CDU 331 NAS ESTRUTURAS DE EMPREGO E OCUPACIONAL …

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CDU 331 O NOVO CICLO TECNOLÓGICO E AS TRANSFORMAÇÕES NAS ESTRUTURAS DE EMPREGO E OCUPACIONAL Maria Cristina Caccjamalp INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é avaliar as mudanças recen- tes nas estruturas de emprego e de ocupações no País. Pa- ra tanto, apresentam-se nas primeiras seções as bases teó- ricas para esta avaliação. Examinam-se, na seção dois, as características gerais do novo paradigma tecnológico em ges- tação, destacando-se, na seção seguinte, os efeitos dessas transformações sobre o setor terciário da economia que está em forte processo de expansão e mudança na maior parte dos países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento. Posteriormente, na seção quatro, são apresentadas as ten- dências recentes do emprego e da estrutura de ocupações nos principais países industrializados da OGDE e, na seção cinco, discutem-se os impactos do novo padrão tecnológico sobre a estrutura produtiva dos países em desenvolvimento. Finalmente, nas últimas três seções traçam-se as tendências recentes da economia brasileira, as mudanças recentes no emprego, na estrutura ocupacional e sumarizam-se os prin- cipais resultados do estudo. Aponta-se, à guisa de conclu- são, que, nos países industrializados, a crescente terciariza- ção da economia prende-se às mudanças tecnológicas e aos ajustes econômicos do início da década, enquanto em alguns países em desenvolvimento, como o Brasil, e em outros da América Latina, este fenômeno reflete o período de estagna- * Professora Doutora Livre-Docente pela Faculdade de Economia e Admi- nistração da universidade de São Pau:o. 139

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CDU 331

O NOVO CICLO TECNOLÓGICO E AS TRANSFORMAÇÕESNAS ESTRUTURAS DE EMPREGO E OCUPACIONAL

Maria Cristina Caccjamalp

INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é avaliar as mudanças recen-tes nas estruturas de emprego e de ocupações no País. Pa-ra tanto, apresentam-se nas primeiras seções as bases teó-ricas para esta avaliação. Examinam-se, na seção dois, ascaracterísticas gerais do novo paradigma tecnológico em ges-tação, destacando-se, na seção seguinte, os efeitos dessastransformações sobre o setor terciário da economia que estáem forte processo de expansão e mudança na maior partedos países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento.Posteriormente, na seção quatro, são apresentadas as ten-dências recentes do emprego e da estrutura de ocupaçõesnos principais países industrializados da OGDE e, na seçãocinco, discutem-se os impactos do novo padrão tecnológicosobre a estrutura produtiva dos países em desenvolvimento.Finalmente, nas últimas três seções traçam-se as tendênciasrecentes da economia brasileira, as mudanças recentes noemprego, na estrutura ocupacional e sumarizam-se os prin-cipais resultados do estudo. Aponta-se, à guisa de conclu-são, que, nos países industrializados, a crescente terciariza-ção da economia prende-se às mudanças tecnológicas e aosajustes econômicos do início da década, enquanto em algunspaíses em desenvolvimento, como o Brasil, e em outros daAmérica Latina, este fenômeno reflete o período de estagna-

* Professora Doutora Livre-Docente pela Faculdade de Economia e Admi-

nistração da universidade de São Pau:o.

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ção econômica que está sendo vivenciado na década deOitenta.

COMPARAÇÕES ENTRE O VELHO E O NOVO PADRÃOINDUSTRIAL E TECNOLÓGICO

O padrão de acumulação mundial que se desenvolveua partir do imediato pós-guerra, e que teve como ápice desucesso o f

im dos anos sessenta baseou-se no complexo me-

tal-mecânico - que abrange bens de capital, de consumo du-rável e automóveis - e no setor petroquímico. A expansãodo consumo de bens duráveis e do automóvel encontrava-se associada à generalização e difusão do padrão de consu-mo estadunidense, enquanto o crescimento da petroquímicaestava relacionado com a expansão da demanda de matérias-primas sintéticas ao invés de naturais, e com a substituiçãodo carvão como fonte de energia. Nesse período, as econo-mias das nações avançadas, bem como o comércio mundial,apresentaram um crescimento ímpar impulsionado pela re-construção das economias européia e japonesa e pela guer-ra da Coréia.

Deseja-se destacar que a estrutura de produção, des-de o fim do século passado, assentou-se na expansão degrandes unidades produtivas - oligopólicas e transnacio-nais -, com processos produtivos massivos e na incorpora-ção sucessiva de diversas gerações de equipamentos, o queacarretou aumentos expressivos na intensidade decapital dos processos produtivos e na produtividade do traba-lho. O progresso técnico incorporado aos equipamentos,desde então, passou a responder essencialmente, como nãopoderia deixar de ser, às demandas produtivas e de consumodas economias industriais avançadas. Especialmente no pe-ríodo do pós-guerra, os mercados desses países caracteriza-ram-se em relação às demais nações pelo alto poder aquisi-tivo e pelo diminuto crescimento demográfico; expandiram-se,então, em função de novos produtos que representassem pou-pança de tempo, e/ou de esforço, ou que atendessem deman-das por lazer. É assim que se explicam tanto o aprofundamento do setor de bens de consumo duráveis, como a mu-dança da concorrência entre as empresas, que de menorescustos e preços passou para a prática de diferenciação deprodutos.

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Por outro lado, o grande volume de produção permitiumaior extensão na divisão técnica do trabalho baseada naespecialização de máquinas e de mão-de-obra, e na qual aorganização da produção e dos processos de trabalho apor-taram-se no aprimoramento dos métodos tayloristas e fordis-tas. Desenvolveu-se, também em paralelo, principalmente en-tre as grandes empresas e os grandes contingentes de traba-!hadores ali inseridos, urna estrutura sindical forte e um sis-tema complexo de relações industriais - negociações cole-tivas de trabalho, métodos de recrutamento, de alocação daforça de trabalho, de treinamento, de promoções e de esca-las salariais - que implicaram amplas conquistas traba-lhistas e de seguridade social. Assim, esses fatos permitiramum aumento considerável nos salários e nas outras remune-rações propiciando um amplo mercado para consumo de bensduráveis. Mais ainda, o aumento da produtividade do traba-lho, além de possibilitar os aumentos das remunerações, tam-bém permitiu maior volume de recursos para a área de PU,bem como para a expansão dos serviços públicos, de obrasde infra-estrutura físico-social e das políticas do Estado-de-Bem-Estar.

A inserção da força de trabalho, nesse contexto, pas-sou por profundas transformações, a tendência à urbanizaçãoacentuou-se, a força de trabalho incorporou maior número deanos de escolaridade formal, aumentou sensivelmente a par-ticipação das mulheres na produção e diminuiu aquela dosjovens. A estrutura ocupacional refletiu estas mudanças, mo-vendo-se de ocupações inseridas na agricultura e pouco qua-lificadas na área urbana para ocupações tipicamente urba-nas na área técnico-administrativa e com maior qualificação.Adicionalmente, e principalmente no meio urbano, o empregoassalariado segmentou-se entre os denominados mercados detrabalho internos ou primários - dependentes e independen-tes e o mercado secundário. O primeiro segmento é re-presentado pelos bons empregos que, em geral, estão inse-ridos nas grandes corporações, ou seja são aqueles postosde trabalho que oferecem as melhores condições relativas detrabalho e de profissionalização. Enquanto o mercado de tra-balho secundário, por outro lado, é formado pelos empregosinstáveis, que não oferecem oportunidades de treinamento,nem de ascensão profissional, além de apresentarem níveisde remuneração inferiores e de se situarem, muitas vezes, à

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margem da legislação trabalhista e de seguridade social doPaís(1).

- O padrão de crescimento industrial enunciado começaa perder dinamismo no final da década de sessenta. Dimi-nuem os ritmos de crescimento do nível da atividade econô-mica e da produtividade do trabalho, caem as taxas de ren-tabilidade, observam-se aumentos nos níveis de capacidadeociosa e emergem pressões inflacionárias. Esta crise encon-tra-se associada a inúmeros fatores(2), destacando-se, entreos mais importantes, a elevação dos salários reais acima daprodutividade - por pressões dps sindicatos e da concorrên-cia intércapitalista -, a saturação da demanda por bens du-ráveis e a elevação da carga fiscal, em geral e, em particu-lar, das empresas. Os dois choques de petróleo na décadade 70 e a instabilidade do sistema financeiro internacionalvieram exacerbar os desequilíbrios nas economias avançadas,obrigando-as, a partir de 1981, a estabelecer programas orto-doxos de estabilização que, embora bem-sucedidos no com-bate à inflação, trouxeram custos sociais elevados em quasetodos os países da OCDE.

A partir de 1984, contudo, a economia desses paísesiniciou um processo de recuperação que foi sustentado, ini-cialmente, pela utilização da capacidade ociosa e, nos anosseguintes, por investimentos em alta tecnologia. Adicional-mente, outro fenômeno que merece destaque foi a transfor-mação do movimento sindical, que de extremamente comba-tivo e rígido na década anterior, desarticulou-se e, em mui-tos casos, permitiu reajustamentos dos salários abaixo da in-flação. Em parte, este último fato é explicado por dois moti-vos. O primeiro é que o novo ciclo de acumulação industrialtende a se alocar em regiões onde não há atividades indus-triais e nas quais não há sindicatos organizados. O segundoé que novas formas de organização do trabalho e de relaçõescapital—trabalho estão em gestação e, ainda, encontram-se emfase embrionária os modos como os sindicatos irão atuar(3).

1) Uma discussão sobre estes conceitos, e referências bibliográficas adi-cionais podem ser encontradas em Cacciamali (1978).

21 Mais detalhes sobre a crise do sistema industrial podem ser en-contrados, entre outros em cacciamali (1988 b, cap. 5).

3) Os artigos contidos no livro de Schmitz e carvalho (organizadores;1988) e nos estudos apresentados e comentados por Salies (1989) ilus-tram com muita propriedade esta matéria.

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Desta forma, a nova'trajetória tecnológica, posta emmarcha desde meados da década passada, de forma acele-rada desde o fim dos anos setenta, baseada no complexo ele-tro-eletrônico, está sendo uma resposta ao esgotamento dopadrão industrial. A aplicação das inovações técnicas asso-ciadas à microeletrônica, que inicialmente foram altamenteimpulsionadas pela indústria militar, está se mostrando capazde fazer com que os países avançados retornem às altas ta-xas de produtividade do trabalho e de rentabilidade. Ade-mais, esses avanços, que permitem a aceleração e o maiorvolume no tratamento massificado, no processamento, na me-morização, na análise e na transmissão das informações, es-tão produzindo uma verdadeira revolução nas formas de pro-duzir, na vida econômica em geral e na organização da vidasocial e, portanto, estão imprimindo transformações profundasno padrão mundial de desenvolvimento industrial, nas rela-ções econôrhicas internacionais entre os países e entre osPOVOS.

A transformação tecnológica, de acordo com análisesrecentes, está tendo um impacto maior sobre a qualidade eo número de novos processos de fabricação e de trabalho doque sobre a criação de novos produtos(4) reflete-se na redis-tribuição setorial e espacial das atividades econômicas; e nosurgimento de novos modos de organização industrial, degestão, de estratégias de mercado, de coordenação dos re-tursos humanos e de organização do trabalho(5). No campoindustrial, por exemplo, devem ser citadas as inovações mi-croeletrônicas aplicadas na concepção, projeção e desenhosde novos produtos; em equipamentos e sistemas flexíveis deprodução de manufaturados; na utilização de robôs; no cam-po da biotecnologia; no setor da química fina; na engenhariagenética; em novos materiais; e em novas formas de energia.Por outro lado, a computadorização da produção possibilitamétodos administrativos mais eficientes, como por exemplo aaplicação do princípio just in time (gestão por fluxos) em queo volume de estoques é adequado a cada etapa de produçãoÀ entre operações seqüenciais que têm implicações na re-dução da acumulação de estoques, no melhor controle defluxo de materiais e componentes ena menor ociosidade do

4) Rada (1982), Kaplinsky (1987) e Lieptz e Leboryne (1988).

) ctlI (1985) e Sdott e Stcrper (1987).

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equipamento. Além disso, a nova tecnologia permite tambémmelhores processos de controle de qualidade, redução da in-tensidade no uso da mão-de-obra e de matérias-primas natu-rais.

Sinteticamente, flexibilidade: este é o salto qualitativoimpresso pela microeletrônica ao processo de produção. Comela criou-se a possibilidade da produzir maior número de lo-tes de diferentes produtos manufaturados, por meio da repro-gramação a baixo custo dos equipamentos, sem abandonar apadronização, pondo fim à rigidez imposta nos processos deprodução sob a égide do paradigma tecnológico anterior. Es-te fato muda as condições de lucratividade na implantaçãode um equipamento, que nas novas condições pode dirigir-se pará mercados menores e segmentados, ao invés de umgrande mercado consumidor como no paradigma anterior edeve, inclusive, orientar a definição, por parte dos países emdesenvolvimento, de novas políticas industriais(6).

Somam--se a estas mudanças, outras que estão vindoassociadas a novas técnicas gerenciais e de alocação de for-ça de trabalho, em que a ênfase é dada em primeiro lugar àmão-de-obra altamente qualificada e, em seguida, à maior in-tegração entre administração e produção com a diminuiçãorelativa na estrutura ocupacional dos trabalhadores típicos deprodução - operários, blue-collars. Estas características, co-mo será visto mais adiante, têm fortes e consideráveis reper-cussões sobre o futuro desenvolvimento industrial dos paísesde industrialização recente (NlCs) e sua inserção no proces-so de reestruturação da economia mundial.

A recente literatura especializada sobre a revoluçãomicroeletrônica enfatiza as inovações aplicadas no setor in-dustrial. No entanto, outras aplicações dessa nova tecnologiapossuem tanta, ou até, maior importância, no fornecimentode serviços e em rotinas administrativas, seja pelas transfor-mações na organização da produção, ou pela velocidade desua difusão(7)

3. TRANSFORMAÇÕES DO SETOR TERCIÁRIO E DA ORGA-NIZAÇÃO DO TRABALHO EM ESCRITÓRIOS

Este é o caso do uso crescente de determinados arte-fatos para uso doméstico e da maior parte das atividades do

6) Veja-se, a esse respeito, Perez (1984).7) Vejam-se a esse respeito, entre outros, Rada (1982). Kaplinsky (1987)e Stanback (1981).

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setor terciário. Destacam-se, em relação ao primeiro tipo, adifusão crescente de computadores de uso pessoal, teletextose outros equipamentos para famílias e para o lazer. No quese refere ao setor terciário, destacam-se as mudanças verifi-cadas nas atividades financeiras e bancárias (bolsa de valo-res, bolsa de mercadorias, caixas automáticos, dinheiro ele-trônico); no ramo de distribuição de produtos (integração en-tre transportes, comércio atacadista e varejista); nas teleco-municações (fibras áticas, sistemas de transmissão, produçãode equipamentos periféricos, controle digital); nos ramos detransportes (companhias aéreas, estradas de terro, metrôs,fluxo de trânsito); no comércio varejista (pontos de vendacomputadorizados, controle de vendas e estoques); nos seto-res da administração pública (arrecadação, segurança públi-ca, planejamento, correio, controle das tarifas e da utilizaçãodos serviços públicos em geral); na saúde (medicina compu-tadorizada); e na educação (treinamento profissional, cursosde conhecimentos gerais, educação formal a distância). Pa-ralelamente a estas modificações, também tem se verificado,nos países industrializados, a expansão do comércio (shop-ping centers, lojas de departamentos, butiques, lojas de pro-dutos especializados, etc.) e de serviços de lazer e pessoais(restaurantes, hotéis, fast-food, clubes esportivos, academias,lavanderias, serviços de embelezamento e tratos pessoais,etc.) diferenciados e orentados para atender, tanto a sofis-ticação dos grupos de altos níveis de renda, como tambémvisando as necessidades de segmentos específicos da popu-lação de menor nível de renda, imigrantes, minorias étnicas,etc.(8).

Não se pode deixar de enfatizar, também, a mudançade funções e o aumento das ocupações administrativas e ge-rais de escritório, que se expandem, fundamentalmente, portrês motivos. O primeiro é a necessidade crescente de infor-mações para a tomada de decisões econômicas, sociais, po-líticas e administrativas em geral. O segundo, complementarao anterior, é a urgência de meios para tratar essas informa-ções, pois o volume e a velocidade em que foram e estão sen-do geradas são colossais. Neste sentido, o ambiente técnicoda microeletrônica não apenas responde a essas condições,como também estimula o próprio desenvolvimento tecnológi-

8) Veja-se a esse respeito Osório de Almeida (1988).

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co. O tercõiro, motivo,, que leva à evolução acelerada dessastécnicas, é a necessidade de aumentar a produtividade nasatividades administrativas, que, em décadas passadas, vinhacrescendo muita mais lentamente que nos setores de produ-ção.

Por outro lado, a expansão deste novo padrão técnicona organização das empresas foi favorecida por dois elemen-tos adicionais. O primeiro refere-se à magnitude da relaçãocapital—produto que é muito menor na administração - cercade 1130 avos - quando comparada com as atividades agrí-colas e industriais. O segundo relaciona-se ao fato de que oaumento de produtividade na administração impulsiona posi-tivamente a produtividade geral na empresa. Além do que,deseja-se mencionar que, estudos recentes defendem a tesede que é a partir da concepção gerencial adotada pela em-presa, e da forma decorrente de organização do trabalho naprodução de bens e serviços, que dependerá o sucesso daimplantação das novas técnicas e os níveis de rentabilidadee de produtividade que poderão a vir ser alcançados(9).

& TRANSFORMAÇõES ESTRUTURAIS RECENTES E TEN-DÊNCIAS DO EMPREGO E DA ESTRUTURA OCUPACIO-NAL NOS PAISES DA OCDE

A transformação tecnológica, a redistribuição espacialdas atividades econômicas e os programas de estabilizaçãodo inicio dos anos oitenta implicaram que esta década, paraos principais países da OCDE, representa, quando compara-da com os anos setenta, um período de menores taxas decrescimento no produto e no emprego. Além do mais, aindadeve ser notado que os decréscimos observados no desem-penho do produto são menores que os da variável ocupaçãoe que esse fenômeno reflete dois fatos relevantes. Por umlado, verificaram-se aumentos importantes na produtividadedo trabalho, mormente nos setores industrial e agrícola; poroutro, as taxas de crescimento do emprego relativamente bai-xas, mesmo ocorrendo num contexto de baixa expansão de-mográfica, portanto de pequeno aumento da força de traba-lho, não impediu que, neste período, se verificasse um eu-

9) Veja-se Sailes (1989).

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mento no patamar das taxas de desemprego aberto (qua-dro 1)(1O).

Neste contexto as estimativas das elasticidades produ-to—emprego(111) entre a década passada e os anos compreen-didos entre 1980-87, mostram valores menores, ou negativos,para o segundo período, a não ser para o Japão. Dito em ou-tras palavras, este indicador revela que o crescimento do pro-duto, está ocorrendo em anos recentes com menor absorçãode força de trabalho ou com sua expulsão do processo deprodução. Este é o caso dos setores agrícola e industrial detodas as nações em pauta, com exceção da indústria japone-sa, que tem apresentado altas taxas de investimento e deproduto.

O setor terciário apresenta comportamento diferente:as elasticidades produto—emprego decrescem na maioria dospaíses, exceto Japão e França; no entanto, continuam a man-ter valores positivos. Isto vem a confirmar características tra-dicionalmente constatadas para este setor(12): grande flexibi-lidade em absorver força de trabalho, alta elasticidade-renda,manutenção do nível global de emprego, menor susceptibili-dade às quedas do nível da atividade econômica e menor cres-cimento da produtividade vis-à-vis os demais grandes setores.Adicionalmente, o desempenho recente deste setor vem rati-ficar tendências referentes tanto ao aumento da importânciados serviços no produto e no emprego da economia - em1987, próxima aos 60% - I bem como associadas à crise eco-nômica do início da década; ao novo padrão de crescimen-to econômico; e às transformações do setor terciário em facedas novas demandas sociais e das mudanças tecnológicas.

O emprego terciário. como era de esperar, pelascaracterísticas expostas, apresenta maior participação relati-va no total do emprego que a correspondente parcela do pro-duto, o que implica que, em termos de produtividade relativado trabalho, este setor situa-se próximo ou abaixo da média

10) Os quadros estatísticos apresentados neste trabalho foram elabora-dos pela autora a partir de informações d g Banco Mundial, OrganizaçãoInternacional do Trabalho. ODE e Organizações das Nações Unidas.

11) Define-se elasticidade produto—emprego como dE/E:dP/P em que E= emprego e P = produto. Este indicador mostra qual a variação per.centual que ocorre no emprego dada a variação de 1 0/o no produto.

12) Veja-se por exemplo em Caccianiali (1988). -

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geral da economia. Comportamento contrário possuem os se-tores da indústria e da agricultura que, sempre, mas espe-cialmente nos anos Oitenta, conduziram os aumentos de pro-dutividade da economia (quadro 2). No caso da indústria, es-ses dados ilustram, conjuntamente com todas as informaçõesapresentadas, o fenômeno denominado recentemente na lite-ratura especializada de crescimento sem trabalho(13).

Assim, na nova ordem tecnológica em gestação, o se-tor terciário continua a destacar-se mais pela criação de em-pregos do que por aumentos de produtividade, mesmo em ter-mos absolutos (quadro 3). Todas as atividades de serviços,na década de 80, expandiram fortemente o emprego (quadro5). Destacam-se, em primeiro lugar, o ramo de instituiçõesfinanceiras que cresceu em todos os países indistintamenteda estrutura econômica específica a cada um deles; em se-guida, as atividades sociais, que se expandem dependendoda extensão dos serviços públicos oferecidos pelo Estado,em cada um dos países analisados, especialmente nos cam-pos da seguridade social e da educação. Os outros ramosdo setor terciário contribuíram com taxas de crescimento me-nos expressivas destacando-se os serviços pessoais e as ati-vidades de comércio, de alojamento e de restaurantes que re-presentam, em todos os países, cerca de 30% ou mais e en-tre 14 e 23%, respectivamente, do total do emprego.

Deseja-se apontar, contudo, que esta performance dosetor terciário como absorvedor de mão-de-obra é posta emdúvida como tendência a ser mantida no longo prazo, poisobservam-se, nos países industrializados, alguns fenômenosque estariam bloqueando esta evolução favorável(14). O primelro refere-se à substituição crescente de serviços por bensduráveis; por exemplo, cinemas e teatros por videocassetes,transportes públicos por transportes privados, etc. O segun-do refere-se à tendência recente de intensificar em capital osprocessos produtivos deste setor.

Não se acredita que o setor terciário deixe de cumpriro papel de forte gerador de empregos. Em primeiro lugar, arelação capital—produto do setor terciário é significativamenteinferior aos demais setores da economia, e há uma variedadeimportante de serviços que não comporta maior intensifica-

IS) veja-se a este respeito •Nabuco, M. R. (1989).

14) Veja-se por exemplo. Kapllnsky (1987).

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ção em capital. Em segundo lugar, algumas atividades ter-ciárias vêm intensificando em capital seus processos produ-tivos e ainda assim aumentado o nível de emprego, como é ocaso do setor saúde. Em terceiro lugar, o setor terciário secaracteriza pela cap-acidade rápida de transformação, adapta-ção e diversificação de atividades, atendendo a novas deman-das. Esta flexibilidade é tanto maior quanto menor for a uni-dade produtiva, mormente se ela estiver inserida no setor in-formal da economia. Os países industrializados vêm mostran-do, recentemente, um aumento de trabalhadores por conta pró-pria e de pequenos negócios, tanto ligados à prestação deserviços em geral, como associados a trabalhos de assesso-rias e administrativos originados pelas novas tecnologias.Além do mais, este setor tem demonstrado, ao longo do tem-po, que não desaparece, isto é, possui um espaço permanen-,te na estrutura de produção, independentemente do nível dedesenvolvimento econômico(15).

Se, por um lado, não é de esperar que as ativida-des terciárias deixem de absorver expressivamente força detrabalho, por outro, este fato não significa que a evoluçãodestas atividades tenha a capacidade de sustentar, para ostrabalhadores ali inseridos, níveis de rendimento relativamen-te elevados. A proliferação de pequenas atividades, caso o.mercado não esteja em expansão, conduz à redução do nív&de rendimento médio dos ocupados. Adicionalmente, este ti-po de organização da produção também propicia o cresci-mento de empregos no mercado secundário de trabalho enão qualificados em período parcial. Estes fatos, aliados a,principalmente, dois fatores mencionados anteriormente, eque estão vindo acoplados com o novo padrão tecnológico,podem conduzir à maior concentração do nível de renda. Oprimeiro é que a redistribuição espacial das atividades reti-ra parte da força de trabalho de locais que possuem sindi-catos tradicionais e fortemente organizados para regiões no-vas em que o poder sindical ainda não se estabeleceu. O se-gundo refere-se à nova demanda por mão-de-obra que enfa-tiza um perfil bimodal de qualificação nos dois extremos da.distribuição: pessoal altamente qualificado e pessoal sem ne-nhum tipo de qualificação.

Nesse sentido, a análise de uma amostra de países du-rante o período de 1978-1987 revela elevada expansão deocupações na alta administração e nos níveis técnico-profis-

IS) Veja-se a esse respeito caccíamali (1989 a).

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QUADRO 1

TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTOS DO EMPREGO, DO PRO-DUTO E ELASTICIDADES PRODUTO-EMPREGO

PRINCIPAIS PAISES DA OCDE1970-87

Taxas - Em percentagem

PAISES Cresc. Emprego cresc. Produto Elasticidade Taxa deDesemprego

- 1980-70 1980.87 1980-70 1980-87 1980.70 1987-80 1970 1980 1987

CANADÁAgriculturaSecundárioManufaturaTe rc lá rioTotal

ESTADOSUNIDOSAgriculturaSecundárioManufaturaTerciárioTotal

FRANÇAAgriculturaSecundárioManufaturaTe rc já rioTotal

ALEMANHAAgriculturaSecundárioManufaturaTe rc já rioTotal

JAPÃOAgriculturaSecundárioManufaturaTe rc i á rioTotal

017 .000 2.80

2.240 -136 3.40

1.790 -.460 3.60

4.058 2.399 4.30

3.246 1.586 3.90

.071 -.531 1.20

1.562 .097 1.20

1.154 -.669 2.90

2.806 2.642 3.20

2.298 1.791 3.00

-4.158 -3.063 1.40-. 519 -2.388 3,10-. 325 -2.396 3.60

2.534 1.358 4.00.618 -. 238 3.50

-3.434 -2.039 1.40-. 431 -1.297 2.10-. 445 -1.011 2.00

1.504 1.316 1.70

2.283 .035 2.60

-4.198 -2.336 1.10

.729 .297 5.50

- .073 .595 6.40

2.314 1.896 5.50

.836 .941 5.00

2.80 .006 .0002.90 .659 - .0473.60 .497 - .1282.90 .944 .8272.90 .832 .547 5.6 .7.4 .8.8

3.10 .059 - .1713.20 1.302 .0304.00 .398 - 1673.00 .877 .6813.10 .766 .578 4.8 7.0 6.1

2.80 -2.970 -1.101.60 - .167 -3.980

- .0901.60 .633 .8491.30 .177 - .183 2.5 6.3 10.6

3.10 -2.453 - .658.70 - .205 -1.853.80 - .223 -1.264

2.10 .885 .6281.50 .109 .023 1.5 3.0 6.2

1.00 -3.816 -2.3365.00 .133 .0597.80 - .011 .0762.90 .421 .6543.70 .167 .254 1.1 2.0 2.8

QUADRO 2

TENDÊNCIAS DA PRODUTIVIDADE RELATIVA DOTRABALHO

PRINCIPAIS PAISES DA OCDE

1970-87

Produtividade Relativa

RAMOS 1970 1980 1987

.4921.010

.8931.0571.000

.7651.061

.972984

1.000

.464

.9381.0301.2141.000

405.979.982

1.1261.000

.3511.1711.1031.111

CANADAAgriculturaIndústriaManufaturaTerctârioTotal

ESTADOSUNIDOSAgriculturaIndústriaManufaturaTerciárioTotal

FRANÇAAgriculturaIndústriaManufaturaTe rc /á r loTotal

ALEMANHAAgriculturaIndústriaManufaturaTerdárioTotal

JAPÃOAgriculturaIndústriaManufaturaTercfárioTotal

.735

.157

.964:954

- - 1.000

.8441.105

.086

.9591.000

• 4671.0161.0631.0711.000

.3741.0001.089

.7351.000

• .3841.1601.1741.014•1.000

.615c422.a1.000

.8741.000

.6611.1341.074

.962

.000

.5721.1161.5601.0051:000

.433

.9921.0131.0541.000

.3631.2141.244

.9661.000

QUADRO 3

TAXA MÉDIA ANUAL DE CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADEDO TRABALHO

PRINCIPAIS PAÍSES DA OCDE

1970-87

TAXAS - Em percentagem

r

CANADA

RAMOS 1980-70 1987-80

Agricultura 2.783

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ESTADOSUNIDOS

AgriculturaSecundárioManufaturaTercárioTotal

FRANÇA

AgriculturaSecundárioManufaturaTerc!árioTotal

ALEMANHA

AgriculturaSecundárioManufaturaTercMrioTotal

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5.558 5.883

3.619

2.988

3.925 2.396

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2.881 1.538

4.834 5.139

2.531 1.997

2.445 1.811

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sionais e uma retração nos demais tipos de trabalhas espe-cialmente naqueles ligados á produção - blue collars -(quadro 4). E, dessa forma, esses fenômenos que estão sen-do constatados, nos países europeus e, principalmente, nosEstados Unidos, aumentam a desigualdade na distribuição darenda e jogam para a esfera política dos interesses de classeas possibilidades futuras de que o novo paradigma industrialespalhe os benefícios do progresso econômico para a maiorparte da população.

S. IMPACTO DO NOVO PARADIGMA TECNOLÓGICO SO-BRE OS PAÍSES DE INDUSTRIALIZAÇÃO RECENTE

A década de oitenta, além da aceleração da transfor-mação da base tecnológica, apresenta também outras aspec-tos que têm impacto S direto sobre o padrão de crescimentoindustrial, e as próprias possibilidades de expansão quantita-tiva e qualitativa da indústria dos países de industrializaçãorecente. Dentre os mais relevantes elementos adicionais, des-tacam-se pela menos dois: a formação de macromercadosmundiais e a esgotamento do padrão de financiamento inter-nacional privado.

Inicialmente, deseja-se relembrar que a revolução tec-nológica em andamento repercute sobre os destinos da estru-tura produtiva dos NICs de diversas maneiras. Em primeirolugar, os países de industrialização avançada estão se atiran-do na criação de atividades intensivas em tecnologia de pon-ta, gerando novos mercados, nos quais os países em desen-volvimento encontram-se, de início, à margem, a exemplo daprópria indústria eletrônica. Em segundo lugar, esses paísesestão renovando tecnologicamente setores tradicionais, recu-perando a competitividade perdida no mercado internacionalpara os países em desenvolvimento, como é o caso da indús-tria têxtil. Em terceiro lugar, as novas tecnologias diminuemas vantagens comparativas de novos investimentos nos paísesem desenvolvimento, porque reduzem a participação nas es-truturas de custos dos salários, das despesas com energia ecom matérias-primas naturais. Além disso, a flexibilização dosProcessos produtivos torna menor o tamanho mínimo ótimodas plantas industriais, o que limita as vantagens decorrentesda economia de escala.

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Salienta-se que estes fatos não implicam que ocorranecessariamente um fluxo inverso de capitais para os paísesde industrialização avançada. Isto porque, entre outros fato-res, há parques industriais complexos já instalados, as mu-danças nos processos produtivos não são imediatas, muitasinovações irão compor setores industriais novos, o custo dodesenvolvimento das novas tecnologias exige escala mun-dial, e há a própria reação dos NlCs a esse conjunto de fato-res. No entanto, sem dúvida, os países em desenvolvimentopotencialmente perderam vantagens comparativas na atraçãode novos investimentos.

Um segundo aspecto de relevância na reorganizaçãoeconômica mundial refere-se à constituição de grandes blo-cos econômicos supranacionais, como é o caso da unificaçãoeconômica européia a partir de 1992, da maior integração im-plementada entre os Estados Unidos, o Canadá e, num futuropróximo, o México; e entre o Japão e os países do Leste Asiá-tico. Esta reordenação não apenas procede de um longo pro-cesso de integração nas estruturas produtiva, comercial, deinvestimentos e financeira entre esses países, como tambémprevê os requerimentos da nova tecnologia quanto à necessi-dade de aumentar a dimensão dos mercados imposta pelo al-to custo do desenvolvimento na nova tecnologia e a rápidaobsolescência dos produtos e processos. Esses traços tam-bém reforçam as tendências - expostas anteriormente, refe-rentes à revolução tecnológica em andamento - de diminui-ção da atratividade dos países em desenvolvimento para no-vos investimentos.

Nesta reordenação, que está sendo paulatinamente im-plementada, a América Latina encontra-se numa situação al-tamente desfavorável- O processo de integração econômicaentre os países da região situa-se numa fase embrionária -os primeiros acordos de estreitamento dos vínculos comer-ciais entre Argentina, Brasil e Uruguai sofrem forte oposiçãodos grupos empresariais domésticos que se julgam prejudica-dos pelas importações. E o processo de integração com ou-tros países fora do continente sequer foi cogitado. Operigo desta situação é que determinados processos produ-tivos e produtos que se viabilizam apenas a partir de grandesmercados fiquem excluídos da região, visto que os países iso-ladamente possuem mercados inadequados.

Finalmente, no que tange à última questão - endivida-mento externo e o fim dos grandes empréstimos bancáriosjunto ao sistema financeiro internacional - o maior impacto

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se faz sentir sobre a região Latino-Americana. Os países doLeste Asiático tiveram sucesso nos seus processos de esta-bilização e estão mantendo um crescimento ampliado de seuprocesso industrial. Adicionalmente, essa região está integra-da com o Japão, e esse bloco está aumentando os vínculosde integração com o macromercado do continente norte-americano, além de continuar a receber investimentos diretose indiretos destas nações. O deslocamento do eixo econômi-co dominante do Atlântico para o Pacífico está paulatinamen-te se reforçando.

É notório que a América Latina está passando por umperíodo de retardamento de seu processo de industrialização.O modelo de crescimento com endividamento, após o choquedos juros, implicou programas de estabilização que foramadministrados por meio de contenção da demanda internasem uma definição prévia de política industrial e sem priori-zar setores, ou mesmo as áreas sociais, o que acabou porprovocar forte desorganização econômica. Além dos proble-mas com o balanço do pagamento, o crescimento da dívidainterna nestes países e as dificuldades políticas oriundas doprocesso de transição democrática por que alguns deles pas-aram, contribuíram para uma maior incapacidade adminis-

trativa do Estado.Em contrapartida, nos países do Leste Asiático, espe-

cificamente no caso da Coréia do Sul, no inicio da década,foi implementada uma política ortodoxa de contenção de de-manda, mas com o estabelecimento de cortes seletivos nasdespesas públicas e nos incentivos financeiros consistentescom a política industrial definida pelo Estado. Este, nesse pe-ríodo, reforçou sua ação, priorizando, por um lado, produtosde alta tecnologia e, por outro, as áreas de P&D e de qualifi-cação de mão-de-obra de alto nível.

Assim, a recuperação da economia mundial, a partirde 1984, encontrou os NICs em condições diferentes paraparticipar desse surto positivo. A elevação no volume de ex-portações de manufaturados, impulsionando as taxas de cres-cimento econômico, ocorreu tanto no Leste da Ásia como naAmérica Latina. Mas, é necessário apontar que apenas naprimeira região mencionada, implicou uma mudança quali-tativa na estrutura industrial e de exportações, mostrando quea sua promoção, embora seja condição necessária para a es-tabilização econômica ê a modernização tecnológica, não écondição suficiente para esta última. As exportações no les-.te asiático, a partir de então foram lideradas por produtos

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mais complexos, mais intensivos em tecnologia, com maiorvalor agregado e penetrando mercados mais sofisticados daeconomia mundial. Enquanto. isso. a maior parte dos paíseslatino-americanos continuou com exportações tradicionais demanufaturados e de ccmmodities. Estes fatos refletem-se nodesempenho econômico desses países na década de oitenta.Enquanto os países do Leste Asiático continuam a manter ele-vado crescimento nas manufaturas, elevam consideravelmen-te os níveis de produtividade do trabalho, e estão expandin-do a participação doa salários no valor adicionado do setorindustrial, os países da América Latina apresentam um com-portamento estagnado ou regressivo (quadros de 5 a 7).

Além do mais, deseja-se destacar que, não obrigato-riamente, a nova tecnologia nos países em desenvolvimentodeva vir acompanhada de . maiores níveis de desemprego. Is-to porque, erii primeiro lugar, a difusão tecnológica é lentae a nova tecnoIo:iainda está amadurecendo. Em segundolugar, nesses países, mais do que naqueles industrializados,a inovação tecnológica provoca, em geral, a coexistência deocupações novas - inseridas nos setores dinâmicos - comocupações em via de extinção, inseridas nos setores tradi-cionais. E, apesar do movimento de realocação da mão-de-obra procedente de atividades de baixa produtividade em di-reção àquelas com maiores níveis de produtividade, aindauma grande barcela de força de trabalho permanece inseridaem atividades e ocupações tradicionais. A evolução da es-trutura ocupacional, entre 1980 e 1987, de alguns países emdesenvolvimento ilustra este fato, A Coréia do Sul e Hong-Kong apresentaram, nessa período; um aumento substantivo,tanto das ocupações técnicas e profissionais, como naquelasde prestação de serviços, sendo que o primeiro país mencio-nado expandiu, ainda, as ocupações na produção, contraba-lanceando, assim, a perda de empregos na agricultura (qua-dro 8). Enquanto no caso do Brasil, pais que esteve sujeitoaum processo de stop and go no produto que redundou emestagnação econômica, as ocupações nos serviços perderampeso relativo na estrutura ocupacional para funções adminis-trativas e técnicas e as ocupações na produção mantiverama participação relativa.

A política de estabilização econômica na América La-tina, que levou à redução no fluxo de capital estrangeiro, numretardamento do ingresso no novo padrão de integração eco-nômica, a baixa experiência em absorção e aprimoramentotecnológico, a não priorização de investimentos nas áreas de

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ciência e tecnologia e em recursos humanos de alta qualifi-cação técnica representam fortes restrições nas perspecti-vas de inserção da América Latina na nova divisão interna-cional do trabalho. Como elemento complicador, não pode-mos ignorar a imensa dívida social existente nestes países,particularmente no que diz respeito à distribuição de renda eà educação. A evolução de indicadores sociais no quadro 9mostra a maior lentidão do resgate da dívida social na Amé-rica Latina comparativamente ao Leste Asiático. Por outro la-do, não enfrentar estas questões, somente superáveis poruma forte determinação política e pela coordenação econômi-ca democrática do Estado implicarão uma defasagem tec-nológica maior e num maior isolamento em relação ao desen-volvimento econômico e social do resto do mundo.

PERSPECTIVAS DA ECONOMIA BRASILEIRA EM FACEDO NOVO PADRÃO TECNOLÓGICO

O quadro político, social e econômico brasileiro nãofoge das características do processo latino-americano: aocontrário, os rumos que virão a ser seguidos pelo país sãoelementos fundamentais na evolução do destino do nosso con-tinente. A industrialização brasileira no pós-guerra aportou-se basicamente na ação do Estado(16) que a partir da décadade oitenta, não apenas deixou de coordenar o processo deindustrialização, como também retardou as possibilidades fa-voráveis de inserção do país na reorganização econômicamundial em andamento.

A não definição de uma política industriàl foi mortal,no médio prazo, para uma possível modernização da indústriado Pais e da própria sociedade brasileira. Adiciona-se a issouma política macroeconômica obtusa no inicio da década euma política difusa, orientada para políticas de estabilizaçãode curtíssimo prazo nos anos seguintes. O quadro resultanteredundou em um forte desestimulo ao investimento privado,numa diminuição no raio de manobra para investimentos pú-blicos. na redução dos salários e do mercado interno, numainsuficiência de atividades de pesquisa nas áreas técnicas, eem deficiências na formação de recursos humanos de alto nkvel, trazendo conseqüências sobre a defasagem tecnológica

16) uma análise das características principais do processo de industriali-zação brasileiro, entro 1950 e 1985 pode ser encontrado, entre outros, emcacciamali (1988; capítulos de III a VI).

165

entre o Brasil e a OCDE. Para se ter uma idéia, a indústriapaulista apresentou, entre 1980 e 1987, um aumento na produ-tividade do trabalho da ordem de 14%, enquanto os sete prin-cipais países industrializados, no mesmo período, obtiveramum crescimento acumulado de produtividade nunca inferior a34%, mais do dobro(17).

Estes problemas recaíram sobre um parque industrialque, embora extenso e com elevado grau de integração, en-contrava-se ainda num estágio de insuficiente desenvolvimen-to tecnológico, e que dependia para exportar, com exceções,da proteção e dos benefícios fiscais administrados pelo Es-tado, de uma alta relação câmbio/salário, ou de outras van-tagens tradicionais e da redução do mercado interno ocorri-da nesta década.

A necessidade de investimentos e patente na atual fa-se da economia brasileira: de um percentual que, na décadapassada, girava em torno de 23% do PIB, observa-se, a pre-ços constantes, uma redução para 16% em 1987(18). Adicio-nalmenté, o fluxo de renda líquida enviada para o exterior,entre as décadas de setenta e oitenta, inverteu o comporta-mento: representava entre 4 e 5% positivos do PIB naqueleprimeiro período, e situa-se, em 1987, no mesmo percentualcom sinal invertido. Além disso, o País está se defrontandocom a primeira grande evasão de capitais privados nacionaisno período pós-guerra. Na composição da formação brutade capital fixo, o item máquinas e equipamentos teve seupeso reduzido de 40% na década passada, para 28% em 1987,mais um indicador que reflete uma tendência de atraso tec-nológico e da criação de pnntos de estrangulamento na es-trutura produtiva, implicando maiores pressões inflacioná-rias no sistema econômico. Dessa maneira, a atual insufi-ciência de investimentos impõe uma perspectiva pessimistapara a evolução industrial do país no médio prazo, pois já foi

17) Os dados sobre a indústria paulista são da FIESP (Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo) - o 'indicador que foi apresentado refe-re-se ao quociente entre índices do nível de atividade e emprego; as in-formações relativas aos países industrializados foram retiradas da OcDE(1988).

IS) As informações apresentadas sobre a economia brasileira foram re-tiradas da F. IBGE - Contas Nacionais, Pesquisa Nacional de Amostrapor Domicílios e censos Demográficos. Também foram consultados diver-sos artigos e números da Conjuntura Econômica da F.G.V.

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diagnosticado que a maior parte dos ramos industriais estáesbarrando nos limites da utilização da capacidade instalada,o que poderá vir a comprometer tanto as exportações (celu-losé, siderurgia, fios naturais e artificiais), como o atendimen-to do próprio mercado interno (confecções, têxtil, calçados,pneumáticos). Também são notórias as ineficiências e insu-ficiências nós setores de infra-estrutura básica, principalmen-te energia, transportes internos , portos, armazenamento e,com menor ênfase, mas com atraso crescente, comunicações.

Esta conjuntura. entretanto, não impediu que a estrutu-ra econômica tenha absorvido alguns aspectos positivos donovo ciclo tecnológico. Destacam-se os segmentos agro-industriais, os setores industriais voltados para a exportação,os segmentos modernos do setor terciário e a aplicação damicroeletrônica nas atividades de planejamento administrati-vo, financeiro e nos trabalhos de escritório, em geral. Espe-cialmente no setor terciário e nas atividades administrativas,o avanço de métodos de trabalho aportados na informáticaocorreu a despeito da proteção do Estado ao produtor nacio-nal, o que implicou, por um lado, maiores custos de inves-timento, maior desembolso para os usuários em geral e im-possibilidade de acesso ao segmento mais moderno dessatecnologia; e, por outro, o aumento da prática de contraban-do de equipamentos e de pirataria de software. Apesar des-sas dificuldades, como o investimento para modernizar a maiorparte das atividades terciárias, mesmo sendo mais elevado,em função das barreiras à importação, ainda é relativamentepequeno, acredita-se que o processo de implantação dessatecnologia, nesse setor, deverá continuar a se expandir. De-seja-se deixar claro, entretanto, que a modernização dos ser-viços e dos trabalhos burocráticos, sem a definição, p01 par-te do Estado, de uma política industrial e de investimentosnas áreas de P&D e de recursos humanos de alta qualifica-ção, não conduzirá o País na direção da modernização e danova onda tecnológica.

Isto posto, percebem-se as dificuldades com que a so-ciedade brasileira se defrontará para enfrentar as novas con-dições da economia mundial. Contudo, à medida que ocor-ram paulatinamente transformações radicais nos rumos p011-ticos e da política econômica, há possibilidades de uma in-serção que acompanhe o novo padrão de acumulação. Ra-tifica-se que a primeira grande questão é a necessidade desaneamento financeiro do Estado e do estabelecimento decondições favoráveis para os investimentos privados no bojo

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de uma política industrial definida. A experiência dos paísesasiáticos indica que, ao contrário de uma liberalização da eco-nomia, a intervenção do Estado foi, e é, fundamental para de-finir uma estratégia industrial bem sucedida de longo prazo.Ê importante esclarecer que tal intervenção não precisa sernem ditatorial e nem diretamente sobre a atividade produtiva,mas na criação de regras de política econômica.

Finalizando, não se pode omitir, dentro do redireciona-mento da nossa economia, o passivo social apresentado pelasociedade brasileira, após quase meio século de história re-cente da industrialização do País. Este impasse pode ser su-perado pela capacidade de coordenação do Estado e de ar-ticulação com o setor privado, subordinando e compatibilizan-do a política econômica, inclusive de estabilização, a uma es-tratégia industrial que leve a uma integração competitiva naeconomia internacional, dos ramos em que o país de fatotem vantagens comparativas.

As mudanças qualitativas das formas de ação do Esta-do podem, e devem no caso brasileiro, priorizar a distribuiçãoregional da estrutura produtiva de acordo com vantagenscomparativas de longo prazo; o rejuvenescimento tecnológicoe dos métodos de produção dos setores de bens de salários;a expansão da infra-estrutura física voltada para o transporteinterno e armazenamento de alimentos, inclusive, no sentidode diminuir desperdícios. Estes são espaços econômicos quedevem ser ocupados pela iniciativa privada, e investir de for-ma direta nas áreas de educação, não apenas básica, mastécnica, e de saúde.

7. TENDÊNCIAS RECENTES NAS ESTRUTURAS DO PRODU-TO, DO EMPREGO E DAS OCUPAÇÕES NO BRASIL

Na década de oitenta, as mudanças estruturais no pro-duto e no emprego, a despeito do período de estagnação eco-nômica, continuaram a se processar na direção esperada,embora num ritmo mais lento, e com perda nos níveis de pro-dutividade do trabalho nos setores econômicos urbanos.

O setor agrícola foi o único a manter um desempenhocompatível com a década anterior: o produto cresceu a4,3% a.a., o que implicou a mesma participação relativa dadécada passada.

Embora a participação desse setor no total da produ-ção seja relativamente pequena, sustentou com o crescimentoda produtividade do trabalho, expulsando também mão-de-

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obra, o nível médio de produtividade global (quadros de 10e 11).

O setor industrial, bem como o setor manufatureiro,perdeu participação nas duas variáveis - relativamente, aqueda é maior no produto que no emprego -I o que conduza uma diminuição de —2.28%a.a., e —1 .42%a.a., respecti-vamente, na produtividade média do trabalho dos setores. En-quanto o setor terciário expandiu a produção às custas demaiores níveis relativos de emprego que, também, ocasiona-ram a redução no crescimento da produtividade do trabalhona ordem de —1 .33%a.a.

Essas informações, contudo, escondem disparidadesregionais e subsetoriais, pois conforme apresentado anterior-mente, ocorreu um rejuvenescimento tecnológico em determi-nados segmentos da estrutura produtiva brasileira. O cresci-mento do emprego nos anos oitenta, conforme destacado an-teriormente, deu-se principalmente no setor terciário da eco-nomia, impulsionado fortemente pelo setor público. As ativi-dades sociais e a administração direta do Estado expandiram-se, entre 1979 e 1987, a taxas médias anuais de 695% e6,12%, respectivamente, o que elevou a participação dessesramos no total do emprego para cerca de 13%. Além dessessubsetores, a única atividade que cresceu acima da taxa mé-dia anual do setor terciário foi o denominado de outras -principalmente representado pelas instituições financeiras -que expandiu a ocupação a 5,99% ao ano. Por outro lado, ocomércio e a prestação de serviços, embora crescendo rela-tivamente menos que a média, ainda representam, e esta éuma regra geral na maioria dos países, a maior parcela dosserviços, com 11,5% e 17,6%, respectivamente.

A década de 80 representou também o surgimento deum fenômeno novo no mercado de trabalho brasileiro: o gran-de crescimento de empregados sem carteira de trabalho, àmargem da Igislação trabalhista. Este tipo de posição naocupação expandiu-se, no meio urbano, de 20,39%, em 1979,para 2623%, em 1987, representando nesse último ano,11.359 mil pessoas. O número relativo de pessoas que nãoestavam contribuindo para institutos de previdência social.entre todos os ocupados urbanos, independentemente da po-sição na ocupação, vem decaindo nesta década. Em 1979,eles representavam cerca de 40% e, em 1987, passam a par-ticipar com 37%, mas, mesmo assim, isto significa um núme-ro considerável de pessoas, cerca de 16 milhões. Estas in-formações mostram que o ajustamento do mercado de traba-

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QUADRO 11

TAXAS MÉDIAS DE CRESCIMENTO ANUAIS DO PRODUTO

E DO EMPREGO POR SETORES ECONÔMICOS

BRASIL

1970-87

(Em porcentagem)

PRODUTO EMPREGO

1970.80 1979.87 1970-80 1979.87

4.754

9.299

8.959

9.036

8.680

Agrícola

Indústria

Manufatura

Tercidrio

Total

4.318 .017

1.033 7.262

2.090 7.781

4.192 6.001

3.562 4.011

- .208

3.317

3.512

5.521

3.333

171

lho, nesta década, em função do período inicial de recessãoe dos anos posteriores de incertezas, deu-se por meio de vín-culos à margem da regulamentação do mercado de trabalho.

O crescimento econômica e a incorporação do progres-so técnico exigem, conforme vista anteriormente, o ajustamen-to da estrutura ocupacional aos novos requerimentos da de-manda de mão-de-obra, bem como conduzem ao aumento dasocupações administrativas e técnicas especializadas. Este fe-nômeno está se verificando na estrutura ocupacional do País,embora, na década de 80. numa velocidade Inferior à dos anossetenta. As ocupações agrícolas continuam a decrescer, deacordo com as expectativas, perdendo 20,6 pontos percen-tuais, entre 1970 e 1987, representando 23% nesse últimoano. As ocupações administrativas - que incluem funçõesburocráticas, alta administração e de escritório em geral -representavam, em 1970, 10,1% do total do emprego e che-gam a participar, em 1987, com 13,6% . Adicionalmente, asocupações profissionais e técnicas que se caracterizam porfunções especializadas de nível superior, expandiram-se de4,7%, em 1970, para 6,6%, em 1980 e 7,1°/a em 1987. As ocu-pações no setor secundário, típicas de produção, sofreram umligeiro decréscimo nesta última década, o mesmo acorrendocom aquelas de transportes e comunicações. Este fato nãodemonstra que o Brasil, como os países industrializados, tenhasaturado o papel de absorvedor de mão-de-obra do setor se-cundário, mas sim, revela os efeitos da estagnação econômi-ca desta última década, pois conforme apresentado, o nívelmédio de produtividade do trabalho neste setor decresceu nadécada de oitenta-

A estrutura ocupacional brasileira mostra sinais, embo-ra lentos, de modernizaç ão. Isto não apenas é revelado peloaumento de ocupações técnicas, profissionais e administrati-vas mas, também, é confirmado pelo decréscimo que está severificando nas ocupações de prestação de serviços. É notó-rio que, no Brasil, no meio urbano, é neste segmento que secongrega o maior número de postos de trabalho de baixa pro-dutividade e baixos níveis de remuneração. E, conformeobservado anteriormente, a absorção de mão-de-obra por es-te setor está crescendo ligeiramente abaixo da média do se-tor terciário.

As mudanças na estrutura ocupacional que decorremde um processo de modernização tecnológica implicamremunerações maiores para os trabalhadores que possuem osrequerimentos da nova demanda ou que ajustam rapidamen-

172,.

te as habilidades e qualificações aos novos requisitos. Nes-se sentido, é de esperar que o perfil de rendimentos, se-gundo a estrutura ocupacional, acompanhe esse processo detransformação, inclusive pela pressão dos sindicatos. Em to-das as categorias de estrutura ocupacional para o Brasil, en-tre 1970 e 1986, observa-se uma diminuição dos trabalhado-res nas faixas menores de rendimentos.

Também todas as categorias ocupacionais, com exce-ção dos segmentos técnico e científico e da alta administra-ção, concentram a maior parte dos trabalhadores na faixa en-tre meio e três salários mínimos. As ocupações técnicas ecientíficas, as da alta administração e as administrativas, co-mo era de esperar, concentram o maior número de traba-lhadores que recebem mais de dez salários mínimos. Estasocupações, conforme apresentado anteriormente, são aquelasque mais se beneficiam do processo de modernização da eco-nomia; Portanto, à proporção em que não haja medidas con-sistentes e de longo prazo de redistribuição de renda - dis-tribuição da riqueza, impostos regressivos, diminuição relati-va dospreços de bens de salários, acesso à escolaridade debom nível, d ifusão da formação profissional, etc. - é deesperar .que a nova onda tecnológica virá, no Brasil, acompa-nhada de maior concentração de salários e de renda.

CONSIDERAÇõES FINAIS

O novo paradigma tecnológico em gestação se diferequaIitâtiamente do anterior, principalmente, pela flexibilidadeem produzir lotes diferentes padronizados, a baixo custo, pormeiódh reprogramação dos equipamentos. Este tato mudaas condições de lucratividade de um equipamento e as formasde concorrência entre as empresas. Somam-se a esta mudan-ça, outras, como a realocação no espaço das atividades eco-nômicas: que, em nível mundial, se dirigem para aumentar o vo-lume do comércio na costa do Pacifico; a reformulação dasformas de organização do trabalho e de gestão com maiorintegração entre admin i stração e produção; o aumento daprodutividade nos setores industriais e agropecuários acom-panhadã de grande redução de trabalhadores na produção; amodernização técnica das atividades burocráticas e de escri-tório que vem associada de forte expansão com aumentos deprodutividade do trabalho, nunca conseguido nas décadas an-teriores; a formação de recursos humanos de alto nível dequalificação; e, finalmente, os proàessos de produção indus-

173

QUADRO 12

DISTRIBUIÇÃO DA PEA OCUPADA E TAXA MÉDIA ANUAL

DE CRESCIMENTO SEGUNDO SETORES ECONÔMICOSDESAGREGADOS

BRASIL

1970-1987

(Em porcentagem)

DISTRIBUIÇÃO TAXA MÉDIA

1980 1987 1970-80 1979-87

TOTAL

PRIMÁRIO

SECUNDÁRIO

Transformação

Construção

Outras

TE RC IA A O

Comércio

Transportes eComunicações

P. de Serviços

AdministraçãoPública

Serv. Auxiliares

Outras

100.0 100.0 100.0 4.011

3.333

44.3 29.9 24.6 .017 - .208

17.9 24.4 23.9 7.262 3.317

11.0 15.7 15.7

7.781

3.512

5.8

7.2 6.6 6.343

2.938

1.1 1.5 1.5 7.138

3.005

37.8

45.7 51.6 6.001 5.521

7.6

9.4 11.6 6.225

5.689

4.0 4.1 3.8 4.511 3.488

13.3 16.2 17.6 6.091 5.275

3.9 4.1 4.7 4.631 6.950

2.5 2.9 ... 4.974

3.9 4.9 3.0 6.40* 5.095

1970

4.7

10.1

43.6

14.9

4.6

3.9

7.7

10.0

1980

6.6

12.1

28.6

20.7

7.7

4.5

12.1

7.4

QUADRO 13

DISTRIBUIÇÃO DO EMPREGO SEGUNDO A ESTRUTURAOCUPACIONAL

BRASIL

1970-87

técnicas,Científicas.Artísticas eAssemelhadas

Administrativas

Agropecuárias eExtrativas

Ind. de Transfor-mação e Constru-ção Civil

Comércio e Ativ.Auxiliares

Transportes eComunicações

Prestação deServiços

Outras

1987

7.1

13.6

23.0

20.4

9.8

3.9

10.3

11.9

175

trial estão passando a utilizar novas formas de energia e me-nor quantidade de matérias-primas naturais. Ademais, o setorterciário passa a ganhar cada vez maior importância no pro-duto e no emprego da economia, transformando-se para aten-der às novas demandas do setor produtivo, da sociedade, epara absorver a mão-da-obra expulsa dos setores de produ-ção material da economia.

Estas características impactam sobre os países em de-senvolvimento de forma diferenciada e favorecem aqueles quejá realizaram as transformações estruturais requeridas pelanova modernidade, ou que estão adotando as novas técnicas,ou que se encontram articulados nos grandes blocos mun-diais de comércio que estão em formação. Neste contexto,a região latino-americana e o Brasil, em particular, encontram-se em desvantagem com relação aos países do Leste da Ásia.A maioria dos países latino-americanos, na década de oiten-ta, encontrava-se em processos de mudanças político-institu-cionais, não superando os problemas postos pelo endividamen-to externo - contraído na década de 70 e exponenciado nasanos 80 pela alta das taxas internacionais de juros ---. Alémdisso, a maior parte dos países encontra-se com urnelevadodefióit público, com o aparelho de Estado desarticulado e semcapacidade de manter uma política econômica consistente, esem possibilidades de definir e de coordenar uma política in-dustrial. Um outro elemento que dificulta o processo de mo-dernização dessas economias é a elevada dívida social, re-presaritada, não apenas por um elevado grau de disparidadena distribuição de renda e de possibilidades de integração aomercado de trabalho ! como também pela deterioração do sis-tema educacional básico e da formação de profissionais dealta qualificação - requerimentos do novo ciclo tecnológico.Mesmo assim, a reordenação econômica em direção ao novociclode modernização poderá vir a ser obtido à medida emque as mudanças institucionais se sedimentem e que o Esta-do passe a ser o ator da coordenação da política econômica.

No Brasil, as transformações estruturais no produto eno emprego continuaram a se processar, durante a década deoitenta, na direção esperada, embora com uma velocidademais lenta. Ressalte-se que, até 1987, o nível de produtivida-de média do trabalho dos setores urbanos decresceu, e queeste indicador para o total da economia não decresceu emvirtude do comportamento positivo do setor agropecuário. Oemprego, durante o período, foi sustentado, principalmente,pelo setor terciárlo da economia e pelas relações de assala-

176

riamento clandestinas. Este fato permitiu que as empresas,mormente as médias e as pequenas, ajustassem seus custos,acarretando a perda dos direitos trabalhistas dos empregados,que por sua vez conseguiram obter algum tipo de rendimento.

A estrutura ocupacional do País, também, direcionou-se, de uma forma lenta, para mudanças que seriam espera-das, na presença de um processo de modernização na estru-tura produtiva. As ocupações técnicas, científicas, e adminis-trativas ganharam importância no total do emprego, enquan-to os trabalhos na produção permaneceram estagnados. De-seja-se, contudo, destacar que, ao contrário dos países indus-trializados, em que este fenômeno mostra os reflexos da cri-se econômica do início da década de oitenta e de um pro-cesso de modernização tecnológica, no caso brasileiro indicaprincipalmente a reação do parque industrial em face da desor-ganização e da estagnação da economia do País. As ocupaçõesque demonstraram maior capacidade média de ascensão sa-larial também se inserem nos segmentos técnico, cientifico,na alta administração e nos trabalhos de escritório. Dessaforma, a expectativa é de que, caso o Pais ingresse no novomodelo de uma forma acelerada, e sem medidas econômicasque tenham o fito de diminuir as disparidades de renda, au-mente o grau de concentração nos salários.

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