CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES … · 2014-07-22 · Sem você não teria...

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1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES CEARENSES CURSO SERVIÇO SOCIAL FRANCISCA GEANNE RIOS PERCEPÇÕES E ANÁLISES SOBRE A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL: O OLHAR DA ASSISTENTE SOCIAL QUE ATUA NOS CENTROS DE REFERENCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM FORTALEZA- CEARÁ FORTALEZA 2013

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADES CEARENSES

CURSO SERVIÇO SOCIAL

FRANCISCA GEANNE RIOS

PERCEPÇÕES E ANÁLISES SOBRE A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO

SOCIAL: O OLHAR DA ASSISTENTE SOCIAL QUE ATUA NOS CENTROS DE

REFERENCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM FORTALEZA- CEARÁ

FORTALEZA

2013

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

R586p Rios, Francisca Geanne

Percepções e análises sobre a Instrumentalidade do Serviço

Social: o olhar da Assistente Social que atual nos Centros de

Referencia de Assistência Social em Fortaleza – Ceará /

Francisca Geanne Rios. Fortaleza – 2013.

105f.

Orientador: Profª. Esp. Luciana Sátiro Silva.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Instrumentalidade. 2. Serviço Social. 3. Política de

assistencial social e trabalho. I. Benigno, Edmundo. II. Título

CDU 364.3(813.1)

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FRANCISCA GEANNE RIOS

PERCEPÇÕES E ANÁLISES SOBRE A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO

SOCIAL: O OLHAR DA ASSISTENTE SOCIAL QUE ATUA NOS CENTROS DE

REFERENCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM FORTALEZA- CEARÁ

Monografia submetida à aprovação,

Coordenação do Curso Serviço Social do

Centro de Ensino Superior do Ceará -

Faculdades Cearenses, como requisito parcial

para a obtenção do grau de Graduação.

Orientadora: Luciana Sátiro Silva

FORTALEZA

2013

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FRANCISCA GEANNE RIOS

PERCEPÇÕES E ANÁLISES SOBRE A INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO

SOCIAL: O OLHAR DA ASSISTENTE SOCIAL QUE ATUA NOS CENTROS DE

REFERENCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL EM FORTALEZA- CEARÁ

Monografia como pré-requisito para obtenção

do título de Bacharelado em Serviço Social,

outorgado pela Faculdade Cearense – FaC,

tendo sido aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data de aprovação: __29__/ _07_/_2013__

BANCA EXAMINADORA

Orientadora, Especialista. Luciana Sátiro Silva

________________________________________________

Professora, Especialista. Valney Rocha Maciel

_________________________________________________

Especialista . Anália Maria Saraiva Cavalcante

_________________________________________________

AGRADECIMENTOS

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À Deus e a Nossa Sra. Fátima, pela força e coragem que me enviou nesses anos,

em busca de conhecimento.

À minha orientadora, Luciana Sátiro, pela paciência, gentileza e apoio na construção

desse trabalho. Muito obrigada! Aprendi muito com você.

À minha mamãe querida, Edna, pela força e carinho nos momentos difíceis. Você é

um exemplo de mulher, uma guerreira em todos os sentidos, que construiu uma

família com muito amor e paciência. Sem você não teria conseguido. Te amo mais

que tudo.

Ao meu Pai, Jorge. Gostaria que você soubesse da admiração que tenho por você,

por ser uma pessoa sempre íntegra, e principalmente pelo ensinamento e a

sabedoria que você aprendeu com a vida e faz questão de passar constantemente,

sei que faz isso porque não quer que eu sofra. Obrigada por tudo, te amo.

À minha sobrinha que amo tanto, Letícia Stephani, que é a luz que iluminou os

momentos difíceis com seu carinho, um presente em minha vida, desde o dia que

em nasceu me proporcionou alegrias, e é o bem querer para toda a nossa família.

Obrigada, pelo apoio prestado, mesmo você sendo tão pequena, e obrigada pelo

beijo de hoje quando eu disse que finalmente havia terminado.

À minha irmã, Georgia Rios, pelo apoio e a todos os meus familiares pela

compreensão e paciência. Amo vocês.

Agradeço as amizades verdadeiras construídas nestes anos de faculdade e as

colegas de classe, em especial à Ana Kelly, Regina, Kezia, Natalia, Cristiane e Ayla.

Nunca esquecerei de vocês, significam muito para mim.

À minha amiga Monique Mota e a toda sua família, que nunca me deixou desistir

dessa árdua caminhada. Amiga muito obrigado pelo seu apoio em todos estes anos

de faculdade e, principalmente neste ano, por sempre me fazer dar risada. Amo

você assim, desse jeitinho falando muito. “Cala a boca Monique”.

Às minhas amigas de longa data, Amanda, Vanessa, Fernanda, Nagia, Sabrina,

pelos momentos de descontração e apoio nas horas difíceis. Amor eterno. Adoro

vocês.

Às minhas supervisoras de estágio Cicera e Andrea, obrigada por tudo, aprendi

muito com vocês.

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À todos os professores do Curso de Serviço Social da Faculdades Cearenses, pelo

aprendizado.

Às profissionais Assistentes Sociais que se dispuseram a responder as perguntas

para a realização deste trabalho, que colaboraram para a realização desta pesquisa

e que eu muito admiro.

Às profissionais Assistentes Sociais da banca examinadora que se dispuseram a

contribuir com esse processo de conhecimento Anália Saraiva e Vaney Rocha. Sou

eternamente grata.

Gostaria também de pedir desculpas a todos por minha ausência neste período, sei

que foi um ano muito difícil e não pude dar todo o apoio que deveria.

E a todos que de uma forma ou de outra ajudaram na construção deste TCC.

Obrigada!

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“Eu vejo a vida Melhor no futuro Eu vejo isso Por cima de um muro De hipocrisia Que insiste Em nos rodear

Eu vejo a vida Mais clara e farta Repleta de toda Satisfação Que se tem direito Do firmamento ao chão...

Eu vejo um novo Começo de era De gente fina Elegante e sincera Com habilidade Pra dizer mais sim Do que não, não, não...”

(Tempos Moderno – Lulu

Santos)

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar de que forma os sujeitos profissionais percebem e articulam as dimensões da instrumentalidade do Serviço Social nas respostas às demandas sociais nos Centros de Referencia de Assistência Social – Cras do município de Fortaleza-Ceará. Na perspectiva de visualizar como as profissionais abordam a totalidade dos fenômenos sociais em suas intervenções cotidianas, tendo como base a racionalidade crítico-dialética, compreendida como a capacidade dos sujeitos em perceber as demandas que se colocam à profissão e imprimem respostas essas, a partir do processo sócio-histórico atual que fazem parte, na constante relação entre teleologias e causalidades. Dessa forma o diálogo que traçamos aqui sobre a instrumentalidade enquanto conjunto de conhecimentos específicos da referida profissão, composto fundamentalmente pelo desenvolvimento de três dimensões prático-formativas: teórico-metodológica que se plasma na apreensão do método e das teorias na articulação com a prática; dimensão ético-política refere-se ao desenvolvimento da competência de análise da sociedade, da própria profissão e da correlação de forças existentes nas relações contraditórias, abrangendo o caráter político da categoria, bem como a consciência do profissional a respeito da direção social que produz na intervenção. Por fim, a dimensão técnico-operativa que diz respeito aos elementos técnicos e forma de intervir nos fenômenos sociais a fim de suspender a imediaticidade desses e buscar respostas ao fazer profissional percebendo a totalidade, das relações nas quais os fenômenos se apresentam e estão articulados. Apresentamos como essas dimensões apresentam-se no exercício profissional, com base nas experiências das Assistentes Sociais dos Cras. O presente trabalho foi realizado através da pesquisa empírica de natureza qualitativa por meio da pesquisa documental e bibliográfica. Para atender seus objetivos, utilizamos como técnicas metodológicas: entrevistas semi-estruturadas com profissionais atuantes nos Cras, realizadas entre os meses de maio e junho de 2013. Por meio das informações obtidas constatou-se que a categoria apresentou como a instrumentalidade dessas profissionais encontra-se emaranhada a uma serie de relações que dificultam um fazer profissional transformador. Entretanto, para isso, inúmeros desafios se apresentam em diferentes cenários, envolvendo a atual fragilização da própria política de Assistência Social, no contexto neoliberal adverso, frente à conjuntura contemporânea, à dificuldade de compreensão das profissionais sobre as dimensões da instrumentalidade, referente à ausência de capacitação profissional continuada, e a forma como é compreendida a dimensão técnico-operativa que se reduz na execução das ações voltada aos programas de transferência de renda e outras questões, que serão apresentadas nesse trabalho.

Palavras chaves: Serviço Social, Instrumentalidade, Política de Assistência Social e

Trabalho.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze how subjects perceive and articulate professional dimensions of instrumentality of Social responses to social demands in Reference Centers for Social Welfare - Cras in Fortaleza-Ceará. In the perspective view of how professionals approach all social phenomena in their everyday interventions, based on the critical-dialectical rationality, understood as the ability of individuals to realize the demands facing the profession and print answers to those from the socio-historical process that current part, the constant relationship between teleologies and causalities. Thus the dialogue that we draw here on the instrumentality as a set of specific knowledge of the profession, composed primarily by the development of three-dimensional practical training: theoretical and methodological plasma that the seizure of the method and the theories in connection with the practice; dimension ethical-political concerns the development of competence analysis of society, the profession itself and the balance of forces existing in contradictory relations, covering the political category, as well as awareness of the professional regarding the direction that produces social intervention. Finally, the technical operational dimension regards the technical elements and how to intervene in social phenomena in order to suspend the immediacy of these and seek answers to make professional realizing the totality of relationships in which phenomena arise and are articulated. Bet how these dimensions are presented in professional practice, based on the experiences of Social Workers of Cras. This work was conducted through qualitative empirical research through documentary and bibliographic research. To meet its objectives, we used as methodological techniques: semi-structured interviews with professionals working in Cras currently held between the months of May and June 2013. Through the information obtained it was found that the category presented as the instrumentality of these professionals is matted to a series of relationships that make it difficult to make professional transformer. However, for this, many challenges present themselves in different scenarios involving the current weakening of the policy itself Welfare, the neoliberal context adverse, opposite the contemporary conjuncture, the difficulty of understanding the professional on the dimensions of instrumentality, referring to the absence of continuing professional training, and how it is understood the technical operational dimension that reduces the implementation of actions geared to income transfer programs and other issues, which will be presented in this work. Keywords: Social Work, Instrumentality, Policy and Social Work.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13

CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZANDO O OBJETO DE PESQUISA

1.1 Problematização do objeto................................................................................19

1.2 Percurso Metodológico......................................................................................27

CAPÍTULO II – RELACIONANDO TRABALHO E AS DIMENSÕES DA

INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL NA CONSTRUÇÃO

PROFISSIONAL

2.1 Debatendo o fundamento ontológico do trabalho..........................................33

2.2 Os fundamentos sócio-históricos do Serviço Social: o trabalho e as

estratégias do Assistente Social............................................................................42

2.3 A instrumentalidade como processo central de mediação para intervenção

do Assistente Social................................................................................................45

2.4 A articulação das Dimensões Teórico-metodológico, Ético-político e

Técnico-operativo do Serviço Social......................................................................49

2.4.1 Dimensão Ético-política..................................................................................49

2.4.2 Dimensão Teórico-metodológica...................................................................56

2.4.3 Dimensão Técnico-operativa..........................................................................58

CAPÍTULO III – O CENÁRIO PARA A ANÁLISE DA PESQUISA: O SERVIÇO

SOCIAL E A ASSISTENCIA SOCIAL

3.1 Contextualizando a Política de Assistência Social no Brasil e a gestão da

Assistência Social – SUAS......................................................................................61

3. 2 As ações e serviços dos Centros de Referencia de Assistência Social –

Cras............................................................................................................................67

3. 3 Análise do contexto sócio-institucional: Os Cras no município de Fortaleza

e o Serviço Social (SEMAS/SETRA).......................................................................69

3. 4 As competências e habilidades expressas na Instrumentalidade do

Serviço Social no cotidiano dos Cras na ótica dos entrevistados......................72

3.4.1 Analise das Entrevistas..................................................................................75

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CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................92

REFERÊNCIAS..........................................................................................................97

APÊNDICES.............................................................................................................100

Apêndice – I: Ficha individual das entrevistadas................................................100

Apêndice – II: Roteiro das Entrevistas.................................................................101

Apêndice – III: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................103

Apêndice – IV: Carta de Apresentação.................................................................104

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LISTA SIGLAS E ABREVIATURAS

ABAS Associação Brasileira de Assistentes Sociais

ABEPSS Associação Brasileira de Estudo e Pesquisa em Serviço Social

ABESS Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social

BPC Beneficio de Prestação Continuada

CBCISS Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social

CEDEPSS Centro de Documentação e Pesquisa em Política Social e Serviço Social

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

CMAS Conselho Municipal de Assistência Social

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CRESS Conselho Regional de Serviço Social

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

ENESSO Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

FAC Faculdades Cearenses

LBA Legião Brasileira de Assistência Social

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

MEC Ministério da Educação

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NIS Numero de Identificação Social

NOB Norma Operacional Básica

ONG Organização Não Governamental

PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Básico à Família

PAF Plano de Acompanhamento Família

PBF Programa Bolsa Família

PNAS Política Nacional de Assistência Social

RQM Relatório Quantitativo Mensal

SECOT Secretaria Controladoria e Transparência

SEDAS Secretaria Municipal de Educação e Assistência social

SCDH Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos

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SEMAS Secretaria Municipal de Assistência Social

SETRA Secretaria Municipal do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à

Fome.

SMDS Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social

SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vinculo

SUAS Sistema Único de Assistência Social

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

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INTRODUÇÃO

Com o desenvolvimento sócio-histórico do Serviço Social brasileiro, da

sua gênese a constituição atual, podemos ressaltar que essa profissão, com o

passar das décadas, ampliou e aperfeiçoou seu fazer profissional, apesar das

ambiguidades e contradições decorrentes dos diferentes contextos históricos.

Segundo Netto, as contradições políticas presentes no caminho histórico

da sociedade brasileira e principalmente no período da ditadura, repercutiram em

toda a dinâmica das relações sociais e também nas profissões, o que trava uma

difícil tarefa para novas propostas profissionais inclusive no Serviço Social. Este

também foi imerso no tradicionalismo decorrente do desenvolvimento histórico e da

institucionalização da categoria nos moldes burgueses no período de sua

constituição inicial.

O rompimento com o conservadorismo que fez da gênese do Serviço

Social, é melhor como explicado por Netto em três planos:

[...] Nas suas expressões diferenciadas, ela confronta-se com a ordem autocrática burguesa: colidia com a ordem autocrática no plano teórico-cultural (os referenciais de que se socorria negavam as legitimações da autocracia), no plano profissional (os objetivos que se propunha chocavam-se com o perfil do assistente social requisitado pela ‘modernização conservadora’) e no plano político (suas concepções de participação social e cidadania, bem como suas projeções societária, batiam contra a institucionalidade da ditadura). O fato central é que a perspectiva da intenção de ruptura, em qualquer das suas formulações, possui sempre um ineliminável caráter de oposição em face da autocracia burguesa, e este tanto a distinguir – enquanto vertente do processo de renovação do Serviço Social no Brasil – das outras correntes profissionais quando respondeu pela referida trajetória. (2010, p. 248)

Compreendemos, conforme o referido autor, que nas bases sóciopolíticas

do Brasil, a intenção de ruptura trouxe essa perspectiva acompanhada do processo

de laicização e diferenciação da profissão posta na democratização e no movimento

de defesa das classes exploradas e subalternas, derrotadas em abril, que nas falas

de Netto:

No quadro do ciclo autocrático burguês [...] se articulam as tendências sociopolíticas que mais imediatamente suportaram a perspectiva da intenção de ruptura: a mobilização antiditatorial (com fortes impulsões de radicalidade anticapitalista) dinamizada pelos setores das camadas médias urbanas jogadas na oposição coloca os referenciais – culturais e políticos – que, na sequência da derrota anterior da classe operaria e do conjunto dos trabalhadores, vão nutrir a perspectiva profissional de que nos ocupamos. Ou seja: esta perspectiva expressa geneticamente, no plano do Serviço

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Social, as tendências mais democráticas da sociedade brasileira próprias da década de sessenta. (2010, p.257)

Historicamente, os assistentes sociais desenvolveram suas intervenções

na implementação de políticas publicas como executores terminais das políticas

sociais estando a serviço do Estado e a favor do proletariado, permanecendo assim,

em um campo contraditório e conflituoso que lhe imprime muitos desafios.

Refere-se ao que pontuamos até agora sobre as analises de Netto (2010)

na construção da sociedade brasileira e no desdobramento da profissão na mesma.

Portanto, é importante introduzir o percurso da Política Social e da Assistência

Social no Brasil, pois esse estudo é necessário para entendermos em qual campo

está direcionada esta pesquisa.

Para compreendermos o surgimento da política social no Brasil, cabe

caracterizarmos a formação do modo de produção capitalista por meio de uma

leitura dialética, sintonizada na dinâmica do mercado mundial e na tensão dos

movimentos internos da economia da sociedade brasileira, (que sempre despertou

interesse econômico em outros países).

Inicialmente, pelo processo de colonização mediante uma sociedade

escravista e estrangeira que fez germinar no país uma diversidade cultural, valores,

ideias e os ritmos de mudanças, acarretando um peso nas relações sociais e de

trabalho, que vão desencadear ao longo da historia do Brasil em níveis diferentes

nas relações desiguais no movimento da reprodução social.

A adequação brasileira ao capitalismo a partir da substituição lenta do

trabalho escravo pelo trabalho livre nas unidades agrárias, trouxe “a quebra” da

aristocracia agrária para implementação dos novos agentes econômicos que se

desenvolveram sob a pressão da divisão do trabalho, tomaram proporção na

construção de uma nova sociedade nacional.

Esse movimento é marcado pela ausência de compromisso com a defesa

dos direitos do cidadão por parte das elites econômicas, sendo essas as bases que

fundamentam a política social no Brasil, numa complexa articulação de progresso a

adaptação ao capitalismo e a conservação dos elementos da antiga ordem,

permanência do ethos colonial que o advento da independência trouxe meios de

ruptura para essa lógica, porem coexistiram componentes conservadores para

manter a ordem social da nação.

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Esse contexto influencia na política econômica do país, assim como as

relações das classes sociais que regidas por esta, acarretando reflexos

conservadores profundos, para a introdução do Serviço Social como profissão, que

veio mediar às desigualdades da totalidade das relações conflituosa entre classes

antagônicas.

É a partir das décadas de 1980 e 1990 que a categoria começa a

experimentar outra postura, pondo em questão a intervenção profissional, sem

esquecer a historicidade da categoria. Nesse momento, a profissão vem se

afirmando como especialização inscrita na divisão social e técnica do trabalho na

sociedade, em um tempo fecundo na fixação dos nortes técnicos, acadêmicos e

políticos para o Serviço Social, especialmente favorecidos para o amadurecimento

teórico que se findou a intelectualidade profissional. Nesse período ficou

denominado de Movimento de Reconceituação do Serviço Social.

É para fundamentar, interpretar e analisar essa perspectiva, que a

profissão vem visualizando a instrumentalidade como processo central de mediação

para intervenção do Assistente Social, explicando as suas dimensões teórico-

metodológica, ético-política e técnico-operativo e a articulação dialética dessas,

possibilitando decifrar a realidade e dar respostas às demandas sociais.

Sobre as discussões relevantes para entender a profissão acerca da

divisão social e técnica do trabalho, dialogamos junto a autores que fazem essa

reflexão, entre eles, Yolanda Guerra (2000), diante de suas análises dialéticas sobre

atuação profissional, encontra em um pensamento “concreto pensado” (Marx, 1857)

sobre a instrumentalidade na perspectiva de elencar a mesma, para além dos

instrumentos necessários ao agir profissional.

Vale salientar, que no período de Reconceituação da profissão foi se

estruturado uma nova instrumentalidade com a aproximação do método marxista

histórico-dialético, houve mudanças nas práticas profissionais, mas, sobretudo nas

concepções éticas e políticas. A partir da instauração dessas concepções surgindo o

movimento de componente rompimento com a neutralidade da profissão e a tomada

de valores éticos-políticos transformadores.

Com base nesse assunto, enquanto acadêmica e estagiária de Serviço

Social na política de Assistência Social no município de Fortaleza-Ce, comecemos a

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analisar o cotidiano das profissionais do campo de estágio localizado no Centro de

Referência de Assistência Social - CRAS1.

Conforme a Política Nacional de Assistência Social – PNAS de 2004, o

CRAS é uma unidade pública estatal que atua em áreas com maiores índices de

vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento socioassistencial de famílias

e indivíduos.

Ainda de acordo com a PNAS, é o principal equipamento de

desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica, o qual

possibilita o primeiro acesso dos usuários aos direitos sociais e, portanto, a proteção

social. Por fim, estrutura-se como porta de entrada da política de Assistência Social

como Proteção Social Básica.

O município de Fortaleza possui atualmente 24 equipamentos de Cras no

município, distribuído em diferentes territórios em situação de pobreza e

vulnerabilidade social.

De acordo com o exposto, com acesso a intervenção profissional em meu

período de estagio supervisionado, iniciei algumas indagações acerca das ações

profissionais neste espaço e desde então, comecei a elaborar hipótese que me

dessem subsídios para compreender aquela realidade posta diante da proposta

institucional e do compromisso da categoria com a sociedade.

Dessa forma, elegimos algumas dessas hipóteses referentes às

condições sócio-técnicas do trabalho: dificuldades quanto a contratações

profissionais, ausência de piso salarial e terceirizações de mão de obra;

cumprimento e descumprimento de metas; conduta profissional com outros

profissionais, enfim, analises múltiplas para compreender o cotidiano das

Assistentes Sociais tentando não justificar ou fazer julgamento das suas ações

mesmas e claro que levando em conta as dimensões da instrumentalidade do

Serviço Social no cotidiano.

Diante dessas questões, começaram as surgir várias indagações como:

podemos ter posturas profissionais críticas, na defesa de uma visão ética e política,

se, à medida em que se fortalece a as expressões do capitalismo, crescem as

heranças conservadoras da classe dominante? Quais rebatimentos dessa relação

1 Centro de Referência de Assistência Social - CRAS João Paulo II localiza-se na rua 10, n° 75, Bairro

Messejana. Fortaleza-Ceara.

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refletem na instrumentalidade do Serviço Social? Como podemos fazer uma

mediação critica sobre os atendimentos aos usuários, muitas vezes fragmentados,

descontínuos e sem efeitos realmente transformadores da sua realidade? Qual a

visão das profissionais acerca das suas intervenções profissionais nessa política

social?

Durante o processo de análise, nos propusemos a pesquisar sobre essas

indagações para obter respostas significativas acerca de suas relações. Assim,

articulamos as dimensões da instrumentalidade e o exercício profissional do

assistente social nos Cras do município de Fortaleza, visto que pretendia estender a

pesquisa para além do campo de estágio, em outros espaços institucionais, na

perspectiva de um conhecimento mais aprofundado a respeito do objeto estudado.

De modo geral, tentamos investigar de que forma os sujeitos profissionais

respondem às demandas que constroem a profissão historicamente a partir das

dimensões da instrumentalidade do Serviço Social na sociedade contemporânea.

Nessa pesquisa, analisamos especificamente a percepção dos

assistentes sociais sobre a leitura da realidade, como os profissionais utilizam e

entendem a categoria mediação e de que forma a dinâmica institucional possibilita

apreensão e o exercício das dimensões da instrumentalidade.

É viável ressaltar que este trabalho irá explanar a prática profissional

diante das múltiplas faces da sociabilidade capitalista contemporânea e os desafios

para intervenção, colocando em foco as dimensões da atual conjuntura.

Contudo, buscamos com essa pesquisa, contextualizar a experiência do

trabalho da assistente social nos Centros de Referencia de Assistência Social de

Fortaleza-Ce, de modo a chamar a atenção da categoria para as condições de

trabalho postas na atualidade nessa área de atuação.

Portanto, temos a divulgação desse trabalho no intuito de despertar nas

profissionais em formação ou não, uma releitura de suas práticas (caso necessite),

visto que esse processo de análise é imprescindível para dar conta da dinâmica da

sociedade e do sistema capitalista que dita às relações sociais destas, porém,

sabemos que existem vários determinantes sóciohistóricos que implicam na atual

conjuntura e refletem nas ações profissionais os quais serão discutidos no decorrer

da pesquisa.

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Diante do que foi apresentado, estruturamos esta monografia em três

capítulos a fim de atender ao objeto analisado. O primeiro capítulo teve com título

“Contextualizando o objeto de pesquisa” traçamos um breve histórico sobre a

profissão de Assistente Social no Brasil desde meados da década 40, perpassando

pelos conflitos decorrentes da ditadura militar e do regime autocrático burguês e as

influências dos seminários de teorização do Serviço Social, destacando as

conquistas e modificações no Código de Ética da profissão até a implementação da

Lei de Regulamentação da profissão 12.317/10, que estabeleceu atualmente a

jornada de trabalho de 30 horas semanais sem redução salarial para assistentes

sociais. Introduzimos também nosso Percurso Metodológico com as respectivas

fases da pesquisa com o objetivo de apresentar quais serão as técnicas de pesquisa

utilizadas para análise do objeto investigado ao tempo em que apresentamos quem

são os profissionais interlocutores que contribuíram no processo dessa pesquisa.

O segundo capítulo titulamos como “Relacionando trabalho e as

dimensões da instrumentalidade do Serviço Social na construção profissional” no

qual abordamos as categorias trabalho, Serviço Social e Instrumentalidade do

Serviço Social fundamentadas nas questões que envolvem a relação do trabalho

profissional e as dimensões da instrumentalidade do Serviço Social, a partir da

discussão do fundamento ontológico do trabalho, passando pelos fundamentos

sócio-históricos do Serviço Social a respeito do trabalho e as estratégias do

Assistente Social, de modo a articular as dimensões teórico-metodológico, ético-

político e técnico-operativo do Serviço Social. Ao final, colocamos a importância da

instrumentalidade como processo central de mediação para intervenção do

profissional.

No terceiro capitulo ultimo teve como titulo “O cenário para a análise da

pesquisa: o Serviço Social e a Assistência Social”, nele nos aproximamos do objeto

de pesquisa a partir de um panorama da Política Nacional de Assistência Social no

Brasil de modo a contextualizar a implementação do SUAS, dialogando com a

realidade do lócus da pesquisa o Cras, trazendo também para esse capítulo a

análise das falas dos profissionais entrevistados.

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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZANDO O OBJETO DE PESQUISA

1.1 Problematização do objeto

As ações desenvolvidas pelas/os Assistentes Social no enfretamento da

questão social situadas, desde sua trajetória até a atual conjuntura, nas relações

contraditórias das classes sociais da sociedade capitalista, buscaram superar a

conduta profissional messiânica e caritativa, respaldada nas suas protoformas

explicitas historicamente na profissão, visto que a mesma atua nas expressões da

questão social desde seu surgimento.

Nesse sentido, vale salientar que a aproximação com a corrente crítica

marxista na década de 1970, mesmo com a inicial carência de cientificidade por

conta de diversas questões que incidem sob a identidade arraigada na

imediaticidade das resposta espontâneas e alienantes das demandas, contribuiram

para a reflexão da categoria no que se refere às ações caritativas, possibilitando aos

profissionais, questionar e analisar sobre as suas práticas e a criação de nortes

teóricos-metodológicos e inclusive ídeo-políticos.

Cabe então fazermos um histórico sobre a profissão no Brasil, (esse

recorte fundamenta o objeto aqui pesquisado) partindo da análise de Netto (2010),

sobre o Serviço Social no Brasil pós-64, visto que este cenário aloca os

acontecimentos da construção profissional dos/as Assistentes Sociais traçado por

um período histórico regido pelo regime ditatorial sob a dominação da autocracia

burguesa que acarretou em várias mudanças no Serviço Social brasileiro.

Essas mudanças influenciaram alterações nas demandas práticas; sua

inserção nas estruturas organizacional-institucional; reconfiguraram as condições do

exercício profissional; redimensionamento da formação dos quadros técnicos,

mudanças nos padrões de sua organização como categoria e com tramas nos

referenciais teórico-culturais e ideológico.

O panorama no qual se posiciona a profissão é substancialmente

vinculado à correlação de forças e conflitos entre as classes na sociedade brasileira,

mobilizada pela exclusão das forças populares, com o objetivo de excluir a massa

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popular da história brasileira, impossibilitando a socialização do poder político,

provenientes do desfecho de abril de 1964.

O desfecho de abril foi a solução política que a força impôs: a força bateu no campo da democracia, estabelecendo um pacto contra-revolucionário e inaugurando o que Florestan Fernandes qualificou como ‘um padrão compósito e articulado de dominação burguesa’. Seu significado imediatamente político e econômico foi óbvio: expressou a derrota das forças democráticas, nacionais e populares; todavia, seu o significado histórico-social era o maior fôlego: o que o golpe derrotou foi uma alternativa de desenvolvimento econômico-social e político que era virtualmente a reversão do fio condutor da formação social brasileira. Os estrategistas (nativos ou não) de 1964 obtiveram foi a postergação de uma inflexão política que poderia – ainda que sem lesionar de imediato os fundamentos da propriedade e do mercado capitalista – romper com a heteronomia econômica do pais e com a exclusão politica da massa do povo. Nesse cívico-militar de abril foi inequivocamente reacionário – resgatou precisamente as piores tradições da sociedade brasileira. (NETTO, 2010, p.25)

Esse período teve como resultado a derrota das forças democráticas e

populares, nacionais e populistas e a implementação do movimento cívico militar

reacionário que resgatou as piores características da sociedade brasileira através da

vigência da autocracia burguesa e do modelo dos monopólios na dinâmica do

desenvolvimento econômico por meio da industrialização pesada.

Ao fazermos uma análise dos meados dos anos 1940, no Estado Novo,

visualizamos o desenvolvimento das grandes instituições sociais, e posterior nas

décadas de 1950 e 1960 expansão do mercado de trabalho ocasionados pelo

reflexo da industrialização e a manutenção do desenvolvimento capitalista

comandado pelo grande capital e do Estado autocrático.

De acordo com Netto (2010), esses fatos propiciam a erosão do Serviço

Social tradicional colocando em questão o dimensionamento técnico-racional em

função da formação profissional. O mercado nacional estabelece um novo padrão de

exigência que consequentemente alterou o relacionamento dos profissionais com as

instituições hierárquicas, com as fontes teóricas, com outros profissionais e com os

que demandavam o seu serviço, requisitando uma postura profissional mais

moderna com mais formalidade, capazes de possibilitar o controle e a verificação do

desempenho segundo critérios burocráticos para administrações das instituições,

além da inserção com outros profissionais na exigência de organicidade e

transparência.

22

Nesse período, o foco era a redefinição profissional do Serviço Social em

processo dinâmico para responder às novas demandas. As influencias teórico-

culturais e ideopolíticas situadas repercutem no não apenas exercício profissional

enquanto categoria sendo um momento efervescente de ditadura no Brasil

determinados por vários movimentos sociais.

Se por um lado, o Serviço Social foi requisitado para atender uma

necessidade do Estado e desenvolvimento capitalista, de outro a categoria soube

abrir um leque de possibilidades diante dos limites imposto na época, modificando o

perfil profissional tradicional para as ações mais racionais evidenciando a exigência

de um profissional mais critico e para tanto, capacitado para a efetivação de suas

ações em uma nova configuração societária, quando se processa a transição

democrática.

Com esse movimento na profissão, ampliam-se as perspectivas de

mudanças através da formação aprimorada para a dinâmica social, redimensiona a

realidade na qual se fez necessário reavaliar as agências de formação culminando

na inserção do ensino de Serviço Social no âmbito universitário.

A importância deste processo que foi intitulado pela categoria como o

Movimento de Reconceituação no cenário brasileiro, a partir da década de 60

reporta-se ao repensar do Serviço Social, na contestação ao tradicionalismo, ou

seja, uma revisão crítica que trouxe grandes alterações, sobretudo na sua direção

de intenção de ruptura, a qual possibilitou a interlocução com o marxismo, primeiro

sem Marx, devido ao contexto da ditadura militar e depois assumindo um resgate da

inspiração marxista voltando para a interpretação da sociedade e da profissão, numa

perspectiva de totalidade social por meio do método crítico e investigativo, uma

renovação teórico-prático social, com propostas de intervenção e compreensão da

realidade social, questionador da ordem dominante.

Cabe salientar as dificuldades iniciais obtidas com a aproximação da

teoria marxista, que incidem sobre o resultado de tratamentos equivocados e na

complexidade dos seus estudos, os quais foram determinantes na construção do

marxismo sem Marx. No entanto a inserção do pensamento Marxista contribuiu

decisivamente para incentivar o Serviço Social brasileiro e uma nova geração de

pesquisadores que se valem das concepções teórico-metodológico de Marx, de

modo a compreenderem a dinâmica da sociedade.

23

Essas mudanças ocorreram na profissão, a qual é imersa nos

antagonismos da sociedade, pois o Serviço Social como profissão instituída no

Brasil pela ação Católica traz em seu primeiro Código de Ética profissional,

aprovado em assembleia geral da Associação Brasileira de Assistentes Sociais –

ABAS, em 29 de setembro de 1947, fortes conceitos morais ligados aos dogmas da

Igreja Católica. Nesse Código, o usuário era tratado com ser desajustado na

sociedade, cabendo aos profissionais desenvolver as atividades de maneira

assistencialistas inspirados na caridade cristã.

O Código de Ética de 1965 vem definindo esse usuário como ser

inteligente e livre, no entanto, a atuação do/a Assistente Social ainda era

assistencialista, alicerçado nos direitos fundamentais da população e as exigências

do bem comum. Seus princípios estes reconhecidos pela própria filosofia do Serviço

Social da época regido pelos princípios da harmonia e equilíbrio visando à paz

social, influenciado tanto pelo neotomismo quanto pelo funcionalismo.

Após dez anos, foi aprovado o Código de 1975 que embora

permanecesse com a mesma orientação filosófica e metodológica: harmonia,

estabilidade, correção dos desníveis sociais e neutralidade do técnico, conceitos

pertinentes à base filosófica do humanismo tradicional, reafirma o conservadorismo

tradicional ao fundamentar-se no personalismo e na defesa, dentre outros

postulados, do bem comum e da justiça social dando-lhe um caráter de continuidade

dos códigos anteriores. Nele reafirma a posição acrítica em face da ação

disciplinadora do Estado.

Dessa forma, esses colóquios objetivaram a introdução dos profissionais

atualizados teoricamente e munidos de técnicas validas de novos instrumentos que

permitissem responder as demandas da sociedade capitalista. Em decorrência

desse plano, surgiu um novo arcabouço de procedimento e representação, com

analises mais aprofundadas, da sociedade brasileira a que desencadeou no

respaldados no Projeto Ético-Político do Serviço Social, instituído na profissão a

partir das décadas de 1970 –1980 e que expressa o compromisso da categoria com

a construção de uma nova ordem societária.

As discussões sobre a intervenção mais qualificada referem-se também

ao ingresso na universidade do aprofundamento da perspectiva modernizadora que

encontra a sua formulação afirmada nos seminários de teorização do Serviço Social

24

organizado pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviço Social -

CBCISS em Araxá em março de 1967.

O Seminário de Araxá2 discutiu o “rompimento” com as base

tradicionalista da profissão destacando os princípios que fundamentam a

metodologia do Serviço Social. Entende-se por princípios operacionais aqueles

norteadores da atuação do profissional, que são pressupostos éticos e metafísicos,

visto que, a metodologia empregada naquele período era de Caso, Grupo e

Desenvolvimento de Comunidade. Com o Seminário passam a existir novas formas

de atuação como técnica mobilização de forças organizadas, entre outras.

Além desse seminário de teorização, outros foram realizados como o de

Teresópolis, em janeiro 1970, que colocou em questão a metodologia do Serviço

Social; e depois outro foi promovido nos centros de estudos do Sumaré em

novembro de 1978, na arquidiose carioca que abordou o deslocamento da

perspectiva modernizadora. Por fim, outro seminário importante foi realizado do Alto

da Boa Vista em novembro de 1984.

Paralelamente aos seminários de Sumaré e Alto da Boa Vista, ocorreu a

introdução do Método Belo Horizonte – Método BH3, visto que os mesmos

desencadearam avanço na profissão de modo a introduzirem a emergência da

perspectiva modernizadora no inicio da década de 1950 ate o final da década de

1970. Durante o debate da intenção de ruptura do Serviço Social, conectadas a

aproximação das referencias do pensamento crítico-dialético, de raiz marxista pelo

viés centrado na militância política.

O Método BH foi um importante passo para o movimento de

reconceituação no Brasil. Estabelece a emersão do Serviço Social brasileiro no

ponto de vista da vertente de ruptura rebatendo em alguns centros universitários,

conforme Netto:

2 O primeiro Seminário de Teorização de Serviço Social foi promovido pelo CBCISS – Centro

Brasileiro de Cooperação e Intercambio Serviços Sociais, que convocou um grupo de 38 assistentes sociais, para uma semana de estudos sobre “Teorização do Serviço Social”. Esse encontro aconteceu de 19 a 26 de março de 1967, na cidade de Araxá. 3 Elaborado por um grupo de jovens profissionais militantes na Escola de Serviço Social da

Universidade Católica de Minas Gerais com influências estrangeiras do Método Básico da Escola de Serviço Social da Universidade Católica do Chile. Estes jovens vinham de uma forte tradição estudantil ideopolítico com uma postura critica, revolucionaria e socialista que propuseram romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano da intervenção e no plano da formação.

25

[...] São Paulo, Rio de Janeiro e Campina Grande – vai se gestando uma nova massa crítica cujo desdobramento repõe na ordem do dia a crítica substantiva ao tradicionalismo profissional. Ela se beneficia de uma interlocução nova com as disciplinas e teorias sociais e reflete com nitidez as modalidades pelas quais a autocracia feriu a profissão: joga com a ampliação da categoria, com sua laicização, com a consolidação do mercado nacional de trabalho e com a expansão das agencias de formação [...]. Estes aspectos deram inicio aos debates e consolidação acadêmica no âmbito da perspectiva de ruptura com conservadorismo, que propunha a constituição de uma metodologia alternativa que articula a teoria e ação. (NETTO, 2010, p.264)

Outro momento marcante para consolidação do Serviço Social crítico

ocorreu no III Congresso Brasileiro de Assistentes Social realizado nos dias 23 a 28

de setembro de 1979 em São Paulo, promovido pelo Conselho Federal de

Assistentes Sociais – CFAS atual CFESS – Conselho Federal de Serviço Social.

Este evento ficou conhecido como o Congresso da Virada, objetivava discutir acerca

do discurso e postura dos Assistentes Sociais restrito a Política Social a época e não

se esperava que nesse mesmo congresso os Assistentes Sociais se rebelassem.

Este evento tornou-se emblemático e demarcou a sua importância por ter

aberto a discussão e reflexão sobre o exercício profissional pautado em uma ética

profissional transformadora da realidade, agindo assim contra as próprias

organizações do Serviço Social da época, as quais eram conservadora e atendia

apenas aos interesses das classes dominantes.

Em 1986, período histórico de efervescência na sociedade brasileira e no

Serviço Social, o contexto de renovação assinalou os avanços conquistados que

deram visibilidade no debate sobre a ética profissional com o marco de ruptura

ideopolítica às influências tradicionais do funcionalismo e neotomismo, adotando

assim um referencial de base marxista propondo uma nova concepção de homem,

com o a proposta do Código de Ética desse mesmo ano.

Os novos horizontes éticos do Serviço Social, buscaram responder aos

desafios da sociedade e clarifica o compromisso ético-político de construção de uma

prática articulada com a classe trabalhadora. Nas universidades, um novo currículo

foi revisado e implantado como é exposto no atual código de Ética, edição 2012:

No plano reflexão e da normatização ética, o Código de Ética Profissional de 1986 foi uma expressão daquelas conquistas e ganhos, através de dois procedimentos: negação da base filosófica tradicional, nitidamente conservadora, que norteava a “ética da neutralidade”, e afirmação de um novo perfil do/a técnico/a, não mais um/a agente subalterno/a e apenas executivo/a, mas um/a profissional competente teórica, técnica e politicamente. (2012, p. 20)

26

A necessidade da revisão do Código de 1986 vinha sendo sentida nos organismos profissionais desde fins dos anos oitenta. Foi agendada na plataforma programática da gestão 1990/1993 do CFESS. Entrou na ordem do dia com o I Seminário Nacional de Ética (agosto de 1991) perpassou o VII CBAS (maio de 1992) e culminou no II Seminário Nacional de Ética (novembro de 1992), envolvendo, além do conjunto CFESS/CRESS, a ABESS, a ANAS e a SESSUNE. O grau de ativa participação de assistentes sociais de todo o país assegura que este novo Código, produzido no marco do mais abrangente debate da categoria, expressa as aspirações coletivas dos/as profissionais brasileiros/as. (2012, p.20)

Destacamos também no caminho que se percorreu para a formação

profissional as Diretrizes Curriculares, conforme determina o CRESS sobre a

Proposta de Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, produto de um amplo

e sistemático debate realizado pelas Unidades de Ensino a partir de 1994, quando a

XXVIII Convenção Nacional da Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social –

ABESS, ocorrida em Londrina – PR, em outubro de 1993, a qual deliberou sobre os

encaminhamentos da revisão do Currículo Mínimo vigente desde 1982 (Parecer

CFESS nº 412, de 04.08.1982 e Resolução n.º 06 de 23/09/82).

Com base na compreensão de que uma revisão curricular supõe uma

profunda avaliação do processo de formação profissional face às exigências da

contemporaneidade, a Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social – ABESS

promoveu e coordenou com o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas

Sociais e Serviço Social – CEDEPSS, órgão acadêmico que articula a Pós-

Graduação em Serviço Social.

Partindo desse processo, ocorre um intenso trabalho de mobilização das

Unidades de Ensino de Serviço Social no país e contou com o apoio decisivo da

Entidade Nacional representativa dos profissionais de Serviço Social, através do

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social, bem como, dos estudantes, através

da ENESSO - Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social4.

Esses avanços resultaram no Código de Ética do Serviço Social de 1993,

aprovado pela Lei 8.662/93, tendo como resultado a conquista que inclui as

modificações na Lei de Regulamentação da Profissão, decorrentes da aprovação da

Lei 12.317/10 de 26 de agosto de 20105.

Tivemos como resultado de todo esse processo histórico, o

direcionamento profissional expresso na instrumentalidade do Serviço Social, 4 Fonte: http://www.cfess.org.br/cfess_historico.php: acesso em 30/05/2013

5 Estabeleceu a jornada de trabalho de 30 horas semanais sem redução salarial para assistentes

sociais.

27

através das mudanças nos aspectos idéo-políticos, éticos, teóricos e operacionais

que repercutam até hoje, pois o fazer profissional foi reelaborado com a

aproximação ao materialismo histórico-dialético que possibilitou aos profissionais

realizarem analises da sociedade contemporânea por meio da apreensão da

processualidade do movimento do real, a partir da articulação das categorias:

historicidade, dialeticidade6, contradição e mediação abrangendo a totalidade dos

fenômenos (complexos dos complexos) que interagem a esse real, para, sobretudo,

transformá-lo.

É importante ressaltar que o entendimento da Instrumentalidade do

Serviço Social como categoria central para o fazer e a materialização profissional,

produzida por meio do processo teleológico (realizado sobre a práxis social que é

determinada pela ação transformadora), significa um salto para a prática profissional

que foi repensada a partir do conhecimento dessa instrumentalidade, contribuindo

para processo de maturidade profissional e intelectual, dando-lhe condições para

apreensão do contexto social, da relação homem e natureza no que tange a

produção material e a reprodução social.

Dessa forma, a Instrumentalidade do Serviço Social, expressa uma

habilidade e/ou competência profissional, construída historicamente que pressupõe

por parte da atuação das assistentes sociais o conhecimento dos aspectos

dinâmicos da sociedade sejam eles culturais, econômicos e sociais que demandam

seus serviços, relacionados sob a (Guerra, 2000) racionalidade crítico dialética. Logo

a Instrumentalidade do Serviço Social que se constitui não apenas na aparência dos

fenômenos, mas, principalmente sob a percepção da totalidade relações sociais que

estão articuladas as demandas sociais apresentadas.

Conforme o exposto, colocamos a explicitação das dimensões prático

formativa da Instrumentalidade do Serviço Social, necessária para os

posicionamentos da ação profissional, dimensão técnica-operativa, dimensão

teórico-metodológica e dimensão ético-política. Estas estão necessariamente

imbricadas à intervenção profissional, e dialeticamente articuladas. E colocam um

desafio fundamental que vem sendo um grande debate entre a categoria e os

estudantes de Serviço Social, causando indagações entre a relação teoria e prática.

6 Entende-se por contradição e dialeticidade, princípios básicos do movimento, relação entre os

processos sociais gerando novos processos, pois o movimento do real não e estático, é sempre dinâmico.

28

Tendo como base, estas questões, nos lançamos nessa pesquisa para nos

aproximar do objeto de estudo.

1.2 Percurso metodológico

Essa pesquisa foi elaborada através dos aspectos qualitativos

relacionados à intervenção das/os assistentes sociais que atuam nos Centros de

Referencia da Assistência Social – Cras.

Criamos como critério de elegibilidade dos(as) interlocutores da pesquisa

a análise da realidade de seis Centros de Referencia da Assistência Social – Cras7,

sendo um por Regional, na perspectiva de abranger toda a territorialidade do

município de Fortaleza, nos quais se configuram uma amostra da Política Municipal

de Assistência Social.

Apontamos inicialmente a abordagem qualitativa por compreendermos

que este olhar nos permite uma melhor e maior apreensão da realidade social a que

se pretende analisar. Assim, nos deixa alcançar o que se encontra por trás das falas

declaradas pelos pesquisados, não se contentando apenas com a aparência dos

fatos, mas sim, procurando desvendar a dinâmica que permeia as relações sociais

em sua totalidade.

Dessa forma, essa pesquisa se configura de natureza qualitativa, de

cunho empírico. Nas palavras de Minayo:

O método qualitativo também é o método que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os homens fazem a respeito de como vivem e constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam [...] as abordagens qualitativas se conformam melhor a investigação de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de historias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos e de documentos. (MINAYO, 2007, p.57)

Tem como objetivo geral: investigar de que forma os sujeitos profissionais

percebem e articulam as dimensões da instrumentalidade do Serviço Social nas

7 Regional SER-I Cras Pirambu/ localizado na Avenida Francisco Sá, n° 3870, Bairro Carlito

Pamplona; Regional SER-II Cras – Lagamar/ localizado na rua Sabino Monte, n° 4506, Bairro São João do Tauape; Regional III Cras – Bela Vista, localizado na Rua Mario de Andrade; Regional IV Cras – Couto Fernandes/ localizado na Travessa Tamoio, n° 933, Regional V Cras – Mondubim/ localizado na Avenida Waldir Diogo, n° 840; Regional VI Cras – João Paulo II, localizado no Conjunto João Paulo II, Bairro Messejana.

29

respostas as demandas sociais nos Centros de Referencia da Assistência Social –

Cras de Fortaleza/Ce.

E como objetivos específicos, delineamos:

1. Refletir de que forma a dinâmica conjuntural contemporânea possibilita a

apreensão por parte das profissionais e o exercício das dimensões da

instrumentalidade do Serviço Social;

2. Analisar a percepção das Assistentes Sociais sobre a leitura da realidade social e

suas ações profissionais;

3. Compreender como os profissionais utilizam e entendem a categoria mediação e

instrumentalidade;

4. Elucidar a prática profissional diante das múltiplas faces da sociedade e os

desafios para intervenção na atual conjuntura.

No processo de problematização inicial da pesquisa constituiu-se a fase

exploratória, como passo importante, visto que é através dela que traçamos as

várias etapas iniciais para a coleta e análise dos dados.

Seguimos nessa trajetória dessa fase de investigação, corroborando com

o entendimento de Minayo, compreendendo-a como: “escolha do tópico de

investigação; delimitação do objeto; definição dos objetivos; construção do marco

teórico conceitual; seleção dos instrumentos de construção/ coleta de dados;

exploração de campo”. (2010, p.38)

Todas as etapas da fase exploratória elencadas por Minayo constituem a

produção dessa pesquisa, pois iniciamos com a formalização da pesquisa junto a

Secretaria Municipal do Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à Fome –

SETRA (apêndice-III), mas antes desse passo, realizamos a definição da pergunta

de partida; delimitação dos objetivos, enfim, a estruturação das etapas iniciais da

pesquisa.

Outra fase imprescindível no processo de aproximação com o objeto

investigado denomina-se pesquisa de campo. Esta possibilita encontrar as respostas

para os questionamentos que fazemos para a realidade sendo uma porta de entrada

para o novo, através da proposta teórica que apresentamos e dos dados empíricos.

Para Minayo, o campo permite:

O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os ‘atores’ que conformam a realidade e, assim constrói um

30

conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. (MINAYO, 2010, p.61)

As seis visitas aos equipamentos fizeram parte do outro momento da

pesquisa a qual optamos realizá-la através da técnica de entrevista individual como

coleta de dados, por esta se configurar numa técnica de investigação que segundo

Minayo:

[...] é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador, destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes tendo em vista este objetivo.” (MINAYO, 2007, p.261)

As entrevistas foram organizadas de forma semiestruturadas com

perguntas abertas e fechadas, seguindo uma ficha individual das entrevistadas,

(apêndice-I) para não fugir do tema proposto. Segundo Minayo, a “semiestruturada,

que combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem possibilidade

de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada”

(2010, p.64), permite uma maior aproximação com objeto quando trabalhamos com

a pesquisa qualitativa já citada e a percepções dos sujeitos.

Em relação aos sujeitos da pesquisa, os critérios de escolha dos/as

interlocutores entrevistados/as, foram: tempo de atividades nos equipamentos,

sendo de no mínimo um ano podendo ser do sexo feminino ou masculino e esteja

formado há no mínimo dois anos.

Nas entrevistas, esperávamos contar com no mínimo dois profissionais

por equipamentos e no máximo três, na perspectiva de colhermos pelo menos, entre

nove e doze Assistentes Sociais entrevistados entre os turnos da manhã e tarde. No

entanto, conseguimos apenas 7 (sete) entrevistas, devido a questão da

disponibilidade das profissionais entrevistadas, por conta da demanda de

atendimento dos Centros de Referencia da Assistência Social – Cras, e também por

a equipe de profissionais da maioria desses espaços encontrarem-se incompletas no

período que foi realizada esta pesquisa.

Ainda na pesquisa de campo, também utilizamos a pesquisa documental

na qual analisaremos um arsenal de documentos e instrumentos de uso das

Assistentes Sociais dos Centros de Referencia da Assistência Social – Cras, para

compreensão dos instrumentos que são trabalhados no cotidiano profissional.

Conforme explica Lakatos (2001) sobre analise documental:

31

Consiste em saber esclarecer a especificidade e o campo de analise de conteúdo. Seria um conjunto de operações visando representar o conteúdo de um documento de forma diferente. Trabalha com documentos e se faz, principalmente, por classificação-indexão. Seu objetivo consiste na representação condensada da informação (LAKATOS, 2001, p.29)

Encaminhamos a pesquisa documental nesse trabalho através das

atividades realizadas nos Centros de Referencia da Assistência Social – Cras, de

modo a darmos visibilidade aos instrumentos utilizados no Serviço de Proteção e

Atendimento Básico à Família – PAIF e nos Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos, realizados por assistentes sociais sendo estes: Plano de

Acompanhamento Familiar – PAF, Relatório Quantitativo Mensal – RQM, Ficha de

Identificação da Família, Ficha de Encaminhamento, Ficha de Identificação

Simplificada, Ficha de Solicitação de Beneficio Eventual, Ficha de Registro de

Atendimento Diário, Registro de Visita-Busca Ativa e outros, Registro de Atividades

Diário dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – idoso, criança e

adolescente (Frequência, histórico, autorização)8.

Esta análise é apenas de cunho informativo visto que não nos detemos

esse objeto, mas compreendemos que é necessário para entendermos como e

através de que se processa a rotina de trabalho dos Assistentes Sociais, pois é

preciso de todos os elementos que a compõem, e assim, analisarmos o cenário da

instrumentalidade do Serviço Social no cotidiano dos Centros de Referencia da

Assistência Social – Cras de Fortaleza-Ce.

Outro processo dessa pesquisa refere-se ao referencial bibliográfico em

todo seu percurso, dando ênfase aos textos que discutam as seguintes categorias:

Trabalho, Instrumentalidade de Serviço Social, Serviço Social e a Política de

Assistência Social. Analisamos os conteúdos escritos pelos autores a fim de

encontrar um direcionamento, ou seja, buscamos relacioná-las e dividi-las por

temáticas para compor as categorias de reflexão e análise.

O método escolhido para a observação e analise dos dados foi à

hermenêutica-dialética, pois a hermenêutica nos permite interpretar os significados

dos pensamentos de nossos interlocutores, compreendidos em suas falas, visto que

esse processo se dá no contexto da realidade em que estão inseridos o interlocutor

e o pesquisador.

8 Esses dados foram coletados nos equipamentos relacionados a esta pesquisa.

32

Ambos são sujeitos históricos que interagem e complementam-se na

comunicação. E para compor outros conceitos da razão humana, a dialética

possibilita ultrapassar a aparência dos fatos através de uma consciência critica

sobre as falas dos sujeitos, a partir da reflexão dos condicionantes que constroem e

reconstroem a realidade pesquisada. Conforme explica Minayo:

A união da hermenêutica com a dialética leva a que o intérprete busque entender o texto, a fala, o depoimento como resultado de um processo social (trabalho e dominação) e processo de conhecimento (expresso em linguagem) ambos frutos de múltiplas determinações mas com significado específico. Esse texto é a representação social de uma realidade que se mostra e se esconde na comunicação, onde o autor e o intérprete são partes de um mesmo contexto ético e onde o acordo subiste ao mesmo tempo em que a tensões e perturbações sociais. (MINAYO, 2007, p.228)

Os dados coletados na pesquisa nos Centros de Referencia da

Assistência Social – Cras por meio da análise do cotidiano e das entrevistas semi-

estruturados que visam responder aos objetivos propostos, foram gravados e

posteriormente transcritos no caso das entrevistas e o cotidiano relatados de forma

dissertativa, ambos tratados a partir da compreensão obtida dos estudos das

referidas categorias.

Ainda as Assistentes Sociais que fizeram parte da pesquisa foram

convidadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice-II),

impresso em duas cópias, cujas primeiras ficaram com as respectivas entrevistadas

e as segundas, com a entrevistadora. No referido termo, ficou claro que será

mantido em sigilo o nome das profissionais e para tanto utilizamos nomes fictícios de

pedras preciosas.

Finalizamos a pesquisa com a análise dos dados coletados no campo – a

partir do tratamento do material empírico, que Minayo (2012, p. 99). Refere-se sobre

a fase final da pesquisa, com o compromisso da compreensão e a interpretação da

articulação das leituras teóricas com os dados empíricos nas relações entre o

concreto e abstrato, o geral e o particular, a teoria e a prática.

As respostas obtidas com os estudos foram estruturadas em três

capítulos: o primeiro sinaliza a construção da pesquisa contextualizando o objeto de

pesquisa; o segundo faz um recorte sobre a categoria trabalho e as dimensões da

instrumentalidade do serviço social na construção profissional e o terceiro são

pautados na discussão sobre o cenário da pesquisa: o Serviço Social e a

33

Assistência Social, contextualizando a política de assistência social no Brasil e a

gestão da assistência social – SUAS, a PNAS e o Cras.

34

CAPÍTULO II – RELACIONANDO A CATEGORIA TRABALHO E AS

DIMENSÕES DA INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL.

2.1 Debatendo o fundamento ontológico do trabalho

Tendo em vista que toda ação profissional é estabelecida por uma

subjetividade reflexiva capaz de nortear suas futuras objetivações, para

compreender os fundamentos e desenvolvimento da instrumentalidade do Serviço

Social é preciso analisar os fundamentos ontológicos da categoria trabalho e a

vinculação do método dialético à intervenção profissão.

Portanto, partiremos dos estudos de Marx (2003) e Lukacs sobre o

trabalho como algo inerente ao homem, processual e natural para humanização.

Destacaremos também, a releitura de Ricardo Antunes (2000) sobre ontologia e o

mundo do trabalho mediante no processo atual de reestruturação produtiva, a partir

do desenvolvimento do sistema capitalista a partir dos séculos XX-XXI, para

entendermos como as condições de trabalho se expressam atualmente.

Conforme a teoria lukacsiana, o processo de desenvolvimento da

humanidade se constitui ontologicamente social. Dessa forma, a natureza humana é

determinada como a natureza do ser, da realidade e de sua existência é um

construto histórico-social, isto é, os homens só podem viver se reproduzirem

socialmente em um processo de adaptação ativa e de transformação consciente do

ambiente natural, construindo assim um processo de inter-relação de caráter social e

dinâmico.

É mediante a categoria trabalho que o homem constrói uma relação de

troca, um intercâmbio orgânico entre o ser social e a natureza com o objetivo de

produzir valores de uso que sirvam para satisfazer necessidades humanas e sociais,

possibilitando “o salto das formas pré-humanas para o ser social no processo de

humanização do homem”. (ANTUNES, 2000, p.136)

O caráter social da categoria trabalho tem sua natureza nas propriedades,

modos de efetivar e desenvolver-se somente no ser social já constituído. O ato

laborativo é, portanto, resultado do alcance teleológico que antecipadamente o ser

social concebe em sua consciência. É o pensar/idealizar, projetar em sua

35

consciência antes de agir, sendo que esta relação não é possível para os animais.

Segundo Antunes:

[...] a categoria ontologicamente central, presente no processo de trabalho, é anunciada: através do trabalho, uma posição teleológica, é realizada no interior do ser material, como nascimento de uma nova objetividade. A primeira consequência disso é que o trabalho torna-se protoforma de toda a práxis social [...], sua forma originária desde que o ser social se constitui . (ANTUNES, 2000, p.137)

As condições do labor humano, tanto Lukács quanto Marx, dá o nome de

trabalho, pois somente o trabalho humano na relação homem e natureza pode se

tornar um ato teleológico9, que resulta em algo novo.

O trabalho como protoforma da práxis, da ação transformadora em seu

significado mais genérico e abstrato, como produtor de valores de uso, é

demonstração de uma relação metabólica entre o ser social e a natureza, visto que

esse tem o sentido primitivo a partir do labor criador de coisas uteis, e o seu sentido

apoiado na práxis social que tem por objetivo persuadir outros seres sociais de

modo a conceberem atos teleológicos e objetivá-los a partir da transformação da

natureza de forma pensada e planejada. Isso ocorre através da intersubjetividade, o

que incide sobre as ações entre os seres sociais. Assim explica Antunes:

Nessas formas de práxis social, a posição teleológica não é mais dada pela relação direta com a natureza, mas atua e interage junto com outros seres sociais, visando a realização de determinadas posições teleológicas [...]. (ANTUNES, 2000, p.139)

O autocontrole que emerge inicialmente a partir do trabalho, no domínio

crescente sobre sua esfera biológica e espontânea, refere-se à objetividade deste

processo. Dá-se uma nova forma de inter-relação entre teleologia e causalidade, no

interior de modo humano e social de preenchimento das necessidades humanas.

Lukács destaca, portanto, o quão fundamental é – além de compreender

o papel ontológico do trabalho, apreender sua função na constituição do ser social,

como ser dotado de autonomia e, por isso, inteiramente diferente das formas de ser

anteriores.Toda satisfação das necessidades obtidas a partir do trabalho é uma

satisfação realizada pela mediação. Enquanto cozinhar ou assar a carne é uma

forma de mediação, comê-la cozida ou assada é algo imediato. Tem-se, portanto,

por meio do trabalho, um processo que simultaneamente altera a natureza e

autotransforma o próprio ser que trabalha.

9 Uma pré-ideação do produto final do ato laborativo.

36

O homem que trabalha deve planejar cada momento com antecedência e

permanentemente conferir a realização de seus planos, de forma critica e

conscientemente, se pretende obter em seu trabalho um resultado concreto. No

novo ser social que emerge, a consciência humana deixa de ser biológica e se

constitui num momento ativo e essencial da vida cotidiana. Sua consciência é o fato

ontológico objetivo.

O trabalho alienado na sociedade capitalista se realiza na vivência de

uma tempestade de experiências singulares que afastam ou distorcem a percepção

dos indivíduos enquanto ser coletivo, negando a natureza que é própria do homem.

Sua existência genérica, somada a exploração da força de trabalho como

mercadoria, restando ao homem o estranhamento de sua força produtiva perfilando

o trabalho exterior ao próprio homem.

É no processo de exploração dessa força de trabalho que a atividade

humana torna-se alienada, visto que são colocadas as necessidades próprias do

trabalhador de lado e em beneficio dos capitalistas. De acordo com Marx, o trabalho

abstrato aliena a natureza do homem, aliena o homem de si mesmo, o seu papel

ativo, a sua atividade fundamental, aliena do mesmo modo o homem a respeito da

espécie, transforma a vida genérica em meio da vida individual. (2003, p.116)

Como o homem não se reconhece no produto do trabalho e o mesmo

trabalho não pertence ao trabalhador; a relação com o trabalho é sustentada

exclusivamente para sobrevivência e/ou subsistência na sociedade capitalista, o que

extingue sua liberdade no processo de produção, não encontrando no ato laborativo

sua satisfação.

Em primeiro lugar, o trabalho é exterior ao trabalhador, ou seja, não pertence à sua característica; portanto, ele não se sente bem, mas, infeliz, não desenvolve livremente as energias físicas e mentais, mas esgota-se fisicamente e arruina o espírito. Por conseguinte, o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, enquanto no trabalho se sente fora de si. Assim, o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado. Não constitui a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio de satisfazer outras necessidades. (MARX, 2003, p.114)

No entanto, não podemos dizer que o sentido da produção e reprodução

social encontra-se apenas na esfera do trabalho, pois existem outros momentos que

constroem e humanizam a produção social do homem como: a arte, a poesia, o

lazer, o tempo livre e estes incidem sob a emancipação e a liberdade. Portanto,

compreendemos que o trabalho não tem os elementos suficientes para que o

37

homem se realize por completo, ele deve também ter a chance de gozar de outros

momentos da vida fruto do próprio trabalho, na busca de uma vida cheia de sentido,

dotada de autenticidade e encontrar no trabalho seu lócus primeiro de realização.

Porém, quando falamos em tempo livre em uma sociedade capitalista

formada por diferentes classes sociais, na qual o dono do meio de produção – o

capitalista – utiliza o tempo máximo do trabalhador para a prática de serviços

voltados para a produção excedente de valores de troca, não lhe restando um tempo

livre suficiente para seu pleno desenvolvimento.

Assim, tratar a liberdade é também discutir o processo ontológico da

sociabilidade atual, mas devemos ter clara noção de que esta liberdade da qual

estamos abordando, diz respeito à liberdade de executar uma atividade de trabalho

que vise à satisfação das necessidades do homem, sejam elas pessoais ou da

coletividade. É uma liberdade emancipadora, que liberta o homem de qualquer

obrigação, que transforma o trabalho numa atividade totalmente prazerosa e coberta

de sentido e permite explorar as vinculações decisivas existentes entre trabalho e a

liberdade. Numa primeira aproximação, podemos dizer que a liberdade é um ato de

consciência que consiste numa decisão concreta entre diferentes possibilidades

concretas. No qual afirma Antunes:

O ato teleológico, expresso por meio da colocação de finalidades é, portanto, uma manifestação intrínseca da liberdade, no interior do processo de trabalho. É um momento efeito de interação entre subjetividade e objetividade, causalidade e teleologia, necessidade e liberdade. Portanto, para Lukács, o complexo que dá fundamento ao ser social encontra seu momento originário, sua protoformas, a partir da esfera do trabalho. (2000, p.145)

O trabalho proporciona, além da modificação na natureza, uma mudança

no próprio individuo que esta executando tal ação, que consiste tanto em uma

atividade teleológica quando prática. “A natureza humana é também

metamorfoseada a partir do processo laborativo, dada a existência da uma posição

teleológica e de uma realização prática”. (IDEM, p.132)

Conforme Marx, o trabalho é a mediação realizada através dos aspectos

ontológicos e teleológicos entre a natureza e o homem e no qual o mesmo precede

um relação de interdependência para a manutenção da vida humana.

O trabalho, como criador de valores-de-uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem – quaisquer que sejam as formas de sociedade, - é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza, e portanto, de manter a vida humana. (MARX, 1996, p. 50)

38

Marx deixa claro que o capitalismo não tem como objetivo a realização

humana e sim, a acumulação. É, portanto a apropriação da força de trabalho

humano que favorece o acúmulo do capital que perpassa elementos constituintes

desse processo de acumulação do capital; as relações de trabalho baseadas no

salário; a subvenção formal do trabalho ao capital; as mercadorias; a mais-valia; a

propriedade privada; e a divisão em classes, o que implica na relação do homem

com o trabalho, pois a objetivação humana é apropriada pelo capitalista que só

aumenta sua riqueza, seu capital, que se desenvolve enquanto cresce a miséria dos

trabalhadores.

As misérias produzidas por essas formas de ampliação da exploração têm

cada vez mais oprimido o trabalhador, num processo atual de mortificação sem

limites. Contudo, o capital não pode deixar o trabalhador sucumbir. É necessário

diminuir o sofrimento causado pelo trabalho alienado através de propostas de

humanização do trabalho, com o discurso de proporcionar prazer, que produz

felicidade e satisfação, acrescentando ao cotidiano do trabalho qualidade de vida.

No cenário atual contemporâneo, o desenvolvimento das forças

produtivas na sociedade trouxeram significativas mudanças ocorridas no mundo do

trabalho ao longo do século XX, decorrentes das novas configurações e da

organização do trabalho idealizadas a partir da segunda metade do século XIX,

atingido no pós-guerra na década de 1970: "marcaram uma ampla expansão da

economia capitalista, sob a liderança do capital industrial, apoiada em uma

organização de produção de bases tayloristas10 e fordistas11, enquanto estratégias

de organização e gestão do processo de trabalho." (IAMAMOTO, 1997, p.15).

Sobre isso, afirma Mészáros (1998) que somos produtores de uma Era

que vivencia uma permanente crise histórica sem precedentes, que comprometeu e

10 Para Harvey (1993), o taylorismo consolida a divisão do trabalho e a especialização dos operários,

sob o princípio da clássica separação entre a execução (os operários executam), e o planejamento - pensamento (a gerência pensa e planeja por eles), princípio este que visa o aumento da produtividade do trabalho através da fragmentação das tarefas e controle dos movimentos. (HARVEY, 1993, p.120)

11 Ainda para este autor o fordismo representava uma produção de massa voltada para um consumo

em massa. Este modelo de produção pode ser considerado “um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista". (HARVEY, 1993, p.121)

39

compromete o capital e a sociedade como um todo, pois as tentativas frustradas de

superação por conta dos limites do curso que vêm redimensionando a relação

Capital x Trabalho e, logo, delineando novas relações capitalistas de produção, o

que tem modificado intensamente as relações sociais, assumido assim formas

diferentes para manter o controle do metabolismo social. O processo de

reestruturação produtiva é uma dessas formas.

Portanto, vale ressaltar a reflexão dos sentidos do trabalho realizada por

Ricardo Antunes, respaldadas nas teorias de Marx e Lukács, elucidando a

centralidade do trabalho em uma percepção inevitável, ou seja, o trabalho é algo

próprio ao ser humano, a sua natureza não pode ter fim em si mesmo, visto que é o

pondo de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades

mentais. É ele que permite o desenvolvimento de mediações que instituem a

diferenciação do ser social em face aos outros seres da natureza.

O trabalho é, portanto, o elemento mediador introduzido entre a esfera da necessidade e a da realização desta; dá-se uma vitória do comportamento consciente sobre mera espontaneidade do instinto biológico quando o trabalho intervém como mediação entre necessidade e satisfação imediata. Nesse processo de auto realização da humanidade, de avanço do ser consciente em relação ao seu agir instintivo, bem como do seu avanço em relação a natureza, configura-se o trabalho ontológico fundante da práxis social. (ANTUNES, 2000, p.139.)

É este trabalho que só se objetiva socialmente, que também pressupõe

da expressão artística criativa na ampliação da inteligência humana, pois possibilita

a transformação da natureza constituindo uma fonte de prazer e alegria, e é nele

que se encontra o eixo fundamental da sociabilidade humana e a reprodução da

vida.

Com o desenvolvimento das forças produtivas ao longo da historia da

humanidade ocasionou o surgimento de novas necessidades sociais, e estas foram

atendidas a partir da criação de diferentes profissões ora que atuem na produção,

ora na reprodução social, logo umas intervém na natureza, outras nas relações

sociais.

Esse modelo de acumulação se disseminou no pós-guerra para o mundo,

baseado na produção voltada para o mercado interno, através de um sistema

padronizado de produção com técnicas repetitivas na linha de montagem,

barateando os custos para o consumo em massa.

40

Os anos 1960 foram marcados por uma crise entre vários países por

conta da produção em massa e do baixo consumo, em especial a Europa e Japão,

motivadas por uma crise estrutural em nível mundial, decorrente da queda na taxa

de lucros; aumento do desemprego; intensificação das lutas trabalhistas; redução do

processo de acumulação fordista/taylorista; maior concentração de capital nas

grandes empresas levando a falência às pequenas empresas; regime privatista;

flexibilização dos processos produtivos; do mercado e da força de trabalho.

Em resposta à crise, começou a ser implementado o processo de

reorganização do capital, denominado de neoliberalismo direcionando ao modelo

neoliberal construído em escala mundial mediante: a privatização do Estado pautado

no enxugamento dos direitos sociais; a exploração e destruição da natureza; a

precarização das relações do trabalho; o desemprego estrutural; o aumento da

miséria e a concentração de renda dentre outros. Sobre esse caos social e

econômico, afirma Antunes que é:

Pela própria lógica que conduz essas tendências (que, em verdade, são resposta do capital a sua crise estrutural), acentuam-se os elementos destrutivos. Quando mais aumentam a competitividades e a concorrência inter-capitais, mais nefastas são suas consequência, das quais duas são particularmente graves: a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda era moderna, da força humana que trabalha e a degradação crescente do meio ambiente, na relação metabólica entre o homem, a tecnologia e a natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para produção de mercadoria e para o processo de valorização do capital. (ANTUNES, 2000, p.34)

Diante da construção histórica dessa sociedade, visualizamos que as

relações sociais foram se modificando para atender as necessidades do capital e da

subsistência do homem. Com base nas funções do trabalho para o ser social aqui

elencadas, destacamos o exercício profissional das Assistentes Social, que são

objeto de estudo dessa pesquisa, visto que está profissão perpetrada na classe

trabalhadora, busca materializar suas objetivações findadas nas relações do sistema

capitalista. Dessa forma, sua atuação perpassa o campo dos interesses antagônicos

de modo a intervir diretamente nas suas consequências, decorrentes padrão de

acumulação econômica e da relação capital e trabalho.

É nesse contexto contraditório que o profissional de Serviço Social vende

sua força de trabalho, cabendo a essa categoria atender a um conjunto de

necessidades sociais, como outras profissões, porém de maneira diferenciada.

Assim, pode se afirmar que o Serviço Social decorre das relações antagônicas do

41

modo de produção capitalista atual, e para tanto esse trabalho exige propriedades

peculiares, próprias da profissão para conhecer, analisar e intervir na totalidade dos

fatos e fenômenos sociais.

Contudo, mesmo com interesses antagônicos, o profissional de Serviço

Social possui funcionalidade e significado social na realidade burguesa, visto que

esse surgiu nessa conjuntura para atenuar a luta de classe que se versa em

interesse contraditório, cuja riqueza universal produzida socialmente é explorada, já

que fruto desta se concentra na mão de poucos, sendo essa relação característica

do modo de produção capitalista.

É neste cenário que se configura o desenvolvimento da profissão, bem

como, as profissionais desenvolvem suas atribuições e competências sócio-

históricas sendo estas alteradas para darem conta da dinamicidade que compete à

própria história da sociedade, visto que seus interesses são adversos aos interesses

burgueses e se coadunam aos interesses da classe trabalhadora. Dessa forma, o

fazer profissional tem sua atuação voltada nas relações sociais que são originárias

das expressões da questão social visualizadas nas desigualdades das condições de

vida da sociedade, sejam elas sociais e/ou econômica, instituídas no padrão de

acumulação do sistema capitalista.

Nesse sentido, compreendemos que as ações do homem sobre a

natureza transformam a sociedade historicamente, através do processo reflexivo das

objetivações destes, e esse processo se dá no Serviço Social não por meio da

transformação direta da natureza, mas pelas/os profissionais pela capacidade de

intervir, por meio das potencialidades reflexivas do trabalho profissional, assim

chamada de instrumentalidade:

Instrumentalidade é a categoria reflexiva capaz de apontar as diversas formas de inserção da profissão nos espaços sócio-oculpacionais e as competências e requisições profissionais, de modo a demonstrar o concreto particularizado das formas de operar da profissão, ou as mediações particularizadoras que conferem existência real. (LESSA, 1995, p.119 apud GUERRA, 2000, p.29)

Conforme Guerra (2000), a instrumentalidade no exercício profissional

não se reduz a utilização de instrumentos e técnicas, visto que vai além da

reprodução de ações fixas, pois perpassa o caminho sócio-histórico da profissão que

proporcionou a capacidade de análise e reflexão por meio do “confronto entre a

teleológica e causalidade” (2000, p.5)

42

Logo, a compreensão de Instrumentalidade para a profissão consiste na

base da racionalidade crítico-dialética, e é nesta que as assistentes sociais se

aproximam e analisam os fenômenos sociais, relendo os fatos históricos que

circundam estes, levando em consideração suas determinações na perspectiva de

abranger a totalidade dos fatos contemporâneos por meio das mediações12

cotidianas.

Portanto, o Serviço Social tem na sua Instrumentalidade a base

processual de suas ações, realizada na articulação das dimensões que a compõem

próprias do fazer profissional: dimensão teórico-metodológica, ético-política e

técnico-operativa, todas direcionam a construção dessa pesquisa.

12 Para Yolanda Guerra, o nível da racionalidade crítico-dialética da instrumentalidade é em si mesma

uma mediação. (2000, p.19)

43

2.2 Os fundamentos sócio-históricos do Serviço Social: o trabalho e as

estratégias do Assistente Social.

O Serviço Social brasileiro, desde seus primórdios, atua nas expressões

da questão social, seja inicialmente de forma caritativa respaldada nas suas

protoformas, seja atualmente na defesas dos direitos sociais. Dessa maneira, vale

ressaltar que todos os momentos vivenciados pela profissão foram de suma

importância para o seu crescimento intelectual, e operacional dos profissionais

Assistentes Sociais.

Conforme sucintamente abordado, o Serviço Social se gesta e se

desenvolve como profissão reconhecida na divisão do trabalho, tendo por pano de

fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana, processos

esses aqui apreendidos, sob o ângulo das novas classes sociais emergentes - a

constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial, e das

modificações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que

compartilham o poder de Estado em conjunturas históricas específicas.

Nas décadas de 1980 e 1990, o Serviço Social coloca em questão a

intervenção profissional levando em consideração a historicidade da categoria, a

partir do momento que essa profissão vem se afirmando como especialização

inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo na sociedade.

A década de 1980 foi um período fértil na definição dos rumos técnicos,

acadêmicos e políticos para o Serviço Social, sobretudo favoreceu para o

amadurecimento teórico em que se findou na intelectualidade profissional,

acrescentando nesse período, a ascensão dos movimentos sociais e nas

mobilizações em torno da elaboração e aprovação da Carta Constitucional de 1988,

além das pressões populares que redundaram no afastamento de líderes políticos,

entre outras manifestações, nas quais o Assistente Social tornou-se um dos co-

autores e co-participantes nos processos de lutas pela democracia na sociedade

brasileira.

Por outro lado, nesse período se instaurava no Brasil o Neoliberalismo,

configurado como um sistema que permite o livre comércio, a não intervenção

estatal na economia, a abertura alfandegária para comercio internacional,

44

endividamento de países periféricos a bancos e fundos internacionais, políticas de

privatização e sucateamento dos serviços públicos, etc.

O Brasil passou a receber mais fortemente as influencias neoliberais entre

os anos de 1980-1990 afirmando sua entrada econômica no cenário internacional. A

partir de então, o Estado passou a favorecer as ações do mercado e desenvolver

ações na política, economia e social, com franca influencia neoliberal.

Na década de 1990, o mundo do trabalho sofreu transformações

decorrentes da crise capitalista trazendo destaque com o surgimento da

reestruturação produtiva, com o novo modelo econômico de flexibilização da

produção. Tal modelo de produção teve desdobramentos na nova forma de

exploração da força de trabalho, subordinação e agravos aos direitos sociais e

trabalhistas referentes ao emprego formal e as garantias da classe trabalhadora.

Nesse período o Brasil vivenciava o Neoliberalismo, como uma forma de

conter o colapso da economia mundial que o nosso pais importou para impulsionar o

sistema econômico, o Estado passou a ser orientado pelo mercado. O

neoliberalismo só se concretiza com mais força a partir da década de 1980,

impulsionando pelo aumento da concorrência comercial, abrindo espaço para os

avanços do sistema capitalista, deixando mais distantes da sociedade os ideais

socialistas.

As medidas de cunho neoliberal foram caracterizadas nos governos

Fernando Collor de Melo (1990) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2001) com

medidas de redução dos investimentos na área social, ou seja, no que se refere à

educação, saúde e previdência social, além da privatização das empresas estatais.

Esse processo se deu de forma acelerada, o que fez com que muitas empresas não

conseguissem se adaptar às novas regras de mercado, levando-as à falência ou a

vender seu patrimônio. Com isso, se oportunizou as grandes empresas compraram o

que restou nas mãos dos pequenos empresários.

As refrações da questão social proveniente desse contexto proporcionam

ao Serviço Social profundas mudanças e questionamentos no que se refere à

legitimidade da categoria, com relação às dificuldades vividas pela profissão, visto

que, é chamada a se posicionar teoricamente no fazer profissional, além de obterem

novas demandas que exigem respostas eficazes e competentes consequentes da

45

dinâmica sócio-histórico desse período. Importa mencionar o conceito da categoria

Questão Social, para Iamamoto. Para a autora,

Questão Social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO, 2011, p. 168)

Essa profissão se constitui no momento em que os setores dominantes da

sociedade como o Estado e o empresariado começam a intervir de forma sistemática

nas expressões da “questão social” reflexo da relação de trabalho versos capital

refletido no modo de produção capitalista, na divisão de classe, na exploração, e na

pobreza.

As particularidades das questões técnico-operativas, assunto esse que diz

respeito tanto à prática quanto as questões construídas no processo criado sobre os

instrumentos na atuação profissional no decorrer da história da profissão. Outra

dimensão que faz-se necessário analisar para dar inicio ao conceito de

instrumentalidade, é com relação ao processo de mediação capaz de possibilitar o

profissional entender o objeto de intervenção, na perspectiva de uma visão

totalizante da realidade.

Diante das contribuições elencadas sobre o pensamento de Guerra

(2000) acerca da instrumentalidade, entendemos instrumentalidade como uma

propriedade e capacidade de sistematizar, e concretizar objetivos com

intencionalidades construídos a partir da cotidianidade profissional. Essas

intencionalidades são provenientes aos processos de relações sociais que alteram e

modificam as relações existentes em uma determinada realidade.

A instrumentalidade e as relações sociais são visualizadas como uma

questão prático-reflexiva para compreensão das vivências sociais. Assim são

considerados nesse processo as questões objetivas e subjetivas para decifração dos

fatos sociais. A mesma é uma capacidade de apropriação do modo de ser, agir e

pensar diante das condições diversas no exercício profissional, sendo esta

propriedade construída sobre várias dimensões, inclusive das modificações sociais

diante de um trabalho abstrato concretizado em uma intervenção social.

46

2.3 A instrumentalidade como processo central de mediação para intervenção

do Assistente Social.

A categoria mediação passou a ser discutida no Serviço Social na

transição dos anos 1970 para 1980, como um marco do debate teórico-metodológico

para atuação profissional frente à problemática do pauperismo da classe

trabalhadora, visto que a profissão está no centro das tensões – um lado às classes

populares e de outro seu empregador a classe dominante.

A categoria mediação foi inserida no arsenal que determina à

instrumentalidade do Serviço Social, a partir da introdução do Marxismo por meio do

método dialético. Tem sua importância, como afirma Pontes:

Na década de 80 assiste-se ao processo de revisão dos resultados do movimento de reconceituação no Serviço Social, ocorrido ao longo desta década, o qual demonstrou histórica e teoricamente o quando influiu – mesmo que parcialmente – para a compreensão da categoria de mediação na produção cientifica do Serviço Social. (PONTES, 1995, p.156)

Neste sentido, a categoria mediação só tem significado na superação ou

transformação dos objetos fundamentais no movimento dialético, na interpretação e

expressão dos fatos sociais, no que incide sobre os aspectos universais, singulares

e particulares.

Segundo Guerra, (2000) a mediação não é um elemento de mediar

conflitos ou uma ferramenta amenizadora de problemas sociais. Trata-se de uma

categoria da teoria crítica marxista, que só é possível efetivar-se através do método

dialético, a partir da reflexão filosófica sobre realidade que está relacionada à

ontologia do ser social. É um método que ocorre na subjetividade dos profissionais

diante das situações do cotidiano seu profissional, que possibilita ultrapassar as

ações meramente instrumentais e rotineiras para o exercício profissional com

finalidades, direcionamentos e intencionalidade que comportam uma reflexão crítica

que embasa uma postura competente e qualificada.

Como afirma Netto (2011), com base em Marx, o método dialético, se

materializa a partir da transposição do objeto a consciência, ou seja, no movimento

do real produzido e interpretado no plano do ideal, do pensamento. Deste modo, o

conhecimento teórico é o próprio conhecimento do objeto real, e o ideal não é nada

mais que o material transposto e traduzido na cabeça do homem.

47

Portanto, o movimento dialético deve ser fundamentado na distinção entre

a aparência e a essência dos fatos, todavia deve se levar em consideração a

estrutura e a dinâmica do objeto, ou seja, devemos apreender não só a aparência, o

que se coloca no imediato. Cabe buscar todos os aspectos que circundam o objeto,

para assim alcançar sua essência, através da análise que corresponde a sua

estrutura e a sua dinâmica como um processo, englobando a totalidade dos

fenômenos sociais.

Para tanto o sujeito deve ser capaz de mobilizar o máximo de

conhecimento e apoderar-se do senso critico e analítico, pois tudo depende da

capacidade de abstração que este comporta. Esta nada mais é que a capacidade

cognitiva que permite extrair de sua contextualidade e/ou totalidade, o elemento

isolando e examinando, negando-o o objeto, sendo este por sua vez, um

procedimento intelectual sem o qual a análise não se materializa.

A mediação é composta do movimento da dialética, da contradição e da

superação, não procura estabilização entre as forças, mas a negação, na

perspectiva de luta contra o que é instituído como verdade, ou seja, o imediatismo,

visto que, ultrapassar o imediato é agir com a mediação, propondo uma ação

qualitativa nas relações de contradição com a finalidade de superar a aparência dos

fatos por meio da ação reflexiva que a mediação permite.

A instrumentalidade do Serviço Social, como já foi mencionada, vai além

de instrumentos e técnicas, por abordar elementos fundamentais com finalidades

através da relação teleológica e da causalidade, ou seja, respondem as demandas

sociais que se plasmam em uma principal ferramenta de enfrentamento do cotidiano

profissional, que é a intervenção nas manifestações do social.

A mediação como processo reflexivo, histórico e ontológico é a

materialização da práxis quando se articulam as três dimensões; a singularidade, a

particularidade e a universalidade, operando-se no Serviço Social da seguinte forma:

a intervenção do Assistente Social no processo de mediação implica no

reconhecimento da demanda social imediatizada que propõe a negação da mesma,

através do processo reflexivo e analises da singularidade e da universalidade para,

no campo das particularidades materializar-se a mediação com o intuito de dar

respostas necessárias para transformação de determinada realidade social.

48

Nesse sentido, a mediação possibilita transpor as múltiplas faces das

complexidades que compõem a realidade social, desvendando suas contradições,

imersa na síntese de muitas determinações, para assim imprimir direções às

intervenções. O profissional comprometido com os sujeitos históricos e rompendo

com as práticas institucionalizadas, deve ter uma visão ampliada do fazer

profissional mediante o desenvolvimento de mediações, o que expressa capacitar-se

e promover ações ou práxis competentes para revelar os problemas intervindo nas

realidades sociais dos usuários, promovendo superação e/ou transformação dessa

de forma interativa, participativa e demonstrativa.

Portanto, a instrumentalidade como mediação, articula três dimensões: a

singularidade posta no imediato na realidade, visto que o singular é representado

nas microdeterminações do real, que é própria do sujeito e se mostra sem nenhuma

análise vista a partir dos elementos simples da situação do usuário, que visualizada

somente desse ponto não se intervém dando respostas às demandas.

É neste espaço que o singular se universaliza e o universal se singulariza. Através da reflexão é necessário elevar o singular ao universal, entretanto não se deve ficar somente nos pensamentos, nas ideologias, é necessário trazer de volta à realidade. A particularidade é que mediará este processo, através do olhar crítico do profissional. Na particularidade fazemos a síntese da singularidade e da universalidade. É nesse espaço privilegiado de sínteses de determinações que o sujeito que, tendo negado (superado) a aparência, vai processar o nível do concreto pensado, penetrando em um campo de mediações (no qual se entrecruzam vários sistemas de mediações), sistemas estes que são responsáveis pelas articulações, passagens e conversões histórico-ontológicas entre os complexos componentes do real. (PONTES, 2000, p.86)

A particularidade representa a mediação concreta entre os homens e a

sociedade, sendo esta o campo de mediações das relações sociais que

caracterizam o objeto. É o próprio ser e/ou objeto do real visualizado por meio da

analise dos aspectos universais e das partes que o compõem sendo estas a

singularidade do sujeito, ou seja, articulam os conceitos da universalidade, da

singularidade de forma totalizante.

A universalidade é referente aos dados de legalidade histórica da vida dos

sujeitos e da construção da sociedade, é a totalidade que os fenômenos (complexos

de complexos) estão relacionados ao conjunto de múltiplas determinações sociais

políticas e culturais.

Para que seja efetivada a articulação dessas três dimensões, é

imprescindível reconhecer que a prática social não se revela de imediato na

49

sociedade capitalista. É preciso de uma metodologia de apreensão das relações

com a totalidade, sem esquecer que a mesma é sócio-histórica.

Considerando os aspectos traçados acima acerca da instrumentalidade

como mediação, cabe aqui salientar que o cotidiano da mesma se concretiza a partir

do desenvolvimento da capacidade investigativa que é à essência do exercício

profissional, pois exercer e exercitar a capacidade investigativa, subsidia a decifrar a

realidade social e a mesma é entendida como um recurso indispensável para

apreensão das mediações.

.

50

2.4 A articulação das Dimensões Teórico-metodológico, Ético-político e

Técnico-operativo do Serviço Social

2.4.1 Dimensão ético-política

A Ética diante das concepções filosóficas pode ser considerada como

atitudes reflexivas, que coloca em questão o que fazer e como fazer em

determinadas relações coletivas. Inúmeros são os conceitos referentes ao termo

ética, muitas vezes sinonimizados com moral. Todavia entendem-se moral a partir

das relações tradicionais, culturais e hierárquicas legitimadas na convivência social.

A moral vem do latim mores, que envolve normas e costumes instituídos

pela sociedade e introjetados nos indivíduos historicamente, que regulam o

comportamento individual e social dos homens.

Compreendida nos princípios, normas ou ideias morais de uma determina

época e/ou sociedade que podem sofrer transformações históricas conforme as

influências da dinâmica social e, pretendem regular as relações entre os homens,

pois tende a fazer com que os indivíduos se harmonizem voluntariamente e

impliquem em uma relação livre e consciente, em uma relação socialmente

condicionada. Podemos definir a moral a partir de Vásquez:

A moral só pode surgir [...] quando o homem supera a sua natureza puramente natural, instintiva e possui já uma natureza social: isto é, quando humano já é membro de uma coletividade [...] a moral exige necessariamente não só que o homem esteja em relação com os demais, mais também certas consciências [...] desta relação pra que se possa comportar de acordo com as normas ou prescrições que o governam.” (1997, p.26)

Contudo, a moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo

o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e

a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e

social, sejam assimiladas livres e conscientemente, por uma convicção íntima, não

de uma maneira mecânica, externa ou impessoal.

Introduzindo a discussão sobre a partir da sua definição, ética uma

necessidade da comunidade social, ética vem do grego ethos envolve uma postura

crítica da consciência, referenciada por princípios, que tendem a ser universais,

defendendo o bem, o belo, a felicidade, e questiona a moral. A ética situa-se, pois,

51

como uma dimensão da práxis social, na direção da conquista da humanidade do

ser humano, fundada em uma sociabilidade emancipatória.

Para Lukács, uma ética sem ontologia do ser social seria impensável, posto que a direção ontológica constitui mesmo o fundamento da ética e da liberdade. A liberdade é uma categoria central da ética posto que a vida concreta do ser social [...] como sujeito ativo dotado de vontade e consciência [...]. (NETTO, 2004, p.98)

O conhecimento sobre a ética faz parte da práxis humana e exerce

importante papel mediador, sendo possível o homem comum se chegar ao humano-

genérico, na condição de homem completo, que tem o pensamento consciente sobre

a condição real da humanidade, através da luta contra o capitalismo e a sociedade

burguesa. Dessa forma afirma Marlise Vinagre:

[...] a construção da sociabilidade emancipatória impõe a ultrapassagem do sujeito empírico, vulgar, alienado e egoísta, fechado em si, uma vez que a ética ultrapassa a dimensão da contingência e da legalidade (do domínio da ética dos mínimos sociais) e atinge a dimensão da universalização e da elevação do sujeito ao nível humano-genérico. Isto aponta para a riqueza do convívio humano plural, sem nenhuma forma de dominação-exploração [...] (2010, p.112)

Entretanto, é muito complexa a reconstrução de uma sociedade para que

se transforme humana e ética, visto que é imprescindível a superação do

capitalismo, que dependem das condições objetivas dos indivíduos para o exercício

da subjetividade emancipada destes, o que também se tem de forma complexa parte

da necessidade do gênero humano, dos valores conscientes, sobre o bem comum.

A reflexão ética é pressuposto para a formação, compreensão e o

exercício profissional de diversas áreas. Esta discussão é um forte elemento do

Serviço Social que trabalha na trama das relações sociais contraditórias, para o

desvelamento da realidade, face às implicações do agir profissional, aos conflitos

éticos presentes no cotidiano profissional, aos impasses diante de escolhas de valor,

entre outros. É importante ressaltar que o campo da ética chegou com mais força

para o Serviço Social brasileiro, por meio da aproximação da vertente teórica

influenciada pela corrente crítica de Marx.

Quando a ética é tratada ontologicamente, de modo histórico e social,

com o saber interessado e reflexivo, pode propiciar uma elevação acima da

cotidianidade, permitindo a escolha consciente diante das contradições,

possibilitando a um grupo social, em determinado momento, uma

52

sistematização/representação de seus valores e projetos, contribuindo para

fortalecimento de suas conquistas.

Em meados dos anos 1970, o já citado Movimento de Reconceituação

chega ao Brasil tardiamente no colapso da ditadura, quando a sociedade civil

começou a reagir às forças majoritárias políticas do cenário ditatorial. Esse

panorama refletiu no Serviço Social nas bases da modernidade que atualiza sua

herança conservadora com mudanças na prática profissional, que incidiram nos

modos de agir e nos métodos, na busca da legitimidade da categoria juntos aos

seus empregadores, o Estado e o empresariado.

Dessa forma, a profissão foi se tecnificando e se moldando para

responder as demandas dos empregadores vinculadas a estruturas teóricas

funcionalistas e positivistas com uma crescente burocratização das atividades. O

que preocupava era a impossibilidade do Assistente Social impor-se diante da

pauperização do trabalho derivada das “políticas concentracionistas de renda e

capital”. Esses problemas influenciam diretamente nos direitos da sociedade civil e

na forma pela qual são encarados pelo Estado, ludibriando, transformando direitos

em benefícios e culpando o trabalhador pela sua condição de vida. Assim afirma

Iamamoto:

São esses os rumos predominantes, até meados da década de 1970, da renovação do Serviço Social brasileiro, nos quadro da ditadura militar, que o distancia da polêmica político-profissional que polariza o Serviço Social no resto do continente. Essa polêmica só adquire espaço social e político para se difundir maciçamente no país com a crise da ditadura. (2010, p.216)

Com a expansão monopolista, a classe trabalhadora foi invadida com a

tecnologia, modificando também o aparelho do Estado, que abriu espaço para as

Universidades, mesmo estando em meio aos conflitos de um Estado regulador de

todas as relações sociais, culturais, econômicas e políticas, a profissão obteve um

salto para o fortalecimento do perfil da categoria através da expansão das unidades

de ensino, formando os pilares do Serviço Social com ensino, pesquisa, e extensão.

Outro aspecto importante para consolidação da categoria, por meio das

bases de ensino, são os cursos de graduação que impulsionaram a produção

científica com vários fatores legíveis para essa luta, como a introdução de

profissionais de Serviço Social no corpo docente dos centros universitários criando,

dessa maneira, a consciência mais critica e política. Nas palavras de Iamamoto

compreendemos o cenário dessas conquistas do Serviço Social:

53

[...] foi no interior de um Estado, a serviço do grande capital, que lançou profundas amarras sobre a sociedade civil, tolhendo o exercício da cidadania, embora alimentando uma luta de classes contida nos subterrâneos da arena político-institucional – que foram criadas as condições para a manutenção acadêmico-profissional do Serviço Social. Essas irão fluir e desenvolver-se no alvorecer da luta pela democratização da sociedade e do Estado, junto com o conjunto dos sujeitos coletivos que florescem no cenário social brasileiro. (IAMAMOTO, 2010, p.216)

Esse movimento de mudanças de concepções do Serviço Social surgiu

pela necessidade dos profissionais em dar embasamento teórico-prático,

principalmente em meados dos anos 1980, quando a profissão já apontava sinais de

transformação de suas práticas conservadores atingindo certa maturidade teórica,

fundamentada em uma postura crítica e começando a dialogar com outras áreas de

conhecimento, passando a se consolidar por meio do desenvolvimento dos cursos

de graduação, áreas de pesquisa em Serviço Social e o fortalecimento das

entidades representativas da profissão. Assim refere Netto:

[...] o notável nesta acumulação teórica é que, naquilo que teve de mais expressivo, ela assinala a incorporação de matrizes teóricas e metodológicas compatíveis com a ruptura do conservadorismo político: data de então a aberta utilização de vertentes criticas com destaque para as inspiradas na tradição marxista. (NETTO, 1999, p.102)

A aproximação do Serviço Social com o materialismo histórico-dialético de

Marx fortalece-se nos anos 1980-1982, introduzida inicialmente pela obra de

Iamamoto e Carvalho13.

A concepção marxista possibilitou superar à problemática anteriormente

instaurada no Serviço Social, que incide sobre a ausência de uma concepção de

leitura e análise das dimensões do real trazidas pelo pensamento de Marx e

necessária para a reflexão ética, capaz de tratar da universalidade dos valores e do

homem de forma critica, histórica em uma perspectiva de totalidade, de modo a

ampliar as respostas às demandas. Como expressa Yolanda Guerra:

Se as demandas com as quais trabalhamos são totalidades saturadas de determinações (econômicas, políticas, culturais, ideológicas), então elas exigem mais do que ações imediatas, instrumentais e manipuladoras. Elas implicam intervenções que emanam de escolhas, que passem pelos condutos da razão crítica e da vontade dos sujeitos, que se inscrevem no campo dos valores universais (éticos, morais e políticos). Mais ainda, ações que estejam conectadas a projetos profissionais aos quais subjazem referenciais teóricos e princípios éticos-políticos (GUERRA, 2002, p.59)

13

Refere-se à obra Relações Sociais e Serviço Social no Brasil.

54

Em se tratando da ética e da moral, colocamos em questão uma das

dimensões que norteia a atuação do Serviço Social contemporâneo: a dimensão

ético-politica, que independe da ordem vigente da sociedade, visto que diante de

uma sociedade na qual tem uma ética e uma moral extremamente individualizada,

temos enquanto categoria.

No âmbito do Movimento de Reconceituação, esse debate, incidiu sobre

continuidade e ruptura que perpassa a gênese do Serviço Social ligada ao

conservadorismo profissional e a superação da subalternidade técnica, por meio das

concepções criticas provenientes de Marx, apontando para um novo profissional

dotado do potencial analisador da realidade, interpretando a sociedade capitalista e

a própria profissão.

Nos anos 1980 o projeto profissional deveu-se na direção da construção

de elementos que se fixaram entre profissão, dentre eles, o Código de Ética de

1986. Tivemos nesse período o coroamento da virada histórica promovida pelas

vanguardas profissionais, a partir de avanços no projeto em torno da produção

teórica, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, apresentando temas

importantes sobre a metodologia, as políticas sociais e os movimentos sociais.

O projeto profissional do Serviço Social construído no contexto histórico

entre anos 1970 aos 1980, foi denominado por José Paulo Netto de Projeto Ético-

político profissional. Como já mencionado, a chegada dos princípios e ideais do

Movimento de Reconceituação deflagrado em vários países latino-americanos

juntamente com o processo de redemocratização da sociedade brasileira formaram

o alicerce histórico para a categoria renovada, através de um processo de ruptura

teórica, política com as instituições tradicionalistas que governavam as ações

profissionais, nas quais trouxeram a recusa e a ruptura ao conservadorismo

profissional, que está presente até os dias de hoje no Serviço Social brasileiro.

Conforme Iamamoto:

A ruptura foi sendo construída no processo mesmo de aprofundamento das premissas e propósitos do movimento de reconceituação. Seu desenvolvimento críticos, adensando pelas inéditas condições histórico-profissional presentes na sociedade brasileira, criou as condições daquela ultrapassagem. Os pontos de ruptura podem ser localizados em dois grandes âmbitos: na crítica marxista do próprio marxismo e dos fundamentos do conservadorismo assim como no redimensionamento das interpretações históricas da profissão, como será tratado a seguir. (2010, p.218)

55

O Projeto Ético-político profissional funciona como horizonte e norte para

os profissionais do Serviço Social se materializa em ações que concretizam os

compromissos ético-políticos da profissão. Ainda vincula-se a defesa dos interesses

da classe trabalhadora e na intenção da transformação da classe capitalista para

uma sociedade que não haja exploração, dominação e diferenças de classes, onde

todos sejam iguais e verdadeiramente livres.

Os rumos do Serviço Social perpassam nesse sentido por dois caminhos

contraditórios, visto que de um lado acontecem avanços acadêmicos, nas lutas por

direitos sociais e na ampliação da cidadania, por outro é preciso superar as ações

conservadoras.

Diante do exposto, nesse período cabe ao Serviço Social uma constante

análise histórica da sociedade, aliada a uma critica teórica rigorosa a fim de articular

o conhecimento obtido, o contexto social com uma releitura da profissão, o qual

passa embasar a profissão é tradição marxista.

O Projeto ético-político tem como condição política, a luta pela

democracia, as aspirações democráticas e populares foram incorporadas e

intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social. Com isso, a categoria ganhou

espaço legitimado na academia, que possibilitou a profissão de estabelecer fecunda

interlocução com as ciências sociais, sendo estas importantes para entrada de

intelectuais respeitados na profissão.

Esse projeto profissional do Serviço Social tem como princípios

fundamentais o núcleo do reconhecimento da liberdade como valor central;

compromisso com a autonomia; a emancipação e a plena expansão dos indivíduos

sociais. Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova

ordem social, a partir da dimensão política. Esta profissão se posiciona em favor da

equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização; a ampliação e

consolidação da cidadania.

Com propostas que implicam sobre um projeto que tenha uma base de

comprometimento e competência, sustentada no aprimoramento profissional,

visando a preocupação com o desenvolvimento permanente e uma constante

postura investigativa, visualizando o usuários numa relação sistemática com

serviços, fundamentada no compromisso com a qualidade dos serviços prestados à

população articulados a socialização pública dos recursos institucionais.

56

Os componentes do Projeto Ético-político do Serviço Social estão nas

Diretrizes Curriculares de 1996, as quais direcionam a produção de conhecimento

no interior da formação acadêmica da profissão, visualizados no campo das

modalidades práticas, que se apresentam nos processos reflexivos do fazer

profissional. Os fóruns de deliberação e as entidades representativas14 que fazem

parte da dimensão político-organizativo da profissão ampliam a critícidade e

materializam o projeto, profissional quando são reafirmados compromissos e

princípios ético-políticos.

O marco legal que baliza a atuação profissional se plasma na dimensão

jurídico e política através do Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação

da Profissão – Lei 8.662/93.

Assim, os elementos norteadores estão respaldados no texto do Código

de Ética atual, instaurado na liberdade como valor central e no respeito à autonomia

dos indivíduos sociais, na construção de um projeto societário o qual objetiva uma

nova ordem social, livre de exploração de classes, sem preconceitos, étnicos /raciais

e a defesa na igualdade de gênero. É importante ressaltar que este contempla uma

atuação profissional pluralista á favor da equidade, igualdade e justiça social.

Deste modo, a dimensão ético-politica não é uma. Deve estar sempre

articulada para atuação profissional. Nesse sentido, deve intervir diante da

concepção desta, e ter como compromisso eticamente com os preceitos

anteriormente citados, e um posicionamento acerca de uma visão política e critica da

realidade, na perspectiva de encontrar estratégias relacionadas às demandas

expressas para que as finalidades estejam fundamentadas no projeto profissional.

Portanto, é necessário um conhecimento aprofundado e sistemático dos fenômenos

sociais para chegar ao objeto de intervenção.

A dimensão ético-política está ligada a dois tipos de projetos coletivos:

societário e o profissional. O primeiro corresponde às propostas para da sociedade

em nível macroscópico podendo alcançar, abranger e atender o maior número de

pessoas, que são considerados projetos de classe determinados pela dimensão

14

Conjunto composto pelos: Conselhos Federal de Serviço Social/CFESS e Conselho Regional de Serviço Social/CRESS, Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social/ABEPSS e as demais associação político-profissionais, movimento estudantil representado pelo conjunto dos Centros Acadêmicos e DA’s e pela Executiva nacional de Estudantes de Serviço Social/ENESSO.

57

política, portanto na trama das relações de poder e disputas tanto na implementação

como manutenção dos projetos na sociedade.

O segundo se materializa na luta pelos objetivos dos indivíduos que

exercem determinada atividade profissional. São organizados a partir de diretrizes

da categoria profissional e fundamentam as ações da mesma, ou seja, funcionando

como balizas e necessitam da conexão com o primeiro, ou seja, com projeto

societário, ostentando o comprometimento profissional e coletivo ético-politico na

sociedade.

2.4.2 Dimensão teórico-metodológica

A dimensão teórico-metodológica ganha importância para o Serviço Social

a partir da necessidade de aprofundamento analítico e consolidação do acervo

teórico a fim de fortalecer e qualificar a intervenção profissional. Inicialmente,

introduz as ciências sociais nos cursos universitários de graduação e pós-

graduação, que por sua vez aproxima a profissão das questões políticas e

econômicas da sociedade.

A dimensão teórico-metodológica é entendida aqui como uma capacidade

profissional de apreensão do método e das teorias e relação com a prática, pois ao

observarmos a história do Serviço Social, percebemos que suas formulações

teóricas e metodológicas findadas com o objetivo de reconhecimento profissional e

função social diante da sociedade, levaram muito tempo para serem consolidadas.

A aproximação do Serviço Social ao movimento da realidade concreta no

campo das grandes matrizes do pensamento social pressupõe uma etapa do

caminho para o exercício como afirma Iamamoto:

[…] O domínio teórico metodológico só se completa e se atualiza ao ser frutificado pela historia, pela pesquisa rigorosa das condições e relações sociais particulares em que vive. Requer o acompanhamento da dinâmica dos processos sociais, como condição, inclusive, para apreensão das problemáticas cotidianas que circunscrevem o exercício profissional.[...] (IAMAMOTO, 2010, p.54)

Outra questão que destacamos é o significado do método dialético para a

profissão. Esse possibilita entender e explicar os aspectos universais das relações

da sociedade burguesa, de modo a traduzir as formas de ser dos indivíduos, a partir

da reflexão de um processo histórico. Com ele é possível analisar os diferentes

58

períodos históricos, e vários tipos de relações econômicas, culturais, sociais

atribuídas a esses períodos.

A análise das sociedades realizadas por Marx através do método dialético

é um processo dinâmico de negação, construção e reconstrução da realidade, que

pressupõe conceitos políticos, econômicos, culturais, jurídicos, e de Estado, por

meio do processo teleológico, que permite refletir como produz e reproduz todos as

relações numa sociedade, se debruçando profundamente na distância entre arte e

outras formas de produção e reprodução das relações sociais.

Falar em dialética e método para o assistente social é negar a ação

puramente instrumental, imediata, espontânea e reelaborá-la em nível de respostas

sócio profissionais mais qualificadas, na construção de novas legitimidades, levando

em consideração que a atuação puramente instrumental não dá conta das

demandas.

Portanto, é necessário apreender o movimento do real e investir numa

instrumentalidade inspirada pela razão dialética, ou seja, ultrapassar as ações

limitadas com intervenções forma práticas manipuladoras e instrumentais,

fragmentadas, descontextualizadas, ou seja, entender a sociedade através da

contradição, negatividade, totalidade e das mediações, procurando o nexo dos

fenômenos sociais, na busca do mais alto nível de razão. Isso reflete um grande

desafio como destaca Iamamoto:

Responder a tais requerimentos exige uma ruptura com a atividade burocrática e rotineira, que reduz o trabalho do assistente social a mero emprego, como se esse se limitasse ao cumprimento burocrático de horário, à realização de um leque de tarefas as mais diversas, ao cumprimento de atividades preestabelecidas. Já o exercício da profissão é mais que isso. É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com instituições os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes passiveis de serem impulsionadas pelo profissional.(2010,p.21)

Sobre essa análise, faz-se necessário distinguir as concepções teóricas

metodológicas dos instrumentos utilizados na intervenção profissional, visto que as

visões de teoria e método estão diferenciadas de seus sentidos, quando colocamos

metodologia, não estamos reduzindo a etapas e passos para o fazer profissional.

Quando falamos de teoria não é colocado em questão a centralidade em um único

pensamento, as questões metodológicas estão voltadas para o exercício da

criticidade profissional em busca da realidade social.

59

Consoante Netto, na perspectiva de encontrar subsídios para intervenção

“a questão do método se apresenta como um nó de problemas, que não se devem

apenas à razões de natureza teórica ou filosófica, devem-se igualmente a razões

ideopolíticas” (Netto, 2000, 86).

No entanto, o objetivo do método para atuação profissional é a busca da

essência dos fatos e a teoria na construção da visão deste sobre pensamentos

construídos diante da observação do real estruturado na dinâmica social. A

metodologia é uma forma de conhecimento que faz referência à relações reflexivas

para concretizar a prática, sobretudo, vale ressaltar que na atuação profissional não

se constrói métodos, nem teorias concretas para a sua intervenção.

Segundo Iamamoto (2000), não temos uma receita para enfrentar esta

realidade, a atuação profissional vai além das especificidades técnicas, ela

contempla um grande aprimoramento teórico metodológico, articulado às questões

essenciais dos sujeitos.

Assim vale ressaltar que diante da concepção de Netto (2009) que afirma

que existir três categorias plenamente articuladas que parecem nuclear na

concepção teórico-metodológica de Marx, ou seja, a compreensão da totalidade, não

como partes que determina o todo, mas as partes de uma integralidade de máxima

complexidade entendidas através da multiplicidade de relações da sociedade em

vários aspectos pertinentes a realidade dos sujeitos e que através da mediação são

analisados, refletidos para serem compreendido como um todo.

2.4.3 Dimensão Técnico-operativa

A dimensão técnico-operativa15 se refere aos elementos técnicos e

instrumentais para intervenção, que irá viabilizar uma forma critica de

operacionalizar os instrumentos necessários a atuação profissional, todavia, a

compreensão desta está relacionada ao campo do fazer profissional diante de um

olhar consciente embasado nas finalidades, provenientes das percepções dos

fenômenos e a ultrapassagem das aparências destes.

15 A dimensão técnico-operativa, conforme as diretrizes curriculares do cursos de graduação em

Serviço Social no Brasil, nomeadas pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), constituem, atrelada com as outras dimensões teórico-metodológicas e ético-políticas, a estrutura da formação profissional para o exercício da profissão dos assistentes sociais.

60

[...] instrumental técnico-operativo como a articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a conexão entre um elemento ontológico do processo de trabalho (os instrumentos de trabalho) e o seu desdobramento-qualitativamente diferenciados ocorrido ao longo do desenvolvimento das forças produtivas. (GUERRA, 1999, p,65)

Esta dimensão não indica uma esquematização da ação profissional, mas

as demandas exigem capacidades especificas mediatas e imediatas. Assim, o

conhecimento do instrumental técnico-operativo é de suma importância, porquê

sinaliza o reconhecimento da complexidade dada pela heterogeneidade dos espaços

sócio-ocupacionais e a dinâmica social, em que se inserem a categoria na própria

natureza das suas ações e nas relações antagônicas do exercício profissional.

O Serviço Social dispõe de um caráter contraditório que não deriva dele próprio, mas do caráter mesmo das relações sociais que presidem a sociedade capitalista. Nesta sociedade, o Serviço Social inscreve-se em um campo minado por interesses sociais e antagônicos, isto é, interesses de classes distintos e em luta na sociedade. (IAMAMOTO, 2010, p.54)

Tratar desta dimensão sugere busca conhecer a sua complexidade

devido a multiplicidade de espaços sócio-ocupacionais nos quais os profissionais

estão inseridos e também reconhecer a própria natureza da atuação da categoria

nos diferentes campos do exercício profissional, que exigem, a proposição e

formulação de políticas sociais, o planejamento, a gestão e a articulação de serviços

e programas sociais, ou o atendimento direto aos usuários em diferentes instituições

e programas sociais (MIOTO, 2000)

Esta dimensão é também a sistematização da competência investigativa

do exercício da profissão, sendo um vetor fundamental para o desvelamento do

processo interventivo, pois o processo investigativo nos campo sócio-ocupacional,

no qual os Assistentes Sociais estão inseridos está conectado às matrizes teórico-

metodológicas presentes na profissão, que implicam necessariamente na existência

de uma atitude investigativa que permite a compreensão das particularidades

existentes nos diferentes campos de exercício profissional, como na definição de

ações profissionais que melhor respondam às demandas e necessidades postas

pelos sujeitos.

Vale resaltar que esta indicação para o exercício profissional, Netto (1996,

p. 124) repercute “[...] da necessidade de elaborar respostas mais qualificadas (do

ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopolítico) para as

questões que caem no seu âmbito de intervenção institucional”.

61

Dessa maneira, o autor afirma que “[...] as possibilidades objetivas de

ampliação e enriquecimento do espaço profissional [...] só serão convertidas em

ganhos profissionais [...] se o Serviço Social puder antecipá-las”. (1996, p. 124)

Contudo, discutir a dimensão técnico-operativa, percebida no campo

dinâmico entre o projeto profissional e a formulação de respostas inovadoras às

demandas que se impõem no cotidiano dos Assistentes Sociais implica neste

trabalho, tomar a ação profissional de forma fundamental ao entendimento de que a

ação é a menor unidade de análise, e, ao mesmo tempo, condensa todas as

dimensões constitutivas do exercício profissional.

Porém, o movimento desse processo depende da articulação dialética,

citada anteriormente, entre as três dimensões da Instrumentalidade do Serviço

Social: teórica-metodológica, ético-política e técnica-operativa, de modo a considerar

o conhecimento e a investigação outros recursos implicados na ação da realidade na

qual se intervém. Portanto, a ação do exercício implica articular os conhecimentos

entre o universal, o particular e o singular, ou, segundo Iamamoto, deve-se

estabelecer “[...] a relação indivíduo/sociedade; as relações entre as macroanálises

e microssituações enfrentadas no cotidiano profissional”. (2005, p.95)

Nesse contexto não trabalha apenas uma determinada dimensão para

concretizar as ações citadas acima, visto que não é o suficiente para compreensão e

apreensão da totalidade, pois é necessário o desenvolvimento das capacidades

profissionais vinculadas às dimensões anteriormente citadas.

62

CAPÍTULO III – O CENÁRIO PARA A ANÁLISE DA PESQUISA: O

SERVIÇO SOCIAL E A ASSISTENCIA SOCIAL

O contexto social de atuação do profissional de Serviço Social é situado

na apreensão dos aspectos que constroem e determinam a realidade social e

institucional compostas pelo ambiente político de ampliação ao acesso aos direitos

sociais. Portanto, é imprescindível debater a instrumentalidade no exercício da

categoria do campo institucional e consubstancialmente elencar esse contexto em

um processo de produção e análise com base na realidade dos assistentes sociais.

Nesse capítulo faremos uma breve consideração sobre as determinações

sociopolíticas e institucionais da Política Nacional de Assistência Social e seus

rebatimentos acerca da profissão, situando os momentos históricos que marcaram a

elaboração das políticas que compõem o tripé da Seguridade Social, ou seja, as

políticas de Saúde, Previdência e Assistência Social.

Apresentaremos os Centros de Referencia de Assistência Social – Cras

equipamentos institucionais de atuação do Assistente Social, originados no novo

modelo de gestão da Assistência Social, o Sistema Único de Assistência Social –

SUAS , implementados a partir de 2004.

3.1 Contextualizando a Política Nacional de Assistência Social no Brasil e a

gestão da Assistência Social – SUAS

O contexto da inserção da Política de Assistência Social é produto de

uma construção histórica brasileira relacionada às transformações societárias

contemporâneas, ao sistema econômico e a ascensão das políticas sociais,

instituída no Brasil inicialmente na década de 1930.

As políticas sociais brasileiras tinham base na caridade, filantropia,

solidariedade religiosa e ações policialescas e repressoras destinadas a população

pobre. Depois desse processo, apresentou/a com o desenvolvimento de ações

focalizadas, fragmentadas, descontinuas e insuficientes utilizadas pela classe

dominante de forma clientelista, inclusive eleitoreira e populista para favorecimentos

particulares a políticos.

63

Essa era a saída tomada pelo Estado para o enfrentamento da questão

social, tomada como instrumento para amenizar os conflitos e colaborar para a

manutenção da “ordem social”, satisfazendo aos interesses do capital. Segundo

Iamamoto e Carvalho, “funcionavam como mecanismos de apoio e resposta as

necessidades do processo de industrialização e enquadramento da população

urbana nos marcos do aprofundamento do modo de produção capitalista no país”.

(2000, p.241)

Com o golpe militar em 1964, o governo brasileiro teve de elaborar

mecanismo de fortalecimento do Estado para atingir o padrão econômico no cenário

do capitalismo internacional, como podemos destacar: o que elevou seus níveis de

empréstimos a bancos internacionais; elevou a concentração de renda por parte da

elite burguesa brasileira; permitiu a abertura alfandegária para países estrangeiros; e

fortaleceu as políticas de imposições, relações repressivas e autoritárias em todas

as dimensões da vida social.

O cenário socioeconômico e político brasileiro nessa época já era de

pauperismo e das mais diversas expressões da questão social, oriundas da

migração rural em grande proporção, acarretando um crescimento urbano sem

precedentes situadas no campo de conflito em ações do Estado cada vez mais

controlador e centralizador.

Em síntese, podemos destacar que se desenvolvia no Brasil uma política

intervencionista, centralizadora e autoritária de cunho autocrático-burguês que se

endividava e não conseguia alcançar o desenvolvimento econômico internacional e

que recebeu rebatimentos das crises contemporâneas mundiais.

Na década de 1980, o Brasil vivencia o fim da ditadura militar e

processava- se a redemocratização do país. Essa realidade era reflexo da crise

econômica e do padrão de acumulação que mobilizava vários setores da sociedade

em movimento sociais a favor do Estado democrático de direito, que reivindicavam a

participação popular nas decisões políticas e contestavam a situação de pobreza da

maior parte da população.

Somente no final dos anos 1980 e durante a década 1990 que se

institucionalizou o tripé a Seguridade Social: Saúde, Assistência Social e Previdência

Social na prevenção e na redução dos índices de vulnerabilidade social.

64

O processo de democratização culminou na aprovação da Constituição

Federal em 1988 a qual assegura os direitos referentes às políticas de Saúde,

Previdência Social e a Assistência Social, sendo a primeira como política publica

não contributiva, a segunda, contributiva e a terceira, para aqueles que necessitem.

A Constituição Federal de 1988 foi instaurada em um campo de tensões e

disputas entre classes antagônicas. O Estado brasileiro, mais uma vez atrasado só

reconhece a assistência social com a aprovação da LOAS, em 1993, que passa ter

maior visibilidade e se materializa no contexto social após onze anos de LOAS com

a aprovação da Política Nacional de Assistência Social em 2004:

A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção para a Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da Seguridade Social e regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS em dezembro de 1993, como política social pública, a assistência social inicia seu trânsito para um campo novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. A LOAS cria uma nova matriz para a política de assistência social, inserido-a no sistema do bem-estar social brasileiro concebido como campo da Seguridade Social, configurando o triangulo juntamente com a saúde e a previdência social.(PNAS, 2004, p.31)

Nesse cenário a sociedade civil se organizou. A partir dos anos 1980,

destacam-se como importantes: os movimentos sociais urbanos mobilizados pelas

Comunidades Eclesiais de Base – CEBs; o fortalecimento do novo sindicalismo

urbano e posteriormente o rural, o movimento feminista, o movimento ecológico,

dentre outros, permitiram um cenário social e político redefinindo uma nova noção

de perspectiva de lutas por direitos sociais. Um exemplo de grande força nesse

movimento foi à redemocratização da sociedade com Diretas Já, em 1984.

A Constituição Federal de 1988 vem garantir direitos do cidadão, porém

situada no terreno dos interesses da classe dominante que dificultam a garantia da

universalidade da Seguridade Social, negando as conquistas obtidas através das

lutas e dos movimentos sociais.

Com o aprofundamento das relações econômicas alargando as

manifestações do sistema neoliberal, a classe dominante pôs em ação um conjunto

de medidas para melhorar o sistema econômico, dentre elas, a legalização de

algumas políticas sociais como Saúde, Assistência Social e Previdência Social.

Entretanto, nesse sistema, fortalecimento da burguesia favorece a alta

concentração de renda, expansão do comercio e serviços, político de privatizações,

afetam diretamente a garantia da execução dos serviços públicos. O cenário de

65

sucateamento das políticas sociais, o aumento do desemprego e da pobreza, dentre

outros fatores sociais, possibilitam formas de enfrentamento e luta política dos

diversos sujeitos envolvidos.

Em resposta ao Estado neoliberal, a sociedade civil cria estratégias de

sobrevivência diante do retrocesso da proteção social no Brasil no que diz respeito

ao enxugamento das políticas sociais, por meio de um novo segmento público não

estatal, o chamado terceiro setor.

Um exemplo são as Organizações não governamentais - ONG’s que se

configuram na participação da sociedade civil e a desresponsabilização do Estado

frente ao desenvolvimento dos serviços públicos, ou seja, ao mesmo tempo em que

a sociedade civil implementa políticas para a população mediante repasse de

recursos públicos, o Estado se isenta da responsabilidade em executá-las.

Consoante Ana Elizabete Mota, esse fenômeno apresenta um paradoxo nos

avanços neoliberais no Brasil:

Somente com a Constituição de 1988 a sociedade brasileira teve, em tese as suas necessidades de proteção reconhecidas pelo Estado através da instituição de um sistema publico de proteção social (integrado pelas políticas de saúde, previdência e assistência social); contudo, mal foram regulamentadas, essas políticas passaram a ser objeto de ofensiva perversa e conservadora, materializada em propostas e iniciativas de reformas restritivas de direitos, serviços e benefícios. (MOTA, 2006, p.166)

A Assistência Social brasileira sofre os reflexos dessas relações de

desresponsabilização do Estado em sua gestão e operacionalização. Essa política

por muito tempo foi considerada como benesse e troca de favores políticos só

avançando mudanças consideráveis que se materiliazaram com os instrumentos

normativos pós-Constituintes, com a aprovação da Lei Orgânica da Assistência

Social em 1993, da Política Nacional de Assistência Social em 2004 e da Norma

Operacional Básica - NOB/SUAS.

A Política Nacional de Assistência Social – PNAS direciona e fundamenta

as ações profissionais no âmbito do Centro de Referencia de Assistência Social –

Cras demarcando sua especificidade no campo das políticas sociais, pois configura

as responsabilidades do Estado sobre os direitos garantidos ao cidadão, baseadas

nos princípios democráticos dispostos na LOAS, capítulo II, seção I, Art. 4º:

I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica;

II – Universalização dos diretos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;

66

III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviço de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;

IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência as populações urbanas e rurais;

V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão. (PNAS, 2004, p.32)

Dessa forma, a Política Nacional de Assistência Social – PNAS referencia

o Centro de Referencia de Assistência Social – Cras que resulta na relação direta

com a sociedade e possibilita trabalhar tanto na prevenção dos problemas sociais

quanto na articulação dos serviços de enfrentamento, aos cidadãos em situação de

vulnerabilidade social.

Com a recente aprovação do Conselho Nacional de Assistência Social –

CNAS da Política Nacional de Assistência Social em 2004 foi também aprovado o

Sistema Único Assistência Social – SUAS com aprovação da Norma Operacional

Básica - NOB/SUAS em 2005.

O Sistema Único Assistência Social – SUAS é um sistema público estatal

de gestão e operacionalização da política de Assistência Social com objetivo de

atender ao principio da integralidade das ações da Assistência Social, conforme

previsto na LOAS, por meio da continuidade entre programas, projetos, serviços e

benefícios dessa política, co-financiado pelos entes federativos: Município, Estado e

União.

Além disso, estrutura-se a partir de eixos estruturantes: a matricialidade

sócio-familiar, municipalização dos serviços, territorialização das ações,

intersetorialidade, controle social, dentre outros, conforme o texto da Política

Nacional de Assistência Social:

O SUAS define e organiza os elementos essenciais e imprescindíveis a execução da política de assistência social possibilitando a normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento, indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços, e da rede sócio-assistencial e, ainda os eixos estruturantes e de subsistema conforme aqui descritos: Matricialidade Sociofamiliar. Descentralização político-administrativa e Territorialização. Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil. Financiamento. Controle Social. O desafio da participação popular/cidadão e usuário. A Política de Recursos Humanos. A Informação, o Monitoramento e a Avaliação.(PNAS, 2004, p.39)

Ainda, o Sistema Único de Assistência Social tem suas ações

organizadas e desenvolvidas que se materializam por meio da atuação de

profissionais na Proteção Social Básica e Especial às quais se diferenciam pela

67

operacionalidade de atendimento conforme o grau de complexidade, para assim,

tentar a garantir de direitos e a organização dos serviços prestados.

A centralidade da Proteção Social Básica é apresentada pela Política

Nacional de Assistência social principalmente pelo atendimento básico a população

que vive em situação de vulnerabilidade social e pobreza, ocasionada seja pela

baixa renda familiar e a fragilidade dos vínculos ou pela falta de acesso aos serviços

públicos. Tem como objetivos: “[...] prevenir situações de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos

familiares e comunitários [...]” (PNAS, 2004, p.33). Esse atendimento deve ser

desenvolvido sem discriminação de raças/etnias, gênero, orientação sexual dentre

outras populações socialmente discriminadas.

Já a Proteção Social Especial direciona suas ações aos níveis mais

complexos das expressões da questão social determinantes da violação de direitos,

como: exclusão social, pessoas em situação de rua, abandono de idosos, maus

tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas,

cumprimento de medidas sócio-educativas, trabalho infantil dentre outros.

São serviços que requerem acompanhamento individual e maior flexibilidade nas soluções protetivas. Da mesma forma, comportam encaminhamentos monitoramentos, apoios e processos que asseguram qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada. (PNAS, 2004, p.37)

Os serviços da proteção básica estão disponíveis nos referidos Centro de

Referencia de Assistência Social – Cras que atua na prevenção dos riscos sociais

com família bem como a comunidade no território de vivencias, e os serviços da

proteção especial são referenciados pelo Centro de Referência Especializada de

Assistência Social – Creas16 de média complexidade objetivando o enfrentamento

aos agravos sociais.

16

Não nos deteremos aqui às explicações sobre os CREAS, para não nos distanciarmos do lócus de investigação dessa pesquisa.

68

3.2 As ações e serviços dos Centros de Referencia de Assistência Social –

Cras

Como já abordado, a Política Nacional de Assistência Social – PNAS

estabelece como meio de prevenção da vulnerabilidade e risco social a Proteção

Social Básica que determina os Centros de Referência de Assistência Social – Cras

como coordenador e organizador das ações da rede sócioassistêncial da proteção

social através dos programas e projetos da Assistência Social. Conforme define o

MDS:

O Centro de Referência de Assistência Social (Cras) é uma unidade pública estatal descentralizada da Política Nacional de Assistência Social - PNAS. [...] atua como a principal porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social – Suas, dada sua capilaridade nos territórios e é responsável pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social.[...] possui a função de gestão territorial da rede de assistência social básica, promovendo a organização e a articulação das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos processos nele envolvidos.

O Centro de Referencia de Assistência Social – Cras oferta, por meio do

Serviço de Proteção e Atendimento Básico à Família – PAIF, serviços para famílias e

indivíduos que moram em seu território de abrangência priorizando aí, as famílias

beneficiarias do programa Bolsa Famílias, dos Benefícios eventuais e de Prestação

Continuada – BPC.

O Serviço de Proteção e Atendimento Básico à Família – PAIF

proporciona o atendimento as demandas da população referenciada por este,

através do acompanhamento familiar que se dá mediante atendimentos, visitas

domiciliares, reuniões com famílias, encaminhamentos para as demais políticas

publicas; bem como promove a articulação com a rede de proteção social local no

que se refere aos direitos de cidadania. Ainda no Serviço de Proteção e Atendimento

Básico à Família – PAIF, o Centro de Referencia de Assistência Social – Cras

também desenvolve a gestão da rede de serviços socioassistenciais.

Outro Serviço desenvolvido pelo Centro de Referencia de Assistência

Social – Cras é o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV que

oferta ações socioeducativas e de convivência subdividido em diferentes ciclos

etários, contemplando: crianças, adolescente e idosos.

Além do PAIF e SFCV, o Centro de Referencia de Assistência Social –

Cras desenvolve as ações do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo

Federal e o Programa Bolsa Família. O Cadastro Único é um banco de dados e

69

informações sobre diferentes indicadores sociais vinculados a condição

socioeconômica das famílias em situação de vulnerabilidade social e pobreza, para

inclusão em ações e programas sociais. Elencamos abaixo os Serviços ofertados

pelo Centro de Referencia de Assistência Social – Cras:

Serviço de Proteção e Atendimento Básico à Família - PAIF, é um

trabalho continuado com objetivo de fortalecer com medidas protetiva as famílias,

prevenindo a ruptura de vínculos, promovendo o acesso e usufruto de direitos e

contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV, é realiado

com grupos coletivos, coordenados por técnicos que podem ser profissionais de

Serviço Social ou Psicologia, e executas por facilitadores que englobam grupos:

crianças, a adolescentes e idosos.

Programa Bolsa Família – PBF, é um programa de transferência de renda

direta que beneficias famílias com perfil de pobreza e extrema pobreza a partir do

cumprimento de condicionalidades que possibilitam o acesso das famílias a outras

políticas como educação e saúde mediante a atualização regularmente do cadastro.

Concessão de Benefícios Eventuais – é um beneficio garantido por lei que

são concedidos de forma temporária para famílias com renda mensal inferior a ¼ do

salário mínimo por pessoas sendo eles: auxilio funeral, auxilio natalidade, cesta

básica.

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec,

é uma ação de formação e capacitação profissional realizado através de parcerias

do Ministério da Educação – MEC, Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, no qual

o Centro de Referencia de Assistência Social – Cras desempenha o papel de

mobilização e inscrição dos jovens.

Nesses equipamentos, o desenvolvimento das ações profissionais são

orientadas17 pela Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais18 (2009), e

pelo Protocolo de Gestão Integrada. Sendo a primeira responsável em determinar

especialmente os serviços, ciclos de vida, carga horária de desenvolvimento,

17

Quando utilizamos o termo “orientada”, não nos referimos que a autonomia profissional se resume a Tipificação, esta livre para suas analise e mediações cotidiano que para tanto são capacitadas. 18

Considerando a deliberação da VI Conferência Nacional de Assistência Social de “Tipificar e

consolidara classificação nacional dos serviços socioassistenciais”.

70

organização do publico e temas a serem utilizados. O Protocolo, busca direcionar a

gestão financeira garantido a integralidade dos serviços desenvolvidos.

3.3 Análise do contexto sócio-institucional: os Cras no município de Fortaleza

e o Serviço Social (SEMAS/SETRA)

O lócus da pesquisa empírica foi desenvolvido em seis Centros de

Referencia de Assistência Social – Cras do município de Fortaleza19 divididos

conforme os níveis de territorialidade.

O antigo órgão de gestão no município, a Secretaria Municipal de

Assistência Social – SEMAS20, situada na Avenida da Universidade, nº 3.305, Bairro

Benfica, CEP: 60.020-81, que surgiu com o objetivo de coordenar a política

municipal de assistência social do município de Fortaleza, a partir do Sistema Único

de Assistência Social – SUAS.

Com a reforma administrativa em 1996, foram criadas as seis Secretarias

Executivas Regionais do município, juntamente com os Distritos de Assistência

Social - DAS, como resultado do processo de reordenamento administrativo do

município de Fortaleza.

A partir desse processo, houve um enfraquecimento dos serviços de

Assistência Social, provenientes da ausência de uma política de Assistência Social

consistente e estruturada, o que repercutiu na criação de uma nova secretaria. Em

1997, foi criada a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, posteriormente,

em 1998, cria-se a Coordenadoria de Assistência Social, integrando-se a esta

secretaria.

19 Fortaleza apresenta-se como uma metrópole de destaque no contexto nacional e consolidou-se

como a quinta capital do país até 2006, pulando para quarta capital em 2008 e segunda da região nordeste, em termos populacionais. Tal crescimento demográfico de Fortaleza foi aprovado pelas contínuas migrações internas entre os anos 1960 e 1970 e em função das secas ocorridas de 1979 a 1984. Este município localiza-se na Região Metropolitana do Ceará e está composto por 118 bairros oficiais, distribuídos em seis áreas administrativas ou Secretarias Executivas Regionais (SER’s). O município é composto também por 11.339 ruas e avenidas. (PMF/SEPLA: 2007; PMF/ SEINF, 2009).

20 Nessa direção, a Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS é responsável pela

formulação de políticas, elaboração de diretrizes gerais e identificação de prioridades que deverão orientar ações para o desenvolvimento social e melhoria das condições de vida da população pobre do município de Fortaleza.

71

Diante do cenário de desenvolvimento e de dificuldades para

concretização da política de assistência social em Fortaleza, em 2001 foi extinta a

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social - SMDS, o que propiciou a criação

da Secretaria Municipal de Educação e Assistência social - SEDAS.

No ano de 2004, decorrente do contexto nacional em que a política de

Assistência Social se legitimava em seu processo de regulamentação, em nível

nacional, tendo em vista a criação da Política Nacional de Assistência Social –

PNAS/2004, bem como a implantação do Sistema Único de Assistência Social –

SUAS, a administração da prefeitura de Fortaleza procurou se estabelecer e

adequar-se as novas demandas legais, visando concretizá-las no cotidiano

profissional das diferentes categorias profissionais que trabalham na área.

Durante esse período foi implantado no município alguns programas,

projetos e serviços, bem como os primeiros Centros de Referência da Assistência

Social – Cras.

Já em 2005, na gestão da prefeita Luizianne Lins, a política de

Assistência Social, foi implantada e apresentou-se uma tentativa de consolida-la

como política de direitos. Outros 14 (quatorze) Cras foram implantados e 06 (seis)

unidades da Assistência Social da Proteção Social Especial.

Outro fator importante deu-se mediante processos de lutas para

efetivação da política de Assistência Social no município de Fortaleza. Foi criada em

2007 a Secretaria Municipal de Assistência Social - SEMAS, com o objetivo de

coordenar a política municipal de Assistência Social, com a implementação da Lei

Complementar n° 0039, de 10 de julho de 2007, anunciada no Diário Oficial do

município em 13 de julho do mesmo ano.

[...] A criação desse órgão possibilitou a organização e execução de serviços, programas e projetos em âmbito municipal, bem como a adesão do município ao modelo de gestão plena conforme preceitua a NOB/SUAS. (PMAS, 2010-2013, p.22)

Os gestores da SEMAS organizaram seus projetos e programas e

serviços nas seguintes coordenações: Coordenação de Proteção Social Básica,

Coordenação de Proteção Social Especial, Coordenação de Inclusão Social

Produtiva, Coordenação de Gestão do Sistema Único de Assistência Social,

Coordenação de Segurança Alimentar e Nutricional, Coordenação do Cadastro

Único e Programa Bolsa Família e Coordenação Administrativa Financeira.

72

A referida Secretaria solidificou suas ações da maneira supracitado

durante o mandato e gestão da antiga Prefeita Luizianne. A partir de Janeiro de

2013, com novas configurações, devido a mudança de gestão, a Secretaria passa

ser denomeada de Secretaria Municipal do Trabalho, Desenvolvimento Social e

Combate à Fome – Setra21, foi criada pela Prefeitura de Fortaleza, na atual gestão

do Prefeito Roberto Cláudio.

Segundo informações recebidas por profissionais nas entrevistas, a

gestão da Secretaria passa ser denomeada de Secretaria Municipal do Trabalho,

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – Setra estabelece como metas a

ampliação do número de famílias cadastradas no Bolsa Família, a Construção de

casas para retirar famílias que moram em área de risco, uma maior participação no

Orçamento Participativo, o fortalecimento da unidades de atendimento, os Centros

de Referência da Assistência Social – Cras, Centros de Referência Especializados

de Assistência Social – Creas, a reestruturação dos Conselhos de Políticas Públicas

e Direitos Humanos, a criação da primeira instituição municipal de longa

permanência de idosos, uma reordenação na execução da Secretaria Municipal de

Cidadania e Direitos Humanos – SCDH, Secretaria Municipal de Trabalho,

Desenvolvimento Social e Combate a Fome – Setra, Secretaria da Controladoria e

Transparência – SECOT, Coordenadoria de Participação Popular.

Citamos essas questões sobre a atual gestão do município de Fortaleza

para nortear o caminho que a Assistência Social tem como pano de fundo das

mudanças históricas que estão por vir, não queremos aqui instaurar uma análise das

alterações supracitadas na gestão do prefeito, mas sim destacar, os rumos do lócus

de investigação desta pesquisa.

21

Devido ausência de um documento publico oficial, sobre a Secretaria Municipal do Trabalho,

Desenvolvimento Social e Combate à Fome – SETRA, no período desta pesquisa, não temos informações sobre o funcionamento de seu organograma.

73

3. 4 As competências e habilidades expressas na Instrumentalidade do

Serviço Social no cotidiano dos Cras na ótica dos entrevistados

Os Centros de Referência da Assistência Social – Cras é o lugar que

possibilita, em geral, o primeiro acesso das famílias e indivíduos aos direitos

socioassistenciais e, portanto, à proteção social. Estrutura-se, assim, como porta de

entrada dos usuários da política de Assistência Social para a rede de Proteção

Básica e referência para encaminhamentos à Proteção Especial.

Desempenha papel central no território onde se localiza ao constituir a

principal estrutura física local, cujo espaço deve ser compatível com o trabalho social

com famílias que vivem no seu território de abrangência e conta com uma equipe

profissional de referência.

É por meio do Centro de Referência da Assistência Social – Cras que a

proteção social da Assistência Social se territorializa e se aproxima da população,

reconhecendo a existência das desigualdades sociais intra-urbanas e a importância

da presença de políticas sociais para reduzir essas desigualdades, pois previnem

situações de vulnerabilidade e risco social, bem como identificam e estimulam as

potencialidades locais, modificando a qualidade de vida das famílias que vivem

nessas localidades. Esses espaços são cenários da intervenção do Serviço Social

desde quando se constituíram no âmbito municipal, sendo que este fato ocorre

também em nível nacional.

Assim, são importantes por serem espaços sócio-ocupacionais que

permitem práticas profissional com base no marco legal, supracitado anteriormente,

afirmando os usuários como sujeito de direito, na busca de estimular a participação

e autonomia dos mesmos realizando ações que possibilitem o seu protagonismo,

que contribuam para o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais, e que

atribuam a liberdade de escolha, de maneira a apontar uma perspectiva

emancipatória da Política de Assistência Social.

Compreendemos que o Serviço Social como profissão insere-se desde

sua emergência, no interior dos equipamentos sócio assistenciais existentes,

desenvolvendo uma atuação voltada ao atendimento de demandas e necessidades

sociais dos usuários, podendo produzir resultados nas condições materiais, sociais,

74

políticas e culturais no âmbito da reprodução social, viabilizando o acesso à políticas

sociais, programas, projetos, serviços, recursos e bens de natureza diversa.

Nesse sentido, a profissão desenvolve atividades que abrangem as

abordagens diretas com os usuários, intervindo nos comportamentos e valores, no

modo de viver e pensar.

Assim, o/a Assistente Social é reconhecido como o profissional que atua

nas políticas sociais tanto na execução quanto na gestão de diferentes serviços

sociais desenvolvendo uma ação socioeducativa e pedagógica, distribuindo recursos

materiais, atestando carências, realizando triagens, orientando e esclarecendo a

população quanto a seus direitos sociais, aos serviços, aos benefícios disponíveis,

administrando recursos institucionais, numa mediação da relação Estado, instituição,

classes subalternas.

É o desvelamento dessa mediação que vai possibilitar o profissional

compreender as políticas sócio-assistenciais como ambientes contraditórios,

fazendo este perceber que o controle e o ajuste dos subalternos, também incidem

na luta por direitos de cidadania e até mesmo o acesso verdadeiro a serviços e

recursos, que essa população não obtém de outro modo.

Portanto, o profissional de Serviço Social atua na defesa das classes

subalternas, com uma ação social tencionada pela dinâmica contraditória dos

interesses divergentes que estão em confronto no campo profissional. Mediante a

essa realidade, a autonomia profissional constitui um dos desafios contemporâneos

postos ao Assistente Social, apesar de ser garantida como direitos no Artigo 2º, do

Código de Ética de 1993: “[...] ampla autonomia no exercício da profissão, não

sendo obrigado a prestar serviços profissionais incompatíveis com as suas

atribuições, cargos ou funções” (CFESS, 2012, p. 13).

Mas, é indispensável transpor o aspecto legal e ponderar a autonomia no

significado de formular respostas profissionais críticas, coletivas, articuladas que

atendam as necessidades da classe trabalhadora e pautadas no projeto ético-

político do Serviço Social. De acordo com Mota e Amaral:

Não se pode omitir, na trajetória de uma profissão, a existência de uma relativa autonomia teórica, política, ética e técnica que é exercitada pelo profissional – sob determinadas condições objetivas –ao atuar sobre uma dada realidade, problematizando-a com o aporte dos conhecimentos sistematizados e dos princípios que formaram a sua identidade ocupacional. (1998, p. 42)

75

Diante desse contexto é importante assinalar que nos anos mais

recentes, o Serviço Social brasileiro enfrenta novas demandas, atribuições e

competências desenvolvendo seu protagonismo na construção de direitos sociais. E

com esse discurso contemporâneo nos espaços sócio-ocupacionais se engendrou

paralelamente a Instrumentalidade do Serviço Social, a qual, trazemos nessa

pesquisa a discussão no âmbito dos Centros de Referencia de Assistência Social –

Cras em Fortaleza-Ceará.

Assim, ao trabalhar a instrumentalidade significa entender que esta

engloba os instrumentos e técnicas, os quais precisam ser abordados para além de

sua operacionalidade. Desse modo, se faz necessário articular o conhecimento

teórico com o conhecimento de técnicas e procedimentos, as quais precisam ser

mobilizadas na prática profissional. Importante considerar que, para Santos,

“instrumentos e técnicas não são a prática do Serviço Social, mas estão vinculados

à ela”(2010, p. 35)

Portanto, tornar-se claro, a implicação das três dimensões prático-

formativas do Serviço Social, elencadas no capitulo II, para o desenvolvimento da

prática profissional nos Cras, de modo a fundamentarem a formação teórica que

contribui para as assistentes sociais, no alicerce das análise sobre as condições da

realidade, ou seja, proporciona um entendimento sobre o que se quer analisar e

modificar e, inclusive, municia potencialidades de ruptura, além das mediações

necessárias para a intervenção.

O objetivo de falar do profissional assistente social possuidor das

dimensões da instrumentalidade é de situá-lo superior a um técnico, ou seja, aquele

profissional que incorpora às finalidades e objetivos, bem como, o desenvolvimento

das potencialidades de sua prática, tornar este profissional técnico, também

intelectual, capaz de fazer leituras críticas da realidade social, por meio do processo

dialético, com indicadores investigativo através de sucessivas aproximações,

identificando os fenômenos e realizando mediações.

76

3.4.1 Análise das entrevistas

O contexto social de atuação do profissional de Serviço Social é situado

na apreensão dos aspectos que constroem e determinam a realidade social e

institucional compostas pelo ambiente político de ampliação ao acesso aos direitos

sociais. Portanto, é imprescindível debater a instrumentalidade no exercício da

categoria do campo institucional e consubstancialmente elencar esse contexto em

um processo de produção e análise com base na realidade dos Cras onde os

assistentes sociais atuam.

Diante do exposto, buscamos compreender de que forma foram as

primeiras aproximações das entrevistadas com a profissão de Assistente Social,

contudo indagamos quais foram os motivos que as levaram a escolha desta

profissão, visto que é de suma importância a compreensão deste primeiro momento

e do desenvolver desse processo, para a análise a qual nos reportamos. Obtivemos

tais colocações das profissionais sobre esta indagação:

Foi uma coisa que eu sempre me identifiquei é assim pela questão de trabalhar mesmo com individuo, trabalho com famílias com questão de levar e tentar garantir os direitos das pessoas uma identificação pessoal mesmo. (cristal, 32 anos)

Eu sempre me identifiquei com as questões de comunidade participava de movimento social e eram assim na época eu passei tanto na UECE quanto na UFC. Dei preferência ao Serviço Social como prioridade por conta desse meu envolvimento nos movimentos social. (esmeralda, 27 anos)

Nesses trechos podemos afirmar que os motivos iniciais conforme as

entrevistadas são mais de cunho pessoal. Vale salientar que não visualizamos nas

falas concepções voltadas as questões caritativas (ajuda, favor), mas contatamos o

distanciamento com o que é a profissão. (Cf. IAMAMOTO e CARVALHO, 2010, p.

22).

Abordamos as percepções das Assistentes Sociais sobre o nível de

satisfação e expectativas tratando-se da profissão, em comparação ao período da

graduação e a prática nas instituições, desta maneira as interlocutoras se

posicionaram:

A gente vai com toda aquela sede, com toda aquela bagagem de conhecimento muito grande mas ai quando você chega, você esbarra nos limites mesmo, nos limites e nas possibilidades e ai quando eu fui no primeiro emprego que foi no interior e a cidade era pequena você nota muito as questões políticas e é um choque, é choque muito grande porque você vem com aquelas coisas, aqueles ideais e aquele desejo de fazer a justiça e

77

ai você esbarra em muitas coisas. Lógico que você consegue depois de um trabalho de formiguinha mesmo, de ta mostrando de ta tentando de uma forma bem sutil e ai com certa sutileza você consegue fazer sua pratica dentro do projeto ético político da profissão. É difícil, mas é uma luta do cotidiano mesmo.(Cristal, 32 anos )

Eu acho que eu descobrir novas expectativas. Aquela inicial de mudar o mundo já é a primeira que é um estado. A gente ver que não é bem assim, que a gente não consegue mudar muita coisa. A gente faz um pequeno trabalho de formiguinha que às vezes tenha algum resultado, as vezes não tem e a gente tem que lidar com essa frustração. Mas cada pequena realização do dia-dia representa muita coisa quando se trata da questão social, que é uma coisa tão maior do que a gente. (Topázio, 32 anos)

É notório que as afirmações supracitadas revelam que as expectativas

não são coerentes com as suas realidades, percebemos também que inicialmente

ainda se identifica na fala das mesmas uma visão messiânica da profissão, que se

confronta com a realidade.

Fizemos o destaque deste ponto, em consonância a analise deste

trabalho, a preocupação com uma intervenção profissional pautada em uma visão

messiânica tem se perpetuado no modo de agir profissional na sociedade

contemporânea, como afirma Iamamoto:

[...] é necessária, também, evitar [...] o que venho chamando de messianismo profissional: uma visão heróica do Serviço Social que reforça unilateralmente a subjetividade dos sujeitos, a sua vontade política sem confronta-la com as possibilidades e limites da realidade social (IAMAMOTO,2010, p. 22)

Nossos questionamentos perpassaram na apreensão e compreensão

acerca dos Centros de Referência da Assistência Social – Cras, por parte das

entrevistadas, de modo a identificarmos nos campos de atuação das assistentes

sociais a política de Assistência Social, tal compromisso se revelou no objetivo de

visualizar quais rebatimentos dessa relação refletem na instrumentalidade do

Serviço Social:

É uma unidade de atendimento para a comunidade como um todo a gente recebe, a gente recebe e sempre que possível repassa para a população a qual é o papel do atendimento dentro do equipamento, então é isso, essa porta de entrada mesmo, entrada da política nacional de assistência social pra encaminhar as pessoas para as demais políticas publicas, orientações diversas enfim (Diamante, 36 anos)

Eu vou te dizer como passa naqueles informes que vem do governo e como se fosse aquele apoio que a família, principalmente as famílias cadastrada no cadastro único que é o nosso maior publico aqui vem em busca de solucionar alguma questão que “teja” passando e o Cras é o tipo parceiro que ta mostrando pra essas famílias onde ela encontrar os direitos delas fazendo o encaminhamento dando mesmo informação apesar do nosso publico ser mais do bolsa família isso não, eu acho que é a realidade de

78

todos os locais realmente o nosso maior publico é o bolsa família mais dentre dessas questões que a gente acaba se identificando mais mesmo aquele suporte pra família pra mostrar pra ela onde ela procurar na medida do possível onde ela procurar os seus direitos pra solucionar seus problemas no caso ela passe (Ágata, 31 anos)

Como um aspecto forjado no desenvolvimento da capacitação teórica,

entende-se que os profissionais que atuam nos Centros de Referência da Assistência

Social – Cras devem ter um conhecimento da Política de Assistência social, como

política publica direito do cidadão e dever do Estado. Política que integra a

Seguridade Social no Brasil, compondo o tripé junto com a Saúde e a Previdência,

assim como um conhecimento, mesmo que a título informativo, das demais

legislações que estruturam sua gestão.

Conforme esta apreensão da realidade constamos, que os rebatimentos

da instrumentalidade, incidem sobre os mecanismos de contradição que se alojam

nos modos de ser e pensar a profissão. Dessa maneira, a pratica profissional é

desconfigurada diante Da execução da instrumentalidade, uma vez que, suas ações

atualmente estão muito relacionadas a atender as exigências, critérios,

condicionalidades e público dos programas de transferência de renda, como Bolsa

Família, que tem sua natureza social importante na sociedade brasileira, contudo,

frente ao numero de profissionais ainda pequeno para atender as demandas da

população pobre, os Centros de Referência da Assistência Social – Cras de Fortaleza

têm priorizado suas práticas profissionais, no atendimento as ações deste Programa.

A discussão posta aqui não é, e não deve atender as famílias do

Programa Bolsa Família. Se elas buscam os Centros de Referência da Assistência

Social – Cras, certamente que devem existir profissionais qualificados para atender

suas demandas sociais. Contudo o destaque feito se dá, sobretudo em apontar ao

profissional assistente social de Cras que este possa desenvolver atividades de

cunho transformador da realidade, de caráter coletivo e comunitário, com pautas

sócio-políticas de interesses da população local. O que se percebeu, é que este

profissional se encontra limitado, em alguma medida, ao atendimento interno no

equipamento.

Articulando com as colocações de Guerra (2010) deveriam ser

constituídas consubstancialmente na efetivação de outros fundamentos técnicos e

políticos:

[...] remetem a uma ontologia do ser prático-crítico que projeta, opera, realiza a transformação a natureza e a si mesmo, permitiu-me demonstrar a

79

tendência da ordem capitalista em metamorfosear o processo de trabalho num conjunto de ações repetitivas, padronizadas, fragmentadas, na qual os produtos do trabalho social coletivo perdem a chancela do seu produtor (GUERRA, 2010, p.17)

Instigadas pelos fatos que vão além da visão de dentro das ações

profissionais na instituição, buscamos perceber de forma totalizante, qual a

representação dos Cras para a sociedade, a partir das percepções das

entrevistadas:

Deixa eu te dizer até conversando com os próprios participantes dos grupos, dos serviços. Na verdade, no serviço de convivência e fortalecimento de vinculo que não há uma clareza muito grande dessa importância, dessa representatividade. Eu vi nesse instante de uma conversa com idosos eu estava justamente fazendo pouco da história da assistência social pra eles, não era nem pauta da nossa conversa essa história, mas eu achei necessário porque muita vezes você confunde o assistencialismo com a política assistência social inclusive confunde a assistência social como um lugar que não é de ninguém, que qualquer um pode ocupar, que a saúde pode ocupar, que a educação pode ocupar de acordo com sua necessidade de uma forma prática. O grupo dos idosos colocou assim [...] era bom no tempo que a gente vinha para o grupo que tinha médico aqui’. Eu fui explicar pra eles que lugar de médico era no posto de saúde. Isso não impede que ele um dia vá lá fazer uma ação com elas. A saúde passa por nós, passa mais no campo de direito, do direito a saúde. É por isso que digo que é um espaço que todo mundo pode entrar, não há essa clareza sobre assistência social enquanto política ela avançou muito, mas ela precisa de uma visibilidade. Isso precisa ta muito mais clara na cabeça das pessoas. Na hora que eu disse assim [...] Onde é porta de entrada da saúde? Eles responderam o hospital. E da educação? Eles respondera a escola. E da assistência social? E alguns dizem: No Cras. Mas, antes quando essa pergunta era feita nem isso eles sabiam dizer. Hoje poucos sabem, então ainda temos que avançar nesse sentido.[...] (Rubi, 32)

Ele vê o Cras como apoio. Um apoio institucional da política pública da Prefeitura que vamos resolver todos os problemas só que o Cras e a comunidade é para além disso! Então a expectativa da comunidade é que o Cras é um ponto de apoio que vai resolver e que a assistente social vai lhe ouvir e dar solução sem contar que nós fazemos o possível para encaminhar, pra resolver as demandas, pra identificar as problemáticas e tentar resolver as questões sociais da comunidade. (Safira, 47)

Constatamos mediante as explicitações que a referencia dos Centros de

Referência da Assistência Social – Cras para a sociedade ainda não é bem clara. O

questionamento se dá em perceber se é interessante para classe dominante e

Estado, que nesta conjuntura tem agido paliativamente diante dos direitos sociais,

fazer com que os usuários compreendam qual a representatividade dos Centros de

Referência da Assistência Social – Cras.

Dessa forma, compreendemos que as entrevistadas não trouxeram

elementos objetivos e críticos em relação à leitura da realidade, pois se falou muitos

em limites, sendo oclusa as possibilidades. Entretanto sabemos que vários fatores

80

circundam essa questão, frente ao contexto que estas profissionais estão inseridas

que perpassa nas condições de trabalho, ausência de capacitações, sucateamento

das políticas que fragiliza a respostas às demandas apresentadas.

Incluímos também as atividades existentes nos equipamentos relatadas

pelas entrevistadas, a fim de conhecermos e entendermos o contexto das ações

institucionais, no sentido de analisarmos com mais propriedade, contudo

destacamos as falas de algumas Assistentes Sociais:

Aqui os serviços funcionam certo. A gente tem o serviço de convivência e fortalecimento de vínculo para os idosos, para crianças e o Projovem é aquele que está mais enfraquecido, pois já fizemos várias vezes mobilização, como também atividades na comunidade e articulação com algumas escolas, postos de saúde. Até com próprio território com as associações. Mas assim, é ele não funciona até mesmo por conta do equipamento que não tem uma estrutura e espaço para adolescente como: quadra de interesse para os adolescente que muitas vezes ele não quer ta tanto só em sala, quer um espaço mais livre e mais aberto onde possa ter acesso a um esporte ou pelo menos em algum momento ou até mesmo pra alguma atividade que possa ser em um local mais livre a gente não tem muito esse espaço ai é o serviço que esta mais fragilizado. Além disso a gente tem o serviço do Cadastro certo? Que é onde a gente tem a maior demanda, ai tem alguns serviços que não são serviços da tipificação porque já tinha, mais agora não tem mais [...] pronto assim que eu esteja lembrando são esses”. (Esmeralda, 27anos)

No Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos nós temos pra criança, adolescente e idoso – Nós temos o grupo PAIF com algumas famílias especificas para as famílias que estão em acompanhamento familiar. Esta acontecendo apesar de não dever o PRONATEC, que esta acontecendo dentro da instituição porque não tem espaço físico, mas esta acontecendo dentro da instituição o PROGRAMA DO PRONATEC são os cursos profissionalizantes do governo federal, porque assim a gente faz inscrição a SETRA tem um setor agora só a questão do PRONATEC eles fazem a seleção dos usuários onde estava acontecendo os nas unidades do SENAI, SENAC não sei se já tem no IFC, e em algumas associações, ai abril se a oportunidade de ter na comunidade, então o CRAS abril as portas a gente já fez curso aqui antes e ai a gente ta com duas turmas aqui de pedreiro uma de manha e uma tarde só que a gente não tem sala para grupo também não tem sala para o curso então eles ficam no refeitório espaço nos estamos com um grupo de pedreiros quando tem grupo eles ficam no salão e curso no refeitório, é assim”. (Diamante, 36 anos)

No decorrer desta análise, identificamos a partir dos discursos das

Assistentes Sociais que existem limitações referentes às dificuldades dos

equipamentos em relação à estrutura física que perpassa pela quantidade de

usuários que demandam os serviços socioassistenciais e a escassez de recursos

humanos para atenderem as necessidades exigidas.

Portanto, tais argumentos diante das exposições técnicas anteriormente

citadas acerca da instrumentalidade aparecem como fatores negativos que

81

comprometem a ação do assistente social bem como qualidade das ações de forma

multidimensional. (GUERRA, 2010)

Centramos também nossa análise no olhar das profissionais de Serviço

Social na forma pela qual estas identificam os perfis dos usuários atendidos nos

equipamentos; quais são mais predominantes nos territórios de abrangência e quais

demandam em maior quantidade as intervenções profissionais:

São pessoas em situações de vulnerabilidade, pessoas de baixa renda, pessoas que convivem em situações de violência. A gente sabe que a aqui na comunidade a droga é uma coisa muito forte e a violência que decorre dela. Tudo que decorre dela a gente ver aqui. (Topázio, 32 anos)

O maior atendimento é o Cadastro do Bolsa Família. Com relação ao atendimento técnico e é que a partir desse atendimento técnico a gente passa a conhecer e identificar essas famílias para o acompanhamento familiar. Então no atendimento, a demanda existente de hoje no CRAS existe o cadastro e que através dessa demanda do cadastro você consegue identificar muitos problemas familiares não só exclusivamente do Cadastro Único mais a gente consegue identificar o usuário de droga a violência contra mulher exploração sexual o trabalho infantil então a gente consegue identificar dentro dessas famílias que nós atendemos. (Safira, 47 anos)

A gente aqui nunca fez nenhuma pesquisa pra poder delimitar e saber bem direitinho qual o perfil desse publico certo, pois a gente tem é muitas familias em extrema pobreza mesmo. Nós temos de um tudo. E conseguimos começar a reordenar as fichas de atendimento pra pelo menos ter uma noção de quem são essas pessoas que a gente atende ou melhor, em qual território e que território estão essas pessoas que a gente atende. Dentro do território do CRAS, [...] muita solicitação de beneficio eventual, muita situação de vulnerabilidade, pouquíssimos situações de conflitos familiares, algumas situações de violação. Tudo é muito pontual e tem de tudo. (Diamante, 36 anos)

Diante das falas apresentadas, temos um acervo altamente mistificado do

olhar das Assistentes Sociais sobre a visualização dos perfis dos usuários que as

mesmas identificam nos equipamentos que atuam.

Nesse sentido, analisamos que esses posicionamentos aparecem por

inúmeros fatores. O primeiro, pela questão da precarização e condição do trabalho

que não permite as mesmas investigarem e analisarem dialeticamente o contexto

multifacetado da conjuntura contemporânea e seus desdobramentos na vida dos

usuários. Segundo, é compreensível estas colocações, já que temos o

conhecimento que os campos de atuação profissional possuem suas

particularidades, ou seja, existem características diferentes nos espaços sócio-

ocupacionais, nos quais os Assistentes Sociais atuam, esta vão depender de vários

fatores, que ocorrem no território, a maior incidência de um determinado fenômeno

social, naquele local. Assim como se refere Serra (2001):

82

[...] as ações demandadas ao Serviço Social referem-se a segmentos cada vez mais diversificados, incluídos por sua vez, em programas sociais ainda mais fragmentados por público-alvo, por áreas de políticas sociais e por problemáticas específicas seccionadas neste âmbito. (SERRA, 2001, p.169)

Para fazermos um trajeto mais completo dos cenários institucionais,

lançamos o olhar nas condições estruturais, de modo a visualizarmos com quais

recursos materiais trabalham as Assistentes Sociais, sendo inúmeros relatos.

Destacamos um que trata da situação bem similar aos outros locais, porém com

algumas especificidades:

Olha, os recursos materiais que a gente tem são nossos instrumentais né? Ate que tem recurso material. Já foi pior mas as vezes chegava a faltar material pra atividades de grupo, material pedagógico... É o que a gente tinha mais dificuldade, mas agora a gente já tá melhor e recursos humanos a equipe hoje esta incompleta a equipe do nosso Cras [...] ai a gente vai se virando como é possível, [...] esta faltando uma assistente social e ela esta de férias e não vai mais voltar pra cá [...] ai quem vem pra cá? E a partir de quando vem ainda não estamos sabendo e não foi definido. A gente esta na expectativa. Claro que essa estrutura não da conta de atender todas as atividades do Cras, e recentemente é porque aqui no Cras funciona uma unidade do cadastro único como você já pode perceber. Como antes tinha muita gente na pesquisa de cadastro e digitação, então ficava essa sala só pro cadastro. Era essa sala exclusiva do cadastro único e a outra sala funcionava tudo. Enfim era o lugar pra tudo e os atendimentos aconteciam de uma forma bastante precarizada que incomodava todo mundo. Incomodava os técnicos, os usuários [...] Você começa a atender, ai o telefone toca, uma pessoa atende, ai um fala com o outro de um lado e de outro. Tem gente fazendo planejamento de grupo, é muita coisa! Dá vontade de sair correndo pra gente conseguir atender. Essa sala a gente que mudou a organização, colocou o cadastro pra lá não tem nem dois meses que essa sala esta exclusiva para o atendimento, agora as coisas estão melhorando. Essa sala aqui é exclusiva de atendimento técnico. Agora está garantido nosso sigilo graças a Deus. [...] (Diamante, 36 anos)

O cenário elencado nos chamou atenção pelas condições do trabalho e

qualidade dos serviços prestados, visto que a deficiência destes são provenientes de

um sistema linear, no interior dos Cras, gerado por um ciclo de questões exteriores,

(raiz central é o sistema neoliberal) no qual um problema pontual reflete diretamente

na condução das outras ações, de modo a ferir as relações profissionais

estabelecidas no Código de Ética de 1993 que determina o comprometimento com o

sigilo profissional.

Após buscarmos conhecer os pontos mais específicos que compõem os

atendimentos dos usuários nos equipamentos, abordamos aqui as percepções

profissionais no contexto desses espaços sócio-ocupacionais, diante da direção

técnico-operativa do fazer da Assistente Social:

Bom, a direção técnico-operativo dos Cras vem da Tipificação dos serviços. A gente se baseia pelos documentos do MDS. Ai também tem orientação da

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Secretaria pro serviço de convivência, pros planejamentos. No caso, eu referencio os serviços de idosos e serviços de crianças. Ai tem a educadora social e a gente faz os planejamentos juntas, os relatórios também em conjunto. Em alguns momentos, eu tenho uma certa dificuldade de ta acompanhando mais perto esses grupos por conta das minhas outras atribuições. Mas ai assim a gente sempre procura fazer os acompanhamentos e os relatórios em conjunto e tem dado certo. No caso os planejamentos dos serviços são executados pelo educador social e o orientador social no caso do PROJOVEM. No caso do técnico, a gente fica mais na questão do acompanhamento. (Cristal, 32 anos)

Existe um planejamento que é geral que ele é feito pela assessoria institucional pelo gabinete em nível de município. A partir desse planejamento, dessa diretriz que eles dão, cada equipamento faz o seu planejamento ligado a essa direção maior. Então assim, existe uns documentos nos arquivos que vão orientar a isso e é a partir disso, da a sua diretriz também [...] mas é muito igual a todos os lugares em todos os Cras que se você for visitar é muito parecido. O que a gente ainda precisa é crescer nessa leitura de território, nessa vigilância social da assistência social porque é muito tímida ainda. Mas o que mais acontece: é dado um tema esse mês, todo mundo vai trabalhar violência contra o idoso e exploração infantil, por exemplo, trabalho infantil. Cada técnico que acompanha esse serviço, cada educador volta pro seu equipamento e vai pensar suas atividades a nível local mais assim o que eu digo que a gente ainda precisa avançar é porque é nessa perspectiva de fazer uma leitura mais aprofundada do território. [...] Eu acho que a gente ta querendo agora pra puder sistematizar essa vigilância social assistencial muitas vezes se tem os dados mais a gente não consegue fazer a segunda parte que é a leitura desses dados pra devolver pro serviço pra reordenar o serviço. E ai eu acho que é nisso que a gente precisa avançar porque assim a gente tenta observar o território pode fazer algumas alterações mais isso é mínimo, a gente precisa ir de uma forma muito mais profunda nisso “num” território como o que é cheio de adolescente se justifica um PROJOVEM sem menino nenhum nem pra fazer remédio. E não tem por que? Então assim é uma das coisas que a gente precisa dirigir melhor”. (Rubi, 32 anos)

Ressaltamos que as Assistentes Sociais relatam em seus

posicionamentos, a dimensão técnico-operativa sob uma visão, com base nas

questões hierárquica e documentais. Estas declarações são percebidas quando as

mesmas expõem que as ações são planejadas de forma inversa, ou seja, não é da

realidade cotidiana profissional que se elabora as atividades para as usuárias, e sim,

da gestão administrativa da política, de onde saem os direcionamentos a serem

traçados.

Articulando a uma abordagem teórica, em outras palavras a direção

técnica-operativa do fazer profissional conforme Iamamoto:

[...] É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes, passíveis de serem impulsionadas pelo profissional. (2010, p.21)

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Para além da análise construída nesse diálogo, não poderíamos esquecer

de questionar sobre outro ponto que é a relevância dos instrumentais que fazem

parte do cotidiano, e qual espaço estes ocupam, levando em consideração o grau de

importância dado pelas Assistentes Sociais:

A gente tem o instrumental de planejamento; o instrumental diário de registro. Cada pessoa, cada educador, cada técnico que vai fazer esse tipo de serviço, ele preenche a atividade do dia. Coloca as dificuldades, as facilidades e os objetivos. Ai no final do mês é feito um relatório mensal dessa atividade que foi desenvolvida com o grupo. A gente tem o instrumental para PAIF também quando a gente faz as visitas institucionais, os planejamentos, os relatórios de atividade do grupo de família, tudo isso é do PAIF e tem instrumentais específicos. Tem também o de registro diário de atendimento técnico, das visitas domiciliares, o dos agendamentos que são feitos tanto para cadastro único quanto pra atendimento técnico. (Rubi, 32 anos)

São inúmeras [...] do agendamento; relatório do atendimento técnico; o livro de atendimento técnico; registro de visita; o acompanhamento familiar a ficha de identificação o relatório mensal o relatório final trimestral. Então são vários que no final nós utilizamos no relatório quantitativo mensal que é o RQM onde gente condensa todas essas informações no final do mês. (Safira, 47 anos)

Diante do exposto e sob a análise da importância dos instrumentais para

prática profissional, identifica-se que estes são sim importantes, porem é possível

expormos que suas funcionalidades ocupam um lugar muito mais quantitativo que

qualitativo, já que tais instrumentos não abrangem a totalidade dos fatos sociais

sobre os sujeitos, velados em instrumentos palpáveis, ou seja, os instrumentais aqui

citados revelam em sua grande maioria dados quantitativos da vida dos usuários, o

que denota ao que se resume o fazer profissional, repassar dados mensalmente, ou

seja, não se constituem como um elemento complementar das intervenções.

Logo, os instrumentais tem sim seu grau de importância, mas como

ressalta Sarmento:

[...] o tradicional levantamento socioeconômico precisa deixar de ser formalismo burocrático, repetitivo de informações quantitativas desnecessárias para a população, para o assistente social e para a própria organização, e passar a institucionalizar-se como instrumento consolidado de informações quantitativas e qualitativas sobre as condições de vida e respostas socioinstitucionais à população atendida. (2003, p.107)

No discurso que se plasma essa pesquisa acerca da Instrumentalidade do

Serviço Social refletimos os impactos da Política Nacional de Assistência Social na

atuação das entrevistadas, de modo fazer com que as mesmas pensassem a sua

utilidade para as ações profissionais:

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Eu acho que sem a política nacional de assistência social você não consegue fazer um bom trabalho porque ela te dá todo embasamento técnico e metodológico para que você possa desenvolver com segurança, porque ela te da um norte. A LOAS, a lei orgânica assistência social também como ela é bem direcionada pra que a gente possa fazer um bom

trabalho dentro do CRAS. (Safira, 47 anos)

Elas vão auxiliar na questão das nossas articulações com as outras políticas, tem a questão das diretrizes a gente tem uma questão de direcionamento quanto as nossas ações, as diretrizes e os eixos estruturantes. (Esmeralda, 27 anos)

Percebe-se na fala das entrevistadas o conhecimento da importância do

embasamento técnico e normativos da Política Nacional de Assistência Social, mas

devemos ter consciência que ao falar de prática profissional temos que ter um olhar

mais minucioso. Reconhecemos, sim, que a partir de 1993, com a regulamentação

da LOAS e 2004 com a PNAS - o estatuto normativo sobre a dimensão dos direitos

socioaissistenciais, obtiveram grandes conquistas porém ainda se revelam grandes

limitações na atual conjuntura.

Diante da nossa temática, trabalhamos o contexto dos Centros de

Referencia Social incluindo modo de ver e pensar das Assistentes Sociais sobre o

marco legal que embasa a intervenção diária:

Eu não consulto com muita frequência não, só quando eu tenho alguma duvida ou quando eu vou fazer algum relatório que eu tenho que colocar um artigo do Estatuto da Criança, da LOAS que é o que a gente mais utiliza. Porque as orientações elas já foram postas, elas não mudam com muita frequência, a gente tá com nova gestão nós estamos aguardando novas orientações que o município por ventura possa vir a dar, mas, por enquanto, essas novas orientações não aconteceram. E o que norteia a política assistência, a gente já tem noção e realmente é só em ultimo caso. (Diamante, 36 anos)

São importantes, mas assim eu vou te confessar que só mesmo assim quando eu “tou” fazendo algum relatório que tenham que citar algum parágrafo de algum decreto de alguma lei que a gente vai procurar consultar. Acho que assim, até o tempo, a rotina mesmo, torna a gente. Seria ótimo, maravilhoso se a gente tivesse tempo pra tá verificando sempre só que a gente tem o atendimento e também em casa a gente tem que separar o trabalho das horas de trabalho das minhas horas de descanso em caso. Eu vejo assim. (Ágata, 31 anos)

Estas colocações fazem parte das condições de trabalho já elencadas, na

qual percebemos que é nítido a precarização do trabalho, mesmo diante das

conquistas históricas do Serviço Social como a regulamentação das trinta horas

semanais, que reduziu a carga horária.

Ao mesmo tempo em que foi uma conquista, sobrecarregou as

profissionais, pois se em um turno antes dessas conquistas teria que atender uma

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determinada quantidade, agora elas trabalham em um turno e no outro não tem

profissionais suficientes para dar conta da demanda. Nesse contexto, fica claro o

quão se tornam deficientes as mediações realizadas nos atendimentos, reduz-se o

tempo e diminui-se a qualidade dos serviços prestados.

Deixamos claro que não estamos aqui nesta pesquisa fazendo nenhum

critica com relação ao direito às 30 horas semanais, que faz parte do resultado da

organização de uma categoria profissional que luta por melhores condições de

trabalho. Estamos destacando as estratégias de gestão das políticas na não

contratação de mais profissionais e isso reflete na sobrecarga das Assistentes

Sociais, conforme já mencionado.

Na busca de qualificar o nosso olhar como pesquisadoras nos reportamos

a identificar às atribuições especificas dos Assistentes Sociais. Assim, questionamos

quem as estabelece no âmbito dos Centros de Referência de Assistência Social em

Fortaleza-Ce:

Bom, os nossos acompanhamentos e nossas visitas domiciliares os nossos relatórios sociais a situação realmente, eu acho que deveria ser exclusivamente do Serviço Social. É a coordenação como um todo, existe uma equipe de técnicos hoje com 3 assistentes sociais. Nós não temos psicólogo, então, da visita do beneficio eventual até o acompanhamento é feito hoje apenas pelo Serviço Social. (Safira, 47 anos)

Existe as atribuições só do técnico, mas que tudo é feito realmente baseado na política da assistência social. Vem estabelecida, e aqui a gente define mais especificamente mais sempre baseadas. Eu acho que atualmente a única ação que o técnico de nível superior não pode fazer é a concessão de benefício eventual. Só o assistente social! Agora os atendimentos, a condução do grupo do PAIF, o acompanhamento do serviço de convivência, faz qualquer dos profissionais de nível superior que é o assistente social e o psicólogo.(Topázio, 32 anos)

As falas das entrevistadas, não demonstraram uma clareza sobre as

atribuições especificas do Serviço Social no âmbito dos Centros de Referencia de

Assistência Social e o conhecimento acerca de quem estabelece. Estas destacaram

apenas a concessão de beneficio eventual. Desse modo, analisamos ao que se

reduz a materialização do fazer do Assistente Social, isso diz respeito ao contexto

institucional que concentra uma multiplicidade de saberes, mas cada um dentro da

sua especificidade, ou seja, os olhares das profissões não se misturam sejam eles

cadastradores, psicólogos, dessa forma quando não fica bem definido. Fica

subentendido que qualquer um pode realizar o trabalho das Assistentes Sociais.

87

Para a nossa pesquisa foi imprescindível o marco teórico que fundamenta

a formação e a prática profissional, dessa maneira investigamos com que frequência

as Assistentes Sociais consultam as produções e textos do Serviço Social:

Eu vou lhe ser bem sincera, eu só leio porque estou estudando pra concurso, mas assim, não sendo isso, é muito difícil porque o tempo da gente é muito pouco e ai assim eu acho muito importante que deveria ter um momento no Cras pra estudo mesmo. De ta lendo texto de ta realmente fazendo esse estudo. (Cristal, 32 anos)

Eu pessoalmente tenho voltado agora a isso com mais força porque existem coisas que eu vi na faculdade, então são coisas que certa de forma [...] são coisas que eu já vi, mas são coisas que você se detém na execução, tanto quem trabalha quarenta horas mas quem ta trinta horas e você se perde. Mas é bom mesmo até pro seu fazer profissional porque Porque você esta fazendo, e o que vai trazer a diferenciação na sua ação são essas teorias, é essa busca esse conhecimento. É você tá fazendo, é você voltar na teoria com outro olhar, e ai isso é extremamente importante por que essa pratica alimenta e a teoria vai alimentar sua pratica. Quando isso se perde; se perde muito desse fazer profissional. E ai eu tenho voltado mais nisso, eu mim sinto desafiada não é fácil porque não dá. Você não tem só o trabalho tem coisas pra você dá conta, mas isso é necessário nem que seja pouco. (Rubi, 32 anos)

Visualizamos nessa pesquisa que as especificidades de cada

equipamento implica diretamente na relação teoria e prática, pois as entrevistadas

levantaram a questão da ausência de tempo como determinante para se ter um

constante aprimoramento teórico e assim estarem sempre fazendo um a relação

com a prática.

Dessa forma, percebemos que entre algumas entrevistadas o desejo em

estudar e se qualificar inclusive no sentido de melhorar a sua prática profissional,

como também, através de concursos, garantir uma melhor estabilidade nas relações

trabalhistas. Contudo, inferem a intensidade de atividades como um desafio para

que isso seja atendido.

A distância entre a possibilidade de estudo desde a graduação e o acesso

a qualificação profissional nos dias de hoje pode ser apontado tanto pela

descontinuidade de formação e cursos por parte de investimentos pela Setra

garantidas por um setor especifico nesta, podendo nos permitir entender que sua

desimportância refere-se à ausência de uma política de recursos humanos mais

ampla. Isso pode ser percebido pela necessidade de destinação de recursos

orçamentários. Geralmente se é compreendido como gasto desnecessário frente

aos números de profissionais terceirizados.

88

Por outro lado, referimos à importância das profissionais buscarem se

qualificar individualmente cumprindo o principio estabelecido pelo atual Código de

Ética profissional, que prevê o “Compromisso com a qualidade dos serviços

prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da

competência profissional” (2012, p.24)

Essas colocações nos mostraram que realmente a gestão do tempo é

desorganizada, sendo um desafio a ser enfrentado. Porém, historicamente este foi

um empecilho para a categoria que diante da hegemonia do Estado e do grande

capital vem se desdobrado para não se perder em ações rotineiras e burocráticas.

Quando estamos diante das várias configurações societárias é que temos

que abrir um leque de possibilidade para não cairmos no tarefismo e imediatismo

cotidiano. Para tanto devemos nos reportar ao arcabouço teórico-metodológico, que

constrói e reconstrói as ações profissionais.

Outro ponto trabalhado nas entrevistas os aspectos do cotidiano

profissional das Assistentes Sociais de modo a investigar de que forma os sujeitos

profissionais percebem e articulam as dimensões da instrumentalidade do Serviço

Social nas respostas as demandas sociais nos Cras de Fortaleza-Ce.

Dessa forma, destacamos até aqui de forma indireta, os relatos do

cotidiano nos quais podemos visualizar estas dimensões. Posteriormente, nos

reportaremos às perspectivas mais diretas, de modo a analisarmos, a princípio, a

dimensão ético-política do fazer profissional e os valores que norteia a mesma para

intervenção diária das Assistentes Sociais:

Olha, eu procuro muito assim, trabalhar dentro do próprio projeto ético político mesmo, que tem com o valor central a liberdade e ai eu tento trabalhar sempre respeitando a liberdade do individuo, a liberdade da família. Tendo ao máximo orientar e levar essa pessoa a ter acesso aos seus direitos muito embora a gente tenha que ter a base que norteia que é a família como protagonista e ai você não vai tutelar essa família. Você vai mostrar a elas os meios pra isso. Eu acho que também valor da equidade e da igualdade né? Nos tratamentos e ai assim o principal é você se despir de todo e qualquer forma de preconceito que hoje em dia é muito difícil o preconceito ele existe e tudo e ai você tem seus princípios as suas formação e tudo mas assim a partir do momento que você decide fazer Serviço Social, você tem que se despir de toda e qualquer tipo de preconceito. (Cristal, 32 anos)

Porque assim a gente trabalha com as políticas a gente segue muito o que já são estabelecidos. Então assim, eu procuro entender conforme é passado pra gente e nas possibilidades e também explicar pras famílias que eu “tou” atendendo o que é possível fazer sempre por que não adianta você falar alguma coisa que não ta ao seu alcance. Por exemplo: na questão do bolsa família que é o publico que eu atendo. Muito essa questão, eu digo o

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que o governo fala, é isso e a possibilidade que a gente tem é essa. Tipo assim eu trabalho muito de acordo com as normas e as regras. Assim que eu procuro fazer. (Ágata, 31 anos)

Identificamos no discurso das interlocutoras, diferentes posicionamentos.

Em alguns, houve desentendimento do real sentido ético-político, com lastros

assumindo uma postura de lealdade burocrática, apoiadas nas exigências de seus

contratantes com vários entraves que lhe põem um desafio a ser rompido.

Já em outros, relatos das profissionais dos Cras pesquisados, há uma

maior clareza da postura profissional creditada na formação desta, visto que a

dimensão ético-política, como citado anteriormente, independe da ordem vigente da

sociedade. Portanto, temos enquanto categoria um grande desafio para concretizar

esta dimensão dentro do perfil profissional como afirma Iamamoto:

Orientar os rumos aludidos requisita um perfil profissional culto, critico e capaz de formular, recriar e avaliar propostas que apontem progressiva democratização das relações sociais. Exige-se, para tanto, compromisso ético-político com valores democráticos [...] Esses elementos aliados a pesquisa da realidade possibilitam decifrar as relações particulares com se defrontam o assistente social no seu trabalho de modo a conecta-las aos processos macroscópicos que as geram e as modificam. (IAMAMOTO, 2010, p.33)

Compreendemos que a dimensão ético-política foi introduzida na pratica

profissional entre 1979 à 1985, no debate do movimento de renovação do serviço

social na direção da ruptura, que traçava o discurso sobre, a postura das assistentes

sociais que perpassava a negação de ser neutro, chamando o profissional a se

posicionar eticamente e politicamente diante da realidade, para intervir nesta, e

assim, ter consciência de qual é a direção a ser seguida. Segundo Ramos:

[...] a denominação ético-política, [...] não se fundamenta em uma visão mecanicista, como se o projeto profissional tivesse condições para ocupar o lugar de um projeto societário. O termo projeto ético-política profissional expressa à existência, neste projeto coletivo, de uma nítida dimensão ética, na medida em que convoca os profissionais de Serviço Social a refletirem sobre os valores e desvalores que orientam suas ações. Ao fazer isso, este projeto vincula-se a defesa de determinados valores e princípios éticos identificados com a busca da emancipação humana. Além disso, apresenta uma clara dimensão política, que se constrói no bojo das relações sociais, no movimento das classes sociais, considerando-se as opções políticas subjetivas e a construção de estratégias no campo democrático-popular, estabelecendo, no entanto, um conjunto de mediações no âmbito profissional. (RAMOS, 2002, p. 92)

Dessa forma, vale salientar que o conhecimento do código de ética

profissional é fundamental para tal atuação. Sabemos que no contexto institucional

requer se apropriar dos conceitos éticos-políticos, da postura ética-política,

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fundamentadas num constante aprimoramento teórico-metodológico e no marco

legal para a articulação das ações.

Todavia, ao questionarmos as profissionais sobre os aspectos pertinentes

ao cotidiano que permitem materializar da dimensão teórico-metodológica, da

instrumentalidade do Serviço Social:

Eu acho que principalmente sempre que a gente vai fazer planejamento de qualquer ação agente sente a necessidade de estudar de ver melhor determinada coisa que eu estou precisando me atualizar. Até porque, a política tem as suas mudanças. Vão surgindo novas e a realidade também é muito dinâmica, então sempre é toda hora agente sente essa necessidade. Ela não permite a gente tem que fazer das tripas coração mesmo. A gente sente essa necessidade. Nem sempre a gente consegue fazer acontecer. (Topázio, 32 anos)

Principalmente nas visitas domiciliares, acho que nós assistentes sociais, às vezes esquecemos um pouquinho da metodologia. Eu acho que nas visitas domiciliares quando nos vamos colocar nosso parecer social, acho que você tem que embasar na metodologia e não só simplesmente na teoria o que você viu, o que visualizou. Eu acho que você tem que embasar nos benefícios eventuais, você tem que embasar porque não pode ficar muito solto. A metodologia do serviço social é prioritária pra qualquer atividade dentro do Cras ou em qualquer outra instituição não só necessariamente na política de assistência. Nós temos que ter esse embasamento metodológico teórico e pratico porque eles andam juntos. ( Safira, 47 anos)

Esses relatos materializam os desafios anteriormente elencados, situados

no movimento das contradições do campo de trabalho, que colocam um duplo

sentido ao cenário institucional, obscurecem a dimensão teórico-metodológica e ao

mesmo tempo em que existe a tentativa de romper com os desafios, pois os

profissionais compreendem a importância dessa dimensão para a competência

profissional.

Entretanto, o profissional tem que estar incluso na realidade e nas

demandas da população, porém por meio de estudos mais abrangentes, segundo

seu contexto histórico, com embasamentos teóricos, fugindo do senso comum e das

aparências, criando formas efetivas de transformar a realidade desse usuário, mas

respeitando suas especificidades. Contudo, a materialização a dimensão teórico-

metodológica conforme descrito na ABESS/CEDEPSS é o reflexo da profissão, que

tem conhecimento para propor finalidades:

[...] a capacitação teórico-metodológica é que permite uma apreensão do processo social como totalidade, reproduzindo o movimento do real em suas manifestações universais, particulares e singulares em seus componentes de objetividade e subjetividade, em suas dimensões econômicas, políticas, éticas, ideológicas e culturais, fundamentado em categorias que emanam da adoção de uma teoria social crítica. (ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 152)

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Para termos uma maior aproximação com as relações entre profissionais

e usuários dos Centros de Referencia de Assistência Social, indagamos de que

forma se visualiza a ética no cotidiano institucional:

Na maioria das vezes acontece agente consegue trabalhar dentro da ética de tudo. Em alguns momentos, mas não em todos até por conta de outras profissionais mesmo. Isso acaba se perdendo, mas a gente sempre tem, que tem em mente isso pra mim. Eu tenho sempre que estar nesse exercício constante porque eu sou supervisora de estagio. Então eu “tou” com pessoas na formação e que eu estou supervisionando. Então assim, quer queira quer não, por mais que você não vai copiar a pessoa a minha prática, vai referenciar a dela Eu acho sempre bom ser é supervisora de estagio por conta disso. Você ta sempre se atentando, para as questões éticas. Então pra mim é um exercício muito bom (Cristal, 32 anos)

Com relação ao profissional técnico e aos usuários, nós tentamos fazer o melhor possível mesmo que você seja maltratada, que eles não querem saber, dizem o que querem, não há esse respeito, não são todos lógicos. Mas eles querem serem atendidos porque eles precisam disso. Tem que ser aqui e agora! O profissional tenta dentro da sua ética profissional manter o equilíbrio, manter o como fazer. Eu acho que com relação ao técnico, a gente tenta o melhor possível, quanto aos outros profissionais tem que haver uma melhor capacitação. (Safira, 47 anos)

As entrevistadas reconhecem que desse modo, as formas históricas que

foram dadas as ações aos que demandam serviço socioassistenciais, sendo estas

assistencialistas e imediatas, implicam na atuação profissional que tem que se

desvelar e não deixar se corromper pelas imposições cotidianas.

Contudo, percebemos que trabalhar a ética na sociedade brasileira

arraigada de “jeitinho”, sem si deixar se levar por estes, requer se capacitar de que a

ética tem que ser compreendida na dimensão da práxis social, da ação

transformadora, estabelecida em uma sociabilidade emancipatória, a partir da

negação da sociedade imediata, automática e situada em nível de respostas sócio

profissionais mais qualificadas.

Finalizamos as entrevistas indagando as interlocutoras, sobre como estas

entendem e articulam as dimensões da instrumentalidade do Serviço Social:

Olha como eu “tou” te dizendo é difícil mas a gente tenta na medida do possível. É um pouco difícil até por conta das questões do cotidiano, dos próprios usuários que buscam soluções imediatas para as demandas. Elas nos puxam pra essa questões do imediatismo até porque querem uma coisa que a curto prazo e muitas vezes a gente sabe que não é assim que é todo um processo até que você faça família, entendeu? Isso de certa forma é um pouco cansativo, mas agente ta na luta. ( Cristal, 32 anos)

Eu estou tentando elaborar alguma coisa, eu não sei nem como lhe dar essa resposta. Realmente eu tô aqui tentando elaborar, imaginar uma resposta pra ti porque eu acho que todo o nosso fazer não é também a toa.

92

Ele já tem um direcionamento. Na nossa própria formação na faculdade, do direcionamento que o código de ética traz, das resoluções dos CFESS que também nos norteia que vez em quando da o recado para os profissionais. Então assim, a gente busca da melhor maneira possível dentro das nossas limitações, porque o equipamento, a instituição limita muito o nosso fazer profissional e as vezes fica complicado é como eu te disse na questão da nossa intervenção. Me pergunto: qual é o papel do profissional de serviço social dentro de um território? Eu acho que a gente deixa muito a desejar, porque a gente não tá dentro do território. A gente ta dentro da instituição, nosso fazer é dentro da instituição e não do território, ele se limita por isso. A gente tem uma dificuldade aqui. A secretaria mapeou por regional o descumprimento de condicionalidade. Como é que tava o descumprimento de condicionalidade na regional cinco? Por exemplo, a maioria dos alunos estavam descumprindo as condicionalidades do bolsa família por falta de interesse. Certo, ela mapeou e ai? Ela mapeou e não articulou com a educação e mandou a demanda pro Cras. Poxa, eu acho que é muito maior, O Cras não condições estruturais de responder a uma situação dessas. Qual é a orientação da secretaria de assistência social diante de um fato desse? O quê que a secretaria vai articular com a educação ou com outras políticas? Isso não cabe ao equipamento do Cras especificamente pra fazer isso, diante das nossas atribuições. Como é que a gente articula uma dimensão, algo assim tão grande dentro do território? Se a gente não tem o habito de articular nem coisas menores em uma comunidade. E quando se trata de uma intervenção na comunidade, o que é que a gente faz é uma ação comunitária. Vamos levar serviço de documentação civil, conselho tutelar e outros, são coisas que o usuário pode ir buscar em qualquer equipamento. Ele não encontrar tudo num canto, mas ele pode ir buscar, mas vê o problema da comunidade e ir buscar junto com a comunidade alternativa e munir aquela comunidade de autonomia pra ir atrás porque não é o profissional que vai fazer a gente não faz, então assim a gente tem essa compreensão e faz o que com ela? Eu não sei o que fazer com essa percepção. (Diamante, 36 anos)

Observa-se no teor das falas dessas profissionais, em sua maioria, note-

se que elas tenham certa noção que para explicar a instrumentalidade do Serviço

Social de forma clara, expressam-se de maneira confusa, com fragmentos e

associações sem apresentar coerência e lógica no seu entendimento. Porém,

identificamos um posicionamento questionador da realidade social

Contudo está pesquisa nos trouxe discursos antigos que se atualizam na

sociedade contemporânea, de modo que não existe uma nova pauperização e/ou

precarização do trabalho. Esta se configura de acordo com a dinâmica societária

que exige do profissional de Serviço Social resposta que acompanhem esse

movimento. E em razão desta trouxemos um discurso sobre as dimensões da

instrumentalidade do Serviço Social e sua importância atual que colabora para

atuação profissional.

Compreendemos que o conhecimento não surge da pratica, mas da

articulação e reflexão sobre esta (Guerra, 2010). A prática não dá conta por se só do

contexto das refrações da questão social, mas a direciona em grande medida.

93

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do momento em que nós decidimos estudar Instrumentalidade do

Serviço Social nos equipamentos de Assistência Social do Município de Fortaleza,

sabíamos que seria um desafio constante pela complexidade que envolve essa

questão.

No entanto, percebemos que este não é um desafio que se coloca apenas

no campo da pesquisa, pois estas tem uma maior dimensão no cotidiano

profissional, seus rebatimentos se instaram essencialmente na articulação das

dimensões teórico-metodológico, ético-político, técnico-operativa, diante das

demandas sociais e das imposições de seus empregadores vinculadas ao

desenvolvimento contraditório da sociedade contemporânea.

Mas nem por isso desanimamos, e foi com verdadeira obstinação e

curiosidade que lançamos nossos sentidos durante os momentos das entrevistas, na

ânsia de apreendemos o que estava por traz de cada postura, gesto, olhar silencio e

falas das nossas estimadas interlocutoras.

O empenho empreendido na concretização desse trabalho foi na

perspectiva de atrair atenção para o percepção do debate da instrumentalidade do

Serviço Social, a partir do entendimento de que deve ser incorporado na atuação

profissional, já que a mesma vai além do simples técnico social, fazendo do

profissional de formação acadêmica (através de um conjunto de saberes

específicos) capaz de realizar uma intervenção reflexiva, planejada e com

intencionalidade.

Vejamos, bem, discutimos no nosso texto elementos constituintes da

historia do Serviço Social na sociedade brasileira, visto que não podemos fazer uma

leitura desta na atualidade sem nos reportamos ao longo desenvolvimento da

história. Dessa forma, tivemos esse cuidado para não cairmos no senso-comum e/ou

distorção da gênese do Serviço Social, das lutas e conquistas dessa categoria

profissional.

Discutimos também a categoria trabalho e os reflexos da instauração da

sociedade capitalista no mundo do trabalho e a importância da compreensão desse

aporte histórico. Esta está dialeticamente articulada no interior da profissão, posto

que, esta categoria esta inserida na divisão social e técnica da sociedade, portanto

94

faz parte da classe trabalhadora, e se apresenta com valores e das aspirações

habitualmente partilhados por esta classe nas lutas políticas e sociais presentes.

Delineamos todos esses caminhos para chegarmos na categoria

Instrumentalidade do Serviço Social, a qual traçamos os aspectos fundamentais

sobre as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativo e a

articulação destas para os processos de análise e mediação das demandas

socióinstitucionais.

Para irmos mais a fundo na pesquisa, estruturamos a categoria Política

de Assistência Social, de modo a situarmos como e onde são embasados os

serviços desses equipamentos, analisando está categoria complementar a bagagem

do conhecimento profissional.

Nossa pesquisa foi orientada por objetivos e questionamentos

direcionados ao exercício profissional nos Cras do município de Fortaleza/CE,

articulada teoricamente à instrumentalidade do Serviço Social.

Obtivemos nesse processo relatos de angústias e insatisfação das

profissionais no que tange a real capacidade de materialização das dimensões da

instrumentalidade, conforme preconizado pela corrente teórica crítica na qual o

Serviço Social se articula.

Sabemos que a realidade é dinâmica. Compreendemos que esta é

situada em múltiplas determinações, que a sua apreensão é um processo que se

realiza inteiramente no movimento do real que requer aproximações sucessivas

deste.

A par disso, é imprescindível destacar que a elaboração do roteiro de

entrevistas foi construída com critério metodológico, porém percebemos que não foi

suficiente para observar todos os aspectos relacionados à problemática. As

limitações da pesquisadora, aliados aos limites próprios de um trabalho de

graduação, especialmente aspectos circunstanciais limitantes do processo, também

contribuíram para todos.

Contudo, todos os elementos provenientes dessa experiência empírica

permitiram demonstrar aspectos importantes que, por conseguinte, viabilizaram

elencar os objetivos desse trabalho: identificar caracterizar e análisar as dimensões

teórico-metodológica, ético-político, técnico-operativo presentes na composição da

instrumentalidade do Serviço Social evidenciando-as no exercício profissional das

95

Assistentes Social, dos Centro de Referencia da Assistência Social – Cras, em

Fortaleza/CE.

No que tange à dimensão teórico-metodológico, foram constatadas

fragilidades nas leituras da realidade que compõem o contexto sócio institucional em

que se encontram as referidas assistentes sociais, uma vez que as entrevistadas

ratificaram poucos elementos que respondesse essa dimensão diante de suas

competências normativas.

Entende-se que o processo de conhecimento constante, da dimensão

teórico-metodológica que visa o aprimoramento teórico-metodológico profissional em

suas análises e reflexões críticas, a respeito da realidade na qual intervém, tendo

seu aparato ético-político que o circunda na defesa dos valores humano-genéricos

do profissional para essa sociedade, propicia o olhar estratégico da categoria frente

a dinâmica complexa e contraditória que se apresenta as assistentes sociais de

modo a deixá-las munidas de potencialidades frente aos seus desafios.

As fragilidades dessa dimensão encontram-se na esfera teórica que

reflete-se na prática profissional, visto que foram evidenciadas dificuldades para

fazer mediações necessárias. Isso ficou visível quando as entrevistas não

conseguiram transitar apropriadamente sobre ética e política. Tivemos até a

negação desse questionamento.

Apesar disso, é importante lembrar as profissionais trazem reflexos de

suas formações em universidades públicas sucateadas e a própria falta de incentivo

da secretaria em formação profissional, dentre outros aspectos. Contudo,

percebemos que o Serviço Social nesse campo de atuação tem um logo caminho a

traçar para materializar o projeto pedagógico profissional e fazer deste uma

realidade mais presente.

Na dimensão ético-político, conseguimos perceber colocações mais

desenvolvidas diante das limitações, visto que as entrevistadas levantaram as

questões éticas com os profissionais dos equipamentos quanto aos usuários, pois

na relação com o usuário foi bem destacado o sigilo profissional e o respeito que o

Assistente Social deve ter considerando aquele usuário como sujeito de direito e

sem discriminação.

Ainda, também foi colocado que nesse espaço há uma grande

valorização do trabalho burocrático e técnico, podendo atribuir a isto como produto

96

da sociedade capitalista que corrompe os indivíduos a reproduzir e não produzir,

transforma os atos conscientes, agentes do tempo com inúmeros da quantidade de

papéis para preencher. Esses são importantes, mas não podem consumir todo

conhecimento de uma Assistente Social. Esta, ao não conseguir suspender a

realidade no preenchendo dos documentos, instrumentais e relatórios, deixam de

lado os processos que compõem a instrumentalidade do Serviço Social como

lcompetências profissionais a pesquisa, a investigação, a mediação sem este o ato

mecânico.

Por fim, a análise técnico-operativo pode ser considerada fácil de ter seus

conteúdos abrangidos, do que as outras dimensões, é no exercício profissional esta

dimensão deve ser compreendida teoricamente no processo formativo e no

aprimoramento continuado articulada as outras dimensões supracitadas em função

de uma melhor qualificação da instrumentalidade da profissão.

Existe no contexto das entrevistadas dificuldades em organizar, planejar e

avaliar sua rotina cotidiana, visto que poucas evidenciam a importância desse

processo para o trabalho. Isso implica na ausência de dados que qualificam

processualmente a ação, isso ocorre porque ao chegarem nos espaços de trabalho

já existem uma quantidade de tarefas burocráticas a serem executadas .

Nós, enquanto profissionais, nos preparamos para lidar com as demandas

da sociedade. Porém, existem problemáticas que não estão em nossas mãos, como

a desresponsabilização do poder público, mas as lutas devem aqui continuar, pois já

que nos preparamos, não devemos tutelar nem aqueles que sofrem diretamente as

refrações da questão social e nem o poder público com respostas amenizadoras e

medidas paliativas.

Desse modo, diversos assistentes sociais se veem desafiados diante de

suas competências profissionais a contribuírem com a categoria, visto que as

próprias condições de trabalho lhes colocam de frente com as limitações da própria

formação acadêmica e com os fatores estruturais das configurações desta

sociabilidade, motivo pelo qual se estará à desmotivação profissional.

Diante de uma pesquisa desse teor, reconhecemos que não damos conta

de aqui englobar o todo que conferimos a este campo de atuação profissional, tendo

em vista os grandes desafios que a realidade impõem ao mundo contemporâneo.

Contudo, foi uma experiência válida. Ela nos colocou frente a novas indagações que

97

ampliam a visão dessa análise. Dessa forma, nos impõem a continuarmos a nos

debruçar acerca desse conhecimento novo.

Por fim, ratificar que as colocações aqui contidas não encerram um fato

ou dado absoluto da realidade a que nos detivemos. Pelo contrário, representa um

momento da história da profissão, bem como do pesquisador e da atividade de

pesquisar.

Esperamos ter contribuído em alguma medida para o debate sobre as

dimensões da instrumentalidade do Serviço Social nas respostas às demandas

sociais nos Cras de Fortaleza-Ce, na sociedade contemporânea e seus dilemas,

bem como registramos aqui nossa admiração pelos profissionais e Assistentes

Sociais que buscam forças para enfrentar o cotidiano, naquelas condições de

trabalho tão visíveis de contradições.

98

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101

APÊNDICES

Apêndice – I : Ficha individual das entrevistadas

1. Dados pessoais

1.1 Idade:__________________________________________

1.2 Sexo: __________________________________________

1.3 Estado civil:_____________________________________

1.4 Local/ residência:_________________________________

1.5 Religião:_________________________________________

1.6 Filhos: __________________________________________

2. Dados profissionais

2.1 Nível de graduação e ano: _________________________

2.2 Outras graduações, se possuir destaque: ______________

2.3 Cursos ou especializações: _________________________

102

Apêndice – II: Roteiro para entrevistas

1. Motivações profissionais

1.1Por que o serviço social?

1.2 Qual o nível de satisfação de suas expectativas com a profissão?

2. Dados institucionais

2.4 Nome e endereço da instituição:_________________________

2.5 Quanto tempo esta na instituição:_______________________

2.6 Carga horária semanal: _________________________________

2.7 Forma de contrato de trabalho:________________________

2.8 Qual cargo ocupa na instituição:________________________

( ) técnico

( ) coordenação

( ) outro/ especificar

3. Informações sobre o CRAS?

3.1Qual a sua compreensão sobre o CRAS?

3.2 O que este equipamento representa para a sociedade?

3.3 Quais serviços, programas, projeto estão disponíveis?

3.4 Qual perfil dos usuários atendidos pelos profissionais do CRAS?

3.5 Existem recursos disponíveis: materiais, financeiros e humanos?

3.6 Como você analisa a direção técnico-operativa do seu fazer profissional?

Existe planejamento para as ações? Quem as planeja?

3.7 Quais instrumentos são utilizados?

3.8 Existem procedimentos avaliativos durante e depois das ações?

4. Cras – equipamento de direito

4.1 A Política Nacional de Assistência Social fundamenta as ações do Cras e

qual sua utilidade para o trabalho profissional?

4.2 Qual os impactos você entende que a PNAS tem para a vida usuários?

4.3 Com que frequência você consulta os documentos

normativos da Assistência Social? Você os acha necessário para intervenção

diária?

5. Cras – atribuições do assistente social

5.1Existem atribuições no CRAS do Serviço Social? Quem as estabelecem?

103

5.2 Com que frequência você consulta os textos e produções do Serviço

Social?

5.3 Como você analisa a direção ético-política do seu fazer profissional?

Quais valores norteiam sua intervenção no Cras, enquanto assistente

social?

6. As dimensões da instrumentalidade do Serviço Social no cotidiano profissional

6.1Quais aspectos do cotidiano permitem ao profissional buscar

aprimoramento teórico-metodológico? Quais situações você descreveria?

6.2 Como as questões éticas são observadas no cotidiano com os usuários,

profissionais e a instituição? De forma são discutidas?

6.3 De que forma você analisa ou reconhece que suas ações estão voltadas

no processo de articulação das dimensões da instrumentalidade do Serviço

Social?

104

Apêndice – III: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

FACULDADES CEARENSES - FAC

Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo tema é a Percepções e análises da Instrumentalidade

do Serviço Social a partir do olhar da Assistente Social que atua nos centros de referencia de

assistência social de Fortaleza- Ceará, tendo por objetivo investigar de que forma os sujeitos

profissionais percebem e articulam as dimensões da instrumentalidade do Serviço Social nas

respostas as demandas sociais nos Cras de Fortaleza.

Sua participação é voluntária, não lhe causando nenhum dano material ou imaterial. A qualquer

momento, poderá desistir de participar do estudo sem qualquer prejuízo e todas as informações

obtidas serão mantidas em sigilo assim como sua identidade.

A pesquisa será realizada através de entrevista semi-estruturada. Destacamos que a entrevista

será individualizada e gravada para que não haja perda do conteúdo.

Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa e os resultados

poderão ser veiculados através de artigos científicos, em revistas especializadas e/ou encontros

científicos, sem a identificação do entrevistado. Em caso de dúvidas ou para outras informações,

poderá entrar em contato com a pesquisadora responsável, Francisca Geanne Rios, pelo telefone

(85) 8709 - 3242

Este termo terá duas vias iguais, sendo uma para o sujeito participante da pesquisa ou para

seu responsável legal e outro para o arquivo da pesquisadora.

Desse modo, tendo tomado conhecimento sobre o teor da pesquisa, concordo em participar

dela de forma livre e esclarecida.

Nome:_____________________________________________________________

Assinatura:__________________________________________________________

Telefone:________________________ Data: ____________________________

______________________________________________________

Assinatura da Pesquisadora

105

Apêndice – IV: Carta de Apresentação