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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO

ROSA MARIA RODRIGUES CORRA

Catalogao descritiva no sculo XXI:Um estudo sobre o RDA

Marlia 2008

ROSA MARIA RODRIGUES CORRA

Catalogao descritiva no sculo XXI: Um estudo sobre o RDA

Dissertao de mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, da Faculdade de Filosofia e Cincias, da Universidade Estadual Paulista, campus Marlia, para obteno do titulo de mestre. rea de concentrao: Informao, Tecnologia e Conhecimento. Orientadora: Dra. Plcida L. V. A. da Costa Santos

Marlia 2008

Corra, Rosa Maria Rodrigues Catalogao descritiva no sculo XXI : um estudo sbre o RDA / Rosa Maria Rodrigues Corra ; orientadora: Plcida L. V. A. da Costa Santos. 2008 65 f. Dissertao (mestrado) Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao, Faculdade de Filosofia e Cincias, da Universidade Estadual Paulista, campus Marlia, 2008. 1 Catalogao descritiva 2 RDA I Santos, Plcida L. V. A. da Costa II Ttulo CDD

Aos meus filhos Melissa e Luiz Carlos razo da minha existncia

AGRADECIMENTOS

A Deus pela graa de alcanar meus objetivos. Aos meus colegas de curso pelo apoio e pacincia. Aos meus professores pela ajuda, apoio e saberes. A professora Maringela Fujita pelo incentivo e confiana. A minha orientadora Plcida L. V. A. da Costa Santos pelos saberes, apoio, confiana e uma enorme pacincia. Ao meu amigo Milton B. Barbosa Filho pelo apoio, ajuda e incentivo. Ao meu irmo Cleto por seu apoio incondicional. A minha amiga Neyde Pvoa pela ajuda incansvel. A minha amiga Aldinar pela confiana, apoio e ajuda. A minha amiga Maria Jos Stefanni Butarello (Zeza), minha madrinha do mestrado, agradeo todo apoio, pacincia, ajuda e muito mais. A minha grande mestre Regina Carneiro pelo exemplo e dedicao ao crescimento da catalogao no Brasil. A todas as outras pessoas, amigos, amigas, conhecidos que de alguma forma contribuiram para que eu realizasse um sonho, agradeo.

RESUMO

A informao essencial neste limiar do Sculo XXI, assim como sua transmisso. A catalogao descritiva, como rea da Biblioteconomia responsvel por transmitir as informaes contidas em acervos de qualquer natureza, por meio da construo de formas de representao, deve acompanhar a evoluo das necessidades dos usurios. Esta constatao preocupa especialistas da rea. A padronizao, na representao das informaes e documentos imprescindvel e tambm o objeto de trabalho da catalogao descritiva como forma de garantia do intercmbio de registros bibliogrficos. A preocupao cresce com a rapidez com que as informaes so geradas e disponibilizadas em diferentes formas. Este trabalho prope-se a analisar o estado da arte do esquema Resource Description and Access (RDA) elaborado pela International Federation of Libraries Associations (IFLA), para uso de catalogadores e bases de dados bibliogrficos. A anlise baseia-se em pesquisas bibliogrficas on-line. A evoluo da catalogao e seus cdigos de regras; a influncia das tecnologias nos meios de comunicao, especificamente na troca de informaes bibliogrficas; a compatibilidade de conceitos visando a comunicao eficiente entre mquina, catalogador e informaes codificadas para atendimento dos usurios foram utilizadas para a construo da parte histrica do trabalho. O estudo do RDA foi elaborado reunindo-se as necessidades informacionais, a catalogao descritiva e o novo esquema para compreender sua abrangncia e a sua possvel aceitao internacional, como uma forma de possibilitar o controle bibliogrfico e ampliar o acesso e uso das informaes disponveis nos mais diversos ambientes informacionais. O RDA, por ser um esquema em fase de elaborao somente pode ser analisado do ponto de vista terico. Nossa anlise verificou que o RDA um esquema eficaz, por aliar a teoria prtica. A base terica serve de apoio para a tomada de decises para a catalogao descritiva. As consideraes finais nos conduzem ao aceite do RDA, desde que eficazmente gerido pelas Instituies que detm seu domnio. Sua publicao est prevista para 2009, quando poderemos realmente saber as dimenses de sua aplicao e aceite. Palavras-chave: Catalogao descritiva; RDA; Princpios de Paris; Cdigos de catalogao

ABSTRACT Information and its transmission are essentials at the threshold of the XXI century Descriptive cataloging being an area of the Library Science is responsible for transmitting information existing inside of holdings of all types. This is made by building forms of representation and must follow the evolution of the needs of users. This affirmation worries specialists of the area. Standardization is indispensable in the representation of information and documents and it is also the aim of descriptive cataloging work; it is a grant for the exchange of bibliographic records. The worry increases as fast as the creation of new information available in different forms. The goal of this work is to analyze the state-of-the art of the standard Resource Description and Access (RDA) developed by the International Federation of Libraries Associations (IFLA) for catalogers and workers in bibliographic database. This work is founded in on-line bibliographic researches. The building of the historic of this work was based in the following factors: evolution of cataloging and its codes of rules; influence of technology in the communication media specifically in the exchange of bibliographic information; compatibility of concepts to reach an efficient communication between machine, cataloger and coded information to attend the user. This study of RDA was elaborated getting together the informational needs, the descriptive cataloging and the new standard, in order to understand its scope and if it is possible the international acceptance of it, as a form of bibliographic control as well as a way to enlarge the access and use of information available in the most different informational environments. Since RDA is a standard that is being developed, it may only be studied at the theoretical point of view. We verified that RDA is an effective standard since it links theory and practice. The theoretical bases support the decision-making in descriptive cataloging. Our conclusions are leading us to believe in the acceptance of RDA, if it will be effectively managed by the Institutions detaining its domain. The publication of RDA is expected for 2009, when the real dimension of its application and acceptance will be known. Key-words: Descriptive representation; RDA; Cataloguing; Paris Principles; Cataloguing Codes

LISTA DE SIGLAS

AACR Anglo-American Cataloguing Rules AACR2 Anglo-American Cataloguing Rules, second edition ALA - American Library Association BN Biblioteca Nacional (Brasil) CALCO - Catalogao Legvel por Computador CBU - Controle Bibliogrfico Universal CIPC - Conferncia Internacional sobre Princpios de Catalogao FRAD - Functional Requirements for Authority Data FRANAR - Functional Requirements and Numbering for Authority Records FRAR - Functional Requirements for Authority Records FRBR - Functional Requirements of Bibliographic Records FRSAR - Functional Requirements for Subject Authority Records IBBD - Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentao IBICT - Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia IFLA - International Federation of Libraries Associations IME ICC - IFLA Meeting of Experts on an International Cataloguing Code INL - Instituto Nacional do Livro ISBD - International Standard Bibliographic Description ISBD(A) - International Standard Bibliographic Description for Older Monographic Publications ISBD(CF) - International Standard Bibliographic Description for Computer Files ISBD(CM) - International Standard Bibliographic Description for Cartographic Materials ISBD(CR) - International Standard Bibliographic Description for Serials and Other Continuing Resources ISBD(ER) - International Standard Bibliographic Description for Electronic Resources ISBD(G) - General International Standard Bibliographic Description ISBD (M) - International Standard Bibliographic Description for Monographic Publications

ISBD(NBM) - International Standard Bibliographic Description for Non Book Materials ISBD(PM) - International Standard Bibliographic Description for Printed Music ISBD(S) - International Standard Bibliographic Description for Serials LC - Library of Congress MARC - Machine-Readable Cataloging RDA - Resource Description and Access

SUMRIO

1 INTRODUO..........................................................................................................9 2 MUDANAS NO CAPITALISMO NO SCULO XX: UMA VISO........................14 2.1 Mudanas tecnolgicas.....................................................................................14 2.2 Crise mundial do final do sculo: a crise do socialismo real e a crise do capitalismo real............................................................................................16 2.2.1 A reestruturao produtiva................................................................................16 2.2.2 Globalizao......................................................................................................17 3 IMPACTOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS SOBRE A CATALOGAO DESCRITIVA...........................................................................................................22 4 DA CONFERNCIA DE PARIS AOS ATUAIS IFLA MEETING OF EXPERTS.....34 4.1 Princpios de Paris (1961)..................................................................................34 4.2 Princpios de Paris (2003).................................................................................36 4.3 Cdigo Internacional de Catalogao..............................................................39 5 DESCRIO DO RECURSO E ACESSO.- RDA...................................................44 5.1 Conceitos tericos.............................................................................................46 5.2 Estrutura..............................................................................................................50 5.3 Nova terminologia..............................................................................................52 6 CONSIDERAES FINAIS....................................................................................53 REFERNCIAS..........................................................................................................57 ANEXO A RDA-FRBR MAPPING..........................................................................63

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1 INTRODUO

A informao, com fora cada vez maior, tornou-se parte integrante de nosso dia a dia, cada vez mais necessria ao desenvolvimento de diferentes competncias, bem como execuo de quase todas as atividades humanas. O profissional da informao deve possuir algumas competncias. Entre elas saber registrar e documentar informaes. Para tanto, ele utiliza diversas ferramentas para o desenvolvimento de variados processos de representao da informao. Entre eles, ressaltamos o processo de catalogao, que utiliza como instrumento de trabalho os cdigos de catalogao. Ao longo da Histria, os profissionais da informao, particularmente os bibliotecrios de diferentes contextos, denominados de forma peculiar a cada um desses contextos, perceberam a necessidade de transmitir as informaes contidas em seus acervos. Os catlogos, na Antiguidade (Sculo V a.C. Sculo V d.C.), tinham como uma de suas premissas o controle bibliogrfico, como podemos verificar em Campello (1997, p.1): O enorme catlogo da biblioteca de Alexandria, organizado por Calmaco (c.305 a.C 240 a.C), poeta e bibliotecrio grego, pode ser considerado marco na histria do controle bibliogrfico. Corroborado por Alberto Manguel (1999, p. 217):Os volumes tinham que ser colecionados em grande nmero, pois o objetivo grandioso da biblioteca era abrigar a totalidade do conhecimento humano. Para Aristteles, colecionar livros fazia parte das tarefas do intelectual, sendo necessrio a ttulo de memorando. A biblioteca da cidade fundada por seu discpulo [Teofrasto] deveria ser simplesmente uma verso mais vasta disso: a memria do mundo.

A Biblioteca de Alexandria englobava procedimentos necessrios e disponveis poca de sua existncia, para organizao e recuperao de seu acervo. Alguns procedimentos so utilizados at os dias de hoje, tais como classificao e catalogao. A catalogao compreende trs partes: descrio bibliogrfica, pontos de acesso e dados de localizao. (MEY, 1995, p. 38).

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A descrio bibliogrfica foi e continua sendo a forma encontrada para identificar os itens1 existentes em um acervo. Segundo Mey (1995, p. 43): Descrio bibliogrfica a representao sinttica e codificada das caractersticas de um item, de forma a torn-lo nico entre os demais. Com o passar do tempo, a transmisso de informaes passou a ser grafada, em diversos suportes2, tais como: grficos, visuais, digitais, e outros, passveis de utilizao presencial ou remota. A necessidade de padronizar a forma de representao da informao contida em um item documentrio e possibilitar sua transmisso e retransmisso por meio legvel, a olho nu ou por mquina, fortaleceu a necessidade do estabelecimento de regras de descrio de forma e de contedo. Elaboradas originalmente por bibliotecrios que sentiram sua necessidade ou por Associaes de Bibliotecrios que estimularam a troca de experincias e idias, essas regras geraram, entre outros padres, os cdigos de catalogao. Estes cdigos contemplam a descrio, a escolha das entradas e forma dos cabealhos, a descrio da localizao fsica dos itens e em alguns casos, a estrutura dos catlogos. As atualizaes e modificaes dos cdigos ocorrem medida que as publicaes multiplicam-se e os formatos de apresentao das mesmas ampliam-se e modificam-se. A meno ao Controle Bibliogrfico Universal (CBU) necessria, pois contribuiu para o desenvolvimento dos cdigos, e, sua concretizao almejada at os dias de hoje. O CBU, de acordo com Ana Maria Machado (2003, p. 51), foi:[...] idealizado pela IFLA e adotado pela Unesco, deve ser entendido como um programa com objetivos de longo alcance e cujas atividades levam formao de uma rede universal de controle e intercmbio de informaes bibliogrficas, de modo a tornar prontamente disponveis, com rapidez e de forma universalmente compatvel, os dados bibliogrficos bsicos de todas as publicaes editadas em todos os pases.

Mey (1995, p. 25) complementa:

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Item, neste captulo, o termo utilizado para designar as obras que compe um acervo. Suporte: palavra polissmica utilizada para: a) identificar o suporte fsico, como papel, argila, plstico, tecido etc.; b) identificar o formato, como livro, artigo, captulo, filme, msica.

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[...] atuando em bases cooperativas. Cooperao significa, alm de respeito aos padres, que cada um dos pases dever responsabilizar-se por seu controle bibliogrfico nacional, por intermdio de uma ou mais entidades designadas, geralmente a biblioteca nacional ou instituio similar.

Verificamos, ao longo da histria da catalogao, que vrios padres foram utilizados, procurando atender s demandas dos usurios e necessidade de preservao das informaes armazenadas em acervos. Em linhas gerais,

mencionamos desde as simples cpias de informaes em listas at as codificaes necessrias para a compatibilidade entre sistemas de dados e codificao das informaes necessrias para representar itens de acervos digitais ou convencionais. A proposta atual elaborada pelo Joint Steering Committee for Development of RDA3, da International Federation of Libraries Associations (IFLA) para um novo cdigo o: RDA: Resource Description and Access, com data prevista para publicao em 2009. Nosso enfoque recair sobre a descrio bibliogrfica e as mudanas atuais provocadas pelas modernas tecnologias e pela globalizao. Diante dessa temtica, aponta-se o seguinte problema de pesquisa: a forma de elaborar a descrio bibliogrfica proposta pelo Resource Description and Access (RDA) corresponde, efetivamente, s dimenses apresentadas pela IFLA nos encontros de especialistas em catalogao e, s necessidades da catalogao descritiva nas bibliotecas do mundo globalizado? Diante desse problema, parte-se da hiptese de que o esquema de descrio bibiliogrfica denominado RDA pode no corresponder, totalmente, s atuais necessidades das bibliotecas, em todos ambientes informacionais, mas apresenta-se como uma alternativa atualizada para a construo de registros bibliogrficos. Usar-se-, como metodologia, a pesquisa bibliogrfica sobre temas como: biblioteconomia, catalogao, tecnologia, globalizao; documentos de instituies normativas de descrio bibliogrfica, nacionais e internacionais. Esse trabalho tem, ento, como objetivo geral, verificar se o novo esquema para elaborar a descrio bibliogrfica nominado Resource Description and Access3

Nome atual do Joint Steering Committee for Revision of AACR, desde a proposta de criao de um novo cdigo de catalogao, em 2005.

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(RDA) corresponde, efetivamente, s dimenses apresentadas pela IFLA nos encontros de especialistas em catalogao e, s necessidades informacionais das bibliotecas, em diferentes ambientes. Os objetivos especficos so: a) analisar o impacto do desenvolvimento tecnolgico atual e da globalizao sobre a catalogao descritiva; b) analisar o RDA, no contexto do desenvolvimento tecnolgico atual e da globalizao; c) avaliar a importncia do RDA como esquema para a descrio bibliogrfica e em relao as atuais necessidades de excelncia propostas pelos Princpios de Catalogao para as funes do catalogo: identificar, selecionar, obter e navegar. A escolha do tema, que parece relevante e atual, reflete a vida profissional da autora, dedicada ao estudo e ensino da catalogao, bem como sua prtica profissional em bibliotecas, especialmente voltada implantao de bases de dados em vrias fases de desenvolvimento. Por estas razes, acreditamos que a padronizao essencial em qualquer atividade, principalmente a que tenha como objetivo o fornecimento de informaes com preciso, eficincia e rapidez. Os acervos s podero ser recuperados com qualidade, segurana e rapidez se o registro, ao ser inserido, obedecer a critrios rgidos no que tange tanto a dados descritivos quanto a pontos de acesso, disponveis em ambientes gerenciadores da informao, tais como, bibliotecas, centros de documentao e arquivos. A seo 2 analisar as mudanas do capitalismo no sculo XX enfocando principalmente as questes pertinentes ao desenvolvimento tecnolgico. A seo 3 examinar o desenvolvimento tecnolgico e seus impactos sobre a catalogao descritiva. A seo 4 examinar a importncia e evoluo dos Princpios de Catalogao at os Encontros de Especialistas da IFLA. A seo 5 examinar e analisar o novo esquema de elaborar a descrio bibliogrfica nominado Resource Description and Access (RDA) traduzido como: Descrio e acesso ao recurso, que, alm de viabilizar a insero e recuperao em bases de dados das informaes contidas em acervos, propicia a aplicabilidade dos conceitos dos Functional

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Requirements for Bibliographic Records (FRBR). A seo 6 apresenta as consideraes finais seguida das Referncias.

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2 MUDANAS NO CAPITALISMO NO SCULO XX: UMA VISO

A importncia do progresso tecnolgico para as atividades humanas, na atualidade inegvel. Nesta seo procuramos analisar o desenvolvimento tecnolgico atual, os fenmenos da reestruturao produtiva e da globalizao, no contexto da crise do capitalismo do final do sculo XX, com o intuito de contextualizar o foco desse trabalho. O desenvolvimento tecnolgico perpassa todos os setores da vida atual produzindo profundas mudanas. Essas mudanas, algumas vezes consideradas reformas estruturais no capitalismo, na viso de Carvalho (1993, p. 35), levaram alguns autores a forjar novos conceitos para representar a sociedade atual como Terceira Revoluo Industrial, na opinio de Felix, Aguiar e Navarro (1993, p. 68), Sociedade Tecnolgica, Sociedade Tecnizada, de acordo com Machado (1993). As infindveis discusses sobre o futuro do trabalho e do trabalhador tm provocado especulaes bastante interessantes. Adam Schaff (1992), por exemplo, prev o surgimento de uma nova sociedade denominada Sociedade Informtica, caracterizada pelo altssimo desenvolvimento tecnolgico, que, apesar de manter a propriedade privada, organizar-se- em padres muito semelhantes aos de uma sociedade comunista.

2.1 Mudanas tecnolgicas

O alto desenvolvimento tecnolgico tem sido provocado principalmente pelos avanos no campo da microbiologia, da engenharia gentica e da eletrnica. Barbosa Filho (2002, p. 81) discorrendo sobre as mudanas tecnolgicas afirma que:Representando um enorme avano em relao tecnologia de base eletromecnica, a tecnologia microeletrnica, graas informatizao e robotizao, propicia, de um lado, a intensificao do potencial intelectual na produo e, de outro, a utilizao de robs para execuo de tarefas que antes cabiam aos trabalhadores.

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Como ressalta Oliveira (2000), alm da Internet, toda uma infra-estrutura de telecomunicaes e a produo/comercializao de hardware e software relacionados s novas Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs) concentram-se, principalmente nos pases desenvolvidos. A sua disseminao depende, em ltima instncia, capacidade de incorporar o uso massificado, organizacional ou domstico, dos computadores. A informtica afetou tambm as tecnologias tradicionais de comunicao, com a convergncia ao digital e, atualmente, so entendidos como TICs: rdio, televiso, video-conferncia (via cabo ou fio), teleconferncia (via satlite), transmisso de dados via rede ou linhas dedicadas, intranet e internet, na viso de Oliveira (2000). Adotando as novas tecnologias, as diferentes empresas, industriais, comerciais ou de servios se modernizam, adotando novas tecnologias de base fsica - oriundas dos progressos da microeletrnica e da automao - e/ou organizacional. Essas novas formas de produo acabaram provocando mudanas no mundo do trabalho e do emprego. A estrutura de ocupaes se modificou: ocupaes tradicionais desapareceram, outras surgiram, as remanescentes se modificaram. Barbosa Filho (2002) aponta o novo tipo de trabalhador que as empresas passam a solicitar como sendo cooperativo, capaz de trabalhar em equipe e polivalente. O mercado de trabalho ganhou nova configurao ensejando algumas projees. Por um lado, prev-se um aumento do volume de empregos para a mo-deobra qualificada, particularmente nas reas de produo e manuteno. Por outro, prev-se o agravamento do desemprego para a mo-de-obra direta. sabido que a tecnologia neutra. Como mostra Carvalho (1987, p. 16) as mudanas alcanadas pelas sociedades humanas, ao longo da histria, no tm sido provocadas pelo desenvolvimento tecnolgico, em si prprio, mas pelas opes socialmente feitas em relao ao emprego da tecnologia. So as relaes sociais concretas que definem a forma de utilizao da tecnologia e esta definio que acarretar ou no mudanas na essncia dessas relaes. Quando utilizado num contexto de relaes sociais fundamentadas na justia e igualdade, o desenvolvimento tecnolgico estar condicionado satisfao das mltiplas necessidades humanas. Mas quando usado sob a gide de relaes sociais

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fundamentadas na desigualdade e injustia, estar condicionado aos interesses egostas e individualistas, que ocasionam excluses sociais, gerando guerras e convulses sociais.

2.2 Crise mundial do final do sculo: a crise do socialismo real e a crise do capitalismo real

Frigotto (1995) considera que o final do sculo XX foi marcado pela crise do socialismo real e do capitalismo real. A crise do socialismo real foi caracterizada pela queda do muro de Berlim, pelo desmantelamento da URSS, pela converso dos pases do leste europeu ao capitalismo. Para este autor, a crise do capitalismo real foi resultante de alguns fatores marcantes do fim do sculo, como a crise energtica e a resistncia dos trabalhadores ao sistema de produo fordista. Na dcada de 70, a crise impacta os pases desenvolvidos ocasionando uma profunda recesso e o desemprego estrutural. Na dcada de 80, agravada pela crise da dvida, ela atingiu os pases em desenvolvimento, dificultando, nesses pases, seus processos de substituio de importaes, na opinio de Sader (2000, p. 35). Na busca da superao desta crise, a sociedade capitalista forja novas estratgias de reajuste, que acabaram lhe dando uma nova configurao, como a reestruturao produtiva e a globalizao.

2.2.1 A reestruturao produtiva

A reestruturao produtiva consistiu na implementao de mudanas radicais nos processos de organizao/produo das empresas por meio da intensificao na utilizao novas tecnologias. Assimilando as novas tecnologias de organizao e/ou de base fsica, as empresas adotaram novas formas de produo, chamadas, genericamente, de produo flexvel, que, gradativamente, vo substituindo ou se superpondo s formas de produo tradicionais, como a produo fordista.

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Quanto tecnologia organizacional, a produo flexvel baseia-se nos novos paradigmas de flexibilidade e integrao. Quanto tecnologia de base fsica, ela incorpora os progressos da microeletrnica e da eletrnica, usados no controle das mquinas e na viabilizao do trabalho flexvel e integrado. Apesar das especificidades presentes em cada empresa, as novas formas de produo apresentam algumas tendncias, como a produo em pequenos e mdios lotes; a utilizao da terceirizao e do encadeamento horizontal com outras empresas (flexibilidade horizontal), que diversifica fornecedores e descentraliza atividades; a busca da qualidade e da excelncia como fator diferenciador; a responsabilidade do coletivo pela qualidade, que diluda no processo de produo; o uso de novas tcnicas de gesto; o estmulo ao trabalho em grupo e cooperativo, conforme explcito em trabalho do Senai (1992, p. 20-21). Por meio da reduo do valor ou do tempo de trabalho socialmente necessrio incorporado mercadoria, a reestruturao produtiva tem significado para as empresas possibilidades de vantagens em relao aos concorrentes e o aumento de produtividade. Mas tem, tambm, possibilitado a consecuo dos objetivos mais tradicionais da administrao, quer seja, o aumento do controle do trabalho e a racionalizao de custos. Tal processo, como mostra Frigotto (1995, p. 149), tem, ainda, reforado e ampliado a excluso, por gerar custos humanos cada vez mais altos, traduzidos no desemprego estrutural que aflige grande contingente de populao, principalmente jovens e idosos, de pases desenvolvidos ou em desenvolvimento.

2.2.2 Globalizao

Denomina-se globalizao o fenmeno mundial atual caracterizado pela ampla circulao de investimentos, de mercadorias e de informao propiciada pela flexibilizao das fronteiras nacionais e pelo desenvolvimento tecnolgico na rea de informaes e da microeletrnica. As origens da atual globalizao podem ser encontradas nos fins da Segunda Guerra, quando os aliados, diante a vitria iminente,

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reuniram-se4 e elaboraram uma nova ordem econmica-financeira para o mundo psguerra. Incentivadas por esse movimento, as grandes companhias multinacionais intensificaram a transferncia de capitais/setores produtivos de suas ptrias para outros pases em condies mais vantajosas, em relao a matrias primas, custos de produo e relaes capital-trabalho, de acordo com Kennedy (1993, p. 47). Mais tarde, graas ao desenvolvimento tecnolgico, especialmente no campo das telecomunicaes e da informtica, as grandes companhias desmembraram sua produo e instalaram unidades em vrios pases, que cuidavam de suas diferentes etapas de produo. Agindo assim, elas criavam dentro da prpria empresa um intenso comrcio, rompendo as fronteiras dos Estados e incentivando o processo de globalizao. Mas foi no final do sculo XX, durante a crise de 1970-1990, que o processo de globalizao se intensificou. No contexto de estratgias de reajuste do capitalismo, os diferentes pases passam a se reunir em blocos comerciais.5 Ao mesmo tempo, as empresas multinacionais se expandem agressivamente pela economia mundial, que se amplia e se integra, sob a gide do neoliberalismo. Apesar de remontarem s idias do ingls Adam Smith e do francs Quesnay, no sculo XVIII, as teorias neoliberais vieram a germinar na dcada de 40 do sculo passado, quando Friedrich Hayeck, autor de O Caminho da Servido, de 1944, consegue reunir, na cidade de Mont-Plerin, adeptos bastante respeitados da comunidade intelectual internacional, como Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwig Von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polanyi (ANDERSON, 2000, p. 10). Conforme Frigoto (1995), alm de combater qualquer forma de interveno do Estado nos mecanismos de mercado as teorias neoliberais colocavam-se absolutamente contrrias ao comunismo e defendiam um capitalismo desprovido de regras, baseado nas leis do mercado, fundamentado na concorrncia, tida como imprescindveis prosperidade.

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A Conferncia de Breton Woods, New Hampshire (EUA), reuniu 44 pases que, sob forte influncia norte-americana criaram um sistema destinado a reduzir o forte protecionismo vigente em todos os pases e a instaurar novas regras reguladoras da economia mundial, de acordo com Frigoto (1995). 5 Alm do NAFTA, so exemplos desses blocos, a OCDE, a ALCA e o Mercosul.

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A partir da dcada de 70, alguns fatores propiciaram o fortalecimento do neoliberalismo. O primeiro foi a recesso, que propiciou aos neoliberais o contexto necessrio para responsabilizar os sindicatos e o prprio movimento pela crise, uma vez que estes teriam, com suas exigncias salariais e beneficirias, exaurido os cofres do Estado. O discurso neoliberal passou a reivindicar um estado liberal do ponto de vista econmico e social, mas autoritrio em relao aos trabalhadores e aos gastos pblicos (ANDERSON, 2000, p. 10-11). O segundo fator, de acordo com Barbosa Filho (2002, p.85), ocorre a partir do final da dcada de 1970,[...] com a ascenso dos governos conservadores de Thatcher e Major, na Inglaterra, das administraes republicanas de Reagan e Bush, nos Estados Unidos, do governo de Khol, na Alemanha, do governo de Schluter, na Dinamarca[...]

Estes governos aplicaram os programas neoliberais com variveis de pas para pas, o que deu s teorias neoliberais credibilidade, popularidade e o carter de modernidade. Logo, influenciados pelos Estados Unidos, organismos internacionais como Fundo Monetrio Internacional (FMI), Banco Mundial, Acordo Geral das Tarifas (GATT), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tambm adotaram a ideologia neoliberal e impuseram aos pases em desenvolvimento programas neoliberais. Sofrendo os efeitos da recesso, que foram agravados pela crise da dvida dos anos 80, esses pases, precisando do aval dos rgos financeiros internacionais para renegociarem suas dvidas externas, no tiveram outra alternativa seno acatar as imposies, adotando medidas austeras de saneamento financeiro, desregulamentao e abertura da economia. At agora, a globalizao tem beneficiado principalmente os pases desenvolvidos, aumentando em muito, nos ltimos anos, a diferena existente entre suas riquezas e a dos pases em desenvolvimento. Tem, ainda, provocado o surgimento de bolses de misria naquelas regies que no tm condies de insero nesta nova ordem.

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Mas no se pode negar que a abertura comercial produziu efeitos positivos para as diferentes economias nacionais, contribuindo para o controle da inflao e a expanso de suas exportaes e importaes. Esta sntese contextual tem por finalidade mostrar a importncia da informao para a atualidade e quo necessria sua preciso e a agilidade na obteno da mesma. Ao aproximar as diferentes regies do planeta, agilizando as trocas culturais, fomentando a troca de informaes de todos os tipos, tcnicas, cientficas, artsticas, religiosas, a globalizao contribuiu, tambm, para a ampliao da base de conhecimentos sobre a qual se assenta a sociedade humana. Evidentemente, estas mudanas acabaram ressaltando a importncia da informao e demonstrando a necessidade de aperfeioamento dos sistemas de informao e de dados. Partindo dessa premissa, as unidades de informao necessitam de mecanismos que possibilitem a gerao de informaes precisas e de recuperao gil e eficaz. A Biblioteconomia, como veremos na prxima seo, ao longo de sua histria, teve como um de seus objetivos a guarda e recuperao de informaes contidas em seus acervos, e a catalogao foi um dos mecanismos utilizados. A catalogao, como mecanismo essencial para a padronizao e descrio das informaes, construda a partir de regras que ofeream o mximo de padronizao e minimizem as interpretaes individuais, procurando garantir a unicidade do item informacional representado e, ao mesmo tempo, sua universalidade. Torna-se essencial, portanto, a existncia de padres que possibilitem uma interpretao uniforme e universal, em qualquer idioma e em qualquer tipo de unidade de informao, por catalogadores e usurios nos mais diversos ambientes informacionais. Nesse contexto, a proposta apresentada pelo RDA: Descrio e acesso ao recurso um esquema criado para viabilizar, de modo eficiente, a construo de formas de representao para a satisfao dos usurios da informao.

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A prxima seo abordar, de modo geral, os impactos das tecnologias sobre a catalogao, pontuando a representao descritiva.

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3 IMPACTOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS SOBRE A CATALOGAO DESCRITIVA

A sntese contextual exposta na seo anterior embasa historicamente o desenvolvimento da catalogao, particularmente, da descrio bibliogrfica no sculo XX, ressaltando daqueles fenmenos para a busca incessante de formas cada vez mais aperfeioadas de descrio bibliogrfica. Essa seo tem como ponto de partida o desenvolvimento dos cdigos nos Estados Unidos e as propostas da International Federation of Libraries Associations (IFLA). Segundo Barbosa (1978), a opo pela adoo do Cdigo de Catalogao Anglo-Americano (AACR) ocorreu, oficialmente, a partir de 1969, data da traduo brasileira, devido s necessidades de uniformidade de entradas para obras representadas em catlogos apontadas por escolas de Biblioteconomia e de acordo com a finalidade da Conferncia de Paris. A finalidade desta Conferncia era a aplicao dos Princpios de Catalogao relativos padronizao de nomes pessoais por pases de um mesmo grupo lingstico, entre os quais encontrava-se o Brasil, representado por Maria Luisa Monteiro da Cunha.6 Aps discusses, reunies e cursos organizados por diversas instituies, como o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentao (IBBD, atual Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia - IBICT), a Biblioteca Nacional (BN) e o Instituto Nacional do Livro (INL) o AACR foi oficialmente aceito pelas escolas de Biblioteconomia e bibliotecas. Carneiro7 (2005) confirma o exposto no pargrafo anterior, assim como Modesto (2007). Conforme Barbosa (1978), o cdigo de catalogao, mais antigo, foi o elaborado por Charles C. Jewett, em 1852, baseado nas 91 Regras de Panizzi8. Cumpre ressaltar que, de acordo com Ana Maria Machado (2003), ele foi, tambm, o6

Bibliotecria, elaborou as regras para padronizao de nomes brasileiros e portugueses, inseridas como apndice no AACR, AACR2 e no AACR2r. 7 Informao pessoal fornecida pela Professora Regina Carneiro, responsvel pela traduo do AACR2, 1983-1985. 8 Em 1841, Anthony Panizzi elaborou 91 regras, que resultaram no primeiro cdigo de catalogao.

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precursor da catalogao nica, ou seja, catalogao cooperativa para gerar os catlogos coletivos, que necessitam de registros padronizados para desempenharem eficazmente sua funo de localizar documentos e atender prontamente os usurios. A seguir, temos o cdigo de Charles Ami Cutter, conhecido por sua tabela para notao de autores. Barbosa (1978, p. 29) informa a respeito:[...] consagrou a existncia da escola americana de catalogao, ao publicar, em 1886, suas Rules for a dictionary catalog, cuja quarta e ltima edio em 1904, coincidiu com a preparao do primeiro cdigo da ALA. (grifo do autor). [...] comum pensar-se que Rules for a dictionary catalog, talvez pelo seu ttulo, seja uma obra que inclua apenas regras para catlogos-dicionrios. [...] No entanto, trata-se de um verdadeiro cdigo, consistindo em 369 regras que incluem normas no s para entradas por autor e por ttulo, mas tambm para a parte descritiva, cabealhos de assunto, e ainda alfabetao e arquivamento de fichas.

A American Library Association (ALA), em 1908, publicou seu primeiro cdigo, reunindo as regras estabelecidas por Panizzi, Jewett, Cutter e pela Library of Congress (LC), adotando-as como padro. Este Cdigo foi editado trs vezes para atender s solicitaes dos bibliotecrios, que no o aceitavam em sua totalidade, alegando, principalmente, o excesso de detalhamento de regras. A segunda edio, denominada preliminar e publicada em 1941, estava estruturada em duas partes: a primeira para entradas e cabealhos e a segunda para a descrio de livros, totalizando 324 regras, e apndices. A segunda edio definitiva foi publicada em 1949 em dois volumes. O volume ALA Cataloguing rules for author and title entries, editado por Clara Beetle e publicado pela ALA, popularmente conhecido como Red Book, contm regras para a escolha e forma dos cabealhos. O outro volume foi elaborado pela Library of Congress (LC) para contemplar a descrio bibliogrfica, uma vez que, o Cdigo da ALA no mencionava regras para esta parte da catalogao. Inclui regras para livros, peridicos e alguns tipos de materiais no livro.9 Foi publicado com o ttulo: Rules for a descriptive cataloging in the

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Material no livro a forma adotada pela International Standard Bibliographic Description for Non Book Materials (lSBD (NBM)) para identificar os materiais por ela abrangidos e que no fossem peridicos ou livros.

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Library of Congress, conhecido popularmente como Green Book, e as regras foram adotadas pela ALA. Barbosa (1978, p. 37) informa a este respeito:Este volume referente catalogao descritiva apresentou a grande inovao, em relao aos cdigos existentes, de possuir uma introduo contendo os objetivos da catalogao descritiva e os princpios em que se devia fundamentar sua aplicao.[...] Dele existe, inclusive, uma traduo em lngua portuguesa, por Maria Luisa Monteiro da Cunha, divulgada pela prpria LC em 1956.

Como conseqncia das divergncias existentes entre os bibliotecrios em relao s regras propostas em 1949, a ALA solicitou a Seymour Lubetzky10 que avaliasse o cdigo publicado. Seu relatrio, publicado em 1953, tornou-se, segundo Barbosa (1978, p. 38): [...] a mais importante contribuio do sculo XX no campo da Catalogao. Aps a publicao do relatrio e, de acordo com o Joint Steering Committee for a Revision of Anglo-American Cataloguing Rules (2006), em 1956, Lubetzky assumiu a funo de editor do cdigo revisado e, em 1960, publicou uma lista de sugestes de mudanas. O novo cdigo foi publicado em 1967 como Anglo-American Cataloging Rules (AACR) em duas verses, uma norte-americana e outra britnica. Os textos estavam divididos em trs partes: a) Parte I: entrada e cabealho baseada nos Princpios de Paris (sobre os quais exporemos as caractersticas na prxima seo), regras do Cdigo da ALA de 1949 e o relatrio de Lubetzky; b) Parte II: descrio: formada pelas regras da Library of Congress revistas; c) Parte III: outros documentos: contm regras para escolha da entrada e descrio baseadas na regras da LC. O AACR foi traduzido e adaptado para o portugus com o ttulo: Cdigo de Catalogao Anglo-Americano, em 1969, por Abner Lellis Corra Vicentini e Astrio Campos.10

Seymour Lubetzky (1898- 2003) considerado um dos mais conceituados tericos da catalogao.

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Considerando o foco deste trabalho, analisaremos a Parte II Descrio - do AACR em sua forma e conceito. Alm de regras especficas para a descrio de livros, esta parte contempla os Princpios da Catalogao Descritiva. Estes Princpios, mencionados no Cdigo de Catalogao Anglo-Americano (1969, p.231),[...] estabelecem a base comum para as regras de catalogao descritiva de todos os tipos de documentos. Sua aplicao habilita o catalogador a resolver, dentro do esprito e da inteno das regras, os problemas catalogrficos que no foram especificamente tratados no cdigo.

Como se pode constatar, as regras, por no serem taxativas, permitem interpretaes de acordo com o critrio de cada catalogador, gerando registros semelhantes e no idnticos para uma mesma obra. Elas mencionam tambm a possibilidade de utilizao de formas alternativas como guias, ndices, listas e outros, caso no existam regras especficas para descrever um documento. Estes mesmos Princpios (CDIGO, 1969, p. 231) mencionam os objetivos da catalogao descritiva como sendo:1) determinar as caractersticas fundamentais de um documento com o intuito de distingui-lo de outros, descrevendo seu escopo, contedo e relaes bibliogrficas com outros documentos; 2) apresentar esses dados em ficha catalogrfica que, por sua vez, intercalada em um catlogo juntamente com as fichas que descrevem outros documentos, procurando atender, assim, as necessidades da maioria dos utilizadores.

Analisando os objetivos expostos, entendemos tratar-se de um todo que no especifica a forma e apresentao de dados, que sero explicitadas nas regras. Esta citao, porm, nos fornece um patamar slido para realizarmos a escolha certa. Em relao organizao da descrio, a escolha do catalogador, que, novamente, ocasionar interpretaes prprias com o intuito de prestar melhor atendimento ao usurio, assim como livre a utilizao de maisculas e minsculas, pontuao, abreviaturas. Apesar disso, na pgina 234 - Regras gerais - do mesmo Cdigo, existe uma ordem para apresentao dos elementos descritivos, sem ser taxativa. Isto, via de

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regra, dificulta a padronizao das informaes descritivas, pois seu uso depender do conhecimento tcito do catalogador. Importante relembrar que estas regras foram baseadas nas da Library of Congress, que as utilizava, porm, sem uma base terica explcita, uma vez que, anteriormente ao AACR, elas atendiam s suas necessidades, mesmo no resultando na almejada normalizao se aplicadas em maior amplitude. Segundo Cunha (1977), a padronizao da descrio bibliogrfica, como podemos verificar, no era considerada como um dos aspectos importantes da catalogao. A necessidade do estabelecimento de padres mais claros e rgidos aumentou medida que a produo de documentos passveis de serem armazenados ampliou e as dificuldades de interpretao das regras, consideradas subjetivas, tambm aumentaram. A IFLA, ciente desta necessidade, formou um Grupo de Estudos para viabilizar uma proposta de padronizao internacional para a catalogao. O relatrio elaborado pelo Grupo de Estudos foi apresentado no International Meeting of Cataloguing Experts, 1969, Copenhague. Os objetivos desse Grupo de Estudos foram os seguintes, de acordo com Cunha (1977, p.10):(1) a reunio dos princpios da CIPC anotados por A. H. Chaplin e Dorothy Anderson e (2) o estudo e discusso do documento elaborado por Michael Gorman sobre a descrio bibliogrfica normalizada (Standard Bibliographic Description).11

O documento, gerado e aprovado por este evento, foi o International Standard Bibliographical Description (ISBD). O Joint Steering Committee for a Revision of AngloAmerican Cataloguing Rules (2006) complementa:[...] iniciou-se o desenvolvimento da International Standard Bibliographic Description (ISBD). O objetivo foi identificar os componentes da descrio

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CIPC = Conferncia Internacional sobre Princpios de Catalogao.(insero nossa).

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bibliogrfica, sua ordem de apresentao preferencial e a pontuao 12 necessria. (traduo livre).

A abragncia do objetivo pode ser melhor compreendida por meio do esclarecimento expresso na ISBD(M) (2005), reviso 2002 com verso em portugus de Portugal:0.1.2 Objectivo O objectivo principal das ISBDs dar as directivas que permitam uma catalogao descritiva compatvel escala mundial, de forma a facilitar a troca internacional de referncias bibliogrficas entre agncias bibliogrficas nacionais e entre a comunidade internacional das bibliotecas e da documentao. Ao definir os elementos necessrios numa descrio bibliogrfica, prescrevendo a sua ordem de apresentao e a pontuao que os delimitam, as ISBDs visam: A. tornar intercomunicveis as referncias bibliogrficas produzidas por diferentes fontes, de forma que as referncias produzidas produzida[sic] num pas possam ser facilmente integradas nos catlogos ou na bibliografia de qual[sic] outro pas; B. ajudar compreenso das referncias apesar das barreiras lingusticas, de forma que as referncias produzidas para os utilizadores de uma lngua, possam ser entendidas pelos utilizadores de outras lnguas; C. facilitar a converso das referncias bibliogrficas em formato legvel por mquina.

A ISBD foi desenvolvida por tipo de material ou suporte, conforme mencionado a seguir13: a) ISBD(A): International Standard Bibliographic Description for Older Monographic Publications (Antiquarian), para monografias anteriores a 1801 ; b) ISBD(CF): International Standard Bibliographic Description for Computer Files, para Recursos eletrnicos alterada para ISBD (ER), em 1995; c) ISBD(CM): International Standard Bibliographic Description for Cartographic Materials, para Materiais cartogrficos;At the International Meeting of Cataloguing Experts in Copenhagen in 1969, a program of International Standard Bibliographic Description (ISBD) was developed. The objective was to identify components in a bibliographic description, their preferred order, and the necessary punctuation. 13 As ISBDs no foram elaboradas simultaneamente, mas seguindo um planejamento baseado na necessidade e quantidade de suportes existentes. Exemplificando: a primeira ISBD a ser publicada foi a ISBD(M) para monografias.12

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d) ISBD(CR): International Standard Bibliographic Description for Serials and Other Continuing Resources, para recursos contnuos, inclusive peridicos; e) ISBD(ER): International Standard Bibliographic Description for Electronic Resources, para Recursos Eletrnicos; f) ISBD(G): General International Standard Bibliographic Description; contm as Regras gerais aplicveias a todas outras ISBD; g) ISBD(M): International Standard Bibliographic Description for Monographic Publications, para Monografias; h) ISBD(NBM): International Standard Bibliographic Description for Non-Book Materials, para materiais no livros, conceituados como os materiais visuais em duas dimenses; i) ISBD(PM): International Standard Bibliographic Description for Printed Music, para Partituras; j) ISBD(S): International Standard Bibliographic Description for Serials, alterado para ISBD(CR). Estas explicaes tornam-se importantes para compreendermos que a diversificao dos suportes informacionais aumenta a necessidade de padronizao das informaes, possibilitando a compreenso de registros bibliogrficos em qualquer idioma e a gerao de catlogos coletivos com qualidade, tornando possvel a concretizao do controle bibliogrfico, projeto almejado desde Antiguidade. A Comisso da IFLA responsvel pela reviso do AACR iniciou seus trabalhos pela comparao do seu captulo 6 com a ISBD(M). medida que as ISBDs foram sendo elaboradas os captulos do AACR foram adequando-se s mesmas, e foram criados novos captulos complementares. Em 1978 foi publicado o Anglo-American Cataloguing Rules, Second edition (AACR2)14, unificando os dois textos anteriores: o dos Estados Unidos e o britnico. O AACR2 manteve os pontos de acesso em conformidade com os Princpios de Paris, e a descrio passou a incorporar o padro ISBD.

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Em portugus: Cdigo de Catalogao Anglo-Americano, 2 edio, identificado pela sigla do ttulo em ingls: AACR2.

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De acordo com o Joint Steering Committee for a Revision of Anglo-American Cataloguing Rules (2006), suas principais atualizaes datam de 1988,1998 e 2002. As atualizaes foram incorporando os novos suportes informacionais, porm, surgiu a necessidade do estabelecimento de novos padres conceituais para atender a demanda gerada pela globalizao e os avanos tecnolgicos. Conforme os textos de Pereira (1998, p. 123) e Siqueira (2003, p.33), a catalogao sempre utilizou a tecnologia como uma das ferramentas para sua execuo. O desenvolvimento dos cdigos de catalogao e sua abrangncia remetem a uma outra anlise: a forma de se disponibilizar e acessar as informaes depositadas em acervos. Assim como as bibliotecas, as regras para estruturar as informaes e os suportes que as contm evoluram tambm, acompanhando a disponibilidade dos materiais existentes em cada poca ou os mais apropriados a cada tipo de biblioteca. Entre os diversos suportes mencionamos argila, papiro, papel e, atualmente, as mdias digitais. Os suportes, por sua vez precisavam de ferramentas ou equipamentos para gravar ou imprimir as informaes. Entre elas, destacam-se canetas, mquinas de escrever e computadores. Os computadores vieram suprir a necessidade de acesso s informaes por um maior nmero de usurios, decorrente das mudanas causadas pelo avano da tecnologia. Para Barbosa (1978, p. 196),A necessidade de prover servios em maior profundidade e de forma mais rpida a um maior nmero de usurios, bem como o aumento quantitativo dos materiais tradicionais, acrescentado ao aparecimento de novas formas de materiais, levaram as bibliotecas dos pases desenvolvidos a optar pelo uso de computadores para processamento de suas operaes internas. Por meio de processos simplesmente manuais (fichas catalogrficas) tornava-se impossvel garantir o tratamento tcnico atualizado das colees e o atendimento, em tempo hbil, aos usurios. (acrscimo nosso).

Ana Maria Machado (2003) confirma Barbosa, ao referir-se s necessidades do Controle Bibliogrfico Universal:

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O aumento na produo de livros e a conseqente necessidade de organizao desse material exigem um aprimoramento nas condies de sua recuperao.(p.73) [...] perceptvel o novo modo de apresentao do controle da informao cientfica e tecnolgica, utilizando-se do potencial tecnolgico. Entre outros ganhos, encontra-se a criao das chamadas bases de dados. Essa nova disposio diz respeito, principalmente, s formas de acesso s informaes bibliogrficas. (p.75).

A necessidade de criao de um formato para insero de dados em computador se justifica, de acordo com Barbosa (1978, p. 199),Para que os dados catalogados possam ser processados pelo computador necessrio coloc-los em forma legvel por mquina, identificando os elementos, de forma explcita, para fins de manipulao pelo computador.

A Library of Congress, a partir de 1960, iniciou estudos para elaborao de um formato que transformasse as informaes escritas em um catalogo manual para um automatizado. Destes estudos resultou o formato MARC, [...] acrograma para MachineReadable Cataloging (Catalogao Legvel por Computador), conforme Barbosa (1978, p. 199), que foi adotado por bibliotecas em suas bases de dados. No Brasil, em 1972, Alice Prncipe Barbosa15 defendeu sua dissertao de mestrado sobre o formato Calco, baseado no formato MARC II e, no ano seguinte, props sua viabilizao pelo IBBD. A primeira publicao do Formato Calco data de 1977 e seu prefcio informa:Para o IBBD, interessado em dinamizar seu servio de fichas impressas, a aplicao do CALCO se afigurava a soluo para conseguir que grande nmero de bibliotecas brasileiras integrassem, mais eficazmente, a central de catalogao em planejamento. [...] Por outro lado, compreendendo o IBBD a importncia de se formar, na Biblioteca Nacional, a central de catalogao cooperativa da produo bibliogrfica brasileira, ofereceu BN o manual de instruo do CALCO, para o necessrio desenvolvimento e a realizao da primeira experincia de sua aplicao.

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Bibliotecria, responsvel elaborao e implantao do Formato Calco.

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O formato Calco no permaneceu em uso e alguns dos softwares utilizados no Brasil adotam o formato MARC como padro. Isto veio reforar a importncia da criao de softwares especficos com este formato, para utilizao em bases de dados bibliogrficos. Os softwares especficos para armazenamento e processamento dos catlogos de acervos bibliogrficos foram elaborados para reproduzir e substituir os catlogos manuais, e todas as suas caractersticas. Para torn-los o mais prximo dos catlogos manuais, a tecnologia deve prever todos os processos possveis. Aparentemente, um dos mais relevantes o relacionamento entre os diversos registros, que permite recuperar, por exemplo, assunto, autor, ttulo de uma obra em diversos suportes existentes na base de dados, ou diversas obras sobre um assunto em um nico ou diversos suportes. Ana Maria Nogueira Machado (2003, p. 70) pondera:Uma maneira mais adequada e que demanda menos tempo para chegar ao mesmo objetivo encontra-se na construo de um modelo de recuperao da informao que apresente conduta anloga ao modo manual de busca. O desempenho do sistema criado tem que ser cpia do comportamento do outro.

A padronizao da descrio bibliogrfica tambm se tornou imprescindvel por ampliar a eficincia dos softwares e melhorar seu desempenho. Dos softwares que utilizam o formato MARC 2116, destacamos trs, utilizados por grandes instituies de ensino brasileiras, que possuem grandes acervos e necessitam alteraes freqentes. Novas verses dos softwares so geradas a partir das necessidades dos usurios. So eles17: a) PERGAMUM:O PERGAMUM - Sistema Integrado de Bibliotecas - um sistema informatizado de gerenciamento de Bibliotecas, desenvolvido pela Diviso de Processamento de Dados da Pontifcia Universidade Catlica do Paran. A sede encontra-se na cidade de Curitiba, situada Rua Imaculada Conceio, 1155 - Prado Velho - CEP 80242-980. O Sistema foi implementado na arquitetura cliente/servidor, com interface grfica - programao em Delphi, utilizando banco de dados Verso atual, resultado da atualizao do Formato MARC. As menes dos softwares tem como finalidade expor sua abragncia, em linhas gerais e no expor as verses mais atuais.17 16

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relacional SQL. O Sistema contempla as principais funes de uma Biblioteca, funcionando de forma integrada da aquisio ao emprstimo, tornando-se um software de gesto de Bibliotecas. (PONTIFCIA..., [2007?]).

b) ALEPHO sistema integrado de bibliotecas ALEPH 500 um lder de mercado na automao de bibliotecas e centros de pesquisa. Baseado nos padres da indstria, este sistema avanado reflete o compromisso da Ex Libris com a produo de ferramentas eficazes de gerenciamento do conhecimento, entregando aos nossos clientes um moderno pacote de ferramentas que facilita a administrao de suas instituies. Aps duas dcadas de experincia, milhares de clientes leais pelo mundo atestam s foras do software e as solues encontradas pela Ex Libris para lidar com os desafios tecnolgicos que as bibliotecas enfrentam no to dinmico mundo da informao. (ALEPH, c 2005).

c) VIRTUABaseado em padres. Completamente integrado. Flexvel. Aberto. O Virtua ILS(Integrated Library System) tudo isso e muito mais. Com ferramentas visionrias, tais como FRBR (Functional Requirements for Bibliographic Records), Notificaes de Update atravs do DSI, Revises de Usurios e uma interface Smart Device para consulta ao catlogo, o Virtua configura um novo padro internacional para o mercado de bibliotecas. Fornecendo suporte completo multilngue e baseado em uma slida base Oracle, o Virtua designado para bibliotecas que esperam mais do que os olhos podem alcanar. Com mais de 25 anos de experincia no mercado de bibliotecas, sabemos que no h duas bibliotecas iguais, com as mesmas necessidades. Por isso designamos o software flexvel que permite criar perfis customizados para cada biblioteca e usurio do staff acessarem mais de 600 funes atravs do sistema. Designado para possibilitar flexibilidade e fcil utilizao pelos leitores e pelo staff da biblioteca. Permite configurar as regras e os parmetros de acordo com sua biblioteca. Fcil de usar e fcil para treinamento de sua equipe, o Virtua oferece funcionalidade integrada entre os mdulos, incluindo os sistemas de catalogao, aquisies, peridicos, circulao e gerenciamento de relatrios. Capacidade de integrao completa, permitindo mudar de um mdulo para outro, sem precisar efetuar novo login, bastando um atalho no teclado ou simples click do mouse. (VIRTUA, 2005).

Este trabalho no tem por objetivo a anlise dos softwares. Por isso sua meno apenas ilustrativa e servir como apoio aos contedos que se seguem. A ampliao das necessidades de padronizao e a recuperao eficiente das informaes tornaram evidente que a catalogao tem que ser repensada do ponto de

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vista terico, com vistas aplicao das formas de padronizao das informaes em meio digital. Entretanto, qualquer inovao ou mudana realizada na atividade ou processamento de informaes de uma unidade informacional acarreta uma srie de mudanas que acabam garantindo ao usurio a melhoria no nvel de atendimento, desde que seja mantida a padronizao. Tais consideraes nos levam a apresentar na prxima seo a Conferncia de Paris e os encontros de especialistas para novas abordagens sobre padres de catalogao.

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4 DA CONFERNCIA DE PARIS AOS ATUAIS IFLA MEETING OF EXPERTS

A globalizao e conseqente intensificao na troca de informaes ocasionaram mudanas no pensar a catalogao, visando a sua adequao a uma nova situao. Nesta seo discorremos sobre a teoria da catalogao, ou seja, os conceitos que nortearam e norteiam todo seu processo, considerando como marco inicial a Conferncia de Paris realizada em 1961. Ribeiro (2005), discorrendo sobre o desenvolvimento das prticas

biblioteconomicas, afirma:Embora as prticas empricas de organizao da informao tenham estado sempre associadas ao respectivo processo de produo e armazenamento, porque s assim se tornava possvel a recuperao e o uso recorrente da prpria informao, a reflexo sobre essas prticas e o desenvolvimento disciplinar em torno delas so criaes relativamente recentes, quando comparadas com a histria milenar do processo informacional. Ao longo dos tempos, foram surgindo formas cada vez mais complexas de organizao e tratamento da informao.

Sem dvida, a afirmao de Ribeiro parece polmica, quanto ao surgimento de formas cada vez mais complexas de organizao e tratamento da informao. Porm, tem-se notado que a tcnica de registrar ou codificar documentos em uma ficha catalogrfica em papel e, atualmente, em base de dados, sejam eles apresentados na forma de livros convencionais, livros eletrnicos, em CD-ROM, mapas, msicas e outros formatos e suportes que contenham informaes, vem exigindo uma permanente reformulao de conceitos e prticas catalogrficas.

4.1 Princpios de Paris (1961)

Barbosa (1978) menciona a Conferncia de Paris, de 1961, como conhecida a International Conference on Cataloguing Principles (Conferncia Internacional sobre Princpios de Catalogao), como a precurssora da nomalizao das entradas (mais

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tarde pontos de acesso) e cabealhos das obras existentes e passveis de serem catalogadas. Seymour Lubetzky, considerado um dos pensadores da catalogao, foi quem propiciou a elaborao dos Princpios de Paris. Isto confirmado por Gorman (2000), quando menciona as crticas de Lubetzky s regras do Cdigo da ALA, de 1949, elaboradas a partir da pergunta: esta regra necessria?18. Lubetzky questionou regra por regra, gerando uma publicao que, posteriormente, serviu de base elaborao dos Princpios de Catalogao, nominados Princpios de Paris. Barbara Tillet (2003) complementa:Os princpios bsicos elaborados e defendidos por ele serviram de base para discusso com seus colegas internacionais da IFLA, para desenvolver uma Declarao de Princpios, em 1961, em Paris, resultando nos famosos Princpios de Paris". Os "Princpios de Paris" ainda so hoje os princpios subjacentes e inseridos em quase todos os cdigos de catalogao usados ao 19 redor do mundo. (traduo livre)

Pierre Gavin (2006) ressalta:Os pontos principais apontados por Lubetzy foram: Catlogo = auxiliar para explorao dos recursos da biblioteca Distino entre obra e livro Priveligiar a entrada principal Fidelidade pgina de rosto Profundidade na catalogao: nem mais nem menos que o necessrio 20 Contribuio essencial definio dos Princpios de Paris. (traduo livre).

Is this rule necessary? He went on to draft basic principles and then defended them and worked closely with his international colleagues in IFLA to develop a Statement of Principles in 1961 in Paris, resulting in the famous "Paris Principles." The "Paris Principles" are still today the underlying principles behind nearly all of the cataloging codes used throughout the world. This past August IFLA held another meeting of cataloging rule makers - this time for cataloging codes used in Europe. 20 Lubetzky Quelques points forts: Catalogue = aide l'exploitation des ressources de la bibliothque Distinction entre "oeuvre" et "livre" Primaut de l'entre principale Collectivits comme auteurs Fidlit la page de titre Profondeur de catalogage: ce qui est ncessaire, ni plus ni moins Contribution centrale la dfinition des Principes de Paris19

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4.2 Princpios de Paris (2003)

A necessidade de adequao da catalogao s novas formas de recuperao das informaes em catlogos de bibliotecas, advindas das mudanas tecnolgicas, gerou o estabelecimento de novos princpios que suprissem as falhas ocasionadas pelas mudanas. A proposta de reviso dos Princpios de Paris (1961), por serem os norteadores da maioria dos Cdigos de catalogao existentes hoje em dia, foi a soluo encontrada pela IFLA para propiciar o desenvolvimento de padres que supram satisfatoriamente as necessidades dos usurios da informao. O processo foi desenvolvido da seguinte maneira: aps estudos realizados por especialistas em catalogao foi realizado o 1 Encontro de Especialistas sobre um Cdigo de Catalogao Internacional, em Frankfurt, em 2003. Nesse evento, os Princpios de Paris, 1961, foram revistos e atualizados, resultando em um documento preliminar denominado International Principles of Cataloguing, traduzido em Portugal, com o ttulo: Declarao de Princpios Internacionais de Catalogao (2003). A traduo portuguesa dos Princpios (2003) a que utilizamos em nosso trabalho. Transcrevemos a seguir, parcialmente, seu termo de abertura, para confirmar o exposto anteriormente:A Declarao de Princpios conhecida geralmente por Princpios de Paris foi aprovada pela Conferncia Internacional sobre Princpios de Catalogao em 1961. O seu propsito de servir, como base, para uma normalizao internacional na Catalogao foi, incontestavelmente, alcanado: muitos dos cdigos de catalogao que foram desenvolvidos em todo o mundo, desde essa altura, seguiram estritamente os Princpios ou, pelo menos, fizeram-no de uma forma expressiva. Passados quarenta anos, ter um conjunto comum de princpios internacionais de catalogao tornou-se ainda mais desejvel uma vez que catalogadores e respectivos clientes, em todo o mundo, usam OPACs (Online Public Access Catalogues) de mltiplas provenincias. Neste momento, no dealbar do sculo XXI, a IFLA desenvolveu esforos para adaptar os Princpios de Paris a objectivos que se aplicam aos catlogos de bibliotecas em linha e para l deles. O primeiro desses objectivos servir a convenincia do utilizador do catlogo.

A partir desses apontamentos traamos uma comparao das duas declaraes:

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a) Abrangncia: 1961 - escolha de pontos de acesso e cabealhos 2003 - escolha de pontos de acesso e cabealhos; descrio bibliogrfica de assuntos.

b) Funes do catlogo: 19612 Funes do Catlogo O catlogo deve ser um instrumento eficiente para determinar: 2.1 se a biblioteca contm determinado livro caracterizado por a) seu autor e ttulo, ou b) se o autor no figura no livro, somente o seu ttulo, ou c) um substituto apropriado quando tanto o autor como o ttulo so inadequados ou insuficientes para identificao. 2.2 a) obras de um determinado autor existem e, b) edies de uma determinada obra que exista na biblioteca.

2003 As funes do Catlogo destinam-se a permitir ao utilizador:Encontrar recursos bibliogrficos numa coleco (real ou virtual) como resultado de uma pesquisa, utilizando atributos ou relaes dos recursos: 3.1.1. Para localizar um determinado recurso. 3.1.2. Para localizar conjuntos de recursos representando todos os recursos pertencentes mesma obra todos os recursos pertencentes mesma expresso todos os recursos pertencentes mesma manifestao todas as obras e expresses de uma determinada pessoa, famlia ou colectividade todos os recursos sobre um dado assunto todos os recursos definidos por outros critrios (como lngua, pas de publicao, data de publicao, formato fsico, etc.), normalmente como delimitao secundria de um resultado de pesquisa. Identificar Seleccionar Adquirir ou obter acesso Navegar

c) Descrio bibliogrfica 1961 - no menciona 2003 - deve ser baseada em Norma internacional, em primeira instncia a International Standard Bibliographic Description.

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Verificamos que a essncia dos Princpios mantida: satisfao do usurio. Os mecanismos para alcan-la que so diferentes. Neste contexto, a descrio bibliogrfica assume um carter formal, devendo ser respeitada, com a aplicao de regras rgidas e claras. Verificamos, tambm, que a abrangncia destes novos princpios permeia todas as etapas da catalogao: pontos de acesso, descrio bibliogrfica e fsica, os antigos catlogos auxiliares, chamados atualmente de tabelas21, que possam contribuir para a padronizao da descrio bibliogrfica. Difere, portanto, do objetivo dos Princpios de Paris, de 1961, que privilegiava somente as entradas e cabealhos, o que na poca causou estranheza a bibliotecrios, conforme Cunha (1977, p. 9):Alguns bibliotecrios estranharam que a CIPC se limitasse ao estudo das entradas nos catlogos e listas alfabticas de autores e ttulos. Em sua opinio, a catalogao descritiva e as entradas de assunto tambm deveriam ter sido estudadas. Todavia, a Comisso Organizadora e os membros da Reunio Preliminar (Londres, 1959) haviam decidido que a Conferncia Internacional deveria concentrar sua ateno nos aspectos importantes da Catalogao [...]

Essa preocupao levantou a necessidade de criao de um novo padro com estrutura conceitual slida e no apenas decorrente do uso e da necessidade de cada usurio. Este novo padro, conforme mencionado ao longo do texto, o RDA, a ser detalhado na prxima seo. A IFLA props a criao de um Cdigo Internacional de Catalogao e para tanto realizou uma srie de eventos respeitando e acatando todos os aspectos que os Princpios de Catalogao (2003) prescreviam, e indicam a possibilidade de alteraes, se ainda necessrio. Os princpios abaixo indicados (2003), ainda preliminares, cobrem:

1. mbito 2. Entidades, Atributos e Relaes 3. Funes do Catlogo 4. Descrio Bibliogrfica 5. Pontos de Acesso21

Tabelas auxiliares so listas utilizadas para a padronizao de elementos que compe a descrio bibliogrfica, elaboradas por bibliotecrios responsveis pelo processamento do acervo. Exemplo: tabela de autoridades, utilizada para nomes pessoais, de entidades, de eventos.

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6. Registos de Autoridade 7. Fundamentos para permitir a Pesquisa

Estes

novos

princpios

so

construdos

sobre

as

grandes

tradies

catalogrficas do mundo, bem como sobre os modelos concetuais estabelecidos nos documentos da IFLA: Functional Requirements of Bibliographic Records (FRBR) e Functional Requirements for Authority Data (FRAD). Barbara Tillet (2007) em sua apresentao: Cataloging Principles, durante o 5 IFLA IME/ICC menciona o estudo em andamento: Functional Requirements for Subject Authority Records (FRSAR), para completar a proposta dos FRBR.

4.3 Cdigo Internacional de Catalogao

Freqentemente presente nas aes a favor da Biblioteconomia, a IFLA, fundada em 1927, lidera, atualmente, o processo de gerao de novos conceitos e regras adequadas s novas necessidades. Com a finalidade de propor um novo cdigo de catalogao, realizou uma srie de eventos regionais em vrios pontos do mundo, abrangendo os tens considerados essenciais: atualizao dos Princpios de Paris (estes j mencionados anteriormente), reviso do ISBD e implantao dos Requisitos Funcionais para Registros Bibliogrficos (Functional Requirements for Bibliographic Records - FRBR). O primeiro encontro ocorreu em 2003, na Alemanha e o ltimo (por ns considerado como tal) em agosto de 2007, na frica. O objetivo de todos eles, denominados IFLA Meeting of Experts on an International Cataloguing Code (IME ICC) = Encontro de Especialistas sobre um Cdigo de Catalogao Internacional (titulo em portugus)22. Nesse evento, o objetivo foi pontuar as semelhanas e diferenas entre os diversos pases em relao ao uso dos Cdigos de Catalogao, buscando,A meno dos dois titulos nos conduz a um dos problemas que o RDA dever prever para manter a uniformidade, pois ao traduzirmos ttulos de eventos (considerados autores entidades) estaremos ferindo o controle de autoridade que prev, como dissemos, eleger uma nica forma para identificar um autor.22

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Examinar os cdigos de catalogao em uso na Europa e comparar suas semelhanas e diferenas para verificar a possibilidade de juntas, 23 desenvolverem um Cdigo Internacional de Catalogao. (traduo livre).

Os conceitos utilizados, como mencionado, foram os que norteiam os do FRAD24 e os do FRBR, cujos objetivos so atender, eficientemente, o usurio e proporcionar o relacionamento de informaes no meio digital, necessitando de uma explicao pontual, que tambm norteia o RDA. Iniciando um processo de mudanas para a catalogao, a Diviso IV, Seo de Catalogao da IFLA criou um Grupo de Estudos que elaborou um documento denominado Requisitos Funcionais para Registros Bibliogrficos (FRBR), de acordo com Tillett (2004). O documento estabelece conceitos novos incluindo metadados (visando a facilitar a incluso e navegao dos dados no meio digital), que, futuramente, daro origem ao novo Cdigo Internacional de Catalogao, cujo objetivo principal ser a satisfao do usurio. Moreno (2006) analisa o desenvolvimento dos FRBR:Ao longo de oito anos, o grupo de estudos oriundo da Seo de Catalogao e da Seo de Classificao e Indexao da IFLA, com a colaborao de consultores e de voluntrios de vrias nacionalidades, desenvolveu os FRBR, apresentando um relatrio final em 1998, configurando uma recomendao para reestruturar os registros bibliogrficos de maneira a refletir a estrutura conceitual de buscas de informao, levando em conta a diversidade de: usurios - usurios da biblioteca, pesquisadores, bibliotecrios da seo de aquisio, publicadores, editores, vendedores; materiais - textuais, musicais, cartogrficos, audiovisuais, grficos e tridimensionais; suporte fsico - papel, filme, fita magntica, meios ticos de armazenagem, etc. e, formatos - livros, folhas, discos, cassetes, cartuchos, etc. que o registro possa conter.

O Virtua (Virtua, c2005) utiliza o modelo FRBR, conforme especificado na seo 3, e explica como:

To examine cataloguing codes currently in use in Europe to compare their similarities and differences to see if we can get closer together and perhaps develop an International Cataloguing Code. (FIRST..., 2003). 24 Significa: Functional Requirements for Authority Data. Complementa o FRBR na escolha, forma e controle de autores de qualquer natureza (autoridade).

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FRBR -- Making Complex Information More Understandable and Usable O modelo Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR) uma alternativa inovativa para catalogao tradicionale o Virtua o primeiro ILS no Mercado atual que suporta este novo modelo. O padro avanado de catalogao/manuseio de dados do FRBR consolida a informao relacionada a partir de recursos exibidos em uma estrutura de rvore. O registro FRBR bsico consiste em trs entidades - work, expression e manifestation. Adicionalmente, os registros de item (registros de assinaturas de peridicos) podem ser anexados manifestao. Por exemplo, a 5 Sinfonia de Beethoven representa uma Obra (work). Pode ser catalogada independentemente. A performance da sinfonia, por exemplo, pela The New York Philharmonic Orchestra representa uma expresso (expression) do trabalho. Um CD da Columbia Records contm a performance particular representa uma manifestao (manifestation) da obra (work). Duas cpias do CD na biblioteca representam dois "itens" desta manifestao (manifestation). O FRBR oferece uma forma mais intuitiva de organizar e recuperar a informao, a qual traduz para fcil catalogao, e mais completos resultados de busca pelos usurios. Com o FRBR, pesquisa-se apenas uma nica vez para encontrar todos os materiais relacionados, mesmo que estes materiais estejam catalogados em diferentes idiomas, ou com diferentes cabealhos de assunto.

Patrick Le Boeuf, (2003?) complementa:VTLS Inc. lanou, em 2002, a verso 41.0 do sistema para bibliotecas Virtua. Primeiramente a verso possibilita a criao de um catlogo FRBR, para qualquer biblioteca. A extenso MARC possibilita registros em 4 nveis de FRBR, do grupo 1, para entidades e cada catalogador decide se reune as famlias bibliogrficas ou isola documentos, mas sempre obedecendo a 25 estrutura FRBR. (traduo livre)

A utilizao dos conceitos estabelecidos pelos FRBR proporcionar o estabelecimento da recuperao da informao de forma integrada, ou seja, tornar possvel a recuperao de uma obra26 em todos os itens27 em que tiver sido manifestada.28 A figura 1, a seguir demonstra graficamente a interao dos conceitos do chamado grupo 1 dos FRBR29:

VTLS Inc. released in 2002 version 41.0 of the Virtua library system. For the very first time, a vendor made it possible for any library to create its own FRBR catalogue. Extant MARC records can be split into the 4 levels of the FRBR Group 1 of entities, and any cataloguer can decide to account for bibliographic families rather than isolated documents, thanks to the FRBR structure. 26 Obra: substitui a palavra livro no conceito do conteudo. 27 Item: termo utilizado para identificar o objeto fsico ou no. 28 Manifestao: a forma de apresentao de uma obra. 29 Grupo 1 entidades que so produto de trabalho intelectual ou artstico. (MORENO, 2006, p. 35).

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OBRA = contedo intelectual

Disponvel em portugus Publicada em livro

Expresso

Manifestao

Item

Objeto fsico especfico a ser descrito

Figura 1 Grupo 1 dos FRBR Fonte: adaptado de Tillett, 2007, p. [1]

Na realidade, pretende-se, com a aplicao dos FRBR s bases de dados, implementar os elos de ligao existentes nos catlogos manuais, anteriormente, as remissivas simples, cruzadas e explicativas, alm dos conceitos que visam ao entendimento nico das regras, minimizando as diferenas de interpretao. A AACR2, reviso 2002 (CODIGO..., 2005), confirma a utilidade das remissivas ao manter o captulo 26 Remissivas, que, utilizadas em todos os casos em que se fizerem necessrias, possibilitaro uma recuperao eficaz das informaes descritas. Os FRBR incorporam este conceito aos seus. Outro ponto discutido no evento foi a necessidade de reviso da ISBD. O Grupo de Estudos responsvel pela proposta apresentou um relatrio (CATALOGUING, 2003) comparando as ISBDs e os cdigos em vigor na poca, com a finalidade de pontuar as semelhanas e diferenas. A reviso 2003 da ISBD(G), em sua introduo (p.iii), relata pontos que explicam e justificam o exposto no evento:No incio da dcada de 1990 a IFLA Section on Cataloguing e a Section on Classification and Indexing formaram um Grupo de Estudos para elaborar os Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR). Uma das conseqncias imediatas ao seu desenvolvimento foi a deciso de suspender o

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trabalho de reviso das ISBDs enquanto o Grupo de Estudos dos FRBR props a mudana recomendando um nvel bsico de sua funcionalidade e de informaes requeridas nos registros criados pelas agncias bibliogrficas nacionais. Em 1998 o Grupo de Estudos dos FRBR publicou o relatrio final, aps as recomendaes serem aprovadas pela IFLA Section on Cataloguings Standing Committee. Ao mesmo tempo o Grupo de Reviso da ISBD elaborou um resumo de seu trabalho. Como resultadon final a IFLA Section on Cataloguings Standing Committee solicitou ao Grupo de Reviso da ISBD que iniciaase uma reviso em grande escala das ISBDs. O objetivo deste segundo projeto de reviso geral, foi assegurar a conformidade entre os requisitos das ISBDs e dos FRBR para a obteno dos elementos essenciais para a criao de um registro bibliogrfico bsico, para ser utilizado pelas agncias nacionais. 30 (traduo livre).

O RDA o prximo item a ser tratado e aps esta anlise verificamos que sua importncia e responsabilidade em relao a sua aceitao ir depender de sua consistncia.

In the early 1990s, the IFLA Section on Cataloguing with the cooperation of the Section on Classification and Indexing set up a Study Group on the Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR). One immediate consequence of this development was the decision to suspend most revision work on the ISBDs while the FRBR Study Group pursued its charge to recommend a basic level of functionality and basic data requirements for records created by national bibliographic agencies. In 1998, the FRBR Study Group published its Final Report after its recommendations were approved by the IFLA Section on Cataloguings Standing Committee. At that time the ISBD Review Group was reconstituted to resume its traditional work. As expected, the IFLA Section on Cataloguings Standing Committee asked the ISBD Review Group to initiate a full-scale review of the ISBDs. The objective of this second general review project was to ensure conformity between the provisions of the ISBDs and FRBR data requirements for the basic level national bibliographic record.

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5 DESCRIO DO RECURSO E ACESSO - RDA A informao considerada um bem inerente ao progresso da humanidade, em todas as reas do conhecimento. A partir desta afirmativa, retirada de domnio pblico, teceremos um recorte sobre informao. De acordo com Fernandes (2005, p. 26):Na atualidade [...] o desenvolvimento tecnolgico chega a um ritmo muito intenso. A informao passa a ter suma importncia para o homem. A velocidade com que novas informaes so geradas cria a necessidade ao homem de permanente atualizao. Grande nfase dada a comunicao, um volume maior de informao transmitido a distncias cada vez maiores em tempos progressivamente menores. O acesso a determinadas informaes possibilita s pessoas vantagens de ao antes inexistentes. O homem passa a ser encarado como um processador e um agregado de informaes.

Entretanto, esse trabalho tem especial interesse no estudo da transmisso de registros bibliogrficos isentos de interferncias de qualquer natureza. Por isso, esse texto procurou destacar as falhas possveis de ocorrerem na elaborao da catalogao descritiva em bibliotecas e outras instituies similares. Segundo Jaime Robredo (2003, p. [147]) a informao,Quando codificada, pode ser armazenada, preservada, reproduzida, transmitida, processada, organizada, reorganizada e recuperada.

Corroborando essa idia, MCGarry (1999) explica:A informao deve ser ordenada, estruturada ou contida de alguma forma, seno permanecer amorfa e inutilizvel. (p.11). [...] o fornecimento de informaes acompanhou o desenvolvimento da geografia ao substituir a distncia absoluta pela relativa, e a localizao absoluta pela relativa. (p. 124).

Do ponto de vista especfico da representao da informao, Alvarenga (2001) expe, com clareza:A representao do conhecimento, em nossos dias, no compreende somente a substituio do documento primrio por uma informao catalogrfica. Considerando-se que o documento no se acha fisicamente em outro espao, mas no prprio meio que lhe proporciona materialidade, novas formas de se

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criar ndices de recuperao foram ensejadas. No novo contexto de produo, organizao e recuperao de objetos digitais, as metas de trabalho no se restringem criao de representaes simblicas dos objetos fsicos constantes de um acervo, mas compreendem estabelecimento dos denominados metadados, muitos dos quais podem ser extrados diretamente dos prprios objetos, constituindo-se esses em chaves de acesso a servio dos internautas. [...] Na catalogao bibliogrfica tradicional, o documento representado por um conjunto de informaes relativas sua descrio fsica e pontos de acesso, representao esta preparada e armazenada em um contexto fsico independente do documento primrio. [...] medida que as tecnologias da informao foram sendo criadas, disponibilizadas e aperfeioadas, os sistemas de representao e recuperao de informaes documentais assistiram a uma extrapolao dos limites dos tradicionais catlogos referenciais em fichas, alcanando as bases de dados online.

Este recorte ressalta a importncia da codificao da informao em bases de dados bibliogrficos e a necessidade de elaborao de um novo esquema, que atenda s necessidades dos usurios. A Descrio do recurso e acesso (RDA) o esquema proposto pela IFLA para substituir o Cdigo de Catalogao Anglo Americano, segunda edio, reviso 2002 (AACR2r). Usaremos a sigla RDA, que identifica internacionalmente o esquema. O relatrio preliminar informa como justificativa para a criao do RDA (2005)31:Um elemento chave no projeto da RDA o seu alinhamento com os modelos conceituais para dados bibliogrficos e de autoridades desenvolvidos pela IFLA. 32 Os modelos FRBR e FRAR proporcionam RDA uma estrutura bsica que tem o objetivo necessrio de dar apoio a uma cobertura abrangente de todos os tipos de contedo e de mdia, a flexibilidade e extensibilidade necessria para acomodar novos recursos com caractersticas diversas, e a adaptabilidade necessria para os dados produzidos para funcionar dentro de grandes ambientes tecnolgicos. (traduo livre).

Referindo-se aos aspectos que permeiam a catalogao e a descrio bibliogrfica, na atualidade, o documento do RDA (2005) diz:A key element in the design of RDA is its alignment with the conceptual models for bibliographic and authority data developed by the International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA). The FRBR1 and FRAR2 models provide RDA with an underlying framework that has the scope needed to support comprehensive coverage of all types of content and media, the flexibility and extensibility needed to accommodate newly emerging resource characteristics, and the adaptability needed for the data produced to function within a wide range of technological environments. 32 Functional Requirements for Authority Records. Posteriormente alterado para Functional Requirements for Authority Data (FRAD).31

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As tecnologias digitais mudaram significativamente o ambiente em que bibliotecas, arquivos, museus e outras entidades que administram a informao, trabalham e mantm suas bases de dados, as quais descrevem e proporcionam o acesso a recursos que integram seus acervos. (traduo livre).33

A representao descritiva necessita, portanto, de uma forma de transmisso que integre os conceitos FRBR e FRAD, possibilite as interaes necessrias s buscas e explicite de forma clara e objetiva para corresponder s necessidades dos usurios no presenciais. O RDA visa atender a estas demandas. Portanto, fazem-se necessrias sua anlise e a verificao das possibilidades de alcance de seus objetivos. Importante considerar que estamos tratando de um assunto em processo de construo que, antes de ser concludo em 2009, passar por revises. As bibliotecas podero aplic-lo somente aps sua publicao oficial. O Joint Steering Committee for Revision of AACR alterou seu nome para Joint Steering Committee for Development of RDA, ao assumir a responsabilidade de criao de um esquema que substituisse o AACR2r.

5.1 Conceitos tericos

O RDA foi elaborado para ser flexvel, ou seja, ser aplicvel a qualquer ambiente informacional, seja ele digital ou convencional. Utilizou os conceitos dos FRBR e dos FRAD, conforme mencionado no incio desta seo. O texto sobre o RDA (2005) complementa:O foco maior do RDA dever ser o de fornecer diretrizes e instrues no registro de dados que espelhem atributos e relaes ligadas a entidades definidas nos 34 35 modelos do FRBR e FRAR (traduo livre).

Digital technologies have significantly changed the environment in which libraries, archives, museums, and other information management organizations build and maintain the databases that describe and provide access to resources in their collections. 34 Atual FRAD, conforme mencionado anteriormente. 35 The major focus of RDA will be on providing guidelines and instructions on recording data to effect attributes and relationships associated with the entities defined in the FRBR and FRAR models.

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Especificamente, de acordo com Tillett (2007), a finalidade do FRBR o apoio s funes[...] encontrar , identificar , selecionar , alcanar.

As funes do catalogo mencionadas nos Princpios de Paris, 2003, esto refletidas na meno de Tillett (2007) sobre o apoio dos FRBR ao RDA, conforme mencionado na seo 4.2. Os FRBR conceituam como entidades36: obra, expresso, manifestao e item, mencionados na figura 1 e confirmados por Moreno (2006, p. 35):As primeiras quatro entidades que pertencem ao primeiro grupo, compreendem entidades que so produto de trabalho intelectual ou artstico: obra, expresso, manifestao e item. De forma resumida, temos que: Obra uma entidade abstrata, uma criao intelectual ou artstica distinta. A entidade Expresso a realizao intelectual ou artstica especfica que assume uma obra ao ser realizada, excluindo-se a aspectos de alterao da forma fsica. Uma Manifestao a materializao de uma expresso de uma obra, ou seja, seu suporte fsico, que podem ser livros, peridicos, kits multimdia, filmes, etc., que representada pelo Item, um nico exemplar de uma manifestao. As duas ltimas entidades refletem a forma fsica, so entidades concretas, enquanto as duas primeiras refletem o contedo intelectual ou artstico. (grifo do autor).

A aplicao destas entidades ao RDA est esquematizada de forma detalhada, para cumprir o objetivo de minimizar ao mximo as possveis falhas de interpretao. O esquema elaborado como RDA-FRBR Mapping (2007) mostra, de forma clara, a correspondncia entre o RDA e FRBR. Sua traduo, na ntegra, merece um texto parte. Para este trabalho, traduzimos apenas os tpicos necessrios para a anlise de seu funcionamento. Em primeiro lugar, o esquema divide-se em cinco grandes reas (por ns nominadas desta forma), a saber:

Ao todo, so listadas dez entidades, dividas em trs grupos: Grupo 1 entidades que so produto de trabalho intelectual ou artstico, Grupo 2 entidades que so responsveis pelo contedo intelectual, guarda ou disseminao das entidades do primeiro grupo e Grupo 3 entidades que so ou podem ser assunto das entidades. (MORENO, 2006, p. 35.).

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a) identificao do recurso; b) descrio fsica/ forma de execuo-leitura; c) contedo; d) aquisio e acesso; e) recursos relacionados.

Estas cinco divises so compostas por elementos da descrio bibliogrfica. Como mencionado, foram traduzidas partes do mapeamento para a anlise. A seguir um exemplo de como est elaborada a rea Identificao do recurso no que se refere a: ttulo, indicao de responsabilidade e edio. Foram escolhidos por serem elementos utilizados com essa nomenclatura, a partir da implantao da ISBD e do AACR2, sendo de uso comum pelos catalogadores e bases de dados, oferecendo um fcil entendimento:

Mapeamento entre RDA e FRBR

Elemento do RDA

Entidade FRBR correpondente IDENTIFICAO DO RECURSO Titulo Manifestao Ttulo principal Manifestao Ttulo paralelo Manifestao Ttulo alternativo Manifestao Ttulo alternativo Manifestao paralelo Outras informaes Manifestao sobre o ttulo Outras informaes Manifestao sobre o ttulo paralelo Titulo varivel Manifestao ltimo ttulo Manifestao varivel Ttulo chave Manifestao Ttulo abreviado Manifestao Titulo dividido Manifestao

Atributo/ relacionamento FRBR correspondente Ttulo da manifestao Titulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao

Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao Ttulo da manifestao

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Indicao de responsabilidade Indicao de responsabilidade associada ao ttulo Indicao de responsabilidade paralela associada ao ttulo Indicao de responsabilidade associada a edio Indicao de responsabilidade paralela associada a edio Indicao de responsabilidade associada a uma reviso nominada de edio Indicao de responsabilidade paralela associada a uma reviso nominada de edio Indicao de responsabilidade associada a srie Indicao de responsabilidade paralela associada a srie Indicao de responsabilidade associada a subsrie Indicao de responsabilidade paralela associada a subsrie Indicao de edio Designao de indicao de edio

Manifestao Manifestao

Ttulo da manifestao Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao

Indicao de responsabilidade

Manifestao Manifestao

Indicao de edio/tiragem Indicao de edio/tiragem

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Designao de Manifestao indicao de edio paralela Designao de Manifestao indicao de reviso nominada de uma edio Designao de Manifestao indicao de reviso nominada de uma edio paralela