Cavalaria e Infantaria Medieval

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Cavalaria e Infantaria medieval Cavaleiros de Cristo , por Jan van Eyck , (1432 ) Cavalaria medieval serefere à instituição feudal dos cavaleiros nobres e aos ideais que lhe eram associados ou que lhe foram associados pela literatura , notadamente a coragem, a lealdade e a generosidade, bem como a noção de amor cortês . Além dos cavaleiros (miles), homens que os senhores feudais eram obrigados a apresentar (lanças ), a cavalaria era constituída pelos escudeiros , cavaleiros das ordens religiosas e dos concelhos (também conhecidos por «cavaleiros-vilãos ») e "cavaleiros da espora dourada" (estes eram ricos, mas sem nobreza). Cada lança constituía uma fila formada pelo seu chefe, designado por homem de armas , pelo seu escudeiro, pelo pagem , dois arqueiros a cavalo ou besteiros e por um espadachim . Cinco ou seis filas formavam uma bandeira , subordinada a um chefe. E um certo número de bandeiras constituía uma companhia de homens de armas . Os monges guerreiros das ordens militares do Templo , dos Hospitalários , de Calatrava (mais tarde Ordem de Avis ) e de Santiago de Espada desempenharam um papel muito importante nas lutas das Cruzadas . O grão- mestre de cada ordem exercia o comando supremo destas milícias permanentes em que serviam de oficiais, os cavaleiros professos e de soldados, os servos e os lavradores das terras destas ordens monástico -militares. Também lhes competia o tratamento de doentes e de feridos e, mesmo em tempo de paz , praticavam regularmente exercícios de adestramento militar. Competia- lhes defender as regiões fronteiriças, onde se instalavam castelos que constituíam a guarda avançada dos cristãos frente às terras dos muçulmanos .

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Cavalaria e Infantaria medieval

Cavaleiros de Cristo, por Jan van Eyck, (1432)

Cavalaria medieval serefere à  instituição feudal  dos cavaleiros

nobres e aos ideais que lhe eram associados ou que lhe foram

associados pela literatura, notadamente a coragem, a lealdade

e a generosidade, bem como a noção de amor cortês.

Além dos cavaleiros (miles), homens que os senhores feudais 

eram obrigados a apresentar (lanças), a cavalaria era

constituída pelos escudeiros, cavaleiros das ordens religiosas e

dos concelhos (também conhecidos por «cavaleiros-vilãos») e

"cavaleiros da espora dourada" (estes eram ricos, mas sem

nobreza).

Cada lança constituía uma fila formada pelo seu chefe,

designado por homem de armas, pelo seu escudeiro,

pelopagem, dois arqueiros a cavalo ou besteiros e por

um espadachim. Cinco ou seis filas formavam uma bandeira,

subordinada a um chefe. E um certo número

de bandeiras constituía uma companhia de homens de armas.

Os monges guerreiros das ordens militares do Templo, dos 

Hospitalários, de Calatrava (mais tarde Ordem de Avis) e de

Santiago de Espada desempenharam um papel muito

importante nas lutas das Cruzadas. O grão-mestre de cada

ordem exercia o comando supremo destas milícias

permanentes em que serviam de oficiais, os cavaleiros

professos e de soldados, os servos e os lavradores das terras

destas ordens monástico-militares.

Também lhes competia o tratamento de doentes e de feridos e,

mesmo em tempo de paz, praticavam regularmente exercícios

de adestramento militar. Competia-lhes defender as regiões fronteiriças, onde se

instalavam castelos que constituíam a guarda avançada dos cristãos frente às terras

dos muçulmanos. Diferente dos outros militares, os monges guerreiros não recebiam

remuneração, tendo de viver dos rendimentos próprios das suas ordens.

Nesta composição da cavalaria das hostes, ocupavam, no último lugar, os peões, isto é, os

que possuíam propriedades de menor valia. Obrigados ao serviço militar, os cavaleiros-vilãos

não recebiam remuneração por essa actividade, mas as suas terras ficavam isentas do

imposto de jugada. Tais cavaleiros eram equiparados aos nobres infanções e ainda eram

dispensados do pagamento de direitos de portagem. Também nas anúduvas não tinham de

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executar trabalhos braçais. Dirigiam, sim, o trabalho dos peões. Estes últimos pagavam a

jogada.

Ascensão dos cavaleiros Cavaleiro do século XIII

No tempo de Carlos Magno, guerreiros montados se tornaram a

unidade militar de elite dos francos e essa inovação se espalhou

pelaEuropa. Lutar de um cavalo era mais glorioso pois o homem

montado cavalgava em direção à batalha, movia-se rapidamente e

atropelava os inimigos de classe baixa a pé. Quando

a cavalaria enfrentava outra cavalaria, o ataque em velocidade e o

contato resultante era violento. Lutar montado era prestigioso por

causa do alto custo dos cavalos, armas e armaduras. Somente

indivíduos abastados, ou os serventes dos ricos, podiam lutar a cavalo.

Reis do fim da Idade Média tinham pouco dinheiro para pagar por

grandes contingentes de cavalaria, a qual era cara. Guerreiros eram

feitosvassalos e recebiam feudos. Esperava-se que eles utilizassem os lucros com a terra para

comprar cavalos e equipamentos. Em muitos casos, vassalos mantinham grupos

de soldados profissionais. Num tempo no qual a autoridade central era fraca e as

comunicações pobres, o vassalo, auxiliado por seus serventes, era responsável pelalei e pela

ordem no feudo. Em retorno pelo feudo, o vassalo concordava em prover serviço militar para

seu lorde. Dessa maneira, grandes lordes e reis eram capazes de levantar exércitos quando

desejassem. A elite desses exércitos eram os vassalos a cavalo. No decorrer da Idade Média,

os membros da elite dos guerreiros montados de Europa Ocidental tornaram-se conhecidos

como cavaleiros. Desenvolveu-se um código de comportamento, as regras de cavalaria, o

qual detalhava como eles deveriam se conduzir. Eles eram obcecados pela honra, tanto

na paz quanto na guerra, embora principalmente quando se relacionavam com seus iguais,

não com os plebeus e camponeses, os quais constituiam a maior parte da população. Os

cavaleiros se tornaram a classe dominante, controlando a terra da qual provinha toda

a riqueza. Os aristocratas eram nobres originalmente por causa de seu status e prestígio

como guerreiros supremos num mundo violento. Posteriormente, seu status e prestígio

passaram a se basear na hereditariedade e a importância em ser um guerreiro declinava.

Regras de cavalaria

Quando primeiro usado, o termo "cavalheirismo" significava habilidade em lidar com cavalos.

O guerreiro de elite da Idade Média se distinguia dos camponeses, clérigose deles mesmos

por sua habilidade como cavaleiro e guerreiro. Cavalos fortes e velozes, armas bonitas e

eficientes, e armaduras bem-feitas eram o símbolo de status. Por volta do século XII, o

cavalheirismo se tornou um estilo de vida. As principais regras do código de cavalaria eram as

seguintes:

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Proteger as mulheres e os fracos;

Defender a justiça contra a injustiça e o mal;

Amar sua terra natal;

Defender a Igreja, mesmo com risco de morte.

Na prática, cavaleiros e aristocratas ignoravam o código de cavalaria quando lhes fosse

apropriado. Hostilidades entre os nobres e lutas por terras tinham precedência sobre o

código. O costume tribal germânico que determinava que as propriedades do chefe fossem

divididas entre os filhos ao invés de passar para o mais velho, geralmente provocava guerras

entre os irmãos pelos espólios. Um exemplo disso foi o conflito entre os netos de Carlos

Magno. A Idade Média foi também um período de guerras civis, nas quais os grandes

perdedores geralmente eram os camponeses. No final da Idade Média, reis criaram ordens de

cavalaria, que eram organizações exclusivas de distintos cavaleiros os quais juravam

obediência ao rei e aos outros membros da ordem. Se tornar um membro de ordem de

cavalaria era extrememente prestigioso, tornando um homem um dos mais importantes

do reino. Em 1347, durante a Guerra dos Cem Anos, Eduardo III, da Inglaterra, fundou

a Ordem da Jarreteira, ainda existente hoje. Essa ordem consistia nos 25 melhores cavaleiros

da Inglaterra e foi fundada para garantir a sua lealdade ao rei e a dedicação à vitória na

guerra. A Ordem do Velocino de Ouro foi estabelecida por Filipe, o bom,

da Borgonha em 1430 e se tornou a mais rica e poderosa ordem na Europa. Luís XI,

da França, estabeleceu a Ordem de São Miguel para controlar seus nobres mais importantes.

As Ordens de Calatrava,  Santiago  e  Alcantara foram fundadas para expulsar

os mouros da Espanha. Elas foram unificadas por Fernando de Aragão, cujo casamento

com Isabel de Castela lançou as bases para um único reino espanhol. Ele se tornou mestre

das três ordens, apesar delas se manterem separadas. A cavalaria medieval desempenhou

importante papel nas batalhas da Idade Média.

Tornando-se um cavaleiro

Ordenação de um Cavaleiro, por Edmund Blair Leighton, (1901) - Jovem sendo

elevado à dignidade de cavaleiro

Na idade de dois ou três anos, garotos da nobreza eram mandados

para viverem com grandes lordes como pagens. Os pagens

aprendiam habilidades sociais básicas das mulheres da casa do

lorde e começava o treinamento básico no uso de armas e a

cavalgar. Na idade de sete anos, o jovem se tornava escudeiro, um

cavaleiro em treinamento. Escudeiros eram delegados a um

cavaleiro que prosseguia com a educação do jovem. O escudeiro

era o companheiro e servente do cavaleiro. Os deveres do

escudeiro incluiam o polimento das armaduras e armas (propensas à ferrugem), ajudar seu

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cavaleiro a se vestir e despir, tomar conta de seus pertences e até dormir no vão ocupado

pela porta como um guarda. Nos torneios e batalhas, o escudeiro ajudava seu cavaleiro

quando preciso. Ele levava armas substitutas e cavalos, tratava das feridas, afastava os

cavaleiros feridos do perigo, ou garantia um enterro decente, se necessário. Em muitos casos

o escudeiro ia à batalha com seu cavaleiro e lutava ao seu lado.

Um cavaleiro evitava lutar com um escudeiro do outro lado, se possível, procurando um

cavaleiro de posição similar ou mais alta que a sua. Escudeiros, por sua vez, procuravam

atacar cavaleiros inimigos, a fim de ganhar glória matando ou capturando um cavaleiro

inimigo de maior categoria. Além do treinamento marcial, os escudeiros se exercitavam em

jogos, aprendiam pelo menos a ler, se não aescrever, e estudavam música, dança e canto.

Com 15 anos, o escudeiro era elegível para se tornar um cavaleiro. Candidatos adequados

eram proclamados cavaleiros por um lorde ou outro cavaleiro de grande reputação. A

cerimônia de se tornar um cavaleiro inicialmente era simples: geralmente, "recebia-se o

título" no ombro com uma espada e depois afivelava-se umtalim.

A cerimônia tornou-se mais elaborada e a Igreja ampliou o rito. Os candidatos tomavam

banho, cortavam ocabelo curto e ficavam acordados a noite inteira numa vigília de reza.

De manhã, o candidato recebia, de um cavaleiro, a espada e a espora. A cavalaria

habitualmente só era atingível para aqueles que possuíam terras ou renda suficiente para

cobrir as responsabilidades da classe. Lordes e bispos importantes podiam manter um

considerável contingente de cavaleiros, entretanto, e muitos conseguiam emprego nessas

circunstâncias. Escudeiros que lutassem particularmente bem poderiam ganhar o

reconhecimento de um grande lorde durante a batalha e ser proclamados cavaleiros no

campo de batalha.

Por volta do século XII, a aristocracia tendia a restringir o acesso de seus filhos à cavalaria.

Antes do século XII, para os cavaleiros ordinários, a celebração se resumia à entrega pública

de seus instrumentos de trabalho. Para os grandes senhores, filhos de reis ou condes, a

sagração marcava, além do início na profissão militar, a entrada como futuros governantes.

Para esses cavaleiros, a cerimônia era mais custosa, solene e marcada pela liturgia.

A passagem da espada

A bênção da espada era essencial. Colocada sobre um altar, ela era devolvida ao cavaleiro

por um eclesiástico. Uma vigília de armas, preces, e um banho purificador muitas vezes

precediam o ritual. Todavia, as sagrações não tinham sempre esse caráter litúrgico - o

elemento central constante era a passagem pública da espada ao futuro cavaleiro. O ato da

entrega da arma era acompanhado de um toque suave sobre a face ou nuca, técnica que se

modificaria ao longo do tempo, para se transformar, no século XIV, em espaldeirada, golpe

dado com o lado chato da lâmina da espada, sobre o ombro do cavaleiro. A cerimônia

terminava com a entrega das esporas, em geral douradas, ajustadas aos pés do novo

cavaleiro por dois de seus pares. Finalmente, ao cavaleiro era levado seu cavalo de combate

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(corcel), sobre o qual ele saltava inteiramente armado, para fazer a demonstração de seu

valor em exercícios guerreiros. Se na origem a cerimônia assinalava a entrada na profissão

militar, transformou-se em colação de grau, em condecoração obtida ao longo da carreira,

como agradecimento por serviços prestados.

Torneios

Simulações de batalhas entre cavaleiros, chamadas de torneios, começaram no século X e

foram imediatamente condenadas pelo segundo Concílio de Latrão, sob o Papa Inocêncio II, e

pelos reis da Europa, os quais se opunham aos ferimentos e mortes de cavaleiros no que eles

consideravam uma atividade frívola. Os torneios floresceram, entretanto, e se tornaram parte

da vida do cavaleiro. Os torneios começaram como simples competição entre cavaleiros mas

se tornaram mais elaborados com o passar dos séculos. Eles se tornaram importantes

eventos sociais os quais atraiam patronos e competidores de grandes distâncias. Arenas

especiais foram construídas com arquibancadas para espectadores e pavilhões para os

combatentes. Cavaleiros continuavam a competir individualmente e também em equipas.

Eles duelavam entre si usando uma e variedade de armas e simulavam batalhas corpo-a-

corpo com muitos cavaleiros em um lado. Disputas envolvendo dois cavaleiros lutando

com lanças se tornaram o principal evento. Os cavaleiros competiam, como atletas modernos,

por prêmios, prestígio e olhares das damas que enchiam as arquibancadas.

Torneio entre árabes e cruzados durante a Terceira Cruzada.

Gravura de Gustave Doré (1832-1883).

Cristiano I da Dinamarca assiste um torneio de cavalaria junto

a Bartolomeo Colleoni , por Girolamo Romani, (1467), afresco

no Castelo de Malpaga

No século XIII, tantos homens estavam sendo mortos em torneios que os líderes, incluindo

o papa, ficaram alarmados. Sessenta cavaleiros morreram em 1240 num torneio em Cologne,

por exemplo. O papa queria todos os cavaleiros possíveis para lutarem nas Cruzadas  na 

Terra Santa, ao invés de serem mortos em torneios. Armas tornaram-se cegas e regras

tentaram reduzir a incidência de ferimentos, mas feridas sérias e fatais continuaram

ocorrendo. Henrique II da França foi mortalmente ferido numa competição num torneio

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celebrando o casamento da filha. Desafios terminavam geralmente em torneios amistosos,

mas ressentimentos entre dois inimigos poderiam ser resolvidos em uma luta até a morte. Os

perdedores dos torneios eram capturados e pagavam um resgate para os vitoriosos

em cavalos, armamentos e armaduras para obterem a liberdade. Arautos mantinham

registros dos recordes dos torneios. Um Cavaleiro de baixa classificação poderia acumular

riquezas por meio de prêmios e atrair uma esposa abastada.

Ordens militares

Durante as Cruzadas, foram criadas ordens militares de cavaleiros para auxiliar os objetivos

cristãos do movimento. Eles se tornaram os mais ameaçadores dos cruzados e os inimigos

mais odiados dos árabes. Essas ordens persistiram depois que as cruzadas

na Palestina fracassaram. A primeira dessas ordens eram os Cavaleiros do Templo,

ou Templários, criados em 1118 para proteger o Santo Sepulcro, em Jerusalém. Os templários

vestiam um sobretudo branco com uma cruz vermelha e faziam os mesmos votos que

os monges beneditinos - pobreza, castidade e obediência. Os templários estavam entre os

mais bravos defensores da Terra Santa, sendo os últimos cruzados a abandoná-la. No passar

dos anos, eles se tornaram ricos por causa de doações e empréstimos de dinheiro com

interesses, atraindo a inveja e desconfiança dos reis. Em 1307, o rei Filipe

IV da França acusou-os de muitos crimes, incluindo heresia,

os prendeu e confiscou suas terras. Outros líderes Europeus seguiram seu exemplo e os

Templários foram destruídos.

Os Cavaleiros de São João de Jerusalém, ou Hospitalários, foram criados originalmente para

cuidar dos doentes e pobres peregrinos visitando o Santo Sepulcro. Em pouco tempo, eles

foram convertidos numa ordem militar. Eles trajavam um sobretudo vermelho com uma cruz

branca e também faziam os votos de São Bento. Os hospitalários tinham regras e não

permitiram que sua ordem se tornasse rica ou indolente. Quando foram expulsos da Terra

Santa, seguindo a rendição de seu grande castelo, o Krak des Chevaliers, eles retiraram-se

para a ilha de Rhodes, a qual eles defenderam por muitos anos. Expulsos de Rhodes

pelos turcos, eles passaram a residir em Malta. A terceira grande ordem militar eram

os Cavaleiros Teutônicos, fundada em 1190 para proteger os peregrinos germânicos que se

dirigiam à Terra Santa. Antes do fim das Cruzadas eles passaram a converter

os pagãos na Prússia e nos Estados bálticos.

Heráldica

Para distinguir os cavaleiros no campo de batalha, um sistema de emblemas

chamado heráldica foi desenvolvido. Para cada nobre foi desenvolvido um emblema especial

para ser mostrado em seu escudo, sobretudo e bandeiras. O termo escudo de armas passou a

designar o próprio emblema. Uma organização independente conhecida como Colégio dos

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Arautos desenhava brasões individuais e asseguravam que cada um era único. Os brasões

eram registrados pelos arautos em livrosespeciais sob sua guarda.

Brasões eram passados de geração para geração e eram modificados pelo casamento. Certos

desenhos eram reservados à realeza de diferentes países. Pelo fim da Idade

Média, cidades, guildas, e até proeminentes cidadãos não nobres receberam brasões. No

campo de batalha, combatentes usavam os brasões para distinguir amigos e inimigos e para

escolher um adversário digno para uma luta corpo-a-corpo. Arautos faziam listas de

cavaleiros prestes a lutar baseados em sua insígnias. Os arautos eram considerados 

neutros e atuavam como intermediários entre os dois exércitos. Dessa forma, eles podiam

passar mensagens entre os defensores de um castelo ou cidade e seus sitiadores. Depois de

uma batalha, os arautos identificavam os mortos pelos seus brasões.

Cavaleiro da Ordem de Santiago

Armas e equipamentos da cavalaria

Desde a primeira aparição da cavalaria, por volta de 1000 a.C., tropas

montadas têm cumpridos vários importantes papéis nas batalhas. Eles

atuavam como batedores, escaramuçadores, uma força de choque para luta

corpo-a-corpo, guardar a retaguarda, e perseguiam exércitos em retirada. A

cavalaria era dividida em diversas categorias diferentes conforme o

equipamento e treinamento, e certas categorias eram mais adequadas para

certas tarefas que outras. A cavalaria leve usava pouca ou nenhuma

armadura e era mais apropriada para reconhecimento, escaramuças e

guardar a retaguarda. A cavalaria pesada vestia armadura e era mais

adequada sendo usada como uma força de choque para atacar o inimigo.

Todos os tipos de cavalaria se destacavam em perseguições. A cavalaria

da Idade Média era essencialmente uma cavalaria pesada, e seu código enfatizava seu papel

como uma tropa de choque atacando a cavalaria e  infantaria  inimigas. A partir do século XIII,

o termo "homem de armas" era usado para descrever guerreiros com armadura lutando a

cavalo ou a pé. O novo termo aplicava-se tanto aos cavaleiros como aos escudeiros, pequena

nobreza e soldados profissionais. A vantagem dos cavaleiros em batalhas era a velocidade,

intimidação, força e altura. No decorrer da Idade Média, o equipamento dos cavaleiros foram

aperfeiçoados para aumentar essas vantagens. A lança era a arma com a qual a cavalaria

começava a lutar. Era ideal para furar inimigos a pé, especialmente os que estivessem em

fuga. A exibição da lança na frente do cavaleiro montado ajudava na intimidação causada

pela aproximação da tropa em assalto. Parte da força do cavalo podia ser transmitida através

da lança no momento do impacto. O cavaleiro em ataque se tornava um enorme projétil.

Utensílios utilizadas pelos cavaleiros

Historiadores discordam na importância do  estribo  para

ascensão dos cavaleiros. O estribo surgiu na  Ásia e chegou à

Europa no século VIII. Alguns acreditam que ele foi crucial para

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a ascensão dos cavaleiros pois permitia ao cavaleiro apoiar a si mesmo e sua lança,

transmitindo toda a força do cavalo para a ponta da lança. Ninguém discorda da vantagem

dessa multiplicação da força, mas outros sugerem que a sela alta desenvolvida no tempo

dos romanos permitia que os ginetes transmitissem essa força antes do aparecimento do

estribo. A Tapeçaria de Bayeux, que descreve a conquista da Inglaterra  por  Guilherme

em 1066, mostra os estimados cavaleiros normandos  golpeando com suas lanças com

as mãos ou atirando-as, elas não eram lanças fixas. Nessa época o estribo já era conhecido

na Europa há pelo menos dois séculos. No restante da Idade Média, o ataque montado

realizado com cavaleiros segurando lanças fixas era o epítome de combate para os

cavaleiros. Essa não era sempre a tática mais correta, entretanto.

Cavalaria normanda com lanças na Tapeçaria de Bayeux

O ataque principal de cavalaria frequentemente resultava na

perda de lanças, ou o ataque terminava em uma luta mano-a-

mano geral. Em ambos os casos, os cavaleiros trocavam de

armas, que geralmente para a espada. A espada da cavalaria

evoluiu para o sabre, uma larga e pesada lâmina que um

homem em pé nos estribos podia balançar com uma

tremenda força na cabeça e tronco superior dos oponentes.

As espadas eram as armas que os cavaleiros mais prezavam

pois elas podiam ser carregadas pela pessoa, proeminentemente exibidas, e personalizadas.

Elas eram as armas mais comuns para combate corpo-a-corpo entre cavaleiros. Boas espadas

eram caras, então sua posse era um sinal de distinção entre a nobreza. Outras opções para

armas de ataque corpo-a-corpo incluiam o martelo, a maça (evolução da clava), o machado, e

o mangual. Martelos e maças eram populares entre os clérigos e monges guerreiros os quais

tentavam obedecer ao texto da reprovação da Bíblia ao derramamento de sangue, o que

armas afiadas eram propensas a fazer. Em nenhuma circunstância os cavaleiros usavam

armas disparadoras de projéteis de qualquer tipo. Matar um oponente à distância

com seta, flecha, arco, ou bala era considerado desonroso. Cavaleiros lutavam com

adversários respeitávis, da mesma categoria quando possível, e matavam cara a cara, ou não

o faziam.

Armaduras no Museu de Arte Metropolitano,Nova Iorque

A cota de malha já era usada pelos antigos romanos e por

algumas das tribos germânicas invasoras, incluindo

osgodos. A cota permaneceu popular com a nobreza da

Europa medieval até que a armadura de placas passou a ser

usada no século XIII. A mudança foi feita em parte porque

uma flecha ou ponta de espada podia penetrar na cota.

Uma túnica, chamada de sobretudo, era usada por cima da

cota especialmente durante as Cruzadas para defletir o sol.

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Os elmos também evoluíram de simples desenho cônico para um grande balde de metal, até

grandes peças esculpidas para desviar flechas. Posteriormente, os elmos podiam ser presos à

armadura do corpo. Armaduras completas pesando até 27 quilogramas surgiram no século

XIV. As armaduras de placas eram bem projetadas e os cavaleiros possuíam grande agilidade.

Um cavaleiro de armadura no chão não estava indefeso e podia facilmente se levantar. Há

relatos e pinturas de homens com armaduras plantando bananeira e fazendo outros tipos de

ginásticas. Nas armaduras posteriores, havia muita preocupação em desviar projéteis e

reforçar áreas mais expostas à golpes. Com o passar dos anos, apareceram elaboradas

armaduras completas, entalhadas, as quais eram mais cerimoniosas e prestigiosas do que

práticas. A armadura era um grande gasto para um cavaleiro, que equipava a si mesmo e a

um escudeiro. Um importante lorde tinha que fornecer armaduras para muitos cavaleiros. A

fabricação de armaduras era um negócio importante, e um grande mercado de armaduras

usadas se desenvolveu durante a Idade Média. Soldados comuns do lado vitorioso de

uma batalha podiam ganhar uma boa soma de dinheiro retirando as armaduras de

cavaleiros mortos e vendendo-as.

Os cavaleiros tinham um orgulho especial por seus cavalos, os quais eram criados para serem

fortes e velozes. Eles, além disso, necessitavam de treino extensivo para serem manejáveis

durante um ataque corpo-a-corpo. Os cavalos eram treinados para atacarem com um mínimo

de orientação, deixando o cavaleiro livre para segurar seu  escudo  e lança.

Historiadores discordam se os cavalos dos cavaleiros eram pesados para aguentarem

carregar o peso de um cavaleiro totalmente equipado, ou um cavalo pequeno, apreciado por

sua velocidade e agilidade. A habilidade em lidar com cavalos era uma outra características

com a qual os cavaleiros de elite se distinguiam dos plebeus. Ela era praticada durante

a caça, uma popular atividade de lazer que os nobres mantiveram até hoje na tradicional

caça à raposa.

Em Portugal

No tempo de D. João I, foi determinado que os senhores das terras deveriam fornecer 840

lanças e as ordens militares então existentes - Hospitalários, de Santiago de Espada,

de Avis e de Cristo - deveriam participar nas hostes com 340 lanças. Então, calculou-se em

2360 o número de lanças singelas a fornecer pelos restantes cavaleiros - os menos ricos.

Assim, dispunha-se de um total de 3540 lanças, às quais se juntaria a cavalaria da

ordenança ou do couto, isto é, os cavaleiros-vilãos, fornecidos pelos concelhos. Estes eram

homens ricos, que possuíam as herdades (terras herdadas) e, por isso, eram conhecidos

também pelo nome de herdadores. A obrigação de ter cavalo era relacionada com os bens

possuídos.

Referências: ↑ Questão de honra, páginas 46 a 49, por Jean Flori - doutor em letras e ciências

humanas, diretor de pesquisas do CNRS - Centre National de la Recherche Scientifique

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(Centro Nacional de Investigação Científica) e do Centro de Estudos Superiores de Civilização

Medieval de Poitiers.

Infantaria medieval

A peonagem constituía a Infantaria na Idade Média. Era composta pelos homens a pé que

acompanhavam os fidalgos e os prelados nas hostes, os peões vindos dos concelhos e que se

situavam hierarquicamente abaixo dos cavaleiros-vilãos. Eram peões aqueles que não tinham

bens suficientes para possuírem cavalo. A seguir viriam os besteiros do conto, também a pé.

Armados de lança ou de pique, os peões constituíam a melhor tropa de infantaria. Consoante

os seus rendimentos, eram obrigados a ter espaldeira, gorjeira, escudo e lança, ou besta. Os

besteiros eram em menor número porque a besta era mais dispendiosa e, também, de

manejo mais difícil. O escudo (cetra), os dardos, o arco para flechas, os virotões, os fundos,

os punhais, etc. eram também utilizados pelos peões. A besta usada pela infantaria era

a besta de polé. Era pesada e por isso, como os arcos muito mais leves, os arqueiros levavam

vantagem relativamente aos besteiros. Também existiram besteiros a cavalo, utilizando

a besta de Garrucha, que era muito mais leve do que a besta de polé. As bestas lançavam

seras, virotões e balas de barro ou de chumbo. Os besteiros, para se protegerem, apoiavam

no chão os seus escudos. Era variável a relação entre o número de besteiros e o dos peões,

beneficiando os primeiros de maiores regalias e de mais importância social. Provindos dos

mestres (ou ofícios) os besteiros exercitavam-se no manejo das suas armas atingindo grande

destreza a atirar com as bestas. Na batalha de Aljubarrota intervieram 900 besteiros e 4000

peões, isto é, aí a proporção era de 1 para 5. Mas, ao penetrar em Castela, D. João I levou

consigo 2000 besteiros e 4000 peões, pelo que a proporção passou a ser de 1 para 2.

Os Nove Bravos 

Os Nove Bravos são nove figuras históricas que foram consideradas como os máximos

representantes do ideal da cavalaria durante a Idade Média. Algumas dessas figuras são

personalidades reais, enquanto outras são de veracidade histórica duvidosa, uma vez que

suas vidas e feitos são descritos apenas por livros de natureza mística, como a Ilíada e a

Bíblia, ou por lendas populares. Jacques de Longuyon foi o primeiro a agrupá-los sob este

nome na sua Voeux du Paon em 1312. Foram divididos em trios, segundo a sua religião,

escolhendo os melhores cavaleiros do paganismo, do judaísmo e do cristianismo. A escolha

rapidamente se converteria num tema comum na literatura e na arte medievais e permanece

no imaginário popular colectivo.

Esculturas mais antigas conhecidas dos Nove Bravos no antigo edifício municipal de Colónia, Alemanha.

Page 11: Cavalaria e Infantaria Medieval

O Nove Bravos são:[1][2]

Da época pagã: Heitor de Tróia; Alexandre Magno; e Júlio César

Dos tempos do Antigo Testamento: Josué, conquistador de Canaã; David, rei de Israel; e

Judas Macabeu, reconquistador de Jerusalém

Do período cristão: Rei Artur; Carlos Magno; e Godofredo de Bouillon, um dos líderes

da Primeira Cruzada

Referências

1. ↑ Deirdre O'Siodhachain. Los Nueve de la Fama.

2. ↑ Vinicius de Araújo. Judas Macabeu: de herói do Velho Testamento a herói da

cavalaria medieval