Carta Aberta ao Prefeito Fernando Haddad

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Carta Aberta ao Prefeito Fernando Haddad www.sindsep-sp.org.br São Paulo, 25 de Junho de 2013. O Movimento Passe Livre é um movimento de esquerda que sempre obteve apoio e respeito do Sindsep, uma vez que trouxe ao debate nos últimos anos, e principalmente nas últimas semanas, a questão do transporte público como serviço essencial para o trabalhador, conciliando qualidade e acessibilidade econômica. A pauta trazida pela primeira vez em São Paulo pela prefeita Luíza Erundina foi engavetada, especialmente pela administração Paulo Maluf que privatizou a CMTC. Desde então, o transporte, ao invés de serviço público, passou a ser especulado pelo setor privado como filão de lucratividade, a ponto da Prefeita Marta Suplicy ter de usar colete a prova de balas enquanto desmontava a máfia do transporte que se instalou em São Paulo. O debate com a Prefeitura nestas semanas centrou-se na redução da tarifa de R$ 3,20 para R$ 3,00, limitando-se a discutir de qual parte do orçamento municipal sairiam os custos subsidiados. Infelizmente, não se tratou de que forma os empresários devem reduzir sua lucratividade. Serviço público não deve ser nicho para a exploração capitalista. A superficialidade com que se tratou um tema de tamanha relevância se deve em parte, à dimensão que tomaram as manifestações iniciadas em São Paulo e seguidas pelas principais cidades do Brasil. Parece que o tal gigante que se levantou forçou a tomada de medidas em vários municípios e Estados, assim como em São Paulo, mas que se limitaram a discutir a quantidade de centavos de uma providência ou outra, menos importando os bilhões que representaram e quem arcará com o custo. Assim reducionista foi também o tratamento dado pela grande mídia, que se preocupou em criminalizar inicialmente quando identificava o movimento como de esquerda. Ao atingir as massas, o movimento, que passou a incorporar milhões às ruas, passou ainda a ter outro caráter e tratamento diferenciado. As pautas que se misturam nos brados das ruas, em sua maioria legítimas, confundem porém, democracia com apartidarismo, refletindo a despolitização construída pela grande imprensa que criminalizou sistematicamente a atividade política nos últimos anos. Nas ruas, os ataques a partidos e sindicatos, o nacionalismo como pretexto de moralizar a política, e o oportunismo direitista de última hora, são caldo que, nas mãos de uma imprensa oportunista e irresponsável, alinhada com os interesses econômicos, nos traz o temor pela ameaça que ronda as instituições democráticas. Informativo do Sindicatodos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias do Município de São Paulo Abril de 2013 Telefone: (11) 2129 2999 www.sindsep-sp.org.br

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São Paulo, 25 de Junho de 2013.

O Movimento Passe Livre é um movimento de esquerda que sempre obteve apoio e respeito do Sindsep, uma vez que trouxe ao debate nos últimos anos, e principalmente nas últimas semanas, a questão do transporte público como serviço essencial para o trabalhador, conciliando qualidade e acessibilidade econômica.

A pauta trazida pela primeira vez em São Paulo pela prefeita Luíza Erundina foi engavetada, especialmente pela administração Paulo Maluf que privatizou a CMTC. Desde então, o transporte, ao invés de serviço público, passou a ser especulado pelo setor privado como filão de lucratividade, a ponto da Prefeita Marta Suplicy ter de usar colete a prova de balas enquanto desmontava a máfia do transporte que se instalou em São Paulo.

O debate com a Prefeitura nestas semanas centrou-se na redução da tarifa de R$ 3,20 para R$ 3,00, limitando-se a discutir de qual parte do orçamento municipal sairiam os custos subsidiados. Infelizmente, não se tratou de que forma os empresários devem reduzir sua lucratividade. Serviço público não deve ser nicho para a exploração capitalista.

A superficialidade com que se tratou um tema de tamanha relevância se deve em parte, à dimensão que tomaram as manifestações iniciadas em São Paulo e seguidas pelas principais cidades do Brasil. Parece que o tal gigante que se levantou forçou a tomada de medidas em vários municípios e Estados, assim como em São Paulo, mas que se limitaram a discutir a quantidade de centavos de uma providência ou outra, menos importando os bilhões que representaram e quem arcará com o custo. Assim reducionista foi também o tratamento dado pela grande mídia, que se preocupou em criminalizar inicialmente quando identificava o movimento como de esquerda.

Ao atingir as massas, o movimento, que passou a incorporar milhões às ruas, passou ainda a ter outro caráter e tratamento diferenciado. As pautas que se misturam nos brados das ruas, em sua maioria legítimas, confundem porém, democracia com apartidarismo, refletindo a despolitização construída pela grande imprensa que criminalizou sistematicamente a atividade política nos últimos anos.

Nas ruas, os ataques a partidos e sindicatos, o nacionalismo como pretexto de moralizar a política, e o oportunismo direitista de última hora, são caldo que, nas mãos de uma imprensa oportunista e irresponsável, alinhada com os interesses econômicos, nos traz o temor pela ameaça que ronda as instituições democráticas.

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Por outro lado, boa parte das reivindicações explicitadas nas ruas são bandeiras do Sindsep, por serem elas, clamores históricos da esquerda. Educação e saúde públicas de qualidade são pontos centrais de nossas pautas, não somente por ser nosso papel, a defesa dos trabalhadores dos serviços públicos, mas porque entendemos papel do Estado e não do mercado, a regulação e a garantia do acesso ao trabalho, bens e serviços que permitam isonomia nas condições para a cidadania.

É, por isso, que mais uma vez não calaremos nossas vozes nas ruas. Continuaremos apoiando e divulgando o abaixo-assinado da nossa Central Única dos Trabalhadores (CUT) pela reforma política no país, especialmente para que nas eleições se elejam os interesses do povo e não os econômicos, e o poder legislativo represente a sociedade em sua diversidade, ao invés das elites e poderes consolidados historicamente, os quais alimentam e se perpetuam pela corrupção e pelo sistema político atual, impedindo as grandes reformas necessárias para que o país se torne cada vez mais justo.

Fomos os primeiros a tomar as ruas na Campanha Salarial de 2013 e, por isso, conseguimos a sensibilidade do Prefeito pela recomposição dos trabalhadores com maiores perdas na Prefeitura, garantindo reajustes de 71% para o Nível Básico e 42% para o Nível Médio. Continuaremos a lutar pela valorização dos trabalhadores do serviço público cujas mãos são responsáveis pelo atendimento de qualidade a que tem direito a população.

Manteremos erguida a bandeira do concurso público e o combate as OSs e todo o tipo de terceirização que são formas de transferir verbas públicas para o setor privado que sempre opta pela redução do atendimento e de sua qualidade, para reduzir custos e ampliar lucros. Seremos mais vozes nas ruas, mas para exigir serviço público de qualidade que passa pela valorização salarial do funcionalismo, a qual necessita de correção das graves distorções e recomposição de perdas para os trabalhadores da saúde, do nível universitário e da GCM, deixadas pela política salarial que visava o desmonte dos serviços públicos, pela política excludente e oportunista das gratificações e pela práxis discriminatória contra trabalhadores admitidos com mais de 25 anos de serviços prestados e que exige imediata reparação com salários iguais para trabalhos iguais. Estaremos nas ruas para que o diálogo com os trabalhadores da educação tão prejudicado, se reestabeleça.

Vamos às ruas, sim, mas com respeito e zelo pela democracia conquistada à custa da luta, da dor, do sangue e da vida de muitos companheiros e companheiras. Organizados e prontos para negociar. Há uma crise de confiança da população nas instituições e que não pode ameaçar a democracia. Portanto, esse é o momento de, a partir da crise, criarmos a oportunidade. Oportunidade da administração municipal e do Prefeito, empossado há menos de seis meses, garantir, com o apoio da população e dos trabalhadores, desafiando as forças conservadoras dessa cidade, o cumprimento de pontos centrais de seu plano de governo que passam pela valorização do funcionalismo público e da prestação de um serviço público de qualidade, desejado tanto pelos trabalhadores quanto pelo conjunto de munícipes.

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