CARTAS PARA O EDITOR - SciELO · leitor, manifesto o sincero de-sejo e esperança de que a RAE opte...

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18 CONTRAPONTO CARTAS PARA O EDITOR ' 2000, RAE - Revista de Administraçªo de Empresas / EAESP / FGV, Sªo Paulo, Brasil. RAE Light v. 7 n. 3 p. 18-21 Jul./Set. 2000 Manter a mente aberta Ø uma virtude mas (...) ela nªo pode ficar aberta a ponto de o cØrebro cair para fora. Carl Sagan Sempre fui admirador desta instituiçªo nªo apenas pela qua- lidade inequívoca do ensino como pelo pioneirismo e posiçªo de vanguarda demonstrada ao longo dos seus quase 50 anos de existŒncia. No ano de 1999, fui aluno do GVpec, ocasiªo por meio da qual me tornei assinan- te deste periódico, que conside- ro um dos melhores do país no gŒnero. No entanto, ao receber o vo- lume 40 da RAE (Jan./Mar. 2000), tive uma profunda decep- çªo ainda nªo digerida ao ler o artigo Astrologia Empre- sarial, em RAE Light . Confes- so jamais ter considerado a pos- sibilidade de ser publicado um trabalho desta natureza em um periódico criterioso e com o prestígio da RAE. Imediatamente, lembrei-me de Carl Sagan, especialmente de sua obra O Mundo Assom- brado pelos Demônios, cuja lei- tura modestamente recomendo. Sagan, como Ø sabido, dedicou considerÆvel parte de sua vida ao trabalho de difundir a CiŒn- cia. Este livro segue esta mes- ma linha, procurando esclarecer o leitor sobre como diferenciar a pseudociŒncia e o misticismo da CiŒncia como forma de se in- terpretar e compreender os fe- nômenos sejam eles naturais, sociais ou econômicos. Seria simples, fÆcil atØ, for- mular um conjunto estruturado de críticas ao artigo de Maurí- cio Bernis, pois o seu conteœdo Ø extremamente falho e de su- perficialidade primÆria, sem a menor sustentaçªo metodológi- ca ou conceitual. PorØm, serªo feitas apenas algumas breves observaçıes neste sentido, pois o espaço nªo permite extensa argumentaçªo. Por exemplo, Maurício Bernis afirma que (...) ao longo do tem- po, inœmeras pesquisas e estu- dos que vŒm sendo realizados em ambientes acadŒmicos tŒm validado a eficÆcia da Astrolo- gia (...). No entanto, o autor nªo menciona um estudo sØrio se- quer, nenhuma pesquisa, ne- nhum autor reconhecido, nenhu- ma instituiçªo de renome. Afirma tambØm que o impor- tante Ø esclarecer as correla- çıes que existem entre as posi- çıes dos astros e os eventos hu- ASTROLOGIA EMPRESARIAL

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RAE Light � v. 7 � n. 3 � p. 18-21 � Jul./Set. 2000

�Manter a mente aberta éuma virtude � mas (...) ela nãopode ficar aberta a ponto de océrebro cair para fora.�

Carl Sagan

Sempre fui admirador destainstituição não apenas pela qua-l idade inequívoca do ensinocomo pelo pioneirismo e posiçãode vanguarda demonstrada aolongo dos seus quase 50 anosde existência. No ano de 1999,fui aluno do GVpec, ocasião pormeio da qual me tornei assinan-te deste periódico, que conside-ro um dos melhores do país nogênero.

No entanto, ao receber o vo-lume 40 da RAE (Jan./Mar.2000), tive uma profunda decep-ção � ainda não digerida � aoler o artigo �Astrologia Empre-sarial�, em RAE Light. Confes-

so jamais ter considerado a pos-sibilidade de ser publicado umtrabalho desta natureza em umperiódico criterioso e com oprestígio da RAE.

Imediatamente, lembrei-mede Carl Sagan, especialmentede sua obra O Mundo Assom-brado pelos Demônios, cuja lei-tura modestamente recomendo.Sagan, como é sabido, dedicouconsiderável parte de sua vidaao trabalho de difundir a Ciên-cia. Este livro segue esta mes-ma linha, procurando esclarecero leitor sobre como diferenciara pseudociência e o misticismoda Ciência como forma de se in-terpretar e compreender os fe-nômenos � sejam eles naturais,sociais ou econômicos.

Seria simples, fácil até, for-mular um conjunto estruturadode críticas ao artigo de Maurí-

cio Bernis, pois o seu conteúdoé extremamente falho e de su-perficialidade primária, sem amenor sustentação metodológi-ca ou conceitual. Porém, serãofeitas apenas algumas brevesobservações neste sentido, poiso espaço não permite extensaargumentação.

Por exemplo, Maurício Bernisafirma que �(...) ao longo do tem-po, inúmeras pesquisas e estu-dos que vêm sendo realizadosem ambientes acadêmicos têmvalidado a eficácia da Astrolo-gia (...)�. No entanto, o autor nãomenciona um estudo sério se-quer, nenhuma pesquisa, ne-nhum autor reconhecido, nenhu-ma instituição de renome.

Afirma também que �o impor-tante é esclarecer as correla-ções que existem entre as posi-ções dos astros e os eventos hu-

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manos�, porém nenhum esclare-cimento consistente é apresen-tado aos leitores...

No capítulo 12 da obra OMundo Assombrado pelos De-mônios, intitulado �A Arte Refi-nada de Detectar Mentiras�,Sagan propõe um kit básico deferramentas para detecção demodelos, �teorias� pseudocientí-ficas e místicas. Algumas delas:� �Sempre que possível, deve

haver confirmação indepen-dente dos fatos�;

� �Devemos quantificar (...). Oque é vago e qualitativo é sus-cetível de muitas explica-ções�. Fato: o autor MaurícioBernis não apresenta nenhu-ma informação adicional oulevantamento estatístico noseu trabalho.

O kit de Sagan ajuda � se-gundo ele próprio afirma � �a re-conhecer as falácias mais co-muns e perigosas da lógica e daretórica�. Entre essas falácias,cita entre outras várias:� �Seleção das observações�,

contar os acertos e esquecer

os fracassos. Admitindo queexistiu relação de causa-efei-to e que o sucesso dos casosmencionados se deveram aouso da Astrologia Empresari-al, o autor não menciona da-dos estatísticos sobre a eficá-cia ou eficiência do seu mé-todo � a tecnologia da Astro-logia Empresarial, aparente-mente, o método é aplicávelem todas as situações � feitoque nem mesmo a Teoria daRelatividade conseguiu.

� �post hoc, ergo propter hoc�,expressão latina que significa�aconteceu após um fato, logofoi por ele causado�. Porexemplo, como afirma Bernis,�após a alteração sugeridapelo mapa astrológico, o pro-duto � de elevado valor e quenunca vendeu � foi vendidoem menos de 3 dias�. Ou seja,o que leva o autor a estabele-cer relação de causalidadeentre os fatos? Como chegoua esta conclusão?

Como pode ser observado,Sagan teria enumerado diver-

sas falhas na apresentação da�Tecnologia� da Astrologia Em-presarial, caso tivesse lido o ar-tigo de Bernis publicado na RAE.

A Ciência estruturada e ométodo científico não são � atéo momento � capazes de expli-car a maioria dos fenômenosque nos cercam. Porém, permi-tem identificar com eficácia apseudociência, o misticismo esimilares.

Simpl i f icadamente, entreconsultar o horóscopo diaria-mente e utilizar conceitos de dis-ciplinas como Administração Fi-nanceira, Microeconomia, Polí-tica de Negócios ou Pesquisa deMarketing, a segunda alternati-va parece-me mais confiável.

Na condição de assinante eleitor, manifesto o sincero de-sejo e esperança de que a RAEopte por manter a linha edito-rial construída durante anos,contribuindo para o desenvol-vimento da Administração nopaís.

Kenzo OtsukaE-mail: [email protected]

Concordo plenamente com o lei-tor quando se refere à RAE comoum dos melhores periódicos do gê-nero no país. É meu entendimentoque, enquanto tal, este veículo temo dever de informar e divulgar oque vem ocorrendo no mercado, no-tadamente no âmbito da Adminis-tração. Acredito ter sido esta a mo-tivação e o critério utilizado para apublicação do artigo de minha au-toria �Astrologia Empresarial: ade-quando tempo e espaço à tomada dedecisões�, na RAE de janeiro de

2000. Vale ressaltar que outrosve ículos de imprensa sérios ecriteriosos têm publicado com fre-qüência matérias acerca da Astro-logia Empresarial. Esse é o caso,por exemplo, da revista TheEconomist que, em fevereiro de1995, publicou matéria referente aomeu trabalho de consultoria astro-lógica para um banco brasileiro, noprocesso de lançamento de papéisno mercado europeu.

Se a motivação da RAE ao pu-blicar o artigo foi informar os lei-

tores acerca de práticas de merca-do, a motivação deste autor não foidiferente; ao redigi-lo, o foco foidado à utilidade da Astrologia en-quanto ferramenta adicional aosprocessos de planejamento e admi-nistração de negócios. De fato, nãohouve a preocupação de proceder aum embasamento científico da As-trologia, como bem observa o lei-tor. É possível, no entanto, traçaralgumas considerações a este res-peito, guardadas as limitações deespaço deste veículo.

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O debate �Astrologia: ciênciaou pseudociência�, invocado peloleitor, vem ocorrendo há pelo me-nos três séculos, contando com re-nomados cientistas em ambos oslados do �muro�. Deste modo, abem do rigor ético e científico,não é aconselhável pautar umaanálise da questão em apenas umcientista, pois, por mais respeita-do que seja (como é o caso de CarlSagan, citado pelo leitor), estenão pode ser o detentor exclusivoda verdade e, menos ainda, da ver-dade científica.

Atualmente, no seio da própriacomunidade científica, há um mo-vimento que conta com nomes re-levantes, no sentido de questionaros parâmetros da Ciência. Einstein,por exemplo, não acreditava napossibilidade quântica; no entan-to, o avanço do campo científicoprovou que ele estava errado. Esteequívoco não o impediu de serum grande cientista nem a físicaquântica deixou de ser uma rea-lidade porque Einstein não acre-ditou nela.

W. Heisenberg, um dos funda-dores da física quântica, declara-seantimaterialista e antideterministaem Física e Filosofia (trad. Fr.,Albin Michel, 1971, p. 271), afir-mando que �é possível que sejamais fácil adaptar-se ao conceitoquântico da realidade quando nãose passa pelo modo de pensamentode um materialismo ingênuo�.

W. Pauli, outra estrela no uni-verso da física quântica, tambémrecusa o materialismo e a causali-dade; segundo ele, a lei física difi-ci lmente pode ser consideradacomo causa dos fenômenos que elapermite predizer, sendo sua eficá-cia sobre as coisas um fenômenoainda a ser explicado.

A recusa em aceitar a lei dacausalidade une estes pensadoresa outro não menos proeminente,C. G. Jung. Em sua Teoria daSincronicidade, Jung coloca que to-

dos os fenômenos da natureza(phisys e psyché) têm como panode fundo a manifestação de umarranjo sem causa , que in ter -relaciona todos os componentesdo Universo. Ele afirmou (emSeelenprobleme der Gegenwart)que �se as pessoas, cuja instruçãodeixa a desejar, acharam que pode-riam até hoje zombar da Astrolo-gia, considerando-a uma pseudoci-ência há tempos liquidada, esta As-trologia, ressurgindo das profunde-zas da alma popular, novamenteapresenta-se hoje, às portas de nos-sas universidades, que ela deixouhá 3 séculos�.

Além dos supracitados, outrosmuitos cientistas questionam aCiência dentro dos limites expos-tos pelo Sr. Carl Sagan, como,por exemplo, David Bohn (físi-co ) , E in s t e in , F. Cap ra , Y.Prigogine (Nobel de Química �1977), B. Josephson (Nobel deFísica), etc.

O professor de AstronomiaPercy Seymor, Ph.D. em Astrofí-sica, apresenta uma teoria cienti-ficamente fundamentada, que ofe-rece uma explicação dos mecanis-mos de funcionamento da Astrolo-gia através das ondas geofísicasgeradas a partir das alterações naatividade solar. Sua publicação foitraduzida para o português pelaEditora Nova Era e denomina-seAstrologia � A Evidência Científi-ca. Dentro deste conceito de influ-ência �geofísica�, destacam-se,ainda, alguns trabalhos:a) Aumento das perturbações men-

tais- H. Friedman, R. O. Becker e C.

H. Bachman � PsychiatricBehavior and GeophysicalParameters (Nature, 16/11/1963). �Foi observada uma re-lação significativa, refletida nonúmero de internamentos e a in-tensidade do campo magnéticoterrestre...� (Base de dados:28.642 casos de internações em

hospitais psiquiátricos do esta-do de Nova Iorque).

b) Recrudescência de suicídios,aumento de número de aciden-tes de trabalho e de trânsito

- I . Örményi � PossibleRelat ionship Among Solar,Geophysical, MeteorologicalFactor and Occurence ofSuicidies and Industrial andTraffic Accidents, Influenced bySolar Flare, Geophysical andMeteorological (Universidadede Bruxelas, 1968). (Base de da-dos: 24.739 casos de suicídio emBerlim, 5.479 acidentes de trân-sito e 130.000 acidentes de tra-balho. Todos os resultados sãofavoráveis a influência).

- Outros trabalhos neste aspecto:R. Martini � Der Einfluss derSonnentätigkeit auf dieHäufigkeit von Unfällen eHellmut Berg � Solar-Terrestrische Beziehungen inMetereologie und Biologie.

c) Quociente intelectual ,esquizofrenia e afins

- Vários estudos relacionando osmeses de nascimento e/ou con-cepção com o quociente inte-lectual (Organização Mensa),deficiências mentais (hospitaispsiquiátricos) e gênios huma-nos (Hall of Fame da Universi-dade de Nova Iorque, AmericanMen of Science e A Woman ofthe Century): E. Huntington �Season of Birth, its Relations toHuman Abil i t ies (NY, JohnWiley) ; H. Knobloch e B.Pasamanick � SeasonalVariation in the Births ofMentally Deficient (Am. J.Public Health); J. E. Orme �Ability and Season of Birth (TheBritish Journal of Psycology);De Sauvage Nolting � RelationEntre le Mois de Naissance et laSchizophrénie (Ned. TijdschrGeneesk) ; A. Reinberg e J .Ghata � Les RythmesBiologiques (Paris, P.U.F.).

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d) Influências planetárias no mag-netismo terrestre

- E. K. Biggs � Lunar andPlanetary Influences onGeomagnetic Disturbance(Journal of GeophysicalResearch, 1963).

- J. A. Jacobs e G. Atkinson �Planetary Modulation ofGeomagnetic ActivityMagnetism and the Cosmos(Londres, Oliver and Boyd,1967).

e) Influências de ondas E.L.F./emissão destas ondas pelos pla-netas

- G. Piccardi, ex-diretor do Insti-tuto de Química da Universida-de de Florença diz: �este con-junto de observações é já sufi-ciente para nos permitir transfe-rir os efeitos planetários do do-mínio das hipóteses, para o do-mínio dos fatos constatados e ci-entificamente verificados� (pre-fácio de L�Hérédité Planétaire,1966).

- J . Lequex � Planètes etSatellites (Paris, P.U.F., 1964).

- H. König � Biological Effect ofE.L.F. (Jour. Interdiscipl. CycleRes., 1971).

- R. Wever � The Influence ofWeak Electromagnetic Fields onthe Circadian Rhythm in Man(Zeit, f. vergl. Physiol., 1967).

Merecem destaque as pesqui-sas desenvolvidas pelo estatísticoM. Gauquelin, formado pela Uni-versidade de Sorbonne. Os resul-tados de seus estudos apontampara evidências cientificamenteinquestionáveis, concluindo que háuma correlação positiva entre o po-sicionamento de determinados pla-netas e a escolha da carreira e su-cesso profissional. Assim, porexemplo, para que seja um meroacaso que proeminentes esportis-

tas tenham nascido com Marte emdestaque no seu Mapa Astrológico,a probabilidade é de 1 em 5 mi-lhões. Os estudos de Gauquelin(que, em sua bibliografia, apresen-tam extensas listas de trabalhos ci-entíficos estabelecendo correlaçõescelestes-terrestres) podem ser en-contrados nas seguintes publica-ções: Cosmic Influences on HumanBehavior � Aurora Press; HowCosmic and Atmospheric ConditionsAffect your Health � Aurora Press;Planetary Heredity � ACSPublications; The Truth AboutAstrology; Written in the Stars �Aquarian Press; The Mars Effect �Claude Benski, Prometeus Books.

Estes são alguns exemplos deestudos realizados em ambientesacadêmicos e por não-astrólogos;caso o leitor queira aprofundar ain-da mais a pesquisa, coloco-me àdisposição para enviar-lhe biblio-grafia mais extensa.

A verdadeira intenção ao elabo-rar esta resposta ao atento leitor daRAE é provocar uma reflexão acer-ca do pensamento mainstream quereza que �o que é científico é in-discutível� e o que �não é científi-co não é verdadeiro�. Particular-mente, reservo-me o direito de ava-liar este mito como fruto da pers-pectiva de uma ciência monolíticae um tanto autoritária.

O filósofo Hilton Japiassu, quenão é astrólogo e confessa interes-sar-se por este saber por razões fi-losóficas, culturais e epistemoló-gicas, afirma: �adversários e par-tidários da Astrologia ainda hojese confrontam. Durante séculos, oscientistas a praticaram. E aindahoje ela suscita paixões. Seus par-tidários proclamam que ela é umaverdadeira ciência. Seus adversá-rios lhe negam todo o valor. Per-manece vivo o debate epistemoló-gico sobre a veracidade ou a falsi-

dade desse tipo de conhecimento�(em Saber Astrológico: imposturacientífica?, p. 28-29, Ed. Letras eLetras).

Podem-se encontrar diversospensadores pós-modernos, como oepistemologista P. Feyerabend emseu Farewell to Reason, que ques-tionam a universalidade do conhe-cimento científico, a pertinência desuas aplicações e o alcance de suasimplicações. Tudo isto em defesado livre-pensar e agir, da plurali-dade do weltchantung e da diversi-dade dos modos de viver, que po-dem ser ameaçados por um pensa-mento que se diz científico, mas naverdade é totalitário, se calcado nadominação da racionalidadetecnocientífica.

O que nos preocupa é menos acrença ou não na Astrologia e maiso que está por trás deste embate �feito em nome da Ciência � e os re-sultados aos quais podemos chegarcaso seja levado a cabo com o fer-vor de uma guerra santa. É neces-sário muito critério, cautela e co-nhecimentos aprofundados e mul-tidisciplinares para se opor a umsaber milenar, principalmente usan-do-se o nome da Ciência para tal.

Por fim, cabe lembrar que atéo presente momento a Astrologianão foi cientificamente refutadaou, se foi, quem o fez não trouxe apúblico tal conteúdo.

Sir Isaac Newton, ao ser ques-tionado acerca dos fundamentos daAstrologia, pelo seu colega Halley(o descobridor do cometa que levaseu nome), respondeu (em Enciclo-pédia Astrológica, Nicholas Devo-re, Ed. Kier, 1997):

�I have studied it, you not.�

Atenciosamente,

Maurício BernisE-mail: [email protected]