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3 CATOLICISMO NEGRO: PALCO DE DISPUTAS CULTURAIS NA SOCIEDADE MARIANENSE ENTRE 1770-1820 Bruno Roque Younes 1 RESUMO: Este artigo analisa aspectos do patrimônio histórico da cidade de Mariana alusivos à memória dos negros para, dessa forma, entender como a religião católica influenciou na formação da identidade afrodescendente no Brasil Colonial. A cidade de Mariana foi o berço da religião mineira, portanto, estudar os meios empregados para conversão utilizados pela Igreja Católica para cristianizar os negros é uma forma de entender o catolicismo negro, em específico, e por suas características próprias, a sociedade marianense. Delimitando ainda mais o universo pretendido, o estudo focalizará a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, pois ela é representativa da relação existente entre catolicismo e negros em Mariana. A metodologia empregada compreendeu a pesquisa documental, previamente mapeada, fundamentada na análise iconográfica de imagens presentes no interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, as quais são signos do catolicismo negro, mas pouco estudada em suas potencialidades. A pesquisa terá como recorte temporal o período compreendido entre 1770-1820, que datam o início da construção da Igreja e o término das obras. Assim, estudar a relação entre catolicismo e os negros no Brasil Colônia a partir da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos contribuirá para a revisão da história dos negros. Concomitantemente, pretende-se uma abordagem da função do patrimônio histórico para a construção da memória coletiva e social, no caso específico, dos homens e mulheres negros. PALAVRAS CHAVE: Catolicismo Negro; Mariana (MG); Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos; Sincretismo Religioso; Irmandades. BLACK CATHOLICISM: STAGE OF DISPUTES CULTURAL SOCIETY MARIANENSE BETWEEN 1770-1820 ABSTRACT: This article examines aspects of the historical city of Mariana alluding to the memory of the Negroes to understand how the Catholic religion influenced the identity formation of African descent in colonial Brazil. The city of Mariana was the cradle of religion mining therefore means employed to study the conversion used by the Catholic Church to Christianize blacks is a way to understand black Catholicism 1 Graduado em História pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, campus Engenheiro Coelho/SP, [email protected]

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CATOLICISMO NEGRO: PALCO DE DISPUTAS CULTURAIS NA SOCIEDADE

MARIANENSE ENTRE 1770-1820

Bruno Roque Younes1

RESUMO: Este artigo analisa aspectos do patrimônio histórico da cidade de Mariana alusivos à memória dos negros para, dessa forma, entender como a religião católica influenciou na formação da identidade afrodescendente no Brasil Colonial. A cidade de Mariana foi o berço da religião mineira, portanto, estudar os meios empregados para conversão utilizados pela Igreja Católica para cristianizar os negros é uma forma de entender o catolicismo negro, em específico, e por suas características próprias, a sociedade marianense. Delimitando ainda mais o universo pretendido, o estudo focalizará a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, pois ela é representativa da relação existente entre catolicismo e negros em Mariana. A metodologia empregada compreendeu a pesquisa documental, previamente mapeada, fundamentada na análise iconográfica de imagens presentes no interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, as quais são signos do catolicismo negro, mas pouco estudada em suas potencialidades. A pesquisa terá como recorte temporal o período compreendido entre 1770-1820, que datam o início da construção da Igreja e o término das obras. Assim, estudar a relação entre catolicismo e os negros no Brasil Colônia a partir da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos contribuirá para a revisão da história dos negros. Concomitantemente, pretende-se uma abordagem da função do patrimônio histórico para a construção da memória coletiva e social, no caso específico, dos homens e mulheres negros.

PALAVRAS – CHAVE: Catolicismo Negro; Mariana (MG); Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos; Sincretismo Religioso; Irmandades.

BLACK CATHOLICISM: STAGE OF DISPUTES CULTURAL SOCIETY MARIANENSE BETWEEN 1770-1820

ABSTRACT: This article examines aspects of the historical city of Mariana alluding to the memory of the Negroes to understand how the Catholic religion influenced the identity formation of African descent in colonial Brazil. The city of Mariana was the cradle of religion mining therefore means employed to study the conversion used by the Catholic Church to Christianize blacks is a way to understand black Catholicism

1 Graduado em História pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, campus Engenheiro

Coelho/SP, [email protected]

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in particular, and by its own features, the society of Mariana. Further delimiting the universe intended the study will focus on the Church of Our Lady of the Rosary of the Blacks, because it is representative of the relationship between Catholicism and blacks in Mariana. The methodology included the documentary research, previously mapped, based on the analysis of iconographic images present inside the Church of Our Lady of the Rosary of the Blacks, which are signs of Catholicism black, but little studied in its potential. The research will cut the time period 1770-1820, dating from the start of construction of the church and the end of the works. Therefore, studying the relationship between Catholicism and the blacks in colonial Brazil from the Church of Our Lady of the Rosary of the Blacks contributes to the revision of the history of blacks. Concurrently, we intend to approach the role of heritage for the construction of collective memory and social, in the specific case of black men and women.

KEYWORDS: Catholicism Negro, Mariana (MG), Church of Our Lady of the Rosary of the Blacks; Religious Syncretism; Brotherhoods.

Introdução

O presente artigo expõe uma reflexão crítica acerca dos instrumentos utilizados

pela Igreja Católica para a conversão dos negros escravos no período do Brasil

Colonial e o modo como eles reagiram a essa influência. O problema central que

motivou o estudo foi compreender: como a Igreja Católica usou o seu poder

eclesiástico para trazer à sua congregação o escravo-negro que acabara de chegar à

colônia portuguesa como devoto de suas manifestações religiosas, impondo assim,

uma nova religião e rejeitando a crença elementar do negro? Que instrumentos ela

utilizou nesse processo de catequização? E de que forma os negros reagiram a essa

aculturação? Quais foram os meios empregados por eles para evitar o esfacelamento

total de suas crenças e práticas religiosas?

Para desenvolver essa pesquisa foi tomado como objeto de análise a Igreja de

Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, patrimônio histórico da cidade de Mariana,

tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 19393.

O principal objetivo da pesquisa foi identificar no processo de formação da

irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e nas pinturas e imagens sacras

dos altares e do teto da igreja aspectos históricos e ideológicos do catolicismo negro

na cidade de Mariana.

3 Tombamento Federal: processo nº 075-T-38. Inscrições nº 265, Livro Belas Artes, vol. 1, f.46. Data

08/11/1939.

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Para tanto foi empregada uma metodologia de pesquisa histórica levantando

dados sobre as origens e o desenvolvimento de Minas Gerais e Mariana e sobre a

construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, e uma análise

hagiográfica e iconográfica das imagens do interior da Igreja. Para essa etapa foi

realizada uma visita à igreja em Mariana com a finalidade de fazer um detalhado

registro fotográfico. A pesquisa teve como recorte temporal o período compreendido

entre 1770-1820, que marcam o início da construção da Igreja e o término das obras.

Para um entendimento mais completo do tema em questão foi buscado o aporte

teórico de historiadores e outros pesquisadores sobre os temas da relação da igreja

com o estado, do sincretismo religioso e da formação de irmandades católicas.

Esse trabalho se justifica por sua possível contribuição para o conhecimento

das práticas de dominação utilizadas pela Igreja Católica para a conversão do negro

no fim do século XVII até a metade do século XVIII e por destacar os modos utilizados

pelos negros para impedir esse processo de perda de identidade, demonstrando sua

capacidade de mesmo em condições de forte opressão se organizar e preservar sua

cultura.

Inicialmente o artigo apresenta a Igreja como instrumento a serviço do Estado,

na sequência define o conceito de sincretismo religioso discutindo as peculiaridades

do sincretismo religioso no Brasil, mostrando as principais características da união dos

vários dogmas. Posteriormente é apresentado um breve contexto histórico da região

de Minas Gerais, destacando pontos importantes como a chegada dos europeus e

como estes se fixaram na região por interesse em buscar pedras preciosas utilizando

a mão de obra escrava, e a partir disso tornaram a localidade num grande centro

econômico da colônia no início do século XVIII, e como o Estado português e a Igreja

Católica se uniram para controlar a sociedade mineira, que se constituía pela maioria

de negros. A mesma abordagem histórica é dada para a cidade de Mariana, primeira

capital do Estado de Minas Gerais, mostrando as suas principais caraterísticas e como

esta foi reconhecida como sede do poder eclesiástico da Igreja Católica.

Em seguida apresentamos a formação das irmandades negras em Minas

Gerais do século XVIII, analisando como os escravos utilizaram estas associações

como forma de preservarem a sua cultura, demonstrando que eles também

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possuíam identidade própria, e como as irmandades influenciaram a vida destes

negros, desde a preservação cultural até sua morte.

Depois o artigo enfoca o objeto que está sendo utilizado como estudo de caso,

que é a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, fazendo o levantamento de sua

história, a caracterização de sua arquitetura interna e externa, e uma breve biografia

dos seus principais artistas – Francisco Servas e Mestre Ataíde. Posteriormente, estão

destacadas as hagiografias dos santos que se encontram no interior da Igreja, fazendo

um breve estudo da iconografia destes e das virtudes e valores que a Igreja Católica

transmitia através desses santos. E por fim, as considerações finais do trabalho,

retomam as questões trabalhadas na tentativa de solucionar o problema da pesquisa.

A Religião e o Estado em Michel de Certeau

A descoberta de outras religiões no Novo Mundo, na África e na Ásia no início

do século XVII causou grandes divisões no mundo religioso europeu. Com intuito de

restabelecer a unidade a Igreja Católica buscou na política um meio de congregar os

povos, colocando como principal premissa aos fiéis o “obedecer às leis e aos

costumes do país, guardando sempre a religião (...)”. Seguindo essa lógica, a Igreja

se voltou para uma “teologia moral” que hierarquizou as condutas segundo as

doutrinas religiosas (CERTEAU, 2011, p. 153 e 157).

O historiador Marco Aurélio (1999, p. 29), vai ao encontro de Certeau dizendo

que “a forma, o modo, o instrumento histórico conhecido pelo qual a Igreja estava

diretamente ligada ao Estado Português, denominava-se Padroado (...)”. Assim, é

importante frisar que a Igreja Católica não só se uniu ao Estado como “corporação”

(PEREIRA, 1999, p. 29), mas como instituição que iria controlar a sociedade colonial,

uma vez que as sublevações que poderiam haver eram de extrema preocupação tanto

da Igreja quanto do Estado, sendo que a maior parte dos habitantes era de negros

escravos.

Conforme Certeau (2011, p. 132) a religião, no século XVII, passa a ser dirigida

para o “terreno da prática”, levando os fiéis a uma crença na obediência que tem como

prerrogativas a “utilidade social” e a “defesa da ordem”. Essa tendência jesuíta tem o

objetivo de conduzir o cristão “nas leis de moralidade pública” e os costumes passam

a ser mais importantes que a fé. Nesse período, grandes

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campanhas missionárias, escolares e religiosas foram realizadas com finalidade de

evitar revoltas, criminalidade e feitiçarias. Uma das formas de controle que a Igreja

Católica utilizou na sociedade colonial foi o Santo Ofício, que era associado a um

“duplo caráter da instituição” que era a “hierarquia civil e eclesiástica”. “Desse modo

poderes espirituais e poderes políticos agiam conjuntamente sobre a sociedade,

policiando a mentalidade e o comportamento dos católicos da sociedade colonial

brasileira” (OLIVEIRA, 1999, p. 63).

Os governos europeus, por sua vez, tinham interesses na reordenação dos

países como empresas capitalistas e mercantilistas, mobilizando os pregadores num

“combate espiritual” a serviço do poder, reforçando a monarquia. A igreja foi então

uma forte aliada a serviço da ordem, concedendo ao Rei o privilégio de “ter Deus ao

lado” (CERTAU, 2011, p. 162). Nesse jogo de interesses de ambos os lados a Igreja

se aliou ao Estado. “As instituições políticas utilizam as instituições religiosas, infiltram

nelas seus critérios, dominam-nas com sua proteção, destinam-nas aos seus

objetivos”, com isso, a igreja cumpriu o papel de “teatro sagrado do sistema”

assegurando a moralidade pública. Exemplo dessa prática encontramos em Luís XIV,

que segundo Certeau (2011, p. 164), promoveu uma restauração da igreja, mas com

objetivo de obter a tranquilidade do seu governo e manter sua autoridade.

A tarefa da igreja era gerar uma “docilidade” diante do poder. Doações eram

feitas por particulares aos colégios e igrejas com a finalidade de converter mais fiéis

ao catolicismo e com isso manter a unidade nacional. A igreja revestia o rei de um

“direito divino” ao poder e de receber a obediência do povo. A educação religiosa

torna-se uma campanha contra a rebelião e de promoção das virtudes – a polidez, a

postura, a higiene, o rendimento escolar, a civilidade, os bons pensamentos

(CERTAU, 2011, p. 166-168). Com o intuito de difundir essa mensagem a igreja passa

a produzir literatura religiosa onde são apresentados os deveres dos príncipes, dos

senhores, dos soldados, dos artesãos, dos camponeses, dos domésticos, dos pobres,

etc. Essa hierarquização social reforçada pela igreja irá estabelecer a ordem e as

virtudes religiosas que deverão ser cultivadas, colocando, por exemplo: a obediência

para o doméstico e a justiça para o senhor (CERTEAU, 2011, p. 176-177).

Percebemos que no Brasil essa associação da Igreja com o Estado fica

evidente em todo o período colonial e monárquico. A igreja foi um eficaz instrumento

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de manipulação ideológica do povo em favor do governo português, assumindo em

muitos casos, o poder religioso e político na colônia. Desta forma, é possível visualizar

no processo de catequização dos escravos no Brasil, um forte discurso religioso de

dominação das práticas sociais, como reforço dos interesses de Portugal. Portanto, o

interesse da igreja não era somente converter o negro escravo, bem como a sua

salvação, mas a sua principal instância, estava na promoção da submissão deste à

sua condição de escravo, e para alcançar o seu intuito a igreja vai buscar no

sincretismo religioso um meio de mascarar seus propósitos e obter uma melhor

assimilação da religião pelo negro.

Sincretismo Religioso

O termo sincretismo foi definido pelo antropólogo Waldemar Valente como

sendo uma forma encontrada pelo homem de solucionar conflitos de natureza cultural

(VALENTE, 1977, p. 11). Para o religioso e autodidata Renato Henrique Guimarães

Dias (2009), a solução destes conflitos no quesito religioso se dá através da união de

vários dogmas dos diferentes grupos devotos. Dessa mistura cultural, surge o que o

Valente (1977, p. 11) define como “uma fisionomia cultural nova”, com vestígios em

maior ou menor proporção das culturas de origem.

Para Dias (2009), a origem das religiões sincréticas no Brasil está ligada

diretamente com a assimilação das práticas religiosas africanas pela Igreja Católica.

O autor afirma que a aculturação foi uma tentativa de imposição da cultura luso-

brasileira sobre os negros, e sempre encontrou resistência por parte destes.

O princípio do sincretismo religioso no Brasil remonta aos primeiros contatos

entre portugueses, índios e africanos bantos e sudaneses, com seus diferentes credos

(DIAS, 2009). Neste processo, predominou a imposição da doutrina da Igreja Católica

sobre as demais crenças, constituindo dessa forma, um desrespeito pela cultura

africana e indígena, que de acordo com Valente (1977) não pode se manter ilesa neste

novo ambiente.

As senzalas no Brasil Colonial eram uma representação exata desta “mistura

cultural”, uma vez que, ao chegarem ao Novo Mundo, os negros eram colocados com

escravos de origens diferentes, a fim de evitar as revoltas, pois desta forma “eles

teriam problemas de comunicação e, muitas vezes, eram de tribos rivais” (RIBEIRO,

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2012, p. 4).

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A escravidão foi um período de extrema mudança na vida social, econômica e

principalmente religiosa dos negros. Ao chegarem ao Brasil pelo tráfico negreiro eles

eram trazidos presos a correntes, mostrando dessa forma, a sua submissão ao

homem português, àquele que tinha o poder de colonização. Ao desembarcarem no

Brasil, recebiam novos nomes e eram introduzidos na religião professada pelos

portugueses, no caso a Católica. Porém, mesmo em meio a tanta violência, os

africanos não abandonaram de todo suas raízes, principalmente no que tange a

religião:

Muitos traços culturais dos negros se conservaram no Brasil e se integraram à cultura brasileira. Não obstante a situação de escravos em que se encontravam. Deslocados violentamente do seu ambiente nativo. Afastados do seu familiar e social. Mutilados nas manifestações próprias de suas culturas. A sua resistência cultural mostrou-se particularmente notável no modo de preservar as religiões. Certamente porque é a religião uma manifestação de cultura espiritual. Manifestação de vida espiritual persistente e capaz de resistir, mais que qualquer outra, à obra de esfacelamento e dissolução imposta por vezes pelos conflitos de culturas (VALENTE, 1977, p. 8-9).

A ideologia pregada pelos portugueses aos seus escravos era de que quem

aceitasse a escravidão como meio de sobrevivência na sociedade, seria

recompensado no paraíso (PEREGALLI, 1988, p.21). O escravo por sua vez, aceitou

aparentemente essa conversão forçada, mas passou a infiltrar lentamente na religião

católica suas crenças e práticas religiosas, tornando-se o sincretismo uma via de mão

dupla:

O processo de sincretismo religioso pode ser analisado como um fenômeno ambíguo. Ao mesmo tempo em que servia aos negros para a manutenção dissimulada de seus costumes – através da representação de seus deuses em outra roupagem – também se imiscuía no pensamento do escravo, predispondo-o para aceitar os santos católicos (MANTOVANELLO, 2006, p. 30).

Considera-se então que, “o sincretismo religioso no Brasil foi um processo

complexo e único no mundo.” (RIBEIRO, 2012, p. 25) O contato com o português

impôs ao africano uma nova cultura, que renegava ao inferno e a morte a sua religião

e que se revestia da obrigação de salvá-los da perdição. Percebemos, no entanto que

o sincretismo era a forma adotada pela igreja para dominá-lo, tornando-

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o submisso e subordinado a sua nova condição social. Porém, o sincretismo não

conseguiu apagar os vestígios da cultura negra. Os escravos aproveitaram as brechas

que lhe eram permitidas para gradativamente ir recuperando suas forças e com isso

retomarem sua herança.

Minas Gerais e Mariana

A região de Minas Gerais até o século XVI era ocupada por índios, quando

então passou ser desbravada por europeus em busca de pedras preciosas e do ouro,

dando início ao povoamento constituído de brancos, pardos e negros oriundos “das

cidades, vilas, fazendas e florestas do Brasil.” (LOCKHART; SCHWARTZ, 2002, p.

426).

Esses bandeirantes descobriam as minas e passaram a explorá-las tornando a

localidade num grande centro econômico da colônia no início do século XVIII. Sobre

o povoamento de Minas é nos dito que:

[...] havia dois grandes movimentos populacionais para as zonas mineiras: uma imigração europeia voluntária vinda do litoral e, principalmente, do norte de Portugal, e uma imigração negra forçada vinda do litoral e da África, principalmente do Golfo do Benin (atuais Gana e Nigéria). Em 1775, Minas Gerais tinha 300.00 habitantes, ou 20% da população do Brasil, metade deles escravos. A descoberta de ouro mudou a configuração econômica e demográfica do Brasil (LOCKHART; SCHWARTZ, 2002, p. 428).

Para que a mineração progredisse era necessária muita mão de obra tornando

o escravo uma mercadoria de grande valor comercial. A posse de escravos era o

principal fator de diferenciação na sociedade de Minas do século XVIII, aquele que

tivesse escravos era considerado rico. (PEREIRA, 1999, p. 14)

Nessa nova capitania a participação dos escravos, africanos e crioulos era

extremamente ampla, muitas vezes maior do que a de brancos, com isso, havia o

medo de sublevações “fazendo de Minas um barril de pólvora” (SOUZA, 1999, p. 88).

Assim, na sociedade mineira, considerada agitada para aquele século, fazia-se

necessário uma ideologia domadora para que o poder do Estado português fosse

considerado forte. (PEREIRA, 1999, p. 6).

Para controlar a região foram enviadas as forças administrativas da Igreja

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Católica no século XVIII. Esse mandato superior evidência as características de uma

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sociedade extremamente comandada pela Igreja, predominantemente católica e

escravocrata. (PEREIRA, 1999, p. 6)

Contudo, o metal mais precioso – o ouro, começou a declinar por volta de 1760,

isto fez com que a Metrópole – Portugal, criasse meios mais rígidos de cobrar os

impostos. “Quando isso aconteceu, a sociedade de Minas adaptou-se à mudança. A

agricultura de subsistência ganhou importância e a população mudou- se dos antigos

centros mineiros em busca de novas formas de ganhar a vida” (LOCKHART;

SCHWARTZ, 2002, p. 432).

A cidade de Mariana foi a primeira vila, cidade e capital do estado de Minas

Gerais. Seu primeiro povoado foi formado na região no século XVII. Em abril de 1711

foi fundada com o nome de Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo e nela se

estabeleceu a capital da capitania de São Paulo e Minas de Ouro. Em abril de 1745

foi elevada a categoria de cidade, com o nome de Mariana, em homenagem a esposa

de D. João V, Maria Ana da Austria, e no mesmo ano o Papa Bento XIV a tornou sede

do primeiro bispado de Minas Gerais, vindo o bispo D. Frei Manoel da Cruz, do

Maranhão, para tomar posse na Sé Catedral, em 1748.

A história de Mariana é marcada pela exploração da atividade mineradora e

pela intensa atividade cultural e religiosa. Mas com a decadência na extração do ouro,

a cidade foi perdendo sua importância econômica, até que em 1823, Ouro Preto passa

a ser a capital da Capitania de Minas Gerais.

Formação das Irmandades Negras – Minas Gerais (Século XVIII)

Quando analisamos a vida dos negros trazidos ao Brasil, devemos entender

que estes, buscavam através das irmandades negras ou conhecidas também como

irmandades afrodescendentes, uma maneira de mostrar ao senhor a sua importância,

e principalmente, que também faziam parte da sociedade. No entanto, esta busca,

muitas vezes era sufocada pelos próprios senhores de engenhos, uma vez que as

atitudes dos negros não passavam despercebidas diante do seu senhor. Segundo

Cruz (2006, p. 3), “as irmandades negras representavam na história cultural do Brasil

uma expressão de prática religiosa/cultural das populações africanas, no qual

subexistem certos costumes herdados pelo passado africano”.

Dados históricos nos revelam que as primeiras irmandades constituídas na

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sociedade mineira que foram denominadas “Irmandade de Nossa Senhora do

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Rosário dos Homens Pretos” de Vila do Serro (hoje Serro), 1704 e de Vila Rica (atual

Ouro Preto), 1711. (SILVA, 2010, p. 20). Muitos estudos que partiram do pressuposto

das confrarias religiosas, afirmam que estas instituições tiveram grande participação

no passado, contribuindo dessa maneira para inserção do africano na sociedade

colonial. Segundo Silva,

[...] De acordo com a literatura existente, podemos afirmar que a característica eclética e plural, historicamente apresentada pelo Catolicismo, foi um elemento que favoreceu, de modo significativo, o estabelecimento das irmandades religiosas negras em território mineiro. (SILVA, 2010, p. 20).

As primeiras irmandades fundadas no século XVIII tiveram como sede as

primeiras capelas. O historiador Caio César Boschi, acrescenta “que as confrarias

religiosas encontravam-se presentes e atuantes, em território mineiro, muito antes do

aparecimento dos primeiros arraiais e vilas” (BOSCHI, 1986, p. 23 apud SILVA, 2010,

p. 21). Essas irmandades tinham como característica principal as “agremiações

fundadas” por leigos da sociedade para propiciar maior liberdade em relação ao poder

da Igreja Católica.

Segundo a antropóloga Teresa Cristina as irmandades, “podiam reunir

membros de diferentes origens sociais, estabelecendo solidariedades verticais, mas

também servir como associações de classe, profissão, nacionalidade e “cor””. Como

objetivo principal, as irmandades:

[...] Organizavam-se para incentivar a devoção a um santo protetor e para fins beneficentes destinados aos seus irmãos, que se comprometiam com uma efetiva participação nas atividades da irmandade. Esses fins beneficentes, tais como auxílio na doença, na invalidez e na morte, variavam de acordo com os recursos da irmandade, diretamente proporcionais às posses de seus membros (CRUZ, 2006, p. 4).

O sociólogo Rubens vai ao encontro da antropóloga acima citada, afirmando

que essas irmandades acabavam muitas vezes por assumir a responsabilidade dos

senhores de escravos, um exemplo marcante é o caso dos enterros e auxílios nas

doenças. Em suas palavras Rubens descreve que:

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[...] É preciso pensar que, devido às condições de existência na sociedade colonial, muitos membros destas confrarias – independentemente de serem forros ou cativos -, se não fosse a solidariedade dos “irmãos”, certamente viveriam à mingua, abandonados e entregues à própria sorte (SILVA, 2010, p. 23).

Outro papel que podemos destacar das irmandades negras na sociedade

colonial é na ajuda da compra de “Cartas de Alforrias” daqueles membros que ainda

se encontravam na condição de escravo e com isso:

[...] possibilitavam que o capital gerado pelo trabalho do próprio escravo e acumulado, com sacrifício por esse, circulasse internamente sem nunca escapar às mãos das elites dominantes (SILVA, 2010, p. 23).

Portanto, podemos afirmar que as irmandades eram uma forma de organização

política, econômica e social dos negros, que extrapolava seu caráter religioso. As

irmandades proviam um meio de resistência dos africanos diante da dominação e da

inferioridade que os senhores impunham aos escravos.

As irmandades eram tidas como uma família, onde os africanos que foram

retirados de seus países podiam encontrar um local de preservação de sua identidade

e abrigo cultural. Dessa forma:

A irmandade, em torno das festas, assembleias, eleições, funerais, missas e da assistência mútua, construíram identidades sociais significativas, no interior de um mundo às vezes sufocante e sempre incerto. As irmandades de cor representavam um meio onde homens e mulheres, oprimidos pela sociedade hierarquizada, conseguiam se sentir um pouco mais livres, construindo um mundo paralelo ao da sociedade escravista (CRUZ, 2006, p. 7).

Um dos principais motivos de se associar a uma irmandade era a preocupação

com o momento da morte. A prática de enterrar os mortos dentro das igrejas era tida

como um costume, uma vez que isso era considerado “uma das portas de entrada do

Paraíso” (CRUZ, 2006, p. 10). Os negros que se associavam as irmandades

desejavam um enterro digno.

Da cultura africana trazida da África, as irmandades tinham ocasiões de festas

africanas para a coroação de Reis e Rainhas dos Congos, eles eram eleitos

anualmente pelos devotos da comunidade.

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A coroação ocorria no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, Rei e Rainha do Congo representavam um sistema de governo africano na medida em que possuíam autoridade sobre seus ‘súditos’ e preservavam aspectos culturais e sociais da África, contribuindo para a integração e solidariedade dos negros no Brasil (QUINTÃO, 2000, p. 166 apud CRUZ, 2006, p. 9).

A elite da sociedade buscava participar dessas irmandades negras com o intuito

de controlar os seus escravos, contudo, talvez muitos deles tinham como objetivo real

a devoção. Eles acreditavam que, ao participar dessas confrarias, eles teriam as suas

almas salvas. Os pretos os aceitavam por diversas razões: para cuidar dos livros,

sendo que eram analfabetos e principalmente, para receberem grandes quantias de

dinheiro como doações generosas, uma vez que não possuíam dinheiro e tinham

dificuldade em manter as irmandades, e também existia a obrigação de deixar que o

seu senhor participasse da irmandade.

As irmandades (Confrarias e Ordem Terceiras) na sociedade mineira tiveram

um grande papel em sua formação colonial. Compunham um espaço de interatividade

na vida religiosa e social dos devotos no decorrer do século XVIII, formando dessa

forma identidades individuais e coletivas.

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

“Em Mariana, grande parte da arquitetura colonial religiosa ainda preservada

provém de iniciativas das diversas irmandades que ali existiram”.4 A Igreja Nossa

Senhora do Rosário dos Pretos teve sua pedra fundamental lançada no dia 14 de Maio

de 1752, em solenidade presidida pelo Dom Frei Manuel da Cruz, “cuja construção se

deve às Irmandades do Rosário, São Benedito e de Santa Efigênia” (TRINDADE,

1945, p. 193). Após o lançamento da pedra fundamental da Igreja, quatro anos mais

tarde, o construtor José Pereira dos Santos, finalizou as obras. “A bênção da igreja

ocorreu a 21 de dezembro de 1758, o que significa que estava apta para o culto”. 5

4Disponível em:

<http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/d. php?id=820>. Acesso em: 18 de Set. 2013. 5 Disponível em: <http://www.iphan.gov.br/ans. et/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1336>.

Acesso: 10 de Set. 2013.

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“Trata-se de edificação representativa, pelas características do material e pelos novos recursos construtivos adotados em Minas em meados do Século XVIII. Sua construção, de pedra e cal, apresenta massa de esboçamento e reboco balanceada [...] firmado pelo próprio construtor, o que vem indicar, já àquela época, a preocupação de valorizar o emprego de certos materiais básicos de produção local. O frontispício apresenta pilastras e cunhais de cantaria, sendo janelas inferiores em retângulos de madeira. [...] as torres foram inseridas de forma inadequada, em razão, talvez, de equivoco no risco executado por José Pereira dos Santos, apresentando-se em desconformidade com o corpo da Igreja, não em tamanho como em resistência [...]”. (CALDEIRA; LARA, 2006, p. 45).

As Igrejas Católicas tem como grande característica a exuberância de seus

altares e de seus santos esculpidos. A Igreja Nossa Senhora do Rosário não foge a

esta herança arquitetônica. Quando se entra no templo pode-se ver uma grande

riqueza em estilo Rococó6 nos altares e retábulos e também nas diversas imagens

esculpidas dos santos patronos desta irmandade, como por exemplo, as três principais

que deram origem a esta igreja: Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São

Benedito.

A decoração interna da Igreja foi desenvolvida por dois grandes artistas,

Francisco Vieira Servas e Manoel da Costa Ataíde. Servas foi responsável pelas obras

de talha do altar-mor, iniciadas em 21 de Janeiro de 1770 e concluídas em 5 de Março

de 1775. Nascido em Freguesia de Sam Paio de Eira Vedra em Portugal no ano de

1720, Servas ficou conhecido por seus altares, retábulos e estátuas nas igrejas de

Minas Gerais entre os anos de 1750-79.7 As obras de Servas produzidas no Brasil,

principalmente em solo mineiro, embora sejam do período rococó, se enquadram às

formas caracterizadas pelo estilo joanino. Faleceu no dia 17 de Julho de 1811 e foi

sepultado na capela de Sam Domingos da Prata do Arco, em Portugal8.

O segundo personagem é Manoel da Costa Ataíde, conhecido também como

“Mestre Ataíde”, nascido na cidade de Mariana no ano de 1762. Destacou-se na

pintura ilusionista perspectiva, que se caracteriza por revelar ao público a imersão

6 O Rococó é um estilo artístico que se desenvolveu no sul da Alemanha e Áustria e principalmente na

França, a partir de 1715. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default. aspx?codigo=290>. Acesso: 10 de Setembro 2013. 7 Disponível em: <http://brasilartesenciclopedias.com.br/tablet/nacional/servas_francis. php>. Acesso

em 18 de Set. 2013. 8

Disponível em: <http://www.grupooficinaderestauro.com.br/publicacoes/francisco-vieira-servas-o- grande-artista-portugues-do-barroco-mineiro.html>. Acesso em 18 de Set. 2013.

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aos espaços celestes, técnica esta concebida pelo arquiteto-pintor Andrea Pozzo

(1642-1709). Nunca se casou, mas teve quatro filhos que foram utilizados para

representar os anjos em suas pinturas. Estudiosos da arte afirmam que os anjos

representados em suas pinturas de estilo rococó apresentam características físicas

da mestiçagem brasileira. Mestre Ataíde faleceu em 2 de Fevereiro de 1830.9 Na Igreja

de Nossa Senhora do Rosário foi responsável pelas imagens dos santos e pela pintura

do teto. Entre os anos de 1824 e 1826, Mestre Ataíde também executou a pintura e o

douramento dos retábulos de madeira.

Quando se fala sobre a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, deve-se

também fazer menção da riqueza de seus detalhes, como por exemplo, nesta igreja

podem-se encontrar características iconográficas de extrema importância em seu

interior:

“[...] o corpo da Igreja é percorrido por balaustrada de jacarandá, a qual se tem acesso pelo átrio vedado por um tapa-vento de madeira, comum nas igrejas de taipa. Os altares são compostos por trabalhos de talha e pintura menos rebuscados, executados de forma mais livre ou evoluída. As colunas do altar-mor, duas de cada lado, são simples e apresentam caneluras verticais frisadas com ouro e socos em forma de consolos. O trono é ladeado de duas colunas no mesmo estilo. Já nos altares laterais as colunas se diferem, sendo talhadas em forma de S, com capitéis e retângulos. Tanto no altar-mor, como nos laterais, o ouro é parcimoniosamente distribuído, cedendo lugar à predominância do branco em toda a decoração, o que vem conferir suavidade ao conjunto. [...] O Quadro central é sustentado por quatro colunas cilíndricas e quatro quadradas com consolos, pedestais, concheados e enrolados sobre os entablamentos, que se erguem das paredes laterais da capela-mor. Ao centro das paredes laterais correspondem dois balcões ornados em concheados, à feição de vasos de flores, sem exibir púlpitos nos cantos” (CALDEIRA; LARA, 2006, p. 45).

A construção da igreja desde o lançamento de sua pedra no ano de 1752 até o

douramento de suas talhas em 1826 se passaram 74 anos, tempo que foi necessário

para finalização das obras da Igreja.

9 Disponível em: <http://bndigital.bn.br/redememoria/mestreathayde.html>. Acesso em 18 de Set.

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2013.

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Hagiografia

A Igreja Católica no Brasil Colonial utilizou vários métodos para trazer o negro

escravo à sua devoção, um deles foi o uso de santos negros. A ideia que se tinha era

que ao ver um santo negro na igreja o escravo sentiria como se estivesse em sua terra

natal e com suas próprias crenças. “A promoção de santos negros, foi neste contexto,

um elemento das estratégias da Igreja para a catequese” (OLIVEIRA, 2008, p. 89).

Segundo Anderson,

“A catequese dos negros no Brasil colonial sempre foi entendida, pela nossa historiografia, como uma atividade superficial dos agentes evangelizadores no intuito de o integrar e submeter [...] é quase sempre apreciada como instrumento de incorporação dos cativos à vida da família patriarcal dos engenhos e fazendas. Quanto ao “catolicismo negro”, é muitas vezes visto como uma simples dissimulação para a prática das religiões africanas” (OLIVEIRA, 2008, p. 14).

O termo Hagiografia segundo o historiador Michel de Certeau “é um gênero

literário que, no século XII, chamava-se também da hagiologia ou hagiológica”

(CERTEAU, 2011, p. 289). O surgimento da hagiografia deu-se a partir dos

calendários litúrgicos e comemorações a favor dos mártires. Ela se interessava mais

pela temática da morte do que pela vida. Sobre as primeiras “biografias” dos santos,

“[...] são críticas, menos numerosas, e tratam de santos mais antigos, quer dizer, são ao mesmo tempo relativas a uma pureza primitiva do verdadeiro e a um privilégio elitista do saber. As segundas [...] populares, são muito difundidas e consagradas a contemporâneos mortos “em odor de santidade” [...]” (CERTEAU, 2011, p. 292).

Na hagiografia o mártir é a figura dominante, depois vêm os confessores,

seguidos dos homens virtuosos, das mulheres e por fim das crianças. O santo

geralmente tem uma origem nobre, pois é nela que lhe é dada uma vocação,

permanecendo ele fiel ao seu chamado. Na hagiografia sempre são destacados um

tempo de provações (combates solitários) e um tempo de glorificações (milagres

públicos) na vida do santo, sendo esta uma combinação de virtudes e milagres

(CERTAU, 2011, p. 293, 297 e 298).

Para Oliveira (2008, p. 96), “o santo exemplar era aquele que se destacava

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pelas suas obras e por sua devoção”. A trajetória de vida de um santo se dá pelo

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vínculo com alguma comunidade, ou seja, donde ele se origina. A imagem do santo

surgirá de uma comunidade ou igreja, que terá por objetivo associá-lo “a uma imagem

ou lugar” (CERTEAU, 2011, p. 292).

“[...] Um produtor (mártir, santo patrono, fundador de uma Abadia, fundador de uma Ordem ou de uma igreja etc.) é referido a um sítio (o túmulo, a igreja, o mosteiro etc.), que assim se torna uma fundação, o produto e o signo de um advento [...]” (CERTEAU, 2011, p. 292).

A hagiografia desde o seu surgimento nas comunidades cristãs foi uma forma

de agregar devotos, demonstrando que, “(...) A vida dos santos traz à comunidade um

elemento festivo. Ela se situa do lado do descanso e do lazer. Corresponde a um

“tempo livre”, lugar posto à parte, abertura “espiritual” e contemplativa (...)”

(CERTEAU, 2011, p. 294). Para constituir a imagem de um santo,

“[...] efetua-se a partir de elementos semânticos. Desta maneira, para indicar no herói a fonte divina de sua ação e da heroicidade de suas virtudes, a vida de santo, frequentemente, lhe dá origem nobre, o sangue é a metáfora da graça. Daí a necessidade das genealogias [...]” (CERTEAU, 2011, 297).

Consideramos, portanto, que a vida dos santos negros foi um meio criado pela

Igreja Católica como forma de atrair os escravos à sua devoção, para que dessa

maneira pudesse aumentar o número de membros e assim controlar mais a

população. Ao perceber que a utilização de santos negros para a catequese dos

escravos era um caminho frutificante, a instituição fez com que os seus religiosos se

dedicassem à “produção de narrativas hagiográficas”, dessa forma, este instrumento

seria dinâmico para a “conquista de novas almas para a cristandade ocidental”

(OLIVEIRA, 2008, p. 99). A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos não foi

construída com propósito diferente das igrejas medievais, a constituição desta

irmandade se deu para a devoção dos negros.

Os Santos da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Os santos no interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos estão

presentes no Altar-Mor, nos dois Retábulos Colaterais e na pintura do teto do Altar-

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Mor. No Altar-Mor estão às imagens de Nossa Senhora do Rosário e do Cristo da

Ressurreição. No retábulo esquerdo está a imagem de Santa Efigênia e no direito São

Benedito. Os altares e retábulos de madeira policromada são atribuídos a Francisco

Vieira Servas que empregou as técnicas de recorte, entalhe, escultura, policromia e

douramento. A pintura do teto da igreja restringe-se ao Altar-Mor e é atribuída ao

mestre Ataíde, com a técnica de pintura à têmpera sobre madeira.

A imagem de Nossa Senhora do Rosário está na parte mais elevada do altar-

mor, a Virgem é representada com o menino Jesus ao colo, o terço nas mãos e sob

os seus pés nuvens carregadas de anjos. No Brasil a devoção ao Santo Rosário foi

trazida pelos missionários e se espalhou rapidamente, principalmente entre os negros,

que encontravam no rosário as orações mais simples como o Pai-Nosso e a Ave-

Maria. Os negros colocavam o rosário em torno do seu pescoço e depois de um longo

dia de trabalho voltavam para as suas senzalas e faziam suas preces. O símbolo do

terço girava em torno daqueles que não sabiam ler ou escrever, mas mesmo assim

tinham acesso ao conhecimento religioso.

Abaixo da imagem de Nossa Senhora do Rosário está a escultura do Cristo da

Ressurreição, caracterizada por um manto vermelho e uma cruz em sua mão

esquerda, semelhantemente a virgem está com anjos aos pés. O Altar-Mor é o

símbolo máximo do sagrado para os devotos. É para ele que convergem todos os

gestos litúrgicos e para onde o fiel deve direcionar suas preces, pois é onde se

encontra a divindade. Ao destacar Nossa Senhora do Rosário e Cristo, a Igreja

Católica indicava sua superioridade aos negros, mostrando o caminho da salvação.

No teto acima do Altar-Mor encontra-se uma pintura da Virgem com as mãos

juntas, olhando para o céu, com os pés sobre as nuvens carregadas por anjos. As

figuras que são representadas têm características do próprio mestre Ataíde, feições

mulatas, narizes largos e olhos grandes, que remetem ao biótipo africano.

[...] Esta, é representada de braços abertos, entre nuvens brancas, sob o céu amarelo com raios brancos. Nessa representação, Ataíde reproduz as cores habituais do planejamento: manto azul mostrando nos braços a blusa vermelha e em torno da cabeça, esvoaçante pano amarelo. Os querubins apresentam-se com asas vermelhas ou azuis [...] (CALDEIRA; LARA, 2006, p. 45).

“A invocação de Nossa Senhora da Assunção está ligada ao dogma de fé da Igreja Católica que afirma que a virgem subiu ao céu de

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corpo e alma, ressuscitando gloriosamente sem ter sofrido qualquer corrupção. [...]” 10.

No Retábulo esquerdo se encontra Santa Efigênia:

“[...] a santa é representada como uma jovem negra, vestida de freira, algumas vezes com escapulário sobre o hábito e um véu longo que lhe cobre da cabeça aos pés. Aparece também segurando uma cruz, símbolo do cristianismo, e uma igreja com a base em chamas, que simboliza o convento fundado por ela e incendiado por Hirtaco por vingança, mas que resistiu à destruição pela força de suas orações” 11.

Santa Efigênia se tornou uma das imagens com maior devoção por parte dos

negros, uma vez que ela também era negra e por ser fiel aos ensinamentos cristãos.

Finalmente no retábulo esquerdo, podemos encontrar São Benedito:

“[...] é representado como jovem negro vestindo hábito franciscano, franzido à cintura pelo cordão da Ordem. Seus atributos são uma toalha ou pano de prato numa das mãos, um avental com flores, o crucifixo e um coração inflamado, do qual pingam sete gotas de sangue, simbolizando as sete virtudes. Pode ser representado carregando o menino Jesus e trazer um ramo de flores nas mãos” 12.

A devoção ao Santo Benedito no Brasil se deu por volta do século XIX,

particularmente entre as negras escravas, devido à sua ascendência africana e por

sua devoção aos ensinamentos da Igreja Católica. Este é invocado juntamente com

Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, por serem protetores dos negros. Seu

dia no calendário litúrgico é comemorado na data 13 de Maio, que faz menção à

Abolição da Escravatura, ou também juntamente na data que se comemora o dia de

Nossa Senhora do Rosário, em Outubro.

Durante a Idade Média, a Igreja Católica utilizou vários meios para fazer com

que os devotos acreditassem nos santos e para justificar o modo como os escolhia,

destacando principalmente o exemplo de vida deles. Vários dos hagiógrafos cristãos

10 Disponível em:

<http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/d.php?id=918>. Acesso em 18 de Set. 2013. 11

Disponível em:

<http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/d.php?id=928>. Acesso em 18 de Set. 2013. 12

Disponível em: <http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/d.hp?id=930>.

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Acesso em 18 de Set. 2013.

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desdobraram-se em seu ofício para convencer os fiéis das virtudes dos santos da

Igreja, destacando a vida “ascética e devota” do religioso (VAUCHEZ, 1988, p. 584-

591; LE GOFF, 1996, p. 745-746 apud SILVA, 2010, p. 117). O principal interesse da

igreja era reforçar o papel positivo que a vida dos santos deveria influenciar nos

crentes.

“As virtudes deveriam estar presentes na vida do santo desde a infância”

(OLIVEIRA, 2010, p. 117). Um sinal do comportamento virtuoso era de que desde a

primeira idade o santo se comportava como um adulto. As sete virtudes destacadas

pela igreja eram de caráter moral: Humildade, Liberalidade, Castidade, Paciência,

Temperança, Caridade e Diligência. Dentre elas, a humildade, era uma das mais

importantes virtudes que um santo deveria possuir. Como exemplo, podemos citar

São Benedito, santo negro que se destacava por possuir três virtudes principais: Fé,

Esperança e Caridade13, qualquer lugar que ia levava estas três consigo. Vindo de

uma família de escravos da Etiópia, São Benedito se acostumou com a pobreza, e

passava isso adiante para os seus seguidores, e sempre comia pouco, dormia poucas

horas, no chão duro e vestia-se pobremente.

Entendemos que a hagiografia de São Benedito era o exato perfil esperado do

negro escravo, alguém que deveria se acostumar com as agruras da vida, sem

contudo manifestar desgosto ou irritação. A vida de privações de São Benedito deveria

servir de exemplo para os escravos, pois passar por dissabores na vida terrestre

contribuía para a formação de um caráter mais elevado e agradável a Deus.

A essência da humildade deveria acompanhar a vida toda de um santo, o

desprezo pelas coisas mundanas era necessário para uma vida como a de Jesus.

Assim, a primeira virtude, que é a humildade, associava-se a da liberalidade. Na

hagiografia de Santa Efigênia percebemos isso claramente, uma pessoa advinda de

uma família de nobres, optou pela humildade como modo de viver, esta virtude pode

ser associada à submissão que o negro escravo deveria ter perante o seu senhor,

permanecendo servil e aceitando sua condição estava desenvolvendo uma vida

religiosa distinta.

Portanto, percebemos que as virtudes morais pregadas pela Igreja Católica

desde a Idade Média eram ressaltadas na vida dos santos. Assim, dentro do

13 Disponível em: <http://www.conisb.com.br/saobenedito.php>. Acesso em 16 de Out. 2013.

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entendimento da igreja, a catequese seria necessária, porque através do exemplo de

vida dos santos, as virtudes poderiam ser transmitidas para os fiéis. Foi esse método

que ela utilizou com os negros, na tentativa de combater hábitos condenáveis pela

igreja e que podiam gerar desordens sociais indesejadas, criando de tal modo, um

perfil de devoto, que deveria seguir principalmente a virtude da humildade como era

visto na vida dos santos que cultuavam.

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Considerações Finais

A intenção deste estudo foi compreender quais os métodos utilizados pela

Igreja Católica para a conversão do negro, buscando, detalhadamente, trabalhar as

fontes históricas que subsidiam este tema, embora não existam muitas pesquisas que

envolvam a abordagem feita, o que fez com que fosse necessário uma pesquisa mais

ampla, utilizando outras áreas das Ciências Humanas, para trazer um conhecimento

mais aprofundado sobre o assunto.

A partir da pesquisa realizada sobre os instrumentos utilizados pela igreja para

a conversão do negro-escravo, consideramos que uma das formas de manifestação

do sincretismo religioso foi no uso da hagiografia. Através de santos negros a Igreja

incentivou o negro a desenvolver o perfil que ela desejava, fazendo com que existisse

uma relação entre a história e a sua cultura. Podemos perceber que isso estava ligado

aos valores que o Estado almejava, como por exemplo, a submissão, os bons hábitos

e principalmente a ordem, sendo que, o bom comportamento do indivíduo escravo era

exigido na sociedade mineira e a Igreja ajudava o Estado nesse processo de

conformação social.

Foi possível considerar também outro fator importante, a formação das

irmandades como o método criado pelos negros-escravos para não perder as suas

raízes, reforçar sua identidade e se organizar socialmente. A partir da constituição

destas instituições percebemos que o negro queria mostrar ao seu senhor que ele

também era indivíduo da sociedade. As irmandades também tinham função de não

somente preservar a cultura do negro a partir de seus rituais ou festas, mas como

também, ajudá-lo em suas necessidades quando precisasse.

Desta forma, as conclusões que este estudo apresenta são importantes para a

compreensão desse momento da história brasileira, em especial da sociedade

marianense. O catolicismo entre os negros foi um palco para disputas muito mais

amplas do que a religião em si, o que estava em jogo eram as relações de poder,

dominação e de expressão cultural. Nessa luta, Igreja e escravos lutaram com suas

armas, ganharam batalhas e fizeram concessões, porém passados duzentos anos é

possível perceber em nossa sociedade atual que os negros conseguiram preservar

muito da sua cultura e influenciar toda uma nação com uma importante contribuição

econômica, política e cultural.

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GOVERNO DE MINAS GERAIS. História de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.mg.gov.br/governomg/portal/m/governomg/conheca-minas/5657- historia/5146/5044>. Acesso em 19 ago. 2013.

PORTAL DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO. BENS INVENTARIADOS. Disponível em: <http://www.portaldopatrimoniocultural.com.br/site/bensinventariados/detalhe_bmi.ph p?id=925>. Acesso: 10 de Setembro 2013.

REDE DA MEMÓRIA VIRTUAL BRASILEIRA. Mestre Athayde. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/redememoria/mestreathayde.html>. Acesso em 18 de Set. 2013.

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ANEXOS

Figura 1 – Fachada da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos – Mariana (MG)

Fonte: Foto dos autores, 2012.

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Figura 2 – Imagem de Santa Efigênia (Retábulo Esquerdo)

Fonte: Foto dos autores, 2012.

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Figura 3 – Imagem de São Benedito (Retábulo Direito)

Fonte: Foto dos autores, 2012.

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Figura 4 – Imagem do Teto (Altar-Mor)

Fonte: Foto dos autores, 2012.

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Figura 5 – Imagem do Altar-Mor

(Ao centro: Nossa Senhora do Rosário e Cristo da Ressurreição)

Fonte: Foto dos autores, 2012.

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Ata da Igreja (Cópia)