como justificativa podemos usar do mesmo argumento para os cristãos que usaram do nome de Deus para colocarem em prática planos malignos que ficam devendo muito em crueldade aos de Stálin, Hitler e Mao.

O Péssimo Hábito Ateísta de Criticar o Que Não Entende

Na página 71, Sam Harris afirma "Qualquer leitura honesta do relato bíblico da criação sugere que Deus criou todos os animais e as plantas tais como nós os vemos agora. Não há dúvidas alguma de que a Bíblia está errada acerca disso." Essa afirmação parece ser muito verdadeira, para quem não se deu ao trabalho de ler os três primeiros capitulos de Gênesis. Em Gênesis 1.11, Deus cria a relva, plantas e arvores, porém vemos que em Gênesis 2.5 que a criação das

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plantas foi um processo, elas foram semeadas e cresceram, um processo que leva meses e não um dia, assim como acontece hoje quanto plantamos uma semente. O que indica claramente que cada criação de Deus em Gênesis 1 diz respeito não a criação das coisas como elas são em seu estado final mas sim apenas do potencial das coisas para se desenvolverem até o seu estado final. Mas sobre esse assunto eu escrevi no meu texto Uma Interpretação Não-Literal de Gênesis

Conclusão

Será que devemos temer o avanço do proselitismo ateísta no mundo inteiro? Creio que não. Muitas coisas boas podem ser tiradas dessa guerra ateísta contra a religião. Como já escrevi no texto sobre o documentário A Raiz de Todo Mal de Richard Dawkins, nós cristãos devemos encarar toda essa guerra teísta sob a ótica de Romanos 8.28. Tenho fé que toda essa afronta pode trazer bons frutos à religião em geral. Despertará os crentes para uma vida em acordo com suas crenças. E também trará uma importante lição para o debate entre fé e razão, religião e ciência. Assim como Dawkins, Sam Harris critica o respeito não-merecido que concedemos a religião, enquanto em todas as áreas de nossas vidas exigimos a verdade, em se tratando de religião suspendemos covardemente o raciocinio e apelamos para uma fé cega e irracional. Enquanto ninguém se baseia na fé nas questões pertinentes à história, em se tratando da origem da Bíblia ou da existência de Jesus Cristo a coisa muda. Não podemos mais adotar esse espirito irracional e anticientifico. Há tempo para mudar antes que a derrota seja decretada.

Outro texto

Livro: Carta a uma Nação Cristã

Autor: Sam Harris

     Ter a fé atacada da forma como o filósofo ateu Sam Harris faz é algo assustador

e dói de forma quase inevitável. Porém é sempre bom analisar as possibilidades e

rever os conceitos. Sugiro que façam como eu, que tenho uma posição, claro, mas

não deixo de estudar textos só porque vão contra o que defendo. É este o problema

da guerra de visões do mundo: segregar pelo palpite religioso, restringindo-se a

apenas dizer “concordo” ou “discordo”, como sendo superiores à verdade.

Devemos estar sempre buscando o melhor.

     O livro é uma forma muito saudável de entender o lado ruim dos dogmas e

ilusões das religiões. Quanto a este ponto ofereço todos os elogios. Porém, com

suas idéias, diz querer resolver, só que nada resolve. Parece querer anular o lado

emocional dos seres humanos, porém ignora o fato de nós, sendo regidos pela

evolução, temos a capacidade de crer como uma adaptação evolutiva. Tal

capacidade só poderia ser muito necessária, já que foi aprovada pela seleção

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natural. Pedir que se abra mão dessa característica é pedir para ir contra a natureza

que ele próprio aceita.

     Religião e mitologia, realmente, trazem muita intriga e segregação – como Sam

Harris explica lindamente, porém as capacidades de crer, de acreditar, de ter

esperança, fazem parte da vida de qualquer ser humano. Colocar nas mãos de

“Deus” é algo que apenas facilita o direcionamento de tais sentimentos. Não

acredito que, se a esposa dele ficar em coma, ele não irá ter sentimentos de fé em

relação a ela, embora um simples “tomara” já esteja incluído no que ele abomina.

Sua idéia é que deve haver motivo básico para tudo (acabo me perguntando se ele

quer mesmo que encontremos os melhores motivos antes se sentirmos pena, antes

nos apaixonarmos por alguém...). E quanto a, por exemplo, famílias que se

alimentam de restos do lixo, a esperança em homens será confortante o suficiente

para elas continuarem vivendo?

     Ao perceber erros morais em ensinamentos do Velho Testamento, Sam Harris

julga-se no direito de condenar também o Novo Testamento, alegando que, na

Bíblia, ou é tudo sagrado ou não é, ou é tudo verdade ou não é, ou é tudo certo ou

não é. Mostrando que negou qualquer consulta a algum teólogo para entender a

função história do Novo em relação ao Velho, visando assim manter perfeitos e

intactos os poucos argumentos que achou em sua busca desesperada.

     De forma quase ridícula, parece querer anular a existência do conhecido Jesus

Cristo quando levanta a hipótese de que seu enredo foi adaptado pelos que a

escreveram, com a intenção de realizar a profecia do Velho Testamento sobre a

vinda de um filho de Deus. Parece querer considerar os escritores da Bíblia como

uma grande máfia, que abria mão de tantas coisas para se divertir inventando

historinhas para gerações futuras - embora não fossem estar mais aqui para rir de

suas caras. Sam Harris aproveita as falhas nas Escrituras para difamar toda a

amorosa vida do maior exemplo que a história já teve, da mesma forma que um

religioso usaria as coerências para idolatrá-lo com todas as forças.

     Apesar de as descobertas mostrarem cada vez mais que nem tudo é como se

pensava, sempre poderemos olhar para a grandiosidade do nome de Jesus Cristo.

Será que foi à toa que seu nascimento tornou-se o ponto de partida na contagem

dos anos na maioria das civilizações? Será que foi à toa que pessoas divulgaram

com prazer os ensinamentos e milagres que ele proporcionou? Será que foi à toa

que seus discípulos decidiram dedicar suas vidas a propagar as histórias dele? Será

que foi à toa que se esforçaram ao máximo para que acreditássemos nos fatos

marcantes de sua trajetória pela Terra? Afinal, será que foi à toa toda a importância

e fama de Jesus Cristo e a Bíblia? O autor não se atreveu ou não foi capaz de

responder a estas essências do cristianismo.

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     Sam Harris deixa seis conclusões básicas. Mostra ser dono de todas as grandes

virtudes morais, exceto a humildade. Mostra ser um dos céticos mais sensatos da

atualidade, porém é evidente a manipulação egoísta causada por sua ânsia à

revolta exagerada. Mostra também que estudou e se aprofundou em diversos

argumentos que as grandes religiões sustentam, porém aparenta jamais ter

entrado em uma igreja. Mostra que aprendeu todos os principais estudos científicos

sobre a matéria, porém fica claro que ignorou completamente a espiritualidade

humana, como também nunca leu a síntese do BioLogos. Mostra que dedicou toda

sua vida para anular o Deus alheio, mas não explicita nenhum sentido nobre nisso.

Mostra-se vitorioso em todas as suas linhas, ao mesmo tempo em que se limita

apenas às questões que pode vencer.

     Carta a Uma Nação Cristã é um livro que estimula a expansão do raciocínio, mas

não deve servir para anular a capacidade de ter fé em algo. Sua vontade em unir e

pacificar a civilização através do fim do apego à mitologia é algo que não pode ser

deixado de lado. Porém creio que, melhor que abdicar de algo, é corrigi-lo; ou seja,

melhor que escolher entre razão e fé é usar os dois da melhor da forma (não é

apagando a fonte de esperança dos que a necessitam que tudo passará a ser

perfeito). Sam Harris, como todo ateu convicto, comete este deslize: acha que

derrubou um Deus sobrenatural, quando está apenas desmentindo homens

naturais.

Cláudio Theron