Cd-rom como apoio na pesquisa sobre a identidade e a história institucional

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Educação Unisinos11(2):111-120, maio/agosto 2007© 2007 by Unisinos

Resumo: Discute-se aqui a digitalização e organização em CD-ROM de documentos utilizadospara reconstruir a história de instituições escolares bem como a digitalização como um meio dedisponibilizar informações sobre a instituição para vários públicos e como uma estratégia de“preservação” e amplificação das possibilidades de consulta documental. Aborda-se a digitalizaçãocomo uma (re)presentação e produção de um documento diferente do original; a característicade congelamento, desfiguração e flexibilidade que a digitalização imprime ao documento. Trata-se o CD-ROM como subsídio para a reescrita da história institucional, como um banco de dados,um espaço para armazenamento, organização e hierarquização de documentos relacionados àhistória institucional. Um banco de dados, pela digitalização de documentos relacionados à históriainstitucional, é potencialmente impregnado de significados acerca da história institucional, devidoà possibilidade de pôr em ordem “documentos”, “documentação”, “sínteses de documentos”,impressos, recortes de jornais e comentários. Enfoca-se o reconhecimento da diferenciaçãoentre arquivos, museus escolares e bancos de dados digitais. Caracteriza-se um CD-ROM dedocumentos sobre a história institucional como um recurso que pode ser adotado para adisseminação de uma cultura de preservação documental, uma base para a memória social e oapoio para a reavaliação e realimentação da identidade institucional, favorecendo novas visões ereconceitualizações sobre a história institucional.

Palavras-chave: história institucional, banco de dados, digitalização de documentos.

Abstract: Trough the analysis of the adopted methodology, we situate a research carried out athigh schools, which present between 130 and 97 years of creation, discussing the characteristicsof found documents and strategies of digitalization and organization of documents in CD-ROM. Wediscuss the digitalization as a way of disposabilization of information about the institutional history,and as a strategy of “preservation” and amplification of the possibilities of documental consultation.Digitalization is also discussed as a (re)presentation and production of a document different fromthe original; the characteristic of freezing, disfiguration and manageability, which digitalization impresseson the document. We treat the CD-ROM as subsidy for the rewriting of the institutional history, asa Data Bank, a space for storing, organization and hierarchization of documents related to theinstitutional history, presenting a theory about the institutional history, its nature and functions. AData Bank, by digitizing documents related to the institutional history, is potentially a porter ofsymbolizations and attributes meanings to the institutional history, by putting into order “documents”,“documentation”, “syntheses of documents”, printed, clippings of newspapers and comments.The recognition of the differentiation between archives, scholar museums and digital Data Banksis focused. A CD-ROM of documents about the institutional history is characterized as a resourcethat can be adopted for the dissemination of a culture of documental preservation, being also abasis for the social memory and the support for the reevaluation and feedback of the institutionalidentity, favoring new views and reconceptualizations about the institutional history.

Key words: institutional history, data base, digitizing of documents.

CD-ROM como apoio na pesquisa sobre aidentidade e a história institucional

CD-ROM as a support for research about theidentity and history of educational institutions

Flávia Obino Corrêa [email protected]

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Flávia Obino Corrêa Werle

Banco de dados digital edocumentação de insti-tuições escolares

Roberto DaMatta, ao discutir a for-ma como nos referimos à “nossa casa”,destaca a importância das operaçõesde contraste e oposição com outrosdomínios e espaços: “o espaço defi-nido pela casa pode aumentar ou di-minuir, de acordo com a outra unidadeque surge como foco de oposição oude contraste, [seja a rua, seja a cidade,o país] [...] Tudo [...] depende do ou-tro termo que está sendo implícita ouexplicitamente contrastado” (DaMat-ta, 1987, p. 16). Acentua que estasoperações, junto com uma outra ope-ração lógica – o englobamento, “naqual um elemento é capaz de totalizaro outro em certas situações específi-cas” (DaMatta, 1987, p. 17) –, permi-tem variações, combinações, segmen-tações na discussão do fenômeno emestudo. No estudo das instituiçõeseducativas, estes planos de segmen-tação e de englobamento parecemtambém estar presentes.

A história das instituições escola-res é um objeto científico construído apartir de relações teóricas compreensi-vas sobre a escola, suas inter-relaçõesa com entidade mantenedora, com asdemais escolas, com a cidade e cominstâncias do sistema educativo, so-bre os processos de gestão e basematerial nela empreendidos, bem comoacerca de relações sociais, das práti-cas pedagógicas e das representaçõesde seus atores. É uma história apresen-tada através de sínteses, interpretaçõese processos de análise renovadamen-te articulados que produzem uma plu-ralidade de visões acerca da institui-ção. É uma história que traz sempre apossibilidade de retomada interrogan-te do passado, dos sentidos que lheforam e que podem ser atribuídos, éuma narrativa aberta à apresentação denovas dimensões de processos de ges-tão, de ações e de novas faces da iden-tidade da instituição. É uma história que

se apresenta em um texto produzido apartir da abordagem de arquivos e dememórias, cujo vetor epistemológicointerrogante e problematizador emergedo pesquisador que dialoga com e apartir da teoria e de documentos e fon-tes diversas. Os textos que produzemabordagens da história de instituiçõesconstituem-se como enunciação deidentidade da escola, como versões dahistória institucional (Werle, 2004) asquais podem ser produzidas por pes-quisadores bem como pelos diferentesatores da instituição – alunos, profes-sores, administradores – e outros pú-blicos.

Assim, o pesquisador, no esforçode fazer de uma instituição escolar umobjeto epistêmico, pela explicitação doconjunto de relações e pela adoçãode um enfoque de discussão – “a plu-ralidade das leituras doravante possí-veis causa incômodos nem sempreconfessados” (Nóvoa, 1998, p. 43) –,apresenta-a sob um determinado as-pecto e, assim fazendo, depara-se comum nível de tensão, qual seja o que seequilibra e debate entre a totalização euma visão interpretativa parcelar.

Construir um objeto de reflexãoimplica delimitar unidades de concep-ção pelas quais se evidenciam rela-ções entre fenômenos os quais, soboutro recorte, não teriam visibilida-de. Assim, a instituição como objetocientífico de estudo historiográfico,de práticas pedagógicas e de gestão,é um sistema de relações expressa-mente construído que ora é registra-do pelo fragmento e focalização deaspectos específicos da vida esco-lar, ora é referido numa perspectivade integração – que não significa deconsenso – com ênfase na contextu-alização e visão global. A expressão,na forma de englobamento e/ou frag-mentação, deste conjunto de relaçõesdecorre, especialmente, do quadroteórico adotado, bem como do tensi-onamento e dinâmica dos diferentesmomentos históricos e da maior oumenor disponibilidade de fontes. Ou

seja, entendendo que um objeto ci-entífico é um sistema de relações in-tencionalmente construído, e que ahistória das instituições escolares éigualmente um objeto construído,acentuamos, juntamente com Mogar-ro (2005), que para tanto é necessá-rio cruzar as informações de diferen-tes tipos de documentos, estabele-cendo um diálogo de complementari-dade e articulação entre variadas fon-tes de informação.

Um objeto de investigação, por maisparcial e parcelar que seja, não podeser definido e construído senão emfunção de uma problemática teóricaque permita submeter a um sistemáti-co exame todos os aspectos da reali-dade postos em relação pelos proble-mas que lhe são colocados (Bourdieu,1990, p. 54).

Muitos níveis de análise, planosde segmentação e de englobamentopodem, portanto, ser adotados naabordagem histórica das instituiçõesescolares. Depoimentos e memóriasde atores em diferentes momentoshistóricos possibilitam explicar o per-curso da instituição na “perspectivaexperiencial que situa os indivíduosno centro da história sociocultural”(Nóvoa, 1998, p. 46). É sempre possí-vel que novas produções, criativasleituras e releituras de acontecimen-tos institucionais sejam construídas,de forma que, ao serem contrastadascom as políticas da época, com pro-cessos históricos anteriores ou pos-teriores, produzem diferentes aborda-gens ou planos de segmentação dainstituição e dos acontecimentos quea cercaram e constituíram. Documen-tos produzidos por atores da escolaplanejando caminhos, definindo ob-jetivos e metas podem ser analisadosem combinação com dados de pro-cura, matrícula, aprovação, permitin-do uma visão mais ampla da institui-ção em seus projetos e realizações.Indícios de acontecimentos registra-dos em documentos produzidos na

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instituição podem dar a ver um seg-mento da história institucional. É pos-sível também enfocar os diferentesarranjos estruturais que ocorreram aolongo do tempo, analisando compa-rativamente o olhar de personagensexternos ou de atores institucionais;analisar a base material em diferentesmomentos e fases de ampliação e deremodelação pelas quais o prédiopassou; discutir a história das insti-tuições a partir da memória dos alu-nos que nela se formaram ou a partirdos alunos que em determinado mo-mento foram dela excluídos; consi-derar a cultura escolar decorrente depropostas de currículo e de progra-mas de ensino, as festas, comemora-ções e os ritos de admissão e titula-ção captados em fotos, convites ereportagens de jornais da época. To-dos estes são elementos constituti-vos da história das instituições es-colares que explicitam suas diversasfaces e que, a partir de variadas pers-pectivas de análise, podem produzirnarrativas de diferentes níveis, com-paráveis aos planos de segmentaçãoe de englobamento referidos por DaMatta. Cada enfoque é uma tentativade expressão da história da institui-ção e, ao mesmo tempo, cada um apre-senta um plano de segmentação acer-ca da mesma, uma versão.

É com esta compreensão da histó-ria das instituições escolares, e quesua construção se dá no tensiona-mento de níveis de segmentação ede englobamento, que refletimos so-bre as tecnologias digitais como al-ternativa de preservação de docu-mentos e ampliação das possibilida-des de revisitação das marcas da vidainstitucional. Dentro desta perspec-tiva de história de instituições esco-lares, as tecnologias digitais podemser evocadas para instituir uma outraforma de manter os documentos, am-pliando as possibilidades de revisi-tação, reescrita e reinvenção da his-tória institucional. Este texto discuteas possibilidades e limites do arma-

zenamento em um CD-ROM de do-cumentos de instituições escolarestranspostos para a forma digital e asinterveniências desta tecnologia narenovação e na multiplicação de pos-sibilidades de disseminação da his-tória institucional.

Arquivos e preservaçãodocumental

Os arquivos guardam a memóriasocial, resquícios de comportamentosindividuais, de realizações coletivas einstitucionais. Os arquivos instituci-onais são constituídos e desenvolvi-dos seguindo o ritmo dos aconteci-mentos históricos e o funcionamentodas instituições, sejam elas eclesiásti-cas, civis, militares ou educativas.

Para Romero (2004, p. 12ss.), a prá-tica de arquivamento exige decisõesquanto a instalações, conservação,descarte, volume de material, acessoe, no momento atual, transposiçãopara suportes alternativos.

As ações de conservação envol-vem decisões acerca da estrutura, lo-calização, distribuição, depósito, se-gurança e mobiliário necessário parao arquivamento e guarda de documen-tos. Quanto à sua instalação interes-sa a organização, a estrutura física dofundo documental, a tipologia materi-al e o suporte dos documentos, bemcomo o provimento, não apenas deinstalações, mas de ações que visemidentificar os materiais arquivadosobjetivando seu fácil acesso. É o va-lor das informações contidas nos do-cumentos que definirá sua conserva-ção ou descarte. Por outro lado, háque controlar ingressos e transferên-cias de documentos, bem como a sa-nidade dos mesmos, mantendo-os pre-servados, afastados de umidade, li-vres de insetos e, se necessário, pro-vendo sua restauração. Importantedestacar que, para este autor, a con-servação documental no século XXIé, fundamentalmente, preservação, oque incide nos procedimentos e tec-

nologias a serem utilizados. Ressaltaque a salvaguarda de documentosenvolve a possibilidade de transpô-los para suportes alternativos comapoio de tecnologias avançadas.

asumida la natural caducidad de lossuportes documentales, la conserva-ción de los testimonios escritos pasanecesariamente por su reprografiadoen suportes alternativos que garanti-cen, al menos, que el caudal informati-vo de los documentos sobrevivirá ‘adfuturam rei memoriam’. En este sen-tido, la combinación de tecnologíasanalógicas y digitales permitirá vincu-lar la conservación del documento ori-ginal y la difusión sin límites de suscontenidos lo que, al fin y al cabo, esla simbiosis perfecta del ejercicio ar-chivistico (Romero, 2004, p. 10-11).

Romero destaca que é importantecombinar a conservação de documen-tos originais com as tecnologias di-gitais para que as informações conti-das nos mesmos tenham sua difusãoalargada.

Os arquivos tradicionais implicamuma organização capaz de indicar olocal em que cada tipo de documentose situa, onde estão depositados e osmódulos, caixas ou pacotes em que seencontram, o que exige um registro detipo cartográfico do local em que osmesmos estão depositados. Em outraspalavras, “todo o documento que noestá identificado y localizado no exis-te, es decir, la localización y la identifi-cación son la principal garantía deconservación” (Romero, 2004, p. 18).Por outro lado, o espaço físico insti-tucional para guarda de documentosé finito, enquanto que, ao contrário, aprodução documental é progressiva.Assim, é fundamental o estabeleci-mento de práticas de eliminação e, senecessário, a substituição dos supor-tes originais para a salvaguarda dainformação institucional relevante.

A reprografía digital aporta [...] almundo de la conservación considera-bles beneficios, amén de conectar con

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un medio de difusión a escala univer-sal, fácil manejo y ágil consulta, redu-ce la utilización de originales y la re-prografía por medios agresivos (Ro-mero, 2004, p. 20).

Portanto, as novas tecnologiassurgem como alternativas de identi-ficação, localização e de conserva-ção de documentos, com a vantagemde maior facilidade de democratiza-ção do acesso.

Arquivos de escolas

A fonte documental para empre-ender a história de instituições es-colares encontra-se, primeiramente,nos arquivos dos próprios estabele-cimentos de ensino e, em segundolugar, em arquivos das mantenedo-ras e dos órgãos da estrutura hierár-quica dos sistemas de ensino. Nosestabelecimentos de ensino situam-se fatos relativos à vida dos alunosos quais, escriturados por meio deregistros regulares e autênticos, as-seguram a sua identificação indivi-dual e a recuperação de informaçõesreferentes à vida pessoal e profissi-onal, importantes para o avanço nacarreira profissional, para a compro-vação da formação escolar. Outrosdois importantes focos de registro,entretanto, devem ser acrescidos aoda escrituração da vida escolar dosalunos, quais sejam, os da vida dosprofessores e os do próprio estabe-lecimento.

A legislação brasileira refere osarquivos escolares como um conjun-to ordenado de papéis, guardadoscom condições de segurança e orga-nização, classificados de modo a fa-cilitar a localização e consulta, quedocumentam e comprovam os fatosescolares. Entretanto, embora reco-nhecida a importância destes arqui-vos, não há nas escolas ações efeti-vas e continuadas de instalação,conservação e acessibilidade da do-cumentação institucional. Os arqui-

vos das instituições escolares, emgeral, não se constituem como umconjunto organizado de documentosproduzidos, recebidos e acumuladospelo estabelecimento para futurasconsultas.

Ainda que as instituições escolaresdisponham de uma memória escrita,ela encontra-se dispersa em váriosespaços e os arquivos nem sempretêm constituído para as comunidadesescolares um referente regular, cujainformação possa ser utilizada emvários momentos da racionalidadeeducativa e da (re)invenção do quoti-diano (Magalhães, 2001, p. 11).

Se utilizássemos as proposiçõesde Romero também para os arquivosde escolas, esses deveriam organi-zar-se por tipologia de materiais, osdocumentos deveriam ser indexadospara facilitar o seu acesso e deveriaocorrer uma ação consciente de ges-tão do arquivo, avaliando a novadocumentação que deixa de ser ati-va para o cotidiano da escola, demodo a incorporá-la no acervo do-cumental, o qual deve ser dispostoem móveis e estantes adequadas elocalizado para facilitar acesso e con-sulta. A existência de documentosnão significa que tenhamos um ar-quivo. Um arquivo implica organiza-ção, identificação e possibilidade delocalização facilitada de documentos.

Atualmente as orientações dossistemas de ensino quanto aos ar-quivos escolares se voltam para apreservação de documentos compro-batórios. Esta discussão foi detalha-da em Werle (2002) quando revisa-mos pareceres referentes a normasde escrituração, arquivo, registros eincineração de material escolar. Nadécada de trinta do século XX, porexemplo, conforme Decreto 24.439 de21 de junho de 1934, para que os di-plomas e certificados de conclusãode curso expedidos pelos estabele-cimentos de ensino produzissem efei-tos legais, deveriam ser registrados

na Diretoria Nacional de Educação,do Ministério da Educação e SaúdePública. Tal registro exigia prévia ve-rificação da regularidade legal davida escolar dos alunos, com o queas listas de pontos de exames e asprovas escritas, consideradas degrande valor, não podiam ser incine-radas nem destruídas, exigindo cui-dadoso arquivamento e catalogaçãode parte das escolas. Constatamosque, progressivamente, o tempo deguarda de documentos que atestamações pedagógicas realizadas ao lon-go da permanência dos alunos naescola foi sendo reduzido de 60 para20 anos e depois para 10 anos, sen-do a contagem estipulada a partir datitulação dos alunos concluintes.Nos anos noventa foi definitivamen-te eliminada a exigência de guardade provas, listas de presença e diári-os de classe.

Atualmente, no Brasil como emoutros países, a

[...] documentação conservada ficareduzida a um mínimo que permitajustificarem a qualquer momento ahabilitação dos alunos e fazer jus, ain-da que de forma redutora, ao cumpri-mento dos princípios legais sobrefuncionamento das instituições edu-cativas. Como se em um qualquermomento uma força social, políticaou tão-somente fiscalizadora, pudes-se investir pelo interior das escolas,pondo em questão a integridade orgâ-nica e a forma como os responsáveiscumpriram os requisitos legais (bási-cos) de funcionamento. [...] É porconseqüência uma lógica de fora paradentro que tem presidido à conserva-ção dos materiais escolares. (Maga-lhães, 2001, p. 13).

Assim, progressivamente, os ar-quivos escolares estão sendo redu-zidos, eliminados pela incidência delógicas variadas. A lógica burocráti-ca que valoriza o documento estrita-mente comprobatório e a lógica mo-dernizante que apaga e desvalorizaas marcas do passado.

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Digitalização e acesso adocumentos da históriainstitucional

Pesquisas realizadas em escolasacerca da história institucional1 têm iden-tificado certas práticas de guarda e ar-mazenamento de documentos institu-cionais. A documentação escrita, quan-do preservada, por ser muitas vezesúnica, sem outras cópias ou exempla-res, encontra-se em lugar inacessívelou acessível a poucos dentre os mem-bros da comunidade escolar ou da co-munidade externa. Muitas vezes sãodocumentos embrulhados em papelpardo, amarrados com cordão em formade pacotes e armazenados em armários,ali esquecidos, passando muitos anossem serem manuseados, ou estão empastas, documentos encadernados,guardados em locais em geral desco-nhecidos aos responsáveis e profes-sores daquela instituição. Fotos sãoencontradas em envelopes, pacotes emuito raramente em álbuns, sem data,sem identificação do evento ou local edas pessoas fotografadas.

Discutindo o papel dos gestores napreservação da história institucional(Werle, 2001, 2004), afirmamos que, porvezes, acontecimentos institucionaisregistrados em livros, mensagens, re-latórios, ofícios, fotos, correm o riscode serem tratados como pertencentesnão à instituição mas à pessoa ou pes-soas que cuidam dos arquivos, livrose guardados. Esta atitude de posse eexclusividade impossibilita que a his-tória institucional seja revisada e reto-mada, de diferentes formas e em cadamomento histórico, pelos alunos, pro-fessores, administradores e pela soci-edade local. A comunidade escolarapenas conhece sinopses breves e in-cansavelmente repetidas da históriainstitucional, sem que possa se acer-car dos documentos e registros origi-nais, de forma que muitos possam re-

mentos históricos da própria escola;poucas têm uma sala de memória ouum museu da história institucional.

No Rio de Janeiro, Ribeiro (1992, p.48), ao realizar um diagnóstico dos ar-quivos privados da cidade, relata queencontrou escolas que haviam criadopequenos museus realizando exposi-ções sobre a sua história e dos bairrosem que se situavam, mas que não haviaa mesma preocupação com os arqui-vos escolares. Registra que ora a docu-mentação estava dispersa, ora confu-samente organizada, misturando-sedocumentos de registro de pessoal comos de ordem financeira, com os de as-sociações, com os da mantenedora ecom registros da vida escolar dos alu-nos. Não apenas a falta de critério paraa organização de arquivos, mas a pre-valência dada à preservação de docu-mentos aos quais é atribuído um “valorcomprobatório” faz com que muitos fa-tos institucionais sejam desconsidera-dos em seu valor e que seja eliminada adocumentação a eles referente. Assim,uma concepção formalista de manterevidências confirmadoras de atos daadministração superior da instituiçãoprevalece como critério de decisãoquanto à preservação e guarda de do-cumentação de instituições escolares.

Nas instituições estudadas duran-te o desenvolvimento dos projetos depesquisa referidos, confirmamos aspráticas discutidas por Ribeiro, pois,muitas vezes, foram erigidos comodocumentos passíveis de conserva-ção aqueles ligados à hierarquia do sis-tema de ensino, não sendo incomumencontrar pastas com pareceres e nor-mas do Conselho Estadual de Educa-ção, do Conselho Federal de Educa-ção e outros organismos da hierarquiados sistemas e os que a legislação re-fere como “fatos escolares” mais doque documentos que possam, efetiva-mente, informar acerca das relações co-tidianas, das rupturas dos processos

trabalhar, produzir novas interpreta-ções, se reapropriar e reconhecer a his-tória institucional de diferentes manei-ras e em diferentes épocas e em varia-dos níveis de englobamento e segmen-tação. A posse individual de documen-tos da instituição como prática, mes-mo que mantendo a localização dosdocumentos no prédio escolar, priva aprópria instituição de utilizar sua his-tória como componente inspirador daproposta educativa e restringe as pos-sibilidades de seus atuais colaborado-res compreenderem seu desenvolvi-mento e percurso.

Nas instituições escolares, inexis-te a prática de “arranjo” documental,este entendido como um processoracional de organização em fundos,séries ou itens documentais, ou seja,não há práticas de organização dedocumentos por categorias amplas.Ao contrário, nas escolas encontra-se a tendência de coleção de docu-mentos como um conjunto de materi-ais sem relação orgânica entre si, ale-atoriamente acumulados. Não há ín-dices descritivos desses documentos,permanecendo sob a guarda, humo-res, boa-vontade de pessoas que poreles zelam ou os ignoram. Ou seja, nãohavendo uma ação institucional so-bre os documentos, o que ocorre é asua dispersão (Nunes, 1992, p. 43).

Há escolas em que a documenta-ção institucional está acessível aquem justificadamente solicitar, nãose verificando um sentido de posseindividual. Entretanto, por haver, emgeral, exemplares únicos da docu-mentação, e como seu manuseiopode prejudicar a documentação quecom o tempo vai ser tornando frágil,desgastada, seu acesso é restrito,mas não embargado. Por outro lado,mesmo em escolas que possuempouco mais do que “resíduos docu-mentais”, não há práticas de exposi-ções para a comunidade de docu-

1 Refiro-me a projetos de pesquisa submetidos ao CNPq, designados “Escola Complementar: práticas e instituições” e “História de instituições escolares:escolas de formação de professores”.

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de formação e de controle específicosàquela instituição. Com isso, muitoselementos são descartados como des-providos de valor informativo, impos-sibilitando seu uso para fins científi-cos, culturais e históricos (Ribeiro,1992, p. 56).

A pesquisa histórica atual, entre-tanto, tende a constituir em objetosde estudo elementos relacionais,menos formais, não apenas compro-batórios, superando a valorizaçãorestrita a documentos que privilegi-am uma visão hierárquica, de cimaou de feitos políticos acionados porautoridades dos sistemas educati-vos. Esta tendência exige atenção ecuidado na preservação de documen-tos e um alargamento deste conceitopara além do seu valor de prova davida escolar dos alunos.

Digitalização documentale histórica institucional

Entendendo com Negroponte(1995, p. 19-20) que “digitalizar umsinal é extrair dele amostras que, secolhidas a pequenos intervalos, po-dem ser utilizadas para produzir umaréplica aparentemente perfeita daque-le sinal”, temos desenvolvido pro-cedimentos de digitalização de do-cumentos de instituições escolares.Fotografias, imagens, documentosescritos – manuscritos, datilografa-dos, impressos – têm recebido estetratamento com a finalidade de se-rem disponibilizados, para a comuni-dade escolar, em suportes tecnolo-gicamente mais avançados.

A digitalização torna o documen-to acessível a muitas pessoas, pois aescola pode transpô-los em CD-ROM, em seu site na internet, em in-tranet. Por outro lado, o material as-sim apresentado pode ser utilizadopara o desenvolvimento de objeti-vos formativos junto a alunos2, bem

esmaecem e o papel amarelece. O do-cumento de papel continua receben-do interferências em seu suporte; é tem-poralizado, desgastado por um tempoque age sobre a matéria que o consti-tui, provocando envelhecimento e de-terioração. Assim, ele é progressiva-mente fragilizado, a não ser que ocorrauma ação intencional de recuperaçãoe de preservação. Um documento di-gitalizado é um outro documento, “des-figurado”.

[...] a forma mais perceptível do tem-po como mudança, do trabalho do tem-po, está no envelhecimento, resultadodas afecções da matéria sob a ação dotempo. É assim que uma tela pintadaenvelhece, seus pigmentos se alteram.É assim que as cores de uma fotografiairremediavelmente mudarão, especial-mente se a foto ficar exposta a umaluz muito intensa. Enfim, não há ma-téria que possa resistir à corrosão dotempo. Uma vez que toda a imagemexiste em algum tipo de suporte, nãohá intervenção do tempo. Contudo,um certo nível de exceção deve seraberto para o infografia, pois devidoà estocagem numérica e ao caráterimaterial, pura luminescência fugidia,essa imagem não fica mais fisicamen-te exposta à erosão do tempo (Santa-ella e Nöth, 1998, p. 82).

Embora o colorido, as manchas dotempo e a caligrafia possam ser reti-dos no processo de digitalização, háperdas importantes nas característi-cas do documento original. Ao digi-talizá-lo, perdem-se o odor, a textura,a dimensão, o volume e o peso dodocumento. A impressão táctil que seobtém pelo manuseio direto do docu-mento não é alcançada quando este édigitalizado. Sua percepção apenas sedá pelo sentido da visão, enquantoque, o documento real, impressiona otáctil e o olfativo, além do visual.

A digitalização torna o documen-to uma imagem, unificando seu con-

como subsídio para a discussão denovos encaminhamentos para o pro-jeto pedagógico, como forma de com-preensão acerca de como os proces-sos institucionais, as políticas e osprocedimentos administrativos fo-ram sendo construídos.

As vantagens de digitalização dedocumentos escolares são muitas, emespecial, se acompanhadas de grava-ção em CD-ROM. O CD-ROM comosuporte de documentos institucionaispossibilita a multiplicação de cópias,o acesso de diferentes públicos, a vi-sualização e consulta de seu conteú-do em diferentes espaços, a preser-vação dos documentos originais quenão precisam ser mais manuseadosdiretamente. Portanto, a digitalizaçãode documentos históricos e sua gra-vação em CD-ROM possibilitam a pre-servação, a socialização e o acesso aseus conteúdos de forma mais ampli-ada, saindo dos fardos de papel par-do e do fundo dos armários.

Embora a digitalização seja umaestratégia de “preservação” e ampli-ação das possibilidades de consultadocumental, ela produz um documen-to diferente do original em sua natu-reza, pois adquire a natureza de ob-jeto virtual, como diz Minutti, citadopor Valente (2005, p. 188). O docu-mento digitalizado que toma a formade objeto virtual passa a apresentar-se com as características de ser: con-gelado, desfigurado e manuseável.

O documento originário, quandodigitalizado, está “congelado”, pois otempo continua interferindo, envelhe-cendo o suporte do documento primi-tivo, mas não mais atinge da mesmaforma o digitalizado. Se houve um mo-mento em que ocorreu uma quase equi-valência entre o original e sua digitali-zação, esse assemelhamento pode serperdido principalmente devido ao pro-cesso irreversível de envelhecimentodo documento primitivo cujas cores

2 Ribeiro (1992, p. 47-64) apresenta também exemplos e argumentos neste sentido.

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teúdo e forma num todo. Digitar odocumento, ao contrário, o fragmen-ta pois, em processador de texto eem outro software, ele pode ser pes-quisado em palavras, torna-se de-componível. Digitar o documentopreserva seu conteúdo, mas o desfi-gura profundamente ao deslocar con-teúdo e suporte.

O documento, quando digitaliza-do, adquire uma característica nova:é possível “manuseá-lo”, pode-seinterferir nele, pois sua condição di-gital o mantém permanentementesuscetível a modificações pelos mes-mos recursos que a informática ofe-rece. Podem-se ampliar ou reduzir sualuminosidade, suas dimensões,pode-se recortar parte do mesmo,fazendo destaques.

Assim, se a digitalização de docu-mentos pode torná-los acessíveis a umgrande número de pessoas, oferecen-do condições para revisitação, novasanálises e reescritas da história insti-tucional, potencializando recursos daprópria instituição no incremento doprojeto formativo, também é precisolevar em conta as limitações e caracte-rísticas decorrentes desta tecnologia.De qualquer forma, a digitalização éuma estratégia disponível de preser-vação e ampliação das possibilidadesde consulta documental que, ressalta-mos, não substitui a guarda e arquiva-mento de originais.

CD-ROM como subsídiopara a reescrita da histó-ria institucional

Vários projetos de organização debancos de dados têm sido ensaia-dos, envolvendo a transposição dedocumentos que tradicionalmentesão fontes escritas e imagéticas emsuporte papel para a forma de obje-tos virtuais (Valente, 2005; Nunes,

2000; Lombardi, 2000; Amorin, 2000,Vidal e Moraes, s.d.; Stephanou,2002; Tambara e Arriada, 2004; Pinhei-ro e Cury, 2004; Miguel e Martin, 2004;Bastos et al., 2004; Vidal, 2000). Ino-vadora é a experiência do grupo depesquisa vinculado à Pós-Graduaçãoem Educação da Universidade Fede-ral do Mato Grosso, que constituiuum Banco de Vozes de diretores, ins-petores escolares, ex-professores, ex-alunos e ex-funcionários de institui-ções escolares da região (Siqueira,2005), utilizando também a prática deoferta, aos depoentes, de um CD coma entrevista a partir do qual é dado oconsentimento de uso da mesma.

A consulta à documentação decolégios no bojo das pesquisas quetemos realizado sobre a história dasinstituições escolares tem incorpora-do a intenção de oferecer às escolas esuas mantenedoras os próprios do-cumentos que foram disponibilizadospara consulta, agora como objeto vir-tual, em suporte de CD-ROM. TaisCDs constituem um tipo de banco dedados, ou seja, um “conjunto de re-gistros, não redundantes, homogêne-os, ordenados de determinada forma,armazenados em suporte magnéticoou óptico, e acessíveis por um com-putador, que constitui um arquivopara fornecer informação sobre deter-minado assunto” (Recorder et al.,1995, p. 177). Assim, os CDs tornam-se um novo suporte de documenta-ção institucional, e, por seu intermé-dio, os documentos ganham nova ar-ticulação e hierarquia. A literatura re-gistra o esforço de classificação dosdocumentos encontrados em institui-ções escolares o qual é expresso,muitas vezes, na forma de inventários(Magalhães, 2001) e tabelas3 classifi-catórias (Mogarro, 2005).

Embora a documentação que con-sultamos nas escolas pesquisadas

possa servir a vários objetivos, en-saiamos sua classificação, conside-rando a riqueza dos contextos deprodução, ou seja, se foram materi-ais produzidos pela própria institui-ção para racionalizar o seu funciona-mento ou emitidos por agências a elaexternas (Tabela 1).

Quanto ao suporte e forma, depa-ramo-nos com grande variedade,embora não grande quantidade, in-cluindo documentos textuais, imagé-ticos, sonoros e audiovisuais. Entre-tanto, embora algumas das escolaspesquisadas tenham feito da músicaum importante espaço formativo e osconjuntos musicais tenham sido umaforma de articulação e de reconheci-mento do trabalho da instituição nacomunidade, a inexistência de recur-sos tecnológicos na época impossi-bilitou a preservação desta forma demanifestação da vida institucional.Foram poucos os documentos so-noros encontrados (Tabela 2).

A forma como os documentosestão organizados em cada CD sim-boliza e atribui um significado à his-tória institucional e decorre da dis-ponibilidade de documentos. A arti-culação feita com os documentosdigitalizados e gravados num CD-ROM é uma forma de teorização, poisapresenta uma visão da instituição,uma interpretação datada no tempoe no espaço. O processo de constru-ção do CD com documentos escola-res digitalizados está prenhe de ten-sões que o pesquisador precisa irenfrentando entre segmentação eenglobamento, entre como articulardocumentos de diferentes tempos,de natureza diferenciada, de varia-dos autores e propósitos. O CD-ROM contém uma proposição, comcerto nível de sistematização, acercada história institucional tomada comoprocesso sempre renovável, não ho-

3 Artigo de Mogarro (2005, p. 84- 85) não apenas classifica os documentos que podem ser encontrados em arquivos escolares, mas sugere possíveis temáticaspara investigação que a eles poderão estar associadas. A obra de Justino Magalhães (2001) também apresenta classificação de documentos escolares,demonstrando, ademais, como estabelecimentos de ensino em Portugal preservam rica e diversificada documentação, algumas datadas do século XIX.

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Page 8: Cd-rom como apoio na pesquisa sobre a identidade e a história institucional

mogêneo, nem final. Se professores,funcionários, gestores e a comuni-dade escolar tomarem contato com oconteúdo do CD, podem utilizá-locomo contraponto e inspiração parapropostas pedagógicas e administra-tivas atuais da instituição escolar.

Trabalhando com diferentes esta-belecimentos de ensino, portanto,

PROCEDÊNCIA

Documentos da insti-

tuição

A instituição gera o do-

cumento no exercício de

sua atividade

Documentação de

fora da instituição

Documentação com in-

formações relevantes

para a vida institucional,

originária de institui-

ções, grupos ou indiví-

duos externos à escola.

Registros pessoais

Impressos

Impressos produzidos

fora da instituição, mas

referindo-a em seu con-

teúdo.

FINALIDADES – CARACTERÍSTICAS

Produzidos pela estrutura formal da instituição

para estruturar práticas, registrar elementos da

vida institucional, encaminhar os objetivos e o

trabalho ou como manifestação da ação autô-

noma do estabelecimento.

Produzidos pela estrutura formal da instituição

com a finalidade de comunicação com o ambien-

te externo.

Elaborados pela instituição para regular seu fun-

cionamento.

Normas gerais, resultado de avaliações exter-

nas, contratos do sistema de ensino ou de auto-

ridades governamentais que produzem efeitos

e delimitam a ação institucional.

Correspondência variada procedente de outros

estabelecimentos de ensino, grupos, empresas,

governo ou pessoas.

Comunicação escrita de caráter pessoal mes-

mo que seu autor tenha ocupado algum cargo

ou vínculo com a instituição, em geral manuscri-

ta. Em alguns casos esses registros não têm

destinatário específico, são apenas textos apre-

ciativos ou descritivos de situações ocorridas

no estabelecimento ou a ele relacionadas.

Notícias de jornais com informações acerca da

escola, seus dirigentes, alunos, professores,

referências acerca de eventos promovidos pelo

estabelecimento.

EXEMPLOS DE DOCUMENTOS ENCONTRADOS

• Planos

• Projetos

• Cronogramas

• Memorandos

• Instrução de processos

• Atas

• Bases curriculares

• Relatórios

• Fichas de diferente natureza

• Crônicas acerca da história institucional

• Resumos com principais fatos da vida escolar

• Resposta a cartas e ofícios

• Convites

• Editais

• Certidões

• Atestados

• Normas internas

• Critérios de decisão

• Critérios de avaliação

• Regimento

• Legislação federal ou estadual

• Pareceres do Conselho Nacional de Edu-

cação, Conselho Estadual de Educação

• Convênios e contratos

• Relatórios de inspeção

• Requerimentos

• Cartas

• Material de divulgação

• Telegramas

• Ofícios

• Atestados

• Pedido de informação

• Bilhetes

• Cartas

• anotações variadas acerca de fatos da

vida institucional

• noticias de jornais em forma de recortes

• informações da escola publicada em re-

vistas locais

Tabela 1. Tipos de documentos encontrados no acervo dos colégios analisados.

compusemos CDs com os materiaispreservados e, dentre estes, os dispo-nibilizados ao trabalho de pesquisa.São materiais de diferentes tipos quepassaram por um processo de digitali-zação, reapresentados como imagemou como texto digitado, havendo pe-ças documentais selecionadas no acer-vo da escola em função de sua dispo-

nibilidade e valor informativo frente àpossibilidade de (re)compor a históriainstitucional. Entre estas peças há“Documentos”, materiais assim desig-nados por serem portadores de infor-mações orgânicas, originais, elabora-dos na escola por seus responsáveise administradores diretos ou, a seupedido, por membros da comunidade

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detalhamento dos dados. A preten-são colocada no inicio da pesquisavisando construir a identidade insti-tucional e preservar a memória soci-al, na nossa percepção, foi plenamen-te concretizada na sistematização dosdados. A história do Colégio está res-gatada e registrada, contemplando, aolongo do CD, vivências, contextos,encaminhamentos que foram realiza-dos... A forma como foram registra-dos os dados da pesquisa, permiteque qualquer pessoa, independente-mente de seus conhecimentos de in-formática, interaja com o material,através dos recursos de hipertexto,enriquecendo sua leitura com fotos,documentos e esclarecimentos sobreas fontes de pesquisa. [...] Salienta-mos também como muito significati-va a apresentação do CD-ROM feitadurante a Jornada de Estudos, possi-bilitando aos professores da Escolamomentos de encantamento e satis-fação em fazer parte de uma institui-ção com uma história tão rica. Agra-decemos a indicação e a inclusão danossa Escola no estudo de caso, opor-tunizando que retomássemos a traje-tória histórica vivenciada, de formaintensa e peculiar, ao longo dos anosde existência do Colégio.

Reiteramos que a digitalização dedocumentos, mesmo que, sem som-bra de dúvidas, não substitua nemse sobreponha aos arquivos e mu-seus escolares, é um recurso quepode ser adotado para a preserva-

modelos de comunicação e expres-são verbal” (Paulo, 1998), entretan-to, além de sua digitalização para in-serção no CD, foram necessários al-guns procedimentos de “tradução”em palavras, procurando facilitar suaindexação e localização. Melhor di-zendo, a multiplicidade de imagensreferentes à base material, ritos eeventos das instituições exigiu umacontextualização narrativa das mes-mas; por isso, foram elaborados “co-mentários-síntese” com a finalidadede articular as informações em cadaCD objetivando a apresentação mi-nimamente contextualizada dos do-cumentos, documentação e imagensdas escolas e seus atores.

A seguir apresentamos a transcri-ção de alguns trechos da apreciaçãoque uma das escolas da pesquisa fezsobre o CD com documentos de suahistória o qual lhe foi oferecido pelaequipe da pesquisa por ocasião do fe-chamento do trabalho na instituição.Formulada pela equipe de direção daescola, esta apreciação refere o impac-to do trabalho na escola e a apresenta-ção que dele foi feita em encontro pre-paratório do início de ano letivo ondeestiveram presentes todos os profes-sores do estabelecimento.

Na apreciação do CD-ROM com da-dos da pesquisa nos impressionamoscom a densidade, a organização e o

escolar, com a finalidade de gestãoadministrativa, pedagógica, financeirana instituição. São documentos dire-tamente vinculados à vida institu-cional, quer na forma de informaçõesescritas, imagéticas ou sonoras.

Compõe também os CDs “Docu-mentação” entendida no sentido atri-buído por Lopes (1996, p. 31), textose materiais de apoio a atividades ad-ministrativas realizadas pela institui-ção, mas não elaborados na ou pelamesma. Legislação de âmbito esta-dual referente a cursos oferecidos,cópias de documentos vindos deoutros órgãos – federais, estaduais– constituem o que é referido comodocumentação. São instruções, nor-mas, leis, pareceres, cujo conteúdotraz indícios acerca das relações dainstituição com o seu entorno.

Há ainda materiais de biblioteca taiscomo impressos, recortes de jornais quetematizam a história do colégio em seusmomentos marcantes de formatura, fes-tividades, aniversários, comemorações,marcam visitas ilustres e participaçãoda administração do estabelecimentoem eventos da localidade.

Imagens foram um outro tipo dedocumento fartamente encontradonas escolas pesquisadas. Sabemosque a interpretação de imagens “sus-cita o problema de sua interligaçãocom a linguagem e, por outro lado,da sua eventual irredutibilidade aos

TIPOLOGIA – NATUREZA

Documentos textuais

Documentos iconográfi-

cos e audiovisuais

FINALIDADES – CARACTERÍSTICAS

A maior parte dos documentos das instituições

escolares é textual.

Neles as imagens apresentam a informação

acerca da instituição.

EXEMPLOS

• Manuscritos

• Impressos

• Datilografados

• Digitados

• Originais

• Xerocopiados

• Desenhos

• Mapas

• Fotografias

• Fitas de vídeo

• Plantas

• Croquis

• Filmes

• Fitas de áudio

• Discos

Tabela 2. Natureza dos documentos analisados.

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Educação Unisinos

Flávia Obino Corrêa Werle

Flavia Obino WerlePrograma de Pós-graduação emEducação, UNISINOSAv. Unisinos, 950, 93022-000 SãoLeopoldo RS, Brasil

ção documental, base para a memó-ria social e apoio para a reavaliação erealimentação da identidade institu-cional, favorecendo novas miradase reconceptualizações acerca da his-tória institucional.

Embora simulando a aparência dodocumento, a digitalização o conge-la, desfigura, além de apresentá-lo,em dependência do software e recur-sos associados, desprotegido e pas-sível de interferências externas. Es-tas restrições, entretanto, não sãofortes suficientemente para se sobre-porem às vantagens que tal recursotraz – possibilidades de divulgação,transporte e uso diversificado queganha quando assim tratado.

Talvez a construção de bancos dedados digitais com documentos his-tóricos de estabelecimentos escola-res instaure processos de conserva-ção que se coloquem no contrafluxoda legislação que orienta no sentidode minimização progressiva da do-cumentação escolar.

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Submetido em: 24/03/2007

Aceito em: 06/06/2007

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