CARTOGRAFIA E ENSINO DE GEOGRAFIA Profª. Drª. · PDF filenecessitem de...

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  • Maria Elena Ramos Simielli 1

    CARTOGRAFIA E ENSINO DE GEOGRAFIA1

    Prof. Dr. Maria Elena Ramos Simielli

    Os mapas nos permitem ter domnio espacial e fazer a sntese dos fenmenos queocorrem num determinado espao. No nosso dia a dia ou no dia a dia do cidado pode-se tera leitura do espao atravs de diferentes informaes e em funo disso, na Cartografia, dediferentes formas de representar estas informaes, com diferentes produtos: mapas de turismo,mapas de planejamento, mapas rodovirios, mapas de minerais, mapas geolgicos, entreoutros.

    No se pode esquecer o fato de que existem diferentes mapas para diferentes usurios.Isto aparentemente simples, mas em termos de ensino fundamental que se faa a triagem,porque muitas vezes o professor utiliza-se simplesmente do mapa que tem em mos, nofazendo a diferenciao ou no fazendo a seleo dos principais elementos que os seus alunostm condio de ler.

    Um aluno de 4 srie, obviamente, no tem o mesmo potencial de leitura que umaluno do ensino mdio, conseqentemente ler muito menos informaes do que este. Pormem termos de Cartografia e Ensino isto ser ressaltado quando comeo a diferenciar os produtoscartogrficos nas diferentes faixas etrias, e esta questo embasa a estrutura terica da minhaproposta de Cartografia para o ensino fundamental e mdio.

    Considerando-se o fato de que o ideal trabalhar com diferentes mapas para diferentesusurios, principalmente nas diferentes faixas etrias, proponho: para o ensino fundamental,com alunos de 1 a 4 srie deve-se basicamente trabalhar com a alfabetizao cartogrfica,pois este o momento em que o aluno tem que iniciar-se nos elementos da representaogrfica para que posteriormente possa trabalhar efetivamente com a representao cartogrfica.

    Os elementos com que o aluno vai trabalhar para ter condio de ler um mapa foramsistematizados na Coleo Primeiros Mapas: como entender e construir. De 5 a 8 srie oaluno vai trabalhar eventualmente ainda com alfabetizao cartogrfica na 5 e esporadicamentetambm na 6 mas ele j tem condies de trabalhar com anlise/localizao e com a correlao.No ensino mdio teoricamente o aluno tem condies de trabalhar com anlise/localizao,com a correlao e com a sntese.

    Estes nveis foram trabalhados por Rimbert2 , Libault3 e aparecem resumidos emSimielli4 : A Cartografia, alm de se constituir em um recurso visual muito utilizado, ofereceaos gegrafos um triplo instrumento de estudo (Rimbert, 1964):

    1) instrumento analtico - cartas de anlise ou distribuio ou repartio, que analisam ofenmeno isoladamente;

    2) instrumento de experimentao - que permite a combinao de duas ou mais cartas deanlise;

    3) instrumento de sntese - que mostra as relaes entre vrias cartas de anlise, apresentado-se em uma carta-sntese.

    1 Este texto foi originalmente apresentado como captulo da tese de livre-docncia da autora, intituladaCartografia e ensino. Proposta e contraponto de uma obra didtica, defendida em 1996, na Universidadede So Paulo.2 Rimbert, S. Cartes et graphiques, SEDES, Paris, 1964.3 Libault, C.O.A. Os quatro nveis da pesquisa geogrfica. lnst. de Geografia/USP, S. Paulo,1971 (Mtodosem Questo, 1)4 Simielii, M. E.R. Variao Espacial da Capacidade de Uso da Terra, lnst. de Geografia/USP, So Paulo,1981 (Srie Teses e Monografias, 41)

  • CARTOGRAFIA E ENSINO DE GEOGRAFIA2

    Os instrumentos de estudo, que a Cartografia oferece aos gegrafos, podem serestruturados em quatro nveis (Libault, 1971):

    1) nvel compilatrio - a fase inicial da pesquisa, com a coleta de dados e sua respectivacompilao. Para o gegrafo, a maneira usual de apresentar o registro dos dados a cartageogrfica, portanto a coleta desse material, j existente, est enquadrada neste nvel. Opasso seguinte o da hierarquizao dos dados para uma organizao mais racional dapesquisa, quando, primeiramente, sero selecionados os dados realmente significativos parao desenvolvimento do trabalho, ou seja, as variveis essenciais; em seguida, os dadoscomplementares, que aparecero aps uma anlise mais detalhada. Este nvel muitas vezeschega a ser negligenciado pelo fato de ser considerado muito elementar, esquecendo-se opesquisador que desta etapa depende todo o desenvolvimento do seu trabalho, inclusive asconcluses e/ou proposies a que poder chegar.

    2) nvel correlatrio - trabalhamos agora a partir dos dados coletados (nvel 1), onde secoloca toda a problemtica da contabilidade dos mesmos. Temos a ordenao das variveisselecionadas, conforme uma sistemtica resultante do objetivo do trabalho. Podemos,conseqentemente, chegar aos primeiros ensaios para correlaes parciais.

    3) nvel semntico - Os nveis precedentes apenas justificam uma determinao dos fatos (depreferncia objetiva) at uma primeira percepo das relaes dos fatos entre si. Mas nopodem atingir a abordagem do raciocnio geogrfico, que utiliza no as variveis elementares,mas sim uma combinao j sinttica dessas variveis. As relaes de correspondncia obtidasconstituiro pelo menos uma ajuda concepo, seno uma concepo completa. Em outraspalavras, trata-se de localizar exatamente os problemas parciais, de modo a organizar seuselementos dentro de um problema global. Nesta etapa j se torna mais evidente a importnciada generalizao e, conseqentemente, os cuidados decorrentes de sua utilizao. Mereceuma elaborao toda especial, pois implica a passagem da etapa de anlise para a de sntese.Realiza-se, assim, uma abordagem racional e esquematizada das variveis entre si.

    4) nvel normativo - temos agora a resultante da sntese do trabalho, ou seja, sua tipologiaexpressa, em geral, atravs de um modelo, que conseqncia da seleo e correlaodas variveis estudadas. Este modelo apresenta a possibilidade de ser aplicado a outrasreas, a partir do momento que se tenha o modelo padro. Neste nvel, vemos que aabordagem final do trabalho poder se concretizar por duas vias: aquela que apenas tratade verificar uma hiptese pr-formulada ou a que apresenta uma hiptese nova.

    A estruturao de Rimbert (1964) e o complemento de Libault (1971) foi a baseque direcionou minha proposta de como se trabalhar a Cartografia a partir, principalmente,da 5 srie. Refora este meu encaminhamento a proposta apresentada por Giolitto (1992)- (Figura 1 - Da carta ao modelo grfico), que discute a passagem da carta topogrfica aomodelo grfico evidenciando os nveis de constatao, correlao e conceituao.

    O fato do aluno trabalhar no primeiro grau de 1 a 4 sries com alfabetizaocartogrfica, de 5 a 8 com anlise/localizao e correlao e no ensino mdio com anlise/localizao, correlao e sntese de uma maneira mais efetiva, no exclui um imbricamentoem diferentes momentos nestas etapas de trabalho. Ou seja, um aluno de 5 srie pode aindanecessitar de alfabetizao cartogrfica assim como um aluno na 7 srie pode ainda terdvidas quanto a ela, assim como o aluno de 4 a srie pode j trabalhar anlise/localizaoe eventualmente comear a fazer correlaes simples e assim por diante. Dentro desteencaminhamento de se detalhar a alfabetizao cartogrfica nas faixas etrias iniciais paraposteriormente trabalhar nos nveis de anlise/localizao, das correlao e sntese, apresentodetalhadamente a estruturao da minha proposta de Cartografia para os nveis de ensinofundamental e mdio.

  • Maria Elena Ramos Simielli 3

    Figura 1 - Da carta ao modelo grficoFonte: Giolitto, P. - Enseigner la gographie l'cole. Hachette, Paris, 1992.

    A Coleo Primeiros Mapas.- como entender e construir5 foi elaborada para oferecerelementos para que a criana de 1 a 4 a sries do ensino fundamental ou de nveis que

    Operaointelectual

    Constatao

    Correlao

    Probabilidade(na leitura ou nadecodificao)

    Reflexo doleitor

    Quadrosconceituais quedo significao

    Desenvolvimentodo esprito

    crtico

    Conceituao

    Carta topogrfica

    Posio das coisasRealidades visveis e observveisRealidades dotadas de permanncia

    Objeto dado

    Carta Temtica

    Visualizao do no visvelEstruturas e relaes entre as coisasAgenciamento de diferentes estruturasTudo o que subentende a cartatopogrfica

    Objeto analisado

    Modelo grfico

    Percepo dos sistemas abstratosgramtica grfica

    Elementos de estruturas sintticasElementos de significao,semnticas

    Objeto construdo

    O estruturalassegura a

    coerncia darealidadeprimeira

    Propedutica realizaode modelos

    Coremas

    Escriturasgrficas

    Realidadegeogrfica

    Terreno

    Espao concretorealidade abstrata

    Fenmenogeogrfico

    Espao abstrato

    Realidadesegundo asestruturas

    5 Simielli, M. E. R. - Editora tica, So Paulo, 1993.

  • CARTOGRAFIA E ENSINO DE GEOGRAFIA4

    necessitem de alfabetizao cartogrfica, compreenda os processos necessrios para a realizaorepresentaes grficas, sobretudo os mapas. Em outras palavras pretende educar o alunopara a viso cartogrfica. Mas o que necessrio para isto?

    Em primeiro lugar aproveitar desde as sries iniciais, o interesse natural da crianapela imagem, que uma atitude fundamental para a Cartografia. Para atingir este objetivoa Coleo oferece inmeros recursos visuais, como, desenhos, fotos, maquetes, plantas,mapas, imagens de satlites, figuras, tabelas, jogos e representaes feitas por crianas,acostumando o aluno linguagem visual. preciso que este seja estimulado a encontrarsignificados para as figuras e a examinar seus elementos detalhadamente, evitando destaforma uma viso apressada de cada informao apresentada. So poucos os textos escritos,eles aparecem principalmente nas legendas das imagens, pois o mais importante que acriana compreenda e utilize os vrios tipos de viso existentes nas representaes grficas.A lista de capacidades a desenvolver nos alunos ao longo de um ano escolar, permiteorganizar um conjunto de informaes que lhe sero transmitidas. O contedo programtico desenvolvido segundo o saber